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Capı́tulo 2

Espaços de funções e espaços de


Hilbert

Depois de relembrar as definições de corpo e de espaço vectorial, faz-se a


construção dos espaços de Hilbert, Lebesgue, Sobolev e Banach. Demons-
tram-se as desigualdades de Cauchy-Schwarz e de Minkovski. Introduz-se o
primeiro exemplo de operador e chega-se à necessidade do conceito de base
de um espaço de dimensão infinita.

2.1 Espaços pré-Hilbertianos


Na fı́sica moderna e em especial na mecânica quântica e na teoria dos cam-
pos, os observáveis fı́sicos estão associados a operadores que actuam sobre
funções que caracterizam o estado dos sistemas. Destas acções resultam os
valores numéricos do estado de um sistema. A análise funcional dá-nos as
ferramentas necessária para abordar este tipo de problemas.
A análise funcional é um formalismo muito semelhante ao da álgebra
linear em que os espaços aritméticos reais ou complexos são substituidos por
espaços de funções. Embora os espaços da álgebra linear sejam de dimensão
finita e os espaços da análise funcional sejam de dimensão infinita, muitos dos
resultados da álgebra linear podem ser transportados para a análise funcional
com as modificações inerentes à mudança de dimensão. Assim, muita da
nossa intuição da álgebra linear pode ser transportada para o estudo dos
espaços de funções.
Vamos então relembrar o que é um espaço vectorial sobre um corpo K.
Em tudo o que se segue, e sem especificação em contrário, consideramos
sempre que K = C.
Um conjunto K, juntamente com as duas operações associativas “+”e

19
20 CAPÍTULO 2. ESPAÇOS DE HILBERT

“.”, é um corpo se, se verificarem as seguintes condições:

i) Se, x, y ∈ K então, x + y = y + x ∈ K e x.y = y.x ∈ K.

ii) Se, x �= 0 então, −x ∈ K e 1/x ∈ K.

iii) 0 e 1 ∈ K.

iv) Para todo x, y, z ∈ K, x.(y + z) = x.y + x.z.

Um conjunto H = {f, g, . . .} tem uma estrutura de espaço vectorial sobre


um corpo K se:

i) H é um grupo abeliano (comutativo) em relação à operação “+”:

i1) Se, f, g ∈ H então, f + g = g + f ∈ H.


i2) Existe em H um elemento, 0, tal que f + 0 = 0 + f = f , para todo
o f ∈ H.
i3) Para todo o f ∈ H existe −f ∈ H tal que, f − f = 0.

ii) Multiplicação por elementos do corpo K. Se c1 , c2 ∈ K então,

ii1) Para todo o f ∈ H, cf ∈ H.


ii2) Distributividade:

(c1 + c2 )f = c1 f + c2 f
c1 (f + g) = c1 f + c1 g

ii3) Associatividade: (c1 .c2 )f = c1 .(c2 f ).


ii4) 0.f = 0 , 1.f = f .

São exemplos de espaços vectoriais de dimensão finita o conjunto dos


números reais Rn e o conjunto dos números complexos Cn . No primeiro
caso, o corpo K = R. No segundo caso, K = C.
Seja H um espaço vectorial H de dimensão finita n, diz-se que os elemen-
tos ei ∈ H, i = 1, . . . , n, com αei �= ej para todo o i �= j e α ∈ K, formam
uma base de H, se todo o elemento u ∈ H se escreve de uma forma única
como,
� n
u= λi ei em que λi ∈ K
i=1

Seja o conjunto de todas as funções analı́ticas, definidas no intervalo


[−1, 1] e com valores em R ou C. Vamos designar este conjunto por C ω ([−1, 1]).
2.1. ESPAÇOS PRÉ-HILBERTIANOS 21

Definindo as operações usuais sobre elementos de C ω ([−1, 1]), verifica-se fa-


cilmente que C ω ([−1, 1]) é um espaço vectorial sobre R ou C. O problema
que se levanta agora é o de saber qual a dimensão de C ω ([−1, 1]). Vamos
considerar a função ex ∈ C ω ([−1, 1]). Como sabemos,
�∞
x 1 n
e = x
n=0
n!

