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Serviço Social da Indústria - SESI/SP

- Professor de Educação Básica I


(Auxiliar Docente/Ensino Fundamental – 1º ao 5º
ano / Programa de Alfabetização Intensiva - PAI)

Língua Portuguesa
Interpretação de Texto: As questões de Língua Portuguesa têm por objetivo verificar a capacidade de leitura,
compreensão e interpretação de texto, bem como, a habilidade de usar a linguagem como meio para produzir,
expressar e comunicar ideias em diferentes situações .................................................................................................1
Tipos de textos ......................................................................................................................................................................3
Linguagem verbal e não verbal ..........................................................................................................................................4
Conteúdo do texto; Relações semântico-discursivas entre ideias no texto e os recursos linguísticos usados em
função dessas relações; Modalizações no texto e os recursos linguísticos usados em função dessas
modalizações.........................................................................................................................................................................6
Níveis de linguagem; Linguagem denotativa e linguagem conotativa ..................................................................... 11
Figuras de linguagem (comparação, metáfora, eufemismo, prosopopeia, onomatopeia, antítese, paradoxo,
hipérbole, perífrase, silepse, hipérbato, metonímia, ironia, sinestesia, aliteração) .............................................. 12
Fenômenos semânticos: sinonímia, homonímia, antonímia, paronímia, hiponímia, hiperonímia, ambiguidade
.............................................................................................................................................................................................. 15
Ordem das palavras/orações no enunciado; Estrutura do enunciado .................................................................... 18
Discursos direto e indireto .............................................................................................................................................. 19
Escrita do texto .................................................................................................................................................................. 20

Conhecimentos Pedagógicos
BRASIL LEI Nº 9394/96 DE 20 DE DEZEMBRO DE 1996. Estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional
– LDB; .....................................................................................................................................................................................1
BRASIL RESOLUÇÃO CNE/CEB Nº 4, DE 13 DE JULHO DE 2010. Define Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais
para a Educação Básica; ................................................................................................................................................... 15
DOLZ, J. e SCHNEUWLY, B. Gêneros O r a i s e escritos na escola. Campinas (SP): Mercado de Letras; 2004; . 24
FERREIRO, Emília. Reflexões sobre a alfabetização. São Paulo: Cortez, 2000; ...................................................... 28
COLELLO, S.M.G. A escola que (não) ensina a escrever. São Paulo: Editora Paz e Terra, 2012;.......................... 31
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra; .. 33
LA TAILLE, Yves et alii. Piaget, Vygotsky, Wallon: teorias psicogenéticas em discussão. São Paulo: Summus,
1992; .................................................................................................................................................................................... 43
LERNER, Delia – Ler e escrever na escola o real, o possível e o necessário – Artmed, 2002; .............................. 47
MANTOAN, Maria Teresa Eglér. PRIETO, Rosângela Gavioli. Inclusão Escolar: pontos e contrapontos. São
Paulo: Summus, 2006; ...................................................................................................................................................... 51
RIOS, T. A. Compreender e ensinar: por uma docência da melhor qualidade. 2ª ed. São Paulo: Cortez, 2001;......
.............................................................................................................................................................................................. 54
SMOLE, Kátia Stocco et al. Ler, escrever e resolver problemas: habilidades básicas para aprender matemática.
Porto Alegre: Artmed, 2001; ........................................................................................................................................... 56
TEBEROSKY, Ana; COLOMER, Teresa. Aprender a ler e a escrever: uma proposta construtivista. Porto Alegre:
Artmed, 2003; .................................................................................................................................................................... 63
WEISZ, Telma. O Diálogo entre o ensino e a aprendizagem. São Paulo: Ática, 2002; ........................................... 65
ZABALA, Antoni. A prática educativa: como ensinar. Porto Alegre: ArtMed, 1998; .............................................. 70

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VILLAS BOAS, Benigna Maria de Freitas (org.). Avaliação formativa: Práticas inovadoras. Campinas, SP:
Papirus, 2011; .................................................................................................................................................................... 73
ARANHA, Maria Salete Fábio. Projeto Escola Viva: garantindo o acesso e permanência de todos os alunos na
escola: necessidades educacionais especiais dos alunos Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de
Educação Especial, 2005; ................................................................................................................................................. 78
DEMO, P. Educar pela Pesquisa. 8ª Ed. Campinas: Autores Associados, 2007; ...................................................... 82
BRASIL LEI Nº 13.146, DE 6 DE JULHO DE 2015. Institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência
(Estatuto da Pessoa com Deficiência);........................................................................................................................... 84
SOLÉ. I. Estratégias de Leitura. Porto Alegre: Artmed, 1998; .................................................................................101
MORAN, José Manoel; MASETTO, Marcos. Novas tecnologias e mediação pedagógica. Campinas: Papirus, 2000.
............................................................................................................................................................................................104

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LÍNGUA PORTUGUESA

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APOSTILAS OPÇÃO
08) Verificar, com atenção e cuidado, o enunciado de cada
questão;
09) O autor defende ideias e você deve percebê-las;
Fonte: http://portuguesemfoco.com/09-dicas-para-melhorar-a-
interpretacao-de-textos-em-provas/

Não saber interpretar corretamente um texto pode gerar


inúmeros problemas, afetando não só o desenvolvimento
Interpretação de Texto: As questões de profissional, mas também o desenvolvimento pessoal. O mundo
Língua Portuguesa têm por objetivo verificar moderno cobra de nós inúmeras competências, uma delas é a
a capacidade de leitura, compreensão proficiência na língua, e isso não se refere apenas a uma boa
e interpretação de texto, bem como, a comunicação verbal, mas também à capacidade de entender
habilidade de usar a linguagem aquilo que está sendo lido. O analfabetismo funcional está
como meio para produzir, relacionado com a dificuldade de decifrar as entrelinhas do
expressar e comunicar ideias código, pois a leitura mecânica é bem diferente da leitura
em diferentes situações. interpretativa, aquela que fazemos ao estabelecer analogias e
criar inferências. Para que você não sofra mais com a análise de
textos, elaboramos algumas dicas para você seguir e tirar suas
dúvidas.
A leitura é o meio mais importante para chegarmos ao
conhecimento, portanto, precisamos aprender a ler e não
Uma interpretação de texto competente depende de
apenas “passar os olhos sobre algum texto”. Ler, na verdade,
inúmeros fatores, mas nem por isso deixaremos de contemplar
é dar sentido à vida e ao mundo, é dominar a riqueza de
alguns que se fazem essenciais para esse exercício. Muitas vezes,
qualquer texto, seja literário, informativo, persuasivo, narrativo,
apressados, descuidamo-nos das minúcias presentes em um
possibilidades que se misturam e as tornam infinitas. É preciso,
texto, achamos que apenas uma leitura já se faz suficiente, o que
para uma boa leitura, exercitar-se na arte de pensar, de captar
não é verdade. Interpretar demanda paciência e, por isso, sempre
ideias, de investigar as palavras… Para isso, devemos entender,
releia, pois uma segunda leitura pode apresentar aspectos
primeiro, algumas definições importantes:
surpreendentes que não foram observados anteriormente.
Para auxiliar na busca de sentidos do texto, você pode também
Texto
retirar dele os tópicos frasais presentes em cada parágrafo,
O texto (do latim textum: tecido) é uma unidade básica de
isso certamente auxiliará na apreensão do conteúdo exposto.
organização e transmissão de ideias, conceitos e informações de
Lembre-se de que os parágrafos não estão organizados, pelo
modo geral. Em sentido amplo, uma escultura, um quadro, um
menos em um bom texto, de maneira aleatória, se estão no lugar
símbolo, um sinal de trânsito, uma foto, um filme, uma novela de
que estão, é porque ali se fazem necessários, estabelecendo
televisão também são formas textuais.
uma relação hierárquica do pensamento defendido, retomando
ideias supracitadas ou apresentando novos conceitos.
Interlocutor
É a pessoa a quem o texto se dirige.
Para finalizar, concentre-se nas ideias que de fato foram
explicitadas pelo autor: os textos argumentativos não costumam
Texto-modelo
conceder espaço para divagações ou hipóteses, supostamente
“Não é preciso muito para sentir ciúme. Bastam três – você,
contidas nas entrelinhas. Devemos nos ater às ideias do autor,
uma pessoa amada e uma intrusa. Por isso todo mundo sente.
isso não quer dizer que você precise ficar preso na superfície
Se sua amiga disser que não, está mentindo ou se enganando.
do texto, mas é fundamental que não criemos, à revelia do
Quem agüenta ver o namorado conversando todo animado com
autor, suposições vagas e inespecíficas. Quem lê com cuidado
outra menina sem sentir uma pontinha de não-sei-o-quê? (…)
certamente incorre menos no risco de tornar-se um analfabeto
É normal você querer o máximo de atenção do seu namorado,
funcional e ler com atenção é um exercício que deve ser
das suas amigas, dos seus pais. Eles são a parte mais importante
praticado à exaustão, assim como uma técnica, que fará de nós
da sua vida.”
leitores proficientes e sagazes. Agora que você já conhece nossas
(Revista Capricho)
dicas, desejamos a você uma boa leitura e bons estudos!
Modelo de Perguntas
1) Considerando o texto-modelo, é possível identificar quem
Fonte: http://portugues.uol.com.br/redacao/dicas-para-uma-boa-
é o seu interlocutor preferencial?
interpretacao-texto.html
Um leitor jovem.
Questões
2) Quais são as informações (explícitas ou não) que permitem
a você identificar o interlocutor preferencial do texto?
O uso da bicicleta no Brasil
Do contexto podemos extrair indícios do interlocutor
preferencial do texto: uma jovem adolescente, que pode ser
A utilização da bicicleta como meio de locomoção no Brasil
acometida pelo ciúme. Observa-se ainda , que a revista Capricho
ainda conta com poucos adeptos, em comparação com países
tem como público-alvo preferencial: meninas adolescentes.
como Holanda e Inglaterra, por exemplo, nos quais a bicicleta
A linguagem informal típica dos adolescentes.
é um dos principais veículos nas ruas. Apesar disso, cada vez
mais pessoas começam a acreditar que a bicicleta é, numa
09 DICAS PARA MELHORAR A INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS
comparação entre todos os meios de transporte, um dos que
01) Ler todo o texto, procurando ter uma visão geral do
oferecem mais vantagens.
assunto;
02) Se encontrar palavras desconhecidas, não interrompa a
A bicicleta já pode ser comparada a carros, motocicletas
leitura;
e a outros veículos que, por lei, devem andar na via e jamais
03) Ler, ler bem, ler profundamente, ou seja, ler o texto pelo
na calçada. Bicicletas, triciclos e outras variações são todos
menos duas vezes;
considerados veículos, com direito de circulação pelas ruas e
04) Inferir;
prioridade sobre os automotores.
05) Voltar ao texto tantas quantas vezes precisar;
06) Não permitir que prevaleçam suas ideias sobre as do
Alguns dos motivos pelos quais as pessoas aderem à bicicleta
autor;
no dia a dia são: a valorização da sustentabilidade, pois as bikes
07) Fragmentar o texto (parágrafos, partes) para melhor
não emitem gases nocivos ao ambiente, não consomem petróleo
compreensão;
e produzem muito menos sucata de metais, plásticos e borracha;

Língua Portuguesa 1
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APOSTILAS OPÇÃO
a diminuição dos congestionamentos por excesso de veículos
motorizados, que atingem principalmente as grandes cidades; o
favorecimento da saúde, pois pedalar é um exercício físico muito
bom; e a economia no combustível, na manutenção, no seguro e,
claro, nos impostos.

No Brasil, está sendo implantado o sistema de


compartilhamento de bicicletas. Em Porto Alegre, por exemplo,
o BikePOA é um projeto de sustentabilidade da Prefeitura, em
parceria com o sistema de Bicicletas SAMBA, com quase um
ano de operação. Depois de Rio de Janeiro, São Paulo, Santos,
Sorocaba e outras cidades espalhadas pelo país aderirem a
esse sistema, mais duas capitais já estão com o projeto pronto
em 2013: Recife e Goiânia. A ideia do compartilhamento é
semelhante em todas as cidades. Em Porto Alegre, os usuários (http://iiiconcursodecartumuniversitario.blogspot.com.br)
devem fazer um cadastro pelo site. O valor do passe mensal é
R$ 10 e o do passe diário, R$ 5, podendo-se utilizar o sistema Considerando a relação entre o título e a imagem, é correto
durante todo o dia, das 6h às 22h, nas duas modalidades. Em concluir que um dos temas diretamente explorados no cartum é
todas as cidades que já aderiram ao projeto, as bicicletas estão (A) o aumento da circulação de ciclistas nas vias públicas.
espalhadas em pontos estratégicos. (B) a má qualidade da pavimentação em algumas ruas.
(C) a arbitrariedade na definição dos valores das multas.
A cultura do uso da bicicleta como meio de locomoção (D) o número excessivo de automóveis nas ruas.
não está consolidada em nossa sociedade. Muitos ainda não (E) o uso de novas tecnologias no transporte público.
sabem que a bicicleta já é considerada um meio de transporte,
ou desconhecem as leis que abrangem a bike. Na confusão de 04. Considere o cartum de Douglas Vieira.
um trânsito caótico numa cidade grande, carros, motocicletas, Televisão
ônibus e, agora, bicicletas, misturam-se, causando, muitas vezes,
discussões e acidentes que poderiam ser evitados.

Ainda são comuns os acidentes que atingem ciclistas. A


verdade é que, quando expostos nas vias públicas, eles estão
totalmente vulneráveis em cima de suas bicicletas. Por isso
é tão importante usar capacete e outros itens de segurança. A
maior parte dos motoristas de carros, ônibus, motocicletas e
caminhões desconhece as leis que abrangem os direitos dos
ciclistas. Mas muitos ciclistas também ignoram seus direitos
e deveres. Alguém que resolve integrar a bike ao seu estilo de
vida e usá-la como meio de locomoção precisa compreender
que deverá gastar com alguns apetrechos necessários para
poder trafegar. De acordo com o Código de Trânsito Brasileiro, (http://iiiconcursodecartumuniversitario.blogspot.com.br.
as bicicletas devem, obrigatoriamente, ser equipadas com Adaptado)
campainha, sinalização noturna dianteira, traseira, lateral e nos
pedais, além de espelho retrovisor do lado esquerdo. É correto concluir que, de acordo com o cartum,
(A) os tipos de entretenimento disponibilizados pelo livro ou
(Bárbara Moreira, http://www.eusoufamecos.net. Adaptado) pela TV são equivalentes.
(B) o livro, em comparação com a TV, leva a uma imaginação
01. De acordo com o texto, o uso da bicicleta como meio de mais ativa.
locomoção nas metrópoles brasileiras (C) o indivíduo que prefere ler a assistir televisão é alguém
(A) decresce em comparação com Holanda e Inglaterra que não sabe se distrair.
devido à falta de regulamentação. (D) a leitura de um bom livro é tão instrutiva quanto assistir
(B) vem se intensificando paulatinamente e tem sido a um programa de televisão.
incentivado em várias cidades. (E) a televisão e o livro estimulam a imaginação de modo
(C) tornou-se, rapidamente, um hábito cultivado pela idêntico, embora ler seja mais prazeroso.
maioria dos moradores.
(D) é uma alternativa dispendiosa em comparação com os Leia o texto para responder às questões:
demais meios de transporte.
(E) tem sido rejeitado por consistir em uma atividade Propensão à ira de trânsito
arriscada e pouco salutar.
Dirigir um carro é estressante, além de inerentemente
02. A partir da leitura, é correto concluir que um dos perigoso. Mesmo que o indivíduo seja o motorista mais seguro
objetivos centrais do texto é do mundo, existem muitas variáveis de risco no trânsito, como
(A) informar o leitor sobre alguns direitos e deveres do clima, acidentes de trânsito e obras nas ruas.
ciclista. E com relação a todas as outras pessoas nas ruas? Algumas
(B) convencer o leitor de que circular em uma bicicleta é não são apenas maus motoristas, sem condições de dirigir, mas
mais seguro do que dirigir um carro. também se engajam num comportamento de risco – algumas até
(C) mostrar que não há legislação acerca do uso da bicicleta agem especificamente para irritar o outro motorista ou impedir
no Brasil. que este chegue onde precisa.
(D) explicar de que maneira o uso da bicicleta como meio de Essa é a evolução de pensamento que alguém poderá
locomoção se consolidou no Brasil. ter antes de passar para a ira de trânsito de fato, levando um
(E) defender que, quando circular na calçada, o ciclista deve motorista a tomar decisões irracionais.
dar prioridade ao pedestre. Dirigir pode ser uma experiência arriscada e emocionante.
Para muitos de nós, os carros são a extensão de nossa
03. Considere o cartum de Evandro Alves. personalidade e podem ser o bem mais valioso que possuímos.
Afogado no Trânsito Dirigir pode ser a expressão de liberdade para alguns, mas
também é uma atividade que tende a aumentar os níveis de

Língua Portuguesa 2
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APOSTILAS OPÇÃO
estresse, mesmo que não tenhamos consciência disso no Informativo: Tem a função de informar o leitor a respeito
momento. de algo ou alguém, é o texto de uma notícia de jornal, de revista,
Dirigir é também uma atividade comunitária. Uma vez que folhetos informativos, propagandas. Uso da função referencial
entra no trânsito, você se junta a uma comunidade de outros da linguagem, 3ª pessoa do singular.
motoristas, todos com seus objetivos, medos e habilidades ao
volante. Os psicólogos Leon James e Diane Nahl dizem que um Descrição: Um texto em que se faz um retrato por escrito
dos fatores da ira de trânsito é a tendência de nos concentrarmos de um lugar, uma pessoa, um animal ou um objeto. A classe de
em nós mesmos, descartando o aspecto comunitário do ato de palavras mais utilizada nessa produção é o adjetivo, pela sua
dirigir. função caracterizadora. Numa abordagem mais abstrata, pode-
Como perito do Congresso em Psicologia do Trânsito, o se até descrever sensações ou sentimentos. Não há relação de
Dr. James acredita que a causa principal da ira de trânsito não anterioridade e posterioridade. Significa “criar” com palavras a
são os congestionamentos ou mais motoristas nas ruas, e sim imagem do objeto descrito. É fazer uma descrição minuciosa do
como nossa cultura visualiza a direção agressiva. As crianças objeto ou da personagem a que o texto se refere.
aprendem que as regras normais em relação ao comportamento
e à civilidade não se aplicam quando dirigimos um carro. Elas Narração: Modalidade em que se conta um fato, fictício ou
podem ver seus pais envolvidos em comportamentos de disputa não, que ocorreu num determinado tempo e lugar, envolvendo
ao volante, mudando de faixa continuamente ou dirigindo em certos personagens. Refere-se a objetos do mundo real. Há
alta velocidade, sempre com pressa para chegar ao destino. uma relação de anterioridade e posterioridade. O tempo verbal
Para complicar as coisas, por vários anos psicólogos predominante é o passado. Estamos cercados de narrações
sugeriam que o melhor meio para aliviar a raiva era descarregar desde as que nos contam histórias infantis, como o “Chapeuzinho
a frustração. Estudos mostram, no entanto, que a descarga de Vermelho” ou a “Bela Adormecida”, até as picantes piadas do
frustrações não ajuda a aliviar a raiva. Em uma situação de ira cotidiano.
de trânsito, a descarga de frustrações pode transformar um
incidente em uma violenta briga. Dissertação: Dissertar é o mesmo que desenvolver ou
Com isso em mente, não é surpresa que brigas violentas explicar um assunto, discorrer sobre ele. Assim, o texto
aconteçam algumas vezes. A maioria das pessoas está dissertativo pertence ao grupo dos textos expositivos,
predisposta a apresentar um comportamento irracional quando juntamente com o texto de apresentação científica, o relatório,
dirige. Dr. James vai ainda além e afirma que a maior parte das o texto didático, o artigo enciclopédico. Em princípio, o texto
pessoas fica emocionalmente incapacitada quando dirige. O que dissertativo não está preocupado com a persuasão e sim, com
deve ser feito, dizem os psicólogos, é estar ciente de seu estado a transmissão de conhecimento, sendo, portanto, um texto
emocional e fazer as escolhas corretas, mesmo quando estiver informativo.
tentado a agir só com a emoção.
(Jonathan Strickland. Disponível em: http://carros.hsw.uol.com.br/ Argumentativo: Os textos argumentativos, ao contrário, têm
furia-no-transito1 .htm. Acesso em: 01.08.2013. Adaptado) por finalidade principal persuadir o leitor sobre o ponto de vista
do autor a respeito do assunto. Quando o texto, além de explicar,
05. Tomando por base as informações contidas no texto, é também persuade o interlocutor e modifica seu comportamento,
correto afirmar que temos um texto dissertativo-argumentativo.
(A) os comportamentos de disputa ao volante acontecem à Exemplos: texto de opinião, carta do leitor, carta de
medida que os motoristas se envolvem em decisões conscientes. solicitação, deliberação informal, discurso de defesa e acusação
(B) segundo psicólogos, as brigas no trânsito são causadas (advocacia), resenha crítica, artigos de opinião ou assinados,
pela constante preocupação dos motoristas com o aspecto editorial.
comunitário do ato de dirigir.
(C) para Dr. James, o grande número de carros nas ruas é Exposição: Apresenta informações sobre assuntos, expõe
o principal motivo que provoca, nos motoristas, uma direção ideias, explica, avalia, reflete. Estrutura básica; ideia principal;
agressiva. desenvolvimento; conclusão. Uso de linguagem clara. Ex:
(D) o ato de dirigir um carro envolve uma série de ensaios, artigos científicos, exposições,etc.
experiências e atividades não só individuais como também
sociais. Injunção: Indica como realizar uma ação. É também
(E) dirigir mal pode estar associado à falta de controle das utilizado para predizer acontecimentos e comportamentos.
emoções positivas por parte dos motoristas. Utiliza linguagem objetiva e simples. Os verbos são, na sua
maioria, empregados no modo imperativo. Há também o uso do
Respostas futuro do presente. Ex: Receita de um bolo e manuais.
1. (B) / 2. (A) / 3. (D) / 4. (B) / 5. (D)
Diálogo: é uma conversação estabelecida entre duas ou mais
pessoas. Pode conter marcas da linguagem oral, como pausas e
retomadas.
Tipos de textos; Entrevista: é uma conversação entre duas ou mais pessoas
(o entrevistador e o entrevistado), na qual perguntas são feitas
pelo entrevistador para obter informação do entrevistado. Os
repórteres entrevistam as suas fontes para obter declarações
que validem as informações apuradas ou que relatem situações
Texto Literário: expressa a opinião pessoal do autor vividas por personagens. Antes de ir para a rua, o repórter recebe
que também é transmitida através de figuras, impregnado uma pauta que contém informações que o ajudarão a construir
de subjetivismo. Ex: um romance, um conto, uma poesia... a matéria. Além das informações, a pauta sugere o enfoque a ser
(Conotação, Figurado, Subjetivo, Pessoal). trabalhado assim como as fontes a serem entrevistadas. Antes da
entrevista o repórter costuma reunir o máximo de informações
Texto Não-Literário: preocupa-se em transmitir uma disponíveis sobre o assunto a ser abordado e sobre a pessoa que
mensagem da forma mais clara e objetiva possível. Ex: uma será entrevistada. Munido deste material, ele formula perguntas
notícia de jornal, uma bula de medicamento. (Denotação, Claro, que levem o entrevistado a fornecer informações novas e
Objetivo, Informativo). relevantes. O repórter também deve ser perspicaz para perceber
O objetivo do texto é passar conhecimento para o leitor. se o entrevistado mente ou manipula dados nas suas respostas,
Nesse tipo textual, não se faz a defesa de uma ideia. Exemplos fato que costuma acontecer principalmente com as fontes
de textos explicativos são os encontrados em manuais de oficiais do tema. Por exemplo, quando o repórter vai entrevistar
instruções. o presidente de uma instituição pública sobre um problema que

Língua Portuguesa 3
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APOSTILAS OPÇÃO
está afetando o fornecimento de serviços à população, ele tende Os trens da Companhia do Metropolitano de São Paulo (metrô)
a evitar as perguntas e a querer reverter a resposta para o que circulam com velocidade média até quatro vezes maior do
considera positivo na instituição. É importante que o repórter que a dos carros nas ruas da metrópole. No horário de pico da
seja insistente. O entrevistador deve conquistar a confiança noite, entre 17h e 20h, os usuários do transporte público sobre
do entrevistado, mas não tentar dominá-lo, nem ser por ele trilhos deslocam-se a 32,4 quilômetros por hora (km/h), em
dominado. Caso contrário, acabará induzindo as respostas ou média. Enquanto isso, os paulistanos que estão atrás do volante
perdendo a objetividade. trafegam a 7,6 km/h, quase no ritmo de um pedestre.
As entrevistas apresentam com frequência alguns sinais de Na manhã, entre 7h e 10h, os números sofrem algumas alterações.
pontuação como o ponto de interrogação, o travessão, aspas, O carro melhora seu desempenho e atinge a velocidade de uma
reticências, parêntese e às vezes colchetes, que servem para dar bicicleta, 20,6 km/h. O metrô mantém os 32,4 km/h, conforme
ao leitor maior informações que ele supostamente desconhece. mostram os dados obtidos pelo estado por meio da Lei de
O título da entrevista é um enunciado curto que chama a atenção Acesso à Informação. As velocidades dos carros foram medidas
do leitor e resume a ideia básica da entrevista. Pode estar todo em pela Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) no corredor
letra maiúscula e recebe maior destaque da página. Na maioria modelo da cidade – Avenidas Eusébio Matoso e Rebouças e Rua
dos casos, apenas as preposições ficam com a letra minúscula. O da Consolação.
subtítulo introduz o objetivo principal da entrevista e não vem Circulam diariamente pela cidade 4,2 milhões de
seguido de ponto final. É um pequeno texto e vem em destaque carros. O metrô paulistano recebe 4,7 milhões de
também. A fotografia do entrevistado aparece normalmente passageiros, provenientes de toda a região metropolitana.
na primeira página da entrevista e pode estar acompanhada Embora o metrô seja mais rápido, muitos paulistanos
por uma frase dita por ele. As frases importantes ditas pelo preferem usar carro.
entrevistado e que aparecem em destaque nas outras páginas da
entrevista são chamadas de “olho”. Disponível em: <http://exame.abril.com.br/brasil/noticias/
velocidade-do-metro-upera-muito-a-dos-carros-em-sp>. Acesso em:
Crônica: Assim como a fábula e o enigma, a crônica é um 7/3/2014, com adaptações.
gênero narrativo. Como diz a origem da palavra (Cronos é o deus
grego do tempo), narra fatos históricos em ordem cronológica, 1. (SECRETARIA DE ESTADO DA ADMINISTRAÇÃO
ou trata de temas da atualidade. Mas não é só isso. Lendo esse PÚBLICA DO DISTRITO FEDERAL/DF – TÉCNICO EM
texto, você conhecerá as principais características da crônica, ELETRÔNICA – IADES/2014) Quanto à tipologia, o texto lido é,
técnicas de sua redação e terá exemplos. predominantemente,
Uma das mais famosas crônicas da história da literatura luso- (A) descritivo, pois está voltado apenas para a representação
brasileira corresponde à definição de crônica como “narração das características dos trens do metrô e dos carros de São Paulo.
histórica”. É a “Carta de Achamento do Brasil”, de Pero Vaz de (B) narrativo, pois desenvolve uma sequência de
Caminha, na qual são narrados ao rei português, D. Manuel, o acontecimentos durante alguns períodos do dia em São Paulo.
descobrimento do Brasil e como foram os primeiros dias que (C) dissertativo, pois apresenta e analisa dados sobre a
os marinheiros portugueses passaram aqui. Mas trataremos, velocidade dos trens do metrô de São Paulo e a dos carros que
sobretudo, da crônica como gênero que comenta assuntos do dia circulam pela metrópole.
a dia. Para começar, uma crônica sobre a crônica, de Machado (D) narrativo, pois relata episódios sobre os horários de pico
de Assis: de São Paulo.
(E) dissertativo, pois apresenta e discute uma opinião sobre
O nascimento da crônica a qualidade do serviço prestado pelo metrô de São Paulo.
“Há um meio certo de começar a crônica por uma trivialidade. Resposta
É dizer: Que calor! Que desenfreado calor! Diz-se isto, agitando
as pontas do lenço, bufando como um touro, ou simplesmente 1. Resposta: C
sacudindo a sobrecasaca. Resvala-se do calor aos fenômenos O texto apresenta características da descrição, mas, como é
atmosféricos, fazem-se algumas conjeturas acerca do sol e destacado no enunciado: predomina o dissertativo, analisando
da lua, outras sobre a febre amarela, manda-se um suspiro a dados que dão ao autor base para argumentação.
Petrópolis, e la glace est rompue está começada a crônica. (...)”

(Machado de Assis. “Crônicas Escolhidas”. São Paulo: Editora


Ática, 1994)
Linguagem verbal
Publicada em jornal ou revista destina-se à leitura diária e não verbal;
ou semanal e trata de acontecimentos cotidianos. A crônica se
diferencia no jornal por não buscar exatidão da informação.
Diferente da notícia, que procura relatar os fatos que acontecem, Não devemos confundir língua com escrita, pois são dois
a crônica os analisa, dá-lhes um colorido emocional, mostrando meios de comunicação distintos. A escrita representa um estágio
aos olhos do leitor uma situação comum, vista por outro ângulo, posterior de uma língua. A língua falada é mais espontânea,
singular. abrange a comunicação linguística em toda sua totalidade.
O leitor pressuposto da crônica é urbano e, em princípio, Além disso, é acompanhada pelo tom de voz, algumas vezes
um leitor de jornal ou de revista. A preocupação com esse leitor por mímicas, incluindo-se fisionomias. A língua escrita não é
é que faz com que, dentre os assuntos tratados, o cronista dê apenas a representação da língua falada, mas sim um sistema
maior atenção aos problemas do modo de vida urbano, do mais disciplinado e rígido, uma vez que não conta com o jogo
mundo contemporâneo, dos pequenos acontecimentos do dia a fisionômico, as mímicas e o tom de voz do falante.
dia comuns nas grandes cidades.
Jornalismo e literatura: É assim que podemos dizer que No Brasil, por exemplo, todos falam a língua portuguesa,
a crônica é uma mistura de jornalismo e literatura. De um mas existem usos diferentes da língua devido a diversos fatores.
recebe a observação atenta da realidade cotidiana e do outro, Dentre eles, destacam-se:
a construção da linguagem, o jogo verbal. Algumas crônicas são
editadas em livro, para garantir sua durabilidade no tempo. Fatores regionais: é possível notar a diferença do português
falado por um habitante da região nordeste e outro da região
Questão sudeste do Brasil. Dentro de uma mesma região, também há
variações no uso da língua. No estado do Rio Grande do Sul, por
Velocidade do metrô supera muito a dos carros em SP exemplo, há diferenças entre a língua utilizada por um cidadão

Língua Portuguesa 4
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que vive na capital e aquela utilizada por um cidadão do interior A informação é permeada de subjetividade e influenciada
do estado. pela presença do interlocutor.

Fatores culturais: o grau de escolarização e a formação Recursos: signos acústicos e extralinguísticos, gestos,
cultural de um indivíduo também são fatores que colaboram entorno físico e psíquico
para os diferentes usos da língua. Uma pessoa escolarizada
utiliza a língua de uma maneira diferente da pessoa que não teve Língua Escrita:
acesso à escola.
Palavra gráfica
Fatores contextuais: nosso modo de falar varia de acordo
com a situação em que nos encontramos: quando conversamos É mais objetiva.
com nossos amigos, não usamos os termos que usaríamos se
estivéssemos discursando em uma solenidade de formatura. É possível esquecer o interlocutor

Fatores profissionais: o exercício de algumas atividades É mais sintética.


requer o domínio de certas formas de língua chamadas
línguas técnicas. Abundantes em termos específicos, essas A redundância é um recurso estilístico
formas têm uso praticamente restrito ao intercâmbio técnico
de engenheiros, químicos, profissionais da área de direito e da Comunicação unilateral.
informática, biólogos, médicos, linguistas e outros especialistas.
Ganha em permanência
Fatores naturais: o uso da língua pelos falantes sofre
influência de fatores naturais, como idade e sexo. Uma criança Mais correção na elaboração das frases.
não utiliza a língua da mesma maneira que um adulto, daí falar-
se em linguagem infantil e linguagem adulta. Evita a improvisação

Fala Pobreza de recursos não-linguísticos; uso de letras, sinais de


pontuação
É a utilização oral da língua pelo indivíduo. É um ato
individual, pois cada indivíduo, para a manifestação da fala, pode É mais precisa e elaborada.
escolher os elementos da língua que lhe convém, conforme seu
gosto e sua necessidade, de acordo com a situação, o contexto, Ausência de cacoetes linguísticos e vulgarismos
sua personalidade, o ambiente sociocultural em que vive,
etc. Desse modo, dentro da unidade da língua, há uma grande O contexto extralinguístico tem menos influência
diversificação nos mais variados níveis da fala. Cada indivíduo,
além de conhecer o que fala, conhece também o que os outros Registros da língua falada
falam; é por isso que somos capazes de dialogar com pessoas
dos mais variados graus de cultura, embora nem sempre a Há pelo menos dois níveis de língua falada: a culta ou padrão
linguagem delas seja exatamente como a nossa. e a coloquial ou popular. A linguagem coloquial também aparece
nas gírias, na linguagem familiar, na linguagem vulgar e nos
Níveis da fala regionalismos e dialetos.
Essas variações são explicadas por vários fatores:
Devido ao caráter individual da fala, é possível observar Diversidade de situações em que se encontra o falante: uma
alguns níveis: solenidade ou uma festa entre amigos.
Grau de instrução do falante e também do ouvinte.
Nível coloquial-popular: é a fala que a maioria das pessoas Grupo a que pertence o falante. Este é um fator determinante
utiliza no seu dia a dia, principalmente em situações informais. na formação da gíria.
Esse nível da fala é mais espontâneo, ao utiizá-lo, não nos Localização geográfica: há muitas diferenças entre o falar de
preocupamos em saber se falamos de acordo ou não com as um nordestino e o de um gaúcho, por exemplo. Essas diferenças
regras formais estabelecidas pela língua. constituem os regionalismos e os dialetos.

Nível formal-culto: é o nível da fala normalmente utilizado Atenção: o dialeto é a variedade regional de uma língua.
pelas pessoas em situações formais. Caracteriza-se por um Quando as diferenças regionais não são suficientes para
cuidado maior com o vocabulário e pela obediência às regras constituir um dialeto, utiliza-se os termos regionalismos ou
gramaticais estabelecidas pela língua. falares para designá-las. E as pichações têm características da
linguagem falada.
Diferenças existentes entre a língua falada e a escrita
A língua falada como recurso literário
Língua Falada:
A transcrição da língua falada é um recurso cada vez mais
Palavra sonora; explorado pela literatura graças à vivacidade que confere ao
texto.
Requer a presença dos interlocutores; Observe, no trecho seguinte, algumas das características da
língua falada, tais como o uso de gírias e de expressões populares
Ganha em vivacidade; e regionais; incorreções gramaticais (erros na conjugação verbal
e colocação de pronomes) e repetições:
É espontânea e imediata;
Exemplo:
Uso de palavras-curinga, de frases feitas; “– Menino, eu nada disto sei dizer. A outro eu não falava, mas
a ti eu digo. Eu não sei que gosto tem esse bicho de mulher. Eu
É repetitiva e redundante; vi Aparício se pegando nas danças, andar por aí atrás das outras,
contar histórias de namoro. E eu nada. Pensei que fosse doença,
O contexto extralinguístico é importante; e quem sabe não é? Cantador assim como eu, Bentinho, é mesmo
que novilho capado. Tenho desgosto. A voz de Domício era de
A expressividade permite prescindir de certas regras; quem falava para se confessar:

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APOSTILAS OPÇÃO
– Desgosto eu tenho, pra que negar?... “ Esta aprendizagem tem grande valor, uma vez que permite
(Pedra Bonita, de José Lins do Rego) melhorar a compreensão da leitura, da comunicação oral e a ter
melhor domínio da linguagem através da expressão escrita com
Registros da língua escrita uma estrutura mais coerente. Por outro lado, esta compreensão
traz mais eficiência para a comunicação.
Além dos dois grandes níveis – língua culta e língua
coloquial –, os registros escritos são tão distintos quanto as Para compreendermos um texto é necessário descobrir
necessidades humanas de comunicação. Destacam-se, entre sua estrutura interna; nela encontraremos ideias principais
outros, os registros jornalísticos, jurídicos, científicos, literários e secundárias e precisamos descobrir como essas ideias se
e epistolares. relacionam.

Fontes: http://www.soportugues.com.br/secoes/seman/seman4. As ideias principais giram em torno do tema central, de um


php assunto-núcleo contida no texto; a ela somam-se as secundárias,
http://www.vestibular1.com.br/redacao/red020.htm que só são importantes enquanto corroboradas do tema central.
Se há ideias principais e secundárias, como ocorre relação
entre elas?

Muitas vezes, a técnica usada é a de explanação de ideias


Conteúdo do texto; Relações semântico- “em cadeia”; ocorre a explanação da ideia básica e, a seguir, o
discursivas entre ideias no texto e os recursos desdobramento dessa ideia nos parágrafos subsequentes, a fim
linguísticos usados em função dessas de discutir, aprofundar o assunto.
relações; Modalizações no
texto e os recursos linguísticos A clareza e a objetividade devem caracterizar a estrutura do
usados em função dessas texto, para que as ideias nela contidas possam atingir o propósito
modalizações; de sua mensagem. Tal propósito, por sua vez, pode ser alcançado
através dos mecanismos linguísticos que se associam às relações
de coordenação e subordinação de ideias-conjunções.

Ideias Principais e Ideias Secundárias Vejamos, pois, como uma série de enunciados simples,
coordenados e relacionados pelo sentido, pode articular-se para
Em todo argumento ou raciocínio existem ideias que são formar um período complexo em que haverá uma ideia principal
principais, ou seja, são os pontos destacados desse discurso e outras que lhe servirão de suporte:
pessoal.
Júlia chegou ao Chile em 1985.
Ideias que valorizam determinado ponto de vista. Entretanto,
estas ideias principais contam com o reforço das ideias Ela não contava ainda com seis anos.
secundárias, estas últimas que são muito valiosas e contribuem
com aspectos positivos do ponto de vista pessoal. Ela teve que acompanhar a família.

Saber distinguir a ideia principal das complementares Após a chegada, matriculou-se logo numa escola para
estrangeiros.
Um dos pontos mais importantes na oratória consiste
precisamente em saber diferenciar claramente quais são os Ideia mais importante: a chegada de Júlia.
pontos de destaque numa exposição oral e quais são as ideias Admitamos que o fato considerado mais importante seja
secundárias para poder contribuir com uma estrutura lógica a chegada de Júlia ao Chile. A versão do período poderia ser a
nesta exposição. seguinte:

Contribuir com argumentos ‘“Júlia, que não contava ainda com seis anos, chegou em
1985 ao Chile, para onde ela teve de acompanhar a família,
Do mesmo modo, esta diferenciação também é essencial matriculando-se numa escola para estrangeiros”.
ao aplicar uma das técnicas de estudo mais habituais na Da oração principal “Júlia chegou em 1985 ao Chile”
compreensão de um texto: o sublinhado. Ao sublinhar em dependem as demais.
um texto as ideias destacadas com alguma cor chamativa é
indispensável grifar apenas as informações que são valiosas. Fontes: http://professorvallim.blogspot.com.br/2010/12/
As ideias secundárias de um texto são aquelas que trazem interpretacao-de-texto.html
informação complementar, ideias derivadas de um argumento http://queconceito.com.br/ideias-secundarias
principal. Atuam como se tratasse de um complemento.

Existe uma relação de ligação entre a ideia principal e a Coesão


ideia secundária de um texto, estão relacionadas entre si na
qual o significado completo de uma ideia secundária pode ser Coesão é a conexão, ligação, harmonia entre os elementos de
compreendido melhor em relação ao ponto de vista principal. um texto, como descreve Marina Cabral. Percebemos tal definição
Estas ideias têm uma função de reforço na mensagem, como quando lemos um texto e verificamos que as palavras, as frases
também trazem mais justificativas e aspectos concretos à e os parágrafos estão entrelaçados, um dando continuidade ao
mesma. outro.

Como identificar a ideia principal do texto Os elementos de coesão determinam a transição de ideias
entre as frases e os parágrafos.
O uso das ideias secundárias não significa dar rodeios. Existe
um ponto importante para diferenciar qual é a ideia principal de Observe a coesão presente no texto a seguir:
um texto daquela que é secundária. A ideia principal é aquela
que mesmo com a diminuição do parágrafo continua tendo “Os sem-terra fizeram um protesto em Brasília contra a
o mesmo valor e significado por si só. Em compensação, não política agrária do país, porque consideram injusta a atual
ocorre o mesmo com o resto das ideias. distribuição de terras. Porém o ministro da Agricultura
considerou a manifestação um ato de rebeldia, uma vez que o

Língua Portuguesa 6
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projeto de Reforma Agrária pretende assentar milhares de sem- - pronomes relativos: que, o qual, onde...
terra.” - advérbios de lugar: aqui, aí, lá...

JORDÃO, R., BELLEZI C. Linguagens. São Paulo: Escala Educacional, Ex.: Marcela obteve uma ótima colocação no concurso. Tal
2007, p. 566 resultado demonstra que ela se esforçou bastante para alcançar
o objetivo que tanto almejava.
As palavras destacadas têm o papel de ligar as partes do
texto, podemos dizer que elas são responsáveis pela coesão do - Coesão por substituição: substituição de um nome (pessoa,
texto. objeto, lugar etc.), verbos, períodos ou trechos do texto por uma
Há vários recursos que respondem pela coesão do texto, os palavra ou expressão que tenha sentido próximo, evitando a
principais são: repetição no corpo do texto.

- Palavras de transição: são palavras responsáveis pela Ex.: Porto Alegre pode ser substituída por “a capital gaúcha”;
coesão do texto, estabelecem a interrelação entre os enunciados Castro Alves pode ser substituído por “O Poeta dos Escravos”;
(orações, frases, parágrafos), são preposições, conjunções, João Paulo II: Sua Santidade;
alguns advérbios e locuções adverbiais. Vênus: A Deusa da Beleza.

Veja algumas palavras e expressões de transição e seus Ex.: Castro Alves é autor de uma vastíssima obra literária.
respectivos sentidos: Não é por acaso que o “Poeta dos Escravos” é considerado o mais
importante da geração a qual representou.
- inicialmente (começo, introdução)
- primeiramente (começo, introdução) Assim, a coesão confere textualidade aos enunciados
- primeiramente (começo, introdução) agrupados em conjuntos.
- antes de tudo (começo, introdução)
- desde já (começo, introdução) Fonte: http://brasilescola.uol.com.br/redacao/coesao.htm
- além disso (continuação)
- do mesmo modo (continuação) Questões
- acresce que (continuação)
- ainda por cima (continuação) 01. (TJ/RJ – Analista Judiciário – FGV/2014)
- bem como (continuação)
- outrossim (continuação) Texto 1 – Bem tratada, faz bem
- enfim (conclusão)
- dessa forma (conclusão) Sérgio Magalhães, O Globo
- em suma (conclusão)
- nesse sentido (conclusão) O arquiteto Jaime Lerner cunhou esta frase premonitória: “O
- portanto (conclusão) carro é o cigarro do futuro.” Quem poderia imaginar a reversão
- afinal (conclusão) cultural que se deu no consumo do tabaco?
- logo após (tempo) Talvez o automóvel não seja descartável tão facilmente. Este
- ocasionalmente (tempo) jornal, em uma série de reportagens, nestes dias, mostrou o
- posteriormente (tempo) privilégio que os governos dão ao uso do carro e o desprezo ao
- atualmente (tempo) transporte coletivo. Surpreendentemente, houve entrevistado
- enquanto isso (tempo) que opinou favoravelmente, valorizando Los Angeles – um caso
- imediatamente (tempo) típico de cidade rodoviária e dispersa.
- não raro (tempo) Ainda nestes dias, a ONU reafirmou o compromisso desta
- concomitantemente (tempo) geração com o futuro da humanidade e contra o aquecimento
- igualmente (semelhança, conformidade) global – para o qual a emissão de CO2 do rodoviarismo é agente
- segundo (semelhança, conformidade) básico. (A USP acaba de divulgar estudo advertindo que a
- conforme (semelhança, conformidade) poluição em São Paulo mata o dobro do que o trânsito.)
- assim também (semelhança, conformidade) O transporte também esteve no centro dos protestos de
- de acordo com (semelhança, conformidade) junho de 2013. Lembremos: ele está interrelacionado com a
- daí (causa e consequência) moradia, o emprego, o lazer. Como se vê, não faltam razões para
- por isso (causa e consequência) o debate do tema.
- de fato (causa e consequência)
- em virtude de (causa e consequência) “Como se vê, não faltam razões para o debate do tema.”
- assim (causa e consequência)
- naturalmente (causa e consequência) Substituindo o termo destacado por uma oração
- então (exemplificação, esclarecimento) desenvolvida, a forma correta e adequada seria:
- por exemplo (exemplificação, esclarecimento) (A) para que se debatesse o tema;
- isto é (exemplificação, esclarecimento) (B) para se debater o tema;
- a saber (exemplificação, esclarecimento) (C) para que se debata o tema;
- em outras palavras (exemplificação, esclarecimento) (D) para debater-se o tema;
- ou seja (exemplificação, esclarecimento) (E) para que o tema fosse debatido.
- quer dizer (exemplificação, esclarecimento)
- rigorosamente falando (exemplificação, esclarecimento). 02. (TJ/RJ – Analista Judiciário – FGV/2014)
“A USP acaba de divulgar estudo advertindo que a poluição
Ex.: A prática de atividade física é essencial ao nosso em São Paulo mata o dobro do que o trânsito”.
cotidiano. Assim sendo, quem a pratica possui uma melhor
qualidade de vida. A oração em forma desenvolvida que substitui correta e
adequadamente o gerúndio “advertindo” é:
- Coesão por referência: existem palavras que têm a função (A) com a advertência de;
de fazer referência, são elas: (B) quando adverte;
- pronomes pessoais: eu, tu, ele, me, te, os... (C) em que adverte;
- pronomes possessivos: meu, teu, seu, nosso... (D) no qual advertia;
- pronomes demonstrativos: este, esse, aquele... (E) para advertir.
- pronomes indefinidos: algum, nenhum, todo...

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03. (PC/RJ – Papilocopista – IBF/2014) convencionais a vagas de medicina nas federais foi de 787,56
pontos. Para os cotistas, foi de 761,67 pontos. A diferença
Texto III - Corrida contra o ebola entre eles, portanto, ficou próxima de 3%. IstoÉ entrevistou
educadores e todos disseram que essa distância é mais do que
Já faz seis meses que o atual surto de ebola na África razoável. Na verdade, é quase nada. Se em uma disciplina tão
Ocidental despertou a atenção da comunidade internacional, concorrida quanto medicina um coeficiente de apenas 3%
mas nada sugere que as medidas até agora adotadas para refrear separa os privilegiados, que estudaram em colégios privados,
o avanço da doença tenham sido eficazes. dos negros e pobres, que frequentaram escolas públicas, então
Ao contrário, quase metade das cerca de 4.000 contaminações é justo supor que a diferença mínima pode, perfeitamente, ser
registradas neste ano ocorreram nas últimas três semanas, igualada ou superada no decorrer dos cursos. Depende só da
e as mais de 2.000 mortes atestam a força da enfermidade. A disposição do aluno. Na Universidade Federal do Rio de Janeiro
escalada levou o diretor do CDC (Centro de Controle e Prevenção (UFRJ), uma das mais conceituadas do País, os resultados do
de Doenças) dos EUA, Tom Frieden, a afirmar que a epidemia último vestibular surpreenderam. “A maior diferença entre
está fora de controle. as notas de ingresso de cotistas e não cotistas foi observada
O vírus encontrou ambiente propício para se propagar. no curso de economia”, diz Ângela Rocha, pró-reitora da UFRJ.
De um lado, as condições sanitárias e econômicas dos países “Mesmo assim, essa distância foi de 11%, o que, estatisticamente,
afetados são as piores possíveis. De outro, a Organização não é significativo”.
Mundial da Saúde foi incapaz de mobilizar com celeridade (www.istoe.com.br)
um contingente expressivo de profissionais para atuar nessas
localidades afetadas. Para responder a questão, considere a passagem – A
Verdade que uma parcela das debilidades da OMS se explica diferença entre eles, portanto, ficou próxima de 3%.
por problemas financeiros. Só 20% dos recursos da entidade O pronome eles tem como referente:
vêm de contribuições compulsórias dos países-membros – o (A) candidatos convencionais e cotistas.
restante é formado por doações voluntárias. (B) beneficiados.
A crise econômica mundial se fez sentir também nessa área, (C) dados do Sistema de Seleção Unificada.
e a organização perdeu quase US$ 1 bilhão de seu orçamento (D) dados do Sistema de Seleção Unificada e pontos.
bianual, hoje de quase US$ 4 bilhões. Para comparação, o CDC (E) pontos.
dos EUA contou, somente no ano de 2013, com cerca de US$ 6
bilhões. 05. (TJ/SP – Escrevente Técnico Judiciário –
Os cortes obrigaram a OMS a fazer escolhas difíceis. A agência VUNESP-2014)
passou a dar mais ênfase à luta contra enfermidades globais Leia os quadrinhos para responder a questão.
crônicas, como doenças coronárias e diabetes. O departamento
de respostas a epidemias e pandemias foi dissolvido e integrado
a outros. Muitos profissionais experimentados deixaram seus
cargos.
Pesa contra o órgão da ONU, de todo modo, a demora para
reconhecer a gravidade da situação. Seus esforços iniciais foram
limitados e mal liderados.
O surto agora atingiu proporções tais que já não é mais
possível enfrentá-lo de Genebra, cidade suíça sede da OMS.
Tornou-se crucial estabelecer um comando central na África
Ocidental, com representantes dos países afetados. Um enunciado possível em substituição à fala do terceiro
Espera-se também maior comprometimento das potências quadrinho, em conformidade com a norma- padrão da língua
mundiais, sobretudo Estados Unidos, Inglaterra e França, portuguesa, é:
que possuem antigos laços com Libéria, Serra Leoa e Guiné, (A) Se você ir pelos caminhos da verdade, leve um capacete.
respectivamente. (B) Caso você vá pelos caminhos da verdade, lembra-se de
A comunidade internacional tem diante de si um desafio levar um capacete.
enorme, mas é ainda maior a necessidade de agir com rapidez. (C) Se você se mantiver nos caminhos da verdade, leve um
Nessa batalha global contra o ebola, todo tempo perdido conta capacete.
a favor da doença. (D) Caso você se mantém nos caminhos da verdade, lembre
de levar um capacete.
(Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/ (E) Ainda que você se mantêm nos caminhos da verdade,
opiniao/2014/09/1512104-editorial-corrida-contra-o-ebola.shtml: leva um capacete.
Acesso em: 08/09/2014)
Respostas
Assinale a opção em que se indica, INCORRETAMENTE, o
referente do termo em destaque. 01. (C) - As orações subordinadas desenvolvidas possuem
(A) “quase US$ 1 bilhão de seu orçamento bianual” (5º§) – conjunção e verbos conjugados em modos e tempos verbais.
organização Na letra “a” o verbo está num tempo diferente da frase.
(B) “A agência passou a dar mais ênfase” (6º§) – OMS Na letra “b” o verbo está no infinitivo o que caracteriza como
(C) “Pesa contra o órgão da ONU”(7º§) – OMS oração reduzida.
(D) “Seus esforços iniciais foram limitados” (7º§) – gravidade Na letra “c” a oração apresenta a conjunção “para que” que
da situação exprime finalidade e o verbo está conjugado no tempo correto
(E) “A comunidade tem diante de si” (10º§) – comunidade da frase.
internacional Na letra “d” não apresenta conjunção.
Na letra “e” o verbo está no particípio caracterizando oração
04. (TJ/SP – Escrevente Técnico Judiciário – reduzida.
VUNESP-2014) Portanto, a resposta certa é a letra “c”.

Leia o texto para responder a questão. 02. (C) - “A USP acaba de divulgar estudo advertindo que a
As cotas raciais deram certo porque seus beneficiados são, poluição em São Paulo mata o dobro do que o trânsito”.
sim, competentes. Merecem, sim, frequentar uma universidade Os verbos acabar e matar contidos na frase estão no
pública e de qualidade. No vestibular, que é o princípio de presente do indicativo. Logo, o verbo advertir ficará no presente
tudo, os cotistas estão só um pouco atrás. Segundo dados do do indicativo. EX: eu advirto, tu advertes, ele adverte.
Sistema de Seleção Unificada, a nota de corte para os candidatos

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03. (D) - Pesa contra o órgão da ONU, de todo modo, a 3) Princípio da Relevância: Um texto com informações
demora para reconhecer a gravidade da situação. Seus esforços fragmentadas torna as ideias incoerentes, ainda que cada
iniciais foram limitados e mal liderados. fragmento apresente certa coerência individual. Se as ideias não
De quem foram os esforços? Da ONU, pois estes formam dialogam entre si, então elas são irrelevantes.
limitados e mal liderados.
É importante ressaltarmos que o uso adequado dos
04. (A) - “a nota de corte para os candidatos convencionais conectivos também colabora na construção de um texto coerente:
a vagas de medicina nas federais foi de 787,56 pontos. Para os a coesão textual é um importante mecanismo de estruturação do
cotistas, foi de 761,67 pontos” texto, presente em dois movimentos essenciais: restrospecção
A DIFERENÇA ENTRE ELES é de 3%. e prospecção. Lembre-se de que a coerência é um princípio de
eles quem ? (os candidatos convencionais e os cotistas) que interpretabilidade, portanto, cabe a você depreender os sentidos
estão postos em relação a diferença de NOTA . do texto.

05. (C) Tipos de coerência


(A) Se você ir (for) pelos caminhos da verdade, leve um
capacete. São seis os tipos de coerência: sintática, semântica, temática,
(B) Caso você vá pelos caminhos da verdade, lembra-se pragmática, estilística e genérica. Conhecê-los contribui para a
(lembre-se) de levar um capacete. escrita de uma boa redação.
(C) Se você se mantiver nos caminhos da verdade, leve um
capacete. Você já deve saber que alguns elementos são indispensáveis
(D) Caso você se mantém (mantenha) nos caminhos da para a construção de um bom texto. Entre esses elementos,
verdade, lembre de levar um capacete. está a coerência textual, fator que garante a inteligibilidade das
(D) Ainda que você se mantêm (mantenha) nos caminhos ideias apresentadas em uma redação. Quando falta coerência, a
da verdade, leva (leve) um capacete. construção de sentidos fica seriamente comprometida.

Coerência É importante que você saiba que existem tipos de coerência,


elementos que colaboram para a construção da coerência global
A coerência textual não está na superfície do texto: a de um texto. São eles:
construção de sentidos será feita de acordo com o conhecimento
prévio de cada leitor Coerência sintática: está relacionada com a estrutura
linguística, como termo de ordem dos elementos, seleção
Quando você se propõe a escrever um texto, certamente se lexical etc., e também à coesão. Quando empregada, eliminamos
lembra de quem vai ler, não é verdade? Provavelmente, você estruturas ambíguas, bem como o uso inadequado dos
também se lembra de que alguns cuidados devem ser tomados conectivos.
para que o leitor compreenda o texto. Nessa tentativa de fazer-
se compreendido, você estabelece alguns padrões mentais que Coerência semântica: Para que a coerência semântica esteja
diferem o que é coerente daquilo que não faz o menor sentido, presente em um texto, é preciso, antes de tudo, que o texto não
certo? seja contraditório, mesmo porque a semântica está relacionada
com as relações de sentido entre as estruturas. Para detectar
Pois bem, intuitivamente, você está seguindo um princípio uma incoerência, é preciso que se faça uma leitura cuidadosa,
básico para uma boa redação, chamado de coerência textual. ancorada nos processos de analogia e inferência.
Você pode até não conhecer a exata definição desse elemento
da linguística textual, mas possivelmente evita construções Coerência temática: Todos os enunciados de um texto
ininteligíveis em sua redação e recorre aos seus conhecimentos precisam ser coerentes e relevantes para o tema, com exceção
sociocognitivos. A coerência é uma conformidade entre fatos das inserções explicativas. Os trechos irrelevantes devem ser
ou ideias, próprio daquilo que tem nexo, conexão, portanto, evitados, impedindo assim o comprometimento da coerência
podemos associá-la ao processo de construção de sentidos do temática.
texto e à articulação das ideias. Por serem os sentidos elementos
subjetivos, podemos dizer que a coerência não pode ser Coerência pragmática: Refere-se ao texto visto como
delimitada, pois o leitor é o responsável pela constituição dos uma sequência de atos de fala. Os textos, orais ou escritos,
significados do texto. são exemplos dessas sequências, portanto, devem obedecer
às condições para a sua realização. Se o locutor ordena algo
A coerência é imaterial e não está na superfície textual. a alguém, é contraditório que ele faça, ao mesmo tempo, um
Compreender aquilo que está escrito dependerá dos níveis de pedido. Quando fazemos uma pergunta para alguém, esperamos
interação entre o leitor, o autor e o texto. Por esse motivo, um receber como resposta uma afirmação ou uma negação, jamais
mesmo texto pode apresentar múltiplas interpretações. Quando uma sequência de fala desconectada daquilo que foi indagado.
lemos um texto, estamos ao mesmo tempo construindo sua Quando essas condições são ignoradas, temos como resultado a
interpretação, e fazer isso de maneira eficiente está relacionado incoerência pragmática.
com os conhecimentos que já possuímos. Como vamos entender
um texto que trate de química nuclear se não soubermos o que Coerência estilística: Diz respeito ao emprego de uma
são os elementos da tabela periódica? Como entender um texto variedade de língua adequada, que deve ser mantida do início ao
que fale sobre coerência se não soubermos o básico sobre a fim de um texto para garantir a coerência estilística. A incoerência
interpretação de textos? estilística não provoca prejuízos para a interpretabilidade
de um texto, contudo, a mistura de registros — como o uso
Três princípios básicos são necessários para concomitante da linguagem coloquial e linguagem formal —
compreendermos melhor o que é coerência textual: deve ser evitada, principalmente nos textos não literários.

1) Princípio da Não Contradição: Um texto deve apresentar Coerência genérica: Refere-se à escolha adequada do gênero
situações ou ideias lógicas que em momento algum se textual, que deve estar de acordo com o conteúdo do enunciado.
contradigam; Em um anúncio de classificados, a prática social exige que ele
tenha como objetivo ofertar algum serviço, bem como vender
2) Princípio da Não Tautologia: A tautologia nada mais é ou comprar algum produto, e que sua linguagem seja concisa e
do que um vício de linguagem que repete ideias com palavras objetiva, pois essas são as características essenciais do gênero.
diferentes ao longo do texto, o que compromete a transmissão Uma ruptura com esse padrão, entretanto, é comum nos textos
da informação; literários, nos quais podemos encontrar um determinado gênero

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assumindo a forma de outro. variedade não padrão

É importante ressaltar que em alguns tipos de texto, Sobre o nível de linguagem adotado por Calvin, podemos
especialmente nos textos literários, uma ruptura com os tipos de afirmar que se trata, em relação aos tipos de coerência, de uma
coerência descritos anteriormente pode acontecer. Nos demais a) incoerência pragmática.
textos, a coerência contribui para a construção de enunciados b) incoerência genérica.
cuja significação seja aceitável, ajudando na compreensão c) incoerência estilística.
do leitor ou do interlocutor. Todavia, a coerência depende de d) incoerência temática.
outros aspectos, como o conhecimento linguístico de quem e) incoerência semântica.
acessa o conteúdo, a situacionalidade, a informatividade, a
intertextualidade e a intencionalidade. 03. Observe o discurso de Calvin e responda à questão:

Fontes: http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/redacao/
coerencia-textual.htm
http://portugues.uol.com.br/redacao/tipos-coerencia.html

Questões

01. Sobre a coerência textual, é incorreto afirmar:


a) A coerência é uma conformidade entre fatos ou ideias,
própria daquilo que tem nexo, conexão, portanto, podemos
associá-la ao processo de construção de sentidos do texto e à A identificação de elementos textuais como as figuras de
articulação das ideias. linguagem é essencial para a interpretação de textos
b) Por serem os sentidos elementos subjetivos, podemos
dizer que a coerência não pode ser delimitada, pois o leitor é o A incoerência na fala de Calvin sobre a TV pode ser explicada
responsável pela constituição dos significados do texto. através da seguinte figura de linguagem:
c) A coerência é imaterial e não está na superfície textual. a) Eufemismo.
Compreender aquilo que está escrito dependerá dos níveis de b) Hipérbole.
interação entre o leitor, o autor e o texto. Por esse motivo, um c) Paradoxo.
mesmo texto pode apresentar múltiplas interpretações. d) Ironia.
d) A não contradição, a não tautologia e o princípio da e) Personificação.
relevância são elementos básicos que garantem a coerência
textual. 04.
e) A coerência textual dispensa o uso adequado dos
conectivos, elementos que apenas colaboram para a estruturação Oito Anos
do texto sem apresentar relação direta com a semântica textual.
“Por que você é Flamengo
02. Observe a tirinha Calvin e Haroldo, de Bill Watterson, E meu pai Botafogo
e responda à questão: O que significa
“Impávido colosso”?
Por que os ossos doem
enquanto a gente dorme
Por que os dentes caem
Por onde os filhos saem
Por que os dedos murcham
quando estou no banho
Por que as ruas enchem
quando está chovendo
Quanto é mil trilhões
vezes infinito
Quem é Jesus Cristo
Onde estão meus primos
Well, well, well
Gabriel (...)”.

(Paula Toller/Dunga. CD Partimpim, de Adriana Calcanhoto,


São Paulo, 2004)

Julgue as seguintes proposições:


I. Pode-se dizer que se trata de um conjunto de frases
interrogativas sem ligação entre si, configurando então um texto
desprovido de coerência.
II. Embora o texto apresente uma série de interrogações
aparentemente sem ligação entre si, existem nele elementos
linguísticos que nos permitem construir a coerência textual.
III. A letra da canção é constituída por uma “lista” das
perguntas que um filho faz para a mãe, e a sequenciação de
perguntas aparentemente desconexas, na verdade, explicita o
grande número de questionamentos que povoam o imaginário
infantil.
IV. A ausência de elementos sintáticos, como conectivos,
prejudica a construção de sentidos do texto.

Para cada situação interativa existe uma variedade de língua a) Todas estão corretas.
adequada. O falante pode optar pela variedade padrão ou pela b) Apenas II e III estão corretas.

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c) Apenas I e IV estão corretas. basicamente, duas possibilidades:
d) Apenas I e III estão corretas.
e) I, III e IV estão corretas. a) No primeiro exemplo, a palavra apresenta seu sentido
original, impessoal, sem considerar o contexto, tal como aparece
Respostas no dicionário. Nesse caso, prevalece o sentido denotativo - ou
denotação - do signo linguístico.
01. (E)
O uso adequado dos conectivos é um importante mecanismo b) No segundo exemplo, a palavra aparece com outro
de estruturação do texto, seja nos aspectos relacionados à significado, passível de interpretações diferentes, dependendo
semântica, seja nos aspectos relacionados à sintaxe. Um texto do contexto em que for empregada. Nesse caso, prevalece o
pode ser coerente sem conectivos, contudo, esses elementos sentido conotativo - ou conotação do signo linguístico.
garantem dois movimentos de leitura essenciais em uma
redação: a retrospecção e a prospecção. Obs.: a linguagem poética faz bastante uso do sentido
conotativo das palavras, num trabalho contínuo de criar ou
02. (C) modificar o significado. Na linguagem cotidiana também é
De acordo com a coerência estilística, cada situação comum a exploração do sentido conotativo, como consequência
interativa exige do falante ou do produtor do texto a adequação da nossa forte carga de afetividade e expressividade.
à variedade linguística, ou seja, devemos optar, de acordo com
o contexto comunicacional, pela variedade padrão ou pela Exemplos de variação no significado das palavras:
variedade não padrão. Analisando as falas de Calvin, podemos
inferir que, ao adotar a variedade padrão fora de seu contexto Os domadores conseguiram enjaular a fera. (sentido próprio
ideal de uso, ele cometeu uma incoerência estilística. ou literal)
Ele ficou uma fera quando soube da notícia. (sentido
03. (D) figurado)
A ironia é a figura de linguagem capaz de explicar a Aquela aluna é fera na matemática. (sentido figurado)
incoerência presente no discurso de Calvin. Sem captar a ironia As variações nos significados das palavras ocasionam
de sua fala, o discurso transforma-se em apologia, quando, na o sentido denotativo (denotação) e o sentido conotativo
verdade, a intenção do cartunista foi tecer uma crítica aos meios (conotação) das palavras. O sentido denotativo é também
de comunicação. conhecido como sentido próprio ou literal e o sentido conotativo
é também conhecido como sentido figurado.
04. (B)
Denotação

Níveis de linguagem; Linguagem Uma palavra é usada no sentido denotativo (próprio ou literal)
denotativa e linguagem quando apresenta seu significado original, independentemente
conotativa; do contexto frásico em que aparece. Quando se refere ao seu
significado mais objetivo e comum, aquele imediatamente
reconhecido e muitas vezes associado ao primeiro significado
que aparece nos dicionários, sendo o significado mais literal da
A língua portuguesa é rica, interessante, criativa e versátil, palavra.
encontrando-se em constante evolução. As palavras não
apresentam apenas um significado objetivo e literal, mas sim A denotação tem como finalidade informar o receptor
uma variedade de significados, mediante o contexto em que da mensagem de forma clara e objetiva, assumindo assim um
ocorrem e as vivências e conhecimentos das pessoas que as caráter prático e utilitário. É utilizada em textos informativos,
utilizam. como jornais, regulamentos, manuais de instrução, bulas de
medicamentos, textos científicos, entre outros.
A significação das palavras não é fixa, nem estática. Por meio
da imaginação criadora do homem, as palavras podem ter seu Exemplos:
significado ampliado, deixando de representar apenas a ideia
original (básica e objetiva). Assim, frequentemente remetem- O elefante é um mamífero.
nos a novos conceitos por meio de associações, dependendo de Já li esta página do livro.
sua colocação numa determinada frase. Observe os seguintes A empregada limpou a casa.
exemplos:
Conotação
A menina está com a cara toda pintada.
Aquele cara parece suspeito. Uma palavra é usada no sentido conotativo (figurado)
quando apresenta diferentes significados, sujeitos a diferentes
No primeiro exemplo, a palavra cara significa “rosto”, a parte interpretações, dependendo do contexto frásico em que aparece.
que antecede a cabeça, conforme consta nos dicionários. Já no Quando se refere a sentidos, associações e ideias que vão além
segundo exemplo, a mesma palavra cara teve seu significado do sentido original da palavra, ampliando sua significação
ampliado e, por uma série de associações, entendemos que mediante a circunstância em que a mesma é utilizada, assumindo
nesse caso significa “pessoa”, “sujeito”, “indivíduo”. um sentido figurado e simbólico.

Algumas vezes, uma mesma frase pode apresentar duas (ou A conotação tem como finalidade provocar sentimentos no
mais) possibilidades de interpretação. Veja: receptor da mensagem, através da expressividade e afetividade
que transmite. É utilizada principalmente numa linguagem
Marcos quebrou a cara. poética e na literatura, mas também ocorre em conversas
Em seu sentido literal, impessoal, frio, entendemos que cotidianas, em letras de música, em anúncios publicitários, entre
Marcos, por algum acidente, fraturou o rosto. Entretanto, outros.
podemos entender a mesma frase num sentido figurado, como
“Marcos não se deu bem”, tentou realizar alguma coisa e não Exemplos:
conseguiu.
Você é o meu sol!
Pelos exemplos acima, percebe-se que uma mesma Minha vida é um mar de tristezas.
palavra pode apresentar mais de um significado, ocorrendo, Você tem um coração de pedra!

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Fontes: http://www.soportugues.com.br/secoes/estil/estil1.php Com suor e com cimento*
http://www.normaculta.com.br/conotacao-e-denotacao/ Erguendo uma casa aqui
Adiante um apartamento.”
*Com trabalho.

- O lugar de origem ou de produção pelo produto:


Figuras de linguagem (comparação,
metáfora, eufemismo, prosopopeia, Comprei uma garrafa do legítimo porto*.
onomatopeia, antítese, paradoxo, *O vinho da cidade do Porto.
hipérbole, perífrase, silepse,
hipérbato, metonímia, ironia, - O autor pela obra:
sinestesia, aliteração);
Ela parecia ler Jorge Amado*.
*A obra de Jorge Amado.

- O abstrato pelo concreto e vice-versa:


As figuras de linguagem ou de estilo, de acordo com Renan
Bardine, são empregadas para valorizar o texto, tornando Não devemos contar com o seu coração*.
a linguagem mais expressiva. É um recurso linguístico para *Sentimento, sensibilidade.
expressar experiências comuns de formas diferentes, conferindo
originalidade, emotividade ou poeticidade ao discurso. Sinédoque: Ocorre sinédoque quando há substituição de
um termo por outro, havendo ampliação ou redução do sentido
As figuras revelam muito da sensibilidade de quem as usual da palavra numa relação quantitativa. Encontramos
produz, traduzindo particularidades estilísticas do autor. A sinédoque nos seguintes casos:
palavra empregada em sentido figurado, não-denotativo, passa
a pertencer a outro campo de significação, mais amplo e criativo. - O todo pela parte e vice-versa:

As figuras de linguagem classificam-se em: “A cidade inteira (1) viu assombrada, de queixo caído, o
pistoleiro sumir de ladrão, fugindo nos cascos (2) de seu cavalo.”
1) figuras de palavra; *1 O povo. 2 Parte das patas.
2) figuras de harmonia;
3) figuras de pensamento; - O singular pelo plural e vice-versa:
4) figuras de construção ou sintaxe.
O paulista (3) é tímido; o carioca (4), atrevido.
1) FIGURAS DE PALAVRA *3 Todos os paulistas. 4 Todos os cariocas.

As figuras de palavra são figuras de linguagem que consistem - O indivíduo pela espécie (nome próprio pelo nome comum):
no emprego de um termo com sentido diferente daquele
convencionalmente empregado, a fim de se conseguir um efeito Para os artistas ele foi um mecenas (5).
mais expressivo na comunicação. *5 Protetor.

São figuras de palavras: Modernamente, a metonímia engloba a sinédoque.

a) comparação e) catacrese Catacrese: A catacrese é um tipo de especial de metáfora,


b) metáfora f) sinestesia “é uma espécie de metáfora desgastada, em que já não se sente
c) metonímia g) antonomásia nenhum vestígio de inovação, de criação individual e pitoresca.
d) sinédoque h) alegoria É a metáfora tornada hábito lingüístico, já fora do âmbito
estilístico.” (Othon M. Garcia)
Comparação: Ocorre comparação quando se estabelece
aproximação entre dois elementos que se identificam, ligados Exemplos: folhas de livro, pele de tomate, dente de alho,
por conectivos comparativos explícitos – feito, assim como, montar em burro, céu da boca, cabeça de prego, mão de direção,
tal, como, tal qual, tal como, qual, que nem – e alguns verbos – ventre da terra, asa da xícara, sacar dinheiro no banco.
parecer, assemelhar-se e outros.
Sinestesia: A sinestesia consiste na fusão de sensações
Exemplos: “Amou daquela vez como se fosse máquina. diferentes numa mesma expressão. Essas sensações podem ser
Beijou sua mulher como se fosse lógico. físicas (gustação, audição, visão, olfato e tato) ou psicológicas
(subjetivas).
Metáfora: Ocorre metáfora quando um termo substitui
outro através de uma relação de semelhança resultante da Exemplo: “A minha primeira recordação é um muro velho, no
subjetividade de quem a cria. A metáfora também pode ser quintal de uma casa indefinível. Tinha várias feridas no reboco
entendida como uma comparação abreviada, em que o conectivo e veludo de musgo. Milagrosa aquela mancha verde [sensação
não está expresso, mas subentendido. visual] e úmida, macia [sensações táteis], quase irreal.” (Augusto
Meyer)
Exemplo: “Supondo o espírito humano uma vasta concha, o
meu fim, Sr. Soares, é ver se posso extrair pérolas, que é a razão.” Antonomásia: Ocorre antonomásia quando designamos
uma pessoa por uma qualidade, característica ou fato que a
Metonímia: Ocorre metonímia quando há substituição de distingue.
uma palavra por outra, havendo entre ambas algum grau de
semelhança, relação, proximidade de sentido ou implicação Na linguagem coloquial, antonomásia é o mesmo que apelido,
mútua. Tal substituição fundamenta-se numa relação objetiva, alcunha ou cognome, cuja origem é um aposto (descritivo,
real, realizando-se de inúmeros modos: especificativo etc.) do nome próprio.
Exemplos:
- A causa pelo efeito e vice-versa: “E ao rabi simples(1), que a igualdade prega,
Rasga e enlameia a túnica inconsútil;
“E assim o operário ia *1 Cristo

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Pelé (= Edson Arantes do Nascimento) trocadas. Uns nos querem mal, e fazem-nos bem. Outros nos
O poeta dos escravos (= Castro Alves) almejam o bem, e nos trazem o mal.” (Rui Barbosa)
O Dante Negro (= Cruz e Souza)
O Corso (= Napoleão) Apóstrofe: Ocorre apóstrofe quando há invocação de uma
pessoa ou algo, real ou imaginário, que pode estar presente
Alegoria: A alegoria é uma acumulação de metáforas ou ausente. Corresponde ao vocativo na análise sintática e é
referindo-se ao mesmo objeto; é uma figura poética que utilizada para dar ênfase à expressão.
consiste em expressar uma situação global por meio de outra
que a evoque e intensifique o seu significado. Na alegoria, todas Exemplo: “Deus! ó Deus! onde estás, que não respondes?”
as palavras estão transladadas para um plano que não lhes é (Castro Alves)
comum e oferecem dois sentidos completos e perfeitos – um
referencial e outro metafórico. Paradoxo: Ocorre paradoxo não apenas na aproximação
de palavras de sentido oposto, mas também na de idéias que
Exemplo: “A vida é uma ópera, é uma grande ópera. O tenor se contradizem referindo-se ao mesmo termo. É uma verdade
e o barítono lutam pelo soprano, em presença do baixo e dos enunciada com aparência de mentira. Oxímoro (ou oximoron) é
comprimários, quando não são o soprano e o contralto que outra designação para paradoxo.
lutam pelo tenor, em presença do mesmo baixo e dos mesmos
comprimários. Há coros numerosos, muitos bailados, e a Exemplo: “Amor é fogo que arde sem se ver;
orquestra é excelente… (Machado de Assis) É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
2) FIGURAS DE HARMONIA É dor que desatina sem doer;” (Camões)

Chamam-se figuras de som ou de harmonia os efeitos Eufemismo: Ocorre eufemismo quando uma palavra ou
produzidos na linguagem quando há repetição de sons ou, ainda, expressão é empregada para atenuar uma verdade tida como
quando se procura “imitar”sons produzidos por coisas ou seres. penosa, desagradável ou chocante.

