Sie sind auf Seite 1von 132

capa-IA-261.

indd 1
ISSN 01003364 R$ 15,00

9 770 100 33 6002 00261

27/5/2011 11:09:29
capa-IA-261.indd 2 27/5/2011 11:09:32
Informe Agropecuário
Uma publicação da EPAMIG
v.32 n.261 mar./abr. 2011
Belo Horizonte-MG

Sumário

Editorial .......................................................................................................................... 3

Entrevista . ...................................................................................................................... 4

Cafés especiais no Brasil: opção pela qualidade


Gerson Silva Giomo e Flávio Meira Borém ....................................................................... 7
00261
R$ 15,00

9 770 100 33 600 2


ISSN 01003364

Características ambientais e qualidade da bebida dos cafés do estado de Minas


Gerais
Apresentação Helena Maria Ramos Alves, Margarete Marin Lordelo Volpato, Tatiana Grossi Chquiloff Vieira,
Mesmo produzindo uma diversidade de cafés, Flávio Meira Borém e Juliana Neves Barbosa...................................................................... 18
o Brasil ainda possui no mercado internacional a
imagem de grande produtor de um único tipo de
café, o café “Santos”. Para se desvencilhar dessa Melhoramento genético do café visando à qualidade de bebida
imagem negativa, nos últimos anos tem havido Gladyston Rodrigues Carvalho, Juliana Costa de Rezende, Cesar Elias Botelho, Andre
uma busca intensa pela melhoria da qualidade, in- Dominghetti Ferreira, Antonio Alves Pereira e Antonio Carlos Baião de Oliveira ................. 30
cluindo investimentos em infraestrutura e capaci-
tação tecnológica em todas as regiões produtoras.
Nutrição do cafeeiro e sua relação com a qualidade do café
A demanda por cafés especiais no mercado
mundial vem crescendo em proporções maiores Paulo Tácito Gontijo Guimarães, Francisco Dias Nogueira, Marcelo Ribeiro Malta, Kaio
do que a dos cafés comuns, indicando a prefe- Gonçalves de Lima Dias e Thiago Henrique Pereira Reis ..................................................... 39
rência dos consumidores por cafés que possuem
qualidade de bebida diferenciada, principalmente Evolução da mecanização na cafeicultura
no sabor, aroma, corpo e acidez. Ao mesmo tempo
em que exigem qualidade, os consumidores estão Fabio Moreira da Silva e Gladyston Rodrigues Carvalho ................................................................ 52
mais conscientes e aceitam pagar mais por cafés
que satisfaçam suas preferências. Dessa forma, os Processamento e qualidade do café
melhores preços pagos aos cafés especiais consti- Marcelo Ribeiro Malta ............................................................................................................. 66
tuem uma ótima oportunidade para agregar valor
ao café brasileiro, o que justifica intensificar o uso
de estratégias que contribuam para a melhoria da Influência da secagem na qualidade do café
qualidade e que facilitem a inserção desses cafés Flávio Meira Borém, Eder Pedroza Isquierdo, José Henrique da Silva Taveira, Gerson Silva
nos mercados interno e externo. Giomo e Juliana Neves Barbosa ....................................................................................... 76
Minas Gerais é o maior produtor nacional de
café. Com mais de um milhão de hectares planta-
Armazenamento e qualidade do café
dos, o Estado é responsável por, aproximadamen-
te, 50% da safra brasileira, sendo o principal pro- Flávio Meira Borém, Fabiana Carmanini Ribeiro, Luisa Pereira Figueiredo e Francile Dias
duto de exportação do agronegócio mineiro. Há Barbosa ......................................................................................................................... 86
que se considerar ainda que a cafeicultura exerce
um importante papel do ponto de vista social no
Microrganismos e qualidade do café
Estado. Buscar novos nichos de consumo, como
alternativa ao café commodity, e valorizar a pro- Sára Maria Chalfoun ....................................................................................................... 94
dução, suas diferentes origens e produtores que
visam qualidade, é colocar o café mineiro em um Reflexos da incidência de pragas na qualidade do café
lugar de destaque no mercado mundial. Paulo Rebelles Reis .......................................................................................................... 104
Com esta edição do Informe Agropecuário a
EPAMIG objetiva dar suporte técnico ao cafeicul-
tor para produção de cafés de alta qualidade, como Critérios utilizados na avaliação da qualidade do café
forma de agregar valor ao produto e satisfazer aos Marcelo Ribeiro Malta .................................................................................................... 114
mais requintados paladares.
Marcelo Ribeiro Malta
ISSN 0100-3364

Informe Agropecuário Belo Horizonte v.32 n.261 p. 1-128 mar./abr. 2011

1-3-IA261.indd 1 26/5/2011 13:17:09


© 1977 EPAMIG Informe Agropecuário é uma publicação da
Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais
ISSN 0100-3364
INPI: 006505007
EPAMIG
É proibida a reprodução total ou parcial, por quaisquer meios, sem
CONSELHO DE PUBLICAÇÕES autorização escrita do editor. Todos os direitos são reservados à
Antônio Lima Bandeira EPAMIG.
Plínio César Soares
Os artigos assinados por pesquisadores não pertencentes ao quadro
Maria Lélia Rodriguez Simão
Juliana Carvalho Simões da EPAMIG são de inteira responsabilidade de seus autores.
Mairon Martins Mesquita Os nomes comerciais apresentados nesta revista são citados apenas
Vânia Lacerda
para conveniência do leitor, não havendo preferências, por parte da
COMISSÃO EDITORIAL DA REVISTA INFORME AGROPECUÁRIO EPAMIG, por este ou aquele produto comercial. A citação de termos
técnicos seguiu a nomenclatura proposta pelos autores de cada artigo.
Plínio César Soares
Diretoria de Operações Técnicas O prazo para divulgação de errata expira seis meses após a data de
Maria Lélia Rodriguez Simão publicação da edição.
Departamento de Pesquisa

Cristiane Viana Guimarães Ladeira Errata


Divisão de Produção Animal No Informe Agropecuário no 260 - Tecnologias para o Cerrado
Marcelo Lanza mineiro - o nome do autor Valdir Botega Tavares foi grafado
Divisão de Produção Vegetal incorretamente no artigo Estratégias para recuperação e
renovação de pastagens, bem como no Sumário.
Trazilbo José de Paula Júnior
Chefia de Centro de Pesquisa
Assinatura anual: 6 exemplares
Vânia Lacerda
Departamento de Publicações Aquisição de exemplares
Divisão de Gestão e Comercialização
EDITOR TÉCNICO Av. José Cândido da Silveira, 1.647 - União
Marcelo Ribeiro Malta
CEP 31170-495 Belo Horizonte - MG
CONSULTORES TÉCNICO-CIENTÍFICOS Telefax: (31) 3489-5002
Flávio Meira Borém (Ufla), Antonio Alves Pereira (EPAMIG) e www.informeagropecuario.com.br; www.epamig.br
Helena Maria Ramos Alves (Embrapa Café) E-mail: publicacao@epamig.br
CNPJ (MF) 17.138.140/0001-23 - Insc. Est.: 062.150146.0047
PRODUÇÃO
DEPARTAMENTO DE PUBLICAÇÕES PUBLICIDADE
Décio Corrêa
EDITORA-CHEFE
Telefone: (31) 3489-5088 - deciocorrea@epamig.br
Vânia Lacerda
REVISÃO LINGUÍSTICA E GRÁFICA
Marlene A. Ribeiro Gomide, Rosely A. R. Battista Pereira Informe Agropecuário. - v.3, n.25 - (jan. 1977) - . - Belo
Horizonte: EPAMIG, 1977 - .
NORMALIZAÇÃO v.: il.
Fátima Rocha Gomes e Maria Lúcia de Melo Silveira
Cont. de Informe Agropecuário: conjuntura e estatísti-
PRODUÇÃO E ARTE
ca. - v.1, n.1 - (abr.1975).
Diagramação/formatação: Maria Alice Vieira, Ângela Batista P.
ISSN 0100-3364
Carvalho, Fabriciano Chaves Amaral e Débora Nigri (estagiária)
Coordenação de Produção Gráfica 1. Agropecuária - Periódico. 2. Agropecuária - Aspecto
Fabriciano Chaves Amaral Econômico. I. EPAMIG.

Capa: Fabriciano Chaves Amaral


CDD 630.5

Impressão:
O Informe Agropecuário é indexado na
AGROBASE, CAB INTERNATIONAL e AGRIS

Governo do Estado de Minas Gerais


Secretaria de Estado de Agricultura,
Pecuária e Abastecimento

IA261.indb 2 25/5/2011 10:18:18


Governo do Estado de Minas Gerais
Antonio Augusto Junho Anastasia
Governador
Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento
Elmiro Alves do Nascimento
Secretário

Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais


Cafeicultura de qualidade
Conselho de Administração
Elmiro Alves do Nascimento Sandra Gesteira Coelho
O Brasil é o maior produtor mundial de café com,
Antônio Lima Bandeira Elifas Nunes de Alcântara
Pedro Antônio Arraes Pereira Vicente José Gamarano aproximadamente, 43 milhões de sacas (mais de 30% da
Adauto Ferreira Barcelos Joanito Campos Júnior
Osmar Aleixo Rodrigues Filho Helton Mattana Saturnino produção mundial) previstas para a safra 2010/2011. É também
Décio Bruxel
Conselho Fiscal o maior exportador mundial desse produto e possui uma das
Carmo Robilota Zeitune Evandro de Oliveira Neiva melhores tecnologias para exploração da lavoura cafeeira.
Heli de Oliveira Penido Márcia Dias da Cruz
José Clementino Santos Celso Costa Moreira
Entretanto, o café brasileiro historicamente tem sofrido restrições
Presidência
Antônio Lima Bandeira em sua comercialização no mercado internacional com o
Vice-Presidência
Mendherson de Souza Lima
argumento de que é de qualidade inferior. O País é reconhecido
Diretoria de Operações Técnicas no mercado internacional como um fornecedor de grande
Plínio César Soares
Diretoria de Administração e Finanças
quantidade de cafés comuns e de baixo preço, ou seja, café
Aline Silva Barbosa de Castro
commodity. Para reverter esta situação, a cafeicultura nacional
Gabinete da Presidência
Thaissa Goulart Bhering Viana precisa acelerar as inovações e o investimento na melhoria da
Assessoria de Comunicação
Roseney Maria de Oliveira qualidade.
Assessoria de Desenvolvimento Organizacional Minas Gerais, como maior produtor de café do Brasil,
Felipe Bruschi Giorni
Assessoria de Informática tem um papel importante na busca de soluções para valorização
Silmar Vasconcelos
do produto. Tradicionalmente, os cafés de Minas são de boa
Assessoria Jurídica
Nuno Miguel Branco de Sá Viana Rebelo qualidade e produzidos de forma convencional. Porém, é
Assessoria de Negócios Tecnológicos
Sebastião Alves do Nascimento Neto possível melhorar essa qualidade e, consequentemente, agregar
Assessoria de Planejamento e Coordenação
Renato Damasceno Netto
valor ao produto com a implementação de técnicas de manejo,
Assessoria de Relações Institucionais de colheita e de preparo do café, as quais culminam com a
Luiz Carlos Gomes Guerra
Assessoria de Unidades do Interior
mudança do processo produtivo, atendendo aos mercados
Júlia Salles Tavares Mendes
interno e externo cada vez mais exigentes. O café mineiro é
Auditoria Interna
Márcio Luiz Mattos dos Santos produzido em 80 mil propriedades rurais de 682 municípios,
Departamento de Compras e Almoxarifado
Sebastião Alves do Nascimento Neto gerando 1,6 milhão de empregos diretos e indiretos.
Departamento de Contabilidade e Finanças
Warley Wanderson do Couto
O segmento de cafés especiais tem alcançado grande
Departamento de Engenharia destaque no mercado internacional. Representa um nicho de
Luiz Fernando Drummond Alves
Departamento de Transferência Tecnológica mercado que pode ser mais bem explorado pelo Brasil. Ao
Juliana Carvalho Simões
Departamento de Patrimônio e Serviços Gerais
mesmo tempo que existe diferencial no custo de produção de
Mary Aparecida Dias cafés especiais em relação aos comuns, em média de 11% a 20%,
Departamento de Pesquisa
Maria Lélia Rodriguez Simão há também um diferencial de preço, variável entre 10% e 30%.
Departamento de Publicações
Vânia Lúcia Alves Lacerda
As ações necessárias para a melhoria da qualidade do
Departamento de Recursos Humanos café brasileiro envolvem diversos segmentos. A pesquisa e a
Flávio Luiz Magela Peixoto
Departamento de Eventos Tecnológicos disseminação das tecnologias têm papel crucial nessa mudança.
Mairon Martins Mesquita
Esta edição do Informe Agropecuário visa contribuir para
Departamento de Transportes
José Antônio de Oliveira que informações sobre produção de café com qualidade e
Instituto de Laticínios Cândido Tostes
Luiz Carlos G. C. Júnior, Gérson Occhi e Nelson Luiz T. de Macedo alternativas para agregação de valor cheguem aos cafeicultores
Instituto Técnico de Agropecuária e Cooperativismo
Luci Maria Lopes Lobato e Francisco Olavo Coutinho da Costa e a todos os segmentos da cadeia produtiva do café.
EPAMIG Sul de Minas
Rogério Antônio Silva e Ana Paula de M. Rios Resende
Antônio Lima Bandeira
EPAMIG Norte de Minas
Polyanna Mara de Oliveira e Josimar dos Santos Araújo Presidente da EPAMIG
EPAMIG Zona da Mata
Trazilbo José de Paula Júnior e Giovani Martins Gouveia
EPAMIG Centro-Oeste
Édio Luiz da Costa e Waldênia Almeida Lapa Diniz
EPAMIG Triângulo e Alto Paranaíba
José Mauro Valente Paes e Marina Lombardi Saraiva

IA261.indb 3 25/5/2011 10:18:19


Momento oportuno para os cafés do Brasil
Antônio Nazareno Guimarães Mendes é engenheiro
agrônomo, pela Escola Superior de Agricultura de Lavras (Esal),
Mestre em Genética e Melhoramento de Plantas, pela Escola
Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, da Universidade de
São Paulo (Esalq/USP) e Doutor em Agronomia/Fitotecnia. Foi
pesquisador e chefe-técnico da Empa/Embrapa, Cáceres, MT.
Pesquisador científico e gerente da Fazenda Experimental de
Machado e chefe-geral do Centro Regional de Pesquisa do Sul
de Minas da EPAMIG. Foi fundador e primeiro coordenador do
Núcleo de Estudos em Cafeicultura da Universidade Federal
de Lavras (Ufla) e participou da Comissão Organizadora de
várias edições do Encontro Sul-Mineiro de Cafeicultura e do
Circuito Mineiro de Cafeicultura. Publicou, aproximadamente,
200 trabalhos técnico-científicos, sendo autor em 22 livros.
Possui vários prêmios por sua atuação para o desenvolvimento
do agronegócio café. É consultor da Fapesp, Fapemig e
Embrapa. Integrou o Comitê Diretor de Pesquisa do Conselho
Deliberativo da Política do Café (CDPC) e foi titular do
Conselho Fiscal da Associação Nacional dos Dirigentes das
Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes). Professor-
associado, pró-reitor de Pesquisa, vice-reitor e atual reitor da
Ufla.

IA - Em termos mundiais, o café é o se- a abertura e o asfaltamento de estradas, o em países como a Colômbia, o México, a
gundo produto em valor agregado, advento da energia elétrica e a industria- Indonésia, o Vietnã e outros.
depois do petróleo. O que este pro- lização, principalmente do Centro-Sul do
duto representa para os países em País, nos estados de São Paulo e Paraná. IA - Quais as perspectivas da cafeicultura
desenvolvimento que têm o café como Na atualidade, se esta importância relativa nacional e, particularmente, mineira
um dos pilares de sua economia? do café é menor para o País como um todo, para os próximos anos?
o mesmo não se pode dizer para as regiões
Antônio Nazareno - Para os países Antônio Nazareno - Boas perspec-
que têm nesse produto sua principal fonte
que se destacam como maiores produtores tivas. Estamos começando a viver um
de renda, como é o caso de Minas Gerais
mundiais de café, sua importância relativa cenário mais favorável aos produtores de
(regiões Sul, Alto Paranaíba e Triângulo
é muito grande, mesmo nos dias atuais, café, com franca recuperação dos preços
Mineiro, Zona da Mata e Chapadas de
quando outros produtos também assu- Minas), de grande parte do Espírito San- internacionais para cafés de melhor qua-
mem importância na pauta de exportação. to, e também de importantes regiões de lidade, após um longo período de crise.
No caso do Brasil, sempre lembramos outros Estados, como Paraná, São Paulo, Vivemos nos últimos anos uma das maiores
da importância histórica do café para o Bahia e Rondônia. Para essas regiões, o crises históricas da cafeicultura brasileira
desenvolvimento e industrialização, por- café continua sendo a mais importante e mundial, com preços nada remunera-
que foi graças às riquezas geradas pela atividade econômica geradora de emprego dores. Acompanhamos e lamentamos o
cafeicultura que o País impulsionou sua e renda, não apenas para grande parcela abandono da atividade por grande número
economia nos séculos 19 e 20, quando da população, mas também para as admi- de cafeicultores. Pois bem, aqueles que
ocorreram a criação da rede ferroviária, nistrações municipais. O mesmo ocorre sobreviveram na atividade até aqui, com
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 2 , n . 2 6 1 , m a r. / a b r. 2 0 11

entrevista-ia261.indd 4 26/5/2011 13:18:24


elevada cota de sacrifício, poderão, a partir os países produtores de café são pequenos por exemplo, que sempre investiram em
de agora, colher melhores frutos. Mas uma consumidores per capita do produto, exce- marketing internacional de seus cafés.
nova situação, com rápidas e profundas ção feita ao Brasil (felizmente). Portanto, Aliás, alguns países produzem cafés di-
mudanças no cenário econômico e político quase toda a produção de café desses países ferenciados em qualidade não por opção,
mundial, não permite a análise do mercado é exportada para os Estados Unidos, Euro- mas por imposição de suas condições de
de café com base em cenários do passado. pa, Japão e outros consumidores. Não há ambiente (maturação muito desuniforme
Há um novo e desconhecido cenário, com organização dos países produtores para a dos frutos, o que exige colheita seletiva
o mercado vivendo uma situação de escas- oferta mundial de café desde 1989, quando de frutos cereja, ou ocorrência de exces-
sez de estoques de café sem precedentes. ocorreu o término do Acordo Internacional so de chuva na colheita, o que exige o
Por outro lado, o mercado internacional do Café, vigente desde 1962 (pelo Acordo, processamento do café por via úmida).
desperta o interesse pelos cafés brasileiros, países produtores e consumidores negocia- Como o Brasil possui condições ótimas
particularmente aqueles de melhor quali- vam anualmente as cotas de exportação de ambiente para a atividade cafeeira em
dade, que já ultrapassam US$ 300/saca. e de importação de café, na tentativa de praticamente todas as regiões produtoras,
Entendo que é o momento de os cafeicul- estabilização dos preços; participavam do os cafeicultores muitas vezes descuidam
tores brasileiros investirem em tecnologias Acordo 42 países produtores e 25 países de algumas etapas do processamento,
para a rápida recuperação de suas lavouras consumidores e importadores, cerca de o que resulta em perda na qualidade do
e obtenção de maiores produtividades. Os 99,8% dos exportadores e 96% dos impor- produto. Outro aspecto a ser considerado
cafeicultores devem atentar, principalmen- tadores). Neste cenário de desorganização relaciona-se à remuneração, pois até pouco
te, para a qualidade do produto, porque do mercado quem se impõe, portanto, são tempo o diferencial de preço de um café
cafés “baixos”, de menor qualidade, não os países consumidores, principalmente superior para um produto padronizado
serão bem remunerados. É um cenário quando há equilíbrio entre oferta e pro- era muito pequeno. Percebemos que a
que também exige prudência: devemos cura de café ou, como ocorreu nas duas escassez de oferta de cafés de qualidade,
evitar a euforia e a expansão desordenada últimas décadas, quando a produção tende consagrados pelo marketing internacional
da cultura, por meio de novos plantios. A a ser um pouco acima do consumo. Só há (suaves colombianos, cafés oriundos do
cafeicultura mineira, por ser a mais pujante movimentação do mercado a favor dos pro- México e outros) trouxe muitos compra-
do Brasil e por representar cerca de 50% dutores, quando ocorre queda acentuada da dores para o Brasil, despertando neles o
da produção nacional, certamente será a produção mundial de café (por intempéries interesse pelo nosso café, como já dito, de
mais beneficiada neste cenário, em curto como geada ou seca, por exemplo, pouco qualidade igual ou superior aos melhores
e médio prazos. frequentes nos últimos anos) ou quando há cafés do mundo. O momento é oportuno
baixa excessiva dos estoques mundiais de para o Brasil conquistar este mercado e
IA - O fato de o Brasil ser o maior pro- café, como ocorreu este ano. estimular ainda mais a produção de cafés
dutor e segundo maior consumidor de qualidade superior nas várias regiões
de cafés no mundo deveria garantir IA - Tradicionalmente, o Brasil sempre produtoras; os cafeicultores serão também
maior poder de barganha ao governo comercializou grandes volumes de estimulados e responderão com produção
brasileiro durante a sua comerciali- café, enquanto outros países pro- de maior volume de cafés superiores, pois
zação. O que impede esta ação para dutores investiram na produção de há hoje maior compensação pelo preço
evitar crises, com altos custos de cafés de qualidade, absorvendo parte pago aos cafés de qualidade, atualmente
produção e desvalorização do preço do mercado e alcançando melhores com ágio de US$ 100-150/saca.
do produto? preços. Qual deve ser a estratégia do
Brasil para reverter esse quadro? IA - A produção de cafés de boa qualida-
Antônio Nazareno - Concordo que,
de, especiais e diferenciados, seria
por ser o maior produtor mundial de café, Antônio Nazareno - Na verdade, o
uma alternativa para agregação de
o Brasil deveria se impor mais no merca- Brasil também produz um volume con-
valor ao produto diante das oscila-
do internacional, mas, infelizmente, não siderável de cafés de qualidade, tanto
ções de mercado?
é esta a lógica que move o mercado de cerejas descascados, como naturais de
café. Temos, aproximadamente, 45 países terreiro, comparáveis e mesmo superiores Antônio Nazareno - Sim. Cafés de
produtores de café em todo o mundo, em aos melhores cafés do mundo. O problema boa qualidade sempre têm boa procura
sua expressiva maioria países pobres ou é que os cafés do Brasil não são cotados no mercado e são mais bem remunera-
em desenvolvimento, com economia pouco internacionalmente como aqueles produzi- dos, mesmo em momentos de excesso
estável. Há outro agravante: quase todos dos por alguns países, como a Colômbia, de oferta. Devemos considerar, ainda,
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 2 , n . 2 6 1 , m a r. / a b r. 2 0 11

IA261.indb 5 25/5/2011 10:18:20


que esta é uma das poucas alternativas, sustentabilidade. Nesse ponto o estado de IA - Sendo também cafeicultor, que
senão a única, de agregação de valor ao Minas Gerais pode-se orgulhar, pois conta mensagem deixaria aos produtores
café pelos produtores (esta consideração com vários projetos integrados na área, de café, cujo produto foi e continua
se aplica não apenas aos cafeicultores, com a efetiva participação de Instituições sendo um grande gerador de emprego
mas também aos Estados produtores e ao como EPAMIG, Ufla, UFV e Procafé. e renda no Brasil?
Brasil). Sabemos que por mais que se tente Conta ainda com importantes investimen-
tos em estruturas compartilhadas com os Antônio Nazareno - Fui, até pouco
agregar valor ao café, por meio da indus-
vários segmentos do agronegócio café, tempo atrás, um pequeno cafeicultor,
trialização no Brasil, para exportação de
como o Centro de Excelência do Café nas e, hoje, considero-me um miniprodutor
produtos semiacabados, a maior demanda
principais regiões produtoras, o Polo de de café. Infelizmente, com o envolvi-
pelos grandes importadores mundiais é de
Excelência do Café e o Instituto Nacional mento cada vez maior em atividades
café cru, pois o processamento é feito por
de Ciência e Tecnologia do Café (INCT- administrativas na Universidade, não
suas próprias indústrias, instaladas nos
Café/CNPq/Fapemig), sediados na Ufla, pude mais dedicar uma parcela do meu
países consumidores. Portanto, os maiores
em Lavras. tempo à atividade como produtor, mas
importadores mundiais sempre comprarão
procuro manter minhas atividades aca-
café cru, de melhor qualidade, do Brasil
IA - Qual a contribuição dos concursos dêmicas em cafeicultura, no ensino de
ou de quem o fornecer no mercado, e não
de Qualidade de Café regionais, es- graduação e pós-graduação, inclusive na
devemos nos esquecer que temos outros
taduais e nacionais para a melhoria orientação de estudantes e na pesquisa
mais de 40 países produtores mundiais,
da qualidade dos cafés produzidos em melhoramento genético do cafeeiro
nossos concorrentes, todos com reduzido
no Brasil? Arábica. Sou muito otimista quanto às
consumo interno de café e, portanto, ávidos
Antônio Nazareno - Os concursos de perspectivas atuais e futuras para o café
pela colocação de seu produto no mercado.
qualidade têm contribuído enormemente brasileiro, em especial para os cafeicul-
IA - Qual o papel da pesquisa brasileira para a melhoria da qualidade dos cafés tores mineiros. Recomendo apenas, além
direcionada aos cafés especiais do Brasil, por várias razões. Em primeiro das considerações feitas nas questões
diante do destaque alcançado pelo lugar, percebemos que a iniciativa busca anteriores, que os nossos cafeicultores
produto no mercado internacional? o reconhecimento dos cafeicultores par- atentem para a mudança de cenários que
ticipantes e a valorização de seu produto vivemos no presente, particularmente
Antônio Nazareno - Felizmente per- entre os consumidores. Os consumidores
num mercado disposto a pagar altas somas
cebemos que o cafeicultor brasileiro tem de países maiores importadores de café
pela qualidade, o que é muito positivo. Há
despertado seu interesse para a produção têm ampliado seu conceito de qualidade,
também um forte estímulo à maior profis-
de cafés de boa qualidade, com padrão valorizando determinados itens além da-
sionalização do cafeicultor, independen-
superior e certificação de origem, deman- queles que são perceptíveis no momento
temente do tamanho de sua propriedade,
dando de nossas Instituições de Pesquisa a pois o concurso motiva os participantes ao da aquisição do produto, como atributos
busca incessante de novos conhecimentos, gerenciamento da atividade cafeeira como associados ao aspecto, sabor e aroma.
tecnologias e inovações na área. É neste uma atividade empresarial lucrativa. Para Passam a exigir informações associadas
cenário que visualizamos a importância os organizadores é também importante o à cadeia primária de produção, origem
dos programas de pesquisa em andamento conhecimento do potencial de produção de do produto, processo de produção, sus-
no Brasil, em particular no estado de Minas cafés de qualidade de uma dada região, que tentabilidade, não comprometimento do
Gerais, sob a coordenação da EPAMIG, nos concursos de qualidade passa a ser ma- meio ambiente, inexistência de trabalho
com pesquisadores que buscam de modo peada pelos resultados alcançados. É ainda infantil e remuneração justa ao produtor.
racional o conhecimento necessário e as uma metodologia eficiente, por orientar o Estas nuances do mercado devem ser con-
inovações, fruto de trabalhos ordenados trabalho de Cooperativas e Associações de sideradas pelos cafeicultores brasileiros, a
e integrados que oferecem aos cafeicul- Cafeicultores, além de Empresas de Assis- fim de procederem à organização de seu
tores as melhores soluções, amenizando tência Técnica e Extensão Rural, na identi- processo produtivo para assegurar sua
suas dificuldades e procurando manter ficação dos pontos de estrangulamento do sobrevivência na atividade, contribuindo
suas capacidades competitivas, hoje tão processo produtivo de café em uma dada para que o café continue a ser um dos
abaladas. A ciência, a tecnologia e a ino- região e no estabelecimento de programas
produtos mais importantes para o Brasil.
vação são a base para uma real capacidade que busquem solucioná-los, com vistas
competitiva que não poderemos perder, à permanente melhoria da qualidade dos
especialmente no café, sempre agregada à cafés nela produzidos. Por Vânia Lacerda

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 2 , n . 2 6 1 , m a r. / a b r. 2 0 11

IA261.indb 6 25/5/2011 10:18:20


Produção de café: opção pela qualidade 7

Cafés especiais no Brasil: opção pela qualidade


Gerson Silva Giomo 1
Flávio Meira Borém 2

Resumo - Os cafés especiais são reconhecidos por sua qualidade diferenciada, sendo tanto
mais valorizados quanto mais raros e exóticos forem seus perfis sensoriais. A qualidade
da bebida do café é influenciada por diversos fatores, sendo os mais notáveis aqueles
relacionados com o ambiente, o processamento e a constituição genética das plantas
(espécie/cultivar). Os avanços tecnológicos e o desenvolvimento de cultivares produtivas
e adaptadas aos diversos ambientes transformaram o Brasil no maior produtor mundial
de café. Embora a qualidade venha sendo melhorada a partir da utilização de técnicas
apropriadas ao manejo do café na lavoura e na pós-colheita, são raras as iniciativas
direcionadas à exploração do potencial genético de novas cultivares para a produção
de cafés com qualidade de bebida diferenciada pelo sabor e aroma. Ainda que qualquer
cultivar de Coffea arabica L. tenha potencial para produzir cafés de alta qualidade, perfis
sensoriais mais valorizados, com elevada reputação no mercado de cafés especiais, têm
sido encontrados com maior frequência em cultivares antigas, como ‘Bourbon Amarelo’.
Outros genótipos, ainda não cultivados comercialmente no Brasil, vêm apresentando
características sensoriais promissoras para a produção de cafés especiais, com potencial
qualitativo superior ao Bourbon, constituindo excelente alternativa para incrementar a
produção de cafés especiais, à medida que propiciam a produção de microlotes de cafés
raros e com alto valor agregado.

Palavras-chave: Café. Coffea arabica. Qualidade do café. Cultivar. Genótipo.

INTRODUÇÃO Mesmo produzindo grande diversidade a conceitos antigos, não conhecem a rea-
de tipos de café, o Brasil ainda possui no lidade da cafeicultura brasileira e nem a
O Brasil é o maior produtor e expor-
mercado internacional a imagem de gran- sua diversidade.
tador mundial de café e possui uma das
de produtor de um único tipo de café, o A demanda por cafés especiais no mer-
melhores tecnologias para exploração da
café “Santos”. Para se desvencilhar dessa cado mundial vem crescendo em propor-
lavoura cafeeira. Embora seja líder no
imagem negativa ou visão equivocada ções maiores do que a por cafés comuns,
mercado desse produto, o País é reconhe- do café brasileiro, nos últimos anos tem indicando a preferência dos consumidores
cido no mercado internacional como um ocorrido uma busca intensa pela melhoria por aqueles que possuem qualidade de
fornecedor de grande quantidade de cafés da qualidade, incluindo investimentos em bebida diferenciada, principalmente no
comuns e de baixo preço, enquanto países infraestrutura e capacitação tecnológica em sabor, aroma, corpo e acidez (PEREIRA;
como Colômbia, Guatemala, Costa Rica e todas as regiões produtoras, principalmente BARTHOLO; GUIMARÃES, 2004). Ao
Quênia, dentre outros, são reconhecidos na fase de pós-colheita, com ênfase no mesmo tempo em que exigem qualidade,
pela produção de cafés de melhor qualida- processamento e na secagem do café. Con- os consumidores estão mais conscientes
de e com atributos sensoriais diferenciados, tudo, ainda é notória a existência de uma e aceitam pagar mais por cafés que satis-
os quais recebem prêmio por esses atribu- boa parcela de compradores internacionais façam suas preferências. Dessa forma, os
tos (SAES; NAKAZONE, 2004). de café, os quais, por estarem vinculados melhores preços pagos aos cafés especiais

1
Engo Agro, Pós-Doc., Pesq. Científico IAC - Centro de Café “Alcides Carvalho”, Caixa Postal 28, CEP 13012-970 Campinas-SP. Correio
eletrônico: gsgiomo@iac.sp.gov.br
Engo Agro, Pós-Doc, Prof. Associado III UFLA - Depto. Engenharia, Caixa Postal 3037, CEP 37200-000 Lavras-MG. Correio eletrônico:
2

flavioborem@deg.ufla.br

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 2 , n . 2 6 1 , p . 7 - 1 6 , m a r. / a b r. 2 0 11

IA261.indb 7 25/5/2011 10:18:20


8 Produção de café: opção pela qualidade

constituem uma ótima oportunidade para 1980, no qual a palavra specialty possui o um verdadeiro dilema, uma vez que nas
agregar valor ao café brasileiro, o que jus- significado de especialidade, de algo muito últimas décadas, a prática de comercia-
tifica intensificar o uso de estratégias que bom, de qualidade superior e diferenciada, lização de café no mercado brasileiro foi
contribuam para a melhoria da qualidade conforme Uejo Neto (2007). Assim, os a ausência de valorização da qualidade
e que facilitem a inserção desses cafés nos cafés especiais diferenciam-se dos comuns do produto. Alguns produtores alegam
mercados interno e externo. por características relacionadas com a qua- que os investimentos são elevados e não
Dada a diversidade do parque cafeeiro e lidade de bebida, o aspecto físico dos grãos, compensam os pequenos diferenciais de
o elevado nível tecnológico da cafeicultura, o local de origem, a forma de cultivo e de preços eventualmente pagos pelos cafés de
o Brasil possui condições favoráveis para colheita, o tipo de preparo, as cultivares e melhor qualidade. Outros, já consideram
aumentar sua participação no mercado de a quantidade limitada de produção, dentre que o investimento na produção de cafés
cafés especiais. Para tornar isso realidade, outras. de qualidade é uma necessidade para au-
são necessários investimentos tanto no se- Além de possuírem qualidade dife- mentar a competitividade da cafeicultura,
tor produtivo, quanto na pesquisa científica renciada e elevado potencial de expressão cujo retorno ocorrerá, à medida que conse-
e tecnológica, tendo em vista o aperfeiçoa- de aroma e sabor, os cafés especiais não guirem acessar mercados que pagam mais
mento de técnicas que contribuam efetiva- podem apresentar qualquer tipo de defeito, pelos cafés especiais.
mente para o aprimoramento da qualidade obtendo no mínimo 80 pontos na escala de Diante das oscilações de preço nos
do café. Alguns aspectos relacionados com classificação de cafés especiais da SCAA, mercados tradicionais de commodities,
o uso de novas cultivares, com maior apti- o que equivale a um café de bebida mole o segmento de cafés especiais tem sido a
dão para a produção de cafés especiais, têm de acordo com a Instrução Normativa aposta de muitos produtores para driblar
sido negligenciados no Brasil, o que requer no 8, de 11 de junho de 2003 (BRASIL, períodos de crise. Segundo Chagas et al.
direcionamentos inovadores da pesquisa 2003). Deve apresentar um caráter distinto (2009), o segmento de cafés especiais re-
para desenvolver cultivares com maior na xícara e ser notavelmente bom, pois, presenta um nicho de mercado que pode ser
potencial para a produção de cafés com mesmo apresentando bom aspecto físico, mais bem explorado no Brasil. Ao mesmo
qualidade de bebida diferenciada. se, após a torra, o café não for altamente tempo que existe diferencial no custo de
aromático e agradável ao paladar deixará produção de cafés especiais em relação aos
CAFÉS ESPECIAIS: CONCEITOS de ser especial. cafés comuns, em média de 11% a 20%,
E CARACTERÍSTICAS A qualidade diferenciada dos cafés há também um diferencial de preço para os
O segmento dos cafés especiais surgiu especiais está relacionada com a qualida- cafés especiais, variável entre 10% e 30%,
entre 1970 e 1980 nos Estados Unidos, de intrínseca do café, representando tudo podendo chegar a 100% em alguns casos
quando um grupo de industriais fundou a aquilo que os grãos possuem em termos isolados (SAES et al., 2008).
Specialty Coffee Association of America de compostos químicos, que, após a torra, Em vista do aumento da demanda por
(SCAA), com o objetivo de estimular a irão proporcionar aroma, sabor, acidez, cafés de melhor qualidade e da possibili-
produção e o consumo de cafés especiais. doçura e amargor à bebida. Nesse contex- dade de agregação de valor aos cafés espe-
O conceito de cafés especiais está rela- to, ressalta-se que a qualidade do café não ciais, tornam-se necessários investimentos
cionado com o prazer que a bebida pode deve ser confundida com a preferência do que priorizem a melhoria da qualidade do
proporcionar ao consumidor por meio de consumidor, ficando claro que qualidade café brasileiro, pois ainda que o Brasil
algum atributo específico. Seu significado intrínseca é aquilo que o café possui de encontre-se em situação favorável quanto
é amplo e depende do segmento para o qual fato, sob a interferência da interação ao volume de produção de café, precisa
se aplica, o que pode causar confusão em genótipo × ambiente × processamento, melhorar bastante no quesito qualidade.
determinadas situações, uma vez que pro- enquanto preferência é algo subjetivo É importante destacar que, em alguns
dutores, indústrias e consumidores podem que representa o gosto particular do con- casos, a melhoria da qualidade pode não
ter interpretações diferentes sobre o que é sumidor, sob interferência de aspectos render ágios, conforme a expectativa do
um café especial. socioeconômico-culturais e conhecimentos cafeicultor, mas poderá ser pré-requisito
Como não há uma definição precisa específicos relacionados com o café. para a entrada do café em determinados
sobre o conceito de cafés especiais, para mercados e, à medida que se conquistam
fazer uma abordagem imparcial, sem VALE A PENA INVESTIR NA novos mercados, pode ficar mais fácil
desmerecer ou privilegiar determinados MELHORIA DA QUALIDADE estabelecer melhores contratos e negociar
DO CAFÉ?
setores da cadeia produtiva, considera-se melhores preços para os cafés especiais.
apropriado utilizar o conceito original- Para muitos cafeicultores, essa é uma Dependendo da qualidade do café, as
mente proposto no início da década de questão que gera controvérsias e constitui diferenças de preço podem ser notáveis.
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 2 , n . 2 6 1 , p . 7 - 1 6 , m a r. / a b r. 2 0 11

IA261.indb 8 25/5/2011 10:18:20


Produção de café: opção pela qualidade 9

Cafés finos e cafés de boa qualidade podem do volume de café manejado nos terreiros, beneficiamento, armazenamento e torra
receber preços bem maiores que os cafés secadores e tulhas, redução do período de interagem entre si e afetam a qualidade do
comuns (Quadro 1). Destaca-se o café secagem dos cafés em pergaminho, quando café em diferentes intensidades. Por causa
cereja descascado (CD) com diferencial comparados aos cafés naturais. dessas interações é muito difícil apontar
de preço de R$ 50,00 a R$ 60,00 por saca Ainda que não ocorra a devida re- quais são os elementos mais importantes
em relação ao café fino/extrafino, conside- muneração pela qualidade do café CD, o na definição da qualidade de bebida, o que
rando-se os preços mínimos e máximos, descascamento pode melhorar a eficiência requer estudos detalhados do desempenho
respectivamente. produtiva, reduzir custos operacionais e qualitativo de cultivares, a fim de indicar as
Observam-se perdas de R$ 10,00, aumentar as chances de melhorar a qua- mais adaptadas a cada ambiente.
R$ 40,00, R$ 60,00 e R$ 110,00 por saca, lidade do café. Por outro lado, é preciso Dentre diversas espécies do gênero
em relação aos cafés de boa qualidade – estar ciente que o descascamento do café Coffea, a C. arabica L. é a que apresenta
duros bem preparados, duros com xícaras pode não significar melhoria de qualidade, melhor qualidade de bebida, sendo consi-
mais fracas, riados e rio, respectivamente. se não for devidamente acompanhado da derada a única capaz de produzir cafés com
Portanto, é bem visível que o preço do café implementação de um pacote tecnológico bebidas aromáticas e saborosas. Bebidas
decresce, à medida que piora a qualidade completo para o seu manejo na pré e pós- de qualidade inferior são consideradas
da bebida. Nota-se também que os cafés colheita. anormalidades para a espécie C. arabica e
para consumo interno geralmente pos- podem estar associadas a alguma falha na
suem pior qualidade e, por isso, recebem IMPORTÂNCIA DA produção, colheita ou pós-colheita do café,
menores preços que os cafés finos. Dessa CONSTITUIÇÃO GENÉTICA assim como a adversidades ambientais que
forma, fica ilustrada a questão do binômio DAS CULTIVARES impedem a expressão plena do potencial
qualidade × preço, cabendo ao cafeicultor A qualidade de bebida do café é de- genético das cultivares.
a decisão pelo investimento na melhoria terminada principalmente pelo sabor e O componente genético é representati-
da qualidade do café. aroma formados durante a torração a partir vo na definição do sabor e aroma do café,
Ressalta-se que em determinados anos de precursores presentes no grão cru, in- e quando se consegue uniformizar outras
o diferencial de preço entre os melhores e fluenciada por inúmeros fatores, tais como: fontes de interferência é possível encon-
os piores cafés é menor, podendo represen- genéticos, ambientais e tecnológicos e suas trar diferenças na expressão do potencial
tar o limiar entre o lucro e o prejuízo. As- interações. Estudos como os de Alpizar genético para a qualidade de bebida entre
sim, o café CD deve receber maior atenção e Bertrand (2004) indicam que o fator cultivares. Segundo Poulaim et al. (2009),
por parte do produtor, uma vez que o ágio genético, as condições ambientais e os a cultivar é um dos fatores que mais contri-
pago para esse tipo de café pode compen- procedimentos na colheita e pós-colheita bui para a definição da qualidade de bebida
sar os investimentos necessários para a são os elementos mais importantes na de- do café Arábica. Certas características
sua produção. Quando se adota a técnica terminação da qualidade do café. da qualidade do café são relativamente
de processamento do café CD, há outras Assim, fatores relacionados com o solo, estáveis e inerentes ao genótipo, podendo
vantagens competitivas agregadas ao pro- altitude, face de exposição, cultivar, mane- servir como indicativo de espécies ou cul-
cesso produtivo, sendo notória a redução jo, maturação, processamento, secagem, tivares. Assim, diferentes cultivares podem
produzir cafés que apresentam diferenças
na qualidade global da bebida, com sabor e
QUADRO 1 - Preços de café em grão cru, bica corrida, tipo 6 para melhor, safra 2009/2010 - aroma distintos, mesmo quando cultivadas
São Paulo, SP
nas mesmas condições.
Preço As principais diferenças de sabor entre
Descrição (R$/saca)
genótipos de C. arabica são devidas às
Mínimo Máximo
diferenças na constituição genética das
Cereja descascado finos 380,00 400,00 plantas (MEDINA FILHO, 2007), a qual
Finos a extrafinos (Mogiana e Minas) 330,00 340,00 determina a manifestação de precursores
Boa qualidade (duros bem preparados) 320,00 325,00 de sabor e aroma distintos entre diferentes
Duros com xícaras mais fracas 290,00 310,00 genótipos. Vários estudos já foram feitos
Riado 270,00 280,00 visando correlacionar o efeito genético de
Rio 220,00 250,00 cultivares de café Arábica com a qualidade
Consumo interno (bebida dura) 230,00 240,00 de bebida. Entretanto, os resultados são
Consumo interno (bebida riada) 220,00 230,00 variáveis, sendo afetados tanto pela baixa
FONTE: Dados básicos: Escritório Carvalhaes (2010). diversidade genética existente nas culti-
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 2 , n . 2 6 1 , p . 7 - 1 6 , m a r. / a b r. 2 0 11

IA261.indb 9 25/5/2011 10:18:20


10 Produção de café: opção pela qualidade

vares comerciais, quanto pela influência aprimoramento da qualidade do café, espe- de Melhoramento Genético do Cafeeiro
do ambiente. cialmente aquelas relacionadas com a pós- Bourbon, que havia sido interrompido nos
Em estudo sobre os efeitos de forma colheita, observa-se que o fator genético anos 80. Dessa forma, desde 2005 vários
de processamento, genótipos e ambiente tem sido pouco explorado. Acredita-se que experimentos vêm sendo conduzidos
de produção na qualidade do café, Salla o uso intensivo de poucas cultivares pode para avaliar o desempenho agronômico
(2009) verificou uma forte interferência da levar à produção de cafés com sabores e e tecnológico de ‘Bourbons’ em diversas
constituição genética na determinação do aromas comuns e muito parecidos. Assim, regiões produtoras do estado de São Paulo
sabor e aroma. A qualidade de bebida da quando aparecem diferenças no perfil sen- (Campinas, Mococa, Franca e São Sebas-
maioria dos genótipos e cultivares variou sorial do café, essas são devidas muito mais tião da Grama) e Minas Gerais (Lavras e
em função do ambiente e da forma de ao ambiente ou a alguma forma específica Santo Antônio do Amparo), com ênfase no
processamento, porém algumas cultivares de processamento do que propriamente à estudo da cultivar Bourbon, tendo como
apresentaram melhor qualidade de bebida cultivar. testemunha as cultivares Catuaí e Mundo
em todos os ambientes e em qualquer for- Novo. A EPAMIG e a Ufla são parceiras
ma de processamento, indicando elevada Cultivares tradicionais fundamentais na condução e avaliação
estabilidade genética para a qualidade de Dentre as inúmeras cultivares de café desses experimentos.
bebida. Dessa forma, quando uma cultivar Arábica disponíveis no Brasil destacam- Diversas linhagens de ‘Bourbon Ama-
possui predisposição genética para mani- relo’ e ‘Bourbon Vermelho’ estão sendo
se algumas mais antigas como ‘Típica’,
festar sabores e aromas distintos, melhor avaliadas quanto ao potencial para a pro-
‘Bourbon’ e ‘Caturra’ que, a despeito da
qualidade de bebida poderá ser obtida em dução de cafés especiais, com qualidade de
baixa produtividade, são reconhecidas
diversos ambientes, independentemente da bebida superior e características sensoriais
mundialmente por produzirem cafés com
forma de processamento. Nesse caso, o fa- distintas. Resultados preliminares indicam
elevada qualidade de bebida. Outras cul-
que existe variabilidade para a qualidade
tor genético predomina sobre os demais e, tivares menos conhecidas como ‘Laurina’,
de bebida entre os genótipos estudados,
ainda que ocorram variações de intensida- ‘Ibairi’ e ‘Mokka’ destacam-se pelo exce-
principalmente quanto ao sabor e aroma, o
de em determinados atributos sensoriais, a lente aroma e sabor da bebida (MEDINA
que justifica a seleção genética (GIOMO et
cultivar continuará sendo reconhecida pelo FILHO, 2007), porém apresentam menor
al., 2010b). No Gráfico 1, é apresentado um
seu sabor e aroma característicos, inerentes potencial produtivo que a ‘Bourbon’ e,
comparativo da qualidade sensorial de 18
à sua própria constituição genética. obviamente, inferior às cultivares Catuaí
cultivares de café Arábica provenientes de
e Mundo Novo, além de exigirem siste-
São Sebastião da Grama, SP, processadas
CULTIVARES DIFERENCIADAS mas de produção mais apropriados para
PELA QUALIDADE DE BEBIDA por via úmida (cereja descascado).
compensar a baixa produtividade. Embora
As diferenças de qualidade de bebida
Por muitos anos, a principal meta do qualquer cultivar de C. arabica tenha
podem ser atribuídas ao componente gené-
melhoramento genético do cafeeiro no potencial para produzir cafés com melhor
tico das cultivares, uma vez que todos os
Brasil sempre foi a busca de incrementos qualidade de bebida, tem-se verificado que demais fatores que interferem na qualidade
de produtividade, associado ao vigor da sabores e aromas diferenciados ocorrem foram idênticos e devidamente monitora-
planta e resistência a alguma praga e/ou com elevada frequência em cultivares tra- dos. Todas as cultivares que apresentam
doença, sem grandes preocupações com as dicionais, com destaque para a ‘Bourbon nota acima de 80 pontos SCAA possuem
características de sabor e aroma que dife- Vermelho’ e ‘Bourbon Amarelo’. potencial para a produção de cafés espe-
renciam os cafés especiais. Graças a isso, ciais, com destaque para aquelas com nota
Cultivar Bourbon
as cultivares melhoradas contribuíram para igual ou superior a 82 pontos (Bourbon
que o País se tornasse o maior produtor A cultivar Bourbon é reconhecida in- Amarelo/Fazenda Betânia - Santo Antônio
mundial de café. No entanto, é necessá- ternacionalmente por apresentar elevado do Amparo; Bourbon Amarelo/Aloízio
rio destacar que a falta de prioridade no potencial para a produção de cafés com de Castro - Carmo de Minas; Bourbon
desenvolvimento de cultivares com maior qualidade de bebida superior nas regiões Italiano/Fazenda Monte Alegre - Alfenas;
aptidão para qualidade de bebida pode de melhor aptidão climática, sendo por Bourbon Trigo/Fazenda Monte Alegre -
constituir importante fator de restrição à isso altamente requisitada no mercado Alfenas; Bourbon Amarelo/Fazenda Sa-
qualidade. de cafés especiais. Considerando esses mambaia - Santo Antônio do Amparo e
Ainda que existam diversas regiões aspectos e o crescente interesse pelo uso Caturra Vermelho IAC-477.
produtoras, inúmeras cultivares para dessa cultivar, o Instituto Agronômico de Esses resultados confirmam o elevado
plantio e tecnologias específicas para o Campinas (IAC) restabeleceu o Programa potencial das cultivares Bourbon Amarelo
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 2 , n . 2 6 1 , p . 7 - 1 6 , m a r. / a b r. 2 0 11

IA261.indb 10 25/5/2011 10:18:21


Produção de café: opção pela qualidade 11

melhoria da qualidade do café (CARVA-


84 LHO; MONACO; SCARANARI, 1962).
Muitos desses genótipos apresentam varia-
83
bilidade natural para diversos parâmetros
82 qualitativos, com destaque para alguns
aspectos físicos (tamanho, formato, cor e
81
Notas SCAA

densidade dos grãos), químicos (teor de


80 cafeína e teor de óleo) e atributos sensoriais
79 (sabor, aroma, doçura e acidez).
O controle e o monitoramento dos
78
principais fatores que afetam a qualidade
77 do café são essenciais para permitir a
76
máxima expressão do potencial genético
Cultivares das cultivares. Assim, a utilização de pro-
BA Machado BA Patrocínio BA Alfenas T cedimentos bem definidos para a colheita,
MNV IAC502/9 BA IAC LCJ9 BA Alfenas L processamento, secagem e preparo de
CV IAC144 BA Carmo Minas C BA SAAmparo S amostras, com técnicas específicas para a
BA Machado MNV IAC502/9 C
BV Varginha BA Carmo Minas N MNA IAC 4266 avaliação da qualidade sensorial, tem sidoLCJ9
BA Patrocínio BA IAC B
BV Campos Altos BA Carmo Minas P CtA IAC476 fundamental para a detecção de nuances
BA Alfenas L B
BA Alfenas T
BA SAAmparo B BA Alfenas I CtV IAC477 raras de sabor e aroma, tanto em cultivares
antigas quanto em genótipos introduzidos
Gráfico 1 - Pontuação SCAA obtida na avaliação de cultivares de C. arabica, processa- de outros países.
mento cereja descascado - São Sebastião da Grama, SP Resultados preliminares têm confirma-
FONTE: Giomo et al. (2010b). do que o fator genético exerce um efeito
NOTA: SCAA - Specialty Coffee Association of America; BA Machado - Bourbon Ama- acentuado na determinação do perfil sen-
relo/EPAMIG-Machado; MNV IAC502/9 - Mundo Novo IAC 502/9/EPAMIG- sorial do café, o que permitirá a seleção de
Machado; CV IAC144 - Catuaí Vermelho IAC 144/EPAMIG-Machado; BV Var- cultivares diferenciadas para a produção
ginha - Bourbon Vermelho/Procafé-Varginha; BV Campos Altos - Bourbon Ver-
de cafés especiais, com características
melho/Fazenda São João Batista-Campos Altos; BA SAAmparo B - Bourbon
Amarelo/Fazenda Betânia-Santo Antônio do Amparo; BA Patrocínio - Bourbon
sensoriais raras e exóticas (GIOMO et al.,
Amarelo/Fazenda Boa Vista-Patrocínio; BA IAC LCJ9 - Bourbon Amarelo LCJ 9/ 2010a). Uma vez identificadas as caracte-
IAC-Campinas; BA Carmo Minas C - Bourbon Amarelo/Aloízio de Castro-Carmo rísticas qualitativas de interesse, o passo
de Minas; BA Carmo Minas N - Bourbon Amarelo/Sebastião Nogueira-Carmo de seguinte é transferi-las para cultivares
Minas; BA Carmo Minas P - Bourbon Amarelo/Fazenda Paixão-Carmo de Minas; com maior potencial produtivo. Assim,
BA Alfenas I - Bourbon Italiano/Fazenda Monte Alegre-Alfenas; BA Alfenas T - por meio de melhoramento genético dire-
Bourbon Trigo/Fazenda Monte Alegre-Alfenas; BA Alfenas L - Bourbon Limoeiro/ cionado à melhoria da qualidade do café,
Fazenda Monte Alegre-Alfenas; BA SAAmparo S - Bourbon Amarelo/Fazenda
torna-se possível a seleção de cultivares
Samambaia-Santo Antônio do Amparo; MNA IAC4266 - Mundo Novo Amarelo
IAC4266; CtA IAC476 - Caturra Amarelo IAC476; CtA IAC477 - Caturra Verme-
que associem alta produtividade com
lho IAC477. qualidade de bebida diferenciada, princi-
palmente quanto ao sabor e aroma.
No Quadro 2, é apresentada a descrição
e Caturra para a produção de cafés espe- Novas cultivares dos perfis sensoriais de alguns genótipos
ciais que, nas condições do experimento, e cultivares de C. arabica, para o mesmo
Pesquisas desenvolvidas pelo IAC
superaram a cultivar Catuaí Vermelho ambiente e mesma forma de processamen-
indicam que cultivares primitivas de C.
IAC-144, utilizada como testemunha. À to. Nota-se que os genótipos apresentaram
medida que esses resultados vão sendo arabica introduzidas da África (Etiópia,
qualidade de bebida superior à das cultiva-
confirmados e validados, novas linhagens Quênia, Tanzânia, Sudão), Índia e América res Catuaí Vermelho IAC-81 e Catuaí Ama-
e/ou cultivares de Bourbon Amarelo e Central (Guatemala, El Salvador e Costa relo IAC-62, utilizadas como testemunha,
Caturra, diferenciadas para a produção de Rica), dentre outras, assim como genótipos tanto pela nota global, quanto pelo perfil
cafés especiais, poderão ser testadas em selvagens introduzidos da Etiópia, apresen- sensorial, constituindo material de interes-
outros ambientes e recomendadas para tam elevado potencial para a utilização em se para o aprimoramento da qualidade de
plantio em escala comercial. programas de melhoramento que visem à bebida. Alguns genótipos produzem cafés
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 2 , n . 2 6 1 , p . 7 - 1 6 , m a r. / a b r. 2 0 11

IA261.indb 11 25/5/2011 10:18:21


12 Produção de café: opção pela qualidade

QUADRO 2 - Descrição do perfil sensorial de genótipos selvagens introduzidos da Etiópia o processo de seleção de plantas, essen-
em comparação com cultivares comerciais, processamento por via seca cialmente para atender alguns padrões
Genótipo Origem Nota SCAA e descrição do perfil sensorial do mercado de commodities, quando na
32 – Gojjan Etiópia 86 - Frutado, caramelo, avinhado, uva passa verdade essas características apresentam
28 – Kaffa Etiópia 85 - Floral suave, frutado, terroso, avinhado pouca importância, quando o foco é a
52 – Illubabor Etiópia 84 - Floral suave, chocolate, melado qualidade da bebida.
Excelente qualidade de bebida pode ser
54 - BA10 Índia 84 - Chocolate, caramelo, terroso, avinhado
obtida a partir de genótipos que produzem
24 – Harar Etiópia 84 - Chocolate, frutado, uva, cedro, complexo
grande quantidade de grãos pequenos e
97/27 – Híbrido Brasil 84 - Chocolate, frutado, caramelo, mel, cedro
grãos mocas, contrariando a regra geral.
62 – Harar Etiópia 83 - Floral intenso, frutado, mel, uva passa
Nesse contexto, não se descarta a possibi-
12 – Shoa Etiópia 81 - Terroso, amadeirado, suave lidade de ter ocorrido seleção negativa para
CV IAC81 Brasil 78 - Doçura boa, adstringência moderada a qualidade de bebida em determinadas
CA IAC62 Brasil 77 - Amargor forte, sabor desagradável, borracha, cultivares brasileiras. Por isso, quando
FONTE: Giomo et al. (2010a). se trabalha com genótipos selvagens e/ou
NOTA: SCAA - Specialty Coffee Association of America; CV - Catuaí Vermelho; CA - Catuaí novas cultivares, visando o mercado de
Amarelo. cafés especiais, não devem ser seguidos os
mesmos padrões existentes para os cafés
comuns.
com sabores e aromas distintos daqueles e nutrição desequilibrada, interferem no
encontrados nas principais cultivares co- tamanho dos grãos. Classificação quanto às
merciais, muitas vezes assemelhando-se Quando há predominância do efeito características físicas
ao perfil sensorial dos cafés produzidos genético na definição de características
As principais características físicas dos
nas regiões de origem desses genótipos, os físicas dos grãos, inclusive no tamanho
grãos de café estão relacionadas com o
quais são classificados como cafés exóticos e formato dos grãos, é necessário maior
tamanho, o formato, a cor e a massa espe-
e mais valorizados no mercado de cafés atenção para compreender os efeitos
cífica e são utilizadas rotineiramente como
especiais. relacionados com a qualidade do café.
parâmetros para avaliação da qualidade do
Dessalegn et al. (2008) e Kathurima et al.
café, segundo alguns padrões estabelecidos
AVALIAÇÃO DA QUALIDADE (2009) avaliaram a qualidade de bebida e
pelo mercado. Para avaliação da qualidade
DOS CAFÉS ESPECIAIS as características físicas e químicas dos
física, além das características intrínsecas
A qualidade do café não é uma variável grãos de diversas cultivares de café Arábica dos grãos normais, colhidos e processados
subjetiva, uma vez que pode ser quantifica- e verificaram que não houve correlação corretamente, também é verificada a pre-
da e avaliada objetivamente. Assim, pode significativa entre características físicas ou sença de grãos que apresentam algum tipo
ser usada como uma variável resposta em teor de cafeína com a qualidade de bebida. de defeito, como os grãos verdes, pretos e
pesquisas científicas que envolvam o apri- Isso indica que a seleção de cultivares para ardidos, considerados anormalidades por
moramento da qualidade do café. Quanto à melhor qualidade de bebida ou para dife- estarem relacionados com algum problema
qualidade física do café, um conceito que rentes teores de cafeína nos grãos não deve que ocorreu durante o processo produti-
precisa ser mais bem compreendido é aque- ser feita unicamente com base no tamanho vo. Demais tipos de grãos que sofreram
le relacionado com o tamanho dos grãos, dos grãos, pois poderá ser pouco efetiva. qualquer tipo de alteração como brocados,
geralmente caracterizado por meio de Ainda que o aspecto físico do grão, deteriorados e quebrados, assim como
peneiras com crivos circulares e oblongos. principalmente relacionado com o tamanho impurezas e matérias estranhas, também
Tradicionalmente, em diversos países, e a aparência, seja um fator relevante na são classificados como defeitos por apre-
valorizam-se mais os cafés que apresentam determinação do preço do café, a quali- sentarem risco à qualidade do café.
grãos graúdos, por entenderem que esses dade de bebida é, sem dúvida, o principal No Brasil, oficialmente a classificação
grãos têm melhor aspecto e/ou melhor diferencial de um café especial, o qual é do café é feita de acordo com os proce-
conformação e, por isso, podem propor- tanto mais valorizado quanto mais raro dimentos estabelecidos pela Instrução
cionar melhor bebida. De fato, essa é uma e exótico for o seu perfil sensorial. Essas Normativa no 8 de 11/6/2003 (BRASIL,
característica física importante para o informações são extremamente úteis aos 2003), que diz respeito ao regulamento
mercado, pois constitui um indicativo do programas de melhoramento genético do técnico para a classificação de café cru.
desenvolvimento dos grãos, uma vez que cafeeiro no Brasil, pois frequentemente O café beneficiado é classificado quanto à
fatores ambientais que causam estresse às observa-se grande preocupação quanto ao espécie, ao formato do grão e à sua granu-
plantas, como, por exemplo, falta de água tamanho e ao formato dos grãos durante lometria (Quadro 3), quanto à qualidade
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 2 , n . 2 6 1 , p . 7 - 1 6 , m a r. / a b r. 2 0 11

IA261.indb 12 25/5/2011 10:18:21


Produção de café: opção pela qualidade 13

QUADRO 3 - Classificação de café Arábica quanto ao formato e tamanho dos grãos não se encontrou outra solução, em vista
Grão chato Grão moca da complexidade dos fatores que envolvem
Peneiras com crivos circulares Peneiras com crivos oblongos a manifestação de aromas e sabores na
bebida. É uma das etapas mais importantes
Graúdo 19, 18 e 17 Graúdo 13, 12 e 11
na avaliação da qualidade do café, pois a
Médio 16 e 15 Médio 10 qualidade da bebida é um dos aspectos que
Miúdo ≤ 14 Miúdo ≤9 recebem maior peso na definição do preço
FONTE: BRASIL (2003). do produto.
A prova de xícara tradicional é larga-
mente empregada para a classificação da
da bebida pela prova de xícara e quanto ao sensorial deve ser igual ou superior bebida dos cafés commodities, que podem
tipo em função da quantidade de defeitos a 80 pontos; ser classificados em bebida estritamente
presentes em uma amostra de 300 g. Essa c) not specialty: são cafés que apresen- mole, mole, apenas mole, dura, riado, rio
classificação pode ser usada tanto para tam defeitos em quantidade superior e rio zona (Quadro 4). Contudo, como não
cafés comuns quanto para cafés especiais,
ao permitido nas categorias specialty há um critério uniforme ou padronização
porém pode haver restrição ao seu uso para
ou premium e/ou nota inferior a 80 de procedimentos para a sua realização,
determinados mercados.
pontos na análise sensorial. Também especialmente quanto à torra do café,
Para a classificação exclusiva de cafés
se enquadram nessa categoria cafés esse tipo de avaliação sensorial apresenta
especiais, a SCAA adota um método em
com odores estranhos, como, por algumas limitações, não sendo adequado
que a quantificação de defeitos assemelha-
exemplo, fumaça e óleo diesel, ou para a análise sensorial de cafés especiais.
se ao método brasileiro. Na classificação
teor de água acima de 12% para A subjetividade da avaliação senso-
de grãos crus, são utilizadas amostras de
cafés despolpados e 13% para cafés rial do café não está bem fundamentada,
350 g e os defeitos são separados em pri-
naturais, mesmo que tenham quanti- visto que as diferenças entre os tipos de
mários e secundários. Também é feita uma
dade de defeitos dentro dos limites bebidas de café são bem acentuadas, não
avaliação de grãos torrados em amostras de
permitindo que degustadores treinados e
100 g para verificar se existem quakers, ou de tolerância ou nota acima de 80
experientes tenham dúvida quanto à clas-
seja, grãos imaturos ou de baixa densidade, pontos.
sificação da bebida (BARCA, 1998). Um
que permanecem com coloração mais clara
bom provador de café precisa ter sensibili-
destoante da média após a torra (KOSA- Classificação quanto às
características sensoriais dade olfativa e gustativa para diferenciar as
LOS et al., 2004). Segundo esse método,
características principais da bebida, como
os cafés podem ser classificados em três A avaliação sensorial do café é feita aroma, doçura, acidez, corpo e amargor
categorias, descritas a seguir: por meio dos órgãos dos sentidos, especial- e nuances especiais, identificando com
a) specialty: café que não apresenta mente gosto, olfato e tato. Embora possa precisão a qualidade do café.
nenhum tipo de defeito primário parecer uma avaliação subjetiva, a análise Na avaliação sensorial de cafés espe-
(preto, ardido, coco, danificado por sensorial é o método mais utilizado para ciais, além da nota global são importantes
fungo, severamente danificado por caracterização da qualidade de bebida do as pontuações obtidas em cada um dos
inseto, material estranho) e pode café e, ainda que seja passível de erros, atributos sensoriais que compõem a qua-
ter até no máximo cinco defeitos
secundários (parcialmente preto,
parcialmente ardido, marinheiro, QUADRO 4 - Descrição dos tipos de bebida do café, segundo Instrução Normativa no 8, de
malformado, verde, concha, que- 11/6/2003
brado, cascas, levemente danificado Tipo de bebida Características básicas
por inseto). Não pode apresentar Estritamente mole Sabor muito agradável, muito suave e muito adocicado
nenhum grão quaker no café torrado Mole Sabor agradável, suave e adocicado
e a nota da análise sensorial deve ser
Apenas mole Sabor levemente doce, suave e com leve adstringência
de no mínimo 80 pontos SCAA;
Dura Sabor áspero, adstringente e sem paladares estranhos
b) premium: café que apresenta até
Riada Leve sabor de iodofórmio ou ácido fênico
oito defeitos primários ou secundá-
rios na avaliação do grão cru. Pode Rio Sabor acentuado e desagradável de iodofórmio
apresentar até três grãos quaker Rio zona Sabor muito forte de iodofórmio, repugnante ao paladar
no café torrado e a nota da análise FONTE: BRASIL (2003).

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 2 , n . 2 6 1 , p . 7 - 1 6 , m a r. / a b r. 2 0 11

IA261.indb 13 25/5/2011 10:18:21


14 Produção de café: opção pela qualidade

lidade da bebida. Dentre as metodologias lote. Para cafés sem defeitos os atributos Protocolo de análise
disponíveis para análise sensorial dos objetivos acumulam 30 pontos, mas quan- sensorial SCAA
cafés especiais tem sido bastante utilizado do ocorrem defeitos que comprometem a
O método SCAA de análise sensorial
o método da SCAA, elaborado a partir qualidade da bebida há penalização, como
prescreve a utilização de protocolos es-
da sistematização de avaliação sensorial defeito leve (peso 2) ou forte (peso 4), onde
tabelecidos pelos Comitês Técnicos da
proposta por Lingle (2001). A utilização de o número de xícaras com defeito multipli-
SCAA. De acordo com esses protocolos,
procedimentos padronizados (protocolo) cado pelo respectivo peso de cada defeito
a torra do café deverá ser leve a modera-
em todas as etapas do preparo e análise resulta no valor que deverá ser descontado
damente leve, cuja coloração corresponde
dos cafés torna esse método bastante aceito da nota final do café. Os resultados finais
e utilizado em qualquer lugar do mundo a 58 pontos da escala Agtron para o grão
da avaliação sensorial são expressos de
onde exista café especial (ALVES, 2007). acordo com a escala de classificação de inteiro e 63 pontos para o grão moído, com
Os atributos sensoriais são agrupados cafés especiais da SCAA apresentada no tolerância de ± 1 ponto. A torração deverá
em duas categorias, sendo uma subjetiva, Quadro 6. ser realizada dentro do prazo mínimo de
representada pela fragrância/aroma, sabor, Para melhor compreensão da escala 8 h e máximo de 24 h antes da degustação
sabor residual, acidez, corpo, equilíbrio e de classificação dos cafés especiais, pode e o ponto de torra deverá ser verificado por
impressão global, e uma objetiva, repre- ser estabelecida uma equivalência entre os equipamento M Basic Agtron ou equiva-
sentada pela uniformidade, xícara limpa e resultados obtidos na avaliação SCAA com lente, ou por comparação com discos de
doçura. Os atributos subjetivos são pontu- os resultados obtidos na avaliação brasi- cores compatíveis com a escala Agtron.
ados segundo sua qualidade em uma escala leira, conforme Uejo Neto (2007). Dessa Para obtenção do ponto de torra ideal é
de 6 a 10 pontos, com intervalos de 0,25 forma, tem-se a comparação apresentada fundamental a padronização das amostras
pontos, conforme a escala de pontuação no Quadro 7. quanto ao peso e ao tamanho dos grãos,
apresentada no Quadro 5. A faixa inferior
da escala, abaixo de 6 pontos, não é apre-
QUADRO 5 - Escala de pontuação de cada atributo para análise sensorial de cafés especiais,
sentada, pois serve para discriminar cafés
segundo método da SCAA
com qualidade abaixo do grau specialty.
Há também uma escala de intensidade para Nível de qualidade Pontuação correspondente

fragrância/aroma (fraco a forte), acidez Excepcional > 9,00


(baixa a alta) e corpo (diluído ou denso). Excelente 8,00 a 8,75
O método SCAA permite determinar Muito Bom 7,00 a 7,75
diferenças entre as características senso- Bom 6,00 a 6,75
riais de diferentes amostras de café, assim FONTE: Specialty Coffee Association of America (2009).
como descrever as notas de aroma e sabor
predominantes e determinar as possibilida-
des de aplicação de cada café. Resultados QUADRO 6 - Escala de classificação de cafés especiais
altamente positivos decorrem da percepção Pontuação Descrição Classificação
de um conjunto equilibrado formado por 90-100 Exemplar Café especial
todos os atributos avaliados. Por outro
85-89,99 Excelente Café especial
lado, os defeitos da bebida implicam em
80-84,99 Muito bom Café especial
resultados pouco expressivos, decorrentes
de interferências desagradáveis no sabor. < 80 Bom Café não especial

A avaliação global baseia-se na memória FONTE: Specialty Coffee Association of America (2009).

sensorial que o degustador possui, sempre


tomando por referência cafés de mesma QUADRO 7 - Escala de equivalência de qualidade de bebida, considerando a classificação
origem e natureza. Specialty Coffee Association of America (SCAA) e a classificação brasileira
Os atributos objetivos são pontuados Pontuação SCAA Classificação SCAA Classificação brasileira
em uma escala de 0 a 10 pontos, sendo
≥ 85 pontos Excelente (especial) Bebida estritamente mole
atribuídos 2 pontos a cada xícara que apre-
80 a 84 pontos Muito bom (especial) Bebida mole
sente normalidade quanto à uniformidade,
xícara limpa e doçura, sendo avaliadas 75 a 79 pontos Bom (não especial) Bebida apenas mole
cinco xícaras para cada amostra, onde cada 70 a 74 pontos Comum (não especial) Bebida dura
uma representa estatisticamente 20% do FONTE: Dados básicos: Uejo Neto (2007) e Specialty Coffee Association of America (2009).