Como, para todo o x ∈ [−1, 1], não é possı́vel escrever a função xp como
uma combinação linear de potências de x diferentes de p, podemos dizer que
C ω ([−1, 1]) não tem dimensão finita, mas sim, dimensão infinita numerável1 .
Isto é, podemos tomar o conjunto de funções {xn }n≥0 como um candidato a
uma base do espaço vectorial C ω ([−1, 1]).
Vejamos agora como definir produto interno no espaço vectorial H sobre
o corpo K(= C).
Um produto interno ou produto escalar é uma função, < ·, · > : H × H →
K, que verifica:
a) Para todo o f, g ∈ H , < f, g >=< g, f >∗ (simetria ou hermiticidade).
b) Se f �= 0 , < f, f > ≥ 0 e se < f, f >= 0, então f = 0 (positividade).
c) Se f, g, h ∈ H e a1 , a2 ∈ K, então,
< a1 f, g >= a∗1 < f, g >, e,
< a1 f + a2 g, h >= a∗1 < f, h > +a∗2 < g, h > (K-linearidade).
Um espaço vectorial H sobre um corpo K com um produto interno é um
espaço pré-Hilbertiano, eventualmente de dimensão infinita.
Das propriedades do produto interno decorre que,
< f, ag > = a < f, g >
< f, a1 g + a2 h > = a1 < f, g > +a2 < f, h >
em que a, a1 , a2 ∈ K e f, g ∈ H.
As funções,
n

R :
n
< x, y >= xn yn
i=1
�n
Cn : < z, w >= zn∗ wn
i=1
1
O facto de a dimensão ser infinita numerável depende da álgebra-σ e da medida
definida no intervalo [−1, 1]. C ω ([−1, 1]) tem dimensão infinita numerável para a medida
de Lebesgue dx ou para medidas absolutamente contı́nuas em relação à medida de Lebesgue
— medidas da forma dµ = p(x)dx.
22 CAPÍTULO 2. ESPAÇOS DE HILBERT

são exemplos de produtos internos em Rn e Cn . Assim, Rn e Cn são espaços


pré-Hilbertianos.

Exemplo de espaço pré-Hilbertiano de dimensão infinita. Designa-


se por �2 o conjunto de todas as sucessões de elementos de C que obedecem
a,
�∞
|ci |2 < ∞
i=1

em que cn ∈ C, por todo o n ≥ 1. Os elementos de �2 escrevem-se como


listas infinitas de números, c = (c1 , c2 , . . .).
Definindo as operações sobre sucessões,

(c1 , c2 , . . .) + (d1 , d2 , . . .) := (c1 + d1 , c2 + d2 , . . .)


λ(c1 , c2 , . . .) := (λc1 , λc2 , . . .)

o espaço �2 é um espaço vectorial sobre C. De facto, todas as propriedades


dos espaços vectoriais são facilmente verificadas bastando mostrar que as
propriedades i1) e ii2) são verdadeiras. Assim, se f, g ∈ �2 e λ1 , λ2 ∈ C,
vejamos que (λ1 f + λ2 g) ∈ �2 . Ora,
� � �
|λ1 fi + λ2 gi |2 ≤ 2λ21 |fi |2 + 2λ22 |gi |2 < ∞

em que se usou a desigualdade (a + b)2 ≤ (a + b)2 + (a − b)2 = 2a2 + 2b2 .