As figuras de linguagem de harmonia ou de som são: Ex:“E pela paz derradeira(1) que enfim vai nos redimir
Deus lhe pague” (Chico Buarque)
a) aliteração c) assonância *1 paz derradeira: morte
b) paronomásia d) onomatopéia
Gradação: Ocorre gradação quando há uma seqüência de
Aliteração: Ocorre aliteração quando há repetição da palavras que intensificam uma mesma idéia.
mesma consoante ou de consoantes similares, geralmente em
posição inicial da palavra. Exemplo: “Aqui… além… mais longe por onde eu movo o
passo.” (Castro Alves)
Exemplo: “Toda gente homenageia Januária na janela.”
Hipérbole: Ocorre hipérbole quando há exagero de uma
Assonância: Ocorre assonância quando há repetição da idéia, a fim de proporcionar uma imagem emocionante e de
mesma vogal ao longo de um verso ou poema. impacto.

Exemplo: “Sou Ana, da cama Exemplo: “Rios te correrão dos olhos, se chorares!” (Olavo
da cana, fulana, bacana Bilac)
Sou Ana de Amsterdam.”
Ironia: Ocorre ironia quando, pelo contexto, pela entonação,
Paronomásia: Ocorre paronomásia quando há reprodução pela contradição de termos, sugere-se o contrário do que as
de sons semelhantes em palavras de significados diferentes. palavras ou orações parecem exprimir. A intenção é depreciativa
ou sarcástica.
Exemplo: “Berro pelo aterro pelo desterro
berro por seu berro pelo seu erro Exemplo: “Moça linda, bem tratada,
quero que você ganhe que você me apanhe três séculos de família,
sou o seu bezerro gritando mamãe.” burra como uma porta:
um amor.” (Mário de Andrade)
Onomatopeia: Ocorre quando uma palavra ou conjunto de
palavras imita um ruído ou som. Prosopopéia: Ocorre prosopopéia (ou animização ou
personificação) quando se atribui movimento, ação, fala,
Exemplo: “O silêncio fresco despenca das árvores. sentimento, enfim, caracteres próprios de seres animados a
Veio de longe, das planícies altas, seres inanimados ou imaginários.
Dos cerrados onde o guaxe passe rápido…
Vvvvvvvv… passou.” Também a atribuição de características humanas a seres
animados constitui prosopopéia o que é comum nas fábulas
3) FIGURAS DE PENSAMENTO e nos apólogos, como este exemplo de Mário de Quintana: “O
peixinho (…) silencioso e levemente melancólico…”
As figuras de pensamento são recursos de linguagem que se
referem ao significado das palavras, ao seu aspecto semântico. Exemplos: “… os rios vão carregando as queixas do caminho.”
(Raul Bopp)
São figuras de linguagem de pensamento:
Um frio inteligente (…) percorria o jardim…” (Clarice
a) antítese d) apóstrofe g) paradoxo Lispector)
b) eufemismo e) gradação h) hipérbole
c) ironia f) prosopopéia i) perífrase Perífrase: Ocorre perífrase quando se cria um torneio de
palavras para expressar algum objeto, acidente geográfico ou
Antítese: Ocorre antítese quando há aproximação de situação que não se quer nomear.
palavras ou expressões de sentidos opostos.
Exemplo: “Cidade maravilhosa
Exemplo: “Amigos ou inimigos estão, amiúde, em posições Cheia de encantos mil

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Cidade maravilhosa São lágrimas de Portugal” (Fernando Pessoa)
Coração do meu Brasil.” (André Filho)
b) Pleonasmo vicioso: É o desdobramento de ideias que
4) FIGURAS DE SINTAXE já estavam implícitas em palavras anteriormente expressas.
Pleonasmos viciosos devem ser evitados, pois não têm valor de
As figuras de sintaxe ou de construção dizem respeito a reforço de uma idéia, sendo apenas fruto do descobrimento do
desvios em relação à concordância entre os termos da oração, sentido real das palavras.
sua ordem, possíveis repetições ou omissões.
Exemplos: subir para cima, entrar para dentro, repetir de
Elas podem ser construídas por: novo, ouvir com os ouvidos, hemorragia de sangue, monopólio
exclusivo, breve alocução, principal protagonista
a) omissão: assíndeto, elipse e zeugma;
b) repetição: anáfora, pleonasmo e polissíndeto; Polissíndeto: Ocorre polissíndeto quando há repetição
c) inversão: anástrofe, hipérbato, sínquise e hipálage; enfática de uma conjunção coordenativa mais vezes do que exige
d) ruptura: anacoluto; a norma gramatical ( geralmente a conjunção e). É um recurso
e) concordância ideológica: silepse. que sugere movimentos ininterruptos ou vertiginosos.

Portanto, são figuras de linguagem de construção ou sintaxe: Exemplo: “Vão chegando as burguesinhas pobres,
e as criadas das burguesinhas ricas
a) assíndeto e) elipse i) zeugma e as mulheres do povo, e as lavadeiras da redondeza.”
b) anáfora f) pleonasmo j) polissíndeto (Manuel Bandeira)
c) anástrofe g) hiperbato l) sínquise
d) hipálage h) anacoluto m) silepse Anástrofe: Ocorre anástrofe quando há uma simples
inversão de palavras vizinhas (determinante / determinado).
Assíndeto: Ocorre assíndeto quando orações ou palavras
deveriam vir ligadas por conjunções coordenativas, aparecem Exemplo: “Tão leve estou (1) que nem sombra tenho.” (Mário
justapostas ou separadas por vírgulas. Quintana)
*1 Estou tão leve…
Exigem do leitor atenção maior no exame de cada fato, por
exigência das pausas rítmicas (vírgulas). Hipérbato: Ocorre hipérbato quando há uma inversão
completa de membros da frase.
Exemplo: “Não nos movemos, as mãos é que se estenderam
pouco a pouco, todas quatro, pegando-se, apertando-se, Exemplo: “Passeiam à tarde, as belas na Avenida. ” 1 (Carlos
fundindo-se.” (Machado de Assis) Drummond de Andrade)
*1 As belas passeiam na Avenida à tarde.
Elipse: Ocorre elipse quando omitimos um termo ou
oração que facilmente podemos identificar ou subentender no Sínquise: Ocorre sínquise quando há uma inversão violenta
contexto. Pode ocorrer na supressão de pronomes, conjunções, de distantes partes da frase. É um hipérbato exagerado.
preposições ou verbos. É um poderoso recurso de concisão e
dinamismo. Exemplo: “A grita se alevanta ao Céu, da gente. ” 1 (Camões)
*1 A grita da gente se alevanta ao Céu.
Exemplo: “Veio sem pinturas, em vestido leve, sandálias
coloridas.” Hipálage: Ocorre hipálage quando há inversão da posição do
1 Elipse do pronome ela (Ela veio) e da preposição de (de adjetivo: uma qualidade que pertence a uma objeto é atribuída a
sandálias…) outro, na mesma frase.

Zeugma: Ocorre zeugma quando um termo já expresso na Exemplo: “… as lojas loquazes dos barbeiros.” 2 (Eça de
frase é suprimido, ficando subentendida sua repetição. Queiros)
*2 … as lojas dos barbeiros loquazes.
Exemplo: “Foi saqueada a vida, e assassinados os partidários
dos Felipes.” 1 Anacoluto: Ocorre anacoluto quando há interrupção
1 Zeugma do verbo: “e foram assassinados…” do plano sintático com que se inicia a frase, alterando-lhe a
seqüência lógica. A construção do período deixa um ou mais
Anáfora: Ocorre anáfora quando há repetição intencional de termos – que não apresentam função sintática definida –
palavras no início de um período, frase ou verso. desprendidos dos demais, geralmente depois de uma pausa
sensível.
Exemplo: “Depois o areal extenso…
Depois o oceano de pó… Exemplo: “Essas empregadas de hoje, não se pode confiar
Depois no horizonte imenso nelas.” (Alcântara Machado)
Desertos… desertos só…” (Castro Alves)
Silepse: Ocorre silepse quando a concordância não é feita
Pleonasmo: Ocorre pleonasmo quando há repetição da com as palavras, mas com a ideia a elas associada.
mesma ideia, isto é, redundância de significado.
a) Silepse de gênero: Ocorre quando há discordância entre
a) Pleonasmo literário: É o uso de palavras redundantes para os gêneros gramaticais (feminino ou masculino).
reforçar uma ideia, tanto do ponto de vista semântico quanto
do ponto de vista sintático. Usado como um recurso estilístico, Exemplo: “Quando a gente é novo, gosta de fazer bonito.”
enriquece a expressão, dando ênfase à mensagem. (Guimarães Rosa)

Exemplo: “Iam vinte anos desde aquele dia b) Silepse de número: Ocorre quando há discordância
Quando com os olhos eu quis ver de perto envolvendo o número gramatical (singular ou plural).
Quando em visão com os da saudade via.” (Alberto
de Oliveira) Exemplo: Corria gente de todos lados, e gritavam.” (Mário
Barreto)
“Ó mar salgado, quando do teu sal

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c) Silepse de pessoa: Ocorre quando há discordância entre o (D) Somos esse novelo de dons.
sujeito expresso e a pessoa verbal: o sujeito que fala ou escreve (E) As notícias da imprensa nos dão medo em geral.
se inclui no sujeito enunciado.
05. (SECRETARIA DE ESTADO DE DEFESA SOCIAL/MG –
Exemplo: “Na noite seguinte estávamos reunidas algumas AGENTE DE SEGURANÇA SOCIOEDUCATIVO – IBFC/2014) No
pessoas.” (Machado de Assis) verso “Essa dor doeu mais forte”, pode-se perceber a presença
de uma figura de linguagem denominada:
Questões (A) ironia
(B) pleonasmo
01. (DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO RIO DE (C) comparação
JANEIRO – TÉCNICO SUPERIOR ESPECIALIZADO EM (D) metonímia
BIBLIOTECONOMIA – FGV/2014 - adaptada). Ao dizer que os
shoppings são “cidades”, o autor do texto faz uso de um tipo de Respostas
linguagem figurada denominada
(A) metonímia. 01. Resposta D
(B) eufemismo. A metáfora consiste em retirar uma palavra de seu contexto
(C) hipérbole. convencional (denotativo) e transportá-la para um novo campo de
(D) metáfora. significação (conotativa), por meio de uma comparação implícita,
(E) catacrese. de uma similaridade existente entre as duas.
(Fonte:http://educacao.uol.com.br/disciplinas/portugues/
02. (PREFEITURA DE ARCOVERDE/PE - ADMINISTRADOR metafora-figura-de-palavra-variacoes-e-exemplos.htm)
DE RECURSOS HUMANOS – CONPASS/2014) Identifique a
figura de linguagem presente na tira seguinte: 02. Resposta D
“Eufemismo = é o emprego de uma expressão mais suave,
mais nobre ou menos agressiva, para comunicar alguma coisa
áspera, desagradável ou chocante”. No caso da tirinha, é utilizada
a expressão “deram suas vidas por nós” no lugar de “que
morreram por nós”.

03. Resposta B
A expressão é um exagero! Ela serve apenas para representar
o calor excessivo que está fazendo. A figura que é utilizada “mil
vezes” (!) para atingir tal objetivo é a hipérbole.
(A) metonímia 04. Resposta D
(B) prosopopeia A alternativa que apresenta uma linguagem metafórica
(C) hipérbole (figurada) é a que emprega o termo “novelo” fora de seu contexto
(D) eufemismo habitual (novelo de lã, por exemplo), representando, aqui, um
(E) onomatopeia emaranhado, um monte, vários dons.
03. (CASAL/AL - ADMINISTRADOR DE REDE - COPEVE/ 05. Resposta B
UFAL/2014) Repetição de ideia = pleonasmo (essa dor doeu).
Está tão quente que dá para fritar um ovo no asfalto.

O dito popular é, na maioria das vezes, uma figura de Fenômenos semânticos:


linguagem. Entre as 14h30min e às 15h desta terça-feira, sinonímia, homonímia, antonímia,
horário do dia em que o calor é mais intenso, a temperatura paronímia, hiponímia,
do asfalto, medida com um termômetro de contato, chegou a hiperonímia, ambiguidade;
65ºC. Para fritar um ovo, seria preciso que o local alcançasse
aproximadamente 90 ºC.

Disponível em: http://zerohora.clicrbs.com.br. Acesso em: 22 jan.


2014. Na língua portuguesa, uma PALAVRA (do latim parabola, que
por sua vez deriva do grego parabolé) pode ser definida como
O texto cita que o dito popular “está tão quente que dá para sendo um conjunto de letras ou sons de uma língua, juntamente
fritar um ovo no asfalto” expressa uma figura de linguagem. O com a ideia associada a este conjunto.
autor do texto refere-se a qual figura de linguagem?
(A) Eufemismo. Sentido Próprio e Figurado das Palavras
(B) Hipérbole.
(C) Paradoxo. Pela própria definição acima destacada podemos perceber
(D) Metonímia. que a palavra é composta por duas partes, uma delas relacionada
(E) Hipérbato. a sua forma escrita e os seus sons (denominada significante) e a
outra relacionada ao que ela (palavra) expressa, ao conceito que
04. (SECRETARIA DE SEGURANÇA PÚBLICA/PI – ela traz (denominada significado).
ESCRIVÃO DE POLÍCIA CIVIL – UESPI/2014). A linguagem Em relação ao seu SIGNIFICADO as palavras subdividem-se
por meio da qual interagimos no nosso dia a dia pode revestir- assim:
se de nuances as mais diversas: pode apresentar-se em sentido - Sentido Próprio - é o sentido literal, ou seja, o sentido comum
literal, figurado, metafórico. A opção em cujo trecho utilizou-se que costumamos dar a uma palavra.
linguagem metafórica é - Sentido Figurado -  é o sentido  “simbólico”,  “figurado”, que
(A) O equilíbrio ou desequilíbrio depende do ambiente podemos dar a uma palavra.
familiar. Vamos analisar a palavra  cobra utilizada em diferentes
(B) Temos medo de sair às ruas. contextos:
(C) Nestes dias começamos a ter medo também dentro dos 1. A cobra picou o menino. (cobra = tipo de réptil peçonhento)
shoppings. 2. A sogra dele é uma cobra. (cobra = pessoa desagradável, que

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adota condutas pouco apreciáveis) diferentes na escrita.
3. O cara é cobra em Física! (cobra = pessoa que conhece muito - Acender (atear, pôr fogo) e ascender (subir).
sobre alguma coisa, “expert”) - Concertar (harmonizar) e consertar (reparar, emendar).
No item 1 aplica-se o termo cobra em seu sentido comum - Concerto (harmonia, sessão musical) e conserto (ato de
(ou literal); nos itens 2 e 3 o termo cobra é aplicado em sentido consertar).
figurado. - Cegar (tornar cego) e segar (cortar, ceifar).
Podemos então concluir que um mesmo significante (parte - Apreçar (determinar o preço, avaliar) e apressar (acelerar).
concreta) pode ter vários significados (conceitos). - Cela (pequeno quarto), sela (arreio) e sela (verbo selar).
- Censo (recenseamento) e senso (juízo).
Sinônimos: são palavras de sentido igual ou aproximado. - Cerrar (fechar) e serrar (cortar).
Exemplo: - Paço (palácio) e passo (andar).
- Alfabeto, abecedário. - Hera (trepadeira) e era (época), era (verbo).
- Brado, grito, clamor. - Caça (ato de caçar), cassa (tecido) e cassa (verbo cassar =
- Extinguir, apagar, abolir, suprimir. anular).
- Justo, certo, exato, reto, íntegro, imparcial. - Cessão (ato de ceder), seção (divisão, repartição) e sessão
(tempo de uma reunião ou espetáculo).
Na maioria das vezes não é indiferente usar um sinônimo
pelo outro. Embora irmanados pelo sentido comum, os Homófonos Homográficos: iguais na escrita e na pronúncia.
sinônimos diferenciam-se, entretanto, uns dos outros, por - Caminhada (substantivo), caminhada (verbo).
matizes de significação e certas propriedades que o escritor não - Cedo (verbo), cedo (advérbio).
pode desconhecer. Com efeito, estes têm sentido mais amplo, - Somem (verbo somar), somem (verbo sumir).
aqueles, mais restrito (animal e quadrúpede); uns são próprios - Livre (adjetivo), livre (verbo livrar).
da fala corrente, desataviada, vulgar, outros, ao invés, pertencem - Pomos (substantivo), pomos (verbo pôr).
à esfera da linguagem culta, literária, científica ou poética - Alude (avalancha), alude (verbo aludir).
(orador e tribuno, oculista e oftalmologista, cinzento e cinéreo).
A contribuição Greco-latina é responsável pela existência, Parônimos: são palavras parecidas na escrita e na
em nossa língua, de numerosos pares de sinônimos. Exemplos: pronúncia: Coro e couro, cesta e sesta, eminente e iminente,
- Adversário e antagonista. tetânico e titânico, atoar e atuar, degradar e degredar, cético e
- Translúcido e diáfano. séptico, prescrever e proscrever, descrição e discrição, infligir
- Semicírculo e hemiciclo. (aplicar) e infringir (transgredir), osso e ouço, sede (vontade
- Contraveneno e antídoto. de beber) e cede (verbo ceder), comprimento e cumprimento,
- Moral e ética. deferir (conceder, dar deferimento) e diferir (ser diferente,
- Colóquio e diálogo. divergir, adiar), ratificar (confirmar) e retificar (tornar reto,
- Transformação e metamorfose. corrigir), vultoso (volumoso, muito grande: soma vultosa) e
- Oposição e antítese. vultuoso (congestionado: rosto vultuoso).

O fato linguístico de existirem sinônimos chama-se sinonímia, Polissemia: Uma palavra pode ter mais de uma significação.
palavra que também designa o emprego de sinônimos. A esse fato linguístico dá-se o nome de polissemia. Exemplos:
- Mangueira: tubo de borracha ou plástico para regar as
Antônimos: são palavras de significação oposta. Exemplos: plantas ou apagar incêndios; árvore frutífera; grande curral de
- Ordem e anarquia. gado.
- Soberba e humildade. - Pena: pluma, peça de metal para escrever; punição; dó.
- Louvar e censurar. - Velar: cobrir com véu, ocultar, vigiar, cuidar, relativo ao véu
- Mal e bem. do palato.
Podemos citar ainda, como exemplos de palavras
A antonímia pode originar-se de um prefixo de sentido polissêmicas, o verbo dar e os substantivos linha e ponto, que
oposto ou negativo. Exemplos: Bendizer/maldizer, simpático/ têm dezenas de acepções.
antipático, progredir/regredir, concórdia/discórdia, explícito/
implícito, ativo/inativo, esperar/desesperar, comunista/ Denotação e Conotação
anticomunista, simétrico/assimétrico, pré-nupcial/pós-nupcial. - Denotação: verifica-se quando utilizamos a palavra com o
seu significado primitivo e original, com o sentido do dicionário;
Homônimos: são palavras que têm a mesma pronúncia, e às usada de modo automatizado; linguagem comum. Veja este
vezes a mesma grafia, mas significação diferente. Exemplos: exemplo:
- São (sadio), são (forma do verbo ser) e são (santo). Cortaram as asas da ave para que não voasse mais.
- Aço (substantivo) e asso (verbo).
Aqui a palavra em destaque é utilizada em seu sentido próprio,
Só o contexto é que determina a significação dos homônimos. comum, usual, literal.
A homonímia pode ser causa de ambiguidade, por isso é
considerada uma deficiência dos idiomas. - DICA  - Procure associar  Denotação  com  Dicionário: trata-se
O que chama a atenção nos homônimos é o seu aspecto de definição literal, quando o termo é utilizado em seu sentido
fônico (som) e o gráfico (grafia). Daí serem divididos em: dicionarístico.

Homógrafos Heterofônicos: iguais na escrita e diferentes - Conotação: verifica-se quando utilizamos a palavra com o
no timbre ou na intensidade das vogais. seu significado secundário, com o sentido amplo (ou simbólico);
- Rego (substantivo) e rego (verbo). usada de modo criativo, figurado, numa linguagem rica e
- Colher (verbo) e colher (substantivo). expressiva. Veja este exemplo:
- Jogo (substantivo) e jogo (verbo). Seria aconselhável cortar as asas deste menino, antes que seja
- Apoio (verbo) e apoio (substantivo). tarde mais.
- Para (verbo parar) e para (preposição). Já neste caso o termo (asas) é empregado de forma figurada,
- Providência (substantivo) e providencia (verbo). fazendo alusão à ideia de restrição e/ou controle de ações;
- Às (substantivo), às (contração) e as (artigo). disciplina, limitação de conduta e comportamento.
- Pelo (substantivo), pelo (verbo) e pelo (contração de
per+o). Fonte:
http://www.tecnolegis.com/estudo-dirigido/oficial-de-justica-tjm-sp/
Homófonos Heterográficos: iguais na pronúncia e lingua-portuguesa-sentido-proprio-e-figurado-das-palavras.html

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Ambiguidade Quem estuda enfermagem, a estudante ou o garoto?

Ambiguidade ou anfibologia é o nome dado, dentro da A estudante de enfermagem falou com o garoto;
linguística na língua portuguesa, à duplicidade de sentidos,
onde alguns termos, expressões, sentenças apresentam mais ou
de uma acepção ou entendimento possível. Em outras palavras,
ocorre quando, por falta de clareza, há duplicidade de sentido da A estudante falou com o garoto do curso de enfermagem;
frase. Apesar de ser um recurso aceitável dentro da linguagem
poética ou literária, deve ser na maioria das vezes, evitado Uso indevido de formas nominais
em construções textuais de caráter técnico, informativo, ou
pragmático. A moça reconheceu a amiga frequentando a academia.

A ambiguidade ocorre quando há duplicidade de sentido em Quem estava na academia? a moça ou a amiga?
uma frase.
A moça reconheceu a amiga que estava frequentando a
A palavra tem origem no latim “ambiguitas”, que possui academia.
significado similar ao vocábulo no português: incerteza,
equívoco. Ao contrário das figuras de linguagem, que são ou
ferramentas à disposição do usuário da língua, e que dão realce
e beleza às mensagens emitidas, a ambiguidade é colocada A moça, na academia, reconheceu a amiga.
no grupo das espécies de vícios de linguagem. Os vícios de
linguagem são palavras ou construções que vão de encontro às Fonte: http://www.infoescola.com/portugues/ambiguidade/
normas gramaticais, e, na maioria das vezes, costumam ocorrer
por descuido, ou ainda por desconhecimento das regras por Questões
parte do emissor. O uso da ambiguidade pode resultar na má
interpretação da mensagem, ocasionando múltiplos sentidos. 01. Estava ....... a ....... da guerra, pois os homens ....... nos erros
É importante lembrar que toda comunicação estabelece uma do passado.
finalidade, uma intenção para com o interlocutor, e para que isso a) eminente, deflagração, incidiram
ocorra, a mensagem tem de estar clara, precisa e coerente. b) iminente, deflagração, reincidiram
c) eminente, conflagração, reincidiram
A inadequação ou a má colocação de elementos como d) preste, conflaglação, incidiram
pronomes, adjuntos adverbiais, expressões e mesmo enunciados e) prestes, flagração, recindiram
inteiros podem acarretar duplo sentido, comprometendo a
clareza do texto. Na publicidade observamos o uso e o abuso da 02. “Durante a ........ solene era ........ o desinteresse do mestre
linguagem plurissignificante, por meio dos trocadilhos e jogos diante da ....... demonstrada pelo político”.
de palavras, procurando chamar a atenção do interlocutor para a) seção - fragrante - incipiência
a mensagem. Caso o autor não se julgue preparado para utilizar b) sessão - flagrante - insipiência
corretamente a ambiguidade, é preferível uma linguagem c) sessão - fragrante - incipiência
mais objetiva, com vocábulos ou expressões que sejam mais d) cessão - flagrante - incipiência
adequadas às finalidades requeridas. e) seção - flagrante - insipiência

Os tipos comuns de ambiguidade, como vício de linguagem 03. Na .... plenária estudou-se a .... de direitos territoriais a ... .
são: a) sessão - cessão - estrangeiros
b) seção - cessão - estrangeiros
Uso indevido de pronomes possessivos c) secção - sessão - extrangeiros
d) sessão - seção - estrangeiros
A mãe pediu à filha que arrumasse o seu quarto. e) seção - sessão - estrangeiros

Qual quarto? o da mãe ou da filha? Para evitar ambiguidade: 04. Há uma alternativa errada. Assinale-a:
a) A eminente autoridade acaba de concluir uma viagem política.
A mãe pediu à filha que arrumasse o próprio quarto. b) A catástrofe torna-se iminente.
c) Sua ascensão foi rápida.
Outro exemplo: d) Ascenderam o fogo rapidamente.
e) Reacendeu o fogo do entusiasmo.
Vi o João andando com seu carro.
05. Há uma alternativa errada. Assinale-a:
O carro em questão pode ser do próprio João, ou da pessoa a a) cozer = cozinhar; coser = costurar
quem a mensagem foi dirigida. b) imigrar = sair do país; emigrar = entrar no país
c) comprimento = medida; cumprimento = saudação
Vi o João andando com o carro dele. d) consertar = arrumar; concertar = harmonizar
e) chácara = sítio; xácara = verso
Colocação inadequada das palavras
06. Assinale o item em que a palavra destacada está
A criança feliz foi ao parque. incorretamente aplicada:
a) Trouxeram-me um ramalhete de flores fragrantes.
A criança ficou feliz ao chegar no parque, ou estava assim b) A justiça infligiu a pena merecida aos desordeiros.
antes? c) Promoveram uma festa beneficiente para a creche.
d) Devemos ser fiéis ao cumprimento do dever.
Feliz, a criança foi ao parque. e) A cessão de terras compete ao Estado.

Uso de forma indistinta entre o pronome relativo e a 07. O ...... do prefeito foi ..... ontem.
conjunção integrante a) mandado - caçado
b) mandato - cassado
A estudante falou com o garoto que estudava enfermagem. c) mandato - caçado
d) mandado - casçado

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APOSTILAS OPÇÃO
e) mandado - cassado Questão

08. Marque a alternativa cujas palavras preenchem 01. Os vocábulos destacados em “Na banca da feira da
corretamente as respectivas lacunas, na frase seguinte: vinte e cinco, havia cupuaçu, bacuri, taperebá e outras frutas
“Necessitando ...... o número do cartão do PIS, ...... a data de meu regionais.”, têm relação entre si por possuírem o mesmo campo
nascimento.” semântico, isto é, todos são frutas inclusive típicas da Amazônia.
a) ratificar, proscrevi Tais termos destacados, em relação à palavra “fruta”, são
b) prescrever, discriminei designados como:
c) descriminar, retifiquei
d) proscrever, prescrevi (A) hiperônimos.
e) retificar, ratifiquei (B) hipônimos.
(C) cognatos.
09. “A ......... científica do povo levou-o a .... de feiticeiros os ..... (D) polissêmicos.
em astronomia.” (E) parônimos.
a) insipiência tachar expertos
b) insipiência taxar expertos Resposta
c) incipiência taxar espertos 01. B
d) incipiência tachar espertos
e) insipiência taxar espertos

10. Na oração: Em sua vida, nunca teve muito ......, Ordem das palavras/orações
apresentava-se sempre ...... no ..... de tarefas ...... . As palavras no enunciado; Estrutura
adequadas para preenchimento das lacunas são: do enunciado;
a) censo - lasso - cumprimento - eminentes
b) senso - lasso - cumprimento - iminentes
c) senso - laço - comprimento - iminentes
d) senso - laço - cumprimento - eminentes Equivalência e transformação de estruturas
e) censo - lasso - comprimento - iminentes
A equivalência e transformação de estruturas consiste
Respostas em saber mudar uma sentença ou parte dela de modo a que
fique gramaticalmente correta. Um exemplo muito comum em
01.(B) / 02.(B) / 03.(A) / 04.(D) / 05.(B) / 06.(C) / provas de concursos é o enunciado trazer uma frase no singular,
07.(B) / 08.(E) / 09.(A) / 10.(B) por exemplo, e pedir que o aluno passe a frase para o plural,
mantendo o sentido. Outro exemplo é o enunciado dar a frase
em um tempo verbal, e pedir que o aluno a passe para outro
Hiperonímia e Hiponímia tempo. Ou ainda a reescritura de trechos, mantendo a correção
semântica e sintática.
Hiperonímia e Hiponímia: Tais vocábulos estão
relacionados ao estudo da semântica – ciência que se ocupa Paralelismo sintático (e paralelismo semântico)
do significado das palavras. Nela falando, sempre nos vêm à
mente algumas noções relacionadas à antonímia, sinonímia, Desde o primeiro instante em que nos propomos a discorrer
polissemia, paronímia, homonímia, mas quase nunca ouvimos sobre ambos os elementos, somos impulsionados a tornar
falar da hiperonímia e da hiponímia. Sendo assim, vejamos um evidentes nossos conhecimentos em relação às estruturas
pouco acerca das características que as norteiam: que compõem uma boa escrita. Mesmo que todas estejam
interligadas entre si, formando uma relação de dependência,
Partindo do princípio de que as palavras estabelecem entre mencioná-las de forma particular não seria algo viável para o
si uma relação de significado, observe este enunciado: momento. Em razão disso, procuraremos exaltar uma, ora tida
como sendo de singular importância – a coerência.
Fomos à feira e compramos maçã, banana, abacaxi, melão...
Nossa! Como estavam baratas, pois são frutas da estação. Desta forma, para que toda interlocução se materialize
de forma plausível, antes de tudo, as ideias precisam estar
Atendo-nos aos vocábulos “maçã”, “banana”, “abacaxi”, dispostas em uma sequência lógica, clara e precisa, pois, se
“melão” e também “frutas”, perguntamo-nos: existe alguma por um motivo ou outro houver uma quebra desta sequência,
relação entre eles? Toda, não é verdade? Desse modo, ao o discurso certamente estará comprometido. Mediante este
observar o conceito de hiperonímia e hiponímia, chegaremos à aspecto, vale dizer que determinados elementos revelam sua
conclusão ora pretendida. Note: parcela de contribuição para que tais pressupostos se tornem
efetivamente concretizados, o que é garantido, muitas vezes,
Hiperonímia = como o próprio prefixo já nos indica, esta pelo paralelismo sintático e pelo paralelismo semântico.
palavra confere-nos uma ideia de um todo, sendo que deste todo
se originam outras ramificações, como é o caso de frutas. Esses se caracterizam pelas relações de semelhança que
determinadas palavras e expressões apresentam entre si. Tais
Hiponímia = demarcando o oposto do conceito da palavra relações de similaridade podem se dar no campo morfológico
anterior, podemos afirmar que ela representa cada parte, cada (quando as palavras integram a mesma classe gramatical),
item de um todo, no caso: maçã, banana, abacaxi, melão. Sim, no semântico (quando há correspondência de sentido) e no
essas são palavras hipônimas. sintático (quando a construção de frases e orações se apresenta
de forma semelhante).
E frutas? “Frutas” representa, portanto, uma palavra
hiperonímica de todas as que a ela se relacionam. Assim, analisemos um caso no qual podemos constatar a
ausência de paralelismo de ordem morfológica: A tão inesperada
Eis a grande diferença que demarca o objeto de estudo aqui decisão é fruto resultante de humilhações, mágoas, concepções
abordado. equivocadas e agressores por parte de colegas que almejavam
ocupar sua função.
Fonte: http://portugues.uol.com.br/gramatica/hiperonimia-
hiponimia.html Constatamos uma nítida ruptura relacionada a fatores de
ordem gramatical, demarcada pela exposição de um adjetivo

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(agressores) em detrimento ao substantivo “agressões”.

Ausência de paralelismo de ordem semântica: Discursos direto e indireto;

Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos de


réis (Machado de Assis). Detectamos que houve uma quebra de
sentido com relação à ideia expressa pelo tempo, ao associá-lo
com a noção de quantidade, valor. Discurso é a prática humana de construir textos, sejam eles
escritos ou orais. Sendo assim, todo discurso é uma prática
Ausência de paralelismo de ordem sintática: social. A análise de um discurso deve, portanto, considerar o
contexto em que se encontra, assim como as personagens e as
O respeito às leis de trânsito não representa segurança condições de produção do texto.
somente para o motorista e é para o pedestre. Tal ocorrência
manifesta-se por intermédio do uso do conectivo e em Em um texto narrativo, o autor pode optar por três tipos
detrimento a outro, que também integra a classe das conjunções de discurso: o discurso direto, o discurso indireto e o discurso
aditivas, representado pela expressão “mas também.” Assim, no indireto livre. Não necessariamente estes três discursos estão
intento de reformularmos o discurso, obteríamos: separados, eles podem aparecer juntos em um texto. Dependerá
de quem o produziu.
O respeito às leis de trânsito não representa segurança
somente para o motorista, mas também para o pedestre. Vejamos cada um deles:

Vejamos alguns casos que representam esta dualidade Discurso Direto: Neste tipo de discurso as personagens
paralelística: ganham voz. É o que ocorre normalmente em diálogos. Isso
permite que traços da fala e da personalidade das personagens
não só... mas também sejam destacados e expostos no texto. O discurso direto
O respeito às leis de trânsito representa segurança não só reproduz fielmente as falas das personagens. Verbos como
para o motorista, mas também para o pedestre. dizer, falar, perguntar, entre outros, servem para que as falas das
Tal construção, além de expressar a ideia de adição, personagens sejam introduzidas e elas ganhem vida, como em
ainda retrata um enfoque especial ao se referir aos pedestres uma peça teatral.
(representada pela conjunção “mas também”).
Travessões, dois pontos, aspas e exclamações são muito
quanto mais... (tanto) mais comuns durante a reprodução das falas.
Atualmente, quanto mais nos aperfeiçoamos, mais temos
condições de ser bem sucedidos. As estruturas paralelísticas Exemplo:
denotam o sentido de progressão entre os elementos.
“O Guaxinim está inquieto, mexe dum lado pra outro. Eis
tanto... quanto que suspira lá na língua dele - Chente! que vida dura esta de
O tabagismo é prejudicial tanto para os fumantes guaxinim do banhado!...”
ativos, quanto para os passivos. Aqui, tais estruturas, além
de expressarem adição, ainda acrescentam uma ideia de “- Mano Poeta, se enganche na minha garupa!”
equiparação ou equivalência.
Discurso Indireto: O narrador conta a história e reproduz
primeiro... segundo fala, e reações das personagens. É escrito normalmente em
Há dois procedimentos a realizar: primeiro você diz toda a terceira pessoa. Nesse caso, o narrador se utiliza de palavras
verdade; segundo, pede desculpas pelo erro cometido. suas para reproduzir aquilo que foi dito pela personagem.
Constatamos que os elementos utilizados se relacionam à
ideia de uma enumeração, evidenciados de forma sequencial. Exemplo:

não... e não / nem “Elisiário confessou que estava com sono.” (Machado de
Não obteve um bom resultado neste ano, nem no anterior. Assis)
Tal recurso foi empregado no sentido de evidenciar uma
sequência negativa em relação aos fatos. “Fora preso pela manhã, logo ao erguer-se da cama, e, pelo
cálculo aproximado do tempo, pois estava sem relógio e mesmo
seja... seja / quer...quer / ora... ora se o tivesse não poderia consultá-la à fraca luz da masmorra,
Quer você apareça, quer não, iremos ao cinema. imaginava podiam ser onze horas.” (Lima Barreto)
O emprego das estruturas paralelísticas está relacionado à
noção de alternância no que se refere às ações. Passagem do discurso direto para discurso indireto

por um lado... por outro Na passagem do discurso direto para o discurso indireto,
Se por um lado as obras garantem o emprego de todos, por ocorre mudança nas pessoas do discurso, mudança nos tempos
outro, desagradam aos moradores. verbais, mudança na pontuação das frases e mudança nos
advérbios e adjuntos adverbiais.
Tempos verbais.
Mudança das pessoas do discurso: Toda a narrativa que
Se todos comparecessem, o evento ficaria mais animado. se encontre na 1.ª pessoa no discurso direto passa para a 3.ª
/ se todos comparecerem, o evento ficará mais animado. pessoa no discurso indireto, incluindo nessa mudança não só o
Constatamos que o emprego do pretérito imperfeito do verbo, mas também todos os pronomes que aparecem na frase,
subjuntivo (comparecessem) na oração subordinada condicional como os pronomes eu, nós e meu, que passam para ele/ela, eles/
requisita o emprego do futuro do pretérito (ficaria) na oração elas e seu no discurso indireto.
principal. Já o emprego do futuro do subjuntivo (comparecerem)
na oração subordinada pede o emprego do futuro do presente Mudança de tempos verbais nos tempos do indicativo: O
(ficará) na principal. presente no discurso direto passa para pretérito imperfeito no
discurso indireto, o pretérito perfeito no discurso direto passa
Fonte: http://classroombr.blogspot.com.br/2014/07/equivalencia- para pretérito mais-que-perfeito no discurso indireto e o futuro
e-transformacao-de.html do presente no discurso direto passa para futuro do pretérito no

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APOSTILAS OPÇÃO
discurso indireto. (E) dissertação - discurso direto e indireto - dinamizar - pro-
tagonizar - em que.
Mudança de tempos verbais nos tempos do subjuntivo:
O presente e o futuro no discurso direto passam para pretérito 03. Faça a associação entre os tipos de discurso e assinale a
imperfeito no discurso indireto. sequência correta.
1. Reprodução fiel da fala da personagem, é demarcado
Mudança de tempos verbais no imperativo: O imperativo pelo uso de travessão, aspas ou dois pontos. Nesse tipo de dis-
no discurso direto passa para pretérito imperfeito do subjuntivo curso, as falas vêm acompanhadas por um verbo de elocução,
no discurso indireto. responsável por indicar a fala da personagem.
2. Ocorre quando o narrador utiliza as próprias palavras
Mudança na pontuação das frases: Frases interrogativas, para reproduzir a fala de um personagem.
exclamativas e imperativas no discurso direto passam para 3. Tipo de discurso misto no qual são associadas as ca-
frases declarativas no discurso indireto. racterísticas de dois discursos para a produção de outro. Nele a
fala da personagem é inserida de maneira discreta no discurso
Mudança nas noções temporais: As noções temporais do narrador.
como ontem, hoje e amanhã no discurso direto passam para no
dia anterior, naquele dia e no dia seguinte no discurso indireto. ( ) discurso indireto
( ) discurso indireto livre
Mudança nas noções espaciais: As noções espaciais como ( ) discurso direto
aqui, aí, este e isto no discurso direto passam para ali, lá, aquele
e aquilo no discurso indireto. (A) 3, 2 e 1.
(B) 2, 3 e 1.
Exemplo: (C) 1, 2 e 3.
Discurso direto: - Iremos de férias amanhã. (D) 3, 1 e 2.
Discurso indireto: Eles disseram que iriam de férias no dia
seguinte. 04. “Impossível dar cabo daquela praga. Estirou os olhos
pela campina, achou-se isolado. Sozinho num mundo coberto
Discurso Indireto Livre: O texto é escrito em terceira pessoa de penas, de aves que iam comê-lo. Pensou na mulher e sus-
e o narrador conta a história, mas as personagens têm voz pirou.  Coitada de Sinhá Vitória, novamente nos descampados,
própria, de acordo com a necessidade do autor de fazê-lo. Sendo transportando o baú de folha.”
assim é uma mistura dos outros dois tipos de discurso e as duas
vozes se fundem. O narrador desse texto mistura-se de tal forma à persona-
gem que dá a impressão de que não há diferença entre eles. A
Exemplo: personagem fala misturada à narração. Esse discurso é chama-
do:
“Que vontade de voar lhe veio agora! Correu outra vez com (A) discurso indireto livre
a respiração presa. Já nem podia mais. Estava desanimado. Que (B) discurso direto
pena! Houve um momento em que esteve quase... quase!” (C) discurso indireto
(D) discurso implícito
“Retirou as asas e estraçalhou-a. Só tinham beleza. (E) discurso explícito 
Entretanto, qualquer urubu... que raiva...” (Ana Maria Machado)
Respostas
“D. Aurora sacudiu a cabeça e afastou o juízo temerário. Para
que estar catando defeitos no próximo? Eram todos irmãos. 01. Resposta D
Irmãos.” (Graciliano Ramos) Apenas no discurso direto as personagens ganham voz. Para
construirmos um discurso direto, devemos utilizar o travessão e
FONTE: Celso Cunha in Gramática da Língua Portuguesa, 2ª edição. os chamados verbos de elocução, ou seja, verbos que indicam o
que as personagens falaram.
Questões Exemplo de verbo de elocução:
– Muita fome! – Lucas respondeu, passando sua mão pela
01. Sobre o discurso indireto é correto afirmar, EXCETO: barriga.
(A) No discurso indireto, o narrador utiliza suas próprias pa- No exemplo acima, o verbo “respondeu” é o verbo de elocu-
lavras para reproduzir a fala de um personagem. ção.
(B) O narrador é o porta-voz das falas e dos pensamentos
das personagens. 02. Resposta C
(C) Normalmente é escrito na terceira pessoa. As falas são
iniciadas com o sujeito, mais o verbo de elocução seguido da fala 03. Resposta B
da personagem.
(D) No discurso indireto as personagens são conhecidas 04. Resposta A
através de seu próprio discurso, ou seja, através de suas pró- O discurso indireto livre é um tipo de discurso misto, em que
prias palavras.  se associam as características do discurso direto e do indireto. 

02. Assinale a alternativa que melhor complete o seguinte


trecho:
No plano expressivo, a força da ____________ em _____________ Escrita do texto
provém essencialmente de sua capacidade de _____________ o epi-
sódio, fazendo ______________ da situação a personagem, tornando-
-a viva para o ouvinte, à maneira de uma cena de teatro __________ Ato de Escrever
o narrador desempenha a mera função de indicador de falas.
(A) narração - discurso indireto - enfatizar - ressurgir – onde; “Escrever é expressar-se.
(B) narração - discurso onisciente - vivificar - demonstrar- Escrever é lembrar-se.
-se – donde; Uns escrevem para salvar a humanidade ou incitar lutas de
(C) narração - discurso direto - atualizar - emergir - em que; classes, outros para se perpetuar nos manuais de literatura ou
(D) narração - discurso indireto livre - humanizar - imergir conquistar posições e honrarias.
- na qual; Os melhores são os que escrevem pelo prazer de escrever.”

Língua Portuguesa 20
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APOSTILAS OPÇÃO
Lêdo Ivo apud Campedelli, 1998, p. 335 Tema:
O crescente dinamismo que permeia a sociedade, aliado à
Como sabemos, a redação é um dos elementos mais requisi- inovação tecnológica, requer um aperfeiçoamento profissional
tados em processos seletivos de uma forma geral, e em virtude constante.
disso é que devemos estar aptos para desenvolvê-la de forma
plausível e, consequentemente, alcançarmos o sucesso almeja- Título:
do. A importância da capacitação profissional no mundo
contemporâneo.
Escrever redação não é difícil! A primeira coisa que pode-
mos salientar para que tenha um bom desempenho com o seu Como podemos perceber, o tema é algo mais abrangente e
trabalho é sempre priorizar as questões de coerência e também consiste no assunto que deve ser explorado ao longo do texto.
coesão, em outras palavras, dar cabo no assunto, e não fugir dele Já o título é algo mais sintético, é como se fosse afunilando o
em momento algum. assunto que será posteriormente discutido.
O importante é sabermos que: do tema é que se extrai o título,
É sempre importante estarmos atentos para a realidade haja vista que o tema é um elemento-base, fonte norteadora
mundial e em especial a brasileira, temos que ler e assistir para os demais passos.
jornais, ler revistas, etc. em síntese, estar em sintonia com as Existem certos temas que não revelam uma nítida
notícias, pois manter-se sempre atualizado pode ser a chave objetividade, como o exposto anteriormente. É o caso de
para o sucesso. fragmentos literários, trechos musicais, frases de efeito, entre
outros.
Os concursos públicos e vestibulares atuais exploram com Nesse caso, exige-se mais do leitor quanto à questão da
certo peso essas atualidades, incorporando o aspecto do dia interpretação, para daí chegar à ideia central, como podemos
a dia. As provas de hoje estão todas intertextualizadas, com a identificar por meio deste excerto:
integração de conteúdos comuns à prova de gramática, literatura
e interpretação de texto (uma boa interpretação é 60% de “As ideias são apenas pedras postas a atravessar a corrente
garantia de se ter uma boa nota), além do qual o senso crítico e de um rio, se estão ali é para que possamos chegar à outra
de compreensão do concursando farão a diferença. margem, a outra margem é o que importa”. (José Saramago)

Uma redação bem feita é sinal que a pessoa tem um bom Essa linguagem, quando analisada, leva-nos a inferir o
conhecimento da sua língua. É necessário também ter calma e seguinte e que este poderia ser o título:
paciência, sempre prestar muita atenção nas propostas dadas A importância da coerência e da coesão para o sentido do
pelos examinadores. texto.
Fazendo parte também dessa composição estão os temas
Faça um rascunho a lápis de sua redação, crie seu texto, revise apoiados em imagens, como é o caso de gráficos, histórias em
para ver se não há erros, e passe a limpo na folha especificada a quadrinhos, charges e pinturas. Tal ocorrência requer o mesmo
tinta. Depois disso é torcer para que você tenha ido muito bem procedimento por parte do leitor, ou seja, que ele desenvolva seu
e conseguido uma boa nota, já que na maioria dos concursos e conhecimento de mundo e sua capacidade de interpretação para
vestibulares do Brasil, a prova de redação tem um peso muito desenvolver um bom texto.
alto. O concurso ou o vestibular pode dar tanto o tema quanto
o título, de acordo com Gustavo Atallah Haun. Cabe ao redator
Na produção de um texto, o mais importante é como você saber manejar as duas formas.
organiza as ideias, muitas vezes o candidato sabe muito sobre Caso seja dado o título, este se tornará obrigatório no início
o assunto, todas as suas causas e consequências, porém ele não da prova, centralizado, na primeira linha (se não houver um
tem a preocupação de organizar suas ideias, e esse, certamente lugar específico para ele!). Podem daí surgir duas possibilidades,
é o responsável pela reprovação de muitos na prova de redação. o tema estar inserido nos textos de apoio que acompanham o
enunciado da questão ou do título você terá que tirar o tema.
O modo de correção da prova é muito rígido, de modo que Se for dado o tema em destaque, durante ou após o
determinado professor não possa expor sua opinião julgando enunciado da redação, você terá que falar especificamente dele,
o concursando ao espelho de seu pensamento. A correção independente do assunto tratado nos textos de apoio.
abordará aspectos formais do texto, o emprego da gramática Muitas bancas examinadoras não exigem o título. Na maioria
normativa, o senso crítico e a correlação tema/texto. das vezes ele é opcional. Porém, quando for obrigatório vai ter
Escrever bem não é coisa do outro mundo, é alcançável a sempre na instrução da prova: “Dê um título ao seu texto” ou
todos, basta apenas interesse. “Seu texto deve ter título” e similares. Portanto, leia com atenção
as instruções da sua prova de produção textual.
Tema e Título
PRINCIPAIS DIFERENÇAS ENTRE TEMA X TÍTULO:
Segundo Vânia Duarte, tecer um bom texto é uma tarefa
que requer competência por parte de quem a pratica, pois a
construção textual não pode ser vista como um emaranhado
de frases soltas e ideias desconexas. Pelo contrário, elas devem
estar organizadas e justapostas entre si, denotando clareza de
sentido em relação à mensagem que se deseja transmitir.
Como sabemos, a redação é um dos elementos mais
requisitados em processos seletivos de uma forma geral. Por
essa razão,devemos estar aptos para desenvolvê-la de forma
plausível e, consequentemente, alcançarmos o sucesso almejado. Fique atento e não cometa esse erro!
Geralmente, a proposta é acompanhada de uma coletânea de
textos, que deve ser lida de forma atenta para percebermos qual Delimitado ou não
é o tema abordado em questão. O tema pode vir amplo, genérico, ou já delimitado. Atenção
Diante disso, é essencial que entendamos a diferença máxima quanto a isso. No primeiro caso, pode-se pedir para
existente entre estes dois elementos: Título e Tema. Para tal, escrever sobre “Violência”, por exemplo, e dentro desse tema
aprofundaremos mais nossos conhecimentos sobre o assunto. tão universal, você ter que especificar, delimitá-lo: “A violência
doméstica está crescendo no Brasil em pleno século XXI”. Pronto,
Consideremos o exposto abaixo: agora é só começar a escrever.

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APOSTILAS OPÇÃO
Tema objetivo ou subjetivo? reconhece sobre o que se pode falar no texto.
Outro aspecto importante que se tem que ficar atento é se o
tema é de âmbito objetivo ou subjetivo. Modelo com tema objetivo
Para entender a diferença entre um tema objetivo e um 1º. Tema: Desenvolvimento e Meio Ambiente.
tema subjetivo, faz-se necessário, antes, relembrar que há
mais de uma forma de usar as palavras: no sentido real ou no 2º. Delimitação do Assunto:
sentido figurado. Essa diferenciação não se faz apenas no uso • como conciliar desenvolvimento econômico e preservação
da linguagem escrita ou falada, mas também ao se fazer uso do meio ambiente?
de outras linguagens. Explico: quando se assiste a um filme, • estar o meio ambiente em estado de degradação é sinal de
é possível associar seu enredo a outros significados que não evolução da sociedade capitalista ou “involução”?
apenas aquele aparente; você assistiu a “Matrix”, por exemplo?
Será que aquela história de se viver um mundo falso, que alguém 3º. Tese: Depois de as grandes potências econômicas
programa para nós, não é uma grande metáfora? Vemos tudo o passarem pelo período de exploração da maior parte dos
que existe? O que existe é real ou nossos sentidos nos enganam? recursos naturais existentes, e pelo completo descuido com
O verde que você vê é o verde que eu vejo? Como saber? o meio ambiente, surge a preocupação em se controlar esse
Você poderá pensar desta forma também ao admirar uma processo, antes desordenado, para que se possa falar em
pintura, uma escultura, um grafite na rua, e se perguntar: o que gerações futuras.
será que se quis dizer com essa representação? Enfim, consegue
perceber a possibilidade de mais de uma leitura nas diferentes Adequação Vocabular
linguagens? Os examinadores esperam que você seja analítico,
que faça associações, que entenda não ser mundo algo estático Adequação Vocabular é obter das palavras os melhores
sócio-econômico-política e culturalmente. Então, guarde esses efeitos. É conseguir usar as palavras adequadas ao contexto
conceitos: em que elas são produzidas: para quem são produzidas, quem
produz, com que finalidade, em que ambiente e momento.
Denotação - palavra usada em sentido literal: objetividade: É conseguir usar as palavras corretamente e, como recurso,
Ex.: Meu coração está batendo acelerado. conseguir substituí-las por outras sem prejuízo de sentido.
Como adequar as palavras? Uma das formas de adequação
Conotação - palavra usada em sentido figurado: vocabular, é a substituição de um termo por um hipônimo ou
subjetividade. hiperônimo. Hiperônimo é uma palavra que apresenta um
Ex.: Meu coração galopa quando te vê... significado mais abrangente que o seu hipônimo, palavra com
significado mais restrito. É o que acontece com as palavras
doença (hiperônimo) e gripe (hipônimo).
Também podemos adequar bem as palavras usando e
aplicando os conceitos de homonímia, paronímia, sinonímia,
antonímia, conotação e denotação, discutidos em aulas
anteriores. A adequação vocabular depende de uma boa escolha
lexical.
Adequação linguística
Fatores Contexto
Construindo um Texto a Partir de Um Tema Objetivo e
Interlocutores Com quem estamos falando?
Um Subjetivo
Situação É uma situação formal ou
Vimos anteriormente que, o tema é a proposta para a informal?
redação. Você irá delimitar o assunto e a partir dessa delimitação
Assunto Tratamos de assuntos
irá formular sua tese (a afirmação central sobre o assunto, que
será desenvolvida e comprovada no texto). Observe que há diferentes com o mesmo tipo
uma tendência de os vestibulares apresentarem o tema e uma de linguagem? O nascimento
coletânea de textos, de todos os tipos: fragmentos filosóficos, um bebê é anunciado da
excertos literários; poemas; reportagens ou notícias de jornais mesma forma que um
e revistas; cartuns ou pinturas. Normalmente, o avaliador não velório?
deseja um texto com visão limitada sobre o assunto. Caso tenha Ambiente Estamos em uma festa ou no
pela frente um tema subjetivo, haverá a necessidade de se
escritório?
interpretar a proposta.
Agostinho Dias Carneiro em seu livro Redação em
Observe os seguintes modelos:
Construção* descreve seis critérios de adequação vocabular,
listados a seguir:
Modelo com tema subjetivo
1º. Tema subjetivo: “Tudo o que é sólido desmancha no ar.”
1. A adequação ao referente
(Karl Marx )
Esse critério baseia-se na utilização de vocábulos gerais
frente a vocábulos específicos. O exemplo que o autor dá é
2º. Delimitação do Assunto:
a palavra ver, que tem emprego mais amplo que observar,
• a observação de como a história elimina estruturas
contemplar, distinguir, espiar, fitar etc.
aparentemente eternas.
Se eu disser, por exemplo, Pedro estava muito triste com a
• trata-se de uma referência às instituições, comportamentos,
separação. Por isso, foi à praia, sentou-se na areia e viu o sol,
modelos econômicos, que se modificam no tempo.
certamente causará estranhamento no interlocutor. Ao passo
que se eu disser Pedro estava muito triste com a separação.
3º. Tese: Nosso cotidiano parece cercado por estruturas
Por isso, foi à praia, sentou-se na areia e contemplou o sol,
fixas, imutáveis, sejam instituições, relações de poder, formas de
não haverá nenhum problema na comunicação, pois houve
vida. Mas, se dermos um passo atrás e olhamos a história, o que
adequação quanto ao uso do vocábulo.
encontramos é uma sucessão de transformações, em que estas
estruturas, que pareciam eternas, são criadas e destruídas.
2. Adequação ao ponto de vista
Aqui serão levados em consideração os vocábulos positivos,
Esse foi um exemplo com tema subjetivo. Vejamos um
neutros e negativos.
exemplo de tema objetivo. Lê-se o tema e imediatamente se

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APOSTILAS OPÇÃO
Em Você me deu um café gelado, a palavra gelado assume pelo conhecimento mútuo dos interlocutores sobre si mesmos e
valor negativo, entretanto, assume valor positivo em Depois do sobre as regras de convivência colocadas.
trabalho vamos tomar uma cerveja gelada? Se o texto tivesse sido compreendido no sentido literal –
ou seja, se tivessem sido consideradas as suas informações
3. Adequação aos interlocutores explícitas– a resposta da professora teria que ser outra- como,
Há, nesse critério, quatro tipos de seleção vocabular: quanto por exemplo, “São cinco para as 11”. Nesse caso, as autorizações
à atividade profissional com o uso dos jargões; quanto à imagem não teriam sido dadas e os alunos continuariam executando as
social de um dos interlocutores, ou seja, um chefe de Estado se tarefas.
expressa como o que se espera de alguém que ocupa tal cargo; Podemos dizer, então, que o sentido de um texto é
quanto à idade com o uso de vocábulos modernos (luminária) constituído tanto por informações que são apresentadas
ou antigos (abajur) ou quanto à origem dos interlocutores com explicitamente na superfície ou linearidade do texto, quanto por
emprego do vocábulo regional (piá – criança). outras, que se encontram implícitas. As primeiras são facilmente
localizáveis no texto, pois se encontram escritas com todas as
4. Adequação à situação de comunicação letras. Já as segundas são dependentes do repertório prévio dos
Refere-se, esse critério, ao uso de vocábulos formais ou interlocutores e das características da situação comunicativa.
informais e ainda aos estrangeirismos. A capacidade de localizar informações explícitas no texto é
Lembrando que palavras estrangeiras devem ser grafadas fundamental para a constituição da proficiência leitora e deve
entre aspas nas redações e só devem ser usadas quando ser objeto de ensino, desde os primeiros anos de escolarização,
necessárias, ou seja, quando forem importantes para o já no processo de alfabetização. Muitos consideram essa
entendimento; em uma situação de estilo ou quando não houver capacidade a mais simples de todas. No entanto, é preciso
palavra equivalente na Língua Portuguesa. considerar que nenhuma capacidade de leitura é mobilizada no
vazio, mas sempre em função da materialidade textual. Assim, se
5. Adequação ao código o texto for mais complexo ou extenso, o processo de localização
É relevante para esse critério a correção não só ortográfica, da informação solicitada – e a decorrente atribuição de sentido -
mas também semântica, respeitando os significados poderá ser igualmente mais complexo.
dicionarizados.
Agostinho ressalta que os empregos “de moda” devem Informações Implícitas
evitados, pois “em nada contribuem para o real enriquecimento Muitos candidatos ao ENEM se perguntam como melhorar
de um idioma” e dá um exemplo: colocar em lugar de apresentar sua capacidade de interpretação dos textos. Primeiramente, é
e assumir em lugar de responsabilizar-se: preciso ter em mente que um texto é formado por informações
– Vou colocar aqui um problema… explícitas e implícitas. As informações explícitas são aquelas
– Se der errado, eu assumo… manifestadas pelo autor no próprio texto. As informações
implícitas não são manifestadas pelo autor no texto, mas podem
Somam-se a esse caso, os parônimos e os homônimos ser subentendidas. Muitas vezes, para efetuarmos uma leitura
(homógrafos e homófonos), já tratados em outra aula. ( tópico eficiente, é preciso ir além do que foi dito, ou seja, ler nas
jà tratado aqui) entrelinhas.
Por exemplo, observe este enunciado:
6. Adequação ao contexto
As situações textuais revelam-se nas relações desenvolvidas - Patrícia parou de tomar refrigerante.
entre as palavras do texto. Por exemplo, se há relação de causa A informação explícita é “Patrícia parou de tomar
e efeito – tropeçar / cair; se há relação de finalidade – livro / refrigerante”. A informação implícita é “Patrícia tomava
estudar; se há relação de parte e todo – rei / xadrez; se há relação refrigerante antes”.
de sinonímia – aroma / perfume; se há relação de antonímia
– entrar / sair; se há relação de unidade e coletivo – livro / Agora, veja este outro exemplo:
biblioteca; se há relação de objeto e ação – cadeira / sentar e se -Felizmente, Patrícia parou de tomar refrigerante.
há relação simbólica – pomba / paz. A informação explícita é “Patrícia parou de tomar
O uso do vocábulo fora de um desses critérios e até mesmo refrigerante”. A palavra “felizmente” indica que o falante tem
em critério inadequado à situação será erro. uma opinião positiva sobre o fato – essa é a informação implícita.
Com esses exemplos, mostramos como podemos inferir
Fonte:s http://slideplayer.com.br/slide/1270845/ informações a partir de um texto. Fazer uma inferência significa
http://conversadeportugues.com.br/2015/11/adequacao-e- concluir alguma coisa a partir de outra já conhecida. Nos
inadequacao-linguistica/ vestibulares, fazer inferências é uma habilidade fundamental
para a interpretação adequada dos textos e dos enunciados.
Informações Implícitas e Explícitas A seguir, veremos dois tipos de informações que podem ser
inferidas: as pressupostas e as subentendidas.
Para que seja possível compreender o que vem a ser
informação explícita em um texto, é preciso compreender que Pressupostos
a linguagem verbal é polissêmica: um mesmo enunciado pode Uma informação é considerada pressuposta quando um
assumir diferentes sentidos em diferentes contextos e diferentes enunciado depende dela para fazer sentido.
leitores podem atribuir sentidos distintos a um texto, segundo Considere, por exemplo, a seguinte pergunta: “Quando
Kátia Lomba Bräkling. Patrícia voltará para casa?”. Esse enunciado só faz sentido
se considerarmos que Patrícia saiu de casa, ao menos
Vejamos a interação a seguir: temporariamente – essa é a informação pressuposta. Caso
Aluno: [levantando a mão] Professora, você pode me dizer Patrícia se encontre em casa, o pressuposto não é válido, o que
que horas são? torna o enunciado sem sentido.
Professora: [olha no relógio e responde] Podem guardar o Repare que as informações pressupostas estão marcadas
material, pessoal! através de palavras e expressões presentes no próprio enunciado
Aluno: Êba! [rapidamente, guarda o material, seguido por e resultam de um raciocínio lógico. Portanto, no enunciado
outros colegas] “Patrícia ainda não voltou para casa”, a palavra “ainda” indica
Podemos observar que o aluno não perguntou se poderia que a volta de Patrícia para casa é dada como certa pelo falante.
guardar o material. No entanto, pela reação dele era o que queria
saber. A professora, interpretando a sua intenção, autorizou a Subentendidos
guarda do material, encerrando a aula. Nesse caso, o sentido Ao contrário das informações pressupostas, as informações
dos enunciados foi definido por fatores externos ao texto, subentendidas não são marcadas no próprio enunciado,
autorizados pelas características da situação comunicativa e são apenas sugeridas, ou seja, podem ser entendidas como

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APOSTILAS OPÇÃO
insinuações. e) impulsionará o crescimento da qualidade da leitura dos
O uso de subentendidos faz com que o enunciador se esconda brasileiros, uma vez que as características do produto permitem
atrás de uma afirmação, pois não quer se comprometer com ela. que a leitura aconteça a despeito das adversidades geopolíticas.
Por isso, dizemos que os subentendidos são de responsabilidade
do receptor, enquanto os pressupostos são partilhados por Resposta
enunciadores e receptores.
Em nosso cotidiano, somos cercados por informações 01. (B) Observe que o enunciado da questão usa o verbo
subentendidas. A publicidade, por exemplo, parte de hábitos “inferir”, ou seja, espera-se que o candidato seja capaz de chegar
e pensamentos da sociedade para criar subentendidos. Já a a uma conclusão a partir da leitura dos dois textos. Nesse caso,
anedota é um gênero textual cuja interpretação depende a a leitura dos textos separadamente pode levar o candidato ao
quebra de subentendidos. erro. A partir da leitura do gráfico, o candidato deve inferir
que a telefonia celular abrange apenas uma parte do território
Fonte: http://educacao.globo.com/portugues/assunto/estudo-do- brasileiro, o que atrapalha a democratização do livro digital.
texto/implicitos-e-pressupostos.html (Adaptado)
Argumentação
Questão
Argumentar é a capacidade de relacionar fatos, teses,
01. Texto I estudos, opiniões, problemas e possíveis soluções a fim de
embasar determinado pensamento ou ideia.
Um texto argumentativo sempre é feito visando um
destinatário. O objetivo desse tipo de texto é convencer,
persuadir, levar o leitor a seguir uma linha de raciocínio e a
concordar com ela.
Para que a argumentação seja convincente é necessário
levar o leitor a um “beco sem saída”, onde ele seja obrigado a
concordar com os argumentos expostos.
No caso da redação, por ser um texto pequeno, há uma
obrigatoriedade em ser conciso e preciso, para que o leitor possa
ser levado direto ao ponto chave. Para isso é necessário que se
exponha a questão ou proposta a ser discutida logo no início
do texto, e a partir dela se tome uma posição, sempre de forma
impessoal. O envolvimento de opiniões pessoais, além de ser
terminantemente proibido em textos que serão analisados em
concursos, pode comprometer a veracidade dos fatos e o poder
de convencimento dos argumentos utilizados. Por exemplo,
Época. 12 out. 2009 (adaptado). (Foto: Reprodução/Enem) é muito mais aceitável uma afirmação de um autor renomado
ou de um livro conhecido do que o simples posicionamento do
Texto II redator a respeito de determinado assunto.
CONEXÃO SEM FIO NO BRASIL Uma boa argumentação só é feita a partir de pequenas regras
Onde haverá cobertura de telefonia celular para baixar as quais facilmente são encontradas em textos do dia-a-dia, já
publicações para o Kindle que durante a nossa vida levamos um longo tempo tentando
convencer as outras pessoas de que estamos certos.

Época. 12 out. 2009. (Foto: Reprodução/Enem) Os argumentos devem ter um embasamento, nunca deve-
se afirmar algo que não venha de estudos ou informações
A capa da revista Época de 12 de outubro de 2009 traz um previamente adquiridas.
anúncio sobre o lançamento do livro digital no Brasil. Já o texto Os exemplos dados devem ser coerentes com a realidade, ou
II traz informações referentes à abrangência de acessibilidade seja, podem até ser fictícios, mas não podem ser inverossímeis.
das tecnologias de comunicação e informação nas diferentes Caso haja citações de pessoas ou trechos de textos os
regiões do país. A partir da leitura dos dois textos, infere-se que mesmos devem ser razoavelmente confiáveis, não se pode citar
o advento do livro digital no Brasil qualquer pessoa.
a) possibilitará o acesso das diferentes regiões do país às Experiências que comprovem os argumentos devem ser
informações antes restritas, uma vez que eliminará as distâncias, também coerentes com a realidade.
por meio da distribuição virtual. Há de se imaginar sempre os questionamentos, dúvidas e
b) criará a expectativa de viabilizar a democratização da pensamentos contrários dos leitores quanto à sua argumentação,
leitura, porém esbarra na insuficiência do acesso à internet por para que a partir deles se possa construir melhores argumentos,
telefonia celular, ainda deficiente no país. fundamentados em mais estudo e pesquisa.
c) fará com que os livros impressos tornem-se obsoletos, Sobre a estrutura do texto:
em razão da diminuição dos gastos com os produtos digitais Deve conter uma lógica de pensamentos. Os raciocínios
gratuitamente distribuídos pela internet. devem ter uma relação entre si, e um deve continuar o que o
d) garantirá a democratização dos usos da tecnologia no outro afirmava.
país, levando em consideração as características de cada região No início do texto deve-se apresentar o assunto e a
no que se refere aos hábitos de leitura e acesso à informação. problemática que o envolve, sempre tomando cuidado para não

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APOSTILAS OPÇÃO
se contradizer. De modo geral, a relação entre tese e argumento pode ser
Ao decorrer do texto vão sendo apresentados os argumentos compreendida de duas maneiras principais:
propriamente ditos, junto com exemplificações e citações (se Argumento, portanto, Tese (A→ pt→T) ou Tese porque
existirem). Argumento (T→ pq→A):
No final do texto as idéias devem ser arrematadas com uma
tese (a conclusão). Essa conclusão deve vir sendo prevista pelo (A→ pt→T)
leitor durante todo o texto, a medida que ele vai lendo e se “O governo gasta, todos os anos, bilhões de reais no tratamento
direcionando para concordar com ela. das mais diversas doenças relacionadas ao tabagismo; os ganhos
A argumentação não trabalha com fatos claros e evidentes, com os impostos nem de longe compensam o dinheiro gasto com
mas sim investiga fatos que geram opiniões diversas, sempre em essas doenças. Além disso (Ainda, e, também, relação de adição
busca de encontrar fundamentos para localizar a opinião mais → quando se enumeram argumentos a favor de sua tese), as
coerente. empresas têm grandes prejuízos por causa de afastamentos de
Não se pode, em uma argumentação, afirmar a verdade ou trabalhadores devido aos males causados pelo fumo. Portanto
negar a verdade afirmada por outra pessoa. O objetivo é fazer (logo, por conseguinte, por isso, então → observem a relação
com que o leitor concorde e não com que ele feche os olhos para semântica de conclusão, típica de um silogismo), é mister que
possíveis contra-argumentos. sejam proibidas quaisquer propagandas de cigarros em todos os
Caso seja necessário se pode também fazer uma comparação meios de comunicação.”
entre vários ângulos de visão a respeito do assunto, isso poderá
ajudar no processo de convencimento do leitor, pois não dará (T→ pq→A)
margens para contra-argumentos. Porém deve-se tomar muito O governo deve imediatamente proibir toda e qualquer
cuidado para não se contradizer e para ser claro. Para isso é forma de propaganda de cigarro, porque (uma vez que, já que,
necessário um bom domínio do assunto. dado que, pois → relação de causalidade) ele gasta, todos os
anos, bilhões de reais no tratamento das mais diversas doenças
Organização Textual relacionadas ao tabagismo; e, muito embora (ainda que, não
O ser humano se comunica por meio de textos. Desde uma obstante, mesmo que → relação de oposição: usam-se as
simples e passageira interjeição como Olá até uma mensagem concessivas para refutar o argumento oposto) os ganhos com
muitíssimo extensa. Em princípio, esses textos eram apenas orais. os impostos sejam vultosos, nem de longe eles compensam o
Hoje, são também escritos. Nesse processo, os textos ganharam dinheiro gasto com essas doenças.
formas de organização distintas, com propósitos nitidamente
distintos também. As principais formas de organização textual Há diferentes tipos de argumentos e a escolha certa consolida
registradas na humanidade são, assim: o texto.
Narrativa: aquela que compreende textos que contam uma
história, relatam um acontecimento. Argumentação por citação
Argumentativa: a que visa ao convencimento do interlocutor. Sempre que queremos defender uma ideia, procuramos
Descritiva: cuja finalidade é apresentar concreta ou pessoas ‘consagradas’, que pensam como nós acerca do tema em
metaforicamente uma dada descrição. evidência.
Cada uma dessas formas de organização textual desdobra- Apresentamos no corpo de nosso texto a menção de uma
se em inúmeros gêneros textuais distintos, que nada mais são informação extraída de outra fonte.
do que cada concretizável possível a cada um dos objetivos
textuais. Assim, por exemplo, a diferentes formas e formatos A citação pode ser apresentada assim:
para se narrar: fábula, conto de fadas, romance, conto, notícia, Assim parece ser porque, para Piaget, “toda moral consiste
fofoca, etc. num sistema de regras e a essência de toda moralidade deve ser
procurada no respeito que o indivíduo adquire por essas regras”
Texto Argumentativo (Piaget, 1994, p.11). A essência da moral é o respeito às regras.
Esse tipo de texto, que é aplicado nas redações do Enem, A capacidade intelectual de compreender que a regra expressa
inclui diferentes gêneros, tais quais, dissertação, artigo de uma racionalidade em si mesma equilibrada.
opinião, carta argumentativa, editorial, resenha argumentativa, O trecho citado deve estar de acordo com as ideias do texto,
dentre outros. assim, tal estratégia poderá funcionar bem.
Todo e qualquer texto argumentativo, como já dito, visa
ao convencimento de seu ouvinte/leitor. Por isso, ele sempre Argumentação por comprovação
se baseia em uma tese, ou seja, o ponto de vista central que se A sustentação da argumentação se dará a partir das
pretende veicular e a respeito do qual se pretende convencer informações apresentadas (dados, estatísticas, percentuais) que
esse interlocutor. Nos gêneros argumentativos escritos, a acompanham.
sobretudo, convém que essa tese seja apresentada, de maneira Esse recurso é explorado quando o objetivo é contestar um
clara, logo de início e que, depois, através duma argumentação ponto de vista equivocado.
objetiva e de diversidade lexical seja sustentada/defendida, com
vistas ao mencionado convencimento. Veja:
A estrutura geral de um texto argumentativo consiste de O ministro da Educação, Cristovam Buarque, lança hoje o
introdução, desenvolvimento e conclusão, nesta ordem. Cada Mapa da Exclusão Educacional. O estudo do Inep, feito a partir
uma dessas partes, por sua vez tem função distinta dentro da de dados do IBGE e do Censo Educacional do Ministério da
composição do texto: Educação, mostra o número de crianças de sete a catorze anos
que estão fora das escolas em cada estado.
Introdução: é a parte do texto argumentativo em que Segundo o mapa, no Brasil, 1,4 milhão de crianças, ou 5,5 %
apresentamos o assunto de que trataremos e a tese a ser da população nessa faixa etária (sete a catorze anos), para a qual
desenvolvida a respeito desse assunto. o ensino é obrigatório, não frequentam as salas de aula.
Desenvolvimento: é a argumentação propriamente dita, O pior índice é do Amazonas: 16,8% das crianças do estado,
correspondendo aos desdobramentos da tese apresentada. Esse ou 92,8 mil, estão fora da escola. O melhor, o Distrito Federal,
é o coração do texto, por isso, comumente se desdobra em mais com apenas 2,3% (7 200) de crianças excluídas, seguido por Rio
de um parágrafo. De modo geral, cada argumentação em defesa Grande do Sul, com 2,7% (39 mil) e São Paulo, com 3,2% (168,7
da tese geral do texto corresponde a um parágrafo. mil).
Conclusão: a parte final do texto em que retomamos a tese (Mônica Bergamo. Folha de S. Paulo, 3.12.2003)
central, agora já respaldada pelos argumentos desenvolvidos ao
longo do texto. Nesse tipo de citação o autor precisa de dados que
demonstrem sua tese.
Relação entre tese e argumento

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Argumentação por raciocínio lógico http://brasilescola.uol.com.br/redacao/a-argumentacao.htm
A criação de relações de causa e efeito é um recurso utilizado
para demonstrar que uma conclusão (afirmada no texto) é Texto e Textualidade
necessária, e não fruto de uma interpretação pessoal que pode Texto
ser contestada.
Veja: É o grupamento de frases e palavras interligadas que
“O fumo é o mais grave problema de saúde pública no Brasil. possibilitam uma interpretação e emitem uma mensagem. É toda
Assim como não admitimos que os comerciantes de maconha, obra original escrita e que pode formar um documento escrito
crack ou heroína façam propaganda para os nossos filhos na ou um livro. O texto é um elemento linguístico de dimensões
TV, todas as formas de publicidade do cigarro deveriam ser maiores do que a frase1.
proibidas terminantemente. Para os desobedientes, cadeia.”
VARELLA, Drauzio. In: Folha de S. Paulo, 20 de maio de Em processos  gráficos, o texto é o conteúdo escrito, por
2000. divergência a todos os outros conteúdos iconográficos, como
as ilustrações. É o componente central do livro, periódico
Para a construção de um bom texto argumentativo faz- ou revista, formado por produções concretas, sem títulos,
se necessário o conhecimento sobre a questão proposta, subtítulos, fórmulas, epígrafes e tabelas.
fundamentação para que seja realizado com sucesso.
Um texto pode ser cifrado, sendo criado conforme um código
Fonte: http://educacao.globo.com/portugues/assunto/texto- definitivamente suspenso após uma leitura direta. Ele possui
argumentativo/argumentacao.html tamanhos diferentes e precisa ser redigido com coerência e
coesão. Pode ser considerado como não-literário e literário.
Questão

01. Identifique o sentido argumentativo dos seguintes


textos, e separe, por meio de barras, a tese e o(s) argumento(s).
a) “Meu carro não é grande coisa, mas é o bastante para o que
preciso. É econômico, nunca dá defeito e tem espaço suficiente
para transportar toda a minha família.”
b) “Veja bem, o Brasil a cada ano exporta mais e mais; além
disso, todo ano batemos recordes de produção agrícola. Sem
contar que nosso parque industrial é um dos mais modernos do
mundo. definitivamente, somos o país do futuro.”
c) “Embora a gente se ame muito, nosso namoro tem tudo
para dar errado: nossa diferença de idade é grande e nossos
gostos são quase que opostos. Além disso, a família dela é
terrível.” Os textos literários possuem uma colocação estética.
d) “Como o Brasil é um país muito injusto, toda política social Normalmente, são escritos com uma linguagem poética e
por aqui implementada é vista como demagogia, paternalismo.” expressiva, com o intuito de conquistar o interesse e sensibilizar
o leitor. Os autores dos textos literários acompanham um
Resposta certo estilo e utilizam as expressões de maneira elegante para
manifestar as suas ideias. Existe um domínio da linguagem
a) O sentido aí presente é (T→ pq→A), uma vez que, após conotativa e da função poética. Os romances, contos, poesias,
uma constatação, se seguem as motivações que a fundamentam. novelas e textos sagrados, são exemplos de textos literários.
Meu carro não é grande coisa, mas é o bastante para o que
preciso (TESE)./ É econômico (argumento 1), /nunca dá defeito Os textos não-literários, por sua vez, apresentam atividade
(argumento 2)/ e tem espaço suficiente para transportar toda a utilitária ao explicar e informar o leitor de maneira objetiva e
minha família (argumento 3). clara. São modelos de textos informativos que não se preocupam
b) Nesse exemplo, já encontramos a orientação (A→ pt→T), com a estética. Existe um domínio da linguagem denotativa
uma vez que se parte de exemplificações para, a partir delas, e da função referencial, diferentemente do estilo literário.
enunciar uma proposição. Alguns exemplos de textos não literários são, textos científicos,
Veja bem, o Brasil a cada ano exporta mais e mais (argumento didáticos, reportagens jornalísticas e notícias.
1);/ além disso, todo ano batemos recordes de produção agrícola
(argumento 2)./ Sem contar que nosso parque industrial é um Existem ainda os textos narrativos que contam uma certa
dos mais modernos do mundo (argumento 3)./ Definitivamente, história. A história é descrita por um narrador, que pode ou não
somos o país do futuro. (TESE). participar de forma direta da história. Esse tipo de texto utiliza
c) Aqui, o sentido é (T→ pq→A), em que de uma afirmação uma estrutura específica e predeterminada.
inicial se desdobram exemplos que a justificam.
Embora a gente se ame muito, nosso namoro tem tudo Além desses, há ainda outro tipo de texto conhecido como
para dar errado (TESE):/ nossa diferença de idade é grande texto crítico. Esse modelo é uma exibição textual que começa
(argumento 1) e nossos gostos são quase que opostos a partir de um método analítico e reflexivo originando um
(argumento 2). Além disso, a família dela é terrível (argumento conteúdo junto com uma crítica construtiva e bem demonstrado.
3).
d) Nesse exemplo, o movimento é (A→ pt→T), já que se parte De maneira geral, todos os textos precisam possuir
de uma causa que funciona como justificativa a uma enunciação determinadas particularidades formais, isto é, tem que
que, por sua vez, é a consequência constatada. apresentam estrutura e elementos que construam uma relação
Como o Brasil é um país muito injusto (argumento),/ toda entre eles. Entre essas particularidades formais tem a coerência
política social por aqui implementada é vista como demagogia, e a coesão, que oferecem forma e sentido ao texto. A coerência
paternalismo (TESE). está ligada com a compreensão, ou seja, a interpretação daquilo
ARTIGOS RELACIONADOS que está escrito ou que se fala. Já a coesão é a ligação entre as
Redação Enem 2014: apostas para o tema palavras ou frases do texto.
Faça uma boa redação no Enem: dicas para prova de 2014
Um texto para ter sentido precisa possuir coerência. Apesar
Fontes: http://www.infoescola.com/redacao/argumentacao/ da coesão não ser requisito suficiente para que as afirmações
http://educacao.globo.com/portugues/assunto/texto-
1 Fonte: http://www.resumoescolar.com.br/portugues/texto-e-textua-
argumentativo/argumentacao.html lidade/

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formem um texto, são os recursos coesivos que oferecem respeito desse tipo de produção textual, é só procurá-lo nestes
maios legitimidade e realçam as relações entre os seus vários tipos de canais informativos. A leitura é breve e simples, pois são
componentes. A partir disso, pode-se concluir que a coerência textos pequenos e a linguagem não é intelectualizada, uma vez
depende da coesão. que a intenção é atingir todo tipo de leitor.
Uma característica muito peculiar deste tipo de gênero
Textualidade textual é a persuasão, que consiste na tentativa do emissor
de convencer o destinatário, neste caso, o leitor, a adotar a
Textualidade é o grupo de particularidades que faz com que opinião apresentada. Por este motivo, é comum presenciarmos
o texto seja reconhecido como tal, e não como um aglomerado descrições detalhadas, apelo emotivo, acusações, humor satírico,
de frases e palavras. Uma interpretação possível indicaria ironia e fontes de informações precisas.
como textualidade um argumento usado pelo interlocutor, Como dito anteriormente, a linguagem é objetiva e aparecem
fundamentada em seus antecipados conhecimentos funcionais repletas de sinais de exclamação e interrogação, os quais incitam
e estruturais de texto, que possibilita por meio da apreciação de à posição de reflexão favorável ao enfoque do autor.
diversos fatores exercer a textualização de uma mensagem em Outros aspectos persuasivos são as orações no imperativo
uma situação já estabelecida. (seja, compre, ajude, favoreça, exija, etc.) e a utilização de
De acordo com Dressler e Beaugrande, existem dois conjunções que agem como elementos articuladores (e, mas,
conjuntos de sete elementos, que são encarregados pela contudo, porém, entretanto, uma vez que, de forma que, etc.) e
textualidade de todos os discursos: dão maior clareza às ideias.
1) Elementos semânticos (coesão e coerência); Geralmente, é escrito em primeira pessoa, já que trata-se de
2) Elementos pragmáticos (aceitabilidade, intencionalidade, um texto com marcas pessoais e, portanto, com indícios claros
informatividade, situacionabilidade e intertextualidade). de subjetividade, porém, pode surgir em terceira pessoa.
Para produzir um bom artigo de opinião é aconselhável
A Linguística Textual passou a progredir no fim dos anos 60 seguir algumas orientações. Observe:
na Europa, principalmente entre os anglo-germânicos, e tem a) Após a leitura de vários pontos de vista, anote num papel
se empenhado a analisar os fundamentos característicos do os argumentos que mais lhe agradam, eles podem ser úteis para
texto e os elementos implicados em sua recepção e produção. fundamentar o ponto de vista que você irá desenvolver.
Em paralelo ao progresso dessa teoria, do fim dos anos 60 até
os dias de hoje, tem se consolidado e se expandido, no ramo b) Ao compor seu texto, leve em consideração o interlocutor:
da Linguística, as pesquisas relacionadas aos fenômenos que quem irá ler a sua produção. A linguagem deve ser adequada ao
transcendem as margens da frase, como o discurso e o texto, gênero e ao perfil do público leitor.
abrangendo menos os produtos e mais os processos.
c) Escolha os argumentos, entre os que anotou, que podem
Elementos pragmáticos fundamentar a ideia principal do texto de modo mais consciente,
e desenvolva-os.
-Intencionalidade: referente a comunicação efetiva, que
possibilita que os propósitos comunicativos fiquem com clareza d) Pense num enunciado capaz de expressar a ideia principal
para o leitor. que pretende defender.

