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PODER JUDICIÁRIO FEDERAL

JUSTIÇA DO TRABALHO
TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 1ª REGIÃO
Gab Des Rosana Salim Villela Travesedo
Av. Presidente Antonio Carlos, 251 6o. andar
Castelo RIO DE JANEIRO 20020-010 RJ

PROCESSO: 0001107-36.2011.5.01.0521 - RTOrd

Acórdão
10a Turma

ACÓRDÃO
10ª T U R M A

RECURSO ORDINÁRIO. ILEGALIDADE DO ATO


ADMINISTRATIVO QUE CONCEDE REAJUSTE
SALARIAL. REVISÃO DE ATO NULO PELA
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. DIFERENÇAS
SALARIAIS INDEVIDAS. O ato administrativo
manifestamente ilegal que concede reajuste salarial,
por se encontrar eivado de nulidade, é passível de
revisão pela Administração Pública e insuscetível de
originar direitos, inexistindo a aventada
redutibilidade a dar azo às diferenças vindicadas.
Apelo obreiro improvido.

Vistos, relatados e discutidos estes autos de recurso


ordinário em que são partes: REGINALDO DE LIMA BASÍLIO, como
recorrente, sendo recorrida AGÊNCIA DE SANEAMENTO BÁSICO DO
MUNICÍPIO DE RESENDE – SANEAR.

Trata-se de recurso ordinário interposto pelo


trabalhador, objetivando a reforma da sentença de fl. 359, proferida pelo
MM. Juiz Rodrigo Dias Pereira, da 1ªVT/Resende-RJ, que julgou
improcedente o pedido. Postula a condenação da ré em diferenças
salariais a partir de janeiro de 2009 e consectários.
Contrarrazões às fls. 366/370.
Manifestação do Ministério Público do Trabalho, à fl.
375, na qual o douto procurador Fábio Luiz Vianna Mendes opina pelo
conhecimento e desprovimento do recurso.
É o relatório.
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V O T O:
Conhecimento:
Recurso ordinário interposto a tempo e modo. Conheço-o.

Mérito:
Das diferenças salariais:
Bate-se o trabalhador pela reforma do julgado que
indeferiu as diferenças pleiteadas, ao argumento de que teria sofrido
indevida redução salarial decorrente da supressão, em janeiro de 2009, do
reajuste de 10% concedido no mês anterior (dezembro de 2008).
Razão não lhe assiste.
Exsurge do panorama processual que a ré – Agência de
Saneamento Básico do Município de Resende - constitui-se agência
reguladora de natureza autárquica, instituída pela Lei Municipal nº
2.725/2009, e que o reajuste vindicado restou inicialmente concedido ao
trabalhador, por meio da Portaria 171/2008, cerca de um mês antes do
término do mandato do então Prefeito.
É fato que, verificada a ilegalidade do ato administrativo
que, em dezembro de 2008 - a despeito das eleições municipais
ocorridas em outubro -, concedeu ao obreiro progressão horizontal,
restou editada a Portaria 002/2009, declarando a invalidade do
indigitado ato, pelos seguintes motivos:
a) “não obedecido o interstício de 2 (dois) anos da
última progressão, ocorrida em 01/11/2007,
estabelecida na Portaria nº 055/2007 (...) ferindo,
pois, o previsto no art. 20, do Plano de Cargos e
Salários da Sanear, e art. 22, da Lei Municipal
2335/2002 (Estatuto dos Servidores Públicos de
Resende), que importa em nulidade do ato, a tero do
art. 166, incisos II, V e VI, do Código Civil“;
b) “é nulo de pleno direito o ato de que resulte
aumento da despesa com pessoal expedido nos
cento e oitenta dias anteriores ao final do mandato,
bem como sem a devida previsão orçamentária para
o exercício seguinte, conforme disposição contida
nos arts. 21 e 15, da Lei Complementar nº 101/2000”;

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c) “é dever dos gestores públicos, não mera
faculdade, primar pelo princípio da legalidade (art.
37, da CF) e, que, ao tomar conhecimento da
indicada nulidade, deve proceder ex officio,
invalidando o ato através do princípio da autotutela,
sanando a irregularidade, conforme consagrado
pelas Súmulas 346 e 473, do STF, sob pena de
responder pela omissão”;
d) “um ato nulo não gera direitos, devendo ser
restabelecido o status a quo ante, qual seja a
situação original antes da edição da inquinada
portaria 171/2008, bem como é dever dos
beneficiados pela ilegalidade restituírem ao Erário
Público os valores indevidamente percebidos”;
e) “a ilegalidade perpetrada possui contornos de ato
de improbidade administrativa, eis que causou lesão
ao erário público e violou os deveres de legalidade e
lealdade às instituições” (fls. 213).