Definindo em �2 o produto interno,


< c, d >= c∗i di
i=1

�2 é um espaço pré-Hilbertiano de dimensão infinita. De fact, como �2 é um


espaço vectorial, tem-se que, < c + d, c + d >< ∞, o que implica que < c, d >
seja finito desde que c, d ∈ �2 . Mais à frente ver-se-á que �2 é um espaço de
Hilbert.
Através do produto interno podemos definir uma norma. A norma de
uma função f ∈ H é uma função não negativa, || · || : H → R+ , definida por,

||f || : = < f, f >

As relações entre produto interno e norma são dadas pelo seguinte teorema:
Teorema 2.1. Seja H é um espaço vectorial sobre um corpo K com um
produto interno, < ·, · > : H × H → K. Então, têm-se as desigualdades:
2.1. ESPAÇOS PRÉ-HILBERTIANOS 23

a) | < f, g > | ≤ ||f ||.||g|| Desigualdade de Cauchy-Schwarz.

b) ||f + g|| ≤ ||f || + ||g|| Desigualdade de Minkovski.

Demonstração. Desigualdade de Cauchy-Schwarz. Se f = 0, a desigualdade


<f,g>
é trivialmente verificada. Seja então λ = <f,f >
, com, f, g �= 0. Ora,

0 ≤ < g − λf, g − λf >=< g, g − λf > −λ∗ < f, g − λf >


=< g, g > −λ < g, f > −λ∗ < f, g > +λ∗ λ < f, f >
2 |<f,g>|2 |<f,g>|2
= ||g||2 − |<f,g>|
<f,f >
− <f,f >
+ <f,f >

e portanto | < f, g > |2 ≤ ||g||2 .||f ||2 .


Desigualdade de Minkovski. Suponha-se que se demonstrou que,

Real < f, g >≤ ||f ||.||g||

Nestas condições, vem que,

||f + g||2 =< f + g, f + g >


=< f, f > + < f, g > + < g, f > + < g, g >
= ||f ||2 + ||g||2 + 2Real < f, g >
≤ ||f ||2 + ||g||2 + 2||f ||.||g||
= (||f || + ||g||)2

e portanto
||f + g|| ≤ ||f || + ||g||
Demonstre-se agora a desigualdade, Real < f, g >≤ ||f ||.||g||. Ora,

||u||2 +||v||2 − 2Real < u, v >


=< u, u > + < v, v > − < u, v > − < v, u >
=< u, u − v > + < v, v − u >
=< u, u − v > − < v, u − v >
=< u − v, u − v > ≥ 0

Seja uma constante real a, tal que


1
u = af e v= g
a
Como, ||u||2 + ||v||2 − 2Real < u, v > ≥ 0, tem-se que,

1
a2 ||f ||2 + ||g|2 − 2Real < f, g > ≥ 0
a2
24 CAPÍTULO 2. ESPAÇOS DE HILBERT

Como a desigualdade anterior é válida para todo o a �= 0, também é válida


para o valor de a que minimiza a desigualdade anterior. Então, com, 2a||f ||2 −
2
a3
||g||2 = 0, vem que, a2 = ||g||/||f ||, em que ||f || �= 0, e portanto, substi-
tuindo o valor de a2 na desigualdade anterior,

||g||.||f || + ||f ||.||g|| ≥ 2Real < f, g >

ou seja, Real < f, g >≤ ||f ||.||g|| e o teorema está demonstrado.

Em espaços vectoriais sobre o corpo dos números reais e de dimensão


finita, tem-se que,
< f, g >= ||f ||.||g|| cos θ
em que θ é o ângulo entre os dois vectores f e g. Como | cos θ| ≤ 1, tem-
se que, | < f, g > | ≤ ||f ||.||g||. Assim, a desigualdade de Cauchy-Schwarz
afirma que em espaços vectoriais de dimensão infinita ainda faz sentido definir
o ângulo entre dois vectores através da relação, cos θ :=< f, g > /||f ||.||g||.
Nestas condições, podemos dizer que dois vectores f e g de um espaço pré-
Hilbertiano são ortogonais se, < f, g >= 0.