– Aceitabilidade: o texto fica igual à expectativa formada e) Pense na melhor forma possível de concluir seu texto:
pelo receptor. É dependente da qualidade do texto. retome o que foi exposto, ou confirme a ideia principal, ou faça
uma citação de algum escritor ou alguém importante na área
– Situacionalidade: o texto se adapta ao cenário da relativa ao tema debatido.
comunicação. Conduz a direção do discurso.
f) Crie um título que desperte o interesse e a curiosidade do
– Informatividade: discurso mais informativo e menos leitor.
previsível.
g) Formate seu texto em colunas e coloque entre elas uma
– Intertextualidade: combina contextos e textos. chamada (um importante e pequeno trecho do seu texto).

– Contextualidade: circunstância comunicativa precisa em h) Após o término do texto, releia e observe se nele você se
que o texto foi construído. posiciona claramente sobre o tema; se a ideia está fundamentada
em argumentos fortes e se estão bem desenvolvidos; se a
– Coesão: dispositivo linguístico que assegura a ordem do linguagem está adequada ao gênero; se o texto apresenta título
texto e o item semântico. A coesão gera a disposição formal do e se é convidativo e, por fim, observe se o texto como um todo é
texto. persuasivo.
Reescreva-o, se necessário.
– Coerência: menção e não contradição, a não redundância
e a importância. Argumentações de Artigos de Opinião
Artigo de Opinião
Para facilitar ainda mais a elaboração do seu artigo, os
O artigo de opinião, como o próprio nome já diz, é um texto argumentos são fixados a esta estrutura e podem e as dicas para
em que o autor expõe seu posicionamento diante de algum tema elaborar são as de:
atual e de interesse de muitos. Argumento de Causa: Propor uma relação com uma causa e
É um texto dissertativo que apresenta argumentos sobre o conseqüência em sua argumentação.
assunto abordado, portanto, o escritor além de expor seu ponto
de vista, deve sustentá-lo através de informações coerentes e Argumento de Autoridade: Sempre usar uma fonte, ou um
admissíveis. estudo confiável para ter uma credibilidade ao que você defende.
Logo, as ideias defendidas no artigo de opinião são de total
responsabilidade do autor, e, por este motivo, o mesmo deve ter Argumento de Exemplificação: Mostrar inúmeras
cuidado com a veracidade dos elementos apresentados, além de comparações e exemplos para ilustrar o seu argumento.
assinar o texto no final.
Contudo, em vestibulares, a assinatura é desnecessária, uma Fontes: http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/redacao/artigo-
vez que pode identificar a autoria e desclassificar o candidato. opiniao.htm
É muito comum artigos de opinião em jornais e revistas. http://brasilescola.uol.com.br/redacao/artigo-opiniao.htm
Portanto, se você quiser aprofundar mais seus conhecimentos a http://portalbrasil10.com.br/artigo-de-opiniao/

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Fato e Opinião do Rio de Janeiro e eu nome completo era Cecília Benevides de
Carvalho Meireles. Sua infância foi marcada pela dor e solidão,
Muitas vezes nos encontramos com pessoas dialogando pois perdeu a mãe com apenas três anos de idade e o pai não
sobre qualquer que seja o tópico em questão, porém no meio do chegou a conhecer (morreu antes do seu nascimento). Foi criada
diálogo ouvimos “o fato é que...”, “mas na minha opinião...” - Será pela avó dona Jacinta. Por volta dos nove anos de idade, Cecília
que todos sabemos distinguir o que é FATO e o que é OPINIÃO? começou a escrever suas primeiras poesias. Estudiosos de sua
- É importante saber esta diferença? obra dizem que seus poemas encantam os leitores de todas as
idades.
Fato: O fato é algo que é de conhecimento de todos. Sendo
um fato, ele pode ser provado através de documentos, ou de Qual frase apresenta uma opinião sobre Cecília Meireles?
outras formas de registros. (A) Foi criada pela avó Dona Jacinta
(B) Nasceu no dia 7 de novembro de 1901.
(C) Perdeu a sua mãe com apenas três anos de idade.
O crescimento acelerado dos grandes centros econômicos
(D) Seus poemas encantam os leitores de todas as idades.
mundiais, aumenta os problemas sociais;
O aumento dos estudantes estrangeiros nas universidades 02. Leia o fragmento do texto O outro príncipe sapo de Jon
brasileiras. Scieszka e responda o que se pede:

Opinião: A opinião é a maneira particular de olhar um Era uma vez um sapo.


fato. A opinião vai divergir de acordo com inúmeros fatores
socioculturais. Certo dia, quando estava sentado na sua vitória-régia, viu
Se meu amigo não fosse tão baixinho, ele poderia jogar uma linda princesa descansando a beira do lago. O sapo pulou
futebol; dentro da água, foi nadando até ela e mostrou a cabeça por cima
Homens que assistem novelas são bons maridos das plantas aquáticas. “Perdão, ó linda princesa”, disse ele com
sua voz mais triste e patética...
Quando é importante saber a diferença
Qual é a opinião do autor a respeito da voz do sapo:
(A)voz mansa e suave
Várias são as oportunidades de usar a diferença com (B)estridente e aguda
propriedade, mas duas delas são principais. (C)triste e melancólica
1- Quando nos engajamos em um debate de algum tema (D)triste e patética
polêmico;
2- Quando somos testados e devemos escrever um texto Respostas
dissertativo. 01. (D) / 02. (D)

As variantes dissertativas são: Introdução

1. Expositiva: Quando as ideias do texto estão claramente A Introdução é a informação do assunto sobre o qual a dis-
vinculadas a alguma reportagem ou notícia de jornais, revistas sertação tratará. O parágrafo introdutório é fundamental, preci-
sa ser bem claro e chamar a atenção para os tópicos mais impor-
impressas ou eletrônicas, cujo conteúdo é conhecido por
tantes do desenvolvimento.
todos através do rádio ou da televisão, sendo, por sua vez, O primeiro parágrafo da redação pode ser feito de diversas
inquestionável. A dissertação expositiva tem como objetivo maneiras diferentes:
expor o fato, ficando em segundo plano a discussão sobre ele.
Trajetória histórica
2. Argumentativa: A dissertação argumentativa é aquela Traçar a trajetória histórica é apresentar uma analogia en-
que exige de nós maior reflexão ao escrever sobre certos temas, tre elementos do passado e do presente. Já que uma analogia
mas que possui por objetivo a exposição do ponto de vista será apresentada, então os elementos devem ser similares; há
pessoal. Quem disserta, através de sua opinião bem embasada, de haver semelhança entre os argumentos apresentados, ou
faz com que os fatos ali apresentados e discutidos tenham uma seja, só usaremos a trajetória histórica, quando houver um fato
conclusão. Esta é uma das maneiras mais difíceis de dissertar no passado que seja comparável, de alguma maneira, a outro no
por apresentar juízos de valores que endossam a análise crítica presente.
de quem escreve. Quando apresentar a trajetória histórica na introdução,
deve-se discutir, no desenvolvimento, cada elemento em um
só parágrafo. Não misture elementos de épocas diferentes em
3- Mista: Esta é uma forma de dissertação que tem inseridos um mesmo parágrafo. A trajetória histórica torna convincente
nela os elementos dos dois outros tipos dissertativos. Nela a exemplificação; só se deve usar esse argumento, se houver co-
podemos expor os fatos como forma de exemplo, ou mesmo nhecimento que legitime a fonte histórica.
como argumento de autoridade para dar força às opiniões,
juízos e análise crítica a serem feitos sobre o tópico ou tópicos Comparando social, geográfica ou historicamente
discutidos. Também é apresentar uma analogia entre elementos, porém
sem buscar no passado a argumentação. É comparar dois países,
Fontes: http://pt.slideshare.net/ElieteFarneda/diferena-entre- dois fatos, duas personagens, enfim, comparar dois elementos,
fato-e-opinio para comprovar o tema.
http://lingua-agem.blogspot.com.br/2011/06/fato-algo-cuja- Lembre-se de que se trata da introdução, portanto a com-
existencia-independe-de.html paração apenas será apresentada para, no desenvolvimento, ser
discutido cada elemento da comparação em um parágrafo.
Questões
Conceituando ou definindo uma ideia ou situação
01. Leia o texto e responda à pergunta. Em alguns temas de dissertação surgem palavras-chave de
extrema importância para a argumentação. Nesses casos, pode-
Um pouco da história de Cecília Meireles -se iniciar a redação com a definição dessa palavra, com o signifi-
cado dela, para, posteriormente, no desenvolvimento, trabalhar
Cecília Meireles é uma das grandes escritoras da literatura com exemplos de comprovação.
brasileira. Ela nasceu no dia 7 de novembro de 1901, na cidade

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APOSTILAS OPÇÃO
Contestando uma ideia ou citação, contradizendo, em Paráfrase
partes
Uma maneira de se elaborar a introdução é valendo-se da
Quando o tema apresenta uma ideia com a qual não se con- paráfrase, que consiste em reescrever o tema, utilizando suas
corda inteiramente, pode-se trabalhar com este método: concor- próprias palavras. Deve-se tomar o cuidado, para não apenas
dar com o tema, em partes, ou seja, argumentar que a ideia do substituírem as palavras do tema por sinônimos, pois isso será
tema é verdadeira, mas que existem controvérsias; discutir que demonstração de falta de criatividade; o melhor é reestruturar
o assunto do tema é polêmico, que há elementos que o compro- totalmente o tema, realmente utilizando “suas” palavras.
vem, e elementos que discordem dele, igualmente. Observe o que traz o Michaelis - Moderno Dicionário da
Não se esqueça de que o desenvolvimento tem que ser con- Língua Portuguesa, quanto à definição da palavra paráfrase: Ex-
dizente com a introdução, estar em harmonia com ela, ou seja, plicação ou tradução mais desenvolvida de um texto por meio
se trabalhar com esse método, o desenvolvimento deve conter de palavras diferentes das nele empregadas. Portanto sua frase
as duas comprovações, cada uma em um parágrafo. deve ser mais desenvolvida que a frase apresentada como tema,
e as palavras devem ser diferentes, e não sinônimas.
Refutando o tema, contradizendo totalmente
Frases-modelo, para o início da introdução
Refutar significa rebater os argumentos; contestar as asser-
ções; não concordar com algo; reprovar; ser contrário a algo; Não tomem estas frases como receita infalível. Antes de usá-
contrariar com provas; desmentir; negar. Portanto refutar o -las, analise bem o tema, planeje incansavelmente o desenvol-
tema é escrever, na introdução, o contrário do que foi apresenta- vimento, use sua inteligência, para ter certeza daquilo que será
do pelo tema. Deve-se tomar muito cuidado, pois não é só escre- incluso em sua dissertação. Só depois disso, use estas frases:
ver o contrário, mas mostrar que se é contra o que está escrito. É de conhecimento geral que...
O ideal, nesse caso, é iniciar a introdução com “Ao contrário do Todos sabem que, em nosso país, há tempos, observa-se...
que se acredita...” Nesse caso, utilizei circunstância de lugar (em nosso país)
Não se esqueça, novamente, de que o desenvolvimento tem e de tempo (há tempos). Isso é só para mostrar que é possível
que ser condizente com a introdução, estar em harmonia com acrescentar circunstâncias diversas na introdução, não neces-
ela, ou seja, se trabalhar com esse método, o desenvolvimento sariamente estas que aqui estão. Outro elemento com o qual se
deve conter apenas elementos contrários ao tema. Cuidado para deve tomar muito cuidado é o pronome “se”. Nesse caso, ele é
não cair em contradição. Se for, na introdução, favorável ao tema, partícula apassivadora, portanto o verbo deverá concordar com
apresente, no desenvolvimento, apenas elementos favoráveis a o elemento que vier à frente (singular ou plural).
ele; se for contrário, apresente apenas elementos contrários.
Cogita-se, com muita frequência, de...
Elaborando uma série de interrogações O mesmo raciocínio da anterior, agora com a circunstância de
Pode-se iniciar a redação com uma série de perguntas. Po- modo (com muita frequência).
rém, cuidado! Devem ser perguntas que levem a questionamen- Muito se tem discutido, recentemente, acerca de...
tos e reflexões, e não perguntas vazias que levem a nada ou ape- Muito se debate, hoje em dia...
nas a respostas genéricas. As perguntas devem ser respondidas,
no desenvolvimento, com argumentações coerentes e importan- Partícula apassivadora novamente. Cuidado com a concor-
tes, cada uma em um parágrafo. Portanto use esse método ape- dância.
nas quando já possuir as respostas, ou seja, escolha primeira-
mente os argumentos que serão utilizados no desenvolvimento O (A)... é de fundamental importância em...
e elabore perguntas sobre eles, para funcionar como introdução É de fundamental importância o (a)...
da dissertação. É indiscutível que... / É inegável que...
Pode-se transformar a introdução em uma pergunta. O mes- Muito se discute a importância de...
mo já citado anteriormente, mas com apenas uma pergunta. Comenta-se, com frequência, a respeito de...
Não raro, toma-se conhecimento, por meio de..., de
Elaborando uma enumeração de informações Apesar de muitos acreditarem que... (refutação)
Ao contrário do que muitos acreditam... (refutação)
Quando se tem certeza de que as informações são verídicas, Pode-se afirmar que, em razão de... (devido a, pelo)...
podem-se usá-las na introdução e, depois, discuti-las, uma a Ao fazer uma análise da sociedade, busca-se descobrir as cau-
uma, no desenvolvimento. sas de...
Talvez seja difícil dizer o motivo pelo qual...
Caracterizando espaços ou aspectos Ao analisar o (a, os, as)..., é possível conhecer o (a, os, as)....,
pois...
Pode-se iniciar a introdução com uma descrição de lugares Norma Culta e Língua-Padrão
ou de épocas, ou ainda com uma narração de fatos. Deve ser uma
curta descrição ou narração, somente para iniciar a redação de De acordo com M. T. Piacentini, mesmo que não se mencione
maneira interessante, curiosa. Não se empolgue! Não transfor- terminologia específica, é evidente que se lida no dia-a-dia com
me a dissertação em descrição, muito menos em narração. níveis diferentes de fala e escrita. É também verdade que as
pessoas querem “falar e escrever melhor”, querem dominar a
Resumo do que será apresentado no desenvolvimento língua dita culta, a correta, a ideal, não importa o nome que se
lhe dê.
Uma das maneiras mais fáceis de elaborar a introdução é
apresentar o resumo do que se vai discutir no desenvolvimen- O padrão de língua ideal a que as pessoas querem chegar é
to. Nesse caso, é necessário planejar cuidadosamente a redação aquele convencionalmente utilizado nas instâncias públicas de
toda, antes de começá-la, pois, na introdução, serão apresenta- uso da linguagem, como livros, revistas, documentos, jornais,
dos os tópicos a serem discutidos no desenvolvimento. Deve-se textos científicos e publicações oficiais; em suma, é a que circula
tomar o cuidado para não se apresentarem muitos tópicos, se- nos meios de comunicação, no âmbito oficial, nas esferas de
não a dissertação será somente expositiva e não argumentativa. pesquisa e trabalhos acadêmicos.
Cada tópico apresentado na introdução deve ser discutido no
desenvolvimento em um parágrafo inteiro. Não se devem mistu- Não obstante, os linguistas entendem haver uma língua
rá-los em um parágrafo só, nem utilizar dois ou mais parágrafos, circulante que é correta mas diferente da língua ideal e
para se discutir um mesmo assunto. O ideal é que sejam apre- imaginária, fixada nas fórmulas e sistematizações da gramática.
sentados somente dois ou três temas para discussão. Eles fazem, pois, uma distinção entre o real e o ideal: a língua
concreta com todas suas variedades de um lado, e de outro um

Língua Portuguesa 29
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padrão ou modelo abstrato do que é “bom” e “correto”, o que mandado embora?
conformaria, no seu entender, uma língua artificial, situada num
nível hipotético. Ou mesmo assim:
– Tive que levar os gatos, pois encontrei eles bem
Para os cientistas da língua, portanto, fica claro que há machucados.
dois estratos diferenciados: um praticamente intangível, – Conheço ela há muito tempo – é ótima menina.
representado nas normas preconizadas pela gramática – Acho que já lhe conheço, rapaz.
tradicional, que comporta as irregularidades e excrescências da
língua, e outro concreto, o utilizado pelos falantes cultos, qual Então, se os falantes cultos, aquelas pessoas que têm acesso
seja, a “linguagem concretamente empregada pelos cidadãos às regras padronizadas, incutidas no processo de escolarização,
que pertencem aos segmentos mais favorecidos da nossa se exprimem desse modo, essa é a norma culta. Já as formas
população”, segundo Marcos Bagno. propugnadas pela gramática tradicional e que provavelmente só
se encontrariam na escrita (conta-me como foi /enganaram-te /
Convém esclarecer que para a ciência sociolinguística explica-me uma coisa / pois os encontrei / conheço-a há tempos
somente a pessoa que tiver formação universitária completa / acho que já o conheço) configuram a norma-padrão ou língua-
será caracterizada como falante culto(urbano). padrão.

Sendo assim, como são presumivelmente cultos os sujeitos Se para os cientistas da língua, portanto, existe uma
que produzem os jornais, a documentação oficial, os trabalhos polarização entre a norma-padrão (também denominada
científicos, só pode ser culta a sua linguagem, mesmo que a “norma canônica” por alguns linguistas) e o conjunto das
língua que tais pessoas falam e os textos que produzem nem variedades existentes no Brasil, aí incluída a norma culta, no
sempre se coadunem com as regras rígidas impostas pela senso comum não se faz distinção entre padrão e culta. Para os
gramática normativa, divulgada na escola e em outras instâncias leigos, a população em geral, toda forma elevada de linguagem,
(de repressão linguística) como o vestibular. que se aproxime dos padrões de prestígio social, configura a
norma culta.
Isso é o que pensam os linguistas. E o povo – saberá ele fazer
a distinção entre as duas modalidades e os dois termos que as Norma culta, norma padrão e norma popular
descrevem?
A Norma é um uso linguístico concreto e corresponde ao
Para os linguistas, a língua-padrão se estriba nas normas dialeto social praticado pela classe de prestígio, representando
e convenções agregadas num corpo chamado de gramática a atitude que o falante assume em face da norma objetiva. A
tradicional e que tem a veleidade de servir de modelo de normatização não existe por razões apenas linguísticas, mas
correção para toda e qualquer forma de expressão linguística. também culturais, econômicas, sociais, ou seja, a Norma na
língua origina-se de fatores que envolvem diferenças de classes,
Querer que todos falem e escrevam da mesma forma e de poder, acesso a educação escrita, e não da qualidade da forma
acordo com padrões gramaticais rígidos é esquecer-se que não da língua. Há um conceito amplo e um conceito estreito de
pode haver homogeneidade quando o mundo real apresenta Norma. No primeiro caso, ela é entendida como um fator de
uma heterogeneidade de comportamentos linguísticos, todos coesão social. No segundo, corresponde concretamente aos
igualmente corretos (não se pode associar “correto” somente a usos e aspirações da classe social de prestígio. Num sentido
culto). amplo, a norma corresponde à necessidade que um grupo
social experimenta de defender seu veículo de comunicação das
Em suma: há uma realidade heterogênea que, por abrigar alterações que poderiam advir no momento do seu aprendizado.
diferenças de uso que refletem a dinâmica social, exclui a Num sentido restrito, a Norma corresponde aos usos e atitudes
possibilidade de imposição ou adoção como única de uma de determinado seguimento da sociedade, precisamente aquele
língua-modelo baseada na gramática tradicional, a qual, por sua que desfruta de prestígio dentro da Nação, em virtude de razões
vez, está ancorada nos grandes escritores da língua, sobretudo políticas, econômicas e culturais. Segundo Lucchesi considera-
os clássicos , sendo pois conservadora. E justamente por se valer se que a realidade linguística brasileira deve ser entendida como
de escritores é que as prescrições gramaticais se impõem mais um contínuo de normas, dentro do quadro de bipolarização do
na escrita do que na fala. Português do Brasil.

“ A cultura escrita, associada ao poder social , desencadeou A existência da civilização dá-se com o surgimento da
também, ao longo da história, um processo fortemente unificador escrita. Suas regras são pautadas a partir da Norma Culta. Sendo
(que vai alcançar basicamente as atividades verbais escritas), esta importante nos documentos formais que exigem a correta
que visou e visa uma relativa estabilização linguística, buscando expressão do Português para que não haja mal entendido algum.
neutralizar a variação e controlar a mudança. Ao resultado desse Ela nada mais é do que a modalidade linguística escolhida pela
processo, a esta norma estabilizada, costumamos dar o nome de elite de uma sociedade como modelo de comunicação escrita e
norma-padrão ou língua-padrão” (Faraco, Carlos Alberto). verbal.

Aryon Rodrigues entra na discussão: “Frequentemente o A Norma Culta é uma expressão empregada pelos linguistas
padrão ideal é uma regra de comportamento para a qual tendem brasileiros para designar o conjunto de variantes linguísticas
os membros da sociedade, mas que nem todos cumprem, ou não efetivamente faladas, na vida cotidiana pelos falantes cultos,
cumprem integralmente”. Mais adiante, ao se referir à escola, ele sendo assim classificando os cidadãos nascidos e criados em
professa que nem mesmo os professores de Língua Portuguesa zonas urbanas e com grau de instrução superior completo.
escapam a esse destino: “Comumente, entretanto, o mesmo “Fundamentam-se as regras da Gramática Normativa nas obras
professor que ensina essa gramática não consegue observá-la dos grandes escritores, em cuja linguagem a classe ilustrada põe
em sua própria fala nem mesmo na comunicação dentro de seu o seu ideal de perfeição, porque nela é que se espelha o que o uso
grupo profissional ”. idiomático e consagrou”. (ROCHA LIMA).

Vamos ilustrar os argumentos acima expostos. Não há Dentre as características que são pertinentes à Norma Culta
brasileiro – nem mesmo professores de português – que não fale podemos citar que é: a variante de maior prestígio social na
assim: comunidade, sendo realizada com certa uniformidade pelos
membros do grupo social de padrão cultural mais elevado;
– Me conta como foi o fim de semana… cumpre o papel de impedir a fragmentação dialetal; ensinada
– Te enganaram, com certeza! pela escola; usada na escrita em gêneros discursivos em que há
– Me explica uma coisa: você largou o emprego ou foi maior formalidade aproximando-a dos padrões da prescrição da

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gramática tradicional; a mais empregada na literatura e também e do pretérito-mais-que-perfeito no indicativo; do presente do
pelas pessoas cultas em diferentes situações de formalidade; subjuntivo; do infinitivo pessoal; falta de correlação verbal entre
indicada precisamente nas marcas de gênero, número e pessoa; os tempos; redução do processo subordinativo em benefício da
usada em todas as pessoas verbais, com exceção, talvez, da 2ª frase simples e da coordenação; maior emprego da voz ativa
do plural, sendo utilizada principalmente na linguagem dos em lugar da passiva; predomínio das regências verbais diretas;
sermões; empregada em todos os modos verbais em relação simplificação gramatical da frase; emprego dos pronomes
verbal de tempos e modos; possuindo uma enorme riqueza pessoais retos como objetos.
de construção sintática, além de uma maior utilização da
voz passiva; grande o emprego de preposições nas regências Na visão de Preti, os falantes cultos “até em situação de
aproveitando a organização gramatical cuidada da frase. gravação consciente revelaram uma linguagem que, em geral,
também pertence a falantes comuns”. Sendo mais espontânea e
De modo geral, um falante culto, em situação comunicativa criativa, a Norma Popular se afigura mais expressiva e dinâmica.
formal, buscará seguir as regras da norma explícita de sua Temos, assim, alguns exemplos: estou preocupado (Norma
língua e ainda procurará seguir, no que diz respeito ao léxico, Culta); to preocupado (Norma Popular); to grilado (gíria, limite
um repertório que, se não for erudito, também não será vulgar. da Norma Popular).
Isso configura o que se entende por norma culta. A Norma
Padrão está vinculada a uma língua modelo. Segue prescrições Não basta conhecer apenas uma modalidade de língua; urge
representadas na gramática, mas é marcada pela língua conhecer a língua popular, captando-lhe a espontaneidade,
produzida em certo momento da história e em uma determinada expressividade e enorme criatividade para viver, necessitando
sociedade. Como a língua está em constante mudança, diferentes conhecer a língua culta para conviver.
formas de linguagem que hoje não são consideradas pela Norma Fonte:https://centraldefavoritos.wordpress.
Padrão, com o tempo podem vir a se legitimar. com/2011/07/22/norma-padrao-e-nao-padrao/(Adaptado)

Dentro da Norma Padrão define-se um modelo de língua Questões


idealizada prescrito pelas gramáticas normativas, como sendo
uma receita que nenhum usuário da língua emprega na fala e 1. (Pref. De Goiânia – Auxiliar de Atividades Educativas
raramente utiliza na escrita. Sendo também uma referência – CS-UFG/2016)
para os falantes da Norma Culta, mas não passam de um ideal
a ser alcançado, pois é um padrão extremamente enriquecido Festejando no precipício
de língua. Assim, as gramáticas tradicionais descrevem a Norma
Padrão, não refletindo o uso que se faz realmente do Português Gregório Duvivier
no Brasil.
Quando pequeno, a primeira coisa que fazia ao comprar uma
Marcos Bagno propõe, como alternativa, uma triangulação: agenda era escrever em letras garrafais no dia 11 de abril: “MEU
onde a Norma Popular teria menos prestígio opondo-se à Norma NIVER”. Depois ia pro dia 11 de março: “FALTA UM MÊS PRO
Culta mais prestigiada, e a Norma Padrão se eleva sobre as duas MEU NIVER”. E depois me esquecia da existência da agenda, até
anteriores servindo como um ideal imaginário e inatingível. porque não tinha muitos compromissos naquela época. Tenho
umas cinco agendas que só contêm essas duas informações
A Norma Padrão subdivide-se em: Formal e Coloquial. A fundamentais.
Padrão Formal é o modelo culto utilizado na escrita, que segue
rigidamente as regras gramaticais. O aniversário era o grande dia do ano, a maior festa popular
do planeta, um Natal em que o Jesus era eu. Pulava da cama
Essa linguagem é mais elaborada, tanto porque o falante e marcava minha altura no batente da porta. Era o dia de
tem mais tempo para se pronunciar de forma refletida como comemorar cada milímetro avançado nessa guerra que travo
porque é supervalorizada na nossa cultura. É a história do vale o desde pequeno contra a gravidade.
que está escrito. Já a Padrão Coloquial é a versão oral da língua
culta e, por ser mais livre e espontânea, tem um pouco mais de Meu pai abria a porta: “Hoje a gente vai pro lugar que você
liberdade e está menos presa à rigidez das regras gramaticais. quiser”. “Oba! Vamos pro Tivoli Park!” “Não, filho, pro Tivoli Park
Entretanto, a margem de afastamento dessas regras é estreita e, não.” “Mas você falou qualquer lugar.” “No Tivoli Park tem assalto
embora exista, a permissividade com relação às transgressões é no trem fantasma.” Era um argumento forte.
pequena.
Acabava me levando pro clube, e depois minha mãe dava
Assim, na linguagem coloquial, admitem-se sem grandes uma festa lá em casa na qual eu era o centro das atenções e
traumas, construções como: ainda não vi ele; me passe o podia comer brigadeiro e tomar litros de refrigerante — ambos
arroz e não te falei que você iria conseguir?. Inadmissíveis na artigos proibidos, classificados como “porcaria” — e assistir ao
língua escrita. O falante culto, de modo geral, tem consciência show do meu artista predileto — o mágico Almik. Na hora do
dessa distinção e ao mesmo tempo em que usa naturalmente parabéns, me escondia debaixo da mesa quando cantavam “Com
as construções acima na comunicação oral, evita-as na escrita. Quem Será?”, mas até que gostava da ideia de que um dia alguém
Contudo, como se disse, não são muitos os desvios admitidos talvez fosse querer se casar comigo. Para um garoto com cabelo
e muitas formas peculiares da Norma Popular são condenadas de cuia e uma dentição anárquica, um relacionamento amoroso
mesmo na linguagem oral. A Norma Popular é aquela linguagem era um sonho tão distante quanto um McDonalds dentro de casa.
que não é formal, ou seja, não segue padrões rígidos, é a O tempo passou e a verdade veio à tona: ambas as coisas talvez
linguagem popular, falada no cotidiano. sejam possíveis, mas será que são desejáveis?

O nível popular está associado à simplicidade da utilização Hoje faço trinta. Dizem que com o passar dos anos deixa de
linguística em termos lexicais, fonéticos, sintáticos e semânticos. fazer sentido comemorar o passar dos anos. Afinal, cada ano
Esta decorrerá da espontaneidade própria do discurso oral e da a mais é um ano a menos e na vida adulta não há nem mais a
natural economia linguística. É utilizado em contextos informais. esperança de crescer algum centímetro. No batente da porta,
estacionei no 1.69 m, entre minha prima Helena e minha irmã
Dentre as características da Norma Popular podemos Barbara. Para piorar, o Brasil tá um caos, todo o mundo se odeia,
destacar: economia nas marcas de gênero, número e pessoa; e a temperatura do mundo não para de esquentar.
redução das pessoas gramaticais do verbo; mistura da 2ª com
a 3ª pessoa do singular; uso intenso da expressão a gente em Lembro que a revista “The Economist” ficou chocada que o
lugar de eu e nós; redução dos tempos da conjugação verbal e de Brasil teria Carnaval mesmo na crise —estaríamos “festejando
certas pessoas, como a perda quase total do futuro do presente no precipício”. A revista pode entender de crise, mas não

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entende nada de Carnaval — acha que serve para comemorar a
opulência. Toda festa boa serve pra esquecer, nem que seja por
um momento, o precipício. Debaixo da mesa do bolo, a felicidade Anotações
parece tão possível, tão desejável. 

Disponível em:. Acesso em:<http://1.folha.uol.com.br/


colunas/gregorioduvivier/2016/04/1759507-festejando-no-
precipiicio-.shtm,> 11 abr. 2016. 

Um dos fatores de textualidade usados pelo autor é a


intertextualidade, materializada 

a) nas referências aos traumas de sua infância.


b) na alusão à caótica crise brasileira
c) na citação da revista “The Economist”.
d) na menção à sua prima e à sua irmã.

2. (Pref. De Teresina – PI – Professor – Português –


NUCEPE/2016)

O quarto quadrinho do texto apresenta o conectivo mas,


que normalmente opõe duas ideias contrárias. Esse recurso
linguístico como fator de textualidade realiza uma  
a) coesão referencial.
b) coerência argumentativa.  
c) coesão sequencial.
d) coerência narrativa.Parte inferior do formulário

Respostas

1. (C)
Intertextualidade: é a relação que se estabelece entre dois
textos quando um deles faz referência a elementos existentes
no outro. Esses elementos podem dizer respeito ao conteúdo, à
forma, ou mesmo forma e conteúdo.
O texto “festejando no precipício”, no último parágrafo, faz
referência a outro texto, presente na revista “The Economist”.

2. (C)
Coesão REFERENCIAL - faz referência a algo que JÁ FOI
DITO  na frase/oração  (coesão anafórica) ou algo que ainda
NAO foi dito e vai ser explicado a frente na frase (catafórica) e
também pode ser uma ideia FORA DO TEXTO (exofórica). 
EX: Atenção e ESTA ideia: fumar é prejudicial. (ESTA refere
ao termo posterior “fumar é prejudicial” - catafórica)
Fumar é prejudicial, atenção a ESSA ideia. (ESSA refere ao
termo a anterior” fumar é prejudicial” - anafórica)

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

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IX - garantia de padrão de qualidade;


X - valorização da experiência extraescolar;
XI - vinculação entre a educação escolar, o trabalho e as
práticas sociais.
XII - consideração com a diversidade étnico-racial.

TÍTULO III
Do Direito à Educação e do Dever de Educar

BRASIL LEI Nº 9394/96 DE 20 Art. 4º O dever do Estado com educação escolar pública
será efetivado mediante a garantia de:
DE DEZEMBRO DE 1996. I - educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro)
Estabelece as Diretrizes e Bases aos 17 (dezessete) anos de idade, organizada da seguinte
da Educação Nacional – LDB; forma:
a) pré-escola;
b) ensino fundamental;
1LEI Nº 9.394, DE 20 DE DEZEMBRO DE 1996 c) ensino médio;
II - educação infantil gratuita às crianças de até 5 (cinco)
Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. anos de idade;
III - atendimento educacional especializado gratuito aos
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o educandos com deficiência, transtornos globais do
Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação,
transversal a todos os níveis, etapas e modalidades,
TÍTULO I preferencialmente na rede regular de ensino;
Da Educação IV - acesso público e gratuito aos ensinos fundamental e
médio para todos os que não os concluíram na idade própria;
Art. 1º A educação abrange os processos formativos que se V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa
desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no e da criação artística, segundo a capacidade de cada um;
trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às
movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas condições do educando;
manifestações culturais. VII - oferta de educação escolar regular para jovens e
§ 1º Esta Lei disciplina a educação escolar, que se adultos, com características e modalidades adequadas às suas
desenvolve, predominantemente, por meio do ensino, em necessidades e disponibilidades, garantindo-se aos que forem
instituições próprias. trabalhadores as condições de acesso e permanência na
§ 2º A educação escolar deverá vincular-se ao mundo do escola;
trabalho e à prática social. VIII - atendimento ao educando, em todas as etapas da
educação básica, por meio de programas suplementares de
Comentário: A educação escolar de que se trata essa lei, material didático-escolar, transporte, alimentação e
considera a educação em instituições próprias à esse fim de assistência à saúde;
modo porém que essa educação tome sentido não só na vida IX - padrões mínimos de qualidade de ensino, definidos
escolar da criança mas, também, no meio profissional e na como a variedade e quantidade mínimas, por aluno, de
prática social. insumos indispensáveis ao desenvolvimento do processo de
ensino-aprendizagem.
TÍTULO II X – vaga na escola pública de educação infantil ou de ensino
Dos Princípios e Fins da Educação Nacional fundamental mais próxima de sua residência a toda criança a
partir do dia em que completar 4 (quatro) anos de idade.
Art. 2º A educação, dever da família e do Estado, inspirada
nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade Art. 5° O acesso à educação básica obrigatória é direito
humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do público subjetivo, podendo qualquer cidadão, grupo de
educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua cidadãos, associação comunitária, organização sindical,
qualificação para o trabalho. entidade de classe ou outra legalmente constituída e, ainda, o
Ministério Público, acionar o poder público para exigi-lo.
Art. 3º O ensino será ministrado com base nos seguintes § 1o O poder público, na esfera de sua competência
princípios: federativa, deverá:
I - igualdade de condições para o acesso e permanência na I - recensear anualmente as crianças e adolescentes em
escola; idade escolar, bem como os jovens e adultos que não
II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a concluíram a educação básica;
cultura, o pensamento, a arte e o saber; II - fazer-lhes a chamada pública;
III - pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas; III - zelar, junto aos pais ou responsáveis, pela frequência à
IV - respeito à liberdade e apreço à tolerância; escola.
V - coexistência de instituições públicas e privadas de § 2º Em todas as esferas administrativas, o Poder Público
ensino; assegurará em primeiro lugar o acesso ao ensino obrigatório,
VI - gratuidade do ensino público em estabelecimentos nos termos deste artigo, contemplando em seguida os demais
oficiais; níveis e modalidades de ensino, conforme as prioridades
VII - valorização do profissional da educação escolar; constitucionais e legais.
VIII - gestão democrática do ensino público, na forma desta § 3º Qualquer das partes mencionadas no caput deste
Lei e da legislação dos sistemas de ensino; artigo tem legitimidade para peticionar no Poder Judiciário, na

1 Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9394.htm>.


Acesso em abril de 2017.

Conhecimentos Pedagógicos 1
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hipótese do § 2º do art. 208 da Constituição Federal, sendo em colaboração com os sistemas de ensino, objetivando a
gratuita e de rito sumário a ação judicial correspondente. definição de prioridades e a melhoria da qualidade do ensino;
§ 4º Comprovada a negligência da autoridade competente VII - baixar normas gerais sobre cursos de graduação e
para garantir o oferecimento do ensino obrigatório, poderá ela pós-graduação;
ser imputada por crime de responsabilidade. VIII - assegurar processo nacional de avaliação das
§ 5º Para garantir o cumprimento da obrigatoriedade de instituições de educação superior, com a cooperação dos
ensino, o Poder Público criará formas alternativas de acesso sistemas que tiverem responsabilidade sobre este nível de
aos diferentes níveis de ensino, independentemente da ensino;
escolarização anterior. IX - autorizar, reconhecer, credenciar, supervisionar e
avaliar, respectivamente, os cursos das instituições de
Art. 6° É dever dos pais ou responsáveis efetuar a matrícula educação superior e os estabelecimentos do seu sistema de
das crianças na educação básica a partir dos 4 (quatro) anos ensino.
de idade. § 1º Na estrutura educacional, haverá um Conselho
Nacional de Educação, com funções normativas e de
Art. 7º O ensino é livre à iniciativa privada, atendidas as supervisão e atividade permanente, criado por lei.
seguintes condições: § 2° Para o cumprimento do disposto nos incisos V a IX, a
I - cumprimento das normas gerais da educação nacional e União terá acesso a todos os dados e informações necessários
do respectivo sistema de ensino; de todos os estabelecimentos e órgãos educacionais.
II - autorização de funcionamento e avaliação de qualidade § 3º As atribuições constantes do inciso IX poderão ser
pelo Poder Público; delegadas aos Estados e ao Distrito Federal, desde que
III - capacidade de autofinanciamento, ressalvado o mantenham instituições de educação superior.
previsto no art. 213 da Constituição Federal.
Art. 10. Os Estados incumbir-se-ão de:
Comentário: É dever do Estado garantir escola pública na I - organizar, manter e desenvolver os órgãos e instituições
educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 oficiais dos seus sistemas de ensino;
(dezessete) anos de idade de modo que o acesso à essa II - definir, com os Municípios, formas de colaboração na
educação é direito público subjetivo, ou seja, todo e qualquer oferta do ensino fundamental, as quais devem assegurar a
cidadão tem direito à ela e caso não consiga tem, também, o distribuição proporcional das responsabilidades, de acordo
direito de acionar o poder público para exigi-la. Por outro lado, com a população a ser atendida e os recursos financeiros
a matrícula nas escolas é dever dos pais ou responsáveis a disponíveis em cada uma dessas esferas do Poder Público;
partir dos 4 anos. III - elaborar e executar políticas e planos educacionais, em
consonância com as diretrizes e planos nacionais de educação,
TÍTULO IV integrando e coordenando as suas ações e as dos seus
Da Organização da Educação Nacional Municípios;
IV - autorizar, reconhecer, credenciar, supervisionar e
Art. 8º A União, os Estados, o Distrito Federal e os avaliar, respectivamente, os cursos das instituições de
Municípios organizarão, em regime de colaboração, os educação superior e os estabelecimentos do seu sistema de
respectivos sistemas de ensino. ensino;
§ 1º Caberá à União a coordenação da política nacional de V - baixar normas complementares para o seu sistema de
educação, articulando os diferentes níveis e sistemas e ensino;
exercendo função normativa, redistributiva e supletiva em VI - assegurar o ensino fundamental e oferecer, com
relação às demais instâncias educacionais. prioridade, o ensino médio a todos que o demandarem,
§ 2º Os sistemas de ensino terão liberdade de organização respeitado o disposto no art. 38 desta Lei;
nos termos desta Lei. VII - assumir o transporte escolar dos alunos da rede
estadual.
Art. 9º A União incumbir-se-á de: (Regulamento) Parágrafo único. Ao Distrito Federal aplicar-se-ão as
I - elaborar o Plano Nacional de Educação, em colaboração competências referentes aos Estados e aos Municípios.
com os Estados, o Distrito Federal e os Municípios;
II - organizar, manter e desenvolver os órgãos e Art. 11. Os Municípios incumbir-se-ão de:
instituições oficiais do sistema federal de ensino e o dos I - organizar, manter e desenvolver os órgãos e instituições
Territórios; oficiais dos seus sistemas de ensino, integrando-os às políticas
III - prestar assistência técnica e financeira aos Estados, ao e planos educacionais da União e dos Estados;
Distrito Federal e aos Municípios para o desenvolvimento de II - exercer ação redistributiva em relação às suas escolas;
seus sistemas de ensino e o atendimento prioritário à III - baixar normas complementares para o seu sistema de
escolaridade obrigatória, exercendo sua função redistributiva ensino;
e supletiva; IV - autorizar, credenciar e supervisionar os
IV - estabelecer, em colaboração com os Estados, o Distrito estabelecimentos do seu sistema de ensino;
Federal e os Municípios, competências e diretrizes para a V - oferecer a educação infantil em creches e pré-escolas, e,
educação infantil, o ensino fundamental e o ensino médio, que com prioridade, o ensino fundamental, permitida a atuação em
nortearão os currículos e seus conteúdos mínimos, de modo a outros níveis de ensino somente quando estiverem atendidas
assegurar formação básica comum; plenamente as necessidades de sua área de competência e com
IV-A - estabelecer, em colaboração com os Estados, o recursos acima dos percentuais mínimos vinculados pela
Distrito Federal e os Municípios, diretrizes e procedimentos Constituição Federal à manutenção e desenvolvimento do
para identificação, cadastramento e atendimento, na educação ensino.
básica e na educação superior, de alunos com altas habilidades VI - assumir o transporte escolar dos alunos da rede
ou superdotação; (Incluído pela Lei nº 13.234, de 2015) municipal.
V - coletar, analisar e disseminar informações sobre a Parágrafo único. Os Municípios poderão optar, ainda, por
educação; se integrar ao sistema estadual de ensino ou compor com ele
VI - assegurar processo nacional de avaliação do um sistema único de educação básica.
rendimento escolar no ensino fundamental, médio e superior,

Conhecimentos Pedagógicos 2
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Art. 12. Os estabelecimentos de ensino, respeitadas as Parágrafo único. No Distrito Federal, as instituições de
normas comuns e as do seu sistema de ensino, terão a educação infantil, criadas e mantidas pela iniciativa privada,
incumbência de: integram seu sistema de ensino.
I - elaborar e executar sua proposta pedagógica;
II - administrar seu pessoal e seus recursos materiais e Art. 18. Os sistemas municipais de ensino compreendem:
financeiros; I - as instituições do ensino fundamental, médio e de
III - assegurar o cumprimento dos dias letivos e horas-aula educação infantil mantidas pelo Poder Público municipal;
estabelecidas; II - as instituições de educação infantil criadas e mantidas
IV - velar pelo cumprimento do plano de trabalho de cada pela iniciativa privada;
docente; III – os órgãos municipais de educação.
V - prover meios para a recuperação dos alunos de menor
rendimento; Art. 19. As instituições de ensino dos diferentes níveis
VI - articular-se com as famílias e a comunidade, criando classificam-se nas seguintes categorias administrativas:
processos de integração da sociedade com a escola; (Regulamento)
VII - informar pai e mãe, conviventes ou não com seus I - públicas, assim entendidas as criadas ou incorporadas,
filhos, e, se for o caso, os responsáveis legais, sobre a mantidas e administradas pelo Poder Público;
frequência e rendimento dos alunos, bem como sobre a II - privadas, assim entendidas as mantidas e
execução da proposta pedagógica da escola; administradas por pessoas físicas ou jurídicas de direito
VIII – notificar ao Conselho Tutelar do Município, ao juiz privado.
competente da Comarca e ao respectivo representante do
Ministério Público a relação dos alunos que apresentem Art. 20. As instituições privadas de ensino se enquadrarão
quantidade de faltas acima de cinquenta por cento do nas seguintes categorias: (Regulamento)
percentual permitido em lei. I - particulares em sentido estrito, assim entendidas as que
são instituídas e mantidas por uma ou mais pessoas físicas ou
Art. 13. Os docentes incumbir-se-ão de: jurídicas de direito privado que não apresentem as
I - participar da elaboração da proposta pedagógica do características dos incisos abaixo;
estabelecimento de ensino; II - comunitárias, assim entendidas as que são instituídas
II - elaborar e cumprir plano de trabalho, segundo a por grupos de pessoas físicas ou por uma ou mais pessoas
proposta pedagógica do estabelecimento de ensino; jurídicas, inclusive cooperativas educacionais, sem fins
III - zelar pela aprendizagem dos alunos; lucrativos, que incluam na sua entidade mantenedora
IV - estabelecer estratégias de recuperação para os alunos representantes da comunidade;
de menor rendimento; III - confessionais, assim entendidas as que são instituídas
V - ministrar os dias letivos e horas-aula estabelecidos, por grupos de pessoas físicas ou por uma ou mais pessoas
além de participar integralmente dos períodos dedicados ao jurídicas que atendem a orientação confessional e ideologia
planejamento, à avaliação e ao desenvolvimento profissional; específicas e ao disposto no inciso anterior;
VI - colaborar com as atividades de articulação da escola IV - filantrópicas, na forma da lei.
com as famílias e a comunidade.
TÍTULO V
Art. 14. Os sistemas de ensino definirão as normas da Dos Níveis e das Modalidades de Educação e Ensino
gestão democrática do ensino público na educação básica, de CAPÍTULO I
acordo com as suas peculiaridades e conforme os seguintes Da Composição dos Níveis Escolares
princípios:
I - participação dos profissionais da educação na Art. 21. A educação escolar compõe-se de:
elaboração do projeto pedagógico da escola; I - educação básica, formada pela educação infantil, ensino
II - participação das comunidades escolar e local em fundamental e ensino médio;
conselhos escolares ou equivalentes. II - educação superior.

Art. 15. Os sistemas de ensino assegurarão às unidades Comentário: A educação básica vai dos 4 (quatro) aos 17
escolares públicas de educação básica que os integram (dezessete) anos e é dividida em três etapas a educação infantil
progressivos graus de autonomia pedagógica e administrativa (creche e pré-escola), a educação fundamental (até a oitava
e de gestão financeira, observadas as normas gerais de direito série, 9° ano) e o ensino médio.
financeiro público. Outra etapa da educação é o ensino superior, em que o
estudante opta pela “área” em que quer estudar e que só é
Art. 16. O sistema federal de ensino possível após a conclusão da educação básica.
compreende:(Regulamento)
I - as instituições de ensino mantidas pela União; CAPÍTULO II
II - as instituições de educação superior criadas e mantidas DA EDUCAÇÃO BÁSICA
pela iniciativa privada; Seção I
III - os órgãos federais de educação. Das Disposições Gerais

Art. 17. Os sistemas de ensino dos Estados e do Distrito Art. 22. A educação básica tem por finalidades desenvolver
Federal compreendem: o educando, assegurar-lhe a formação comum indispensável
I - as instituições de ensino mantidas, respectivamente, para o exercício da cidadania e fornecer-lhe meios para
pelo Poder Público estadual e pelo Distrito Federal; progredir no trabalho e em estudos posteriores.
II - as instituições de educação superior mantidas pelo
Poder Público municipal; Art. 23. A educação básica poderá organizar-se em séries
III - as instituições de ensino fundamental e médio criadas anuais, períodos semestrais, ciclos, alternância regular de
e mantidas pela iniciativa privada; períodos de estudos, grupos não-seriados, com base na idade,
IV - os órgãos de educação estaduais e do Distrito Federal, na competência e em outros critérios, ou por forma diversa de
respectivamente.

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organização, sempre que o interesse do processo de adequado às condições do educando, conforme o inciso VI do
aprendizagem assim o recomendar. art. 4º. (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017)
§ 1º A escola poderá reclassificar os alunos, inclusive
quando se tratar de transferências entre estabelecimentos Art. 25. Será objetivo permanente das autoridades
situados no País e no exterior, tendo como base as normas responsáveis alcançar relação adequada entre o número de
curriculares gerais. alunos e o professor, a carga horária e as condições materiais
§ 2º O calendário escolar deverá adequar-se às do estabelecimento.
peculiaridades locais, inclusive climáticas e econômicas, a Parágrafo único. Cabe ao respectivo sistema de ensino, à
critério do respectivo sistema de ensino, sem com isso reduzir vista das condições disponíveis e das características regionais
o número de horas letivas previsto nesta Lei. e locais, estabelecer parâmetro para atendimento do disposto
neste artigo.
Art. 24. A educação básica, nos níveis fundamental e médio,
será organizada de acordo com as seguintes regras comuns: Art. 26. Os currículos da educação infantil, do ensino
I - a carga horária mínima anual será de oitocentas horas fundamental e do ensino médio devem ter base nacional
para o ensino fundamental e para o ensino médio, distribuídas comum, a ser complementada, em cada sistema de ensino e em
por um mínimo de duzentos dias de efetivo trabalho escolar, cada estabelecimento escolar, por uma parte diversificada,
excluído o tempo reservado aos exames finais, quando houver; exigida pelas características regionais e locais da sociedade, da
(Redação dada pela Lei nº 13.415, de 2017) cultura, da economia e dos educandos.
II - a classificação em qualquer série ou etapa, exceto a § 1º Os currículos a que se refere o caput devem abranger,
primeira do ensino fundamental, pode ser feita: obrigatoriamente, o estudo da língua portuguesa e da
a) por promoção, para alunos que cursaram, com matemática, o conhecimento do mundo físico e natural e da
aproveitamento, a série ou fase anterior, na própria escola; realidade social e política, especialmente do Brasil.
b) por transferência, para candidatos procedentes de § 2º O ensino da arte, especialmente em suas expressões
outras escolas; regionais, constituirá componente curricular obrigatório da
c) independentemente de escolarização anterior, mediante educação básica. (Redação dada pela Lei nº 13.415, de 2017)
avaliação feita pela escola, que defina o grau de § 3º A educação física, integrada à proposta pedagógica da
desenvolvimento e experiência do candidato e permita sua escola, é componente curricular obrigatório da educação
inscrição na série ou etapa adequada, conforme básica, sendo sua prática facultativa ao aluno: (Redação dada
regulamentação do respectivo sistema de ensino; pela Lei nº 10.793, de 1º.12.2003)
III - nos estabelecimentos que adotam a progressão regular I – que cumpra jornada de trabalho igual ou superior a seis
por série, o regimento escolar pode admitir formas de horas;
progressão parcial, desde que preservada a sequência do II – maior de trinta anos de idade;
currículo, observadas as normas do respectivo sistema de III – que estiver prestando serviço militar inicial ou que, em
ensino; situação similar, estiver obrigado à prática da educação física;
IV - poderão organizar-se classes, ou turmas, com alunos IV – amparado pelo Decreto-Lei no 1.044, de 21 de outubro
de séries distintas, com níveis equivalentes de adiantamento de 1969;
na matéria, para o ensino de línguas estrangeiras, artes, ou V – (Vetado)
outros componentes curriculares; VI – que tenha prole.
V - a verificação do rendimento escolar observará os § 4º O ensino da História do Brasil levará em conta as
seguintes critérios: contribuições das diferentes culturas e etnias para a formação
a) avaliação contínua e cumulativa do desempenho do do povo brasileiro, especialmente das matrizes indígena,
aluno, com prevalência dos aspectos qualitativos sobre os africana e europeia.
quantitativos e dos resultados ao longo do período sobre os de § 5º No currículo do ensino fundamental, a partir do sexto
eventuais provas finais; ano, será ofertada a língua inglesa. (Redação dada pela Lei nº
b) possibilidade de aceleração de estudos para alunos com 13.415, de 2017)
atraso escolar; § 6o As artes visuais, a dança, a música e o teatro são as
c) possibilidade de avanço nos cursos e nas séries linguagens que constituirão o componente curricular de que
mediante verificação do aprendizado; trata o § 2º deste artigo. (Redação dada pela Lei nº 13.278, de
d) aproveitamento de estudos concluídos com êxito; 2016).
e) obrigatoriedade de estudos de recuperação, de § 7º A integralização curricular poderá incluir, a critério
preferência paralelos ao período letivo, para os casos de baixo dos sistemas de ensino, projetos e pesquisas envolvendo os
rendimento escolar, a serem disciplinados pelas instituições temas transversais de que trata o caput. (Redação dada pela
de ensino em seus regimentos; Lei nº 13.415, de 2017)
VI - o controle de frequência fica a cargo da escola, § 8º A exibição de filmes de produção nacional constituirá
conforme o disposto no seu regimento e nas normas do componente curricular complementar integrado à proposta
respectivo sistema de ensino, exigida a frequência mínima de pedagógica da escola, sendo a sua exibição obrigatória por, no
setenta e cinco por cento do total de horas letivas para mínimo, 2 (duas) horas mensais. (Incluído pela Lei nº 13.006,
aprovação; de 2014)
VII - cabe a cada instituição de ensino expedir históricos § 9o Conteúdos relativos aos direitos humanos e à
escolares, declarações de conclusão de série e diplomas ou prevenção de todas as formas de violência contra a criança e
certificados de conclusão de cursos, com as especificações ao adolescente serão incluídos, como temas transversais, nos
cabíveis. currículos escolares de que trata o caput deste artigo, tendo
§ 1º A carga horária mínima anual de que trata o inciso I do como diretriz a Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto
caput deverá ser ampliada de forma progressiva, no ensino da Criança e do Adolescente), observada a produção e
médio, para mil e quatrocentas horas, devendo os sistemas de distribuição de material didático adequado. (Incluído pela Lei
ensino oferecer, no prazo máximo de cinco anos, pelo menos nº 13.010, de 2014)
mil horas anuais de carga horária, a partir de 2 de março de § 10. A inclusão de novos componentes curriculares de
2017. (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017) caráter obrigatório na Base Nacional Comum Curricular
§ 2º Os sistemas de ensino disporão sobre a oferta de dependerá de aprovação do Conselho Nacional de Educação e
educação de jovens e adultos e de ensino noturno regular,

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de homologação pelo Ministro de Estado da Educação. I - creches, ou entidades equivalentes, para crianças de até
(Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017) três anos de idade;
II - pré-escolas, para as crianças de 4 (quatro) a 5 (cinco)
Art. 26.A- Nos estabelecimentos de ensino fundamental e anos de idade.
de ensino médio, públicos e privados, torna-se obrigatório o
estudo da história e cultura afro-brasileira e indígena. Art. 31. A educação infantil será organizada de acordo com
§ 1o O conteúdo programático a que se refere este artigo as seguintes regras comuns:
incluirá diversos aspectos da história e da cultura que I - avaliação mediante acompanhamento e registro do
caracterizam a formação da população brasileira, a partir desenvolvimento das crianças, sem o objetivo de promoção,
desses dois grupos étnicos, tais como o estudo da história da mesmo para o acesso ao ensino fundamental;
África e dos africanos, a luta dos negros e dos povos indígenas II - carga horária mínima anual de 800 (oitocentas) horas,
no Brasil, a cultura negra e indígena brasileira e o negro e o distribuída por um mínimo de 200 (duzentos) dias de trabalho
índio na formação da sociedade nacional, resgatando as suas educacional;
contribuições nas áreas social, econômica e política, III - atendimento à criança de, no mínimo, 4 (quatro) horas
pertinentes à história do Brasil. diárias para o turno parcial e de 7 (sete) horas para a jornada
§ 2o Os conteúdos referentes à história e cultura afro- integral;
brasileira e dos povos indígenas brasileiros serão ministrados IV - controle de frequência pela instituição de educação
no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de pré-escolar, exigida a frequência mínima de 60% (sessenta por
educação artística e de literatura e história brasileiras. cento) do total de horas;
V - expedição de documentação que permita atestar os
Art. 27. Os conteúdos curriculares da educação básica processos de desenvolvimento e aprendizagem da criança.
observarão, ainda, as seguintes diretrizes:
I - a difusão de valores fundamentais ao interesse social, Seção III
aos direitos e deveres dos cidadãos, de respeito ao bem Do Ensino Fundamental
comum e à ordem democrática;
II - consideração das condições de escolaridade dos alunos Art. 32. O ensino fundamental obrigatório, com duração de
em cada estabelecimento; 9 (nove) anos, gratuito na escola pública, iniciando-se aos 6
III - orientação para o trabalho; (seis) anos de idade, terá por objetivo a formação básica do
IV - promoção do desporto educacional e apoio às práticas cidadão, mediante:
desportivas não-formais. I - o desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo
como meios básicos o pleno domínio da leitura, da escrita e do
Art. 28. Na oferta de educação básica para a população cálculo;
rural, os sistemas de ensino promoverão as adaptações II - a compreensão do ambiente natural e social, do sistema
necessárias à sua adequação às peculiaridades da vida rural e político, da tecnologia, das artes e dos valores em que se
de cada região, especialmente: fundamenta a sociedade;
I - conteúdos curriculares e metodologias apropriadas às III - o desenvolvimento da capacidade de aprendizagem,
reais necessidades e interesses dos alunos da zona rural; tendo em vista a aquisição de conhecimentos e habilidades e a
II - organização escolar própria, incluindo adequação do formação de atitudes e valores;
calendário escolar às fases do ciclo agrícola e às condições IV - o fortalecimento dos vínculos de família, dos laços de
climáticas; solidariedade humana e de tolerância recíproca em que se
III - adequação à natureza do trabalho na zona rural. assenta a vida social.
Parágrafo único. O fechamento de escolas do campo, § 1º É facultado aos sistemas de ensino desdobrar o ensino
indígenas e quilombolas será precedido de manifestação do fundamental em ciclos.
órgão normativo do respectivo sistema de ensino, que § 2º Os estabelecimentos que utilizam progressão regular
considerará a justificativa apresentada pela Secretaria de por série podem adotar no ensino fundamental o regime de
Educação, a análise do diagnóstico do impacto da ação e a progressão continuada, sem prejuízo da avaliação do processo
manifestação da comunidade escolar. (Incluído pela Lei nº de ensino-aprendizagem, observadas as normas do respectivo
12.960, de 2014) sistema de ensino.
§ 3º O ensino fundamental regular será ministrado em
Comentário: Quando se fala em educação, mais língua portuguesa, assegurada às comunidades indígenas a
especificamente em educação básica deve-se considerar não utilização de suas línguas maternas e processos próprios de
apenas os conteúdos administrados em sala de aula, mas aprendizagem.
também, o desenvolvimento integral do aluno de modo a § 4º O ensino fundamental será presencial, sendo o ensino
possibilitar seu desenvolvimento enquanto cidadão inserido a distância utilizado como complementação da aprendizagem
em um contexto social favorecendo seu desenvolvimento para ou em situações emergenciais.
o trabalho e também para seus estudos posteriores servindo, § 5o O currículo do ensino fundamental incluirá,
assim, como base para o seu desenvolvimento enquanto obrigatoriamente, conteúdo que trate dos direitos das crianças
sujeito e autor do seu futuro. e dos adolescentes, tendo como diretriz a Lei no 8.069, de 13
de julho de 1990, que institui o Estatuto da Criança e do
Seção II Adolescente, observada a produção e distribuição de material
Da Educação Infantil didático adequado.
§ 6º O estudo sobre os símbolos nacionais será incluído
Art. 29. A educação infantil, primeira etapa da educação como tema transversal nos currículos do ensino fundamental.
básica, tem como finalidade o desenvolvimento integral da
criança de até 5 (cinco) anos, em seus aspectos físico, Art. 33. O ensino religioso, de matrícula facultativa, é parte
psicológico, intelectual e social, complementando a ação da integrante da formação básica do cidadão e constitui disciplina
família e da comunidade. dos horários normais das escolas públicas de ensino
fundamental, assegurado o respeito à diversidade cultural
Art. 30. A educação infantil será oferecida em: religiosa do Brasil, vedadas quaisquer formas de proselitismo.

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§ 1º Os sistemas de ensino regulamentarão os § 5º A carga horária destinada ao cumprimento da Base


procedimentos para a definição dos conteúdos do ensino Nacional Comum Curricular não poderá ser superior a mil e
religioso e estabelecerão as normas para a habilitação e oitocentas horas do total da carga horária do ensino médio, de
admissão dos professores. acordo com a definição dos sistemas de ensino. (Incluído pela
§ 2º Os sistemas de ensino ouvirão entidade civil, Lei nº 13.415, de 2017)
constituída pelas diferentes denominações religiosas, para a § 6º A União estabelecerá os padrões de desempenho
definição dos conteúdos do ensino religioso. esperados para o ensino médio, que serão referência nos
processos nacionais de avaliação, a partir da Base Nacional
Art. 34. A jornada escolar no ensino fundamental incluirá Comum Curricular. (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017)
pelo menos quatro horas de trabalho efetivo em sala de aula, § 7º Os currículos do ensino médio deverão considerar a
sendo progressivamente ampliado o período de permanência formação integral do aluno, de maneira a adotar um trabalho
na escola. voltado para a construção de seu projeto de vida e para sua
§ 1º São ressalvados os casos do ensino noturno e das formação nos aspectos físicos, cognitivos e socioemocionais.
formas alternativas de organização autorizadas nesta Lei. (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017)
§ 2º O ensino fundamental será ministrado § 8º Os conteúdos, as metodologias e as formas de
progressivamente em tempo integral, a critério dos sistemas avaliação processual e formativa serão organizados nas redes
de ensino. de ensino por meio de atividades teóricas e práticas, provas
orais e escritas, seminários, projetos e atividades on-line, de
Seção IV tal forma que ao final do ensino médio o educando demonstre:
Do Ensino Médio (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017)
I - domínio dos princípios científicos e tecnológicos que
Art. 35. O ensino médio, etapa final da educação básica, presidem a produção moderna; (Incluído pela Lei nº 13.415,
com duração mínima de três anos, terá como finalidades: de 2017)
I - a consolidação e o aprofundamento dos conhecimentos II - conhecimento das formas contemporâneas de
adquiridos no ensino fundamental, possibilitando o linguagem. (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017)
prosseguimento de estudos;
II - a preparação básica para o trabalho e a cidadania do Art. 36. O currículo do ensino médio será composto pela
educando, para continuar aprendendo, de modo a ser capaz de Base Nacional Comum Curricular e por itinerários formativos,
se adaptar com flexibilidade a novas condições de ocupação ou que deverão ser organizados por meio da oferta de diferentes
aperfeiçoamento posteriores; arranjos curriculares, conforme a relevância para o contexto
III - o aprimoramento do educando como pessoa humana, local e a possibilidade dos sistemas de ensino, a saber:
incluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia (Redação dada pela Lei nº 13.415, de 2017)
intelectual e do pensamento crítico; I - linguagens e suas tecnologias; (Redação dada pela Lei nº
IV - a compreensão dos fundamentos científico- 13.415, de 2017)
tecnológicos dos processos produtivos, relacionando a teoria II - matemática e suas tecnologias; (Redação dada pela Lei
com a prática, no ensino de cada disciplina. nº 13.415, de 2017)
III - ciências da natureza e suas tecnologias; (Redação dada
Art. 35-A. A Base Nacional Comum Curricular definirá pela Lei nº 13.415, de 2017)
direitos e objetivos de aprendizagem do ensino médio, IV - ciências humanas e sociais aplicadas; (Redação dada
conforme diretrizes do Conselho Nacional de Educação, nas pela Lei nº 13.415, de 2017)
seguintes áreas do conhecimento: (Incluído pela Lei nº 13.415, V - formação técnica e profissional. (Incluído pela Lei nº
de 2017) 13.415, de 2017)
I - linguagens e suas tecnologias; (Incluído pela Lei nº § 1º A organização das áreas de que trata o caput e das
13.415, de 2017) respectivas competências e habilidades será feita de acordo
II - matemática e suas tecnologias; (Incluído pela Lei nº com critérios estabelecidos em cada sistema de ensino.
13.415, de 2017) (Redação dada pela Lei nº 13.415, de 2017)
III - ciências da natureza e suas tecnologias; (Incluído pela I - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 13.415, de 2017)
Lei nº 13.415, de 2017) II - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 13.415, de 2017)
IV - ciências humanas e sociais aplicadas. (Incluído pela Lei § 2º Revogado pela Lei nº 11.741/08
nº 13.415, de 2017) § 3º A critério dos sistemas de ensino, poderá ser
§ 1º A parte diversificada dos currículos de que trata o composto itinerário formativo integrado, que se traduz na
caput do art. 26, definida em cada sistema de ensino, deverá composição de componentes curriculares da Base Nacional
estar harmonizada à Base Nacional Comum Curricular e ser Comum Curricular - BNCC e dos itinerários formativos,
articulada a partir do contexto histórico, econômico, social, considerando os incisos I a V do caput. (Redação dada pela Lei
ambiental e cultural. (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017) nº 13.415, de 2017)
§ 2º A Base Nacional Comum Curricular referente ao § 4º (Revogado pela Lei nº 11.741, de 2008)
ensino médio incluirá obrigatoriamente estudos e práticas de § 5º Os sistemas de ensino, mediante disponibilidade de
educação física, arte, sociologia e filosofia. (Incluído pela Lei nº vagas na rede, possibilitarão ao aluno concluinte do ensino
13.415, de 2017) médio cursar mais um itinerário formativo de que trata o
§ 3º O ensino da língua portuguesa e da matemática será caput. (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017)
obrigatório nos três anos do ensino médio, assegurada às § 6º A critério dos sistemas de ensino, a oferta de formação
comunidades indígenas, também, a utilização das respectivas com ênfase técnica e profissional considerará: (Incluído pela
línguas maternas. (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017) Lei nº 13.415, de 2017)
§ 4º Os currículos do ensino médio incluirão, I - a inclusão de vivências práticas de trabalho no setor
obrigatoriamente, o estudo da língua inglesa e poderão ofertar produtivo ou em ambientes de simulação, estabelecendo
outras línguas estrangeiras, em caráter optativo, parcerias e fazendo uso, quando aplicável, de instrumentos
preferencialmente o espanhol, de acordo com a estabelecidos pela legislação sobre aprendizagem
disponibilidade de oferta, locais e horários definidos pelos profissional; (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017)
sistemas de ensino. (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017) II - a possibilidade de concessão de certificados
intermediários de qualificação para o trabalho, quando a

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formação for estruturada e organizada em etapas com Parágrafo único. A educação profissional técnica de nível
terminalidade. (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017) médio deverá observar:
§ 7º A oferta de formações experimentais relacionadas ao I - os objetivos e definições contidos nas diretrizes
inciso V do caput, em áreas que não constem do Catálogo curriculares nacionais estabelecidas pelo Conselho Nacional
Nacional dos Cursos Técnicos, dependerá, para sua de Educação;
continuidade, do reconhecimento pelo respectivo Conselho II - as normas complementares dos respectivos sistemas de
Estadual de Educação, no prazo de três anos, e da inserção no ensino;
Catálogo Nacional dos Cursos Técnicos, no prazo de cinco anos, III - as exigências de cada instituição de ensino, nos termos
contados da data de oferta inicial da formação. (Incluído pela de seu projeto pedagógico.
Lei nº 13.415, de 2017)
§ 8º A oferta de formação técnica e profissional a que se Art. 36.C- A educação profissional técnica de nível médio
refere o inciso V do caput, realizada na própria instituição ou articulada, prevista no inciso I do caput do art. 36-B desta Lei,
em parceria com outras instituições, deverá ser aprovada será desenvolvida de forma:
previamente pelo Conselho Estadual de Educação, I - integrada, oferecida somente a quem já tenha concluído
homologada pelo Secretário Estadual de Educação e o ensino fundamental, sendo o curso planejado de modo a
certificada pelos sistemas de ensino. (Incluído pela Lei nº conduzir o aluno à habilitação profissional técnica de nível
13.415, de 2017) médio, na mesma instituição de ensino, efetuando-se
§ 9º As instituições de ensino emitirão certificado com matrícula única para cada aluno;
validade nacional, que habilitará o concluinte do ensino médio II - concomitante, oferecida a quem ingresse no ensino
ao prosseguimento dos estudos em nível superior ou em médio ou já o estejam cursando, efetuando-se matrículas
outros cursos ou formações para os quais a conclusão do distintas para cada curso, e podendo ocorrer:
ensino médio seja etapa obrigatória. (Incluído pela Lei nº a) na mesma instituição de ensino, aproveitando-se as
13.415, de 2017) oportunidades educacionais disponíveis;
§ 10. Além das formas de organização previstas no art. 23, b) em instituições de ensino distintas, aproveitando-se as
o ensino médio poderá ser organizado em módulos e adotar o oportunidades educacionais disponíveis;
sistema de créditos com terminalidade específica. (Incluído c) em instituições de ensino distintas, mediante convênios
pela Lei nº 13.415, de 2017) de intercomplementaridade, visando ao planejamento e ao
§ 11. Para efeito de cumprimento das exigências desenvolvimento de projeto pedagógico unificado.
curriculares do ensino médio, os sistemas de ensino poderão
reconhecer competências e firmar convênios com instituições Art. 36.D- Os diplomas de cursos de educação profissional
de educação a distância com notório reconhecimento, técnica de nível médio, quando registrados, terão validade
mediante as seguintes formas de comprovação: (Incluído pela nacional e habilitarão ao prosseguimento de estudos na
Lei nº 13.415, de 2017) educação superior.
I - demonstração prática; (Incluído pela Lei nº 13.415, de Parágrafo único. Os cursos de educação profissional
2017) técnica de nível médio, nas formas articulada concomitante e
II - experiência de trabalho supervisionado ou outra subsequente, quando estruturados e organizados em etapas
experiência adquirida fora do ambiente escolar; (Incluído pela com terminalidade, possibilitarão a obtenção de certificados
Lei nº 13.415, de 2017) de qualificação para o trabalho após a conclusão, com
III - atividades de educação técnica oferecidas em outras aproveitamento, de cada etapa que caracterize uma
instituições de ensino credenciadas; (Incluído pela Lei nº qualificação para o trabalho.
13.415, de 2017)
IV - cursos oferecidos por centros ou programas Seção V
ocupacionais; (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017) Da Educação de Jovens e Adultos
V - estudos realizados em instituições de ensino nacionais
ou estrangeiras; (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017) Art. 37. A educação de jovens e adultos será destinada
VI - cursos realizados por meio de educação a distância ou àqueles que não tiveram acesso ou continuidade de estudos no
educação presencial mediada por tecnologias. (Incluído pela ensino fundamental e médio na idade própria.
Lei nº 13.415, de 2017) § 1º Os sistemas de ensino assegurarão gratuitamente aos
§ 12. As escolas deverão orientar os alunos no processo de jovens e aos adultos, que não puderam efetuar os estudos na
escolha das áreas de conhecimento ou de atuação profissional idade regular, oportunidades educacionais apropriadas,
previstas no caput. (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017) consideradas as características do alunado, seus interesses,
condições de vida e de trabalho, mediante cursos e exames.
Seção IV-A § 2º O Poder Público viabilizará e estimulará o acesso e a
Da Educação Profissional Técnica de Nível Médio permanência do trabalhador na escola, mediante ações
integradas e complementares entre si.
Art. 36.A- Sem prejuízo do disposto na Seção IV deste § 3o A educação de jovens e adultos deverá articular-se,
Capítulo, o ensino médio, atendida a formação geral do preferencialmente, com a educação profissional, na forma do
educando, poderá prepará-lo para o exercício de profissões regulamento.
técnicas.
Parágrafo único. A preparação geral para o trabalho e, Art. 38. Os sistemas de ensino manterão cursos e exames
facultativamente, a habilitação profissional poderão ser supletivos, que compreenderão a base nacional comum do
desenvolvidas nos próprios estabelecimentos de ensino médio currículo, habilitando ao prosseguimento de estudos em
ou em cooperação com instituições especializadas em caráter regular.
educação profissional. § 1º Os exames a que se refere este artigo realizar-se-ão:
I - no nível de conclusão do ensino fundamental, para os
Art. 36.B- A educação profissional técnica de nível médio maiores de quinze anos;
será desenvolvida nas seguintes formas: II - no nível de conclusão do ensino médio, para os maiores
I - articulada com o ensino médio; de dezoito anos.
II - subsequente, em cursos destinados a quem já tenha
concluído o ensino médio.