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 2 , n . 2 6 1 , p . 7 - 1 6 , m a r. / a b r. 2 0 11

IA261.indb 14 25/5/2011 10:18:21


Produção de café: opção pela qualidade 15

sendo imprescindível monitorar a tempera- em estratégias que priorizem a melhoria ria e Abastecimento. Instrução Normativa
tura e o tempo de torra. Para preservação da da qualidade do café. Há mercados que no 8, de 11 de Junho de 2003. [Aprova o
qualidade do café, a torra deve ser realizada primam pela qualidade da bebida e pagam Regulamento Técnico de Identidade e de
entre 8 e 12 min. mais pelos cafés especiais, o que pode Qualidade para a Classificação do Café
Beneficiado Grão Cru]. Diário Oficial [da]
Para que o método de análise senso- viabilizar o uso de novas cultivares even-
República Federativa do Brasil, Brasília, 13
rial da SCAA seja aplicado corretamente tualmente menos produtivas, desde que re-
jun. 2003. Seção 1, p. 22-29.
devem ser seguidas todas as orientações e almente apresentem qualidade diferenciada
prescrições estabelecidas nos protocolos e as características de sabor e aroma que o CARVALHO, A.; MONACO, L.C.; SCA-
RANARI, H.J. Melhoramento do cafeeiro -
da SCAA, principalmente aquelas rela- mercado procura. A melhoria da qualidade
XXIV: variação na produtividade de cafeei-
cionadas com a qualidade da água (water de bebida do café depende de investimen-
ros importados, com referência especial ao
standard for brewing specialty coffee) tos em infraestrutura, equipamentos, e
material da Etiópia e do Sudão. Bragantia,
e com o preparo das amostras (cupping capacitação técnica e, prioritariamente, no Campinas, v.21, p. 215-239, 1962.
specialty coffee), a fim de manter sob con- uso de cultivares com maior potencial para
CHAGAS, I.S.P. et al. Avaliação do mer-
trole possíveis fontes de interferência na a produção de cafés especiais.
cado de cafés especiais. In: CONGRESSO
qualidade do café (SPECIALTY COFFEE Dado o atual nível tecnológico da cafei-
DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ECONO-
ASSOCIATION OF AMERICA, 2009). cultura e a diversidade do parque cafeeiro, MIA, ADMINISTRAÇÃO E SOCIOLOGIA
O painel sensorial deve ser constituído o Brasil possui condições favoráveis para RURAL, 47., 2009, Porto Alegre. Anais...
por degustadores, devidamente treinados se tornar um grande produtor de cafés es- Desenvolvimento rural e sistemas agroali-
e habilitados pela SCAA, denominados peciais, com capacidade para atender aos mentares: os agronegócios no contexto de
SCAA Certified Cupping Judges. Esses mais diversos mercados espalhados pelo integração das nações. Brasília: SOBER,
juízes são submetidos periodicamente à mundo. A produção de cafés com qualidade 2009. Disponível em: <http://www.sober.
avaliação e à calibração de suas habilidades de bebida diferenciada depende de vários org.br/palestra/13/1349.pdf>. Acesso em:
sensoriais, especialmente as olfativas e as fatores, dentre os quais merece destaque 21 set. 2010.
gustativas, aumentando a representativida- o uso de cultivares com maior potencial DESSALEGN, Y. et al. Genetic diversity
de da análise sensorial realizada por esse para produção de cafés diferenciados pelo and correlation of bean caffeine content
método. Análises sensoriais realizadas em sabor e aroma. Embora pouco estudado no with cup quality and green bean physical
não conformidade com os procedimentos Brasil, esse tema tem despertado a atenção characteristics in coffee (Coffea arabica L.).
preconizados pela SCAA não podem ser em vários países produtores de cafés espe- Journal of the Science of Food Agriculture,
v.88, n.10, p.1726-1730, Aug. 2008.
efetivamente consideradas como “método ciais, exemplo que deve ser seguido por
SCAA”, ainda que seja utilizado o formu- todos aqueles que queiram produzir cafés ESCRITÓRIO CARVALHAES. Cotações de
lário da SCAA para aquisição dos dados. diferenciados. café Brasil: mercado físico em 19/10/2010.
Santos, 2010. Disponível em: <http://www.
CONSIDERAÇÕES FINAIS REFERÊNCIAS carvalhaes.com.br/ cotacoes/cotacoes.asp>.
Acesso em: 20 out. 2010.
Teoricamente, qualquer cultivar de café ALPIZAR, E.; BERTRAND, B. Incidence
GIOMO, G.S.; BORÉM, F.M.; SILVAROLLA,
Arábica possui potencial para produzir of elevation on chemical composition and
M.B. Beverage quality of wild ethiopian
cafés com elevada qualidade de bebida, beverage quality of coffee in Central Amer-
Arabica coffee accessions in Brazil. In: IN-
pois essa é uma característica inerente à ica. In: INTERNATIONAL CONFERENCE
TERNATIONAL CONFERENCE ON COF-
espécie. Contudo, como inúmeros fatores ON COFFEE SCIENCE, 20., 2004, Banga-
FEE SCIENCE, 23., 2010, Bali. Proceed-
lore. Proceedings… Bangalore: ASIC, 2004.
estão envolvidos na definição da qualidade ings… Bali: ASIC, 2010a. CD-ROM.
CD-ROM.
do café, é comum encontrar situações em
______. et al. Beverage quality potential of
que a qualidade do café brasileiro é apenas ALVES, M. Metodologia tradicional de ava-
bourbon selections for specialty coffee pro-
mediana, com sabor e aroma muito pareci- liação de qualidade de café vs. métodos ele-
duction in Brazil. In: INTERNATIONAL
dos, nos quais as diferenças sensoriais são trônicos alternativos. In: SALVA, T. de J.G.;
CONFERENCE ON COFFEE SCIENCE,
et al. (Ed.). Cafés de qualidade: aspectos
sutis e, quando ocorrem, são devidas ao 23., 2010, Bali. Proceedings… Bali: ASIC,
tecnológicos, científicos e comerciais. Cam-
ambiente de produção ou a alguma forma 2010b. CD-ROM.
pinas: IAC, 2007. p.389-410.
específica de processamento. KATHURIMA, C.W. et al. Evaluation of bev-
A grande demanda por cafés especiais BARCA, A.A.L. Classificação do café. La-
erage quality and green bean physical char-
significa grande oportunidade para agre- vras: UFLA, 1998. 70p. Notas do Curso de
acteristics of selected Arabica coffee geno-
Tutoria a Distância.
gação de valor ao café brasileiro, sendo types in Kenya. African Journal of Food
justificável a concentração de esforços BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuá- Science, v. 3, n. 11, p. 365-371, Nov. 2009.

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 2 , n . 2 6 1 , p . 7 - 1 6 , m a r. / a b r. 2 0 11

IA261.indb 15 25/5/2011 10:18:21


16 Produção de café: opção pela qualidade

KOSALOS, J. et al. Arabica green coffee de-


fect handbook. Long Beach: SCAA, 2004.
31p.

LINGLE, T. R. The coffee cupper’s hand-


Produção e venda de sementes de café
book: a systematic guide to the sensory
evaluation of coffee’s flavor. Washington: Acaiá Cerrado MG 1474
 Catuaí Vermelho Multilinea F5

Coffee Development Group, 2001. 71p. Acaiá IAC 474-19
 Icatú Precoce IAC 3282

MEDINA FILHO, H.P. A qualidade do café e Araponga MG1
 Icatú Vermelho IAC 2942

o melhoramento genético clássico. In: SAL- Bourbon
 Icatú Vermelho IAC 2945

VA, T.J.G. et al. (Ed.). Cafés de qualidade: Icatú Vermelho IAC 4045
Catiguá MG1
 
aspectos tecnológicos, científicos e comer-
Catiguá MG2
 Icatú Vermelho IAC 4040

ciais. Campinas: IAC, 2007. p.219-236.
Catuaí Amarelo IAC 17
 MGS Travessia

PEREIRA, S.P.; BARTHOLO, G.F.; GUIMA-
Catuaí Amarelo IAC 47
 Mundo Novo IAC 376/4

RÃES, P.T.G. Cafés especiais: iniciativas
brasileiras e tendências de consumo. Belo Catuaí Amarelo IAC 62
 Mundo Novo IAC 379/19

Horizonte: EPAMIG, 2004. 80p. (EPAMIG. Catuaí Vermelho IAC 144
 Mundo Novo IAC 464-18

Série Documentos, 41). Catuaí Vermelho IAC 15
 Obatã IAC 1669-20

POULAIM, V.E. et al. Importância relativa Catuaí Vermelho IAC 44
 Oeiras MG 6851

das condições de produção do café arábi- Catuaí Vermelho IAC 51
 Paraíso MG 419-1

ca sobre a qualidade da bebida: estudo de
Catuaí Vermelho IAC 99
 Pau Brasil Mg1

caso. In: THOMAZIELLO, R.A.; FAZUOLI,
L.C. (Coord.). IX Curso de Atualização em
Catuaí Vermelho IAC 81
 Rubi MG 1192

Café. Campinas: IAC, 2009. p.109-121. Catuaí Vermelho IAC 24
 Sacramento MG1

(IAC. Documentos, 91). Catuaí Amarelo Multilinea F5
 Topázio MG 1190

SAES, M.S.M.; NAKAZONE, D. O agrone- Catuaí Amarelo 2SL

gócio café do Brasil no mercado internacio-
nal. FAE Business, Curitiba, n.9, p.40-42,
Endereços das Fazendas Experimentais da EPAMIG
set. 2004. Disponível em: <http://www.fae.
edu/publicacoes/pdf/revista_fae_business/ Fazenda Experimental Silvio Menicucci - FESM Fazenda Experimental de Três Pontas - FETP
n9/12_agronegocio.pdf>. Acesso em: 17 Campus da UFLA - Caixa Postal: 176 Rodovia Três Pontas/Santana da Vargem, km 06
CEP: 37200-000 Lavras -MG Caixa Postal: 91 - CEP:37190-000 Três Pontas - MG
out. 2010.
Tel.: (35)3829-1439 - E-mail: fela@epamig.br Telefax: (35)3266-9009 - E-mail: fetp@epamig.br
______. (Coord.). et al. Pesquisa sobre perfil
Fazenda Experimental de Machado - FEMA Fazenda Experimental de São Sebastião
do produtor de café do Brasil. São Paulo:
Antiga Rodovia Machado / Poços de Caldas do Paraíso - FESP
ILLY: PENSA: FIA, 2008. 24p. Disponível Caixa Postal: 50 - CEP:37750-000 Machado - MG Via Guardinha, Km 12,5 - Caixa Postal 18
em: <http://www.pensa.org.br/anexos/ Tel.: (35)3295-1527 - E-mail: fema@epamig.br CEP: 37950-000 São Sebastião do Paraíso - MG
biblioteca/239200814543_relatorio_illy. Telefax: (35)3531-1496 - E-mail: fesp@epamig.br
Fazenda Experimental de Patrocínio - FEPC
pdf>. Acesso em: 18 out. 2010.
Estrada Santo Antônio, km 6 - Caixa Postal: 171 Fazenda Experimental do Vale do Piranga - FEVP
SALLA, M. H. Influence of genotype, loca- CEP:38740-000 Patrocínio - MG Município de Oratórios - Zona Rural - Caixa Postal 8
tion and processing methods on the quality Tel.: (34) 3831-1777 - E-mail: fepc@epamig.br CEP: 35430-970 Oratórios - MG
of coffee (Coffea arabica L.). 2009. 105f. Telefax: (31) 3881-4601 - E-mail: fevp@epamig.br
Thesis (Master of Science) – Hawassa Uni-
versity, Hawassa, Ethiopia, 2009.

SPECIALTY COFFEE ASSOCIATION OF


AMERICA. SCAA Protocols - Cupping Spe-
cialty Coffee. Long Beach: SCAA. 2009. 7p.

UEJO NETO, E. Compreendendo os ca-


fés especiais. [S.l.]: Coffee Traveler, 2007.
Disponível em: <http://coffeetraveler.net/ Secretaria de Estado
de Agricultura, Pecuária
e Abastecimento
reflexoes-e-sugestoes/compreendendo-os-
cafes-especiais/>. Acesso em: 27 fev. 2009.

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 2 , n . 2 6 1 , p . 7 - 1 6 , m a r. / a b r. 2 0 11

IA261.indb 16 25/5/2011 10:18:35


mudbum.com.br
Proteção e nutrição
para um café com
qualidade Arysta.

lINHA DE
PROTEÇÃO

IA261.indb 17 25/5/2011 10:18:36


18 Produção de café: opção pela qualidade

Características ambientais e qualidade da bebida


dos cafés do estado de Minas Gerais
Helena Maria Ramos Alves 1
Margarete Marin Lordelo Volpato 2
Tatiana Grossi Chquiloff Vieira 3
Flávio Meira Borém 4
Juliana Neves Barbosa 5

Resumo - Os mercados nacional e internacional de café mostram que existe uma demanda
crescente por cafés especiais, cujas qualidades ou características estejam relacionadas com
o meio geográfico. Os municípios mineiros vêm conquistando concursos de qualidade
de café, abrindo espaço no mercado e agregando valor ao produto. Por sua grande
extensão territorial e variação ambiental, o estado de Minas Gerais possibilita a produção
de cafés de qualidade com grande diversidade de sabor e aroma. Estas diferenças estão
relacionadas com as características peculiares de cada município, principalmente às
variações de clima, latitude, altitude e sistemas de produção. Embora a relação entre
características ambientais e a produtividade do café, em diferentes biomas, seja um
assunto já bem explorado, suas relações com a qualidade da bebida demandam, ainda,
grande investimento de pesquisa.

Palavras-chave: Café. Zoneamento agroclimático. Condição ambiental. Aptidão


climática. Cafés especiais. Geoprocessamento.

INTRODUÇÃO como maior produtor e segundo mercado vência da cafeicultura brasileira dependeria
consumidor do mundo, contudo, não tem de o País seguir o caminho da qualidade.
A partir da década de 1960, a cafeicul-
favorecido a venda do produto brasileiro Em 1988, o então presidente do IBC, em-
tura brasileira, sob a coordenação técnica
no mercado internacional (COSTA; CHA- baixador Jório Dauster (DAUSTER, 1988
do extinto Instituto Brasileiro do Café
(IBC), passou por uma grande transforma- GAS, 1997). Com o aumento da produção apud CARVALHO et al., 1997), dizia que:
ção que consolidou sua posição no mundo. e melhoria da qualidade dos cafés de outros sobreviverão no mercado cafeeiro os
Estas mudanças visaram, principalmente, países, associados a crescentes demandas produtores que aumentarem a produti-
à elevação da produtividade, sendo que por cafés especiais de bebida superior pelos vidade baixando os custos e aprimora-
aspectos relacionados com a qualidade fo- países importadores, a exportação brasi- rem a qualidade obtendo os prêmios que
ram enfocados nas práticas recomendadas leira tem enfrentado novas dificuldades. o mercado internacional oferece [...] no
para a colheita e pós-colheita (CORTEZ, Wiezel (1981 apud CARVALHO et al., futuro, à semelhança do que acontece
1997). A posição privilegiada do Brasil, 1997), já em 1981, alertava que a sobrevi- atualmente com o vinho, teremos cafés

1
Enga Agra, D.Sc., Pesq. Embrapa Café, Caixa Postal 08815, CEP 70770-901 Brasília-DF. Correio eletrônico: helena.alves@embrapa.br
2
Enga Florestal, D.Sc., Pesq. EPAMIG Sul de Minas/Bolsista FAPEMIG, Caixa Postal 176, CEP 37200-000 Lavras-MG. Correio eletrô-
nico: margarete@epamig.ufla.br
Enga Agrimensora, M.Sc., Pesq. IMA/EPAMIG Sul de Minas/Bolsista FAPEMIG, Caixa Postal 176, CEP 37200-000 Lavras-MG. Correio
3

eletrônico: tatiana@epamig.ufla.br
Engo Agro, Pós-Doc, Prof. Associado III UFLA - Depto. Engenharia, Caixa Postal 3037, CEP 37200-000 Lavras-MG. Correio eletrônico:
4

flavioborem@deg.ufla.br
5
Bióloga, Doutoranda Fisiologia Vegetal UFLA - Depto. Biologia, Caixa Postal 3037, CEP 37200-000 Lavras-MG. Correio eletrônico:
juliananevesbarbosa@gmail.com

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 2 , n . 2 6 1 , p . 1 8 - 2 9 , m a r. / a b r. 2 0 11

IA261.indb 18 25/5/2011 10:18:36


Produção de café: opção pela qualidade 19

de determinadas marcas brasileiras, por rísticas e atributos distintos, que permitem à competitividade e à sustentabilidade da
tipo de bebida e área da produção. inúmeras combinações e a elaboração de cafeicultura brasileira.
No Brasil, poucos produtos agrícolas produtos altamente diferenciados. Conhe-
cer e explicar o que afeta a qualidade dos TRAJETO DO CULTIVO DO
têm seus preços com base em parâme-
cafés especiais e mapear esta diversidade CAFÉ NO BRASIL
tros qualitativos. Dentre estes produtos
destaca-se o café, cujo valor é acrescido constitui tarefa mais complexa do que se O café chegou ao norte do Brasil em
significativamente com a melhoria da imagina. A Associação Brasileira da In- 1727, mais precisamente em Belém, trazi-
qualidade (CARVALHO et al., 1997). dústria de Café (Abic) elaborou um Guia do da Guiana Francesa pelo sargento-mor
De acordo com Souza (1996), um dos da Qualidade dos Cafés do Brasil – Safra Francisco de Mello Palheta, e, num tempo
fatores determinantes do declínio brasi- 2009, com o objetivo de oferecer uma re- relativamente curto, passou de posição se-
leiro no mercado internacional foi a falta ferência ou uma vitrine dessa diversidade, cundária para a de produto-base da econo-
de um padrão de qualidade do produto provendo informações sobre a história de mia brasileira. Pelas condições climáticas
nacional. A estratégia brasileira tem sido cada região e as características de sua pro- brasileiras, o cultivo de café espalhou-se
exportar grandes quantidades para um dução. Esse Guia visa auxiliar o trabalho rapidamente. Em sua trajetória pelo País, o
mercado em que a exigência, quanto à dos profissionais de compra das empresas café passou pelo Maranhão, Bahia, Rio de
qualidade, é cada vez maior. Como em e indústrias e demais profissionais dos Janeiro, São Paulo, Paraná e Minas Gerais.
qualquer segmento de alimentação e de mercados nacional e internacional, na O ponto de partida das grandes plantações
bebida, também para o café existem con- aquisição de lotes diferenciados e de boa foi o Rio de Janeiro, de onde se estendeu
sumidores que desenvolvem o prazer de qualidade (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA para São Paulo, passando por Angra dos
experimentá-lo e degustá-lo e, portanto, DA INDÚSTRIA DE CAFÉ, 2009). Reis, Parati e Ubatuba. Na época, o Rio
apreciam a qualidade e estão dispostos a Minas Gerais é o maior produtor na- de Janeiro era o porto de escoamento do
pagar por ela. Isto tem levado a pesquisa à cional de café. Com mais de um milhão produto. Em pouco tempo, o Vale do Rio
procura do conhecimento para a produção de hectares plantados, o Estado é respon- Paraíba tornou-se a grande região cafeeira
de cafés de melhor qualidade. sável por, aproximadamente, 50% da safra no Brasil, o que possibilitou o surgimento
O café é uma bebida que se expressa brasileira. O café é o principal produto de de uma área centralizadora de culturas e
diferentemente em função do local de exportação do agronegócio mineiro e é população. Subindo pelo Rio Paraíba, o
plantio. É essencialmente um produto de vendido para mais de 60 países do mundo. café invadiu a parte oriental da província
terroir, ou seja, influenciado diretamente Há que se considerar ainda, que a cafeicul- de São Paulo, migrou para o oeste, cen-
pelos aspectos ambientais, tanto os na- tura exerce um importante papel do ponto tralizando-se em Campinas e estendeu-se
turais quanto os humanos. Os diferentes de vista social no Estado. Buscar novos até Ribeirão Preto e a região da fronteira
métodos de cultivo, bem como as dife- nichos de consumo, como alternativa ao de Minas Gerais. Campinas passou a ser o
rentes técnicas de colheita e de secagem, café commodity, e valorizar a produção, grande polo produtor do País, onde as la-
que refletem o “saber fazer” local e as suas diferentes origens e produtores que vouras estendiam-se em largas superfícies
condições particulares de clima, solo e visam qualidade, é colocar o café mineiro uniformes, cobrindo a paisagem a perder
relevo, associados às características ge- em um lugar de destaque no mercado mun- de vista, formando os famosos “mares
néticas das diferentes variedades, criam dial, criando oportunidades de negócio e de de café”. Com esse novo polo produtor,
a identidade da bebida e implicam na agregação de valor. o café mudou seu centro de escoamento,
não repetição das safras, seja no aspecto Para tanto, é preciso desenvolver sendo toda a produção do oeste paulista
qualitativo, seja no quantitativo (ENSEI pesquisa para conhecer, caracterizar e enviada a São Paulo e depois exportada a
NETO, 2009 apud ASSOCIAÇÃO BRA- mapear os cafés especiais produzidos partir do porto de Santos (TAUNAY, 1939;
SILEIRA DA INDÚSTRIA DE CAFÉ, no Estado e seus territórios potenciais NEVES, 1974).
2009). A produção de café Arábica no diversificados, compreendendo as rela- Como a busca por regiões aptas para
Brasil estende-se no sentido norte-sul, ções entre as variáveis edafoclimáticas a cultura cobriu todo o País, a Região
desde 12o até 24o de latitude sul, o que e a qualidade final da bebida. Com base Sudeste, com os estados de Minas Gerais,
representa, aproximadamente, 1.200 em informações qualitativa e quanti- São Paulo e Espírito Santo, e a Região
km em linha reta, mesclando diversos tativa, cientificamente fundamentadas, Sul, com o estado do Paraná, apesar dos
ambientes. Em função dessas interações o setor cafeeiro e seus representantes, problemas, como a grande geada de 1870
entre a cultura e os diversos ambientes, os com órgãos do governo e da iniciativa e a crise de 1929, mantiveram-se como
cafés do Brasil possuem uma diversidade privada, poderão propor as ações de de- importantes produtoras. A Bahia firmou-
imensa de aromas e sabores e de caracte- senvolvimento e de inovação necessárias se como polo produtor no Nordeste, e
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 2 , n . 2 6 1 , p . 1 8 - 2 9 , m a r. / a b r. 2 0 11

IA261.indb 19 25/5/2011 10:18:36


20 Produção de café: opção pela qualidade

Rondônia, na região Norte. A produção mento econômico de alguns municípios a Biomas brasileiros e sua
de café Arábica, atualmente, concentra- partir da década de 1970. Há, atualmente, influência na identidade
se em São Paulo, Minas Gerais, Paraná, três regiões produtoras consolidadas: a do café
Bahia e parte do Espírito Santo. As do Planalto, mais tradicional produtora Durante muito tempo, o café brasileiro
principais regiões produtoras no estado de café Arábica; a região oeste, também mais conhecido em todo o mundo foi o
de São Paulo são a Alta Mogiana, Alta produtora de café Arábica, sendo uma “tipo Santos”. A qualidade do café santista
Sorocabana e região de Piraju. Em Minas região de Cerrado com irrigação, e a e o fato de ser um dos principais portos
Gerais, as principais regiões produtoras Litorânea, com plantios predominantes exportadores do produto determinaram a
são: Cerrado mineiro, Sul de Minas, Ma- de café Robusta. No Espírito Santo, a criação do café “tipo Santos”. Contudo, por
tas de Minas e Chapadas de Minas. No produção do café Arábica localiza-se nas sua extensão territorial e peculiar variação
Paraná, o café é cultivado nas regiões do Montanhas Capixabas. A Figura 1 mostra ambiental, a cafeicultura brasileira tem sua
Norte Pioneiro, Norte, Noroeste e Oeste a distribuição das regiões cafeeiras bra- produção distribuída em diferentes regiões
do Estado. A cafeicultura na Bahia teve sileiras, o que demonstra que o café está que se distinguem pelas características
uma grande influência no desenvolvi- presente nos principais biomas do País. marcantes dos seus ambientes, tanto em
relação ao meio físico, quanto em relação
às condições climáticas e socioeconô-
micas. Essas regiões são marcadas por
grandes variações no solo, na temperatura,
na umidade relativa (UR) e na altitude, as
quais influenciam a qualidade da bebida
do café. Além das regiões e seus efeitos
edafoclimáticos, o Brasil também é rico em
formas de processamento que resultam em
cafés com distintas características senso-
riais. Como ressaltam Borém e Friedlander
(2009):
a pluralidade dos sabores e aromas
dos cafés do Brasil é sua marca mais
notável e precisa ser mais bem com-
preendida e explorada para o bem da
nossa cafeicultura.

As regiões de produção de cafés espe-


ciais, que se destacam, também apresentam
grandes variações ambientais que fazem
com que a qualidade do café se expresse
de maneiras distintas. Borém e Friedlander
(2009) descrevem estas relações entre o
ambiente e as características sensoriais
predominantes da bebida dos cafés pro-
duzidos em algumas destas regiões. Nas
Tipos de café
regiões com estação seca bem definida,
Arábica como o Cerrado mineiro, Mogiana Paulista
Conillon/Robusta e Chapada Diamantina, as quais possuem
predomínio do bioma Cerrado, os cafés
caracterizam-se pelo aroma intenso com
notas de chocolate, caramelo e nozes,
acidez delicada, corpo moderado, sabor
adocicado com finalização longa. As carac-
Figura 1 - Distribuição das regiões produtoras de café no Brasil terísticas desse ambiente para a produção
FONTE: Associação Brasileira da Indústria de Café (2009). de cafés são peculiares por apresentar
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 2 , n . 2 6 1 , p . 1 8 - 2 9 , m a r. / a b r. 2 0 11

IA261.indb 20 25/5/2011 10:18:37


Produção de café: opção pela qualidade 21

altitudes que variam de 700 a 1.200 m, ZONEAMENTO que, atualmente, contempla estudos de ris-
precipitação anual em torno de 1.500 mm AGROCLIMÁTICO PARA A cos climáticos, enfocando principalmente os
e temperaturas médias anuais entre 18 °C CULTURA DO CAFÉ elementos do balanço hídrico, as variações
e 22 °C. Nessas áreas, a implantação da O zoneamento agroclimatológico deli- de temperatura do ar e a ocorrência de even-
irrigação favoreceu o aumento de produ- mita as áreas com potencial adequado de tos adversos, empregando geotecnologias
ção e a expansão da área de cultivo, antes clima e solo para as culturas, sendo ferra- para a espacialização dos resultados.
inapta. Na Alta Mogiana, em São Paulo, a menta fundamental para a implantação de Sediyama et al. (2001), ao utilizarem
temperatura média anual é de 21 °C, com qualquer atividade agrícola. Para alcançar um banco de dados meteorológicos mais
altitudes iguais ou acima de 1.000 m e pre- produtividade econômica, cada cultura completo e um Sistema de Informações Ge-
cipitação média anual em torno de 1.500 necessita de condições favoráveis durante ográficas (SIG), realizaram o zoneamento
mm, sendo que o bioma predominante é a todo o seu ciclo vegetativo, isto é, exige agroclimático do café Arábica para Minas
Mata Atlântica, com ocorrência de Cam- determinados limites de temperatura nas Gerais (Fig. 2). Os elementos utilizados
pos Rupestres. Os cafés destacam-se por várias fases do ciclo, de uma quantidade para determinar a aptidão foram a faixa
apresentar corpo médio, acidez de média mínima de água e de um período seco nas de temperatura média anual entre 18 oC e
intensidade, aromas de erva-cidreira e fases de maturação e colheita. O atendi- 23 oC, temperaturas mínimas críticas iguais
capim-limão e finalização adocicada. Nas mento dessas exigências é que fará uma ou inferiores a 2 oC em abrigo termométrico,
regiões mais frias, como as Serras do Sul determinada região ser considerada apta a 30% de probabilidade, para os meses de
do estado de Minas Gerais, com biomas de para uma dada cultura. maio a julho, e a deficiência hídrica anual
transição Cerrado - Mata Atlântica e com Os primeiros estudos de zoneamento para a capacidade de água disponível no
ocorrência de Campos Rupestres, altitudes agrícola no Brasil foram realizados nas solo de 125 mm. Esses mesmos autores
maiores que variam de 800 a 1.400 m, décadas de 1970 e 1980, contemplando sugerem que os fatores pedológicos e
temperaturas médias anuais entre 12 °C várias culturas, entre estas o café. Esses topográficos devem ser considerados na
e 22 °C e precipitação anual em torno de estudos foram desenvolvidos considerando delimitação da cultura, dentro dos campos
1.500 mm, o café apresenta-se encorpado, aspectos macroclimáticos e a análise dos climáticos homogêneos, porque podem alte-
com acidez de média a fraca, de carac- fatores térmico e hídrico. Baseavam-se rar a aptidão climática. Ainda segundo esses
terística cítrica e doçura. Na região das no balanço hídrico de Thornthwaite em autores, os cafezais devem situar-se na face
Matas de Minas, com bioma predominante combinação com valores médios mensais norte ou na poente ou em pontos intermedi-
de Mata Atlântica, temperaturas médias e anuais de precipitação e temperatura ários, restringindo ao mínimo nas encostas
anuais mais amenas entre 18 °C e 23 °C, média do ar. O Plano de Renovação e de exposição sul. Nas zonas sujeitas ao fe-
precipitação entre 1.400 e 1.600 mm e alti- Revigoramento dos Cafezais do IBC, na nômeno das geadas de radiação, devem ser
tudes mais baixas de 400 a 1.000 m, o café década de 1970, empenhou-se na expan- evitados os vales de difícil circulação de ar.
produzido é mais encorpado, doce com são e racionalização do Parque Cafeeiro O relevo também é importante na instalação
acidez acentuada, mas equilibrada. Na Nacional, empregando zoneamentos de novos cafezais, quando se consideram
região das Montanhas Capixabas, também regionais de aptidão macroclimática, ou aspectos relacionados com mecanização e
no bioma Mata Atlântica, com temperaturas seja, uma faixa mapeada como apta podia conservação do solo.
médias anuais que variam entre 15 °C e apresentar situações topoclimáticas locais A primeira experiência brasileira para
22 °C, precipitação média anual de desfavoráveis, com restrições quanto ao identificar as melhores épocas de plantio,
1.400 mm e altitudes entre 650 e 1.200 m, solo e mostrar-se ecologicamente inapta à com utilização de geotecnologias, foi
os cafés especiais produzidos apresentam cafeicultura (CAMARGO, 1977). desenvolvida por Assad et al. (1993),
sabor intenso adocicado e acidez frutada O zoneamento é um processo contínuo quando foram espacializados os resultados
mediana, que confere equilíbrio à bebida. que necessita ser atualizado sempre que de simulação do balanço hídrico para o
No Norte Pioneiro do Paraná, no bioma novos dados ou métodos estiverem dis- arroz de sequeiro. A partir desse trabalho,
Mata Atlântica, onde as altitudes variam poníveis, os quais possibilitem detalhar e o Ministério da Agricultura, Pecuária e
de 400 a 1.000 m, as temperaturas médias ampliar as informações, tornando-o cada Abastecimento (MAPA) financiou um
entre 19 °C e 22 °C e a precipitação média vez mais próximo da realidade. Ao longo programa nacional de zoneamento, a fim de
anual entre 1.200 e 1.500 mm, os cafés dos anos, várias atualizações foram propos- estabelecer zonas homogêneas com épocas
apresentam bebida de sabor característico, tas para a cultura do café. A incorporação de plantio de menor risco para cada cultura
com doçura baixa, acidez e corpo medianos de séries climatológicas mais longas, da e a partir da safra 2005/2006, este trabalho
e finalização de longa duração (ASSOCIA- geotecnologia e de modernos sistemas com- foi ampliado para inclusão de novas cul-
ÇÃO BRASILEIRA DA INDÚSTRIA DE putacionais permitiu o desenvolvimento de turas, dentre estas o café, apresentado na
CAFÉ, 2009). novos estudos para o zoneamento do café, Figura 3. O atual Zoneamento de Riscos
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 2 , n . 2 6 1 , p . 1 8 - 2 9 , m a r. / a b r. 2 0 11

IA261.indb 21 25/5/2011 10:18:37


22 Produção de café: opção pela qualidade

Climáticos (BRASIL, 2011) é alimentado


50º 48º 46º 44º 42º 40º
pela rede de dados meteorológicos dis-
poníveis no Sistema de Monitoramento
Agrometeorológico (Agritempo).
14º

Aptidão climática para a


qualidade do café

16º Camargo, Santinato e Cortez (1992) ci-


tam que os fatores climáticos fundamentais
para a definição da aptidão climática são
o térmico e o hídrico, representados pela
18º
temperatura média anual e pela deficiência
hídrica nos períodos críticos da cultura.
A espécie Coffea arabica L. é originária
20º de áreas tropicais da Etiópia, localizadas
entre 6o e 9o de latitude norte, em altitu-
des que variam entre 1.600 e 2.000 m. A
temperatura média anual nessa região é de
22º Legenda 18 oC a 20 oC (mínima de 4 oC e máxima de
Inapto
40 0 40 80km 31 oC) e a precipitação anual é de 1.500 a
Apto com irrigação
Apto 1.800 mm. A estação chuvosa é concen-
trada no verão, de março a outubro, com
24º
ocorrência de inverno seco de novembro a
fevereiro (CAMARGO; PEREIRA, 1994).
No Brasil, toda a cafeicultura está situada
Figura 2 - Zoneamento climático da cultura do café (Coffea arabica L.) no estado de
Minas Gerais - 2001 em áreas com latitudes superiores a 4o,
FONTE: Sediyama et al. (2001). encontrando-se em condições tropicais e
não equatoriais, apresentando um ciclo
fenológico bem definido: florescimento na
primavera, frutificação no verão, maturação
no outono e colheita no inverno.
Zoneamento atual As faixas de aptidão para a produção
do café, contudo, são normalmente mais
amplas que as referentes à qualidade da
bebida. Os parâmetros macroclimáticos
Irrigação
necessária considerados como favoráveis para a ob-
Apto
tenção de bebida fina podem ser altamente
influenciados por efeitos oroclimáticos
Irrigação
recomendada e topoclimáticos, que fazem aumentar a
Risco de
umidade ambiente afetando, entre outros,
geada
a composição química da mucilagem do
Excesso
térmico
café, o tipo de atividade microbiana e a in-
Inapto
tensidade do processo fermentativo. Dessa
forma, mesmo regiões propícias à produção
de cafés de boa qualidade possuem uma
diversidade climática que causa variações
nas características da bebida (acidez, corpo
Figura 3 - Zoneamento de risco climático do café (Coffea arabica L.) para o estado de e aroma). Isto, contudo, pode representar
Minas Gerais uma grande vantagem para o Brasil, país
FONTE: Assad et al. (2004). de dimensões continentais, pois, uma vez
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 2 , n . 2 6 1 , p . 1 8 - 2 9 , m a r. / a b r. 2 0 11

IA261.indb 22 25/5/2011 10:18:38


Produção de café: opção pela qualidade 23

que a interferência de microrganismos nos tura, precipitação, irradiância e evapotrans- Para melhor compreender as relações
processos fermentativos seja controlada, piração potencial) e a composição bioquí- entre o clima, a maturação dos grãos e a
é possível produzir cafés com caracterís- mica de grãos verdes, foi proposto por Joët qualidade da bebida de café Arábica em al-
ticas regionais de aroma e sabor e atender et al. (2010). Foram utilizadas amostras de gumas localidades de Minas Gerais, Cortez
mercados consumidores com exigências 16 talhões de café Arábica espacializados (1997) utilizou o cálculo do somatório de
diversas, a exemplo do que já acontece na Ilha Reunion (próximo a Madagascar), evapotranspiração potencial e constatou
com os vinhos. escolhida por possuir solo vulcânico, rico que as melhores condições climáticas para
É conhecido o fato de que temperatu- e homogêneo, diferentes microclimas em produzir, naturalmente, bebidas finas fo-
ras baixas são responsáveis pelo adiamen- curta distância, com uma densa rede de ram encontradas em propriedade localizada
to do processo de amadurecimento, que, estações meteorológicas. Todas as parcelas em Carmo do Paranaíba (1.050 m de alti-
por sua vez, leva ao maior acúmulo de foram semeadas no mesmo ano, com a tude), por causa do elevado déficit hídrico
bioquímicos associados à melhora do aro- mesma cultivar e manejo agrícola. Foram no momento da colheita, e em Machado
ma do café (VAAST et al., 2006). Logo, quantificadas variações em lipídios, ácidos e Ouro Fino (1.050 e 900 m de altitude,
a elevação da altitude está relacionada clorogênicos, cafeína e conteúdo de açúcar. respectivamente), por causa do moderado
com o aumento da qualidade da bebida. Entretanto, os resultados ainda foram con- déficit hídrico e temperaturas baixas su-
Serrano e Castrillón (2002) estudaram a traditórios, demonstrando a complexidade ficientes para interromper processos fer-
relação entre a altitude (1.450 a 1.650 m) de encontrar relações consistentes entre mentativos que prejudicam a bebida. Estes
e a qualidade do café no município de variáveis edafoclimáticas, constituintes resultados, contudo, são apenas indicativos
Fresno, Colômbia, e relataram melho- bioquímicos e a melhoria do aroma e sabor do potencial regional e não informam sobre
ria significativa da bebida em altitudes da bebida do café. a influência dos parâmetros climáticos na
mais elevadas. Em Honduras, Decazy A qualidade da bebida de café de- qualidade da bebida do café.
et al. (2003) observaram cafés de qua- pende da composição química do grão,
lidade superior em locais com altitudes determinada por fatores genéticos, tratos Condições climáticas
de Minas Gerais e suas
elevadas e precipitações anuais abaixo culturais e características do ambiente
relações com a qualidade
de 1.500 mm. Entretanto, resultados de cultivo (CARVALHO; CHALFOUN,
da bebida do café
contraditórios foram encontrados nos 1985). Visando caracterizar as principais
trabalhos de Guyot et al. (1996) e Avelino áreas naturalmente aptas para produção Minas Gerais situa-se na Região Su-
et al. (2005). Embora o cultivo de café de bebidas de café (Coffea arabica L.) deste do Brasil, entre os paralelos 14o 13’
Arábica na altitude seja conhecido por classificadas como mole, Camargo, 57’’ e 22o 55’ 47’’ de latitude sul e entre
afetar favoravelmente a qualidade final Santinato e Cortez (1992) determinaram os meridianos 39o 51’ 24’’ e 51o 02’ 56’’
da bebida, Joët et al. (2010) afirmam que condições térmicas e hídricas favoráveis de longitude oeste, com uma extensão
os dados quantitativos que descrevem a descritas no Quadro 1. Essas condições territorial de 582.586 km2, que representa
influência das condições climáticas sobre são encontradas normalmente nas regiões 6,9% da área total do Brasil, inteiramente
a composição química da semente ainda altiplanas de clima mais frio, entre 18 oC contida na zona intertropical (CUPO-
são escassos. Bertrand et al. (2006) inves- e 20 oC de média anual e com deficiência LILLO, 1997). O Estado destaca-se por
tigaram a qualidade da bebida de três tipos hídrica anual elevada nas fases de matu- apresentar grande diversidade de climas,
de variedades de café Arábica, localizados ração e colheita (Alta Mogiana, Sul de em razão de ser uma região tropical de
em diversos ensaios, em altitudes que va- Minas e Triângulo Mineiro) e em regiões transição climática, que advém das células
riaram de 700 a 1.600 m em El Salvador, com deficiências hídricas excessivamente de circulação atmosférica tropical, dos sis-
Costa Rica e Honduras, e observaram que elevadas, cuja cafeicultura necessita de temas frontais (fatores dinâmicos) e de suas
os cafés localizados em altitudes elevadas irrigação suplementar. interações com a continentalidade tropical
apresentaram efeito significativo positivo
na composição bioquímica dos grãos. Os
QUADRO 1 - Parâmetros de temperatura média anual e deficiência hídrica, utilizando capa-
parâmetros microclimáticos, contudo,
cidade de retenção de água no solo de 125 mm, para a obtenção de bebida fina
não foram registrados e, portanto, não foi
Temperatura média anual Deficiência hídrica anual (mm) superior
possível concluir se os efeitos da altitude (oC) a
são principalmente relacionados com o 18 a 19 20
gradiente de temperatura ou com outras 19 a 20 50
variáveis edafoclimáticas. 21 a 21 100
Um estudo mais rigoroso, relacionando 21 a 22 150
as principais variáveis climáticas (tempera- FONTE: Camargo, Santinato e Cortez (1992).

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 2 , n . 2 6 1 , p . 1 8 - 2 9 , m a r. / a b r. 2 0 11

IA261.indb 23 25/5/2011 10:18:38


24 Produção de café: opção pela qualidade

e a topografia regional (fatores estáticos), tribuição das chuvas de acordo com as Nor- A temperatura é um fator climático
bastante acidentada (CUPOLILLO, 2008). mais Climatológicas do período 1961-1990 importante na pré-colheita, colheita e
O macroclima caracteriza-se por uma sazo- (CARVALHO et al., 2007). A precipitação é pós-colheita. Na pré-colheita, as altas
nalidade bem definida, com duas estações um dos atributos que mais influenciam nas temperaturas influenciam na desfolha,
claramente distintas, um verão úmido e fases fenológicas do cafeeiro e é utilizada principalmente durante o estádio de
quente e um inverno seco e ameno, e outras para ordenar geograficamente áreas aptas, frutificação, como relatado por Rena e
duas de transição, o outono e a primavera restritas e inaptas ao cultivo. Atualmente, Maestri (1986). Essa desfolha, durante a
(VIANELLO et al., 2006). Quanto à di- regiões restritas à disponibilidade hídrica, frutificação, pode ocasionar prejuízo para
nâmica atmosférica, o Estado encontra-se mas que adotaram práticas de irrigação su- a planta que necessita desses aparatos para
sujeito à influência de mecanismos de plementar, têm apresentado destaque tanto realizar o enchimento dos frutos. Já outros
larga escala, como os anticiclones quase- na produtividade quanto na qualidade da relatos na literatura mostram que a queda
da temperatura em decorrência das chuvas
estacionários do Atlântico Sul e do Pacífico bebida do café. Observam-se quatro faixas
ocasiona a quebra de dormência de botões
Sul, responsáveis, em grande parte, pelas de precipitação média anual evidenciando
florais (MES, 1957; BROWING, 1977
condições do tempo meteorológico sobre regiões com volume que varia de menor
apud SOARES et al., 2005). Camargo,
o Estado, justificando a estação seca no que 1.000 mm até maior que 1.500 mm
Rolim e Santos (2007) observaram tam-
inverno e chuvas no verão. O centro de de precipitação anual total. A precipitação
bém que temperaturas elevadas podem
baixa pressão provoca intensas formações anual ótima para o cafeeiro está entre 1.200
provocar redução no crescimento vege-
convectivas que penetram no estado de e 1.800 mm, mas a planta cresce e produz
tativo e descoloração foliar do cafeeiro.
Minas Gerais, associando-se às frentes bem de 800 a 2.000 mm (ALÉGRE, 1959
Essas reduções e a perda de pigmentação
polares, dando origem a uma larga faixa apud RENA; MAESTRI, 1986). No perí-
foliar irão prejudicar a lavoura de café
de grande nebulosidade, não raras vezes odo de vegetação e frutificação, o cafeeiro
e, consequentemente, haverá perda na
estacionando-se sobre Minas Gerais no necessita de maior umidade no solo e, na
qualidade final do produto. No mapa apre-
sentido noroeste-sudeste, dando origem fase de colheita e repouso, essa necessidade
sentado na Figura 5 (BARBOSA, 2009),
à Zona de Convergência do Atlântico é pequena, podendo o solo ficar com uma
observa-se que, pela sua grande extensão
Sul, responsável por chuvas contínuas menor umidade sem grandes prejuízos para
territorial, o Estado compreende diversas
(CUPOLILLO, 2008). a planta (MATIELLO, 1991; CARMAGO;
faixas latitudinais que vão desde o extre-
A Figura 4 apresenta o mapa de pluviosi- CAMARGO, 2001; CAMARGO; ROLIM;
mo sul, com temperaturas mais amenas,
dade do estado de Minas Gerais, com a dis- SANTOS, 2007).
ao extremo norte, com temperaturas mais
quentes. Observam-se faixas de tempera-
tura das áreas com limites térmicos para o
51 º0’0”W 48 º0’00”W 45 º0’0”W 42 º0’0”W
cultivo do café, os quais variam de 12 °C
Mapa de pluviosidade elaborado a partir das
15 º0’0”S a 26 °C. O cafeeiro não tolera variações
Normais Climatológicas (1961-1990)
muito amplas de temperatura, estando a
15 º0’0”S temperatura ótima compreendida entre
18 °C e 21 °C (ALÉGRE, 1959 apud
RENA; MAESTRI, 1986). Na colheita e
18 º0’00”S pós-colheita, sua influência é maior, quan-
do somada ao fator umidade, propiciando
18 º0’00”S a proliferação de pragas que irão afetar
a qualidade da bebida. Em regiões que
apresentam temperatura elevada, a forma
21 º0’0”S
de processamento dos frutos de café por
Pluviosidade (mm)
via úmida, ou seja, café cereja descascado,
< 1000
1000 - 1200 21 º0’0”S
propiciará uma melhor qualidade da bebi-
1200 - 1500 da, evitando fermentações indesejáveis à
Meters
> 1500
0 65.000 130.000 260.000 390.000 520.000
qualidade. Outros autores que estudaram
51 º0’0”W 48 º0’00”W 45 º0’0”W 42 º0’0”W 39 º0’0”W os efeitos do clima e do ambiente sobre a
Figura 4 - Mapa de classes de precipitação pluvial total média anual (mm) para o estado qualidade da bebida do café relataram a
de Minas Gerais forte influência tanto da temperatura quan-
FONTE: Dados básicos: Carvalho et al. (2007 apud BARBOSA, 2009). to da precipitação (DECAZY et al., 2003).
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 2 , n . 2 6 1 , p . 1 8 - 2 9 , m a r. / a b r. 2 0 11

IA261.indb 24 25/5/2011 10:18:51


Produção de café: opção pela qualidade 25

O índice de umidade também pode 51 º0’0”W 48 º0’00”W 45 º0’0”W 42 º0’0”W


ser utilizado para a espacialização da Mapa de temperatura elaborado a partir das
15 º0’0”S
aptidão da cafeicultura, o que possibilita Normais Climatológicas (1961-1990)

a melhoria do atual modelo de zoneamen- 15 º0’0”S

to citado por Meireles et al. (2007). No


mapa de índice de umidade, apresentado
na Figura 6, podem ser observadas áreas 18 º0’00”S

com disponibilidade hídrica e déficit


18 º0’00”S
hídrico, relacionados com diferentes
indicadores climáticos apresentados no
Quadro 2 (CARVALHO et al., 2007). 21 º0’0”S Temperatura (ºC)
A cor vermelha representa áreas com 12 - 19
19 - 21
maior déficit e a azul intenso, áreas com 21 - 22
21 º0’0”S

22 - 24
alta umidade. 24 - 26
Meters
0 65.000 130.000 260.000 390.000 520.000
Outro fator ambiental de grande rele- 51 º0’0”W 48 º0’00”W 45 º0’0”W 42 º0’0”W 39 º0’0”W

vância para a cafeicultura é o relevo que,


para uma mesma região, diferencia climas Figura 5 - Mapa de classes de temperatura média anual (oC) para o estado de Minas
Gerais
mais frios em altitudes maiores, quando
FONTE: Dados básicos: Carvalho et al. (2007 apud BARBOSA, 2009).
comparados à média da região. Existe
também a influência da exposição das
encostas que afetam os níveis de radiação 51 º0’0”W 48 º0’00”W 45 º0’0”W 42 º0’0”W
solar. Contudo, são poucos os trabalhos 15 º0’0”S Mapa de índice de umidade
que avaliam essa influência na qualidade elaborado a partir das
Normais Climatológicas
do café. Avelino et al. (2005) realizaram (1961-1990)
15 º0’0”S

um estudo sobre os efeitos da altitude e


a disposição geográfica de encostas para
18 º0’00”S
dois terroirs da Costa Rica: Orosi e Santa
Maria de Dota e constataram diferenças nas 18 º0’00”S

bebidas dos cafés produzidos nessas áreas


distintas. Verificaram que quanto maior a
Índice de umidade
altitude, maior a qualidade. 21 º0’0”S
(-58) - (-27)
A cafeicultura mineira tem sua pro- (-27) - 5
5 -36 21 º0’0”S
dução distribuída em quatro ambientes 36 - 68
68 - 100 Meters
principais, constituídos pelas regiões 100 - 132 0 65.000 130.000 260.000 390.000 520.000

Sul de Minas (Sul/Sudoeste), Matas de 51 º0’0”W 48 º0’00”W 45 º0’0”W 42 º0’0”W 39 º0’0”W

Minas (Zona da Mata/Rio Doce), Cer- Figura 6 - Zoneamento climático com base no índice de umidade (IU) de Thorntwaite
rados de Minas (Triângulo Mineiro/Alto para o estado de Minas Gerais
Paranaíba) e Chapadas de Minas (Vale FONTE: Dados básicos: Carvalho et al. (2007 apud BARBOSA, 2009).
do Jequitinhonha/Mucuri) (IMA, 1995).
Essas regiões apresentam características QUADRO 2 - Tipos climáticos estabelecidos no Zoneamento Ecológico Econômico do Estado
distintas, tanto em relação ao meio físico, de Minas Gerais (ZEE-MG)
quanto em relação às condições socio- Tipo de clima Índice de umidade
econômicas. Por sua grande extensão Superúmido ≥ 100
Úmido 80 a 100
territorial, o estado de Minas compreende
Úmido 60 a 80
diversas faixas latitudinais, que vão do
Úmido 40 a 60
extremo sul, com temperaturas mais ame-
Úmido 20 a 40
nas, ao extremo norte, com temperaturas
Subúmido 0 a 20
mais quentes. Também no que se refere
Subúmido seco -33,3 a 0
ao clima, altas altitudes são sinônimo de Semiárido -66,7 a -33,3
baixas temperaturas. Conforme Ayoade Árido -100 a -66,7
(2003), a temperatura do ar decresce FONTE: Carvalho et al. (2007).

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 2 , n . 2 6 1 , p . 1 8 - 2 9 , m a r. / a b r. 2 0 11

IA261.indb 25 25/5/2011 10:19:11


26 Produção de café: opção pela qualidade

a uma taxa média de 0,6 oC, a cada as normais climatológicas do período Matas de Minas (Fig. 8), desaparecem na
100 m de altitude crescente. Dessa forma, 1961/1990, de temperatura, pluviosida- terceira fase, tornando-se focos de baixa
em relação à temperatura, as diversas de e índice de umidade do Zoneamento intensidade amostral. Verificam-se focos
regiões produtoras de café do Estado Ecológico Econômico de Minas Gerais de alta e média intensidade na região do
sofrem a influência das interações entre (ZEE-MG) (CARVALHO et al., 2007). Sul de Minas. Na quarta fase, para o ano
latitude e altitude. Laviola et al. (2007), As amostras foram espacializadas com de 2007 (Fig. 10), pode-se observar que
ao trabalharem com o cultivo de cafeeiro base na localização geográfica (latitude o Hot Point concentra-se no extremo sul
em altitudes distintas comprovaram que a e longitude) da sede do município ao da região Sul de Minas, e em seu entorno,
alocação de fotoassimilados em folhas e qual pertenciam. Para a visualização da focos de alta e média intensidade amostral.
frutos de cafeeiro são influenciados pela intensidade de concentração de amostras Ou seja, na fase em que ficam os cafés
altitude. Decazy et al. (2003) relatam foram criados mapas de Kernel e as áreas finalistas do concurso, verificou-se alta
que a altitude e o clima desempenham que continham o maior número de eventos concentração de amostras na região do
um importante papel por meio da tem- foram denominadas Hot Points. Os mapas Sul de Minas para ambas as categorias,
peratura e da disponibilidade de água e de Kernel que mostram a distribuição mostrando que a região destaca-se pela
luz, durante o período de maturação do espacial das amostras de cafés das duas produção de cafés com boa qualidade
cafeeiro. Fica evidente que as grandes categorias, café natural e cereja descas- de bebida. O clima e a altitude desempe-
variações ambientais de Minas Gerais cado, nas quatro fases do Concurso de nham um importante papel no período de
influenciam diretamente as características Qualidade - Cafés de Minas, do ano 2007, maturação do cafeeiro em decorrência da
de qualidade dos cafés produzidos no Es- estão apresentados nas Figuras 7 a 10. A temperatura, luz e água disponível (BER-
tado, proporcionando uma variabilidade cor vermelha caracteriza uma região com TRAND et al., 2006). Isto talvez explique
de sabor e aroma que precisam ser mais concentração muito alta de amostras − Hot a ocorrência de Hot Points no Sul de
bem estudados e identificados. Point. A cor laranja caracteriza a região Minas, principalmente no extremo sul da
com alta concentração. As regiões com região na quarta fase do concurso, fato que
Distribuição espacial de é ratificado pelo histórico de municípios
média, baixa e muito baixa concentração
cafés no estado de Minas da região da Serra da Mantiqueira, tradi-
são representadas, respectivamente, pelas
Gerais e sua relação com a cionalmente conhecidos pela produção
qualidade cores amarela, verde e azul.
Os resultados evidenciaram uma boa de cafés de qualidade, com notoriedade
Diante da necessidade de conhecer as distribuição das amostras, com focos nacional e internacional.
áreas com potencial de produção de cafés de média, alta e muito alta intensidade O sabor e o aroma do café estão
de qualidade de Minas Gerais, Barbosa amostral. Por meio da análise espacial relacionados com a presença de vários
et al. (2010) relacionaram a qualidade observa-se a mudança dos Hot Points, ou constituintes químicos voláteis e não
sensorial dos cafés participantes do Con- seja, da alta concentração das amostras, da voláteis, proteínas, aminoácidos, ácidos
curso de Qualidade – Cafés de Minas, primeira à quarta etapa de classificação do graxos, compostos fenólicos e também
com as características ambientais e geo- concurso. Na Figura 7, referente às avalia- à ação de enzimas sobre alguns desses
gráficas dos seus respectivos municípios. ções da primeira fase, pode ser observado constituintes. Além da composição quími-
O concurso é realizado anualmente, pela um foco de concentração amostral muito ca, o processamento pós-colheita também
Emater-MG e pela Ufla e compreende alto, ou seja, um Hot Point, em vermelho influencia na qualidade final do produto,
quatro etapas. A primeira é constituída por no mapa, localizado no município de São originando bebidas de características
todos os inscritos, e são avaliados os as- Sebastião do Paraíso, e três focos de alta distintas. Com o objetivo de avaliar as
pectos físicos. A partir da segunda etapa, intensidade amostral na cor laranja. A relações entre a qualidade, o conteúdo
são avaliados os atributos sensoriais para Figura 8 mostra uma maior distribuição de compostos químicos e características
amostras de café, separadas nas categorias dos focos de média intensidade amostral ambientais, Barbosa (2009) relacionou
de café natural e café cereja descascado, na segunda fase do concurso, surgindo o resultado da análise sensorial de 60
de acordo com a metodologia da As- nas regiões dos Cerrados de Minas, Ma- amostras participantes do concurso de
sociação Brasileira de Cafés Especiais tas de Minas e Sul de Minas. Observa-se 2007, com características ambientais e o
(BSCA). Nas análises sensoriais, a bebida também a ocorrência de dois Hot Points, conteúdo de trigonelina, cafeína e ácido-
do café é avaliada quanto ao sabor e aro- um a sudoeste da região Sul de Minas e 5-cafeiolquínico, presentes nos grãos de
ma, sendo também avaliados os atributos outro ao extremo sul dessa região. Ao ob- café produzidos nesses municípios.
corpo, acidez, doçura e fragrância. Com servar a Figura 9, nota-se que os focos de Os resultados demonstraram dis-
o intuito de caracterizar o ambiente dos média intensidade amostral presentes na criminação de notas altas e baixas em
municípios participantes foram utilizadas segunda fase do concurso, na região das decorrência das variáveis ambientais,
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 2 , n . 2 6 1 , p . 1 8 - 2 9 , m a r. / a b r. 2 0 11

IA261.indb 26 25/5/2011 10:19:11


Produção de café: opção pela qualidade 27

50 º0’0”W 45 º0’0”W 40 º0’0”W


50 º0’0”W 45 º0’0”W 40 º0’0”W
Mapa de Kernel
Mapa de Kernel
15 º0’0”S Segunda fase (2007)
15 º0’0”S Primeira fase (2007)
Café natural e cereja descascado
Café natural e cereja descascado
15 º0’0”S
15 º0’0”S

20 º0’0”S 20 º0’0”S

Legenda Legenda
20 º0’0”S 20 º0’0”S
Muito baixa Muito baixa
Baixa Baixa
Média
Média
Alta
Alta
Muito alta
Meters Muito alta
0 75.000 150.000 300.000 450.000 600.000 Meters
0 75.000 150.000 300.000 450.000 600.000
50 º0’0”W 45 º0’0”W 40 º0’0”W
50 º0’0”W 45 º0’0”W 40 º0’0”W

Figura 7 - Concentração das amostras de café natural e café cereja Figura 8 - Concentração das amostras de café natural e café cereja
descascado na primeira fase do Concurso de Qualidade - descascado na segunda fase do Concurso de Qualidade -
Cafés de Minas, para o ano de 2007 Cafés de Minas, para o ano de 2007
FONTE: Barbosa et al. (2010). FONTE: Barbosa et al. (2010).

50 º0’0”W 45 º0’0”W 40 º0’0”W 50 º0’0”W 45 º0’0”W 40 º0’0”W

Mapa de Kernel Mapa de Kernel


15 º0’0”S
Terceira fase (2007) Quarta fase (2007)
15 º0’0”S
Café natural e cereja descascado Café natural e cereja descascado

15 º0’0”S 15 º0’0”S

20 º0’0”S 20 º0’0”S

Legenda Legenda
20 º0’0”S 20 º0’0”S
Muito baixa Muito baixa
Baixa Baixa
Média Média
Alta Alta
Muito alta Muito alta
Meters Meters
0 75.000 150.000 300.000 450.000 600.000 0 75.000 150.000 300.000 450.000 600.000
50 º0’0”W 45 º0’0”W 40 º0’0”W 50 º0’0”W 45 º0’0”W 40 º0’0”W

Figura 9 - Concentração das amostras de café natural e café cereja Figura 10 - Concentração das amostras de café natural e café cereja
descascado na terceira fase do Concurso de Qualidade - descascado na quarta fase do Concurso de Qualidade -
Cafés de Minas, para o ano de 2007 Cafés de Minas, para o ano de 2007
FONTE: Barbosa et al. (2010). FONTE: Barbosa et al. (2010).

evidenciando forte influência da tempe- notas. Esse fato também foi observado por geográfico. Ainda assim, constituem im-
ratura, precipitação, altitude e latitude na Avelino et al. (2005) em cafés da Costa portantes indicadores de caminhos para
qualidade dos cafés estudados. O Gráfico 1 Rica, mas dados semelhantes ainda não trabalhos futuros que visem uma melhor
apresenta a superfície obtida a partir dos da- haviam sido descritos para cafés do Brasil. compreensão das relações entre o am-
dos de altitude, latitude e qualidade sensorial. O trabalho possui caráter exploratório e biente e a qualidade dos cafés do estado
Os resultados evidenciam que as notas ilustrativo, uma vez que as coordenadas de Minas Gerais.
de qualidade de bebida variaram com a geográficas utilizadas referem-se às sedes
altitude, em função da latitude. Assim, municipais de origem das amostras, não CONSIDERAÇÕES FINAIS
quanto maior a altitude, maiores as notas e sendo, portanto, suficientes para obter A realidade dos mercados nacional e
quanto maior a latitude, menor a exigência afirmações precisas da espacialização internacional de café mostra que existe
de altitudes elevadas para as melhores da qualidade e suas relações com o meio uma demanda crescente por cafés espe-
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 2 , n . 2 6 1 , p . 1 8 - 2 9 , m a r. / a b r. 2 0 11

IA261.indb 27 25/5/2011 10:19:27


28 Produção de café: opção pela qualidade

ce of Food and Agriculture, Malden, v.85,


n.11, p.1869-1876, Aug. 2005.
20 AYOADE, J.O. Introdução à climatologia
para os trópicos. 9.ed. Rio de Janeiro: Ber-
trand Brasil, 2003.
40 20
BARBOSA, J.N. Distribuição espacial de
20
cafés do estado de Minas Gerais e sua rela-
ção com a qualidade. 2009. 108p. Disserta-
20 40 40
ção (Mestrado em Fisiologia Vegetal) − Uni-
versidade Federal de Lavras, Lavras. 2009.
20 _______. et al. Spatial distribution of coffees
from Minas Gerais state and their relation
with quality. Coffee Science, Lavras, v.5,
60
n.3, p.237-250, Sept./Dec. 2010.
60
BERTRAND, B. et al. Comparison of bean
60
60 biochemical composition and beverage

80
quality of Arabica hybrids involving su-
danese-ethiopian origins with traditional
varieties at various elevations in Central
America. Tree Physiology, Cary, v.26, n.9,
p.1239-1248, Sept. 2006.
Gráfico 1 - Superfície das amostras inscritas no ano de 2007, relacionando nota de qua-
BORÉM, F.M.; FRIEDLANDER, D. Navi-
lidade de bebida, altitude e latitude de 60 amostras finalistas do Concurso de
Qualidade - Cafés de Minas, do ano de 2007 gating origins. Roast Magazine, Portland,
p.94-95, Sept./Oct. 2009.
FONTE: Barbosa (2009).
BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuá-
ria e Abastecimento. Zoneamento agríco-
ciais, cujas qualidades ou características demanda qualidade, tais estudos precisam la. Brasília, 2011. Disponível em: <http://
estejam relacionadas com o meio geográ- www.agricultura.gov.br/portal/ page/portal/
ser realizados para que se conheça a dis-
Internet-MAPA/pagina-inicial/politica-agri-
fico. Os municípios mineiros vêm con- tribuição espacial da qualidade dos cafés cola/zoneamento-agricola>. Acesso em: 17
quistando concursos de qualidade de café, produzidos no Estado e para que se possa abr. 2011.
abrindo espaço no mercado e agregando utilizar desse conhecimento para agregar CAMARGO, A.P. de; CAMARGO, M.B.P. de.
valor ao produto. Por sua grande extensão valor e sustentabilidade à cafeicultura Definição e esquematização das fases feno-
territorial e variação ambiental, o Estado mineira. lógicas do cafeeiro arábica nas condições
possibilita a produção de cafés de qualida- tropicais do Brasil. Bragantia, Campinas,
de com grande diversidade de sabor e aro- REFERÊNCIAS v.60, n.1, p.65-68, 2001.
ma. Estas diferenças estão relacionadas _______; PEREIRA, A.R. Agrometeorology of
ASSAD, E.D. et al. Impacto das mudanças
com as características peculiares de cada climáticas no zoneamento agroclimático do
the coffee crop. Geneva: World Meteorologi-
município, principalmente às variações cal Organization, 1994. 96p. (World Meteo-
café no Brasil. Pesquisa Agropecuária Bra-
rological Organization. CAgM Report, 58).
de clima, latitude, altitude e sistemas de sileira, Brasília, v.39, n.11, p.1057-1064,
produção. Por meio da análise espacial, nov. 2004. _______; SANTINATO, R.; CORTEZ, J.G.
Aptidão climática para qualidade da bebida
foi possível apontar alguns dos fatores _______ et al. Uso de modelos numéricos
nas principais regiões cafeeiras de arábica
que influenciam a qualidade dos cafés do de terreno na espacialização de épocas de no Brasil. In: CONGRESSO BRASILEIRO
estado de Minas Gerais, demonstrando plantio. In: ASSAD, E.D.; SANO, E.E. (Ed.). DE PESQUISAS CAFEEIRAS, 18., 1992,
que quanto maior a altitude, maior a nota Sistema de Informações Geográficas: apli- Araxá. Resumos... Rio de Janeiro: MAA-
obtida na análise sensorial, e que em la- cações na agricultura. ������������������
Planaltina: EMBRA- PROCAFÉ, 1992. p.70-74.
PA-CPAC, 1993. cap.10, p.231-248.
titudes maiores a influência da altitude na _______. Zoneamento da aptidão climática
obtenção de cafés de melhor qualidade é ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA INDÚSTRIA para a cafeicultura de arábica e de robus-
menor (BARBOSA, 2009; BARBOSA et DE CAFÉ. Guia da qualidade dos cafés do ta no Brasil. In: IBGE. Recursos naturais,
Brasil - safra 2009. Rio de Janeiro, 2009. 111p. meio ambiente e poluição: contribuição de
al., 2010). Entretanto, estudos semelhan-
AVELINO, J. et al. Effects of slope exposure, um ciclo de debates. Rio de Janeiro, 1977.
tes são ainda escassos no Brasil e poucos
altitude and yield on coffee quality in two v.1, p.68-76.
trabalhos tentaram identificar tal relação.
altitude terroirs of Costa Rica, Orosi and CAMARGO, M.B.P. de; ROLIM, G. de S.;
Numa realidade global, que privilegia e
Santa Maria de Dota. Journal of the Scien- SANTOS, M.A. dos. Modelagem agroclima-

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 2 , n . 2 6 1 , p . 1 8 - 2 9 , m a r. / a b r. 2 0 11

IA261.indb 28 25/5/2011 10:19:29


Produção de café: opção pela qualidade 29

tológica do café: estimativa e mapeamento ments. Journal of Food Science, Malden, SEDIYAMA, G.C. et al. Zoneamento agrocli-
das produtividades. Informe Agropecuá- v.68, n.7, p.2356-2361, Sept. 2003. mático do cafeeiro (Coffea arabica L.) para o
rio. Geotecnologias, Belo Horizonte, v.28, estado de Minas Gerais. Revista Brasileira
GUYOT, B. et al. Influence de l’altitude et de
n.241, p.58-65, nov./dez. 2007. de Agrometeorologia, Passo fundo, v.9, n.3,
l’ombrage sur la qualité des cafés Arabica.
CARVALHO, L.G. et al. Clima. In: SCOLFO- Plantations Recherche Développement, Mont- p.501-509, 2001. Número especial.
RO, J.R.; CARVALHO, L.M.T. de; OLIVEIRA, pellier, v.3, n.4, p.272-280, juil./août 1996. SERRANO, C.E.B.; CASTRILLÓN, J.J.C.
A.D. de (Org.). Zoneamento econômico Influência de la altitud en la calidad de la
IMA. Portaria n 165, de 27 de abril de 1995.
o

ecológico de estado de Minas Gerais: com- Delimita regiões produtoras de café do es- bebida de muestras de café procedente del
ponente geofísico e biótico. Lavras: UFLA, tado de Minas Gerais para a instituição ecotopo 206 B en Colombia. Cenicafé, Ma-
2007. CD-ROM. do certificado de origem. Belo Horizonte, nizales, v.53, n.2, p.119-131, abr./jun. 2002.
CARVALHO, V.D. de; CHALFOUN, S.M. As- 1995. Disponível em: <http://www.ima. SOARES, A.R. et al. Irrigação e fisiologia
pectos qualitativos do café. Informe Agro- mg.gov.br/ certificacao/legislacao>. Acesso da floração em cafeeiros adultos na região
pecuário. Café, Belo Horizonte, v.11, n.126, em: 18 dez. 2008. da Zona da Mata de Minas Gerais. Acta
p.79-91, jun. 1985. JOËT T. et al. Influence of environmental Scientiarum. Agronomy, Maringá, v.27, n.1,
_______. et al. Fatores que afetam a quali- factors, wet processing and their interac- p.117-125, jan./mar. 2005.
dade do café. Informe Agropecuário. Qua- tions on the biochemical composition of SOUZA, S.M.C. O café (Coffea arabica L.)
lidade do café, Belo Horizonte, v.18, n.187, green Arabica coffee beans. Food Chemis- na região Sul de Minas Gerais: relação da
p.5-20, 1997. try, Maryland Heights, v.118, n.3, p.693- qualidade com fatores ambientais, estrutu-
701, Feb. 2010. rais e tecnológicos. 1996. 171f. Tese (Douto-
CORTEZ, J.G. Aptidão climática para qua-
lidade da bebida nas principais regiões ca- LAVIOLA, B.G. et al. Acúmulo de nu- rado em Fitotecnia) − Universidade Federal
feeiras de Minas Gerais. Informe Agrope- trientes em frutos de cafeeiro em quatro de Lavras, Lavras. 1996.
cuário. Qualidade do café, Belo Horizonte, altitudes de cultivo: cálcio, magnésio e TAUNAY, A. de E. História do café no Brasil:
v.18. p.27-31, 1997. enxofre. Revista Brasileira de Ciência do no Brasil Imperial 1822-1872. Rio de Janeiro:
Solo,Viçosa, MG, v.31, n.6, p.1451-1462, Departamento Nacional do Café, 1939.
COSTA, L.; CHAGAS, S.J. de R. Gourmets:
nov./dez. 2007.
uma alternativa para o mercado de café. THORNTHWAITE, C.W.; MATHER, J.R. The
Informe Agropecuário. Qualidade do café, MATIELLO, J.B. Processamento, classifica- water balance. Centeron: Drexel Institute of
Belo Horizonte, v.18, n.187, p.63-67, 1997. ção, industrialização e consumo de café. In: Technology-Laboratory of Climatology, 1955.
_______. O café: do cultivo ao consumo. São 104p. (Publications in Climatology, v.8, n.1).
CUPOLILLO, F. Diagnóstico hidroclimato-
Paulo: Globo, 1991. p.273-317.
lógico da bacia do Rio Doce. 2008. 156p. VAAST, P. et al. Fruit thinning and shade
Tese (Doutorado em Geografia) − Univer- MEIRELES, E.J.L. et al. Zoneamento agro- improve bean characteristics and beverage
sidade Federal de Minas Gerais, Belo Hori- climático: um estudo de caso para o café. quality of coffee (Coffea arabica L.) under
zonte, 2008. Informe Agropecuário. Geotecnologias, optimal conditions. Journal of the Science
Belo Horizonte, v.28, n.241, p.50-57, nov./ of Food and Agriculture, Malden, v.86, n.2,
_______. Períodos de estiagem durante a
dez. 2007. p.197-204, Jan. 2006.
estação chuvosa no estado de Minas Ge-
rais: espacialização e aspectos dinâmicos NEVES, C. A estória do café. Rio de Janeiro: VIANELLO, R.L. et al. Veranico 2006 em
relacionados. 1997. 148p. Dissertação (Mes- IBC, 1974. 52p. Minas Gerais: precedentes meteorológicos
trado em Meteorologia Agrícola) – Universi- RENA, A.B.; MAESTRI, M. Fisiologia do ca- e impactos na agricultura. In: CONGRES-
dade Federal de Viçosa, Viçosa, MG, 1997. feeiro. In: _______. et al. (Ed.). Cultura do SO BRASILEIRO DE METEOROLOGIA,
DECAZY, F. et al. Quality of different hon- cafeeiro: fatores que afetam a produtivida- 14.,2006, Florianópolis. Anais... Florianó-
duran coffes in relation to several environ- de. Piracicaba: POTAFOS, 1986. p.14-85. polis: UFSC, 2006.

Mudas frutíferas
Uvas Outras Citros
Bordo Oliveira Laranja-lima-verde
Niágara Rosada Pessegueiro Laranja-baia
Niágara Branca Ameixeira Laranja-baianinha

EPAMIG Sul de Minas Syrah Nectarineira


Marmeleiro
Laranja-campista
Laranja-natal
Figueira Laranja-pera-rio
Amora-preta Laranja-sanguínea
Caquizeiro Laranja-seleta
Atemoia Laranja-valência
Frutas nativas Lima-da-pérsia
Limão-tahiti
Tangerina-ponkan
Unidade Regional EPAMIG Sul de Minas Tangerina-cravo
Tel.: (35) 3821-6244 Tangerina-murcote
e-mail: uresm@epamig.br

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 2 , n . 2 6 1 , p . 1 8 - 2 9 , m a r. / a b r. 2 0 11

IA261.indb 29 25/5/2011 10:19:29


30 Produção de café: opção pela qualidade

Melhoramento genético do café visando


à qualidade de bebida
Gladyston Rodrigues Carvalho 1
Juliana Costa de Rezende 2
Cesar Elias Botelho 3
Andre Dominghetti Ferreira 4
Antonio Alves Pereira 5
Antonio Carlos Baião de Oliveira 6

Resumo - Com a ascensão do mercado de cafés especiais, o melhoramento genético tem


dado ênfase tanto para a produtividade, quanto para a qualidade da bebida fornecida
pelas cultivares. O melhoramento para a qualidade de bebida é um processo de difícil
execução, pois a qualidade que se avalia nos testes de bebida sofre considerável
influência ambiental, seja do ano agrícola, seja da incidência de pragas e doenças, de
altitude, de práticas culturais e circunstâncias em que foram realizadas a colheita e
a pós-colheita. A produção mundial de café Arábica, baseia-se, em grande parte, em
cultivares desenvolvidas há muito tempo por seleção de progênies dentro da cultivar
Típica e genótipos de Bourbon, ou em progênies provenientes de cruzamento entre
estas duas cultivares, como por exemplo a ‘Mundo Novo’. Entretanto, em regiões de
altitudes não limitantes, cultivares bem mais modernas e produtivas que as ‘Bourbons’
podem produzir também, em condições comerciais, infusões de ótima qualidade, como
observadas em vários concursos de qualidade. É de especial relevância destacar o
mérito do trabalho de melhoramento e a boa qualidade de bebida das novas cultivares
resistentes à ferrugem (Hemileia vastatrix), desenvolvidas por instituições de pesquisa,
em consequência de recombinação genética e processos de seleção.

Palavras-chave: Coffea arabica. Cultivar. Variedade. Genótipo. Melhoramento genético.


Qualidade do café.

