As nações latino americanas são produtos da expansão da civilização ocidental que
organizou e sistematizou um sistema colonial. Teve seu início com a conquista ibérica e se complexificou após os processos de independência. Isso é fruto da expansão do capitalismo e da incapacidade da América Latina de impedir essa dependência política, econômica e cultural em relação aos países capitalistas que exercem a hegemonia sobre ela. Essa hegemonia foi desenvolvendo de acordo com o processo de mudança de natureza do capitalismo ocorrido na Europa e nos EUA. Por outro lado, a América Latina se caracteriza por uma organização social em que as elites sempre concentraram as riquezas e o prestígio social e instalaram a política do poder com a exclusão permanente do povo. Os interesses dessas camadas eram tratados como “interesses da nação” subservientes aos das nações hegemônicas, baseada em patamares econômicos e tradicionais da herança colonial. Dois grandes problemas da América Latina: a) a nova forma de imperialismo e difusão sob a hegemonia dos EUA; b) como enfrentar o imperialismo na época das grandes empresas corporativas e da dominação norte americana com as dificuldades econômicas, políticas e socioculturais que apresentam a América Latina.
Fases e formas da dominação externa
Este sistema básico de colonização e dominação externa vivenciada pelas nações latino americanas durante três séculos tem base econômica, política e cultural do “antigo sistema colonial”. Os colonizadores e as Coroas de Portugal e Espanha tinham identidade de interesses o que permitiu o endosso dos interesses de ambos agindo em benefício dos mesmos. De forma que fossem institucionalmente endossados, preservados, incrementados e reforçados com a transplantação dos padrões ibéricos de estrutura social, com uma combinação de estamentos e castas (escravidão de nativos e africanos ou mestiços). Uma sociedade colonial em que apenas os colonizadores participavam da estrutura de poder e transmitiam-no através da linhagem européia. A flexibilidade existente era resultado de uma estratificação favorecendo a absorção e o controle da massa de nativos, africanos e mestiços mantidos fora das estruturas estamentais, como extratos dependentes. Isso permitiu que a dominação colonial adquirisse o caráter de exploração ilimitada para o benefício da Coroa e dos colonizadores. Crise desse tipo de dominação por causa de fatores estruturais e históricos: Ponto de vista sociológico 3 fatores: 1) Padrão de exploração colonial inerente ao sistema político e legal de dominação externa: Portugal e Espanha não tinham recursos suficientes para financiar as atividades mercantis relacionadas com a descoberta e o crescimento das colônias. Veneza e Holanda (com outros países europeus) forneceram o capital, a tecnologia, o equipamento e a base comercial do mercado internacional tendo como centro do capitalismo mercantil as potências centrais. Espanha e Portugal desempenharam papéis econômicos intermediários e o padrão de exploração colonial tornou-se mais duro para os agentes privilegiados nas colônias latino-americanas. Os movimentos de emancipação iniciaram-se como uma oposição radical a esse padrão de exploração, contra as coroas através da independências. Assim os agentes previlegiados da economia colonial poderiam atingir os requisitos legais e políticos de sua autonomia econômica (mantidas as demais condições do sistema de produção colonial). 2) A influência decisiva na luta pelo controle econômico das colônias latino-americanas na Europa, especialmente entre a Holanda, a França e a Inglaterra. As mudanças nas estruturas políticas, econômicas e culturais da Europa, ao término do século XVIII e no início do século XIX contribuíram para a rápida desagregação das potências centrais e intermediárias, que detinham o controle externo do antigo sistema colonial. 3) Considerar alguns setores da população das colônias, vitimados pela rigidez da ordem social e interessados na destruição do antigo sistema colonial. Eram heterogêneos, de descendência mista, habitantes das cidades e vilas, interessados na nativização, principalmente no nível econômico e político. Desses setores saiu a massa que deu apoio aos movimentos de emancipação, em todos os países da América Latina. O segundo tipo de dominação externa surgiu com a desagregação do antigo sistema colonial. Os que conquistaram o controle dos negócios de exportação e importação na América Latina, principalmente a Inglaterra, estava interessada mais no comércio que na produção local. A produção voltada para exportação já estava organizada. A ausência de produtos de alto valor econômico e a existência de um mercado consumidor relativamente amplo tornaram mais atraente o controle de posições estratégicas nas esferas comerciais e financeiras – esse controle de mercado dos processos econômicos pode ser chamado de neocolonialismo. A Inglaterra iniciou uma política comercial que levou a um rápido impulso à emergência dos mercados capitalistas modernos nos centros urbanos das ex-colônias. A dominação externa tornou-se muito indireta. Houve expansão das agências comerciais e bancárias na região que exigia pequeno número de pessoal