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§ 2º Os conhecimentos e habilidades adquiridos pelos Art. 42. As instituições de educação profissional e


educandos por meios informais serão aferidos e reconhecidos tecnológica, além dos seus cursos regulares, oferecerão cursos
mediante exames. especiais, abertos à comunidade, condicionada a matrícula à
capacidade de aproveitamento e não necessariamente ao nível
Comentário: A educação infantil (até os 5 anos de idade) de escolaridade.
deve ser complementar à ação da família e da comunidade
desde então possibilitando o desenvolvimento da criança CAPÍTULO IV
enquanto um ser bio-psico-social. Da Educação Superior
O ensino fundamental, por sua vez, com duração de 9 anos
e tento início aos 6 anos de idade visa a formação básica do Art. 43. A educação superior tem por finalidade:
cidadão, ou seja, - o desenvolvimento da capacidade de I - estimular a criação cultural e o desenvolvimento do
aprender através do domínio da leitura, da escrita e do cálculo, espírito científico e do pensamento reflexivo;
a compreensão do ambiente natural e social, do sistema II - formar diplomados nas diferentes áreas de
político, da tecnologia, das artes e dos valores em que se conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais
fundamenta a sociedade, a aquisição de conhecimentos e e para a participação no desenvolvimento da sociedade
habilidades e a formação de atitudes e valores e o brasileira, e colaborar na sua formação contínua;
fortalecimento dos vínculos de família, dos laços de III - incentivar o trabalho de pesquisa e investigação
solidariedade humana e de tolerância recíproca em que se científica, visando o desenvolvimento da ciência e da
assenta a vida social. tecnologia e da criação e difusão da cultura, e, desse modo,
O ensino médio com duração mínima de 3 anos tem como desenvolver o entendimento do homem e do meio em que
finalidade o aprofundamento dos conhecimentos adquiridos vive;
anteriormente, a preparação para o trabalho, o IV - promover a divulgação de conhecimentos culturais,
aprofundamento do desenvolvimento enquanto ser humano e científicos e técnicos que constituem patrimônio da
a integração da teoria à pratica profissional. humanidade e comunicar o saber através do ensino, de
A Educação Profissional Técnica de Nível Médio, que tem publicações ou de outras formas de comunicação;
por princípios os mesmos pressupostos do ensino médio além V - suscitar o desejo permanente de aperfeiçoamento
de preparar o educando para o exercício de profissões cultural e profissional e possibilitar a correspondente
técnicas. concretização, integrando os conhecimentos que vão sendo
A Educação de Jovens e Adultos, diz respeito àqueles que adquiridos numa estrutura intelectual sistematizadora do
não deram continuidade no ensino fundamental e médio na conhecimento de cada geração;
idade prevista e que têm o direito de prossegui-la na idade VI - estimular o conhecimento dos problemas do mundo
adulta. presente, em particular os nacionais e regionais, prestar
serviços especializados à comunidade e estabelecer com esta
CAPÍTULO III uma relação de reciprocidade;
DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL VII - promover a extensão, aberta à participação da
Da Educação Profissional e Tecnológica população, visando à difusão das conquistas e benefícios
resultantes da criação cultural e da pesquisa científica e
Art. 39. A educação profissional e tecnológica, no tecnológica geradas na instituição.
cumprimento dos objetivos da educação nacional, integra-se VIII - atuar em favor da universalização e do
aos diferentes níveis e modalidades de educação e às aprimoramento da educação básica, mediante a formação e a
dimensões do trabalho, da ciência e da tecnologia. capacitação de profissionais, a realização de pesquisas
§ 1o Os cursos de educação profissional e tecnológica pedagógicas e o desenvolvimento de atividades de extensão
poderão ser organizados por eixos tecnológicos, que aproximem os dois níveis escolares. (Incluído pela Lei nº
possibilitando a construção de diferentes itinerários 13.174, de 2015)
formativos, observadas as normas do respectivo sistema e
nível de ensino. Art. 44. A educação superior abrangerá os seguintes cursos
§ 2o A educação profissional e tecnológica abrangerá os e programas:
seguintes cursos: I - cursos sequenciais por campo de saber, de diferentes
I – de formação inicial e continuada ou qualificação níveis de abrangência, abertos a candidatos que atendam aos
profissional; requisitos estabelecidos pelas instituições de ensino, desde
II – de educação profissional técnica de nível médio; que tenham concluído o ensino médio ou equivalente;
III – de educação profissional tecnológica de graduação e II - de graduação, abertos a candidatos que tenham
pós-graduação. concluído o ensino médio ou equivalente e tenham sido
§ 3o Os cursos de educação profissional tecnológica de classificados em processo seletivo;
graduação e pós-graduação organizar-se-ão, no que concerne III - de pós-graduação, compreendendo programas de
a objetivos, características e duração, de acordo com as mestrado e doutorado, cursos de especialização,
diretrizes curriculares nacionais estabelecidas pelo Conselho aperfeiçoamento e outros, abertos a candidatos diplomados
Nacional de Educação. em cursos de graduação e que atendam às exigências das
instituições de ensino;
Art. 40. A educação profissional será desenvolvida em IV - de extensão, abertos a candidatos que atendam aos
articulação com o ensino regular ou por diferentes estratégias requisitos estabelecidos em cada caso pelas instituições de
de educação continuada, em instituições especializadas ou no ensino.
ambiente de trabalho. (Regulamento) § 1º Os resultados do processo seletivo referido no inciso
II do caput deste artigo serão tornados públicos pelas
Art. 41. O conhecimento adquirido na educação instituições de ensino superior, sendo obrigatória a divulgação
profissional e tecnológica, inclusive no trabalho, poderá ser da relação nominal dos classificados, a respectiva ordem de
objeto de avaliação, reconhecimento e certificação para classificação, bem como do cronograma das chamadas para
prosseguimento ou conclusão de estudos. matrícula, de acordo com os critérios para preenchimento das
vagas constantes do respectivo edital. (Incluído pela Lei nº

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11.331, de 2006) (Renumerado do parágrafo único para § 1º a) caso o curso mantenha disciplinas com duração
pela Lei nº 13.184, de 2015). diferenciada, a publicação deve ser semestral; (Incluída pela
§ 2º No caso de empate no processo seletivo, as instituições lei nº 13.168, de 2015)
públicas de ensino superior darão prioridade de matrícula ao b) a publicação deve ser feita até 1 (um) mês antes do início
candidato que comprove ter renda familiar inferior a dez das aulas; (Incluída pela lei nº 13.168, de 2015)
salários mínimos, ou ao de menor renda familiar, quando mais c) caso haja mudança na grade do curso ou no corpo
de um candidato preencher o critério inicial. (Incluído pela Lei docente até o início das aulas, os alunos devem ser
nº 13.184, de 2015) comunicados sobre as alterações; (Incluída pela lei nº 13.168,
§ 3º O processo seletivo referido no inciso II considerará de 2015)
as competências e as habilidades definidas na Base Nacional V - deve conter as seguintes informações: (Incluído pela lei
Comum Curricular. (Incluído pela lei nº 13.415, de 2017) nº 13.168, de 2015)
a) a lista de todos os cursos oferecidos pela instituição de
Art. 45. A educação superior será ministrada em ensino superior; (Incluída pela lei nº 13.168, de 2015)
instituições de ensino superior, públicas ou privadas, com b) a lista das disciplinas que compõem a grade curricular
variados graus de abrangência ou especialização. de cada curso e as respectivas cargas horárias; (Incluída pela
lei nº 13.168, de 2015)
Art. 46. A autorização e o reconhecimento de cursos, bem c) a identificação dos docentes que ministrarão as aulas em
como o credenciamento de instituições de educação superior, cada curso, as disciplinas que efetivamente ministrará naquele
terão prazos limitados, sendo renovados, periodicamente, curso ou cursos, sua titulação, abrangendo a qualificação
após processo regular de avaliação. (Regulamento) profissional do docente e o tempo de casa do docente, de forma
§ 1º Após um prazo para saneamento de deficiências total, contínua ou intermitente. (Incluída pela lei nº 13.168,
eventualmente identificadas pela avaliação a que se refere este de 2015)
artigo, haverá reavaliação, que poderá resultar, conforme o § 2º Os alunos que tenham extraordinário aproveitamento
caso, em desativação de cursos e habilitações, em intervenção nos estudos, demonstrado por meio de provas e outros
na instituição, em suspensão temporária de prerrogativas da instrumentos de avaliação específicos, aplicados por banca
autonomia, ou em descredenciamento. examinadora especial, poderão ter abreviada a duração dos
§ 2º No caso de instituição pública, o Poder Executivo seus cursos, de acordo com as normas dos sistemas de ensino.
responsável por sua manutenção acompanhará o processo de § 3º É obrigatória a frequência de alunos e professores,
saneamento e fornecerá recursos adicionais, se necessários, salvo nos programas de educação a distância.
para a superação das deficiências. § 4º As instituições de educação superior oferecerão, no
período noturno, cursos de graduação nos mesmos padrões de
Art. 47. Na educação superior, o ano letivo regular, qualidade mantidos no período diurno, sendo obrigatória a
independente do ano civil, tem, no mínimo, duzentos dias de oferta noturna nas instituições públicas, garantida a
trabalho acadêmico efetivo, excluído o tempo reservado aos necessária previsão orçamentária.
exames finais, quando houver.
§ 1º As instituições informarão aos interessados, antes de Art. 48. Os diplomas de cursos superiores reconhecidos,
cada período letivo, os programas dos cursos e demais quando registrados, terão validade nacional como prova da
componentes curriculares, sua duração, requisitos, formação recebida por seu titular.
qualificação dos professores, recursos disponíveis e critérios § 1º Os diplomas expedidos pelas universidades serão por
de avaliação, obrigando-se a cumprir as respectivas condições, elas próprias registrados, e aqueles conferidos por instituições
e a publicação deve ser feita, sendo as 3 (três) primeiras não-universitárias serão registrados em universidades
formas concomitantemente: (Redação dada pela lei nº 13.168, indicadas pelo Conselho Nacional de Educação.
de 2015). § 2º Os diplomas de graduação expedidos por
I - em página específica na internet no sítio eletrônico universidades estrangeiras serão revalidados por
oficial da instituição de ensino superior, obedecido o seguinte: universidades públicas que tenham curso do mesmo nível e
(Incluído pela lei nº 13.168, de 2015) área ou equivalente, respeitando-se os acordos internacionais
a) toda publicação a que se refere esta Lei deve ter como de reciprocidade ou equiparação.
título “Grade e Corpo Docente”; (Incluída pela lei nº 13.168, de § 3º Os diplomas de Mestrado e de Doutorado expedidos
2015) por universidades estrangeiras só poderão ser reconhecidos
b) a página principal da instituição de ensino superior, bem por universidades que possuam cursos de pós-graduação
como a página da oferta de seus cursos aos ingressantes sob a reconhecidos e avaliados, na mesma área de conhecimento e
forma de vestibulares, processo seletivo e outras com a mesma em nível equivalente ou superior.
finalidade, deve conter a ligação desta com a página específica
prevista neste inciso; (Incluída pela lei nº 13.168, de 2015) Art. 49. As instituições de educação superior aceitarão a
c) caso a instituição de ensino superior não possua sítio transferência de alunos regulares, para cursos afins, na
eletrônico, deve criar página específica para divulgação das hipótese de existência de vagas, e mediante processo seletivo.
informações de que trata esta Lei; (Incluída pela lei nº 13.168, Parágrafo único. As transferências ex officio dar-se-ão na
de 2015) forma da lei. (Regulamento)
d) a página específica deve conter a data completa de sua
última atualização; (Incluída pela lei nº 13.168, de 2015) Art. 50. As instituições de educação superior, quando da
II - em toda propaganda eletrônica da instituição de ensino ocorrência de vagas, abrirão matrícula nas disciplinas de seus
superior, por meio de ligação para a página referida no inciso cursos a alunos não regulares que demonstrarem capacidade
I; (Incluído pela lei nº 13.168, de 2015) de cursá-las com proveito, mediante processo seletivo prévio.
III - em local visível da instituição de ensino superior e de
fácil acesso ao público; (Incluído pela lei nº 13.168, de 2015) Art. 51. As instituições de educação superior credenciadas
IV - deve ser atualizada semestralmente ou anualmente, de como universidades, ao deliberar sobre critérios e normas de
acordo com a duração das disciplinas de cada curso oferecido, seleção e admissão de estudantes, levarão em conta os efeitos
observando o seguinte: (Incluído pela lei nº 13.168, de 2015) desses critérios sobre a orientação do ensino médio,
articulando-se com os órgãos normativos dos sistemas de
ensino.

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Art. 52. As universidades são instituições geral, de acordo com os recursos alocados pelo respectivo
pluridisciplinares de formação dos quadros profissionais de Poder mantenedor;
nível superior, de pesquisa, de extensão e de domínio e cultivo IV - elaborar seus orçamentos anuais e plurianuais;
do saber humano, que se caracterizam por: (Regulamento) V - adotar regime financeiro e contábil que atenda às suas
I - produção intelectual institucionalizada mediante o peculiaridades de organização e funcionamento;
estudo sistemático dos temas e problemas mais relevantes, VI - realizar operações de crédito ou de financiamento, com
tanto do ponto de vista científico e cultural, quanto regional e aprovação do Poder competente, para aquisição de bens
nacional; imóveis, instalações e equipamentos;
II - um terço do corpo docente, pelo menos, com titulação VII - efetuar transferências, quitações e tomar outras
acadêmica de mestrado ou doutorado; providências de ordem orçamentária, financeira e patrimonial
III - um terço do corpo docente em regime de tempo necessárias ao seu bom desempenho.
integral. § 2º Atribuições de autonomia universitária poderão ser
Parágrafo único. É facultada a criação de universidades estendidas a instituições que comprovem alta qualificação
especializadas por campo do saber. (Regulamento) para o ensino ou para a pesquisa, com base em avaliação
realizada pelo Poder Público.
Art. 53. No exercício de sua autonomia, são asseguradas às
universidades, sem prejuízo de outras, as seguintes Art. 55. Caberá à União assegurar, anualmente, em seu
atribuições: Orçamento Geral, recursos suficientes para manutenção e
I - criar, organizar e extinguir, em sua sede, cursos e desenvolvimento das instituições de educação superior por ela
programas de educação superior previstos nesta Lei, mantidas.
obedecendo às normas gerais da União e, quando for o caso, do
respectivo sistema de ensino; (Regulamento) Art. 56. As instituições públicas de educação superior
II - fixar os currículos dos seus cursos e programas, obedecerão ao princípio da gestão democrática, assegurada a
observadas as diretrizes gerais pertinentes; existência de órgãos colegiados deliberativos, de que
III - estabelecer planos, programas e projetos de pesquisa participarão os segmentos da comunidade institucional, local
científica, produção artística e atividades de extensão; e regional.
IV - fixar o número de vagas de acordo com a capacidade Parágrafo único. Em qualquer caso, os docentes ocuparão
institucional e as exigências do seu meio; setenta por cento dos assentos em cada órgão colegiado e
V - elaborar e reformar os seus estatutos e regimentos em comissão, inclusive nos que tratarem da elaboração e
consonância com as normas gerais atinentes; modificações estatutárias e regimentais, bem como da escolha
VI - conferir graus, diplomas e outros títulos; de dirigentes.
VII - firmar contratos, acordos e convênios;
VIII - aprovar e executar planos, programas e projetos de Art. 57. Nas instituições públicas de educação superior, o
investimentos referentes a obras, serviços e aquisições em professor ficará obrigado ao mínimo de oito horas semanais de
geral, bem como administrar rendimentos conforme aulas. (Regulamento)
dispositivos institucionais;
IX - administrar os rendimentos e deles dispor na forma CAPÍTULO V
prevista no ato de constituição, nas leis e nos respectivos DA EDUCAÇÃO ESPECIAL
estatutos;
X - receber subvenções, doações, heranças, legados e Art. 58. Entende-se por educação especial, para os efeitos
cooperação financeira resultante de convênios com entidades desta Lei, a modalidade de educação escolar oferecida
públicas e privadas. preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos
Parágrafo único. Para garantir a autonomia didático- com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e
científica das universidades, caberá aos seus colegiados de altas habilidades ou superdotação.
ensino e pesquisa decidir, dentro dos recursos orçamentários § 1º Haverá, quando necessário, serviços de apoio
disponíveis, sobre: especializado, na escola regular, para atender às
I - criação, expansão, modificação e extinção de cursos; peculiaridades da clientela de educação especial.
II - ampliação e diminuição de vagas; § 2º O atendimento educacional será feito em classes,
III - elaboração da programação dos cursos; escolas ou serviços especializados, sempre que, em função das
IV - programação das pesquisas e das atividades de condições específicas dos alunos, não for possível a sua
extensão; integração nas classes comuns de ensino regular.
V - contratação e dispensa de professores; § 3º A oferta de educação especial, dever constitucional do
VI - planos de carreira docente. Estado, tem início na faixa etária de zero a seis anos, durante a
educação infantil.
Art. 54. As universidades mantidas pelo Poder Público
gozarão, na forma da lei, de estatuto jurídico especial para Art. 59. Os sistemas de ensino assegurarão aos educandos
atender às peculiaridades de sua estrutura, organização e com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e
financiamento pelo Poder Público, assim como dos seus planos altas habilidades ou superdotação:
de carreira e do regime jurídico do seu pessoal. I - currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e
§ 1º No exercício da sua autonomia, além das atribuições organização específicos, para atender às suas necessidades;
asseguradas pelo artigo anterior, as universidades públicas II - terminalidade específica para aqueles que não puderem
poderão: atingir o nível exigido para a conclusão do ensino fundamental,
I - propor o seu quadro de pessoal docente, técnico e em virtude de suas deficiências, e aceleração para concluir em
administrativo, assim como um plano de cargos e salários, menor tempo o programa escolar para os superdotados;
atendidas as normas gerais pertinentes e os recursos III - professores com especialização adequada em nível
disponíveis; médio ou superior, para atendimento especializado, bem como
II - elaborar o regulamento de seu pessoal em professores do ensino regular capacitados para a integração
conformidade com as normas gerais concernentes; desses educandos nas classes comuns;
III - aprovar e executar planos, programas e projetos de IV - educação especial para o trabalho, visando a sua
investimentos referentes a obras, serviços e aquisições em efetiva integração na vida em sociedade, inclusive condições

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adequadas para os que não revelarem capacidade de inserção I – a presença de sólida formação básica, que propicie o
no trabalho competitivo, mediante articulação com os órgãos conhecimento dos fundamentos científicos e sociais de suas
oficiais afins, bem como para aqueles que apresentam uma competências de trabalho;
habilidade superior nas áreas artística, intelectual ou II – a associação entre teorias e práticas, mediante estágios
psicomotora; supervisionados e capacitação em serviço;
V - acesso igualitário aos benefícios dos programas sociais III – o aproveitamento da formação e experiências
suplementares disponíveis para o respectivo nível do ensino anteriores, em instituições de ensino e em outras atividades.
regular.
Art. 62 A formação de docentes para atuar na educação
Art. 59-A. O poder público deverá instituir cadastro básica far-se-á em nível superior, em curso de licenciatura
nacional de alunos com altas habilidades ou superdotação plena, admitida, como formação mínima para o exercício do
matriculados na educação básica e na educação superior, a fim magistério na educação infantil e nos cinco primeiros anos do
de fomentar a execução de políticas públicas destinadas ao ensino fundamental, a oferecida em nível médio, na
desenvolvimento pleno das potencialidades desse alunado. modalidade normal. (Redação dada pela lei nº 13.415, de
(Incluído pela Lei nº 13.234, de 2015) 2017)
§ 1º A União, o Distrito Federal, os Estados e os Municípios,
Art. 60. Os órgãos normativos dos sistemas de ensino em regime de colaboração, deverão promover a formação
estabelecerão critérios de caracterização das instituições inicial, a continuada e a capacitação dos profissionais de
privadas sem fins lucrativos, especializadas e com atuação magistério.
exclusiva em educação especial, para fins de apoio técnico e § 2º A formação continuada e a capacitação dos
financeiro pelo Poder Público. profissionais de magistério poderão utilizar recursos e
Parágrafo único. O poder público adotará, como tecnologias de educação a distância.
alternativa preferencial, a ampliação do atendimento aos § 3º A formação inicial de profissionais de magistério dará
educandos com deficiência, transtornos globais do preferência ao ensino presencial, subsidiariamente fazendo
desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação na uso de recursos e tecnologias de educação a distância.
própria rede pública regular de ensino, independentemente § 4o A União, o Distrito Federal, os Estados e os Municípios
do apoio às instituições previstas neste artigo. adotarão mecanismos facilitadores de acesso e permanência
em cursos de formação de docentes em nível superior para
Comentário: A Educação especial diz respeito ao direito à atuar na educação básica pública.
Educação, preferencialmente na rede regular aos educandos § 5o A União, o Distrito Federal, os Estados e os Municípios
com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e incentivarão a formação de profissionais do magistério para
altas habilidades ou superdotação, que possuem necessidades atuar na educação básica pública mediante programa
especiais e que requerem, em alguns casos, atenção especial. À institucional de bolsa de iniciação à docência a estudantes
essas crianças o direito à educação deve ser garantido visando matriculados em cursos de licenciatura, de graduação plena,
o maior desenvolvimento possível desse educando. nas instituições de educação superior.
§ 6o O Ministério da Educação poderá estabelecer nota
TÍTULO VI mínima em exame nacional aplicado aos concluintes do ensino
Dos Profissionais da Educação médio como pré-requisito para o ingresso em cursos de
graduação para formação de docentes, ouvido o Conselho
Art. 61. Consideram-se profissionais da educação escolar Nacional de Educação - CNE.
básica os que, nela estando em efetivo exercício e tendo sido § 7o (Vetado).
formados em cursos reconhecidos, são: § 8º Os currículos dos cursos de formação de docentes
I – professores habilitados em nível médio ou superior terão por referência a Base Nacional Comum
para a docência na educação infantil e nos ensinos Curricular. (Incluído pela lei nº 13.415, de 2017) (Vide Lei nº
fundamental e médio; 13.415, de 2017)
II – trabalhadores em educação portadores de diploma de Art. 62. A- A formação dos profissionais a que se refere o
pedagogia, com habilitação em administração, planejamento, inciso III do art. 61 far-se-á por meio de cursos de conteúdo
supervisão, inspeção e orientação educacional, bem como com técnico-pedagógico, em nível médio ou superior, incluindo
títulos de mestrado ou doutorado nas mesmas áreas; habilitações tecnológicas.
III - trabalhadores em educação, portadores de diploma de Parágrafo único. Garantir-se-á formação continuada para
curso técnico ou superior em área pedagógica ou afim; e os profissionais a que se refere o caput, no local de trabalho ou
(Redação dada pela Medida Provisória nº 746, de 2016) em instituições de educação básica e superior, incluindo
IV - profissionais com notório saber reconhecido pelos cursos de educação profissional, cursos superiores de
respectivos sistemas de ensino, para ministrar conteúdos de graduação plena ou tecnológicos e de pós-graduação.
áreas afins à sua formação ou experiência profissional,
atestados por titulação específica ou prática de ensino em Art. 63. Os institutos superiores de educação manterão:
unidades educacionais da rede pública ou privada ou das I - cursos formadores de profissionais para a educação
corporações privadas em que tenham atuado, exclusivamente básica, inclusive o curso normal superior, destinado à
para atender ao inciso V do caput do art. 36; (Incluído pela lei formação de docentes para a educação infantil e para as
nº 13.415, de 2017) primeiras séries do ensino fundamental;
V - profissionais graduados que tenham feito II - programas de formação pedagógica para portadores de
complementação pedagógica, conforme disposto pelo diplomas de educação superior que queiram se dedicar à
Conselho Nacional de Educação. (Incluído pela lei nº 13.415, educação básica;
de 2017) III - programas de educação continuada para os
profissionais de educação dos diversos níveis.
Parágrafo único. A formação dos profissionais da
educação, de modo a atender às especificidades do exercício Art. 64. A formação de profissionais de educação para
de suas atividades, bem como aos objetivos das diferentes administração, planejamento, inspeção, supervisão e
etapas e modalidades da educação básica, terá como orientação educacional para a educação básica, será feita em
fundamentos: cursos de graduação em pedagogia ou em nível de pós-

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graduação, a critério da instituição de ensino, garantida, nesta § 2º Serão consideradas excluídas das receitas de impostos
formação, a base comum nacional. mencionadas neste artigo as operações de crédito por
antecipação de receita orçamentária de impostos.
Art. 65. A formação docente, exceto para a educação § 3º Para fixação inicial dos valores correspondentes aos
superior, incluirá prática de ensino de, no mínimo, trezentas mínimos estatuídos neste artigo, será considerada a receita
horas. estimada na lei do orçamento anual, ajustada, quando for o
caso, por lei que autorizar a abertura de créditos adicionais,
Art. 66. A preparação para o exercício do magistério com base no eventual excesso de arrecadação.
superior far-se-á em nível de pós-graduação, prioritariamente § 4º As diferenças entre a receita e a despesa previstas e as
em programas de mestrado e doutorado. efetivamente realizadas, que resultem no não atendimento dos
Parágrafo único. O notório saber, reconhecido por percentuais mínimos obrigatórios, serão apuradas e corrigidas
universidade com curso de doutorado em área afim, poderá a cada trimestre do exercício financeiro.
suprir a exigência de título acadêmico. § 5º O repasse dos valores referidos neste artigo do caixa
da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios
Art. 67. Os sistemas de ensino promoverão a valorização ocorrerá imediatamente ao órgão responsável pela educação,
dos profissionais da educação, assegurando-lhes, inclusive nos observados os seguintes prazos:
termos dos estatutos e dos planos de carreira do magistério I - recursos arrecadados do primeiro ao décimo dia de cada
público: mês, até o vigésimo dia;
I - ingresso exclusivamente por concurso público de provas II - recursos arrecadados do décimo primeiro ao vigésimo
e títulos; dia de cada mês, até o trigésimo dia;
II - aperfeiçoamento profissional continuado, inclusive III - recursos arrecadados do vigésimo primeiro dia ao final
com licenciamento periódico remunerado para esse fim; de cada mês, até o décimo dia do mês subsequente.
III - piso salarial profissional; § 6º O atraso da liberação sujeitará os recursos a correção
IV - progressão funcional baseada na titulação ou monetária e à responsabilização civil e criminal das
habilitação, e na avaliação do desempenho; autoridades competentes.
V - período reservado a estudos, planejamento e avaliação,
incluído na carga de trabalho; Art. 70. Considerar-se-ão como de manutenção e
VI - condições adequadas de trabalho. desenvolvimento do ensino as despesas realizadas com vistas
§ 1o A experiência docente é pré-requisito para o exercício à consecução dos objetivos básicos das instituições
profissional de quaisquer outras funções de magistério, nos educacionais de todos os níveis, compreendendo as que se
termos das normas de cada sistema de ensino. destinam a:
§ 2o Para os efeitos do disposto no § 5º do art. 40 e no § I - remuneração e aperfeiçoamento do pessoal docente e
8o do art. 201 da Constituição Federal, são consideradas demais profissionais da educação;
funções de magistério as exercidas por professores e II - aquisição, manutenção, construção e conservação de
especialistas em educação no desempenho de atividades instalações e equipamentos necessários ao ensino;
educativas, quando exercidas em estabelecimento de III – uso e manutenção de bens e serviços vinculados ao
educação básica em seus diversos níveis e modalidades, ensino;
incluídas, além do exercício da docência, as de direção de IV - levantamentos estatísticos, estudos e pesquisas
unidade escolar e as de coordenação e assessoramento visando precipuamente ao aprimoramento da qualidade e à
pedagógico. expansão do ensino;
§ 3o A União prestará assistência técnica aos Estados, ao V - realização de atividades-meio necessárias ao
Distrito Federal e aos Municípios na elaboração de concursos funcionamento dos sistemas de ensino;
públicos para provimento de cargos dos profissionais da VI - concessão de bolsas de estudo a alunos de escolas
educação. públicas e privadas;
VII - amortização e custeio de operações de crédito
TÍTULO VII destinadas a atender ao disposto nos incisos deste artigo;
Dos Recursos financeiros VIII - aquisição de material didático-escolar e manutenção
de programas de transporte escolar.
Art. 68. Serão recursos públicos destinados à educação os
originários de: Art. 71. Não constituirão despesas de manutenção e
I - receita de impostos próprios da União, dos Estados, do desenvolvimento do ensino aquelas realizadas com:
Distrito Federal e dos Municípios; I - pesquisa, quando não vinculada às instituições de
II - receita de transferências constitucionais e outras ensino, ou, quando efetivada fora dos sistemas de ensino, que
transferências; não vise, precipuamente, ao aprimoramento de sua qualidade
III - receita do salário-educação e de outras contribuições ou à sua expansão;
sociais; II - subvenção a instituições públicas ou privadas de
IV - receita de incentivos fiscais; caráter assistencial, desportivo ou cultural;
V - outros recursos previstos em lei. III - formação de quadros especiais para a administração
pública, sejam militares ou civis, inclusive diplomáticos;
Art. 69. A União aplicará, anualmente, nunca menos de IV - programas suplementares de alimentação, assistência
dezoito, e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, vinte médico-odontológica, farmacêutica e psicológica, e outras
e cinco por cento, ou o que consta nas respectivas formas de assistência social;
Constituições ou Leis Orgânicas, da receita resultante de V - obras de infraestrutura, ainda que realizadas para
impostos, compreendidas as transferências constitucionais, na beneficiar direta ou indiretamente a rede escolar;
manutenção e desenvolvimento do ensino público. VI - pessoal docente e demais trabalhadores da educação,
§ 1º A parcela da arrecadação de impostos transferida pela quando em desvio de função ou em atividade alheia à
União aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, ou manutenção e desenvolvimento do ensino.
pelos Estados aos respectivos Municípios, não será
considerada, para efeito do cálculo previsto neste artigo, Art. 72. As receitas e despesas com manutenção e
receita do governo que a transferir. desenvolvimento do ensino serão apuradas e publicadas nos

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balanços do Poder Público, assim como nos relatórios a que se TÍTULO VIII
refere o § 3º do art. 165 da Constituição Federal. Das Disposições Gerais
Art. 73. Os órgãos fiscalizadores examinarão,
prioritariamente, na prestação de contas de recursos públicos, Art. 78. O Sistema de Ensino da União, com a colaboração
o cumprimento do disposto no art. 212 da Constituição das agências federais de fomento à cultura e de assistência aos
Federal, no art. 60 do Ato das Disposições Constitucionais índios, desenvolverá programas integrados de ensino e
Transitórias e na legislação concernente. pesquisa, para oferta de educação escolar bilíngue e
intercultural aos povos indígenas, com os seguintes objetivos:
Art. 74. A União, em colaboração com os Estados, o Distrito I - proporcionar aos índios, suas comunidades e povos, a
Federal e os Municípios, estabelecerá padrão mínimo de recuperação de suas memórias históricas; a reafirmação de
oportunidades educacionais para o ensino fundamental, suas identidades étnicas; a valorização de suas línguas e
baseado no cálculo do custo mínimo por aluno, capaz de ciências;
assegurar ensino de qualidade. II - garantir aos índios, suas comunidades e povos, o acesso
Parágrafo único. O custo mínimo de que trata este artigo às informações, conhecimentos técnicos e científicos da
será calculado pela União ao final de cada ano, com validade sociedade nacional e demais sociedades indígenas e não-
para o ano subsequente, considerando variações regionais no índias.
custo dos insumos e as diversas modalidades de ensino.
Art. 79. A União apoiará técnica e financeiramente os
Art. 75. A ação supletiva e redistributiva da União e dos sistemas de ensino no provimento da educação intercultural
Estados será exercida de modo a corrigir, progressivamente, às comunidades indígenas, desenvolvendo programas
as disparidades de acesso e garantir o padrão mínimo de integrados de ensino e pesquisa.
qualidade de ensino. § 1º Os programas serão planejados com audiência das
§ 1º A ação a que se refere este artigo obedecerá a fórmula comunidades indígenas.
de domínio público que inclua a capacidade de atendimento e § 2º Os programas a que se refere este artigo, incluídos nos
a medida do esforço fiscal do respectivo Estado, do Distrito Planos Nacionais de Educação, terão os seguintes objetivos:
Federal ou do Município em favor da manutenção e do I - fortalecer as práticas socioculturais e a língua materna
desenvolvimento do ensino. de cada comunidade indígena;
§ 2º A capacidade de atendimento de cada governo será II - manter programas de formação de pessoal
definida pela razão entre os recursos de uso especializado, destinado à educação escolar nas comunidades
constitucionalmente obrigatório na manutenção e indígenas;
desenvolvimento do ensino e o custo anual do aluno, relativo III - desenvolver currículos e programas específicos, neles
ao padrão mínimo de qualidade. incluindo os conteúdos culturais correspondentes às
§ 3º Com base nos critérios estabelecidos nos §§ 1º e 2º, a respectivas comunidades;
União poderá fazer a transferência direta de recursos a cada IV - elaborar e publicar sistematicamente material didático
estabelecimento de ensino, considerado o número de alunos específico e diferenciado.
que efetivamente frequentam a escola. § 3o No que se refere à educação superior, sem prejuízo de
§ 4º A ação supletiva e redistributiva não poderá ser outras ações, o atendimento aos povos indígenas efetivar-se-á,
exercida em favor do Distrito Federal, dos Estados e dos nas universidades públicas e privadas, mediante a oferta de
Municípios se estes oferecerem vagas, na área de ensino de sua ensino e de assistência estudantil, assim como de estímulo à
responsabilidade, conforme o inciso VI do art. 10 e o inciso V pesquisa e desenvolvimento de programas especiais.
do art. 11 desta Lei, em número inferior à sua capacidade de
atendimento. Art. 79-A. (Vetado)

Art. 76. A ação supletiva e redistributiva prevista no artigo Art. 79-B. O calendário escolar incluirá o dia 20 de
anterior ficará condicionada ao efetivo cumprimento pelos novembro como ‘Dia Nacional da Consciência Negra’.
Estados, Distrito Federal e Municípios do disposto nesta Lei,
sem prejuízo de outras prescrições legais. Art. 80. O Poder Público incentivará o desenvolvimento e a
veiculação de programas de ensino a distância, em todos os
Art. 77. Os recursos públicos serão destinados às escolas níveis e modalidades de ensino, e de educação continuada.
públicas, podendo ser dirigidos a escolas comunitárias, (Regulamento)
confessionais ou filantrópicas que: § 1º A educação a distância, organizada com abertura e
I - comprovem finalidade não-lucrativa e não distribuam regime especiais, será oferecida por instituições
resultados, dividendos, bonificações, participações ou parcela especificamente credenciadas pela União.
de seu patrimônio sob nenhuma forma ou pretexto; § 2º A União regulamentará os requisitos para a realização
II - apliquem seus excedentes financeiros em educação; de exames e registro de diploma relativos a cursos de
III - assegurem a destinação de seu patrimônio a outra educação a distância.
escola comunitária, filantrópica ou confessional, ou ao Poder § 3º As normas para produção, controle e avaliação de
Público, no caso de encerramento de suas atividades; programas de educação a distância e a autorização para sua
IV - prestem contas ao Poder Público dos recursos implementação, caberão aos respectivos sistemas de ensino,
recebidos. podendo haver cooperação e integração entre os diferentes
§ 1º Os recursos de que trata este artigo poderão ser sistemas. (Regulamento)
destinados a bolsas de estudo para a educação básica, na forma § 4º A educação a distância gozará de tratamento
da lei, para os que demonstrarem insuficiência de recursos, diferenciado, que incluirá:
quando houver falta de vagas e cursos regulares da rede I - custos de transmissão reduzidos em canais comerciais
pública de domicílio do educando, ficando o Poder Público de radiodifusão sonora e de sons e imagens e em outros meios
obrigado a investir prioritariamente na expansão da sua rede de comunicação que sejam explorados mediante autorização,
local. concessão ou permissão do poder público;
§ 2º As atividades universitárias de pesquisa e extensão II - concessão de canais com finalidades exclusivamente
poderão receber apoio financeiro do Poder Público, inclusive educativas;
mediante bolsas de estudo.

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APOSTILAS OPÇÃO

III - reserva de tempo mínimo, sem ônus para o Poder Art. 88. A União, os Estados, o Distrito Federal e os
Público, pelos concessionários de canais comerciais. Municípios adaptarão sua legislação educacional e de ensino
às disposições desta Lei no prazo máximo de um ano, a partir
Art. 81. É permitida a organização de cursos ou instituições da data de sua publicação.
de ensino experimentais, desde que obedecidas as disposições § 1º As instituições educacionais adaptarão seus estatutos
desta Lei. e regimentos aos dispositivos desta Lei e às normas dos
respectivos sistemas de ensino, nos prazos por estes
Art. 82. Os sistemas de ensino estabelecerão as normas de estabelecidos.
realização de estágio em sua jurisdição, observada a lei federal § 2º O prazo para que as universidades cumpram o
sobre a matéria. disposto nos incisos II e III do art. 52 é de oito anos.

Art. 83. O ensino militar é regulado em lei específica, Art. 89. As creches e pré-escolas existentes ou que venham
admitida a equivalência de estudos, de acordo com as normas a ser criadas deverão, no prazo de três anos, a contar da
fixadas pelos sistemas de ensino. publicação desta Lei, integrar-se ao respectivo sistema de
ensino.
Art. 84. Os discentes da educação superior poderão ser
aproveitados em tarefas de ensino e pesquisa pelas Art. 90. As questões suscitadas na transição entre o regime
respectivas instituições, exercendo funções de monitoria, de anterior e o que se institui nesta Lei serão resolvidas pelo
acordo com seu rendimento e seu plano de estudos. Conselho Nacional de Educação ou, mediante delegação deste,
pelos órgãos normativos dos sistemas de ensino, preservada a
Art. 85. Qualquer cidadão habilitado com a titulação autonomia universitária.
própria poderá exigir a abertura de concurso público de
provas e títulos para cargo de docente de instituição pública Art. 91. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
de ensino que estiver sendo ocupado por professor não
concursado, por mais de seis anos, ressalvados os direitos Art. 92. Revogam-se as disposições das Leis nºs 4.024, de
assegurados pelos arts. 41 da Constituição Federal e 19 do Ato 20 de dezembro de 1961, e 5.540, de 28 de novembro de 1968,
das Disposições Constitucionais Transitórias. não alteradas pelas Leis nºs 9.131, de 24 de novembro de
1995 e 9.192, de 21 de dezembro de 1995 e, ainda, as Leis nºs
Art. 86. As instituições de educação superior constituídas 5.692, de 11 de agosto de 1971 e 7.044, de 18 de outubro de
como universidades integrar-se-ão, também, na sua condição 1982, e as demais leis e decretos-lei que as modificaram e
de instituições de pesquisa, ao Sistema Nacional de Ciência e quaisquer outras disposições em contrário.
Tecnologia, nos termos da legislação específica.
Questões
TÍTULO IX
Das Disposições Transitórias 01. (SEDUC –AM- Pedagogo- FGV/2014) As opções a
seguir apresentam destaques da Lei nº 9394/96, à exceção de
Art. 87. É instituída a Década da Educação, a iniciar-se um uma. Assinale-a.
ano a partir da publicação desta Lei. (A) Flexibilidade do currículo – permite a incorporação de
§ 1º A União, no prazo de um ano a partir da publicação disciplinas considerando o contexto e a clientela.
desta Lei, encaminhará, ao Congresso Nacional, o Plano (B) Educação Artística e Ensino Religioso – disciplinas
Nacional de Educação, com diretrizes e metas para os dez anos obrigatórias no Ensino Básico.
seguintes, em sintonia com a Declaração Mundial sobre (C) Jornada escolar no Ensino Fundamental – pelo menos
Educação para Todos. quatro horas em sala de aula.
§ 2º (Revogado) (D) Educação Profissional – constitui um curso
§ 3o O Distrito Federal, cada Estado e Município, e, independente do Ensino Médio.
supletivamente, a União, devem: (E) Educação organizada em dois níveis – Educação Básica
I - (Revogado) e Educação Superior.
a) (Revogado)
b) (Revogado) 02. (IF-SP- Professor- Biologia- IF-SP/2015) Segundo a
c) (Revogado) Lei nº 9394, de 1996, a respeito do tema “diplomas", é
II - prover cursos presenciais ou a distância aos jovens e incorreto afirmar que:
adultos insuficientemente escolarizados; (A) Os diplomas de cursos de educação profissional técnica
III - realizar programas de capacitação para todos os de nível médio, quando registrados, terão validade nacional e
professores em exercício, utilizando também, para isto, os habilitarão ao prosseguimento de estudos na educação
recursos da educação a distância; superior.
IV - integrar todos os estabelecimentos de ensino (B) Os diplomas de cursos superiores reconhecidos,
fundamental do seu território ao sistema nacional de avaliação quando registrados, terão validade nacional como prova da
do rendimento escolar. formação recebida por seu titular.
§ 4º (Revogado) (C) Os diplomas de graduação expedidos por
§ 5º Serão conjugados todos os esforços objetivando a universidades estrangeiras serão revalidados por
progressão das redes escolares públicas urbanas de ensino universidades públicas que tenham curso do mesmo nível e
fundamental para o regime de escolas de tempo integral. área ou equivalente, respeitando-se os acordos internacionais
§ 6º A assistência financeira da União aos Estados, ao de reciprocidade ou equiparação.
Distrito Federal e aos Municípios, bem como a dos Estados aos (D) Os diplomas de Mestrado e de Doutorado expedidos
seus Municípios, ficam condicionadas ao cumprimento do art. por universidades estrangeiras só poderão ser reconhecidos
212 da Constituição Federal e dispositivos legais pertinentes por universidades que possuam cursos de pós-graduação
pelos governos beneficiados. reconhecidos e avaliados, na mesma área de conhecimento e
em nível equivalente ou superior.
Art. 87.A- (Vetado).

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APOSTILAS OPÇÃO

(E) Os diplomas expedidos pelas universidades e aqueles Respostas


conferidos por instituições não-universitárias serão 01. B. / 02. E. / 03. C. / 04.: B. / 05.: C.
registrados pelo Conselho Nacional de Educação.

03. (INSS- Analista Pedagogia- FUNRIO/2014) Segundo


o artigo 24 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
BRASIL RESOLUÇÃO CNE/CEB Nº
9394 de 1996, em seu inciso VI, o controle de frequência dos 4, DE 13 DE JULHO DE 2010.
alunos ficará a cargo da Define Diretrizes Curriculares
(A) secretaria de ensino municipal, conforme o disposto no
seu regimento, e exigida a frequência mínima de setenta e
Nacionais Gerais para a
cinco por cento do total de horas letivas para aprovação. Educação Básica;
(B) secretaria de ensino estadual, conforme o disposto no
seu regulamento, e exigida a frequência mínima de setenta e
cinco por cento do total de horas letivas para aprovação. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO CONSELHO NACIONAL DE
(C) escola, conforme o disposto no seu regimento e nas EDUCAÇÃO CÂMARA DE EDUCAÇÃO BÁSICA
normas do respectivo sistema de ensino, exigida a frequência
mínima de setenta e cinco por cento do total de horas letivas RESOLUÇÃO Nº 4, DE 13 DE JULHO DE 20102
para aprovação.
(D) escola, conforme o disposto no seu regimento, e exigida Define Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica.
a frequência mínima de oitenta e cinco por cento do total de
horas letivas para aprovação. O Presidente da Câmara de Educação Básica do Conselho
(E) secretaria de educação básica do MEC, conforme o Nacional de Educação, no uso de suas atribuições legais, e de
disposto em regimento federal, e exigida a frequência mínima conformidade com o disposto na alínea “c” do § 1º do artigo 9º
de oitenta e cinco por cento do total de horas letivas para da Lei nº 4.024/1961, com a redação dada pela Lei nº
aprovação. 9.131/1995, nos artigos 36, 36A, 36-B, 36-C, 36-D, 37, 39, 40,
41 e 42 da Lei nº 9.394/1996, com a redação dada pela Lei nº
04. (UFT - Assistente em Administração - COPESE – 11.741/2008, bem como no Decreto nº 5.154/2004, e com
UFT/2017) Quanto às normas da educação superior, fundamento no Parecer CNE/CEB nº 7/2010, homologado por
previstas na Lei 9.394/1996 (LDB), assinale a alternativa Despacho do Senhor Ministro de Estado da Educação,
INCORRETA. publicado no DOU de 9 de julho de 2010.
(A) A educação superior será ministrada em instituições de
ensino superior, públicas ou privadas, com variados graus de RESOLVE:
abrangência ou especialização.
(B) A autorização e o reconhecimento de cursos, bem como Art. 1º A presente Resolução define Diretrizes Curriculares
o credenciamento de instituições de educação de nível médio Nacionais Gerais para o conjunto orgânico, sequencial e
e superior terão prazos ilimitados. articulado das etapas e modalidades da Educação Básica,
(C) Na educação superior, o ano letivo regular, baseando-se no direito de toda pessoa ao seu pleno
independente do ano civil, tem, no mínimo, duzentos dias de desenvolvimento, à preparação para o exercício da cidadania
trabalho acadêmico efetivo, excluído o tempo reservado aos e à qualificação para o trabalho, na vivência e convivência em
exames finais, quando houver. ambiente educativo, e tendo como fundamento a
(D) As instituições informarão aos interessados, antes de responsabilidade que o Estado brasileiro, a família e a
cada período letivo, os programas dos cursos e demais sociedade têm de garantir a democratização do acesso, a
componentes curriculares, sua duração, requisitos, inclusão, a permanência e a conclusão com sucesso das
qualificação dos professores, recursos disponíveis e critérios crianças, dos jovens e adultos na instituição educacional, a
de avaliação, obrigando-se a cumprir as respectivas condições, aprendizagem para continuidade dos estudos e a extensão da
assim como publicar as respectivas informações nos termos da obrigatoriedade e da gratuidade da Educação Básica.
lei.
TÍTULO I
05. (IFB - Professor – Português – IFB/2017) No que OBJETIVOS
concerne aos níveis e modalidades de educação e ensino,
previstos na Lei nº 9394/96, pode-se afirmar que: Art. 2º Estas Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para
(A) A educação básica é formada pela educação infantil e a Educação Básica têm por objetivos:
pelo ensino fundamental. I - sistematizar os princípios e as diretrizes gerais da
(B) A educação escolar compõe-se de educação básica, Educação Básica contidos na Constituição, na Lei de Diretrizes
média e superior. e Bases da Educação Nacional (LDB) e demais dispositivos
(C) A escola poderá reclassificar os alunos tendo como legais, traduzindo-os em orientações que contribuam para
base as normas curriculares gerais. assegurar a formação básica comum nacional, tendo como foco
(D) A educação básica tem a finalidade de desenvolver o os sujeitos que dão vida ao currículo e à escola;
educando para o exercício da cidadania, sendo a educação II - estimular a reflexão crítica e propositiva que deve
média e média técnica meios para progressão no trabalho e em subsidiar a formulação, a execução e a avaliação do projeto
estudos posteriores. político-pedagógico da escola de Educação Básica;
(E) O calendário escolar do ensino básico deve ser III - orientar os cursos de formação inicial e continuada de
obedecido em todo o território nacional, com a previsão de docentes e demais profissionais da Educação Básica, os
dois ciclos de férias escolares, em julho e em janeiro. sistemas educativos dos diferentes entes federados e as
escolas que os integram, indistintamente da rede a que
pertençam.

2Resolução CNE/CEB 4/2010. Diário Oficial da União, Brasília, 14 de julho de


2010, Seção 1, p. 824.

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Art. 3º As Diretrizes Curriculares Nacionais específicas as funções distributiva, supletiva, normativa, de supervisão e
para as etapas e modalidades da Educação Básica devem avaliação da educação nacional, respeitada a autonomia dos
evidenciar o seu papel de indicador de opções políticas, sistemas e valorizadas as diferenças regionais.
sociais, culturais, educacionais, e a função da educação, na sua
relação com um projeto de Nação, tendo como referência os TÍTULO IV
objetivos constitucionais, fundamentando-se na cidadania e na ACESSO E PERMANÊNCIA PARA A CONQUISTA DA
dignidade da pessoa, o que pressupõe igualdade, liberdade, QUALIDADE SOCIAL
pluralidade, diversidade, respeito, justiça social, solidariedade
e sustentabilidade. Art. 8º A garantia de padrão de qualidade, com pleno
acesso, inclusão e permanência dos sujeitos das aprendizagens
TÍTULO II na escola e seu sucesso, com redução da evasão, da retenção e
REFERÊNCIAS CONCEITUAIS da distorção de idade/ano/série, resulta na qualidade social da
educação, que é uma conquista coletiva de todos os sujeitos do
Art. 4º As bases que dão sustentação ao projeto nacional de processo educativo.
educação responsabilizam o poder público, a família, a
sociedade e a escola pela garantia a todos os educandos de um Art. 9º A escola de qualidade social adota como
ensino ministrado de acordo com os princípios de: centralidade o estudante e a aprendizagem, o que pressupõe
I - igualdade de condições para o acesso, inclusão, atendimento aos seguintes requisitos:
permanência e sucesso na escola; I - revisão das referências conceituais quanto aos
II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a diferentes espaços e tempos educativos, abrangendo espaços
cultura, o pensamento, a arte e o saber; sociais na escola e fora dela;
III - pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas; II - consideração sobre a inclusão, a valorização das
IV - respeito à liberdade e aos direitos; diferenças e o atendimento à pluralidade e à diversidade
V - coexistência de instituições públicas e privadas de cultural, resgatando e respeitando as várias manifestações de
ensino; cada comunidade;
VI - gratuidade do ensino público em estabelecimentos III - foco no projeto político-pedagógico, no gosto pela
oficiais; aprendizagem e na avaliação das aprendizagens como
VII - valorização do profissional da educação escolar; instrumento de contínua progressão dos estudantes;
VIII - gestão democrática do ensino público, na forma da IV - inter-relação entre organização do currículo, do
legislação e das normas dos respectivos sistemas de ensino; trabalho pedagógico e da jornada de trabalho do professor,
IX - garantia de padrão de qualidade; tendo como objetivo a aprendizagem do estudante;
X - valorização da experiência extraescolar; V - preparação dos profissionais da educação, gestores,
XI - vinculação entre a educação escolar, o trabalho e as professores, especialistas, técnicos, monitores e outros;
práticas sociais. VI - compatibilidade entre a proposta curricular e a
infraestrutura entendida como espaço formativo dotado de
Art. 5º A Educação Básica é direito universal e alicerce efetiva disponibilidade de tempos para a sua utilização e
indispensável para o exercício da cidadania em plenitude, da acessibilidade;
qual depende a possibilidade de conquistar todos os demais VII - integração dos profissionais da educação, dos
direitos, definidos na Constituição Federal, no Estatuto da estudantes, das famílias, dos agentes da comunidade
Criança e do Adolescente (ECA), na legislação ordinária e nas interessados na educação;
demais disposições que consagram as prerrogativas do VIII - valorização dos profissionais da educação, com
cidadão. programa de formação continuada, critérios de acesso,
permanência, remuneração compatível com a jornada de
Art. 6º Na Educação Básica, é necessário considerar as trabalho definida no projeto político-pedagógico;
dimensões do educar e do cuidar, em sua inseparabilidade, IX - realização de parceria com órgãos, tais como os de
buscando recuperar, para a função social desse nível da assistência social e desenvolvimento humano, cidadania,
educação, a sua centralidade, que é o educando, pessoa em ciência e tecnologia, esporte, turismo, cultura e arte, saúde,
formação na sua essência humana. meio ambiente.

TÍTULO III Art. 10. A exigência legal de definição de padrões mínimos


SISTEMA NACIONAL DE EDUCAÇÃO de qualidade da educação traduz a necessidade de reconhecer
que a sua avaliação associa-se à ação planejada, coletivamente,
Art. 7º A concepção de educação deve orientar a pelos sujeitos da escola.
institucionalização do regime de colaboração entre União, § 1º O planejamento das ações coletivas exercidas pela
Estados, Distrito Federal e Municípios, no contexto da escola supõe que os sujeitos tenham clareza quanto:
estrutura federativa brasileira, em que convivem sistemas I - aos princípios e às finalidades da educação, além do
educacionais autônomos, para assegurar efetividade ao reconhecimento e da análise dos dados indicados pelo Índice
projeto da educação nacional, vencer a fragmentação das de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) e/ou outros
políticas públicas e superar a desarticulação institucional. indicadores, que o complementem ou substituam;
§ 1º Essa institucionalização é possibilitada por um II - à relevância de um projeto político-pedagógico
Sistema Nacional de Educação, no qual cada ente federativo, concebido e assumido colegiadamente pela comunidade
com suas peculiares competências, é chamado a colaborar educacional, respeitadas as múltiplas diversidades e a
para transformar a Educação Básica em um sistema orgânico, pluralidade cultural;
sequencial e articulado. III - à riqueza da valorização das diferenças manifestadas
§ 2º O que caracteriza um sistema é a atividade intencional pelos sujeitos do processo educativo, em seus diversos
e organicamente concebida, que se justifica pela realização de segmentos, respeitados o tempo e o contexto sociocultural;
atividades voltadas para as mesmas finalidades ou para a IV - aos padrões mínimos de qualidade (Custo Aluno-
concretização dos mesmos objetivos. Qualidade Inicial – CAQi);
§ 3º O regime de colaboração entre os entes federados § 2º Para que se concretize a educação escolar, exige-se um
pressupõe o estabelecimento de regras de equivalência entre padrão mínimo de insumos, que tem como base um

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investimento com valor calculado a partir das despesas estabelecimento, a orientação para o trabalho, a promoção de
essenciais ao desenvolvimento dos processos e procedimentos práticas educativas formais e não-formais.
formativos, que levem, gradualmente, a uma educação § 2º Na organização da proposta curricular, deve-se
integral, dotada de qualidade social: assegurar o entendimento de currículo como experiências
I - creches e escolas que possuam condições de escolares que se desdobram em torno do conhecimento,
infraestrutura e adequados equipamentos; permeadas pelas relações sociais, articulando vivências e
II - professores qualificados com remuneração adequada e saberes dos estudantes com os conhecimentos historicamente
compatível com a de outros profissionais com igual nível de acumulados e contribuindo para construir as identidades dos
formação, em regime de trabalho de 40 (quarenta) horas em educandos.
tempo integral em uma mesma escola; § 3º A organização do percurso formativo, aberto e
III - definição de uma relação adequada entre o número de contextualizado, deve ser construída em função das
alunos por turma e por professor, que assegure aprendizagens peculiaridades do meio e das características, interesses e
relevantes; necessidades dos estudantes, incluindo não só os
IV - pessoal de apoio técnico e administrativo que componentes curriculares centrais obrigatórios, previstos na
responda às exigências do que se estabelece no projeto legislação e nas normas educacionais, mas outros, também, de
político-pedagógico. modo flexível e variável, conforme cada projeto escolar, e
assegurando:
TÍTULO V I - concepção e organização do espaço curricular e físico
ORGANIZAÇÃO CURRICULAR: CONCEITO, LIMITES, que se imbriquem e alarguem, incluindo espaços, ambientes e
POSSIBILIDADES equipamentos que não apenas as salas de aula da escola, mas,
igualmente, os espaços de outras escolas e os socioculturais e
Art. 11. A escola de Educação Básica é o espaço em que se esportivo recreativos do entorno, da cidade e mesmo da
resignifica e se recria a cultura herdada, reconstruindo-se as região;
identidades culturais, em que se aprende a valorizar as raízes II - ampliação e diversificação dos tempos e espaços
próprias das diferentes regiões do País. curriculares que pressuponham profissionais da educação
Parágrafo único. Essa concepção de escola exige a dispostos a inventar e construir a escola de qualidade social,
superação do rito escolar, desde a construção do currículo até com responsabilidade compartilhada com as demais
os critérios que orientam a organização do trabalho escolar em autoridades que respondem pela gestão dos órgãos do poder
sua multidimensionalidade, privilegia trocas, acolhimento e público, na busca de parcerias possíveis e necessárias, até
aconchego, para garantir o bem-estar de crianças, porque educar é responsabilidade da família, do Estado e da
adolescentes, jovens e adultos, no relacionamento entre todas sociedade;
as pessoas. III - escolha da abordagem didático-pedagógica disciplinar,
pluridisciplinar, interdisciplinar ou transdisciplinar pela
Art. 12. Cabe aos sistemas educacionais, em geral, definir o escola, que oriente o projeto político-pedagógico e resulte de
programa de escolas de tempo parcial diurno (matutino ou pacto estabelecido entre os profissionais da escola, conselhos
vespertino), tempo parcial noturno, e tempo integral (turno e escolares e comunidade, subsidiando a organização da matriz
contra turno ou turno único com jornada escolar de 7 horas, curricular, a definição de eixos temáticos e a constituição de
no mínimo, durante todo o período letivo), tendo em vista a redes de aprendizagem;
amplitude do papel socioeducativo atribuído ao conjunto IV - compreensão da matriz curricular entendida como
orgânico da Educação Básica, o que requer outra organização propulsora de movimento, dinamismo curricular e
e gestão do trabalho pedagógico. educacional, de tal modo que os diferentes campos do
§ 1º Deve-se ampliar a jornada escolar, em único ou conhecimento possam se coadunar com o conjunto de
diferentes espaços educativos, nos quais a permanência do atividades educativas;
estudante vincula-se tanto à quantidade e qualidade do tempo V - organização da matriz curricular entendida como
diário de escolarização quanto à diversidade de atividades de alternativa operacional que embase a gestão do currículo
aprendizagens. escolar e represente subsídio para a gestão da escola (na
§ 2º A jornada em tempo integral com qualidade implica a organização do tempo e do espaço curricular, distribuição e
necessidade da incorporação efetiva e orgânica, no currículo, controle do tempo dos trabalhos docentes), passo para uma
de atividades e estudos pedagogicamente planejados e gestão centrada na abordagem interdisciplinar, organizada
acompanhados. por eixos temáticos, mediante interlocução entre os diferentes
§ 3º Os cursos em tempo parcial noturno devem campos do conhecimento;
estabelecer metodologia adequada às idades, à maturidade e à VI - entendimento de que eixos temáticos são uma forma
experiência de aprendizagens, para atenderem aos jovens e de organizar o trabalho pedagógico, limitando a dispersão do
adultos em escolarização no tempo regular ou na modalidade conhecimento, fornecendo o cenário no qual se constroem
de Educação de Jovens e Adultos. objetos de estudo, propiciando a concretização da proposta
pedagógica centrada na visão interdisciplinar, superando o
CAPÍTULO I isolamento das pessoas e a compartimentalização de
FORMAS PARA A ORGANIZAÇÃO CURRICULAR conteúdos rígidos;
VII - estímulo à criação de métodos didático-pedagógicos
Art. 13. O currículo, assumindo como referência os utilizando-se recursos tecnológicos de informação e
princípios educacionais garantidos à educação, assegurados comunicação, a serem inseridos no cotidiano escolar, a fim de
no artigo 4º desta Resolução, configura-se como o conjunto de superar a distância entre estudantes que aprendem a receber
valores e práticas que proporcionam a produção, a informação com rapidez utilizando a linguagem digital e
socialização de significados no espaço social e contribuem professores que dela ainda não se apropriaram;
intensamente para a construção de identidades socioculturais VIII - constituição de rede de aprendizagem, entendida
dos educandos. como um conjunto de ações didático-pedagógicas, com foco na
§ 1º O currículo deve difundir os valores fundamentais do aprendizagem e no gosto de aprender, subsidiada pela
interesse social, dos direitos e deveres dos cidadãos, do consciência de que o processo de comunicação entre
respeito ao bem comum e à ordem democrática, considerando estudantes e professores é efetivado por meio de práticas e
as condições de escolaridade dos estudantes em cada recursos diversos;

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IX - adoção de rede de aprendizagem, também, como locais, regionais, nacionais e transnacionais, tendo em vista as
ferramenta didático-pedagógica relevante nos programas de demandas do mundo do trabalho e da internacionalização de
formação inicial e continuada de profissionais da educação, toda ordem de relações.
sendo que esta opção requer planejamento sistemático § 3º A língua espanhola, por força da Lei nº 11.161/2005,
integrado estabelecido entre sistemas educativos ou conjunto é obrigatoriamente ofertada no Ensino Médio, embora
de unidades escolares; facultativa para o estudante, bem como possibilitada no
§ 4º A transversalidade é entendida como uma forma de Ensino Fundamental, do 6º ao 9º ano.
organizar o trabalho didático-pedagógico em que temas e
eixos temáticos são integrados às disciplinas e às áreas ditas Art. 16. Leis específicas, que complementam a LDB,
convencionais, de forma a estarem presentes em todas elas. determinam que sejam incluídos componentes não
§ 5º A transversalidade difere da interdisciplinaridade e disciplinares, como temas relativos ao trânsito, ao meio
ambas complementam-se, rejeitando a concepção de ambiente e à condição e direitos do idoso.
conhecimento que toma a realidade como algo estável, pronto
e acabado. Art. 17. No Ensino Fundamental e no Ensino Médio,
§ 6º A transversalidade refere-se à dimensão didático- destinar-se-ão, pelo menos, 20% do total da carga horária
pedagógica, e a interdisciplinaridade, à abordagem anual ao conjunto de programas e projetos interdisciplinares
epistemológica dos objetos de conhecimento. eletivos criados pela escola, previsto no projeto pedagógico, de
modo que os estudantes do Ensino Fundamental e do Médio
CAPÍTULO II possam escolher aquele programa ou projeto com que se
FORMAÇÃO BÁSICA COMUM E PARTE DIVERSIFICADA identifiquem e que lhes permitam melhor lidar com o
conhecimento e a experiência.
Art. 14. A base nacional comum na Educação Básica § 1º Tais programas e projetos devem ser desenvolvidos
constitui-se de conhecimentos, saberes e valores produzidos de modo dinâmico, criativo e flexível, em articulação com a
culturalmente, expressos nas políticas públicas e gerados nas comunidade em que a escola esteja inserida.
instituições produtoras do conhecimento científico e § 2º A interdisciplinaridade e a contextualização devem
tecnológico; no mundo do trabalho; no desenvolvimento das assegurar a transversalidade do conhecimento de diferentes
linguagens; nas atividades desportivas e corporais; na disciplinas e eixos temáticos, perpassando todo o currículo e
produção artística; nas formas diversas de exercício da propiciando a interlocução entre os saberes e os diferentes
cidadania; e nos movimentos sociais. campos do conhecimento.
§ 1º Integram a base nacional comum nacional: a) a Língua
Portuguesa; TÍTULO VI
b) a Matemática; ORGANIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO BÁSICA
c) o conhecimento do mundo físico, natural, da realidade
social e política, especialmente do Brasil, incluindo-se o estudo Art. 18. Na organização da Educação Básica, devem-se
da História e das Culturas Afro-Brasileira e Indígena, observar as Diretrizes Curriculares Nacionais comuns a todas
d) a Arte, em suas diferentes formas de expressão, as suas etapas, modalidades e orientações temáticas,
incluindo-se a música; respeitadas as suas especificidades e as dos sujeitos a que se
e) a Educação Física; destinam.
f) o Ensino Religioso. § 1º As etapas e as modalidades do processo de
§ 2º Tais componentes curriculares são organizados pelos escolarização estruturam-se de modo orgânico, sequencial e
sistemas educativos, em forma de áreas de conhecimento, articulado, de maneira complexa, embora permanecendo
disciplinas, eixos temáticos, preservando-se a especificidade individualizadas ao logo do percurso do estudante, apesar das
dos diferentes campos do conhecimento, por meio dos quais mudanças por que passam:
se desenvolvem as habilidades indispensáveis ao exercício da I - a dimensão orgânica é atendida quando são observadas
cidadania, em ritmo compatível com as etapas do as especificidades e as diferenças de cada sistema educativo,
desenvolvimento integral do cidadão. sem perder o que lhes é comum: as semelhanças e as
§ 3º A base nacional comum e a parte diversificada não identidades que lhe são inerentes;
podem se constituir em dois blocos distintos, com disciplinas II - a dimensão sequencial compreende os processos
específicas para cada uma dessas partes, mas devem ser educativos que acompanham as exigências de aprendizagens
organicamente planejadas e geridas de tal modo que as definidas em cada etapa do percurso formativo, contínuo e
tecnologias de informação e comunicação perpassem progressivo, da Educação Básica até a Educação Superior,
transversalmente a proposta curricular, desde a Educação constituindo-se em diferentes e insubstituíveis momentos da
Infantil até o Ensino Médio, imprimindo direção aos projetos vida dos educandos;
político-pedagógico. III - a articulação das dimensões orgânica e sequencial das
etapas e das modalidades da Educação Básica, e destas com a
Art. 15. A parte diversificada enriquece e complementa a Educação Superior, implica ação coordenada e integradora do
base nacional comum, prevendo o estudo das características seu conjunto.
regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e da § 2º A transição entre as etapas da Educação Básica e suas
comunidade escolar, perpassando todos os tempos e espaços fases requer formas de articulação das dimensões orgânica e
curriculares constituintes do Ensino Fundamental e do Ensino sequencial que assegurem aos educandos, sem tensões e
Médio, independentemente do ciclo da vida no qual os sujeitos rupturas, a continuidade de seus processos peculiares de
tenham acesso à escola. aprendizagem e desenvolvimento.
§ 1º A parte diversificada pode ser organizada em temas
gerais, na forma de eixos temáticos, selecionados Art. 19. Cada etapa é delimitada por sua finalidade, seus
colegiadamente pelos sistemas educativos ou pela unidade princípios, objetivos e diretrizes educacionais,
escolar. fundamentando-se na inseparabilidade dos conceitos
§ 2º A LDB inclui o estudo de, pelo menos, uma língua referenciais: cuidar e educar, pois esta é uma concepção
estrangeira moderna na parte diversificada, cabendo sua norteadora do projeto político-pedagógico elaborado e
escolha à comunidade escolar, dentro das possibilidades da executado pela comunidade educacional.
escola, que deve considerar o atendimento das características

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Art. 20. O respeito aos educandos e a seus tempos mentais, § 5º A gestão da convivência e as situações em que se torna
sócioemocionais, culturais e identitários é um princípio necessária a solução de problemas individuais e coletivos
orientador de toda a ação educativa, sendo responsabilidade pelas crianças devem ser previamente programadas, com foco
dos sistemas a criação de condições para que crianças, nas motivações estimuladas e orientadas pelos professores e
adolescentes, jovens e adultos, com sua diversidade, tenham a demais profissionais da educação e outros de áreas
oportunidade de receber a formação que corresponda à idade pertinentes, respeitados os limites e as potencialidades de
própria de percurso escolar. cada criança e os vínculos desta com a família ou com o seu
responsável direto.
CAPÍTULO I
ETAPAS DA EDUCAÇÃO BÁSICA Seção II
Ensino Fundamental
Art. 21. São etapas correspondentes a diferentes
momentos constitutivos do desenvolvimento educacional: Art. 23. O Ensino Fundamental com 9 (nove) anos de
I - a Educação Infantil, que compreende: a Creche, duração, de matrícula obrigatória para as crianças a partir dos
englobando as diferentes etapas do desenvolvimento da 6 (seis) anos de idade, tem duas fases sequentes com
criança até 3 (três) anos e 11 (onze) meses; e a Pré-Escola, com características próprias, chamadas de anos iniciais, com 5
duração de 2 (dois) anos; (cinco) anos de duração, em regra para estudantes de 6 (seis)
II - o Ensino Fundamental, obrigatório e gratuito, com a 10 (dez) anos de idade; e anos finais, com 4 (quatro) anos de
duração de 9 (nove) anos, é organizado e tratado em duas duração, para os de 11 (onze) a 14 (quatorze) anos.
fases: a dos 5 (cinco) anos iniciais e a dos 4 (quatro) anos Parágrafo único. No Ensino Fundamental, acolher significa
finais; III - o Ensino Médio, com duração mínima de 3 (três) também cuidar e educar, como forma de garantir a
anos. aprendizagem dos conteúdos curriculares, para que o
Parágrafo único. Essas etapas e fases têm previsão de estudante desenvolva interesses e sensibilidades que lhe
idades próprias, as quais, no entanto, são diversas quando se permitam usufruir dos bens culturais disponíveis na
atenta para sujeitos com características que fogem à norma, comunidade, na sua cidade ou na sociedade em geral, e que lhe
como é o caso, entre outros: possibilitem ainda sentir-se como produtor valorizado desses
I - de atraso na matrícula e/ou no percurso escolar; bens.
II - de retenção, repetência e retorno de quem havia
abandonado os estudos; Art. 24. Os objetivos da formação básica das crianças,
III - de portadores de deficiência limitadora; definidos para a Educação Infantil, prolongam-se durante os
IV - de jovens e adultos sem escolarização ou com esta anos iniciais do Ensino Fundamental, especialmente no
incompleta; primeiro, e completam-se nos anos finais, ampliando e
V - de habitantes de zonas rurais; intensificando, gradativamente, o processo educativo,
VI - de indígenas e quilombolas; mediante:
VII - de adolescentes em regime de acolhimento ou I - desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo
internação, jovens e adultos em situação de privação de como meios básicos o pleno domínio da leitura, da escrita e do
liberdade nos estabelecimentos penais. cálculo;
II - foco central na alfabetização, ao longo dos 3 (três)
Seção I primeiros anos;
Educação Infantil III - compreensão do ambiente natural e social, do sistema
político, da economia, da tecnologia, das artes, da cultura e dos
Art. 22. A Educação Infantil tem por objetivo o valores em que se fundamenta a sociedade;
desenvolvimento integral da criança, em seus aspectos físico, IV - o desenvolvimento da capacidade de aprendizagem,
afetivo, psicológico, intelectual, social, complementando a tendo em vista a aquisição de conhecimentos e habilidades e a
ação da família e da comunidade. formação de atitudes e valores;
§ 1º As crianças provêm de diferentes e singulares V - fortalecimento dos vínculos de família, dos laços de
contextos socioculturais, socioeconômicos e étnicos, por isso solidariedade humana e de respeito recíproco em que se
devem ter a oportunidade de ser acolhidas e respeitadas pela assenta a vida social.
escola e pelos profissionais da educação, com base nos
princípios da individualidade, igualdade, liberdade, Art. 25. Os sistemas estaduais e municipais devem
diversidade e pluralidade. estabelecer especial forma de colaboração visando à oferta do
§ 2º Para as crianças, independentemente das diferentes Ensino Fundamental e à articulação sequente entre a primeira
condições físicas, sensoriais, intelectuais, linguísticas, étnico- fase, no geral assumida pelo Município, e a segunda, pelo
raciais, socioeconômicas, de origem, de religião, entre outras, Estado, para evitar obstáculos ao acesso de estudantes que se
as relações sociais e intersubjetivas no espaço escolar transfiram de uma rede para outra para completar esta
requerem a atenção intensiva dos profissionais da educação, escolaridade obrigatória, garantindo a organicidade e a
durante o tempo de desenvolvimento das atividades que lhes totalidade do processo formativo do escolar.
são peculiares, pois este é o momento em que a curiosidade
deve ser estimulada, a partir da brincadeira orientada pelos Seção III
profissionais da educação. Ensino Médio
§ 3º Os vínculos de família, dos laços de solidariedade
humana e do respeito mútuo em que se assenta a vida social Art. 26. O Ensino Médio, etapa final do processo formativo
devem iniciar-se na Educação Infantil e sua intensificação deve da Educação Básica, é orientado por princípios e finalidades
ocorrer ao longo da Educação Básica. que preveem:
§ 4º Os sistemas educativos devem envidar esforços I - a consolidação e o aprofundamento dos conhecimentos
promovendo ações a partir das quais as unidades de Educação adquiridos no Ensino
Infantil sejam dotadas de condições para acolher as crianças, Fundamental, possibilitando o prosseguimento de
em estreita relação com a família, com agentes sociais e com a estudos;
sociedade, prevendo programas e projetos em parceria, II - a preparação básica para a cidadania e o trabalho,
formalmente estabelecidos. tomado este como princípio educativo, para continuar

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aprendendo, de modo a ser capaz de enfrentar novas Seção II


condições de ocupação e aperfeiçoamento posteriores; Educação Especial
III - o desenvolvimento do educando como pessoa humana,
incluindo a formação ética e estética, o desenvolvimento da Art. 29. A Educação Especial, como modalidade transversal
autonomia intelectual e do pensamento crítico; a todos os níveis, etapas e modalidades de ensino, é parte
IV - a compreensão dos fundamentos científicos e integrante da educação regular, devendo ser prevista no
tecnológicos presentes na sociedade contemporânea, projeto político-pedagógico da unidade escolar.
relacionando a teoria com a prática. § 1º Os sistemas de ensino devem matricular os estudantes
§ 1º O Ensino Médio deve ter uma base unitária sobre a com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e
qual podem se assentar possibilidades diversas como altas habilidades/superdotação nas classes comuns do ensino
preparação geral para o trabalho ou, facultativamente, para regular e no Atendimento Educacional Especializado (AEE),
profissões técnicas; na ciência e na tecnologia, como iniciação complementar ou suplementar à escolarização, ofertado em
científica e tecnológica; na cultura, como ampliação da salas de recursos multifuncionais ou em centros de AEE da
formação cultural. rede pública ou de instituições comunitárias, confessionais ou
§ 2º A definição e a gestão do currículo inscrevem-se em filantrópicas sem fins lucrativos.
uma lógica que se dirige aos jovens, considerando suas § 2º Os sistemas e as escolas devem criar condições para
singularidades, que se situam em um tempo determinado. que o professor da classe comum possa explorar as
§ 3º Os sistemas educativos devem prever currículos potencialidades de todos os estudantes, adotando uma
flexíveis, com diferentes alternativas, para que os jovens pedagogia dialógica, interativa, interdisciplinar e inclusiva e,
tenham a oportunidade de escolher o percurso formativo que na interface, o professor do AEE deve identificar habilidades e
atenda seus interesses, necessidades e aspirações, para que se necessidades dos estudantes, organizar e orientar sobre os
assegure a permanência dos jovens na escola, com proveito, serviços e recursos pedagógicos e de acessibilidade para a
até a conclusão da Educação Básica. participação e aprendizagem dos estudantes.
§ 3º Na organização desta modalidade, os sistemas de
CAPÍTULO II ensino devem observar as seguintes orientações
MODALIDADES DA EDUCAÇÃO BÁSICA fundamentais:
I - o pleno acesso e a efetiva participação dos estudantes no
Art. 27. A cada etapa da Educação Básica pode ensino regular;
corresponder uma ou mais das modalidades de ensino: II - a oferta do atendimento educacional especializado;
Educação de Jovens e Adultos, Educação Especial, Educação III - a formação de professores para o AEE e para o
Profissional e Tecnológica, Educação do Campo, Educação desenvolvimento de práticas educacionais inclusivas;
Escolar Indígena e Educação a Distância. IV - a participação da comunidade escolar;
V - a acessibilidade arquitetônica, nas comunicações e
Seção I informações, nos mobiliários e equipamentos e nos
Educação de Jovens e Adultos transportes;
VI - a articulação das políticas públicas intersetoriais.
Art. 28. A Educação de Jovens e Adultos (EJA) destina-se
aos que se situam na faixa etária superior à considerada Seção III
própria, no nível de conclusão do Ensino Fundamental e do Educação Profissional e Tecnológica
Ensino Médio.
§ 1º Cabe aos sistemas educativos viabilizar a oferta de Art. 30. A Educação Profissional e Tecnológica, no
cursos gratuitos aos jovens e aos adultos, proporcionando-lhes cumprimento dos objetivos da educação nacional, integra-se
oportunidades educacionais apropriadas, consideradas as aos diferentes níveis e modalidades de educação e às
características do alunado, seus interesses, condições de vida dimensões do trabalho, da ciência e da tecnologia, e articula-se
e de trabalho, mediante cursos, exames, ações integradas e com o ensino regular e com outras modalidades educacionais:
complementares entre si, estruturados em um projeto Educação de Jovens e Adultos, Educação Especial e Educação a
pedagógico próprio. Distância.
§ 2º Os cursos de EJA, preferencialmente tendo a Educação
Profissional articulada com a Educação Básica, devem pautar- Art. 31. Como modalidade da Educação Básica, a Educação
se pela flexibilidade, tanto de currículo quanto de tempo e Profissional e Tecnológica ocorre na oferta de cursos de
espaço, para que seja(m): formação inicial e continuada ou qualificação profissional e
I - rompida a simetria com o ensino regular para crianças e nos de Educação Profissional Técnica de nível médio.
adolescentes, de modo a permitir percursos individualizados e
conteúdos significativos para os jovens e adultos; Art. 32. A Educação Profissional Técnica de nível médio é
II - providos o suporte e a atenção individuais às diferentes desenvolvida nas seguintes formas:
necessidades dos estudantes no processo de aprendizagem, I - articulada com o Ensino Médio, sob duas formas: a)
mediante atividades diversificadas; integrada, na mesma instituição; ou
III - valorizada a realização de atividades e vivências b) concomitante, na mesma ou em distintas instituições;
socializadoras, culturais, recreativas e esportivas, geradoras II - subsequente, em cursos destinados a quem já tenha
de enriquecimento do percurso formativo dos estudantes; concluído o Ensino Médio.
IV - desenvolvida a agregação de competências para o § 1º Os cursos articulados com o Ensino Médio,
trabalho; organizados na forma integrada, são cursos de matrícula
V - promovida a motivação e a orientação permanente dos única, que conduzem os educandos à habilitação profissional
estudantes, visando maior participação nas aulas e seu melhor técnica de nível médio ao mesmo tempo em que concluem a
aproveitamento e desempenho; última etapa da Educação Básica.
VI - realizada, sistematicamente, a formação continuada, § 2º Os cursos técnicos articulados com o Ensino Médio,
destinada, especificamente, aos educadores de jovens e ofertados na forma concomitante, com dupla matrícula e dupla
adultos. certificação, podem ocorrer:
I - na mesma instituição de ensino, aproveitando-se as
oportunidades educacionais disponíveis;

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II - em instituições de ensino distintas, aproveitando-se as Parágrafo único. Na estruturação e no funcionamento das


oportunidades educacionais disponíveis; escolas indígenas, é reconhecida a sua condição de
III - em instituições de ensino distintas, mediante possuidores de normas e ordenamento jurídico próprios, com
convênios de intercomplementaridade, com planejamento e ensino intercultural e bilíngue, visando à valorização plena das
desenvolvimento de projeto pedagógico unificado. culturas dos povos indígenas e à afirmação e manutenção de
§ 3º São admitidas, nos cursos de Educação Profissional sua diversidade étnica.
Técnica de nível médio, a organização e a estruturação em
etapas que possibilitem qualificação profissional Art. 38. Na organização de escola indígena, deve ser
intermediária. considerada a participação da comunidade, na definição do
§ 4º A Educação Profissional e Tecnológica pode ser modelo de organização e gestão, bem como:
desenvolvida por diferentes estratégias de educação I - suas estruturas sociais;
continuada, em instituições especializadas ou no ambiente de II - suas práticas socioculturais e religiosas;
trabalho, incluindo os programas e cursos de aprendizagem, III - suas formas de produção de conhecimento, processos
previstos na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). próprios e métodos de ensino-aprendizagem;
IV - suas atividades econômicas;
Art. 33. A organização curricular da Educação Profissional V - edificação de escolas que atendam aos interesses das
e Tecnológica por eixo tecnológico fundamenta-se na comunidades indígenas;
identificação das tecnologias que se encontram na base de uma VI - uso de materiais didático-pedagógicos produzidos de
dada formação profissional e dos arranjos lógicos por elas acordo com o contexto sociocultural de cada povo indígena.
constituídos.
Seção VI
Art. 34. Os conhecimentos e as habilidades adquiridos Educação a Distância
tanto nos cursos de Educação Profissional e Tecnológica, como
os adquiridos na prática laboral pelos trabalhadores, podem Art. 39. A modalidade Educação a Distância caracteriza-se
ser objeto de avaliação, reconhecimento e certificação para pela mediação didático-pedagógica nos processos de ensino e
prosseguimento ou conclusão de estudos. aprendizagem que ocorre com a utilização de meios e
tecnologias de informação e comunicação, com estudantes e
Seção IV professores desenvolvendo atividades educativas em lugares
Educação Básica do Campo ou tempos diversos.