INTRODUÇÃO um modelo tecnológico voltado funda- cialização que, por um lado, beneficiava a
mentalmente para a produtividade. Por escala de produção e a economicidade via
A trajetória da cafeicultura brasileira é
marcada por importantes modificações no meio da introdução de novas cultivares, redução de custos e, por outro, sacrificava
modelo produtivo, sendo, uma das mais do aumento na utilização de fertilizantes a imagem da qualidade do café brasileiro,
importantes, a passagem de uma ativida- minerais e de tecnologias de produção, foi inserindo-o em um sistema internacional
de econômica pioneira e extrativista para criado um sistema de produção e comer- de comercialização que, paradoxalmente,

1
Engo Agro, Dr., Pesq. EPAMIG Sul de Minas-EcoCentro/Bolsista FAPEMIG, Caixa Postal 176, CEP 37200-000 Lavras-MG. Correio eletrônico:
carvalho@epamig.ufla.br
2
Enga Agra, Dra, Pesq. EPAMIG Sul de Minas/Bolsista FAPEMIG, Caixa Postal 176, CEP 37200-000 Lavras-MG. Correio eletrônico:
julianacosta@epamig.br
3
Engo Agro, Dr., Pesq. EPAMIG Sul de Minas-EcoCentro/Bolsista FAPEMIG, Caixa Postal 176, CEP 37200-000 Lavras-MG. Correio eletrônico:
cesarbotelho@epamig.br
4
Engo Agro, Doutorando Fitotecnia UFLA, Caixa Postal 3037, CEP 37200-000 Lavras-MG. Correio eletrônico: agroadf@yahoo.com.br
5
Engo Agro, D.Sc., Pesq. EPAMIG Zona da Mata/Bolsista CNPq, Caixa Postal 216, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico: pereira@epamig.ufv.br
6
Engo Agro, D.Sc., Pesq. Embrapa Café, Caixa Postal 216, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico: antonio.baiao@embrapa.br

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 2 , n . 2 6 1 , p . 3 0 - 3 8 , m a r. / a b r. 2 0 11

artigo 3 IA 261.indd 30 26/5/2011 13:20:28


Produção de café: opção pela qualidade 31

se mostrava mais favorável para as ca- genética, existe variabilidade significativa aroma e sabor, enquanto o C. canephora
racterísticas sensoriais do café de outros para composição química de grãos e carac- apresenta bebida neutra, sendo muito uti-
produtores mundiais. terísticas organolépticas entre e dentro de lizado na composição dos blends. Sabe-se
No entanto, a partir da década de 1970, níveis das espécies. Como consequência, que o café Arábica apresenta melhor qua-
com a grande oferta do produto nos mer- ganhos genéticos para qualidade podem lidade e concentrações mais elevadas de
cados nacional e internacional, houve a ser obtidos por estratégias de hibridações carboidratos, lipídeos, trigonelina, dentre
necessidade de o setor brasileiro produtivo intra ou interespecíficas. outros compostos, sendo que os cafés
se profissionalizar, produzindo, cada vez Assim, é evidente que para fazer me- Robustas, considerados como de bebida
mais, com eficiência e qualidade. Assim, lhoramento genético é preciso existir va- neutra, exibem, geralmente, maiores teores
os cafés de melhor qualidade passam a riabilidade de genótipos. O primeiro fator de polifenóis e cafeína.
ter preços mais atraentes nos mercados a influenciar a qualidade do café é a sua Em programas de melhoramento
nacional e internacional. Em consequência espécie. O gênero Coffea inclui 103 espé- genético que envolve C. arabica, o alvo
dessa demanda, o interesse no plantio de cies diferentes, e embora a diversidade seja principal é a melhoria da produtividade e
cultivares com potencial para produção de bastante significativa, apenas as espécies resistências a doenças e à manutenção do
cafés especiais tem aumentado significati- de Coffea arabica e de Coffea canephora nível de qualidade em cruzamentos com
vamente nos últimos anos. recebem atenção por suas predominân- materiais genéticos exóticos que apresen-
Entretanto, o melhoramento para a cias comerciais. Variações grandes entre tam resistência a patógenos. Indiretamente,
qualidade de bebida geneticamente su- essas duas espécies são observadas para a qualidade tem sido geneticamente melho-
perior é um processo de difícil execução, a maioria de seus compostos químicos rada ao se produzirem variedades rústicas
pois a qualidade que se avalia nos testes (Quadro 1). que suportam adversidades bióticas e
de bebida sofre considerável influência Em estudo realizado por Charrier e abióticas, respondendo, mesmo assim, com
ambiental, seja do ano agrícola, incidên- Berthaud (1975), constatou-se diferença granação uniforme e peneira alta. Por outro
cia de pragas e doenças, altitude, práticas entre os teores de cafeína em diferentes lado, até recentemente havia paradigmas
culturais e circunstâncias em que foi reali- espécies, sendo C. canephora a de maior quanto à qualidade de algumas variedades
zada a colheita, a pós-colheita, o processo teor (1,5% a 3,0% matéria seca (MS)), híbridas, oriundas de cruzamentos de Ará-
de preparo e conservação do grão, assim seguida por C. arabica L. (0,2% a 1,2% bica com Robusta e outras espécies.
como a torração e o preparo da infusão que MS), C. congensis (0,98% a 1,36% MS) Variação significativa existe também
modificam a constituição química do grão. e C. eugenioides (0,29% a 0,513% MS), dentro de nível de espécie. Malta e Chagas
Esta modificação está sempre relacionada o que demonstrou variabilidade dentro de (2009), ao avaliarem diferentes cultivares
com a composição original do grão cru. indivíduos da mesma espécie e marcantes comerciais de Arábica, observaram que as
Além disso, diferenças sutis nas diferenças interespecíficas, exibindo ação cultivares Catuaí Amarelo IAC 62 e Rubi
qualidades organolépticas são de difícil preponderante do genótipo sobre a produ- MG 1192 apresentaram os maiores teores
caracterização e alto custo, dificultando o ção desse alcaloide. de trigonelina, sendo que Catuaí Amarelo
estudo de grande número de progênies em A espécie C. arabica apresenta uma IAC 62, Catuaí Vermelho IAC 99, Rubi
fase de seleção. Não raro, a mesma amostra bebida de qualidade superior, com mais MG 1192 e Oeiras MG 6851 apresentaram
submetida a diferentes provadores recebem
classificações discordantes dificultando a
seleção pelos melhoristas. QUADRO 1 - Variação de alguns componentes químicos de grãos verdes em Coffea arabica
Dessa forma, a qualidade do café é e Coffea canephora
uma característica complexa que conta Componente C. arabica C. canephora
com múltiplos fatores. Ao lado dos não pH 5,26-6,11 5,27-6,13
genéticos que foram apresentados, o papel (1)
Teor mineral 3,5-4,5 3,9-4,5
de genética é bastante significativo. Fatores (1)
Teor de gordura 13-17 7,2-11
como espécie e cultivares influenciam de
(1)
Teor de cafeína 0,7-2,2 (média 1,4) 1,5-2,8 (média 2,2)
maneira significativa na qualidade do café
produzido.
(1)
Teor de ácidos clorogênicos 4,80-6,14 5,34-6,41
(1)
Trigonelina 1- 1,2 0,6-1,7
MELHORAMENTO GENÉTICO (1)
Oligossacarídeos 6-8 5-7
E A QUALIDADE (1)
Polissacarídeos totais 50 - 55 37 - 47
A qualidade do café é uma caracterís- FONTE: Wintgens (2004 apud LEROY et al., 2006).
tica altamente complexa. Em termos de (1)% matéria seca (MS).

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 2 , n . 2 6 1 , p . 3 0 - 3 8 , m a r. / a b r. 2 0 11

artigo 3 IA 261.indd 31 26/5/2011 13:20:28


32 Produção de café: opção pela qualidade

os maiores teores de ácidos clorogênicos. fatórios entre alguns fatores como acidez por materiais adaptados às diferentes con-
O menor teor de cafeína foi observado na e aroma. Sendo duas características fáceis dições climáticas, um grande número de
cultivar Oeiras MG 6851, seguida pela de selecionar, estas poderiam ser usadas cultivares vem sendo desenvolvido para
cultivar Mundo Novo IAC 379-19. como critérios de seleção para qualidade alcançar tais objetivos.
Dentro de nível de espécie, valores organoléptica em C. canephora. Aspectos climatológicos de localiza-
significativos para herdabilidade foram ob- A relação entre qualidade e germo- ção (altitude e latitude) e de qualidade de
servados para a maioria das características plasma tem sido identificada por meio bebida estão intimamente interligados. A
de grãos, o que leva à realização de ganhos de características morfológicas como, altitude constitui importante fator para a
genéticos significativos para tamanho de por exemplo, genótipos com área foliar diferenciação de regiões cafeeiras, pois
grãos, teor de cafeína, qualidade organo- reduzida, como Mokka, Blue Mountain e influencia diretamente na temperatura e na
léptica e época de maturação. Montagnon Kona, que normalmente produzem cafés de distribuição das chuvas. A cada 100 m de
et al. (1998) estudaram as correlações boa qualidade, possivelmente influenciada aumento da altitude, a temperatura cai em
genéticas entre rendimento e várias ca- pelo microclima da própria planta. A redu- torno de 1 ºC, e as regiões mais altas, do
racterísticas de qualidade (porcentual de ção da área foliar promoverá uma maior mesmo modo, são mais chuvosas. Dessa
lipídeos, sacarose, trigonelina, cafeína e aeração, aumentando a penetração da luz, forma, em regiões de clima mais quente
componentes da prova de xícara) em pro- expondo os frutos a mais energia durante e/ou úmido no período da colheita, o ci-
gênies provenientes de cruzamento do gru- o amadurecimento, reduzindo o tempo de clo de maturação é mais curto, os grãos
po Congolês e Guineense. Observaram que maturação, o que minimiza a fermentação passam rapidamente do estádio de cereja
variação de rendimento e características de microbiana que ocorre nos frutos maduros. para passa, ocorrendo as duas fases iniciais
qualidade são independentes. Esses autores Essas considerações realçam a impor- da fermentação dos grãos (fases lática e
observaram ainda que para características tância do papel genético possibilitando a acética), que podem evoluir rapidamente
que apresentam altos valores de herdabi- seleção de plantas para melhorar a quali- para as duas fases seguintes (propiônica e
lidade, como porcentual de gordura, peso dade da bebida. Nos programas clássicos butírica), que são prejudiciais à qualidade
de grãos ou cafeína, a seleção de progênies de melhoramento, as diferenças entre da bebida, provocando o surgimento do
resultantes de cruzamento de progenitores cultivares e linhagens referem-se apenas gosto conhecido como rio.
com valores favoráveis para estas caracte- às características vegetativas e de produ- Solares (2000), ao estudar a influência
rísticas pode ser muito eficiente. ção. No entanto, torna-se imprescindível da altitude sobre três variedades (Bourbon,
Características multigênicas controlam conhecer também a qualidade de diferentes Caturra e Catuaí), cultivadas em três níveis
a qualidade da bebida do café Arábica. No cultivares e linhagens, avaliando a com- de altitude: abaixo de 1.220 m, entre 1.220
cruzamento interespecífico entre Arábica posição química e a qualidade sensorial e 1.460 m e acima de 1.460 m, concluiu ser
e Robusta, a qualidade da bebida provém dos grãos. A partir dessas informações, evidente a influência do fator altitude sobre
de uma característica dominante, sendo cruzamentos e seleções visam o aproveita- a qualidade do café, independentemente da
que, em geral, a espécie Arábica melhora mento do potencial de genitores portadores variedade cultivada. Esse autor observou
a qualidade do híbrido. Resultados em de alelos favoráveis ao melhoramento que as propriedades organolépticas como:
híbridos interespecíficos sugerem um alto genético do cafeeiro, para a produção de corpo, aroma e suavidade acentuam-se à
valor de herdabilidade (0,71), com uma cafés especiais. medida que a altitude se eleva, ao passo
herança materna para teor de trigonelina que para o atributo acidez, essa evidência
(KY et al., 2001). Por um lado, Montagnon CONDIÇÕES não é perceptível.
et al. (1998) verificaram que para a carac- EDAFOCLIMÁTICAS Sabendo-se das diferenças qualitativas
terística sacarose, o melhoramento poderia Outro fator determinante na qualidade dos cafés de diferentes regiões cafeeiras do
ser mais difícil, já que a herdabilidade é do café é o ambiente onde este está sendo estado de Minas Gerais, Chagas, Carvalho
baixa e a influência ambiental sobre essa cultivado, já que a diversidade climática e Costa (1996) fizeram uma caracterização
característica é alta. Esses mesmos autores proporciona variações quanto à acidez, química e qualitativa de cafés de alguns
concluíram também que o teor de gordura e corpo, doçura e aroma. O Brasil possui municípios de três regiões produtoras
conteúdo de sacarose são correlacionados uma gama muito grande de cafés quanto de Minas Gerais e verificaram que os de
negativamente. Por outro lado, em trabalho à qualidade de bebida, em decorrência de melhor qualidade de bebida eram oriun-
com amostras de dois grupos genéticos, sua imensa variedade de solos e climas, dos da região do Triângulo Mineiro/Alto
híbridos e clones de cultivares comer- associados a diferentes sistemas de ma- Paranaíba, seguida pelo Sul de Minas e,
ciais, Moschetto et al. (1996) indicaram nejo da lavoura e do fruto colhido. Com finalmente, da Zona da Mata. Nesta mesma
coeficientes de correlação lineares satis- a evolução da cafeicultura e a demanda linha de pesquisa, Chagas, Malta e Pereira
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 2 , n . 2 6 1 , p . 3 0 - 3 8 , m a r. / a b r. 2 0 11

artigo 3 IA 261.indd 32 26/5/2011 13:20:28


Produção de café: opção pela qualidade 33

(2005) verificaram o potencial da região do Novo’. Entretanto, em regiões de alti- progênies Bourbon Vermelho Daterra,
Sul de Minas Gerais para a produção tudes não limitantes, cultivares bem mais Catiguá MG1, H419-6-2-5-2, H419-6-
de cafés especiais, e, de acordo com os modernas e produtivas que as Bourbons 2- 7-3 e H518-3-6-1 de acordo com os
resultados das análises físico-químicas podem, em condições comerciais, produ- atributos: bebida limpa, acidez, sabor,
dos 22 municípios estudados, esta região zir também infusões de ótima qualidade, balanço e aspecto no processamento cereja
apresenta características desejáveis para a como observado em vários concursos de descascado. A ascendência das cultivares
produção de cafés de qualidade superior. qualidade. e progênies testadas, oriundas ou não do
Cortez (1997), ao estudar a aptidão Cabe salientar que, por outro lado, essa Híbrido Timor, não afetou o desempenho
climática para a qualidade da bebida nas boa qualidade das cultivares mais moder- qualitativo destas.
principais regiões cafeeiras de Minas nas pode ser atribuída também, em parte, Da mesma forma, Costa et al. (2009)
Gerais, verificou que as características de à própria constituição genética da cultivar avaliaram a qualidade da bebida de cultiva-
clima influenciam a qualidade do café em Bourbon, pois esta última entra, direta ou res comerciais com resistência à ferrugem-
função dos seguintes aspectos: desenvolvi- indiretamente em considerável proporção do-cafeeiro e observaram que as progênies
mento dos frutos, ocorrência de processos na constituição genética das novas cultiva- Catucaí 785-15, Catucaí Amarelo 2SL,
fermentativos prolongados e incidência de res. As cultivares de porte baixo, tal como IBC-Palma I, Sabiá Tardio cv 398, Catucaí
grãos defeituosos. Caturra e Villa Sarchi, também destacam- Vermelho 36/6 cv 366 e Catucaí Amarelo
Oliveira et al. (1979), ao observarem os se por sua qualidade excelente de xícara. 24/137 cv 388 produziram bebidas de boa
efeitos da origem, tipo de despolpamento e Dessa forma, vários materiais evidenciam qualidade, com notas gerais entre 80,0
armazenamento do café na atividade da po- qualidade de bebida, quando produzidos e 84,0. A bebida das cultivares Bourbon
lifenoloxidase (PFO) e qualidade da bebida, em condições ambientais favoráveis. Amarelo, Canário, Mundo Novo 388/17,
verificaram diferenças entre cafés despol- O conhecimento do potencial de pro- Catuaí Vermelho IAC 144, Catuaí Ama-
pados da cultivar Mundo Novo, das regiões dução de cafés de qualidade das cultivares relo IAC 66/69 e das progênies Catucaí
de Pindamonhangaba, Piracicaba e Campi- melhoradas geneticamente é uma ferra- Vermelho 20/15 cv 476, Acauã 25, Catucaí
nas, sendo que estas apresentaram valores menta indispensável para completar e dar Amarelo 20/15 cv 479 obteve pontuação
da PFO de 65,58; 55,48 e 72,83 U/min/g suporte aos trabalhos de melhoramento entre 84,5 e 86,0, sendo classificada como
de amostra, respectivamente. Já quando genético. As cultivares Ouro Verde IAC muito boa. A cultivar Obatã Vermelho ob-
foram coletadas amostras de cafés da H5010-5, Tupi IAC 1669-33 e Obatã IAC teve a maior nota geral (90,5), e sua bebida
cultivar Bourbon Amarelo, das regiões 1669-20 foram avaliadas por Aguiar et al. foi classificada como excelente.
anteriormente citadas, esses autores veri- (2001), em relação às características senso-
ficaram valores da atividade enzimática da riais da bebida, utilizando-se as cultivares Coffea arabica L. var.
Bourbon
PFO de 68,40, 60,37 e 66,33 U/min/g de Mundo Novo IAC 388-17, Catuaí Amarelo
amostra, para Pindamonhangaba, Piraci- IAC 62, Catuaí Vermelho IAC 81 e Icatu Em 1859, chegaram ao Brasil sementes
caba e Campinas, respectivamente. Esses Vermelho IAC 4045 como testemunhas. de café que o governo brasileiro mandara
resultados permitem inferir que diferentes Com base na baixa acidez e nos elevados buscar na Ilha de Reunião, antiga Ilha
genótipos de cafeeiro podem apresentar níveis de fragrância do pó, aroma da be- Bourbon, por ter informações de que eram
diferenças na qualidade, e que a intera- bida, sabor residual e qualidade global, as mais produtivas que a cultivar Típica e de
ção genótipos e ambientes também pode três cultivares foram classificadas como boa qualidade. Por terem frutos vermelhos,
provocar diferenças na qualidade do café. produtoras de cafés de qualidade global os cafeeiros originados dessas sementes
superior, podendo ser utilizadas na produ- passaram a ser chamados Bourbon Ver-
DIVERSIDADE GENÉTICA ção de cafés do tipo Gourmet. melho.
EXISTENTE PARA A Pereira (2008) separou, por meio da Em 1930, o Dr. Carlos Arnaldo Krug,
PRODUÇÃO DE CAFÉS análise sensorial, como potenciais pro- engenheiro agrônomo do Instituto Agronô-
ESPECIAIS
dutoras de cafés especiais, as cultivares e mico de Campinas (IAC), examinou, pela
A produção mundial de café Arábica, progênies Catiguá MG 2, Catuaí Vermelho primeira vez, frutos amarelos de Bourbon,
em grande parte, baseia-se em cultivares IAC 15, H518-3-6-1, Icatu Amarelo IAC sendo sua origem pouco conhecida. Esta
desenvolvidas há muito tempo por seleção 3282, Mundo Novo IAC 379/19 e Rubi mudança na coloração dos frutos pode ter
de progênies dentro da cultivar Típica e MG 1192, de acordo com os atributos: sido originária da mutação de ‘Bourbon
genótipos de Bourbon ou em progênies bebida limpa, doçura, acidez, corpo, sabor, Vermelho’ ou também da recombinação
provenientes de cruzamento entre estas gosto remanescente, balanço e aspecto no do cruzamento natural entre ‘Bourbon
duas cultivares, como por exemplo a ‘Mun- processamento natural, e as cultivares e Vermelho’ e ‘Amarelo de Botucatu’, pois,
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 2 , n . 2 6 1 , p . 3 0 - 3 8 , m a r. / a b r. 2 0 11

artigo 3 IA 261.indd 33 26/5/2011 13:20:28


34 Produção de café: opção pela qualidade

nas populações originais em que foi sele- de café beneficiado por hectare. Em alguns O progresso da clonagem in vitro em
cionada, foram encontradas algumas plan- locais, as ‘Bourbons’ chegaram a produzir biorreatores talvez possibilite o aprovei-
tas de fenótipo semelhante ao da cultivar mais que a cultivar Mundo Novo, utilizada tamento comercial de híbridos de Mokka
Bourbon Vermelho e outras ao da cultivar como testemunha. mais rapidamente que o tradicional de-
Amarelo de Botucatu. Além disso, a pro- senvolvimento de linhagens por seleção
dução média de suas melhores seleções é Coffea arabica L. var. genealógica ou retrocruzamentos, cujas
Mokka
superior à da ‘Bourbon Vermelho’ em 32% dificuldades já foram antes abordadas.
a 45%. Também existe grande variação A variedade Mokka, também oriunda Híbridos de Mokka, testados no Havaí, têm
na produtividade de diferentes materiais da Ilha de Reunião, caracteriza-se pelo mostrado também bebida superior (NA-
genéticos do grupo Bourbon, sendo veri- pequeno porte, copa cônica, ramos pla- GAI et al., 2004 apud MEDINA FILHO e
ficada por vários autores, que encontraram giotrópicos curtos, internódios curtos e BORDIGNON, 2010).
superioridade de 12% a 25% da ‘Bourbon folhas pequenas, com domácias grandes Convém salientar que a variedade
Amarelo’ sobre a ‘Bourbon Vermelho’. e salientes. As flores são menores que Mokka não se relaciona com o tipo comer-
As plantas desta cultivar são alta- as da variedade Arábica. Os frutos são cial “sementes moca”, formadas quando
mente suscetíveis à ferrugem-alaranjada arredondados e pequenos e as sementes se desenvolve uma única semente no
(Hemileia vastatrix Berk et Br.), menos normais quanto ao formato, porém, muito fruto. Suas sementes são plano-convexas,
vigorosas e produtivas que a cultivar Mun- pequenas. O produto obtido é considerado normais, apenas menores que o padrão da
do Novo em, aproximadamente, 30% a de excelente qualidade. variedade Típica.
50%. A peneira média é em torno de 16 e a Análises genéticas realizadas no IAC
porcentagem de grãos normais de, aproxi- revelaram que a variedade Mokka possui Coffea arabica L. var.
Laurina
madamente, 95% (FAZUOLI et al., 2008). os alelos tt, sendo, portanto, derivada da
A qualidade intrínseca da ‘Bourbon’, ‘Bourbon Vermelho’. Quando as plantas Dentre as cultivares de porte reduzido,
relacionada com o seu potencial genético se encontram homozigotas para dois pa- com ótima qualidade de bebida, destaca-se
para produzir café de excelente qualidade res de genes, a Laurina (lrlr), na condição a cultivar Laurina, que apresenta menor
de bebida, é mundialmente conhecida, por recessiva, e a Mokka (momo), com domi- teor de cafeína que as cultivares comer-
suas características sensoriais diferencia- nância parcial, tem-se o genótipo-padrão ciais (em torno de 0,6%). Esta variedade,
das, como elevada doçura natural, sabor da variedade Mokka, lrlr momo. Portanto, oriunda da Ilha de Reunião, é também
achocolatado, aroma intenso e agradável relaciona-se à variedade Laurina. Quando a conhecida por Murta, Bourbon Pointu,
acidez, sendo bastante utilizada para a variedade Mokka possui o alelo Laurina na Leroy e Smyrna, tendo sido descrita como
produção de cafés especiais em diversas condição homozigota (lrlr momo), o teor um provável híbrido entre C. arabica e C.
regiões do mundo. de cafeína é semelhante ao da variedade mauritiana.
Por apresentarem menor produtividade, Laurina (0,6%). Isso não ocorre, quando As plantas são arbustos de pequeno
em relação às demais cultivares, as ‘Bour- as plantas apresentam porte alto (LrLr porte, geralmente entre 1 e 2 m de altura,
bons’ têm sido indicadas para o plantio momo), nas quais o teor é o normalmente arquitetura cônica, geralmente multicaules,
somente para aqueles cafeicultores que encontrado em variedades de C. arabica com ramificação muito densa, internódios
desejam obter um produto diferenciado em (1,1%). curtos e folhagem também bastante densa.
relação à qualidade de bebida, já que esta A seleção genealógica de linhagens As folhas são menores e mais persistentes
característica é fator de grande destaque produtivas da Mokka, porte baixo, grãos do que na variedade Arábica. Os frutos são
nessas cultivares. maiores e com boa bebida mostra-se pontiagudos na base; as sementes pequenas
Ferreira (2010) avaliou diferentes cul- pouco promissora por suas associações e afiladas nas extremidades.
tivares de Bourbon Vermelho e Amarelo genéticas indesejáveis. Há muitos anos, O fato de possuir menor teor de cafe-
em relação à adaptabilidade, estabilidade verificou-se que a Mokka apresentava, em ína nos grãos constitui o maior atrativo
fenotípica e outras características de in- condições naturais, baixa infestação pelo em termos de melhoramento. O teor de
teresse agronômico, a fim de selecionar bicho-mineiro, característica que poderia cafeína nas folhas, contudo, não difere do
aquelas mais produtivas para as diversas ser dominante nos seus híbridos. Por essa encontrado em folhas de plantas normais.
regiões produtoras do estado de Minas e diversas outras razões postula-se que a A produção de ‘Laurina’ é pequena, porém
Gerais. Observou que as cultivares de Mokka tenha origem na introgressão de a bebida é suave, de ótima qualidade.
Bourbon estudadas apresentaram produ- um bloco gênico de C. eugenioides em C. O fenótipo Laurina é controlado por
tividades satisfatórias em todos os locais, arabica (MEDINA FILHO et al., 2007 apud apenas um gene, na condição homozigota
variando de 22,94 a 32,75 sacas de 60 kg MEDINA FILHO e BORDIGNON, 2010). recessiva (lrlr). Os híbridos F1 são normais
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 2 , n . 2 6 1 , p . 3 0 - 3 8 , m a r. / a b r. 2 0 11

artigo 3 IA 261.indd 34 26/5/2011 13:20:28


Produção de café: opção pela qualidade 35

e, em segregações em F2 e outras gerações, que, torrados e moídos, apresentam perfil de Timor, que constitui o segundo retro-
as frequências observadas indicam domi- de bebida distinto das demais. A infusão é cruzamento de C. arabica x C. canephora
nância completa do alelo normal sobre o suave, limpa, com baixa adstringência, re- e possui fontes de resistência à ferrugem.
alelo lr. Estudos genéticos, como os de trogosto agradável e, por vezes, apresenta Em consequência da crescente deman-
Krug, Carvalho e Antunes Filho (1954), um agradável aroma floral. da pelos cafés especiais, nos quais a quali-
demonstraram que esse mutante pode Quanto à outra espécie envolvida dade de bebida superior é um dos principais
ter sido originado da variedade Bourbon ainda existem dúvidas, mas certamente C. requisitos do mercado consumidor, tem-se
Vermelho, o que é provável, considerando- canephora ou C. congensis parecem muito priorizado e intensificado o processo
se a origem geográfica comum das duas relacionadas, podendo qualquer uma estar de seleção nas progênies resultantes de
variedades (Ilha de Reunião). ligada à origem de C. arabica, sendo, a cruzamentos que envolvem cafeeiros das
primeira, com perfil de aroma e sabor infe- cultivares Mundo Novo, Acaiá, Bour-
Coffea arabica L. var. bon Amarelo, Catuaí Vermelho, Catuaí
rior à C. arabica, e a segunda, com a qua-
Ibairi
lidade de infusão ruim e bastante variável. Amarelo, Caturra Vermelho, Típica, Blue
Derivada da variedade botânica Mokka, Algumas introduções têm perfis bastante Mountain e Bourbon SL34 com Híbrido
Ibairi tem, repetidas vezes, apresentado desagradáveis, inferior à C. canephora, de Timor e seus derivados. Atualmente,
bebida de aroma e sabor mais intenso, outras têm um típico sabor rançoso, embora muitas dessas combinações já estão em
superior às demais variedades. Entretanto, uma das introduções tenha apresentado avaliação de campo, com progênies nas
não é cultivada por sua baixa produção e leves notas jasmináceas. É possível que gerações F2, F3 e F4.
pelo tamanho reduzido de seus grãos. Por o sabor superior de C. arabica deva-se à A partir desse germoplasma, vem sendo
outro lado, pesquisadores do IAC estu- organizado um programa de melhoramen-
favorável contribuição de C. eugenioides
dam a possibilidade do aproveitamento to, visando à obtenção de cultivares para
ao seu genoma.
de híbridos F1 de Ibairi com as cultivares a produção de bebidas de alta qualidade e
Por essa razão, pesquisadores do IAC
Obatã e Tupi. Entre mais de uma centena diferenciadas. Depois de hibridações des-
investigam a possibilidade de melhorar
desses híbridos estudados, existem vários ses genótipos com cultivares comerciais,
o sabor de C. arabica e C. canephora
que apresentam boa qualidade, porte baixo como ‘Catuaí’, ‘Caturra’, ‘Mundo Novo’,
explorando recombinações genéticas com
e compacto, grãos arredondados maiores e ‘Bourbon’, muitas gerações de seleção
C. eugenioides. Atualmente, investiga-se a
que os do Mokka, resistência à ferrugem foram realizadas objetivando recombinante
qualidade da bebida de plantas derivadas
e, comparativamente ao Obatã, menor de alta produtividade, resistente a doenças,
do cruzamento da cultivar Obatã com o pri-
infestação pelo bicho-mineiro. Ibairi, em com vigor vegetativo e alta qualidade de
meiro retrocruzamento de C. eugenioides
tupi-guarani, significa fruta doce pequena. xícara. Como resultado desse trabalho
duplicado (2n=44) com C. arabica.
Apresenta excelente qualidade de bebida, já foi possível disponibilizar aos cafei-
de aroma e sabor intensos. Mutante AC cultores oito novas cultivares resistentes
à ferrugem, derivadas de hibridações de
Coffea eugenioides Em 2003, pesquisadores do IAC iden- ‘Caturra’, ‘Catuaí’ e ‘Híbrido de Timor’:
A única espécie poliploide de Coffea já tificaram uma planta que produz um fruto Oeiras MG 6851, Paraíso MG H 419-1,
descrita é C. arabica, que apresenta 2n = naturalmente descafeinado. O mutante AC, Araponga MG1, Sacramento MG1, Cati-
4x = 44 cromossomos. Todas as outras com teor vinte vezes menor de cafeína guá MG1, Catiguá MG2, Catiguá MG3 e
espécies são diploides, com 2n = 2x = 22 (teor de 0,07%), é proveniente da Etiópia. Pau-Brasil MG1.
cromossomos. Vários estudos realizados Atualmente, pesquisas buscam cruzar a No germoplasma introduzido pela
com C. arabica conduzem à hipótese de variedade descafeinada com outras mais UFV, foram realizados testes com relação
sua origem estar ligada à hibridação entre produtivas como ‘Mundo Novo’ e ‘Catuaí’, às características da bebida, bem como os
espécies diploides, seguida da duplicação para viabilizar o cultivo pelo produtor. teores de óleos, sólidos solúveis e cafeína
do número de cromossomos e diferencia- de algumas introduções de ‘Híbrido de Ti-
ção ou, mesmo, da hibridação de gametas CULTIVARES COMERCIAIS mor’, ‘Catimor’ (Caturra Vermelho - CIFC
DESENVOLVIDAS PELA 19/1 x Híbrido de Timor - CIFC 832/1 e
não reduzidos de espécies diploides.
PARCERIA EPAMIG/UFV/UFLA
Acredita-se que C. eugenioides seja CIFC 832/2), ‘Cavimor’ (Catuaí Amarelo -
uma das espécies envolvidas na origem de O Programa de Melhoramento de Café, CIFC 2482/20 x Catimor CIFC HW 26/13),
C. arabica. C. eugenioides é um arbusto conduzido em Minas Gerais, iniciou-se ‘Catindu’ (descendência do híbrido CIFC
de folhas pequenas, baixíssima produção, em 1971 na UFV, com a introdução de um H 275, resultante do cruzamento ‘Caturra
frutos vermelhos e grãos bem pequenos germoplasma valioso de café, o Híbrido Vermelho’ - CIFC H 19/1 x S 795 - CIFC
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 2 , n . 2 6 1 , p . 3 0 - 3 8 , m a r. / a b r. 2 0 11

artigo 3 IA 261.indd 35 26/5/2011 13:20:28


36 Produção de café: opção pela qualidade

1344/19) e ‘Catiafa’ (descendência do amostras de ‘Catuaí Vermelho IAC 99’, do trico, alta acidez, alto gosto remanescente,
híbrido CIFC H 175, resultante do cruza- município de Três Pontas, as quais foram alta doçura”. O desempenho da qualidade
mento ‘Caturra Vermelho’ - CIFC 19/1 x de 85 e 86 na escala de 100 pontos. As sensorial da bebida das novas cultivares
S 12 Kaffa - CIFC 635/3), em comparação cultivares Catiguá MG2, Catiguá MG1 e está sendo continuado.
ao ‘Catuaí’, ‘Mundo Novo’ e ‘Conillon’ a progênie H419-6-2-5-3 (proveniente do Dessa forma, concluiu-se que essas
(SOUZA, 1980). No germoplasma desig- cruzamento entre ‘Catuaí Amarelo’ e o novas cultivares de café Arábica derivadas
nado Híbrido de Timor tem-se constatado ‘Híbrido de Timor’, que será lançada em de ‘Híbrido de Timor’ possuem potencial
ampla variabilidade para a qualidade de breve pela EPAMIG) atingiram, em pelo para qualidade de xícara, em consequência
bebida, apresentando genótipos de baixos menos uma amostra, escores superiores a de recombinação genética e processos de
a elevadíssimos escores para essa carac- 90 pontos, indicando seu potencial para seleção.
terística. cafés excepcionais de qualidade de xícara.
Dessa forma, é de especial relevância Em análises sensoriais da bebida, a TRABALHOS CONDUZIDOS
destacar o mérito do trabalho de melho- cultivar Araponga MG1 foi descrita por EM OUTROS PAÍSES
ramento e a elevada qualidade de bebida um dos provadores como possuidora das A seleção para novas cultivares de
das novas cultivares resistentes à ferrugem seguintes características: “Sabor cítrico, C. arabica com qualidade de bebida tem
(Hemileia vastatrix), desenvolvidas no com nuances exóticas florais, acidez muito recebido muita atenção em Programas de
IAC (THOMAZIELLO; FAZUOLI, 2003; viva e agradável, complexo. Café excelente Melhoramento Genético não só no Brasil,
AGUIAR, 2001), na Fundação Procafé de grande aroma, bom quando quente, mas em outros países, como no Quênia,
(COSTA et al, 2009) e na EPAMIG (PE- morno e frio”. E pelo segundo provador Tanzânia e Colômbia em particular, que
REIRA et al., 2008). como: “Alta acidez, alto gosto remanescen- objetivam aliar produtividade, resistência
O Quadro 2 apresenta os resultados te, doçura intermediária e sabor cítrico”. a doenças, sem perder posição no mercado
de análise sensorial de dez genótipos de Já a cultivar Catiguá MG2 foi descrita, de cafés especiais (VOSSEN, 2009).
café Arábica, provenientes do Programa pelo primeiro avaliador, com os seguintes
de Melhoramento Genético da EPAMIG, atributos relativos à qualidade da bebida: Quênia
com base em critérios adotados para ava- “acidez muito viva, agradável, gosto rema- A qualidade de bebida, a resistência à
liação de cafés especiais. Todas as amostras nescente muito bom, muito doce, exótico ferrugem e à antracnose da cultivar Ruiru
apresentaram qualidade de xícara muito floral, muito cítrico, sendo considerado um 11 têm sido estudadas desde seu lança-
boa, com atributos diferenciados especiais. café maravilhoso, complexo e fantástico”. mento, em 1986, no Quênia, pela Coffee
As notas mais altas foram atribuídas às Pelo segundo provador, como: “Muito cí- Research Foundation. O vigor híbrido
é refletido em produtividade mais alta,
QUADRO 2 - Análise sensorial de oito cultivares e duas progênies de C. arabica, com base enquanto tamanho de grão e qualidade de
em critérios de cafés especiais - média de dois provadores - 2007 bebida comparam bem com SL28 (KA-
São Sebastião RANJA, 1993 apud VOSSEN, 2009).
Três Pontas Patrocínio Média
Cultivar do Paraíso
A B A B A B A B
Tanzânia

Paraíso MG H419-1 82,5 86,5 - 80,5 - - 82,5 83,5 O Tanzanian Coffee Research Insti-
tute tem liberado, desde 2004, cultivares
Catiguá MG1 - - - 94,0 86,0 94,0 86,0
híbridas clonais com resistência à fer-
Catiguá MG2 - - - - 88,5 94,5 88,5 94,5
rugem (Hemileia vastatrix) e à antrac-
Araponga MG1 77,0 80,5 - 91,5 - - 77,0 86,0 nose (Colletotrichum kahawae). Além de
Sacramento MG1 79,0 79,0 - - 91,0 88,5 85,0 83,7 exibir vigor híbrido para produtividade, a
Pau-Brasil MG1 85,5 83,5 - 82,5 - - 85,5 83,0 maioria destas novas cultivares possuem
boa qualidade de bebida, como avaliado
Catuaí Vermelho IAC99 85,0 86,0 - 77,0 - - 85,0 81,5
por provadores profissionais da Tanzania
Catiguá MG3 - - - 80,5 - - - 80,5
Coffee Board e do setor privado de café,
H514-7-10-9-3-1 - - - 83,5 - - - 83,5 comparável às melhores cultivares tradi-
H419-6-2-5-3 - - - - 93,0 87,5 93,0 87,5 cionais como ‘N39’ e ‘KP423’ (TaCRI,
FONTE: Pereira et al. (2008). 2005; TERI et al., 2004 apud VOSSEN,
NOTA: A - Café despolpado sem mucilagem; B - Café despolpado com mucilagem. 2009).
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 2 , n . 2 6 1 , p . 3 0 - 3 8 , m a r. / a b r. 2 0 11

artigo 3 IA 261.indd 36 26/5/2011 13:20:28


Produção de café: opção pela qualidade 37

Colômbia desse consenso de produtora de boa be- cuário. Qualidade do café, Belo Horizonte,
bida, deve-se às condições superiores de v.18, n.187, p.27-31, 1997.
Em 1982, o Centro Nacional de
cultivo em altitude e clima frio favorável COSTA, J.C. et al. Qualidade da bebida de
Investigaciones de Café (Cenicafé) liberou
ao desenvolvimento do bom aroma, corpo genótipos de café com resistência à ferru-
a cultivar Colômbia, que foi selecionada
e sabor da bebida do café. É fato que a gem-do-cafeeiro. In: SIMPÓSIO BRASILEI-
dentro de progênies de Catimor para resis-
diversidade climática proporciona varia- RO DE PESQUISA DOS CAFÉS DO BRASIL,
tência à ferrugem, produtividade, tamanho
ções na qualidade e, por isso, estudos em 6., 2009, Vitória. Anais... Inovação científi-
de grãos e qualidade, possuindo qualidade
diferentes regiões representam a garantia ca, competitividade e mudanças climáticas.
de bebida semelhante ao Típica tradicional, Brasília: Embrapa Café, 2009. CD-ROM.
de seleção e identificação de alterações na
Bourbon e variedades de Caturra (MORE-
qualidade de diferentes cultivares comer- FAZUOLI, L.C. et al. Cultivares de café Ará-
NO; MORENO; CADENA, 1995). Com
ciais e/ou progênies elites em fase final de bica de porte alto. In: CARVALHO, C.H.S.
o avanço da seleção foi lançada a cultivar
melhoramento. de. Cultivares de café: origem, caracterís-
Castillo, caracterizada por apresentar re-
Dessa forma, os órgãos de pesquisas e ticas e recomendações. Brasília: Embrapa
sistência durável à ferrugem e qualidade Café, 2008, v.1, p.225-252.
as universidades, e não só do Brasil, mas
de bebida (ALVAREDO et al., 2008 apud
também da maioria dos países que ocupam FERREIRA, A.D. Seleção de genótipos de
VOSSEN, 2009).
posição no mercado de cafés especiais, cafeeiros Bourbon para a produção de ca-
têm desenvolvido trabalhos na área de fés especiais. 2010. 95p. Tese (Doutorado
CONSIDERAÇÕES FINAIS
melhoramento, buscando novas cultiva- em Fitotecnia) – Universidade Federal de
A qualidade da bebida na cafeicultura, res que combinem boas características Lavras, Lavras, 2010.
atualmente, é um dos mais importantes agronômicas e evidenciam qualidade de KRUG, C.A.; CARVALHO, A.; ANTUNES FI-
instrumentos que as empresas rurais e bebida, quando produzidas em condições LHO, H. Genética de Coffea – XXI: heredita-
organizações dispõem para ingressar no ambientais favoráveis. riedade das características de Coffea arábica
mercado que desponta. Os cafeicultores L. var. laurina (Smeathman) DC. Bragantia,
estão cada vez mais conscientes de que REFERÊNCIAS Campinas, v.13, p.247-255, 1954.
suas propriedades cafeeiras devem ser AGUIAR, A.T. da E. et al. Análise sensorial KY, C.L. et al. Trigonelline inheritance in the
consideradas como empresas, abrangendo da bebida das cultivares Ouro Verde, Tupi e interspecific Coffea pseudozanguebariae x
dinamismo, desenvolvimento, desafios e Obatã. In: SIMPÓSIO BRASILEIRO DE PES- C. liberica var. dewevrei cross. Theoretical
expansão, procurando redução de custos QUISA DOS CAFÉS DO BRASIL, 2., 2001, and Applied Genetics, v.102, n.4, p.630-
e perdas, adequação e implantação de Vitória. Anais... Brasília: Embrapa Café, 634, Mar. 2001.
tecnologias que reflitam em qualidade no 2001. p.1242-1247. 1 CD-ROM.
LEROY, T. et al. Genetics of coffee quality.
produto final. CHAGAS, S.J. de R.; CARVALHO, V.D. de; Brazilian Journal of Plant Physiology, Lon-
Em consequência desta demanda, o in- COSTA, L. Caracterização química e quali- drina, v.18, n.1, p.229-242, Jan./Mar. 2006.
teresse por plantio de cultivares com poten- tativa de cafés de alguns municípios de três
MALTA, M.R.; CHAGAS, S.J. de R. Caracter-
cial para produção de cafés especiais tem regiões produtoras de Minas Gerais. Pesqui-
ização de compostos não-voláteis em dife-
aumentado significativamente nos últimos sa Agropecuária Brasileira, Brasília, v.31,
rentes cultivares de cafeeiro. In: SIMPÓSIO
anos. A grande variação entre as cultivares n.8, p.555-561, ago. 1996.
BRASILEIRO DE PESQUISA DOS CAFÉS
comerciais e a crescente demanda para _______; MALTA, M.R.; PEREIRA, R.G.F.A. DO BRASIL, 6., 2009, Vitória. Anais... Ino-
plantio reforçam a necessidade imediata Potencial da região Sul de Minas Gerais vação científica, competitividade e mu-
de estudos genéticos e bioquímicos nesses para a produção de cafés especiais – I: ati- danças climáticas. Brasília: Embrapa Café,
materiais, visando à seleção de materiais vidade da polifenoloxidase, condutividade 2009. CD-ROM.
genéticos com potencial para produção de elétrica e lixiviação de potássio. Ciência e
MEDINA FILHO, H.P.; BORDIGNON, R. Me-
cafés especiais e com características agro- Agrotecnologia, Lavras, v.29, n.3, p.590-
lhoramento do cafeeiro visando a qualida-
nômicas compatíveis com a realidade atual 597, maio/jun. 2005.
de – parte 2. [S.l.]: CafePoint, [2010]. Dis-
da cafeicultura brasileira, para atender a CHARRIER, A; BERTHAUD, J. Variation de ponível em: <http://www.cafepoint.com.
esse mercado emergente. la teneur en cafféine dans le genre Coffea. br/melhoramento-do-cafeeiro-visando-a-
As cultivares do grupo Bourbon sele- Café Cacao Thé, Paris, v.11, n.4, p.251-264, qualidade-parte-2_noticia_65272_32_90_.
cionadas têm renomada preferência nos oct./déc. 1975. aspx>. Acesso em: 7 nov. 2010.
mercados de cafés especiais. Como são CORTEZ, J.G. Aptidão climática para qua- MONTAGNON, C. et al. Genetic param-
cultivares precoces e as mais apropriadas lidade da bebida nas principais regiões ca- eters of several biochemical compounds
às regiões limítrofes de alta altitude, parte feeiras de Minas Gerais. Informe Agrope- from green coffee, Coffea canephora. Plant

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 2 , n . 2 6 1 , p . 3 0 - 3 8 , m a r. / a b r. 2 0 11

artigo 3 IA 261.indd 37 26/5/2011 13:20:28


38 Produção de café: opção pela qualidade

Breeding, v.117, n.6, p.576-578, Dec. 1998. PEREIRA, A.A. et al. Cup quality of new José, Costa Rica: [s.n.], 2000. p.493-499.
cultivars derived from Híbrido de Timor.
MORENO, G.; MORENO, E.; CADENA, G. SOUZA, A.C.G. de. Teores de óleo, sólidos
In: INTERNATIONAL CONFERENCE ON
Bean characteristics and cup quality of the solúveis, cafeína e qualidade da bebida de
COFFEE SCIENCE, 22., 2008, Campinas.
Colombia variety (Coffea arabica) as judged café de progênies resistentes a Hemileia
Programme abstracts... Montpellier: Asso-
by international tasting panels. In: INTER- vastatrix. 1980. 94p. Dissertação (Mestrado
ciation for Science and Information on Cof-
NATIONAL SCIENTIFIC COFFEE CON- em Ciência e Tecnologia de Alimentos) –
fee, 2008. p.143.
FERENCE, 16., 1995, Kyoto. Proceedings…. Universidade Federal de Viçosa, Viçosa,
Paris: ASIC, 1995. p.574-578. PEREIRA, M.C. Características químicas, MG, 1980.
físico-químicas e sensorial de genótipos
MOSCHETTO, D. et al. Studies on the ef- de grãos de café (Coffea arabica L.). 2008. THOMAZIELLO, R.A.; FAZUOLI, L.C. Con-
fect of genotype on cup quality of Coffea 101p. Tese (Doutorado em Ciência dos Ali- cursos destacam qualidade das cultivares
canephora. Tropical Science, v.36, p.18-31, mentos) − Universidade Federal de Lavras, do IAC. Folha Rural, Guaxupé, p.13, jan.
1996. Lavras, 2008. 2003.

OLIVEIRA, J.C. et al. Efeitos da origem, tipo SOLARES, P.F. Influencia de la variedade y VOSSEN, H.A.M. van der. The cup quality
de despolpamento e armazenamento do la altitude en las características organolép- of disease-resistant cultivars of arabica cof-
café na atividade da polifenoloxidase e qua- ticas y físicas del café. In: SIMPOSIO LATI- fee (Coffea arabica L.). Experimental Agri-
lidade da bebida. Científica, Jaboticabal, NOAMERICANO DE CAFEICULTURA, 19., culture, Cambridge, v.45, n.3, p.323-332,
v.7, n.1, p.79-84, 1979. 2000, San José, Costa Rica. Resumos… San July 2009.

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 2 , n . 2 6 1 , p . 3 0 - 3 8 , m a r. / a b r. 2 0 11

artigo 3 IA 261.indd 38 26/5/2011 13:20:30


Produção de café: opção pela qualidade 39

Nutrição do cafeeiro e sua relação com a qualidade do café


Paulo Tácito Gontijo Guimarães 1
Francisco Dias Nogueira 2
Marcelo Ribeiro Malta 3
Kaio Gonçalves de Lima Dias 4
Thiago Henrique Pereira Reis 5

Resumo - A produção de café com base na comercialização de matéria-prima de baixa


qualidade não é a melhor alternativa para os produtores se manterem num mercado al-
tamente competitivo, onde a qualidade é essencial para alcançar melhores preços e con-
quistar novos mercados. No Brasil, o café é um dos poucos produtos agrícolas que têm
o preço com base em parâmetros qualitativos, ou seja, o valor do produto oscila signifi-
cativamente de acordo com a qualidade, e os maiores retornos econômicos são advindos
da venda de um produto de melhor qualidade. A crescente demanda de nutrientes pelas
cultivares de café, cada vez mais produtivas, assim como a expansão das lavouras para
solos de baixa fertilidade vem exigindo melhor compreensão da dinâmica desses nu-
trientes na cultura do cafeeiro, o que evita problemas de deficiência nutricional, os quais
prejudicam a eficiência dos programas de adubação. No caso da produção do cafeeiro,
sua alta capacidade de resposta às adubações e a outros tratamentos pode induzir efeitos
benéficos ou maléficos sobre os compostos químicos responsáveis pela qualidade da
bebida, o que depende de avaliação química e sensorial. O nutriente, dependendo de
sua natureza, pode desempenhar diversas funções no metabolismo da planta, determi-
nando ou influenciando os diversos processos vitais. Embora a adubação influencie na
qualidade da bebida, são raros os trabalhos que a relacionam com a composição química
do solo, os tratos culturais, a composição da folha e dos frutos.

Palavras-chave: Nutriente. Estado nutricional. Adubação. Macronutriente. Micronutriente.

INTRODUÇÃO o mercado globalizado. Com produções Malavolta (2000) define como qua-
mundiais de café acima da demanda, lidade, o conjunto de características
No Brasil, a quantidade de café pro-
duzido prevalece para satisfazer economi- ganha o produto que se diferenciar dos organolépticas do grão ou da bebida que
camente todos os componentes da cadeia demais. Sendo assim, os produtores estão dá valor comercial ao café. Nesse caso,
produtiva. Entretanto, as exigências do descobrindo as vantagens de agregar valor tanto a qualidade quanto a quantidade
consumidor mudaram, e, cada vez mais, ao café, num mercado segmentado pela são compatíveis, diferindo de outros
é preciso diferenciar o produto em quali- qualidade do produto, com melhor sabor frutos como a laranja. Assim, é possí-
dade principalmente, para concorrer com e que ofereça bebida superior. vel ter alta produtividade sem prejuízo

1
Engo Agro, Dr., Pesq. EPAMIG Sul de Minas-EcoCentro/Bolsista FAPEMIG, Caixa Postal 176, CEP 37200-000 Lavras-MG. Correio eletrônico:
paulotgg@epamig.ufla.br
2
Engo Agro, Dr., Bolsista Consórcio Pesquisa Café/EPAMIG Sul de Minas, Caixa Postal 176, CEP 37200-000 Lavras-MG. Correio eletrônico:
fdnogueira@ufla.br
Engo Agro, Dr., Pesq. EPAMIG Sul de Minas/Bolsista FAPEMIG, Caixa Postal 176, CEP 37200-000 Lavras-MG. Correio eletrônico:
3

marcelomalta@epamig.ufla.br
Engo Agro, Bolsista Consórcio Pesquisa Café/EPAMIG Sul de Minas, Caixa Postal 176, CEP 37200-000 Lavras-MG. Correio eletrônico:
4

kaiogld@hotmail.com
5
Engo Agro, Doutorando UFLA - Depto. Ciência do Solo/Bolsista CNPq, Caixa Postal 3037, CEP 37200-000 Lavras-MG. Correio eletrônico:
thiagohpreis@yahoo.com.br

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 2 , n . 2 6 1 , p . 3 9 - 5 1 , m a r. / a b r. 2 0 11

IA261.indb 39 25/5/2011 10:19:32


40 Produção de café: opção pela qualidade

da qualidade, variáveis que caminham o vigor e o rendimento da planta, assim delas podem agregar valor nutracêutico
juntas. como sua cor e seu conteúdo proteico. O ao grão e à bebida preparada (presença de
Sabe-se ainda que a composição quí- N faz parte da molécula de cafeína, que é serotonina, trigonelina → ácido nicotínico).
mica do grão e a qualidade do café depen- um alcaloide que contém princípio estimu- Quando presentes nos grãos em níveis
dem do estado nutricional da planta, do lante do sistema nervoso. A participação elevados, podem afetar negativamente o ar-
sistema de produção e manejo da lavoura, porcentual do N na massa molecular da mazenamento e a germinação das sementes,
da cultivar utilizada, do processamento cafeína é muito significativa (45,3%) e isto mas desaparecem quase totalmente na torra.
pós-colheita, além dos cuidados exigidos explica um dos motivos do maior consumo Efeitos negativos da adubação nitroge-
nas fases de colheita e preparo da bebida de fertilizante nitrogenado no cultivo do nada, na qualidade da bebida do café (Grá-
(CARVALHO et al., 1994). cafeeiro, o que faz induzir os produtores à fico 1), foram obtidos por Amorim et al.
O alto consumo mundial do produto procura de fontes de N que proporcionem, (1973). Observou-se aumento do teor de N
tem estimulado o desenvolvimento de estu- além da produtividade, a qualidade. no grão e na polpa (AMORIM et al., 1965).
dos relacionados com a atividade biológica A cafeína, constituinte do café, é O maior teor de N no grão pode fazer
do grão e de constituintes do café verde e, bastante conhecida por suas propriedades com que as paredes das células tornem-se
especialmente, do café torrado utilizado fisiológicas e farmacológicas. É um alca- finas e acumulem poucos polissacarídeos.
para preparar diferentes tipos de bebidas. loide farmacologicamente ativo, altamente Estes serão decompostos, posteriormente,
resistente ao calor, inodoro e apresenta quando se dá a formação de açúcares, que
RELAÇÃO DOS NUTRIENTES sabor amargo bastante característico, o contribuem para o sabor e aroma do café.
COM A QUALIDADE DO CAFÉ
que contribui para o sabor e o aroma do Os melhores cafés possuem maiores teores
A presença ou ausência dos nutrientes café. Seu consumo em baixas a moderadas de açúcares (CHAGAS; CARVALHO;
tem uma diversidade de efeitos sobre os doses pode resultar em efeito estimulante COSTA, 1996). O sabor doce desejável em
processos bioquímicos que determinam do sistema nervoso central, com possível cafés Gourmet tem como base a presença
a qualidade dos produtos. Sua aplicação diminuição do sono e aumento da capaci- de açúcares dos grãos após a torração. Os
equilibrada em tempo hábil é importante dade de concentração. açúcares com os aminoácidos são respon-
para determinar tanto a qualidade como o Após absorvido, o N possui muitas rotas sáveis pela cor caramelo no café torrado,
rendimento do produto. A questão principal metabólicas alternativas para a formação de que é obtida pelas reações de Maillard.
é discernir até que ponto uma adubação do outros compostos influentes na qualidade Por outro lado, o N poderá exercer
cafeeiro, orgânica ou mineral, poderia afe- do grão e da bebida, como compostos orgâ- influência indireta, pois, quando em ex-
tar positiva ou negativamente a qualidade nicos designados por aminas (primária, se- cesso, principalmente na forma amoniacal,
dos grãos e da bebida café. cundária, terciária e quaternária). Algumas causa tecidos delgados com membranas

MACRONUTRIENTES

3,5 21
Nitrogênio
Grão
O suprimento de nitrogênio (N) pelo 3,4 Bebida
solo depende da mineralização de sua maté-
Qualidade da bebida (nota)

ria orgânica (MO), sendo a taxa controlada 3,3 20


por fatores, como teor de umidade, tempe-
N (g/kg)

ratura, pH do solo, quantidade e natureza 3,2


dessa MO, em particular de sua relação
C/N. O N relaciona-se com a produção, 3,1 19
porque aumenta a área foliar e o número de
gemas floríferas, sendo um nutriente exi- 3,0
gido em grandes quantidades pelo cafeeiro
juntamente com o potássio (K) e é bastante 2,9 18
exportado pelos grãos. 0 160 320

Na maioria das regiões cafeeiras, o Doses de N (kg/ha)

N, com frequência, é um dos nutrientes Gráfico 1 - Relação entre doses de N com qualidade da bebida pela prova de xícara e
mais exigidos na produção. O suprimento teor de N nos grãos de café
adequado de N determina o crescimento, FONTE: Dados básicos: Amorim et al. (1973).

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 2 , n . 2 6 1 , p . 3 9 - 5 1 , m a r. / a b r. 2 0 11

IA261.indb 40 25/5/2011 10:19:32


Produção de café: opção pela qualidade 41

celulósicas muito finas. A polpa do fruto Baixo conteúdo de proteínas e alto lidade da bebida do café e no teor de P nos
de café com uma cutícula delgada tornaria teor de carboidratos favorecem o maior grãos em função da adubação fosfatada.
mais fácil a penetração de microrganismos, tamanho dos grãos e o maior porcentual Esses autores afirmaram que tais resultados
por meio dos minúsculos orifícios pro- de germinação de sementes. Sabe-se que devem ser tratados com reserva, uma vez
venientes de picadas de insetos, os quais as lavouras supridas adequadamente com P que os teores de P nos grãos não se correla-
alterariam o sabor e o aroma do café, pela e K produzem grãos de melhor qualidade, cionaram com os valores correspondentes
maior atividade da polifenoloxidase (PFO) enquanto doses excessivas de N reduzem à bebida, mas sim com o teor de P no solo,
(CHALFOUN, 1996). Quaisquer condições a qualidade, pelo aumento de compostos a 5% de significância (r2 = 0,807).
adversas aos frutos de café proporcionam nitrogenados sob diversas formas, poden-
a ativação das PFOs que oxidariam os do ser benéficas, enquanto outras não são Potássio
compostos fenólicos, diminuindo sua ação desejáveis (MENGEL; KIRKBY, 1987). Ao contrário de outros nutrientes, o po-
antioxidante sobre os aldeídos, sendo estes, tássio (K) não forma compostos estruturais
posteriormente, inibidos competitivamente Fósforo
na planta, mas permanece livre para regu-
pelas quinonas formadas que alteram o O fósforo (P) é um nutriente pouco lar processos essenciais e interagir com
gosto e o aroma do café. exigido pelo cafeeiro, sendo também muito quase todos os nutrientes. É importante
A fonte e a época de aplicação do N pouco exportado em relação aos outros para ativação enzimática; uso eficiente da
têm importante influência na produção e macronutrientes. O alto poder de fixação água; fotossíntese; transporte de açúcares,
na qualidade do produto. Pela avaliação do P nos solos de baixa fertilidade, alta- água e movimento de nutrientes; síntese de
sensorial (prova de xícara), verificou-se mente intemperizados da região tropical, proteínas; formação de amido e qualidade
que a adubação de cafeeiros com fontes faz com que sejam encontrados, no campo, da bebida do café.
como nitrocálcio e nitrato de amônio pro- sintomas de deficiência desse nutriente. É exigido e exportado em grande quan-
porcionou bebidas de menor qualidade, O P desempenha função-chave na tidade pelo cafeeiro. Sua relação direta com
sendo classificadas como dura. As demais fotossíntese, no metabolismo de açúcares, a produção explica-se, principalmente,
fontes de N utilizadas proporcionaram be- no armazenamento e na transferência de pela sua função na síntese de carboidratos
bida apenas mole (MALTA; NOGUEIRA, energia, na divisão celular, no alargamento nas folhas e seu transporte para os frutos
GUIMARÃES, 2003). das células e na transferência da informa- e outros órgãos. O K tem sido considerado
Quanto à dosagem, as fontes de N ção genética. Promove a formação inicial, o elemento da qualidade em nutrição de
apresentaram comportamentos diferencia- o desenvolvimento da raiz e o crescimento plantas. Apesar dessa reputação qualitativa
dos, sendo que, de maneira geral, a maior inicial da planta; acelera a cobertura do e de aumentar a produção agrícola, normal-
dose de N utilizada (320 kg/ha) provocou solo para a proteção contra a erosão; afeta mente ignora-se a extensão dos benefícios
redução na qualidade da bebida do café a qualidade dos frutos e é vital para a for- da adubação potássica.
(POZZA et al., 2003). Observou-se maior mação dos grãos. O K tem muita mobilidade no tecido
porcentagem de frutos verdes, quando se São raros os trabalhos que relacionam vegetal e, embora não participe das mo-
usou o nitrato de potássio e, maior porcen- a adubação fosfatada com a qualidade do léculas orgânicas, é muito importante na
tagem de frutos passa, quando se usou ni- produto. O P, além da função de armazena- ativação de, aproximadamente, 60 enzimas
trocálcio, sulfato de amônio, ureia e nitrato mento e fornecimento de energia na forma atuantes no metabolismo e/ou catabolismo
de amônio, independentemente das doses de trifosfato de adenosina (ATP), teria das plantas. Tem sido atribuído ao cafe-
de N, indicando o efeito da fonte na anteci- participação estrutural dos fosfolipídeos na eiro um consumo de luxo em K, ou seja,
pação (nitrocálcio, sulfato de amônia, ureia formação da membrana celular, a qual lhe a quantidade maior de K absorvida nem
e nitrato de amônio) e atraso da colheita confere a natureza lipídica (MALAVOLTA, sempre corresponde a um aumento linear
(nitrato de potássio). As plantas tornaram- 1980). A boa disponibilidade de P no solo na produtividade.
se mais vigorosas com o aumento das doses proporcionaria formação de membranas O teor de K dos grãos crus em experi-
de N de até 202,5 kg/ha, havendo redução nos frutos de café. Portanto, frutos com mentos realizados em campo apresentou
da seca de ponteiros até 223,53 kg/ha de membranas bem formadas conferem resis- correlação negativa significativa com os
N. Observou-se uma redução no tamanho tência ao ataque de insetos, que ocasionam critérios de qualidade de bebida, como
dos grãos com o aumento das doses de injúrias e facilitam a infecção microbiana bebida limpa, doçura e sabor (SILVA,
N até 230 kg/ha. O tamanho das plantas e, por fim, provocam a deterioração da 1999). Entretanto, vale ressaltar que a
aumentou com a elevação das doses de N qualidade da bebida do café. correlação foi negativa e esses resultados
em até 176,22 kg/ha, reduzindo a partir Pelos dados de Amorim et al. (1965), são contrários ao esperado. Segundo esse
dessa dose, independentemente da fonte. observou-se uma ligeira melhoria na qua- autor, a possível explicação para essa cor-
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 2 , n . 2 6 1 , p . 3 9 - 5 1 , m a r. / a b r. 2 0 11

IA261.indb 41 25/5/2011 10:19:32


42 Produção de café: opção pela qualidade

relação refere-se à fonte de K, utilizada


na adubação do cafeeiro. Foi encontrada 14
uma redução no teor de açúcares totais
12
com o aumento nas doses de K, na forma

)
0,5
10
de KCl, sendo que o inverso ocorreu com

PFO (arc sen T


a fonte K2SO4, a qual promoveu melhor 8
qualidade da bebida do café. Malta et al. 6
(2002) também concluíram que cafeeiros 4
adubados com fontes de K, isentas de
2
cloreto, proporcionaram cafés de melhor
qualidade. Um possível efeito indireto na 0
Controle KCl K2SO4 KCl + NPMg K2SO4+ NPMg
adubação do cafeeiro na forma de KCl
sobre a qualidade da bebida do café refere- Tratamento
se ao fato de que as plantas que recebem Gráfico 2 - Efeito da adubação do cafeeiro com fontes distintas de potássio na atividade
elevadas quantidades de cloreto aumentam enzimática da polifenoloxidase (PFO) dos grãos de café beneficiados
seu conteúdo de água (GOUNY, 1973). FONTE: Dados básicos: Arcila-Pulgarin e Valência-Aristizábal (1975).
A severa deficiência de K nos tecidos
vegetais leva à síntese de aminas tóxicas, baixa acidez titulável total (ATT) em cafés do Paraíso (Latossolo Vermelho distrofér-
tais como, a putrescina e agmatina. A pu- adubados com K2SO4, confirmando que rico) e Patrocínio (Latossolo Vermelho-
trescina desaparece quase por completo esta fonte proporciona uma melhor quali- Amarelo), houve efeito positivo quadrático
durante a torra (CIRILO, 2001). Fontes dade do café. Encontraram menor teor de de doses e fontes (KCl, K2SO4 e KNO3).
de K diversas, assim como a variação açúcar não redutor com aumento das doses O Gráfico 4 mostra redução da qualida-
nos seus teores, têm muita influência na de K como KCl e o inverso, quando se de da bebida (prova de xícara) em função
variação da concentração de putrescina utilizou o K2SO4, observando-se a mesma do aumento do teor de K nos grãos. Cons-
nos tecidos vegetais. Ao utilizar grãos de tendência para os açúcares totais (AT). tatou-se que este teor não se correlacionou
café beneficiados coletados em lavouras Encontraram, ainda, correlação negativa positivamente com a qualidade da bebida.
sob efeito de KCl e K2SO4 nas doses 0, entre o teor foliar de cloro e a atividade Por outro lado, na ativação de enzimas,
100, 200 e 400 kg/ha de K, Cirilo (2001) da PFO com a aplicação de KCl. A causa influentes na qualidade da bebida, não seria
fez uma avaliação de aminas em grãos de dessa correlação negativa está numa ação bem a quantidade de potássio tão relevante,
café cru e torrado, observando que a dose do cloreto proporcionando inibição sobre o mas sim a sua fonte e a sua presença em
de 200 kg/ha de KCl seria ideal para evitar íon cobre, o qual é componente e ativador concentrações ainda não estudadas. A fonte
o acúmulo de putrescina nos grãos de café. dessa enzima (FOX, 1991). Portanto, a de K utilizada foi o cloreto de potássio, e
Dentro desta linha de pesquisa, ação negativa da adubação potássica com foi sugerido um possível efeito negativo
Arcila-Pulgarin e Valência-Aristizábal KCl está relacionada com a aplicação em do Cl na bebida (AMORIM et al., 1973).
(1975) estudaram o efeito da adubação igual proporção do íon Cl e K. Dados obtidos por Silva, Nogueira e
potássica sobre a atividade da PFO e não Os grãos de café que apresentam maior Guimarães (2002), em condições edafocli-
encontraram diferenças entre os seguintes atividade da PFO, ou seja, melhor qualida- máticas distintas, revelaram que a atividade
tratamentos: controle, KCl, K2SO4, (KCl de de bebida, também apresentam maior IC, da PFO, em Patrocínio, MG, foi mais
+ N + P + Mg) e (K2SO4 + N + P + Mg). A conforme se verifica na correlação entre es- elevada em relação aos resultados obtidos
fertilização potássica aumentou os teores de sas duas variáveis (Gráfico 3). Geralmente, em São Sebastião do Paraíso, MG, quando
K nos grãos, sem correlacionar com a ativi- cafés de melhor qualidade possuem maior se comparam os valores de atividade nos
dade da enzima, porém foi observada uma IC e menor ATT (CARVALHO et al., 1994). tratamentos que não receberam adubação
maior atividade da enzima PFO, quando se O efeito de fontes e doses de K2O em potássica (0 kg de K/ha) em ambos os
aplicou o sulfato de potássio (Gráfico 2). duas condições edafoclimáticas sobre pa- locais. Comparando a classificação pro-
Silva et al. (1999) estudaram o efeito de râmetros bioquímicos e químicos, ou seja, posta por Carvalho et al. (1994), Silva,
fontes e doses de K na composição físico- sobre a atividade enzimática da PFO, IC, Nogueira e Guimarães (2002) verificaram
química dos grãos de café beneficiados ATT, AT e ácido clorogênico total dos grãos que a classificação dos grãos colocou-se
da região do Sul de Minas. Esses autores de café beneficiados foram estudados por na faixa não aceitável (riada e rio), em São
observaram maior atividade da PFO, índice Silva (1999). Para todas as fontes de K e Sebastião do Paraíso, nas três fontes de
de coloração (IC) e açúcares redutores, em ambos os locais, ou seja, São Sebastião K, ao contrário do ocorrido em Patrocínio
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 2 , n . 2 6 1 , p . 3 9 - 5 1 , m a r. / a b r. 2 0 11

IA261.indb 42 25/5/2011 10:19:32


Produção de café: opção pela qualidade 43

75 75
PFO (U/min/g de amostra) 70 70

PFO (U/min/g de amostra)


65 65 Y = 334,72 + 1,6389x
X = 0,83**
60 60

55 55
Y = 0,062 + 0,0113x
50 X = 0,98** 50

45 45

40 40
35 35
0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1,0 200 220 240 260 280 300
IC (DO 420nm) ATT (mLNaOH 0,1 N/100 g de amostra)

Gráfico 3 - Correlação entre atividade enzimática da polifenoloxidase (PFO) com índice de coloração (IC) e acidez titulável total (ATT)
FONTE: Dados básicos: Carvalho et al. (1994).

