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As Estruturas e As Formas da Igreja Primitiva

Brian Kibuuka
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A palavra grega para "ministério" é diakoni,a e é significativo para esta pesquisa


o fato de que este termo estava em uso no período do Novo Testamento, designando os
trabalhadores da igreja e o trabalho destes. Significa no grego clássico “servir à mesa”,
sendo um termo citado neste sentido pelos principais autores clássicos como Diodoro
Sículo, Atenágoras, Aristófanes, Plutarco e Platão.1 É usado também no sentido geral de
servir, sendo designativo de todos os serviços, sejam privados ou públicos.2
Nas Escrituras do Novo Testamento, o termo assume um sentido mais específico
de ministério. O apóstolo Paulo afirma, no tocante ao ministério, que este é designativo
de várias funções que são executadas por indivíduos na igreja primitiva (1Cor. 12:4-30).
Estas funções são distintas, chamadas por Paulo de "diversidade de ministérios". Paulo
afirma que ele e os outros cristãos são "ministros" da nova aliança, ou de Cristo, ou de
Deus, ou da igreja, ou do evangelho, ou simplesmente chama de "ministros". O trabalho
destes, conforme Paulo, é o chamado "ministério de reconciliação.” ·
A carta aos Efésios resume a significação de "apóstolos", "profetas",
"evangelistas", "pastores e mestres" numa mesma expressão: "para o trabalho do
ministério". Em Atos, o próprio apostolado é chamado de diakoni,a (Atos 1:17; cf. Ef
4;11-12). A palavra, em grego ou português, significa "simples serviço" e representa
originalmente uma série de atividades eclesiásticas particulares realizadas no escritório
do diácono, sendo o termo original posto num senso mais inclusivo. Todo o ministério
cristão gravita em torno da tarefa, do serviço, e não meramente de títulos, conforme
afirma Julian Charles:
“O que importava não era o titulo, mas a tarefa — supervisão e serviço. Quando Jesus
lavou os pés dos discípulos, mostrou que a liderança cristã era um papel de servo, não de
chefe. O serviço significa ficar sensível às necessidades das pessoas.”3

Por isto Timóteo é ordenado para orientar os "ministros" (servos) e cumprir o


próprio "ministério", sendo este o auxílio para a boa ação ministerial dos outros. As
Epístolas Pastorais descrevem as qualificações dos "diáconos" e aludem aos serviços
realizados por de Paulo (cf. Cf. 1 Tim. 1:12, 3:8, 12, 4:6; o 2 Tim. 4:5).
O critério, portanto, do ministério, seja ele pastoral, presbiterial ou diaconal, está
ligado à recomendação de Jesus: “Mas entre vós não será assim; antes, qualquer que
entre vós quiser tornar-se grande, será esse o que vos sirva; e qualquer que entre vós
quiser ser o primeiro, será servo de todos” (Mc 10:43-44).
O uso antigo do termo dia,konoj tinha semanticamente a designação de “garçom".
Por isto, teoriza-se que as origens do ministério cristão estão nas exigências da refeição

1
BEYER, Hermann Wolfgang, Servir, Serviço, Diácono (In.: BAUER, JOHANNES B., Dicionário
Bíblico-Teológico), p. 273.
2
Idem, p 274.
3
CHARLEY, Julian. Governando a Igreja (In.: Robin Kelley (org.), Fundamentos da Teologia Cristã), p.
274.

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comum.4 Os "diáconos" eram os garçons. Esta é uma de muitas possíveis teorias sobre os
começos das ordens do ministério. Porém um elemento fundamental perpassa todas as
teorias sobre qual era realisticamente passada a idéia de serviço na igreja primitiva: os
humildes e os modestos foram seus primeiros ministros.
O trabalhador cristão também é descrito frequentemente no Novo Testamento
como um "escravo" (dou/loj, cf. Rm 1:1; Gl 1:10; Cl 4:12; Tito 1:1; Tg 1:1; 2 Pe 1:1; 2 Pe
1:1; Jd 1:1; Ap 1:1). Paulo e outros podem se chamar os "escravos" de Cristo. Mas a
ênfase deste termo está principalmente em um estado ou relação: o escravo é a
propriedade do seu senhor, pertencendo totalmente a este. Considerando que o termo não
denota um estado principalmente (embora isto possa ser insinuado), mas uma função, a
função de serviço útil, o ministro (diákonos) é útil a Cristo, enquanto ajudando no
cumprimento dos propósitos de Deus no mundo.5
Neste raciocínio, o conceito neotestamentário de ministério cristão é que os
ministros da igreja são úteis para esta, se agem no serviço dos seus membros e contribuem
para o crescimento e funcionamento efetivo da comunidade eclesial. O ministro do
evangelho é útil à comunidade, se faz conhecidas as boas novas de Deus através de Cristo.
O evangelho, desta forma, é instrumento para alcançar esses para quem foi dirigido,
culminando em verdadeiros frutos.
O termo “ministério” é vítima de diversas interpretações e mudanças semânticas
no decorrer da história, porém é fundamental compreender este conceito na perspectiva
das comunidades cristãs primitivas, pois nestas o termo "ministério" serve não só para
designar o número dos líderes da igreja, mas também designar o verdadeiro significado
da liderança Cristã.6 O caráter essencial qualifica e une todos os verdadeiros líderes da
igreja é o fato de serem “ministros”. O que une os cristãos e estes com Cristo é o fato de
que, uma vez servidos pela graça e misericórdia divinas, esse auxilia aqueles que
necessitam de apoio em resposta à graça misericordiosa de Deus (cf. Mc 10:45).
É fundamental nesta pesquisa dar conta da organização do ministério na igreja
primitiva e das várias funções que este executou.7 Para isto, é importante começar
necessariamente com o reconhecimento das dificuldades que atacaram o empreendimento
dos cristãos nos primórdios. Estas dificuldades são tão sérias que um quadro claro do
ministério nos períodos mais primitivos está além do alcance desta pesquisa. Isto é em
parte devido à limitação das fontes disponíveis, estas se resumindo principal e quase que
unicamente no Novo Testamento. Porém o Novo Testamento apresenta traços suficientes
para o reconhecimento dos ofícios, como afirma Hermann Bavinck:
“O testemunho dos ofícios vive nos livros, nos Evangelhos e nas epístolas do Novo Testamento e
também em toda a Igreja até os nossos dias. Em razão desse testemunho a Igreja, em todos os
tempos, foi capaz de perseverar na doutrina dos apóstolos, no partir do pão, na comunhão e nas
orações (At 2.42). A palavra dos apóstolos, primeiramente falada e posteriormente escrita, não
apenas sustenta e garante a unidade da Igreja, mas também se espalhou por todo o mundo em todas
as épocas”.8

