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RESUMO
ainda existe uma lacuna no processo comunicativo tura, sob a perspectiva de que ele produz padrões
dessas crianças, principalmente das não-verbais, de comportamento característicos e previsíveis nas
evidenciadas nas dificuldades de comportamento e pessoas sob esta condição 8.
de interação social 4,7,8. O papel do profissional que trabalha com
Partindo do princípio de que a comunicação autismo é semelhante ao de um intérprete ou guia
surge da interação, não é difícil imaginar porque transcultural: alguém que entende ambas as cul-
a linguagem está bastante prejudicada no Trans- turas e é capaz de traduzir e orientar as expecta-
torno do Espectro Autista, sendo quase uma conse- tivas e procedimentos de um ambiente não-autís-
quência das dificuldades que esse indivíduo tem tico para o indivíduo com alterações complexas e
nas capacidades de interação social e comporta- abrangentes.
mento. Tais dificuldades geram inúmeras altera- Porém, com a extensão das dificuldades enfren-
ções na forma de estabelecer contato com o mundo, tadas pelo indivíduo com Autismo, surgem, em
criando em torno do indivíduo um universo repleto nome da ciência, diferentes tipos de intérpretes.
de estereotipias, ecolalias, comportamentos rotinei- Observa-se a proliferação de distintas e concomi-
ros e hiperativos, dificuldades graves de generali- tantes atuações dos profissionais envolvidos 20.
zações, reações inusitadas às mudanças de rotina, Deixa-se de olhar o indivíduo com autismo e passa-
além de uma comunicação verbal e não-verbal sem se a tratar do autismo. Repartem-se os saberes e
contexto 6,9-12. instituíram-se graus de importância a cada área que
É diante desse quadro que muitas vezes o fono- apresenta comprometimento no indivíduo. Con-
audiólogo recebe uma criança com autismo. Com corda-se aí com a complexidade da síndrome, mas
os recursos teóricos da Fonoaudiologia, requer-se deleta-se a complexidade do sujeito 21.
estabelecer a fala bem como a comunicação com o A transdisciplinaridade, com olhar dirigido para
sujeito. É com esta preocupação que quer se rever o complexidade, reside na possibilidade de ultrapas-
atendimento clínico desconectado de outras neces- sar o domínio das disciplinas formalmente estabe-
sidades de um sujeito tão peculiar e complexo, prin- lecidas, construindo uma teia de relações entre o
cipalmente sendo ele a criança não-verbal 13-16. saber da ciência, da arte, da política, e de tantos
No caso da criança com Autismo, o modelo dos outros discursos humanos 20: aquilo que está ao
atendimentos multi ou interdisciplinares reforçam mesmo tempo entre as disciplinas, através das
uma das principais características do transtorno, diferentes disciplinas e além de qualquer disciplina.
que é a dificuldade de generalização aumentando o Seu objetivo é a compreensão do mundo presente,
tempo de investimento na criação dos vínculos com e para tal, é imprescindível a unidade do conheci-
cada profissional, já que a criança com autismo mento 21,22.
possui graves problemas de interação.
O programa TEACCH
Transdisciplinaridade O TEACCH, ou Tratamento e Educação para
A cultura se refere a padrões compartilhados Autistas e Crianças com déficits relacionados à
do comportamento humano. As normas culturais Comunicação, é um programa que envolve as esfe-
afetam a maneira com que as pessoas pensam, ras de atendimento educacional e clínico, em uma
comem, se vestem, trabalham, compreendem os prática com abordagem psicoeducativa, tornando-o
fenômenos naturais, usam o tempo de lazer, se por definição, um programa transdisciplinar 8.
comunicam, abrangendo tantos outros aspectos Criado em 1966, na divisão de Psiquiatria da
fundamentais das interações humanas 17,18. As cul- Escola de Medicina da Universidade da Carolina do
turas apresentam ampla diversidade, de forma que Norte (EUA), por Eric Shopler e colaboradores, atra-
as pessoas de uma cultura para outra podem lidar vés de um projeto de pesquisa que procurou ques-
com a incompreensão ou até mesmo com estra- tionar a prática clínica daquela época, na sociedade
nheza. As pessoas pensam, sentem e se compor- americana, em que se acreditava que o Autismo
tam de certa forma porque alguém as ensinou como tinha uma causa emocional e deveria ser tratado
se deve viver nesse mundo 19. É a cultura sendo através dos princípios da psicanálise 9.