qualificado. A monopolização dos mercados latino-americanos foi mais por acaso do que por imposição, já que as ex-colônias não possuíam os recursos necessários para produzir os bens importados e os setores sociais dominantes tinham interesse de continuar exportando. Os produtores de bens primários podiam absorver a parte que lhes era tirado com o antigo sistema de exploração colonial e poderiam impulsionar a internalização de um mercado capitalista moderno. A dominação externa era concreta e permanente, de caráter econômico, agravada com a manutenção do status quo ante da economia com o apoio e cumplicidade das classes exportadoras (os produtores rurais) e os comerciantes urbanos. O esforço necessário para alterar toda a infraestrutura parecia tão difícil e caro que esses setores sociais e suas elites no poder preferiram escolher um papel econômico secundário e dependente aceitando como vantajosa a perpetuação das estruturas econômicas construídas sob o antigo sistema colonial. O terceiro tipo de dominação é consequência da reorganização da economia mundial provocada pela revolução industrial na Europa com o neocolonialismo cumprindo importante papel de dinamização da revolução industrial e acumulação de capital nos países europeus, especialmente na Inglaterra que originou diversos mercados nacionais em crescimento, reservas vitais para o desenvolvimento do capitalismo industrial provocando novas formas de articulação das economias periféricas da América Latina na direção do dinamismos das economias capitalistas centrais. As influências externas atingiram todas as esferas da economia, da sociedade e da cultura não apenas através de mecanismo indiretos do mercado mundial mas também através de incorporação maciça e direta de algumas fases dos processos básicos de crescimento econômico e desenvolvimento sociocultural. Assim a dominação externa tornou-se imperialista, e o capitalismo dependente surgiu como uma realidade histórica na América Latina. As economias dependentes foram transformadas em mercadorias negociáveis a distância, sob condições seguras e ultra lucrativas. Esse tipo de imperialismo aparece em dois níveis: a) as forças externas que condicionam e reforçam as estruturas econômicas arcaicas necessárias à preservação do esquema de exportação - importação baseado na produção de matérias-primas de bens primários. b)transferência do excedente econômico das economias satélites para os países hegemônicos – o que permitiu a “idade de ouro” do imperialismo europeu e encerrou o circuito iniciado pelo antigo colonialismo e expandido pelo neocolonialismo. O quarto padrão de dominação externa surgiu com a expansão das grandes empresas corporativas nos países latino-americanos - nas esferas comerciais, de serviços, financeiras mas, a maioria nas indústrias leves e pesadas. Trouxeram novo estilo de organização, de produção e marketing com novos padrões de planejamento, propaganda de massa, concorrência e controle interno das economias dependentes pelos interesses externos. Representam o capitalismo corporativo ou monopolista com a liderança dos mecanismos financeiros, por associação com sócios locais, por corrupção, pressão ou outros meios ocupadas anteriormente pelas empresas nativas com seus profissionais. Três pontos: a) Envolve o controle externo como o antigo sistema colonial nas condições de um moderno mercado capitalista e da dominação externa compartilhada por diferentes nações: EUA, outros países europeus e o Japão como parceiros menores mas dotados de poderes hegemônicos - um imperialismo total em contraste com um imperialismo restrito. O imperialismo total organiza a dominação externa a partir de dentro em todos os níveis da ordem social (controle da natalidade, a comunicação de massa, a educação, a transplantação maciça de tecnologia ou de instituições sociais, a modernização da infra e da superestrutura, os expedientes financeiros ou do capital, o eixo vital da política nacional). b) Esse tipo de imperialismo demonstra os países latino-americanos ressentem-se da falta de requisitos básicos para o rápido crescimento econômico, cultural e social em bases autônomas. Pois, a implementação de mudanças é feita por estrangeiros com transplantação maciça de tecnologia e de instituições, suprimento externo de capital e de controle financeiro. c) É uma prova de que uma economia satélite ou dependente não possui as condições estruturais e dinâmicas para sobrepujar nacionalmente pelos esforços de sua burguesia (classe alta e média), o subdesenvolvimento e suas consequências. Como ocorre com os interesses privados externos, os internos estão empenhados na exploração do subdesenvolvimento, a partir de valores extremamente egoístas e particularistas. A expansão iniciava-se com um processo impulsionado pelos interesses de fora e a ilusão de uma revolução industrial liderada pela burguesia nacional foi destruída, juntamente com os papéis econômicos, culturais e políticos estratégicos das elites no poder latino-americanas. Uma nova imagem do capitalismo da burguesia nacional e da interdependência internacional das economias capitalistas está sendo reconstruída – ideologia da e utopia burguesa dependente.