3,30 15,6
Cálcio
O cálcio (Ca) é um macronutriente
Qualidade da bebida (nota)

Bebida
Grão
15,4 muito exigido pelo cafeeiro, sendo o
3,25
K (g/kg) terceiro em exigência, após o N e K. Sua
15,2 contribuição para crescimento e aumento
3,20 da produtividade do cafeeiro é importante.
15,0 As seguintes práticas de manejo podem
3,15
ajudar a melhorar a nutrição das plantas,
14,8 com a garantia de que o Ca não se torne
um fator limitante para a produção e a
3,10 14,6 qualidade do café:
0 133 266
Doses de K (kg/ha) a) analisar o solo todos os anos;
Gráfico 4 - Relação entre doses de K com qualidade da bebida (prova de xícara) e teor b) correção da acidez: o Ca do calcário
de K nos grãos de café satisfaz as exigências nutricionais
FONTE: Dados básicos: Amorim et al. (1973). do cafeeiro;
c) estabelecer um programa de adubação
e nutrição bem balanceado: Ca, Mg
onde os cafés representados pela testemu- elevadas quantidades de cloreto tornam-
e K competem pelo mesmo sítio de
nha classificaram-se como aceitável (dura). se mais higroscópicos (GOUNY, 1973) e
absorção nas raízes, desta maneira, o
Observou-se que a atividade enzimática da passíveis de sofrer com a proliferação de
desequilíbrio entre estes faz com que
PFO, classificou a bebida do café, confor- microrganismos. A maior infestação de mi-
outro seja absorvido em excesso;
me a proposta de Carvalho et al. (1994), crorganismos favorece a fermentação, que
d) o Ca aumenta a resistência das
como bebida mole, em São Sebastião do produz álcool, que é desdobrado em ácido
plantas a doenças: deve-se inserir
Paraíso, ao se usar o K2SO4 e KNO3, e, em acético, láctico, propiônico e butírico, os
o Ca em outras práticas de manejo
Patrocínio, como estritamente mole e mole, quais acarretam acentuados prejuízos à
para minimizar o estresse da planta
respectivamente. Para o KCl, a classifica- qualidade (CHALFOUN, 1996), em adição
e aumentar a resistência a doenças;
ção foi de bebida dura, em São Sebastião às condições climáticas do local de cultivo.
e) construir a fertilidade do solo: solos
do Paraíso, e bebida mole, em Patrocínio, Em resumo, Silva, Nogueira e Guima-
férteis nem sempre são produtivos,
que representa uma região cafeeira mais rães (2002) encontraram que a qualidade
pode faltar água, por exemplo, mas os
nova, gerando expectativa de um menor dos grãos de café foi melhor com a dose de
solos produtivos são sempre férteis.
efeito residual da aplicação do KCl no 222 kg/ha de K2O para uma produtividade
solo. Por outro lado, em ambiente mais máxima de 46,4 sacas/hectare, para nível de Pelo fato de o transporte do Ca no
úmido, os frutos das plantas que recebem K (Mehlich 1) no solo entre 60 e 70 mg/dm3. xilema ser unidirecional, proporcionado
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 2 , n . 2 6 1 , p . 3 9 - 5 1 , m a r. / a b r. 2 0 11

IA261.indb 43 25/5/2011 10:19:32


44 Produção de café: opção pela qualidade

pela transpiração das folhas, estas ganham cente de qualidade, em que as duas últimas veis ou indesejáveis. Os compostos que
mais Ca que o fruto. Esta situação explica indicam cafés piores. Segundo esse autor, contêm S são considerados de grande
de certa maneira a resposta de redução constatou-se que o ácido clorogênico e o importância para o aroma do café torrado.
da qualidade dos grãos de café pela apli- Mg podem formar um complexo verde- Estes compostos apresentam limites de
cação de doses de K por Silva, Nogueira azulado, indicativo de boa qualidade para detecção extremamente baixos e aromas
e Guimarães (2003a), a partir da dose de o café. Ainda no Quênia, Blore (1965) bem potentes e característicos, tendendo,
200 kg/ha de K2O, associado à redução da notou que a qualidade da bebida dos cafés, assim, a dominar o aroma total do produto
absorção de Ca pela competição catiônica provenientes de solos com cobertura morta no qual estão presentes. Infelizmente, estão
(MALAVOLTA; VITTI; OLIVEIRA, de capim-elefante (Pennisetum purpureum, em baixíssimas quantidades no produto,
1997), com o K aplicado no solo. L.), era inferior e chegou à conclusão que dificultando seu estudo quantitativo e a
Uma das funções do Ca na planta é um excesso de K rompeu o equilíbrio avaliação de suas propriedades sensoriais
manter a integridade da parede celular por K:Mg. Posteriormente, foi adicionado (DART; NURSTEN, 1985). Tais compos-
meio da formação de pectato de cálcio, o sulfato de magnésio e, então, os sintomas tos foram identificados no café torrado
que proporciona maior rigidez à parede. A de deficiência de Mg desapareceram e a em quantidades mínimas e, por isso, são
competição catiônica entre Ca e K no solo qualidade melhorou. Esse autor afirmou expressas em partes por milhão (ppm ou
possibilita menor absorção de Ca pelas que a adição de Mg restaurou o equilíbrio mg/kg), em partes por bilhão (ppb ou μg/kg),
raízes do cafeeiro e menor transporte de Ca K:Mg e reduziu a absorção de K. Esta em registro de menor ou maior contribuição
para as folhas. Os frutos do cafeeiro, nesta melhoria na qualidade pela aplicação de na percepção de flavours. Contudo, a pre-
situação, têm reduzido suprimento de Ca sulfato de magnésio está associada a uma sença destes compostos voláteis não tem
para formação da parede celular, ficando relação K:Mg ótima, a qual deve variar sido associada com o manejo da cultura do
passíveis de sofrer ataque de microrganis- para as diversas cultivares. cafeeiro (C. arabica ou C. robusta).
mos, responsáveis pela redução da qualida- A redução da qualidade dos grãos Faltam pesquisas dotadas de meto-
de da bebida do café (CHALFOUN, 1996). de café pela aplicação da dose acima de dologias refinadas para avaliarem, com
200 kg/ha de K2O (SILVA; NOGUEIRA; precisão, o efeito da adubação do cafeeiro,
Magnésio GUIMARÃES, 2003a) deve-se, em parte, nas formas orgânicas e mineral, em relação
As quantidades de magnésio (Mg) exi- ao desequilíbrio na relação K:Mg no solo, aos compostos orgânicos voláteis que ca-
gidas pelo cafeeiro são menores que as de conforme Blore (1965), principalmente racterizam o flavour (odor e sabor). Estes
N, K ou Ca, mas praticamente iguais a de em baixos IC dos grãos (NORTHMORE, compostos orgânicos podem ser formados
P ou enxofre (S). O Mg é absorvido pelas 1968). sob a influência dos nutrientes absorvidos
plantas como cátion Mg2+ e desempenha pela planta, numa rota metabólica natural,
Enxofre mas frequentemente estão associados ao
várias funções, ou seja, é um componente
da clorofila, pigmento responsável pela A exigência de enxofre (S) no cafeeiro impacto dos processos da torra do café,
fotossíntese e pela coloração verde das é igual ou um pouco maior do que a de P. os quais favorecem o desdobramento
plantas. Uma vez que é móvel na planta, É exigido na formação de aminoácidos e das cadeias orgânicas mais complexas
facilmente transloca-se do tecido mais ve- de proteínas, para fotossíntese e para resis- (FLAMEN, 1989).
lho para as partes mais novas. É importante tência ao frio. O S está presente em todas Pesquisas realizadas nos municípios de
também no metabolismo dos carboidratos as proteínas, uma vez que a cisteína e a São Sebastião do Paraíso, MG e Olímpia,
(glicólise) e já foi demonstrado que a inte- metionina são aminoácidos que o contêm. SP avaliaram o efeito de três fontes e doses
gridade dos ribossomos requer Mg. Tem participação na formação de uma série de S em cafezais com idade de oito e dezes-
A importância do Mg na clorofila está de compostos e reações e a sua deficiência seis anos, respectivamente, nos dois locais.
em sua participação na atividade de en- provoca distúrbios metabólicos no vegetal. Foram aplicadas as fontes: sulfato de amô-
zimas, principalmente, fosfotases ácidas Nessas condições, ocorre diminuição na nio, sulfato duplo de potássio e magnésio e
(ATPases) as quais transformam o fósforo síntese de proteínas e açúcares, acúmulo gesso agrícola. Respostas significativas de
orgânico (Po) em fósforo inorgânico (Pi), de N-orgânico solúvel e de N-NO3 e, com aumento da produção à adição de S pelas
sendo esta a forma absorvida e assimilável isso, redução no crescimento da planta. A três fontes foram obtidas, encontrando alta
pelas plantas. MO é o principal reservatório de S no solo correlação positiva entre teor de S-SO42- no
Northmore (1968) observou em cafe- para as culturas (FAQUIN, 1994). solo e a produção de café (MALAVOLTA,
eiro, no Quênia, uma sequência de cores A participação do S em moléculas 1986a). Nesse ensaio, esse autor avaliou o
nos grãos (azul, verde, amarelo e pardo), voláteis contribui tanto para os sabores, efeito de três fontes de S nas doses (0, 20
a qual corresponde a uma ordem descres- quanto para os odores (flavours) desejá- e 40 kg/ha de S) na produção e qualidade
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 2 , n . 2 6 1 , p . 3 9 - 5 1 , m a r. / a b r. 2 0 11

IA261.indb 44 25/5/2011 10:19:32


Produção de café: opção pela qualidade 45

da bebida pela prova de xícara, porém, não Além de não enriquecer o solo com ou- cos do Cl- no cafeeiro e registraram que o
encontrou diferenças na avaliação da quali- tros macronutrientes, ausentes em sua fór- excesso de Cl na planta induz a mais altos
dade da bebida, na média de quatro safras mula, o KCl ainda induz efeitos deletérios níveis de putrescina e menores níveis de
(1981/1982 a 1984/1985) no município de no cafeeiro compreendidos por anomalias espermina. Não foi encontrada, na litera-
Olímpia, SP. fisiológicas nas plantas ou metabólicas nos tura, referência sobre o mesmo efeito do Cl
Por outro lado, Silva et al. (1999) e grãos, o que afeta a qualidade da bebida nos frutos ou nos grãos beneficiados, mas
Silva, Nogueira e Guimarães (2003a) ve- (NOGUEIRA et al., 1998). Não só no a expectativa é de que exista uma relação
rificaram melhor qualidade do café com cafeeiro, mas também em muitas plantas, importante desses efeitos na fisiologia
adubação potássica na forma de K2SO4. os distúrbios fisiológicos manifestam-se pós-colheita capaz de afetar negativamente
principalmente pelo aparecimento de a qualidade e a conservação dos grãos
MICRONUTRIENTES clorose. No caso específico do cafeeiro, armazenados.
ainda podem ocorrer seca de ramos da
Cloro planta (seca de ponteiros) e a abscisão de Ferro

O cloro (Cl) está envolvido na fotossín- folhas e frutos. Apesar da grande quantidade de ferro
tese, especificamente no desdobramento da Portanto, a concordância tácita de que (Fe) existente nos solos brasileiros, muito
molécula de água na presença de luz. Ativa a adubação potássica na forma de cloreto pouco está disponível para as culturas e,
várias enzimas e participa no transporte de possa ser mais vantajosa do que na forma sendo assim, as deficiências não são raras
cátions, tais como o K, Ca e Mg, dentro da de sulfato de potássio, sem se avaliarem o em muitas regiões. O equilíbrio entre o Fe,
planta, e ajuda a controlar a perda de água comportamento de ambas as formas no solo Cu, Mn e Zn é importante, pois competem
e o aumento da resistência à seca. e os efeitos deletérios do Cl na planta, que entre si no solo. Deve-se dar atenção espe-
O excesso de Cl prejudica a qualidade prejudicam a qualidade de muitos produtos cial ao Fe em solos com pH alto ou com
da bebida em si ou afeta indiretamente essa agrícolas, é questionável, considerando-se, alto teor de P, pois níveis excessivos de P
qualidade por provocar queda de frutos ainda, o baixo teor de S-SO42- nos solos no solo podem induzir à deficiência de Fe.
que fermentam no solo e são recolhidos. tropicais (MALAVOLTA, 1976). O Fe é um componente estrutural de
O elevado conteúdo de Cl- na folha não A tolerância ao Cl- varia entre as es- moléculas do tipo porferina (peroxidases
corresponde à necessidade da planta, po- pécies vegetais, que podem ser chamadas leghemoglobina, citocromos, hematina,
dendo ser, indiretamente, um caso ligado à clorofílicas ou halófitas. No primeiro ferricromo e cromo e outras). Sua defici-
especulação sobre consumo de luxo de K, caso, requerem mais Cl- para aumentar ência interfere na síntese da clorofila. É
quando se faz a adubação do cafeeiro com seu potencial osmótico ou manter a ati- o componente da ferrodoxina, molécula
KCl (MALAVOLTA, 1986b). vidade estomatal, mas as espécies que envolvida na transferência de elétrons na
Em plantas que recebem doses de KCl são tolerantes ao Cl têm habilidade para fotossíntese. É um metal ativador da pe-
como fonte de K, encontram-se milhares restringir a absorção do Cl- seletivamente roxidase, catalase, oxidase do citocromo,
de mg/kg de Cl na matéria seca (MS), o nos órgãos específicos. No segundo caso, aconitase, nitrogenase e outras enzimas. O
que ultrapassa excessivamente os teores muitas culturas importantes não toleram o Fe não é móvel na planta e, uma vez fixado,
dos micronutrientes no solo, não devendo Cl-, que afeta negativamente a qualidade sua deficiência causa folhas jovens cloró-
refletir, entretanto, uma necessidade nutri- de suas colheitas. Entre estas são citadas a ticas por interferir na síntese da clorofila,
cional. Normalmente, encontram-se teores soja, a cana-de-açúcar, o abacaxi, a batata, mantendo a cor verde nas nervuras. A defi-
de Cl nos tecidos das plantas entre 2 mil o fumo, o chá, o kiwi, a uva, o citrus e o ciência de Fe no cafeeiro pode proporcionar
a 20 mil mg/kg de Cl na MS, que já seria café, conforme foi relatado por Kleinhenz grãos amarelos ou descoloridos, conhecidos
um conteúdo elevado, caso o Cl fosse um (1999). como grãos margosos ou de cera, na Jamai-
macronutriente. Por outro lado, o requeri- A incidência prematura de queda de ca, e grãos âmbar, no Quênia (GEUS, 1973).
mento para o crescimento ótimo está entre frutos, crestamento, clorose e injúria da
folha no cafeeiro são associadas à toxidez Zinco
340 e 1.200 mg/kg de Cl na MS, teores
compatíveis com os micronutrientes. Con- de Cl- (FURLANI et al., 1976). Snoeck, O zinco (Zn) é essencial para muitos
siderando, em média, 1.000 mg/kg de Cl na N’Goran e Snoeck (1986), Furlani et al. sistemas enzimáticos da planta. Controla
MS vegetal como teor ótimo, o requerimento (1976) e Zehler, Kreipe e Gething (1986) a produção de importantes fitorreguladores
médio das culturas seria de 8 a 10 kg/ha de relacionam altos teores de Cl- nas folhas que afetam o novo crescimento e o desen-
Cl, demanda suprida pela atmosfera e pela com a redução do crescimento, necrose volvimento das plantas.
água da chuva, sem necessidade de fazê-la e desfolha. Kleinhenz (1999) estudaram As plantas carentes em Zn apresentam
via fertilizante (FAQUIN, 1994). também os efeitos fisiológicos e bioquími- uma grande diminuição nos teores de
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 2 , n . 2 6 1 , p . 3 9 - 5 1 , m a r. / a b r. 2 0 11

IA261.indb 45 25/5/2011 10:19:33


46 Produção de café: opção pela qualidade

RNA, que resulta em uma menor síntese integridade da membrana. Quanto à acidez, enzimáticos (AMORIM, 1970). Por outro
de proteína, comprometendo a divisão ce- vale ressaltar que na prova de xícara, al- lado, estudos para o diagnóstico dos fatores
lular (MALAVOLTA; VITTI; OLIVEIRA, gumas das amostras de frutos das plantas nutricionais recentes que limitam a produ-
1997). O Zn possui nítida importância na suplementadas com Zn receberam as deno- ção do cafeeiro Arábica, com o objetivo de
nutrição mineral do café, principalmente minações dura cítrica e dura frutada, com proporcionar um manejo mais adequado e
em relação à sua qualidade (INSTITUTO maior nota final. É o que alguns provadores reduzir os custos de exploração foram reali-
BRASILEIRO DO CAFÉ, 1985). denominam acidez positiva, caracterizada zados por vários autores como Nick (1998),
O efeito do Zn sobre a produtividade por uma acidez cítrica, típica de cafés de Costa (1999) e Reis Junior et al. (2002).
das lavouras é conhecido, mas são poucos bebida fina. Os dados da pesquisa chamam Silva, Nogueira e Guimarães (2003b)
os trabalhos que relacionam nutrição mi- a atenção para a maior concentração de obtiveram os índices DRIS do N, K, S e
neral e qualidade dos grãos de café, espe- ácidos clorogênicos nos grãos das plantas Cl e calcularam o Índice de Balanço Nu-
cialmente em relação a este micronutriente suplementadas com Zn, com uma indi- tricional (IBN) das lavouras em diferentes
(MARTINEZ et al., 2003). As plantas cação de que o micronutriente esteja de regiões (Quadro 1).
suplementadas com Zn apresentaram alguma forma implicado em sua síntese, A dose de 200 kg/ha de K2O apro-
maior porcentagem de grãos exportáveis muito embora na literatura científica só xima-se dos resultados propostos por
graúdos, retidos nas peneiras 17 e 18. A haja referências à participação de Cu, Fe, Nogueira, Silva e Guimarães (2001),
porcentagem de grãos atacados por broca, boro (B) e manganês (Mn), na síntese de tanto para atingir maior produção, como
que, embora pequena, foi significati- fenóis. O teor de ácidos clorogênicos totais melhor qualidade dos grãos procurada
vamente menor nos frutos das parcelas nos frutos das plantas suplementadas com pelo mercado de cafés finos, avaliada pela
que receberam Zn (0,65%), em relação Zn foi significativamente superior ao ob- atividade da PFO e correlacionada com a
àqueles cultivados sem fornecimento servado nos grãos daquelas não suplemen- separação qualitativa pela prova sensorial
desse nutriente (1,85%). O fornecimento tadas. Os ácidos clorogênicos apresentam (CARVALHO et al. 1994).
de Zn promoveu a elevação do teor de capacidade antioxidante e podem também Com exceção da fonte KCl, em São
ácidos clorogênicos do grão, sendo uma exercer atividades hipoglicemiante, anti- Sebastião do Paraíso, observa-se que a
provável razão para a não preferência do viral, hepatoprotetora e imunoprotetora qualidade do café não se beneficiou com
inseto por grãos com maiores teores de nos seres humanos. Nesse sentido, pode-se alta produtividade, o que pode represen-
compostos fenólicos. A avaliação sensorial afirmar que, além do papel desempenhado tar um axioma verdadeiro nas ativida-
(prova de xícara) transformada em nota pelos ácidos clorogênicos no desenvolvi- des primárias (agricultura e pecuária).
resultou em diferença não significativa mento do flavor do café no processo de A avaliação pelo sistema DRIS oferece
entre os tratamentos, muito embora a nota torra, e independentemente de seu efeito muita segurança na avaliação da interação
média da bebida preparada com frutos de na qualidade sensorial da bebida, uma entre os nutrientes e nos fertilizantes com
plantas que não receberam Zn tenha sido maior concentração desses compostos é dois macronutrientes (binário): K2SO4,
60 e a dos frutos de plantas suplementadas interessante do ponto de vista nutracêutico. KNO3; ou com um macronutriente e outro
com Zn tenha sido 72,5. A suplementação micronutriente (também binário): KCl,
das plantas com Zn levou a um aumento BALANÇO NUTRICIONAL DO desde que não haja excesso de macro ou
significativo da concentração do ele- CAFEEIRO E QUALIDADE DA de micronutriente em relação à demanda
BEBIDA
mento nos grãos, de 5,1 para 7,1 mg/kg. da planta. No caso do KCl a massa da
Em termos absolutos, a diferença foi Pouca importância tem sido dada ao molécula seria 39 (K+) + 35, 5 (Cl-) =
pequena, porém, segundo Martinez et al. estado nutricional do cafeeiro (Coffea 74,5. O cloro ionizado representa 47,65%
(2008) e Neves et al. (2008), pode ter sido arabica L.), além da sua correlação com da massa atômica do fertilizante KCl que
suficiente para promover alterações meta- a produção. Mas esse estado nutricional, o Cl- é muito lixiviável e acumula-se no
bólicas relevantes. Quanto à manutenção quando avaliado pelo Sistema Integrado solo e na planta com efeito deletério na
da qualidade, várias condições, incluindo de Diagnose e Recomendação – Diagnose performance da lavoura cafeeira e na qua-
a injúria mecânica dos grãos, afetam a es- And Recomendations (DRIS) oferece lidade da bebida (NOGUEIRA; SILVA;
trutura das membranas celulares nos grãos interessantes correlações com os aspectos GUIMARÃES, 2001). Isso acontece com
de café, podendo modificar a composição qualitativos dos grãos revelados por ca- outras culturas também importantes para o
química do grão cru, que, ao ser torrado, irá racterísticas ou parâmetros indicativos da consumo interno (abacaxi, solanáceas, etc.)
produzir compostos que alterarão o aroma qualidade dos produtos agrícolas. Esses e para exportação (soja e outras).
e o sabor da bebida. A pesquisa concluiu indicativos da qualidade podem ser provas Independentemente do equilíbrio
que o Zn contribui para a manutenção da sensoriais ou atributos físicos, químicos e nutricional do cafeeiro, há outras reações
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 2 , n . 2 6 1 , p . 3 9 - 5 1 , m a r. / a b r. 2 0 11

IA261.indb 46 25/5/2011 10:19:33


Produção de café: opção pela qualidade 47

QUADRO 1 - Índices DRIS e IBN dos nutrientes componentes das fontes e doses de K aplicadas em dois locais
Fonte Dose São Sebastião do Paraíso Patrocínio
de K (kg/ha) N K S Cl IBN N K S Cl IBN
KCl 0 -0,3 0,2 -0,3 -0,8 10,1 0,5 -1,5 0,4 -3,7 12,3
100 -0,2 0,4 0 -0,7 10,1 0,1 0,4 -0,1 -0,6 7,4
200 0 0,5 -0,6 1,4 8,0 -0,2 0,3 -0,6 1,8 7,1
400 -0,7 1,8 -1,4 4,0 20,0 -0,9 1,1 -1,6 8,5 18,6
K2SO4 0 -0,1 -1,1 -0,3 -0,6 10,3 0,2 -1,4 -0,5 -0,5 9,4
100 -0,2 1,0 -0,1 -0,4 9,2 -0,1 0,4 0 -0,2 6,0
200 -0,4 1,2 -0,2 -0,7 9,5 0 0,2 0,1 -0,4 5,5
400 -0,3 1,6 0,3 -1,0 11,8 -0,2 1,4 1,5 -1,2 6,0
KNO3 0 -0,7 -0,4 -0,4 -0,3 8,9 -0,1 -0,9 -0,1 -0,6 7,5
100 -0,4 0 -0,4 -0,1 6,6 -0,1 0,9 0 -0,5 7,1
200 1,2 0,3 -0,5 -0,3 6,3 1,3 0,8 -0,1 -0,5 6,1
400 2,3 1,1 -0,3 -1,3 12,6 1,5 1,1 -0,3 -1,3 7,0
FONTE: Silva, Nogueira e Guimarães (2003b).
NOTA: DRIS - Diagnose and Recomendations (Sistema Integrado de Diagnose e Recomendação); IBN - Índice de Balanço Nutricional.

químicas que modificam rotas metabólicas secagem, beneficiamento e armazenagem) Levantamento da qualidade da bebida
com reflexos na qualidade da bebida. Por (AMORIM, 1970). do café, em relação ao estado nutricional dos
exemplo, a atividade da PFO é ativada pelo Pelo DRIS, o diagnóstico do estado cafeeiros, da região do Alto Jequitinhonha
cobre e como seu catalisador único pode nutricional do cafeeiro foi consistente em de Minas Gerais, por meio do DRIS, foi
deixar de sê-lo, pela reação deste com o avaliar a resposta à adubação potássica, realizado por Farnezi et al. (2010). Estes
cloreto. Segundo Fox (1991), esta reação utilizando-se o KCl, K2SO4 e KNO3. Em observaram relações diretas entre a PFO,
inibe a atividade enzimática da PFO. O doses crescentes, mostrou-se que o excesso IC e AT (Quadro 3). Neste trabalho, os
excesso de cloro nas folhas do cafeeiro de nutrientes contidos nas fontes influen- teores AT determinados nos grãos colhidos
revelado pelos índices DRIS positivos (1,4 ciaram mais acentuadamente a produção na região do Alto Jequitinhonha estão em
e 4,0; 1,8 e 8,5) relativos à fonte KCl pode de grãos do que a qualidade estimada, torno de 8,0%; porcentagem próxima das
ser redistribuído para os grãos de café. por meio de uma única variável, a PFO encontradas por Chagas, Carvalho e Costa
Além disso, pode ocorrer desnaturação de separando também a qualidade em classes (1996), para cafés de melhor qualidade de
proteínas pelo efeito de alguns ânions, com definidas pela prova sensorial (Quadro 2). bebida. Os açúcares podem contribuir para
suas participações diferentes na sequência: Quanto ao balanço nutricional do cafe- o sabor e o aroma do café, sendo que cafés
SCN- > ClO-4 > I- > Cl- > acetato > SO4-2 eiro, verificado por Silva, Nogueira e Gui- de melhor qualidade possuem maiores
(FOX, 1991). marães (2003b) em resposta à adubação teores de AT (CHAGAS; CARVALHO;
O efeito diferenciado dos ânions acom- potássica, constatou-se que a produção de COSTA, 1996; SILVA, 1999).
panhantes (Cl-, SO42-, NO3-) como partici- grãos e a qualidade da bebida apresentaram O DRIS determina a sequência de
pantes do KCl, K2SO4, KNO3, utilizados comportamento bastante próximo do mode- limitação nutricional, que permite a clas-
sem balanceamento, em doses crescentes, lo teórico com relação inversa (Gráfico 5). sificação dos elementos em ordem de im-
destaca a importância do diagnóstico DRIS, As produções mais elevadas em Patrocínio portância para produção e para qualidade
com o objetivo de avaliar mais completa estiveram relacionadas com os menores da bebida do café. Os índices DRIS foram
e precisamente e proporcionar um manejo valores de IBN, ao contrário das produções obtidos de uma norma com população de
mais adequado da cultura (NICK, 1998; de São Sebastião do Paraíso (Gráfico 5A). referência de alta produtividade e qualida-
COSTA, 1999). Todavia, a complexidade Este índice indica que quanto menor o seu de de bebida acima de dura, fornecendo, ao
do conteúdo de uma xícara de café envolve valor, melhor será o estado nutricional da mesmo tempo, uma indicação da intensida-
muitos fatores, alguns incontroláveis (li- planta (COSTA, 1999). A mesma tendência de de exigência de determinado elemento.
gados ao clima), outros controláveis, mas ocorreu entre o IBN e a qualidade avaliados A partir dessa inferência e pela observação
com ações mais abrangentes, com foco em pela atividade da PFO (Gráfico 5B), com no Quadro 2, pode-se verificar que o Mn,
espectro visual holístico (revitalização do coeficiente de correlação linear inferior ao Fe, Ca, P, S e B foram os nutrientes mais
solo e manejo cultural, colheita, preparo, encontrado para produção. limitantes por deficiência (índice negati-
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 2 , n . 2 6 1 , p . 3 9 - 5 1 , m a r. / a b r. 2 0 11

IA261.indb 47 25/5/2011 10:19:33


IA261.indb 48

QUADRO 2 - Produtividade, qualidade da bebida avaliada pela atividade da PFO, frequência de lavouras que apresentaram qualidade da bebida, avaliada pela PFO (frequência),

48
teores foliares médios, índices DRIS e IBNm de cafeeiros da região do Alto Jequitinhonha, MG
PFO TF N P K Ca Mg S B Cu Fe Mn Zn IBNm
Produtividade Frequência
+
(saca/ha) Bebida U/g (%) dag/kg mg/kg
ID

Baixa

24,03 Riada e rio 53,36 15 TF 3,11 0,20 1,83 1,49 0,45 0,12 85,31 53,03 192,28 193,31 11,25

ID 7,93 -3,60 3,96 0,91 7,06 -2,79 -2,01 4,70 -7,75 -9,10 20,05 6,35

15,15 Dura 60,35 21 TF 2,60 0,19 1,65 1,13 0,36 0,16 85,65 41,80 213,22 198,04 9,88

ID 4,58 -3,05 2,06 -6,10 1,25 4,95 2,80 0,64 -13,35 -4,24 25,31 6,21

14,06 Apenas mole e mole 64,80 8 TF 2,82 0,18 1,60 1,04 0,36 0,12 94,90 66,20 200,33 149,75 10,58

ID 7,70 -3,23 2,33 -8,97 1,69 -0,05 5,60 10,40 2,60 -7,08 26,94 6,96

17,73 Estritamente mole 69,14 4 TF 3,03 0,25 2,32 1,25 0,39 0,08 58,55 41,20 156,45 205,30 6,05
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 2 , n . 2 6 1 , p . 3 9 - 5 1 , m a r. / a b r. 2 0 11

ID 13,92 4,91 19,63 0,37 8,08 -11,32 -11,32 5,04 -31,51 -17,77 19,94 13,07

Alta

64,78 Riada e rio 51,33 4 TF 2,41 0,19 1,86 1,12 0,27 0,12 83,65 52,10 173,50 508,85 20,95

ID 0,18 -4,17 3,11 -6,94 -6,88 -0,01 0,96 5,31 -12,66 6,28 4,62 4,65

51,64 Dura 59,38 23 TF 2,61 0,20 1,73 1,44 0,37 0,15 93,42 55,59 274,04 319,08 21,34

Produção de café: opção pela qualidade


ID 0,65 -5,24 -0,65 -2,18 -1,16 1,67 0,60 3,50 14,83 -0,38 13,60 4,04

47,08 Apenas mole e mole 65,37 12 TF 2,47 0,30 1,81 1,42 0,41 0,20 88,10 49,05 244,33 363,35 16,90

ID -1,71 1,84 -0,49 -3,09 -0,02 5,51 -1,93 2,50 18,19 -1,56 14,76 4,69

62,56 Estritamente mole 68,97 13 TF 2,63 0,27 1,64 1,58 0,37 0,11 90,11 46,50 189,66 313,28 26,02

ID 0,77 -0,82 -2,76 1,37 0,01 -3,50 0,87 1,86 4,84 -0,58 4,28 1,97
FONTE: Farnezi et al. (2010).
NOTA: IBNm - Índice de Balanço Nutricional médio; DRIS - Diagnose And Recomendation (Sistema Integrado de Diagnose e Recomendação); PFO - Polifenoloxidase; TF - Teores
25/5/2011 10:19:33

foliares médios; ID - DRIS.


Produção de café: opção pela qualidade 49

60 São Sebastião do Paraíso 70 São Sebastião do Paraíso


Patrocínio Patrocínio
55 68

PFO (U/min/g de amostra)


50 66
Y = 56,6 - 1,6632**X Y = 66,2 - 0,4964*X
Produção (saca/ha)

r = 0,72** 64 r = 0,45*
45
62
40
60
35
58
30 56
25 54
20 52
2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20
IBN IBN
A B
Figura 5 - Correlação linear simples entre IBN com a produção (A) e atividade enzimática da polifenoloxidase (PFO) de grãos de café (B)
FONTE: Silva, Nogueira e Guimarães (2003b).
NOTA: * e ** significativo a 5% e 1% pelo teste de t, respectivamente.
IBN - Índice de Balanço Nutricional.

QUADRO 3 - Classificação da bebida, frequência de ocorrência, PFO, ATT, IC e AT dos grãos de café da região do Alto Jequitinhonha, MG
Frequência de ocorrência
Classificação da bebida PFO ATT IC AT
(%)
Riada e rio 19 52,95 d 208 a 0,929 a 6,8 d
Dura 44 59,84 c 194 a 0,978 a 7,6 c
Apenas mole e mole 16 65,08 b 187 a 1,058 a 8,2 b
Estritamente mole 21 69,00 a 185 a 1,083 a 8,7 a
Média 61,72 194 1,012 7,8
CV (%) 9,1 17,9 21,3 8,8
FONTE: Farnezi et al. (2010).
NOTA: Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5%.
PFO - Atividade enzimática da polifenoloxidase (U/min/g de amostra); ATT - Acidez titulável total (mL NaOH 0,1 N/100/g); IC - Índice
de coloração (DO 435 nm); AT - Açúcares totais (%); CV - Coeficiente de variação.

vo), nesta ordem, enquanto, os nutrientes também obter melhor qualidade do produto produção e a qualidade do produto. O uso
Zn, Cu, N, K e Mg foram os que mais final colhido. e o manejo dos nutrientes, de forma equi-
limitaram por excesso (índice positivo) librada, demonstram ser uma alternativa
na produtividade de grãos e qualidade da CONSIDERAÇÕES FINAIS válida e eficiente na qualidade do produto.
bebida do café. Há, contudo, a necessidade de desenvolver
Para obter uma visão holística em um
Pela observação dos índices DRIS mais pesquisas, sobretudo com a cultura do
contexto global sobre a nutrição do cafeeiro
(Quadro 2), pode-se inferir com maior pre-
e a qualidade do produto final, ou seja, a be- cafeeiro, procurando conhecer suas exigên-
cisão que, na medida em que aumentaram
bida do café, é necessário que sejam realiza- cias nutricionais, bem como a qualidade
a produtividade e a qualidade da bebida
dos estudos multidisciplinares que envolvam do produto em diferentes níveis, fontes e
do café, mais próximos de zero ficaram os
índices, ou seja, as lavouras que se apre- grupos de pesquisa das áreas de nutrição e combinações de nutrientes.
sentaram mais produtivas e com melhor qualidade. Somente associando-se ambas Sugerem-se trabalhos interdisciplinares
qualidade da bebida do café estão mais as disciplinas pode-se identificar com mais que abordem todos os ensaios e pesquisas
equilibradas nutricionalmente. precisão a importância da nutrição de plantas em fertilidade do solo e nutrição do cafe-
Estes resultados de pesquisa confirmam na qualidade do produto final colhido. eiro, nos quais se estudam os nutrientes,
que a nutrição equilibrada das plantas Os elementos minerais, utilizados suas doses, as fontes, os modos de apli-
proporciona maior produtividade, podendo como nutrientes pelas plantas, mantêm a cação, etc., e que seja também avaliada
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 2 , n . 2 6 1 , p . 3 9 - 5 1 , m a r. / a b r. 2 0 11

IA261.indb 49 25/5/2011 10:19:33


50 Produção de café: opção pela qualidade

a qualidade do café. O conhecimento e em café. 2001. 100 p. (Tese de Mestrado) – de Amônio, 1986a. 41p. (SN Centro de Pes-
a obtenção de plantas bem nutridas com Universidade Federal de Minas Gerais, Belo quisa e Promoção do Sulfato de Amônio.
teores de nutrientes equilibrados podem Horizonte. Boletim Técnico, 4).

proporcionar a garantia de um produto de COSTA, A.N. Aplicação do sistema inte- ___________. Elementos de nutrição mine-
melhor qualidade. grado de diagnose e recomendação (DRIS) ral de plantas. São Paulo: Agronômica Ce-
em cafeeiros Conilon (Coffea Canephora) e res, 1980. 215p.
REFERÊNCIAS arábica (Coffea arábica L.). In: SIMPÓSIO ___________. História do café no Brasil:
MONITORAMENTO NUTRICIONAL PARA agronomia, agricultura e comercialização.
AMORIM, H.V. Nutritional status of the cof- RECOMENDAÇÃO DA ADUBAÇÃO DE São Paulo: Agronômica Ceres, 2000. 464p.
fee plant and beverage quality. Indian Co- CULTURAS, 1., 1999, Piracicaba. Anais...
ffee, v. 32, p. 331-335, 1970. ___________. Manual de química agrícola:
Piracicaba: POTAFOS, 1999.
nutrição de plantas e fertilidade do solo.
________. et al. Estudos sobre a alimentação
DART, S.K.; NURSTEN, H.E. Chemistry. In: São Paulo: Agronômica Ceres, 1976. 528p.
mineral do cafeeiro - XVII: efeito da aduba-
CLARKE, R.J.; MACRAE, R. (Ed.). Coffee.
ção NPK na composição química do solo, ___________. Nutrição, adubação e calagem
London: Elsevier Applied Science, 1985. v.1.
do fruto e na qualidade da bebida. Anais para o cafeeiro. In: RENA, A.B. (Ed.). Cul-
da Escola Superior de Agricultura “Luiz de FAQUIN, V. Nutrição mineral de plantas. tura do cafeeiro: fatores que afetam a pro-
Queiroz”, Piracicaba, v.22, p.139-152, 1965. Lavras: ESAL: FAEPE, 1994. 227p. Apostila dutividade. Piracicaba: POTAFOS, 1986b.
do Curso de Especialização em Solos e Meio p.136-274.
________. et al. Estudos sobre a alimen-
Ambiente.
tação mineral do cafeeiro - XVII: efeito da ___________. VITTI, G.C.; OLIVEIRA, S.A.
adubação de N, P e K no teor de macro e FARNEZI, M.M. de M. et al. Levantamento de. Avaliação do estado nutricional das
micronutrientes do fruto e na qualidade da da qualidade da bebida do café e avaliação plantas: princípios e aplicações. 2.ed. Pira-
bebida café. Anais da Escola Superior de do estado nutricional dos cafeeiros do Alto cicaba: POTAFOS, 1997. 319p.
Agricultura “Luiz de Queiroz”, Piracicaba, Jequitinhonha, Minas Gerais, através do
MALTA, M.R.; NOGUEIRA, F.D.; GUIMARÃES,
v.30, p.323-333, 1973. DRIS. Ciência e Agrotecnologia, Lavras,
P.T.G. Composição química, produção e
ARCILA-PULGARIN, J.; VALÊNCIA- v.34, n.5, p.1191-1198, set./out. 2010.
qualidade do café fertilizado com diferen-
ARISTIZÁBAL, G. Relación entre la activi- FLAMEN, I. Coffee, cocoa and tea. Food tes fontes e doses de nitrogênio Ciências e
dad de la polifenoloxidase (PFO) y las prue- Reviews International, v.5, n.3, p.317-414, Agrotecnologia, Lavras, v.27, n.6, p.1246-
bas de catación como medidas de la calidad 1989. 1252, nov./dez. 2003.
de la bebida del café. Cenicafé, Caldas, v.26,
n.2, p.55-71, abr./jun.1975. FOX, P.F. Food enzymology. London: Else- ___________ et al. Avaliação da qualidade
vier Applied Science, 1991. 378p. do café (Coffea arabica L.) fertilizado com
BLORE, T.W.D. Some agronomic practices
diferentes fontes e doses de potássio. Revis-
affecting the quality of Kenya coffee. Tur- FURLANI, A.M.C. et al. Efeitos da aplicação
ta Brasileira de Armazenamento, Viçosa,
rialba, San José, v.15, n.2, p.111-118, abr./ de cloreto e sulfato de potássio na nutrição
MG, n.5, p.9-14, 2002. Especial café.
jun. 1965. do cafeeiro. Bragantia, Campinas, v.35, n.2,
p.349-364, jul.1976. MARTINEZ, H.E.P. et al. Faixas críticas de
CARVALHO, V.D. de et al. Relação entre a
concentrações de nutrientes e avaliação do
composição físico-química e química do GEUS, J.C. Groundnuts or peanuts fertilizer
estado nutricional de cafeeiros em quatro
grão beneficiado e a qualidade de bebida for the tropics and subtropics. In: ________.
regiões de Minas Gerais. Pesquisa Agrope-
do café – I: atividades de polifenoloxidase Fertilizer guide for the tropics and sub-
cuária Brasileira, Brasília, v. 38, n.6, p.703-
e peroxidase, índice de coloração e acidez. tropics. 2.ed. Zurich: Centre d’Etude de
Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, 713, jun. 2003.
L’Azote, 1973. p.363-373.
v.29, n.3, p.449-454, mar. 1994. ________. Suprimento de zinco, produção
GOUNY, P. Observaciones sobre el compor-
CHAGAS, S.J. de R.; CARVALHO, V.D.; e qualidade do grão de café. In: SIMPÓSIO
tamiento del vegetal en presencia de ions de
COSTA, L. Caracterização química e quali- IBÉRICO SOBRE NUTRICIÓN MINERAL
cloro. Revista de la Potassa, Berna, v. 45, n. 5,
tativa de cafés de alguns municípios de três DE LAS PLANTAS, 12., 2008, Granada. Li-
p. 1-14, 1973.
regiões produtoras de Minas Gerais. Pesqui- bro de resúmenes... Granada: Universidad
sa Agropecuária Brasileira, Brasília, v.31, INSTITUTO BRASILEIRO DO CAFÉ. Cultu- de Granada, 2008. p.129.
n.8, p.555-561, ago. 1996. ra do café no Brasil: manual de recomenda-
MENGEL, K.; KIRBY, E.A. Principles of
ções. 5.ed. Rio de Janeiro, 1985. 580p.
CHALFOUN, S.M.S. O café (Coffea arabica plant nutrition. 4.ed. Berna: Internacional
L.) na Região Sul de Minas Gerais: relação KLEINHENZ, V. Sulfur and chloride in Potash Institute. 1987. 687p.
da qualidade com fatores ambientais, es- the soil-plant system. Queensland: Central
NEVES, Y.P. et al. Produção, tamanho de
truturais e tecnológicos. 1996. 171p. Tese Queensland University, 1999. 99p.
grãos e conteúdo foliar de cafeeiros subme-
(Doutorado em Fitotecnia) – Universidade MALAVOLTA, E. (Coord.). Efeitos de doses tidos à inseção de comprimidos em troncos
Federal Lavras, Lavras, 1996. e fontes de enxofre em culturas de inte- e pulverizações com sulfato de zinco. In:
CIRILO, M. P. G. Influência da adubação resse econômico – IV: café. São Paulo: SN SIMPÓSIO IBÉRICO SOBRE NUTRICIÓN
potássica nos teores de aminas bioativas Centro de Pesquisa e Promoção do Sulfato MINERAL DE LAS PLANTAS, 12., 2008,

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 2 , n . 2 6 1 , p . 3 9 - 5 1 , m a r. / a b r. 2 0 11

IA261.indb 50 25/5/2011 10:19:33


Produção de café: opção pela qualidade 51

Granada. Libro de resúmeres... Granada: SIL, 3., 2003, Porto Seguro. Anais... Brasília: Agricola, Piracicaba, v.59, n.1, p.173-179,
Universidad de Granada, 2008. p.97. Embrapa Café, 2003. p. 418-419. jan./mar. 2002.
NICK, J.A. DRIS para cafeeiros podados. REIS JUNIOR, R.A. et al. Diagnose nutricio- ___________; ____________; ___________.
1998. 86f. Dissertação (Mestrado em Agro- nal de cafeeiros da Região Sul de Minas Ge- Uso do DRIS na avaliação do estado nutri-
nomia) – Escola Superior de Agricultura rais: normas DRIS e teores foliares adequa- cional do cafeeiro em resposta à adubação
“Luiz de Queiroz”, Piracicaba, 1998. dos. Revista Brasileira de Ciência do Solo, potássica. Revista Brasileira de Ciência do
Viçosa, MG, v.26, n.3, p.801-808, 2002. Solo, Viçosa, MG, v. 27, n. 2, p. 247-255,
NOGUEIRA, F.D.; SILVA, E.B. de; GUIMARÃES,
P.T.G. Adubação potássica do cafeeiro: sul- SILVA, E. de B. Fontes e doses de potássio mar./abr. 2003b.
fato de potássio. Washington: SOPIB, 2001. na produção e qualidade do café prove-
____________. et al. Fontes e doses de po-
81p. nientes de plantas cultivadas em duas con-
tássio na produção e qualidade do grão de
dições edafoclimáticas. 1999. 105 p. Tese
________. et al. Avaliação da adubação po- café beneficiado. Pesquisa Agropecuária
(Doutorado em Ciência do Solo) – Universi-
tássica por análise física e química dos Brasileira, Brasília, v.34, n.3, p.335-345,
dade Federal de Lavras, Lavras, 1999.
grãos de café beneficiados. Lavras: EPAMIG- mar. 1999.
________; NOGUEIRA, F.D. GUIMARÃES,
CTSM, 1998. 2p. (EPAMIG-CTSM. Circular SNOECK, D.; N’GORAN, K.; SNOECK, J.
P.T.G. Produção, qualidade dos grãos e ba-
Técnica, 88). Étude des formes de potassium sur chimisme
lanço nutricional do cafeeiro submetido a
NORTHMORE, J.M. Raw bean colours and adubação potássica. In: CONGRESSO BRA- foliare des caféiers robusta en Cote d’Ivoire :
the quality of Kenya Arabica coffee. Tur- SILEIRO DE CIÊNCIA DO SOLO, 29., 2003, influence du chlore. Café Cacao Thé, Paris,
rialba, San José, v.18, n.1, p.14-20, enero/ Ribeirão Preto. [Anais]... Solos: alicerce dos v. 30, n. 1, p. 37-50, janv./mars. 1986.
marzo 1968. sistemas de produção. Botucatu: UNESP, ZEHLER, E.; KREIPE, H.; GETHING, P.A.
POZZA, A.A.A. et al. ����������������������
Fertilizantes nitroge- 2003a. 1 CD-ROM Sulfato de potássio e cloreto de potássio:
nados com reação alcalina e acidificante na ___________; ____________; ___________. sua influência na produção e na qualidade
produção e qualidade do café. In: SIMPÓ- Qualidade de grãos de café beneficiados das plantas cultivadas. Campinas: Funda-
SIO DE PESQUISA DOS CAFÉS DO BRA- em resposta à adubação potássica. Scientia ção Cargil, 1986. 111p.

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 2 , n . 2 6 1 , p . 3 9 - 5 1 , m a r. / a b r. 2 0 11

IA261.indb 51 25/5/2011 10:19:35


52 Produção de café: opção pela qualidade

Evolução da mecanização na cafeicultura


Fabio Moreira da Silva 1
Gladyston Rodrigues Carvalho 2

Resumo - Em 1997, com o surgimento do programa de pesquisas do Consórcio Pesquisa


Café, foram levantadas as demandas prioritárias da cafeicultura, e destacada a colheita
como gargalo número um do processo produtivo. O parque cafeeiro em produção no
Sul de Minas é da ordem de 500 mil hectares, com produção que chega a 12 milhões de
sacas. Somente a colheita do café mobiliza, aproximadamente, 310 mil trabalhadores,
isto é, mão de obra temporária e não disponível na região. O custo dessa mão de obra
temporária para a colheita, nas duas últimas safras (2009 e 2010), foi no mínimo de
R$ 35,00 a diária líquida, que, com encargos sociais, chega a R$ 50,00, resultando em
R$ 10,00 o custo médio da medida colhida. Para uma lavoura de 30 sacas beneficiadas/
hectare, com 240 medidas/hectare de café, o desempenho da dupla de apanhadores com
derriçadoras portáteis é de 20 medidas/dia, com custo da colheita semimecanizada de
R$ 1.689,00/ha, ou parcial de R$ 7,00/medida, com redução da ordem de 30% em relação
à colheita manual. Para a mesma lavoura, colhida com colhedora, seriam gastas 4 h/ha,
colhendo-se em torno de 75% da carga pendente, ao custo operacional de R$ 440,00/ha,
com o repasse manual totalizariam R$ 1.280,00/ha, ou o valor parcial de R$ 5,30/medida,
com redução em relação à colheita manual de 47%. Outro grande avanço na colheita
mecanizada e seletiva é colher o máximo de frutos cereja, fazendo duas passadas da
colhedora, retirando até 97% da carga pendente, com possibilidade de colher de 40% a
60% de cereja. A evolução tecnológica não fica restrita à colheita. Mudanças no processo
de plantio, cultivo, tratamento fitossanitário, poda, adubação, etc. são operações nas
quais a mecanização vem avançando sobre um cenário crescente de demanda, em que o
cafeicultor assume o papel de gestor de operações agrícolas.

Palavras-chave: Café. Cafeicultura. Colheita. Mão de obra. Custo.

INTRODUÇÃO cafés de Minas são de boa qualidade e ciados pelo CNPq, por meio do programa
são produzidos de forma convencional. BIOEX-Café.
Minas Gerais é o maior produtor de café
Porém, é possível melhorar essa qualida- Em 1997, com o surgimento do pro-
do Brasil, com mais de 50% da produção
de e, consequentemente, agregar valor ao grama de pesquisas do Consórcio Pesquisa
nacional. O Brasil, por sua vez, é o maior
produto com a implementação de técnicas Café, foram levantadas as demandas prio-
produtor mundial com cerca de 43 milhões de manejo, de colheita e de preparo do ritárias junto aos produtores para o desen-
de sacas (mais de 30% da produção mun- café, que culminam com a mudança do volvimento de pesquisas e tecnologias,
dial). Assim, há grande interesse nos cafés processo produtivo, atendendo aos merca- sendo destacada a colheita como gargalo
de Minas Gerais, que são produzidos em dos interno e externo, que se tornam mais número um do processo produtivo. Nesse
80 mil propriedades rurais de 682 muni- exigentes. O marco inicial desta mudança mesmo ano, no mês de maio, com base
cípios, gerando 1,6 milhão de empregos do processo produtivo do café teve início em resultados aplicados de pesquisas, que
diretos e indiretos. Tradicionalmente, os em 1996, com os primeiros trabalhos finan- possibilitaram transferência de tecnologia

1
Engo Agrícola, Dr., Prof. UFLA - Depto. Engenharia, Caixa Postal 3037, CEP 37200-000 Lavras-MG. Correio eletrônico: famsilva@ufla.br
Engo Agro, Dr., Pesq. EPAMIG Sul de Minas-EcoCentro/Bolsista FAPEMIG, Caixa Postal 176, CEP 37200-000 Lavras-MG. Correio eletrônico:
2

carvalho@epamig.ufla.br

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 2 , n . 2 6 1 , p . 5 2 - 6 5 , m a r. / a b r. 2 0 11

IA261.indb 52 25/5/2011 10:19:35


Produção de café: opção pela qualidade 53

aos produtores, foi realizado um Dia de tende a crescer, visando atender DESEMPENHO OPERACIONAL
Campo, na Fazenda Beleza, município de pequenos e médios produtores; DA MÃO DE OBRA
Santana da Vargem, MG, organizado pela c) mecanizado: neste sistema conside- Com relação ao serviço braçal para as
Ufla e a União Cooperativa Agropecuária ra-se o uso das colhedoras que reali- operações de colheita manual, a avaliação
do Sul de Minas (Unicoop). Houve de- zam, simultaneamente, as operações do tempo médio do serviço realizado por
monstração do desempenho operacional de derriça, recolhimento, abanação e turmas de apanhadores, levando em conta
de máquinas para as diversas operações de ensaque ou armazenamento a granel começo, meio e fim de safra, para uma
colheita como arruação, derriça, abanação do café colhido, sendo um sistema jornada diária de trabalho de 8 horas, e
e até mesmo de uma colhedora automotriz. que se limita às propriedades com
medidas volumétricas de 60 L, é a seguinte:
Em 1998, foi criada a Expocafé, com o topografia favorável. Apesar deste
propósito de levar aos produtores as ino- sistema ser chamado mecanizado, a) tempo de derriça: 56 min/medida =
vações tecnológicas de aplicação imediata não dispensa totalmente o uso de 72,7%;
e acessíveis aos diversos segmentos de mão de obra, pois as colhedoras b) tempo de varrição: 9 min/medida =
produtores, que se tornou o maior evento não colhem 100% dos frutos das 11,7%;
tecnológico do agronegócio café do País, plantas e apresentam significativas c) tempo de abanação: 12 min/medida =
atualmente coordenado pela EPAMIG. perdas de colheita, necessitando da 15,6%;
O parque cafeeiro em produção no Sul operação manual de repasse e reco-
d) tempo médio total: 77 min/medida =
de Minas é da ordem de 500 mil hectares, lhimento do café caído no chão;
100%;
com produção, em 2008, de 12 milhões
d) supermecanizado: este sistema sur-
de sacas. Em média, são empregados 60 Mediante esses tempos operacionais,
giu no ano 2000 e consta de todas
mil trabalhadores, ao longo do ano para têm-se os seguintes desempenhos:
as operações da colheita feitas
as operações de cultivo, dos quais 44% a) operação de derriça: 7 medidas/
mecanicamente. Inicia-se com a
enquadram-se na agricultura familiar, Homem/dia;
arruação mecanizada, seguida de
36% são contratados permanentes e 20%
duas passadas da colhedora na la- b) operação de derriça e varrição:
temporários. Somente a colheita do café,
voura, fazendo colheita seletiva e 6 medidas/Homem/dia;
que se processa em um período de três
dispensando a operação de repasse, c) operação de derriça, varrição e aba-
meses ou 75 dias úteis, mobiliza, aproxi-
finaliza-se com a varrição e o reco-
madamente, 310 mil trabalhadores, isto é, nação: 5 medidas/Homem/dia.
lhimento mecânico do café caído
mão de obra temporária e não disponível É importante ressaltar que a forma
no chão. Este sistema também tem
na região, sendo necessário complementar de quantificar o desempenho do serviço
aplicação limitada, depende de boa
com trabalhadores de outras regiões. braçal nas operações de colheita, tradi-
topografia e elevado investimento
inicial com máquinas. cionalmente, é contabilizada por medidas
SISTEMA DE COLHEITA padronizadas por região. No Sul de Minas,
A tendência que se verifica em regiões
A forma como as operações são reali- o padrão usual da medida é de 60 L, porém
onde predominam pequenas e médias pro-
zadas nas unidades de produção, manual algumas localidades da Zona da Mata e Sul
priedades é uma expansão do sistema semi-
ou mecanicamente, é que caracteriza o da Bahia usam a lata de 20 L e, no Norte
mecanizado para as operações de derriça e
sistema de colheita: de Minas, medidas de até 80 L.
abanação, com o emprego equilibrado de
a) manual: é o sistema que pode ser Por sua vez, o custo da mão de obra
mão de obra e máquinas, atendendo em
considerado convencional por ser temporária para a colheita, nas duas últi-
especial à agricultura familiar. Em regiões
o mais utilizado, onde as diversas mas safras (2009 e 2010), foi no mínimo
com topografia mais plana e em proprie-
operações da colheita são realizadas de R$ 35,00 a diária líquida, que com
dades maiores, o sistema mecanizado tem
a partir de trabalho braçal, deman- apresentado forte expansão. encargos sociais chega a R$ 50,00. Para
dando muita mão de obra; Vários fatores devem ser observados o desempenho médio do serviço braçal de
b) semimecanizado: consiste na utili- ao optar-se por um desses sistemas de cinco medidas/homem/dia, o custo médio
zação associada de trabalho braçal colheita, como topografia, espaçamento foi de R$ 10,00/medida.
e de máquinas para as operações de de plantio e área cultivada. Porém, alguns
Custo máquina
colheita. Este sistema varia muito, parâmetros são fundamentais para balizar
podendo ter uma ou quase todas as esta decisão, como o desempenho médio e Para a análise do custo horário das
operações realizadas com o auxílio os custos do serviço braçal e da operação máquinas utilizadas nas operações de
de máquinas. É um sistema que mecanizada. colheita, foram considerados os custos
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 2 , n . 2 6 1 , p . 5 2 - 6 5 , m a r. / a b r. 2 0 11

IA261.indb 53 25/5/2011 10:19:35


54 Produção de café: opção pela qualidade

fixos e variáveis, conforme metodologia t = horas de trabalho anual (h); a intervalos regulares, como filtros de ar,
proposta por Balastreire (1987), com as i = taxa de juros (decimal). de óleo lubrificante e de combustível,
denominações seguintes: correias, óleo hidráulico, etc. Contudo os
custos com manutenção corretiva são mais
Taxa de seguro
Custo fixo difíceis de ser quantificados, pois depen-
Custo fixo (CF) são os custos de longo A taxa de seguro (TS) tem variado dem do histórico de quebras da máquina.
prazo que não variam com a intensidade de de 0,75% a 2,0% do custo inicial ao ano Como referência, o custo com manutenção
uso da máquina, como depreciação e juros (expresso em valor decimal), dependendo pode variar de 50% a 100% do custo ini-
sobre o capital investido, além dos custos do modelo da máquina. cial. Para tratores cafeeiros e colhedoras
de seguro e alojamento do equipamento. podem-se adotar 50%.
Vi (0,0075 a 0,02)
TS =
Depreciação t Vi
M = 0,5 .
A depreciação (D) representa o rateio t
do custo inicial, pelo tempo de depreciação,
Custo variável
descontando o valor de sucata (termo não
apropriado), pois na atividade cafeeira as Os custos variáveis (CV) são os de cur- Mão de obra
operações não são tão pesadas e, na maio- to prazo e aqueles influenciados pelo uso da O salário do operador, bem como
ria dos casos, as máquinas não terminam máquina, como gastos com combustíveis, outros benefícios e encargos sociais,
em estado de sucata, após a depreciação. lubrificantes, manutenção preventiva e
Teoricamente, o valor mínimo considerado referentes à mão de obra (Mo), deve ser
corretiva e, ainda, mão de obra para a computado no cálculo do custo operacio-
de sucata é 10% do valor inicial.
operação da máquina. nal das máquinas. Os encargos sociais
somam mensalmente 11% de INSS; 8%
(Vi - S) Combustível
D= para o FGTS; 2,7% para outras contri-
T
O custo com combustível (C) é variável buições; 1/12 de décimo terceiro; 1/2 de
em função do consumo horário, que, por férias; 1/3 sobre 1/12 de abono de férias
em que: sua vez, depende da potência operacional e pode-se incluir 40% sobre o FGTS, re-
Vi = valor inicial de aquisição (R$); demandada. O consumo horário é fácil de ferentes à rescisão contratual, totalizando
S = valor de sucata (R$); ser determinado na prática. 43% sobre o salário base. O número de
salários mínimos (n) segue os praticados
T = tempo total para depreciação (h).
Lubrificante regionalmente, sendo, em média, de 1
salário para serviços de apoio; 1,5 salário
Juros (J) O custo com lubrificantes (L) pode para operadores de trator e 2 salários para
ser calculado em função do consumo de
A taxa de juros (i) é o valor de remu- o operador de colhedora automotriz. O
combustível, variando de 8% a 20%. Para
neração do capital empregado na compra Quadro 1 apresenta os valores do custo/
o trator cafeeiro foi considerado 8,4% de
da máquina. Se o capital de aquisição é hora, para algumas máquinas.
acordo com Figueiredo (2007), para a aba-
próprio, os juros devem seguir no mínimo
nadora 10%, para a colhedora tracionada
a taxa da poupança, se o capital é finan-
ou automotriz 20%, e para a derriçadora (n . SM . ES)
ciado, segue a taxa de financiamento, a Mo =
portátil 20%, por conta do óleo dois tem- d . jd
exemplo – Financiamento de Máquinas e
pos, misturado à gasolina.
Equipamentos (Finame) – , taxa de 4,5%
a.a. – Banco Nacional de Desenvolvimento em que:
Econômico e Social (BNDES). L = 8% a 20% . C
n = número de salários mínimos;
SM = valor mensal do salário mínimo
(Vm . i) (Vi + S)
J= e Vm = Manutenção (R$);
t 2
ES = encargos sociais (decimal);
O custo horário com manutenção (M)
em que: d = dias de trabalho mensal (dias);
preventiva é fácil de ser computado, tratan-
Vm = valor médio (R$); do dos gastos com componentes trocados jd = jornada de trabalho diário (h).
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 2 , n . 2 6 1 , p . 5 2 - 6 5 , m a r. / a b r. 2 0 11

IA261.indb 54 25/5/2011 10:19:35


Produção de café: opção pela qualidade 55

QUADRO 1 - Composição do custo/hora de máquinas para a cafeicultura - 2010 R$ 50,00/dia com encargos, o custo de
Vi T t CF CV Custo colheita manual foi de R$ 2.400,00/ha, ou
Máquina
(R$) (h) (h) (R$) (R$) (R$/hora) R$ 10,00/medida.
Derriçadora portátil 1.800,00 1.000 400 1,80 1,50 3,30 Para a colheita no sistema semimecani-
Abanadora 9.600,00 3.000 700 3,20 1,90 5,10 zado, a operação de campo normalmente é
Varredora enleiradora 30.000,00 5.000 800 6,30 4,00 10,30 feita por duplas, sendo um homem na der-
Trator cafeeiro 75 cv 78.000,00 10.000 1.000 10,00 28,00 38,00
riçadora e outro no repasse e levantamento
do café derriçado sobre panos ou chão. O
Recolhedora pneumática 130.000,00 8.000 800 24,40 8,50 32,90
repasse é a operação manual que retira o
Colhedora tracionada 275.000,00 8.000 800 35,70 20,10 55,80
restante dos frutos na planta, após a derriça
Colhedora automotriz 475.000,00 10.000 1000 61,80 48,20 110,00 mecanizada, já que as derriçadoras não
FONTE: Silva, Carvalho e Silva (2010). retiram 100% dos frutos. O levantamento
NOTA: Vi - Valor inicial de aquisição; T - Tempo total para depreciação; t - Horas de trabalho
e abanação trata-se do recolhimento e
anual; CF - Custo fixo; CV - Custo variável.
limpeza do café derriçado. A exemplo da
mesma lavoura, com 240 medidas/hectare
COLHEITA SEMIMECANIZADA Com a derriçadora portátil, um homem de café a serem colhidas, o desempenho
chega a derriçar de 20 a 30 medidas/dia, mínimo operacional da dupla de trabalho
Na colheita semimecanizada, a derriça é de 20 medidas/dia, dessa forma o tempo
que, divididas pela dupla, resultam na
é feita com o auxílio das derriçadoras por- requerido de colheita é de 12 dias/hectare.
média de 10 a 15 medidas/homem/dia, con-
táteis, manejadas manualmente e acionadas Com o custo/hora da derriçadora de
siderando medidas volumétricas de 60 L.
por motores laterais ou costais (Fig. 1), Com base no desempenho médio da R$ 3,30/hora ou diário de R$ 26,40, para
que fazem vibrar as varetas em sua extre- mão de obra e do valor da diária paga, po- jornada de 8 horas e com o custo da mão de
midade, promovendo a derriça dos frutos. de-se calcular o custo operacional. Assim, obra na colheita semimecanizada calculada
A exemplo, o Grupo Monte Alegre em para uma lavoura com média de 30 sacas/ sobre a diária líquida de R$ 40,00, consi-
Alfenas, MG, tem trabalhado com duplas hectare de café beneficiado, o volume derando melhor remuneração ao homem,
de apanhadores, colhendo semimecanica- médio de café em coco a ser colhido é de que acrescida dos encargos chega à diária
mente lavouras velhas e altas da variedade 240 medidas/hectare, que requer serviço bruta de R$ 57,20, tem-se o custo diário
Mundo Novo, alcançando desempenho de 48 homens/hectare. Para a menor diária da dupla mais a derriçadora de R$ 140,80/
operacional de 1.000 a 1.200 L/dia. líquida na safra de 2010 de R$ 35,00 ou dia, resultando, para o período de 12 dias,
o custo final da colheita semimecanizada
de R$ 1.689,00/ha, ou parcial de R$ 7,00/
medida, com redução de custo de 30% em
relação à colheita manual.
Na região do Sul de Minas, muitos
produtores estão adotando a colheita no
sistema semimecanizado, adquirindo as
derriçadoras portáteis e treinando a mão
de obra permanente de suas propriedades.
Outra forma que se tem verificado é a
prestação de serviços com derriçadoras
portáteis por terceiros, mas neste caso o
valor cobrado pela medida colhida é pra-
ticamente o mesmo da colheita manual, o
que reduz pouco o custo de colheita para o
produtor, com menor número de apanha-
dores, além do transporte, alimentação etc.
Ainda na colheita semimecanizada
pode-se associar a abanação mecanizada
Figura 1 - Derriçadoras portáteis na lavoura com abanadoras acionadas
FONTE: Silva, Carvalho e Silva (2010). por tratores de baixa potência (15cv) que
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 2 , n . 2 6 1 , p . 5 2 - 6 5 , m a r. / a b r. 2 0 11

IA261.indb 55 25/5/2011 10:19:36


56 Produção de café: opção pela qualidade

abanam em média 50 medidas/hora, com custo operacional de R$ 440,00/ha, com contabilizados como perdas de chão, os
redução de custo em torno de 50% em custo parcial da medida colhida de R$ 2,44. quais serão levantados posteriormente com
relação à abanação manual. Contudo, é preciso considerar o custo da o café de repasse.
A colheita semimecanizada do café operação de repasse manual para colher
é atualmente uma alternativa viável e os frutos restantes com os que caíram no COLHEITA MECANIZADA E
possível de ser implantada na maioria das chão no ato da colheita, da ordem de 60 SELETIVA
lavouras cafeeiras, independentemente do medidas/hectare, a um custo de R$ 14,00/ Na colheita mecanizada, uma das di-
tamanho ou desenvolvimento tecnológico medida (valor médio praticado nas safras ficuldades encontradas pelos produtores é
da propriedade, associando mão de obra 2009 e 2010, já inclusos encargos sociais), determinar o momento adequado de iniciar
com máquinas de baixo custo inicial, aces- resultando em R$ 840,00/ha o custo do a colheita, bem como determinar a vibração
sível ao pequeno e médio produtor, sendo repasse manual. Isso eleva o custo final e a velocidade operacional mais adequada.
uma realidade técnica e economicamente da colheita no sistema mecanizado para O maior tempo ou intensidade de vibração
viável e socialmente equilibrada para as R$ 1.280,00/ha, o que corresponde ao valor aplicada ao cafeeiro influencia diretamente
regiões produtoras, com aumento do de- parcial de R$ 5,30/medida, com redução de o volume de frutos colhidos, mas também
sempenho operacional, suprindo a falta de custo em relação à colheita no manual da pode aumentar significativamente a des-
pessoal na época da colheita, valorizando ordem de 47%. Mesmo para os produtores folha, as lesões causadas nas plantas e a
o trabalhador rural com qualificação pro- que não dispõem da colhedora e fizeram a porcentagem de frutos verdes colhidos.
fissional e melhor remuneração, além de colheita com máquina alugada ao valor de De modo geral, a regulagem da vibração
possibilitar à cafeicultura familiar, maior R$ 200,00/hora, o custo da medida parcial e da velocidade operacional das colhedo-
margem de renda e sustentabilidade do foi de R$ 6,80, com redução de 32% em ras tem sido feita de modo empírico, por
processo produtivo. relação à colheita manual, sem considerar tentativas, buscando o maior desempenho
ainda benefícios indiretos, como fazer a co- operacional.
COLHEITA MECANIZADA lheita antecipada e mais rápida, desocupan- Para colher maior porcentagem de
do a planta mais cedo para o enfolhamento frutos cereja, é necessário ajustar a veloci-
Para os médios e grandes produtores,
e crescimento de ramos para a próxima dade e a vibração da colhedora, deixando
o sistema mecanizado de colheita tem sido
safra. De fato, o desempenho operacional a maioria dos frutos verdes na planta, o
largamente adotado, utilizando-se colhedo-
das colhedoras pode chegar a 80% - 90% que é feito variando a vibração de 650 a
ras automotrizes ou tracionadas por trato-
da carga pendente. Contudo, 10% a 20% 950 ciclos/minuto, conforme Silva et al.
res, que resultam em elevado desempenho dos frutos derriçados não recolhidos são (2002). Para Souza et al. (2005), o número
operacional com significativa redução de
custos. Trabalhos desenvolvidos por Silva
(2004) demonstraram que as colhedoras
colhem, em média, 55 medidas de café por
hora em lavouras típicas do Sul de Minas,
chegando a colher mais de 80 medidas/hora
em lavouras mais apropriadas, plantadas
em renque (0,5 a 1,0 m entre plantas) com
topografias mais favoráveis.
Para as colhedoras automotrizes
(Fig. 2), com valor médio de aquisição da
ordem de R$ 475.000,00, o custo hora é de
R$ 110,00/hora.
Considerando a mesma lavoura com
produção média de 30 sacas/hectare de café
beneficiado, com volume médio de 240
Fabio Moreira da Silva

medidas de 60 L de café em coco a ser co-


lhido por hectare, a operação mecanizada
necessitaria de, no máximo, 4 horas/hecta-
re, colhendo-se efetivamente em torno de
75% da carga pendente, o que representa
um volume de 180 medidas colhidas ao Figura 2 - Colhedora automotriz

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 2 , n . 2 6 1 , p . 5 2 - 6 5 , m a r. / a b r. 2 0 11

IA261.indb 56 25/5/2011 10:19:38


Produção de café: opção pela qualidade 57

de ciclos necessário ao desprendimento se comprovam na prática têm demonstra-


dos frutos é proporcional ao tempo de I = 850 / 1.000 → I = 0,85 do que com duas passadas da colhedora
desprendimento, sendo que o estádio de a eficiência de derriça chega a 97% da
maturação influencia este parâmetro. Dessa carga pendente. Dependendo do estádio de
Observa-se que as unidades de tempo
forma, para diminuir o desprendimento dos maturação dos frutos, colhe-se na primeira
da vibração e velocidade não são compa-
frutos verdes deve-se aumentar a veloci- passada de 30% a 50% da carga pendente
tíveis e nenhum coeficiente de correção
dade operacional, diminuindo, assim, o e, na segunda, que deve ocorrer 25 a 30
é considerado, o que teoricamente é
tempo de vibração. Esta prática caracteriza dias após, colhe-se praticamente o res-
incorreto, contudo não invalida o princí-
a colheita mecanizada. tante. Em lavouras com cargas pendentes
pio fundamental do referido índice, que
Muitos produtores já estão adotando a maiores, são aplicadas até três passadas
corresponde ao número de impactos que
colheita mecanizada com duas passadas da da colhedora, lembrando que as passadas
colhedora, buscando colher seletivamente a copa do cafeeiro recebe das varetas por
metro de deslocamento da colhedora. Ne- devem ser feitas sempre no mesmo sentido
maior volume de café no estádio cereja,
nhuma correção foi proposta, justamente de deslocamento, com o intuito de diminuir
eliminando a operação de repasse manual.
para atingir o objetivo maior de definir a quebra de galhos e ramos.
As dificuldades que esses produtores estão
um método prático, fácil de ser calculado Considerando estes resultados de
encontrando resumem-se em determinar o
e aplicado em campo, respeitando o lingua- pesquisa e que estão sendo replicados na
momento de iniciar a colheita e ajustar a
jar coloquial do pessoal de campo. Assim, prática pelos produtores, pode-se dizer
regulagem da colhedora para obter o de-
com a determinação do índice, seguem-se que o Brasil dispõe, atualmente, da mais
sejado desempenho operacional. Mediante
estas questões Silva, Carvalho e Silva as seguintes recomendações que norteiam avançada tecnologia de colheita mecani-
(2010) propõem um critério simples e prá- a regulagem das colhedoras: zada de café, sobretudo no que se refere à
tico para orientar a regulagem das colhe- colheita seletiva, fazendo mecanicamente e
a) o índice deve estar entre 0,5 e 1,0,
doras, denominado índice de regulagem. a baixo custo a colheita a dedo praticada na
valores abaixo e sobretudo acima
Este índice fundamenta-se nos parâ- Colômbia, que é prerrogativa de qualidade.
destes, demonstram uma regulagem
metros vibração e velocidade operacional, A Ufla, em parceria com a EPAMIG,
inadequada;
partindo do princípio que o processo de deu início a um trabalho de pesquisa em
b) índice entre 0,5 e 0,7 é indicativo de
desprendimento dos frutos de café ocorre 2007, para avaliar a eficiência de derriça
regulagem para colheita seletiva;
mediante a ação de varetas vibratórias que mecanizada e seletiva em oito progênies di-
adentram a copa dos cafeeiros, levando os c) índice entre 0,8 e 1,0 é indicativo de ferentes, buscando identificar aquelas mais
frutos a desprenderem-se pelo seu impacto regulagem para colheita plena. aptas ao processo de colheita mecanizada.
direto ou simplesmente pela ação da vi- Na colheita plena ou total o objetivo é Os experimentos foram conduzidos
bração sobre os ramos das plantas. Assim, retirar o máximo de frutos em uma única até 2009, na Fazenda Ouro Verde, no mu-
o volume de café derriçado é diretamente passada da colhedora, com eficiência mé- nicípio de Campos Altos, MG. Os ensaios
proporcional à intensidade de vibração dia de colheita de 75% e de derriça de 85% foram feitos em área de 3 ha, sobre oito
empregada. Por outro lado, a velocidade da carga pendente, restando 15% na planta progênies resistentes à ferrugem, oriundas
operacional é que determina o tempo de e 10% no chão. Para a colheita mais tardia do cruzamento entre ‘Catuaí’ e ‘Híbrido
exposição dos cafeeiros ao processo de é possível conseguir praticamente a derriça de Timor’, as quais estão sob pesquisa
vibração, dessa forma fica definido o índice para futuro lançamento no mercado. As
total dos frutos, tomando-se o cuidado de
de regulagem, como a seguir: progênies foram plantadas no espaçamen-
não deixar ocorrer perdas significativas
pela queda natural dos frutos secos. Em to de 4,0 x 0,9 m e caracterizadas como:
I = Vibração / Velocidade colheita tardia com até 5% de frutos verdes H1 (H-514-7-10-70); H2 (H-504-5-8-2);
na planta, com uma única passada da colhe- H3 (H-518-2-10-6); H4 (H-518-2-2-2);
em que: dora, a eficiência de colheita observada por H5 (H-518-3-6-4); H6 (H-514-7-16-8);
Silva et al. (2002) foi de 79%, com 16% de H7 (H-514-7-8-2); H8 (H-514-7-8-5).
I - índice de regulagem;
perdas de chão na colheita e 4% antes da Para a colheita mecanizada foi utilizada
Vibração das varetas – ciclo/minuto;
colheita, restando 1% de fruto não colhido. a colhedora K3. O Quadro 2 demonstra os
Velocidade operacional – metro/hora; Na colheita seletiva, o objetivo é colher resultados de eficiência da colheita sele-
O exemplo pode ser aplicado, consi- o máximo possível de frutos no estádio tiva das progênies, com duas passadas da
derando uma colhedora que opera com cereja, fazendo duas ou mais passadas da colhedora, com velocidade operacional de
vibração de 850 ciclos/min, em velocidade colhedora. Para cargas pendentes entre 6 1.300 metros/hora e vibração de 950 ciclos/
de 1 mil metro/hora. e 10 L/planta, resultados de pesquisa que minuto, índice de regulagem = 0,73.
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 2 , n . 2 6 1 , p . 5 2 - 6 5 , m a r. / a b r. 2 0 11

IA261.indb 57 25/5/2011 10:19:38


58 Produção de café: opção pela qualidade

QUADRO 2 - Carga pendente e eficiência de derriça mecanizada nas progênies avaliadas Na colheita mecanizada, a arruação se
Carga Eficiência de Eficiência de faz ainda mais necessária, por causa das
Vibração Velocidade
Progênies pendente derriça derriça total perdas que ocorrem nesse processo. Como
(ciclo/min) (m/h)
(L/planta) (%) (%)
na colheita mecanizada, a derriça dos frutos
Primeira passada 7/7/2009
se dá pela ação de varetas vibratórias que
H1 4,02 56,0 - adentram a copa dos cafeeiros. Pequena
H2 3,33 72,0 - quantidade desses frutos é lançada para
H3 4,03 47,0 - fora da colhedora. Este porcentual é difícil
H4 3,94 67,0 - de quantificar, mas não deve passar de 2%.
950 1300 O restante dos frutos derriçados cai sobre
H5 4,78 47,0 -
as lâminas recolhedoras e transportadoras,
H6 5,17 47,0 -
aonde ocorrem os maiores volumes de
H7 5,30 60,0 - perdas, outra parte fica retida na massa de
H8 5,02 50,0 - galhos e folhas, caindo ao chão após a pas-
Segunda passada 5/8/2009 sagem da colhedora. Como as colhedoras
H1 1,09 33,0 89,0 não conseguem colher a totalidade da carga
H2 1,66 21,0 93,0
pendente, restam nos cafeeiros até 15% de
frutos, que estarão sujeitos à queda natural
H3 2,06 34,0 81,0
até serem colhidos, em operação de repas-
H4 1,63 19,0 86,0
950 1300 se. Em resumo, as perdas caracterizam-se
H5 2,52 38,0 85,0 por frutos que caem no chão, antes, durante
H6 1,80 33,0 80,0 ou após a colheita.
H7 1,92 29,0 89,0 Com o objetivo de determinar as cau-
H8 1,99 34,0 84,0 sas das perdas de frutos pela colhedora de
FONTE: Silva et al. (2009). café, trabalho de pesquisa foi conduzido
por Souza (2009), na Fazenda Conquista,
do Grupo Ipanema Coffees, em Alfenas,
Considerou-se, como eficiência de pela maior ou menor carga pendente. Este MG. Os ensaios foram realizados nas sa-
derriça, todo o volume retirado das plantas comportamento demonstra a maior ou fras 2008 e 2009, em lavouras da cultivar
em relação à carga pendente. Na primeira menor facilidade que as progênies apre- Acaiá, com 10 anos de idade, espaçamento
passada, a maior eficiência de derriça sentaram em relação à colheita, destacando de 3,8 x 0,6 m e da cultivar Icatu, espaça-
ocorreu para a progênie H2 com 72%. as progênies H1, H2 e H7, como as mais mento 3,8 x 0,75 m. Ambas as lavouras
Resultado similar foi encontrado por Silva aptas à colheita mecanizada. foram plantadas em terreno com declivi-
et al. (2010). Com duas passadas, a maior dade de 8%.
eficiência de derriça total também ocorreu PERDA DE COLHEITA Para os ensaios, utilizou-se a colhedora
para a progênie H2, sendo de 93%. Esta efi- automotriz modelo K3 Mileniun. O sistema
Uma das questões a ser tratada e
ciência de derriça, na colheita seletiva com recolhedor da colhedora é constituído de
analisada é a perda de frutos que ocorre
duas passadas pode ser considerada eleva- lâminas retráteis que estão distribuídas
no período de colheita, denominada café
da, estando muito próxima dos resultados nos dois lados do recolhedor (Fig. 3),
obtidos por Oliveira (2006), que alcançou de chão. Esta perda ocorre em diferentes
com inclinação para os transportadores
97,64% sobre lavoura da cultivar Acaiá. etapas, iniciando com a queda natural dos horizontais, mantidos em posição fechada
A menor eficiência de derriça total frutos secos antes da colheita, da ordem de por molas, que permitem a abertura e o
ocorreu na progênie H6, com 80%, sendo 2% a 3%, que, pelo contato com a umidade envolvimento dos troncos dos cafeeiros,
a que apresentou a menor eficiência na do solo, perdem a qualidade, razão de fazer à medida que a colhedora se desloca. O
primeira passada. Observa-se ainda que, a colheita manual sobre panos ou no chão transportador horizontal é uma esteira de
na primeira passada, as menores eficiências após a arruação. A arruação é a operação grades, que tem a função de transportar os
de derriça ocorreram nas progênies H3, de limpeza do chão sob a projeção dos frutos para o transportador vertical e para
H5 e H6, com 47%. Estas apresentaram cafeeiros, retirando cisco, folhas e, princi- o sistema de limpeza.
cargas pendentes distintas que variaram de palmente, frutos de baixa qualidade, para Assim, o maior volume de perdas
4,03 a 5,17 L/planta, demonstrando que a não se misturarem com os colhidos de boa ocorre neste sistema recolhedor, tanto por
eficiência de derriça não foi influenciada qualidade. frutos que caem pelos vãos abertos entre
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 2 , n . 2 6 1 , p . 5 2 - 6 5 , m a r. / a b r. 2 0 11

IA261.indb 58 25/5/2011 10:19:38


Produção de café: opção pela qualidade 59

as lâminas retráteis, quanto no final do


transportador horizontal com o descarte
de folhas e ramos. Para reduzir as perdas
nos transportadores horizontais, existem
os batedores de folhas, que têm a função
de auxiliar a separação dos frutos da massa
de folhas e ramos (Fig.4).
A colheita foi realizada mantendo a
vibração em 950 ciclos/min e variando a
velocidade operacional. As perdas foram
determinadas medindo-se o volume de
frutos caídos sobre os panos em relação
ao volume de frutos derriçados, que é o
total que a colhedora retirou das plantas.
O Quadro 3 demonstra os resultados das
perdas totais do sistema de recolhimento. Figura 3 - Recolhedor de lâminas e transportador horizontal
Observa-se que as perdas aumentaram FONTE: Souza, (2009).
gradativamente com o aumento da velo-
cidade, variando de 7,5% a 20,5%, com
média de 13,5%.
As perdas também foram avaliadas
individualmente para os transportadores
horizontais, conforme Quadro 4, variando
as velocidades do transportador e corre-
lacionando com a leitura de rotação do
monitor eletrônico JSM K-3, 40, 55, 100
e 155 rpm no monitor.
Verifica-se que as perdas no transporta-
dor horizontal aumentam com a velocidade
operacional, com média de 5,26%. Sendo
as perdas médias totais de 13,47%, e a per-
da média das lâminas retráteis de 8,21%,
isso demonstra onde ocorrem as maiores
perdas do sistema de recolhimento. Com
relação ao transportador horizontal, a ve-
locidade de 3.420 m/h apresentou a menor
perda média de 3,62%. Para a velocidade
Figura 4 - Batedores de folhas do transportador horizontal
operacional de 1.600 m/h, sendo a mais
FONTE: Souza (2009).
recomendada para colheita seletiva, com
duas passadas da colhedora, a perda média
de frutos nos transportadores horizontais QUADRO 3 - Perdas das colhedoras e velocidade operacional
foi de 2,86% e a perda média total de Perdas de frutos
11,12%. Velocidade operacional (%)
(m/h)
O maior volume de perdas ocorre nas Acaiá Icatu Média
lâminas retráteis, e estas perdas podem 1.000 6,97 7,91 7,44
aumentar ainda mais em lavouras desali-
1.600 12,03 10,20 11,12
nhadas, lavouras com mais de uma planta
2.000 15,36 14,45 14,91
por cova ou plantas com mais de um ramo
principal, as quais forçam maior abertura 2.500 17,93 22,92 20,42
das lâminas. Outro fato importante a ser - 13,07 13,87 13,47
observado é o deslocamento da colhedora FONTE: Souza (2009).