4
BAUER, Walter. A Greek Lexicon Of The New Testament and Other Early Christian Literature, p. 135.
5
BIÉLER, André. A Força Oculta dos Protestantes, p. 233.
6
KELLEY, Robin. Fundamentos da Teologia Cristã, p. 273.
7
BERKHOF, Louis, Teologia Sistemática, p. 589.
8
BAVINCK, Hermann, Teologia Sistemática, p. 587.

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Diz-se aqui que a "igreja primitiva" é aquela situada entre o primeiro século e o
primeiro quarto, no máximo o segundo, do segundo século.9 O Novo Testamento e alguns
dos Pais Apostólicos são as fontes, e nenhum destes documentos busca partir de modo
sistemático para a descrição da constituição da igreja ou dos métodos de seu trabalho.
Além dos textos supracitados, os manuais de ordem da igreja têm algo
indubitavelmente que nos falar sobre práticas cristãs mais antigas, ainda que não lancem
luz forte ou fixa nas sombras da Idade Apostólica.10 Sobre esta realidade, James F. White
afirma que “em nenhum outro ponto a constância do culto cristão tem sido tão evidente
como nos ofícios pastorais".11· Qualquer reconstrução do ministério da igreja primitiva,
assim como realmente de qualquer outra fase de sua vida externa, tem como percalço à
literatura muito escassa. Os documentos do Novo Testamento realmente são ricos em
indicações da natureza concreta, a qualidade e o "tato" da própria vida Cristã primitiva.
Mas são, na maior parte, relatos silenciosos das formas de organização e procedimento
que prevaleceram na igreja cristã. A resposta que explica este silêncio é que os escritores
não consideraram as descrições históricas fundamentais nos seus escritos.12
O problema é mais adiante complicado pelo fato de que até mesmo onde um
escritor fala diretamente sobre o ministério, o leitor geralmente não está freqüentemente
seguro da parte da igreja que ele fala ou do período que ele representa. Porém, o que Paulo
afirma em 1 Cor 12 é indubitavelmente um testemunho dos serviços e ministérios da
igreja primitiva. Este quadro é representativo, já que a expressão "e a uns pôs Deus na
igreja" pelo menos sugere que o mesmo quadro geral se aplica a outras comunidades
Paulinas. A questão a ser esclarecida é até que ponto isto se aplica ao resto da igreja
primitiva.
O livro de Atos, os Evangelhos, as Epístolas Gerais, o Didaché e outras fontes
fazem considerações cronológicas e geográficas que devem entrar na análise sobre a
ordem da igreja nos seus primórdios, principalmente sobre o presbiterato (Cf. At 11:30;
14:23; 15:2,4,6,22,23; 16:4; 20:17; 21:18; 1 Tm 5:17; Tito 1:5; Tg 5:14; 1 Pe 5:1). Por
exemplo, o livro de Atos, porque foi escrito no primeiro século ou no início do segundo,
tem muito a falar sobre o Cristianismo daquele período; mas o fato de estar
indubitavelmente baseado em muitas fontes mais antigas também favorece o
conhecimento sobre as práticas e crenças da igreja mais primitiva.13 A igreja do Novo
Testamento passou por um desenvolvimento rápido, mas também as linhas ou direções
deste desenvolvimento não eram as mesmas em toda parte da igreja; e até mesmo onde o
padrão geral era idêntico, o crescimento não estava procedendo em todos lugares à mesma
taxa. Por isto, deve ser considerado que diferenças organizacionais sempre existiram na
igreja primitiva; e estas, em última análise, não contêm fontes que esgotem a exposição
das características específicas de cada comunidade.
O fato é que as considerações cronológicas e geográficas são envolvidas em quase
todos os pontos no estudo da configuração ministerial, o que culmina num problema
metodológico. Neste estudo, por isto, serão mencionadas, quando as fontes permitirem,
áreas geográficas ou períodos cronológicos, mas com a vantagem e/ou perigo constante
de generalização. Por isto, a abordagem mais constante será a generalizante. Estas

9
HOONAERT, Eduardo. A Memória do Povo Cristão, p. 69.
10
WHITE, James F.. Introdução ao Culto Cristão, p. 8.
11
WHITE, James F.. Introdução ao Culto Cristão, p. 10.
12
BECK, Eleonore. O Filho de Deus Veio ao Mundo, p. 47.
13
SAOÛT, Yves. Atos dos Apóstolos, p. 261.