2.2 Espaços de Hilbert


Introduziu-se uma norma através da definição de produto interno. Inversa-
mente, pode-se definir uma norma e portanto de uma estrutura de espaço
métrico ou normado e chegar ao produto interno.
Suponha-se que H um espaço vectorial sobre um corpo K e seja uma
função, || · || : H → R+ , que verifica as propriedades:

a) ||λf || = |λ|.||f ||.

b) ||f + g|| ≤ ||f || + ||g||.

c) Se, ||f || = 0 então, f = 0.

Nestas condições, H é um espaço vectorial normado ou espaço métrico.


Uma distância em H é, por definição,

d(f, g) = ||f − g||

Claro que a norma definida à custa do produto interno obedece às condições
a), b) e c). Está assim estabelecida a relação entre espaços métricos e espaços
com produto interno. Todo o espaço vectorial sobre um corpo K com produto
interno é um espaço normado.
2.2. ESPAÇOS DE HILBERT 25

Seja H um espaço vectorial normado ou com produto interno. Uma


sucessão {fn }n∈N de elementos de H converge na norma para f ∈ H se,

||fn − f || → 0 quando n→∞

Uma sucessão {fn } é de Cauchy no sentido da norma se, para todo o ε > 0,
existe um inteiro Nε tal que, para todo o n, m > Nε ,

||fn − fm || < ε .

Um espaço vectorial H com uma norma ou um produto interno é com-


pleto, se toda a sucessão de Cauchy é convergente no sentido da norma. São
exemplos de espaços completos os conjuntos Rn e Cn . Por exemplo, o espaço
vectorial Q sobre o corpo Q não é completo.
Vejamos agora que o espaço de dimensão infinita �2 é completo. Seja
{c(n) }n uma sucessão de Cauchy em �2 . Então, para todo o ε > 0, existem
inteiros n e m, com n, m > Nε , e tais que, ||c(n) − c(m) || < ε. Ou seja,


(n) (m) 2 (n) (m)
||c −c || = |ci − ci |2 < ε2
i=1

(n) (m)
Assim, |ci − ci | < ε para todo n, m > Nε . Daqui conclui-se que para cada
(n)
i, a sucessão {ci }n é de Cauchy em C e portanto é uma sucessão convergente.
(n)
Seja ci = limn→∞ ci e c = (c1 , c2 , . . .). Queremos agora mostrar que c(n) → c
e que c ∈ �2 . Da desigualdade anterior decorre que,
k
� (n) (m)
|ci − ci |2 < ε2
i=1

(m)
para todo o inteiro positivo k e n, m > Nε . No limite m → ∞, ci → ci , e
como ε não depende de k,

� (n)
|ci − ci |2 < ε2
i=1

com n > Nε . Desta última condição, decorre que (c(n) − c) ∈ �2 . Como,


c = c(n) − (c(n) − c), pela desigualdade de Minkovski, ||c|| ≤ ||c(n) || + ||c(n) −
c|| = ||c(n) || + ε < ∞ e portanto, c ∈ �2 e c(n) converge para c. Conclui-se
assim que �2 é completo.
Um espaço de Hilbert é um espaço vectorial com produto interno e com-
pleto. Um espaço de Banach é um espaço vectorial normado e completo.
Assim, o espaço �2 é um espaço de Hilbert.
26 CAPÍTULO 2. ESPAÇOS DE HILBERT

Em tudo o que se segue vamos estar interessados apenas nos espaços de


Hilbert ou de Banach separáveis: Um espaço de Hilbert ou de Banach é
separável se contem um subconjunto numerável e denso. Neste contexto, a
densidade de um subconjunto de H define-se da seguinte maneira: Seja um
espaço de Hilbert H e S um subconjunto de H. O subconjunto S é denso
em H se, para todo o f ∈ H e δ > 0, existe um g ∈ S, tal que,

||f − g|| < δ

Quando nos referimos a espaços de Hilbert, estamos a considerar implicita-


mente espaços de Hilbert separados.
Como uma norma pode ser definida através de um produto interno, vamos
estabelecer algumas propriedades desta relação.
Sejam f e g elementos de um espaço de Hilbert H. Então, tem-se que,