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 2 , n . 2 6 1 , p . 5 2 - 6 5 , m a r. / a b r. 2 0 11

IA261.indb 59 25/5/2011 10:19:40


60 Produção de café: opção pela qualidade

QUADRO 4 - Perdas no transportador horizontal mecanizado do café de chão, utilizando re-


Velocidade do colhedora pneumática com mecanismo de
1.368 1.692 3.420 5.400
transportador (m/h) dedos retráteis. Os experimentos foram de-
Média
Leitura monitor JSM 40 55 100 155
(%) senvolvidos na Fazenda Mata do Salgado,
Velocidade operacional Perdas em Carmo do Paranaíba, MG, em lavoura
(m/h) (%) Catuaí de 8 anos, plantada no espaçamento
1.000 2,73 A 1,89 A 0,98 A 1,83 A 1,85 A de 3,8 x 0,5 m, irrigada via gotejamento. A
1.600 3,92 A 3,27 A 2,86 B 3,20 A 3,31 B colheita foi mecanizada com três passadas,
não sendo realizado o repasse manual. A
2.000 7,72 B 7,08 B 4,06 B 5,64 B 6,12 C
operação de recolhimento do café de chão
2.500 12,05C 10,60 C 6,60 C 9,89 C 9,78 D
foi realizada com a recolhedora pneumá-
Média (%) 6,60 c 5,71 b 3,62 a 5,14 b 5,26 tica modelo Dragão Eco Solução (Fig.5),
CV (%) 20,59 cujo captador possui novo sistema com
FONTE: Souza (2009). dedos retráteis, para retirar o excesso de
NOTA: Médias seguidas de mesma letra não diferem significativamente. Letras minúsculas folhas e galhos. A recolhedora operou aco-
na linha e maiúsculas na coluna.
plada a um trator cafeeiro, modelo BF75.
O recolhimento mecanizado foi realizado
mais centralizado possível em relação à operações preliminares de sistematização, em diferentes velocidades operacionais,
linha de plantio. É importante observar, corrigindo certas irregularidades do terreno conforme escalonamento de marchas do
antes de iniciar a operação diária de co- e triturando a massa de ciscos. trator. A eficiência de recolhimento foi
lheita, se as lâminas estão fechando corre- Conforme Silva et al. (2009), em traba- calculada em função do volume de café
tamente e, ao sair da linha de colheita, se lho que utiliza a recolhedora pneumática, recolhido mecanicamente, em relação ao
há alguma lâmina quebrada ou enroscada a eficiência média de recolhimento foi de volume médio de café caído no chão ou
em posição aberta. Em caso positivo, faz- 89,5% dos frutos caídos no chão, operando recolhido no sistema manual.
se a substituição da lâmina e/ou da mola. em velocidades entre 1.600 e 2.400 m/h. O Quadro 5 mostra os resultados, com o
Para o transportador horizontal, as menores Trabalho semelhante foi desenvolvido por volume médio de café caído no chão antes
perdas ocorreram para a leitura de 100 rpm Silva, Carvalho e Silva (2010), com objeti- do recolhimento, de 122,30 medidas/ha,
no monitor eletrônico. vo de avaliar novo sistema de recolhimento e o volume de folhas, ramos e galhos, de

RECOLHIMENTO DO CAFÉ
DE CHÃO
O recolhimento do café de chão é uma
realidade crescente na cafeicultura, sobre-
tudo pelo aumento do uso das colhedoras,
cujas perdas de chão variam de 7% a 22%,
com média de 14%, independentemente
do modelo da colhedora, conforme dados
anteriormente apresentados. A forma
convencional de fazer o recolhimento do
café de chão, ainda é a manual. Contudo,
pelas dificuldades que os produtores estão
encontrando por falta de mão de obra, a
busca pela operação mecanizada de reco-
lhimento é imperativa.
Segundo Silva (2004), máquinas com
diferentes sistemas de recolhimento estão
disponíveis no mercado, com eficiência
muito variável em função das condições do
terreno, tipo e quantidade de ciscos, como Figura 5 - Recolhedora pneumática
folhas, ramos e galhos, necessitando de FONTE: Silva, Carvalho e Silva (2010).

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 2 , n . 2 6 1 , p . 5 2 - 6 5 , m a r. / a b r. 2 0 11

IA261.indb 60 25/5/2011 10:19:40


Produção de café: opção pela qualidade 61

QUADRO 5 - Desempenho operacional e custos do recolhimento mecanizado e manual do café de chão


Eficiência de Tempo efetivo Tempo total com
Velocidade Volume recolhido Custo total Redução de custos
recolhimento recolhimento manobra
(m/h) (1)
(medida/ha) (R$/ha) (%)
(%) (h/ha) (h/ha)
1.218 112,84 89,10 4,32 5,26 372,33 56,20
1.898 107,31 84,62 2,77 3,71 263,04 69,05
2.169 94,27 71,37 2,43 3,36 238,22 71,97
2.459 93,79 66,81 2,14 3,08 218,37 74,30
Manual 122,30 100,00 136,00 - 850,00 -
(1)Medida volumétricas de 60 litros.
FONTE: Silva, Carvalho e Silva (2010).
NOTA: Tempo médio de cada manobra: 1h5.

20 L/planta. No recolhimento manual, o custo viável ocorreu na velocidade de qual é dividida em 11 microrregiões, com
tempo foi de 136 h/ha (varrição e abana- 1.869 m/h, ao custo parcial da medida reco- 156 municípios. Essa região possui uma
ção), necessitando de 17 diárias ao custo lhida de R$2,45, contra o custo de R$6,95 população total de 2.649.425 habitantes.
de R$ 50,00, resultando em R$ 850,00/ha. no recolhimento manual. Demonstrando Desse total, 2.064.726 correspondem à
O custo/hora do conjunto para o recolhi- que o novo sistema de dedos retráteis da população urbana e, 486.249, à população
mento do café de chão foi de R$70,90/h. recolhedora pneumática apresentou ele- rural, que representa apenas 18,3% da re-
No custo total de recolhimento está inclu- vada eficiência operacional e viabilidade gião, onde a agricultura ainda é a atividade
ído o custo/hora/máquina com operador, econômica, para o recolhimento do café econômica mais forte, capitaneada pela
mais o custo da operação manual de de chão em lavouras com excesso de cisco. cafeicultura e pela produção de leite.
revolvimento do cisco (duas diárias por Os dados de altimetria foram adqui-
hectare). O volume recolhido manualmente POTENCIALIDADE DE ridos por meio do levantamento Shuttle
foi de 122,30 medidas/hectare, com índice MECANIZAÇÃO DA Radar Topography Mission (SRTM) da
de impurezas de 10%. CAFEICULTURA DO SUL DE NASA, com uma resolução espacial de
MINAS
Na colheita mecanizada, para a ve- 90 m. A partir da modelagem digital de
locidade de 1.218 m/h, a eficiência de O diagnóstico da cafeicultura do Sul elevação executada, foi obtida a altimetria
recolhimento foi de 89,10%, com custo e Sudoeste de Minas Gerais, conforme da região, sendo efetuada, na sequência, a
de R$ 372,33/ha, contra R$ 850,00/ha Faemg (1996), registra que 57% da mão de confecção do mapa temático de declivi-
na operação manual, com redução de obra da cafeicultura ocupa-se do serviço dade, com os respectivos fatiamentos em
custo de 56,20%. Para a velocidade de de colheita e preparo. Por outro lado, dados classes de declive para as operações de
1.869 m/h a eficiência foi de 84,62%, do IBGE (2008) demonstram que, a cada mecanização agrícola. Por meio desta me-
com custo de R$ 263,04/ha e redução ano, a população rural torna-se menor. todologia foi possível a caracterização da
de 69,05%. Para velocidades maiores, a Neste contexto, por meio de sistema de região do Sul de Minas Gerais, ressaltando
redução de custo foi maior, mas não se informação geográfica, foi feito o mape- o comportamento das áreas em relação às
justificou mediante a perda de eficiência. amento das lavouras cafeeiras na região classes de declividade. O Quadro 6 apre-
O recolhimento mecanizado demonstrou Sul/Sudoeste de Minas Gerais, gerando senta a escala de aptidão de mecanização
viabilidade econômica, mesmo quando se gráficos com as delimitações das áreas pos- agrícola adotada em função das classes
considera a perda de receita pelo volume síveis de ser mecanizadas, considerando, de declive.
não recolhido mecanicamente, de 9,5 e 15 para as operações mecanizadas de manejo, Os dados de declive advindos do levan-
medidas/hectare nas velocidades de 1.218 a declividade de até 20% e, para a colheita tamento SRTM foram comparados com os
e 1.869 m/h, com possíveis e respectivas do café, declividade de até 15%. dados do levantamento do IBGE para uma
receitas da ordem de R$ 354,00 e 562,00, A área de estudo abrangeu a região Sul área conhecida do município de Machado.
sendo que a redução de custo foi maior que e Sudoeste do estado de Minas Gerais, O objetivo desta comparação foi validar e
a perda de receita. onde a vocação agrícola baseia-se nas ati- ter a dimensão da confiabilidade do banco
Observa-se que a maior eficiência vidades agropecuárias, com destaque para de dados que foi utilizado neste estudo. Os
operacional ocorreu na velocidade de a cafeicultura em pequenas e médias pro- dados de declive, advindos do IBGE, foram
1.218 m/h, com custo parcial da medida priedades, em sua grande maioria pequenas adquiridos em projeto desenvolvido por
colhida de R$ 3,30, e a maior redução de cidades, emolduradas em montanhas, a Moura (2007), junto ao software Spring,
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 2 , n . 2 6 1 , p . 5 2 - 6 5 , m a r. / a b r. 2 0 11

IA261.indb 61 25/5/2011 10:19:40


62 Produção de café: opção pela qualidade

QUADRO 6 - Classes de declive em relação à mecanização lavouras cafeeiras na área de estudo, sendo
Classes de declive que 355.012 ha são lavouras com declivi-
Mecanização
(%) dade de até 20%, possibilitando o manejo
mecanizado, o que representa 81% das
0- 5 Extremamente apta
lavouras. E 290.126 ha são lavouras com
5- 10 Muito apta até 15% de declividade, o que representa
10-15 Apta 66,74% de lavouras aptas a serem colhidas
15-20 Moderadamente apta mecanicamente. Estes resultados demons-
tram que diferentemente da conotação que
>20 Não recomendada
se dá ao Sul/Sudoeste de Minas Gerais, de
FONTE: Rezende (2008).
região montanhosa, a maioria das áreas é
apta ou muito apta à mecanização agrícola.
Quando se considera a cafeicultura
para o município de Machado. Para a com- de áreas classificadas como aptas de serem
da região com declividade de até 20%,
paração, foi feito um recorte na imagem mecanizadas, ou seja, com menos de 20%
o dimensionamento potencial do parque
do município de Machado, utilizando-se de declividade, que representa 78,1% da
de máquinas pode chegar a 7.100 tratores
pixel de 30 x 30 m e calculando-se, poste- região do Sul e Sudoeste de Minas Gerais.
cafeeiros e, mesmo considerando as de-
riormente, o coeficiente de correlação entre O Gráfico 2 apresenta os resultados das
clividades de apenas 15%, o potencial de
os dados do SRTM e IBGE. áreas ocupadas por lavouras cafeeiras na colhedoras de café é de 1.160 unidades,
A aquisição do mapeamento das áreas região Sul/Sudoeste de Minas Gerais, em quando se trata de fazer a colheita com uma
cafeeiras da área de estudo foi feita no função das classes de declive. Os resulta- única passada da colhedora, pode chegar
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais dos obtidos do cruzamento das áreas de a 1.900 unidades, quando se trata de duas
(Inpe), sendo, assim, possível determinar
lavouras cafeeiras interpretadas pelo Inpe, passadas em colheita seletiva. Estes núme-
o posicionamento das lavouras cafeeiras
com a classe de declividades da região, ros demonstram a grande potencialidade de
nessa região.
demonstram um total de 434.230 ha de expansão do sistema mecanizado, diante da
Os resultados obtidos de declividade
possibilitaram a comparação do fatiamen-
to das classes de declividade, do banco
de dados (SRTM) com o fatiamento das
classes de declividade, segundo os dados
do IBGE. Os dados da cena das classes de
declive, obtidos do IBGE para o município
de Machado, sofreram discreta diferença,
quando comparados com os dados do
SRTM. A análise de correlação estatística
entre os dois bancos de dados comparados
resultou em (R²=0,99), demonstrando a
qualidade de ambas as fontes e validando
a utilização da base de elevação SRTM
para este estudo.
A Figura 6 ilustra a caracterização das
classes de declividade em porcentagem
para a região do Sul e Sudoeste de Minas
Gerais. As classes foram fatiadas de 0% a
40%, em intervalos de 5% e o Gráfico 1
demonstra o resultado da distribuição, em
hectares, das áreas territoriais da região
do Sul/Sudoeste de Minas Gerais, em
função da classe de declividade, totali- Figura 6 - Declividade (%) para o Sul/Sudoeste de Minas Gerais
zando 6.200.595 ha, com 4.840.735,7 ha FONTE: Rezende (2008).

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 2 , n . 2 6 1 , p . 5 2 - 6 5 , m a r. / a b r. 2 0 11

IA261.indb 62 25/5/2011 10:19:44


Produção de café: opção pela qualidade 63

é a terceirização do serviço em parte de


1.800.000 sua lavoura, por não necessitar de elevado
1590135.3
Áreas do Sul de Minas Gerais (ha)

1.600.000 investimento inicial, além de contar com


1478673.6
1.400.000 a experiência do prestador, sobretudo na
1.200.000
regulagem da colhedora e ainda poder
preparar aos poucos sua estrutura e equipe
1.000.000 879190.2 892736.6
de pós-colheita para se adequar ao novo
800.000
sistema, sem contar a total despreocupação
600.000 514852.2 com revisão, manutenção ou conserto de
400.000 314072.0 máquinas.
200365.6 202423.8
200.000 128147.6 O ponto mais importante que o produ-
0 tor deve considerar ao contratar o serviço
5 10 15 20 25 30 35 40 ,73 mecanizado de colheita é a elaboração do
0a 5a 10
a
15
a
20
a
25
a
30
a
35
a
235
a
40 contrato, estabelecendo o preço, a data de
Declividade (%) início e o prazo de execução do trabalho,
lembrando que os prestadores, em geral,
Gráfico 1 - Fatiamento das áreas do Sul/Sudoeste de Minas Gerais, por classe de decli- trabalham efetivamente no mínimo 15 ho-
vidade
ras por dia, o que corresponde a um volume
FONTE: Rezende (2008).
médio diário de café colhido da ordem
de 900 medidas ou 54 mil litros, a serem
recebidos na estrutura de pós-colheita,
terreiros e secadores.
140.000 129845,56
120.000 112837,37 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Lavoura cafeeira (ha)

100.000 Estes estudos apresentados são um


80.000 exemplo claro da evolução da mecaniza-
64886,06
ção na cafeicultura, que rapidamente vem
60.000
47443,25 transformando o processo produtivo do
40.000 35313,31
café, por meio de inovações tecnológicas
19665,18
20.000 10928,37 7662,18 que foram desenvolvidas e introduzidas,
6140,93
0 sobretudo nesses últimos 15 anos, aten-
5 10 15 20 25 30 35 40 >4
0 dendo não só o agricultor familiar, mas
0a 5a 10
a
15
a
20
a
25
a
30
a
35
a
também os médios e grandes produtores,
Declividade (%) o que coloca o Brasil como expoente em
tecnologia de ponta na cafeicultura. Esta
Gráfico 2 - Distribuição das áreas ocupadas por lavouras cafeeiras por classe de decli- evolução pode ser notada, quando se avalia
vidade
o trabalho Mecanização da Colheita do
FONTE: Rezende (2008).
Café (SILVA; CARVALHO; SALVADOR,
1997), com conteúdo mais descritivo e
necessidade de suprir a baixa disponibili- Outra questão que deve ser considerada menos metodológico sobre o assunto. A
evolução tecnológica não fica restrita ao
dade de mão de obra. Ainda, com relação às na evolução do processo de mecanização
processo de colheita, devendo-se consi-
lavouras, é preciso considerar que o estudo da cafeicultura da região é a crescente
derar ainda as mudanças no processo de
não levou em conta a questão do espaça- terceirização dos serviços em especial da
plantio, cultivo, tratamento fitossanitário,
mento de plantio, o que também é um fator colheita, seja de grupos de apanhadores poda, adubação, etc., operações em que
limitante ao uso da mecanização, porém, com derriçadores portáteis, ou prestadores a mecanização vem avançando sobre um
sabe-se que o predominante na região são com colhedoras automotrizes e/ou reco- cenário crescente de demanda, onde o
lavouras em espaçamento regulares de 3,5 lhedoras. No caso das colhedoras, o mais cafeicultor assume o papel de gestor de
a 4,0 m entrelinhas, que possibilitam o uso prudente e recomendado aos produtores operações agrícolas e não simplesmente
do trator e da colhedora. que querem iniciar na colheita mecanizada de produtor.
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 2 , n . 2 6 1 , p . 5 2 - 6 5 , m a r. / a b r. 2 0 11

IA261.indb 63 25/5/2011 10:19:44


IA261.indb 64 25/5/2011 10:19:45
Produção de café: opção pela qualidade 65

REFERÊNCIAS ral de Lavras, Lavras, 2007. _________; _________; SILVA, A.C. Meca-
nização da colheita do café. In: SIMPÓSIO
BALASTREIRE, L. A. Gerenciamento OLIVEIRA, E. Colheita mecanizada do café
MECANIZAÇÃO DA LAVOURA CAFEEI-
de operações agrícolas mecanizadas. In: em maiores velocidades operacionais.
RA, 1., 2010, Três Pontas. Anais... Lavras:
_________. Máquinas agrícolas. São Paulo: 2006. 92p. Dissertação (Mestrado em Enge-
UFLA, 2010. p.50-65.
Manole, 1987. p.30-61. nharia Agrícola) – Universidade Federal de
Lavras, Lavras, 2006. __________. et al. Avaliação da colheita me-
FAEMG. Diagnóstico da cafeicultura em canizada e seletiva do café. In: CONGRES-
Minas Gerais. Belo Horizonte, 1996. 50p. REZENDE, F.A. Determinação das áreas ca- SO BRASILEIRO DE PESQUISAS CAFEEI-
Relatório de Pesquisa. feeiras mecanizáveis no Sul de Minas Ge- RAS, 28., 2002, Caxambu. Anais... Rio de
rais, com cenários para a colheita. 2008. Janeiro: MAPA-PROCAFÉ, 2002. p.150-152.
FIGUEIREDO, C.A.P. de Estudo comparati-
94p. Dissertação (Mestrado em Engenharia __________. et al. Avaliação do sistema de
vo entre o custo horário de diferentes fai-
Agrícola) – Universidade Federal de Lavras, recolhimento mecanizado do café. In: CON-
xas de potência de tratores agrícolas. 2007.
Lavras, 2008. GRESSO BRASILEIRO DE PESQUISAS CA-
30p. Monografia (Graduação em Engenha-
ria Agrícola) – Universidade Federal de La- SILVA, F.C. et al. Variedades de café aptas FEEIRAS, 35., 2009, Araxá. Anais... Rio de
a colheita mecanizada. In: SIMPÓSIO ME- Janeiro: MAPA-PROCAFÉ, 2009.
vras, Lavras, 2007.
CANIZAÇÃO DA LAVOURA CAFEEIRA, 1., SOUZA, C.M.A. de et al. Desenvolvimento
IBGE. População – contagem população.
2010, Três Pontas. Anais... Lavras: UFLA, de uma máquina vibradora para estudo do
Rio de Janeiro, [2008]. Disponível em:
2010. p.36-49. desprendimento de frutos do cafeeiro. En-
< f t p : / / f t p . i b g e . g o v. b r / c o n t a g e m _ d a _
genharia Agrícola, Viçosa, MG, v.13, n.1,
população_2007>. Acesso em: 1 set 2008. SILVA, F. M. da. Colheita mecanizada e se-
p.7-18, jan./mar. 2005.
letiva do café. Lavras: UFLA: FAEPE, 2004.
MOURA, L. do. C. A ocupação espaço-tem- SOUZA, J.C.S. Determinação de perdas
75p.
poral dos cafezais no município de Macha- de frutos nos mecanismos recolhedor e
do, no Sul de Minas: a relação entre aptidão __________; CARVALHO, G.R.; SALVADOR, transportador de colhedoras de café. 2009.
agrícola da terra e seu uso na atividade cafe- N. Mecanização da colheita do café. Infor- 62p. Dissertação (Mestrado em Engenharia
eira. 2007. 127p. Tese (Doutorado em Solos me Agropecuário. Qualidade do Café, Belo Agrícola) – Universidade Federal de Lavras,
e Nutrição de Plantas) – Universidade Fede- Horizonte, v.18, n.187, p.43-54, 1997. Lavras, 2009.

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 2 , n . 2 6 1 , p . 5 2 - 6 5 , m a r. / a b r. 2 0 11

IA261.indb 65 25/5/2011 10:19:46


66 Produção de café: opção pela qualidade

Processamento e qualidade do café


Marcelo Ribeiro Malta 1

Resumo - Dentre várias operações agrícolas que desempenham papel fundamental na


produção de café, destaca-se o preparo ou o processamento, porque é uma operação
que influencia diretamente o aspecto e a qualidade final do produto. O café pode ser
preparado por via seca e via úmida. Por via seca, o fruto é seco na sua forma integral,
dando origem aos cafés naturais ou em coco, enquanto por via úmida, o café pode ser
descascado, despolpado ou desmucilado, originando os cafés em pergaminho. São
apresentadas as diferentes formas de preparo, atualmente utilizadas na pós-colheita do
café, e as implicações de cada uma delas na qualidade do café.

Palavras-chave: Coffea arabica. Pós-colheita. Café natural. Café despolpado. Café


desmucilado. Café descascado.

INTRODUÇÃO b) disponibilidade de capital; MARÃES, 1997; PEREIRA; VILELLA;


c) tecnologia e equipamentos; ANDRADE, 2002; MALTA; CHAGAS;
As características iniciais da matéria-
CHALFOUN, 2008; MALTA; CHAGAS,
prima como estádio de maturação, d) exigências do mercado consumidor
2010).
composição química, teor de umidade quanto às características do produto;
e propriedades físicas são parâmetros a e) outorga para uso de água; RECEPÇÃO, ABANAÇÃO E
ser considerados em qualquer processo
f) disponibilidade de tecnologia para LAVAGEM DO CAFÉ
pós-colheita de produtos agrícolas, prin-
tratamento das águas residuárias. Independentemente do processo de
cipalmente no caso do café que varia
muito durante a colheita. Por ter maturação Assim, pode-se dizer que três aspectos colheita utilizado, os frutos do cafeeiro
desuniforme, o café colhido é uma matéria- são fundamentais na escolha do método de devem ser processados e esparramados no
prima heterogênea, a qual pode apresentar processamento do café: a relação custo/ mais curto tempo possível, jamais ficando
diferenças marcantes na anatomia, compo- benefício do método de processamento; a amontoados ou nas carretas aguardando a
sição química e no teor de umidade. Além necessidade de atendimento à legislação descarga, pois as condições de umidade e
disso, a composição em açúcares da polpa ambiental e o padrão de qualidade desejado temperatura existentes na massa de café
do fruto cereja caracteriza-o como perecí- (BORÉM, 2008). constituem fator altamente favorável ao
vel, devendo ser processado rapidamente Depois de colhido, o café pode ser desenvolvimento de microrganismos
e em condições higiênicas. Os defeitos preparado por via seca e via úmida. Por via que aceleram o processo fermentativo
originados na pré-colheita podem ser seca, o fruto é seco integral (com casca), (MALTA, 2010). Segundo Brando (2004),
intensificados, se não forem empregadas dando origem aos cafés denominados coco, os frutos recém-colhidos não deverão
técnicas eficientes no preparo pós-colheita de terreiro ou naturais. O preparo por via ser armazenados em sacos ou silos por
do café (CHALFOUN; CARVALHO, úmida consiste na retirada da casca, polpa períodos superiores a 8 horas, pois, além
1997; VILELA; PEREIRA, 1998). e/ou mucilagem do fruto maduro, que são dos riscos de fermentação, a temperatura
A escolha do método de processamen- substratos propícios ao desenvolvimento poderá atingir valores superiores a 40 ºC
to do café é decisiva na rentabilidade da de microrganismos que podem provocar a e, assim, formar o defeito ardido. Borém
atividade cafeeira e dependerá de diversos ocorrência de fermentações prejudiciais à (2008) ressalta que, após a colheita, o
fatores, tais como: qualidade final do produto (CARVALHO; café deve seguir imediatamente para o
a) condições climáticas da região; CHALFOUN, 1985; BARTHOLO; GUI- processamento, evitando o armazenamento

Engo Agro, Dr., Pesq. EPAMIG Sul de Minas-EcoCentro/Bolsista FAPEMIG, Caixa Postal 176, CEP 37200-000 Lavras-MG. Correio eletrônico:
1

marcelomalta@epamig.ufla.br

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 2 , n . 2 6 1 , p . 6 6 - 7 5 , m a r. / a b r. 2 0 11

IA261.indb 66 25/5/2011 10:19:46


Produção de café: opção pela qualidade 67

dos frutos úmidos, diminuindo, assim, os Apresentam um sistema mecânico para a diferentes, estas duas frações deverão ser
riscos de perda de qualidade, ocorrência movimentação do café e para a recircula- secadas separadamente, para que se obte-
de fungos e micotoxinas. ção da água, duas saídas frontais e uma nha um produto final mais uniforme e de
A recepção do café deve ser realizada saída lateral. Os lavadores mecânicos melhor qualidade.
preferencialmente em moegas, que podem apresentam baixo consumo de água, entre
ser construídas em chapa metálica ou 0,3 e 1,0 L, por litro de café. A diferença PREPARO DO CAFÉ NATURAL
alvenaria, sendo que estas devem estar entre os lavadores mecânicos atuais e os (VIA SECA)
localizadas acima do lavador com uma lavadores conhecidos como maravilha A produção de café natural é o modo
inclinação que favoreça a movimentação deve-se ao fato de que, neste último, grande mais antigo e mais simples de processar o
dos frutos por gravidade, o que dispensa parte da água é utilizada para o transporte café recém-colhido e consiste em submetê-
o uso de transportadores mecânicos e mão do café, enquanto, no primeiro, é feito lo à secagem na sua forma integral, ou seja,
de obra. mecanicamente. sem a retirada da casca. É largamente usado
A abanação é o processo que consiste A separação dos frutos é feita pela nas condições tropicais onde há uma esta-
na retirada de impurezas leves, como diferença de densidade durante o processo ção seca característica durante o período de
folhas e gravetos que porventura estão de lavagem, dependendo dos diferentes colheita, sendo o método predominante no
presentes na massa de grãos por ocasião da estádios de desenvolvimento ou dos dife- processamento do café do Brasil. Apesar de
colheita. Esta operação pode ser manual ou rentes teores de umidade. Assim, a fração ser conhecido como via seca, a terminolo-
mecânica. A abanação manual é realizada constituída por frutos verdes e cerejas, gia mais adequada deveria ser café natural,
por meio de peneiras ainda na lavoura, e a por serem mais pesados, afunda na água pois, além de evitar a imagem pejorativa
mecânica é realizada por abanadores me- saindo por uma bica do lavador e recebe para o café brasileiro, usada no exterior, de
cânicos, móveis ou estacionários, podendo simplesmente a denominação cereja. A café não lavado, trata-se do processo que
ser realizada tanto por sucção como por outra fração correspondente a frutos passas menos afeta a condição natural do café,
insuflação de ar gerada por ventiladores. e secos, que são mais leves e não afundam, pois todas as suas partes constituintes são
A abanação mecânica também é realizada recebe a denominação boia, e sai por outra mantidas, possibilitando a obtenção da be-
por equipamentos que estão localizados bica. Por apresentarem tempos de secagem bida que tornou o café internacionalmente
abaixo da moega de recepção, onde é reali- conhecido. Além disso, é o processo que
zada a remoção de impurezas, em peneiras menos agride o meio ambiente, pois pro-
vibratórias. duz poucos resíduos sólidos e líquidos,
A próxima operação a ser realizada não havendo a produção de efluentes com
após a recepção e abanação é a lavagem do elevado teor de matéria orgânica (MO)
café. O lavador é uma das estruturas mais (BORÉM, 2004).
importantes na fase de preparo do café, Na secagem do café natural, a casca
uma vez que proporciona a separação não do fruto, que no início da secagem era de
só das impurezas mas também dos frutos coloração vermelha ou amarela (depen-
nos seus diferentes estádios de maturação dendo da cultivar empregada) torna-se
(Fig. 1). escura, formando o conhecido café em
A lavagem proporciona uma pré-lim- coco (Fig. 2).
peza do produto ao separar as impurezas, Nessa forma de preparo, não é possível
aumentando consequentemente a vida útil obter uma secagem uniforme, resultando
dos secadores e máquinas de beneficiar em lotes com frutos secos com diferentes
por diminuir a abrasão, excluindo pedras, teores de umidade, o que é prejudicial à
terras, folhas e paus que vêm da lavoura qualidade. Assim, torna-se evidente que a
com os frutos colhidos. qualidade final do café beneficiado poderá
A lavagem deve ocorrer no mesmo dia ser afetada especialmente quando o café
da colheita do café. É importante nunca for colhido por derriça, mantendo-se a
deixar o café amontoado para ser lavado mistura dos cafés verdes, maduros e secos,
no dia seguinte. resultando em lotes de bebidas duras ou fe-
Os lavadores mecânicos, construídos Figura 1 - Lavagem e separação do café nicadas. A colheita seletiva, a separação do
com chapa metálica, são formados por no lavador café e a secagem bem conduzida poderão
duas caixas d’água interligadas no fundo. FONTE: Revista Campo & Negócios (2007). produzir cafés de boa qualidade.
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 2 , n . 2 6 1 , p . 6 6 - 7 5 , m a r. / a b r. 2 0 11

IA261.indb 67 25/5/2011 10:19:47


68 Produção de café: opção pela qualidade

Fotos: Marcelo Ribeiro Malta


A B
Figura 2 - Café preparado via seca (café natural)
NOTA: A - Café cereja; B - Café em coco.

PROCESSAMENTO DO CAFÉ A forma de preparo via úmida pode a parte da mucilagem que ainda estava
POR VIA ÚMIDA originar cafés descascados, despolpados aderida aos frutos é removida em tanques
É o processo pelo qual, após a passagem ou desmucilados. Para obtenção do café de fermentação biológica. Se a remoção
por lavadores, haverá a remoção da casca cereja descascado os frutos maduros são desta mucilagem remanescente for re-
e/ou da mucilagem do fruto, reduzindo os descascados mecanicamente e parte da alizada mecanicamente, tem-se então o
riscos de fermentações e possibilitando mucilagem ainda permanece aderida ao café desmucilado (MALTA, 2010). Um
uma secagem mais rápida, o que resulta, pergaminho dos frutos. Na obtenção do resumo das ações realizadas no preparo
geralmente, em cafés de boa qualidade. café despolpado, após o descascamento, via úmida é apresentado na Figura 3.

Frutos verdes Secagem de


e cerejas frutos verdes

Lavador

Descascamento
dos frutos cerejas

Café boia Café desmucilado Café descascado Café despolpado

Figura 3 - Preparo via úmida: obtenção dos cafés descascados, despolpados e desmucilados
FONTE: Malta e Chagas (2010).

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 2 , n . 2 6 1 , p . 6 6 - 7 5 , m a r. / a b r. 2 0 11

IA261.indb 68 25/5/2011 10:19:49


Produção de café: opção pela qualidade 69

As atividades de lavagem ou separação Como a mucilagem dos frutos verdes ainda Na Figura 4, é apresentado o esquema
hidráulica, descascamento, despolpamento está rígida, estes resistem à pressão, sendo de um descascador de cerejas. Nesta ope-
e desmucilamento dos frutos do cafeeiro transportados às laterais do equipamento; ração, a casca e parte da mucilagem são
geram grandes volumes de águas residuá- os frutos cereja, com a mucilagem menos removidas mecanicamente, ficando ainda
rias, ricas em MO em suspensão e outros resistente à pressão, separam-se em duas mucilagem aderida ao pergaminho (Fig. 5).
constituintes orgânicos e inorgânicos em sementes que passam em peneiras de per- Durante o descascamento, grande
solução, com enorme poder poluente, além furação alongada. quantidade de água é utilizada, resultando
de grande quantidade de resíduos sólidos
que, se lançados ao meio ambiente sem o
devido tratamento, podem causar degra- Placa com ranhuras
dação ambiental, trazendo danos à flora, à Ranhuras - saída
de sementes
fauna e aos cursos d’água.
Dessa forma, a adoção do proces-
samento do café por via úmida envolve
Água
também a instalação de sistemas de tra-
tamento das águas residuárias resultantes
desse processo.
No Brasil, a produção de cafés descas- Depósito
cados, despolpados e desmucilados ainda é
pequena. Entretanto, sua participação vem
crescendo a cada ano, não apenas como
necessidade nas regiões impróprias para Cilindro
despolpador
o processamento por via seca, mas como
medida para potencializar a obtenção de
cafés de melhor qualidade, mesmo nas
regiões consideradas adequadas para a
Café descascado
produção de cafés naturais.
Um aspecto da maior importância é que Casca e frutos verdes
a matéria-prima utilizada seja boa, isto é,
não tenha sofrido fermentações na lavoura.
Se o café chegar fresco ao descascador,
imediatamente após a colheita e sem de- Figura 4 - Esquema de um descascador de cerejas
composições, será possível obter um tipo FONTE: Silva (2001).
e uma qualidade superior, mesmo naquelas
regiões de bebida rio ou regiões de cafés
finos em anos de chuvas excessivas no
período da colheita.
Outras vantagens do preparo via úmida
são diminuição da área necessária no terrei-
ro de secagem (redução do volume em até
60%) e redução do tempo de secagem, não
só por ser um café uniforme, mas também
por apresentar um teor de umidade mais
baixo (em torno de 50%).

Descascamento
Marcelo Ribeiro Malta

O descascamento consiste na retirada


da casca do fruto do café. Esta operação,
realizada nos descascadores de cereja,
baseia-se na diferença de resistência à
pressão do fruto verde e do fruto maduro. Figura 5 - Café cereja descascado

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 2 , n . 2 6 1 , p . 6 6 - 7 5 , m a r. / a b r. 2 0 11

IA261.indb 69 25/5/2011 10:19:50


70 Produção de café: opção pela qualidade

em elevado potencial poluidor. Entretanto, remoção de parte ou de toda a mucilagem, os grãos, facilitando o trabalho de mo-
algumas empresas já oferecem equipa- evitando o uso de tanques de fermentação. vimentação, revolvimento e secagem. O
mentos com menor consumo de água, que Além disso, o café é colocado no terreiro corpo e o aroma da bebida obtida a partir do
minimizam os impactos desta operação. e, ao contrário do que ocorre com o cereja café desmucilado são menos pronunciados
Entre os produtores brasileiros, descascado, não forma aglomerados entre (BRANDO, 1999).
observa-se uma crescente utilização do
descascamento do café, pelas vantagens Despolpamento
apresentadas a seguir: O despolpamento poderá ocorrer logo
a) separação dos frutos verdes; após o descascamento do café cereja, sendo
b) redução do volume do café pela re- uma opção a remoção mecânica da mucila-
moção da casca, diminuindo, assim, gem. Geralmente, o despolpamento ocorre
a área ocupada no terreiro e aumen- por fermentação espontânea em tanques de
tando a capacidade do secador; concreto, removendo-se a mucilagem re-
manescente aderida ao pergaminho, subs-
c) menor tempo de secagem;
trato adequado para o desenvolvimento de
d) menor chance de ocorrer fermenta- microrganismos que podem provocar as
ções que depreciem a qualidade do fermentações prejudiciais à qualidade final
café. do produto. O café permanecerá nesses
tanques com água por um período de 12 a
Desmucilamento 24 horas, visando eliminar a mucilagem.
A operação de desmucilamento é Depois desse período, os grãos são lavados
realizada em desmuciladores mecânicos até que não se perceba qualquer sinal desta
(Fig. 6), logo após o descascamento do mucilagem e conduzidos para a secagem
café, com o objetivo de retirar a mucilagem (Fig. 7).
que ainda permanece aderida aos grãos. A Segundo Borém (2008), o objetivo da
remoção é mecânica e ocorre por meio do fermentação é a hidrólise da mucilagem
atrito entre os grãos e dos grãos com um aderida a pergaminho, o que facilita sua
cilindro metálico. A água é adicionada em remoção na ação final de lavagem do
pequenas quantidades para lubrificação café, pois, dependendo das condições de
e limpeza da mucilagem. A principal Figura 6 - Desmucilador de café secagem, essa mucilagem pode aumentar
vantagem do uso deste equipamento é a FONTE: Pinhalense Máquinas Agrícolas (200-). os riscos de fermentações indesejáveis

Fotos: Marcelo Ribeiro Malta

Figura 7 - Café despolpado no qual se observa a retirada total da mucilagem do pergaminho

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 2 , n . 2 6 1 , p . 6 6 - 7 5 , m a r. / a b r. 2 0 11

IA261.indb 70 25/5/2011 10:19:51


Produção de café: opção pela qualidade 71

que vão reduzir a qualidade do café. A Pela técnica convencional de proces- de café cereja. Após o procedimento de
fermentação pode ser realizada tanto por samento e secagem, o lote formado pelos descascamento e secagem, o café verde
fermentação “a seco” ou com a imersão em frutos verdes, após o descascamento dos descascado apresentou apenas 2,8% de
água. A fermentação mista significa o uso frutos maduros, é submetido à secagem defeitos preto, verde e ardido (PVA) e
da fermentação “a seco” nas primeiras ho- na sua forma integral, dando origem ao produziu bebida dura/verde. A qualidade
ras com o objetivo de acidificar o ambiente café verde natural ou em coco. Porém, o da bebida do café verde descascado foi
rapidamente, evitando o desenvolvimento descascamento desse café, aliado a uma similar àquela obtida no café cereja mais
de fungos, seguida da fermentação em cuidadosa secagem, surge como uma forma verde, sendo, no entanto, significativamen-
água. Para Vincent (1987), a perda parcial promissora para melhorar a qualidade do te inferior à qualidade do cereja descascado
de alguns compostos durante esse processo café verde (BORÉM et al., 2004). (Quadro 1). Por meio desses resultados,
pode melhorar a qualidade do café pela Recomenda-se que no processo de esses autores sugerem que o processo de
redução da adstringência e amargor da descascamento da mistura de frutos verdes descascamento evita o aparecimento de
bebida. e maduros haja a retirada ou pelo menos processos fermentativos e favoreça a uma
o alívio do contrapeso do descascador secagem mais uniforme, reduzindo, assim,
Este processo dá origem aos cafés
que controla a pressão de descascamento, significativamente, a porcentagem de PVA.
lavados ou despolpados, bastante comuns
permitindo dessa forma uma saída mais É importante ressaltar que a maior parte
entre os produtores da América Central,
livre dos frutos verdes pelas laterais do dos grãos originou-se de frutos verdes.
México, Colômbia e Quênia, alcançando
descascador (BORÉM et al., 2004). Com Nestes cafés, o espermoderma (película
boas cotações no mercado.
este afrouxamento na pressão de descasca- prateada) de coloração verde-cana, diferen-
mento, sairá também uma parte de frutos temente da aderência esperada, destaca-se
PROCESSAMENTO E
QUALIDADE DE FRUTOS maduros junto com a porção de frutos facilmente do endosperma e nem apresenta
VERDES DE CAFÉ verdes, que deve ser limitada a uma quan- a cor característica do defeito verde. Foram
tidade mínima, entretanto, suficiente para observadas a predominância da bebida
A presença do defeito verde no lote de garantir que somente os frutos maduros dura/verde e a ausência da característica
café é, provavelmente, um dos principais serão descascados, mantendo, dessa forma, riada, fatores que, aliados à menor por-
problemas para a produção de maiores a qualidade do lote de cereja descascado. centagem de PVA, diminuem o deságio
quantidades de café com melhor qualida- Ainda segundo essa técnica, o lote de frutos do café verde, proporcionando viabilidade
de. Isso se deve ao fato de que a maioria verdes será mantido amontoado até que econômica ao processo, pelo aumento do
dos produtores não possui condições para seja efetuado o segundo descascamento. valor de mercado.
executar uma colheita seletiva e a pes- Dessa vez, porém, deve-se manter o con- Com o advento da tecnologia do pro-
quisa ainda não disponibilizou materiais trapeso na metade dos braços que regulam cessamento do café verde descascado,
genéticos com maior uniformidade de a pressão de descascamento. vários produtores passaram a usá-la com
florescimento. As operações pós-colheita Borém et al. (2006) obtiveram, por sucesso, gerando, por consequência, novas
podem minimizar este problema desde que meio desta técnica, um descascamento de, indagações como o efeito da variação do
corretas técnicas de processamento sejam aproximadamente, 41% dos frutos verdes, tempo de repouso do café verde e da uti-
aplicadas. Entre os produtores brasileiros, partindo de lotes com, no máximo, 10% lização de água no processo de descasca-
observa-se uma crescente demanda pelo
descascamento do café, especialmente em
QUADRO 1 - Porcentagem de preto, verde e ardido (PVA) e prova de xícara de cafés
razão do favorecimento da qualidade pela
submetidos a diferentes formas de processamento
retirada dos frutos verdes do lote de frutos
PVA Prova de xícara
maduros. O descascamento apresenta ou- Processamento
(%) EPAMIG States Coffee
tras vantagens, como o menor tempo de se-
cagem e a menor probabilidade de ocorrer Verde (tradicional) 50,01 a Riado Duro/Riado/Verde

fermentações no lote de café descascado. Verde (Ufla) 36,55 b Riado/Verde Duro/Riado/Verde


Se por um lado, a operação de descasca- Cereja + Verde 8,00 c Duro/Verde Riado/Verde
mento resulta na formação de lotes mais Verde descascado 2,80 c Duro/Verde Duro/Verde
uniformes e de melhor qualidade, por ou- Cereja descascado 2,10 c Duro Mole
tro, resulta na formação de lotes de frutos FONTE: Dados básicos: Borém et al. (2006).
verdes, que, naturalmente, constituem os NOTA: Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem estatisticamente entre si a
de menor qualidade (BORÉM et al., 2006). 5% de probabilidade pelo teste de Tukey.

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 2 , n . 2 6 1 , p . 6 6 - 7 5 , m a r. / a b r. 2 0 11

IA261.indb 71 25/5/2011 10:19:52


72 Produção de café: opção pela qualidade

mento e na melhoria da qualidade do café. ticos do grão de café maduro. O elevado a composição química e que as alterações
Neste contexto, Nobre (2009) observou teor de água e a composição em açúcares ocasionadas pela inclusão de grãos defei-
que cafés de melhor qualidade foram ob- da polpa, no estádio de maturação cereja, tuosos poderão refletir nas características
tidos nos descascamentos feitos no mesmo colocam o café como um fruto com todas sensoriais destes após a torração.
dia e até 12 horas após a colheita, indepen- as condições de perecibilidade, razão pela A presença do defeito verde é, prova-
dentemente do uso de água no processo. qual a qualidade do café também deve estar velmente, um dos principais problemas
Outra conclusão verificada por este autor estreitamente relacionada com a eficiência para a produção de cafés de melhor qua-
foi que o rendimento de descascamento do processo de secagem. lidade no Brasil. Isso se deve ao fato de
dos frutos verdes independe do tempo de O cafeeiro, por possuir mais de uma que a maioria dos produtores não executa
repouso. E, por último, a imersão dos frutos floração, caracteriza-se por apresentar, uma colheita seletiva e, também, porque
verdes em água não aumenta o rendimento em uma mesma planta e ao longo de toda não existem materiais genéticos com maior
do descascamento, como se acreditava. a colheita, frutos em diferentes estádios uniformidade de florescimento e, conse-
Com a eliminação dessa prática, evita-se a de maturação. No início da colheita, pre- quentemente, de maturação. Dessa forma,
produção de água residuária com potencial dominam frutos verdes e cereja e, no final, observa-se um aumento da utilização do
poluidor do meio ambiente. frutos passas e secos. Se por um lado, nas descascamento do café, principalmente
colheitas antecipadas, os frutos verdes em função da melhoria da qualidade pro-
INFLUÊNCIA DA FORMA poderão resultar em defeitos verde e preto- porcionada pela retirada dos frutos verdes
DE PROCESSAMENTO NA verde, nas colheitas tardias, os frutos que do lote de frutos maduros (BORÉM et al.,
QUALIDADE DO CAFÉ foram secos na própria planta podem ter 2006).
Vários estudos sinalizam que a com- sofrido alguma fermentação indesejável, Segundo Borém (2008), as explica-
posição química dos grãos de café são depreciando o aspecto, o tipo e a bebida ções clássicas para a baixa qualidade do
dependentes da forma de processamento do café (BORÉM et al., 2006). café processado por via seca referem-se
utilizada (KNOPP; BYTOF; SELMAR, De acordo com Borém (2008), a qua- principalmente à ausência de cuidados
2006; BYTOF et al., 2005; LELOUP et al., lidade do café natural dependerá de uma na colheita e à presença de frutos verdes,
2004; SELMAR et al., 2004), contribuindo série de fatores desde a colheita até os brocados e fermentados. Além disso, a
para características distintas na qualidade cuidados durante a secagem. Quando os secagem mais lenta, em virtude da casca,
do café. De forma geral, os cafés naturais frutos são colhidos por derriça completa e e do elevado teor de açúcares presentes na
apresentam maior corpo e os cafés despol- secados sem qualquer tipo de separação ou mucilagem, aumenta os riscos de ocorrer
pados, aroma mais acentuado e acidez leve cuidado, serão produzidos cafés classifica- fermentações que prejudicam a qualidade
e prazerosa (BORÉM, 2008). dos como bebida dura ou inferior. No en- do café. No entanto, ainda segundo o autor,
A produção de café natural (via seca) tanto, se a colheita for seletiva, secando-se essas explicações, aparentemente conclu-
é a predominante no Brasil. Esse tipo de cuidadosamente somente frutos maduros, sivas, não são suficientes para explicar as
processamento tem sido valorizado na sem a ocorrência de fermentações, é possí- diferenças na qualidade do café processado
comercialização por originar cafés com vel produzir cafés naturais de bebida mole. por via seca e via úmida, mesmo quando
bebidas mais encorpadas, doces e com aci- Segundo Coelho e Pereira (2002) e somente frutos maduros são processados
dez moderada. Alguns autores sugerem que Malta, Pereira e Chagas (2005), entre os com os mesmos cuidados e em condições
essas características podem ser atribuídas vários fatores que afetam a qualidade do controladas.
à possível translocação de componentes café, destaca-se a presença de grãos defei- No processamento por via úmida, a
químicos da polpa e mucilagem para os tuosos, principalmente os verdes, ardidos colheita exclusiva de frutos maduros, a re-
grãos de café ou por um metabolismo di- e pretos, sendo conhecida a influência moção da casca e da mucilagem, o controle
ferenciado, ocasionado por uma secagem prejudicial desses no aspecto, na torração de fermentação e a secagem cuidadosa
mais lenta, pela atuação do exocarpo como e, principalmente, na qualidade da bebida. resultam, em geral, em cafés de melhor
uma barreira física para a saída de água Coelho e Pereira (2002) verificaram que a qualidade (BORÉM, 2008). Neste contex-
para o ambiente (PAIVA, 2005; PEREIRA; inclusão de grãos PVA alterou significa- to, Leite e Carvalho (1994), ao avaliarem
VILELLA; ANDRADE, 2002; VILELLA tivamente as características químicas do diferentes tipos de colheita e preparo do
et al., 2002). Entretanto, segundo Nobre café classificado como estritamente mole. café, observaram que o despolpamento
et al. (2007), os teores dos constituintes Farah et al. (2006) verificaram redução melhorou a qualidade do café.
químicos sofrem variações com o decorrer na qualidade do café com a adição dos Embora o preparo por via úmida pro-
do desenvolvimento e maturação do fruto defeitos PVA, ressaltando que a qualidade mova a remoção da mucilagem, porção do
do café até atingir níveis ideais caracterís- encontra-se intimamente relacionada com fruto que pode favorecer o desenvolvimen-
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 2 , n . 2 6 1 , p . 6 6 - 7 5 , m a r. / a b r. 2 0 11

IA261.indb 72 25/5/2011 10:19:52


Produção de café: opção pela qualidade 73

to de fermentações microbianas e propicie presença de grãos defeituosos influencia de Segundo Chagas e Malta (2008), ao
uma secagem mais rápida, alguns autores maneira significativa as determinações de avaliar a composição química de grãos
sugerem que esse método de preparo CE e de lixiviação de K de exsudatos dos submetidos a diferentes formas de pro-
apresenta a desvantagem de impedir que grãos, sendo que os grãos normais apresen- cessamento e tipos de terreiro de secagem,
características desejáveis sejam transmi- tam menores valores, diferindo dos grãos o café cereja descascado apresentou-se
tidas da mucilagem para o grão (PAIVA, defeituosos, nos quais se observam maiores superior às demais formas de preparo,
2005; PEREIRA; VILELLA; ANDRA- valores nos defeitos ardidos e pretos. independentemente do tipo de terreiro
DE, 2002; SOUZA, 2000; VILELLA et
al., 2002). Entretanto, Malta e Chagas
(2009) ao compararem diferentes formas
de processamento (roça, cereja natural e 6,5

despolpado), por meio de análises químicas


a
e sensoriais, concluíram que o despolpa- 6 a a
a b b a a
a
mento dos frutos não impede que caracte- Notas médias
a
rísticas desejáveis sejam passadas para os 5,5 b b
b b b
grãos de café. Conforme se observou nos b b b
b c
b
resultados de composição físico-química 5 b b
b
e análise sensorial de café, a forma de
preparo para obtenção do café cereja des- 4,5
polpado não impossibilitou que compostos
desejáveis deixassem de migrar para os 4
frutos do cafeeiro com o descascamento e mp
a
çur
a
dez rpo bor cen
te nço ral
a li Do Aci Co Sa
nes Ba
la Ge
bid a
o despolpamento dos frutos, contrariando Be m
o re
G ost
especulações apresentadas por outros au-
Atributos sensoriais
tores. Este comportamento acontece, por-
que, provavelmente no despolpamento, os Despolpado Cereja Roça
frutos do cafeeiro já atingiram o estádio de
maturação adequado para a colheita, onde Gráfico 1 - Atributos sensoriais do café em função do método de preparo
todos os constituintes já se apresentam em FONTE: Malta e Chagas (2009).
condições ideais para a obtenção de cafés NOTA: Médias seguidas pela mesma letra não diferem entre si, a 5% de probabilidade,
de boa qualidade. pelo teste de Scott-Knott.
Ainda segundo Malta e Chagas (2009),
o método de preparo cereja despolpado foi
o que proporcionou melhores notas em
83
todos os atributos sensoriais avaliados,
a
sendo os cafés oriundos deste método con- 82
siderados de melhor qualidade (Gráficos 1 81
e 2). O café cereja despolpado também foi
Notas totais

80
a forma de processamento que proporcio-
nou os menores valores de condutividade 79
b b
elétrica (CE) e lixiviação de potássio (K) 78
em relação aos demais métodos de preparo
77
(Quadro 2), o que sugere que a retirada da
76
casca dos frutos com consequente secagem
Despolpado Cereja Roça
mais rápida não prejudicou o sistema de
Métodos de preparo do café
membranas dos grãos de café. Os menores
valores de CE e de lixiviação de K devem- Gráfico 2 - Somatório dos atributos sensoriais do café em função do método de preparo
se, provavelmente, à menor presença de FONTE: Malta e Chagas (2009).
defeitos no lote de cafés despolpados. NOTA: Médias seguidas pela mesma letra não diferem entre si, a 5% de probabilidade,
Segundo Malta, Pereira e Chagas (2005), a pelo teste de Scott-Knott.

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 2 , n . 2 6 1 , p . 6 6 - 7 5 , m a r. / a b r. 2 0 11

IA261.indb 73 25/5/2011 10:19:52


74 Produção de café: opção pela qualidade

QUADRO 2 - Condutividade elétrica (CE), lixiviação de potássio (K) e número de defeitos de CHAGAS, S.J.R.; MALTA, M.R. Avaliação
cafés submetidos a diferentes métodos de preparo da composição química do café submetido
a diferentes formas de preparo e tipos de
Condutividade elétrica Lixiviação de potássio
Métodos de preparo Número de defeitos terreiro de secagem. Revista Brasileira de
(µS/cm/g de amostra) (ppm)
Armazenamento, Viçosa, MG, n.10, p.1-8,
Despolpado 140,59 c 50,69 b 184 c
2008. Especial Café.
Cereja 228,53 a 60,78 a 240 b
CHALFOUN, S.M.; CARVALHO, V.D. de.
Roça 209,81 b 59,31 a 287 a
Colheita e preparo do café. Lavras: UFLA:
CV (%) 7,15 7,32 15,55 FAEPE, 1997. 49p.
FONTE: Dados básicos: Malta e Chagas (2009).
COELHO, K.F.; PEREIRA, R.G.F.A. Influên-
NOTA: Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem entre si a 5% de
cia de grãos defeituosos em algumas carac-
probabilidade pelo teste de Scott-Knott.
terísticas químicas do café cru e torrado.
CV - Coeficiente de variação.
Ciência e Agrotecnologia, Lavras, v.26, n.2,
p.375-384, mar./abr. 2002.
de secagem, inferindo que essa forma de REFERÊNCIAS FARAH, A. et al. Correlation between cup
preparo pode propiciar cafés de melhor quality and chemical attributes of brazilian
BARTHOLO, G.F.; GUIMARÃES, P.T.G. Cui-
qualidade. Entretanto, Malta, Chagas e Oli- coffee. Food Chemistry, Oxford, v.98, n.2,
dados na colheita e preparo do café. Infor-
p.373-380, 2006.
veira (2003) não observaram diferenças na me Agropecuário. Qualidade do café. Belo
qualidade dos cafés naturais comparados Horizonte, v.18, n.187, p.33-42, 1997. KNOPP, S.; BYTOF, G.; SELMAR, D. Influ-
com os descascados e desmucilados, sen- ence of processing on the content of sugars
BORÉM, F.M. Pós-colheita do café. Lavras: in green Arabica coffee beans. European
do que todos os cafés foram classificados UFLA: FAEPE, 2004. 630p. Food Research and Technology, v.223, n.2,
como bebida mole. Isso denota que, se as p.195-201, June 2006.
_______. Processamento do café. In: _______.
etapas de processamento e secagem forem Pós-colheita do café. Lavras: UFLA, 2008. LEITE, I.P.; CARVALHO, V.D.de. Influência
bem realizadas, podem originar cafés de cap. 5, p.127-158. do local de cultivo e do tipo de colheita nas
boa qualidade. características físicas, composição química
_______. et al. Processamento do café verde
descascado - I: aspectos técnicos e econô- do grão e qualidade do café – I: atividade
CONSIDERAÇÕES FINAIS micos. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE da polifenoloxidase, proteína do extrato
PESQUISAS CAFEEIRAS, 30., 2004, São enzímico e índice de coloração. Pesquisa
A qualidade do café é determinada,
Lourenço. Anais... Rio de Janeiro: MAPA- Agropecuária Brasileira, Brasília, v.29, n.2,
principalmente, pelo sabor e aroma for- p.229-308, fev. 1994.
PROCAFÉ, 2004. p.254-255.
mados durante o processo de torração, a
LELOUP, V. et al. Impact of wet and dry pro-
partir de precursores presentes no grão cru. _______. et al. Processamento e secagem dos
cess on green coffee composition and sen-
A formação e a presença desses compostos, frutos verdes do cafeeiro. Revista Brasileira
sory characteristics. In: INTERNATIONAL
de Armazenamento, Viçosa, MG, n.9, p.19-
por sua vez, vão depender de fatores gené- CONFERENCE ON COFFEE SCIENCE, 20.,
24, 2006.
ticos, ambientais e do manejo empregado 2004, Bangalore. Proceedings… Bangalore:
durante todas as fases que envolvem a BRANDO, C.H.J. Cereja descascado, desmu- ASIC, 2004. CD-ROM.
cilado, fermentado, despolpado ou lavado?
produção. Dessa forma, diversas etapas MALTA, M.R. Colheita e processamento
In: CONGRESSO BRASILEIRO DE PESQUI-
vão influenciar de maneira importante a do café. Belo Horizonte: EPAMIG, 2010. 3p.
SAS CAFEEIRAS, 25., 1999, Franca. Traba-
qualidade do café obtido, como a época e (EPAMIG. Circular Técnica, 92). EPAMIG
lhos apresentados... Rio de Janeiro: MAA-
o tipo de colheita adotados, o método de Sul de Minas.
PROCAFÉ, 1999. p.342-346.
preparo e a forma de secagem utilizada. _______; CHAGAS, S.J. de R. Colheita,
_______. Harvesting and green coffee pro- preparo e secagem do café. In: REIS, P.R.;
Existem diferenças na anatomia, na
cessing. In: _______. Coffee: growing, pro- CUNHA, R.L. da (Ed.). Café arábica: do
composição química e no teor de água dos cessing, sustainable production. New York: plantio à colheita. Lavras: U.R. EPAMIG
frutos do cafeeiro em função do estádio de J. Wiley, 2004. p.605-714. S.M., 2010. v.1, cap.13, p.805-860.
maturação em que os frutos são colhidos. A
BYTOF, G. et al. Influence of processing _______; _______. Processamento e quali-
grande heterogeneidade dos frutos prove- on the generation of γ-aminobutiric acid dade do café produzido na região do Cer-
nientes da lavoura, além de comprometer in green coffee beans. European Food Re- rado mineiro. In: SIMPÓSIO DE PESQUISA
as operações posteriores à colheita, com- search and Technology, London, v.220, DOS CAFÉS DO BRASIL, 6., 2009, Vitória.
promete também a qualidade final. Sendo n.3/4, p.245-250, Mar. 2005. Anais... Brasília: Embrapa Café, 2009. CD-
assim, o processamento do café será mais CARVALHO, V.D. de; CHALFOUN, S.M. As- ROM.
eficaz quanto mais homogêneo for o lote pectos qualitativos do café. Informe Agro- _______; _______; CHALFOUN, S.M. Co-
colhido, influenciando diretamente todas pecuário. Café, Belo Horizonte, v.11, n.126, lheita e pós-colheita do café: recomenda-
as operações pós-colheita. p.79-92, 1985. ções e coeficientes técnicos. Informe Agro-

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 2 , n . 2 6 1 , p . 6 6 - 7 5 , m a r. / a b r. 2 0 11

IA261.indb 74 25/5/2011 10:19:52


Produção de café: opção pela qualidade 75

pecuário. Planejamento e gerenciamento 55p. Dissertação (Mestrado em Ciência dos SILVA, J. de S. (Ed.). Secagem e armazena-
da cafeicultura, Belo Horizonte, v.29, n.247, Alimentos) − Universidade Federal de La- gem do café: tecnologias e custo. Viçosa,
p.83-94, nov./dez. 2008. vras, Lavras, 2005. MG: UFV, 2001. 162p.
MALTA, M.R.; CHAGAS, S.J. de R.; OLIVEI- PEREIRA, R.G.F.A.; VILELLA, T.C.; AN- SOUZA, S.M.S. de. Produção de café de
RA, W.M. de. Composição físico-química DRADE, E.T. Composição química de grãos qualidade - II: colheita, preparo e qualidade
e qualidade do café submetido a diferentes de café (Coffea arabica L.) submetidos a
do café. Lavras: EPAMIG-CTSM, 2000. 4p.
formas de pré-processamento. Revista Bra- diferentes tipos de pré-processamento. In:
(EPAMIG-CTSM. Circular Técnica, 118).
sileira de Armazenamento, Viçosa, MG, SIMPÓSIO DE PESQUISA DOS CAFÉS
n.6, p.37-41, 2003. DO BRASIL, 2., 2001, Vitória. Resumos ex- VILELA, E.R.; PEREIRA, R.G.F.A. Armaze-
pandidos... Brasília: Embrapa Café, 2002. namento e processamento de produtos agrí-
_______; PEREIRA, R.G.F.A.; CHAGAS, S.J.
p.826-831. CD-ROM. colas pós-colheita e qualidade do café. In:
de R. Condutividade elétrica e lixiviação
PINHALENSE MÁQUINAS AGRÍCOLAS. CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHA-
de potássio do exsudato de grãos de café:
alguns fatores que podem influenciar essas Despolpadores verticais: desmuciladores – RIA AGRÍCOLA, 27., 1998, Poços de Cal-
avaliações. Ciência e Agrotecnologia, La- DFA-1. [S.l.: 200-]. Disponível em: <http:// das. Anais... Poços de Caldas: SBEA, 1998.
www.pinhalense.com.br/catalogo/catalogo. p.219-274.
vras, v.29, n.5, p.1015-1020, set./out. 2005.
htm>. Acesso em: nov. 2010.
NOBRE, G.W. Processamento e qualidade VILELLA, T.C. et al. Composição química
REVISTA CAMPO & NEGÓCIOS. Uberlân- de grãos de café natural, despolpado, des-
de frutos verdes de café arábica. 2009. 85p.
dia: AgroComunicação, ano 5, n.54, ago.
Tese (Doutorado em Agronomia) – Universi- mucilado e descascado – II: torração média.
2007.
dade Federal de Lavras, Lavras, 2009. In: SIMPÓSIO DE PESQUISA CAFEEIRA
SELMAR, D. et al. Biochemical insights DO SUL DE MINAS, 3., 2002, Lavras. Tra-
_______. et al. Alterações químicas do café-
into coffee processing: quality and nature of balhos apresentados... Lavras: UFLA, 2002.
cereja descascado durante o armazenamen-
green coffee are interconnected with an ac-
to. Coffee Science, Lavras, v.2, n.1, p.1-9, p.43-46.
tive seed metabolism. In: INTERNATIONAL
jan./jun. 2007. VINCENT, J.C. Green coffee processing. In:
CONFERENCE ON COFFEE SCIENCE, 20.,
PAIVA, E.F.F. Análise sensorial dos cafés 2004, Bangalore. Proceedings… Bangalore: CLARKE, R.J.; MACRAE, R. (Ed.). Techno-
especiais do estado de Minas Gerais. 2005. ASIC, 2004. CD-ROM. logy. New York: Elsevier, 1987.

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 2 , n . 2 6 1 , p . 6 6 - 7 5 , m a r. / a b r. 2 0 11

IA261.indb 75 25/5/2011 10:19:53


76 Produção de café: opção pela qualidade

Influência da secagem na qualidade do café


Flávio Meira Borém 1
Eder Pedroza Isquierdo 2
José Henrique da Silva Taveira 3
Gerson Silva Giomo 4
Juliana Neves Barbosa 5

Resumo - A secagem é um procedimento pós-colheita de grande importância, pois pode


interferir positiva ou negativamente na qualidade do café. Apresenta-se uma abordagem
sobre as técnicas de secagem, mostrando seus benefícios e limitações, bem como seus
impactos na qualidade final do café. São discutidos procedimentos de secagem de café
em terreiro, secadores com baixas e altas temperaturas e as alternativas para retirada
segura de água dos grãos. São apresentados resultados de pesquisas existentes sobre a
secagem e sua relação com a qualidade final do café.

Palavras-chave: Coffea arabica. Qualidade do café. Secagem natural. Terreiro. Secador


mecânico.

INTRODUÇÃO torração, a partir de compostos quími- produto, bem como o desenvolvimento


cos presentes nos grãos crus durante seu de microrganismos, o que favorece a um
O Brasil ainda possui uma imagem
desenvolvimento na planta. No entanto, armazenamento mais seguro por longo
internacional de fornecedor de quantidade,
durante a secagem, ocorrem alterações na período (CHRISTENSEN; KAUFMANN,
como o café tipo “Santos”, muito utilizado
constituição química do grão cru, as quais 1974).
na composição de blends, enquanto, países
como Quênia, Colômbia, Guatemala e podem influenciar o sabor e o aroma final
do café (BORÉM, 2008). PRINCÍPIOS DE SECAGEM
Costa Rica, entre outros, são reconhecidos
e valorizados pela qualidade de seus cafés. Os frutos do café geralmente são colhi- A secagem pode ser definida como
A qualidade é uma das maiores preo- dos com o teor de água que varia entre 30% um processo simultâneo de transferência
cupações da cafeicultura atual, uma vez e 65% base úmida (bu), dependendo do de energia e massa entre o produto e o ar
que os preços do café têm como base esse seu estado de maturação, estando sujeitos de secagem, que consiste na remoção do
parâmetro. Além disso, os mercados con- à rápida deterioração. excesso de água contida no grão por meio
sumidores, que melhor remuneram o pro- A manutenção da qualidade pela se- de evaporação, geralmente causada por
duto, tornam-se cada vez mais exigentes, cagem baseia-se no fato de que, com a convecção forçada de ar aquecido, que
valorizando os cafés especiais. redução da quantidade de água disponí- permite a manutenção de sua qualidade
A qualidade do café é determinada vel, serão reduzidas a atividade de água durante o armazenamento (BROOKER;
pelo sabor e aroma formados durante a e a velocidade das reações químicas no BAKKER-ARKEMA; HALL, 1978).