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generalizações, segundo Kurt Schubert, são “fundamentais para realizar alguma
pesquisa, e sem elas a teologia bíblica não sobreviveria.”14
É preciso distinguir entre o que se pode conhecer aproximadamente em uma
igreja, e isto conduz ao perfilhamento de características gerais que possibilitam traçar o
desenvolvimento das comunidades. O ponto de partida, que concede alguma garantia, é
que os apóstolos eram os líderes espirituais da igreja primitiva.
Para a compreensão do ofício do presbítero, é necessário recorrer à caracterização
da ação apostolar, já que esta fornecerá muitos elementos aglutinados nas práticas
presbiteriais após o desaparecimento dos apóstolos.

O Conceito e as Origens Bíblicas do Apostolado


O termo apostolo é designativo de “apostellô” (Sófocles em diante), um composto
de stellô "colocar", "aprontar", e a prep. apo, "de", "para longe", "para trás" significa
"enviar" (tanto pessoas como coisas)”.15 Os apóstolos foram os primeiros servos da igreja:
"primeiros" no sentido de que eram os mais antigos e os que detinham maior
responsabilidade. Por isto, os apóstolos detêm lugar de maior honra. Esta é obviamente a
visão do autor de Lucas-Atos.16 Além disto, declarações dos Evangelhos e de Paulo, as
fontes mais antigas, sustentam com maior segurança o conceito referente à importância
dos apóstolos.
Ser "apóstolo", na concepção neotestamentária geral, significa que o ministro foi
chamado ao trabalho pelo próprio Jesus Cristo (ou durante a carreira humana ou
imediatamente depois da ressurreição), e era inevitável que tais pessoas ocupassem cargos
de responsabilidade maior e de autoridade entre as igrejas primitivas.17
É preciso esclarecer o significado do termo “apóstolo". A palavra significa
"enviado, normalmente como um embaixador, o mensageiro autorizado, de um indivíduo
ou grupo”. Assim era este termo utilizado entre judeus e gregos. O termo, portanto, tem
o significado básico de "missionário" e se aplica à maioria, se não a todos os evangelistas
ambulantes da igreja nos primórdios. Este é o significado encontrado no Didaché, uma
vez em Atos, e várias vezes em Paulo (Cf. Didaché 11:3-6; At. 14:4,14; 2 Cor. 8:23; em
Fl. 2:25; e, possivelmente, em 1 Ts. 2:6 e Rom. 16:7).
A conceituação mais comum do termo apóstolo é aquela cujo uso é mais restrito,
para designar pessoas que se levantam para cultivar na Igreja uma relação sem igual ao
evento-Cristo original na Palestina, conduzindo a Igreja para o desenvolvimento
posterior. Mas a evidência para esta visão, segundo C. H. Dodd, “não é convincente”.18
É verdade que Atos, um dos livros posteriores, ordinariamente usa a palavra no sentido
acima descrito; mas este mesmo documento emprega o termo com outros significados.
Por outro lado, o Didaché, que adota o sentido mais abrangente, usa o termo "apóstolo"
para mencionar a condição de "profeta", porém o documento pode ser considerado
escassamente um documento primitivo. O uso do termo por Paulo é, neste respeito, muito
semelhante ao uso posterior de Lucas. Ambos empregam o termo ocasionalmente no

14
SCHUBERT, Kurt, Lexicon für Theologie und Kirche, p. 245 (trad. Brian Gordon Lutalo Kibuuka).
15
BAUER, Walter, A Greek Lexicon Of The New Testament and Other Early Christian Literature, p. 235.
16
O termo apostolo e derivados surgem 35 vezes no Evangelho de Lucas e em Atos.
17
VON EICKEN, E. & LINDNER, H. Apóstolo In.: COENEN, Lothar & BROWN, Colin, Dicionário
Internacional de Teologia do Novo Testamento. (...), p. 156.
18
DODD, C. H., O Fundador do Cristianismo, p. 130.

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sentido mais abrangente de “mensageiro”; mas regularmente o termo designa uma
posição exaltada e particular, especialmente em Lucas.19
Paulo é a testemunha mais antiga que relata as características da igreja primitiva.
Nos seus escritos, este não apenas afirma a autoridade apostólica, como também defende
seu próprio apostolado. Nesta defesa é que pode ser extraída uma conceituação mais exata
de apostolado.
O apóstolo Paulo afirma a primazia do apostolado diante de outros ministérios,
especificamente entre os ministros da Igreja local. Em 1 Cor. 12:28, afirma: "a uns pôs
Deus na igreja, primeiramente apóstolos". Este conceito é compartilhado com outros
textos que serão apresentados a seguir.
Quanto a Lucas, este identifica doze apóstolos, ou talvez com os doze, num
sentido mais geral Tiago, o irmão de Jesus. Paulo só é mencionado apóstolo uma vez.
Lucas recorre aos doze constantemente, e é bastante improvável dizer que ele pensou em
Pedro, nos outros onze e que Tiago esteja no grupo mais restrito. Mas para Paulo, o grupo
apostólico estava definido e fechado. Em uma palavra, pode ter havido diferenças de
opinião entre os cristãos sobre quais eram verdadeiros apóstolos. Mas há muitas
indicações que, desde o início, o termo designou uma classe especial e restrita: as
testemunhas oculares do próprio evento Cristo e os comissionados como os embaixadores
dele num sentido específico.
Se não é possível saber quantos apóstolos havia, é possível falar certamente com
alguma segurança as áreas em que eles serviram. Alguns séculos depois da vida destes, é
possível encontrar resquícios de uma divisão primitiva do mundo entre os apóstolos. Por
isto, segundo Eduardo Hoornaert,
“As comunidades do primeiro século eram principalmente presbiteriais, isto é, o acento
caía na valorização da memória dos apóstolos e dos velhos que tiveram contato com os
apóstolos, segundo a tradição rabínica”.20