Art. 35. Na modalidade de Educação Básica do Campo, a Art. 40. O credenciamento para a oferta de cursos e
educação para a população rural está prevista com adequações programas de Educação de Jovens e Adultos, de Educação
necessárias às peculiaridades da vida no campo e de cada Especial e de Educação Profissional Técnica de nível médio e
região, definindo-se orientações para três aspectos essenciais Tecnológica, na modalidade a distância, compete aos sistemas
à organização da ação pedagógica: estaduais de ensino, atendidas a regulamentação federal e as
I - conteúdos curriculares e metodologias apropriadas às normas complementares desses sistemas.
reais necessidades e interesses dos estudantes da zona rural;
II - organização escolar própria, incluindo adequação do Seção VII
calendário escolar às fases do ciclo agrícola e às condições Educação Escolar Quilombola
climáticas;
III - adequação à natureza do trabalho na zona rural. Art. 41. A Educação Escolar Quilombola é desenvolvida em
unidades educacionais inscritas em suas terras e cultura,
Art. 36. A identidade da escola do campo é definida pela requerendo pedagogia própria em respeito à especificidade
vinculação com as questões inerentes à sua realidade, com étnico-cultural de cada comunidade e formação específica de
propostas pedagógicas que contemplam sua diversidade em seu quadro docente, observados os princípios constitucionais,
todos os aspectos, tais como sociais, culturais, políticos, a base nacional comum e os princípios que orientam a
econômicos, de gênero, geração e etnia. Educação Básica brasileira.
Parágrafo único. Formas de organização e metodologias Parágrafo único. Na estruturação e no funcionamento das
pertinentes à realidade do campo devem ter acolhidas, como a escolas quilombolas, bem como nas demais, deve ser
pedagogia da terra, pela qual se busca um trabalho pedagógico reconhecida e valorizada a diversidade cultural.
fundamentado no princípio da sustentabilidade, para
assegurar a preservação da vida das futuras gerações, e a TÍTULO VII
pedagogia da alternância, na qual o estudante participa, ELEMENTOS CONSTITUTIVOS PARA A ORGANIZAÇÃO
concomitante e alternadamente, de dois ambientes/situações DAS
de aprendizagem: o escolar e o laboral, supondo parceria DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS GERAIS PARA
educativa, em que ambas as partes são corresponsáveis pelo A EDUCAÇÃO BÁSICA
aprendizado e pela formação do estudante.
Art. 42. São elementos constitutivos para a
Seção V operacionalização destas Diretrizes o projeto político-
Educação Escolar Indígena pedagógico e o regimento escolar; o sistema de avaliação; a
gestão democrática e a organização da escola; o professor e o
Art. 37. A Educação Escolar Indígena ocorre em unidades programa de formação docente.
educacionais inscritas em suas terras e culturas, as quais têm
uma realidade singular, requerendo pedagogia própria em CAPÍTULO I
respeito à especificidade étnico-cultural de cada povo ou O PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO E O REGIMENTO
comunidade e formação específica de seu quadro docente, ESCOLAR
observados os princípios constitucionais, a base nacional
comum e os princípios que orientam a Educação Básica Art. 43. O projeto político-pedagógico,
brasileira. interdependentemente da autonomia pedagógica,
administrativa e de gestão financeira da instituição

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educacional, representa mais do que um documento, sendo um sujeitos, das suas normas pedagógicas, incluindo os critérios
dos meios de viabilizar a escola democrática para todos e de de acesso, promoção, mobilidade do estudante, dos direitos e
qualidade social. deveres dos seus sujeitos: estudantes, professores, técnicos e
§ 1º A autonomia da instituição educacional baseia-se na funcionários, gestores, famílias, representação estudantil e
busca de sua identidade, que se expressa na construção de seu função das suas instâncias colegiadas.
projeto pedagógico e do seu regimento escolar, enquanto
manifestação de seu ideal de educação e que permite uma nova CAPÍTULO II
e democrática ordenação pedagógica das relações escolares. AVALIAÇÃO
§ 2º Cabe à escola, considerada a sua identidade e a de seus
sujeitos, articular a formulação do projeto político-pedagógico Art. 46. A avaliação no ambiente educacional compreende
com os planos de educação – nacional, estadual, municipal –, o 3 (três) dimensões básicas:
contexto em que a escola se situa e as necessidades locais e de I - avaliação da aprendizagem;
seus estudantes. II - avaliação institucional interna e externa;
§ 3º A missão da unidade escolar, o papel socioeducativo, III - avaliação de redes de Educação Básica.
artístico, cultural, ambiental, as questões de gênero, etnia e
diversidade cultural que compõem as ações educativas, a Seção I
organização e a gestão curricular são componentes Avaliação da aprendizagem
integrantes do projeto político-pedagógico, devendo ser
previstas as prioridades institucionais que a identificam, Art. 47. A avaliação da aprendizagem baseia-se na
definindo o conjunto das ações educativas próprias das etapas concepção de educação que norteia a relação professor-
da Educação Básica assumidas, de acordo com as estudante-conhecimento-vida em movimento, devendo ser
especificidades que lhes correspondam, preservando a sua um ato reflexo de reconstrução da prática pedagógica
articulação sistêmica. avaliativa, premissa básica e fundamental para se questionar o
educar, transformando a mudança em ato, acima de tudo,
Art. 44. O projeto político-pedagógico, instância de político.
construção coletiva que respeita os sujeitos das § 1º A validade da avaliação, na sua função diagnóstica,
aprendizagens, entendidos como cidadãos com direitos à liga-se à aprendizagem, possibilitando o aprendiz a recriar,
proteção e à participação social, deve contemplar: refazer o que aprendeu, criar, propor e, nesse contexto, aponta
I - o diagnóstico da realidade concreta dos sujeitos do para uma avaliação global, que vai além do aspecto
processo educativo, contextualizados no espaço e no tempo; quantitativo, porque identifica o desenvolvimento da
II - a concepção sobre educação, conhecimento, avaliação autonomia do estudante, que é indissociavelmente ético,
da aprendizagem e mobilidade escolar; social, intelectual.
III - o perfil real dos sujeitos – crianças, jovens e adultos – § 2º Em nível operacional, a avaliação da aprendizagem
que justificam e instituem a vida da e na escola, do ponto de tem, como referência, o conjunto de conhecimentos,
vista intelectual, cultural, emocional, afetivo, socioeconômico, habilidades, atitudes, valores e emoções que os sujeitos do
como base da reflexão sobre as relações vida-conhecimento- processo educativo projetam para si de modo integrado e
cultura-professor-estudante e instituição escolar; articulado com aqueles princípios definidos para a Educação
IV - as bases norteadoras da organização do trabalho Básica, redimensionados para cada uma de suas etapas, bem
pedagógico; assim no projeto político-pedagógico da escola.
V - a definição de qualidade das aprendizagens e, por § 3º A avaliação na Educação Infantil é realizada mediante
consequência, da escola, no contexto das desigualdades que se acompanhamento e registro do desenvolvimento da criança,
refletem na escola; sem o objetivo de promoção, mesmo em se tratando de acesso
VI - os fundamentos da gestão democrática, compartilhada ao Ensino Fundamental.
e participativa (órgãos colegiados e de representação § 4º A avaliação da aprendizagem no Ensino Fundamental
estudantil); e no Ensino Médio, de caráter formativo predominando sobre
VII - o programa de acompanhamento de acesso, de o quantitativo e classificatório, adota uma estratégia de
permanência dos estudantes e de superação da retenção progresso individual e contínuo que favorece o crescimento do
escolar; educando, preservando a qualidade necessária para a sua
VIII - o programa de formação inicial e continuada dos formação escolar, sendo organizada de acordo com regras
profissionais da educação, regentes e não regentes; comuns a essas duas etapas.
IX - as ações de acompanhamento sistemático dos
resultados do processo de avaliação interna e externa (Sistema Seção II
de Avaliação da Educação Básica – SAEB, Prova Brasil, dados Promoção, aceleração de estudos e classificação
estatísticos, pesquisas sobre os sujeitos da Educação Básica),
incluindo dados referentes ao IDEB e/ou que complementem Art. 48. A promoção e a classificação no Ensino
ou substituam os desenvolvidos pelas unidades da federação e Fundamental e no Ensino Médio podem ser utilizadas em
outros; qualquer ano, série, ciclo, módulo ou outra unidade de
X - a concepção da organização do espaço físico da percurso adotada, exceto na primeira do Ensino Fundamental,
instituição escolar de tal modo que este seja compatível com alicerçando-se na orientação de que a avaliação do rendimento
as características de seus sujeitos, que atenda as normas de escolar observará os seguintes critérios:
acessibilidade, além da natureza e das finalidades da educação, I - avaliação contínua e cumulativa do desempenho do
deliberadas e assumidas pela comunidade educacional. estudante, com prevalência dos aspectos qualitativos sobre os
quantitativos e dos resultados ao longo do período sobre os de
Art. 45. O regimento escolar, discutido e aprovado pela eventuais provas finais;
comunidade escolar e conhecido por todos, constitui-se em um II - possibilidade de aceleração de estudos para estudantes
dos instrumentos de execução do projeto político-pedagógico, com atraso escolar;
com transparência e responsabilidade. III - possibilidade de avanço nos cursos e nas séries
Parágrafo único. O regimento escolar trata da natureza e mediante verificação do aprendizado;
da finalidade da instituição, da relação da gestão democrática IV - aproveitamento de estudos concluídos com êxito;
com os órgãos colegiados, das atribuições de seus órgãos e

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V - oferta obrigatória de apoio pedagógico destinado à § 2º É obrigatória a gestão democrática no ensino público
recuperação contínua e concomitante de aprendizagem de e prevista, em geral, para todas as instituições de ensino, o que
estudantes com déficit de rendimento escolar, a ser previsto implica decisões coletivas que pressupõem a participação da
no regimento escolar. comunidade escolar na gestão da escola e a observância dos
princípios e finalidades da educação.
Art. 49. A aceleração de estudos destina-se a estudantes § 3º No exercício da gestão democrática, a escola deve se
com atraso escolar, àqueles que, por algum motivo, empenhar para constituir-se em espaço das diferenças e da
encontram-se em descompasso de idade, por razões como pluralidade, inscrita na diversidade do processo tornado
ingresso tardio, retenção, dificuldades no processo de ensino- possível por meio de relações intersubjetivas, cuja meta é a de
aprendizagem ou outras. se fundamentar em princípio educativo emancipador,
expresso na liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e
Art. 50. A progressão pode ser regular ou parcial, sendo divulgar a cultura, o pensamento, a arte e o saber.
que esta deve preservar a sequência do currículo e observar as
normas do respectivo sistema de ensino, requerendo o Art. 55. A gestão democrática constitui-se em instrumento
redesenho da organização das ações pedagógicas, com de horizontalização das relações, de vivência e convivência
previsão de horário de trabalho e espaço de atuação para colegiada, superando o autoritarismo no planejamento e na
professor e estudante, com conjunto próprio de recursos concepção e organização curricular, educando para a
didático-pedagógico. conquista da cidadania plena e fortalecendo a ação conjunta
que busca criar e recriar o trabalho da e na escola mediante:
Art. 51. As escolas que utilizam organização por série I - a compreensão da globalidade da pessoa, enquanto ser
podem adotar, no Ensino Fundamental, sem prejuízo da que aprende, que sonha e ousa, em busca de uma convivência
avaliação do processo ensino-aprendizagem, diversas formas social libertadora fundamentada na ética cidadã;
de progressão, inclusive a de progressão continuada, jamais II - a superação dos processos e procedimentos
entendida como promoção automática, o que supõe tratar o burocráticos, assumindo com pertinência e relevância: os
conhecimento como processo e vivência que não se harmoniza planos pedagógicos, os objetivos institucionais e educacionais,
com a ideia de interrupção, mas sim de construção, em que o e as atividades de avaliação contínua;
estudante, enquanto sujeito da ação, está em processo III - a prática em que os sujeitos constitutivos da
contínuo de formação, construindo significados. comunidade educacional discutam a própria práxis
pedagógica impregnando-a de entusiasmo e de compromisso
Seção III com a sua própria comunidade, valorizando-a, situando-a no
Avaliação institucional contexto das relações sociais e buscando soluções conjuntas;
IV - a construção de relações interpessoais solidárias,
Art. 52. A avaliação institucional interna deve ser prevista geridas de tal modo que os professores se sintam estimulados
no projeto político-pedagógico e detalhada no plano de gestão, a conhecer melhor os seus pares (colegas de trabalho,
realizada anualmente, levando em consideração as estudantes, famílias), a expor as suas ideias, a traduzir as suas
orientações contidas na regulamentação vigente, para rever o dificuldades e expectativas pessoais e profissionais;
conjunto de objetivos e metas a serem concretizados, V - a instauração de relações entre os estudantes,
mediante ação dos diversos segmentos da comunidade proporcionando-lhes espaços de convivência e situações de
educativa, o que pressupõe delimitação de indicadores aprendizagem, por meio dos quais aprendam a se
compatíveis com a missão da escola, além de clareza quanto ao compreender e se organizar em equipes de estudos e de
que seja qualidade social da aprendizagem e da escola. práticas esportivas, artísticas e políticas;
VI - a presença articuladora e mobilizadora do gestor no
Seção IV cotidiano da escola e nos espaços com os quais a escola
Avaliação de redes de Educação Básica interage, em busca da qualidade social das aprendizagens que
lhe caiba desenvolver, com transparência e responsabilidade.
Art. 53. A avaliação de redes de Educação Básica ocorre
periodicamente, é realizada por órgãos externos à escola e CAPÍTULO IV
engloba os resultados da avaliação institucional, sendo que os O PROFESSOR E A FORMAÇÃO INICIAL E CONTINUADA
resultados dessa avaliação sinalizam para a sociedade se a
escola apresenta qualidade suficiente para continuar Art. 56. A tarefa de cuidar e educar, que a fundamentação
funcionando como está. da ação docente e os programas de formação inicial e
continuada dos profissionais da educação instauram, reflete-
CAPÍTULO III se na eleição de um ou outro método de aprendizagem, a partir
GESTÃO DEMOCRÁTICA E ORGANIZAÇÃO DA ESCOLA do qual é determinado o perfil de docente para a Educação
Básica, em atendimento às dimensões técnicas, políticas, éticas
Art. 54. É pressuposto da organização do trabalho e estéticas.
pedagógico e da gestão da escola conceber a organização e a § 1º Para a formação inicial e continuada, as escolas de
gestão das pessoas, do espaço, dos processos e procedimentos formação dos profissionais da educação, sejam gestores,
que viabilizam o trabalho expresso no projeto político- professores ou especialistas, deverão incluir em seus
pedagógico e em planos da escola, em que se conformam as currículos e programas:
condições de trabalho definidas pelas instâncias colegiadas. a) o conhecimento da escola como organização complexa
§ 1º As instituições, respeitadas as normas legais e as do que tem a função de promover a educação para e na cidadania;
seu sistema de ensino, têm incumbências complexas e b) a pesquisa, a análise e a aplicação dos resultados de
abrangentes, que exigem outra concepção de organização do investigações de interesse da área educacional;
trabalho pedagógico, como distribuição da carga horária, c) a participação na gestão de processos educativos e na
remuneração, estratégias claramente definidas para a ação organização e funcionamento de sistemas e instituições de
didático-pedagógica coletiva que inclua a pesquisa, a criação ensino;
de novas abordagens e práticas metodológicas, incluindo a d) a temática da gestão democrática, dando ênfase à
produção de recursos didáticos adequados às condições da construção do projeto político-pedagógico, mediante trabalho
escola e da comunidade em que esteja ela inserida.

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coletivo de que todos os que compõem a comunidade escolar 03. (SEDUC-PI - Professor – Informática –
são responsáveis. NUCEPE/2009) A Didática constitui disciplina essencial nos
processos de formação de professores, notadamente
Art. 57. Entre os princípios definidos para a educação articulando o saber, o saber-ser e o saber-fazer. No contexto
nacional está a valorização do profissional da educação, com a dessa análise, pode-se afirmar CORRETAMENTE, acerca da
compreensão de que valorizá-lo é valorizar a escola, com concepção tradicional de Didática que:
qualidade gestorial, educativa, social, cultural, ética, estética, a) refere-se a um conjunto de procedimentos universais
ambiental. relativos à docência;
§ 1º A valorização do profissional da educação escolar b) afirma a neutralidade científica do método, a
vincula-se à obrigatoriedade da garantia de qualidade e ambas preocupação com os meios desvinculados dos fins e do
se associam à exigência de programas de formação inicial e contexto;
continuada de docentes e não docentes, no contexto do c) caracteriza-se por transcender métodos e técnicas de
conjunto de múltiplas atribuições definidas para os sistemas ensino, buscando articular escola/sociedade;
educativos, em que se inscrevem as funções do professor. d) compreende uma doutrina da instrução, revelando-se
§ 2º Os programas de formação inicial e continuada dos como um conjunto de normas prescritivas centradas no
profissionais da educação, vinculados às orientações destas método;
Diretrizes, devem prepará-los para o desempenho de suas e) caracteriza-se por estabelecer métodos e técnicas de
atribuições, considerando necessário: educação desvinculados dos princípios educacionais.
a) além de um conjunto de habilidades cognitivas, saber
pesquisar, orientar, avaliar e elaborar propostas, isto é, 04. (SEE-AL - Todos os Cargos – CESPE/2013) Com
interpretar e reconstruir o conhecimento coletivamente; relação à didática e à sua prática histórico-social, julgue o item
b) trabalhar cooperativamente em equipe; a seguir.
c) compreender, interpretar e aplicar a linguagem e os O enfoque tecnicista da didática busca estratégia objetiva,
instrumentos produzidos ao longo da evolução tecnológica, racional e neutra do processo de ensino-aprendizagem, em
econômica e organizativa; contraposição ao enfoque humanista.
d) desenvolver competências para integração com a ( ) Certo
comunidade e para relacionamento com as famílias. ( ) Errado

Art. 58. A formação inicial, nos cursos de licenciatura, não Respostas


esgota o desenvolvimento dos conhecimentos, saberes e 01.: Certo. / 02.: Certo. / 03.: D / 04.: Certa
habilidades referidas, razão pela qual um programa de
formação continuada dos profissionais da educação será
contemplado no projeto político-pedagógico. DOLZ, J. e SCHNEUWLY, B.
Art. 59. Os sistemas educativos devem instituir orientações
Gêneros O r a i s e escritos
para que o projeto de formação dos profissionais preveja: na escola. Campinas (SP):
a) a consolidação da identidade dos profissionais da Mercado de Letras; 2004;
educação, nas suas relações com a escola e com o estudante;
b) a criação de incentivos para o resgate da imagem social
do professor, assim como da autonomia docente tanto
Este livro reúne um conjunto de nove artigos de
individual como coletiva;
Schneuwly, Dolz e colaboradores, traduzidos e organizados
c) a definição de indicadores de qualidade social da
por Rojo e Cordeiro, cuja análise centra-se no texto como “a
educação escolar, a fim de que as agências formadoras de
base do ensino-aprendizagem de língua portuguesa.” (p.7).
profissionais da educação revejam os projetos dos cursos de
formação inicial e continuada de docentes, de modo que
1 - Apresentação: Gêneros Orais e Escritos como
correspondam às exigências de um projeto de Nação.
objetos de ensino: modo de pensar, modo de fazer.
Foi na década de 1980, no Brasil, que estudos e práticas
Art. 60. Esta Resolução entrará em vigor na data de sua
pedagógicas começaram a serem desenvolvidas tendo o texto
publicação.
como fundamento. De lá para cá, o texto, na maioria das vezes,
vem sendo tomado como um objeto empírico através do qual
Questões
se efetivam práticas de leitura, análise linguística e produção
01. Acerca da Resolução nº 04/2010, julgue o item abaixo:
de textos. Inserindo-se no rol de estudiosos do tema que
A Educação Infantil tem por objetivo o desenvolvimento
criticam essa abordagem limitada do uso do texto, as
integral da criança, em seus aspectos físico, afetivo,
organizadoras esclarecem que, a partir do século XXI, novas
psicológico, intelectual, social, complementando a ação da
pesquisadas vêm sendo produzidas sobre leitura e produção
família e da comunidade.
de textos. Esses novos estudos, cujos autores dos artigos que
( ) Certo
compõe essa coletânea são representativos, fundamentam os
( ) Errado
atuais PCNs (Parâmetros Curriculares Nacionais) orientando
que, agora, “trata-se então de enfocar, em sala de aula, o texto
02. Acerca da Resolução nº 04/2010, julgue o item abaixo:
em seu funcionamento e em seu contexto de produção/leitura,
O Ensino Fundamental com 9 (nove) anos de duração, de
evidenciando as significações geradas mais do que as
matrícula obrigatória para as crianças a partir dos 6 (seis)
propriedades formais que dão suporte a fundamentos
anos de idade, tem duas fases sequentes com características
cognitivos.” (p.11).
próprias, chamadas de anos iniciais, com 5 (cinco) anos de
Os PCNs, como referenciais, objetivam apresentar os
duração, em regra para estudantes de 6 (seis) a 10 (dez) anos
princípios e fundamentos nos quais deve se pautar a ação
de idade; e anos finais, com 4 (quatro) anos de duração, para
docente no ensino da linguagem oral e escrita e acabam
os de 11 (onze) a 14 (quatorze) anos.
apresentando dúvidas, aos professores, em como organizar o
( ) Certo
trabalho de ensino-aprendizagem com base nessas novas
( ) Errado
ideias. Eis a importância e o motivo principal da organização

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da presente obra, cujo objeto consiste em discutir modos de em função dos objetivos propostos para cada série escolar, a
pensar e fazer a fim de orientar o trabalho docente. que se destina às finalidades de cada ciclo e, ainda, à referente
a cada unidade de ensino. A elaboração do currículo
2 - Gêneros e Tipos de Discurso: considerações progressivo deve fundamentar-se na premissa vygotskyana de
psicológicas e ontogenéticas. que a aprendizagem alavanca o processo de desenvolvimento
Este artigo foi escrito por Bernard Schneuwly e objetiva das funções superiores dos sujeitos, incluindo, aqui, a
classificar as tipologias textuais de modo que ajude no linguagem.
processo de aquisição das diferentes formas de discurso. Para a organização do trabalho, os professores devem
levar devem partir de três fatores: “as especificidades das
Fundamentando-se em Vygotsky, o autor define o gênero práticas de linguagem que são objeto de aprendizagem, as
como um instrumento, de caráter psicológico, mediador do capacidades de linguagem dos aprendizes e as estratégias de
processo de aprendizagem da criança na leitura e na escrita ensino propostas pela sequência didática” (p.51). As
possibilitando, assim, novos conhecimentos e novas ações. sequências didáticas referem-se aos módulos de ensino
Gênero, por sua vez, de acordo com Bakhtin, tem um sentido dispostos sequencialmente a fim de levar o aluno a alcançar,
amplo: são os diferentes tipos de textos orais e escritos que os ao final do processo, os objetivos propostos no planejamento
sujeitos utilizam, socialmente, de acordo com funções pedagógico.
definidas pelo contexto vivido. Cada gênero linguístico possui O desenvolvimento das capacidades linguísticas das
determinadas características: 1.para cada situação social crianças se constitui, em parte, por um processo de
definida é elaborado um tipo específico de enunciado; 2.cada reprodução de modelos socialmente legitimados. Estratégias
gênero apresenta conteúdo, estilo e composição própria; 3.a sistemáticas e intencionais do processo de ensino-
definição de cada gênero se dá em função da temática em foco, aprendizagem são necessárias para garantir o domínio desses
dos participantes envolvidos no contexto e na vontade do instrumentos sociais por parte dos aprendizes. Cabe, portanto,
locutor. Desse modo, pode-se inferir que há uma relação de à escola, e aos professores, essa tarefa.
interconexão e dependência entre gênero e contexto que cria Que critérios utilizar para a elaboração e desenvolvimento
uma dupla necessidade: conhecimento do gênero em si e, do processo de ensino-aprendizagem das expressões orais e
também, do contexto do qual é expressão e ao qual se destina. escritas, na escola? “Nesse processo, o critério a privilegiar
Nas palavras de Schneuwly, “a ação discursiva é, portanto, ao para tomar decisões é o da validade didática: as possibilidades
menos parcialmente, prefigurada pelos meios.” (p.28). efetivas de gestão do ensino proposto, a coerência dos
O desenvolvimento linguístico dos sujeitos se dá por um conteúdos ensinados, assim como os ganhos de
processo de continuidade e ruptura através dos usos de aprendizagem.” (p.67)
gêneros primários e secundários (categorias utilizadas por
Bakhtin), ou seja, através de discursos que se originam de 4 - Os Gêneros escolares – das práticas de linguagem
situações espontâneas (primários) ou de comunicações aos objetos de ensino
culturais (secundárias). A primeira se caracteriza, A ideia central desse artigo escrito por Schneuwly e Dolz é
essencialmente, por discursos orais e o segundo por escritos “de que o gênero é (...) utilizado como meio de articulação
envolvendo produção artística, científica e sociopolítica. Os entre as práticas sociais e os objetos escolares, mais
gêneros primários constituem-se no nível real de particularmente no domínio do ensino da produção de textos
desenvolvimento linguístico das crianças (zona de orais e escritos” (p.71).
desenvolvimento real) que, a partir deles, é possível
desenvolverem os gêneros secundários através de intervenção As práticas sociais se dão nas relações que os sujeitos
sistemática (zona de desenvolvimento proximal). Por isso estabelecem ente si (relações sociais) de diferentes formas,
afirma-se, no texto, que “os gêneros primários são os sendo a linguagem uma delas. As diferentes expressões orais e
instrumentos de criação dos gêneros secundários” (p.35). escritas, suas formas, estilos, funções emergem das práticas
Após esse percurso de análise, Schneuwly defende a tese sociais e se materializam em diferentes tipos de textos ou, em
de que a diversidade de tipos de textos aos quais as crianças palavras mais técnicas, gêneros linguísticos. É na escola que as
são expostas possibilita a passagem dos gêneros primários expressões linguísticas usadas nas práticas sociais são
para os secundários, constituindo-se, assim, “construções apropriadas pelas crianças. Esse processo de apropriações
necessárias para gerar uma maior heterogeneidade nos ocorre através dos diferentes gêneros linguísticos.
gêneros, para oferecer possibilidades de escolha, para garantir Ao ser transposto ao ambiente escolar, o gênero é, além
um domínio consciente dos gêneros, em especial daqueles que meio de comunicação, objeto de ensino-aprendizagem,
jogam com a heterogeneidade.” (p.38). transformando-se, portanto, em gênero escolar. O autor
destaca três vertentes de práticas pedagógicas que enfocam
3 - Gêneros e progressão em expressão oral e escrita – um dos aspectos constitutivos do processo de apropriação da
elementos para uma reflexão sobre uma experiência Suíça linguagem: a) desaparecimento da comunicação que resulta da
(Francófona) redução dos gêneros em objetos de ensino esvaziados de suas
Este artigo foi escrito por Joaquim Dolz e Bernard funções sociais; b) a escola como lugar de comunicação,
Schneuwly e relata a experiência de elaboração de um vertente na qual a própria instituição é tida como lugar de
currículo para o ensino da expressão oral e escrita em escola comunicação e, portanto, como espaço e finalidade da
na Suíça Francófona. produção e uso de textos; c) negação da escola como lugar
específico de comunicação, abordagem que nega a escola como
Fundamentados em Coll (1992), os autores defendem que parte da prática social geral buscando, assim, transpor, de
“um currículo para o ensino da expressão deveria fornecer aos forma direta, as expressões orais e escritas utilizadas na
professores, para cada um dos níveis de ensino, informações sociedade para o interior da escola.
concretas sobre os objetivos visados pelo ensino, sobre as Contrapondo-se a essas correntes que geram práticas
práticas de linguagem que devem ser abordadas, sobre os limitadoras de ensino-aprendizagem da linguagem, o autor
saberes e habilidades implicados em sua apropriação.” (p.43) defende que os gêneros são “objeto e instrumento de trabalho
Na elaboração de uma proposta curricular para a linguagem para o desenvolvimento da linguagem” (p.80).
oral e escrita deve-se levar em conta, também, a progressão, É apontada a necessidade de construir modelos didáticos
ou seja, a ordem temporal que deve seguir o processo de de gêneros a partir dos quais seja possível elaborar sequências
aprendizagem. Há uma tripla ordem temporal: a que se define didáticas que possibilitem a apropriação dos gêneros pelas

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crianças sendo necessário o estudo das dimensões passíveis Analisando a história do ensino da linguagem na escola,
de serem ensinadas a respeito de cada gênero linguístico. Para especificamente acerca da relação entre o oral e o escrito, o
tanto, o autor propõe três princípios orientadores da autor analisa criticamente duas vertentes comuns que
elaboração desses modelos: a) legitimidade: que consiste em orientam o processo de ensino-aprendizagem para, ao final,
analisar os conhecimentos produzidos pelos especialistas propor um caminho possível para se trabalhar a linguagem
sobre os gêneros; b) pertinência: refere-se “às capacidades dos oral na escola.
alunos, às finalidades e aos objetivos da escola, aos processos A primeira abordagem discutida é aquela na qual os alunos
de ensino-aprendizagem” (p.82); c) solidarização: tornando são levados a desenvolver habilidades linguísticas orais tendo
“coerentes os saberes em função dos objetivos visados” (p.82). como referência a norma da linguagem escrita culta. São
enfocados, aqui, as dimensões estruturais da linguagem
5 - Sequências didáticas para o oral e a escrita: (fonológicas, sintáticas, lexicais) e não trabalhados outros
apresentação de um procedimento aspectos relevantes na linguagem oral como, por exemplo, os
Buscando responder a pergunta “Como ensinar a argumentos e a estrutura textual utilizados pelo aluno.
expressão oral e escrita?” (p.95), esse texto de Joaquim Dolz, A segunda referência aborda a linguagem oral como uma
Michèle Noverraz e Bernard Schneuwly, propõe a sequência expressão em si mesma bastando, apenas, que o aluno tenha
didática como uma estratégia adequada para elaboração do espaços nos quais se expresse oralmente acerca de seus
processo de ensino-aprendizagem, compreendendo “um sentimentos. Não há, portanto, nessa concepção, objetivos
conjunto de atividades escolares organizadas, de maneira didáticos estabelecidos para a linguagem oral na escola.
sistemática, em torno de um gênero textual oral ou escrito” Schneuwly propõe que o trabalho da linguagem oral
(p.97). É sugerido um modelo de sequência didática contendo assuma uma outra dimensão na instituição escolar
quadro momentos distintos mas articulados e objetivando levar os alunos de uma oralidade espontânea a
interdependentes que serão apresentados a seguir. uma expressão oral gestada, ou seja, pensada e planejada
intencionalmente pelos sujeitos em interlocução. Essa
1. Apresentação da situação: essa etapa é crucial pois é mudança do rumo que adquire a oralidade pressupõe uma
aqui que serão definidos o contexto, a forma e conteúdo do certa ficcionalização, ou seja, uma elaboração abstrata de
gênero a ser estudado e produzido envolvendo duas ações. A situações envolvendo quatro parâmetros: “enunciador,
primeira refere-se a situação de comunicação e a escolha do destinatário, finalidade ou objetivo, lugar social” (p.144).
gênero e a segunda diz respeito aos conteúdos a serem
trabalhados. Para ajudar na preparação da primeira ação, são 7 - O oral como texto: como construir um objeto de
apresentadas 4 questões que devem necessariamente, serem ensino
respondidas: “Qual é o gênero que será abordado? A quem se Joaquim Dolz e Bernard Schneuwly escrevem este artigo
dirige a produção? Que forma assumirá a produção? Quem com a colaboração de Sylvie Haller com o intuito de constituir
participará da produção?” (p.99/100). A segunda dimensão a expressão oral em objeto de ensino em função da
refere-se ao tema e possíveis subtemas que serão abordados. centralidade que ele ocupa nas práticas sociais desde a mais
2. Primeira produção: Os alunos farão uma produção oral tenra idade até a fase adulta. Para tanto, é imprescindível
ou escrita dependendo do gênero que será trabalhado. Essa definir, clara e objetivamente, quais são as características da
produção tem uma dupla importância: para os alunos será o linguagem oral que devem ser ensinadas. A partir da sua
momento de compreender o quanto sabem do gênero e do definição é possível traçar estratégias de ensino mais
assunto a serem estudados e, ainda, se entenderam a situação adequadas para o desenvolvimento das habilidades orais dos
de comunicação à qual terão de responder; para os alunos.
professores tem o papel de analisar o que os alunos já sabem,
identificar os problemas linguísticos do gênero que deverão A primeira dimensão do oral é de que ele consiste numa
ser enfocados e definir a sequência didática. linguagem falada com entonação, acentuação e ritmos
3. Módulos: A quantidade e conteúdo dos módulos de próprios envolvendo um aparelho fonador interligado com o
ensino devem ser definidos de acordo com as informações aparelho respiratório, através dos quais se emitem sons
colhidas pelo professor da primeira produção dos alunos. Cada articulados em fonemas (vogais e consoantes) combinados de
módulo deve contemplar problemas específicos do gênero em modo a formarem sílabas. O oral pode ir do espontâneo que
questão a fim de garantir melhora dos alunos na compreensão consiste numa fala improvisada diante de uma situação
e uso da expressão oral ou escrita estudada. imediata vivenciada à escrita oralizada referente à vocalização
4. Produção final: Após o processo os alunos deverão de um texto escrito através da leitura ou do recital. A oralidade
realizar uma produção que demonstrará o domínio adquirido tem como marca, também, a linguagem corporal, através de
ao longo da aprendizagem acerca do gênero e do tema mímicas, gestos, expressões faciais.
propostos e permitirá ao professor avaliar o trabalho Outra questão a considerar é da relação entre oral e escrita.
desenvolvido. A linguagem, para os autores é um sistema global que envolve
Os autores esclarecem, contudo, ao final do texto, que “as tanto a oralidade e a escrita. O que define qual expressão será
sequências devem funcionar como exemplos à disposição dos usada (oral ou escrita) é a situação comunicacional na qual se
professores. Elas assumirão seu papel pleno se os conduzirem, está inserido. Assim, tomar o oral como objeto de ensino
através de formação inicial ou contínua, a elaborar, por conta pressupõe que se conheça e compreenda as práticas orais e os
própria, outras sequências.” (p.128) saberes e linguísticos nelas implicados.
Toda relação comunicacional produz um texto entendido
6 - Palavra e ficcionalização: um caminho para o como “uma unidade de produção verbal que veicula uma
ensino da linguagem oral mensagem organizada linguisticamente e que tende a produzir
Este texto é de autoria de Bernard Schneuwly, fruto de uma um efeito de coerência sobre seu destinatário” (p.169).
Conferência no Programa de pós-graduação em Linguística Selecionar diferentes textos (orais) utilizados socialmente
Aplicada e estudos da Linguagem (Lael) da PUC-SP, proferida tornará o ensino mais significativo para os alunos e
em 1997. Sua tese é de que é possível trabalhar o ensino da professores. Além da expressão oral propriamente dita, os
linguagem oral materna na escola através de uma nova relação autores consideram que a outra dimensão dessa expressão
da linguagem. linguística – a oralização da escrita – também é importante na
apropriação por parte dos alunos das práticas e atividades
linguísticas socialmente construídas e legitimadas pela

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sociedade. Sugere-se, assim, também o trabalho com recitação, abdução que permite desvendar o crime e achar o culpado; a
teatro e leitura para os outros. necessidade de criar suspeitos dando condições de se criar
Quais gêneros orais ensinar na escola? O papel da escola, intrigas para retardar a descoberta do culpado e, enfim,
para os autores, é o de instruir mais do que de educar a escolha necessidade de caracterizar os personagens através de
dos textos deve-se recair, sobretudo, nos de caráter público diálogos, ações e descrições.
formal, ou seja, aqueles frutos (e utilizados) de situações
públicas formais (conferência, debate, entrevista jornalística, 9 - A exposição oral
entre outros). Além disso, as expressões orais utilizadas nas O artigo em questão foi escrito por quatro autores:
situações públicas convencionais são mais complexas e Joaquim Dolz, Bernard Schneuwly, Jean-François de Pietro e
requerem uma intervenção didática intencional para que seja Gabrielle Zahnd. Partindo da constatação de que a exposição
possível sua apropriação e uso consciente e intencionalmente. oral, sobretudo o seminário, é muito utilizada nas salas de aula,
Cabe ao professor, portanto, conhecer os gêneros orais os autores, com base em pesquisas realizadas, afirmam que,
oriundos de situações públicas formais e fim de transformá-los contudo, ele não se configura como objeto de ensino. Assim,
em objetos de ensino através de sequências didáticas cujos não há um trabalho sistemático e intencional cujo objetivo seja
princípios e proposta de um modelo são apresentados no possibilitar aos alunos a apropriação das características
artigo intitulado “Sequências didáticas para o oral e a escrita: próprias desse gênero oral a fim de melhorar seu desempenho
apresentação de um procedimento”. nas exposições orais.

8 - Em busca do culpado. Metalinguagem dos alunos na Diante desse diagnóstico, os autores defendem que as
redação de uma narrativa de enigma exposições orais sejam utilizadas, na escola, como meio de
Com o intuito de analisar “o papel das atividades comunicação e, também, como objeto de ensino. A exposição
metalinguísticas no ato de escrita, por meio do exemplo da oral é um texto de caráter público e formal onde um sujeito
narrativa de enigma” (p.190), Joaquim Dolz e Bernard transmitirá, de forma estruturada, informações acerca de um
Schneuwly escrevem este artigo baseado em uma pesquisa tema que domina a uma plateia com pré-disposição para
realizada com um grupo de alunos, organizados em pares, aprender. O ensino desse gênero oral deve levar em
produzindo uma narrativa de enigma (narrativa de um crime consideração dimensões inerentes a ele: capacidade de
e seu processo de investigação). A escolha desse gênero comunicação, conteúdo específico e procedimentos
fundamenta-se no fato de que, para escrever um texto desse linguísticos e discursivos.
tipo é necessário buscar compreender como ele se estrutura a A situação de comunicação deve ser objeto de análise: qual
fim de seguir seu “modelo” objetivando construir a narrativa. o tema, quais as problemáticas serão abordadas na exposição,
quem são os interlocutores, o que eles já sabem sobre o tema,
A pesquisa foi realizada com um grupo de 24 pré- quais as conclusões as quais deve-se chegar.
adolescentes subdividido em duplas. Das 12 duplas formadas, O estudo do conteúdo a ser exposto também deve ser alvo
8 foram submetidas a uma sequência didática na qual foram de discussão. Os alunos devem procurar diversas fontes e
abordados alguns aspectos do gênero a ser trabalhado, além utilizar, caso necessário, de gráficos, tabelas, enfim, do
das instruções acerca do texto a ser produzido. As outras 4 repertório de fontes como apoio à exposição do tema.
duplas receberam somente as instruções para a realização do Após, passe-se à organização interna da exposição também
texto. Todas as duplas receberam um texto-base contendo o considerando sete fases: abertura, introdução ao tema,
início da história informando acerca do crime cometido e um apresentação do plano da exposição, desenvolvimento e
parágrafo final genérico no qual não aparecia o culpado do encadeamento dos temas, recapitulação e síntese, conclusão e
crime. A proposta consistia em completar a história. encerramento.
Dos resultados obtidos, verificou-se que, a maioria das
duplas realizou uma certa discussão acerca dos elementos 10 - Relato da elaboração de uma sequência: o debate
principais que devia conter um texto de enigma sendo que, público
grande parte deles foram dos que participaram da atividade Este capítulo do livro escrito por Joaquim Dolz, Bernard
didática que precedeu a elaboração do texto. Schneuwly e Jean-François de Pietro, relata uma sequência
Algumas conclusões ainda que iniciais, dado a amostra didática aplicada a uma situação de ensino do debate como
limitada que foi trabalhada na pesquisa, foram apresentadas: uma experiência prática de ensino de expressão oral, na escola.
1. A observação dos alunos durante o processo de
elaboração de um texto permite estudar as atividades O debate foi escolhido como objeto de ensino porque
metalinguísticas por eles desenvolvidas; permite desenvolver várias habilidades necessárias para a
2. O texto-base foi uma estratégia que colaborou para o vida em sociedade, tais como: capacidades linguísticas
desenvolvimento da proposta; (discurso, argumentação, retomada do discurso), cognitivas
3. Uma das noções discutidas pelos alunos e que, nas (crítica), social (ouvir e respeitar o outro) e individual (situar-
narrativas enigmáticas é de suma importância, é de culpado; se perante uma situação, tomar posição diante de um assunto,
4. A narrativa de enigma a ser elaborada possibilitou o construir sua própria identidade).
surgimento de problemas relacionados com esse gênero Os autores apresentam três tipos de debate que se pode
linguístico. Além disso, a elaboração da intriga, elemento trabalhar:
central desse gênero literário, precisa de um trabalho 1.de opiniões: aqui as crianças são levadas a colocar sua
sistemático que alavanque, nos alunos, a discussão sobre essa opinião e justificá-la a respeito de um tema sem, contudo, seja
questão; necessário chegar a uma conclusão;
5. Dividir a classe em dois grupos – um que foi alvo de um 2. deliberativo: aqui o que direciona o debate e a
trabalho didático e outro que não – possibilitou verificar o argumentação é a necessidade de se tomar uma decisão;
papel da intervenção didática na produção dos textos; 3.para resolução de problemas: a discussão do problema e
6. Nas discussões das duplas para definição das estratégias suas possíveis soluções é o centro do trabalho.
para elaboração do texto foram muito mais ricas do que o texto Após a definição do tipo de debate a ser estudado, parte-se
produzido por eles. Este não continha várias das questões para a escolha do tema que deve levar em conta: os interesses
levantadas e decididas pela dupla; dos alunos, a complexidade e saberes dos alunos sobre o tema,
7. Didaticamente, é necessário intervenção para a a relevância social, capacidade didática.
produção das narrativas em três dimensões: processo de

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Enfim, chega-se à questão das formas de se tratar o Capítulo 1 - A representação da linguagem e o processo
conteúdo do debate. Nessa fase, sugere-se que sejam de alfabetização
trabalhados temas cujos argumentos podem ser buscados no
conteúdo das disciplinas que estão sendo desenvolvidos e Ferreiro destaca que, tradicionalmente, a alfabetização é
buscar outras fontes, preferencialmente orais, de aumentar o considerada em função da relação entre o método utilizado e o
repertório dos alunos acerca do assunto. Deve-se atentar, estado de 'maturidade' ou de 'prontidão' da criança. Os dois
também, para questões de ordem prática que envolvem o polos do processo de aprendizagem - quem ensina e quem
ensino da oralidade na escola: duração da sequência didática e aprende - têm sido considerados sem levar em consideração o
de seu conteúdo em função do nível de desenvolvimento que terceiro elemento da relação que é a natureza do objeto de
os alunos estão; inserir, no projeto de classe, trabalhos com conhecimento envolvendo esta aprendizagem. A partir desta
oralidade; buscar formas para registrar esses trabalhos constatação, a autora aborda de que maneira este objeto de
(gravação: só da fala ou com imagens); proporcionar aos conhecimento intervém no processo utilizando uma relação
alunos contato com modelos de expressões orais de caráter tríade: de um lado, o sistema de representação alfabética da
público formal. linguagem com suas características específicas: por outro lado
No ensino das expressões orais, na escola, o papel do as concepções de quem aprende (crianças) e as concepções
professor é primordial visto que, ao mesmo tempo, ele precisa dos que ensinam (professores), sobre este objeto de
gerenciar duas dimensões articuladamente: criar uma conhecimento.
situação de comunicação motivadora e enriquecedora e
desenvolver, nos alunos, suas capacidades argumentativas. Ao 1. A Escrita como Sistema de Representação. A escrita pode
longo e ao final do processo é necessário, ainda, que o ser considerada como uma representação da linguagem ou
professor avalie tanto seu próprio trabalho como gestor do como um código de transcrição gráfica das unidades sonoras.
ensino bem como os trabalhos realizados pelos alunos que A autora destaca que a invenção da escrita foi um processo
expressam o grau de desenvolvimento por eles alcançado. histórico de construção de um sistema de representação e não
um sistema de codificação. Dessa forma, se considerarmos o
sistema de representação do número e o sistema de
FERREIRO, Emília. Reflexões representação da linguagem, no início da escolarização, as
dificuldades que as crianças enfrentam são dificuldades
sobre a alfabetização. São conceituais semelhantes às da construção do sistema e por
Paulo: Cortez, 2000; isso pode-se afirmar que, em ambos os casos, a criança
reinventa esses sistemas, ou seja, para poderem se servir
desses elementos como elementos de um sistema, as crianças
Telma Weisz, ao escrever o prefácio do livro de Emília devem compreender seu processo de construção e suas regras
Ferreiro, afirma que o mesmo não traz para o leitor nenhum de produção, o que coloca o problema epistemológico
novo método, nem novos testes, nada que se pareça com uma fundamental: qual é a natureza da relação entre o real e a sua
solução pronta. Porém, a autora (Ferreiro) oferece ideias a representação. A partir dos trabalhos de Saussure já
partir das quais é possível repensar a prática escolar da concebemos o signo linguístico como a união indissolúvel de
alfabetização, por meio dos resultados obtidos em suas um significante com um significado. É o caráter bifásico do
pesquisas científicas. signo linguístico, a natureza complexa que ele tem e a relação
Emília Ferreiro, Doutora pela universidade de Genebra, de referencia o que está em jogo. As escritas do tipo alfabético,
teve o privilégio de ter sido orientanda e colaboradora de Jean e mesmo as silábicas, poderiam ser caracterizadas como
Piaget. Ferreiro realizou suas pesquisas sobre alfabetização, sistemas de representação cujo intuito é representar as
principalmente, na Argentina, país onde nasceu e também no diferenças entre os significantes; enquanto que as escritas do
México. Anteriormente às pesquisas de Ferreiro, a crença tipo ideográfico poderiam representar diferenças nos
implícita quanto à questão de alfabetização era de que tal significados. Se concebermos a escrita como um código de
processo começava e acabava na sala de aula e que a aplicação transcrição do sonoro para o gráfico privilegiando-se o
do método correto garantia ao professor o controle do significante (grafia) dissociado do significado, destruímos o
processo de alfabetização dos alunos. Na medida em que um signo linguístico por privilegiamos a técnica e a mecanização.
número maior de alunos passou a ter acesso a educação, Se concebermos aprendera língua escrita como a
ampliou-se também o número do fracasso escolar. Na ausência compreensão da construção de um sistema de representação
de instrumentos para repensar a prática falida e os fracassos em que a grafia das palavras e seu significado estão associados,
escolares, passou-se a buscar os culpados: os alunos, a escola (apropriação de um novo objeto de conhecimento) estaremos
e os professores. Tal momento promoveu uma revolução realizando uma aprendizagem conceitual.
conceitual, principalmente no que se refere à alfabetização. As
pesquisas de Ferreiro e de seus colaboradores romperam o 2 - As concepções das crianças a respeito do sistema de
imobilismo lamuriento e acusatório, impulsionando um escrita. A criança realiza explorações para compreender a
esforço coletivo na busca novos caminhos para que o educador natureza da escrita e isto pode ser observado através das suas
rompa o circulo vicioso da reprodução do analfabetismo. produções espontâneas, que são valiosos documentos que
precisam ser interpretados para poder ser avaliados. As
Apresentação (Por Emília Ferreiro) escritas infantis têm sido consideradas como garatujas e 'puro
jogo'. Aprender a lê-las, ou seja, interpretá-las é um
Ferreiro afirma que o livro apresenta quatro trabalhos aprendizado que requer uma atitude teórica definida. Nas
produzidos em momentos diferentes, porém dentro da mesma práticas escolares tradicionais, há uma concepção de que a
linha de preocupação que é o de contribuir para uma reflexão criança só aprende quando submetida a um ensino repetitivo.
sobre a intervenção educativa alfabetizadora, a partir de novos No entanto, elas ignoram que devem pedir permissão para
dados oriundos das investigações sobre a psicogênese da começar a aprender. Saber algo a respeito de certo objeto não
escrita na criança. Suas investigações evidenciam que o significa saber algo socialmente aceito como 'conhecimento'.
processo de alfabetização nada tem de mecânico, do ponto de 'Saber' significa ter construído alguma concepção que explica
vista da criança que aprende. Destaca que a criança certo conjunto de fenômenos ou de objetos da realidade.
desempenha um papel ativo na busca da compreensão desse Ferreiro, analisando as produções espontâneas das crianças,
objeto social, complexo, que é a escrita. através de suas pesquisas confirmou que as mesmas possuem

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hipótese / ideias / teorias sobre a escrita, apresentando uma diferentes experiências com profissionais de ensino aparecem
evolução psicogenética. As primeiras escritas infantis três dificuldades conceituais iniciais que necessitam ser
aparecem, do ponto de vista gráfico, como linhas onduladas ou esclarecidas:
quebradas, contínuas ou fragmentadas, ou como uma série de a) a visão adultocêntrica (adulto já alfabetizado);
elementos discretos repetidos. A aparência gráfica não é b) confusão entre escrever e desenhar letras;
garantia de escrita, a menos que se conheçam as condições de c) e a redução do conhecimento do leitor ao conhecimento
produção. No referencial tradicional, as professoras prestam das letras e seu valor convencional.
atenção nos aspectos gráficos das produções das crianças,
ignorando os aspectos construtivos. Do ponto de vista Esclarecendo essas dificuldades iniciais, é possível realizar
construtivo, a escrita infantil segue uma linha de evolução a análise das concepções sobre a língua escrita subjacentes a
surpreendentemente regular e podem ser distinguidos três algumas dessas práticas:
grandes períodos no interior dos quais cabem múltiplas a) As polêmicas sobre a ordem em que devam ser
subdivisões. Para executar suas ideias (em seus escritos) a introduzidas as atividades de leitura e as de escrita.
criança: b) Decisões metodológicas: a forma de se apresentar as
letras individuais bem como a ordem de apresentação de
a) faz distinção entre a modo de representação icônico letras e de palavras, o que implica uma sequência do “fácil" ou
(figurativo) e não icônico (não-figurativo). "difícil".
b) constrói formas de diferenciação; faz diferenciação
intrafigural que consistem no estabelecimento de A autora descreve as experiências pedagógicas realizadas
propriedades que um texto deve possuir para poder ser por Ana Teberosky, em Barcelona, baseada em três ideias
interpretável. Os critérios intrafigurais se expressam sobre o simples, porém fundamentais:
eixo quantitativo (mínimo de três letras) e sobre o eixo a) Deixar entrar e sair para buscar informação extraescolar
qualitativo (variação de caracteres); faz a diferenciação disponível, com todas as consequências disso;
interfigurais que é a criação de modos sistemáticos de b) O professor não é mais o único que sabe ler e escrever
diferenciação entre uma escrita e a seguinte, para garantir a na sala de aula; todos podem ler e escrever, cada um ao seu
diferença de interpretação que será atribuída, nível;
c) desvela a fonetização da escrita (descobre a relação som c) As crianças não alfabetizadas contribuem na própria
/ grafia), começa com o período silábico e culmina no período alfabetização e na dos companheiros quando a discussão a
alfabético. Ferreiro, analisando a evolução da escrita infantil respeito da representação escrita de linguagem se torna
reconhece quatro períodos, que denomina como: período pré- prática escolar.
silábico, período silábico, período silábico-alfabético e período
alfabético. Conclusão

Período Pré-Silábico: As crianças escrevem sem É importante ter claro que as mudanças necessárias para
estabelecer qualquer correspondência entre a pauta sonora da enfrentar sobre bases novas a alfabetização integral não se
palavra e a representação escrita. Escreve coisas diferentes resolvem com um novo método de ensino; nem com novos
apesar da identidade objetiva das escritas e relaciona a escrita testes de prontidão; nem com novos materiais didáticos.
com o objetivo referente (Ex. coloca mais letras na palavra Segundo Ferreiro, é preciso mudar os pontos por onde nós
"elefante” do que na palavra borboleta - Realismo Nominal). fazemos passar o eixo central das nossas discussões. Para ela,
temos uma imagem empobrecida da língua escrita e uma
Capítulo 2 - As concepções sobre a língua subjacente à imagem empobrecida de criança que aprende, um novo
prática docente método não resolve os problemas. É preciso reanalisar as
práticas de introdução da língua escrita. Ferreiro acredita ter
As discussões sobre a prática alfabetizadora têm se chegado a momento de se fazer uma revolução conceitual a
centrado sobre os métodos utilizados: analíticos versus respeito da alfabetização.
sintéticos; fonético versus global, etc. Nenhuma dessas
discussões levou em conta as concepções das crianças sobre o Capítulo 3 - A compreensão do sistema de escrita:
sistema de escrita. A nossa compreensão dos problemas, tal construções originais da criança e informação específica
como as crianças os colocam e da sequência de soluções que dos adultos
elas consideram aceitáveis, é, sem dúvida, essencial para um
tipo de intervenção adequada á natureza do processo real da Escrito por Emília Ferreiro e Ana Teberosky. A leitura e a
aprendizagem. Reduzir esta intervenção ao método utilizado é escrita, há muito são consideradas como objeto de uma
limitar nossa indagação. É útil se perguntar por meio de que instrução sistemática e cuja aprendizagem, suporia o exercício
tipos de práticas a criança é introduzida na linguagem escrita de uma série de habilidades específicas. Muitos trabalhos de
e como se apresenta este objetivo no contexto escolar? psicólogos e educadores têm se orientado neste sentido. As
Há práticas que levam as crianças a supor que o autoras realizaram pesquisas sobre os processos de
conhecimento é algo que os outros possuem e que só pode compreensão da linguagem escrita e abandonaram estas
obter da boca dos outros, sem participar dessa construção; há ideias, pois, para elas, as atividades de interpretação e de
práticas que levam a pensar que "o que existe para se produção da escrita começam antes da escolarização como
conhecer" é um conjunto, estabelecido de coisas, fechado, parte da atividade da idade pré-escolar. Essa aprendizagem se
sagrado, imutável e não modificável. Há práticas que levam a insere em um sistema de concepções previamente elaboradas
criança a ficar de "fora" do conhecimento, como espectador ou e não pode ser reduzida a um conjunto de técnicas perceptivo-
receptor mecânico, sem nunca encontrar respostas aos motoras. A escrita não é um produto escolar, mas sim um
porquês. Nenhuma prática pedagógica é neutra e estão objeto cultural que cumpre diversas funções e tem meios
apoiadas nas concepções do processo ensino e aprendizagem, concretos de existência especialmente nas concentrações
bem como o objeto dessa aprendizagem. São essas práticas e urbanas.
não os métodos, que têm efeitos no domínio da língua escrita
ou em outros conhecimentos. 1. Construções Originais das Crianças. Por meio de
A reflexão psicopedagógica necessita se apoiar em uma diferentes situações experimentais, as autoras obtiveram
reflexão epistemológica. A autora destaca que das suas dentre os resultados o seguinte:

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- aproximadamente aos quatro anos, as crianças possuem permita processos de interferência acerca das propriedades
sólidos critérios para admitir que uma marca gráfica possa ou não-observáveis de um determinado objeto e a construção de
não ser lida; novos observáveis, na base do que se antecipou e do que foi
- o primeiro critério é a de fazer uma dicotomia entre o verificado. O propósito de controlar o processo de
"figurativo", por um lado, e o "não-figurativo", pelo outro aprendizagem supõe que os procedimentos de ensino
(icônico e não-icônico). Surge o critério de "quantidade" determinam os passos na progressão da aprendizagem.
mínima de caracteres: ambos são construções próprias das Ferreiro adverte que os estudos de Piaget nos obrigaram a
crianças. reconhecer a importância de considerar os processos da
criança no desenvolvimento cognitivo, obrigando-nos a
2. Informações Específicas. No desenvolvimento da abandonar o ponto de vista do adultocentrismo. A pesquisa de
linguagem existe uma série de concepções que não podem ser Ferreiro, além da análise qualitativa, apresenta dados
atribuídas a uma influência direta do meio, (a escrita em sua quantitativos procurando evidenciar que não se está referindo
existência material). São concepções acerca das propriedades a uma minoria de crianças.
estruturais e do modo de funcionamento de certo objeto. Ao
contrário, existem conhecimentos específicos sobre a Projeto de Pesquisa na Diretoria Geral de Educação
linguagem escrita que só podem ser adquiridos por meio de Espacial-Ministério de Educação do México - 1980-1982.
outros (leitores adultos ou crianças maiores). A criança que
cresce em meio "letrado" está exposta a interações, se vê Objetivo Principal Prático - conhecer e descrever o
continuamente envolvida, como agente e observador no processo de aprendizagem que ocorre nas crianças antes de
mundo "letrado". Os adultos lhes dão a possibilidade de serem rotuladas como "crianças que fracassam".
comportar-se como leitor, antes de sê-lo, aprendendo Objetivo Teórico - saber se as crianças que ingressam no
precocemente o essencial das práticas sociais ligadas à escrita. 1°. Grau em níveis pré-alfabéticos de concepção
leitura/escrita, seguirão com a mesma progressão evidenciada
3. Algumas Implicações Pedagógicas. A dimensão das por outras crianças antes de entrarem para a escola, a despeito
questões pode suscitar de imediato uma pergunta: se a do fato dos métodos e procedimentos de ensino procurarem
compreensão da escrita começa a se desenvolver antes de ser conduzi-los diretamente ao sistema alfabético da escrita.
ensinada, qual é o papel, principalmente dos professores no População Alvo - (crianças repetentes ou evadidas) de três
que tange à aprendizagem? E a escola? A transformação desta cidades (México - centro, Monterrey – norte e Mérida - sul) -
prática é difícil, mas a Escola pode cumprir um papel 71 escolas - índice maior de "fracassos" e 159 classes de 1ª
importante e insubstituível, ajudando as crianças, série que entravam pela primeira vez na escola.
especialmente as filhas de pais analfabetos ou Amostra - 959 crianças, entrevistadas a cada dois meses e
semianalfabetos. O professor é quem pode minorar esta meio; finalizou-se o trabalho com 886 dessas mesmas crianças.
carência, adaptando o seu ponto de vista ao da criança. Alguns Testagem - foram propostas quatro palavras dentro de um
aspectos sobre os quais os professores deveriam estar atentos: dado campo semântico (nome de animais ou de alimentos)
a) Se a escrita remete de maneira óbvia e natural à com variação sistemática no número de sílabas (de 1 a 4
linguagem, estaremos supervalorizando as capacidades da sílabas).
criança que pode estar longe de ter descoberta sua natureza Eventos - 80% de crianças começaram o ano pré-silábicas;
fonética. 13 crianças nível alfabético e 11 crianças não terminaram a
b) Em contrapartida, poderíamos menosprezar seus testagem.
conhecimentos ao trabalhar exclusivamente com base na
escrita, como cópia e sonorização dos grafemas. Os totais finais - de 862 crianças e 3.448 entrevistas.
c) Não desvalorizar seus esforços para compreender as leis
do sistema tratando suas produções como rabiscos. Padrões Evolutivos - Ao longo do ano escolar:
d) Avaliar tendo em vista os processos e intenções e não - 33% passam de um nível de conceitualização sem omitir
apenas como certo ou errado, do ponto de vista ortográfico. passo.
e) Ênfase na produção de traçado reduz a escrita a um - 38% seguiram passos semelhantes, porém omitindo o
objeto 'em si', de natureza exclusivamente gráfica. nível silábico-alfabético.
f) Os problemas que a criança enfrenta em sua evolução - 13% não mostraram qualquer progressão de um nível ao
não estão sujeitos á qualificativos em termos de "simples" ou seguinte e nenhuma permaneceu no silábico-alfabético.
"complexos". São os problemas que ela pode resolver de forma - (25) crianças que entraram no nível silábico-alfabético
coerente e não aleatória. não tiveram problemas.
g) Finalmente, se só nos dirigirmos às crianças que - 16% passaram do pré-silábico ao alfabético (cumprem as
compartilhem alguns de nossos conhecimentos deixaremos expectativas da escola).
dei lado uma grande parte da população infantil estacionada - 71% passaram por outros tipos de escrita.
em níveis anteriores a esta evolução condenando-a ao - 52% passaram pelo silábico (451 crianças).
fracasso. - 87% ingressaram ao nível silábico e chegaram ao
alfabético.
5. Processos de Aquisição da Língua Escrita no Contexto
Escolar. Estamos acostumados a considerar a aprendizagem De outra parte, as crianças que ingressaram no pré-silábico
da leitura e da escrita como um processo de aprendizagem (708) não chegaram ao alfabético na mesma proporção.
escolar (controle sistemático), que há grande dificuldade em - 55,5% (das 393) chegaram ao alfabético.
considerar que o desenvolvimento da leitura / escrita - 14,5% (103) chegaram ao silábico-alfabético.
acontece antes da escolarização. As crianças ignoram este - 15% (107) chegaram ao nível silábico.
controle e desde que nascem estão construindo objetos - 14,8% (105) permaneceram ao longo do processo sem
complexos de conhecimento e o sistema de escrita é um deles. com¬preender a relação escrita na pauta sonora das emissões.
A construção de um objeto de conhecimento é muito mais que
uma coleção de informações. Implica a construção de um Conclusão: A partir dos dados, observa-se que só as
esquema conceitual, que permite interpretar dados prévios e crianças de nível silábico ou silábico-alfabético apresentam-se
novos dados, isto é, que possa receber informação e "maduras" para ingressar no 1° grau. Isto significaria deixar
transformá-la em conhecimentos; um esquema conceitual que

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80% das crianças fora da escola sendo que são as que mais precisamos ser capazes de nos expressar em diversas
necessitam de escolarização. linguagens, de compreender fenômenos em diferentes
contextos, de argumentar de modo consistente, de enfrentar
Capítulo 4 - Deve-se ou não se deve ensinar a ler e situações-problema em variados contextos, entre outras
escrever na pré-escola? Um problema mal colocado. competências primárias. Uma ideia, no entanto, permanece
invariante: à escola compete ensinar a escrever. Como lidar,
A polêmica sobre a idade ótima para o acesso à língua então, com a ambiguidade sugerida no título da presente obra?
escrita ocupou milhares de páginas escritas por vários Afinal, a escola ensina ou não ensina a escrever? Eis aí a
pesquisadores. O problema sempre foi colocado tendo por questão norteadora do denso trabalho com que a autora nos
pressuposto serem os adultos que decidem quando essa brinda no texto a seguir.
aprendizagem deverá ou não ser iniciada. Para Ferreiro, a O ponto de partida da reflexão é o significado profundo do
função da pré-escola deveria ser de permitir às crianças que ensino e da aprendizagem da escrita. Somos levados a ler e
não tiveram convivência com a escrita, informações básicas escrever, mas o texto é apenas o primeiro outro diante de nós
sobre ela, em situações de uso social (não meramente escolar). a demandar uma compreensão; dele, partimos para a leitura
Para tanto é necessária imaginação pedagógica para dar às de fenômenos em sentido mais amplo, ou à compreensão de
crianças oportunidades ricas e variadas de interagir com a outros “outros”. Na feliz expressão da lavra de Paulo Freire, da
linguagem escrita: leitura stricto senso, partimos para a leitura do mundo; tarefa
- Formação psicológica para compreender as respostas e complexa e desafiadora, sem dúvida, mas valiosa e ingente.
as perguntas das crianças. Na problematização das questões enfrentadas no ensino
- Entender que a aprendizagem da linguagem escrita é da escrita, tendo por base a fecunda atividade docente da
muito mais que a aprendizagem de um código de transcrição e autora, em diversos níveis de ensino, múltiplos descaminhos
sim a construção de sistema de representação. são identificados e caracterizados. Práticas escolares
excludentes ou ineficientes, bem como dinâmicas equivocadas,
são apontadas e analisadas. Estratégias dos aprendizes
COLELLO, S.M.G. A escola reveladoras de egocentrismo, de preenchimento “burocrático”
de espaços, de um dizer-não-dizendo, de um não-dizer-
que (não) ensina a escrever. dizendo são examinadas por meio de exemplos extremamente
São Paulo: Editora Paz e ricos, expressivos de uma realidade educacional viva, tanto no
Terra, 2012; ensino público quanto no privado.
Em sintonia com o que acima se registrou, merece especial
destaque o fato de que a autora produziu um texto crítico,
analítico, mas assertivo, propositivo. As questões discutidas
Com o objetivo de favorecer a revisão dos conceitos e
vão das mazelas da ação ingênua ou incipiente à consciência
práticas do ensino da língua escrita, a obra procura analisar
dos meios de produção da escrita; dos artifícios a que os alunos
tendências pedagógicas (concepções, atividades e dinâmicas
recorrem para se desincumbir das tarefas escolares ao
em sala de aula) que, por força da tradição e de tantos outros
vislumbre das sementes da criação efetiva. Ela jamais assume
condicionantes relativos à educação no Brasil, concretizam-se
o papel de franco-atiradora, não instilando a desconfiança nas
na escola de modo reducionista e ineficiente. Enfoca também
ações docentes, nem destilando críticas inconsequentes.
os resultados dessa prática na produção dos textos infantis,
Considera que, mais importante do que apenas apontar o joio
constatando que, até mesmo nos casos de garantidos o acesso
e o trigo, é fundamental semear expectativas de superação dos
e a permanência na escola, a aprendizagem da escrita não
problemas assinalados. Assim, após dar nomes aos
necessariamente resulta no ajustamento da expressão nem no
bois/desvios, a análise das tendências contemporâneas na
desenvolvimento da imaginação ou mesmo de inserção do
produção da escrita, com suas seduções e suas armadilhas,
aluno no universo letrado. Procurando evidenciar os vários
conduz a uma visão positiva dos caminhos a ser trilhados, em
fatores envolvidos na aquisição da escrita, discute casos de não
busca de uma escola que efetivamente ensine a escrever.
aprendizagem, um fenômeno tão comum quanto mal
Um dos pontos altos da reflexão realizada é a análise do
compreendido pelos professores. Finalmente, aponta
papel do desenho como forma básica de representação
alternativas para uma escola que possa, efetivamente,
infantil, concomitante, e, às vezes, anterior à escrita. Analisa o
enfrentar o desafio de ensinar a ler e a escrever.
papel das imagens na produção textual e o modo como tal
relação evolui ao longo dos anos de escolaridade. Descartando
Uma crítica que não se esgote em si, mas que, ao
ideias superficiais que limitam o papel do desenho ao de um
fundamentar o trabalho docente, subsidie a transformação do
complemento estético do texto, a autora esboça uma
ensino. Afinal, compreender as falhas didáticas e as tendências
articulação digna de nota entre textos verbais e pictóricos,
pedagógicas viciadas é o caminho para a constituição de um
indo muito além do tratamento do desenho como algo fechado
sujeito ‘senhor de sua própria palavra’ no contexto de uma
em si mesmo. Apenas por essa elaboração teórica o trabalho já
escola que efetivamente ensine a escrever.
mereceria os maiores elogios.
Outro ponto digno de nota é o equilíbrio entre os aspectos
Aprendemos a falar bem antes de chegarmos à escola. A
lúdicos e os que pressupõem um trabalho duro, uma dedicação
oralidade nos provê de um primeiro mapa de significações –
intensa; entre a valorização do contexto, do fato, do que já está
um protomapa – para representar o mundo. Em geral, à escola
feito, e a exploração da fantasia, do ficto, do idealizado ou
cabe a tarefa de nos alfabetizar, de nos iniciar no ensino da
imaginado. Não é possível semear a competência na escrita
escrita. Estudamos várias disciplinas, mas, como já diziam
com base apenas em relatórios técnicos, ou em fatos objetivos:
nossos avós, a escola deve nos ensinar a ler, escrever e contar.
trata-se, literalmente, do desvio do fatalismo. Também nesse
Há muito, tal visão sintética das funções da escola deixou
terreno a autora logra um equilíbrio admirável entre o elogio
de ser suficiente para descrever as competências que devemos
da imaginação, da transcendência das circunstâncias
desenvolver. Antigamente, ser analfabeto era não saber se
imediatas, e a valorização da clareza, da objetividade, do dizer-
expressar por escrito; hoje, podem ser caracterizados diversos
dizendo.
tipos de analfabetismo: na língua, nas ciências, nas tecnologias
De modo geral, ao longo de todo o texto, a autora se esmera
informáticas etc. O elenco de competências pessoais a ser
na busca do equilíbrio nas análises e na valorização dos
desenvolvido ampliou-se de forma significativa. Além de ler,
aspectos metodológicos e filosóficos das ações que projeta ou
escrever e compreender um texto na língua materna,