1
Eng o Agr o , Pós-Doc, Prof. III UFLA - Depto. Engenharia, Caixa Postal 3037, CEP 37200-000 Lavras-MG. Correio eletrônico:
flavioborem@deg.ufla.br
2
Doutorando Ciência dos Alimentos UFLA - Depto. Ciência dos Alimentos, Caixa Postal 3037, CEP 37200-000 Lavras-MG. Correio eletrônico:
ederisquierdo@hotmail.com
3
Doutorando Engenharia Agrícola UFLA - Depto. Engenharia, Caixa Postal 3037, CEP 37200-000 Lavras-MG. Correio eletrônico:
henriquetaveira@yahoo.com.br
4
Engo Agro, Pós-Doc, Pesq. Científico IAC - Centro de Café “Alcides Carvalho”, Caixa Postal 28, CEP 13012-970 Campinas-SP. Correio
eletrônico: gsgiomo@iac.sp.gov.br
5
Bióloga, Doutoranda Fisiologia Vegetal UFLA - Depto. Biologia, Caixa Postal 3037, CEP 37200-000 Lavras-MG. Correio eletrônico:
juliananevesbarbosa@gmail.com

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 2 , n . 2 6 1 , p . 7 6 - 8 4 , m a r. / a b r. 2 0 11

IA261.indb 76 25/5/2011 10:19:53


Produção de café: opção pela qualidade 77

São vários os fatores que influenciam a constantemente exposta às mesmas condi- secagem depende das condições climáticas
secagem do café, tais como: método de ções do ambiente (BORÉM, 2008; SILVA, que variam de região para região, o que não
secagem, temperatura e umidade relativa 2001; BROOKER; BAKKER-ARKEMA; possibilita adequada previsão e controle do
(UR) do ar de secagem, velocidade do ar HALL, 1978). processo. Além disso expõem os frutos a
e tempo de secagem. A falta do controle No café, esse período pode ser obser- riscos elevados de ataque de fungos e de
desses fatores pode comprometer a quali- vado nas primeiras horas de secagem de redução de sua qualidade. Isso acontece
dade do produto final. frutos de café verde e cereja, com teor principalmente quando a colheita é tardia
Durante a secagem, a redução do teor inicial de água muito elevado. É importante ou no final da safra, quando os frutos caem
de água ocorre por causa de sua movi- ressaltar que, para a maioria dos grãos e no chão, favorecendo a ocorrência de fer-
mentação do interior para a periferia do sementes agrícolas e mesmo para o café, mentações que depreciam a qualidade do
grão, resultado da diferença de pressão de o período de secagem à taxa constante é café beneficiado (BORÉM, 2008).
vapor d’água entre a superfície do grão e muito curto ou inexistente, uma vez que
o ar que o envolve. Para que um produto nas condições operacionais do processo, Secagem artificial
seja submetido ao fenômeno de secagem, as resistências às transferências de água Secagem artificial é qualquer método
é necessário que a pressão parcial de vapor encontram-se essencialmente no seu em que haja interferência do homem, mes-
d’água em sua superfície (Pg) seja maior interior, tornando a taxa de evaporação mo aqueles realizados com uso exclusivo
do que a pressão parcial do vapor d’água superficial acentuadamente superior à de terreiros.
no ar de secagem (Par). taxa de reposição de água do interior para
a superfície do produto (BORÉM, 2008; Secagem em terreiro
Base Teórica SILVA, 2001; BROOKER; BAKKER- Na secagem em terreiros, o café
O fenômeno de migração da água no ARKEMA; HALL, 1978). úmido, recém-colhido, é exposto ao sol
interior dos grãos ainda não é bem conhe- No período de velocidade decrescente em superfícies planas, sendo revolvido
cido. Alguns pesquisadores afirmam que, de secagem, a taxa interna de transporte de modo manual, com tração animal ou
possivelmente, para a movimentação da de água é menor do que a taxa de evapo- mecanicamente.
água no interior de grãos submetidos ao ração, consequentemente, a temperatura A principal vantagem da secagem em
processo de secagem, o transporte da água do produto aumenta, tendendo a atingir terreiros é o baixo custo com energia, uma
ocorre por difusão de líquido ou difusão de a temperatura do ar de secagem (BO- vez que usa a radiação solar para aqueci-
vapor ou, ainda, pela combinação desses RÉM, 2008; SILVA, 2001; BROOKER; mento e para evaporação da água. É uma
mecanismos. Porém, teorias mais recentes BAKKER-ARKEMA; HALL, 1978). técnica simples e tradicional. Além disso,
preconizam que, em determinada fase em condições favoráveis e com manejo
MÉTODOS DE SECAGEM
da secagem, o movimento da água seja, correto, propicia um produto de qualidade.
basicamente, determinado pela difusão A secagem do café pode ser feita em McLoy (1979) relata que a secagem do café
de líquido (BORÉM, 2008; SILVA, 2001; terreiros, estufas ou secadores mecânicos. exposto ao sol, em camada pouco espessa,
BROOKER; BAKKER-ARKEMA; A secagem natural é aquela que ocorre na favorece o aparecimento da coloração
HALL, 1978). lavoura, sem qualquer interferência do verde-cinza, tida como desejável, enquanto
Em determinadas situações, o processo homem. Todos os demais métodos, em que a secagem mecânica em ambiente escuro
de secagem de um produto, sob condições há interferência direta ou indireta do ho- concorre para o aparecimento de grãos
constantes de temperatura, UR e velo- mem, são considerados secagem artificial, de cor verde-amarelado, considerados
cidade do ar, pode ser dividido em um conforme descrito a seguir. indesejáveis.
período de velocidade constante e outro de Entretanto, quando o produtor dispõe
velocidade decrescente. Durante o período Secagem natural
somente de terreiros para realizar a seca-
de velocidade constante, a temperatura A secagem natural do café ocorre gem completa do café, são necessárias
do produto mantém-se igual à do ar de quando os frutos ainda estão na planta. grandes áreas, uso intensivo de mão de
secagem saturado e as transferências de O aquecimento dos frutos dá-se a partir obra e maior tempo de secagem. Isto ex-
calor e massa se compensam. O período da incidência direta da radiação solar, e põe o produto a variações climáticas que
de secagem à taxa constante é aquele em a remoção e o transporte da água evapo- aumentam os riscos de contaminações
que o teor de água do produto é suficien- rada ocorrem pela ação natural do vento. e fermentações, reduzindo a qualidade
te para mantê-la na superfície deste, de Embora os frutos alcancem o teor de água final do café. Os riscos de deterioração
maneira similar a uma área de água livre, adequado para armazenamento, o tempo de tornam-se maiores, quando a colheita não
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 2 , n . 2 6 1 , p . 7 6 - 8 4 , m a r. / a b r. 2 0 11

IA261.indb 77 25/5/2011 10:19:53


78 Produção de café: opção pela qualidade

é planejada e adequada à infraestrutura priedades cafeeiras e em regiões menos Terreiro de lama asfáltica
disponível na propriedade. Associado ao desenvolvidas, o terreiro de terra não é
O elevado custo da pavimentação com
manejo incorreto, o excesso de café no recomendado para a secagem do café.
concreto pode inviabilizar o revestimento
terreiro favorece o aparecimento do defeito Seu uso está fortemente relacionado com dos terreiros. Entretanto, alternativas de
ardido e a produção de lotes com bebida o baixo custo de construção, pois envolve baixo custo têm sido usadas com sucesso.
inferior, bem como a produção de grãos basicamente a limpeza do terreno e movi- O terreiro de lama asfáltica apresenta-se
com mau aspecto, dada à desuniformidade mentação de terra. Além de produzir com como uma boa opção do ponto de vista
no teor de água e na cor. frequência cafés de baixa qualidade, não econômico (ABRAHÃO et al., 2002).
O tempo médio para secagem completa atende às exigências relacionadas com os Apesar de ser um revestimento asfáltico,
do café em terreiro é variável e depende aspectos higiênico-sanitários, que integram possui baixa retenção de calor, uma vez
das características do produto, bem como as boas práticas de processamento. que é constituído por uma camada de 5 mm
das condições climáticas de cada região. Estudos com café Arábica e Robusta de espessura, servindo tão somente como
Varia de 15 a 20 dias para o café natural, sobre diferentes tipos de terreiros, empre- uma impermeabilização do terreiro de
podendo chegar a até 30 dias para con- gando diversos materiais para o revesti- terra. Pesquisas recentes realizadas na Ufla
dições desfavoráveis, como ocorre na mento, demonstraram que os terreiros não têm demonstrado que esse tipo de terreiro
região das Matas de Minas Gerais, e de 8 pavimentados resultaram em cafés com não altera a qualidade do café, inclusive
a 12 dias para os cafés em pergaminho. O mau aspecto e pior qualidade sensorial, de cafés descascados secados em camadas
tempo de secagem em terreiros, além das tanto para o café em coco, como para o finas e revolvidos intensamente. Não trans-
condições climáticas e do tipo de proces- café em pergaminho (REINATO, 2006). ferem aos grãos qualquer sabor ou aroma
samento, também é influenciado pelo tipo estranho (REINATO, 2006).
de revestimento (terra, tijolo, concreto, Terreiro de concreto
asfalto, leito suspenso), bem como pelo Terreiro suspenso
manejo empregado, ou seja, espessura da Preferencialmente, a secagem deve ser
realizada em terreiros concretados. Em Alguns autores, como Micheli (2000),
camada de café e número de revolvimentos
comparação com os terreiros de terra, favo- atribuem ao leito suspenso a melhor qua-
empregados durante o dia. Além disso, é
lidade observada nos cafés descascado e
aconselhável trabalhar com lotes homo- recem a secagem mais rápida e a obtenção
despolpado, comparativamente à seca-
gêneos, considerando tanto a época de de cafés de melhor qualidade (REINATO,
gem conduzida pelo método tradicional.
colheita, quanto o estádio de maturação ou 2006). Poucos terreiros de concreto são
Entretanto, a qualidade do café dependerá
o teor de água, para obtenção de um café construídos de acordo com as recomen-
de fatores relevantes como locais de cons-
uniforme e de boa qualidade. dações técnicas, para obter uma adequada
trução, origem da matéria-prima cultivar e
Além dos diferentes tipos de pavi- pavimentação. Aqueles construídos em
local de produção, espessura da camada de
mentação, outros, como o leito suspenso, placas favorecem a ocorrência de trincas,
café durante a secagem e manejo durante
a estufa e o terreiro híbrido, têm sido rachaduras, perda de parte do revestimento o processamento. Por isso, recomenda-se
usados. A escolha do tipo de terreiro e da e emergência de várias plantas daninhas, evitar generalizações quanto ao melhor
pavimentação empregada deve levar em não estando, portanto, de acordo com as tipo de terreiro para obter cafés com qua-
conta a garantia da preservação da quali- recomendações técnicas. Tais problemas lidade. Embora apresentem a vantagem de
dade, o custo de implantação, a facilidade são favoráveis ao acúmulo de grãos de proporcionar um produto limpo e com as
no manuseio e o tempo total de secagem. café que irão fermentar, podendo com- características preservadas, as operações
As características desejáveis nos terreiros prometer diversos lotes durante a secagem são mais trabalhosas e difíceis do que no
pavimentados são: boa absorção de água, (BORÉM, 2008). terreiro tradicional, sendo consideradas
baixa retenção de calor, maior durabilidade Para obter a melhor pavimentação com pouco ergonômicas. Nesses terreiros, po-
e menor tempo de secagem. A seguir, serão concreto aconselha-se que, após a terraple- dem ser adaptados lençóis plásticos para
descritas as características dos principais nagem, o leito seja compactado, a sub-base cobrir o café em caso de chuva e mais
tipos de terreiros atualmente usados pelos molhada e revestida com lona plástica de usualmente para cobrir o café após a meia-
cafeicultores. polietileno. Posteriormente, realiza-se a seca, durante a noite.
concretagem de média a alta resistência,
Terreiro de terra Estufa secadora
reforçada com telas metálicas de malhas
Apesar de ainda ser frequentemente de 0,15 m, com ferros de 4,2 mm, e juntas A estufa secadora é uma alternativa que
encontrado na maioria das pequenas pro- de dilatação (BORÉM, 2008). permite a secagem de grandes quantidades
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 2 , n . 2 6 1 , p . 7 6 - 8 4 , m a r. / a b r. 2 0 11

IA261.indb 78 25/5/2011 10:19:53


Produção de café: opção pela qualidade 79

de café, em regiões com dificuldades de no terreiro no mesmo dia da colheita. No prejuízo para a qualidade final do produto.
encontrar terrenos planos próprios para início da secagem a superfície do terreiro No uso de tratores, esse problema poderá
construção dos terreiros tradicionais, bem pode ficar completamente molhada em ser minimizado com defletores colocados
como em locais com elevada UR, durante a razão do excesso de água proveniente do na frente das rodas.
noite e nas primeiras horas da manhã, com lavador. Para evitar que isso ocorra, a água Verifica-se que a mistura de lotes é uma
risco de formação de orvalho e reumedeci- remanescente do lavador deve ser drenada, prática comum entre os produtores, que
mento do café seco. quando o café ainda estiver no carrinho chegam a misturar lotes com até cinco dias
Cuidados especiais devem ser adotados ou na carreta, antes de ser espalhado no de diferença de colheita. Essa operação irá
no uso da estufa tendo em vista os riscos terreiro. Além disso, no início da secagem, produzir cafés com uma grande variação
de atingir temperaturas excessivamente o café possui elevado teor de água e apesar no teor de água entre os grãos, resultando
elevadas no seu interior. Recomenda-se, de essa água ser facilmente retirada quando em lotes com coloração desuniforme e, na
assim, o monitoramento das características exposta ao sol, sua permanência favorece pior situação, cafés ardidos ou mesmo com
termodinâmicas do ar e o uso de exaustores o rápido desenvolvimento de fungos e a elevado teor de água no armazenamento.
para reduzir a temperatura, quando forem ocorrência de fermentação, especialmente Assim, recomenda-se que o volume co-
registrados valores acima do recomendado na parte inferior que fica em contato com lhido diariamente esteja de acordo com a
para uma secagem adequada. o terreiro. capacidade operacional do processamento
Os cafés naturais podem ser lotes de para a formação de lotes homogêneos.
Terreiro secador café constituídos exclusivamente por frutos O teor de água abaixo de 30% indica
O terreiro secador ou terreiro híbrido cereja ou por uma mistura de frutos em di- que o café atingiu a meia-seca. Nessa etapa,
é um sistema que possibilita a secagem ferentes estádios de maturação. Observa-se o café deverá ser amontoado formando
completa do café no terreiro, mesmo em que tanto os frutos no estádio cereja como leiras no sentido da maior declividade do
regiões com alta nebulosidade e riscos de o passa, nos primeiros dias, descascam-se terreiro, ou amontoado, e coberto com
precipitação durante o período de secagem, facilmente por causa da compressão du- panos ou lonas. Essa operação favorecerá
como é comum na Zona da Mata de Minas rante a movimentação. Por isso, enquanto a conservação do calor absorvido durante
Gerais. A adaptação do terreiro consiste na o café estiver muito úmido e sujeito ao o dia, garantindo melhor uniformização
colocação de dutos no piso, o que possibi- descascamento, deve-se evitar revolvê-lo e redistribuição da umidade na massa de
lita a distribuição de ar quente por meio da demasiadamente, minimizando a remoção café. Quando a secagem em terreiro for
massa de café que fica enleirada sobre os da casca e secagem desigual. realizada somente até a meia-seca, a remo-
dutos de ar. Segundo Silva (2001), esse sis- Após o murchamento do café, que pode ção da água será complementada usando-se
tema de secagem apresenta baixo custo de ocorrer em cerca de dois dias de exposição secadores mecânicos com ar aquecido. O
implantação proporcionado pela redução ao sol, dependendo das condições locais de uso da secagem combinada pode reduzir a
de área e pelo menor tempo de secagem, secagem, deve-se iniciar o revolvimento área dos terreiros em até 50%.
quando utilizado com ar aquecido. manual ou mecânico dos frutos, continu-
amente, com o auxílio de equipamentos Manejo para os frutos
MANEJO DO CAFÉ DURANTE verdes de café
apropriados. Destaca-se que, quanto maior
A SECAGEM EM TERREIRO o número de revolvimentos mais uniforme Os cuidados com a secagem de frutos
Sendo a secagem uma das etapas mais será a secagem, favorecendo a obtenção de verdes em terreiro têm sofrido diversas
críticas da pós-colheita, tanto pelos altos um café com bom aspecto. modificações nos últimos anos. O principal
custos envolvidos, quanto pelos riscos O revolvimento manual é realiza- problema nesta secagem refere-se à forma-
que representa à qualidade do café, todos do com rodos de metal ou de madeira, ção do defeito preto-verde, formado prin-
os cuidados devem ser observados nos devendo o operador caminhar sempre cipalmente sob elevadas temperaturas de
mínimos detalhes tendo em vista preservar sobre a projeção de sua sombra. O uso secagem e, eventualmente, sob condições
ou até mesmo aprimorar a qualidade dos de tratores ou animais para rodar o café favoráveis à fermentação. A recomendação
lotes de café. deve ser avaliado, pois, se por um lado a que tradicionalmente é feita para a secagem
operacionalidade é aumentada e o uso de dos frutos verdes logo no início do processo
Manejo tradicional para mão de obra reduzido, por outro o peso do é que esteja disposto em leiras de 20 cm, com
cafés naturais
trator ou de animais pode retirar a casca do revolvimento periódico até o total escure-
Para preservar a qualidade é funda- café o que possibilita a exposição direta do cimento da casca. Posteriormente, o café
mental que o café seja lavado e espalhado endosperma ao ambiente, resultando em deverá ser esparramado e conduzindo à
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 2 , n . 2 6 1 , p . 7 6 - 8 4 , m a r. / a b r. 2 0 11

IA261.indb 79 25/5/2011 10:19:53


80 Produção de café: opção pela qualidade

secagem de acordo com as recomendações cado permaneça pelo menos três dias qualidade do café, se não for bem condu-
para o café natural. no terreiro sob adequadas condições de zida. A manutenção da qualidade do café
No entanto, os frutos verdes possuem secagem. Isto possibilita que o emprego de durante a secagem com altas temperaturas
elevado teor de água, bem como água livre temperaturas elevadas seja iniciado com o depende especialmente do cuidado com a
na sua superfície. Com isso, tem-se pre- produto com teor de água mais baixo, mi- temperatura que os frutos ou grãos de café
ferido, nos primeiros dias de secagem do nimizando, assim, os efeitos nocivos das irão atingir, bem como, da taxa de remoção
café verde, manter os frutos espalhados em elevadas taxas de secagem na qualidade de água do produto.
camadas finas, intercalados com pequenas do produto. Apesar de, atualmente, existirem vários
leiras de 3 cm, com revolvimento constante tipos de secadores com tecnologia satisfa-
até que atinjam a meia-seca, evitando-se MANEJO DO CAFÉ DURANTE tória para obtenção de um produto final de
A SECAGEM EM SECADORES
que os frutos fiquem com a casca preta. A qualidade, observa-se que são poucos os
partir desse ponto, leiras com 15 a 20 cm Secagem com altas cafeicultores que possuem um equipamen-
de altura deverão ser formadas para reduzir temperaturas to na propriedade, predominando o uso dos
a taxa de secagem e impedir a elevação da terreiros, seja por falta de capital, seja por
Os métodos de secagem que empre-
temperatura, o que resultaria na formação inexistência de equipamentos que atendam
gam ar aquecido com temperatura superior
do defeito preto-verde. a pequenos volumes de processamento.
a 10 ºC, em relação à do ambiente, são
Para obter uma secagem mais uniforme
considerados de altas temperaturas. Secadores horizontais
e lenta, as leiras deverão ser periodica-
A secagem do café com altas tempera-
mente movimentadas permitindo o revol- Os secadores horizontais constituem
turas torna-se necessária em regiões com
vimento dos frutos. Esses cuidados têm um cilindro tubular horizontal que gira em
condições impróprias para a completa se-
permitido a obtenção de lotes de frutos torno de seu eixo com velocidade de 2,5 e
cagem em terreiros ou mesmo em grandes
verdes com melhor aspecto e qualidade, 3 rotações por minuto (rpm). Apresentam
propriedades com elevado volume diário
que os produzidos de maneira tradicional. fluxo de ar radial, com movimento contí-
de colheita. Nessas propriedades, ainda que
as condições climáticas sejam favoráveis, a nuo dos grãos dentro do secador.
Manejo para café em Quando corretamente operados, pro-
pergaminho grande área necessária para uma secagem
completa nos terreiros constitui um fator porcionam boa uniformidade de secagem,
O café cereja descascado, despolpado facilidade e rapidez de carga e descarga e
limitante. A combinação da secagem em
ou desmucilado deverá ser esparramado terreiros e secadores mecânicos apresenta- menor tempo de secagem. Necessitam de
em camada fina, equivalente a cerca de se como a melhor solução para esses casos. cuidados especiais no controle da tempe-
7 L/m², permitindo a rápida remoção Na secagem com altas temperaturas ratura e distribuição do ar para preservar
da água superficial ou desidratação da empregam-se temperaturas e fluxos de ar a qualidade do café.
mucilagem remanescente. À medida que elevados resultando, consequentemente, Os secadores rotativos podem ser
a secagem prossegue, a espessura da ca- em menor tempo de secagem. O fluxo de dotados de tulhas de descanso ou câmara
mada deverá ser aumentada até o máximo ar utilizado depende do tipo de secador e de repouso, cujo objetivo é promover a
de 2 cm, intercalando-as com pequenas varia de 10 a 100 m3/min/t. Esse é o sistema homogeneização do café e economizar
leiras. usado nos secadores horizontais, verticais energia, bem como aumentar a capacidade
A secagem do café em pergaminho no e de camada fixa, comumente empregados de secagem.
terreiro com frequência é realizada somen- na secagem do café. O ar aquecido é movimentado por um
te até a meia-seca ou, em alguns casos, por Com frequência, técnicos e produtores ventilador por meio do plenum que, nesse
apenas dois dias para, posteriormente, ser relatam que os cafés secados mecanica- caso, também funciona como duto para
conduzido ao secador. mente, com alta temperatura, apresentam o transporte do ar até o final do secador.
Elevadas taxas de redução de água bebida dura ou inferior, além de grãos Essa dupla função do plenum pode resultar
podem ocorrer tanto com o uso de altas manchados e desuniformes. O resseca- em uma distribuição desuniforme do ar ao
temperaturas do ar de secagem, como mento empalidece o grão e temperaturas longo do secador. Estudos realizados por
quando o café estiver com teores de água superiores a 80 ºC podem originar grãos Reinato (2006) demonstraram a existência
acima de 40%, como ocorre nas primeiras superaquecidos de cor acinzentada. Essa de gradientes de temperatura em secadores
horas de secagem. De acordo com Borém observação, além de muito importante, é rotativos, na secagem de café em coco, os
et al. (2008), para a secagem combinada, verdadeira, pois a secagem é uma etapa do quais podem estar associados à redução na
recomenda-se que o café cereja descas- processamento que pode comprometer a qualidade do café.
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 2 , n . 2 6 1 , p . 7 6 - 8 4 , m a r. / a b r. 2 0 11

IA261.indb 80 25/5/2011 10:19:53


Produção de café: opção pela qualidade 81

Nos modelos mais recentes esse proble- A secagem em camada fixa apresenta A secagem a baixas temperaturas é
ma é minimizado com a instalação de defle- baixo custo inicial e menor custo operacio- um processo lento, porém com baixo
tores de ar em diferentes pontos do duto. O nal. No entanto, possui baixa capacidade consumo de energia, quando comparado
ar quente passa por uma chapa perfurada e de secagem e há formação de gradiente com a secagem com altas temperaturas.
percorre radialmente o cilindro do secador. de umidade na camada de grãos, podendo Esse sistema, devidamente projetado e
A rotação do secador provoca o movimento comprometer a qualidade final do café. manejado, constitui um método econômi-
contínuo dos grãos, possibilitando, assim, o Esse sistema é simples, relativamente
co e tecnicamente eficiente. No entanto,
revolvimento do produto. O ar saturado de barato e compatível com a capacidade de
ainda é pouco usado na secagem de café
umidade sai pelas perfurações do cilindro investimento de grande número de pe-
(BORÉM, 2008).
quenos agricultores. Além da secagem do
secador. A escolha do fluxo de ar adequado é de
café, também pode ser usado para diversas
outras finalidades como secagem de milho vital importância para o sucesso dos siste-
Secadores verticais
em espiga, feijão em rama, feno e demais mas de secagem em baixas temperaturas.
Nos secadores verticais, também produtos. A utilização de fluxo de ar abaixo do valor
conhecidos como secador-baú, os frutos A fornalha comumente usada é do tipo adequado aumenta demasiadamente o
de café deslocam-se, por gravidade, em fogo direto de fluxo descendente, onde a tempo de secagem, podendo comprometer
colunas verticais construídas com chapas totalidade dos gases de combustão é mistu- a qualidade final do produto.
metálicas perfuradas. Normalmente, é rada com o ar ambiente e succionada pelo As recomendações de fluxos mínimos
usado para a complementação da secagem ventilador. Um ciclone cilíndrico entre a de ar para a secagem são geralmente
iniciada em secadores horizontais, quando fornalha e o ventilador impede a injeção de expressas em vazão de ar por unidade de
esses operam como pré-secadores ou na partículas de cinzas e fagulhas na câmara volume do produto e o seu dimensiona-
finalização da secagem dos cafés prove- de secagem e evita possíveis incêndios. mento deve ser tal que permita a secagem
nientes de terreiros. No entanto, como O uso correto da fornalha e a queima de
completa da massa de café, sem que ocorra
necessitam de elevadores para movimentar lenha seca são cuidados que minimizam
a deterioração das camadas superiores
constantemente o café, esses secadores não problemas de contaminação do café com
(SILVA, 2001).
são adequados para a secagem de cafés fumaça (SILVA et al., 2001).
com alto teor de água. INTERFERÊNCIA DA SECAGEM
Apesar da alta capacidade de secagem, Secagem com uso de
coletor solar NA QUALIDADE DO CAFÉ
baixo custo inicial e facilidade de manu-
seio, observam-se nos secadores de fluxos O uso de coletor solar para aquecimen- Temperatura e qualidade
cruzados alto consumo de energia, desuni- to do ar, para secagem de produtos agríco-
formidade de secagem e baixa qualidade Depois do ataque de fungos e da ocor-
las, não tem sido uma prática comum, por
do produto. De acordo com Silva (2001), rência de fermentações indesejáveis, as
causa da inexistência de sistemas comer-
deve-se, para esse tipo de secador, evitar elevadas temperaturas e taxas de secagem
ciais à disposição dos cafeicultores e da
que a temperatura do ar ou da massa de têm sido consideradas os principais fatores
necessidade de grande área de captação da
café ultrapasse 70 ºC e 45 ºC, respecti- para a perda da qualidade do café, durante
radiação solar, que permita o aquecimento
vamente. O ar de exaustão da secagem é a pós-colheita.
do ar ambiente à temperatura desejada, o
canalizado para fora do secador por meio A secagem adequada é aquela em que a
que torna o sistema antieconômico (SILVA
de ventiladores. água é removida lentamente sem, no entan-
et al., 2003).
to, permitir a ocorrência de fermentações.
Secador de camada fixa Por outro lado, a necessidade de liberação
Secagem em baixas
No secador de camada fixa ou leito temperaturas de espaço em terreiro e do próprio secador
fixo, o café permanece estático na câma- estimula a busca por uma desidratação
ra de secagem, enquanto o ar é forçado A secagem em baixas temperaturas mais rápida sem prejuízos à qualidade da
mecanicamente pelo ventilador a passar ocorre quando se usa ar forçado aquecido bebida do café. Uma das alternativas é o
através da camada do produto, reduzindo entre 5 ºC e 10 ºC acima da temperatura uso de temperaturas elevadas. Entretanto,
o seu teor de água. Após a secagem com do ar ambiente por meio de ventiladores. a má condução da secagem nos secadores
ar aquecido, o café é resfriado no próprio Em geral, nesse tipo de secagem, o produto mecânicos, em especial, no controle da
secador, interrompendo-se o fornecimento pode perder água até que seja atingido temperatura resulta, com frequência, em
de energia, deixando apenas o ventilador o equilíbrio higroscópico com o ar de cafés descascados e despolpados com
ligado. secagem. bebida dura.
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 2 , n . 2 6 1 , p . 7 6 - 8 4 , m a r. / a b r. 2 0 11

IA261.indb 81 25/5/2011 10:19:53


82 Produção de café: opção pela qualidade

Na secagem de cafés descascados, Oliveira (2010) estudaram a utilização de esse processo (BORÉM; MARQUES;
recomenda-se que a temperatura da massa altas temperaturas no início da secagem ALVES, 2008; TAVEIRA, 2009; SAATH
não ultrapasse 40 ºC. No entanto, nos seca- seguidas por temperaturas mais baixas, et al., 2010; OLIVEIRA, 2010). Grãos
dores horizontais rotativos, a temperatura visando o menor tempo de exposição do com membranas mal estruturadas, desor-
da massa é normalmente monitorada por produto à secagem sem causar prejuízos ganizadas e danificadas, em consequência
termômetros com haste de até 100 mm de na qualidade dos grãos de café. No entan- de elevadas temperaturas, lixiviam maior
profundidade. Assim, quando o termôme- to, altas temperaturas provocam perda da quantidade de solutos, apresentando
tro indicar valores máximos de 40 ºC, a qualidade sensorial independentemente maiores valores de condutividade elétrica
temperatura da massa do café já poderá ter (PRETE, 1992).
do método de secagem e da forma de
atingido valores de até 60 ºC, contrariando Estudos histoquímicos, realizados por
processamento. Esses autores verificaram
as recomendações técnicas para os valo- Borém, Marques e Alves (2008), Saath et
que temperaturas da massa de café acima
al. (2009) e Oliveira (2010), demonstraram
res máximos de temperatura, resultando de 40 ºC, independentemente do momento
a manutenção da compartimentalização
em cafés de má qualidade. Nesses casos, que são aplicadas, causam danos fisiológi-
dos corpúsculos de óleo, que se apresen-
recomenda-se que a haste do termômetro cos principalmente nos cafés processados
tam distribuídos uniformemente em todo
atinja pelo menos 50% do raio do secador via seca e, consequentemente, prejuízo na o perímetro interno da membrana plasmá-
horizontal e que a temperatura indicada qualidade da bebida (Quadros 1 e 2). tica, quando os grãos são secados a 40 ºC.
por esse termômetro não ultrapasse 40 ºC Durante a secagem, alterações fisio- Em contraste, no endosperma dos grãos
(BORÉM, 2008). lógicas podem ocorrer comprometendo a secados a 60 ºC, observou-se a fusão dos
Além do efeito direto da temperatura, a qualidade da bebida do café. Vários estu- corpúsculos de óleo formando grandes
interação entre temperatura e teor de água dos têm sido realizados para correlacionar gotas no espaço intercelular, indicando
inicial do café também interfere na qualida- a manutenção da qualidade fisiológica com a ruptura da membrana plasmática e das
de do produto, de tal forma que a qualidade a qualidade sensorial da bebida durante vesículas de óleo (Fig. 1).
não será preservada apenas evitando-se
fermentações. Com o objetivo de manter
intacto o interior do grão, a secagem deve QUADRO 1 - Valores médios das notas finais da análise sensorial do café, obtidos em função
ser a mais lenta possível. do método de secagem - Lavras, MG, 2009
Segundo Borém, Marques e Alves
Tratamento de secagem Nota final
(2008), altas taxas de secagem provoca-
das por elevadas temperaturas causam Terreiro 80,35 a
prejuízos à qualidade do café pelos danos
60/40 ºC 79,05 b
ao endosperma dos grãos. As membranas
celulares são danificadas principalmente 60 ºC 77,64 c
entre os teores de água de 30% e 20% bu,
FONTE: Taveira (2009).
quando o café natural e o despolpado são NOTA: Médias seguidas de letras minúsculas distintas na coluna diferem entre si pelo teste
secados com temperatura de 60 ºC. A de Scott-Knott, a 5% de probabilidade. Análise sensorial realizada de acordo com o
partir desses resultados, Taveira (2009) e método da Specialty Coffee Association of America (SCAA).

QUADRO 2 - Valores médios das notas sensoriais para a interação entre tratamentos de secagem e formas de processamento

Tratamento de secagem
Forma de processamento
Terreiro 50/40 ºC 60/40 ºC 40/60 °C

Despolpado 79,54 aA 79,08 aA 78,67 aA 75,96 bA

Natural 79,33 aA 76,29 bB 75,54 bB 75,88 bA

FONTE: Oliveira (2010).


NOTA: Médias seguidas de letras distintas, minúsculas nas linhas e maiúsculas nas colunas, diferem entre si pelo teste de Tukey, a 1% de
probabilidade. Análise sensorial realizada de acordo com o método da Specialty Coffee Association of America (SCAA).

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 2 , n . 2 6 1 , p . 7 6 - 8 4 , m a r. / a b r. 2 0 11

IA261.indb 82 25/5/2011 10:19:54


Produção de café: opção pela qualidade 83

30 mm A 30 mm B 100 mm C

100 mm D 1 mm E 1 mm F
Figura 1 - Alterações na estrutura do endosperma do café sujeito a diferentes condições de temperatura e secagem
FONTE: Borém (2008).
NOTA: A e B - Microscopia de luz do teste histoquímico do endosperma do café que mostra: A - Corpúsculos intactos de óleos dentro
das células (seta), B - Grandes gotas de óleo nos espaços intercelulares, indicando a ruptura da membrana plasmática; C a F -
Microscopia eletrônica do endosperma do café que mostra: C - Micrografia eletrônica de varredura das células do endosperma
do café após a secagem a 40 ºC. É possível observar a preservação do material celular no interior das células, bem como o
espaço intercelular vazio (setas), D - Micrografia eletrônica de varredura das células do endosperma do café após secagem a
60 ºC. Observa-se que as células do endosperma estão completamente cheias com material celular e os espaços intercelulares
foram obstruídos (setas), indicando a ruptura das células, E - Micrografia eletrônica de transmissão das células do endosper-
ma do café após secagem a 40 ºC. É possível observar grandes números de vesículas intactas, F - Micrografia eletrônica de
transmissão das células do endosperma após a secagem a 60 ºC observa-se a coalescência e o colapso das vesículas de óleo.

Parcelamento da secagem café, no que se refere à manutenção da CONSIDERAÇÕES FINAIS


e qualidade qualidade da bebida. A manutenção sustentável da atividade
O parcelamento da secagem, ou seja, Isquierdo (2008) estudou o efeito do cafeeira depende, entre outros fatores, de
interrupção desse processo com teor de parcelamento da secagem do café cereja redução dos custos de produção e oferta de
água elevado por horas ou até mesmo dias, desmucilado. O café foi secado à tempe- cafés de alta qualidade.
e reinício da secagem após esse período de ratura de 40 ºC, até os teores de água de O equilíbrio desses dois fatores de-
repouso, é uma técnica que tem sido reali- 16%, 20% e 24% bu, e permaneceu em pende do foco adotado pelo cafeicultor:
zada na prática para várias culturas com o repouso por 2, 6 e 12 dias até a retomada produção empresarial de larga escala ou
objetivo de reduzir o tempo efetivo de seca- da secagem. Esse autor verificou que tanto produção de cafés especiais. Em ambos os
gem (tempo de funcionamento do secador). o teor de água no início do repouso, quanto casos, a etapa de secagem possui elevada
Martin et al. (2009), ao estudarem a o período de repouso não apresentaram importância, pois é o principal componente
secagem intermitente do café cereja des- efeitos significativos na qualidade da dos custos de processamento e interfere
cascado, intercalando 12 horas de secagem bebida. Já as análises de condutividade diretamente na qualidade do café.
com ar aquecido a 50 ºC, com 12 horas elétrica e lixiviação de potássio indicaram Na cafeicultura empresarial, é funda-
de repouso, observaram uma redução de menores danos ao sistema de membranas mental a redução dos custos de processa-
24,56% no tempo efetivo de secagem do do café, quando a secagem foi interrom- mento, o que garante a produção de café
café, quando comparado com a secagem pida com o teor de água de 24% ± 2% bu, sem defeitos na bebida. Extensas áreas de
contínua. No entanto, são escassos os independentemente do tempo de repouso, terreiros e longos períodos de secagem,
resultados de pesquisas que dão suporte comparativamente com os cafés submeti- além de elevarem os custos de secagem,
ao uso dessa técnica para a secagem de dos à secagem contínua. representam gargalos no fluxo de processa-
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 2 , n . 2 6 1 , p . 7 6 - 8 4 , m a r. / a b r. 2 0 11

IA261.indb 83 25/5/2011 10:19:54


84 Produção de café: opção pela qualidade

mento. Novas tecnologias e equipamentos e intermitente, em secador de camada fixa.


que preservem a qualidade mínima do café, Revista Brasileira de Armazenamento, Vi-
mas que reduzam o tempo de secagem e, çosa, MG, n. 11 p 30-36, 2009.
consequentemente, os custos de produção, MCLOY, J. F. Mechanical drying of arabica
tornaram-se imprescindíveis para a cafei- Coffee. Kenya Coffee, Nairobi, v.44, n. 516,
cultura empresarial e moderna. p. 13-26, 1979.
Por outro lado, na cafeicultura de mon- MICHELI, G. La seca del café como factor de
tanha ou mesmo na de produção familiar, calidad, café descascado y secado en pari-
a redução do custo de produção deverá huela. In: SIMPOSIO LATINOAMERICANO
DE CAFICULTURA, 2000, San José, Costa
obrigatoriamente ser acompanhada pela
Rica. Anales... ��������������������������
San José: ICAFE: IICA-PRO-
elevação da qualidade do café. Consideran-
MECAFE, 2000. p. 55-60.
do que as sementes, após a colheita, estão
OLIVEIRA, P.D. Microscopia eletrônica de
fisiologicamente ativas e que alterações
varredura e aspectos fisiológicos associa-
metabólicas ocorrem durante o processa-
dos à qualidade da bebida de café submeti-
mento e a desidratação do café, compostos do a diferentes métodos de processamento
metabólicos podem ser consumidos e e secagem. 2010. 80p. Dissertação (Mestra-
outros podem ser produzidos, alterando do em Engenharia Agrícola) – Universidade
o perfil daqueles precursores do sabor e Federal de Lavras, Lavras, 2010.
do aroma do café torrado. Mais uma vez, PRETE, C. E. C. Condutividade elétrica do
novas tecnologias, com foco nos controles exsudato de grãos de café (Coffea arabica
finos dos parâmetros de secagem, possuem L.) e sua relação com a qualidade da bebi-
papel importante. da. 1992. 125p. Tese (Doutorado em Fitotec-
nia) – Escola Superior de Agricultura Luiz
REFERÊNCIAS de Queiroz, Piracicaba, 1992.

ABRAHÃO, E.J. et al. Qualidade do café: REINATO, C. H. R. Secagem e armazena-


terreiro pavimentação com lama asfáltica. mento do café: aspectos qualitativos e sa-
Cafeicultura, Patrocínio, v. 1, n. 4, p. 6-7, nitários. 2006. 111p. Tese (Doutorado em
nov. 2002. Ciência dos Alimentos) – Universidade Fe-
deral de Lavras, Lavras, 2006.
BORÉM, F.M. Processamento do café. In:
______. Pós-colheita do café. Lavras: UFLA, SAATH, R. et al. Microscopia eletrônica de
2008. cap.5, p.127-158. varredura do endosperma de café (Coffea
arabica L.) durante o processo de secagem.
______; MARQUES, E.R.; ALVES, E. Ul-
Ciência e Agrotecnologia, Lavras, v.34, n.1,
trastructural analysis of drying damage in
p.196-203, jan./fev. 2010.
parchment Arabica coffee endosperm cells.
Biosystems Engineering, v.99, n.1, p.62-66, SILVA, J. de S. (Ed.). Secagem e armazena-
Jan. 2008. gem do café: tecnologias e custos. Viçosa,
MG: UFV, 2001. 162p.
BROOKER, D. B.; BAKKER-ARKEMA, F. W.;
HALL, C. W. Drying cereal grains. West- ______. et al. Custo e gerenciamento da se-
port: AVI, 1978. 265p. cagem de café em sistemas combinados. In:
CHRISTENSEN, C. M.; KAUFMANN, H. ZAMBOLIM, L. (Ed.). Tecnologias de pro-
H. Microflora. In: ______. (Ed.). Storage of dução de café com qualidade. Viçosa, MG:
cereal grain and their products. 2.ed. St. UFV, 2001. p. 475-526.
Paul: American Association of Cereal Che- ______. et al. Sistema híbrido para seca-
mists, 1974. p.158-192. gem: solar e biomassa. Viçosa, MG: UFV,
ISQUIERDO, E.P. Secagem e qualidade do 2003. 65p.
café cereja desmucilado submetido a di- TAVEIRA, J.H.S. Aspectos fisiológicos e
ferentes períodos de repouso. 2008. 98p. bioquímicos associados à qualidade da
Dissertação (Mestrado em Engenharia Agrí- bebida de café submetido a diferentes mé-
cola) – Universidade Federal de Lavras, La- todos de processamento e secagem. 2009.
vras, 2008. 67p. Dissertação (Mestrado em Ciência dos
MARTIN, S. et al. Qualidade do café cereja Alimentos) – Universidade Federal de La-
descascado submetido a secagem contínua vras, Lavras, 2009.

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 2 , n . 2 6 1 , p . 7 6 - 8 4 , m a r. / a b r. 2 0 11

IA261.indb 84 25/5/2011 10:19:55


Produção de café: opção pela qualidade 85

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 2 , n . 2 6 1 , p . 7 6 - 8 4 , m a r. / a b r. 2 0 11

IA261.indb 85 25/5/2011 10:19:56


86 Produção de café: opção pela qualidade

Armazenamento e qualidade do café


Flávio Meira Borém 1
Fabiana Carmanini Ribeiro 2
Luisa Pereira Figueiredo 3
Francile Dias Barbosa 4

Resumo - O armazenamento é uma prática obrigatória na cadeia produtiva do café e tem


a finalidade de manter a qualidade do produto estocado por um período que se estende
da colheita até a comercialização, permitindo a adequada distribuição e o abastecimento
de diferentes mercados consumidores. O café é um dos produtos agrícolas cujo preço
baseia-se em parâmetros qualitativos, variando significativamente o valor com a
melhoria de sua qualidade. A qualidade da bebida do café, caracterizada principalmente
por seu sabor e aroma, é determinada por precursores presentes no grão cru, inerentes
aos fatores genéticos, ambientais e tecnológicos envolvidos nos processos de produção,
colheita, método de secagem e processamento. Contudo, a manutenção desses atributos
sensoriais desejáveis depende essencialmente das condições de armazenamento do
café que garante o suprimento das demandas, a distribuição do produto no espaço e no
tempo, sendo peça fundamental na relação dos preços praticados no mercado.

Palavras-chave: Coffea arabica. Armazém. Cafés especiais. Características sensoriais.


Composição química. Qualidade do café. Grão cru.

INTRODUÇÃO demandas na entressafra e/ou assegurar ao na gestão econômica da atividade agrícola.


produtor melhor preço no mercado. Um armazenamento eficiente ocorrerá
O café é um dos produtos agrícolas
Para que o setor de armazenamento em estruturas tecnicamente adequadas,
cujo preço baseia-se em parâmetros qua-
atinja sua finalidade é necessário um con- localizadas nas fazendas, em cooperativas
litativos, variando significativamente o
valor com a melhoria de sua qualidade. No junto bem estruturado de armazéns e silos ou centros distribuidores.
mercado mundial, cresce cada vez mais a que constituem a rede armazenadora. Es- Nas unidades de fazenda, os armazéns
demanda por cafés especiais em propor- truturalmente, uma rede de armazenagem ou silos localizam-se na empresa agrícola
ções maiores do que os cafés commodities, apresenta-se como elemento indispensável prestando serviço a um só usuário. Em
indicando a preferência dos consumidores à cadeia produtiva do café. É constituída geral, predominam as tulhas para o ar-
por cafés de qualidade que tenham atribu- de estruturas convencionais e granelizadas mazenamento a granel do café em coco
tos diferenciados. destinadas a receber a produção de café, ou em pergaminho e, em menor escala, o
A preservação desses atributos senso- preservá-la em perfeitas condições técnicas armazenamento convencional em sacos.
riais depende essencialmente das condi- e redistribuí-la posteriormente. Por possi- As unidades coletoras, localizadas nas
ções de armazenamento do café, sendo, bilitar a estabilização dos preços e garantir proximidades das fazendas e em centros
por essa razão, considerado uma das mais o abastecimento, a rede de armazenamento de produção, servem a vários usuários,
importantes etapas para a manutenção da constitui um elemento indispensável ao sendo representadas pelas cooperativas e
qualidade do produto final, além de suprir incentivo à produção, sendo peça-chave armazéns gerais. Já as unidades terminais

Engo Agro, Pós-Doc, Prof. Associado III UFLA - Depto. Engenharia, Caixa Postal 3037, CEP 37200-000 Lavras-MG. Correio eletrônico:
1

flavioborem@deg.ufla.br
2
Enga Agra, Doutoranda UFLA - Depto. Engenharia, Caixa Postal 3037, CEP 37200-000 Lavras-MG. Correio eletrônico: fabianacarmanini@yahoo.com.br
Eng a Alimentos, Doutoranda UFLA - Depto. Ciência dos Alimentos, Caixa Postal 3037, CEP 37200-000 Lavras-MG. Correio
3

eletrônico:lupefi@gmail.com
4
Enga Agrícola, Mestranda UFLA - Depto. Engenharia, Caixa Postal 3037, CEP 37200-000 Lavras-MG. Correio eletrônico: francile_barbosa@yahoo.com.br

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 2 , n . 2 6 1 , p . 8 6 - 9 3 , m a r. / a b r. 2 0 11

IA261.indb 86 25/5/2011 10:19:57


Produção de café: opção pela qualidade 87

localizam-se nas indústrias e nos portos. e manuseio do produto: o café armazenado Além disso, o acesso e a inspeção dos
Em ambos os casos, o armazenamento é em sacos de juta refere-se ao convencional, lotes depositados são comparativamente
feito predominantemente do café beneficia- e, no armazenamento a granel, o café é mais fáceis do que no sistema granelizado.
do, sendo o maior volume estocado de for- estocado e manuseado sem sacaria. Qual- Além disso, o acesso e a inspeção dos
ma convencional em sacos. Recentemente, quer que seja o método, o local escolhido lotes depositados são comparativamente
empresas exportadoras vêm adotando, de para instalar o armazém deve ser limpo, mais fáceis do que no sistema granelizado.
maneira crescente, o armazenamento a ventilado e ensolarado. No entanto, o armazenamento conven-
granel do café beneficiado com o objetivo cional apresenta algumas desvantagens. O
de reduzir custos operacionais. Armazenamento elevado custo operacional, representado
Durante o armazenamento, normal- convencional principalmente pela necessidade de repo-
mente as características iniciais do café sição de sacaria, e o intenso uso de mão
Segundo Corrêa et al. (2003) e Vieira et
são alteradas, podendo ocorrer transfor- de obra nas operações de movimentação
al. (2001), a maior parte do café brasileiro
mações físicas, químicas e sensoriais que podem ser consideradas como as principais
é armazenado no sistema convencional, em
se intensificam com o tempo, dependendo desvantagens. Também são consideradas
sacos de juta, em razão do grande número
das condições e das variações ambientais. desvantagens:
de armazéns construídos e em funciona-
Além do ataque de fungos e insetos, o a) a baixa cadência operacional, ou
metabolismo dos frutos secos (natural ou mento no País.
O armazenamento convencional (Fig.1) seja, menor agilidade nas operações
em pergaminho) ou do café beneficiado re-
apresenta algumas vantagens, tais como: de carga, descarga e movimentação
sulta em mudanças na cor, sabor e aroma do
do produto;
café. Fatores como temperatura, umidade a) possibilidade de manter a individu-
relativa (UR) do ar ambiente, concentração b) baixa adaptação à automação dos
alidade dos lotes;
de dióxido de carbono/oxigênio (CO2/O2), processos;
b) remoção de qualquer quantidade de
luz, qualidade inicial do produto armaze- c) não permite o uso de termometria e
sacos para se formar ligas;
nado, teor de água, estádio de maturação, aeração para o controle da tempera-
tipo de armazenamento entre outros, deter- c) remoção de sacos que tenham sofri- tura;
minam o potencial de preservar a qualidade do algum tipo de deterioração;
d) demanda maior área para uma mes-
do café durante o armazenamento. d) adaptação vantajosa ao comércio de ma massa de café armazenado com-
A determinação da qualidade do café pequena escala; parativamente ao armazenamento a
baseia-se na avaliação de suas caracte- e) menor custo inicial das instalações. granel.
rísticas físicas e sensoriais, por meio da
classificação por peneira, tipo, análise da
bebida e pelo aspecto visual.

MÉTODOS DE
ARMAZENAMENTO
O armazenamento de grãos tem a fi-
nalidade de manter a qualidade do produto
estocado por um período que se estende da
colheita até a comercialização, permitindo,
assim, a adequada distribuição e o abaste-
cimento de diferentes mercados consumi-
dores (BORÉM et al., 2008a).
Para um adequado armazenamento, o
processo deve-se iniciar na propriedade, logo
após a secagem. O café é armazenado em
coco ou em pergaminho, em tulhas, para que
Flávio Meira Borém

ocorra estabilização de seus componentes


químicos e homogeneização do teor de água.
Segundo Borém et al. (2008a), o mé-
todo de armazenamento é classificado de
acordo com a forma de acondicionamento Figura 1 - Armazenamento convencional de café

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 2 , n . 2 6 1 , p . 8 6 - 9 3 , m a r. / a b r. 2 0 11

IA261.indb 87 25/5/2011 10:19:57


88 Produção de café: opção pela qualidade

Tecnicamente, outra limitação do arma-


zenamento convencional é a maior área de
produto exposta ao ar ambiente, podendo
resultar em problemas decorrentes das tro-
cas de água. Nesse caso, ora o café poderá
perder água para o ar mais seco, implican-
do na redução do peso do café estocado,
ora poderá ocorrer reumedecimento, ace-
lerando os processos de branqueamento
e depreciação do café, como ocorre nos
períodos mais úmidos do ano.
Ainda assim, a comercialização do
café beneficiado possui características pe-
culiares, estando fortemente embasada no
método convencional, o que limita o uso
de outras formas de manuseio e estocagem.
Outra forma de acondicionamento que
vem sendo utilizada nos armazéns são
embalagens denominadas big-bag, com
capacidade para até 1.200 kg (Fig. 2). Es-

Fabiana Carmanini Ribeiro


sas big-bags apresentam a vantagem de se
adaptarem facilmente ao manuseio mecani-
zado, minimizando o uso da mão de obra.
Destaca-se, como desvantagem, a redução
da capacidade estática de armazenamento,
pela limitação da altura máxima de empilha-
mento. Para garantir estabilidade das pilhas, Figura 2 - Armazenamento de café em big-bags
recomenda-se empilhamento máximo de
três big-bags. Além disso, da mesma forma e, portanto, baixa atividade metabólica. longa distância e por períodos prolonga-
que nos sacos de juta, as big-bags apresen- Entretanto, tem elevado custo, não sendo dos. No entanto, além do elevado custo,
tam a desvantagem de ser permeáveis ao ar
viável para diversos produtores. têm capacidade para apenas 60 kg e não
ambiente (BORÉM et al., 2008a).
Borém et al. (2008b) e Nobre et al. apresentam resistência à tração mecânica,
Técnicas de armazenamento do café em
(2007) afirmam que o armazenamento chegando, muitas vezes, aos países im-
acondicionamento com atmosfera artificial
em sistemas herméticos, que permitam a portadores danificadas e com perfurações
têm potencial para garantir a preservação
modificação ou o controle da atmosfera, (HARRIS; MILLER, 2008).
da qualidade por períodos mais prolonga-
apresenta-se como alternativa viável na Ribeiro (2010) propôs a utilização
dos e oferecer, ainda, melhoria na aparên-
preservação da qualidade dos grãos de de big-bags herméticos revestidos com
cia e diferenciação do produto.
café, principalmente para a linha de cafés lona plástica de alta resistência (confor-
Segundo Borém et al. (2008b), algu-
mas empresas brasileiras de produção e diferenciados, de alta qualidade e maior me especificado na patente depositada
exportação de café já vêm utilizando o valor agregado. no PI0903676-8) para o armazenamento de
acondicionamento a vácuo com sucesso na Atendendo a uma demanda crescente grãos de café sob atmosfera controlada e
preservação da qualidade dos grãos. Esse por novas embalagens para grãos de café, modificada, visando à preservação da qua-
tipo de acondicionamento tem como prin- recentemente surgiram, no mercado, sacos lidade por períodos prolongados. A atmos-
cipais méritos: remoção de diversos gases e plásticos impermeáveis ao CO2, denomi- fera controlada baseia-se na modificação e
outros voláteis, redução da pressão parcial nados GrainProTM, os quais estão sendo no monitoramento periódico da concentra-
de O2 em níveis inferiores aos obtidos com utilizados para revestir os tradicionais ção dos gases, como o CO2, no ambiente
controle atmosférico. sacos de juta (TRUBEY; RAUDALES; de armazenamento. Já a atmosfera mo-
Grãos armazenados em embalagens MORALES, 2005). Essas embalagens vêm dificada é aquela formada em recipiente
hermeticamente fechadas e a vácuo de- sendo empregadas principalmente durante hermeticamente fechado, criada ao redor
verão apresentar baixo conteúdo de água o transporte marítimo, para exportação a do produto, por causa da impermeabilidade
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 2 , n . 2 6 1 , p . 8 6 - 9 3 , m a r. / a b r. 2 0 11

IA261.indb 88 25/5/2011 10:19:57


Produção de café: opção pela qualidade 89

da embalagem e da respiração do produto e edificações e pode ser dividida em área útil térmico e também para evitar o reume-
dos demais organismos vivos ali presentes, e área inaproveitável. A área útil refere-se decimento do café. Ainda assim, pode-se
porém, sem controle das concentrações dos àquela aproveitável para o armazenamento observar, em determinadas regiões ou
gases (WHITE; LEESCH, 1996). da mercadoria, enquanto a área inaprovei- períodos do ano, reumedecimento do café
Do ponto de vista dos aspectos cons- tável é ocupada pela balança, local para localizado na parte superior das tulhas.
trutivos, os armazéns convencionais devem recepção de mercadorias, ruas para trânsito Recomenda-se, nesse caso, cobrir o café
ser projetados para propiciar condições no interior do armazém, etc. A área útil do com panos ou lonas.
seguras de armazenagem por longos pe- armazém normalmente deve representar A granelização do café beneficiado
ríodos, devendo, para isso, apresentar boa 80% da área total. tem-se mostrado como uma tendência
ventilação, impermeabilização do piso, ilu- para grandes empresas exportadoras com
minação controlada e pé-direito adequado. Armazenamento a granel vistas à redução dos custos de manuseio e
Outras medidas podem ser adotadas No armazenamento a granel, o café é transporte. Alguns armazéns e cooperativas
para aumentar a segurança do café: estocado e manuseado sem o uso de saca- já estão operando com o sistema a granel
rias ou outras embalagens. Essa é a forma combinado com o sistema convencional.
a) proteção contra ratos;
predominante no armazenamento do café Nesse caso, o café poderá chegar ao ar-
b) fundação elevada e piso impermeá- em coco e em pergaminho, quando ainda mazém em sacas de juta, ser armazenado
vel com boa drenagem do terreno; encontram-se nas fazendas (Fig.3). As convencionalmente, porém ser manuseado
c) isolamento da área de armazenamento tulhas são as estruturas tradicionalmente e disposto em contêineres a granel, no
de outras áreas destinadas ao proces- usadas para essa finalidade. Normalmente, momento da exportação.
samento, evitando-se pó e ar úmido; são silos multicelulares de madeira com Atualmente, o armazenamento a granel
d) manter limpas as partes interna e fundo plano ou inclinado. As tulhas de de café beneficiado em silos metálicos vem
externa do armazém, sem acúmulo fundo plano, apesar de possuírem maior sendo adotado por empresas que comer-
de entulho, pó, grãos e sacos de safra capacidade, necessitam de mão de obra cializam grandes quantidades de café com
remanescente; para seu total descarregamento. características uniformes.
As tulhas devem ser construídas de O armazenamento a granel oferece
e) isolamento contra umidade das duas
madeira para garantir melhor isolamento algumas vantagens sobre o armazenamento
primeiras fiadas de sacos, evitando
contato com o piso.
Os lotes podem ser formados em
função do tipo de café e proprietário, pre-
servando-se a identidade do material depo-
sitado ou formado em função de padrões
preestabelecidos com base no tipo e na
bebida, independentemente do depositante,
descaracterizando, assim, sua identidade.
Sob o ponto de vista administrativo, o lote
é a unidade de registro no armazém. Esse
terá um endereço definido e seu histórico
deverá ser registrado desde a chegada ao
armazém até a expedição.
Com o objetivo de facilitar a localiza-
ção dos lotes nos armazéns, esses podem
ser divididos de acordo com a arquitetura
do prédio e disposição de suas portas e
colunas de sustentação. A maioria dos
armazéns convencionais são divididos em:
Flávio Meira Borém

ruas, quadras e blocos, ficando a critério


de cada empresa designar ou não uma
nomenclatura específica para essa divisão.
A área do armazém compreende toda a
superfície do terreno ocupada pelas várias Figura 3 - Armazenamento granelizado de café em tulhas de madeira

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 2 , n . 2 6 1 , p . 8 6 - 9 3 , m a r. / a b r. 2 0 11

IA261.indb 89 25/5/2011 10:19:57


90 Produção de café: opção pela qualidade

convencional, como: maior velocidade ALTERAÇÕES NA QUALIDADE A cor dos grãos de café possui im-
na carga e descarga, menor custo de DO CAFÉ DURANTE O portância do ponto de vista econômico,
transporte, maior controle da temperatura ARMAZENAMENTO uma vez que cafés descoloridos ou com
do produto armazenado, quando devida- Aos cuidados nas fases de pré e pós- diferentes níveis de branqueamento rece-
mente equipado com sistema de aeração colheita, devem-se somar cuidados espe- berão menor preço no mercado. Além da
e termometria, além de menor demanda ciais na fase de armazenamento dos grãos desvalorização comercial, as alterações
de recursos humanos por causa da grande de café beneficiados, uma vez que estes es- na cor constituem um forte indicativo
utilização da mecanização nos processos tão sujeitos a alterações físicas, químicas, da ocorrência de processos oxidativos e
e maior aproveitamento da área de arma- bioquímicas e sensoriais comprometedoras transformações bioquímicas de natureza
zenamento. de sua qualidade (COELHO; PEREIRA; enzimática que irão alterar quantitativa e
Entretanto, apresenta também desvan- VILELLA, 2001; ARÊDES et al., 2002; qualitativamente a composição dos pre-
tagens como: maior investimento inicial NOBRE et al., 2007). cursores do sabor e do aroma dos grãos,
na construção dos silos, dificuldade de resultando na queda da qualidade da
O conjunto de atributos, que irão definir
individualizar lotes pequenos e remoção bebida (CORRÊA et al., 2003; NOBRE
a qualidade final do café, depende da es-
de grãos que, eventualmente, estejam et al., 2007).
pécie, da variedade, do solo e do ambiente
deteriorados. Outra objeção ao armaze- Durante o armazenamento, a cor
de produção, dos tratos culturais aplicados,
namento a granel de café é a dificuldade dos grãos de café pode passar de verde-
da época e do método de colheita, do pro-
de fazer um preciso controle do estoque azulada para verde-amarelada, amarela ou
cessamento e da secagem.
armazenado. totalmente esbranquiçada. A intensidade
Vieira et al. (2001), ao estudarem o Para que o café possa ser ofertado por
do branqueamento está diretamente rela-
armazenamento de cafés a granel em silos um longo período, mantendo-se a qualida-
cionada com as condições ambientais e
metálicos, não herméticos, com e sem de inicial, há necessidade de conhecer as
fatores, como injúrias sofridas pelos grãos,
aeração, concluíram que, embora tenha alterações que ocorrem durante o armaze-
luz, UR, temperatura, teor de água, tempo
ocorrido variação nos valores médios dos namento sob diferentes condições e, assim,
de armazenagem e tipo de embalagem
componentes químicos e aumento do teor determinar o controle necessário para sua
(NOBRE et al., 2007; AFONSO JÚNIOR;
de água, houve manutenção da qualidade adequada preservação.
CORRÊA, 2003).
do produto e melhor preservação, se com- As interações entre fatores abióticos,
O branqueamento tem seu início em
parado ao armazenamento tradicional de como temperatura, teor de água, concentra-
diferentes pontos dos grãos que sofreram
sacaria. ção de gases, UR do ar, tipo e condições do
danificações mecânicas, alastrando-se,
armazém, características do sistema de ar-
posteriormente, por toda a sua superfície.
PROCEDIMENTOS PARA mazenagem, e fatores bióticos, como grãos, O tempo necessário para o aparecimento
ARMAZÉNS DE CAFÉ insetos, ácaros, fungos e bactérias, fazem das manchas e seu posterior alastramento
Existem vários procedimentos e com que os grãos armazenados se tornem é dependente das condições de armaze-
nomenclaturas usualmente aplicados um ecossistema, cuja dinâmica, dependendo namento. Conforme as condições, o grão
em armazéns gerais de café. Algumas dos níveis desses fatores e do grau de intera- chega a ficar totalmente branco-opaco em
variações podem ocorrer entre empresas ções, pode levar ao processo de deterioração apenas três ou quatro dias, enquanto grãos
de acordo com sua localização, normas com maior ou menor velocidade. intactos isentos de danificações mantêm,
internas e escala de comercialização. Esses proporcionalmente, a cor original por
Alterações na cor
procedimentos são essenciais para dar ma- maior período do que os grãos danificados
nutenção ao sistema de gerenciamento do Os atuais procedimentos para a avalia- (BACCHI, 1962).
armazém, bem como garantir a qualidade ção do café cru baseiam-se em uma série A luz possui influência sobre a cor e a
e a distinção dos lotes. Tais procedimentos de análises e determinações subjetivas. bebida dos grãos de café. Entretanto, nem
e nomenclaturas são detalhados por Borém Nas avaliações, consideram-se as carac- todos os comprimentos de onda possuem
et al. (2008a). terísticas físicas, como forma, tamanho, este efeito. Somente quando os grãos são
Os armazéns, além de promoverem o cor, uniformidade dos grãos e tipo de expostos à luz branca e à luz transmitida
armazenamento do café, também realizam bebida. Em razão de estar diretamente nos comprimentos de onda na faixa violeta-
o beneficiamento, caso o café recebido relacionada com a qualidade de bebida, a azul é possível verificar alterações na cor
seja em coco e o depositante autorize o cor do grão cru tem importância superior e na qualidade da bebida do café (LOPES
benefício e o rebenefício de acordo com à do tamanho, sendo uma das característi- et al., 2000). Preferencialmente, o café de-
os padrões comerciais de cada cooperativa cas que mais chamam a atenção durante a verá ser armazenado em locais com baixa
ou armazém geral. comercialização. luminosidade natural.
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 2 , n . 2 6 1 , p . 8 6 - 9 3 , m a r. / a b r. 2 0 11

IA261.indb 90 25/5/2011 10:19:57


Produção de café: opção pela qualidade 91

Além da luz, ambientes com baixa UR atmosfera artificial mostra-se, nesse caso, produto. A intensidade da redução da MS
do ar têm papel relevante na preservação como uma alternativa viável para a pre- dependerá das condições e do tempo de
da cor original do café (BACCHI, 1962). O servação da qualidade do café durante o armazenamento (ARÊDES et al., 2002).
processo de branqueamento será acentuado armazenamento. Entretanto, as etapas anteriores ao armaze-
quando a UR estiver acima de 80% e os Segundo Nobre et al. (2007), Afonso namento também poderão interferir nesse
grãos, em equilíbrio com o ar, estiverem Júnior e Corrêa (2003), e Lopes et al. fenômeno, tendo em vista que as condições
com valores acima de 13% base úmida (bu) (2000), quando o café é armazenado com de processamento e secagem poderão
de teor de água (BACCHI, 1962). Quando casca, o fenômeno do branqueamento pode favorecer o desenvolvimento de microrga-
a UR do ar for igual a 52% e a temperatura não ser observado, uma vez que os revesti- nismos que irão influenciar diretamente na
igual a 10 ºC não se observarão alterações mentos externos do fruto contribuem para intensidade da respiração. Assim, maiores
na cor de grãos de café com 11% bu de teor a sua proteção, reduzindo os possíveis valores de redução da MS são observados
de água. Grãos com teor de água acima do efeitos ambientais. Entretanto, o armazena- para cafés secados em terreiro de terra
limite, denominado nível crítico, mudam mento do café na sua forma em coco não é comparativamente aos secados em terreiro
de cor mais facilmente, quando armaze- um método adotado comercialmente pelas de cimento (ALVES et al., 2003).
nados sob temperaturas mais elevadas cooperativas e armazéns gerais. Os valores de perda de MS descritos
(BORÉM et al., 2008a). Ribeiro (2010), ao estudar o efeito do na literatura para grãos de café são baixos
O efeito do ambiente de armazenamen- tempo de armazenamento e de diferentes não ultrapassando 0,009% após 80 dias
to sobre o branqueamento também será embalagens sobre a qualidade da bebida de armazenamento, com temperatura que
percebido pela influência da temperatura do café beneficiado, concluiu que o uso varia entre 20 ºC a 25 ºC e UR que varia
de tal maneira que, quanto maior a tempe- de embalagens herméticas, com desta- entre 60% e 80% (ALVES et al., 2003).
ratura mais acentuada será a alteração na que para aquelas com aplicação de CO2, Assim, normalmente, essas variações
cor dos grãos de café (BACCHI, 1962). proporcionaram melhor preservação na são desconsideradas pela maioria das
As alterações serão mais rapidamente coloração dos grãos de café após 12 meses empresas de armazenamento de café. Ao
percebidas, quando a temperatura do ar- de armazenamento. contrário do que ocorre com outros grãos,
mazenamento for superior a 40 ºC. no café não é comum os descontos relati-
Vilela, Chandra e Oliveira (2000), ao Alterações na matéria seca vos à quebra técnica, ou seja, à redução no
estudarem a alteração da cor de grãos de A manutenção da qualidade do café está peso do produto durante o armazenamento
café durante o armazenamento, combinando intimamente ligada ao metabolismo dos em decorrência da respiração dos grãos e
níveis de temperatura (10 ºC, 20 ºC, 30 ºC grãos que será tanto mais intenso quanto consumo de MS.
e 40 ºC) com UR (52%, 67%, 75% e 85%), maiores forem a temperatura e a UR do Alves et al. (2003) realizaram trabalho
verificaram perda de cor, à medida que ambiente e maiores forem os teores de com o objetivo de quantificar a produção de
houve aumento de UR e da temperatura do água do produto (ARÊDES et al., 2002). CO2 e a perda de MS em função do teor de
ar ambiente. O café armazenado é um organismo água dos grãos de café (Coffea arabica L.),
No Brasil, o período de estocagem vivo e, portanto, respira. Consequentemen- armazenados em diferentes temperaturas.
do café inicia-se logo após os primeiros te, os grãos estão sujeitos a pequenas, mas Esses autores concluíram que a produção
meses de colheita. Assim, o café ficará contínuas transformações. A respiração sob de CO2 e a perda de MS tendem a crescer
armazenado tanto em períodos frios como condições aeróbicas é o processo pelo qual com o aumento do teor de água e da tem-
em períodos quentes e úmidos, com risco as células vivas oxidam os carboidratos, peratura de armazenamento.
de ser atingida a condição favorável ao gorduras e proteínas, produzindo gás car- Coelho, Pereira e Vilella (2001) ava-
processo de branqueamento. bônico, água e energia na forma de calor. liaram a qualidade do café em função do
Uma vez alterada a cor, o café não O aumento da atividade respiratória tempo de armazenamento e de diferentes
mais retomará as características desejáveis. acelera o consumo das substâncias de tipos de embalagens: sacos de polietileno,
Deve-se, assim, haver um rigoroso controle reserva do café, causando redução no sacos de aniagem e recipientes herméticos
das condições ambientais com um sistema conteúdo de matéria seca (MS). Segun- de alumínio. Esses autores afirmaram que
adequado de ventilação e monitoramento do Pimenta, Costa e Chagas (2000), os qualquer fator ambiente que altere a estru-
do teor de água do café. Sempre que polissacarídeos presentes nos grãos de tura da membrana celular pode provocar
possível, o ambiente do armazém deve café, advindos da degradação do amido, rápida deterioração dos grãos. Concluíram
permanecer com UR abaixo de 70% e com podem ser metabolizados e produzir o que, quando os grãos são armazenados em
a menor temperatura possível. CO2. Tal fato pode causar perda de massa sacos de juta, ocorre maior variação do teor
Essas condições nem sempre são durante o armazenamento e produção de de água e também maiores perdas de MS
obtidas ou mesmo controladas. O uso de alguns ácidos prejudicais à qualidade do durante o armazenamento.
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 2 , n . 2 6 1 , p . 8 6 - 9 3 , m a r. / a b r. 2 0 11

IA261.indb 91 25/5/2011 10:19:57


92 Produção de café: opção pela qualidade

Alterações químicas e Diversos pesquisadores têm utilizado, uma associação positiva entre os níveis
sensoriais com frequência, análises físico-químicas de açúcares redutores e não redutores e a
e sensoriais, com o objetivo de avaliar as qualidade da bebida.
A intensidade das atividades metabó-
alterações da qualidade do café durante Uma das hipóteses prováveis para a
licas, bem como a ocorrência de micror-
o armazenamento (RIGUEIRA et al., redução dos teores de açúcares ao longo
ganismos durante o armazenamento, irá
2009; CORADI; BORÉM; OLIVEIRA, do armazenamento é a de que parte desses
alterar a composição química dos grãos e
2008; NOBRE et al., 2007; COELHO et compostos seja metabolizada por micror-
suas características sensoriais.
al., 2001). Dependendo da temperatura e ganismos. Dessa maneira, espera-se que,
O desenvolvimento de fungos toxi-
da UR do ambiente, do tipo de café e da quanto maior a deterioração do produto,
gênicos e a produção de micotoxinas
forma de acondicionamento dos grãos, maior será o consumo de açúcares, causan-
dependem de um complexo conjunto de
podem ocorrer diversas alterações duran- do sua redução ao longo do armazenamen-
fatores. Os principais são a suscetibilida-
te o armazenamento. Merecem destaque to (CORADI et al., 2007). Maiores valores
de do substrato, a colonização do fungo
o teor de açúcares, o teor de polifenóis, de açúcares poderão ser encontrados nos
produtor, a temperatura e a umidade do
a acidez graxa, a acidez titulável total, cafés em coco, comparativamente aos
substrato, a UR do ar durante o armazena-
os sólidos solúveis, assim como a con- cafés despolpados e beneficiados após o
mento e a capacidade biológica de o fungo
dutividade elétrica (CE) e a lixiviação armazenamento.
produzir micotoxinas. Os fungos normal-
de potássio (K), indicadores da integri- Os compostos fenólicos contribuem
mente encontrados no café e associados
dade da membrana. A degradação dos de maneira altamente significativa para
à produção de toxinas são: Aspergillus
compostos químicos do café pode gerar o sabor do café, sendo responsáveis pelo
spp., Penicillium spp. e Fusarium spp. compostos indesejáveis ao paladar. As- sabor adstringente. Rigueira et al. (2009)
(SCUSSEL, 2000). sim, a qualidade da bebida do café poderá verificaram que, na condição de armazena-
Em caso de suspeita de contaminação ser afetada no armazenamento, ocorrendo mento refrigerado, a 15 ºC, os compostos
de lotes de café armazenados, devem-se redução dos atributos sensoriais (acidez fenólicos dos grãos de café foram mantidos
considerar as condições de armazenamento da bebida, sabor, doçura e corpo), sendo durante o período de 180 dias.
(presença de goteiras ou outras fontes de mais acentuada para maiores temperatu- O teste de acidez graxa tem sido uti-
elevação das condições de UR e do grão ras e UR (CORADI; BORÉM; VILELLA, lizado como indicador de alterações na
no armazém) e realizar um inventário do 2008). A depreciação do café é observada qualidade de grãos, tendo em vista que os
lote suspeito (idade, classificação original quando, durante o armazenamento, ocorre óleos são um dos primeiros compostos a
quanto ao tipo e qualidade da bebida, pro- redução no teor de açúcares, aumento ser oxidados nos grãos deteriorados (CO-
cedência). Uma vez concluído o inventário, dos polifenóis, aumento da acidez total RADI; BORÉM; OLIVEIRA, 2008).
amostras representativas dos lotes devem titulável e acidez dos óleos, aumento da A manutenção da integridade das mem-
ser coletadas e encaminhadas para o la- CE e da lixiviação de K. Entretanto, essas branas celulares dos grãos de café favorece
boratório, visando determinar o nível de alterações são claras no armazenamento a preservação do aroma e sabor desejáveis.
contaminação. do café beneficiado em sacos de juta. Os grãos com membranas mal estruturadas,
Considerando que as micotoxinas são Uma vez permeável, essa embalagem desorganizadas ou danificadas por insetos,
contaminantes naturais e que, na maioria permite as trocas de água com o ambiente, microrganismos, máquinas, secagem ou
das vezes, não podem ser completamente elevando o teor de água dos grãos e pos- por períodos prolongados de armaze-
eliminadas sem que se interdite o alimento sibilitando, assim, a redução da qualidade namento lixiviam maior quantidade de
suscetível, os países importadores, princi- da bebida. solutos na água de imersão, apresentando
palmente os europeus, têm estabelecido Os açúcares têm relação direta com maiores valores de CE e lixiviação de K
limites máximos toleráveis de ingestão a qualidade da bebida, pois contribuem (KRZYZANOWSKY; FRANÇA NETO;
diária de toxinas para alguns alimentos com a doçura, uma das características de HENNING, 1991). Estas análises têm
incluindo o café (SCUSSEL, 2000). sabor mais desejável no café. Participam de apresentado correlação com a qualidade
Casos em que o produto estiver exposto importantes reações químicas que ocorrem da bebida do café, em que o aumento da
a condições extremamente favoráveis ao durante a torração do café e que estão rela- quantidade de exsudados determinados na
comprometimento das qualidades senso- cionadas com a qualidade final do produto, água de embebição corresponde à perda
riais, com sinais visíveis de deterioração, o como a formação de compostos resultan- de qualidade do produto (CORADI et al.,
lote já deverá, de antemão, ser considerado tes da reação de Maillard que originam 2007; COELHO; PEREIRA; VILELLA,
impróprio para o consumo, não necessitan- compostos responsáveis pela formação 2001).
do investir em análises de alto custo como da cor, do sabor e do aroma peculiar da Ribeiro (2010), ao trabalhar com cafés
as de micotoxinas. bebida. Coradi et al. (2007) observaram acondicionados em big-bags herméticos
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 2 , n . 2 6 1 , p . 8 6 - 9 3 , m a r. / a b r. 2 0 11

IA261.indb 92 25/5/2011 10:19:58


Produção de café: opção pela qualidade 93

enriquecidos com CO2, observou menores COELHO, K.F.; PEREIRA, R.G.F.A.; VI- PIMENTA, C.J.; COSTA, L.; CHAGAS, S.J.R.
valores de acidez graxa, lixiviação de K LELLA, E.R. Qualidade do café beneficiado Peso, acidez, sólidos solúveis, açúcares e
e condutividde elétrica após 12 meses de em função do tempo de armazenamento e compostos fenólicos em café (Coffea arabica
de diferentes tipos de embalagens. Revista L.), colhidos em diferentes estágios de matu-
armazenamento. Confirmando, portanto,
Brasileira de Armazenamento, Viçosa, MG, ração. Revista Brasileira de Armazenamento,
a viabilidade técnica do uso dessas em- n.2, p.22-27, 2001. Volume especial. Viçosa, MG, n.1, p.23-30, 2000. Especial café.
balagens herméticas na manutenção da
CORADI, P.C.; BORÉM, F.M.; OLIVEIRA, RIBEIRO, F.C. Armazenamento de café be-
qualidade do café em período prolongado
J.A. Qualidade do café natural e despolpado neficiado em embalagens herméticas com
de armazenamento. após diferentes tipos de secagem e armaze- injeção de CO2. 2010. 110p. Dissertação
namento. Revista Brasileira de Engenharia (Mestrado em Engenharia Agrícola) – Uni-
REFERÊNCIAS Agrícola e Ambiental, Campina Grande, versidade Federal de Lavras, Lavras, 2010.
v.12, n.2, p.181-188, mar./abr. 2008.
AFONSO JÚNIOR, P.C.; CORRÊA, P.C. Influ- RIGUEIRA, R.J. de A. et al. Armazenamento
ência do tempo de armazenagem na cor dos _________. et al. Efeito das condições de se- de grãos de café cereja descascado em ambien-
grãos de café pré-processados por “via seca” cagem e armazenamento sobre a qualidade te refrigerado. Engenharia na Agricultura, Ja-
e “via úmida”. Ciência e Agrotecnologia, La- do café natural e despolpado. Coffee Scien- boticabal, v.17, n.4, p.323-333, jul./ago. 2009.
vras, v.27, n.6, p.1268-1276, nov./dez. 2003. ce, Lavras, v.2, n.1, p.38-47, jan./jun. 2007.
SCUSSEL, V. M. (Ed.) Atualidades em mi-
ALVES, W.M. et al. �����������������������
Influência do processa- CORRÊA, P.C. et al. Qualidade dos grãos de cotoxinas e armazenagem de grãos. Floria-
mento e do período de armazenamento na café (Coffea arabica L.) durante o armaze- nópolis: UFSC, 2000. 382p.
perda de matéria seca em café (Coffea arabica namento em condições diversas. Revista
TRUBEY, R.; RAUDALES, R.; MORALES, A.
L.) beneficiado. Revista Brasileira de Arma- Brasileira de Armazenamento, Viçosa, MG,
zenamento, Viçosa, MG, n.7, p.122-127, jul. Café britt hermetic cocoon storage trial - II
n.7, p.137-147, 2003. Especial café.
2003. Especial café. report. �������������������������������������
Beneficio Pataliyo, Costa Rica: Meso-
HARRIS, R.L.; MILLER, A. Keeping it real: american Development Institute, 2005. 14p.
ARÊDES, E.M. et al. Avaliação das perdas de storing & preserving green coffee - part 2.
matéria seca e de qualidade do café (Coffea VIEIRA, G. et al. Avaliação da qualidade
Roast Magazine, New York, p. 31-38, July/
arábica L.) beneficiado e armazenado em im- de café beneficiado armazenado em silo
Aug. 2008.
portantes municípios produtores da Zona da com e sem aeração e em sacos de juta. Re-
Mata Mineira e em Alegre-ES. Revista Brasi- KRZYZANOWSKY, F.C.; FRANÇA NETO, vista Brasileira de Produtos Agroindus-
leira de Armazenamento, Viçosa, MG, n.5, J.B.; HENNING, A.A. Relatos dos testes de triais, Campina Grande, v.3, n.1, p.75-90,
p.44-54, 2002. Especial café. vigor disponíveis as grandes culturas. Infor- 2001.
BACCHI, O. O branqueamento dos grãos mativo ABRATES, Brasília, v.1, n.2, p.15-
VILELA, E.R.; CHANDRA, P.K.; OLIVEIRA,
de café. Bragantia, Campinas, v. 21, n.28, 50, mar. 1991.
G.A. de. Efeito da temperatura e umidade
p.467-484, abr. 1962. LOPES, R.P. et al. Efeito da luz na qualidade relativa no branqueamento de grãos de café.
BORÉM, F.M. et al. Armazenamento do café. (cor e bebida) de grãos de café beneficiados Revista Brasileira de Armazenamento, Vi-
In: BORÉM, F.M. (Ed.). Pós-colheita do café. (Coffea arabica L.) durante a armazenagem. çosa, MG, n.1, p.31-37, 2000. Edição espe-
Lavras: UFLA, 2008a. cap.10, p.349-388. Revista Brasileira de Armazenamento, Vi- cial.
çosa, MG, v.25, p.9-17, 2000. Especial 1.
_________. et al. Avaliação sensorial do café WHITE, N.D.G.; LEESCH, J.G. Chemical
cereja descascado, armazenado sob atmos- NOBRE, G.W. et al. Alterações químicas do control. In: SUBRAMANYAM, B.; HAGS-
fera artificial e convencional. Ciência e café-cereja descascado durante o armazena- TRUM, D.W. (Ed.). Integrated management
Agrotecnologia, Lavras, v.32, n.6, p.1724- mento. Coffee Science, Lavras, v.2, n.1, p.1- of insects in stored products. New York:
1729, nov./dez. 2008b. 9, jan./jun. 2007. Marcel Decker, 1996. p.287-330.