A tradição cristã indica que Tomé vai para Índia ou para o território dos Partos e
os outros doze para outros distritos, mas tais histórias são tardias e obviamente lendárias.
Porém é notável que um documento mais primitivo que a maioria das fontes autênticas,
a carta aos Gálatas, traga o testemunho da divisão de responsabilidades entre os apóstolos.
Paulo fala dos líderes da igreja em Jerusalém (os "pilares") da seguinte forma: “(...) e
quando conheceram a graça que me fora dada, Tiago, Cefas e João, que pareciam ser as
colunas, deram a mim e a Barnabé as destras de comunhão, para que nós fôssemos aos
gentios, e eles à circuncisão” (Gl 2:9).
O relato dá conta dos apóstolos comissionando Paulo e Barnabé, que estava
associado dele, e o oferecimento da “destra de comunhão”: Paulo e Barnabé foram
acolhidos como iguais. Afirma ainda que ele (com Barnabé) tinha um destino específico
(os gentios), e os outros apóstolos também (a circuncisão). Ainda que os detalhes para a
interpretação desta passagem sejam obscuros, é dito explicitamente no verso 7 que Paulo
e Pedro em um sentido bastante especial, pois são chamados para anunciar o evangelho

19
Os termos apostolhn e apostolhj surgem 2 vezes na tradição lucana e paulina, e não surge nenhuma vez
em outros textos. Já o termo apostoloi surge 14 vezes na tradição lucana e paulina, e 2 vezes em outros
textos. O termo apostoloij é exclusivo de Paulo e Lucas, surgindo 6 vezes.
20
HOONAERT, Eduardo. A Memória do Povo Cristão, p. 95.

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aos judeus.21 O mundo inteiro é dividido entre eles, já que o texto diz: “antes, pelo
contrário, quando viram que o evangelho da incircuncisão me fora confiado, como a
Pedro o da circuncisão” (Gl 2:7).
Existem muitas passagens em que Paulo é indicado como o apóstolo para os
gentios. Por outro lado, Paulo pode falar de "esses que eram apóstolos antes de mim",
além dele indicar também que conheceu vários outros "apóstolos", pelo menos aqueles
comissionados aos judeus.22 Ele conta como, na ocasião da primeira visita dele à
Jerusalém depois da conversão: "Depois, passados três anos, subi a Jerusalém para
visitar a Cefas, e demorei com ele quinze dias. Mas não vi a nenhum outro dos apóstolos,
senão a Tiago, irmão do Senhor” (Gl 1:18-19). Esta frase, ainda que não explicite, sugere
que Paulo pensou em Tiago como um apóstolo; mas requer a pressuposição que ele
conheceu outros apóstolos além de Pedro e Tiago.
Provavelmente Paulo não viu "outros apóstolos" porque eles estavam continuando
o trabalho de evangelistas fora de Jerusalém. A divisão de responsabilidade de algum tipo
é indicada claramente.
A carta aos Gálatas demonstra a responsabilidade mais elevada e a autoridade de
apóstolos específicos em uma seção da igreja. Esta autoridade, segundo Adolf Pohl, não
se estabelece de forma contrária às autoridades de Antioquia. Ele afirma:
“A respeito dessas três autoridades originárias afirma-se que estenderam, a Paulo e a
Barnabé, a destra (mão direita). Não ostentaram sentimento de superioridade oferecendo
de cima para baixo a ponta dos dedos, mas deram toda a mão direita como sinal de
comunhão. O trecho todo desemboca na contemplação dessa comunhão: Os colunas de
Jerusalém não excluem Paulo e Barnabé, como os judaítas almejavam, mas reconhecem
os colunas de Antioquia como da mesma altura. Selaram de modo demonstrativo a sua
comunhão elementar por meio do aperto de mão com validade legal. E importante manter
na memória esse quadro, também para compreender (GI 2.11-21).” 23

Esta seção não é definida claramente e provavelmente não era definível em


condições estritamente geográficas. Incluiu muitas igrejas ao redor das quais tinham sido
estabelecidas por Paulo e que sofriam influência de Pedro, basicamente próximas ao mar
Egeu e para o leste, até a região da Galácia do Norte. Outro exemplo disto é a Carta aos
Romanos, que mostra o esforço de Paulo para estabelecer contato com uma igreja Pagã
que pertence à jurisdição dele, mas ele não tinha fundado ou ainda tinha tido uma
oportunidade para visitar. Provavelmente o que se diz é que as igrejas predominantemente
pagãs pertenciam à "diocese" de Paulo (embora não esteja claro que alguns apóstolos e/ou
cristãos não tenham reconhecido a jurisdição dele).24