||f + g||2 + ||f − g||2 =< f + g, f + g > + < f − g, f − g >


=< f, f > + < f, g > + < g, f > + < g, g >
+ < f, f > − < f, g > − < g, f > + < g, g >
= 2||f ||2 + 2||g||2
(2.1)
que é a igualdade do paralelogramo, figura 2.1. Assim, um espaço de Hil-
bert de dimensão infinita herda naturalmente algumas das caracterı́sticas
geométricas dos espaços euclidianos.

g
!!f!g!!
!!g!!
!!f"g!!

!!f!! f

Figura 2.1: Significado geométrico da igualdade do paralelogramo (2.1).

Num espaço de Hilbert, pode-se determinar o produto interno em função


da norma — igualdade de polarização. Sejam f e g elementos de um espaço
de Hilbert. Calculando, ||f + g||2 − ||f − g||2 , tem-se que,

||f + g||2 − ||f − g||2 = 2 < f, g > +2 < g, f >= 4 Real < f, g >

e portanto,
1 � �
Real < f, g >= ||f + g||2 − ||f − g||2
4
2.3. ESPAÇOS DE LEBESGUE 27

Com,
||f + ig||2 − ||f − ig||2 = 2 < f, ig > +2 < ig, f >
= 2i(< f, g > − < f, g >∗ )
= −4 Im < f, g >
vem que,
1 � �
Im < f, g >= − ||f + ig||2 − ||f − ig||2
4
Obtendo-se assim a igualdade de polarização
1 1 i i
< f, g >= ||f + g||2 − ||f − g||2 − ||f + ig||2 + ||f − ig||2
4 4 4 4
que permite determinar o produto interno através da definição de norma.
Da definição de norma à custa do produto interno e da desigualdade de
Minkovski, decorre que todo o espaço de Hilbert é um espaço de Banach. No
entanto, se assumirmos a igualdade do paralelogramo para qualquer espaço
de Banach, conclui-se facilmente que nem todo o espaço de Banach é um
espaço de Hilbert. Vejamos um exemplo de um espaço de Banach que não é
um espaço de Hilbert. Seja �p , com p ≥ 1, o conjunto de todas as sucessões
(c1 , c2 , . . .) tais que,
�∞
|ci |p < ∞
i=1
p
Seja a norma em � ,
�∞ �1/p

||c|| = |ci |p (2.2)
i=1
p
O espaço � assim construı́do é um espaço de Banach para 1 ≤ p < ∞. Sejam
os elementos de �p , x = (1, 1, 0, 0, . . .) e y = (1, −1, 0, . . .). Por (2.2), vem
que,
||x + y|| = ||x − y|| = 2 ; ||x|| = ||y|| = 21/p
||x + y||2 + ||x − y||2 = 8
2||x||2 + 2||y||2 = 4.22/p
e, 8 �= 4.22/p para p �= 2, ou seja, a igualdade do paralelogramo só é verificada
para p = 2. Então �p , com p �= 2, não é um espaço de Hilbert embora seja
um espaço de Banach. Assim, para p �= 2, a norma (2.2) não está associada
a um produto interno.

2.3 Espaços de Lebesgue


Os espaços de Lebesgue são exemplos de espaços de Banach. Seja (X, A, µ)
um espaço de medida e considere-se o conjunto das funções µ-mensuráveis
28 CAPÍTULO 2. ESPAÇOS DE HILBERT

ou µ-somáveis em X e que obedecem à condição,



|f |p dµ < ∞
X

com p ≥ 1. Este espaço é designado por Lpµ (X) e tem naturalmente a norma,
�� �1/p
p
||f ||p = |f | dµ (2.2)
X

Sejam f1 e f2 funções de Lpµ (X). Diz-se que f1 e f2 são equivalentes


(q.t.�.), isto é, f1 ∼ f2 , se,
�� �1/p
p
||f1 − f2 ||p = |f1 − f2 | dµ =0
X

O espaço de Lebesgue Lpµ (X) é o espaço que resulta de Lpµ (X) por in-
trodução da relação de equivalência ” ∼ ”, isto é, Lpµ (X) = Lpµ (X)/ ∼.
Assim, os elementos dos espaços de Lebesgue são classes de equivalência de
funções que diferem por conjuntos de µ-medida nula. Em geral, representa-se
cada classe de equivalência por um elemento da classe.