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examina. O material apresentado não constitui um livro de conformidade aos modelos instituídos, que não
metodologia da alfabetização ou da escrita em sentido estrito, necessariamente exprimem a voz do sujeito (a pluralidade de
ainda que esteja recheado de observações preciosas nesse suas intenções, valores, impressões e sentimentos). A palavra
terreno. Assim como um sistema do tipo GPS é um auxílio escrita instala-se como um conhecimento técnico-
importante para quem sabe aonde quer ir, mas em nada ajuda instrumental que contraria a natureza da linguagem e a
quando não sabemos em qual lugar queremos chegar, os dialogia das relações sociais.
recursos metodológicos apenas assumem funções Os textos aqui reunidos têm o objetivo de rever a escrita na
importantes quando as questões cruciais de fins e de valores sua multifuncionalidade e multidimensionalidade. Ao
estão devidamente esclarecidas. considerar as diversas razões do escrever e as diferentes
A despeito da riqueza dos insights filosóficos ou formas de fazê-lo, pretendo chamar a atenção para a
psicológicos, que estão presentes ao longo de todo o texto, complexidade de fatores inerentes à construção da escrita e
também não estamos diante de um livro de filosofia ou de para a importância de práticas pedagógicas que, mais do que
psicologia, uma vez que os olhares estão permanentemente ensinar ou instruir, possam resgatar, no âmbito do
voltados para o chão da fábrica, ou seja, para a sala de aula. Os desenvolvimento, os princípios de humanização do sujeito
inúmeros exemplos comentados que ilustram a exposição, da aprendiz.
primeira à última página, favorecem a notável alimentação Combatendo a epistemologia do “saber doado” e do
mútua conseguida pela autora entre as perspectivas “conhecimento útil e necessariamente produtivo”, entendo a
metodológica e de fundamentação teórica das ações docentes educação como um meio de promover práticas simbólicas de
no processo de alfabetização. sutura entre o homem e o mundo. Uma vez construídas as
As características do trabalho o direcionam, portanto, aos “pontes” por meio da interlocução e do acesso à cultura,
educadores efetivamente comprometidos com as tarefas tornam-se possíveis novas formas de se situar perante a vida,
docentes, que refletem sobre suas práticas, mas que buscam assim como de estimular que se crie outros mecanismos em
extrair de suas reflexões elementos para a instrumentação organização social, capazes de respeitar a diversidade e a
efetiva da ação docente, estabelecendo pontes consistentes identidade em cada um.
entre as concepções teóricas e o ato de ensinar. No âmbito da problemática enfocada e em estreita sintonia
Na parte final do texto, a autora procura amealhar com os pressupostos aqui assumidos, os textos que compõem
elementos para fundamentar novas práticas e esboçar o presente trabalho foram escritos em diferentes momentos.
caminhos alternativos para a constituição de uma escola que Alguns, publicados em anais de congressos, permaneceram
ensine a escrever. Resistindo ao fascínio e à facilidade da relativamente limitados a um público restrito; outros,
denúncia, não joga os problemas apontados no colo do leitor dispersos em revistas científicas, nem sempre estiveram
apenas, articulando ideias e propostas de ação. A leitura não acessíveis em língua portuguesa; e alguns, ainda inéditos,
deixa na boca, em nenhum momento, o gosto amargo da aguardavam a oportunidade para ser formalmente
desilusão. Demonstra com clareza o profundo compromisso apresentados. Esta obra vem a público com o objetivo de
profissional com a Educação da autora que, continuamente, ao organizar essa produção, viabilizando uma abordagem que
longo do texto, sugere, inspira, anima, instrumenta, instiga, possa contribuir para a sempre oportuna temática do ensino
aponta, semeia, acredita... da língua escrita.
Nunca será demasiado o destaque ao fato, já registrado A fim de garantir a unidade e a coerência interna de cada
antes, de que a autora impulsiona o leitor para além do capítulo, optou-se pela apresentação deles o mais próximo
diagnóstico dos problemas apresentados. Sua maturidade possível das publicações originais, mesmo correndo o risco (e
profissional e sua consciência crítica a imunizaram do desvio agora assumindo a responsabilidade) de repetir alguns
que consiste na mera denúncia dos desvios. Afinal, como argumentos, assim como a explicitação de determinados
enfatizou Hannah Arendt em sua análise sobre a crise na referenciais teóricos. Contudo, talvez o demérito da repetição
Educação, não deveria ser pai ou educador aquele que não se possa ser compensado por uma abordagem que, tomada sob
dispusesse a assumir a responsabilidade pelo mundo. É óbvio diferentes perspectivas, permita uma abordagem mais ampla
que isso não significa conformar-se com aquilo que a realidade e profunda sobre o tema proposto. Embora os textos sejam
nos apresenta, mas qualquer possibilidade de transformação independentes entre si, o que possibilita diferentes opções na
passa necessariamente pelo desafio de assumir as ordem de leitura, eles se integram e se completam na defesa
responsabilidades inerentes às funções que ocupamos, pela da ideia de que é possível rever os princípios e práticas do
diligência em cuidar da parte que nos toca. ensino para garantir a efetiva apropriação da língua escrita.
Para tanto, importa não só considerar a contribuição teórica
Se a linguagem é a maior das invenções humanas, a escrita produzida nos últimos anos como também disponibilizar-se a
é a maior conquista da civilização, motivo pelo qual ela marca aprender com os nossos alunos: suas perspectivas, suas
o início da história da humanidade. Graças às suas dificuldades e seus modos de produção.
características, a escrita promove uma ruptura com o espaço Os capítulos foram organizados em quatro partes que
(interlocução a distância), com o tempo (permanência do texto correspondem a diferentes focos de abordagem. A primeira
como portador autônomo) e com as exigências dialógicas considera objetivamente a alfabetização no que diz respeito às
primárias da interlocução (intercâmbio na ausência do outro), metas educativas, aos eixos de operação cognitiva no processo
ampliando indiscutivelmente os limites da existência humana. de aprendizagem e às frentes de trabalho pedagógico. A
A alfabetização não garante, contudo, o ingresso diferenciado segunda problematiza as diretrizes e as práticas do ensino da
em nosso mundo. As competências para ler e escrever, em língua escrita. A terceira analisa os efeitos de uma pedagogia
nossa sociedade, são fatores tão necessários quanto mal reducionista sobre a produção da escrita. Para finalizar, a
compreendidos, sobretudo pela influência dos parâmetros conclusão discute a possibilidade de uma escola que possa
reducionistas que explicam o mundo e contaminam a ensinar a escrever de modo efetivo.
educação. A Parte 1 (Capítulo 1) procura situar a língua e o trabalho
Pela vertente racionalista, a escrita coloca-se a serviço dos de alfabetização a ser desenvolvido na escola.
mesmos princípios que limitam a interpretação da Na Parte 2, os Capítulos 2 e 3 discutem o ensino da escrita
complexidade social. Como decorrência palpável dos sob uma abordagem teórica que pretende enfocar a
mecanismos que negam a diversidade, a personalização e a problemática vivida no contexto da escola. O Capítulo 4, em
autonomia do indivíduo em um mundo complexo, ela passa a uma retomada ainda teórica, explana de forma mais específica
ser regida pelo convite à reprodução e produtividade, pela a temática da não aprendizagem segundo os princípios da

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alfabetização: a quem, para que, o que e como se ensina a que declara o educador Paulo Freire Patrono da Educação
língua escrita. Os dois capítulos que se seguem (5 e 6), Brasileira.
redigidos com base em pesquisas de campo em escolas
públicas e privadas de São Paulo, permitem um confronto mais Palavras do Autor
direto do referencial teórico com a realidade escolar,
analisando, respectivamente, as práticas pedagógicas e as A questão da formação docente ao lado da reflexão sobre a
dinâmicas em sala de aula. prática educativo- progressiva em favor da autonomia do ser
Na Parte 3, o debate sobre o reducionismo do ensino é dos educandos é a temática central em torno de que gira este
complementado pela análise da escrita na perspectiva dos texto. Temática a que se incorpora a análise de saberes
processos e das produções dos alunos. O Capítulo 7 discute fundamentais àquela prática e aos quais espero que o leitor
casos de suposta dificuldade apoiados em diferentes critérios crítico acrescente alguns que me tenham escapado ou cuja
de análise. Os demais capítulos (8, 9, 10 e 11) caracterizam importância não tenha percebido.
algumas tendências na produção textual de crianças do ensino Devo esclarecer aos prováveis leitores e leitoras o
fundamental: o difícil acesso ao texto crítico e funcional, o seguinte: na medida mesma em que esta vem sendo uma
frágil voo da ficção, o declínio do imaginário e os mecanismos temática sempre presente às minhas preocupações de
de tendências relativas à produção textual são parte da minha educador, alguns dos aspectos aqui discutidos não têm sido
pesquisa de doutorado, realizada com base no estudo de 659 estranhos a análises feitas em livros meus anteriores. Não
redações infantis de uma escola pública de São Paulo. creio, porém, que a retomada de problemas entre um livro e
No conjunto dos capítulos aqui propostos, pretendo outro e no corpo de um mesmo livro enfade o leitor.
desvelar os mecanismos do aprisionamento linguístico Sobretudo quando a retomada do tema não é pura
inerentes ao ensino, deixando evidentes os seus efeitos sobre repetição do que já foi dito. No meu caso pessoal retomar um
a constituição do “escritor”. A constatação das falhas assunto ou tema tem que ver principalmente com a marca oral
pedagógicas e de seus resultados não será um discurso estéril de minha escrita. Mas tem que ver também com a relevância
se ela puder subsidiar a revisão de valores arraigados, de que o tema de que falo e a que volto tem no conjunto de objetos
princípios conservadores e de práticas tão reducionistas. a que direciono minha curiosidade. Tem que ver também com
Sem esquecer os parâmetros de interpretação da realidade a relação que certa matéria tem com outras que vêm
e as tendências sociais mais amplas que se refletem no ensino, emergindo no desenvolvimento de minha reflexão. É neste
não há como negar o papel e as práticas da principal agência sentido, por exemplo, que me aproximo de novo da questão da
de letramento, aquela que, formalmente, foi encarregada da inconclusão do ser humano, de sua inserção num permanente
transmissão do saber: a escola. No que diz respeito à escrita, é movimento de procura, que rediscuto a curiosidade ingênua e
ela que ensina e, com certeza, condiciona o seu uso em práticas a crítica, virando epistemológica.
mais ou menos restritivas. Até que ponto, ao ensinar a É nesse sentido que reinsisto em que formar é muito mais
escrever, não estamos limitando o uso da escrita e as do que puramente treinar o educando no desempenho de
possibilidades de comunicação? destrezas e por que não dizer também da quase obstinação
com que falo de meu interesse por tudo o que diz respeito aos
homens e às mulheres, assunto de que saio e a que volto com
FREIRE, Paulo. Pedagogia da o gosto de quem a ele se dá pela primeira vez. Daí a crítica
permanentemente presente em mim à malvadez neoliberal, ao
autonomia: saberes necessários cinismo de sua ideologia fatalista e a sua recusa inflexível ao
à prática educativa. São Paulo: sonho e à utopia.
Paz e Terra; Daí o tom de raiva, legítima raiva, que envolve o meu
discurso quando me refiro às injustiças a que são submetidos
os esfarrapados do mundo. Daí o meu nenhum interesse de,
não importa que ordem, assumir um ar de observador
AUTOR
imparcial, objetivo, seguro, dos fatos e dos acontecimentos. Em
tempo algum pude ser um observador “acizentadamente”
Paulo Freire foi um educador, pedagogista e filósofo
imparcial, o que, porém, jamais me afastou de uma posição
brasileiro. É considerado um dos pensadores mais notáveis na
rigorosamente ética. Quem observa o faz de um certo ponto de
história da Pedagogia mundial, tendo influenciado o
vista, o que não situa o observador em erro. O erro na verdade
movimento chamado pedagogia crítica. É também o Patrono
não é ter um certo ponto de vista, mas absolutizá-la e
da Educação Brasileira. Sua prática didática fundamentava-se
desconhecer que, mesmo do acerto de seu ponto de vista é
na crença de que o educando assimilaria o objeto de estudo
possível que a razão ética nem sempre esteja com ele.
fazendo uso de uma prática dialética com a realidade, em
O meu ponto de vista é o dos “condenados da Terra”, o dos
contraposição à por ele denominada educação bancária,
excluídos. Não aceito, porém, em nome de nada, ações
tecnicista e alienante: o educando criaria sua própria
terroristas, pois que delas resultam a morte de inocentes e a
educação, fazendo ele próprio o caminho, e não seguindo um
insegurança de seres humanos. O terrorismo nega o que venho
já previamente construído; libertando-se de chavões
chamando de ética universal do ser humano. Estou com os
alienantes, o educando seguiria e criaria o rumo do seu
árabes na luta por seus direitos mas não pude aceitar a
aprendizado. Destacou-se por seu trabalho na área da
malvadez do ato terrorista nas Olimpíadas de Munique.
educação popular, voltada tanto para a escolarização como
Gostaria, por outro lado, de sublinhar a nós mesmos,
para a formação da consciência política.
professores e professoras, a nossa responsabilidade ética no
Autor de Pedagogia do Oprimido, livro que propõe um
exercício de nossa tarefa docente. Sublinhar esta
método de alfabetização dialético, se diferenciou do
responsabilidade igualmente àquelas e àqueles que se acham
“vanguardismo” dos intelectuais de esquerda tradicionais e
em formação para exercê-la. Este pequeno livro se encontra
sempre defendeu o diálogo com as pessoas simples, não só
cortado ou permeado em sua totalidade pelo sentido da
como método, mas como um modo de ser realmente
necessária eticidade que conota expressivamente a natureza
democrático. Foi o brasileiro mais homenageado da história:
da prática educativa, enquanto prática formadora. Educadores
ganhou 41 títulos de Doutor Honoris Causa de universidades
e educandos não podemos, na verdade, escapar à rigorosidade
como Harvard, Cambridge e Oxford; e recebeu diversos
ética. Mas, é preciso deixar claro que a ética de que falo não é a
galardões como o prêmio da UNESCO de Educação para a Paz
em 1986. Em 13 de abril de 2012 foi sancionada a lei 12.612

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ética menor, restrita, do mercado, que se curva obediente aos Mas, faz parte igualmente desta luta pela eticidade recusar,
interesses do lucro. com segurança, as críticas que veem na defesa da ética,
Em nível internacional começa a aparecer uma tendência precisamente a expressão daquele moralismo criticado. Em
em acertar os reflexos cruciais da ‘nova ordem mundial’, como mim a defesa da ética jamais significou sua distorção ou
naturais e inevitáveis. Num encontro internacional de ONGs, negação.
um dos expositores afirmou estar ouvindo com certa Quando, porém, falo da ética universal do ser humano
frequência em países do Primeiro Mundo a ideia de que estou falando da ética enquanto marca da natureza humana,
crianças do Terceiro Mundo, acometidas por doenças como enquanto algo absolutamente indispensável à convivência
diarreia aguda, não deveriam ser salvas, pois tal recurso só humana. Ao fazê-lo estou advertido das possíveis críticas que,
prolongaria uma vida já destinada à miséria e ao sofrimento.” infiéis a meu pensamento, me apontarão como ingênuo e
Não falo, obviamente, desta ética. Falo, pelo contrário, da idealista. Na verdade, falo da ética universal do ser humano da
ética universal do ser humano. Da ética que condena o cinismo mesma forma como falo de sua vocação ontológica para o ser
do discurso citado acima, que condena a exploração da força mais, como falo de sua natureza constituindo-se social e
de trabalho do ser humano, que condena acusar por ouvir historicamente não como um “a priori” da História. A natureza
dizer, afirmar que alguém falou A sabendo que foi dito B, que a ontologia cuida se gesta socialmente na História.
falsear a verdade, iludir o incauto, golpear o fraco e indefeso, É uma natureza em processo de estar sendo com algumas
soterrar o sonho e a utopia, prometer sabendo que não conotações fundamentais sem as quais não teria sido possível
cumprirá a promessa, testemunhar mentirosamente, falar mal reconhecer a própria presença humana no mundo como algo
dos outros pelo gosto de falar mal. A ética de que falo é a que original e singular. Quer dizer, mais do que um ser no mundo,
se sabe traída e negada nos comportamentos grosseiramente o ser humano se tornou uma Presença no mundo, com o
imorais como na perversão hipócrita da pureza em mundo e com os outros. Presença que, reconhecendo a outra
puritanismo. A ética de que falo é a que se sabe afrontada na presença como um “não- eu” se reconhece como “si própria”.
manifestação discriminatória de raça, de gênero, de classe. Presença que se pensa a si mesma, que se sabe presença, que
É por esta ética inseparável da prática educativa, não intervém, que transforma, que fala do que faz mas também do
importa se trabalhamos com crianças, jovens ou com adultos, que sonha, que constata, compara, avalia, valora, que decide,
que devemos lutar. E a melhor maneira de por ela lutar é vivê- que rompe. E é no domínio da decisão, da avaliação, da
la em nossa prática, é testemunhá-la, vivaz, aos educandos em liberdade, da ruptura, da opção, que se instaura a necessidade
nossas relações com eles. Na maneira como lidamos com os da ética e se impõe a responsabilidade. A ética se torna
conteúdos que ensinamos, no modo como citamos autores de inevitável e sua transgressão possível é um desvalor, jamais
cuja obra discordamos ou com cuja obra concordamos. Não uma virtude.
podemos basear nossa crítica a um autor na leitura feita por Na verdade, seria incompreensível se a consciência de
cima de uma ou outra de suas obras. Pior ainda, tendo lido minha presença no mundo não significasse já a
apenas a crítica de quem só leu a contracapa de um de seus impossibilidade de minha ausência na construção da própria
livros. presença. Como presença consciente no mundo não posso
Posso não aceitar a concepção pedagógica deste ou escapar à responsabilidade ética no meu mover- me no mundo.
daquela autora e devo inclusive expor aos alunos as razões por Se sou puro produto da determinação genética ou cultural ou
que me oponho a ela mas, o que não posso, na minha crítica, é de classe, sou irresponsável pelo que faço no mover-me no
mentir. É dizer inverdades em torno deles. O preparo científico mundo e se careço de responsabilidade não posso falar em
do professor ou da professora deve coincidir com sua retidão ética. Isto não significa negar os condicionamentos genéticos,
ética. É uma lástima qualquer descompasso entre aquela e culturais, sociais a que estamos submetidos. Significa
esta. Formação científica, correção ética, respeito aos outros, reconhecer que somos seres condicionados mas não
coerência, capacidade de viver e de aprender com o diferente, determinados. Reconhecer que a História é tempo de
não permitir que o nosso mal- estar pessoal ou a nossa possibilidade e não de determinismo, que o futuro, permita-se
antipatia com relação ao outro nos façam acusá-lo do que não me reiterar, é problemático e não inexorável.
fez são obrigações a cujo cumprimento devemos humilde mas Devo enfatizar também que este é um livro esperançoso,
perseverantemente nos dedicar. um livro otimista, mas não ingenuamente construído de
É não só interessante mas profundamente importante que otimismo falso e de esperança vã. As pessoas, porém, inclusive
os estudantes percebam as diferenças de compreensão dos de esquerda, para quem o futuro perdeu sua problematicidade
Faros, as posições às vezes antagônicas entre professores na – o futuro é um dado – dirão que ele é mais um devaneio de
apreciação dos problemas e no equacionamento de soluções. sonhador inveterado. Não tenho raiva de quem assim pensa.
Mas é fundamental que percebam o respeito e a lealdade com Lamento apenas sua posição: a de quem perdeu seu endereço
que um professor analisa e critica as posturas dos outros. na História.
De quando em vez, ao longo deste texto, volto a este tema. A ideologia fatalista, imobilizante, que anima o discurso
É que me acho absolutamente convencido da natureza ética da neoliberal anda solta no mundo. Com ares de pós-
prática educativa, enquanto prática especificamente humana. modernidade, insiste em convencer- nos de que nada podemos
É que, por outro lado, nos achamos, ao nível do mundo e não contra a realidade social que, de histórica e cultural, passa a
apenas do Brasil, de tal maneira submetidos ao comando da ser ou a virar “quase natural”. Frases como “a realidade é assim
malvadez da ética do mercado, que me parece ser pouco tudo mesmo, que podemos fazer?” ou “o desemprego no mundo é
o que façamos na defesa e na prática da ética universal do ser uma fatalidade do fim do século” expressam bem o fatalismo
humano. Não podemos nos assumir como sujeitos da procura, desta ideologia e sua indiscutível vontade imobilizadora.
da decisão, da ruptura, da opção, como sujeitos históricos, Do ponto de vista de tal ideologia, só há uma saída para a
transformadores, a não ser assumindo-nos como sujeitos prática educativa: adaptar o educando a esta realidade que não
éticos. Neste sentido, a transgressão dos princípios éticos é pode ser mudada. O de que se precisa, por isso mesmo, é o
uma possibilidade mas não é uma virtude. Não podemos treino técnico indispensável à adaptação do educando, à sua
aceitá-la. sobrevivência. O livro com que volto aos leitores é um decisivo
Não é possível ao sujeito ético viver sem estar não a esta ideologia que nos nega e amesquinha como gente.
permanentemente exposto á transgressão da ética. Uma de De uma coisa, qualquer texto necessita: que o leitor ou a leitora
nossas brigas na História, por isso mesmo, é exatamente esta: a ele se entregue de forma crítica, crescentemente curiosa. É
fazer tudo o que possamos em favor da eticidade, sem cair no isto o que este texto espera de você, que acabou de ler estas
moralismo hipócrita, ao gosto reconhecidamente farisaico. “Primeiras Palavras”.

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Paulo Freire possível pensar os seres humanos longe da ética. Quanto mais
São Paulo fora dela, maior a transgressão. Ensinar exige a corporificação
Setembro de 1996 das palavras pelo exemplo. Quem pensa certo está cansado de
RESUMO saber que palavras sem exemplo pouco ou nada valem. Pensar
certo é fazer certo (agir de acordo com o que pensa).
Capítulo l - Não Há Docência Sem Discência Não há pensar certo fora de uma prática testemunhal, que
o re-diz em lugar de desdizê-lo. Não é possível ao professor
Ensinar não é transferir conhecimentos e conteúdos, nem pensar que pensa certo (de forma progressista), e, ao mesmo
formar é a ação pela qual um sujeito criador dá forma, estilo ou tempo, perguntar ao aluno se "sabe com quem está falando".
alma a um corpo indeciso e acomodado. Não há docência sem Ensinar exige risco, aceitação do novo e rejeição a qualquer
discência, as duas se explicam, e seus sujeitos, apesar das forma de discriminação. É próprio do pensar certo a
diferenças, não se reduzem à condição de objeto um do outro. disponibilidade ao risco, a aceitação do novo que não pode ser
Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao negado ou acolhido só porque é novo, assim como critério de
aprender. Ensinar exige rigorosidade metodológica. Ensinar recusa ao velho não é o cronológico. O velho que preserva sua
não se esgota no tratamento do objeto ou do conteúdo, validade encarna uma tradição ou marca uma presença no
superficialmente feito, mas se alonga à produção das tempo continua novo. Faz parte igualmente do pensar certo a
condições em que aprender criticamente é possível. E estas rejeição mais decidida a qualquer forma de discriminação.
condições exigem a presença de educadores e de educandos A prática preconceituosa de raças, de classes, de gênero
criadores, investigadores, inquietos, curiosos, humildes e ofende a substantividade do ser humano e nega radicalmente
persistentes. a democracia. Ensinar exige reflexão crítica sobre a prática. A
Faz parte das condições em que aprender criticamente é prática docente crítica, implicante do pensar certo, envolve o
possível a pressuposição, por parte dos educandos, de que o movimento dinâmico, dialético, entre o fazer e o pensar sobre
educador já teve ou continua tendo experiência da produção o fazer. É fundamental que, na prática da formação docente, o
de saberes, e que estes, não podem ser simplesmente aprendiz de educador assuma que o indispensável pensar
transferidos a eles. Pelo contrário, nas condições de certo não é presente dos deuses nem se acha nos guias de
verdadeira aprendizagem, tanto educandos quanto professores que, iluminados intelectuais, escrevem desde o
educadores transformam-se em sujeitos do processo de centro do poder. Pelo contrário, o pensar certo que supera o
aprendizagem. Só assim podemos falar realmente de saber ingênuo tem de ser produzido pelo próprio aprendiz, em
ensinado, em que o objeto ensinado é aprendido na sua razão comunhão com o professor formador. É preciso possibilitar
de ser. Percebe-se, assim, a importância do papel do educador, que a curiosidade ingênua, através da reflexão sobre a prática,
com a certeza de que faz parte de sua tarefa docente não vá tornando-se crítica.
apenas ensinar os conteúdos, mas também ensinar a pensar Na formação permanente dos professores, o momento
certo - um professor desafiador, crítico. Ensinar exige fundamental é o da reflexão crítica sobre a prática. É pensando
pesquisa. Não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino. criticamente a prática de hoje ou de ontem que se pode
Hoje se fala muito no professor pesquisador, mas isto não é melhorar a próxima prática. O discurso teórico, necessário à
uma qualidade, pois faz parte da natureza da prática docente a reflexão crítica, tem de ser de tal modo concreto que quase se
indagação, a busca, a pesquisa. confunda com a prática. Ensinar exige o reconhecimento e a
Precisamos que o professor se perceba e se assuma como assunção da identidade cultural. A questão da identidade
pesquisador. Pensar certo é uma exigência que os momentos cultural, com sua dimensão individual e da classe dos
do ciclo gnosiológico impõem à curiosidade que, tornando-se educandos, cujo respeito é absolutamente fundamental na
mais e mais metodologicamente rigorosa, transforma-se no prática educativa progressista, é problema que não pode ser
que Paulo Freire chama de "curiosidade epistemológica". desprezado. Tem a ver diretamente com a assunção de nós por
Ensinar exige respeito aos saberes dos educandos. A escola nós mesmos. É isto que o puro treinamento do professor não
deve respeitar os saberes dos educandos – socialmente faz, perdendo-se na estreita e pragmática visão do processo.
construídos na prática comunitária - discutindo, também, com
os alunos, a razão de ser de alguns deles em relação ao ensino Capítulo 2 – Ensinar Não É Transferir Conhecimento
dos conteúdos.
Por que não aproveitar a experiência dos alunos que vivem Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as
em áreas descuidadas pelo poder público para discutir a possibilidades para a sua própria construção. Quando o
poluição dos riachos e dos córregos e os baixos níveis de bem- educador entra em uma sala de aula, deve estar aberto a
estar das populações, os lixões e os riscos que oferecem à indagações, curiosidade e inibições dos alunos: um ser crítico
saúde? Por que não associar as disciplinas estudadas à e inquiridor, inquieto em face da tarefa que tem - a de ensinar
realidade concreta, em que a violência é a constante e a e não a de transferir conhecimento. Pensar certo é uma
convivência das pessoas com a morte é muito maior do que postura exigente, difícil, às vezes penosa, que temos de
com a vida? Ensinar exige criticidade. A superação, ao invés da assumir diante dos outros e com os outros, em face do mundo
ruptura, se dá na medida em que a curiosidade ingênua, e dos fatos, ante nós mesmos. É difícil, entre outras coisas, pela
associada ao saber comum, se criticiza, aproximando-se de vigilância constante que temos de exercer sobre nós mesmos
forma cada vez mais metodologicamente rigorosa do objeto para evitar os simplismos, as facilidades, as incoerências
cognoscível, tornando-se curiosidade epistemológica. grosseiras.
Muda de qualidade, mas não de essência, e essa mudança É difícil porque nem sempre temos o valor indispensável
não se dá automaticamente. Essa é uma das principais tarefas para não permitir que a raiva que podemos ter de alguém vire
do educador progressista - o desenvolvimento da curiosidade raivosidade, gerando um pensar errado e falso. É cansativo,
crítica, insatisfeita, indócil. Ensinar exige estética e ética. A por exemplo, viver a humildade, condição sine qua non do
necessária promoção da ingenuidade à criticidade não pode pensar certo, que nos faz proclamar o nosso próprio equívoco,
ser feita sem uma rigorosa formação ética e estética. Decência que nos faz reconhecer e anunciar a superação que sofremos.
e boniteza andam de mãos dadas. Mulheres e homens, seres Sem rigorosidade metódica não há pensar certo. Ensinar exige
histórico-sociais, tornamo-nos capazes de comparar, de consciência do inacabamento. Na verdade, a inconclusão do
valorar, de intervir, de escolher, de decidir, de romper. Por ser é própria de sua experiência vital. Onde há vida, há
tudo isso nos fizemos seres éticos. Só somos porque estamos inconclusão, embora esta só seja consciente entre homens e
sendo. Estar sendo é a condição, entre nós, para ser. Não é mulheres.

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A invenção da existência envolve necessariamente a Para isso, precisa de condições favoráveis, sem as quais se
linguagem, a cultura, a comunicação em níveis mais profundos move menos eficazmente no espaço pedagógico. O desrespeito
e complexos do que ocorria e ocorre no domínio da vida, a a este espaço é uma ofensa aos educandos, aos educadores e à
espiritualização do mundo, a possibilidade não só de prática pedagógica. Ensinar exige humildade, tolerância e luta
embelezar, mas também de enfear o mundo; tudo isso em defesa dos direitos dos educadores. Como ser educador
inscreveria mulheres e homens como seres éticos. Só os seres sem aprender a conviver com os diferentes? Como posso
que se tornaram éticos podem romper com a ética. É respeitar a curiosidade do educando se, carente de humildade
necessário insistir na problematização do futuro e recusar sua e da real compreensão do papel da ignorância na busca do
inexorabilidade. Ensinar exige o reconhecimento de ser saber, temo revelar o meu desconhecimento? A luta dos
condicionado "Gosto de ser gente, inacabado, sei que sou um professores em defesa de seus direitos e de sua dignidade deve
ser condicionado, mas, consciente do inacabamento, sei que ser entendida como um momento importante de sua prática
posso ir mais além dele. Esta é a diferença profunda entre o ser docente, enquanto prática ética. Ainda que a prática
condicionado e o ser determinado... Afinal, minha presença no pedagógica seja tratada com desprezo, não tenho por que
mundo não é a de quem se adapta, mas a de quem nele se desamá-la e aos educandos. Não tenho por que exercê-la mal.
insere". Minha resposta à ofensa à educação é a luta política consciente,
E a posição de quem luta para não ser apenas objeto, mas crítica e organizada dos professores.
também sujeito da história. Histórico-sócio-culturais, Os órgãos de classe deveriam priorizar o empenho de
tornamo-nos seres em quem a curiosidade, ultrapassando os formação permanente dos quadros do magistério como tarefa
limites que lhe são peculiares no domínio vital, torna-se altamente política, e reinventar a forma de lutar. Ensinar exige
fundante da produção do conhecimento. Mais ainda, a apreensão da realidade. Como professor, preciso conhecer as
curiosidade é já o conhecimento. Como a linguagem que anima diferentes dimensões que caracterizam a essência da minha
a curiosidade e com ela se anima, é também conhecimento e prática. O melhor ponto de partida para estas reflexões é a
não só expressão dele. Na verdade, seria uma contradição se, inconclusão do ser humano. Aí radica a nossa educabilidade,
inacabado e consciente do inacabamento, o ser humano não se bem como a nossa inserção num permanente movimento de
inserisse em tal movimento. É neste sentido que, para busca. A nossa capacidade de aprender, de que decorre a de
mulheres e homens, estar no mundo necessariamente significa ensinar, implica a nossa habilidade de apreender a
estar com o mundo e com os outros. É na inconclusão do ser, substantividade de um objeto. Somos os únicos seres que,
que se sabe como tal, que se funda a educação como processo social e historicamente, nos tornamos capazes de aprender.
permanente. Mulheres e homens se tornaram educáveis na Por isso aprender é uma aventura criadora, muito mais
medida em que se reconheceram inacabados. rica do que meramente repetir a lição dada. Aprender é
O ideal é que, na experiência educativa, educandos e construir, reconstruir, constatar para mudar, o que não se faz
educadores, juntos, transformem este e outros saberes em sem abertura ao risco e à aventura do espírito. Toda prática
sabedoria. Algo que não é estranho a nós, educadores. Ensinar educativa demanda:
exige respeito à autonomia do ser educando. O professor, ao - a existência de sujeitos
desrespeitar a curiosidade do educando, o seu gosto estético, - um que, ensinando, aprende, e outro que, aprendendo,
a sua inquietude, a sua linguagem, ao ironizar o aluno, ensina (daí seu cunho gnosiológico);
minimizá-lo, mandar que "ele se ponha em seu lugar" ao mais - a existência de objetos, conteúdos a serem ensinados e
tênue sinal de sua rebeldia legítima, ao se eximir do aprendidos;
cumprimento de seu dever de propor limites à liberdade do - o uso de métodos, de técnicas, de materiais. Esta prática
aluno, ao se furtar do dever de ensinar, de estar também implica, em função de seu caráter diretivo, objetivos,
respeitosamente presente à experiência formadora do sonhos, utopias, ideais. Daí sua politicidade, daí não ser neutra,
educando, transgride os princípios fundamentalmente éticos ser artística e moral.
de nossa existência. É neste sentido que o professor autoritário
afoga a liberdade do educando, amesquinhando o seu direito Exige uma competência geral, um saber de sua natureza e
de ser curioso e inquieto. saberes especiais, ligados à atividade docente. Como
Qualquer discriminação é imoral e lutar contra ela é um professor, se a minha opção é progressista e sou coerente com
dever, por mais que se reconheça a força dos ela, meu papel é contribuir para que o educando, seja o, artífice
condicionamentos a enfrentar. A beleza de ser gente se acha, de sua formação. Devo estar atento à difícil caminhada da
entre outras coisas, nessa possibilidade e nesse dever de heteronomia para a autonomia. "É assim que venho tentando
brigar. Saber que devo respeito à autonomia e à identidade do ser professor, assumindo minhas convicções, disponível ao
educando exige de mim uma prática em tudo coerente com saber, sensível à boniteza da prática educativa, instigado por
este saber. Ensinar exige bom senso O exercício do bom senso, seus desafios..." Ensinar exige alegria e esperança.
com o qual só temos a ganhar, se faz no corpo da curiosidade. O meu envolvimento com a prática educativa jamais
Neste sentido, quanto mais colocamos em prática, de forma deixou de ser feito com alegria, o que não significa dizer que
metódica, a nossa capacidade de indagar, de comparar, de tenha podido criá-la nos educandos. Parece-me uma
duvidar, de aferir, tanto mais eficazmente curiosos nos contradição que uma pessoa que não teme a novidade, que se
podemos tornar e mais crítico se torna o nosso bom senso. sente mal com as injustiças, que se ofende com as
O exercício do bom senso vai superando o que há nele de discriminações, que luta contra a impunidade, que recusa o
instintivo na avaliação que fazemos dos fatos e dos fatalismo cínico e imobilizante não seja criticamente
acontecimentos em que nos envolvemos. O meu bom senso esperançosa. Ensinar exige a convicção de que a mudança é
não me diz o que é, mas deixa claro que há algo que precisa ser possível.
sabido. É ele que, em primeiro lugar, me diz não ser possível o A realidade não é inexoravelmente esta. E esta agora, e
respeito aos educandos, se não se levar em consideração as para que seja outra, precisamos lutar, viver a história como
condições em que eles vêm existindo, e os conhecimentos tempo de possibilidade, e não de determinação. O amanhã não
experienciais com que chegam à escola. Isto exige de mim uma é algo pré-dado, mas um desafio. Não posso, por isso, cruzar os
reflexão crítica permanente sobre minha prática. O ideal é que braços. Esse é, aliás, um dos saberes primeiros, indispensáveis
se invente uma forma pela qual os educandos possam a quem pretende que sua presença se torne convivência. O
participar da avaliação. E que o trabalho do professor deve ser mundo não é. O mundo está sendo. O meu papel no mundo não
com os alunos e não consigo mesmo. O professor tem o dever é só o de quem constata o que ocorre, mas também o de quem
de realizar sua tarefa docente. intervém como sujeito de ocorrências.

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Constato, não para me adaptar, mas para mudar. No fundo, dois momentos - o ensino dos conteúdos da formação ética dos
as resistências orgânicas e culturais são manhas necessárias à educandos. O saber desta impossibilidade é fundamental à
sobrevivência física e cultural dos oprimidos. É preciso, porém, prática docente.
que tenhamos na resistência fundamentos para a nossa Quanto mais penso sobre a prática educativa,
rebeldia e não para a nossa resignação em face das ofensas. reconhecendo a responsabilidade que ela exige de nós, mais
Não é na resignação que nos afirmamos, mas na rebeldia em me convenço do nosso dever de lutar para que ela seja
face das injustiças. A rebeldia é ponto de partida, é deflagração realmente respeitada: Ensinar exige comprometimento. Não
da justa ira, mas não é suficiente. posso ser professor sem me pôr diante dos alunos, sem revelar
A rebeldia, enquanto denúncia, precisa se alongar até uma com facilidade ou relutância minha maneira de ser, de pensar
posição mais radical e crítica, a revolucionária, politicamente. Não posso escapar à apreciação dos alunos. E a
fundamentalmente anunciadora. Mudar é difícil, mas é maneira como eles me percebem tem importância capital para
possível. Ensinar exige curiosidade. Como professor, devo o meu desempenho. Daí, então, que uma de minhas
saber que, sem a curiosidade que me move, não aprendo nem preocupações centrais deva ser a de procurar a aproximação
ensino. A construção do conhecimento implica o exercício da cada vez maior entre o que digo e o que faço, entre o que
curiosidade, o estímulo à pergunta, a reflexão crítica sobre a pareço ser e o que realmente estou sendo. Isto aumenta em
própria pergunta. mim os cuidados com o meu desempenho.
O fundamental é que professor e alunos saibam que a Se a minha opção é democrática, progressista, não posso
postura deles é dialógica, aberta, curiosa, indagadora e não ter uma prática reacionária, autoritária, elitista. Minha
apassivada. A dialogicidade, no entanto, não nega a validade de presença de professor é, em si, política. Enquanto presença,
momentos explicativos, narrativos. O bom professor faz da não posso ser uma omissão, mas um sujeito de opções. Devo
aula um desafio. Seus alunos cansam, não dormem. Um dos revelar aos alunos a minha capacidade de analisar, de decidir,
saberes fundamentais à prática educativo-crítica é o que me de optar e de romper, minha capacidade de fazer justiça, de
adverte da necessária promoção da curiosidade espontânea não falhar à verdade. Ético, por isso mesmo, tem que ser o meu
para a curiosidade epistemológica. Resultado do equilíbrio testemunho. Ensinar exige compreender que a educação é uma
entre autoridade e liberdade, a disciplina implica o respeito de forma de intervenção no mundo. Outro saber de que 'não
uma pela outra, expresso na assunção que ambas fazem de posso duvidar na minha prática educativo-crítica é que, como
limites que não podem ser transgredidos. experiência especificamente humana, a educação é uma forma
de intervenção no mundo. Intervenção esta que, além do
Capítulo 3 - Ensinar É Uma Especificidade Humana conhecimento dos conteúdos, bem ou mal ensinados e/ou
aprendidos, implica tanto o esforço da reprodução da
Creio que uma das qualidades essenciais que a autoridade ideologia dominante quanto o seu desmascaramento.
docente democrática deve revelar em suas relações com as Nem somos seres simplesmente determinados nem
liberdades dos alunos é a segurança em si mesma. É a tampouco livres de condicionamentos genéticos, culturais,
segurança que se expressa na firmeza com que atua, com que sociais, históricos, de classe, de gênero, que nos marcam e a
decide, com que respeita as liberdades, com que discute suas que nos achamos referidos. Continuo aberto à advertência de
próprias posições, com que aceita rever-se. Ensinar exige Marx, a da necessária radicalidade, que me faz sempre
segurança, competência profissional e generosidade - A desperto a tudo o que diz respeito à defesa dos interesses
segurança com que a autoridade docente se move implica uma humanos. Interesses superiores aos de grupos ou de classes de
outra, fundada na sua competência profissional. pessoas. Não posso ser professor se não percebo cada vez
Nenhuma autoridade docente se exerce ausente desta melhor que, por não poder ser neutra, minha prática exige de
competência. O professor que não leva a sério sua formação, mim uma definição, uma tomada de posição, uma ruptura.
que não estuda, que não se esforça para estar à altura de sua Exige que eu escolha entre isto e aquilo.
tarefa não tem força moral para coordenar as atividades de sua Não posso ser professor a favor de quem quer que seja e a
classe. A incompetência profissional desqualifica a autoridade favor de não importa o quê. Não posso ser professor a favor
do professor. Outra qualidade indispensável à autoridade, em simplesmente da Humanidade, frase de uma vaguidade
suas relações com a liberdade, é a generosidade. Não há nada demasiado contrastante com a concretude da prática
que inferiorize mais a tarefa formadora da autoridade do que educativa. Sou professor a favor da decência contra o
a mesquinhez, a arrogância ao julgar os outros e a indulgência despudor, a favor da liberdade contra o autoritarismo, da
ao se julgar, ou aos seus. autoridade contra a licenciosidade, da democracia contra a
A arrogância que nega a generosidade nega também a ditadura. Sou professor a favor da luta constante contra
humildade. O clima de respeito que nasce de relações justas, qualquer forma de discriminação, contra a dominação
sérias, humildes, generosas, em que a autoridade docente e as econômica dos indivíduos ou das classes sociais, contra a
liberdades dos alunos se assumem eticamente, autentica o ordem vigente que inventou a aberração da miséria na fartura.
caráter formador do espaço pedagógico. A autoridade, Sou professor a favor da esperança que me anima, apesar
coerentemente democrática, está convicta de que a disciplina de tudo. Contra o desengano que consome e imobiliza e a favor
verdadeira não existe na estagnação, no silêncio dos da boniteza de minha própria prática. Tão importante quanto
silenciados, mas no alvoroço dos inquietos, na dúvida que o ensino dos conteúdos é a minha coerência na classe. A
instiga, na esperança que desperta. Um esforço sempre coerência entre o que digo, o que escrevo e o que faço. Ensinar
presente à prática da autoridade coerentemente democrática exige liberdade e autoridade. O problema que se coloca para o
é o que a torna quase escrava de um sonho fundamental - o de educador democrático é como trabalhar no sentido de fazer
persuadir ou convencer a liberdade para a construção da possível que a necessidade do limite seja assumida eticamente
própria autonomia, ainda que reelaborando materiais vindos pela liberdade. Sem os limites, a liberdade se perverte em
de fora de si. licença e a autoridade em autoritarismo. Por outro lado, faz
É com a autonomia, penosamente construída e fundada na parte do aprendizado a assunção das consequências do ato de
responsabilidade, que a liberdade vai preenchendo o espaço decidir.
antes habitado pela dependência. O fundamental no Não há decisão que não seja seguida de efeitos esperados,
aprendizado do conteúdo é a construção da responsabilidade pouco esperados ou inesperados. Por isso a decisão é um
da liberdade que se assume. O essencial nas relações entre processo responsável. É decidindo que se aprende a decidir.
autoridade e liberdade é a reinvenção do ser humano no Não posso aprender a ser eu mesmo se não decido nunca,
aprendizado de sua autonomia. Nunca me foi possível separar porque há sempre a sabedoria e a sensatez de meu pai e de

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minha mãe a decidir por mim. Ninguém é autônomo primeiro ideologia, vou gerando certas qualidades que vão virando
para depois decidir. A autonomia vai se construindo na sabedoria indispensável à minha prática docente. A
experiência. Ninguém é sujeito da autonomia de ninguém. Por necessidade desta resistência crítica, por exemplo, me
outro lado, ninguém amadurece de repente. A gente vai predispõe, de um lado, a uma atitude sempre aberta aos
amadurecendo todo dia, ou não. A autonomia é um processo, demais, aos dados da realidade; de outro, a uma desconfiança
não ocorre em data marcada. É neste sentido que uma metódica que me defende de tornar-me absolutamente certo
pedagogia da autonomia tem de estar centrada em das certezas. Para me resguardar das artimanhas da ideologia
experiências estimuladoras da decisão e da responsabilidade, não posso nem devo me fechar aos outros, nem tampouco me
ou seja, que respeitam a liberdade. Ensinar exige tomada enclausurar no ciclo de minha verdade. Pelo contrário, o
consciente de decisões. Voltemos à questão central desta parte melhor caminho para guardar viva e desperta a minha
do texto - a educação, especificidade humana, como um ato de capacidade de pensar certo, de ver com acuidade, de ouvir com
intervenção no mundo. respeito, por isso de forma exigente, é me deixar exposto às
Quando falo em educação como intervenção me refiro diferenças, é recusar posições dogmáticas, em que me admita
tanto a que aspira a mudanças radicais na sociedade, no campo como dono da verdade.
da economia, das relações humanas, da propriedade, do Ensinar exige disponibilidade para o diálogo Nas minhas
direito ao trabalho, à terra, à educação, à saúde, quanto a que, relações com os outros, que não fizeram necessariamente as
reacionariamente, pretende imobilizar a História e manter a mesmas opções que fiz, no nível da política, da ética, da
ordem injusta. E que dizer de educadores que se dizem estética, da pedagogia, nem posso partir do pressuposto que
progressistas, mas de prática pedagógica-política devo conquistá-los, não importa a que custo, nem tampouco
eminentemente autoritária? A raiz mais profunda da temer que pretendam conquistar-me. É no respeito às
politicidade da educação se acha na educabilidade do ser diferenças entre mim e eles, na coerência entre o que faço e o
humano, que se funda em sua natureza inacabada e da qual se que digo, que me encontro com eles. O sujeito que se abre ao
tornou consciente. Inacabado e consciente disso, mundo e aos outros inaugura, com seu gesto, a relação
necessariamente o ser humano se faria um ser ético, um ser de dialógica em que se confirma como inquietação e curiosidade,
opção, de decisão. Um ser ligado a interesses e em relação aos como inconclusão em permanente movimento na história.
quais tanto pode manter-se fiel à ética quanto pode transgredi- Como ensinar, como formar sem estar aberto ao contorno
la. Se a educação não pode tudo, pode alguma coisa geográfico, social, dos educandos? Com relação a meus alunos,
fundamental. Se a educação não é a chave das mudanças, não diminuo a distância que me separa de suas condições
é também simplesmente reprodutora da ideologia dominante. negativas de vida na medida em que os ajudo a aprender não
O que quero dizer é que a educação nem é uma força importa que saber, o do torneio ou do cirurgião, com vistas à
imbatível a serviço da transformação da sociedade nem mudança do mundo, à superação das estruturas injustas,
tampouco é a perpetuação do status quo. jamais com vistas à sua imobilização. Debater o que se diz e o
Se, na verdade, o sonho que nos anima é democrático e que se mostra e como se mostra na televisão me parece algo
solidário, não é falando aos outros, de cima para baixo, cada vez mais importante.
sobretudo, como se fôssemos os portadores da Verdade a ser Como educadores progressistas não apenas não podemos
transmitida aos demais, que aprendemos a escutar, mas é desconhecer a televisão, mas devemos usá-la, sobretudo,
escutando que aprendemos & falar com eles. Os sistemas de discuti-la. Não podemos nos pôr diante de um aparelho de
avaliação pedagógica de alunos e de professores vêm se televisão entregues ou disponíveis ao que vier. Ensinar exige
assumindo cada vez mais como discursos verticais, de cima querer bem aos educandos. O que dizer e o que esperar de
para baixo, mas insistindo em passar por democráticos. A mim, se, como professor, não me acho tomado por este outro
questão que se coloca a nós é lutar em favor da compreensão saber, o de que preciso estar aberto ao gosto de querer bem, às
e da prática da avaliação, enquanto instrumento de apreciação vezes, à coragem de querer bem aos educandos e à própria
do que fazer, de sujeitos críticos a serviço, por isso mesmo, da prática educativa de que participo. Na verdade, preciso
libertação e não da domesticação. Avaliação em que se descartar como falsa a separação radical entre seriedade
estimule o falar a como caminho para o falar com. Quem tem o docente e afetividade. A afetividade não se acha excluída da
que dizer, tem igualmente o direito e o dever de dizê-lo. É cognoscibilidade.
preciso, porém, que o sujeito saiba não ser o único a ter algo a O que não posso, obviamente, permitir é que minha
dizer. Mais ainda, que esse algo, por mais importante que seja, afetividade interfira no cumprimento ético de meu dever de
não é a verdade alvissareira por todos esperada. professor no exercício de minha autoridade. Não posso
Por isso é que acrescento, quem tem o que dizer deve condicionar a avaliação do trabalho escolar de um aluno ao
assumir o dever de motivar, de desafiar quem escuta, para que maior ou menor bem querer que tenha por ele. É preciso, por
este diga, fale, responda. É preciso enfatizar - ensinar não é outro lado, reinsistir em que não se pense que a prática
transferir a inteligência do objeto ao educando, mas instigá-lo educativa vivida com afetividade e alegria prescinda da
no sentido de que, como sujeito cognoscente, torne-se capaz formação científica séria e da clareza política dos educadores.
de inteligir e comunicar o inteligido. É neste sentido que se Nunca idealizei a prática educativa. Em tempo algum a vi como
impõe a mim escutar o educando em suas dúvidas, em seus algo que, pelo menos, parecesse com um que-fazer de anjos.
receios, em sua incompetência provisória. E ao escutá-lo, Jamais foi fraca em mim a certeza de que vale a pena lutar
aprendo a falar com ele. Aceitar e respeitar a diferença é uma contra os descaminhos que nos obstaculizam de ser mais.
das virtudes sem a qual a escuta não pode acontecer. Tarefa Como prática estritamente humana, jamais pude entender
essencial da escola, como centro de produção sistemática de a educação como uma experiência fria, sem alma, em que os
conhecimento, é trabalhar criticamente a i das coisas e dos sentimentos e as emoções, os desejos e os sonhos devessem
fatos e a sua comunicabilidade. Ensinar exige reconhecer que ser reprimidos por uma espécie de ditadura reacionalista.
a educação é ideológica Saber igualmente fundamental à Jamais compreendi a prática educativa como uma experiência
prática educativa do professor é o que diz respeito à força, às a que faltasse o rigor em que se gera a necessária disciplina
vezes, maior do que pensamos da ideologia. É o que nos intelectual. Estou convencido de que a rigorosidade, a séria
adverte de suas manhas, das armadilhas em que nos faz cair. disciplina intelectual, o exercício da curiosidade
A ideologia tem a ver diretamente com a ocultação da epistemológica não me fazem necessariamente um ser mal-
verdade dos fatos, com o uso da linguagem para penumbrar ou amado, arrogante, cheio de mim mesmo. Nem a arrogância é
opacizar a realidade, ao mesmo tempo em que nos torna sinal de competência nem a competência é causa de
míopes. No exercício crítico de minha resistência ao poder da

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arrogância. Certos arrogantes, pela simplicidade, se fariam esta aberração: a miséria na fartura. Sou professor a favor da
gente melhor. esperança que me anima apesar de tudo. Sou professor contra
Texto adaptado: Carlos R. Paiva. o desengano que me consome e imobiliza. Sou professor a
favor da boniteza de minha própria prática, boniteza que dela
3.1- Ensinar exige segurança, competência profissional some se não cuido do saber que devo ensinar, se não brigo por
e generosidade (p.91 a 96) este saber, se não luto pelas condições materiais necessárias
sem as quais meu corpo, descuidado, corre o risco de se
O professor que não leve a sério sua formação, que não amofinar e de já não ser o testemunho que deve ser de lutador
estuda, que não se esforce para estar à altura de sua tarefa não pertinaz, que cansa mas não desiste. Boniteza que se esvai de
tem força moral para coordenar as atividades de sua classe. minha prática se, cheio de mim mesmo, arrogante e
(...). Há professoras cientificamente preparados mas desdenhoso dos alunos, não canso de me admirar. (p.102-103)
autoritários a toda prova. O que quero dizer é que a
incompetência profissional desqualifica a autoridade do 3.4 - Ensinar exige liberdade e autoridade (p.104 a 108)
professor. (p.92)
Outra qualidade indispensável à autoridade em suas O que sempre deliberadamente recusei, em nome do
relações com as liberdades é a generosidade. (...). A arrogância próprio respeito à liberdade, foi sua distorção em
que nega a generosidade nega também a humildade. (...) (p.92) licenciosidade. O que sempre procurei foi viver em plenitude a
A autoridade docente mandonista, rígida, não conta com relação tensa, contraditória e não mecânica, entre autoridade
nenhuma criatividade do educando. Não faz parte de sua e liberdade, no sentido de assegurar o respeito entre ambas,
forma de ser, esperar, sequer, que o educando revele o gosto cuja ruptura provoca a hipertrofia de uma ou de outra. (p.108)
de aventurar-se. (p.92-93) A posição mais difícil, indiscutivelmente correta, é a
(...)O educando que exercita sua liberdade ficará tão mais democrata, coerente com seu sonho solidário e igualitário,
livre quanto mais eticamente vá assumindo a para quem não é possível autoridade sem liberdade e esta sem
responsabilidade de suas ações. Decidir é romper e, para isso, aquela. (p.108)
preciso correr o risco. (...) (p.93)
Me movo como educador porque, primeiro, me movo como 3.5 - Ensinar exige tomada consciente de decisões (p.109
gente. (p.94) a 113)
Ensinar e, enquanto ensino, testemunhar aos alunos o
quanto me é fundamental respeitá-los e respeitar-me são Voltemos à questão central que venho discutindo nesta
tarefas que jamais dicotomizei. (p.94) parte do texto: a educação, especificidade humana, como um
Como professor, tanto lido com minha liberdade quanto ato de intervenção não está sendo usado com nenhuma
com minha autoridade em exercício, mas também diretamente restrição semântica. Quando falo em educação como
com a liberdade dos educandos, que devo respeitar, e com a intervenção me refiro tanto à que aspira a mudanças radicais
criação de sua autonomia bem como com os anseios de na sociedade, no campo da economia, das relações humanas,
construção da autoridade dos educandos. (p.95) da propriedade, do direito ao trabalho, à terra, à educação, à
saúde, quanto à que, pelo contrário, reacionariamente
3.2 - Ensinar exige comprometimento (p.96 a 98) pretende imobilizar a História e manter o ordem injusta.
(p.109)
Saber que não posso passar despercebido pelos alunos, e A educação não vira política por causa da decisão deste ou
que a maneira como me percebam me ajuda ou desajuda no daquele educador. Ela é política. (p.110)
cumprimento de minha tarefa de professor, aumenta em mim O que devo pretender não é a neutralidade da educação
os cuidados com meu desempenho. Se a minha opção é mas a respeito, a toda prova, aos educandos, aos educadores e
democrática, progressista, não posso ter uma prática às educadoras. O respeito aos educadores e educadoras por
reacionária, autoritária, elitista. Não posso discriminar o aluno parte da administração pública ou privada das escolas; o
em nome de nenhum motivo. (p.97) respeito aos educandos assumido e praticado pelos
Devo revelar aos alunos a minha capacidade de analisar, de educadores não importa de que escola, particular ou pública. É
comparar, a avaliar, de decidir, de optar, de romper. Minha por isto que devo lutar sem cansaço. Lutar pelo direito que
capacidade de fazer justiça, de não falhar à verdade. Ético, por tenho de ser respeitado e pelo dever que tenho de reagir a que
isso mesmo, tem que ser o meu testemunho. (p.98) me destratem . Lutar pelo direito que você, que me lê,
professora ou aluna, tem de ser você mesma e nunca, jamais,
3.3 - Ensinar exige compreender que a educação é uma lutar por essa coisa impossível, acinzentada e insossa que é a
forma de intervenção no mundo. (p.98 a 104) neutralidade. (p.111-112)
(...) O educador e a educadora críticos não podem pensar
Outro saber de que não posso duvidar um momento sequer que, a partir do curso que coordenam ou do seminário que
na minha prática educativo-crítica é o de que, como lideram, podem transformar o país. Mas podem demonstrar
experiência especificamente humana, a educação é uma forma que é possível mudar. E isto reforça nele ou nela a importância
de intervenção no mundo. (p.98) de sua tarefa político-pedagógica. (p.112)
Continuo bem aberto à advertência de Marx, a da
necessária radicalidade que me faz sempre desperto a tudo o 3.6 - Ensinar exige saber escutar (p.113 a 125)
que diz respeito à defesa dos interesses humanos. Interesses
superiores aos de puros grupos ou de classes de gente. (p.100) Sempre recusei os fatalismos. Prefiro a rebeldia que me
Não posso ser professor se não percebo cada vez melhor confirma como gente e que jamais deixou de provar que o ser
que, por não poder ser neutra, minha prática exige de mim humano é maior do que mecanismos que o minimizam. (p.115)
uma definição. (...). Sou professor a favor da decência contra o Os sistemas de avaliação pedagógica de alunos e de
despudor, a favor da liberdade contra o autoritarismo, da professores vêm se assumindo cada vez mais como discursos
autoridade contra a licenciosidade, da democracia contra a verticais, de cima para baixo, mais insistindo em passar por
ditadura de direita ou de esquerda. Sou professor a favor da democráticos. A questão que se coloca a nós, enquanto
luta constante contra qualquer forma de discriminação, contra professores e alunos críticos e amorosos da liberdade, não é,
a dominação econômica dos indivíduos ou das classes sociais. naturalmente, ficar contra a avaliação, de resto necessária,
Sou professor contra a ordem capitalista vigente que inventou mas resistir aos métodos silenciadores com que ela vem sendo

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às vezes realizada. A questão que se coloca a nós é lutar em “Você, desempregado, seja grato. Vote em quem ajudou você.
favor da compreensão e da prática da avaliação enquanto Vote em fulano de tal.”
instrumento de apreciação do que fazer de sujeitos críticos a “Está se vendo, pela cara, que se trata de gente fina, de trato,
serviço, por isso mesmo, da libertação e não da domesticação. que tomou chá em pequeno e não de um pé-rapado qualquer.”
(...) (p.116) “O professor falou sobre a Inconfidência Mineira.”
Por isso é que, acrescento, quem tem o que dizer deve “O Brasil foi descoberto por Cabral.” (p.133)
assumir o dever de motivar, de desafiar quem escuta, no
sentido de que, quem escuta diga, fale, responda. É intolerável (...) o melhor caminho para guardar viva e desperta a
o direito que se dá a si mesmo o educador autoritário de minha capacidade de pensar certo, de ver com acuidade, de
comportar-se como proprietário da verdade(...). (p.117) ouvir com respeito, por isso de forma exigente, é me deixar
Que me seja perdoada a reiteração, mas é preciso enfatizar, exposto às diferenças, é recusar posições dogmáticas, em que
mais uma vez: ensinar não é transferir a inteligência do objeto me admita como proprietário da verdade. (...) (p.134)
ao educando mas instigá-lo no sentido de que, como sujeito
cognoscente, se torne capaz de inteligir e comunicar o 3.8 Ensinar exige disponibilidade para o diálogo. (p. 135
inteligido. É nesse sentido que se impõe a mim escutar o a 140)
educando em suas dúvidas, em seus receios, em sua
incompetência provisória. E ao escutá-lo, aprendo a falar com Como professor não devo poupar oportunidade para
ele. (p.119) testemunhar aos alunos a segurança com que me comporto ao
Aceitar e respeitar a diferença é uma dessas virtudes sem discutir um tema, ao analisar um fato, ao expor minha posição
o que a escuta não se pode dar. (p.120) em face de uma decisão governamental. (p.135)
Ninguém pode conhecer por mim assim como não posso Me sinto seguro porque não há razão para me envergonhar
conhecer pelo aluno. (p.124) por desconhecer algo. (p.135)
O mundo encurta, o tempo se dilui: o ontem vira agora; o
3.7 - Ensinar exige reconhecer que a educação é amanhã já está feito. Tudo muito rápido. Debater o que se diz
ideológica. (p.125 a 134) e o que se mostra e como se mostra na televisão me parece algo
cada vez mais importante. (p.139)
Há um século e meio Marx e Engels gritavam em favor da Como educadores e educadoras progressistas não apenas
união das classes trabalhadoras do mundo contra sua não podemos desconhecer a televisão mas devemos usá-la,
espoliação. Agora, necessária e urgente se fazem a união e a sobretudo, discuti-la.(p.139)
rebelião das gentes contra a ameaça que nos atinge, a dos à O poder dominante, entre muitas, leva mais uma vantagem
"fereza" da ética do mercado. (p.128) sobre nós. É que, para enfrentar o ardil ideológico de que se
Prefiro ser criticado como idealista e sonhador inveterado acha envolvida a sua mensagem na mídia, seja nos noticiários,
por continuar, sem relutar, a aposta no ser humano, a me bater nos comentários aos acontecimentos ou na linha de certos
por uma legislação que o defenda contra as arrancadas programas, para não falar na propaganda comercial, nossa
agressivas e injustas de que transgride a própria ética. (p.129) mente ou nossa curiosidade teria de funcionar
É exatamente por causa de tudo isso que como professor, epistemologicamente todo o tempo. E isso não é fácil. (p.140)
devo estar advertido do poder do discurso ideológico,
começando pelo que proclama a morte das ideologias. Na 3.9- Ensinar exige querer bem aos educandos (p.141 a
verdade, só ideologicamente posso matar as ideologias, mas é 146)
possível que não perceba a natureza ideológica do discurso
que fala de sua morte. No fundo, a ideologia tem um poder de (...) A afetividade não se acha excluída da cognoscibilidade.
persuasão indiscutível. O discurso ideológico nos ameaça de O que não posso obviamente permitir é que minha afetividade
anestesiar a mente, de confundir, das coisas, dos interfira no cumprimento ético de meu dever de professor no
acontecimentos. Não podemos escutar, sem um mínimo de exercício de minha autoridade. Não posso condicionar a
reação crítica, discursos como estes: (p.132) avaliação do trabalho escolar de um aluno ao maior ou menor
bem querer que tenha por ele. (p.141)
“O negro é geneticamente inferior ao branco. É uma pena, (...) A alegria não chega apenas no encontro do achado mas
mas é isso o que a ciência nos diz.” faz parte do processo da busca. E ensinar e aprender não
“Em defesa de sua honra, o marido matou a mulher.” podem dar-se fora da procura, fora da boniteza e da alegria.
“Que poderíamos esperar deles, uns baderneiros, invasores (...). (p.142)
de terra?” (...) É esta força misteriosa, às vezes chamada vocação, que
“Essa gente é sempre assim: damos-lhe os pés e logo quer as explica a quase devoção com que a grande maioria do
mãos.” magistério nele permanece, apesar da imoralidade dos
“Nós já sabemos o que o povo quer e do que precisa. salários. E não apenas permanece, mas cumpre, como pode,
Perguntar-lhe seria uma perda de tempo.” seu dever. Amorosamente, acrescento. (p.142)
“O saber erudito a ser entregue às massas incultas é a sua (...) A prática educativa é tudo isso: afetividade, alegria,
salvação.” capacidade científica, domínio técnico a serviço da mudança
“Maria é negra, mas é bondosa e competente.” ou, lamentavelmente, da permanência do hoje.(...). (p.143)
“Esse sujeito é um bom cara. É nordestino, mas é sério e (...) Se não posso, de um lado, estimular os sonhos
prestimoso”. impossíveis, não devo, de outro, negar a quem sonha o direito
“Você sabe com quem está falando?” de sonhar. Lido com gente e não com coisas. (...).(p.144)
“Que vergonha, homem se casar com homem, mulher se (...) Como prática estritamente humana jamais pude
casar com mulher.” entender a educação como uma experiência fria, sem alma. (...).
“É isso, você vai se meter com gentinha, é o que dá.” (p.145)
“Quando negro não suja na entrada, suja na saída.” Estou convencido, porém de que a rigosidade, a séria
“O governo tem que investir mesmo é nas áreas onde mora disciplina intelectual, o exercício da curiosidade
gente que paga imposto.” epistemológica não me faz necessariamente um ser mal-
“Você não precisa pensar. Vote em fulano, que pensa por amado, arrogante, cheio de mim mesmo. Ou, em outras
você.” palavras, não é a minha arrogância intelectual a que fala de
minha rigorosidade científica. Nem a arrogância é sinal de

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competência nem a competência é causa de arrogância. Não “Não há para mim, na diferença e na “distancia” entre a
nego a competência, por outro lado, de certos arrogantes, mas ingenuidade e a praticidade (...). A superação e não a ruptura
lamento neles a ausência de simplicidade que, não diminuindo se da na medida em que a curiosidade ingênua se criticiza.”
em nada seu saber, os faria gente melhor. Gente mais gente. (p.31)
(p.146)
“Não haveria criatividade sem a curiosidade que nos move
Realmente ler a obra de Freire ( especificamente o capítulo e que nos põe pacientemente em pacientes diante do mundo
3), nos faz refletir acerca de questões no qual estamos que não fizemos, acrescentando a ele algo que fazemos. A
inseridas e por vezes não percebemos. Seguimos numa necessária promoção da ingenuidade à criticidade não pode ou
ingenuidade imperdoável, enquanto isso os manipuladores não deve ser feita a distância de uma rigorosa formação ética
permanecem como tais. Perceber a postura do professor nesta ao lado sempre da estética.” (p.32)
visão é lamentar o quão longe estamos de algo dito há anos.
Infelizmente, os docentes, abatidos pelo desrespeito do “O professor que realmente ensina nega como falca, a
sistema arcaico e preferem trilhar o caminho mais fácil, formula farisaica do ‘faço o que eu mando e não o que eu faço’
porque afinal ouvir o outro requer tempo, sensibilidade, (...). Pensar certo e fazer certo. (...). Não há pensar certo fora de
criticidade e afinal eles “não são pagos para isso”. uma pratica testemunhal que o re-diz no lugar de desdizê-lo.”
Um professor que tem vocação, é uma arma perigosa, pois (p.34)
ele pode trabalhar não apenas com os conteúdos, como
também levar o indivíduo a pensar. Pensar sobre coisas “Faz parte do pensar certo o gosto da generosidade que,
simples e acreditar que é possível mudar. Fazemos parte da não negando a quem o tem o direito à raiva, a distingue da
transformação e ela pode começar por nós. A educação é a raivosidade irrefreada.” (p.35)
chave da mudança!
Freire fala sobre a importância que existe na afetividade “Faz parte igualmente do pensar certa a rejeição mais
relacionada a discente- docente, pois de fato é arbitrário decidida a qualquer forma de descriminação. A pratica
estabelecer uma construção de saber, dado por troca, sem que preconceituosa de raça, de classe, de gênero ofende a
haja alegria, vivacidade, competência, respeito e capacidade. O substantividade do ser humano e nega radicalmente a
modo como o aluno vê o educador, é outro ponto que me democracia.” (p.36)
chamou atenção, pois a postura apresentada deve estar em
harmonia com o discurso ético deste profissional. “Às vezes, mal se imagina o que pode se passar ao
Vale ressaltar que o grau de comprometimento com o representar na vida de um aluno um simples gesto do
trabalho define seu resultado, isto vale para todas as partes professor.” (p.42)
envolvidas no processo de aprendizagem, o preparo é
primordial. Estabelecer limites não implica em ser sisudo, a “Este saber, o da importância desses gestos que se
liberdade é tão importante quanto o respeito, muito embora multiplicam diariamente nas tramas do espaço escolar, e algo
essas linhas tênues se percam, não é válido assumir o modo sobre o que teríamos de refletir seriamente.” (p.43)
silenciador, fazendo do educando mero receptador.
Trabalhar com gente, nunca foi tarefa fácil, mas de certo é “Nenhuma formação docente verdadeira pode fazer-se
uma experiência incrível. Que se valha da esperança nos aliado, de um lado, do exercício da criticidade que implica a
momentos de angústia e olhando adiante, vejamos que é promoção da curiosidade ingênua à curiosidade
possível prosseguir um pouco mais e sempre mais. Desistir espitemológica, e de outro, sem o reconhecimento do valor das
não faz parte do perfil vencedor. A leitura foi de grande valia, emoções, da sensibilidade, da afetividade, da intuição ou
certamente contribuiu muito em meu conhecimento. adivinhação.” (p.45)

TRECHOS IMPORTANTES DO LIVRO “Quando entra em uma sala de aula devo estar sendo um
ser aberto a indagações, à curiosidade, às perguntas dos
“Ensinar não e transferir conhecimento, mas criar alunos, as suas inibições (...). Como professor no curso de
possibilidades para a sua produção ou a sua construção.” formação docente não posso esgotar minha prática
(p.22) discursando sobre a Teoria da não extensão do conhecimento.”
(p.47)
“Quem forma-se forma é reforma ao formar e quem é
formado forma-se e forma ao ser formado. (...). Não há “O meu discurso sobre a Teoria deve ser o exemplo
docência sem decência, as duas se explicam. (...). Quem ensina concreto, pratico, da teoria. Sua encarnação.” (p.48)
aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender”
(p.23) “Minha franquia ante os outros e o mundo mesmo e a
maneira radical como me experimento enquanto ser cultural,
“Ensinar não se esgota no ‘tratamento’ do objeto ou do histórico, inacabado e consciente do inacabamento. (...) Onde a
conteúdo, superficialmente feita, mas se alonga à produção das vida há inacabamento.” (p.50)
condições em que aprender criticamente e possível.” (p.26)
“Só os seres que se tornaram éticos podem romper com a
“Só, na verdade, quem pensa certo, mesmo que, às vezes, ética. (...) Não foi possível existir sem assumir o direito e o
pense errado, é quem pode ensinar a pensar certo.” (p.27) dever de optar, de decidir, de lutar, de fazer política. E tudo isso
nos traz de novo a imperiosidade da pratica formadora, de
“O professor que pensa certo deixa transparecer aos natureza eminentemente ética.” (p.52)
educandos que uma das bonitezas de nossa maneira de estar
no mundo e com o mundo (...), e a capacidade de intervindo no “Gosto de ser gente porque, inacabado, sei que sou um ser
mundo conhecer o mundo.” (p.28) condicionado, mas, consciente do inacabamento (inacabado),
sei que posso ir além dele.” (p.53)
“Não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino (...).
Pesquiso para conhecer o que ainda não conheço e comunicar
ou anunciar a novidade” (p.29)

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APOSTILAS OPÇÃO

“Minha presença no mundo não e de quem a ele se adapta, “A segurança com que a autoridade docente se move
mas e de quem nele se insere. E a posição de quem luta para implica outra, a que se funda na sua competência profissional”
não ser apenas objeto, mas sujeito também da história.” (p.54) (p.91)

“A inconsciência do inacabamento entre nos, mulheres e “A segurança com que a autoridade docente se move
homens, nos fez seres responsáveis, daí a eticidade de nossa implica outra, a que se funda na sua competência profissional”
presença no mundo.” (p.56) (p.91)

“A consciência do mundo e a consciência de si como ser “Há professores e professoras cientificamente deparados,
inacabado necessariamente inscreve o ser consciente de sua mas autoritários a toda prova. (...) ”Outra qualidade
inclusão num permanente conhecimento de busca.” (p.57) indispensável à autoridade em suas relações com as
liberdades e a generosidade.” (p.92)
“Estar no mundo sem fazer história sem por ela ser feita
(...) sem politizar não e possível. Mulheres e homens se “A autoridade coerentemente democrática, fundando-se
tornaram educáveis na medida em que se reconheceram na certeza da importância, quer de si mesma, quer da
inacabados. Não foi a educação que fez mulheres e homens liberdade dos educandos para construção de um clima de real
educáveis, mas a consciência de sua de sua inclusão é que disciplina, jamais minimiza a liberdade. (...) O educando que
gerou sua educabilidade.” (p.58) exercita sua liberdade ficará tão mais livre quanto mais
eticamente vá assumindo as responsabilidades de suas ações.”
“O inacabamento de que nos tornamos consciente nos fez (p.93)
seres éticos (...) a possibilidade do desvio ético não pode
receber outra designação se não a de transgressão. O professor “No fundo, o essencial nas relações entre o educador e o
que desrespeita a curiosidade do educando.” (p.59) educando, entre autoridade e liberdades, entre pais, mães,
filhos e filhas é a reinvenção do ser humano no aprendizado de
“Transgride os princípios fundamentalmente éticos de sua autonomia.” (p.94)
nossa existência.” (p.60)
“O ensino dos conteúdos implica o testemunho ético do
“O exercício do bom senso com o qual só temos o que professor (...) não há lugar para puritanismo. Só há lugar para
ganhar se faz do ‘corpo’ da curiosidade.” (p.62) pureza. (...) A minha pura fala sobre estes direitos a que não
corresponda a suas concretizações não tem sentido.” (p.95)
“Como na verdade posso eu continuar falando no respeito
à dignidade do educando se o ironizo (...). Se o testemunho que “Não e possível exercer a atividade do magistério como se
a ele dou e da irresponsabilidade (...). A responsabilidade do nada ocorresse conosco. (...) Não posso escapar à apreciação
professor, de que às vezes não nos damos conta, e sempre dos alunos.” (p.96)
grande.” (p.65)
“Saber que não posso passar despercebido pelos alunos, e
“Ensinar exige humildade, tolerância e luta em defesa dos que a maneira como me percebam me ajuda ou desajuda no
direitos dos educadores.” (p.66) cumprimento de minha tarefa de professor, aumenta em mim
os cuidados com meu desempenho. (...) Não posso discriminar
“Em nome do respeito que devo ao aluno não tenho por o aluno em nome de nenhum motivo.” (p.97)
que me omitir, por que me ocultar a minha opção política
assumindo uma neutralidade que não existe. Esta, a omissão “Nada justifica a minimização dos seres humanos, no caso
do professor em nome do respeito ao aluno, talvez seja a das maiorias composta de minorias que não perceberam ainda
melhor maneira de desrespeitá-lo.” (p.71) que juntas seriam a maioria. (...) Falo da resistência, da
indignação, da “justa ira” dos traídos e dos enganados. Do seu
“O meu envolvimento com a pratica educativa, direito e do seu dever de rebelar-se contra as transgressões
sabidamente política, moral, gnosiológica, jamais deixou de ser éticas de que são vitimas cada vez mais sofridas. (p.101)
feito com alegria. (...) Há uma relação entre a alegria necessária
à atividade educativa e a esperança. (...) A esperança é uma “Não posso ser professor sem me achar capacitado para
espécie de ímpeto natural possível e necessário, a ensinar certo e bem os conteúdos de minha disciplina. (...) É
desesperança é o aborto deste ímpeto.” (p.72) importante que os alunos percebam o esforço que faz o
professor ou a professora procurando a sua coerência.”
“O mundo não é. O mundo está sendo.” (p.76) (p.103)

“A mudança do mundo implica a dialetização entre a “Ensinar exige liberdade e autoridade.” (p.104)
denúncia da situação desumanizante e o anuncio de sua
superação, no fundo, o nosso sonho. (...) mudar é difícil mas é “A liberdade sem limite e tão negada quanto a liberdade
possível (p.79) asfixiada ou castrada. (...) Quanto mais criticamente a
liberdade assuma o limite necessário tanto mais autoridade
“Como professor devo saber que sem a curiosidade que me tem ela, eticamente falando, para continuar lutando em seu
move, que me inquieta, que me insere na busca, não aprendo nome. (p. 105)
nem ensino.” (p.85)
“Ninguém e autônomo primeiro para depois decidir. A
“O exercício da curiosidade convoca a imaginação, a autonomia vai se construindo na experiência de várias,
intuição, as emoções, a capacidade de conjecturar, de inúmeras decisões, que vão sendo tomadas. (...) A gente vai
comparar, na busca da perfilização do objeto ou do achado de amadurecendo todo dia, ou não. A autonomia enquanto
sua razão de ser.” (p.88) amadurecimento do ser para si, e processo, e vir a ser.” (p.107)