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 2 , n . 2 6 1 , p . 8 6 - 9 3 , m a r. / a b r. 2 0 11

IA261.indb 93 25/5/2011 10:19:58


94 Produção de café: opção pela qualidade

Microrganismos e qualidade do café


Sára Maria Chalfoun 1

Resumo - Microrganismos podem causar danos à qualidade do café durante todo o


ciclo produtivo até a etapa de armazenamento. Microrganismos patogênicos às plantas
podem causar desfolhas e prejudicar a boa formação dos frutos e, consequentemente, sua
qualidade. Esses microrganismos, além de causarem danos diretos aos frutos, possibilitam
a penetração de outros deterioradores da qualidade e produtores de micotoxinas,
principalmente a ocratoxina A, mais frequentemente encontrada em café, quando este é
submetido a manejo inadequado. Cuidados nas fases de cultivo, colheita e pós-colheita
são fundamentais na prevenção da contaminação, desenvolvimento e produção de
metabólitos, ou produtos do metabolismo dos fungos resultantes da degradação dos
componentes dos frutos de café, principalmente a mucilagem. A composição, sucessão
e papel da microbiota associada a frutos e grãos de café têm sido importantes objetos de
estudo, bem como as intervenções necessárias para evitar prejuízos sobre a qualidade,
o seu controle, contribuindo como atributos na conquista de mercados internacionais,
além da valorização da cotação do produto nacional quando confrontado com o de
outros países. Boas Práticas Agrícolas (BPA) e sistemas de controle de qualidade, como
Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle (APPCC) são importantes ferramentas
que visam à preservação da qualidade do café e, consequentemente, à satisfação dos
consumidores. A utilização de microrganismos que têm demonstrado ação bioprotetora
sobre a qualidade do café, exercida pelo fungo Cladosporium cladosporioides (Fres.) de
Vries e algumas leveduras, ainda não vem sendo explorada.

Palavras-chave: Coffea arabica. Qualidade do café. Fungo. Levedura. Bactéria. Fermentação.

INTRODUÇÃO Apesar de os estudos sobre a micro- NIWAKI et al., 2001; ALVES; CASTRO,
biota dos grãos e dos frutos do café e a sua 1998, ALVES, 1996; SILVA, 2000), além
Historicamente, o café brasileiro sofre
influência na qualidade da bebida serem dos gêneros Aspergillus e Penicillium
restrições em sua comercialização relativas
antigos, somente a partir da década de mais frequentes associados com mico-
a problemas de qualidade. Os mercados
1990 começaram a surgir estudos mais toxinas (CHALFOUN; PARIZZI, 2008;
consumidores, principalmente no exterior,
aprofundados sobre as populações de PITT, 2000, TANIWAKI et al., 2003;
estão utilizando métodos precisos para a microrganismos, que buscam esclarecer TANIWAKI, 2006), que ocorrem em
identificação de quaisquer alterações nos fatores relacionados. Posteriormente, inú- cereais, grãos, incluindo o café e as se-
grãos de café que comprometam a quali- meros gêneros e espécies de fungos fila- mentes em níveis que tornam os alimentos
dade do produto final. mentosos foram identificados, associados impróprios para o consumo.
Bactérias, leveduras e fungos filamento- a processos fermentativos que ocorrem Este artigo apresenta, portanto, a evolu-
sos têm sido relatados na polpa e nos grãos durante as fases de desenvolvimento dos ção histórica dos estudos relacionados com
de café processados no Brasil, Índia, Havaí, frutos até a fase pós-colheita, relacionados os microrganismos e seus efeitos sobre a
Congo, Argentina, Colômbia, Costa Rica, com a produção de café de bebida de pior qualidade do café, bem como as principais
Etiópia e México (AVALLONE et al., 2001; qualidade (CARVALHO; CHALFOUN; ferramentas que visam minimizar ou ava-
JONES; JONES,1984; SILVA et al., 2000). CHAGAS, 1989; FREITAS, 2000; TA- liar os danos causados.

1
Enga Agra, Dra, Pesq. EPAMIG Sul de Minas-EcoCentro/Bolsista FAPEMIG, Caixa Postal 176, CEP 37200-000 Lavras-MG. Correio
eletrônico: chalfoun@epamig.ufla.br

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 2 , n . 2 6 1 , p . 9 4 - 1 0 2 , m a r. / a b r. 2 0 11

IA261.indb 94 25/5/2011 10:19:58


Produção de café: opção pela qualidade 95

HISTÓRICO E EVOLUÇÃO DAS


PESQUISAS
Os primeiros relatos da influência de
fungos sobre a qualidade do café datam de
1936, quando Krug (1940a) verificou, com
auxílio de uma lupa de bolso em amostras
de cafés ardidos, a presença de um fungo de
micélio avermelhado identificado inicial-
mente como do gênero Fusarium. A partir
daí, na série de trabalhos denominada “A
origem dos cafés duros”, esse autor procu-
ra relacionar a má qualidade da bebida à
presença de fungos, principalmente dos gê-
neros Fusarium, Aspergillus e Penicillium

Caroline Lima Angélico


(KRUG, 1940abc).
Bitancourt (1957), visando determi-
nar os microrganismos que constituem a
microbiota do café cereja em diferentes
fases do preparo, no cafezal e no terreiro de
secagem, isolou e observou que os fungos Figura 1 - Frutos de café colonizados por Penicillium spp. e Cladosporium cladosporioides
(Fres.) de Vries
mais abundantes foram Colletotrichum
gloeosporioides Penz (C. coffeanum (Zinn
Noack), Fusarium sp. e bolores verdes índices igualmente elevados dos fungos o Cladosporium cladosporioides (Fres.) de
(Penicillium spp.). Também foram identi- Fusarium sp. e Penicillium spp. O fungo Vries incluído neste grupo (CHALFOUN
ficados: Aspergillus niger van. Tieghen no do gênero Cladosporium predominou nos et al., 2007).
café seco em terreiro; Cladosporium sp., cafés classificados como de bebida mole e Silva et al. (2008), ao estudarem a
que se desenvolve ainda no pé e não no dura. Esses resultados foram confirmados sucessão de comunidades fúngicas e
terreiro durante a secagem, como normal- posteriormente, por Alves e Castro (1998) bacterianas durante a fermentação do café
mente ocorre com outros fungos; Rhizopus (Coffea arabica L.) natural, verificaram
e Alves (1996).
nigricans Ehr.; Rhizopus sp.; Phomopsis que D. hansenii e E. pichia foram as mais
O fungo Cladosporium sp. (Fig. 2)
sp. e Espicoccum sp. Nesse trabalho, frequentes entre as leveduras isoladas,
tem sido relatado associado a cafés de
verificou-se, em 55% dos frutos do café mas ainda estavam presentes em menores
boa qualidade, portanto, é importante que
seco em terreiro, a presença de leveduras, populações que os fungos e as bactérias.
os defensivos aplicados na cultura sejam
que foram reunidas sob o nome de Torula Entretanto, as leveduras identificadas
seletivos aos agentes antagonistas de fun-
spp. Bactérias diversas foram encontradas nesse estudo têm sido relatadas como
gos deletérios à qualidade do café estando
em frutos cerejas maduros. inibidoras do desenvolvimento micelial
Estudos da microbiota, dos diversos de fungos filamentosos e podem ser po-
constituintes químicos e da atividade tencialmente utilizadas para o biocontrole
enzimática de 80 amostras de café benefi- de fungos filamentosos. Esta inibição do
ciado, provenientes da região produtora de desenvolvimento de fungos pode ser de
São Sebastião do Paraíso, MG, realizados particular importância em regiões de café,
por Carvalho, Chalfoun e Chagas (1989), onde as condições atmosféricas são ad-
Caroline Lima Angélico

resultaram em amostras classificadas versas durante a fermentação natural (alta


segundo testes sensoriais como bebida umidade, sem insolação e com elevadas
mole e dura, apresentando índices de pluviosidades). Esses mesmos autores
infecção pelos fungos Fusariun roseum, verificaram que bactérias foram isoladas
Aspergillus ochraceus e Aspergillus flavus, em maior número no início da fermenta-
Figura 2 - Ramo de café com frutos total-
acentuadamente menores que nos cafés ção, quando a umidade dos grãos de café
mente recobertos pelo fungo
classificados como bebida rio e riada Cladosporium cladosporioides encontrava-se em torno de 68%. Bactérias
(Fig. 1). Por outro lado, apresentaram (Fres.) de Vries Gram-positivas representavam 85,5% de
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 2 , n . 2 6 1 , p . 9 4 - 1 0 2 , m a r. / a b r. 2 0 11

IA261.indb 95 25/5/2011 10:19:59


96 Produção de café: opção pela qualidade

todas as bactérias isoladas e Bacillus foi químicos dos grãos e da bebida, resultando em relação aos grãos coletados no solo
o gênero predominante (51%). Espécies em sabor e odor desagradáveis (DENTAN, (1.523). Foram identificados sete gêne-
Gram-negativas dos gêneros Serratia, 1989ab, 1992; VANOS, 1988). ros: Absidia, Acremonium, Aspergillus,
Enterobacter e Acinetobacter também Injúrias pré-colheitas, tais como: infec- Fusarium, Mucor, Paecilomyces e
foram encontradas. Aproximadamente ção dos frutos ainda na planta por micror- Penicillium. Verificaram-se elevados ní-
22% dos 940 isolados de microrganismos ganismos, ataque de insetos ocasionando veis de ocratoxina A (OTA) em algumas
escolhidos casualmente foram leveduras. danos na planta que facilitam a infecção amostras de café. A bebida perdeu a quali-
Debaryomyces (27%), Pichia (18,9%) e por microrganismos, desenvolvimento de dade em função do tempo de permanência
Candida (8,0%) foram os gêneros mais microrganismos do solo nos grãos caídos dos frutos na árvore e no solo, e, portanto,
comumente encontrados, e esses três gê- embaixo da copa (café de varrição), bem concluíram que para obtenção de uma be-
neros tenderam a aparecer mais frequen- como condições climáticas adversas que bida de melhor qualidade, deve-se evitar
temente, à medida que o fruto fermentava provocam injúrias ao fruto (geadas, chuvas a permanência prolongada dos frutos em
e secava. Aspergillus foi o mais abun- de granizo) e frutos muito amadurecidos na seus locais de origem. No entanto, de
dante além de Penicillium, Fusarium e árvore (nos quais a senescência já foi ini- frutos que passam de maduros na planta
Cladosporium, com 42,6% do total dos ciada), são fatores que explicam a diferença e iniciam a secagem sob condições am-
fungos isolados. Os gêneros e espécies da qualidade do café de uma região para bientais favoráveis, pode-se obter café de
identificados incluíam membros conheci- outra. Em locais onde são produzidos cafés
boa qualidade, não se esquecendo que o
dos por apresentarem atividades de produ- de bebidas ruins, condições climáticas ad-
estádio de maturação ideal para realizar
ção de pectinase e celulase. Dos dez áci- versas propiciam o maior desenvolvimento
a colheita é a de frutos cerejas.
dos orgânicos analisados e quantificados de microrganismos, como alta umidade
nos grãos de café, ácidos acético e lático relativa (UR) no período de amadureci-
GRUPOS DE ORGANISMOS
podem ter sido produzidos por atividade mento, colheita e processamento do café QUE AFETAM A QUALIDADE
microbiana, não tendo sido detectado e temperaturas elevadas (CARVALHO;
ácido butírico em nenhuma amostra. CHAGAS; SOUZA, 1997). Os microrganismos ocorrem asso-
O processo fermentativo pela ação de Segundo Bozza et al. (2009), o Brasil ciados às plantas, aos frutos e aos grãos
microrganismos, como bactérias, bolores e vem perdendo espaço no mercado interna- de café, na maioria das vezes causando
leveduras (Fig. 3), deteriora as membranas cional pela piora da qualidade do café. As prejuízos à produção e à qualidade, se-
dos grãos (AMORIM; AMORIM, 1977; substâncias tóxicas liberadas pelos fungos, jam como agentes causais de doenças,
JONES; JONES, 1984). Entretanto, se o além de alterarem a qualidade da bebida, que são os fitopatógenos, sejam como
fenômeno é interrompido após a perda da também podem ser prejudiciais à saúde dos agentes deterioradores dos frutos e grãos,
camada mucilaginosa do fruto, o endos- consumidores. Esses autores realizaram promovendo fermentações indesejáveis
perma não é comprometido e a qualidade colheitas de frutos da árvore e do solo e produzindo metabólitos tóxicos, as
da bebida é preservada. A continuidade do em diferentes tempos (0, 30, 60, 90 e 120 micotoxinas (Fig. 4). Considerando-se
processo implica em quebra das paredes e dias) e verificaram que houve diferença que a qualidade final do café depende, em
membranas celulares, degradação de ca- significativa no número absoluto de fungos grande parte, da obtenção de frutos sadios
madas celulares e alteração de compostos encontrados nos frutos da árvore (5.393), e bem formados e que tal fato depende,

Fotos: Vicente Luiz de Carvalho


Caroline Lima Angélico

A B
Figura 3 - Leveduras associadas a frutos Figura 4 - Microrganismos fitopatogênicos
de café NOTA: A - Atuação direta sobre a qualidade por Colletotrichum gloeosporioides Penz;
NOTA: Frutos de café plaqueados com B - Atuação indireta sobre a qualidade como agente de desfolha (Hemileia
predominância da levedura. vastatrix Berk & Br.).

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 2 , n . 2 6 1 , p . 9 4 - 1 0 2 , m a r. / a b r. 2 0 11

IA261.indb 96 25/5/2011 10:19:59


Produção de café: opção pela qualidade 97

por sua vez, da manutenção da sanidade que podem exercer efeito sobre a saúde. substrato, variedades resistentes e o grau de
das plantas, pode-se deduzir que todas as Algumas delas encontram-se naturalmente contaminação podem favorecer a prolifera-
doenças, pragas e outros fatores que afe- presentes nos grãos de café, enquanto que ção de fungos e formação de micotoxinas
tem o bom desenvolvimento das plantas outras são derivadas de reações bioquími- (SCUSSEL, 2002; PASIN; ALMEIDA;
e, consequentemente, o desenvolvimento cas que ocorrem durante a torração. Outras ABREU, 2009).
adequado dos frutos, são direta ou indireta- ainda como a OTA e resíduos de pesticidas Em termos de umidade – UR do ar e
mente responsáveis pela qualidade do café. são compostos externos independentes da conteúdo de água do grão –, os fungos são
composição química do café. classificados em:
Microrganismos A OTA é uma micotoxina de substância
fitopatogênicos a) fungos de campo: aqueles que
tóxica produzida por várias espécies de
contaminam os grãos ou sementes
Os danos causados pelos microrganis- fungos encontrados principalmente em ce-
antes da colheita, ou seja, no perío-
mos fitopatogênicos podem ser qualitativos reais, vinho, uva e café, e tem-se mostrado
do de crescimento e na maturação,
e quantitativos. As doenças afetam as causadora de danos aos rins e de tumores
com conteúdo de água em torno de
principais funções fisiológicas das plantas, em animais-testes, sendo classificada
25% base úmida (bu) e em UR do
tais como a fotossíntese, a translocação de como possivelmente carcinogênica para
ar de 90% a 100%. Os fungos dos
água e nutrientes, a respiração, a permea- humanos. A OTA, em café, é produzida
gêneros Alternaria, Cladosporium,
bilidade das membranas, além de alterar a por Aspergillus niger, A. carbonarius e A.
Fusarium e Helmintosporium são os
morfologia das plantas. Em consequência ochraceus.
mais comuns;
da incidência das doenças, verifica-se a A Comunidade Europeia, com o obje-
tivo de controlar a presença de OTA em b) fungos de armazenamento: aqueles
redução da produtividade, redução da
grãos de café e derivados, tem recomen- que se desenvolvem em grãos com
longevidade das plantas e o agravamento
dado níveis máximos de tolerância de teor de água abaixo de 17% bu, ou
do caráter bienal da cultura.
5 µg/kg para OTA no café torrado e moído seja, quando o teor de água do grão
Além dos danos quantitativos, ob-
e 10 µg/kg no café solúvel destinado à está em equilíbrio com a UR do ar
servam-se danos de natureza qualitativa
comercialização (em vigor desde abril na faixa de 65% a 85%. Esses fun-
principalmente aqueles relativos às carac-
de 2005). Apesar de ainda não existirem gos, principalmente os dos gêneros
terísticas dos grãos, desvalorizando-os co-
níveis determinados para o café verde, Aspergillus e Penicillium não se
mercialmente. Entre esses danos, citam-se
alguns países já priorizam o seu controle, desenvolvem em produtos com
a redução do tamanho dos frutos (peneira)
como é o caso do Brasil, que desenvolve teor de água superior a 25% bu. Os
e os prejuízos sobre as características sen-
metodologia analítica para determinação fungos mais comuns e que causam
soriais e de segurança do café por meio da
da OTA com validação na Association of deterioração dos grãos armazena-
abertura de porta de entrada para fungos
Official Analytical Chemists (AOAC). dos são Aspergillus amstetodami,
deterioradores da qualidade e toxicogênicos.
Segundo Scussel (2002) e Taniwaki et A. candidus, A. flavus, A. glaucus,
Danos causados por pragas e doenças
al. (2003), os fungos, inclusive os toxico- A. halophilicus, A. ochraceus, A.
podem, ainda, prejudicar o processamento
gênicos, podem-se contaminar e desenvol- parasictus, A. repens, A. restrictus,
de formas diferentes. Frutos doentes e
ver nos grãos no campo, durante a colheita A. ruber, e algumas espécies do
danificados podem interferir na extração
e armazenagem. Os fatores que favorecem gênero Penicillium (SILVA et al.,
dos grãos e reduzir a qualidade do produto
esse desenvolvimento e a produção de 2000; SCUSSEL, 2002).
final. Também podem ocorrer danos após o
processamento ou durante o armazenamen- micotoxinas são classificados em três Certos fungos possuem associações
categorias: físicos, químicos e biológicos. ecológicas com determinadas plantas cul-
to ou transporte do café particularmente
Estes estão também relacionados com as tivadas e condições que favoreçam fungos
por pragas do armazenamento.
condições do próprio grão e do ambiente específicos. Dessa forma, algumas culturas
Microrganismos que o envolve. As mais importantes são: possuem tendência de conter micotoxinas
deterioradores da teor de água do grão, UR e temperatura particulares e não outras, o café é uma
qualidade do café e do ar, linhagem do fungo contaminante delas (Fig. 5).
microrganismos produtores e competição microbiana. O período de Buchanan e Fletcher (1978) observa-
de micotoxinas ram a inibição da produção de aflatoxina
armazenagem, impurezas (restos da planta,
Para os consumidores, um dos mais poeira, casca e pedaços de grãos), luz, in- B1 e G1, produzida por Aspergillus flavus
importantes componentes da qualidade setos e ácaros, grãos com danos mecânicos pela cafeína. Resultados similares foram
dos alimentos é uma boa segurança. O e/ou visualmente alterados, microclima relatados por Chalfoun et al. (2004), ao
café contém um conjunto de moléculas (oxigênio), fungicidas, composição do investigarem o efeito da cafeína no de-

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 2 , n . 2 6 1 , p . 9 4 - 1 0 2 , m a r. / a b r. 2 0 11

IA261.indb 97 25/5/2011 10:19:59


98 Produção de café: opção pela qualidade

senvolvimento de algumas espécies de (Robusta), mas a produção de OTA ser relativamente comum em certos
fungos pertencentes aos gêneros Fusarium, é rara. Um estudo revelou somente locais. Muitos isolados são capazes
Cladosporium e Aspergillus. um produtor entre 70 isolados tes- de produzir OTA em significantes
Nenhuma das espécies de fungos produ- tados; quantidades, embora sob restrita
toras de OTA, Penicillium (P. verrucosum b) A. ochraceus e fungos relaciona- faixa de condições ambientais.
e P. nordicum), tem sido isolada do café. dos (Fig. 7) são bem distribuídos A produção de alimentos seguros e
P. brevicompactum é comum em café e em sistemas de produção de de alta qualidade tem sido uma exigência
está no mesmo grupo das duas espécies café e comumente produtores de crescente do mercado consumidor e das
produtoras, mas não é uma produtora de OTA (cerca de 80% dos isolados agências de controle e fiscalização. Duran-
OTA. Para café, três espécies ou grupos produzem prontamente a OTA), te a produção, processamento, embalagem,
de espécies, todas do gênero Aspergillus, constituindo o grupo de espécies transporte, armazenamento e consumo,
são de significância: mais importante na produção dessa qualquer alimento pode ser exposto a subs-
a) complexo de A. niger (Fig. 6) é, micotoxina; tâncias tóxicas e/ou microrganismos. A
sem dúvida, o mais comum, parti- c) A. carbonarius (Fig. 8) é geralmen- contaminação primária de grãos raramente
cularmente em Coffea canephora te raro, mas há alguma evidência de está sob controle e não é possível garantir

A C
Figura 5 - Fungos deterioradores da qualidade e produtores de Figura 6 - Aspergillus niger
micotoxinas associados a grãos de café FONTE: Chalfoun e Batista (2003).
FONTE: Chalfoun e Batista (2003). NOTA: A - Colônia do fungo em meio de cultura; B - Estruturas
frutíferas do fungo; C - Detalhe da cabeça conidial bisse-
riada, ampliada 800 x.

B B

A C A C
Figura 7 - Aspergillus ochraceus Figura 8 - Aspergillus carbonarius
FONTE: Chalfoun e Batista (2003). FONTE: Chalfoun e Batista (2003).
NOTA: A - Colônia do fungo em meio de cultura; B - Estruturas NOTA: A - Colônia do fungo em meio de cultura; B - Estruturas
frutíferas do fungo; C - Detalhe da cabeça conidial bisse- frutíferas do fungo; C - Detalhe da cabeça conidial bisse-
riada, ampliada 800 x. riada, ampliada 800 x.

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 2 , n . 2 6 1 , p . 9 4 - 1 0 2 , m a r. / a b r. 2 0 11

artigo 9.indd 98 26/5/2011 13:22:59


Produção de café: opção pela qualidade 99

com segurança a completa ausência de do Sistema APPCC, e vêm ao encontro da consumidor final. O Sistema APPCC é
contaminantes. A análise da qualidade e/ necessidade de garantia da qualidade e da constituído de sete princípios:
ou segurança por meio da análise do pro- segurança, cada vez mais exigidas para os
a) análise de perigos e medidas preven-
duto final é relativa e de alcance limitado. produtos alimentícios.
tivas;
Por mais rigorosos que sejam os planos
SISTEMA DE ANÁLISE DE b) identificação dos pontos críticos de
de amostragem, dificilmente será possível
PERIGOS E PONTOS CRÍTICOS controle;
caracterizar todos os lotes produzidos.
Dessa forma as BPA e Boas Práticas DE CONTROLE NA CADEIA c) estabelecimento dos limites críticos;
de Fabricação (BPF) são procedimentos PRODUTIVA DO CAFÉ d) estabelecimento dos processos de
necessários para controlar as possíveis O Sistema APPCC é aplicável a todos monitorização dos pontos críticos
fontes de contaminação e para garantir os segmentos da cadeia alimentar, desde o de controle;
que o produto atenda às especificações sistema produtivo até o consumidor final e) estabelecimento das ações corretivas;
de qualidade. Nestas incluem aspectos (Quadro 1). A utilização dos princípios da f) estabelecimento dos procedimentos
que vão desde as condições de produção APPCC já é feita na produção primária em
de verificação;
até as instalações de beneficiamento e países mais desenvolvidos. A implantação
armazenamento, incluindo também a desse sistema na produção primária no g) estabelecimento de procedimentos
higiene pessoal. Esses aspectos são pré- Brasil propiciará melhoria considerável de registros.
requisitos fundamentais, constituindo a na qualidade e segurança desses produtos Antes da aplicação do Sistema APPCC,
base higiênico-sanitária para implantação para as unidades processadoras e para o devem-se aplicar as BPA, com o intuito

QUADRO 1 - Resumo do plano APPCC na etapa de pós-colheita


Perigos Medida preventiva Limite crítico Monitoramento Ação corretiva
Desenvolvimento de Dispor o café em cama- Revolver os frutos de Verificar a espessura das Camadas de 3 a 4 cm.
microrganismo e fer- das finas e revolvê-lo hora em hora. camadas e a frequência Secagem uniforme.
mentação indesejada constantemente do revolvimento, bem
pela má distribuição como a uniformidade da
no terreiro. secagem.

Descuido após o Proteger o café da chu- Umidade ≤12% para Observar as condições Evitar que os grãos fiquem
estádio de meia seca va. Enleirar o café no seca completa climáticas, verificar o expostos à umidade notur-
e finalização da seca, sentido da declividade e Umidade ≤30% para estado da lona e se o café na e a chuvas.
predispondo os frutos cobrir com lona ao anoi- meia seca completa. está sendo corretamente Monitorar o teor de umi-
à contaminação, quan- tecer. Ao amanhecer (+ amontoado e coberto. dade.
do ainda úmidos, ou 9h), descobrir e desfazer Verificar o grau de umida-
quebra, quando muito as leiras. de do café.
secos.

Descuido após o Não deixar o café para- Umidade de pré-seca- Regulagem do secador, Monitorar o controle de
estádio de meia seca do no secador. gem (saída do terreiro) verificação da temperatu- umidade e de temperatura/
e finalização da seca, Utilizar temperaturas e em 30% e na saída do ra na fonte de calor e na tempo de exposição.
predispondo os frutos fonte de calor adequa- secador em 12%. massa do café.
à contaminação, quan- das. Temperatura máxima Verificar o grau de umi-
do ainda úmidos, ou Usar câmara de des- do ar secador: 70 oC e dade.
quebra, quando muito canso. massa 45 oC.
secos.

Secagem mista: Não deixar o café para- Umidade de pré-seca- Regulagem do secador, Monitorar o controle de
contaminação por má do no secador. gem (saída do terreiro) verificar a temperatura na umidade e de temperatura/
condução e transmis- Utilizar temperaturas e em 30% e na saída do fonte de calor e na massa tempo de exposição.
são de odor de fumaça fonte de calor adequa- secador em 12%. do café.
ao café. das. Temperatura máxima Verificar o grau de umi-
Secagem desuniforme Usar câmara de des- do ar secador: 70 oC e dade.
dos grãos.  canso. massa 45 oC.

FONTE: Freitas-Silva, Correa e Furtado (2001).

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 2 , n . 2 6 1 , p . 9 4 - 1 0 2 , m a r. / a b r. 2 0 11

IA261.indb 99 25/5/2011 10:20:01


100 Produção de café: opção pela qualidade

de minimizar os possíveis pontos críticos __________; CASTRO, H. A. de. Fungos as- __________ et al. Seletividade de fungicidas
de controle da cadeia do café. Em um sociados ao café (Coffea arabica L.) nas fa- cúpricos e sistêmicos sobre o fungo Clado-
programa de BPA aplicado ao cultivo e ao ses pré e pós-colheita em lavouras da região sporium cladosporioides em cafeeiro. Sum-
de Lavras. Summa Phytopatologica, Jaboti- ma Phytopathologica, Botucatu, v.33, n.1,
processamento do café, poderiam ser con-
cabal, v.24, n.1, p.4-7, jan./mar.1998. p. 93-95, jan./mar. 2007.
siderados, prioritariamente, os diferentes
tipos de perigos que afetam a segurança do AMORIM, H.V.; AMORIM, V.L. Coffee en- DENTAN, E. Café riotés: étude microscopi-
zymes and coffee quality. In: ORY, R.L.; ST. que du processus d’infection. In: COLLO-
consumidor final, bem como aqueles que
ANGELO, A.J. (Ed.). Enzyme in food and QUE SCIENTIFIQUE INTERNATIONAL
envolvem apenas aspectos da qualidade
beverage processing. Washington: Ameri- SUR LE CAFÉ, 13., 1989, Paipa. Annales...
do produto. Na análise destes perigos são Paris: Association Scientifique Internatio-
can Chemical Society, 1977. p.27-56. (ACS.
consideradas todas as etapas da cadeia Symposium Series, 47). nale du Café, 1989a. p.127-144.
produtiva do café, ou seja, cultivo, colheita,
AVALLONE, S. et al. Microbiological and bio- ________. Étude microscopique de quelques
secagem, armazenamento e transporte. types de café défectueux: grains noir, blan-
chemical study of coffee fermentation. Cur-
No Brasil, ainda predomina o sistema de rent Microbiology, v.42, n.4, p.252-256, 2001. châtres, cireux et “ardidos”. In: COLLOQUE
beneficiamento do café por via seca, no SCIENTIFIQUE INTERNATIONAL SUR LE
BITANCOURT, A.A. O tratamento das cerejas
qual o café é seco com casca, geralmente CAFÉ, 13., 1989, Paipa. Annales... Paris:
de café para melhorar a bebida. O Biológico,
em terreiros. Em uma segunda alternativa São Paulo, ano 23, n.1, p.1-11, jan. 1957.
Association Scientifique Internationale du
de preparo, o café cereja, separado do Café, 1989b. p.283-301.
BOZZA, A. et al. Isolamento de fungos asso-
verde e boia, é descascado, com retirada ________. Étude microscopique de
ciados a grãos de café cv. Iapar 59 de origem
da sua polpa, sendo o grão (pergaminho), de solo e árvore em diferentes tempos de
quelques types de café défectueux  - II:
assim obtido, seco com a mucilagem que colheita. Ciência e Tecnologia de Alimen-
grains à goût d’herbe, de terre, de moisi -
o reveste. O café preparado dessa maneira tos, Campinas, v.29, n.3, p.529-534, jul./set.
grains puants, endommagés par de in-
é chamado cereja descascado. Existe ainda 2009. sectes. In: COLLOQUE SCIENTIFIQUE
a possibilidade de remoção da mucilagem INTERNATIONAL SUR LE CAFÉ, 14.,
BUCHANAN, R.L.; FLETCHER, A.M. Meth-
1991, San Francisco. Annales... ����������
Paris: As-
residual que reveste o grão; o processo ylxanthine inhibition of aflatoxin produc-
sociation Scientifique Internationale du
pode ocorrer por uma fermentação natural tion. Journal of Food Science, Chicago,
Café, 1992. p.293-311.
em tanques ou utilizando-se máquinas v.43, n.2, p.654-655, mar. 1978.
desmuciladoras, obtendo-se, finalmente, o FREITAS, R.F. Fungos associados a grãos de
CARVALHO, V.D. de; CHAGAS, S.J. de R.;
café (Coffea arabica L.) beneficiado de di-
café despolpado, que é posteriormente sub- SOUZA, S.M.C. de. Fatores que afetam a
versos municípios da região Sul de Minas
metido à secagem. Em todas essas etapas, qualidade do café. Informe Agropecuário.
Gerais. 2000. 95p. Dissertação (Mestrado
é necessário o controle de umidade e da Qualidade do Café, Belo Horizonte, v.18,
em Ciência dos Alimentos) – Universidade
atividade de água para minimizar possíveis n.187, p.5-20, 1997.
Federal de Lavras, Lavras, 2000.
contaminações com fungos produtores de ________; CHALFOUN, S.M.; CHAGAS, S.J.
FREITAS-SILVA, O.; CORREA, T.B.S.;
ocratoxina e deterioradores. de R. Relação entre classificação de café
FURTADO, A.A.L. Análise de perigos e
Dessa forma, as variáveis que afetam a pela bebida e composição físico-química,
química e microflora do grão beneficiado. pontos críticos de controle (APPCC) como
produção desses fungos devem ser monito- ferramenta de controle da ocratoxina em
In: CONGRESSO BRASILEIRO DE PESQUI-
radas e seus limites críticos estabelecidos. café. In: SIMPÓSIO DE PESQUISA DOS
SAS CAFEEIRAS, 15., 1989, Maringá. Tra-
Para isso, devem-se utilizar os sete princí- CAFÉS DO BRASIL, 2., 2001, Vitória.
balhos apresentados... Rio de Janeiro: MA-
pios da APPCC para a determinação dos PROCAFÉ, 1989. p.25-26. Anais... Brasília: Embrapa Café, 2001.
pontos críticos de controle e a elaboração 1 CD-ROM.
CHALFOUN, S.M.; BATISTA, L.R. Fungos as-
do plano. No Quadro 1, observa-se a etapa sociados a frutos e grãos do café: Aspergillus JONES, K.L.; JONES, S.E. Fermentations
de pós-colheita do café como um exemplo e Penicillium. Brasília: Embrapa Informação involved in the production of cocoa, coffee
do plano APPCC para este grão (FREITAS- Tecnológica, 2003. 69p. and tea. In: BUSHELL, M.E. (Ed.). Program
SILVA; CORREA; FURTADO, 2001). __________; PARIZZI, F.C. Fungos toxigêni-
industrial microbiology: modern applica-
tions of traditional biotechnologies. New
cos e micotoxinas em café. In: BORÉM,F.M.
REFERÊNCIAS York: Elsevier, 1984. p. 433-458.
(Ed.). Pós-colheita do café. Lavras: UFLA,
2008. cap. 14, p.513-543. KRUG, H.P. Cafés duros I. Revista do Insti-
ALVES, E. População fúngica associada
tuto de Café do Estado de São Paulo, Cam-
ao café (Coffea arabica L.) beneficiado e __________ et al. Effect of powdered spice
pinas, v.15, n.159, p.636-638, maio 1940a.
as fases pré e pós-colheita: relação com a treatments growth, sporulation and pro-
bebida e local de cultivo. 1996. 48p. Disser- duction of aflatoxins by toxigenic fungi. ________. Cafés duros II. Revista do Insti-
tação (Mestrado em Fitopatologia) – Univer- Ciência e Agrotecnologia, Lavras, v.28, n.4, tuto de Café do Estado de São Paulo, Cam-
sidade Federal de Lavras, Lavras, 1996. p.856-862, jul./ago. 2004. pinas, v.15, n.163, p.1393-1396, set.1940b.

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 2 , n . 2 6 1 , p . 9 4 - 1 0 2 , m a r. / a b r. 2 0 11

IA261.indb 100 25/5/2011 10:20:01


IA261.indb 101 25/5/2011 10:20:03
102 Produção de café: opção pela qualidade

KRUG, H.P. Cafés duros III. Revista do Insti-


tuto de Café do Estado de São Paulo, Cam-
pinas, v.15, n.165, p. 1827-1831, nov.1940c.
PASIN, L.A.A.P.; ALMEIDA, J.R. de; ABREU, Veja no próximo
M.S. de. Fungos associados a grãos de cinco
cultivares de café (Coffea arabica L.). Acta
Botanica Brasilica, São Paulo, v.23, n.4,
p.1129-1132, 2009.
PITT, J.I. Toxigenic fungi: which are impor-
tant. Medical Mycology, Oxford, v.38, p.17-
22, 2000. Supplement 1.
SCUSSEL, V.M. Fungos e micotoxinas as-
sociados a grãos armazenados. In: LORINI,
I.; MIIKE,L.H.; SCUSSEL, V.M. (Ed.). Arma-
zenagem de grãos. Campinas: Instituto Bio
Leite e Derivados: tecnologias,
Geneziz, 2002. p.675-804. padrões de identidade e
SILVA, C.F. Diversidade microbiana em
grãos de café (Coffea arabica L.) processa- qualidade
dos por via seca nas fases pré e pós-colhei-
ta. 2000. 105p. Dissertação (Mestrado em
Microbiologia de Alimentos) – Universida- Padrões de identidade e qualidade para
de Federal de Lavras, Lavras, 2000.
leites tipo A, B e pasteurizado
________. et al. Microbial diversity during
maturation and natural processing of coffee
cherries of Coffea arabica in Brazil. Inter-
Tecnologias para fabricação de doce de
national Journal of Food Microbiology, leite, leite condensado e soro em pó
Amsterdam, v.60, n.2/3, p.251-260, 2000.
________. et al. Succession of bacterial and Características e tecnologia de Queijos
fungal communities during natural coffee
(Coffea arabica) fermentation. Food Micro-
Minas Frescal e Minas Padrão
biology, London, v.25, n.8, p.951-957, 2008.
Tecnologia para fabricação de requeijão e
TANIWAKI, M. H. An update on ochratoxige-
nic fungi and ochratoxin A in coffee. In: HO- queijos processados
CKING, A.D. et al. Advances in food mycolo-
gy. New York: Springer, 2006. p.189-202. Leite fermentado probiótico e os benefícios
________. et al. The source of ochratoxin A
in Brazilian coffee and its formation in re-
para a saúde humana
lation to processing methods. International
Journal of Food Microbiology, Amsterdam, Soro de leite: aspectos tecnológicos,
v.82, n.2, p.173-179, Apr. 2003. econômicos e ambientais
________. et al. Influence of water activity
on mould growth and ochratoxin A produc-
tion in coffee. In: COLLOQUE SCIENTIFI-
QUE INTERNATIONAL SUR LE CAFÉ, 19.,
2001, Trieste, Italy. Conference paper…Pa-
ris: Association Scientifique Internacionale
du Café, 2001. p.14-18. Leia e Assine o INFORME AGROPECUÁRIO
VANOS, V. Preliminary microbial ecologi- (31) 3489-5002 - publicacao@epamig.br
cal studies en “Rio taste” coffee beans. In:
COLLOQUE SCIENTIFIQUE INTERNATIO-
www.informeagropecuario.com.br
NAL SUR LE CAFÉ, 12., 1987, Montreux.
Annales... Paris: Association Scientifique
Internationale du Café, 1988. p.353-376.

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 2 , n . 2 6 1 , p . 9 4 - 1 0 2 , m a r. / a b r. 2 0 11

IA261.indb 102 25/5/2011 10:20:05


IA261.indb 103 25/5/2011 10:20:05
104 Produção de café: opção pela qualidade

Reflexos da incidência de pragas na qualidade do café


Paulo Rebelles Reis 1

Resumo - Os danos quantitativos na produção de café são quase sempre mais visíveis e têm
merecido atenção da pesquisa e de pessoas envolvidas com a produção. Acompanhando
a redução da produção vem a piora na qualidade dos grãos e na bebida do café, as quais,
na maioria das vezes, passam despercebidas. Como o efeito na qualidade da bebida é
considerado indireto, o controle das pragas, principalmente aquelas já identificadas
como agentes facilitadores da entrada de microrganismos nas folhas, como o ácaro da
mancha-anular, Brevipalpus phoenicis (Geijskes, 1939) (Acari: Tenuipalpidae), a broca-do-
café, Hypothenemus hampei (Ferrari, 1867) (Coleoptera: Scolytidae), nos frutos de café, e o
ácaro da mancha-anular, deve ser uma preocupação constante do setor produtivo. Esse
controle tem dupla finalidade, ou seja, evitar danos diretos na redução da produção e
indiretos na redução da qualidade do café produzido.

Palavras-chave: Coffea spp. Inseto. Ácaro. Fungo toxigênico.

INTRODUÇÃO cultura, por exigência do mercado de café, recentemente, descobriu-se que frutos
principalmente para exportação. Com base de café com sintomas da mancha-anular,
A influência do ataque de pragas em
cafeeiros é mais conhecida e divulgada no nestes fatos, estudos mais recentes têm sido veiculada pelo ácaro-plano, dão origem à
que diz respeito aos danos quantitativos, feitos com vistas à melhoria da qualidade bebida de pior qualidade.
por expressar redução tanto na produção também em função da redução do ataque As principais pragas que atacam o ca-
de grãos, quanto no lucro do produtor. de pragas. Assim, sabe-se que a broca- feeiro e causam danos econômicos podem
Entretanto, sabe-se que a redução da do-café pode causar danos quantitativos e não ser as mesmas em todas as regiões
qualidade está cada vez mais influindo qualitativos, estes últimos, na classificação, produtoras, porém quase sempre são as que
na rentabilidade e na competitividade da pelo tipo e pela qualidade da bebida. Mais se encontram listadas no Quadro 1.

QUADRO 1 - Principais pragas do cafeeiro, parte da planta atacada e danos causados

Nome comum Nome científico Parte da planta atacada Principal injúria

Broca-do-café Hypothenemus hampei Fruto Perfuração de grãos; queda de frutos;


vetor de microrganismos
Cochonilha-da-roseta Planococcus minor Ramo Queda de frutos
Mosca-dos-frutos Ceratitis capitata Fruto Queda de frutos
Mosca-da-raiz Chiromyza vitatta Raiz Definhamento
Cochonilha-da-raiz Dysmicoccus texensis Raiz Definhamento
Cigarra Quesada gigas Raiz Definhamento
Bicho-mineiro Leucoptera coffeella Folha Desfolhamento
Ácaro da mancha-anular Brevipalpus phoenicis Folha, fruto e ramo Desfolhamento; vetor de vírus
Ácaro-vermelho Oligonychus ilicis Folha Desfolhamento
Lagarta-dos-cafezais Eacles imperialis magnifica Folha Desfolhamento
FONTE: Reis (2007).

Eng o Agro, Dr., Pesq. EPAMIG Sul de Minas/Bolsista CNPq, Caixa Postal 176, CEP 37200-000 Lavras-MG. Correio eletrônico:
1

paulo.rebelles@epamig.ufla.br

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 2 , n . 2 6 1 , p . 1 0 4 - 11 2 , m a r. / a b r. 2 0 11

IA261.indb 104 25/5/2011 10:20:05


Produção de café: opção pela qualidade 105

COMO AS DIFERENTES
PRAGAS PODEM AFETAR A
QUALIDADE DO GRÃO E DA
BEBIDA DO CAFÉ
As pragas podem afetar diretamente
a qualidade do grão de café alterando sua
classificação pelo tipo, porém a qualidade
é, sem dúvida e com maior frequência,
indiretamente afetada por microrganismos

Pedro Paulino de Mendonça


veiculados pelas pragas e pela falta de
folhas nos ramos.

Pragas desfolhadoras e a
qualidade do café
A desfolha precoce do cafeeiro, causa-
da, no caso do ataque de praga, pelo bicho-
mineiro, Leucoptera coffeella (Guérin-
Mèneville & Perrotet, 1842) (Lepidoptera:
Lyonetiidae), afeta a qualidade do café,
principalmente no tipo e na bebida, ainda
no mesmo ano. As causas, segundo Carnei-
ro Filho (1987), são mudanças fisiológicas
nos frutos que resultam em má granação,
aumento de grãos pretos, verdes e ardidos
(PVA). Esses defeitos são mais acentuados

Paulo Rebelles Reis


no terço superior das plantas, local preferi-
do para o ataque do bicho-mineiro.
A piora na qualidade dos grãos e da
bebida, causada por agentes desfolhan-
tes, é indireta e facilita o aparecimento Figura 1 - Folhas ainda na planta exibindo sintomas da virose da mancha-anular do
de defeitos, responsáveis diretos pela cafeeiro, antes de cair ao solo
perda da qualidade. Tais defeitos ocor-
rem principalmente no terço superior das do grau de infestação pela broca, tendo
Broca-do-café e a
plantas, por ser a parte que desfolha mais qualidade dos grãos e da Reis, Souza e Melles (1984) demonstrado
e primeiro. bebida que, considerando apenas o aumento da
Somente reduzindo a desfolha, Carnei- infestação, o café pode passar do tipo 2 ao
A qualidade da bebida do café pode não
ro Filho (1987) demonstrou que a bebida tipo 7 (Quadro 2), pois dois a cinco grãos
ser diretamente influenciada pelo ataque
pode passar de riada para dura, em função broqueados constituem um defeito.
da broca, Hypothenemus hampei (Ferrari,
da redução dos defeitos de má granação, 1867) (Coleoptera: Scolytidae), aos fru- Lucas et al. (1987), após teste de prova
PVA, principalmente. tos de café, mas sim indiretamente pela de xícara, para verificar a influência do
O ataque do ácaro-plano ou da facilidade que os danos proporcionam à ataque de broca nas características orga-
mancha-anular Brevipalpus phoenicis penetração de microrganismos, como fun- nolépticas da bebida do café, concluíram
(Geijskes, 1939) (Acari: Tenuipalpidae), gos do gênero Penicillium (CALAFIORI não haver interferência direta na qualidade
ao veicular o vírus da mancha-anular et al., 1978) e Fusarium (CHALFOUN; de bebida, apenas no tipo.
(CoRSV), torna-se um agente desfolhante SOUZA; CARVALHO, 1984), entre outros Segundo Vega e Mercadier (1998),
(Fig. 1) e, dependendo da intensidade relacionados com alterações da qualidade a broca-do-café, em Uganda e Benin,
da desfolha, os danos na produção e na da bebida do café. (África) serve de transporte para o fungo
qualidade do café são acentuados (REIS; A qualidade do café em relação ao tipo Aspergillus ochraceus K. Wilh. Vega,
CHAGAS, 2001). é substancialmente reduzida em função Mercadier e Dowd (1999) relatam que
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 2 , n . 2 6 1 , p . 1 0 4 - 11 2 , m a r. / a b r. 2 0 11

IA261.indb 105 25/5/2011 10:20:07


106 Produção de café: opção pela qualidade

QUADRO 2 - Média de perda de peso, porcentagem de redução de produção, perda de peso em café beneficiado e alterações na classificação
pelo tipo, segundo o grau de infestação pela broca

Peso médio de 1.200 sementes Porcentagem de redução da Perda de peso em café beneficiado
Porcentagem de (g) produção em peso (g/60 kg) Tipo
infestação
Observado Esperado Observada Esperada Observada Esperada
0 401,8 402,0 - - - - 2
1 401,7 401,2 0,025 0,199 14,9 119,4 2
3 399,1 399,2 0,697 0,697 418,1 417,9 2
5 396,1 397,4 1,419 1,144 851,2 686,6 3
7 393,9 396,5 1,966 1,368 1.179,7 820,9 3
10 393,3 393,8 2,116 2,040 1.269,3 1.223,9 3
20 385,0 385,3 4,181 4,154 2.508,7 2.492,5 4
40 371,2 370,5 7,616 7,836 4.569,4 4.701,5 6
50 361,4 358,1 10,055 10,920 6.032,8 6.552,2 6
80 332,5 332,4 17,314 17,314 10.348,4 10.388,0 7
100 317,2 317,2 21,055 21,055 12.633,2 12.656,7 7
FONTE: Dados básicos: Reis, Souza e Melles (1984) e Reis (2007).

pesquisas têm demonstrado que a broca- em uma melhor qualidade de bebida do d) fungo entomopatogênico: Beauveria
do-café, H. hampei, pode estar veiculando café. Com esse controle, os defeitos dos bassiana (Balsamo-Crivelli) Vuille-
fungos toxigênicos nas plantações de café. grãos foram reduzidos pela metade e a min.
Para grãos de café com baixo grau de bebida do café com maior número de de- Os mesmos fungos foram encontrados
dano, a prova de xícara foi considerada feitos foi riada, enquanto que com a broca sobre e dentro do inseto (Fig. 2), bem como
aceitável e rejeitada com graus elevados controlada foi apenas mole. em galerias e como componentes da dieta
de dano pela broca-do-café, permitindo Carrión e Bonet (2004) estudaram a dos insetos. Nesse estudo, esses autores
a Montoya-Restrepo (1999) concluir que micobiota associada com a broca-do-café concluíram que a broca não é o único pro-
maior dano nos grãos está relacionado com e as galerias produzidas nos frutos do ca- blema a ser enfrentado pelos produtores
a deterioração da bebida do café. feeiro C. arabica e, no total, relataram 13 de café. Um importante efeito adicional é
Quanto maior a porcentagem de grãos espécies de fungos. Estes fungos foram a introdução pela broca nos cafeeiros de
broqueados pior o rendimento e a quali- divididos em quatro grupos funcionais: uma diversificada micobiota com repercus-
dade do café, o que pode ser confirmado são na saúde das plantas e dos potenciais
a) fungos sapróbios2 que a broca
pela diminuição do peso das sementes, consumidores do café.
utiliza como alimento: Fusarium
baixa atividade de polifenoloxidase (PFO), Pérez et al. (2003) e Pérez, Infante e
heterosporum Nees & Fries,
baixo teor de compostos fenólicos totais, Vega (2007) relataram 187 microrganismos
Cladosporium sp., Cladosporium
alta acidez titulável e prova de xícara (PI- associados ao inseto broca-do-café, em
oxysporum Berkeley & Curtis e
MENTA; CUNHA, 2000). Também, esses C. arabica no México, desses, 110 foram
Penicillium echinulatum Fassatiova;
autores concluíram que, com até 20% de isolados da cutícula, 48 do intestino e 29
b) fungos sapróbios que degradam
infestação, não há alteração significativa das fezes do inseto, num total de 21 gêne-
fezes da broca: Aspergillus flavus
tanto no rendimento quanto na qualidade ros e 39 espécies. Os gêneros Fusarium,
química e de bebida dos grãos de café. Link, Aspergillus niger Tieghem,
Penicillium, Candida e Aspergillus foram
Apenas com infestação acima de 50% de Mucor luteus Linnemann, Penicillium predominantes, com a porcentagem de
grãos broqueados é que a bebida passa de sp., Humicola grisea Traaen e abundância de 26,4%; 18,7%; 13,4% e
dura para riada. Gliocladium penicilloides Corda; 12,5%, respectivamente. Fungo do gênero
Além de reduzir a queda de frutos em c) fungos fitopatogênicos: Fusarium Fusarium sempre foi encontrado associa-
cerca de 8%, Stevanato et al. (2002) de- oxysporum Schlechetend e Fusarium do aos três tipos de substratos (cutícula,
monstraram que o controle da broca reflete solani (Martius) Saccardo; intestino e fezes), e três espécies foram

2
Organismos que se nutrem absorvendo substâncias orgânicas que se encontram em decomposição.

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 2 , n . 2 6 1 , p . 1 0 4 - 11 2 , m a r. / a b r. 2 0 11

IA261.indb 106 25/5/2011 10:20:07


Produção de café: opção pela qualidade 107

identificadas no gênero, com predominân- isoladas de todos os substratos, porém em campo e, principalmente, de criações
cia de F. solani (Martius) Saccardo (estádio somente três espécies foram identifica- de laboratório (PÉREZ et al., 2003).
assexuado de Nectria hematococca Berk. das: Candida diddensiae, C. fermentati Nas galerias produzidas pela broca nos
& Br.). (Saito) Bai e Pichia burtonii Boidin. frutos, foram encontradas menores quanti-
O gênero Penicillium foi o que apre- De seis espécies do gênero Aspergillus, dades de fungos que no corpo do inseto, e
sentou o maior número de espécies, A. ochraceus Wilhelm. e A. niger van Pérez et al. (2003) relatam 25 isolados re-
sendo 11 ao todo. Leveduras foram Tieghem foram predominantes e isoladas presentados por quatro gêneros: Fusarium
(64,1%), Candida (10,3%), Hanseniaspora
(10,3%) e Coryne (2,6%), novamente com
predominância do gênero Fusarium e o
único isolado em várias localidades.
Rojas, Morales-Ramos e Harrington
(1999), Morales-Ramos et al. (2000) e
Pérez et al. (2003) sugerem que algumas
espécies de fungos estão em associação
mutualística com a broca, neste caso o
fungo F. solani (Fig. 3AB), e segundo
Peterson et al. (2003) também Penicilium
brocae. Peterson et al. (2003), por pro-
verem os esteróis exógenos (ergosterol),
necessários para o desenvolvimento da
broca.
Pela grande diversidade de fungos as-
sociados com a broca-do-café, é provável
a existência de mutualismo facultativo,
apesar de este mutualismo basear-se em
apenas um microrganismo.
Figura 2 - Grupos de esporos na região ventral média da broca-do-café Posteriormente, Pérez, Infante e Vega
FONTE: Carrión e Bonet (2004). (2005, 2007) mencionam que seus novos

A B
Figura 3 - Esporos de Fusarium solani
FONTE: Morales-Ramos et al. (2000).
NOTA: Figura 3A - Esporos de Fusarium solani (E) protegidos na cavidade do asperito (A) (pequena saliência achatada na região do
pronoto da broca, contendo uma seta) achatado contendo uma seta dorsal (pronoto) em broca-do-café Hypothenemus hampei.
A linha branca representa 10 µm. Figura 3B - Esporos de Fusarium solani (E) sob o asperito (A) e na base de setas livres (SL).
A linha branca representa 10 µm.

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 2 , n . 2 6 1 , p . 1 0 4 - 11 2 , m a r. / a b r. 2 0 11

IA261.indb 107 25/5/2011 10:20:11


108 Produção de café: opção pela qualidade

resultados de pesquisa indicam não haver como os de Chalfoun, Souza e Carvalho et al., 2003). Esses autores levantam
um claro efeito positivo de algum fungo (1984), Carvalho, Chagas e Souza (1997) e hipótese de que as leveduras são micror-
sobre a broca-do-café, concluindo, por- Taniwaki (2007), mostram, entretanto, que ganismos endossimbiontes no inseto, as
tanto, que a broca não se apresenta em esse fungo está relacionado com a qualida- quais auxiliam na digestão de alimentos e
relação mutualística com nenhum fungo de do café, sendo veiculado pela broca para mesmo na destoxificação da cafeína, sendo
a ela associada (Fig. 4), como tem sido os grãos de café, não sendo considerado um esta última ação menos aceita.
sugerido por outros autores. agente de controle biológico desse inseto. No Brasil, trabalho de associação de
Perez L., Posada, F. e Gonzalez G. Na Colômbia, adultos da broca-do-café fungos e broca-do-café, micobiota associa-
(1996) também constataram a presença também foram encontrados em associação da a H. hampei, foi realizado para Coffea
de Fusarium sp. sobre a broca e na galeria com as leveduras Pichia burtonii Boidin e canephora Pierre & Froehner, no estado de
produzida no grão de café, sugerindo que Candida fermentati (Saito) Bai, porém o Rondônia, por Gama et al. (2005, 2006).
o fungo poderia ser um agente biológico teor de cafeína nos grãos de café pode re- Esses autores relataram que todos os gê-
de controle da broca. Outros trabalhos, tardar o crescimento das leveduras (VEGA neros de fungos filamentosos associados

A B

C D
Figura 4 - Broca-do-café e esporos associados à broca e ao fruto de café
FONTE: Pérez, Infante e Vega (2007).
NOTA: A - Fêmea adulta; B - Esporos localizados no mesotórax da fêmea adulta, C - Esporos localizados nos asperitos da fêmea adul-
ta; D - Esporos dentro de galerias produzidas pela broca em fruto de café.

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 2 , n . 2 6 1 , p . 1 0 4 - 11 2 , m a r. / a b r. 2 0 11

IA261.indb 108 25/5/2011 10:20:12


Produção de café: opção pela qualidade 109

à broca estavam também presentes nas Também em C. canephora, em Ron- avaliada por Santo et al. (2003), os quais
galerias por estas produzidas nos frutos dônia, foi demonstrado por Gama et al. concluíram que, apesar da alta infestação
de café, o que indica que o broqueamento (2005) que, tanto as brocas como os frutos, nos frutos (11% a 22%), não encontraram
pode ser um modo de inoculação de fungos broqueados ou não, encontrados no solo alteração da bebida, tanto para cafés der-
nos grãos de café pela broca. Ainda, na apresentaram maior riqueza de fungos que riçados no pano, quanto para cafés de var-
broca, a maior diversidade de gêneros de aquelas brocas e frutos, broqueados ou rição, embora estes últimos apresentassem
fungos foi encontrada no aparelho bucal não, coletados na parte aérea das plantas. maior infestação, mau aspecto e levemente
e protórax dos insetos e menos nas fezes. Ressaltam também que a ocorrência de fermentados.
Nos insetos, os gêneros de fungos espécies de fungos pertencentes aos gê- O ataque na polpa prejudica a qualidade
predominantes, em ordem decrescente de neros Aspergillus e Penicillium em frutos da bebida e constitui foco de infestação
ocorrência, foram Fusarium, Penicillium para pomares de outras frutíferas. Podem,
de café pode estar associada à presença
e Geotrichum, e nas galerias foram também, causar apodrecimento e queda de
de micotoxinas (aflatoxina, ocratoxina e
Fusarium, Geotrichum, Trichoderma e frutos de café (Fig. 5).
patulina), e que o transporte desses fungos
Aspergillus (Quadro 3). Segundo Gama et Em regiões de clima quente e, prin-
entre frutos e do solo para a parte aérea da
al. (2005, 2006), a presença de fungos do cipalmente, com lavouras irrigadas, a
planta pode ser decorrente da atividade da
gênero Fusarium no corpo do inseto e nas presença das larvas que consomem a polpa
broca-do-café nesses ambientes.
galerias produzidas nos frutos reforça indi- de café acelera a fase de cereja, passando
cações já feitas por outros autores de uma Mosca-dos-frutos e a rapidamente para passa e seco. Como
interação íntima entre broca e Fusarium. qualidade da bebida do consequência, há redução do volume de
Assim como relatado por Pérez et al. café café que pode ser descascado, com gran-
(2003) e Pérez, Infante e Vega (2007), em des prejuízos, já que esse tipo no mercado
C. arabica no México, Gama et al. (2006) O cafeeiro é o maior hospedeiro
da mosca-dos-frutos Ceratitis capitata atinge maiores cotações, pela qualidade da
relataram que em C. canephora no Brasil
(Wied., 1824) (Diptera: Tephritidae). É bebida obtida. Como reduz o volume de
o gênero Fusarium foi o único comum à
uma praga polífaga, que ataca inúmeras café cereja a ser colhido, aumenta o volu-
cutícula, aparelho bucal, protórax, apare-
frutas, tais como pêssego, laranja, pera, me de café boia e de varrição, de menores
lho digestivo, fezes e galerias; nas fezes
cotações no mercado.
foi o único gênero encontrado. Ainda, goiaba, abacate, seriguela e muitas outras.
relataram que a presença de fungos dos Ocorre em todo o território brasileiro.
gêneros Aspergillus e Penicillium enfatiza A influência do ataque da mosca-dos-
a possibilidade de dispersão da ocratoxina frutos C. capitata na qualidade da bebida
pela broca-do-café. do café, na região Oeste da Bahia, foi

QUADRO 3 - Porcentagem de ocorrência de gêneros de fungos filamentosos isolados da


broca-do-café, Hypothenemus hampei, e de galerias produzidas nos frutos de
café, Coffea canephora
Porcentagem de ocorrência dos fungos nos insetos e galerias
Gênero de fungo
(1)
Em adultos da broca-do-café Nas galerias nos frutos A
Fusarium 55,7 33,3
Geotichum 10,8 29,6
Penicillium 24,3 -
Aspergillus 3,0 14,8
Fotos: Paulo Rebelles Reis

Lecanicillium 1,7 -
Cephalosporium 1,0 -
Curvularia 1,0 3,7
Oidiodendron 0,3 - B
Trichoderma 1,0 18,5 Figura 5 - Mosca-dos-frutos Ceratitis capitata
Beauveria 1,0 - NOTA: A - Adulto pousado sobre fruto de
FONTE: Gama et al. (2006). café cereja amarelo; B - Larva na
(1) Fungos encontrados na cutícula, aparelho bucal, tubo digestivo, protórax e fezes da parte interna da polpa do fruto ce-
broca-do-café. reja vermelho.

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 2 , n . 2 6 1 , p . 1 0 4 - 11 2 , m a r. / a b r. 2 0 11

IA261.indb 109 25/5/2011 10:20:13


110 Produção de café: opção pela qualidade

Outros agentes Carvalho e Chalfoun (1985) relataram bebida, passando de bebida mole para dura,
facilitadores de infecções que com a diminuição nos compostos fe- o que demonstra que o ataque do ácaro
e relação com a qualidade nólicos há um decréscimo na adstringência e, consequentemente, da mancha-anular
do café do café, o que é desejável para obtenção é um fator que prejudica a qualidade da
Quanto à qualidade do café, no Quadro 4 de cafés finos. bebida do café.
encontram-se relatados os resultados Segundo Carvalho et al. (1994), fato- Foram também constatados maiores
obtidos por Reis e Chagas (2001) de res que tendem a melhorar a qualidade da teores de açúcares totais nas amostras de
compostos fenólicos totais, atividade de bebida de café proporcionam aumento na café atacadas (Quadro 4), o que pode ter
PFO e açúcares totais. Foram observados atividade de PFO. favorecido a infecção por microrganismos
maiores teores de compostos fenólicos Os resultados relatados no Quadro 4 nas lesões causadas pelo ácaro.
no café com ataque do ácaro B. phoenicis mostram menores valores da atividade da Segundo Carvalho (1997), esses mi-
e com sintomas da mancha-anular. Fato PFO e que houve maior porcentagem de crorganismos em desenvolvimento produ-
semelhante foi mostrado por Kennedy e fenólicos totais nos grãos de café prove- zem suas próprias enzimas que agem sobre
Waterkeyn (1994), para ataque da mesma nientes de frutos que exibiam sintomas da os compostos químicos da mucilagem,
espécie de ácaro em folhas de chá da Índia, mancha-anular. Comparando os resultados principalmente sobre os açúcares, ao ser
por análise visual em cortes histológicos da atividade da PFO, obtidos por Reis e produzido o álcool, os quais se desdobram
de folha. Sob microscópio, esses autores Chagas (2001), com os apresentados por em ácido acético, láctico, butírico e outros
observaram o acúmulo de compostos fenó- Carvalho et al. (1994), e que estão apre- ácidos carboxílicos superiores. Ao iniciar a
licos no interior e entre células do mesófilo, sentados no Quadro 5, pode-se inferir que produção de ácido butírico, começa a haver
substâncias produzidas por interação entre o café sofreu alteração na qualidade da prejuízo na qualidade do café.
o ácaro e a planta.
A presença desses compostos no café
foi observada por Carvalho et al. (1989) QUADRO 4 - Atividade da polifenoloxidase (U/min/g de amostra), açúcares totais (%) e
fenólicos totais (%) em grãos de café provenientes de frutos com e sem ataque
em uma média de 8,37% de fenólicos totais do ácaro Brevipalpus phoenicis e da mancha-anular - Lavras, MG
nos frutos colhidos cerejas e de 9,66% nos
Parâmetros analisados Repetições
derriçados no pano, teores bem mais ele- Média ± EP
(1)

Análise Ácaro I II III


vados que os relatados por Reis e Chagas
(2001) (Quadro 4). Isso pode ter ocorrido Atividade da Com ácaro 62,99 60,66 60,66 61,43 ± 0,78
polifenoloxidase
em função de não ter havido frutos verdes Sem ácaro 65,32 67,66 67,66 66,88 ± 0,78
e semimaduros nas amostras analisadas por
Açúcares totais Com ácaro 9,16 8,62 8,62 8,80 ± 0,18
Reis e Chagas (2001), os quais possuem
Sem ácaro 5,63 6,93 5,93 6,16 ± 0,39
maiores teores destes compostos.
Segundo Amorim e Silva (1968), os Fenólicos totais Com ácaro 7,07 5,70 5,67 6,15 ± 0,46
compostos fenólicos, principalmente os Sem ácaro 6,48 5,31 5,38 5,72 ± 0,38
ácidos clorogênico e cafeico, exercem uma
FONTE: Reis e Chagas (2001).
ação protetora antioxidante dos aldeídos.
(1) Erro-padrão da média.
Quando há qualquer condição adversa aos
grãos, ou seja, ataque de insetos, injúrias
mecânicas, infecção por microrganis- QUADRO 5 - Atividade da polifenoloxidase, em U/min/g de amostra, em cafés previamente
mos, colheita inadequada, problemas no classificados pela prova de xícara

processamento e armazenamento, as po- Classificação pela prova Atividade de polifenoloxidase (PFO)


lifenoloxidases agem sobre os polifenóis de xícara Média Faixa de variação
diminuindo sua ação antioxidante sobre Estritamente mole 68,94 67,66 - 74,66
os aldeídos, facilitando a oxidação destes.
Mole 65,96 64,16 - 67,66
Ao mesmo tempo são produzidas quinonas,
Apenas mole 63,77 62,99 - 66,94
as quais agem como substrato inibidor da
polifenoloxidase. Por este motivo, cafés de Dura 60,98 55,99 - 62,99

pior qualidade, ou seja, os que tiveram seu Riada 44,00 37,33 - 53,66
sabor afetado por condições adversas, têm Rio 41,36 36,16 - 47,83
também baixa atividade de PFO. FONTE: Carvalho et al. (1994).

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 2 , n . 2 6 1 , p . 1 0 4 - 11 2 , m a r. / a b r. 2 0 11

IA261.indb 110 25/5/2011 10:20:13


Produção de café: opção pela qualidade 111

Os carboidratos podem contribuir para Colletotrichum gloeosporioides, que é co- CAFEEIRAS, 14.; CONGRESSO LATINOA-
o sabor e aroma do café, conforme Amorim mum ser encontrado em condições saprofí- MERICANO DE TECNOLOGIA CAFEEIRA,
(1972), que observou, no entanto, que estes ticas em cafeeiro (REIS et al., 2000) e por 1., 1987, Campinas. Trabalhos apresenta-
dos... Rio de Janeiro: IBC, 1987. p.18-19.
componentes não influem nas classifica- outros gêneros de fungos, como Fusarium,
ções por qualidade da bebida. Penicillium, Cladosporium e Aspergillus, CARRIÓN, G.; BONET, A. Mycobiota
O ataque do ácaro B. phoenicis, como associated with the coffee berry borer
também relacionados com a qualidade da
(Coleoptera: Scolytidae) and its galleries in
vetor do vírus da mancha-anular em fru- bebida do café (ALVES; CASTRO, 1998;
fruit. Annals of the Entomological Society
tos e folhas de cafeeiro e como porta de SCAVANACHI; PATRÍCIO, 1998; CAR- of America, Lanham, v.97, n.3, p.492-499,
entrada para microrganismos indesejáveis VALHO; FIGUEIRA, 1998). May 2004.
(Fig. 6AB), é, portanto, um fator que altera
CARVALHO, C.M.; FIGUEIRA, A. dos R. Si-
para pior a qualidade da bebida. REFERÊNCIAS tuação do vírus da mancha anular em Minas
Segundo Reis e Chagas (2001), o ataque ALVES, E.; CASTRO, H.A. de. Fungos asso- Gerais. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE
do ácaro-plano B. phoenicis e a incidência ciados ao café (Coffea arabica L.) nas fases PESQUISAS CAFEEIRAS, 24., 1998, Poços
da mancha-anular por este veiculada são de pré e pós-colheita em lavouras da região de Caldas. Trabalhos apresentados... A tec-
fatores que predispõem os frutos de café de Lavras. Summa Phytopathologica, São nologia vai florir para o café produzir. Rio
a sofrer alterações na qualidade da bebi- Paulo, v.24, n.1, p.4-7, jan./mar. 1998. de Janeiro: MA-PROCAFÉ, 1998. p.250-251.
da. A menor atividade da PFO e a maior AMORIM, H.V. Relação entre alguns com- CARVALHO, V.D. de. Cafeicultura empre-
porcentagem de compostos fenólicos e postos orgânicos do grão do café verde com sarial: produtividade e qualidade do café.
açúcares totais em frutos com sintoma a qualidade da bebida. 1972. 136f. Tese Lavras: UFLA: FAEPE, 1997. 73p.
da doença comprovam quimicamente (Doutorado) – Escola Superior de Agricultu- ______; CHAGAS, S.J. de R.; SOUZA, S.M.C.
ra “Luiz de Queiroz”, Universidade de São de. Fatores que afetam a qualidade do café.
esse fato, embora a equivalência entre o
Paulo. Piracicaba, 1972. Informe Agropecuário. Qualidade do café,
método químico utilizado e o da prova de
______; SILVA, O.M. Relationship between Belo Horizonte, v.18, n.187, p.5-20, 1997.
xícara seja questionável, como indicador
the polyphenol oxidase activity of coffee ______; CHALFOUN, S.M. Aspectos qua-
preciso da classificação de qualidade do
beans and the quality of the beverage. Na- litativos do café. Informe Agropecuário.
café (VITORINO et al., 2001). Reis e ture, London, v.219, p.381-382, 1968. Café, Belo Horizonte, v.11, n.126, p.79-91,
Chagas (2001) constataram, ainda, nos
CALAFIORI, M.H. et al. Influência da bro- jun. 1985.
frutos atacados maiores teores de açúcares
ca-do-café, Hypothenemus hampei (Ferrari, ______ et al. Efeito do tipo de colheita e lo-
totais, que podem ter favorecido a infecção 1867), na bebida e sua associação com fun- cal de cultivo na composição físico-química
por microrganismos nas lesões causadas go. Ecossistema, Espirito Santo do Pinhal, e química do grão beneficiado de café. In:
pelos ácaros. v.3, n.3, p. 80-81, set. 1978. CONGRESSO BRASILEIRO DE PESQUI-
Após o ataque do ácaro-plano, os CARNEIRO FILHO, F. Efeito da desfolha SAS CAFEEIRAS, 15., 1989, Maringá. Tra-
frutos ficam predispostos à penetração de precoce do cafeeiro na qualidade do café. In: balhos apresentados... Rio de Janeiro: IBC,
microrganismos, como é o caso do fungo CONGRESSO BRASILEIRO DE PESQUISAS 1989. p.23-24.