Os países que adquiriram condições para absorver os dois tipos de imperialismosomente
atingiram foram as que tiveram um crescimento interno e tinham estruturas de poder nacionais eficientes utilizados pela burguesia daqueles países para abarganharem na economia mundial e na organização internacional do poder. A dominação externa produz uma especialização geral das nações como fontes de excedente econômico e de acumulação de capital para as nações capitalistas avançadas. As diferentes transições da economia sempre produzem três realidades: 1) concentração de renda, do prestígio social e do poder nos estratos sociais de importância estratégica para o núcleo hegemônico de dominação externa; 2) A coexistência de estruturas econômicas, socioculturais e políticas em diferentes “épocas históricas”, mas interdepentes e igualmente necessárias para a articulação e a expansão de toda a economia como uma base para a exploração externa e para a concentração interna de renda, do prestígio social e do poder (implica a existência permanente de uma exploração pré-capitalista ou extracapitalista – colonialismo interno). 3) Exclusão de uma ampla parcela da população nacional da ordem econômica, social e política existente, como um requisito estrutural e dinâmico da estabilidade e do crescimento de todo o sistema. O desafio latino-americano não é como produzir riqueza, mas como retê-la e distribuí-la, para criar pelo menos uma verdadeira economia capitalista moderna.
O novo imperialismo e a hegemonia dos Estados Unidos
A nova forma de imperialismo não é apenas um produto de fatores econômicos. Tem
como centro a grande empresa corporativa, o capitalismo monopolista. Por isso, as mudanças da organização das funções e do poder financeiro das empresas capitalistas foram produzidas por mudanças nos padrões de consumo e de propaganda de massa, na estrutura de renda, uma revolução na tecnologia e nos padrões burocráticos de administração e pelos efeitos múltiplos e cumulativos de concentração financeira do capital na internacionalização do mercado capitalista mundial. Mas a influência política foi decisiva: a existência de uma economia socialista bem sucedida e expansiva de padrões equivalentes levou as nações capitalistas da Europa, América e Ásia para uma defesa agressiva do capital privado, principalmente após a 2ª Guerra Mundial. Enquanto o antigo imperialismo significava a concorrência nacional entre economias capitalistas avançadas, o imperialismo moderno representa uma luta violenta pela sobrevivência e pela supremacia do capitalismo em si mesmo. A expansão da empresa corporativa, a hiperinfluência das finanças internacionais e a hegemonia dos Estados Unidos foram recebidas como um preço razoável pelas burguesias dos países capitalistas avançados. Algumas tensões e rupturas permaneceram mas são manipuladas em condições seguras para a defesa e o fortalecimento dos “interesses privados”, o capitalismo. O novo padrão de capitalismo é destrutivo para o desenvolvimento dos países latino- americanos. Estes não possuindo condições para o crescimento autossustentado para a integração nacional da economia e para uma rápida industrialização, os países capitalistas da América Latina tentaram um modelo europeu de revolução burguesa – enqto o fluxo de capital externo e de controle financeiro chegava através da concorrência multinacional regulada pelo mercado mundial algumas medidas protecionistas diretas ou indiretas podiam ser tomadas e reforçadas. Durante os períodos em que as influências capitalistas decresceram, encontraram oportunidades para a expansão interna (durante a 1ª Guerra, A Grande Depressão e a 2ª Guerra). Consistia na absorção de meios para a produção de produtos importados e a na seleção estratégica de importação de bens e serviços. Em alguns países, os estados foram capazes de construir e desenvolver indústrias básica, através de empresas públicas ou semipúblicas, como uma base para a diferenciação da produção industrial, a aceleração autônoma do crescimento econômico e a integração