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“Ensinar exige saber escutar. (...) O educador que escuta de minha autoridade. Não posso condicionar a avaliação do
aprende a difícil missão de transformar o seu discurso, às trabalho escolar de um aluno ao maior ou menos bem querer
vezes e necessário, ao aluno, em fala com ele.” (p.113) que tenha por ele.” (p.141)

“No processo da fala e da escuta a disciplina do silencio a


ser assumida com rigor e a seu tempo pelos sujeitos que falam “E esta força misteriosa, às vezes chamada vocação que
e escutam e um ‘sine Qua’ [sem o qual não pode ser] da explica a quase devoção com que a grande maioria do
comunicação dialógica. (...) É preciso, porém, que quem tem o ministério nele permanece, apesar da imoralidade dos
que dizer saiba sem sombra de duvidas, não ser o único ou a salários. (...) Mas e preciso, sublime, que, permanecendo e
única a ter o que dizer.” (p.116) amorosamente cumprindo seu dever, não deixe de lutar
politicamente, por seus direitos e pelo respeito à dignidade de
“A importância do silencio no espaço da educação e sua tarefa, assim como pelos erros devido ao espaço
fundamental.” (p.117) pedagógico em que atua com seus alunos.” (p.142)

“Escutar e obviamente algo que vai mais além da “Como pratica estreitamente humana jamais pude
possibilidade auditiva de cada um. Escutar significa (...) entender a educação como experiência fria, sem alma em que
abertura a fala do outro, ao gesto do outro, às diferenças do os sentimentos (...) devessem ser reprimidos por uma espécie
outro.” (p.119) de ditadura racionalista.” (p.145)

“Uma das tarefas essenciais da escola, como centro de “Não nego a competência, por outro lado, de certos
produção sistemática de conhecimento, é trabalhar arrogantes, mas lamento neles a ausência de simplicidade que,
criticamente a inteligibilidade das coisas e dos fatos e sua não diminuindo em nada seu saber, os faria gente melhor.
comunicabilidade.” (p.123) Gente mais gente.” (p.146)

“Ninguém pode conhecer por mim assim como não posso


conhecer pelo aluno.” (p.124) LA TAILLE, Yves et alii. Piaget,
“Ensinar exige reconhecer que a educação e ideológica.
Vygotsky, Wallon: teorias
Saber igualmente é fundamental à pratica educativa do psicogenéticas em discussão. São
professor ou da professora é o que diz respeito à força as vezes Paulo: Summus, 1992;
maior do que pensamos, da ideologia.” (p.125)

“A capacidade de nos amaciar que tem a ideologia nos faz


PARTE I – FATORES BIOLÓGICOS E SOCIAIS
às vezes mançamente aceitar que a globalização da economia
O lugar da interação na concepção de Jean Piaget
e uma invenção dela mesma ou de um destino que não poderia
Yves de La Taille
se evitar.” (p.126)
La Taille considera que nada há de mais injusto que a
“O discurso da globalização que fala da ética esconde,
crítica feita a Piaget de desprezar o papel dos fatores sociais no
porém, que a sua é a ética do mercado e não a ética universal
desenvolvimento humano. O máximo que se pode dizer é que
do ser humano, pela qual devemos lutar.” (p.127)
Piaget não se deteve sobre a questão, mas, o pouco que
levantou é de suma importância.
“A liberdade do comercio não pode estar a cima da
liberdade do ser humano.” (p.129)
Para o autor, o postulado de Wallon de que o homem é
“geneticamente social” (impossível de ser pensado fora do
“O desemprego do mundo não é, (...) uma fatalidade.”
contexto da sociedade) também vale para a teoria de Piaget,
(p.130)
pois são suas palavras: “desde o nascimento, o
desenvolvimento intelectual é, simultaneamente, obra da
“Ensinar exige uma disponibilidade para dialogo. (...)
sociedade e do indivíduo” (p.12).
Minha segurança se funda na convicção de que sei algo e de
Para Piaget, o homem não é social da mesma maneira aos
que ignoro algo a que se junta a certeza de que posso saber
seis meses ou aos vinte anos. A socialização da inteligência só
melhor o que já sei e conhecer o que ainda não sei. (...) não há
começa a partir da aquisição da linguagem. Assim, no estágio
razão para me envergonhar por desconhecer algo.” (p.135)
sensório-motor a inteligência é essencialmente individual, não
há socialização. No estágio pré-operatório, as trocas
“Seria impossível saber-se inacabado e não se abrir ao
intelectuais equilibradas ainda são limitadas pelo pensamento
mundo e aos outros à procura de explicação, de respostas a
egocêntrico (centrado no eu): as crianças não conseguem
múltiplas perguntas. O fechamento ao mundo e aos outros se
seguir uma referência única (falam uma coisa agora e o
tornam transgressão ao impulso natural da incompletude.”
contrário daí a pouco), colocar-se no ponto de vista do outro e
(p.136)
não são autônomas no agir e no pensar. No estágio operatório-
concreto, começam a se efetuar as trocas intelectuais e a
“O mundo encurta, o tempo se dilui: o ontem vira agora; o
criança alcança o que Piaget chama de personalidade – o
amanhã já este feito. Tudo muda rápido.” (p.139)
indivíduo se submetendo voluntariamente às normas de
reciprocidade e universalidade. A personalidade é o ponto
“Ensinar exige querer bem aos educandos. (...) preciso
mais refinado da socialização: o eu renuncia a si mesmo para
estar aberto ao gosto de querer bem, às vezes, à coragem de
inserir seu ponto de vista entre os outros, em oposição ao
querer bem aos educandos e à própria pratica educativa de
egocentrismo, em que a criança elege o próprio pensamento
que participo. (...) Não e certo, sobre tudo do ponto de vista
como absoluto. O ser social de mais alto nível é aquele que
democrático, que serei tão melhor professor quanto mais
consegue relacionar-se com seus semelhantes realizando
severo, mais frio, mais distante e ‘cinzento’. (...) O que não
trocas em cooperação, o que só é possível quando atingido o
posso obviamente permitir e que minha afetividade interfira
estágio das operações formais (adolescência).
no cumprimento ético do meu dever de professor no exercício

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O processo de socialização O processo de formação de conceitos


A socialização vai do grau zero (recém-nascido) ao grau A linguagem é o sistema simbólico fundamental na
máximo (personalidade). O indivíduo mais evoluído pode mediação entre sujeito e objeto do conhecimento e tem duas
usufruir tanto de sua autonomia quanto das contribuições dos funções básicas: interação social (comunicação entre
outros. Para Piaget, “autonomia significa ser capaz de se situar indivíduos) e pensamento generalizante (significado
consciente e competentemente na rede dos diversos pontos de compartilhado pelos usuários). Nomear um objeto significa
vista e conflitos presentes numa sociedade” (p.17). Há uma colocá-lo numa categoria de objetos com atributos comuns.
“marcha para o equilíbrio”, com bases biológicas, que começa Palavras são signos mediadores na relação do homem com o
no período sensório-motor, com a construção de esquemas de mundo.
ação, e chega às ações interiorizadas, isto é, efetuadas O desenvolvimento do pensamento conceitual segue um
mentalmente. percurso genético que parte da formação de conjuntos
Embora tudo pareça resumir-se à relação sujeito-objeto, sincréticos (baseados em nexos vagos e subjetivos), passa pelo
para La Taille, as operações mentais permitem o pensamento por complexos (baseado em ligações concretas e
conhecimento objetivo da natureza e da cultura e são, factuais) e chega à formação de conceitos (baseados em
portanto, necessidades decorrentes da vida social. Para ele, ligações abstratas e lógicas).
Piaget não compartilha do “otimismo social” de que todas as Esse percurso não é linear e refere-se à formação de
relações sociais favorecem o desenvolvimento. Para La Taille, conceitos cotidianos ou espontâneos, isto é, desenvolvidos no
a peculiaridade da teoria piagetiana é pensar a interação pela decorrer da atividade prática da criança em suas interações
perspectiva da ética (igualdade, respeito mútuo, liberdade, sociais imediatas e são, portanto, impregnados de
direitos humanos). Ser coercitivo ou cooperativo depende de experiências. Já os conceitos científicos são os transmitidos em
uma atitude moral, sendo que a democracia é condição para o situações formais de ensino-aprendizagem e geralmente
desenvolvimento da personalidade. Diz ele: “A teoria de Piaget começam por sua definição verbal e vão sendo expandidos no
é uma grande defesa do ideal democrático” (p. 21). decorrer das leituras e dos trabalhos escolares. Assim, o
desenvolvimento dos conceitos espontâneos é ascendente (da
Vygotsky e o processo de formação de conceitos experiência para a abstração) e o de conceitos científicos é
Marta Kohl de Oliveira descendente (da definição para um nível mais elementar e
concreto).
Substratos biológicos e construção cultural no A partir do exposto, duas conclusões são fundamentais:
desenvolvimento humano 1ª - diferentes culturas produzem modos diversos de
A perspectiva de Vygotsky é sempre a da dimensão social funcionamento psicológico;
do desenvolvimento. Para ele, o ser humano constitui-se como 2ª - a instrução escolar é de enorme importância nas
tal na sua relação com o outro social; a cultura torna-se parte sociedades letradas.
da natureza humana num processo histórico que molda o
funcionamento psicológico do homem ao longo do Do ato motor ao ato mental: a gênese da inteligência
desenvolvimento da espécie (filogenética) e do indivíduo segundo Wallon
(ontogenética). O ser humano tem, assim, uma dupla natureza: Heloysa Dantas
membro de uma espécie biológica que só se desenvolve no
interior de um grupo cultural. Wallon tem uma preocupação permanente com a infra-
Vygotsky rejeitou a idéia de funções fundamentais fixas e estrutura orgânica de todas as funções psíquicas. Seus estudos
imutáveis, “trabalhando com a noção do cérebro como um partem de pessoas com problemas mentais, portanto, seu
sistema aberto, de grande plasticidade, cuja estrutura e modos ponto de partida é o patológico, isto é, utiliza a doença para
de funcionamento são moldados ao longo da história da entender a normalidade. Para Wallon, o ser humano é
espécie e do desenvolvimento individual” (p. 24). Para ele, o organicamente social, isto é, sua estrutura orgânica supõe a
cérebro é formado por sistemas funcionais complexos, isto é, intervenção da cultura. A metodologia do seu trabalho ancora-
as funções não se localizam em pontos específicos, mas se se no materialismo dialético, concebendo a vida dos
organizam a partir da ação de diversos elementos que atuam organismos como uma pulsação permanente, uma alternância
de forma articulada. O cérebro tem uma estrutura básica, de opostos, um ir e vir permanente, com avanços e recuos.
resultante da evolução da espécie, que cada membro traz
consigo ao nascer. Essa estrutura pode ser articulada de A motricidade: do ato motor ao ato mental.
diferentes formas pelo sujeito, isto é, um mesmo problema A questão da motricidade é o grande eixo do trabalho de
pode ser solucionado de diferentes formas e mobilizar Wallon. Para ele, o ato mental se desenvolve a partir do ato
diferentes partes do cérebro. motor. Ao longo do desenvolvimento mental, a motricidade
Há uma forte ligação entre os processos psicológicos e a cinética (de movimento) tende a se reduzir, dando lugar ao ato
inserção do indivíduo num contexto sócio-histórico específico. mental. Assim, mesmo imobilizada no esforço mental, a
Instrumentos e símbolos construídos socialmente é que musculatura permanece em atividade tônica (músculo parado,
definem quais possibilidades de funcionamento cerebral serão atitude). A tipologia de movimento que Wallon adota parte de
concretizadas. Vygotsky apresenta a ideia de mediação: a atos reflexos, passa pelos movimentos involuntários e chega
relação do homem com os objetos é mediada pelos sistemas aos voluntários ou praxias, só possíveis graças à influência
simbólicos (representações dos objetos e situações do mundo ambiental aliada ao amadurecimento cerebral.
real no universo psicológico do indivíduo), que lhe possibilita Ao nascer, é pela expressividade ou mímica que o ser
planejar o futuro, imaginar coisas, etc. humano atua sobre o outro. A motricidade disponível consiste
Em resumo: operar com sistemas simbólicos permite o em reflexos e movimentos impulsivos, incoordenados. A
desenvolvimento da abstração e da generalização e define o exploração da realidade exterior só é possível quando surgem
salto para os processos psicológicos superiores, tipicamente as capacidades de fixar o olhar e pegar. A competência no uso
humanos. Estes têm origem social, isto é, é a cultura que das mãos só se completa ao final do primeiro ano de vida,
fornece ao indivíduo o universo de significados quando elas chegam a uma ação complementar (mão
(representações) da realidade. As funções mentais superiores dominante e auxiliar). A etapa dominantemente práxica da
baseiam-se na operação com sistemas simbólicos e são motricidade ocorre paralelamente ao surgimento dos
construídas de fora para dentro num processo de movimentos simbólicos ou ideativos1. O movimento, a
internalização. princípio, desencadeia o pensamento. Por exemplo, uma

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criança de dois anos, que fala e gesticula, tem seu fluxo mental Piaget dividiu em três etapas a evolução da prática e da
atrofiado se imobilizada. O controle do gesto pela ideia consciência de regras:
inverte-se ao longo do desenvolvimento. Há uma transição do 1ª - anomia (até 5/6 anos): as crianças não seguem
ato motor para o mental. atividades com regras coletivas;
2ª - heteronomia (até 9/10 anos): as crianças vêm as
As fases da inteligência – as etapas de construção do eu regras como algo de origem imutável e não como contrato
No processo de desenvolvimento da inteligência há firmado entre os jogadores; ao mesmo tempo, quando em jogo,
preponderância (a cada período mais marcado pelo afetivo introduzem mudanças nas regras sem prévia consulta aos
segue-se outro mais marcado pelo cognitivo) e alternância de demais; as regras não são elaboradas pela consciência e não
funções (a criança ora está mais voltada para a realidade das são entendidas a partir de sua função social;
coisas/conhecimento do mundo – fases centrípetas, ora mais 3ª - autonomia: é a concepção adulta de jogo; o respeito às
voltada para a edificação da pessoa/conhecimento de si – fases regras é visto como acordo mútuo em que cada jogador vê-se
centrífugas). como possível “legislador”.
1ª fase: impulsivo-emocional (de zero a um ano). Voltada
para o desenvolvimento motor e para a construção do eu. No b) O dever moral
recém-nascido, os movimentos impulsivos que exprimem O ingresso da criança no universo moral se dá pela
desconforto ou bem estar são interpretados pelos adultos e se aprendizagem dos deveres a ela impostos pelos pais e demais
transformam em movimentos comunicativos através da adultos, o que acontece na fase de heteronomia e se traduz
mediação social; até o final do primeiro ano a relação com o pelo “realismo moral” que tem as seguintes características:
ambiente é de natureza afetiva e a criança estabelece com a - a criança considera que todo ato de obediência às regras
mãe um “diálogo tônico” (toques, voz, contatos visuais). impostas é bom;
2ª fase: sensório-motor e projetivo (de um a três anos). - as regras são interpretadas ao pé da letra e não segundo
Aprendendo a andar a criança ganha mais autonomia e volta- seu espírito;
se para o conhecimento do mundo. Surge uma nova fase de - há uma concepção objetiva de responsabilidade: o
orientação diversa, voltada para a exploração da realidade julgamento é feito pela consequência do ato e pela
externa. Com a linguagem, inicia-se o domínio do simbólico. intencionalidade.
3ª fase: personalismo (três a seis anos). Novamente
voltada para dentro de si, a preocupação é agora construir-se c) A justiça
como ser distinto dos demais (individualidade diferenciada). A noção de justiça engloba todas as outras noções morais e
Com o aperfeiçoamento da linguagem, desenvolve-se o envolve ideias matemáticas (proporção, peso, igualdade).
pensamento Quanto menor a criança mais forte a noção de justiça imanente
1 Ideomovimento é expressão peculiar de Wallon e indica (todo crime será castigado, mesmo que seja por força da
o movimento que contém ideias discursivo. Sucedem-se uma natureza), mais ela opta por sanções expiatórias (o castigo tem
etapa de rejeição (atitudes de oposição), outra de sedução do uma qualidade estranha ao delito) e mais severa ela é (acha
outro e conciliação (idade da graça) e outra de imitação (toma que quanto mais duro o castigo, mais justo ele é). A partir dos
o outro como modelo). 8/9 anos a desobediência já é vista como ato legítimo quando
4ª fase: categorial (seis a onze anos). Voltada para o há flagrante injustiça.
cognitivo, é a fase escolar. Ao seu final, há a superação do
sincretismo do pensamento em direção à maior objetividade e As duas morais da criança e os tipos de relações sociais
abstração. A criança torna-se capaz de diferenciações Mesmo concordando que a moral é um ato social, para
intelectuais (pensamento por categorias) e volta-se para o Piaget o sujeito participa ativamente de seu desenvolvimento
conhecimento do mundo. intelectual e moral e detém uma autonomia possível perante
5ª fase: puberdade e adolescência (a partir dos onze anos). os ditames da sociedade.
Nesta fase, caracterizada pela autoafirmação e pela As relações interindividuais são divididas em duas
ambivalência de atitudes e sentimentos, a criança volta-se categorias:
novamente para a construção da pessoa. Há uma reconstrução - coação: derivada da heteronomia, é uma relação
do esquema corporal e o jovem tem a tarefa de manter um eu assimétrica, em que um dos polos impõe suas verdades, sendo
diferenciado (dos outros) e, ao mesmo tempo, integrado (ao contraditória com o desenvolvimento intelectual;
mundo), o que não é fácil. - cooperação: é uma relação simétrica constituída por
iguais, regida pela reciprocidade; envolve acordos e exige que
PARTE II – AFETIVIDADE E COGNIÇÃO o sujeito se descentre para compreender o ponto de vista
Desenvolvimento do juízo moral e afetividade na teoria alheio; com ela o desenvolvimento moral e intelectual ocorre,
de Jean Piaget pois ele pressupõe autonomia e superação do realismo moral.
Yves de La Taille Em resumo: para Piaget, a coerção é inevitável no início da
educação, mas não pode permanecer exclusiva para não
A obra “O julgamento moral da criança”(1932) traz encurralar a criança na heteronomia. Assim, para favorecer a
implícita a relação que existe entre afetividade e cognição para conquista da autonomia, a escola precisa respeitar e
Piaget, bem como a importância que ele atribui à autonomia aproveitar as relações de cooperação que espontaneamente,
moral. nascem das relações entre as crianças.

a) As regras do jogo Afetividade e inteligência na teoria piagetiana do


Segundo Piaget, toda moral consiste num sistema de desenvolvimento do juízo moral
regras, sendo que a essência da moralidade deve ser Para La Taille, o notável na teoria piagetiana é que nela
procurada no respeito que o indivíduo tem por elas. Piaget “não assistimos a uma luta entre afetividade e moral”(p.70).
utilizou o jogo coletivo de regras como campo de pesquisa por Afeto e moral se conjugam em harmonia: o sujeito autônomo
considerá-lo paradigmático para a moralidade humana não é reprimido mas um homem livre, convencido de que o
porque: é atividade interindividual regulada por normas que respeito mútuo é bom e legítimo. A afetividade adere
podem ser modificadas e que proveem de acordos mútuos espontaneamente aos ditames da razão. Ele considera que na
entre os jogadores, sendo que o respeito às normas tem um obra “O juízo moral na criança” intui-se um Piaget movido por
caráter moral (justiça, honestidade..). alguma “emoção”, que sustenta um grande otimismo em

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relação ao ser humano. No entanto, para ele, o estudo sobre o compreensão e sentido é o significado da palavra para cada
juízo moral poderia ter sido completado por outros que se indivíduo, no seu as contexto de uso e relacionado às suas
detivessem mais nos aspectos afetivos do problema. vivências afetivas.
A linguagem é, assim, polissêmica: requer interpretação
O problema da afetividade em Vygotsky com base em fatores linguísticos e extralinguísticos. Para
Marta Kohl de Oliveira entender o que o outro diz, não basta entender suas palavras,
mas também seu pensamento e suas motivações.
Vygotsky pode ser considerado um cognitivista
(investigou processos internos relacionados ao conhecimento O discurso interior
e sua dimensão simbólica), embora nunca tenha usado o termo O discurso interior corresponde à internalização da
cognição, mas função mental e consciência. Para ele há uma linguagem. Ao longo de seu desenvolvimento, a pessoa passa
distinção básica entre funções mentais elementares (atenção de uma fala socializada (comunicação e contato social) a uma
involuntária) e superiores (atenção voluntária, memória fala internalizada (instrumento de pensamento, sem
lógica). É difícil compreender cada função mental vocalização), correspondente a um diálogo consigo mesma.
isoladamente, pois sua essência é ser inter-relacionada com
outras funções. Sua abordagem é globalizante. Ele utiliza o A afetividade e a construção do sujeito na psicogenética
termo consciência para explicar a relação dinâmica de Wallon
(interfuncionalidade) entre afeto e intelecto e, portanto, Heloysa Dantas
questiona a divisão entre as dimensões cognitiva e afetiva do
funcionamento psicológico. Para ele, não dá para dissociar A teoria da emoção
interesses e inclinações pessoais (aspectos afetivo-volitivos) Para Wallon a dimensão afetiva ocupa lugar central, tanto
do ser que pensa (aspectos intelectuais). do ponto de vista da construção da pessoa quanto do
conhecimento. A emoção é instrumento de sobrevivência
Consciência típico da espécie humana. O bebê humano, frágil como é,
Vygotsky concebe a consciência como “organização pereceria não fosse sua capacidade de mobilizar
objetivamente observável do comportamento, que é imposta poderosamente o ambiente para atender suas necessidades. A
aos seres humanos através da participação em práticas sócio- função biológica do choro, por exemplo, é atuar fortemente
culturais”(p.78). É evidente a fundamentação em postulados sobre a mãe, fornecendo o primeiro e mais forte vínculo entre
marxistas: a dimensão individual é considerada secundária e os humanos. Assim, a emoção tem raízes na vida orgânica e
derivada da dimensão social, que é a essencial. Carrega ainda também a influência. Um estado emocional intenso, por
um fundamento sócio-histórico, isto é, a consciência humana, exemplo, provoca perda de lucidez.
resultado de uma atividade complexa, formou-se ao longo da Segundo Wallon, a atividade emocional é simultaneamente
história social do homem durante a qual a atividade social e biológica. Através da mediação cultural (social), realiza
manipuladora e a linguagem se desenvolveram. a transição do estado orgânico para a etapa cognitiva e
As impressões que chegam ao homem, vindas do mundo racional. A consciência afetiva cria no ser humano um vínculo
exterior são analisadas de acordo com categorias que ele com o ambiente social e garante o acesso ao universo
adquiriu na interação social. A consciência seria a própria simbólico da cultura – base para a atividade cognitiva –
essência da psique humana, o componente mais elevado das elaborado e acumulado pelos homens ao longo de sua história.
funções psicológicas humanas e envolve a inter-relação Dessa forma, para Wallon, o psiquismo é uma síntese entre o
dinâmica e em transformação entre: intelecto e afeto, orgânico e o social. Daí sua natureza contraditória de
atividade e representação simbólica, subjetividade e interação participar de dois mundos.
social. A opção metodológica adotada por Wallon é o
materialismo dialético. Isso quer dizer que não dá para pensar
Subjetividade e intersubjetividade o desenvolvimento como um processo linear, continuísta, que
As funções psicológicas superiores, tipicamente humanas, só caminha para a frente. Pelo contrário, é um processo com
referem-se a processos voluntários, ações conscientemente idas e vindas, contraditório, paradoxal. Assim, sua teoria da
controladas, mecanismos intencionais. emoção é genética (para acompanhar as mudanças funcionais)
Apresentam alto grau de autonomia em relação a fatores e dialética.
biológicos, sendo, portanto, o resultado da inserção do homem A origem da conduta emocional depende de centros
em determinado contexto sócio-histórico. subcorticais (de expressão involuntária e incontrolável) e
O processo de internalização de formas culturais de torna-se susceptível de controle voluntário com a maturação
comportamento, que corresponde à própria formação da cortical. Para Wallon, as emoções podem ser de natureza
consciência, é um processo de constituição da subjetividade a hipotônica ou redutora do tônus (como o susto e a depressão)
partir de situações de intersubjetividade. Assim, a passagem e hipertônica ou estimuladora do tônus (como a cólera e a
do nível interpsicológico para o intrapsicológico envolve ansiedade).
relações interpessoais e a construção de sujeitos únicos, com
trajetórias pessoais singulares e experiências particulares em Características do comportamento emocional
sua relação com o mundo e, fundamentalmente, com as outras A longa fase emocional da infância tem correspondência na
pessoas. história da espécie humana: é a emoção que garante a
solidariedade afetiva e a sobrevivência do indivíduo.
Sentido e significado Da função social da emoção resultam seu caráter
Para Vygotsky, os processos mentais superiores são contagioso (a ansiedade infantil pode provocar irritação ou
mediados por sistemas simbólicos, sendo a linguagem o angústia no adulto, por exemplo) e a tendência para nutrir-se
sistema simbólico básico de todos os grupos humanos. O com a presença do outro (uma plateia alimenta uma chama
significado é componente essencial da palavra, o filtro através emocional entre os participantes, por exemplo). Devido a seus
do qual o indivíduo compreende o mundo e age sobre ele. Nele efeitos desorganizadores, anárquicos e explosivos, a emoção
se dá a unidade de duas funções básicas da linguagem: a pode reduzir o funcionamento cognitivo, se a capacidade
interação social e o pensamento generalizante. Na concepção cortical da ação mental ou motora para retomar o controle da
sobre o significado há uma conexão entre os aspectos situação for baixa. Se a capacidade cortical for alta, soluções
cognitivos e afetivos: significado é núcleo estável de inteligentes poderão ser encontradas.

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Para Wallon não existe estado não emocional. Até a especificidade do aprendizado da leitura e da escrita que se
serenidade exprime emoção. Assim, a educação da emoção constituem em construções individuais dos sujeitos agindo
deveria ser incluída entre os propósitos da ação pedagógica sobre o objeto (leitura e escrita) torna a sua escolarização
para evitar a formação do “circuito perverso de emoção”: a difícil, já que não são passíveis de se submeterem a uma
emoção surge num momento de incompetência do sujeito e, programação sequencial. Por outro lado, trata-se de práticas
não conseguindo transformar-se em atividade racional, sociais que historicamente foram, e de certo modo continuam
provoca mais incompetência. O efeito desorganizador da sendo, patrimônio de certos grupos, mais que de outros, o que
emoção concentra a sensibilidade no próprio corpo e diminui nos leva a enfrentar e tentar buscar caminhos para resolver as
a percepção do exterior. tensões existentes na instituição escolar entre a tendência à
mudança (democratização do ensino) e a tendência à
Afetividade e inteligência conservação (reprodução da ordem social estabelecida). É
O ser humano é afetivo por excelência. É da afetividade que difícil ainda, porque o ato de ensinar a ler e escrever na escola
se diferencia a vida racional. No início da vida, afetividade e tem finalidade puramente didática: a de possibilitar a
inteligência estão sincreticamente misturadas. Ao longo do transmissão de saberes e comportamentos culturais, ou seja, a
desenvolvimento, a reciprocidade se mantém de tal forma que de preservar a ordem pré-estabelecida, o que o distancia da
as aquisições de uma repercute sobre a outra. A pessoa se função social que pressupõe ler para se comunicar com o
constitui por uma sucessão de fases com predomínio, ora do mundo, para conhecer outras possibilidades e refletir sobre
afetivo, ora do cognitivo. Cada fase incorpora as aquisições do uma nova perspectiva.
nível anterior. Para evoluir, a afetividade depende da É difícil também, porque a estruturação do ensino
inteligência e vice-versa. Dessa forma, não é só a inteligência conforme um eixo temporal único, segundo uma progressão
que evolui, mas também a emoção. Com o desenvolvimento, a linear acumulativa e irreversível entra em contradição com a
afetividade incorpora as conquistas da inteligência e tende a própria natureza da aprendizagem da leitura e da escrita, que
se racionalizar. Por isso, as formas adultas de afetividade são como vimos ocorre por meio de aproximações do sujeito com
diferentes das infantis. No início a afetividade é somática, o objeto, provocando coordenações e reorganizações
tônica, pura emoção. Alarga seu raio de ação com o surgimento cognitivas que lhe permite atribuir um novo significado aos
da função simbólica. Na adolescência, exigências racionais são conteúdos aprendidos. E, finalmente, a necessidade da escola
colocadas: respeito recíproco, justiça, igualdade de direitos. em controlar a aprendizagem da leitura faz com que se
privilegie mais o aspecto ortográfico do que os interpretativos
Inteligência e pessoa do ato de ler, e o sistema de avaliação, onde cabe somente ao
O processo que começa com a simbiose fetal tem por docente o direito e o poder de avaliar, não propiciam ao aluno
horizonte a individualização. Para Wallon, não há nada mais a oportunidade de autocorreção e reflexão sobre o seu
social do que o processo pelo qual o indivíduo se singulariza, trabalho escrito, e consequentemente não contribui para a
em que o eu se constrói alimentando-se da cultura, sendo que construção da sua autonomia intelectual.
o destino humano, tanto no plano individual quanto no social, Diante desses fatos, o que é possível fazer para que se
é uma obra sempre inacabada. possam conciliar as necessidades inerentes a instituição
escolar e, ao mesmo tempo, atender as necessidades de formar
leitores e escritores competentes ao exercício pleno da
LERNER, Delia – Ler e cidadania? Em primeiro lugar devem se tornar explícitos aos
profissionais da educação os aspectos implícitos nas práticas
escrever na escola o real, o educativas que estão acessíveis graças aos estudos
possível e o necessário – sociolinguísticos, psicolinguísticos, antropológicos e
Artmed, 2002; históricos, ou seja, aqueles que nos mostram como a criança
aprende a ser leitora e escritora; o que facilita ou quais são as
prerrogativas essenciais a esse aprendizado. Em segundo
lugar, é preciso que se trabalhe com projetos como ferramenta
Embora seja difícil e demande tempo, a escola necessita de
capaz de articular os propósitos didáticos com os
transformações profundas no que concerne ao aprendizado da
comunicativos, já que permitem uma articulação dos saberes
leitura e da escrita, que só serão alcançadas através da
sociais e os escolares. Além disso, o trabalho com projetos
compreensão profunda de seus problemas e necessidades,
estimula a aprendizagem, favorece a autonomia, já que
para que então seja possível falar de suas possibilidades.
envolve toda a classe, e evita o parcelamento do tempo e do
saber, já que tem uma abordagem multidisciplinar. "É assim
Capítulo 1 - Ler e Escrever na Escola: O Real, o Possível e
que se torna possível evitar a justaposição de atividades sem
o Necessário
conexão - que abordam aspectos também sem conexão com os
conteúdos -, e as crianças tem oportunidade de ter acesso a um
Aprender a ler e escrever na escola deve transcender a
trabalho suficientemente duradouro para resolver problemas
decodificação do código escrito, deve fazer sentido e estar
desafiantes, construindo os conhecimentos necessários para
vinculado à vida do sujeito, deve possibilitar a sua inserção no
isso, para estabelecer relações entre diferentes situações e
meio cultural a qual pertence, tornando-o capaz de produzir e
saberes, para consolidar o aprendido e reutilizá-lo...".
interpretar textos que fazem parte de seu entorno. Torna-se
Finalmente, é possível repensar a avaliação, sabendo que
então necessário reconceitualizar o objeto de ensino tomando
esta é necessária, mas que não pode prevalecer sobre a
por base as práticas sociais de leitura e escrita, ressignificando
aprendizagem. Segundo a autora, 'ao diminuir a pressão do
seu aprendizado para que os alunos se apropriem dele 'como
controle, toma-se possível avaliar aprendizagens que antes
práticas vivas e vitais, onde ler e escrever sejam instrumentos
não ocorriam [...]' já que no trabalho com projetos os alunos
poderosos que permitem repensar o mundo e reorganizar o
discutem suas opiniões, buscam informações que possam
próprio pensamento, onde interpretar e produzir textos sejam
auxiliá-los e procuram diferentes soluções, fatores
direitos que é legítimo exercer e responsabilidades que é
importantíssimos a formação de cidadãos praticantes da
necessário assumir'. Para tornar real o que compreendemos
cultura escrita.
ser necessário é preciso conhecer as dificuldades que a escola
apresenta, distinguindo as legítimas das que fazem parte de
'resistências sociais' para que então se possa propor soluções
e possibilidades. A tarefa é difícil porque, a própria

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Capítulo 2 - Para Transformar o Ensino da Leitura e da - a fragmentação do ensino da língua (primeiro sílabas
Escrita simples, depois complexas, palavras, frases...) não permite um
espaço para que o aluno possa pensar no que aprendeu dentro
"O desafio [...] é formar seres humanos críticos, capazes de de um contexto que lhe faça sentido, e ainda, fazem com que
ler entrelinhas e de assumir uma posição própria frente à esta perca a sua identidade.
mantida, explicita ou implicitamente, pelos autores dos textos "Como o objetivo final do ensino é que o aluno possa fazer
com os quais interagem em vez de persistir em formar funcionar o aprendido fora da escola, em situações que já não
indivíduos dependentes da letra do texto e da autoridade dos serão didáticas, será necessário manter uma vigilância
outros". epistemológica que garanta uma semelhança fundamental
Para que haja uma transformação verdadeira do ensino da entre o que se ensina e o objeto ou prática social que se
leitura e da escrita, a escola precisa favorecer a aprendizagem pretende que os alunos aprendam. A versão escolar da leitura
significativa, abandonando as atividades mecânicas e sem e da escrita não deve afastar-se demasiado da versão social
sentido que levam o aluno a compreender a escrita como uma não-escolar". O "Contrato Didático" aqui é considerado como
atividade pura e unicamente escolar. Para isso, a escola as relações implícitas estabelecidas entre professor e aluno,
necessita propiciar a formação de pessoas capazes de apreciar sobretudo porque estas exercem influência sobre o
a literatura e de mergulhar em seu mundo de significados, aprendizado da leitura e da escrita, já que o aluno deve
formando escritores e não meros copistas, formando concentrar-se em perceber ou descobrir o que o professor
produtores de escrita conscientes de sua função e poder social. deseja que ele 'saiba' sobre aquele texto que o professor
Precisa também, preparar as crianças para a interpretação e escolheu para que ele leia e não em suas próprias
produção dos diversos tipos de texto existentes na sociedade, interpretações: "A 'cláusula' referente à interpretação de
conseguindo que a escrita deixe de ser apenas um objeto de textos parece estabelecer [...] que o direito de decidir sobre a
avaliação e passe a ser um objeto de ensino, capaz não apenas validade da interpretação é privativo do professor...".
de reproduzir pensamentos alheios, mas de refletir sobre o seu Se o objetivo da escola é formar cidadãos praticantes da
próprio pensamento, enfim, promovendo a descoberta da leitura e da escrita, capazes de realizar escolhas e de opinar
escrita como instrumento de criação e não apenas de sobre o que leem e veem em seu entorno social, é preciso que
reprodução. Para realmente transformar o ensino da leitura e seja revisto o Contrato Didático, principalmente no âmbito da
da escrita na escola, é preciso, ainda, acabar com a leitura e da escrita, e essa revisão é encargo dos pesquisadores
discriminação que produz fracasso e abandono na escola, de didática - divulgando os resultados obtidos bem como os
assegurando a todos o direito de 'se apropriar da leitura e da elementos que podem contribuir para as mudanças
escrita como ferramentas essenciais de progresso necessárias -, é responsabilidade dos organismos que regem a
cognoscitivo e de crescimento pessoal'. educação - que devem levar em conta esses resultados -, é
É possível a mudança na escola? Ensinar e ler e escrever encargo dos formadores de professores e de todas as
faz parte do núcleo fundamental da instituição escolar, está instituições capazes de comunicar à comunidade e
nas suas raízes, constitui a sua missão alfabetizadora e sua particularmente aos pais, da importância que tem a análise,
função social, portanto, é a que mais apresenta resistência a escolha e exercício de opinião de seus filhos quando do
mudanças. Além disso, nos últimos anos, foi a área de que mais exercício da leitura e da escrita.
sofreu com a invasão de inovações baseadas apenas em
modismos. Ferramentas para transformar o ensino

"...O sistema de ensino continua sendo o terreno Vimos que transformar o ensino vai além da capacitação
privilegiado de todos os voluntarismos - dos quais talvez seja dos professores, passa pela sua revalorização pessoal e
o último refúgio. Hoje, mais de que ontem, deve suportar o profissional; requer uma mudança de concepção da relação
peso de todas as expectativas, dos fantasmas, das exigências ensino-aprendizagem para que se possa conceber o
de toda uma sociedade para a qual a educação é o ultime estabelecimento de objetivos por ciclos que abrangem os
portador de ilusões". conhecimentos - objeto de ensino -de forma interdisciplinar,
visando diminuir a pressão do tempo didático e da
Sendo assim, para que seja possível uma mudança fragmentação do conhecimento. Requer que não se perca de
profunda da prática didática vigente hoje nas instituições de vista os objetivos gerais e de prioridade absoluta, aqueles que
ensino, capaz de tornar possível a leitura na escola, é preciso são essenciais à educação e lhe conferem significado. Requer
que esta esteja fundamentada na evolução histórica do ainda, que se compreenda a alfabetização como um processo
pensamento pedagógico, sabendo que muito do que se propõe de desenvolvimento da leitura e da escrita, e que, portanto, não
pode ser encontrado nas ideias de Freinet, Dewey, Decroly e pode ser desprovido de significado.
outros pensadores e educadores, o que significa estarem Essa compreensão só será alcançada na medida em que
baseadas no avanço do conhecimento científico dessa área, forem conhecidos e compreendidos os estudos científicos
que como em outras áreas do conhecimento científico, teve realizados na área, e que nos levaram a descobrir a
suas hipóteses testadas com o objetivo de desvendar a gênese importância da atividade mental construtiva do sujeito no
do conhecimento humano - como os estudos realizados por processo de construção de sua aprendizagem, ressignificando
Jean Piaget. É preciso compreender também, que essas o papel da escola. Colocando em destaque o aprendizado da
mudanças não dependem apenas da capacitação adequada de leitura e da escrita, consideramos fundamental que sejam
seus profissionais, já que esta é condição necessária, mas não divulgados os resultados apresentados pelos estudos
suficiente, é preciso conhecer o cotidiano escolar em sua psicogenéticos e psicolinguísticos, não apenas a professores
essência, buscando descobrir os mecanismos ou fenômenos ou profissionais ligados à educação, mas a toda sociedade,
que permitem ou atravancam a apropriação da leitura e da objetivando conscientizá-los da sua validade e importância,
escrita por todas as crianças que ali estão inseridas. levando-os a perceber as vantagens das estratégias didáticas
O que vimos até hoje, por meio dos trabalhos e pesquisas baseadas nesses estudos, e, sobretudo, conscientizando-os de
que temos realizado no campo da leitura e da escrita, é que que educação também é objeto da ciência.
existe um abismo que separa a prática escolar da prática social Voltando a capacitação, enfatizando sua necessidade, é
da leitura e da escrita - lê-se na escola trechos sem sentido de preciso que se criem espaços de discussão e troca de
uma realidade desconhecida para a criança, já que foi experiências e informações, que dentre outros aspectos
produzido sistematicamente para ser usado no espaço escolar servirão para levar o professor a perceber que a diversidade

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cultural não acontece apenas em sua sala de aula, que ela faz que embora demandem tempo, são essenciais para que o
parte da realidade social na qual estamos inseridos, e que sujeito possa, no futuro, ser um praticante da leitura e da
sendo assim, não poderia estar fora da escola, e ainda, que esta escrita.
diversidade tem muito a contribuir se o nosso objetivo
educacional consistir em preparar nossos alunos para a vida "...É preciso assinalar que, ao exercer comportamentos de
em sociedade. No que concerne a leitura e escrita, parece-nos leitor e de escritor, os alunos têm também a oportunidade de
essencial ter corno prioritária a formação dos professores entrar no mundo dos textos, de se apropriar dos traços
como leitores e produtores de texto, capazes de aprofundar e distintivos[...] de certos gêneros, de ir detectando matizes que
atualizar seus saberes de forma permanente'. distinguem a 'linguagem que se escreve' e a diferenciam da
Nossa experiência nos levou a considerar que a oralidade coloquial, de pôr em ação [...] recursos linguísticos
capacitação dos professores em serviço apresenta melhores aos quais é necessário apelar para resolver os diversos
resultados quando é realizada por meio de oficinas, problemas que se apresentam ao produzir ou interpretar
sustentadas por bibliografias capazes de dar conta das textos [...[é assim que as práticas de leitura e escrita,
interrogações a respeito da prática que forem surgindo progressivamente, se transformam em fonte de reflexão
durante os encontros, que devem se estender durante todo o metalinguística". (p. 64).
ano letivo, e que contam com a participação dos
coordenadores também em sala de aula, mas que, à longo Capítulo 4 - É possível ler na escola?
prazo, capacitem o professor a seguir autonomamente, sem
que seja necessário o acompanhamento em sala de aula. "Ler é entrar em outros mundos possíveis. É indagar a
realidade para compreendê-la melhor, é se distanciar do texto
Capítulo 3 – Apontamentos a partir da Perspectiva e assumir uma postura crítica frente ao que se diz e ao que se
Curricular quer dizer, é tirar carta de cidadania no mundo da cultura
escrita...”. (p.73). Ensinar a ler e escrever foi, e ainda é, a
É importante que, ao propor uma transformação didática a principal missão da escola, no entanto, dois fatores parecem
uma instituição de ensino, seja considerada a sua contribuir para que a escola não obtenha sucesso:
particularidade, o que se dá através do conhecimento de suas 1. A tendência de supor que existe uma única interpretação
necessidades e obstáculos, implícitos ou explícitos, que caberá possível a cada texto;
a proposta suprir ou superar. É imperativo que a elaboração 2. A crença - como diria Piaget - de que a maneira como as
de documentos curriculares esteja fortemente amparada na crianças aprendem difere da dos adultos, e que, portanto,
pesquisa didática, já que será necessário selecionar os basta ensinar-lhes o que julgarem pertinente, sem que haja
conteúdos que serão ensinados o que pressupõe uma preocupação com o sentido ou significado que tais conteúdos
hierarquização, já que privilegiará alguns em detrimento de tem para as crianças, o que, além de tudo, facilita o controle da
outros. aprendizagem, já que essa concepção permite uma
"Prescrever é possível quando se está certo daquilo que se padronização do ensino.
prescreve, e se está tanto mais seguro quanto mais investigada
está a questão do ponto de vista didático".(p. 55). Para que seja possível ler na escola, é necessário que
As escolhas de conteúdos devem ter como fundamento os ocorra uma mudança nessas crenças, é preciso, como já vimos,
propósitos educativos', ou seja, se o propósito educativo do que sejam considerados os resultados dos trabalhos científicos
ensino da leitura e da escrita é o de formar os alunos como em torno de como ocorre o processo de aprendizagem nas
cidadãos da cultura escrita, então o objeto de ensino a ser crianças: que ele se dá através da ação da criança sobre os
selecionado deve ter como referência fundamental às práticas objetos (físicos e sociais), sendo a partir dessa ação que ela (a
sociais de leitura e escrita utilizadas pela comunidade, o que criança) lhe atribuirá um valor e um significado.
supõe enfatizar as funções da leitura e da escrita nas diversas Sabendo que a leitura é antes de tudo um objeto de ensino
situações e razões que levam as pessoas a ler e escrever, que na escola deverá se transformar em um objeto de
favorecendo seu ingresso na escola como objeto de ensino. aprendizagem, é importante não perder de vista que sua
Os estudos em torno das práticas de leitura existentes ou apropriação só será possível se houver sentido e significado
preponderantes no decorrer da história da humanidade para o sujeito que aprende, que esse sentido varia de acordo
mostraram que em determinados momentos históricos com as experiências prévias do sujeito e que, portanto, não são
privilegiavam-se leituras intensas e profundas de poucos suscetíveis a uma única interpretação ou significado e que o
textos, como por exemplo, os pensadores clássicos, seguidos caminho para a manutenção desse sentido na escola está em
de profundas reflexões realizadas por meio de debates ou não dissociar o objeto de ensino de sua função social.
conversas entre pequenos grupos de pessoas ou comunidades, O trabalho com projetos de leitura e escrita cujos temas são
se tomarmos como exemplo a leitura da Bíblia. Com o avanço dirigidos à realização de algum propósito social vem
das ciências e o aumento da diversidade literária disponível - apresentando resultados positivos. Os temas propostos visam
nas sociedades mais abastadas - as práticas de leitura atender alguma necessidade da comunidade em questão e são
passaram a se alternar entre intensivas ou extensivas (leitura estruturados da seguinte forma:
de vários textos com menor profundidade), mas sempre a) Proposta do projeto às crianças e discussão do plano do
mantendo um fator comum: elas, leitura e escrita, sempre trabalho;
estiveram inseridas nas relações com as outras pessoas, b) Curso de capacitação para as crianças visando prepará-
discutindo hipóteses, ideias, pontos de vista ou apertas las para a busca e consulta autônoma dos materiais a serem
indicando a leitura de algum título ou autor. utilizados quando da realização das etapas do projeto;
O aspecto mais importante que podemos tirar acerca dos c) Pesquisa e seleção do material a ser utilizado e/ou
estudos históricos é que aprende-se a ler, lendo (ou a escrever, lugares a serem visitados;
escrevendo), portanto, é preciso que os alunos tenham contato d) Divisão das tarefas em pequenos grupos;
com todos os tipos de texto que veiculam na sociedade, que e) Participação dos pais e da comunidade;
eles tenham acesso a eles, que esses materiais deixem de ser f) Discussão dos resultados encontrados pelos grupos;
privilégio de alguns, passando a ser patrimônio de todos. g) Elaboração escrita dos resultados encontrados pelos
Didaticamente, isto significa que os alunos precisam se grupos (que passará pela revisão de outro grupo e depois pelo
apropriar destes textos através de práticas de leitura professor);
significativas que propiciem reflexões individuais e grupais, h) Redação coletiva do trabalho final;

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i) Apresentação do projeto à comunidade interessada. A Instituição e o sentido da leitura


j) Avaliação dos resultados.
Quando os projetos de leitura atingem toda a instituição
Nesses projetos tem-se a oportunidade de levar a criança a educacional, cria-se um clima leitor que atinge também os pais,
extrair informações de diversas fontes, inclusive de textos que e que envolvem os professores numa situação de trabalho
não foram escritos exclusivamente para elas, e que, portanto, conjunta que tem um novo valor: o de possibilitar uma reflexão
apresentam um grau maior de dificuldade. A discussão entre os docentes a respeito das ferramentas de análise que
coletiva das informações que vão sendo coletadas propicia a podem contribuir para a resolução dos problemas didáticos
troca de ideias e a verificação de diferentes pontos de vista, que por ventura eles possam estar vivendo.
como acontece na vida real, e, ainda, durante a realização As propostas de trabalho e as reflexões aqui apresentadas
desses projetos as crianças não leem e escrevem só para mostram que é possível sim! Ler e escrever na escola, desde
'aprender', a leitura assume um propósito, um significado, que que se promova uma mudança qualitativa na gestão do tempo
atende também aos propósitos do docente - de inseri-las no didático, reconsiderando as formas de avaliação, não deixando
mundo de leitores e escritores. Os projetos permitem ainda, que estas interfiram ou atrapalhem o propósito essencial do
uma administração mais flexível do tempo, porque propiciam ensino e da aprendizagem. Desde que se elaborem projetos
o rompimento com a organização linear dos conteúdos já que onde a leitura tenha sentido e finalidade social imediata,
costumam trabalhar com os temas selecionados de forma transformando a escola em uma 'micros-sociedade de leitores
interdisciplinar, o que possibilita a retomada dos próprios e escritores em que participem crianças, pais e professores...".
conteúdos em outras situações e ainda, a análise destes a (p. 101).
partir de um referencial diferente.
Acontecem concomitantemente e em articulação com a Capítulo 5 - O Papel do Conhecimento Didático na
realização dos projetos, atividades habituais, como 'a hora do Formação do Professor
conto' semanal ou momentos de leitura de outros gêneros,
como o de curiosidades científicas e atividades independentes "O saber didático é construído para resolver problemas
que podem ter caráter ocasional, como a leitura de um texto próprios da comunicação do conhecimento, é o resultado do
que tenha relevância pontual ou fazer parte de situações de estudo sistemático das interações que se produzem entre o
sistematização: passar a limpo uma reflexão sobre uma leitura professor, os alunos e o objeto de ensino; é produto da análise
realizada durante uma atividade habitual ou pontual. Todas das relações entre o ensino e a aprendizagem de cada
essas atividades contribuem com o objetivo primordial de conteúdo específico; é elaborado através da investigação
'criar condições que favoreçam a formação de leitores rigorosa do funcionamento das situações didáticas". (p. 105).
autônomos e críticos e de produtores de textos adequados à É importante considerar que o saber didático, como
situação comunicativa que os torna necessário' já que em qualquer outro objeto de conhecimento, é construído através
todos eles observam-se os esforços por produzir na escola as da interação do sujeito com o objeto, ele se encontra, portanto,
condições sociais da leitura e da escrita. dentro da sala de aula, e não é exclusividade dos professores
"É assim que a organização baseada em projetos permite que trabalham com crianças, ele está presente também em
coordenar os propósitos do docente com os dos alunos e nossas oficinas de capacitação. Então, para apropriar-se desse
contribui tanto para preservar o sentido social da leitura como saber é preciso estar em sala de aula, buscando conhecer a sua
para dotá-la de um sentido pessoal para as crianças". (p.87). realidade e as suas especificidades.
Ainda, o trabalho com projetos, por envolver grupos de
trabalho e, abrir espaço para discussão e troca de opiniões, A atividade na aula como objeto de análise
permite o estabelecimento de um novo contrato didático, ou
seja, um novo olhar sobre a avaliação, porque admite novas O registro de classe apresenta-se como principal
formas de controle sobre a aprendizagem, nas quais todos os instrumento de análise do que ocorre em sala de aula. Esses
sujeitos envolvidos tomam parte, o que contribui para a registros podem ser utilizados durante a capacitação
formação de leitores autônomos, já que estes devem justificar objetivando um aprofundamento do conhecimento didático, já
perante o grupo as conclusões ou opiniões que defendem. É que as situações nele apresentadas permitem uma reflexão
importante ressaltar, que essa modalidade de trabalho torna conjunta a respeito das situações didáticas requeridas para o
ainda mais importante o papel das intervenções do professor ensino da leitura e escrita.
- fazendo perguntas que levem a ser considerados outros Optamos por utilizar, a princípio, os registros das
aspectos que ainda não tenham sido levantados pelo grupo, ou 'situações boas' ocorridas em sala de aula, porque
a outras interpretações possíveis do assunto em questão. Em percebemos, através da experiência, que a ênfase nas
suma, é importante que a necessidade de controle, inerente a 'situações más' distanciava capacitadores e educadores, e para
instituição escolar, não sufoque ou descaracterize a sua missão além, criavam um clima de incerteza, por enfatizar o que não
principal que são os propósitos referentes à aprendizagem. se deve fazer, sem apresentar direções do que poderia ser
feito, em suma, quando enfatizamos 'situações boas estamos
O professor: um ator no papel de leitor mostrando o que é possível realizar em sala de aula, o que por
si só, já é motivador.
É muito importante que o professor assuma o papel de É importante destacar que as 'situações boas' não se
leitor dentro da sala de aula. Com esta atitude ele estará constituem em situações perfeitas, elas apresentam erros que,
propiciando a criança a oportunidade participar de atos de ao serem analisados, enriquecem a prática docente, pois são:
leitura. Assumir o papel de leitor consiste em ler para os considerados como importantes instrumentos de análise da
alunos sem a preocupação de interrogá-los sobre o lido, mas prática didática - ponto de partida de uma nova reflexão -
de conseguir com que eles vivenciem o prazer da leitura, a sendo vistos como parte integrante do processo de construção
experiência de seguir a trama criada pelo autor exatamente do conhecimento.
para este fim, e ao terminar, que o professor comente as suas
impressões a respeito do lido, abrindo espaço para o debate "... a análise de registros de classe opera como coluna
sobre o texto - seus personagens, suas atitudes. Assumir o vertebral no processo de capacitação, porque é um recurso
papel de leitor é fator necessário, mas não suficiente, cabe ao insubstituível para a comunicação do conhecimento didático e
professor ainda mais, cabe-lhe propor estratégias de leitura porque é a partir da análise dos problemas, propostas e
que aproximem cada vez mais os alunos dos textos. intervenções didáticas que adquire sentido para os docentes

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se aprofundarem no conhecimento do objeto de ensino e de s deficiências ainda não são totalmente efetivos, vez que ainda
processos de aprendizagem desse objeto por parte das permanecem muitas barreiras arquitetônicas, instrumentais,
crianças", (p. 116). atitudinais e humanas. Desta maneira, as políticas públicas
têm o papel de colocar em prática as propostas efetuadas
Palavras Finais nestes documentos, e também a responsabilidade de lutar
para derrubar as barreiras que impedem que as pessoas com
Quanto mais os profissionais capacitadores conhecerem a deficiências gozem de seus direitos. Desta forma é importante
prática pedagógica e os que exercitam essa prática no dia-a- esclarecer o que são políticas públicas, para assim
dia: as crenças que os sustentam e os mecanismos que percebermos a sua importância.
utilizam; quanto mais conhecerem como se dá o processo de Políticas públicas sociais é o conjunto de regras,
ensino e aprendizagem da leitura e escrita na escola, mais programas, ações, benefícios e recursos destinados a
estarão em condições de ajudar o professor em sua prática promover o bem-estar social e os direitos do cidadão. Dentro
docente. das políticas públicas sociais, temos as políticas públicas de
educação, que correspondem às ações destinadas ao processo
A educadora argentina fala sobre o processo de elaboração educacional. Dentro das políticas públicas de educação atuais,
de Ler e Escrever na Escola e os reflexos que a obra promoveu apontam-se as políticas públicas de educação inclusiva, que
na Educação. buscam a inclusão de pessoas com deficiências no processo
educacional, visando, desse modo, promover ações para o
Qual foi a motivação para escrever este livro? A acesso e permanência desses alunos na escola comum. A
consciência de que era preciso colocar em primeiro plano a educação assume assim um papel de suma importância, pois
análise das possibilidades e das dificuldades da escola em as constantes batalhas travadas em prol do direito de todos à
assimilar projetos de ensino de leitura e escrita. educação, mostram que a educação é, sim, fundamental, já que
pode ser entendida como objeto transformador da sociedade.
Surgiram dúvidas enquanto trabalhava o texto? Como Dada a importância da educação, a escola deve ser um
elas poderiam não surgir? Escrever é comprometer-se com o ambiente que possibilite troca de experiências, sendo palco de
que é dito. Porém, o mais importante durante a elaboração do interação, aberta a todos.
livro foi analisar o real - as condições em que se trabalha na Ainda que a escola não seja o único meio de sociabilização,
escola, a função social e as características da instituição - e ao é, sem dúvidas, um dos mais fundamentais ao homem, pois
mesmo tempo priorizar o possível, com a missão de possibilita sua convivência com a diversidade e desta maneira
transformar o ensino para favorecer a formação de todos os deve trabalhar para promover a formação de pessoas
alunos como leitores e escritores plenos. conscientes, nos tornando capazes de aprender com a
multiplicidade, tornando possível a troca de saberes, de
É possível ver avanços nessa área depois que o livro foi experiências. Nas palavras de Mantoan “As escolas de
publicado? Não creio que ele tenha produzido efeitos qualidade são espaços educativos de construção de
mágicos. Lamentavelmente, acho que nenhum consegue tal personalidades humanas autônomas, criticas, onde crianças e
feito. Mas espero que já tenha esclarecido alguns problemas e jovens aprendem a ser pessoas”. Como diz Mantoan “Se o que
ajudado educadores a encontrar caminhos para avançar na pretendemos é que a escola seja inclusiva, é urgente que seus
difícil tarefa de ensinar. planos se redefinam para uma educação voltada para a
cidadania global, plena, livre de preconceitos, que reconheça e
valorize as diferenças.”. Nesse sentido, elenca-se enquanto
problemática a seguinte questão de estudo: como se
MANTOAN, Maria Teresa desenvolveu a política de inclusão escolar a partir do aparato
Eglér. PRIETO, Rosângela legal elaborado depois da Declaração Universal dos Direitos
Gavioli. Inclusão Escolar: Humanos?
Desta forma o objetivo desse estudo é discutir a construção
pontos e contrapontos. São da política de inclusão escolar, tecendo reflexões sob a ótica
Paulo: Summus, 2006; dos direitos humanos com vistas a elucidar a educação como
um direito de todos. Assim, o presente trabalho foi realizado
por meio da pesquisa bibliográfica, visando obter maior
MANTOAN, Maria Teresa Eglér. Arantes, Valéria Amorin intimidade com o tema exposto. Para tanto, foi realizada a
(ORG). Inclusão Escolar: pontos e contrapontos3 leitura de obras de autores pertinentes, como Maria Teresa
Eglér Mantoan e David Rodrigues, com os respectivos
A partir da Declaração Universal dos Direitos Humanos fichamentos que possibilitaram a análise e interpretação dos
(1948), percebe-se o crescente desenvolvimento de políticas dados. Diante do exposto, entende-se o caráter transformador
públicas educacionais voltadas para a educação especial. da educação, cujo papel não se restringe ao aprendizado do
Dentre os documentos internacionais redigidos que o Brasil é português e da matemática, mas é muito mais abrangente, pois
signatário, temos a Declaração de Jomtien (1990), a trata de um conjunto, onde as disciplinas devem estar
Declaração de Salamanca (1994), a Convenção de Guatemala vinculadas, buscando ainda a formação de cidadãos. Visto
(1999) e a Declaração de Montreal (2001); e em termos de desta maneira a educação inclusiva é muito mais uma questão
legislação, no que diz respeito aos documentos nacionais, de direitos humanos. Breves considerações sobre os marcos
destacam-se a Constituição Federal (1988), o Estatuto da normativos da educação inclusiva Um dos documentos
criança e do adolescente (1990), a Lei de Diretrizes e Bases da pioneiros no que diz respeito à inclusão escolar, é a Declaração
Educação Nacional (1996), e a Política Nacional de Educação Universal de Direitos Humanos de 1948, pois a partir dela
Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (2008), foram criados documentos mais específicos na área de
lembrando ainda a existência de resoluções e portarias, não educação especial. Em seu artigo 26, a Declaração de 1948
menos importantes. No entanto, mesmo com a criação de exalta o direito de todos à instrução, que deverá ser gratuita e
todos esses documentos, os direitos das pessoas com obrigatória, pelo menos nos níveis elementar e fundamental, e

3Texto adaptado de Paula Lemos de Paula, Lucas silva Fernandes da Silveira e


Washington César Shoiti Nozu.

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ter por objetivos proporcionar o desenvolvimento pleno da transversalidade da modalidade de educação especial desde a
personalidade humana, possibilitar a propagação dos direitos educação infantil até a educação superior; oferta do
humanos e das garantias fundamentais, e, também, promover atendimento educacional especializado; formação de
a compreensão, a tolerância, e a amizade entre os povos das professores para o atendimento educacional especializado e
diversas nações e aos grupos raciais ou religiosos, demais profissionais da educação para a inclusão; participação
contribuindo com a manutenção da paz. da família e da comunidade; acessibilidade arquitetônica, nos
Desta forma a partir da Declaração Universal, o movimento transportes, nos mobiliários, nas comunicações e informação;
inclusivo ganhou força, e as pessoas com deficiências, e articulação intersetorial na implementação das políticas
passaram a conquistar seus primeiros direitos no que diz públicas (BRASIL, 2008). Passamos, portanto por um período
respeito à educação. Assim, começaram a serem criados os fértil, onde se criou documentos que hoje são essenciais na luta
principais documentos acerca dos direitos das minorias. A das minorias em busca de um direito tão transformador como
Declaração de Jomtien, em 1990, teve como objetivo a a educação. Com base nas ações governamentais podemos por
satisfação das necessidades básicas da aprendizagem. A finalidade conceber a realidade de um movimento
Declaração de Salamanca, de 1994, é considerada um dos sociocultural, buscando trazer novas práticas, mais saberes e
documentos mais importantes sobre o processo inclusivo, pois maneiras de ensinar e de aprender para alunos com
trata dos princípios, políticas e das práticas a cerca das deficiências, visando que todos tenham os mesmo direitos
necessidades educativas especiais, esta declaração trata de humanos e garantias fundamentais que os demais alunos da
defender a educação para todos, sem discriminar suas rede regular de ensino, na condição de valorizar a
características pessoais, pois entende que cada pessoa tem sua heterogeneidade.
forma de aprender. Vale lembrar, ainda, da Convenção de
Guatemala, de 1999, cujo objetivo era a erradicação de todas Obstáculos da concretização da política de educação
as formas de discriminação contra as pessoas com deficiência, inclusiva
onde destaca que todos possuem direitos iguais, e dignidade.
Pretendendo desenvolver a integração dessas pessoas na Crescemos muito em termos de políticas para a educação,
sociedade. sobretudo com relação as políticas educacionais inclusivas de
No que se relaciona especificamente à acessibilidade, forma geral. Contudo, ainda que se tenham avanços, não é
constata-se a Declaração de Montreal, em 2001. Dos permitido parar de lutar, pois nesse momento, ainda existem
documentos nacionais, a Constituição Federal, de 1988, a muitos direitos que por mais que sejam já assegurados, não
constituição cidadã, exalta os direitos sociais como de todos. são de fato efetivados. As escolas tradicionais possuem uma
De acordo com a carta magna de nosso país, temos como tendência de buscar um modelo pré-estabelecido do tipo de
garantia que: alunos que elas querem receber, constroem um molde,
Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e passando a aceitar somente aos que conseguirem adequar-se
da família, será promovida e incentivada com a colaboração da ao seu sistema. Caracterizando-se em uma atitude
sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu discriminatória, pois rejeitam aos que não se adaptam. Sobre
preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para as atitudes das instituições escolares Prieto, afirma:
o trabalho. As instituições escolares, ao reproduzirem
Lembrando ainda que no artigo 206 da mesma constantemente o modelo tradicional, não têm demonstrado
Constituição, em seu inciso I, temos ressaltado a igualdade de condições de responder aos desafios da inclusão social e do
condições para o acesso e permanência na escola. Podemos, acolhimento às diferenças nem de promover aprendizagens
além disso, destacar o artigo 208, que afirma, em seu inciso III, necessárias à vida em sociedade, particularmente nas
ser dever do Estado para com a educação, a oferta de sociedades complexas do século XXI. Logo, percebemos que
atendimento educacional especializado às pessoas com enquanto as escolas continuarem a querer um padrão de
deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino. aluno, não teremos o direito a diversidade respondido, esse
Temos também o Estatuto da Criança e do Adolescente, (1990) modelo tradicional de escola, possui um molde de aluno pré-
em que o direito de todos à educação é assegurado novamente, estabelecido, e desta forma só aceitam nesta instituição
constando no artigo 55, que é obrigatório que os pais ou aqueles que corresponderem aos padrões por ela definidos,
responsáveis matriculem seus filhos na rede de ensino regular, quem não encaixar na forma, fica de fora. Ao contrário disso, a
podendo os pais em caso de contrariar a lei, ter a perda ou escola inclusiva sabe lidar com a multiplicidade de pessoas,
suspensão de seus direitos familiares, de acordo com o artigo entendendo que não há um padrão único a ser seguido,
24. Por sua vez, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação trabalhando com a questão de que o espaço escolar deve se
Nacional (LDB), definiu a educação especial como modalidade adaptar as características de cada aluno, o ambiente se adapta
educacional, que deve ser oferecida preferencialmente na rede ao aluno e não o aluno ao ambiente.
regular de ensino, para as pessoas com necessidades especiais. Há apoio legal suficiente para mudar, mas só temos tido,
Sobre a LDB é oportuno citar Mazzotta: até agora, muitos entraves nesse sentido. Entre esses entraves
Este projeto de LDB disciplina a educação escolar. No estão: a resistência das instituições especializadas a mudanças
Capítulo III, dispondo sobre o direito à educação e o dever de de qualquer tipo; a neutralização do desafio à inclusão, por
educar, estabelece que “a educação, direito fundamental de meio de políticas púbicas que impedem que as escolas se
todos, é dever do Estado e da família, com a colaboração da mobilizem para rever suas práticas homogeneizadoras e, em
sociedade, cabendo ao Poder Público (...) observar consequência, excludentes; o preconceito, o paternalismo em
modalidades e horários compatíveis com as características da relação aos grupos socialmente fragilizados, como o das
clientela”. E por último destaca-se a Política Nacional de pessoas com deficiência. [...], o corporativismo dos que se
Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, cujo dedicam às pessoas com deficiência mental; a ignorância de
objetivo é: muitos pais, a fragilidade de grande maioria deles diante do
A Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da fenômeno da deficiência de seus filhos (MANTOAN, 2006b, p.
Educação Inclusiva tem como objetivo assegurar a inclusão 24). Desta feita, um dos obstáculos encontrados são frutos da
escolar de alunos com deficiência, transtornos globais do desinformação, pois muitas instituições especializadas
desenvolvimento e altas habilidades/superdotação, querem deixar tudo como está, vez que temem desaparecer,
orientando os sistemas de ensino para garantir: acesso ao ignorando o fato de que não deixaram de existir, mas sim
ensino regular, com participação, aprendizagem e passaram a dar suporte ao ensino regular funcionando como
continuidade nos níveis mais elevados do ensino; complemento da impossibilidade que muitas instituições

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encontram em rever as próprias práticas, outro desafio são as como fim a criação de vantagens para todos seus
ideias equivocadas feitas sobre as pessoas com deficiências, intervenientes.
além da ignorância dos próprios pais, e de certa relação de O desenvolvimento da EI depende, em grande parte, do
proteção, onde muitos entendem que essas minorias devem desenvolvimento do sistema educativo no seu conjunto. [...]
ser mantidas fora desse processo. Precisamos de escolas com recursos, a funcionar os dois
A inclusão escolar tem sido mal compreendida, turnos do dia, com instalações dignas, com lideranças
principalmente no seu apelo a mudanças nas escolas comuns positivas, com professores satisfatoriamente remunerados e
e especiais. Sabemos, contudo, que sem essas mudanças não motivados para encarar novos desafios. A EI, enquanto
garantiremos a condição de nossas escolas receberem, reforma educacional, só poderá florescer em sistemas
indistintamente, a todos os alunos, oferecendo-lhes condições educativos capazes de aceitar uma mudança nos seus hábitos
de prosseguir em seus estudos, segundo a capacidade de cada e paradigmas.
um, sem discriminações nem espaços segregados de educação A importância da criação de políticas públicas para a
(MANTOAN, 2006b, p. 23). Entende-se assim, que as mudanças educação especial reside justamente no fato de impulsionar
são necessárias, pois são instrumentos para alcançar uma uma educação para todos, pois promove formas de incentivar
educação de qualidade e igualdade. os ditos alunos especiais, a participar de todo um processo
sociocultural, onde terão como possibilidade a educação, e
Reflexões sobre a relevância da inclusão escolar passarão por inúmeras experiências que resultarão em grande
aproveitamento, proporcionando a participação das pessoas
A inclusão é necessária, pois como o próprio nome diz, com deficiências como cidadãos ativos na sociedade.
refere-se a incluir. Desta forma este processo visa Para Mantoan, “A inclusão total é uma oportunidade que
proporcionar aos grupos vulneráveis a oportunidade de se temos para reverter a situação da maioria de nossas escolas,
juntar ao processo educacional. Partindo de um contexto de as quais atribuem aos alunos as deficiências que são do
segregação, a inclusão de forma alguma pretende a extinção da próprio ensino ministrado por elas”. A partir das políticas
educação especial, mas prevê para ela um papel de suporte, desenvolvidas em prol destas minorias, é que teremos
onde no lugar de se decidir por um ou outro tipo de ensino, se oportunidade de partir para a inclusão dessas pessoas, criando
opta pelos dois conforme a necessidade do educando. Para ambientes saudáveis, reconhecendo as necessidades das
mostrar a importância da inclusão, Mantoan assinala que: escolas, para que possam ser receptivas e atender aos
A escola comum é o ambiente mais adequado para garantir estudantes indistintamente.
o relacionamento entre os alunos com ou sem deficiência e de
mesma idade cronológica, bem como a quebra de qualquer Relação entre direitos humanos e educação inclusiva
ação discriminatória e todo tipo de interação que possa
beneficiar o desenvolvimento cognitivo, social, motor e afetivo A Declaração Universal trata dos direitos e garantias
dos alunos em geral. Deste modo, a inclusão é vista muitas fundamentais do homem, para que se tenha uma vida digna.
vezes como uma medida radical, pois ela vem para exigir Desta forma a Declaração toma a educação como um direito
mudanças de paradigmas educacionais. Em sua perspectiva fundamental ao homem, e a inclusão vem para possibilitar a
caem as subdivisões em ensino regular e especial, vez que as essas pessoas a chance de exercer um direito que já possuem,
escolas passam a atender seus alunos de maneira que atendam mas que por diversos motivos, tiveram seus direitos
as diferenças sem discriminar e segregar alguns alunos. reprimidos. A inclusão escolar está articulada a movimentos
David Rodrigues reflete que: É claro que devemos dedicar sociais mais amplos, que exigem maior igualdade e
uma atenção especial àqueles que são mais vulneráveis à mecanismos mais equitativos no acesso a bens e serviços.
exclusão. Entretanto, esta atenção tem que ser dada dentro de Ligada a sociedades democráticas que está pautada no mérito
uma perspectiva inclusiva: proporcionar apoio sem segregar, individual e na igualdade de oportunidades, a inclusão propõe
não criando “guetos” nem “classes especiais”. a desigualdade de tratamento como forma de restituir a
A questão é que os alunos não podem, de modo algum, ser igualdade que foi rompida por formas segregadoras de ensino
tomado como inferiores e sem valor por motivo de suas especial e regular.
diferenças, independente das atividades nas escolas comuns Essa relação é muito íntima, pois a educação deve ser vista
ou especiais. como um instrumento para a propagação dos direitos
Deve ser também considerado que, de acordo com humanos, como também é fundamental para se alcançar
Mantoan “[...] a inclusão propõe a desigualdade de tratamento outros direitos fundamentais. Quando entendemos que não é
como forma de restituir uma igualdade que foi rompida por a universalidade da espécie que define um sujeito, mas as sua
formas segregadoras de ensino especial e regular”. peculiaridades, ligadas a sexo, etnia, origem, crenças, tratar as
pessoas diferentemente pode enfatizar suas diferenças, assim
Papel das políticas públicas na efetivação do direito à como tratar igualmente os diferentes pode esconder as suas
educação das pessoas com deficiência especificidades e excluí-los do mesmo modo; portanto, ser
gente é correr sempre o risco de ser diferente.
No âmbito das políticas publicas, a cada “nova” proposta Deste modo, ressaltamos a pretensão de se construir com
governamental deparamos com o incremento de dispositivos a diferença uma sociedade em equilíbrio, onde tenhamos o
legais que nem sempre contribuem para dissipar nossa direito de sermos diferentes ou iguais, dependo da situação
desconfiança em relação ao projeto nacional para a educação. diante de nós. A indiferença às diferenças esta acabando,
Desta feita, assinala Prieto, as mudanças a serem passando da moda. Nada mais desfocado da realidade atual do
implantadas devem ser assumidas como parte da que ignorá-las. Nada mais regressivo do que discriminá-las e
responsabilidade tanto da sociedade civil quanto dos isolá-las em categorias genéricas, típicas da necessidade
representantes do poder público, pois se, por um lado, garantir moderna de agrupar os iguais, de organizar pela abstração de
educação de qualidade para todos implica somar atuações de uma característica qualquer, inventada, e atribuída de fora.
várias instâncias, setores e agentes sociais, por outro, já que a Assim, a educação é, portanto um direito fundamental, sendo
educação escolar pode propiciar meios que possibilitem necessários que todos tenham a chance de aprender, sendo
transformações na busca da melhoria da qualidade de vida da também incentivados a permanecer no local de aprendizado,
população. E isso é interessante para todos! Para David pois deve ser levado que cada aluno tem o direito de aprender
Rodrigues (2008), a educação inclusiva deve ser muito mais a seu modo.
uma aposta na rede pública de ensino, e deve para tanto ter