passada de uma geração para outra. Suas bases teóricas são a Teoria Behaviorista
O autismo, obviamente, não é uma cultura; é e a Psicolinguística. A valorização das descrições
um transtorno de desenvolvimento causado por das condutas, a utilização de programas passo
uma disfunção neurológica. Entretanto, ele também a passo e o uso de reforçadores, evidenciam as
afeta a maneira como as pessoas se alimentam, se características comportamentais. Por outro lado,
vestem, usam seu tempo de lazer, entendem seu foi na psicolinguística que se buscou as estratégias
mundo e se comunicam. Consequentemente, de para compensar os déficits comunicativos desta
alguma forma, o autismo funciona como uma cul- Síndrome, como a utilização de recursos visuais,
o aluno não executou mesmo após demonstração realizadas com um mediador (professora) e um
e repetição. observador (pesquisadora) que marca as respos-
Para quantificar a evolução em cada área ava- tas. Ocorreram dentro da sala de aula dos alunos,
liada, foram convencionados números para as por ser um ambiente conhecido e tiveram duração
letras dos protocolos: Passou (P) –3; Emergente de noventa minutos. As atividades propostas para
(E) – 2; Falhou (F) –1. Esse critério foi utilizado as investigações dos itens foram as mesmas nas
somente para demonstrar a existência de evolução três avaliações. Como se trata de uma pesquisa de
nas áreas avaliadas.
ordem qualitativa, não foram utilizados testes for-
Foram realizadas três avaliações com cada mais para as investigações dos critérios propostos.
sujeito da amostra a fim de comparar os resultados
As atividades do programa psicoeducativo dos alu-
intra-sujeitos. A primeira avaliação utilizando os
nos e que foram avaliadas neste trabalho, fazem
protocolos propostos foi aplicada no início do ano
letivo, no mês de janeiro. A segunda, no mês de parte da sua rotina escolar diária.
junho e, a última, no mês de dezembro. Todas as A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética
avaliações utilizaram o mesmo protocolo e foram em Pesquisa sob o número 104/08.
Protocolos Avaliativos
pelas diferenças que o autismo cria em cada aluno, saber quando se fala com eles, mesmo quando
e os trabalha inseridos na cultura dele, ou dela, estão prestando atenção; tendem a não entender
para ensinar as habilidades necessárias para fun- o conteúdo idiomático da linguagem, conotações
cionarem, incluídos na sociedade. Os esforços são sutis, inferências lógicas ou vocabulário complexo 23.
direcionados para expandir as habilidades e enten- Os alunos que, além do autismo, são portadores de
der os alunos, enquanto adaptam-se os ambientes deficiência mental são ainda menos aptos a apren-
às suas necessidades especiais e limitações. der efetivamente através de meios verbais. Isso é
As explicações verbais são adequadas para claramente comprovado pelas diferenças nos resul-
a maioria das pessoas, para os indivíduos com tados dos dois alunos de sete anos, com diferentes
autismo elas são frequentemente ineficazes, e oca- resultados no critério funções comunicativas.
sionalmente contraprodutiva. Esta afirmação é ver- Isto quer dizer que os professores e terapeu-
dadeira, independentemente do nível cognitivo do tas não devam usar linguagem verbal como uma
indivíduo 5,6. Mesmo pessoas (nesse caso, alunos) modalidade de atendimento, mas que a dependên-
com extenso vocabulário expressivo podem ter uma cia nesta modalidade isolada irá tender a ser impro-
habilidade muito limitada de atender ou processar dutiva e frustrante, tanto para o profissional, quanto
a explicação verbal do terapeuta. Eles podem não para o aluno.
ABSTRACT
Purpose: to submit a transdisciplinary approach for evaluating autistic disorders. It was based on the
program referred to as Treatment and Education of Autistic and related Communication handicapped
Children – TEACCH and its application in children pertaining to Non-Governmental Organization –
Centro de Referência e Apoio às Desordens do Desenvolvimento – CRADD. Methods: six subjects
who belong to the education program of the aforementioned institution, all with a positive autism
diagnostic, ages between seven and twelve year old, were evaluated in three distinctive instances
along the year (January, June and December). Results: the progress of each one in the areas of
social interaction, behavior, cognitive aspects and language had been verified. Conclusion: one
concluded that there were improvements in all investigated areas with no relationship to the degree or
type of autistic disorder. Providing the effective recovery of their communicative functions.
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