É cediço que, ante os princípios da autotutela e da


legalidade, insere-se no rol de prerrogativas e deveres da Administração
Pública a revisão de seus próprios atos.
No âmbito federal, a questão encontra-se disciplinada no
artigo 53 da Lei 9.784/1999, dispondo que “a Administração deve
anular seus próprios atos, quando eivados de vício de legalidade, e
pode revogá-los por motivo de conveniência ou oportunidade,
respeitados os direitos adquiridos”.
Trata-se de regra que, por sua natureza, deve nortear
toda a Administração Pública, conforme, aliás, jurisprudência do c. STJ,
verbis:
“AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO EM
MANDADO DE SEGURANÇA. PROCESSUALCIVIL E
ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO ESTADUAL.
AVERBAÇÃO DETEMPO DE SERVIÇO. REVISÃO DO
ATO PELA ADMINISTRAÇÃO (...) EXISTÊNCIA DA
LEI FEDERAL Nº 9.784/99. APLICAÇÃO
SUBSIDIÁRIA AOS ESTADOS E MUNICÍPIOS.
DECADÊNCIACONFIGURADA. (...) No âmbito
estadual ou municipal, ausente lei específica, a Lei
Federal nº 9.784 /99 pode ser aplicada de forma
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subsidiária, haja vista tratar-se de norma que deve
nortear toda a Administração Pública, servindo de
diretriz aos seus órgãos...” (STJ - AgRg no RMS
25979 GO 2007/0302874-8,, Rel. MINISTRO MARÇO
AURÉLIO BELLIZZE, pub. 16/04/2013).

Com efeito, as Súmulas 346 e 473 do c. Supremo


Tribunal Federal, a seu turno, consubstanciam, respectivamente, os
seguintes entendimentos, verbis:
“A Administração Pública pode declarar a nulidade
dos seus próprios atos”.

“A Administração pode anular seus próprios atos,


quando eivados de vícios que os tornam ilegais,
porque deles não se originam direitos; ou revoga-
los, por motivo de conveniência ou oportunidade,
respeitados os direitos adquiridos, e ressalvada, em
todos os casos, a apreciação judicial“.
In casu, é incontroverso que o reajuste salarial vindicado
restou concedido em flagrante afronta à Lei Complementar nº 101/2000,
que estabelece normas de finanças voltadas para a responsabilidade na
gestão fiscal, cujo artigo 21, parágrafo único, deixa certo que “é nulo de
pleno direito o ato de que resulte aumento da despesa com pessoal
expedido nos cento e oitenta dias anteriores ao final do mandato
do titular do respectivo Poder ou órgão referido no art. 20”.
Nesse contexto, peço vênia para adotar os fundamentos
expendidos no parecer de lavra do ilustre Procurador do Trabalho Fábio
Luiz Vienna Mendes, por esgotar com propriedade a matéria, verbis:

“Nesse sentido registre-se que o ato nulo não gera


efeitos, donde revela-se descabido falar em
irredutibilidade de remuneração a partir de portaria
flagrantemente ilegal, que estabeleceu vantagem
pecuniária a alguns empregados, seja por afronta ao
disposto no art. 21 da LC n. 101/2000, ou por
desrespeito ao interstício mínimo previsto no
próprio Plano de Cargos e Salários da autarquia.
Registre-se que o documento de fls. 213/214, ante a
presunção de veracidade do seu conteúdo (por se
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tratar de ato administrativo), já se revela suficiente a
comprovar os motivos que ensejaram a nulidade da
malsinada portaria. À par disso, o documento de fls.
191 comprova que o reclamante foi contemplado
pela progressão concedida pela Portaria nº
171/2008, além de ser fato notório que em outubro
de 2008 houve eleição municipal em todo o país ” (fl.
375).

Destarte, em sendo manifestamente nulo o ato


administrativo que concedeu o dito reajuste, não há de gerar qualquer
direito, inexistindo a aventada redução salarial a dar ensejo às
diferenças pleiteadas.
Nego provimento.

Conclusão:
Conheço do recurso ordinário e, no mérito, nego-lhe
provimento.

A C O R D A M os Desembargadores que compõem a 10ª


Turma do Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região, por unanimidade,
conhecer do recurso ordinário e, no mérito, negar-lhe provimento, nos
termos do voto da Exma. Des. Relatora.

Rio de Janeiro, 03 de setembro de 2014.

Rosana Salim Villela Travesedo


Desembargadora do Trabalho
Relatora

RSVT/Ce/D.c

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