Teorema 2.2. Se X é um espaço de medida e µ(X) < ∞, o espaço Lpµ (X),


com 1 ≤ p < ∞, é completo e separável, donde um espaço de Banach se-
parável. Se 1 ≤ p ≤ q < ∞, então Lqµ (X) é um subespaço vectorial de Lpµ (X).
O espaço L2µ (X) é um espaço de Hilbert.

O espaço das funções de quadrado somável em relação à densidade de


medida ρ(x) — L2ρ (X) — é o espaço das funções para as quais
� �
2
|f (x)| ρ(x)dx = f ∗ (x)f (x)ρ(x)dx < ∞
X X

O conjunto L2ρ (X) é um espaço de Hilbert e de Banach com o produto interno,


� �

< f, g >= f (x)g(x)ρ(x)dx = f ∗ (x)g(x)dµ(x)
X X

2
Por exemplo, a função f (x) = e−x é de quadrado somável em relação à
medida de Lebesgue dx — f (x) ∈ L21 (R) = L2 (R) — pois,
� +∞ � +∞ �
−x2 2 2
|e | dx = e−2x dx = π/2 < ∞
−∞ −∞
2.4. OPERADORES 29

O espaço de Hilbert L2 é designado por espaço das funções de quadrado


somável ou simplesmente por espaço de Hilbert.
O espaço de Lebesgue Lp , com p ≥ 1, é um espaço de Banach. Se p = ∞,
a norma (2.2) deixa de fazer sentido. No entanto, definindo a norma do
supremo essencial como,

||f ||∞ = ess supx∈X |f (x)|


:= inf{ α : |f (x)| ≤ α (q.t.l.) em X}

então L∞ (X) é ainda um espaço de Banach com a norma ||f ||∞ . No entanto,
L∞ (X) não é separável. Nesta norma, |f (x)| ≤ ||f ||∞ (q.t.l.).
A caracterização funcional dos elementos de um espaço de Banach pode
ser feita através de funções contı́nuas. Seja C r (X) o conjunto das funções
com r derivadas contı́nuas no espaço mensurável X. O conjunto das funções
contı́nuas em X é C 0 (X). Como a continuidade é fechada para a multi-
plicação por números reais ou complexos e para a adição de funções contı́nuas,
C 0 (X) é um espaço vectorial. Uma função f ∈ C r (X) tem suporte compacto
r
se o fecho do conjunto {x : f (x) �= 0} é compacto. O espaço Cloc (X) é o
r ∞
espaço das funções de suporte compacto contidas em C (X) e C (X) =
∩∞ r
r=0 C (X).

r ∞
Teorema 2.3. Cloc (X) com r ≥ 0 e Cloc (X) são densos em Lpµ (X), com
1 ≤ p < ∞.

Na teoria das equações às derivadas parciais e na análise numérica surgem


ainda os espaços de Sobolev W k,p (X) definidos à custa da norma,
� k � �1/p

||f ||k,p = |f (i) |p dµ
i=0 X

Em geral W k,p (X) são espaços de Banach. No caso particular em que p = 2,


os espaços de Sobolev W k,2 (X) = H k (X) são espaços de Hilbert. Se f, g ∈
H k (X), então o produto interno é definido como,
k