21
Eles deveriam organizar o governo das Igrejas nascentes pelos apóstolos, ou seja, aqueles que eram antes
deles. Conforme diz Berkhof: “Muito semelhantemente, os apóstolos eram guiados pelo respeitado costume
de se terem presbíteros na sinagoga, e não por algum mandamento direto, quando ordenavam presbíteros
nas diversas igrejas fundadas por eles. A igreja de Jerusalém tinha presbíteros, At 11.30. Paulo e Barnabé
os ordenaram nas igrejas que organizaram durante a sua primeira viagem missionária, At 14.23”. In.:
BERKHOF, Louis, Teologia Sistemática, p. 590.
22
Diz Gálatas 1.17: nem subi a Jerusalém para estar com os que já antes de mim eram apóstolos, mas parti
para a Arábia, e voltei outra vez a Damasco.
23
POHL, Adolf. Carta aos Gálatas, p. 70.
24
“Que os próprios crentes de Roma tinham estado aguardando essa visita, esta secção toda parece
implicar. Que lhes devia o apóstolo uma explicação quanto à nova demora também parece pressuposto.
Habitavam eles a capital do mundo gentílico; era Paulo o apóstolo oficial dos gentios; já uma vez antes
chegara em direção ao ocidente até Corinto mas deixara de prosseguir até Roma; agora, novamente,

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Paulo, como mais uma evidência desta realidade da jurisdição apostólica, conta a
resolução dele de não "construir na fundação de outro homem”.25 Paulo demonstra certa
autoridade entre as próprias igrejas dele, mas indicando claramente também o fato que
outros também estavam pondo "fundações". Não há a designação dos locais ou qual a
forma de trabalho, mas não é improvável que algumas destas "fundações" se estabeleçam
dentro da área geográfica onde o Paulo trabalhou principalmente.
O livro de Atos parece associar os "apóstolos" particularmente com os judeus, e
neste se adquire a impressão que estes exercitam autoridade em várias áreas, e
constituíram um tipo de conselho localizado em Jerusalém, um apostolado que regia a
igreja em sua totalidade. Embora este quadro seja suspeito de ser parte do produto do
interesse do autor de Atos promovendo a unidade da igreja no próprio período dele, as
palavras de Paulo em Gal. 1:17-19 em alguma medida confirmam isto.
Vê-se, portanto, duas realidades apostólicas: a existência e autoridade dos
apóstolos na igreja primitiva e a formação de um concílio onde estes definem as regras
gerais que coordenam o trabalho da Igreja. Para definir, porém, a função do ministério
apostólico, é importante ressaltar que não se deve tomar por base apenas as cartas de
Paulo. Isto significa que é possível saber muito pouco sobre o próprio apostolado de Paulo
através apenas das epístolas. As epístolas paulinas e Atos confirmam que o apóstolo era
um evangelista itinerante. Porém Paulo não só demonstra isto quanto à sua própria ação,
mas parece também insinuar isto quando fala sobre "outros apóstolos" (1Cor. 9:5). A
função primária dos apóstolos, portanto, é a pregação do evangelho, a proclamação do
evento na Palestina com que Deus estava trazendo a história a um fim, sendo estes
testemunhas de porte para a anunciar a nova criação em Cristo, a chamada dos homens
para o arrependimento.
Além destas tarefas, os apóstolos em seu ministério estabeleciam igrejas, e isto
incluía o dever e a autoridade de supervisão destes nestas comunidades nascentes. É
possível ver Paulo nas cartas dele executando este dever e exercendo a prerrogativa do
governo (Cf. Cf. 2 Cor 2:8, 10:1s; Fl 4:2 entre outros).
Não se deve esquecer que os apóstolos são criados da igreja, não seus mestres.
Eles vivem e agem para a igreja; não a igreja para eles. Mas o reconhecimento de tais
fatos não obscurece o senso de Paulo quanto à autoridade apostólica: "Deus designou
primeiro na igreja apóstolos" é o que ele diz. Os maiores são os que servem. Além disto,
Paulo também afirma em Fm (8-10), "Pelo que, embora tenha em Cristo plena liberdade
para te mandar o que convém, todavia prefiro rogar-te por esse teu amor, sendo eu como
sou, Paulo o velho, e agora até prisioneiro de Cristo Jesus”. As palavras de Paulo
demonstram que um apóstolo da era da igreja primitiva estava profundamente consciente
do que esperava das igrejas e da sua autoridade. Esta autoridade está ligada à
autenticidade do Evangelho anunciado, porque “se o evangelho proclamado por um
apóstolo é verdadeiro, autêntico, se é realmente o evangelho de Jesus Cristo, o apóstolo
é legitimo, verdadeiro, autêntico”.26

estava ele na metrópole grega e retomava para o oriente com uma oferta para os crentes judeus em
Jerusalém; por certo que lhe cabia enviar uma palavra aos crentes de Roma, alguma explicação deveria
ser dada da razão porque ainda outra vez pospunha o apóstolo a visita que lhes devia.” In.: ERDMAN,
CHARLES R., Comentário de Romanos, p. 25.
25
Rm 15:20: “...esforçando-me, deste modo, por pregar o evangelho, não onde Cristo já fora anunciado,
para não edificar sobre fundamento alheio...”.
26
COMBLIN, José. Epístola aos Filipenses, pp. 16-17.