nacional da economia. A erupção do moderno imperialismo iniciou-se suavemente, através de empresas corporativas norte-americanas ou europeias, que pareciam corresponder aos padrões ou às aspirações de crescimento nacional autossustentado, conscientemente almejado pelas burguesias latino-americanas e suas elites no poder ou pelo governo. Sob a égide do desenvolvimentismo receberam apoio econômico e político irracional. Assim que as corporações se tornaram um pólo econômico ativo das economias latino-americanas. As empresas anteriores montadas para um mercado competitivo restrito foram absorvidas ou destruídas e as estruturas econômicas existentes foram adaptadas às dimensões e às funções das empresas corporativas, as bases para o crescimento econômico autônomo e a integração nacional da economia, conquistadas tão arduamente, foram postas a serviço dessas empresas e dos seus poderosos interesses privados. Apesar de outras nações, especialmente as européias (alemanha, França e Inglaterra) e o Japão tomarem parte nesse processo lucrativo de recolonialismo, os Estados Unidos desempenharam um papel pioneiro e dominante. Este é um caso a parte devido o caráter e às consequências de sua expansão econômica na América Latina. A hegemonia dos EUA pode ser contrabalanceada nas nações capitalistas avançadas por possuírem recursos materiais e humanos para resistir às implicações negativas da empresa corporativa norte-americana e para limitar e estabelecer controles seletivos da consequências culturais ou políticas resultantes da supremacia econômica dos EUA. Além dos países latino-americanos não carecerem desse recurso humano e material, suas burguesias nacionais e suas elites no poder não estão submetidas a ao controle público e a pressões democráticas. O processo de modernização parece uma rendição total e incondicional, propagando-se por todos os níveis da economia, da segurança e das políticas nacionais, da educação e da cultura, da comunicação em massa e da opinião pública, e das aspirações ideais com relação ao futuro e ao estilo de vida desejável. Alguns setores movidos por sentimentos políticos, intelectuais ou religiosos, opuseram-se a essa forma de recolonialismo.As elites econômicas, políticas e culturais são a favor desse projeto como a única alternativa para enfrentar a subversão, lutar contra a corrupção e evitar o comunismo. Os EUA são hegemônicos entre as nações latino-americanas pela concepção norte- americana de segurança, de fronteira econômica e de ação conjunta contra mudanças radicais ou revolucionárias nos países vizinhos. Isso implica na incorporação desses países ao espaço econômico e socio-cultural dos EUA por meios institucionais. É procupante a deterioriazação dos termos de troca ou com os padrões ultraexpoliativos inerentes às modernas tendências de dominação econômica externa. Na verdade as economias, as sociedades e as culturas latino- americanas estão sendo reconstruídas de acordo com interesses e valores políticos que adquirem uma natureza pervertida nas condições locais. O que está em jogo são os requisitos políticos de uma incorporação dependente mas eficaz desses países ao espaço econômico e sociocultural dos EUA. Ao considerar os problemas criados para a América Latina pela imposição dos padrões de dominação dos EUA, é paradoxal o discurso norte-americano da “liberdade e democracia”, para assegurarem os interesses privados de suas empresas corporativas ou que supõem ser a segurança de sua nação – não há compatibilidade entre a crença na democracia e o respeito pelos direitos humanos básicos e as consequências da política hegemônica dos EUA na AL, exercendo uma posição de força que exclui. Essa política, ou ausência de política, está introduzindo, de forma crescente , mudanças tecnológicas inúteis, contribuindo para o crescimento da pobreza, intensificando a expropriação ou a devastação de recursos econômicos escassos, a revitalização de estruturas de poder ou privilégios arcaicos antissociais como as ditaduras militares e os regimes autoritários.