< f, g >H k = < f (i) , g (i) >L2
i=0

2.4 Operadores
No que se segue vamos abordar o problema da representação dos elementos
de um espaço de Hilbert. Isto é, em que condições se pode construir uma
30 CAPÍTULO 2. ESPAÇOS DE HILBERT

base para estes espaços de funções. Como preparação, vamos introduzir o


conceito de operador e de base de um espaço vectorial de dimensão infinita.
Um espaço vectorial tem dimensão infinita se existir um conjunto de ele-
mentos f1 , f2 , . . . , fn , . . ., todos linearmente independentes. Isto é, todos os
subconjuntos finitos de funções do conjunto numervel {fi } são linearmente
independente. Como vimos anteriormente, em C ω ([−1, 1]), as funções do
conjunto {1, x, . . . , xn , . . .} são linearmente independentes.
Vamos considerar o espaço das funções de quadrado somável do intervalo
[0, 1] e com valores complexos — funções do espaço de Hilbert L2 ([0, 1]). Seja
T : H → H o operador definido por,
1 d
Tφ = φ
i dx
e de domı́nio,

Dom(T ) = {φ ∈ C 1 ([0, 1]) : φ(0) = φ(1)}

Claramente, o operador T assim definido é linear — T (φ1 + φ2 ) = T φ1 + T φ2 .


Por analogia com a álgebra linear, pode-se escrever a equação aos valores
próprios, T φ = αφ, isto é,
1 d
φ = αφ
i dx
que tem solução,
φ(x) = Aeiαx (2.3)
Como procuramos soluções restringidas a Dom(T ), impondo em (2.3) a con-
dição fronteira φ(0) = φ(1), obtem-se,

αn = 2πn

com n = 0, ±1, ±2, . . .. Assim, o operador T , restringido a Dom(T ), tem os


valores próprios, αn = 2πn, a que correspondem os vectores próprios,

φn (x) = e2πinx

em que n é um inteiro positivo ou negativo. Mas, {φn (x) = e2πinx }n∈Z é um


sistema de funções ortonormais em L2 ([0, 1]), pois,
� 1 � 1 �
∗ 2πix(m−n) 0 se m �= n
< φn , φm >= φn φm dx = e dx =
0 0 1 se m = n

e {φn (x)}n∈Z é um sistema de elementos linearmente independentes do espaço


de Hilbert L2 ([0, 1]). No próximo capı́tulo, iremos ver que o conjunto de
funções {φn (x)}n∈Z é uma base do espaço de Hilbert L2 ([0, 1]).
2.4. OPERADORES 31

Exercı́cios

2.1) Seja C ω ([−1, 1]) o conjunto de todas as funções analı́ticas do intervalo


[−1, 1]. Mostre que C ω ([−1, 1]) é um espaço vectorial.
2.2) Mostre que o espaço L1 (R) das funções reais integráveis à Lebesgue é
um espaço vectorial.
2.3) Seja L2e−x2 /√π (R, C) o espaço das funções f : R → C que verificam,
� +∞
1 2
√ |f (x)|2 e−x dx < ∞
π −∞

Mostre que L2e−x2 /√π (R, C) é um espaço vectorial sobre o corpo dos comple-
xos. Mostre ainda que,
� +∞
1 2
< f, g >= √ f ∗ (x)g(x)e−x dx
π −∞

é um produto interno. Note que, para o produto interno� −xassim definido,


2
a medida de um subconjunto A de R é µ(A) = √π A e dx, pelo que,
1

µ(R) < ∞. Nestas condições, a medida µ está normalizada e (R, B, µ) é um


espaço de probabilidades.
2.4) Seja X o conjunto das funções f : R → C tais que,
� +∞
|f (x)|2 dx < ∞
−∞

Suponha que X é um espaço métrico, com a métrica,


�� +∞ �1/2
2
||f || = |f (x)| dx
−∞

Mostre que esta métrica induz os produtos internos,


� +∞
< f, g >1 = f ∗ (x)g(x)dx
�−∞
+∞
< f, g >2 = f (x)g ∗ (x)dx
−∞

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