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Outra marca do apostolado é a presença de assistentes. Timóteo, Tito, Silvano,
Epafras e outros são mencionados como colaboradores, que servem ao apóstolo nas suas
viagens, prisões, trabalho pastoral e outros. Outra marca do apostolado é a visita que estes
recebem dos representantes das comunidades: Epafrodito, Fortunato, Acaio visitaram
Paulo como representantes de congregações; e Paulo recebeu cartas deles, como também
enviou outras para a comunidade por eles (Cf. 1 Cor. 7:1). A vastidão dos assuntos nos
quais ele foi chamado para expressar uma opinião ou passar um julgamento será suficiente
para lembrar da complexidade e a dificuldade desta fase administrativa ou pastoral da
tarefa do apóstolo.
O apóstolo poderia ser chamado para resolver uma pergunta moral, como sobre
relações sexuais, ou sobre o divórcio, ou sobre o decoro de um matrimônio entre um
cristão e um pagão, ou dar deliberação sobre a disciplina de um sócio. Também deveria
corrigir desordens em adoração; clarificar ou confirma ou aplica alguma tradição que ele
já tinha transmitido; lidar com diferenças de opinião entre os sócios de uma igreja sobre
o comer de comida consagrada através de ritos pagãos ou dúvidas semelhantes. Ajudava
a resolver relações mestre-escravo dentro de uma igreja, além de supervisionar o
recolhimento de uma soma grande de dinheiro entre várias igrejas. Tinha a tarefa de
pacificar uma congregação excitada por expectativas apocalípticas e aplicar a consciência
cristã e o bom senso a uma gama extensiva de problemas práticos, grandes e pequenos. 27

O Conceito e as Origens Bíblicas do Presbiterato e Diaconato


A afirmação de Paulo destacada no ponto anterior é de que Deus designou
primeiro na igreja apóstolos, no ambiente da igreja primitiva. Este ponto, porém, tratará
dos outros ministérios da igreja, segundo a declaração do próprio Paulo: “(...) em segundo
lugar, profetas; em terceiro lugar, mestres; depois, operadores de milagres; depois, dons
de curar, socorros, governos, variedades de línguas. Porventura são todos apóstolos? são
todos profetas? são todos mestres?” (1Cor. 12:28-29).
Além desta passagem, há a declaração explícita da liderança da igreja local em
Filipos, que é constituída de "bispos (presbíteros) e diáconos" (Fl 1:1). Além disto, há
também o relato de Rom. 12:6-8.28
Estas declarações indicam de que modo o ministério estava composto nas igrejas
com que Paulo estava familiarizado. A distinção normalmente feita entre ministérios
"carismáticos" ("espiritualmente determinados", ministério na igreja mais primitiva) e o

27
Afirma Kredel: “Durante a atividade pública de Jesus uma parte dos discípulos tinha sido encarregada
temporariamente da representação do Messias. Tanto a ampla preparação dos discípulos para a sua tarefa
apostólica, como, sobretudo, certas promessas (ver Mt 16,19; 18,18) mostram claramente que, com esta
breve atividade apostólica, não podia ser realizado tudo o que Jesus tinha em vista. Jesus, depois de sua
partida, não queria deixar seu rebanho sem pastor (ver Mt 9,36; Jo 21,15--17); por isto, prometeu entregar
a seus discípulos o poder de atar e desatar, e as suas decisões na Igreja serão as decisões do Senhor
exaltado (Mt 16,18; 18,18). A entrega dêsses plenos poderes (sic), não limitados nem pelo tempo nem
pecado (Mt 28,l8ss). Agora Jesus não é enviado unicamente às ovelhas perdidas de Israel, mas todos os
povos estão sujeitos ao seu senhorio; por isto mesmo, confiou todos os povos ao cuidado pastoral de seus
representantes plenipotenciários”. In: KREDEL, E.M., Apóstolo. In: BAUER, Johannes B., Dicionário
Bíblico-Teológico, p. 90.
28
“...tendo, porém, diferentes dons segundo a graça que nos foi dada: se profecia, seja segundo a proporção
da fé; se ministério, dediquemo-nos ao ministério; ou o que ensina esmere-se no fazê-lo; ou o que exorta
faça-o com dedicação; o que contribui, com liberalidade; o que preside, com diligência; quem exerce
misericórdia, com alegria.”