Fotos: Paulo Rebelles Reis

A B
Figura 6 - Frutos do cafeeiro com sintomas de mancha-anular
NOTA: Figura 6A - Frutos em início do estádio cereja apresentando sintomas de ataque da mancha-anular, com lesões que constatam a
presença de fungos. Figura 6B - Frutos cereja com sintomas da mancha-anular e presença acentuada de fungos e frutos passa,
em virtude do amadurecimento precoce.

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 2 , n . 2 6 1 , p . 1 0 4 - 11 2 , m a r. / a b r. 2 0 11

IA261.indb 111 25/5/2011 10:20:15


112 Produção de café: opção pela qualidade

CARVALHO, V.D. de et al. Relação entre a have a mutualistic fungi? Annals of the En- Tuberculariaceae). Annals of the Entomo-
composição físico-química e química do tomological Society of America, Lanham, logical Society of America, Lanham, v.92,
grão beneficiado e a qualidade de bebida v.98, n.4, p.483-490, 2005. n.1, p.98-100, Jan. 1999.
do café – I: atividades de polifenoloxidase ______; ______; ______. Microorganismos SANTO, J.E. et al. A mosca dos frutos (Ceratitis
e peroxidase, índice de coloração de acidez. asociados a la broca del café: ¿existe real- capitata) na qualidade de bebida do café na
Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, mente un mutualismo? In:
����������������
WORKSHOP IN- região do Oeste da Bahia. In: CONGRESSO
v.29, n.3, p.449-454, 1994. TERNACIONAL MANEJO DA BROCA-DO- BRASILEIRO DE PESQUISAS CAFEEIRAS,
CHALFOUN, S.M.; SOUZA, J.C. de; CAR- CAFÉ, 2004, Londrina. Anais... Londrina: 29., 2003, Araxá. Trabalhos apresentados...
VALHO, V.D. de. Relação entre a incidência IAPAR, 2007. p.65-76. Rio de Janeiro: MAPA-PROCAFÉ, 2003.
de broca, Hypothenemus hampei (Ferrari, ______ et al. Mycobiota associated with the p.316.
1867) (Coleoptera-Scolytidae), e microorga- coffee berry borer (Hypothenemus hampei) SCAVANACHI, V.; PATRÍCIO, F.R.A. Presen-
nismos em grãos de café. In: CONGRESSO in Mexico. Mycological Research, v.107, ça do ácaro da leprose (Brevipalpus phoenicis
BRASILEIRO DE PESQUISAS CAFEEIRAS, n.7, p.879-887, July 2003. Geijskes, 1939) e fungos em cafeeiros no Sul
11., 1984, Londrina. Trabalhos apresenta- e Sudoeste de Minas Gerais. In: CONGRES-
PEREZ L., E.J.; POSADA F., F.J.; GONZALEZ
dos... Rio de Janeiro: IBC, 1984. p.149-150. SO BRASILEIRO DE PESQUISAS CAFEEI-
G., M.T. Patogenicidad de un aislamiento de
GAMA, F. de C. et al. Diversidade de fungos Fusarium sp. encontrado infectando la broca RAS, 24., 1998, Poços de Caldas. Trabalhos
filamentosos associados a Hypothenemus del café Hypothenemus hampei. Revista Co- apresentados... A tecnologia vai florir para
hampei (Ferrari) (Coleoptera: Scolytidae) e lombiana de Entomologia, Bogotá, v,22. n.3, o café produzir. Rio de Janeiro: MA-PROCA-
suas galerias em frutos de Coffea canephora p.105-111, 1996. FÉ, 1998. p.68.
(Pierre). Neotropical Entomology, Londri- STEVANATO, S.G. et al. Controle a broca
PETERSON, S.W. et al. Penicillium brocae, a
na, v.35, n.5, p.573-578, set./out. 2006. do cafeeiro com diversos inseticidas e seus
new species associated with coffee berry bor-
______ et. al. Influência do ambiente na diver- er in Chiapas, Mexico. Mycologia, Lawrence, efeitos na qualidade do café. In: CONGRES-
sidade de fungos associados a Hypothenemus v.95, n.1, p.141-147, 2003. SO BRASILEIRO DE PESQUISAS CAFEEI-
hampei (Ferrari) (Coleoptera, Scolytidae) e RAS, 28., 2002, Caxambu. Trabalhos apre-
PIMENTA, C.J.; CUNHA, K.M. Qualidade do
frutos de Coffea canephora. Arquivos do sentados... Rio de Janeiro: MAPA-PROCAFÉ,
café (Coffea arabica L.) com diferente������
s por-
Instituto Biológico, São Paulo, v.72, n.3, 2002. p.74-75.
centagens de grãos brocados. In: CONGRES-
p.359-364, 2005. TANIWAKI, M.H. Danos causados pela bro-
SO BRASILEIRO DE PESQUISAS CAFEEI-
KENNEDY, J.S.; WATERKEYN, L. Histolo- RAS, 26.; ENCONTRO DE CAFEICULTORES ca-do-café: entrada para os fungos e as to-
gy of feeding injury caused by Brevipalpus DE MARÍLIA, 6., 2000, Marília. Trabalhos xinas. In: WORKSHOP INTERNATIONAL,
phoenicis Geijskes (Acari: Tenuipalpidae) apresentados... Rio de Janeiro: MA-PROCA- 2004, Londrina. Anais... Manejo da broca-
on tea leaves. Mededelingen Faculteit FÉ, 2000. p.243-244. do-café. Londrina: IAPAR, 2007. cap.2,
Landbouwkundige en Toegepast Biologis- REIS, P.R. Reflexos da incidência de pragas p.77-82.
he Wetenschappen Univesiteit Gent, Bel- na qualidade do café. In: SALVA, T. de J.G. VEGA, F.E.; MERCADIER, G. Insects, coffee
gium, v.59, n.2a, p.213-220, 1994. et al. Cafés de qualidade: aspectos tecno- and ochratoxin A. The Florida Entomolo-
LUCAS, M.B. et al. Efeitos de diferentes índices lógicos, científicos e comerciais. Campinas: gist, Gainesville, v.81, n.4, p.543-544, Dec.
de infestação da broca-do-café Hypothenemus Instituto Agronômico, de Campinas, 2007. 1998.
hampei (Ferrari, 1867) (Coleoptera: Scolytidae) p.107-120.
______; ______; DOWD, P.F. Fungi associated
na classificação pelo tipo e bebida. In: CON- ______; CHAGAS, S.J. de R. Relação entre o with the coffee berry borer Hypothenemus
GRESSO BRASILEIRO DE ENTOMOLO- ataque do ácaro-plano e da mancha-anular hampei (Ferrari) (Coleoptera: Scolytidae).
GIA, 11., 1987, Campinas. Resumos... Cam- com indicadores da qualidade do café. Ci- In: INTERNATIONAL SCIENTIFIC COLLO-
pinas: Sociedade Entomológica do Brasil, ência e Agrotecnologia, Lavras, v.25, n.1, QUIUM ON COFFEE, 18., 1999, Helsinki.
1987. v.1, p.286. p.72-76, jan./fev. 2001. Proceedings... Helsinki: Association Scien-
MONTOYA-RESTREPO, E.C. Caracterizaci- _____; SOUZA, J.C. de; MELLES, C. do C.A. tific Internationale du Café, 1999. p.229-
ón de la infestación del café por la broca y Pragas do cafeeiro. Informe Agropecuário. 238.
efecto del daño en la calidad de la bebida. Pragas do cafeeiro, Belo Horizonte, ano 10, ______ et al. Identification of a coffee berry
Cenicafé, Caldas, v.50, n.4, p.245-258, oct./ n.109, p.3-60, jan. 1984. borer-associated yeast: does it break down
dic. 1999.
______ et al. Distribuição espacial do áca- caffeine? Entomologia Experimentalis et
MORALES-RAMOS, J.A. et al. �������������
Symbiotic re- ro Brevipalpus phoenicis (Geijskes) (Acari: Applicata, Amsterdam, v.107, n.1, p.19-24,
lationship between Hypothenemus hampei Tenuipalpidae) em cafeeiro (Coffea arabica Apr. 2003.
(Coleoptera: Scolytidae) and Fusarium solani L.). Anais da Sociedade Entomológica do VITORINO, P.F.P.G. et al. Seria a atividade
(Moniliales: Tuberculariaceae). Annals of Brasil, Itabuna, v.29, n.1, p.177-183, 2000. de polifenoloxidase um bom indicador da
Entomological Society of America, Lan-
ROJAS, M.G.; MORALES-RAMOS, J.A.; qualidade da bebida do café? In: SIMPÓSIO
ham, v.93, n.3, p.541-547, 2000.
ARRINGTON, T.C. Association between BRASILEIRO DE PESQUISA DOS CAFÉS
PÉREZ, J.; INFANTE, F.; VEGA, F.E. Does the Hypothenemus hampei (Coleoptera: DO BRASIL, 2., 2001, Vitória. Anais... Bra-
coffee berry borer (Coleoptera: Scolytidae) Scolytidae) and Fusarium solani (Moniliales: sília: Embrapa Café, 2001. 1 CD-ROM.

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 2 , n . 2 6 1 , p . 1 0 4 - 11 2 , m a r. / a b r. 2 0 11

IA261.indb 112 25/5/2011 10:20:16


IA261.indb 113 25/5/2011 10:20:18
114 Produção de café: opção pela qualidade

Critérios utilizados na avaliação da qualidade do café


Marcelo Ribeiro Malta 1

Resumo - No Brasil, a qualidade do café é determinada principalmente em função de duas


classificações. A primeira, refere-se à classificação física, em que os grãos são selecionados
de acordo com a coloração, forma, tamanho e presença de defeitos. A segunda, é pela
qualidade da bebida (análise sensorial). Esta é realizada por provadores treinados que
conseguem distinguir diferentes padrões de bebida. Esta prova é um trabalho complexo
que exige conhecimento perfeito, grande prática e educação do paladar para uma melhor
distinção do sabor e aroma. São abordados os critérios, normas e procedimentos adotados
para a classificação e avaliação da qualidade do café atualmente empregados no Brasil.

Palavras-chave: Coffea arabica. Cafés especiais. Classificação. Características sensoriais.

INTRODUÇÃO para análise sensorial dos cafés especiais, da semente, envolto por tecidos rema-
tem sido bastante utilizado o método da nescentes do perisperma ou envoltório
A valorização da qualidade do café
Specialty Coffee Association of America seminal do fruto que forma a chamada
é uma antiga preocupação, que levou os
(SCAA), elaborado a partir da sistemati- película prateada. As demais estruturas
setores ligados à atividade cafeeira no
zação de avaliação sensorial proposta por do fruto correspondem ao pericarpo
Brasil a elaborarem normas de classifica-
Lingle (2001). formado pelo exocarpo ou epiderme, o
ção em 1917. Nestas normas, observa-se
uma ênfase a certos atributos que estão mesocarpo que contém açúcares, goma
CRITÉRIOS DE CLASSIFICAÇÃO e mucilagem e o endocarpo representado
associados à aceitação ou à rejeição do
café para o consumo. No mesmo ano, pelo pergaminho. Em conjunto, essas es-
Forma e tamanho do grão truturas constituem a palha do café, que é
foi criada a prova de xícara no Brasil,
de café removida no processo de beneficiamento
sendo adotada pela bolsa oficial de Café
e Mercadorias de Santos, que havia sido De forma geral, os grãos e frutos não do fruto em coco (MEDINA FILHO;
instalada em 1914. apresentam formato geométrico perfeita- BORDIGNON, 2003).
Atualmente, a tipificação e a caracteri- mente definido, tornando-se necessário, Embora normalmente os grãos de café
zação sensorial dos cafés comercializados para solução de problemas relacionados sejam chatos, são encontrados também
nas bolsas de mercadorias, denominados com a sua geometria, assumir uma forma grãos moca, triângulo e concha. Em bo-
cafés commodities, são regidas pela Ins- conhecida, o que resulta em aproxima- tânica, o fruto do café é considerado uma
trução Normativa no 8, de 11 de junho de ções e possíveis erros. Para a maioria drupa, oriunda do crescimento de um
2003 do Ministério da Agricultura, Pecu- dos produtos agrícolas, muitas dessas ovário bilocular. Quando maduro, possui
ária e Abastecimento (MAPA), segundo soluções são obtidas assumindo-se as duas lojas que encerram normalmente
regulamento denominado “Regulamento formas geométricas de um esferoide ou duas sementes plano-convexas que, na
Técnico de Identidade e Qualidade para elipsoide composto por três dimensões prática, são chamadas grãos tipo chato.
a Classificação do Café Beneficiado Grão características, que são os eixos maior Por razões genéticas ou ambientais uma
Cru” (BRASIL, 2003). (comprimento), médio (largura) e menor ou duas sementes podem não se desen-
Na avaliação de cafés especiais, além (espessura) (AFONSO JÚNIOR; BO- volver ou abortar, resultando, mais tarde,
da nota global, são importantes as pontu- RÉM; CORREA, 2008). em frutos com uma ou duas lojas vazias.
ações obtidas em cada um dos atributos A anatomia dos frutos de café revela Quando isso ocorre em apenas uma loja
sensoriais que compõem a qualidade da be- que o grão comercial é constituído por um e no início do desenvolvimento do fruto,
bida. Dentre as metodologias disponíveis pequeno embrião inserido no endosperma a outra loja, que contém um embrião e

1
Engo Agro, Dr., Pesq. EPAMIG Sul de Minas/Bolsista FAPEMIG, Caixa Postal 176, CEP 37200-000 Lavras-MG. Correio eletrônico:
marcelomalta@epamig.ufla.br

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 2 , n . 2 6 1 , p . 11 4 - 1 2 6 , m a r. / a b r. 2 0 11

artigo 11.indd 114 26/5/2011 13:24:04


Produção de café: opção pela qualidade 115

endosperma normais, desenvolve e ocupa As porcentagens dessas formas variam sura maior. A denominação normalmente
todo o volume do ovário. Consequente- de acordo com uma série de fatores como: usada para especificar a classificação
mente, resulta em um fruto que contém variedade, localização geográfica, tratos por tamanho do café refere-se aos grãos
apenas um grão ovoide conhecido como culturais e clima. chatos (normais), ao diâmetro, em fração
grão moca (Fig. 1). de polegada, da peneira com perfuração
Classificação por peneira redonda; no caso dos grãos moca, a de-
Enquanto os grãos triângulo são pro-
venientes da presença de três cavidades Consideram-se na classificação por nominação comercial refere-se à largura
no ovário, que dão origem à formação de peneira, o tamanho e o formato dos grãos, da perfuração alongada da peneira, dada
três grãos no fruto, cada um deles com avaliados na passagem de uma amostra como fração de polegada (Fig. 3). Assim,
seção transversal triangular, os grãos de café em um jogo de peneiras, de crivos grãos chatos de peneira 17, por exemplo,
redondos, para separação de grãos chatos são retidos na peneira com perfuração
moca são provenientes da falha de um
(numeradas de 12 a 19), alternadas com as redonda de diâmetro igual a 17/64’; grãos
dos embriões, quando a loja do outro
de crivos alongados, que separam os grãos moca de peneira 13 são retidos na peneira
embrião ocupa todo o espaço interno do
moca (numeradas de 8 a 13). Realiza-se de perfuração alongada com largura igual
fruto, dando a forma de um elipsoide de
o cálculo da distribuição porcentual por a 13/64’ (BORÉM, 2004; AFONSO JÚ-
revolução com uma fenda acentuada no
peneira em um lote de café, com vista à ne- NIOR; BORÉM; CORREA, 2008).
sentido longitudinal (TOLEDO-PIZA;
cessidade de homogeneização do tamanho
PIAGENTINI; BOREM, 2008). Frutos Classificação quanto ao tipo
dos grãos durante o processo de torração,
moca ocorrem com maior frequência nos
para evitar que os grãos menores, que se- É a classificação do produto segundo
ponteiros e extremidades dos ramos. A
rão torrados primeiro, alterem o sabor e o seu aspecto e quantidade de defeitos. O
porcentagem de moca varia também com
aroma da bebida. aspecto é influenciado pela coloração dos
o ano, com a produção, estado nutricio-
A descrição da forma e tamanho dos grãos, que podem ser prejudicados pelo
nal e mesmo com a variedade (MEDINA grãos de café é fundamental nas etapas contato do café com a terra e por secagem
FILHO; BORDIGNON, 2003). de beneficiamento, rebeneficiamento e na drástica ou desuniforme, ocasionando
Os grãos concha são provenientes da classificação comercial do café. Em geral, grãos manchados (BARTHOLO; GUI-
presença de dois óvulos numa única cavi- utilizam-se três eixos para a caracterização MARÃES, 1997). A classificação por tipo
dade do ovário, quando as duas sementes do tamanho dos grãos: comprimento, lar- refere-se à presença de grãos defeituosos
nascem entrelaçadas, e dão ao grão a forma gura e espessura (Fig. 2). No caso do café, e de impurezas encontrados e separados
de um elipsoide de revolução “gigante” os grãos normais apresentam espessura em uma amostra de 300 g de café benefi-
que, geralmente, se separa na forma de menor do que a largura, sendo separados ciado. Os defeitos e as impurezas possuem
uma concha e um miolo durante o bene- dos grãos moca por meio de peneiras alon- valores variáveis, pelos quais recebem a
ficiamento. gadas, as quais retêm os grãos com espes- classificação nos tipos 2 a 8.

L E

C
Fotos: Marcelo Ribeiro Malta
Fotos: Marcelo Ribeiro Malta

A B Figura 2 - Dimensões do grão de café utilizadas para classificação


Figura 1 - Formato dos grãos de café da forma e tamanho
NOTA: A - Grãos chatos; B - Grãos moca. NOTA: C - Comprimento; L - Largura; E - Espessura.

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 2 , n . 2 6 1 , p . 11 4 - 1 2 6 , m a r. / a b r. 2 0 11

IA261.indb 115 25/5/2011 10:20:18


116 Produção de café: opção pela qualidade

bebida, alterando principalmente seu sabor


e aroma. Podem ser de natureza intrínseca
e extrínseca (PEREIRA; MALTA, 2004).
Os defeitos de natureza intrínseca aparecem

Fotos: Marcelo Ribeiro Malta


por meio da condução inadequada de pro-
cessos durante a condução da lavoura, na
colheita e na pós-colheita. São conhecidos
como grãos verdes, pretos, ardidos, preto-
A B verdes, chochos, mal granados, conchas,
quebrados, brocados. Os de natureza ex-
Figura 3 - Classificação dos grãos de café de acordo com sua forma e tamanho trínseca correspondem aos elementos estra-
NOTA: A - Peneira de crivo circular (separação de grãos chatos); B - Peneira de crivo nhos ou materiais diferentes dos grãos de
alongado (separação de grãos moca). café. São representados pelo café em coco,
marinheiro (café com pergaminho), cascas,
paus e pedras, conhecidos como impurezas.
Mais detalhes da classificação quanto Defeitos Os defeitos podem ser evitados ou até eli-
ao tipo poderão ser verificados na Instrução Os defeitos provêm de grãos imper- minados. As causas que concorrem para a
Normativa no 8, de 11/6/2003 (BRASIL, feitos ou impurezas. Comprometem a presença dos defeitos são de ordem variada,
2003). cor, o aspecto, a torração e a qualidade da conforme apresentado no Quadro 1.

QUADRO 1 - Natureza, causa, modo de evitar e eliminar o defeito e sua influência na qualidade do café
Natureza Causa Como evitar Como eliminar Influência na qualidade
Preto Colheita atrasada e contato dos Colheita racional Catação eletrônica Prejudica aspecto, cor,
frutos com o solo torração e bebida

Ardido Colheita de frutos verdes, Colheita racional Catação eletrônica Prejudica aspecto, cor,
atrasada e contato dos frutos torração e bebida
com o solo

Verde Colheita de frutos verdes Colheita somente de frutos Separação de verdes e cata- Prejudica aspecto, cor,
maduros ção eletrônica torração e bebida

Concha Fatores genéticos e possíveis Cultivares adaptadas e racio- No beneficiamento e ca- Prejudica aspecto e tor-
causas fisiológicas nalização da cultura tação ração

Chocho Fatores genéticos ou fatores Cultivares adaptadas e racio- Ventilação adequada no Prejudica aspecto e tor-
fisiológicos nalização da cultura beneficiamento e catação ração
mecânica

Mal granado Fatores fisiológicos Uso correto de nutrientes Separação no beneficia- Prejudica aspecto e tor-
mento e catação ração

Brocado Ataque da broca-do-café Repasse nas lavouras e con- Catação mecânica Prejudica aspecto
trole da praga

Quebrado Seca inadequada e má regula- Secagem adequada e regula- Regulagem dos ventiladores Prejudica aspecto e tor-
gem do descascador gem do descascador e catação mecânica ração

Coco Má regulagem do descascador Regular o descascador Separação no beneficia- Prejudica aspecto e tor-
mento e catação mecânica ração

Marinheiro Má regulagem do descascador Regular o descascador Separação na sururuca e Prejudica aspecto e tor-
catação manual ração

Pau, pedra, Colheita por derriça no chão e Colheita por derriça no pano Emprego de lavadores e Prejudica aspecto e tor-
torrão, casca abanação mal-feita seletores; Regulagem do ração
catador e do ventilador no
beneficiamento; Catação
mecânica
FONTE: Teixeira (1992).

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 2 , n . 2 6 1 , p . 11 4 - 1 2 6 , m a r. / a b r. 2 0 11

IA261.indb 116 25/5/2011 10:20:19


Produção de café: opção pela qualidade 117

Aspecto dos grãos chumbados, amarelados, amarelos, pampas 1998; MAZZAFERA;GUERREIRO;


e marrons. As cores verde e esverdeada são CARVALHO, 1984).
O aspecto do café é fundamental, pois
consideradas melhores, pois indicam que, Na Figura 4, são apresentados grãos
pode mostrar os cuidados dispensados
possivelmente, os grãos não sofreram injú- de coloração esverdeada (normal) e grãos
na sua produção. Por simples inspeção,
rias ou processos de deterioração intensos. com coloração alterada (branqueamento).
pode-se classificá-lo, quanto ao aspecto,
A cor verde apresentada pelos grãos
em bom, regular ou mau. O café é consi- Umidade
de café é indicativa de que os processos
derado de bom aspecto quando a maioria
oxidativos endógenos estão ocorrendo a A umidade do café após a secagem,
dos grãos é perfeita, uniforme no tamanho
taxas reduzidas ou mesmo não ocorrendo. para o armazenamento seguro, deve estar
e na cor, o que indica que o processamento
A perda da cor verde dos grãos seria então entre 11% e 12% base úmida (bu) para
e, principalmente, a secagem foram con-
função do armazenamento inadequado que não ocorra o desenvolvimento de
duzidos corretamente. O aspecto é consi-
ou das injúrias mecânicas e fisiológicas microrganismos, fermentações e desco-
derado mau, quando algumas ou todas as
(MAZZAFERA; GUERREIRO; CARVA- loração dos grãos durante o processo de
características mencionadas antes não são
LHO, 1984). Durante o armazenamento armazenamento.
uniformes e o lote classificado apresenta,
do café, é comum haver uma mudança na
ainda, muitos grãos defeituosos. O aspec- Classificação quanto à bebida
coloração do grão, passando o endosperma
to regular é aquele que reúne condições ou prova de xícara
da cor esverdeada para esbranquiçada, fe-
intermediárias.
nômeno conhecido como branqueamento. A avaliação sensorial dos alimentos é
Esta descoloração dos grãos tem sido um uma função primária do homem, já que este
Cor
problema sério pela depreciação qualitativa rejeita ou aceita alimentos de acordo com
A coloração dos grãos crus é bastante do café, com consequentes prejuízos aos a sensação que experimenta ao observá-
variável, dependendo do local de produ- produtores e exportadores (MELO et al., los. A qualidade dos alimentos é o fator
ção, sistema de processamento (natural, 1980). Este fenômeno assume importância, que influencia diretamente a reação do
descascado, despolpado ou desmucilado), se for considerado que o complexo sistema consumidor.
secagem, tempo e condições de armazena- de comercialização do café faz com que o Os métodos sensoriais baseiam-se em
mento, presença de defeitos, entre outros. produto que está sendo negociado e consu- respostas aos estímulos que são levados
Os cafés são classificados quanto à cor em mido, de forma geral, tenha sido estocado por impulsos nervosos ao cérebro, onde são
diversas tonalidades de verde, denomina- durante algum tempo. A descoloração interpretados em sensações. Um estímulo
das verde-cana, esverdeados, entre outros. dos grãos de café, além da depreciação produz sensações cujas dimensões são
Quando alterações ocorrem na lavoura ou pelo aspecto visual, pode levar à perda da intensidade, extensão, duração, qualidade,
na pós-colheita, a cor natural pode ser mo- qualidade da bebida (WOOTTON, 1970; gosto ou desgosto (PEREIRA; MALTA;
dificada originando grãos conhecidos como CARVALHO et al., 1994; LEITE et al., FREITAS, 2004).

Fotos: Marcelo Ribeiro Malta

A B
Figura 4 - Coloração do grão de café
NOTA: A - Café de coloração normal; B - Café de coloração alterada.

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 2 , n . 2 6 1 , p . 11 4 - 1 2 6 , m a r. / a b r. 2 0 11

IA261.indb 117 25/5/2011 10:20:22


118 Produção de café: opção pela qualidade

A determinação da qualidade da bebida REGULAMENTAÇÃO ATUAL O café beneficiado Grão Cru da Sub-
do café é realizada por meio do teste senso- categoria Chato, de acordo com o
rial conhecido como prova de xícara, em que Será apresentada uma síntese do tamanho dos grãos e a dimensão dos
provadores treinados distinguem diferentes regulamento para classificação do café crivos circulares das peneiras que os
padrões de bebida. Esta prova foi adotada beneficiado grão cru e café torrado em retêm, será classificado em:
oficialmente em 1917 e é um trabalho grão e café torrado e moído. Mais detalhes
Chato graúdo: peneiras 19/18 e 17;
complexo que exige bastante treino e co- desses regulamentos poderão ser obtidos
nhecimento para saber diferenciar sabores. em Anvisa (1999) e Brasil (2003, 2010). Chato médio: peneiras 16 e 15;
Tradicionalmente, a descrição das Chato miúdo: peneira 14 e menores.
bebidas avaliadas pela prova de xícara é Classificação do grão
beneficiado cru Moca: constituída de grãos com forma-
classificada conforme o Quadro 2.
to ovóide, também com ranhura central
Para a classificação dos cafés especiais
Atualmente, a classificação dos cafés no sentido longitudinal.
são levados em consideração atributos de
commodities, comercializados nas bolsas
aroma como floral, cítrico, entre outros, O Café Beneficiado Grão Cru da
de mercadorias, é regida pela Instrução
e características especiais de sabor como Subcategoria Moca, de acordo com o
Normativa no 8, de 11/6/2003 (BRASIL,
achocolatados, amendoim torrado, carame- tamanho dos grãos e a dimensão dos
lo, entre outros. Nestes cafés considerados 2003). Essa Instrução Normativa, denomi-
crivos oblongos das peneiras que os
como especiais não são aceitos defeitos nada “Regulamento Técnico de Identidade
retêm, será classificado em:
como verdes, ardidos, pretos, preto-verdes, e de Qualidade para a classificação do café
beneficiado grão cru” é apresentada em Moca graúdo: peneiras 13/12 e 11;
fermentados, etc.
Mais detalhes sobre a avaliação sen- partes, a seguir: Moca médio: peneira 10;
sorial dos cafés especiais serão abordados O Regulamento tem por objetivo de- Moca miúdo (moquinha): peneira 9 e
no tópico sobre a avaliação sensorial de finir as características de identidade menores.
cafés especiais. e de qualidade para a classificação do
Quando o Café Beneficiado Grão Cru
Café Beneficiado Grão Cru. O Café
não for submetido, à separação em
Beneficiado Grão Cru é classificado
QUADRO 2 - Classificação oficial do café peneiras ou, quando submetido se
pela bebida em CATEGORIA, SUBCATEGORIA,
enquadre em quatro ou mais peneiras,
GRUPO, SUBGRUPO, CLASSE e
Classificação Característica será considerado BICA CORRIDA
TIPO, segundo a espécie, formato do
(B/C).
Estritamente mole Bebida de sabor suavís- grão e a granulometria, o aroma e o
simo e adocicado sabor, a bebida, a cor e a qualidade, Na classificação por peneiras, o
respectivamente. vazamento máximo admissível para
Mole Bebida de sabor suave,
cada peneira será de 10%, sendo
acentuado e adocicado CATEGORIA: de acordo com a espé- que vazamento superior a esse valor
Apenas mole Bebida de sabor suave, cie a que pertença, o Café Beneficiado caracterizará a ocorrência de outra
porém com leve ads- Grão Cru será classificado em 2 (duas) peneira, abaixo da que o originou, no
tringência categorias: lote em análise.
Dura Bebida com sabor ads- Categoria I: café proveniente da espé- GRUPO: o Café Beneficiado Grão Cru,
tringente e áspero cie Coffea arabica; de acordo com o aroma e o sabor, será
Riada Bebida com leve sabor Categoria II: café proveniente da classificado em 2 (dois) grupos. O sabor
de iodofórmio ou ácido espécie Coffea canephora. e o aroma serão definidos por meio da
fênico prova de xícara.
SUBCATEGORIA: o Café Benefi-
Rio Bebida com sabor forte ciado Grão Cru, segundo o formato GRUPO I - Arábica.
e desagradável, lem-
do grão e a sua granulometria, será GRUPO II - Robusta.
brando iodofórmio ou
enquadrado em 2 (duas) subcategorias:
ácido fênico SUBGRUPO: o Café Beneficiado
Rio Zona Bebida de sabor e odor Chato: constituída de grãos com super- Grão Cru, de acordo com a bebida
intoleráveis ao paladar fície dorsal convexa e a ventral plana e com o grupo a que pertença, será
e ao olfato ou ligeiramente côncava, com a ranhura classificado em 07 (sete) Subgrupos
FONTE: Brasil (2003). central no sentido longitudinal. do Grupo I e 4 (quatro) Subgrupos do

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 2 , n . 2 6 1 , p . 11 4 - 1 2 6 , m a r. / a b r. 2 0 11

artigo 11.indd 118 26/5/2011 13:39:52


Produção de café: opção pela qualidade 119

Grupo II, assim discriminados: Amarelada: café que apresenta grão de TIPO: o Café Beneficiado Grão Cru,
coloração amarelada, indicando sinais de acordo com o percentual de defeitos
Bebidas Finas do Grupo I - Arábica.
de envelhecimento do produto; e matérias estranhas e impurezas pre-
Estritamente mole: café que apresenta, sentes na amostra será classificado con-
Amarela;
em conjunto, todos os requisitos de forme estabelecido nas Tabelas 1, 2 e 3.
aroma e sabor “mole”, porém mais Marrom;
As Tabelas 1 e 2 apresentam a classi-
acentuado;
Chumbado; ficação do café beneficiado grão cru
Mole: café que apresenta aroma e sabor quanto a equivalência de defeitos
Esbranquiçada;
agradável, brando e adocicado; intrínsecos e extrínsecos, respectiva-
Discrepante: mistura de cores mente. A Tabela 3 mostra a Classifi-
Apenas mole: café que apresenta sa-
oriundas de ligas de safras ou cores cação de café beneficiado grão cru em
bor levemente doce e suave, mas sem
diferentes. função do número de defeitos/tipo.
adstringência ou aspereza de paladar;

Duro: café que apresenta sabor acre,


Tabela 1 - Classificação do Café Beneficiado Grão Cru quanto à equivalência de defeitos
adstringente e áspero, porém não apre-
(intrínsecos).
senta paladares estranhos.
Defeitos Quantidade Equivalência
Bebidas Fenicadas do Grupo I -
Arábica. Grão Preto 1 1

Grãos Ardidos 2 1
Riado: café que apresenta leve sabor,
típico de iodofórmio; Conchas 3 1

Grãos Verdes 5 1
Rio: café que apresenta sabor típico e
acentuado de iodofórmio; Grãos Quebrados 5 1

Grãos Brocados 2a5 1


Rio Zona: café que apresenta aroma e
sabor muito acentuado, assemelhado ao Grãos Mal Granados ou Chochos 5 1

iodofórmio ou ao ácido fênico, sendo Observações:


1 - O Grão Preto será considerado o principal defeito ou capital;
repugnante ao paladar.
2 - Os Grãos Ardidos e Brocados serão considerados defeitos secundários;
Bebidas do Grupo II - Robusta. 3 - O defeito Verde Preto “STINKER” será considerado como defeito ardido.

Excelente: café que apresenta sabor


neutro e acidez mediana; Tabela 2 - Classificação do Café Beneficiado Grão Cru quanto à equivalência de impurezas
(extrínsecos).
Boa: café que apresenta sabor neutro e
ligeira acidez; Impurezas Quantidade Equivalência

Regular: café que apresenta sabor típico Coco 1 1

de robusta sem acidez; Marinheiros 2 1


Pau, Pedra, Torrão grande 1 5
Anormal: café que apresenta sabor não
característico ao produto. Pau, Pedra, Torrão regular 1 2
Pau, Pedra, Torrão pequeno 1 1
CLASSE: o Café Beneficiado Grão
Cru, de acordo com a coloração do Casca grande 1 1

grão, será classificado em 8 (oito) Casca pequena 2a3 1


classes: Observações:
1 - As Pedras, os Torrões e os Paus Grandes correspondem a mais ou menos as dimensões da
Verde Azulado e Verde Cana: cores Peneira Grão Chato de 18/19/20;
características do café despolpado ou 2 - As Pedras, os Torrões e os Paus Regulares correspondem a mais ou menos as dimensões
degomado; da Peneira Grão Chato de l5/16/17;
3 - As Pedras, os Torrões e os Paus Pequenos correspondem a mais ou menos as dimensões
Verde: café que apresenta grão de co- da Peneira Grão Chato de 14 abaixo;
loração verde e suas nuances; 4 - As Cascas serão relacionadas a mais ou menos com o tamanho do Café em Coco.

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 2 , n . 2 6 1 , p . 11 4 - 1 2 6 , m a r. / a b r. 2 0 11

artigo 11.indd 119 26/5/2011 13:39:53


120 Produção de café: opção pela qualidade

Tabela 3 - Classificação do Café Beneficiado Grão Cru, em função do defeito/tipo

Defeitos Tipos Pontos Defeitos Tipos Pontos

4 2 +100 46 5 50
4 2 – 05 + 95 49 5 – 05 55
5 2 – 10 + 90 53 5 – 10 60
6 2 – 15 + 85 57 5 – 15 65
7 2 – 20 + 80 61 5 – 20 70
8 2 – 25 + 75 64 5 – 25 75
9 2 – 30 + 70 68 5 – 30 80
10 2 – 35 + 65 71 5 – 35 85
11 2 – 40 + 60 75 5 – 40 90
11 2 – 45 + 55 79 5 – 45 95
12 3 + 50 86 6 100
13 3 – 05 + 45 93 6 – 05 105
15 3 – 10 + 40 100 6 – 10 110
17 3 – 15 + 35 108 6 – 15 115
18 3 – 20 + 30 115 6 – 20 120
19 3 –25 + 25 123 6 – 25 125
20 3 – 30 + 20 130 6 – 30 130
22 3 – 35 + 15 138 6 – 35 135
23 3 – 40 + 10 145 6 – 40 140
25 3 – 45 + 05 153 6 – 45 145
26 4 Base 160 7 150
28 4 – 05 05 180 7 – 05 155
30 4 – 10 10 200 7 – 10 160
32 4 – 15 15 220 7 – 15 165
34 4 – 20 20 240 7 – 20 170
36 4 – 25 25 260 7 – 25 175
38 4 – 30 30 280 7 – 30 180
40 4 – 35 35 300 7 – 35 185
42 4 – 40 40 320 7 – 40 190
44 4 – 45 45 340 7 – 45 195
360 8 200
> 360 Fora de Tipo

Classificação do café nimas de qualidade a que deve obedecer grosso, ou grãos inteiros torra-
torrado em grão e café o café torrado em grão e o café torrado dos. O produto pode apresentar
torrado e moído e moído. resquícios do espermoderma
Portaria no 377, de 26 de abril de 1999. Quanto à composição e requisitos, o (película invaginada intrínseca),
café torrado em grão e o café torrado moído
- cor: castanho-claro ao castanho-
Aprova o Regulamento Técnico para devem apresentar:
escuro,
a) composição - ingrediente obrigató-
fixação de identificação e qualidade de café
rio: café cru em grãos; - odor: característico,
torrado em grão e café torrado e moído
(ANVISA, 1999). b) requisitos - referentes às caracterís- - sabor: característico,
Este regulamento tem como objetivo ticas sensoriais: - características físicas e químicas
fixar a identidade e as características mí- - aspecto: pó homogêneo, fino ou (Quadro 3).
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 2 , n . 2 6 1 , p . 11 4 - 1 2 6 , m a r. / a b r. 2 0 11

IA261.indb 120 25/5/2011 10:20:22


Produção de café: opção pela qualidade 121

QUADRO 3 - Características físicas e químicas a serem atendidas, segundo Regulamento tratamento térmico adequado até atingir
técnico para fixação de identificação e qualidade de café torrado em grão e o ponto de torra desejado;
café torrado e moído
VI - café torrado e moído: o café torrado
Teor
Características física e química em grão que foi submetido a processo
(%)
de moagem;
Impurezas (g/100g) 1,0 (máximo)
VII - características sensoriais: as
Umidade (g/100g) 5,0 (máximo) características do produto e da bebida
Resíduo mineral fixo (g/100g) 5,0 (máximo) conforme avaliadas pelos sentidos do
Resíduo mineral fixo, insolúvel em ácido clorídrico a 10% v/v (g/100g) 1,0 (máximo) olfato e paladar, sendo elas acidez,
adstringência, amargor, aroma da bebi-
Cafeína (g/100g) 0,7 (máximo) da, corpo, fragrância do pó, influência
Cafeína para o produto descafeinado (g/100g) 0,1 (máximo) dos grãos defeituosos, sabor e sabor
residual, conforme a seguir:
Extrato aquoso (g/100g) 25,0 (máximo)
a) acidez: a percepção causada por
Extrato aquoso para o produto descafeinado (g/100g) 20,0 (máximo)
substâncias como ácido clorogênico,
Extrato etéreo (g/100g) 8,0 (máximo) cítrico, málico e tartárico que produzem
FONTE: Anvisa (1999). gosto ácido;

b) adstringência: a sensação de secura


na boca deixada após a ingestão da
Instrução Normativa n o 16, de b) bebida Mole: aquela que apresenta
bebida;
24 de maio de 2010 aroma e sabor, agradável, brando e
adocicado; c) amargor: a percepção de gosto
Estabelece o Regulamento Técnico
causada por substâncias como cafeína,
para o café torrado em grão e para o café c) bebida Apenas Mole: aquela que apre-
trigonelina, ácidos cafêico e quínico e
torrado e moído (BRASIL, 2010). senta sabor levemente doce e suave, mas
outros compostos fenólicos que produ-
A seguir, apresenta-se parte literal sem adstringência ou aspereza de paladar;
zem o gosto amargo;
dessa Instrução Normativa: d) bebida Duro: aquela que apresenta
d) aroma da bebida: a percepção olfa-
sabor acre, adstringente e áspero, porém
tiva causada pelos gases liberados do
CAPÍTULO I não apresenta paladares estranhos;
café torrado e moído, após preparação
DAS DISPOSIÇÕES GERAIS e) bebida Riado: aquela que apresenta da bebida, conforme os compostos
leve sabor típico de iodofórmio; aromáticos que são inalados pelo nariz;
Art. 1º O presente Regulamento
Técnico tem por objetivo definir o f) bebida Rio: aquela que apresenta sa- e) corpo: a percepção táctil de oleosi-
padrão oficial de classificação do Café bor típico e acentuado de iodofórmio; e dade e viscosidade na boca;
Torrado em Grão e do Café Torrado e
g) bebida Rio Zona: aquela que apre- f) fragrância do pó: a percepção olfativa
Moído, considerando os requisitos de
senta aroma e sabor muito acentuado, causada pelos gases liberados do café
identidade e qualidade, a amostragem,
assemelhado ao iodofórmio ou ao ácido torrado e moído, conforme os compos-
o modo de apresentação e a marcação
fênico; tos aromáticos são inalados pelo nariz;
ou rotulagem, nos aspectos referentes
à classificação do produto. II - blend: expressão que identifica um g) influência dos grãos defeituosos: as
produto resultante da composição de grãos sensações percebidas na degustação
Art. 2º Para efeito deste Regulamento
de diferentes espécies do gênero Coffea; da bebida produzidas pela presença de
Técnico considera-se:
impurezas e grãos defeituosos do café;
III - café: o grão e a cereja do cafeeiro
I - bebida: o líquido obtido por infusão,
seja em pergaminho, grão cru ou tor- h) sabor: a sensação causada pelos
percolação, decantação ou outro pro-
rado, das espécies do gênero Coffea; compostos químicos da bebida quando
cesso de preparo a partir do café torrado
introduzida na boca; e
e moído, assim discriminado: IV - café em grão cru: o café que foi
submetido ao processo de descasca- i) sabor residual: a persistência da
a) bebida Estritamente Mole: aquela
mento antes de ser torrado; sensação de sabor após a ingestão da
que apresenta, em conjunto, todos os
bebida de café;
requisitos de aroma e sabor “mole” V - café torrado em grão: o café em grão
mais acentuado; cru beneficiado que foi submetido a VIII - impurezas: casca, pau e outros

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 2 , n . 2 6 1 , p . 11 4 - 1 2 6 , m a r. / a b r. 2 0 11

IA261.indb 121 25/5/2011 10:20:23


122 Produção de café: opção pela qualidade

detritos provenientes do próprio ca- § 1º Os requisitos de identidade do Café I - mau estado de conservação;
feeiro; Torrado em Grão e do Café Torrado e
II - percentual de impurezas, sedimentos
Moído são definidos pelo gênero Coffea
IX - liga: a expressão que identifica e matérias estranhas igual ou superior a
e pela forma de apresentação.
um produto resultante da composição 1,3% (um virgula três por cento); e
de grãos de uma mesma espécie do § 2º Os requisitos de qualidade do Café III - odor e aparência estranhos de qual-
gênero Coffea; Torrado em Grão e do Café Torrado e quer natureza, impróprio ao produto
Moído são definidos em função das que inviabilize a sua utilização para o
X - lote: a quantidade de produto com
características sensoriais e pela Quali- uso proposto.
especificações de identidade, qualidade
dade Global da Bebida, conforme esta-
e apresentação devidamente definidas, Parágrafo único. Fica igualmente vedada
belecido no ANEXO II desta Instrução
homogêneo, segundo os critérios do a importação de Café Torrado em Grão e
Normativa.
fabricante; Café Torrado e Moído desclassificados.
Art. 4º O Café Torrado em Grão e o
XI - matérias estranhas: detritos vegetais Art. 6º O Ministério da Agricultura,
Café Torrado e Moído será classificado
não oriundos do cafeeiro, grãos ou se- Pecuária e Abastecimento (MAPA)
em GRUPO e TIPO, podendo ainda ser
mentes de outras espécies, corantes, açú- poderá efetuar análise de micotoxinas
enquadrados como Fora de Tipo.
car e borra de café solúvel ou de infusão; e outras substâncias nocivas à saúde,
§ 1º De acordo com a forma de apresen- matérias macroscópicas, microscópicas
XII - película prateada: a porção externa
tação o Café Torrado em Grão e o Café e microbiológicas relacionadas ao risco
da semente também chamada espermo-
Torrado e Moído serão classificados em à saúde humana, de acordo com legis-
derma, ou seja, a película que reveste
dois grupos, conforme disposto a seguir: lação específica, independentemente do
o grão de café;
resultado da classificação do produto.
I - grupo I: Café Torrado em Grão; e
XIII - qualidade global da bebida: a per-
Parágrafo único. O produto será
cepção conjunta de todas características II - grupo II: Café Torrado e Moído.
desclassificado quando se constatar a
sensoriais do café percebida durante a
§ 2º De acordo com a Qualidade Global presença das substâncias de que trata o
avaliação do produto permitindo a sua
da Bebida prevista no ANEXO II, desta caput deste artigo em limites superiores
classificação;
Instrução Normativa, o Café Torrado ao máximo estabelecido na legislação
XIV - sedimentos: as partículas me- em Grão e o Café Torrado e Moído se- específica, ou, ainda, quando se cons-
tálicas decorrentes do processamento, rão classificados em PADRÃO ÚNICO. tatar a presença de substâncias não
pedras, torrões e areia; autorizadas para o produto.
§ 3º O Café Torrado em Grão e o Café
XV - substâncias nocivas à saúde: as Torrado e Moído serão enquadrados Art. 7º No caso de desclassificação
substâncias ou agentes estranhos de como FORA DE TIPO e proibida a do produto por entidade credenciada
origem biológica, química ou física sua comercialização e entrada no país para execução da classificação, a mes-
que sejam nocivos à saúde, previstos até que seja reprocessado para enqua- ma deverá emitir o correspondente
em legislação específica, não sendo dramento em tipo, quando apresentar Documento de Classificação, bem
assim consideradas aquelas cujo valor uma ou ambas das situações a seguir: como comunicar essa constatação à
Superintendência Federal de Agri-
se verifica dentro dos limites máximos
I - Qualidade Global da Bebida menor cultura, Pecuária e Abastecimento
previstos; e
que 4,0 (quatro) pontos conforme (SFA) da Unidade da Federação
XVI - umidade: o porcentual de água previsto no ANEXO II desta Instrução onde o produto se encontra estocado.
encontrado na amostra do produto, de- Normativa; § 1º Caberá à SFA da Unidade da
terminado por um método oficialmente Federação adotar as providências
II - umidade superior ao limite estabe-
reconhecido ou por aparelho que dê pertinentes quanto à destinação do
lecido no art. 8º deste Anexo;
resultado equivalente. produto desclassificado, podendo para
III - percentual de impurezas, sedimen- isso articular-se, no que couber, com
CAPÍTULO II
tos e matérias estranhas superior ao li- outros órgãos públicos.
DA CLASSIFICAÇÃO E mite estabelecido no art. 9º deste Anexo.
§ 2º No caso específico da utilização do
TOLERÂNCIAS
Art. 5º Será desclassificado, e proibida produto desclassificado para outros fins
Art. 3º A classificação do Café Torrado a sua comercialização, o Café Torrado que não seja o uso proposto, a SFA da
em Grão e do Café Torrado e Moído é em Grão e o Café Torrado e Moído que Unidade da Federação deverá estabele-
estabelecida em função dos seus requi- apresentar uma ou mais das situações cer todos os procedimentos necessários
sitos de identidade e qualidade. indicadas a seguir: ao acompanhamento do produto até

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 2 , n . 2 6 1 , p . 11 4 - 1 2 6 , m a r. / a b r. 2 0 11

IA261.indb 122 25/5/2011 10:20:23


Produção de café: opção pela qualidade 123

a sua completa descaracterização ou AVALIAÇÃO DA QUALIDADE 80 pontos são considerados especiais.


destruição, cabendo ao proprietário DE CAFÉS ESPECIAIS Os cafés especiais vêm conquistando
do produto ou ao seu preposto, além nichos próprios de mercado e são carac-
Segundo Toledo-Piza, Piagentini e
de arcar com os custos pertinentes à terizados pela marca, local de origem e
Borém (2008) a classificação do café,
operação, ser o seu depositário. conteúdo qualitativo permanente e de
realizada segundo a Instrução Normati-
CAPÍTULO III va no 8 de 11/06/2003 (BRASIL, 2003), alto padrão, semelhante ao refinamento
é validada para os cafés ofertados nas exigido pelos gourmets para queijos e
DOS REQUISITOS E
bolsas de mercadorias, como commo- vinhos. As principais empresas e as-
PROCEDIMENTOS GERAIS
sociações de comercialização de cafés
dities. Atualmente, no entanto, já existe
Art. 8º O porcentual máximo de umida- especiais têm estabelecido prêmios
uma significativa parcela do mercado
de permitido no Café Torrado em Grão como forma de incentivar a produção
para cafés especiais, onde são exigidos
e no Café Torrado e Moído será de 5,0% desses cafés.
padrões absolutos de tipo e caracterís-
(cinco por cento). A análise sensorial para cafés espe-
ticas sensoriais. A avaliação dos cafés
ciais é realizada por provadores trei-
Art. 9º O porcentual máximo em especiais, de acordo com o protocolo
nados, segundo protocolo da Specialty
conjunto de impurezas, sedimentos e de degustação de café da Specialty
Coffee Association of America (2008),
matérias estranhas permitido no Café Coffee Association of America (2008),
utilizando-se a metodologia proposta por
Torrado em Grão e no Café Torrado e determina as diferenças sensoriais entre
Lingle (2001), para avaliação sensorial
Moído será de 1,0% (um por cento). amostras, descreve os sabores e aromas
de cafés especiais. Nessa avaliação são
§ 1º Isoladamente, o porcentual má- encontrados e determina a preferência
atribuídas notas, no intervalo de 0 a 10
ximo de matérias estranhas permitido dos produtos. São pontuados objetiva-
pontos, para cada um dos atributos citados
no Café Torrado em Grão e no Café mente 11 importantes atributos do café:
anteriormente.
Torrado e Moído será de 0,1% (zero fragrância/aroma, acidez, sabor, corpo,
De acordo com esse protocolo, o café
vírgula um por cento). doçura, xícara limpa, balanço, finaliza-
deve ser submetido a um processo de
ção, uniformidade, defeitos e balanço
§ 2º A película prateada desprendida torração de leve a moderadamente leve
geral. A pontuação final é calculada pela
durante a torra do café em grão não é intensidade, cuja coloração deverá cor-
soma da pontuação dada a cada atributo.
considerada impureza. responder a 58 pontos da escala Agtron
Somente cafés com pontuação acima de
(#58), para o grão inteiro, e 63 pontos
ANEXO II (#63), para o grão moído, com tolerância
Qualidade Global da bebida em função das características sensoriais. de ± 1 ponto. A torração deverá ser rea-
Características sensoriais Nível de qualidade sensorial
lizada preferencialmente dentro do prazo
máximo de 24 horas antes da degustação
Fragrância do pó Fraca a Excelente Indesejada
e o ponto de torra deverá ser verificado
Aroma da bebida Fraco a excelente Indesejado
por equipamento M Basic Agtron. Esse
Acidez Baixa à alta Excessiva
equipamento permite a obtenção de pon-
Amargor Fraco a intenso Excessivo e desagradável
tos de torra uniformes e padronizados por
Adstringência Nenhuma a forte Excessiva
meio de leitura objetiva da cor. No caso
Sabor Regular a excelente Indesejado
de utilizar o conjunto de discos Agtron-
Sabor residual Regular a excelente Indesejado
SCAA, o ponto de torra deve situar-se
Influência dos grãos Nenhuma à média Forte interferência
entre as cores determinadas pelos discos
defeituosos interferência
# 65 e # 55.
Corpo Pouco encorpado a encorpado Muito fraco
Para obtenção do ponto de torra ideal é
Qualidade da bebida Rio zona a estritamente mole Não aplicável
fundamental a padronização das amostras
Qualidade Global da Bebida Regular a excelente Péssimo a ruim
Nota da Qualidade Global Igual ou superior a 4,0 pontos Menor de 4,0 pontos
quanto ao peso (70 a 100 g) e quanto ao
da Bebida tamanho dos grãos (peneira 16 e acima).
Tipo PADRÃO ÚNICO FORA DO TIPO
É imprescindível realizar o monitora-
*Observação: A Qualidade Global da Bebida deverá ser a qualidade resultante da percepção mento dos fatores que afetam o ponto de
conjunta das características sensoriais do produto, podendo haver desvio em características torra, como temperatura e tempo de torra.
individuais, porém sem obrigatoriamente comprometer a Qualidade Global da Bebida. Recomenda-se que a torra do café seja
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 2 , n . 2 6 1 , p . 11 4 - 1 2 6 , m a r. / a b r. 2 0 11

IA261.indb 123 25/5/2011 10:20:23


124 Produção de café: opção pela qualidade

realizada entre 8 e 12 min, sendo devida- mente, o resultado total, que é a soma Final. Os resultados finais da avaliação
mente monitorada com cronômetros, uma das avaliações de cada atributo e que sensorial serão expressos de acordo com
vez que são torradas várias amostras ao deve ser marcado no campo Resultado a escala de classificação apresentada nos
mesmo tempo. Total. O valor correspondente aos de- Quadros 5 e 6.
Preferencialmente, as amostras devem feitos é, depois, subtraído do Resultado No Quadro 7, é apresentado vocabu-
ser moídas imediatamente antes da degus- Total, obtendo-se, assim, o Resultado lário para caracterizar os cafés especiais.
tação, não mais do que 15 min antes da in-
fusão com água. Se este procedimento não
for possível, as amostras devem permane- QUADRO 4 - Escala de pontuação para análise sensorial de cafés especiais
cer cobertas hermeticamente até a adição Bom Muito Bom Excelente Excepcional
da água. O tamanho da partícula moída (6,00) (7,00) (8,00) (9,00)
deve ser semelhante à usada na extração 6,25 7,25 8,25 9,25
por coador (brewed coffee), com 70%
6,50 7,50 8,50 9,50
das partículas, passando em peneiras de
furos de 20 mesh, Padrão US Standards. 6,75 7,75 8,75 9,75
Cada uma das cinco parcelas da amostra FONTE: Specialty Coffee Association of America (2008).
deve ser moída individualmente e posta
diretamente em sua respectiva xícara.
QUADRO 5 - Escala de classificação para análise sensorial de cafés especiais
Existe uma proporção de café moído/
volume de água que deve ser seguido. A Pontuação total Descrição especial Classificação
concentração ótima é de 5,5% m/v, corres-
95-100 Exemplar Especialidade Super Premium
pondendo, por exemplo, a 8,25 g de café
moído em 150 mL de água. Determina-se 90-94 Excepcional Especialidade Premium
então o volume de água em uma xícara de 85-89 Excelente Especialidade
degustação selecionado o ajuste à quanti-
dade de café moído atendendo à propor- 80-84 Muito bom Especial

ção indicada, admitindo-se tolerância de 75-79 Bom Qualidade boa normal


± 0,25g. A água, usada para degustação,
70-74 Fraco Qualidade média
deve ser limpa e sem odor, devendo estar
aquecida a, aproximadamente, 93 ºC no 60-70 Nota Exchange
momento em que ela é despejada sobre
50-60 Comercial
o café moído. As amostras, após hidrata-
ção, devem permanecer sem perturbação 40-50 Nota baixa
por 3 a 5 min para, então, proceder à sua <40 Sem Nota
avaliação.
FONTE: Specialty Coffee Association of America (2008).
Em cada avaliação são degustadas
cinco xícaras representativas de cada café.
Os resultados da avaliação sensorial são QUADRO 6 - Resultado final da avaliação sensorial – metodologia SCAA
estabelecidos a partir de uma escala que
Pontuação total Descrição especial Classificação
representa os níveis de qualidade com in-
tervalos de 0,25 pontos, conforme a escala 90-100 Exemplar Specialty Rare
de pontuação (qualidade) apresentada no (Especial Raro)
Quadro 4.
85 – 89,99 (abaixo de 90) Excelente Specialty Origin
A faixa inferior da escala, que se situa (Especial Origin)
entre 2 e 6, é aplicável aos cafés comer-
80 – 84,99 (abaixo de 85) Muito bom Premium
ciais, cujo foco de avaliação são os defeitos
da bebida e suas intensidades.
Para a obtenção do resultado final da < 80 (abaixo de 80) Abaixo da qualidade Specialty Abaixo de Premium
avaliação sensorial, calcula-se, inicial- FONTE: Specialty Coffee Association of America (2008).

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 2 , n . 2 6 1 , p . 11 4 - 1 2 6 , m a r. / a b r. 2 0 11

IA261.indb 124 25/5/2011 10:20:23


Produção de café: opção pela qualidade 125

QUADRO 7 - Vocabulário do café utilizado para caracterizar os cafés especiais


Característica Descrição
Fragrância É a percepção olfativa do pó de café torrado e moído. A intensidade da fragrância revela o frescor da amostra

Aroma É a percepção olfativa da bebida do café. Inalando os vapores que exalam da bebida ainda quente, e, por via retronasal
durante sua degustação. Para o café de torração clara, o aroma pode lembrar o odor de nozes, amêndoas, castanhas
frescas e cereal, malte, pão torrado. Para o café de torração média clara pode lembrar o odor de caramelo, para o café de
torração média pode lembrar o odor de chocolate. Para o café de torração escura pode lembrar o odor de resina, remédio,
especiarias, queimado e cinzas.

Defeitos Odor e sabor de terra, mofo, batata crua, rançoso, borracha, tabaco queimado, madeira, azedo (vinagre), fermentado,
conferidos pelos grãos defeituosos como ardido, preto, verde e impurezas como terra, areia, paus e cascas. Café de exce-
lente qualidade é aquele isento de defeitos.

Acidez Propriedade sensorial de substâncias como ácidos clorogênico, cítrico, málico e tartárico que produzem gosto ácido.
Percebido nos lados posteriores da língua. É característico de café Arábica, particularmente de variedades cultivadas em
altitude alta. Quando é natural e desejável é chamado de ácido e, quando natural e indesejável, é chamado de azedo.

Amargor Propriedade sensorial de substâncias como cafeína, trigonelina, ácidos cafeico e quínico e outros compostos fenólicos que
produzem o gosto amargo. É percebido no fundo da língua. Este gosto no café é considerado desejável até certo ponto.
É afetado pelo grau de torração e pelo método de preparo da bebida. Quanto mais escuro, mais amargo é o café. Quanto
mais fino e, portanto, demorado o processo de extração, mais acentuado o amargor.

Sabor É a combinação das sensações de gosto doce, salgado, amargo e ácido com os aromas de chocolate ou caramelo ou cereal
torrado formando o sabor característico desejável. Quando apresenta sabores estranhos (sabor de terra, herbáceo, espe-
ciaria, queimado), é considerado indesejável.

Corpo É a sensação tátil de oleosidade e de viscosidade na boca. Encorpado significa que a bebida é forte e concentrada e não
rala, produzindo uma sensação agradável na boca.

Sabor residual É a sensação percebida após a ingestão da bebida. O sabor residual é desejável, quando deixa um sabor que lembra o
chocolate, e indesejável, quando lembra ao cigarro queimado, resina, químico, madeira ou outro sabor estranho.

Adstringência É a sensação de secura na boca deixada após a sua ingestão.

Qualidade É a percepção conjunta dos aromas da bebida e de seu grau de intensidade, sendo que quanto mais aromático, melhor a
global qualidade do café; dos sabores característicos do café; de um amargor típico, mas não o resultante da excessiva torra do
grão (ou carbonização); da presença não preponderante do gosto dos grãos defeituosos (verde-escuros, pretos, ardidos)
ou de sua inexistência, para o caso dos cafés gourmet; da inexistência do gosto característico de grãos fermentados,
podres ou preto-verdes; do equilíbrio e da harmonia da bebida, tudo se traduzindo numa sensação agradável durante e
após a degustação.
FONTE: Alta Mogiana Specialty Coffees (2010?).

CONSIDERAÇÕES FINAIS Entretanto, para que o mercado produ- ANVISA. Portaria no 377, de 26 de abril de
tor de café possa acompanhar as exigências 1999. [Aprova o Regulamento Técnico re-
A busca pela qualidade na indústria de ferente a Café Torrado em Grão e Café Tor-
do mercado consumidor, há a necessidade
alimentos vem apresentando um crescimen- rado Moído]. Diário oficial [da] República
que sejam conhecidas as normas e padrões
to constante nas últimas décadas, o que é Federativa do Brasil, Brasília, 29. abr. 1999.
que classificam o café quanto à qualidade.
fruto principalmente das mudanças nas pre- Seção 1, p.22-29.
ferências dos consumidores. Muitos destes BARTHOLO, G.F.; GUIMARÃES, P.T.G. Cui-
REFERÊNCIAS
estão dispostos a pagar por produtos que dados na colheita e preparo do café. Infor-
possuam alguns atributos desejáveis, prin- AFONSO JÚNIOR, P.C.; BORÉM, F.M.; me Agropecuário. Qualidade do Café, Belo
CORRÊA, P.C. Propriedades físicas e térmi-
cipalmente quanto à qualidade apresentada. Horizonte, v.18, n.187, p.33-42, 1997.
cas dos frutos e dos grãos do café. In: BO-
Em relação ao café, este comportamen- RÉM, F.M. (Ed.). Pós-colheita do café. La- BORÉM, F.M. Pós-colheita do café. Lavras:
to não é diferente. O constante crescimento vras: UFLA, 2008. p. 89-126. UFLA: FAEPE, 2004. 630p.
no segmento de cafés de melhor qualidade BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecu-
ALTA MOGIANA SPECIALTY COFFEES.
demonstra que os consumidores estão cada Vocabulário do café. São Paulo [2010?]. ária e Abastecimento. Instrução Normati-
vez mais exigentes quanto à qualidade do Disponível em: <http://www.amsc.com.br/ va no 8, de 11 de junho de 2003. [Aprova
café consumido. pt/voc_cafe.htm>. Acesso em: 8 abr. 2010. o Regulamento Técnico de Identidade e

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 2 , n . 2 6 1 , p . 11 4 - 1 2 6 , m a r. / a b r. 2 0 11

IA261.indb 125 25/5/2011 10:20:23


126 Produção de café: opção pela qualidade

de Qualidade para a Classificação do Café evaluation of coffee’s flavor. Washington: _______; _________; FREITAS, M.L.G. Qua-
Beneficiado Grão Cru]. Diário Oficial [da] Coffee Development Group, 2001. 71 p. lidade: conceitos, atributos, classificação
República Federativa do Brasil, Brasília, 13 oficial brasileira, métodos químicos e mé-
MAZZAFERA, P.; GUERREIRO, F. O.; CAR-
jun. 2003. Seção 1, p.22-29. todos instrumentais. In: PEREIRA, R.G.F.A.
VALHO, A. Estudo de coloração verde de
BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuá- grãos de café: determinação de flavonóides (Ed.). Qualidade do café/Cafés especiais.
ria e Abastecimento. Instrução Normativa e clorofilas. In: CONGRESSO BRASILEIRO Lavras: UFLA: FAEPE, 2004. p.5-18.
no 16, de 24 de maio de 2010. [Estabelece o DE PESQUISAS CAFEEIRAS, 11., 1984, SPECIALTY COFFEE ASSOCIATION OF
Regulamento Técnico para o Café Torrado Londrina. Resumos... Rio de Janeiro: IBC- AMERICA. Protocolo para análise sensorial
em Grão e Café Torrado e Moído]. Diário
GERCA, 1984. p.178-181. de café: metodologia SCAA. [S.l.], 2008.
Oficial [da] República Federativa do Bra-
MEDINA FILHO, H.P.; BORDIGNON, R. Disponível em: <http://coffeetraveler.
sil, Brasília, 25 maio 2010. Seção 1, p.11.
Rendimento intrínseco: critério adicional net/wp-content/files/901-S CAA_
CARVALHO, V.D. de et al. Relação entre a CuppingProtocols_TSC_DocV_RevDec08_
para selecionar cafeeiros mais rentáveis.
composição físico-química e química do Portuguese.pdf>. Acesso em: 11 ago. 2010.
O Agronômico, Campinas, v.55, n.2, 2003.
grão beneficiado e qualidade de bebida do
p.24-27. TEIXEIRA, A.A. Defeitos são eliminados
café. Pesquisa Agropecuária Brasileira,
Brasília, v.29, n.3, p.449-454, mar. 1994. MELO, M. et al. Alterações físicas, químicas com ciência. Cooparaíso Informativo, São
e organolépticas em grãos de café armaze- Sebastião do Paraíso, p. 9, 1992.
LEITE, R. A. et al. Qualidade tecnológica do
café (Coffea arabica L.) pré-processado por nados. Ciência e Cultura, São Paulo, v.32, TOLEDO-PIZA, A.N.J.; PIAGENTINI, A.; BO-
“via seca” e “via úmida” avaliada por méto- n.4, p.468-471, 1980. RÉM, F.M. Beneficiamento e rebeneficiamen-
do químico. Revista Brasileira de Engenha- PEREIRA, R.G.F.A.; MALTA, M.R. Influên- to do café. In: BORÉM, F.M. (Ed.). Pós-colhei-
ria Agrícola e Ambiental, Campina Grande, cia dos grãos defeituosos na qualidade do ta do café. Lavras: UFLA, 2008. p.545-595.
v.2, n.3, p.308-311, set./dez. 1998. café. In: PEREIRA, R.G.F.A. (Ed.). Qualida- WOOTTON, A. E. The storage of parchment
LINGLE, T. R. The coffee cupper’s hand- de do café/Cafés especiais. Lavras: UFLA: coffee. Kenya Coffee, v.35, n.4/2, p.144-147,
book: a systematic guide to the sensory FAEPE, 2004. p.40-46. May 1970.

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 2 , n . 2 6 1 , p . 11 4 - 1 2 6 , m a r. / a b r. 2 0 11

IA261.indb 126 25/5/2011 10:20:24


IA261.indb 127 25/5/2011 10:20:26
128 Produção de café: opção pela qualidade

INSTRUÇÕES AOS AUTORES


INTRODUÇÃO PRAZOS E ENTREGA DOS ARTIGOS
O Informe Agropecuário é uma publicação seriada, periódica, Os colaboradores técnicos da revista Informe Agropecuário devem
bimestral, de caráter técnico-científico e tem como objetivo principal observar os prazos estipulados formalmente para a entrega dos
difundir tecnologias geradas ou adaptadas pela EPAMIG, seus parceiros trabalhos, bem como priorizar o atendimento às dúvidas surgidas ao
e outras instituições para o desenvolvimento do agronegócio de Minas longo da produção da revista, levantadas pelo coordenador técnico,
Gerais. Trata-se de um importante veículo de orientação e informação pela Revisão e pela Normalização. A não-observância a essas normas
para todos os segmentos do agronegócio, bem como de todas as ins- trará as seguintes implicações:
tituições de pesquisa agropecuária, universidades, escolas federais e/ a) os colaboradores convidados pela Empresa terão seus trabalhos
ou estaduais de ensino agropecuário, produtores rurais, empresários excluídos da edição;
e demais interessados. É peça importante para difusão de tecnologia, b) os colaboradores da Empresa poderão ter seus trabalhos excluídos
devendo, portanto, ser organizada para atender às necessidades de ou substituídos, a critério do respectivo coordenador técnico.
informação de seu público, respeitando sua linha editorial e a priori- O coordenador técnico deverá entregar ao Departamento de
dade de divulgação de temas resultantes de projetos e programas de Publicações (DPPU) da EPAMIG os originais dos artigos em CD-ROM ou
pesquisa realizados pela EPAMIG e seus parceiros. pela Internet, já revisados tecnicamente, 120 dias antes da data prevista
A produção do Informe Agropecuário segue uma pauta e um para circular a revista. Não serão aceitos artigos entregues fora desse
cronograma previamente estabelecidos pelo Conselho de Difusão de prazo ou após o início da revisão lingüística e normalização da revista.
Tecnologia e Publicações da EPAMIG, conforme demanda do setor O prazo para divulgação de errata expira seis meses após a data
agropecuário e em atendimento às diretrizes do Governo. Cada edi- de publicação da edição.
ção versa sobre um tema específico de importância econômica para
Minas Gerais. ESTRUTURAÇÃO DOS ARTIGOS
Do ponto de vista de execução, cada edição do Informe Agropecuário Os artigos devem obedecer a seguinte seqüência:
terá um coordenador técnico, responsável pelo conteúdo da publicação, a) título: deve ser claro, conciso e indicar a idéia central, podendo
pela seleção dos autores dos artigos e pela preparação da pauta. ser acrescido de subtítulo. Devem-se evitar abreviaturas, parên-
teses e fórmulas que dificultem a sua compreensão;
APRESENTAÇÃO DOS ARTIGOS ORIGINAIS b) nome do(s) autor(es): deve constar por extenso, com nume-
ração sobrescrita para indicar, no rodapé, sua formação e títulos
Os artigos devem ser enviados em CD-ROM ou pela Internet, no
acadêmicos, profissão, instituição a que pertence e endereço.
programa Word, fonte Arial, corpo 12, espaço 1,5 linha, parágrafo
Exemplo: Engo Agro, D.Sc., Pesq. U.R. EPAMIG SM, Caixa
automático, justificado, em páginas formato A4 (21,0 x 29,7cm).
Postal 176, CEP 37200-000 Lavras-MG. Correio eletrônico:
Os quadros devem ser feitos também em Word, utilizando apenas
ctsm@epamig.br;
o recurso de tabulação. Não se deve utilizar a tecla Enter para forma-
c) resumo: deve constituir-se em um texto conciso (de 100 a 250
tar o quadro, bem como valer-se de “toques” para alinhar elementos
palavras), com dados relevantes sobre a metodologia, resulta-
gráficos de um quadro.
dos principais e conclusões;
Os gráficos devem ser feitos em Excel e ter, no máximo, 15,5 cm
d) palavras-chave: devem constar logo após o resumo. Não
de largura (em página A4). Para tanto, pode-se usar, no mínimo, corpo
devem ser utilizadas palavras já contidas no título;
5 para composição dos dados, títulos e legendas.
e) texto: deve ser dividido basicamente em: Introdução, Desenvol-
As fotografias a serem aplicadas nas publicações devem ser re-
vimento e Considerações finais. A Introdução deve ser breve e
centes, de boa qualidade e conter autoria. Podem ser enviadas em
enfocar o objetivo do artigo;
papel fotográfico (9 x 12 cm ou maior), cromo (slide) ou digitalizadas.
f) agradecimento: elemento opcional;
As foto-grafias digitalizadas devem ter resolução mínima de 300 DPIs
no formato mínimo de 15 x 10 cm e ser enviadas em CD-ROM ou g) referências: devem ser padronizadas de acordo com o
“Manual para Publicação de Artigos, Resumos Expandidos e
ZIP disk, prefe-rencialmente em arquivos de extensão TIFF ou JPG.
Circulares Técnicas” da EPAMIG, que apresenta adaptação das
Não serão aceitas fotografias já escaneadas, incluídas no texto, em
normas da ABNT.
Word. Enviar os arquivos digitalizados, separadamente, nas extensões
já mencionadas (TIFF ou JPG, com resolução de 300DPIs). Com relação às citações de autores e ilustrações dentro do texto,
Os desenhos devem ser feitos em nanquim, em papel vegetal, ou também deve ser consultado o Manual para Publicações da EPAMIG.
em computador no Corel Draw. Neste último caso, enviar em CD-ROM NOTA: Estas instruções, na íntegra, encontram-se no “Manual para
ou pela Internet. Os arquivos devem ter as seguintes extensões: TIFF, Publicação de Artigos , Resumos Expandidos e Circulares Téc-
EPS, CDR ou JPG. Os desenhos não devem ser copiados ou tirados de nicas” da EPAMIG. Para consultá-lo, acessar: www.epamig.br,
Home Page, pois a resolução para impressão é baixa. entrando em Publicações ou Biblioteca/Normalização.

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 2 , n . 2 6 1 , m a r. / a b r. 2 0 11

IA261.indb 128 25/5/2011 10:20:26


capa-IA-261.indd 2 27/5/2011 11:09:32
capa-IA-261.indd 1
ISSN 01003364 R$ 15,00

9 770 100 33 6002 00261

27/5/2011 11:09:29

Das könnte Ihnen auch gefallen