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ministério "institucional" (pertencente à Igreja mais tardia) não é feita por Paulo, já que
para este todo ministério é carismático. Além disto, se a função institucional é entendida
como aquilo que serve para contribuir para o crescimento e funcionando ordenado da
igreja, todo ministério descrito por Paulo é institucional, já que ele mesmo afirma:
Ora, há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo. E há diversidade de
ministérios, mas o Senhor é o mesmo. E há diversidade de operações, mas é o mesmo
Deus que opera tudo em todos. A cada um, porém, é dada a manifestação do Espírito para
o proveito comum (1 Cor 12:4-7).
Quando Paulo se refere aos "bispos (presbíteros) e diáconos" em Filipenses, esta
citação refere-se a um ministério "institucional". Os "bispos e diáconos" são membros da
igreja de Filipos que tem funções administrativas: sabedoria, eficiência e tato, com algum
planejamento e comissão (os "bispos", via de regra); ou executando várias tarefas de
auxílio e ajuda que pertencem também à vida da congregação (os "diáconos" ou
ajudantes, via de regra).29
É completamente provável que o endereço específico da carta aos Filipenses seja
a estes líderes, já que Paulo recebeu há pouco dinheiro da igreja, e estes administradores
e trabalhadores foram responsáveis no envio destes recursos. Giuseppe Barbaglio afirma
que a Igreja se associou com ele nas dificuldades de forma que:
“Que é a solidariedade, a participação, o valor estimado por Paulo confirma-se pelo
confronto que estabelece entre o comportamento da igreja de Filipos e o das outras
comunidades: um confronto em que a primeira leva totalmente a vantagem (vv. 15-16).
Sim, porque foi a única que desde o início abriu com ele uma relação de débito e crédito.
A imagem comercial é significativa: entre o apóstolo e a comunidade há intercâmbio; dar
e receber são atitudes recíprocas. A ajuda financeira entra nesse quadro: da parte da
comunidade constitui o reconhecimento de que foi do apóstolo que recebeu o evangelho;
e o apóstolo é ajudado pela comunidade em sua atividade missionária. Numa palavra, há
co-participação, principalmente dos líderes. E desta ele se lembra, recordando-a também
aos filipenses, invocando a ajuda que lhe prestaram em Tessalônica, mais de uma vez, 10
e depois de ter deixado a Macedônia, ou seja, Corinto (cf. 2Cor 11,9).” 30

É bastante possível que Paulo não esteja fazendo aqui uma distinção entre duas
classes de pessoas, mas entre duas funções executadas na comunidade, funções estas
colocadas em serviço do reino, e ele já tinha se beneficiado deste serviço.
Em 1 Cor. 16:15-16, Paulo se dirige à igreja coríntia para que estes sejam
submissos à família de Estéfanas, que se dedicou ao ministério (diakonía) dos santos.
Além disto, admoesta que a igreja se submeta a todo aquele que auxilia na obra e
trabalha.31 Estéfanas era um dos "bispos" ou era um dos "diáconos"? Talvez ambos; ou
ambos em tempos distintos. Não é possível definir funções formais, mas funções para as
quais as pessoas eram certamente comissionadas e espiritualmente dotadas.32 Os
"diáconos" e "bispos" de Filipos são identificados com os "ajudantes” e os
"administradores". Em 1 Cor. 12:28, os líderes são identificados como ajudantes de vários
tipos. Em Rom. 12:6-8, são mencionados como "presidentes".

29
BARBAGLIO, Giuseppe. As Cartas de Paulo, p. 363.
30
BARBAGLIO, Giuseppe. As Cartas de Paulo, op. cit., p. 411.
31
1 Cor. 16:18 diz assim: “...porque trouxeram refrigério ao meu espírito e ao vosso. Reconhecei, pois, a
homens como estes”.
32
DODD, C.H., O Fundador do Cristianismo, p. 57.

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Fica aberta a questão referente ao que Paulo pensa a respeito dos "profetas",
"mestres", “operadores de milagres” e daqueles que “falam em línguas”. Em 1 Cor. 12:28
eles são mencionados entre os curandeiros e os extáticos, o que significa que o valor e
dignidade destes ofícios era igual, mas a serventia era distinta. Em Rom. 12:6-8, os
"presidentes" são colocados entre duas classes de ajudantes: os que contribuem e os que
são misericordiosos. Não há nenhuma distinção de "inferior" e "superior" entre estes
trabalhadores nas igrejas. Eles são todos os instrumentos e agentes do mesmo Espírito; e
se alguns deles exercita uma função ou outra (quer dizer, superintendendo ou ajudando),
ou se todos exercitaram ambas as funções, o certo é que eles eram igualmente membros
do corpo de Cristo, igualmente indispensáveis para o funcionamento efetivo do corpo
eclesial.
A vida social organizada da igreja primitiva é um quadro que só é possível
preencher até certo ponto. É óbvio que uma congregação local, que se encontrava
frequentemente para adoração e a refeição comum, se encontrava com outros propósitos.
As celebrações para "outros propósitos" deveriam ser reuniões para adoração e
companheirismo, além de outros múltiplos objetivos. O certo é que decisões tiveram que
ser tomadas de vez em quando sobre vários assuntos, e a Igreja aguardava a visita
iminente de um apóstolo, ou de algum profeta ou professor estrangeiro. Disputas sérias
sobre assuntos diversos certamente ocorreram, exigindo a presença constante não só das
autoridades estrangeiras, mas também de um magistrado local.33
A função do presbítero e do diácono pode ser compreendida dentro destas
dificuldades. A violação das leis da assembleia certamente exigiu a presença de um
governo local. Dificuldades entre membros, necessidade de ações disciplinares,
diferenças de opinião em questões de moralidade ou convicções doutrinárias (como
matrimônio, divórcio, ressurreição) exigiram a definição de papéis intracomunitários.
Estas preocupações especiais ou ocasionais, que surgem freqüentemente no Novo
Testamento, exigiam operações administrativas regulares. As pessoas doentes precisavam
ser visitadas, e o pão e vinho da Eucaristia precisavam ser levados a estes, que
provavelmente estavam sofrendo privações. Os pobres, especialmente os velhos, as
viúvas e os órfãos, precisavam de ajuda. Por isto, a igreja certamente instituiu ofícios,
inclusive de tempo integral.34
Tais ações eclesiásticas na ajuda aos necessitados requereram fundos
congregacionais e administradores destes fundos. Além disto, a congregação certamente
deveria definir a política para tomar decisões ad hoc em casos questionáveis. É provável
que o trabalho administrativo necessário na igreja do primeiro-século fosse extenso, já
que quando um judeu do primeiro-século ou pagão decidia se tornar um cristão, ficava
dependente da comunidade, que supria de certo modo grande parte de suas necessidades.
A igreja teve que assumir intensa responsabilidade pelos seus membros, principalmente
no aspecto das relações intracomunitárias.
As reuniões congregacionais da igreja primitiva tiveram que ser planejadas,
administradas, as ações deviam ser registradas, comunicadas aos interessados, e de fato
implementadas. Por isto, a ênfase nas cartas paulinas às "ajudas", "governos" e
“superintendências”. Por isto, também, os ofícios dos "presbíteros" e "diáconos" ficaram
tão importantes na igreja de um período um pouco posterior. Segundo Raymond Brown,

33
BARBAGLIO, Giuseppe. As Cartas de Paulo, op. cit., p. 415.
34
NYGREN, Anders, Commentary on Romans, p. 21.

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isto seguia um esquema relacionado ao contexto vivencial das Igrejas cristãs – o judaísmo
e o governo secular ou pagão:
Embora a palavra presbýteros (comparativo de presbýs, "antigo, ancião, velho”,
significando no caso os mais "velhos" em grego) se refira à idade, o costume de procurar
conselho junto aos homens mais velhos da comunidade veio a significar que “mais velho"
ou "presbítero" passou a designar funcionário idealmente escolhido por causa da
sabedoria, muitas vezes com mais idade, mas não necessariamente assim. As sinagogas
judaicas possuíam grupos de anciãos ou presbíteros que eram responsáveis pelo
policiamento e guarda da sinagoga. Os presbíteros cristãos, entretanto, tinham o papel de
supervisão pastoral que ia além das responsabilidades dos colegas judaicos; e, por esse
motivo, encontramos designados por um segundo título, epískopos, "supervisor, bispo".
A observação muitas vezes repetida de que presbýteros é função tomada do judaísmo, ao
passo que epískopos constitui papel tomado da administração secular e religiosa dos
gentios (pagãos) é por demais acertada. 35
Vê-se que a multiplicidade de funções é advinda da necessidade de recorrer a
figuras de autoridade. Estas são nomeadas conforme o contexto judeu-gentio.
No caso das ações dos professores, estes são agrupados ao ministério pastoral na
igreja desde os primórdios. Eles representam o "ministério local", sendo os "bispos" e
"diáconos" os que assumem as funções e responsabilidades do professor.36
Isto é compreendido quando se pensa na igreja deste período sendo representada
a partir de funções ou vocações, não a partir de ofícios. Para Paulo havia os professores e
profetas, mas este pouco menciona o ofício de professor e profeta sob a forma
institucionalmente definida. Os curandeiros, os que falam em línguas, os operadores de
milagres não são descritos como ofícios da igreja, mas ações pertencentes ao círculo das
Igrejas em seu período inicial.37 Até mesmo os "bispos" e "diáconos" de Filipenses 1:1
não serão pensados como ofícios. Há mais base para o apostolado como ofício, por este
ter sido comissionado por Deus. Então, a autoridade dele não era somente a autoridade
autenticada pelo Espírito, mas ligada ao evento histórico no qual a igreja tinha começado.
Após a era apostolar e a multiplicação das comunidades, surgiram os vários
ministérios da igreja local, e naturalmente as ações viraram ofícios mais visíveis. Os
"presbíteros" e "diáconos" foram, neste caso, os primeiros a receberem status oficial.
Estes são obviamente reconhecidos pela vocação (critério reconhecido desde os
primórdios da igreja) e a eleição, com a definição dos compromissos. Assim os
"presbíteros" e "diáconos" podem ser pensados como sendo, pelo menos na área da igreja
que as cartas de Paulo circulam, os primeiros ministros oficiais, onde “se espera que
pessoas com dons carismáticos sejam indicadas como presbíteros-bispos”.38 Estes
ministros são instituídos onde os profetas e professores no sentido mais tradicional são
valorizados e postos em destaque, tendendo a assumir as funções espirituais e da
presidência da Eucaristia e de outros serviços de adoração.
O Didaché diz muito sobre os profetas, chamando-os de "seus pastores elevados"
ou presbíteros. Mas reconhece a possibilidade que uma igreja em um determinado
momento não tenha um profeta (13:4). É tal a situação que o autor tem em mente quando,
em 15:1, escreve: "Designe presbíteros sobre vós; e diáconos merecedores de Deus: estes
35
BROWN, Raymond, As Igrejas dos Apóstolos, p. 38.
36
Cf. Didaché 15.1.
37
LENHARDT, F.J., Epístola aos Romanos, p. 315.
38
BROWN, Raymond, As Igrejas dos Apóstolos, p. 42.

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homens devem ser submissos, não amantes de dinheiro, verdadeiros e aprovados, porque
eles também auxiliam o ministério dos profetas e professores."
Vê-se, portanto, que definitivamente os presbíteros e diáconos possuíam desde o
princípio função profética e pedagógica, como também responsabilidades administrativas
e prerrogativas.

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