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É necessário que uma boa parcela da sociedade se a perspectiva de oportunidade, estamos à mercê da crítica,
compreenda a indispensável interlocução entre escola regular da reflexão e a da reorientação da prática.
e escola especial, de forma que possibilite organizar serviços Este mundo, definido como pós- moderno, tem a referência
de apoio mútuo. É chegada a hora da metamorfose de uma modernidade antecedente. A modernidade
educacional, onde os conflitos sejam superados e, que se caracterizou-se como um período em que a razão é como um
perceba a dimensão de saberes que a diversidade tem a elemento explicador e transformador do mundo. Ser moderno
oferecer. Conclui-se que as escolas não podem mais ser palco implicava em lançar-se à aventura da razão instrumental,
de discriminação, ou de esquecimento. Deve-se harmonizar a tecnológica. Do ponto de vista político-econômico instalou-se
questão da igualdade com a da diferença, para que os alunos o modelo liberal, a defesa do livre mercado, o incentivo à
não percam seu valor enquanto pessoa humana. Assim, é especialização, a discussão sobre os ideais de liberdade e
valido dizer que ainda que a proposta inclusiva exija mudanças igualdade. Globalização - fenômeno da expansão de inter-
radicais, não se pretende encerrar as escolas especiais, vez que relações, principalmente de natureza econômica, em uma
continuarão a existir, porém atuarão de forma complementar escala mundial, entre países e sociedades de todo o mundo,
a escola regular, oferecendo seu suporte, e não mais reflete o progresso tecnológico e o crescimento da pobreza em
monopolizando e nem segregando as pessoas com todas as regiões do mundo. É a convivência com a exclusão
deficiências. Não há um padrão de normalidade para social. É um mundo desencantado que despreza alguns valores
julgarmos uma pessoa mais normal que a outra, a única fundamentais na construção do mundo e do ser humano. Neste
igualdade aparente que possuímos é o simples fato de sermos mundo complexo, também se tornam mais complexas as
todos diferentes, ninguém é igual a ninguém, se houvesse tarefas dos educadores. E neste contexto, qual será a atitude a
necessidade de normalização, seu elemento seria a própria se tomar no campo do trabalho docente, na perspectiva da
diferença. educação e da filosofia? A autora ressalta algumas demandas
que se configuram como desafios:
- um mundo fragmentado exige para a superação da
RIOS, T. A. Compreender e fragmentação, uma visão de totalidade, um olhar abrangente
e, no que diz respeito ao ensino, a articulação estreita dos
ensinar: por uma docência saberes e capacidades;
da melhor qualidade. 2ª ed. - um mundo globalizado requer, para evitar a massificação
São Paulo: Cortez, 2001; e a homogeneidade redutora, o esforço de distinguir, para unir
a percepção clara de diferenças e desigualdades e, no que diz
respeito ao ensino, o reconhecimento de que é necessário um
trabalho interdisciplinar que só ganhará sentido se partir de
A autora apresenta neste texto4, sua tese de doutorado
uma efetiva disciplinaridade;
defendida em agosto de 2000 na Faculdade de Educação da
- num mundo em que se defronta a afirmação de uma razão
Universidade de São Paulo apreciada por Selma Garrido
instrumental e a de um irracionalismo é preciso encontrar o
Pimenta, (sua orientadora), Mário Sergio Cortella e José Carlos
equilíbrio, fazendo a recuperação do significado da razão
Libâneo. Ensinar é o enfoque do livro, que a autora faz com
articulada ao sentimento e, no que diz respeito ao ensino, à
muita propriedade, uma vez que "fazer aulas " e "ensinar" é a
reapropriação do afeto no espaço pedagógico.
sua alegria. Fala de seus limites, o "largar tudo", mas retorna
com esperança refletindo sua prática numa mistura de razão e
Compreender o mundo - Através da Filosofia faz-se uma
paixão, é uma reflexão que empreende uma busca de
reflexão e objetiva-se um saber inteiro com clareza,
compreensão da realidade através da Filosofia e da Didática,
abrangência e profundidade, orienta-se num esforço de
chamada de ciência do ensino.
compreensão que é o desvelamento da significação, o valor dos
objetos sobre os quais se volta. Conceito de compreensão -
Compreender e Ensinar no Mundo Contemporâneo
uma referência a uma dimensão intelectual e a uma dimensão
afetiva. Faz-se necessária também uma atitude de admiração
É a articulação entre Filosofia e Didática - saberes que
diante do conhecido. Aristóteles afirmava que a admiração é o
contribuem para a construção contínua da competência do
primeiro estímulo que o ser humano tem para filosofar. Na
professor. Filosofia - é a reflexão e a compreensão da atuação
prática, o que fascina e intriga? A resposta está na vivência das
dos seres humanos no mundo. Didática - é a preocupação com
situações-limite, ou situações problemáticas. Quando se faz
o ensino, a socialização, criação e recriação. Tanto a Filosofia
uma reflexão sobre o próprio trabalho, questiona-se a sua
como a Didática são saberes humanos historicamente situados
validade, o seu significado. As respostas são encontradas em
e é preciso verificar as caraterísticas do contexto, nos quais
dois espaços: na prática - na experiência cotidiana; na reflexão
eles desempenham suas funções e quais as alternativas para
crítica - sobre os problemas que esta prática faz surgir como
que estes sujeitos possam "fazer acontecer". A
desafios.
responsabilidade pelo ensino está dispersa, mas há uma
Ensinar o mundo - Etimologicamente; didática em grego
grande preocupação com ele e pode-se constatar que as
didaktika, derivado do verbo didasko - significado "relativo ao
demandas colocadas à Filosofia ainda são muito grandes.
ensino". Para Coménio - "a arte de ensinar". A definição de
Assim sendo, encontra-se no campo da educação a perspectiva
Didática engloba duas perspectivas: uma ciência que tem um
de uma ressignificação da ciência do ensinar.
objeto próprio, como um saber, um ramo do conhecimento, e
Nosso mundo, nosso tempo - precariedade e urgências – É
uma disciplina que compõe a grade curricular dos cursos de
necessário refletir sobre os possíveis caminhos através da
formação de professores.
Filosofia e da Didática. Na passagem do novo milênio, do novo
O ensino como objeto da Didática, é considerado como uma
século, o que se afirma é que se enfrenta uma crise de
prática social que se dá no interior de um processo de
significados da vida humana, das relações entre as pessoas,
educação e que ocorre informalmente, seja espontânea, ou
instituições e comunidades. A crise aponta para duas
formalmente, de maneira sistemática, intencional e
perspectivas - perigo e oportunidades. Quando consideramos
organizada. De maneira organizada, se desenvolve na
o perigo, estamos envolvidos por uma atitude negativa,
instituição escolar realizado a partir da definição de objetivos,
ignorando as alternativas de superação, e quando considera-

4 http://pt.slideshare.net/marcaocampos/rios-terezinha-azeredo-
compreender-e-ensinar

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conteúdos a serem explorados no processo educacional. A conceitos de competência e qualidade têm o propósito de ir a
relação professor-aluno, por intermédio do gesto de ensinar, busca de uma significação que se alterou exatamente em
propicia um exercício de meditação, é o encontro com a virtude de certas imposições ideológicas.
realidade, considerando o saber já existente, e procura Em busca da significação dos conceitos: o recurso à lógica
articular a novos saberes. Este processo possibilita aos alunos - A lógica formal permite analisar os conceitos em sua própria
a formação e o desenvolvimento de capacidades, habilidades constituição. Para Aristóteles, a lógica foi chamada de organon,
cognitivas e operativas. Logo, o ensino através da ação necessária em todos os campos do conhecimento. A
específica do docente caracteriza-se como uma ação que se compreensão dos termos tem sofrido modificações em virtude
articula à aprendizagem. Diante desta apresentação, a autora das características dos contextos em que são utilizados. Assim,
faz um alerta reflexivo na seguinte frase: "O professor afirma o termo Competência, frequentemente é usado para designar
que ensinou e que infelizmente os alunos não aprenderam". A múltiplos conceitos como: capacidade, saber, habilidade,
Didática é um elemento fundamental para o desenvolvimento conjunto de habilidades, especificidade. Portanto, no que se
do trabalho docente. "Um bom professor é reconhecido pela refere à Qualidade observa-se: programa de computadores,
sua didática". Esse conceito é identificado como um "saber qualidade de um atleta, o controle de qualidade de produtos
fazer". A Didática deve ser entendida em seu caráter prático de industriais. O que realmente é importante não são as palavras,
contribuição ao desenvolvimento do trabalho de ensino, os termos, e sim os objetos da realidade que eles designam. No
realizado no dia- a- dia da escola. (Oliveira, M.R.S., 1993:133- que diz respeito à educação de qualidade refere-se à história
134). da educação brasileira. Recentemente, menciona-se com
Didática e Filosofia da Educação: uma interlocução - Na frequência a necessidade de competência no trabalho do
música de Gilberto Gil "Hoje o mundo é muito grande, porque educador.
a Terra é pequena" e no Vasto mundo de Drumond de Andrade. Qualidade ou qualidades? - Há uma multiplicidade de
O mundo cuja extensão se torna maior em função da significados: educação de qualidade, está se referindo a uma
intervenção contínua dos seres humanos, construindo e série de atributos que teria essa educação, ou seja, um
modificando a cultura e a história. Como ser professor neste conjunto de atributos que caracteriza a boa educação. Usando
mundo? O que é ensinar? Como e de que modo os alunos a palavra Qualidade com a maiúscula, é na verdade um
aprendem? conjunto de "qualidades".
A fragmentação do conhecimento, da comunicação e das Conforme a citação da autora, para Aristóteles, "a
relações comprometem a prática educativa. Portanto, é qualidade é uma das categorias que se encontram em todos os
preciso um novo olhar e uma articulação estreita de saberes e seres e indicam o que eles são ou como estão. As categorias
capacidades para que a Filosofia da Educação abranja o são: substância, quantidade, qualidade, relação, tempo, lugar,
processo educativo em todos os aspectos. A Didática necessita ação, paixão, posição e estado". São breves referências no que
dialogar com a diversidade dos saberes da docência, enfrentar diz respeito à noção de qualidade, e pode-se trabalhar no
os desafios e buscar alternativas para pensar e repensar o campo da educação. A educação é um processo de socialização
ensino. Este contexto implica a revisão de conteúdos, de da cultura, no qual se constroem, se mantêm e se transformam
métodos, do processo de avaliação, novas propostas e novas os conhecimentos e os valores. A esta definição chama-se
organizações curriculares. Ensinar - Muitas questões se categoria da "substância". Se este processo de socialização se
apropriam da prática docente, com o objetivo de estabelecer faz com a imposição de conhecimentos e valores, ignorando as
vínculos entre o conhecimento e a formação cultural, o características dos educandos, diremos que é uma má
desenvolvimento de hábitos, atitudes e valores. educação. Toda educação tem qualidades. A boa educação pela
A autora ressalta com base em Selma G. Pimenta em "O qual desejamos e lutamos, é uma educação cujas qualidades
estágio na formação de professores"- 1994, que são carregam um valor positivo.
necessárias novas questões para um novo cenário educacional Competência ou competências? - Como se abriga qualidade
e para o novo milênio. O fenômeno da globalização é uma no conceito de competência? O termo é recente e passa a ser
percepção clara das diferenças e especificidades dos saberes, uma referência constante. Perrenoud reconhece que "a noção
e das práticas para realizar um trabalho coletivo e de competência tem múltiplos sentidos" e segundo sua
interdisciplinar. Interdisciplina - ressalta "mistura de afirmação: (...) uma competência como uma capacidade de agir
trabalhos" que é a maneira equivocada em que ocorre a eficazmente em um tipo definido de situação, capacidade que
interdisciplinaridade, em torno de um tema. Na verdade, a se apoia em conhecimentos, mas não se reduz a eles. Para
interdisciplinaridade é algo mais complexo, que só ocorre enfrentar da melhor maneira possível uma situação, devemos
quando trata verdadeiramente de um diálogo ou de uma em geral colocar em jogo e em sinergia vários recursos
parceria, que é constituída exatamente na diferença, na cognitivos complementares, entre os quais os conhecimentos.
especificidade da ação de grupos ou indivíduos que querem As competências utilizam, integram, mobilizam
alcançar objetivos comuns. É preciso ter muita clareza do tipo conhecimentos para enfrentar um conjunto de situações
de contribuição que cada grupo pode trazer, na especificidade complexas. "Como guia, um referencial de competências
desta contribuição, que é a disciplinaridade. adotado em Genebra - 1996 para a formação contínua", (lista
das 10 competências):
Competência e Qualidade na Docência
1 - Organizar e dirigir situações de aprendizagem;
É uma reflexão sobre a articulação dos conceitos de 2 - Administrar a progressão das aprendizagens;
competência e de qualidade no espaço da profissão docente. 3 - Conceber e fazer evoluir os dispositivos de
Estes termos são empregados com múltiplas significações, diferenciação;
gerando equívocos e contradições. A ideia de ensino 4 - Envolver os alunos em suas aprendizagens e em seu
competente é um ensino de boa qualidade. É fazer a conexão trabalho;
estreita entre as dimensões: técnica, política, ética e estética da 5 - Trabalhar em equipe;
atividade docente. Trata-se de refletir sobre os saberes que se 6 - Participar da administração da escola;
encontram em relação à formação e à prática dos professores. 7 - Informar e envolver os pais;
O conceito de qualidade é abrangente, é multidimensional. Na 8 - Utilizar novas tecnologias;
análise crítica da qualidade, devem ser considerados os 9 - Enfrentar os deveres e dilemas éticos da profissão;
aspectos que possam articular a ordem técnica e pedagógica 10- Administrar sua própria formação contínua.
aos de caráter político - ideológico. A reflexão sobre os

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Com referência às 10 competências de Perrenoud, a autora visam à possibilidade de uma intervenção significativa no
ressalta: "competências são as capacidades que se apoiam em contexto social. A melhor qualidade se revela na escolha do
conhecimentos", é usado como sinônimo de outros termos melhor conteúdo, para poder reverter conceitos,
como: capacidade, conhecimento, saber. Apresenta também, comportamentos e atitudes. A melhor qualidade se revela na
quatro tipos diferentes de competências: (1998:14-16): definição dos caminhos para se fazer a mediação entre o aluno
1. competência intuitiva; e o conhecimento. O critério que orienta a escolha do melhor
2 - competência intelectiva; conteúdo é o que aponta para a possibilidade dos exercícios da
3 - competência prática; cidadania e da inserção criativa na sociedade. A melhor
4 - competência emocional. metodologia é a que tem como referência as características do
contexto em que se vive, no desejo de criar, superar limites e
Completando este capítulo, é preciso trabalhar com a ampliar possibilidades.
perspectiva coletiva presente nas noções de qualidade e A melhor qualidade revela-se na sensibilidade do gesto
competência que são ampliadas na construção coletiva. docente na orientação de sua ação, para trazer o prazer e a
alegria ao contexto de seu trabalho e da relação com os alunos.
Dimensões de Competência Alegria no melhor sentido, resultante do contato com o mundo
e da ampliação do conhecimento sobre ele. O ensino da melhor
Uma definição de competência apresenta uma totalidade, qualidade é aquele que cria condições para a formação de
ou seja, uma pluralidade de propriedades (conjunto de alguém que sabe ler, escrever e contar. Ler não apenas as
qualidades de caráter positivo) mostrando suas dimensões: cartilhas, mas os sinais do mundo, a cultura de seu tempo.
Técnica, Política, Ética, Estética e a estreita relação entre elas. Escrever não apenas nos cadernos, mas no contexto de que
A docência da melhor qualidade tem que se buscar, participa, deixando seus sinais, seus símbolos. Contar não
continuamente, e se afirmar na explicitação desta qualidade no apenas números, mas sua história, espalhar sua palavra, falar
que se refere a: o quê, por que, para que, para quem. Essa de si e dos outros. Contar e cantar nas expressões artísticas,
explicitação se dará em cada dimensão da docência: nas manifestações religiosas, nas múltiplas e diversificadas
- dimensão técnica - a capacidade de lidar com os investigações científicas.
conteúdos, conceitos, comportamentos e atitudes, e a
habilidade de construí-los e reconstruí-los com os alunos;
- dimensão estética - diz respeito à presença da
sensibilidade e sua orientação numa perspectiva criadora;
SMOLE, Kátia Stocco et al. Ler,
- dimensão política - diz respeito à participação na escrever e resolver problemas:
construção coletiva da habilidades básicas para
sociedade e ao exercício de direitos e deveres;
- dimensão ética - diz respeito à orientação da ação
aprender matemática. Porto
fundada no princípio do Alegre: Artmed, 2001;
respeito e da solidariedade, na direção da realização de um
bem coletivo.
LER, ESCREVER E RESOLVER PROBLEMAS: HABILIDADES
Felicidadania BÁSICAS PARA APRENDER MATEMÁTICA
Apresenta a re-significação da cidadania, como realização Todas as discussões sobre os temas atuais resultam de
individual e coletiva. Cidadania - Identifica-se com a uma forte pressão social sobre a escola para que a formação de
participação eficiente e criativa no contexto social. Democracia nossos alunos cuide do desenvolvimento de um número
- A participação através do voto - "as decisões políticas". É considerável de habilidades de pensamento indo muito além
necessário criar espaço para que se possa construir do conhecimentos específicos.
conjuntamente as regras e estabelecer os caminhos. Felicidade
- Na articulação entre cidadania e democracia retoma-se a Capítulo 1 – Comunicação em Matemática
articulação entre a ética e política. Alteridade e autonomia - É
no convívio que se estabelece a identidade de cada pessoa na A palavra comunicação estava muito tempo ligada a áreas
sociedade. curriculares que não incluíam a matemática, porém hoje há um
A ação docente e a construção da felicidadania: grande interesse pela comunicação em matemática.
1. Construir a felicidadania na ação docente - é reconhecer Pesquisas recentes afirmam que, em todos os níveis, os
o outro; estudantes devem aprender a se comunicar matematicamente
2. Construir a felicidadania na ação docente - é tomar como e que os professores devem estimular o espírito de
referência o bem coletivo; questionamento e levar seus alunos a pensarem e
3. Construir a felicidadania na ação docente - é envolver-se comunicarem ideias.
na elaboração e desenvolvimento de um projeto coletivo de A comunicação na matemática tem um papel fundamental
trabalho; para ajudar os alunos a construírem um vínculo entre suas
4. Construir a felicidadania na ação docente - é instalar na noções informais e intuitivas e a linguagem abstrata e
escola e na aula uma instância de comunicação criativa; simbólica da matemática. Se os alunos forem encorajados a se
5. Construir a felicidadania na ação docente - é criar espaço comunicar matematicamente com seus colegas, com o
no cotidiano da relação pedagógica para a afetividade e a professor ou com os pais, eles terão oportunidade para
alegria; explorar, organizar e conectar seus pensamentos, novos
6. Construir a felicidadania na ação docente - é lutar pela conhecimentos e diferentes pontos de vista sobre o mesmo
criação e pelo aperfeiçoamento constante de condições assunto.
viabilizadoras do trabalho de boa qualidade. Para que a aprendizagem ocorra ela deve ser significativa
e relevante, sendo vista como compreensão de significados,
Certezas Provisórias possibilitando relações com experiências anteriores, vivências
pessoais e outros conhecimentos; dando espaço para
Uma reflexão sobre a formação e a prática docente. formulação de problemas de algum modo desafiantes, que
Articular os conceitos de competência e de qualidade que incentivam o aluno a aprender mais; modificando

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comportamentos e permitindo a utilização do que é aprendido necessariamente escrito, mas auxilia a escrita. A escrita junta-
em diferentes situações escolares ou não. se ao oral e ao desenho para ser usada como mais um recurso
Fala em aprendizagem significativa é assumir o fato de que de representação das ideias dos alunos.
aprender possui caráter dinâmico, o que requer ações de Temos observado que escrever em matemática ajuda a
ensino direcionadas para que os alunos aprofundem e aprendizagem dos alunos de muitas maneiras, encorajando a
ampliem significados que elaboram mediante suas reflexão, clareando as ideias e agindo como um catalisador
participações nas atividades de ensino e aprendizagem. Nessa para as discussões em grupo. Também ajuda o aluno a
concepção, o ensino é um conjunto de atividades sistemáticas, aprender o que está sendo estudado.
cuidadosamente planejadas, nas quais o professor e o aluno A escrita nas aulas de matemática pode-se aproximar-se
compartilham parcelas cada vez maiores de significados com ainda mais da aprendizagem da língua materna através da
relação aos conteúdos do currículo escolar, ou seja, o professor proposição de textos mais elaborados nas aulas de
guia suas ações para que o aluno participe das tarefas e matemática. Exemplos disso são escrever um problema no
atividades que o façam aproximar-se cada vez mais daquilo formato de poema, história de ficção envolvendo figuras
que a escola tem para ensinar. geométricas, organizar um dicionário de termos matemáticos,
A incorporação de contextos do cotidiano, as experiências produzir um resumo dos conceitos matemáticos em uma
e a linguagem natural da criança no desenvolvimento das determinada atividade ou, ainda, escrever bilhetes ou cartas
ações matemáticas, a sua experiência de mundo faz com que entre colegas e classes sobre o que foi aprendido e o que
cada aluno possa ampliar progressivamente suas noções querem aprender sobre um tema ou ideia matemática.
matemáticas. Nessa perspectiva de ensino e aprendizagem
promover a comunicação em sala de aula é dar aos alunos uma - O ambiente da sala de aula
possibilidade de organizar, explorar e esclarecer seus Sem interação social, a lógica da criança não se desenvolve
pensamentos. plenamente, porque é nas situações interpessoais que ela
Portanto, quanto mais as crianças tem oportunidades de sente-se obrigada a ser coerente.
refletir sobre determinado assunto, mais elas o compreendem. Em grupo há possibilidade de se descobrir preferências,
negociar soluções, diluir dificuldades. Nesse processo, são
- Oralidade em matemática evidenciados diferentes modos de pensamento sobe as ideias
O recurso básico da comunicação feita pela matemática é a surgidas nas discussões, o que permite o desenvolvimento de
escrita; por isso ela toma emprestado a língua materna habilidades de raciocínio, como investigação, inferência,
(Machado ,1995) a oralidade e suas significações das palavras reflexão e argumentação.
servem de suporte para troca de informações. Os elos do Quanto ao professor, este terá uma valiosa ferramenta
raciocínio matemático se apoiam na língua, em sua para analisar as concepções das crianças e suas
organização sintática e em seu poder dedutivo. incompreensões. O seu trabalho, nessa perspectiva, não
A tarefa do professor em relação à linguagem matemática consiste em resolver problemas ou tomar decisões sozinho.
deve desdobrar-se em duas direções. Em primeiro lugar, na Ele anima e mantém a rede de conversas e coordena as ações,
direção do trabalho sobre os processos de escrita e propondo discussões, elaborando diferentes perguntas e
representação, sobre elaboração dos símbolos, sobre cuidando para que haja espaço para todos falarem, ou seja, que
esclarecimento quanto às regras que tornam certas formas de aqueles que têm o hábito de sempre falar dêem oportunidade
escritas legítimas e outras inadequadas. Em segundo, em para os que se sentem mais intimados falarem, e estes se
direção ao trabalho sobre o desenvolvimento de habilidades sintam cada vez mais seguros em se expor.
de raciocínio que, para as crianças, se inicia com apoio da
linguagem oral e vai, com o tempo, incorporando textos e Capítulo 2 – Textos em Matemática: Por que não?
representações mais elaborados.
Na essência, o diálogo na classe capacita os alunos a A produção de textos nas aulas de matemática cumpre um
falarem de modo significativo, conhecerem outras papel importante para a aprendizagem do aluno e favorece a
experiências, testarem novas ideias, conhecerem o que eles avaliação dessa aprendizagem em processo.
realmente sabem e o que mais precisam aprender. Organizar o trabalho em matemática de modo a garantir a
aproximação dessa área do conhecimento e da língua materna,
- Representações Pictóricas em Matemática além de ser uma proposta interdisciplinar, favorece a
O recurso da expressão pictórica fica restrito a esquemas valorização de diferentes habilidades que compõem a
que auxiliam a compreensão de alguns conceitos e operações. realidade complexa de qualquer sala.
O desenho é o pensamento visual e pode adaptar-se a qualquer Sabemos que, se os alunos são encorajados a se comunicar
natureza do conhecimento, seja ele científico, artístico, poético matematicamente com seus colegas, com o professor ou com
ou funcional. os pais, eles têm oportunidade para explorar, organizar e
Em matemática, como no caso da oralidade, sempre se conectar seus pensamentos, novos conhecimentos e diferentes
pede a uma criança ou grupo para registrarem através do pontos de vista sobre um mesmo assunto. A produção de
desenho o que foi realizado permite-se uma maior reflexão dos textos é uma maneira de promover a comunicação em nossas
alunos sobre a atividade. aulas.
Esses registros (desenhos proposto pelo professor após
uma atividade, jogo ou tarefa) servem como pistas de como - Produzir textos para quem?
cada aluno percebeu o que fez, como ele expressa suas Há um consenso entre os educadores de que é
reflexões pessoais e que interferências poderão ser feitas em imprescindível que todos os alunos saiam da escola como
outras situações para ampliar o conhecimento matemático pessoas que escrevem, isto é, precisam valer-se da escrita de
envolvido em uma dada atividade. maneira adequada, tranquila e autônoma toda vez que isso for
necessário, inclusive em matemática.
- Escrever nas aulas de matemática A produção de textos nas aulas de matemática deve ter
O ato de escrever não possui a mesma rapidez e sempre um destinatário, o qual pode ser uma outra pessoa ou
maleabilidade da oralidade, pois quando escrevemos não é mesmo quem escreveu o texto quando este foi elaborado para
possível ir para tantos lados como no oral, a ordem da escrita não esquecer algo ou para organizar algum tema estudado.
determina a coerência e a lógica do texto, a correção não é Temos várias maneiras de introduzir o destinatário das
imediata. Escrever depende de um planejamento que não é escritas dos alunos. Uma delas é permitir que eles

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compartilhem oralmente o que escrevam. Outra possibilidade Umas das maneiras mais simples de garantir uma boa
é propor que, algumas vezes, os alunos produzam textos em qualidade matemática do texto produzido pelos alunos é,
grupos, pois desse modo todos se beneficiam com trocas novamente promover a escrita ou a reformulação coletiva.
ocorridas, interagem e discutem o melhor modo de registrar Nesse caso, o professor auxilia não apenas na organização do
as noções e as vivências, como escrever determinadas texto, mas também na utilização do vocabulário matemático,
palavras, etc. na expressão das noções envolvidas e na garantia de que
nenhum aspecto relevante do que foi estuado seja esquecido.
- Quando propor registros escritos Outra possibilidade para garantir que os alunos expressem
É possível produzir textos sobre matemática nas mais no texto maior número possível de informações matemáticas
variadas situações. Às vezes, ao final de uma aula, outras ao com precisão é organizar com eles um roteiro prévio, oral e
iniciar um novo tema, ao final de uma unidade didática, enfim, escrito, do que deve ser colocado no texto, as principais ideias,
não há um único momento para usar os textos. Na verdade, o a ordem em que elas foram discutidas e outros aspectos que o
objetivo da produção do texto é que determina quando ele será professor e os alunos julgarem essenciais e que possam
solicitado ao aluno. garantir a qualidade da escrita. Um exemplo disso está no
quadro:
- Escrever ao iniciar um Novo Tema
A produção tem como objetivo investigar o que o aluno já
sabe, ou o que conhece sobre um determinado tema, conceito
ou ideia matemática para, partindo de seus conhecimentos
prévios, poder organizar as ações docentes de modo a retomar
incompreensões, imprecisões ou ideias distorcidas referentes
ao assunto em questão e, ai mesmo tempo, avaliar que os
avanços podem ser feitos.

- Escrever após uma Atividade


Os alunos são encorajados a escrever sobre o que fizeram,
aprenderam ou perceberam durante a realização de uma dada
atividade, a qual pode ser um jogo, um problema ou outra
tarefa qualquer.
Ao explicar dúvidas e outras impressões, os alunos
permitem ao professor perceber em quais aspectos da
atividade apresentam mais incompreensões, em que pontos
avançaram, se o que era essencial foi compreendido e que
intervenções precisará fazer.

- Escrever ao término de um assunto


O texto é proposto no momento em que o professor
considera que o que está estudando com sua classe pode ser
finalizado. É uma etapa de sistematização das noções e - Produzindo textos diversos
assemelha-se à produção de uma síntese, de um resumo ou Inicialmente, os textos a serem propostos nas aulas de
mesmo de um parecer sobre o tema desenvolvido, no qual matemática devem ser mais simples: não precisam apresentar
aparecem as ideias centrais do que foi estudado e necessariamente ligações diretas com a matemática, podem
compreendido. servir para resumir e organizar as ideias de uma aula ou
mostrar instruções de um jogo.
- Escrever para evoluir: fazendo intervenções Assim, podemos pedir aos alunos que, após construírem
A escrita matemática também é marcada por um processo uma figura com o Tangram em um aula de geometria,
cheio de idas e vindas, no qual os cuidados do professor são escrevem uma história que tenha como personagem a figura
determinantes tanto com as propostas iniciais quanto com as que criaram.
intervenções que fará para que os alunos progridam e
escrevam textos cada vez mais complexos. - Arquivando os textos
Um primeiro cuidado é o de valorizar a escrita. Uma das Os textos produzidos pelos alunos podem ir para o
intervenções possíveis de serem feitas quando trabalhamos caderno, que ganha com isso uma dimensão bem mais ampla
com escrita espontânea é selecionar um dos textos produzidos do que ser um mero armazenador de exercícios e lição de casa.
pelos alunos e colocar no quadro ou no retroprojetor. Fazendo Também podem ser arquivados em uma pasta, ou portfólio,
isso podemos conduzir uma conversa com a classe sobre o com espaço para que os alunos destaquem suas melhores
texto, formulando perguntas para que haja a troca de produções, o que faz com que eles avaliem suas produções
informações. constantemente e percebam a própria evolução, ou podem ser
A medida que progridem e tornam-se melhores usuários encadernados em um pequeno livro de textos produzidos ao
da linguagem escrita, os alunos são capazes de escrever textos longo de uma ano; de modo que possam depois serem
mais extensos, com maior quantidade de informações e, por utilizados sempre que preciso.
que não, mais precisão.
Trocar os textos produzidos entre os alunos é outro - A Escrita como instrumento de avaliação.
recurso que permite intervenções interessantes para revisar e A avaliação como elemento integrante do processo de
conduzir uma reformulação necessária. ensinar e aprender ganha um forte aliado nos textos escritos
pelos alunos. Se a proposta de avaliação do professor
- As informações matemáticas também são fundamentar-se na crença de que avaliar serve para promover
importantes a aprendizagem, através dos dados obtidos ao produzir textos
Temos consciência de que a maioria das intervenções que escritos com seus alunos, ele poderá realizar novas ações de
sugerimos até aqui dizem respeito a quase que exclusivamente ensino.
à reformulação de um texto em seus aspectos linguísticos.

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Cada professor conhece seus alunos e sabe as maneiras claro que têm condições de saber o que irão ler e compreender
mais ou menos úteis para atuar com eles. o que será lido. Alguns elementos que contribuem para a
motivação ocorra são:
Capítulo 3 – Ler e Aprender Matemática - os objetivos da leitura estarem claros para todos;
- a leitura oferecer alguns desafios;
É comum os professores acreditarem que as dificuldades - o ato de ler constituir-se em uma tarefa possível para os
apresentadas por seus alunos em ler e interpretar um alunos;
problema ou exercício de matemática estão associadas à pouca - o trabalho ser planejado de modo que as leituras
habilidade que eles têm para leitura. Também é comum a escolhidas tenham os alunos como referências;
concepção de que, se o aluno tivesse mais fluência na leitura - os alunos terem a ajuda de que necessitarem e a
nas aulas de língua materna, consequentemente ele seria um possibilidade de perceberem seus avanços.
melhor leitor nas aulas de matemática.
Embora tais afirmações estejam em parte corretas, uma - Aprendendo a ler problemas
vez que ler é um dos principais caminhos para ampliarmos A dificuldade que os alunos encontram em ler e
nossa aprendizagem em qualquer área do conhecimento, compreender textos de problemas estão, entre outros fatores,
consideramos que não basta atribuir as dificuldades dos ligada à ausência de um trabalho específico como texto
alunos em ler textos matemáticos à sua pouca habilidade em problema.
ler nas aulas de língua materna. Para que as dificuldades sejam superadas, e para que não
Um dos diversos desafios a serem enfrentados pela escola surjam dificuldades, é preciso alguns cuidados desde o início
é o de fazer com que os alunos sejam leitores fluentes, pois da escolarização, ou seja, desde o período de alfabetização.
grande parte das informações de que necessitamos para viver Cuidados com leitura que o professor faz do problema,
em sociedade e construir conhecimento são encontradas na cuidados em propor tarefas específicas de interpretação do
forma escrita. texto de problemas, enfim, um projeto de intervenções
Uma das metas a serem perseguidas pela escola didáticas destinadas exclusivamente a levar os alunos a lerem
fundamental é que os alunos aprendam progressivamente a problemas de matemática com autonomia e compreensão.
utilizar a leitura para buscar informação e para aprender,
podendo exprimir sua opinião própria sobre o que leram. - Ampliando possibilidades
Após os alunos ganharem fluência na leitura de textos
- Nossa concepção de leitura diversos, o professor pode propor outras atividades que
A leitura constrói-se na interação entre o leitor e o texto envolvam textos de problemas. A primeira delas, sem dúvidas,
por meio de um processo no qual o pensamento e a linguagem é deixar que eles façam sozinhos a leitura das situações
estão envolvidos em trocas contínuas. Ler é uma atividade propostas.
dinâmica, que abre ao leitor amplas possibilidades de relação A leitura individual ou em dupla auxilia os alunos a
com o mundo e compreensão da realidade a cerca, que lhe buscarem um sentido para o texto. É possível conduzir uma
permite inserir-se no mundo cultural da sociedade em que discussão com toda a classe para socializar as leituras, as
vive. dúvidas e as compreensões. Não se trata de resolver o
A compreensão de um texto é um processo que se problema oralmente, mas de garantir meios para que todos os
caracteriza pela utilização que o leitor faz, no ato de ler, do alunos possam iniciar a resolução do problema sem, pelo
conhecimento que ele adquiriu ao longo de sua vida: o menos, ter dúvidas quanto ao significado das palavras que nele
conhecimento linguístico, o conhecimento textual, o aparecem.
conhecimento de mundo.
Compreender um texto é uma tarefa difícil, que envolve - Problemas em tiras
interpretação, decodificação, análise, síntese, seleção, Nessa estratégia de leitura, os alunos, em duplas e depois
antecipação e autocorreção. Quanto maior a compreensão do individualmente, recebem um problema escrito em tiras, como
texto, mais o leitor poderá aprender a partir do que lê. se fosse um quebra-cabeças que deve ser montado na ordem
correta antes de ser resolvido. Vejamos:
- Ler para aprender Matemática
Há uma especificidade, uma característica própria na
escrita matemática que faz dela uma combinação de sinas,
letras e palavras que se organizam segundo certas regras para
expressar ideias. Essas características levam-nos a considerar
que os alunos devem aprender a ler matemática e ler para
aprender matemática durante as aulas dessa disciplina, pois
para interpretar um texto matemático, o leitor precisa
familiarizar-se com a linguagem e os símbolos próprios desse
componente curricular, encontrando sentido no que lê,
compreendendo o significado das formas escritas que são - Que conta resolve?
inerentes ao texto matemático, percebendo como ele se Nessa proposta, são dados aos alunos dois ou três
articula e expressa conhecimentos. problemas e abaixo deles aparecem operações. A tarefa
consiste em ler cada problema e associar a ele a operação
- Trabalhando a leitura nas aulas de matemática adequada, justificando, oralmente ou por escrito, a escolha
As atividades de leitura sempre têm uma finalidade. Em feita; os problemas podem ser convencionais ou não.
nossa vida como leitores, lemos por algum motivo, e isso nos
auxilia a selecionar o que iremos ler e determina nosso modo - Comparando dois problemas
de ler. Assim, segundo o tipo de informação que precisamos, A função dessa proposta é fazer com que os alunos
buscamos um livro, um dicionário, um jornal, um gibi, ou apropriem-se de estratégias de leitura que permitam
qualquer outro portador de texto. compreender o papel dos dados e da pergunta na resolução de
Outro cuidado que devemos ter, é a motivação para a problemas. Exemplo:
leitura. Nenhuma tarefa de leitura deveria ser iniciada sem que
os alunos estivessem motivados para ela, sem que estivesse

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- Avaliando o progresso dos alunos


Uma das vantagens de propor diversas tarefas de leitura é
poder avaliar constantemente o progresso dos alunos ou a
necessidade de auxilia-los. Observa-los enquanto leem,
aproveitar as tarefas de leitura para fazer pequenas anotações
sobre a compreensão deles sobre o texto, bem como de sua
autonomia em relação ao processo de ler constituem as
principais ações de avaliação que o professor pode fazer.
O processo de avaliação deve contribuir para que todos,
alunos e professor possam perceber conquistas e
necessidades. Por isso, a avaliação o trabalho precisa ser feita
em conjunto com as atividades.

Capítulo 4 – Resolução de problemas e comunicação

Analisar a Resolução de Problemas como uma perspectiva


metodológica a serviço do ensino e da aprendizagem de
matemática amplia a visão puramente metodológica e derruba
- Qual a pergunta? a questão da grande dificuldade que os alunos e professores
O objetivo dessa proposta é levar os alunos a perceberem enfrentam quando se propõe a Resolução de Problemas nas
como a pergunta de um problema está relacionado aos dados aulas de matemática. A utilização de recursos da comunicação
do problema e ao texto. pode resolver ou fazer com que não existam essas dificuldades.
Apresenta-se soa alunos um problema sem a pergunta e
fornecemos uma série de quatro ou cinco questões que devem - Nossa concepção de resolução de problemas
lidas e analisadas em dupla ou individualmente, e o alunos A resolução de problemas corresponde a um modo de
devem decidir quais as perguntas são adequadas ao problema organizar o ensino o qual envolve mais que aspectos
dado. Exemplo: puramente metodológicos, incluindo uma postura frente ao
que é ensinar e, consequentemente, do que significa aprender.
Daí a escolha do termo de “perspectiva metodológica” (no
lugar de resolução de problemas), visto que perspectiva tem o
significado “uma certa forma de ver” ou “um certo ponto de
vista” na qual corresponde a ampliar a conceituação de
Resolução de Problemas como simples metodologia ou
conjunto de orientações didáticas.
Tal perspectiva rompe com a visão limitada de problemas
que podem ser chamados de convencionais e que são os
tradicionalmente propostos aos alunos. O problema
- Aprendendo a ler o livro didático convencional apresenta as seguintes características:
A finalidade básica de proporcionarmos momentos em que a) é apresentado por meio de frases, diagramas ou
os alunos leiam o livro didático é que eles ampliem os parágrafos curtos;
conhecimentos de que dispõem sobre noções e conceitos b) vem sempre após a apresentação de determinado
matemáticos e que ganhem autonomia para buscar e conteúdo;
selecionar informações matemáticas nos mais variados c) todos os dados de que o resolvedor precisa aparecem
contextos, ou seja, desejamos que eles leiam para estudar e explicitamente no texto;
aprender. d) pode ser resolvido pela aplicação direta de um ou mais
Uma estratégia que auxilia na introdução de leitura do algoritmos;
livro didático é expor aos alunos o tema que será lido e pedir- e) tem como tarefa básica em sua resolução a identificação
lhes que falem o que sabem sobre o assunto. de que operações são apropriadas para mostrar a solução e a
transformação das informações do problema em linguagem
- O recurso aos textos paradidáticos matemática;
Os livros paradidáticos de matemática tratam de alguns f) é ponto fundamental a solução numericamente correta,
temas ou ideias de modo diferente do que geralmente é a qual sempre existe e é única.
proposto em um livro didático, ou mesmo de assuntos que não
encontramos nos livros didáticos. Na perspectiva da Resolução de Problemas caracteriza-se
Normalmente o livro aborda o tema por meio de uma por uma postura de inconformismo diante dos obstáculos e do
história, de problemas e desafios que incentivam os alunos a que foi estabelecido por outros, sendo um exercício contínuo
lerem e refletirem, mas também de forma que eles ampliem de desenvolvimento do senso crítico e da criatividade, que são
seus conhecimentos de matemática. características primordiais daqueles que fazem ciência e
objetivos do ensino da matemática.
- Outras leituras Na prática da Resolução de Problemas, é essencial o
Para formar um leitor nas aulas de matemática, é planejamento cuidadoso as atividades e do encaminhamento
importante, ainda, que os alunos percebam que ser um leitor dos questionamentos. Ou seja, a anão separação do conteúdo e
em matemática permite compreender outras ciências e fatos metodologia.
da realidade, além de perceber relações entre diferentes tipos
de textos. - O recurso à comunicação e a perspectiva
Para isso é necessário trabalhar com textos jornalísticos, metodológica da resolução de problemas
histórias em quadrinhos e até mesmo poemas, fazendo desde Ampliando o significado de problema para situação-
a leitura para a reflexão pessoal até a transposição de um texto problema, a necessidade da comunicação aumentará. E ela
dado para outras linguagens. será necessária para descrever e entender a situação inicial,

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para buscar e registrar a resolução das possíveis soluções - Problemas de Lógica


encontradas e para avaliar que soluções são mais adequadas. Estes são problemas que fornecem uma proposta de
resolução cuja base não é numérica, que exigem raciocínio
Capítulo 5 – Os problemas convencionais nos Livros dedutivo e que propiciam uma experiência rica para o
didáticos desenvolvimento de operações de pensamento como previsão
e checagem, levantamento de hipóteses, busca de suposições,
Os problemas tradicionais dos livros-textos são, na análise e classificação.
verdade, simples exercícios de aplicação ou de fixação de O método de tentativa e erro, o uso de tabelas, diagramas
técnicas e regras, percebe-se na maioria deles a ausência de e listas são estratégias importantes para a resolução de
contexto significativo para o aluno e de uma linguagem problemas de lógica.
condizente com a utilizada no dia a dia. Tais problemas
aparecem sempre depois da apresentação de um conteúdo, e é - Outros problemas não convencionais
exatamente este conteúdo que deve ser aplicado na resolução Alguns problemas são mais favoráveis à problematização
de problemas. que outros; no entanto, depende do professor conhecer o
Organizar o trabalho de sala de aula incluindo problemas potencial do problema para encaminhar os questionamentos
não convencionais é uma outra forma de romper com o de acordo com seus objetivos e o envolvimento dos alunos.
modelo que tantas dificuldades traz ao aluno. Em resumo, a
aprendizagem de Resolução de Problemas convencionais - Montando uma problemoteca
depende da reflexão que nossos alunos tem a oportunidade de Uma das maiores dificuldades que o professor encontra é
fazer, investigando cada problema e confrontando-o com localizar problemas não convencionais. Portanto, para
outros problemas. trabalhar essa diversidade de problemas ele pode montar uma
problemoteca.
Capítulo 6 – Conhecendo diferentes tipos problemas A problemoteca é coleção organizada de problemas
colocada em uma caixa ou fichário, com fichas numeradas que
Uma das preocupações dos professores é fazer com que os contêm um problema e que podem trazer a resposta no seu
alunos sejam capazes de resolver diferentes tipos de verso, pois isso possibilita a autocorreção e favorece o
problemas nas aulas de matemática. trabalho independente.

- Diferentes tipos de problemas - Comentários finais


A seleção de diferentes tipos de problemas não pretende Cada momento na resolução dos problemas deve ser de
ser uma classificação, nem esgotar as formas que um problema investigação, descoberta, prazer e aprendizagem. A cada
não convencional pode ter. Nosso objetivo é simplesmente proposta de resolução, os alunos devem ser encorajados a
auxiliar o trabalho em sala de aula e, especialmente, permitir refletir e analisar detalhadamente o texto, estabelecendo
ao professor que possa identificar dificuldades ou evitar que relações entre os dados numéricos e os outros elementos que
elas existem entre seus alunos ao trabalhar com resolução de o constituem e também com a resposta obtida, percebendo se
problemas. esta é ou não coerente com a pergunta e com o próprio texto.

- Problemas sem solução Capítulo 7 – Diferentes formas de resolver problemas


Trabalhar com esse tipo de problema rompe com as
concepções de que os dados apresentados devem ser usados A resolução de problemas nas series iniciais, temos visto
na sua resolução e de que todo problema tem solução. Além que tão importante quanto o tipo de problema a ser trabalhado
disso, ajuda a desenvolver no aluno a habilidade de aprender e a compreensão do texto é a atenção que devemos dar aos
a duvidar, a qual faz parte do pensamento crítico. diferentes modos pelos quais crianças podem resolver
problemas.
- Problemas com mais de uma solução Na resolução de problemas, muitas vezes, os alunos optam
O uso desse tipo de problema nas aulas de matemática por representar suas soluções com base no contexto ou na
rompe com a crença de que todo problema tem uma única estrutura do problema, o que varia de acordo com sua própria
resposta, bem como com a crença de que há sempre uma segurança.
maneira certa de resolvê-lo e que, mesmo quando há várias
soluções, uma delas é a correta. - Por que diferentes formas de resolver problemas?
O trabalho com problemas com duas ou mais soluções faz O trabalho de resolução de problemas se inicia após a
com que o aluno perceba que resolvê-los é um processo de introdução de conteúdos matemáticos, ou seja, após as
investigação do qual ele participa como ser pensante e operações serem apresentadas aos alunos. Assim,
produtor de seu próprio conhecimento. apresentam-se problemas de adição após os alunos
conhecerem a técnica da adição e o mesmo ocorre com as
- Problemas com excesso de dados outras operações.
Nesses problemas, nem todas as informações disponíveis
no texto usadas em sua resolução. Trabalhar com eles rompe - Diferentes formas de resolver problemas
com a crença de que um problema não pode permitir dúvidas Para que os alunos sejam capazes de apresentar as
e de que todos os dados do texto são necessários para sua diferentes maneiras que utilizam para resolver problemas,
resolução. Além disso, evidencia ao aluno a importância de ler, cabe ao professor propiciar em espaço de discussão no qual
fazendo com que aprenda a selecionar dados relevantes para eles pensem sobre os problemas que irão resolver, elaborem
a resolução de um problema. Esse tipo de problema aproxima- uma estratégia e façam o registro da solução encontrada ou
se de situações mais realistas que o aluno deverá enfrentar em dos recursos que utilizam para chegar ao resultado.
sua vida, pois, na maioria das vezes, os problemas que se
apresentam no cotidiano não são propostos de forma objetiva - A importância da oralidade
e concisa. A linguagem oral está presente na vida das crianças mesmo
Outra maneira de propor problemas com excesso de dados antes do início de sua escolaridade, constituindo-se, por isso,
é a partir de tabelas, artigos de jornais ou revistas, anúncios de em um recurso muito utilizado por elas para expressarem seus
vendas e gráficos. sentimentos, necessidades, desconfortos, descobertas.

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A oralidade utilizada como recurso na resolução de - Escrevendo para avançar


problemas pode ampliar a compreensão do problema e ser Outra sugestão que permite o avanço na resolução dos
veículo de acesso a outros tipos de raciocínio. Falar e ouvir nas problemas é pedir que as crianças escrevam sobre o que
aulas de matemática permite uma maior troca de experiências aprenderam por meio das diferentes resoluções apresentadas
entre as crianças, amplia o vocabulário matemático e na classe. Essas escritas podem fazer de um espaço reservado
linguístico da classe e faz com que ideias e procedimentos no caderno onde as crianças registram o que aprenderam.
sejam compartilhados.
- Os registros do professor
- Resolvendo problemas através de desenhos Os diferentes caminhos utilizados pelos alunos revelam
Nas aulas de matemática, o desenho serve como recurso de muito sobre seu percurso individual enquanto resolvedores de
interpretação do problema e como registro da estratégia de problemas, demonstrando a forma como estão lendo, se
solução. compreenderam ou não o problema, de que maneira utilizam
Desenhar por desenhar não se constitui em uma forma de do dados em suas estratégias, se levam em consideração a
comunicação, pois esta implica interação com outras crianças. pergunta dada, se sabem operar com os conhecimentos
matemáticos necessários para resolvê-lo e o que significa para
- A conquista da linguagem matemática eles resolver um problema de matemática.
Na perspectiva de Resolução de Problemas que desejamos
trabalhar, nosso objetivo em relação à aquisição da linguagem - Considerações finais
matemática modifica-se e amplia-se, pois passamos a Olhando para a Resolução de problemas de modo novo, ela
considerar a linguagem formal da matemática como uma passa a ser vista como um objetivo do ensino de matemática
conquista, complexa e demorada, que se faz por aproximações que propicia um posicionamento diferenciado diante de
sucessivas mediadas pelas trocas que ocorrem entre os alunos situações desafiadores.
e entre professor e os alunos.
A medida que as crianças apropriam-se de formas mais Capítulo 8 – Por que formular problemas?
elaboradas de representação de suas ideias, em especial da
escrita, é comum que a escola faça com que abandonem os Quando o aluno cria seus próprios textos de problemas, ele
desenhos, exigindo a utilização de uma linguagem matemática precisa organizar tudo que sabe e elaborar o texto, dando-lhe
mais formal que, em geral, elas ainda não dominam. sentido e estrutura adequados para que possa comunicar o
que pretende.
- Incentivando a busca de diferentes resoluções Dar oportunidade para que os alunos formulem problemas
Inicialmente, é preciso ser cuidado quanto à escolha do é uma forma de leva-los a escrever e perceber o que é
problema. Problemas simples, que envolvem conceitos de uma importante na elaboração e na resolução de uma dada
operação matemática, possuem linguagem apoiada em situação; que relação há entre os dados apresentados, a
imagens e texto curto, podem ser adequados para as crianças pergunta a ser respondida e a resposta; como articular o texto,
de séries iniciais que não conhecem nenhuma técnica os dados e as operação a ser usada. Mais que isso, ao
operatória, mas não favorecem o aparecimento de diferentes formularem problemas, os alunos sentem que têm controle
soluções para alunos que conhecem os algoritmos e que os sobre o fazer matemática e que podem participar desse fazer,
resolvem facilmente, fazendo os cálculos necessários. desenvolvendo interesse e confiança diante de situações
problemas.
- O que fazer com as diversas resoluções apresentadas
pelas crianças: Interferências para avançar - Primeiras propostas de formulação de problemas
Uma maneira de contribuir para que o trabalho evolua é As primeiras propostas de formulação de problemas
realizar o confronto entre as diversas representações que devem ser planejadas com muito cuidado, uma vez que as
surgem na classe e discutir sua eficácia comunicativa, ou seja, crianças demonstram dificuldades em realizar tal tarefa por
se é ou não possível que os demais membros da classe estarem acostumadas a somente resolver problemas. Os
compreendam o caminho que determinada criança utilizou alunos devem ter contato com diferentes tipos de problemas
para chegar à conclusão. Por isso, é importante que se faça uma para resolver antes de propormos que criem seus próprios
análise da solução encontrada a fim de verificar se é adequada problemas.
ou não.
- Organizando o trabalho em sala de aula
- Avanço a partir dos erros A formulação de problemas deve ser um espaço para eles
Nesse processo de resolução, quando os alunos são comunicarem ideias, fazerem colocações, investigarem
incentivados a expressar livremente seu modo de pensar, é relações e adquirirem confiança em suas capacidades de
natural que surjam algumas soluções incorretas. O mais aprendizagem. Este é um momento para desenvolver noções,
importante é garantir um clima de respeito e confiança em sala procedimentos e atitudes em relação ao conhecimento
de aula para que as crianças se sintam à vontade para lidar com matemático.
o erro. Discutir com o grupo por que a solução está errada é A organização da sala de aula deve contribuir para a
uma das formas de trabalho que contribui muito para que a efetivação de tal espaço; dispondo inicialmente os alunos em
criança reveja suas estratégias, localize seu erro e reorganize duplas ou trios para produzirem atividades a fim de que,
os dados em busca de solução correta. diante de uma situação nova, eles possam discutir e descobrir
uns com os outros a melhor maneira de conduzir suas ações,
- Conquistando a resolução convencional buscando alternativas, tomando decisões e superando
Trabalhar apenas com discussão das estratégias criadas conflitos.
pelas crianças com problemas isolados não garante a
aprendizagem dos conteúdos matemáticos. É necessário que o - Intervenções: como avançar?
trabalho com resolução tenha fio condutor e que haja uma É a intervenção do professor que fará com que as crianças
sequência a ser seguida, a qual possibilite um maior progressivamente se apropriem das características de um
entendimento de determinado conteúdo matemático. problema matemático, desde que haja espaço para questionar
os problemas produzidos e refletir sobre eles.

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É preciso, portanto, clareza da parte de quem ensina do - Para finalizar


que é um problema matemático. Problema é toda situação que A construção de um ambiente que privilegie a
não possui uma solução evidente, na qual é exigido que o comunicação e inclua recursos de informática permite ao
resolvedor combine seus conhecimentos e decida-se sobre aluno aprender de forma significativa.
como usa-los na busca da solução. Trata-se de situações que
permitam questionamentos.

Capítulo 9 – A informática e a comunicação


TEBEROSKY, Ana; COLOMER,
Matemática Teresa. Aprender a ler e a
escrever: uma proposta
A informática alterou sensivelmente o modo e a qualidade
de vida em todo o mundo. O computador, símbolo e principal
construtivista. Porto Alegre:
instrumento desse avanço, não pode ficar fora da escola. Artmed, 2003;
Ignorá-lo significa alienar o ambiente escolar, deixar de
preparar os alunos para um mundo em mudança constante e
rápida, educar para o passado e não o futuro. Nos dias atuais tem-se encontrado grande dificuldade em
Todavia, a implantação de recursos de informática na saber a maneira carreta, ou mais acertada, de agir devido as
escola não pode ser confundida com a simples instalação de grandes (e proveitosas) renovações que estão acontecendo no
computadores, a utilização da internet ou uso indiscriminado campo da educação. A grande questão é saber unir teoria,
de softwares para treinar procedimentos. prática e reflexão. É sobre esses temas que vamos falar um
É preciso saber como, quando, onde e por que utilizar o pouco nesse livro.
computador, estabelecendo-se estratégias bem claras e
definidas, distinguindo-se as tarefas em que seu uso é Capítulo 1 - A Língua Escrita
fundamental daquelas em que sua contribuição é pequena ou Observando o percurso histórico do surgimento da escrita
circunstancial. e de suas variadas representações, é possível verificar que a
existência desta permitiu os registro da memória coletiva, e
- Nossas experiências uma comunicação maior entre as pessoas, pois as mensagens
Você conhece um bom software para ensinar aquele não dependiam mais da presença física dos interlocutores. Na
conteúdo? época posterior a industrialização a concepção de
A resposta é que não existe software bom para ensinar este alfabetização é revista a partir das mudanças sociais (até então
ou aquele conteúdo, mas a verdade é que, mais importante do a alfabetização estava ligada ao ócio e ao âmbito social). Essa
que o programa, é o modo como ele será utilizado. Deve-se demanda social tornou a escolarização obrigatória.
selecionar um software da mesma maneira que se escolhe um Em nossa sociedade, no decorrer do século XX a língua
filme, um livro ou simplesmente parte deles para preparar ou escrita (alfabetização) se torna tecnologia fundamental, como
ilustrar uma aula, ou desenvolver um projeto. pré-requisito para qualquer progresso, potencialização dos
conhecimentos e acesso aos diferentes usos da mesma.
- Livro eletrônico de problemas Estudos realizados concebem a língua como código oral e
A produção de textos matemáticos pode ganhar nova código escrito. O processo de produção ou reprodução da
dinâmica quando o computador é utilizado. Ferramentas como língua escrita é diferente do uso oral porque implica uma
word, power point são bem utilizados para as aulas, relação entre pensamento e linguagem diferente. A língua
trabalhando com a inserção de objetos, tabelas, gráficos, entre escrita permite fixar o discurso oral e convertê-lo em objeto de
outros. análise. “A língua escrita seria, em suma, o meio mais eficiente
Umas das vantagens do livro eletrônico foi possibilitar o para que um indivíduo chegue a dominar as máximas
intercâmbio das produções dos alunos com outras classes com potencialidades de abstração da linguagem,
facilidade e rapidez. independentemente de os discursos construídos por ele
serem, ao final, orais ou escritos”.
- Projetos e informática Entende-se a aprendizagem da língua escrita como um
Os projetos ganham espaço nos planejamentos como domínio lingüístico progressivo - não meramente do código
possibilidades para que o aluno aprenda em situações que gráfico -, nas situações e para as funções que cumpre
exigem participação ativa, compromisso, responsabilidade, socialmente.
criatividade, trabalho cooperativo e respeito às diferenças. No texto “Aprendices em el domínio de la lengua escrita”,
Um projeto é uma situação de aprendizagem na qual os Wells (1987) trabalha o domínio da escrita a partir de quatro
alunos tem grande margem de liberdade para interferir, níveis coexistentes: epistêmico, instrumental, funcional e
transformar e complementar a proposta inicial desde que de executivo. Cada nível representa:
forma negociada com seus colegas e professor. Nesse sentindo, O nível executivo insiste na posse do código como tal; diz
o computador vem para auxiliar e favorecer as mudanças que respeito ao domínio da língua para traduzir a mensagem do
se fizerem necessárias quantas vezes isso for preciso. código escrito.
No nível funcional inclui-se saber como a língua escrita
- Explorando o conceito de simetria varia segundo o contexto; refere-se a utilizar os
O estudo de simetria em matemática justifica-se pela conhecimentos para enfrentar exigências cotidianas como ler
possibilidade de tratar as propriedades geométricas de figuras jornal ou seguir instruções. No nível instrumental usa-se tanto
sob o ponto de vista do movimento com relação a um eixo ou o código quanto a forma textual e reside na possibilidade de
ponto. As figuras simétricas mantem entre si forma e medidas buscar e registrar informações escritas.No nível epistêmico
de comprimento e ângulos, ou seja, são iguais ou, mais usa-se a língua escrita como meio de atuação e transformação
precisamente, são congruentes apesar de ocuparem diferentes sobre o conhecimento: refere-se ao interpretar e avaliar.
posições no espaço.
A simetria está presente na natureza, nas artes visuais e Capítulo 2 - O que é ler?
plásticas, fazendo parte dos conceitos de beleza e equilíbrio Tradicionalmente pode-se considerar a definição de ler
que nossa cultura valoriza. como a capacidade de entender um texto escrito pode parecer
simplista, mas não é.

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As práticas escolares comumente trazem atividades que realidade, a utilização da leitura - e compreensão - sem
partem de pequenos fragmentos de textos, palavras soltas ou propósito real.
letras isoladas para o ensino da leitura. Essa situação revela A concepção utilizada atualmente considera a
uma concepção e um desconhecimento: porque ler é um ato de aprendizagem significativa. Nessa perspectiva, atividades
raciocínio. orientadas a aprender a ler ajudam os alunos na compreensão
Através da percepção, da memória de curto e longo prazo do texto. Podem ser propostas: resumir e sublinhar as ideias
(esta segunda que armazena as informações e conhecimentos principais; ler e construir diagramas e esquemas; o professor
que temos do mundo) e dos esquemas de conhecimento que as oferecer modelos de compreensão; organizar atividades onde
pessoas formam ao longo da vida, a compreensão e a o texto apresente erros de diferentes níveis para que os alunos
interpretação das informações se tornam possíveis através da apontem as incoerências; empregar a discussão coletiva (com
leitura. Ler consiste em processar as informações visuais de intervenções do professor); auxiliar os alunos a reterem
um texto e as informações não-visuais conhecimentos do informações a partir de estratégias como antecipar, reler,
leitor. A partir das informações do texto o leitor formula repassar, etc. organizar produções de texto como recurso para
hipóteses, antecipa significados, faz inferências e, no decorrer a compreensão.
da leitura, verifica se suas hipóteses iniciais estavam corretas.
Frank Smith - e outros autores - revela que ao explorar um Capítulo 4 - O Planejamento da Leitura na Escola
texto através da leitura, o leitor: não precisa oralizar o texto Esse capítulo vai falar um pouco sobre o ensino da leitura
para compreendê-lo; desloca os olhos em saltos percebendo nas últimas séries do ensino fundamental.
fragmentos do texto - não lemos letra por letra - e percebe Acredita-se que a aprendizagem da leitura estende-se por
globalmente um conjunto de elementos gráficos. toda a escolaridade, não somente no ensino fundamental, mas
Seguindo esses propósitos alguns cuidados devem ser também por todo o ensino médio.
tomados no trabalho com a compreensão leitora: a Estudos mais recentes e a apreensão dos processos de
organização de atividades com propósitos claros: ler com a leitura e compreensão apontam a necessidade de que o ensino
finalidade de obter informação ou ler por prazer, ou ainda, da leitura tenha sentido de prática social e cultural, onde os
para aprender; e os conhecimentos trazidos pelo leitor alunos possam ampliar seus conhecimentos comunicativos
(prévios) - sobre o texto escrito (conhecimentos reais.
paralinguísticos, das relações grafofônicas, morfológicos, Trataremos de duas situações de leitura:
sintáticos, semânticos e textuais) e sobre o mundo. Quanto 1.a primeira que trata das tarefas escolares: a utilização da
maior o conhecimento do leitor, mais fácil será sua pedagogia de projeto pode ser uma boa opção pois tira o
compreensão do texto. professor do centro e faz com que os alunos assumam papéis
importantes. Uma segunda que trata da leitura literária: pois
Capítulo 3 - O Ensino e a Aprendizagem da Leitura destina-se a “apreciar o ato de expressão do autor, a
De acordo com as concepções que as escolas apresentam desenvolver o imaginário pessoal a partir dessa apreciação e a
do que é ler, é que se configuram o ensino e a aprendizagem da permitir o reencontro da pessoa consigo mesma em sua
leitura. interpretação”.
Para compreender melhor essa configuração, vamos retomar 2. Na escola existem espaços que podem e devem tornar-
um pouco da história: Numa concepção tradicional acreditava- se um contexto real de leitura, pois educa a autonomia dos
se que ler significava realizar correspondência entre os caminhos de acesso à informação - a biblioteca escolar, por
fonemas e os signos, dos mais simples para os mais complexos. exemplo. Nesse sentido, algumas ações são importantes: o
A aprendizagem da leitura se dava através da leitura em voz conhecimento dos materiais disponíveis na biblioteca,
alta. exposição do acervo, a hora do conto, a prática de leitura para
A partir da década de 50 a leitura “passa a ser considerada criação desse hábito, entre outras. Essencial é propagar sua
como um processo psicológico específico, formado pela existência de forma a chamar os alunos e outras pessoas para
integração de um conjunto determinado de habilidades e que esse espaço, onde possam criar uma bagagem leitora através
pode desenvolver-se a partir de um certo grau de maturação de diversos meios.
de cada uma delas”. Essa concepção trabalha com pré-leitura Essa medida, de ampliar o repertório, clama por outras:
ou maturação leitora na escola. 1. Relacionadas a compreensão do texto: leitura e
Com estudos mais recentes e avanços realizados a leitura interpretação conjunta de textos que ainda apresentam
“deixou de ser considerada como um processo psicológico dificuldade; ler obras completas, dividindo-a em partes e
específico para incluir-se entre os processos gerais de realizando: análise de capítulos, reconstrução da época,
representação humana da realidade e adotou a perspectiva antecipação de informações, descrições, comparações,
teórica de um modelo psicolinguístico-cognitivo”. retomada do conflito e verificação das hipóteses iniciais;
Considerando essa concepção, a leitura passa a ter outra leitura de textos mais breves com focalização de aspectos a
significação e o modo de ensiná-la também muda. O ensino: serem trabalhados relacionar o texto com os conhecimentos
considera e parte dos conhecimentos dos alunos sobre as dos alunos; comentar diferentes textos de diferentes áreas do
funções da leitura; permite a comunicação com função real conhecimento; leitura e comentário de um texto para sua
(sendo significativa) trabalha a relação com a língua escrita e compreensão; utilizar quadros, esquemas e comparações para
seu uso funcional; fomenta a consciência metalinguística; um ajudar na representação mental da ordenação de
utiliza textos de circulação social, concebidos para leitura, e informações;
não textos escolares, o que permite maior significado para os 2. Relacionadas a compreensão da estrutura significativa
alunos; permite experiências com textos variados para dos textos: organizar gráficos, esquemas ou quadrinhos para
aprender suas características diferenciais; trabalha a leitura representar o texto; produzir sínteses; ler notícias e dar-lhes
sem oralização, a não ser que haja uma função específica títulos, explicando suas escolhas; produzir e comparar
(comunicar algo a alguém), diferentemente de como era resumos;
trabalhado tradicionalmente; 3. Relacionadas “a exercitar as habilidades envolvidas no
Da mesma forma, deve ser trabalhada nas escolas, a processo de leitura”: explicitar o que sabe sobre um tema;
compreensão leitora. Algumas pesquisas mostram que essa buscar uma informação determinada no texto (jornal,
compreensão é pouco trabalhada apesar dos alunos lerem com dicionário ou lista telefônica); consultar anúncios ou sessões
frequência. Pode-se apontar, como uma das causas dessa do cinema; buscar uma informação na enciclopédia; realizar
exercícios de antecipação através da ativação dos

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conhecimentos prévios dos alunos; continuar a escrita de


textos (narrativos, histórias em quadrinhos, etc); construir WEISZ, Telma. O Diálogo
textos em cadeia (onde cada aluno produz uma parte);
continuar a escrita de textos informativos; continuar a escrita
entre o ensino e a
de notícias; recompor textos (cortados previamente pelo aprendizagem. São Paulo:
professor); recompor textos de acordo com sua sequência Ática, 2002;
temporal (três notícias de três dia diferentes, por exemplo);
antecipar o conteúdo do texto a partir de indícios gráficos e
tipográficos; preencher espaços vazios de um texto; brincar de
WEISZ, Telma. O Diálogo entre o Ensino e a
jogo da forca; O que ajuda muito no desenvolvimento das
Aprendizagem.
habilidades leitora e escritora são os exercícios de
levantamento e emissão de hipóteses e inferências. Utilizar as
Weisz cursou o Normal no Instituto de Educação, no Rio de
atividades trazidas nos “passatempos” (comumente
Janeiro, possivelmente influenciada pela professora de seu
encontrados em banca de jornais, em livros próprios, revistas
curso primário de quem gostava muito. Ao longo do curso,
ou gibis) também é um importante exercício para os alunos.
estando envolvida com outros interesses (artes plásticas) quis
sair, mas seus pais a convenceram a continuar. Fez, então, o
Capítulo 5 - A Avaliação da Leitura
Instituto de Belas Artes (atual escola de Artes Visuais do
Ao retomar o que já foi discutido nesse livro percebe-se
Parque Lage). Em 1962, quando cursava o seu último ano do
que não é mais possível utilizar uma avaliação nos moldes
Curso Normal, constatou que a repetência fabricada pelas
tradicionais. Ela precisa ser formativa: informa os alunos
escolas tinha ultrapassado os limites, pelo fato de não haver,
sobre seus progressos e avanços (por isso eles devem saber o
em consequência, vagas para alunos novos na 1ª série. O
tempo todo o que está sendo observado e que resultado
governador, então, tomou três providencias: aprovou as
obtiveram), e serve como instrumento para o professor ajustar
crianças por decreto - tendo ido todo mundo para a 2a. série,
seu planejamento e métodos de ensino (uma reflexão para a
sabendo ou não ler; montou escolas de madeira, com telhado
ação). O que comumente vê-se nas escolas é a não clareza do
de zinco, e convocou todas as normalistas do último ano do
que avaliar e como avaliar. Dessa forma as avaliações não
curso para dar aulas. A partir daí, ela foi dar aula, para um
põem em jogo todos os conhecimentos construídos pelos
grupo de crianças que tinham entre 11 e 12 anos e, que depois
alunos e nem avaliam todos os aspectos apresentados nos
de terem repetido várias vezes a 1a. série, tinham passado
outros capítulos.
para a 2ª em função do decreto do governador.
A proposta de Alexandre Gali é que referencia as avaliações
Eram 45 alunos, sendo que apenas 3 não eram negros. Não
nas escolas catalãs. Ele se baseia na necessidade de separar “os
eram todos analfabetos, porém não se podia considerá-los
diversos componentes do ato de leitura suscetíveis de serem
alfabetizados. Apesar de empregar as técnicas de ensino,
avaliados de forma diferenciada e distingue cinco: perfeição
sentia-se como preenchendo o tempo de aula. Não conseguia
mecânica, expressão, rapidez, compreensão das palavras e
avaliar os resultados do trabalho, nem o que deveria esperar
compreensão total”. Dos cinco componentes apresentados
das propostas que colocava em prática, sentindo-se confusa e
considera que os três últimos devam ser avaliados. Para ele, os
impotente. Situações da sala revelavam o abismo existente
testes de avaliação devem ser claros e conhecidos dos alunos
entre o desempenho de seus alunos na escola e o que a vida
(as provas devem estar integradas às tarefas educativas), para
fora da escola exigia deles. Nesse sentido, tinha a sensação de
que tenham que refletir apenas sobre as combinações verbais
que a escola parecia uma armadilha montada para que esses
e o jogo de ideias presente.
meninos não pudessem se sair bem, e também, a convicção de
O se tratar da avaliação, mesmo que não se tenha claro qual
que esse tipo de situação tinha um papel político muito
seu objetivo principal, alguns critérios devem ser respeitados
importante que devia ser enfrentado durante toda a sua vida
- considerando a nova concepção de leitura e escrita. P.H.
profissional. Ficava impressionada quando conversava com
Johnson afirma que o objetivo da avaliação deve ser “o grau de
algumas mães e essas achavam natural que seus filhos não
integração, inferência e coerência com que o leitor integra a
tivessem sucesso na escola. Diziam que ela poderia 'bater
informação textual com a anterior”.
neles' para ver se estudavam.
Podemos considerar como critérios importantes na
Esse foi seu batismo de fogo que fez com que se afastasse
avaliação:
por 12 anos da educação. A sensação mais profunda que ficou
1. Atitude emocional no momento da leitura;
dessa experiência foi a de ignorância. Ficou claro, para ela, que
2. Buscar informações em um determinado texto;
as informações e ideias que circulavam na educação não
3. Solicitar que os alunos verbalizem suas ideias em relação
davam conta do problema do ensino. O professor era um cego.
ao texto;
Para ela, o professor continua chegando hoje à escola com as
4. Verificar a velocidade da leitura e a leitura silenciosa;
mesmas insuficiências com a qual ela chegou em 1962, sendo
5. Explorar os conhecimentos prévios dos alunos com
que a diferença, hoje, está na possibilidade que o professor tem
questões relacionadas ao texto;
de, se quiser, tentar resolver essa situação. Hoje, os
6. Solicitar que realizem sínteses, deem títulos a textos;
professores têm à sua disposição um corpo de conhecimentos
7. Solicitar que apontem em um texto seus erros e
que, se não dá conta de tudo, pelo menos ilumina os processos
incoerências (previamente preparado pelo professor);
através dos quais as crianças conseguem ou não aprender
O enfoque principal da avaliação é para que serve? Nesse
certos conteúdos. O entendimento que se tem do professor
sentido deve-se utilizá-la como instrumento tanto para o
hoje é o de alguém com condições de ser sujeito de sua ação
professor quanto para o aluno, na medida em que pode ir
profissional.
controlando seus avanços e onde necessita maior atenção para
Ao final de 1962, e durante os 12 anos seguintes trabalhou
melhorar.
em áreas completamente diferentes, e como nenhuma outra
atividade dava sentido à sua vida profissional, acabou
voltando para a educação. Seu compromisso é com essas
crianças - que são maioria nas escolas públicas - para que
superem o fracasso e tenham sucesso na escola.
Apesar de ser considerada especialista em alfabetização, sua
questão é a aprendizagem, em especial, a aprendizagem
escolar.

Conhecimentos Pedagógicos 65
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Capítulo 2 - Um novo olhar sobre a aprendizagem. Assim, independente do fato de que as crianças venham de
uma família pobre ou não, o que importe realmente é a ação
Apesar de ter iniciado sua docência em 1962, e de ter na pedagógica do professor, e esta dependerá da sua concepção
época um certo conhecimento significativo quanto ao fato da de aprendizagem (todo o ensino se apoia numa concepção de
criança conseguir escrever, mesmo que não ortograficamente, aprendizagem). É possível enxergar o que o aluno já sabe a
ela não tinha um conhecimento científico acumulado que lhe partir do que ele produz e pensar no que fazer para que
permitisse superar um ponto de vista "adultocêntrico", ou seja, aprenda mais. Nas últimas décadas muitas pesquisas pontuam
a forma como se concebe a aprendizagem das crianças a partir uma concepção de aprendizagem que é resultado da ação do
da própria perspectiva do adulto que já domina o conteúdo aprendiz. Dessa forma, a função do professor é criar condições
que quer ensinar. A partir dessa perspectiva, não é possível para que o aluno possa exercer a sua ação de aprender
compreender o ponto de vista do aprendiz, pois não se participando de situações que favoreçam a atividade mental,
'enxerga' o objeto de seu conhecimento com os olhos de quem ou seja, o exercício intelectual. Quando o professor entende
ainda não sabe. A partir dessa perspectiva, o professor (do que o aprendiz sempre sabe alguma coisa e pode usar esse
lugar de quem já sabe) define, a priori, o que é mais fácil e o conhecimento para continuar aprendendo ele pode identificar
que é mais difícil para os alunos e quais os caminhos que eles que informação é necessária para que o conhecimento do
devem percorrer para realizar as atividades desejadas. Tal aluno avance. Essa percepção permite ao professor
concepção, por parte do professor, gera um tipo de compreender que a intuição não é mais suficiente para guiar a
procedimento pedagógico que dificulta o processo de sua prática e que ele precisa de um conhecimento que é
aprendizagem para uma parte das crianças, principalmente, produzido no território da ciência. É preciso considerar o
aquelas que mais necessitam da ajuda da escola, por ter menos conhecimento prévio do aprendiz e as contradições que ele
conhecimento construído sobre os conteúdos escolares. enfrenta no processo.
Assim, a adoção de uma postura adultocêntrica não é uma Em uma concepção de aprendizagem construtivista, o
decisão voluntária dos professores, uma vez que, o conhecimento é visto como produto da ação e reflexão do
conhecimento científico que trazem consigo, não lhes permite aprendiz. Esse aprendiz é compreendido como alguém que
enxergar e acolher uma outra concepção de aprendizagem sabe algumas coisas e que, diante de novas informações que
relacionada à perspectiva do aprendiz. têm para ele sentido, realiza um esforço para assimilá-la, assim
A metodologia embutida nas cartilhas de alfabetização frente a um problema (conflito cognitivo) o aprendiz tem a
contribui para o fracasso escolar. necessidade de superá-lo.
A chamada Psicogênese da Língua Escrita, resultado das O novo conhecimento aparece como aprofundamento do
pesquisas realizadas por Emília Ferreiro e Ana Teberosky conhecimento anterior que ele já detém. É inerente à própria
(1970), sobre o que pensam as crianças quanto ao sistema concepção de aprendizagem que o aprendiz busque o
alfabético de escrita, evidencia os problemas que a conhecimento prévio que ele possui sobre qualquer conteúdo.
metodologia embutida nas cartilhas (que faz uso do método da Através dos estudos de Emília Ferreiro e Ana Teberosky e
análise-síntese ou da palavra geradora) traz para as crianças. demais colaboradores, sabemos que a criança representa a
Por meio das pesquisas das autoras acima mencionadas, em escrita de diferentes modos, como a expressão de um
uma sociedade letrada, as crianças constroem conhecimentos conhecimento sobre a escrita que precede a compreensão real
sobre a escrita desde muito cedo, a partir do que observam na do funcionamento do sistema alfabético. No caso da
interação com o seu meio físico e social e das reflexões que aprendizagem da escrita, o meio social coloca para as crianças
fazem a esse respeito. As pesquisas evidenciaram que quando uma série de contradições e de conflitos que a forçam a buscar
as crianças ainda não se alfabetizaram, buscam uma lógica que soluções, superar as hipóteses inadequadas quanto ao sistema
explique o que não compreendem, elaborando hipóteses de escrita, através da construção de novas teorias explicativas.
muito interessantes sobre o funcionamento da escrita. Nesses momentos, a atuação do professor é fundamental, pois
Esses estudos permitiram compreender que a metodologia a conquista de novos patamares de compreensão pelo aluno é
das cartilhas pode fazer sentido para crianças convencidas de algo que depende também das propostas didáticas e da
que para escrever uma determinada palavra, bastar uma letra intervenção que ele fizer.
para cada sílaba oral emitida (hipótese silábica), mas para Essas teorias explicativas são formas de interpretação não
aquelas que ainda cultivam ideias muito mais simples a necessariamente conscientes, mas que orientam a ação de
respeito da escrita, ou seja, que ainda não estabeleceram quem está aprendendo. Tais teorias são modificadas no
relação entre a escrita e a fala (pré-silábica), o esforço de embate com a realidade com a qual o aluno se depara a todo
demonstrar que uma sílaba, geralmente, se escreve com mais instante e especialmente quando o professor cria contextos
de uma letra não faz nenhum sentido. São essas as crianças que adequados para que isso aconteça. Para aprender, a criança
não conseguem aprender com a cartilha e que ficam repetindo passa por um processo que não tem a lógica do conhecimento
a 1ª série várias vezes, chegando a desistir da escola. final, como é visto pelos adultos.
As crianças constroem hipóteses sobre a escrita e seus Do ponto de vista do referencial construtivista, nenhum
usos a partir da participação em situações nas quais os textos conceito nasce com o sujeito ou é incorporado de fora, mas
têm uma função social de fato. Frequentemente as crianças precisa ser construído através da interação do sujeito com o
mais pobres são as que têm hipóteses mais simples, pois vivem meio (físico, social, cultural); nesse processo de construção, as
poucas situações desse tipo. Para elas a oportunidade de expressões do aprendiz não têm a lógica do conhecimento
pensar e construir ideias sobre a escrita é menor do que para final, concebido pelo adulto. As pesquisas realizadas pelo
as crianças que vivem em famílias típicas de classe média ou psicólogo Jean Piaget quanto à conservação de quantidades
alta, nas quais ouvem a leitura de bons textos, ganham livros e (massa/ fichas), demonstram que para crianças com idade de
gibis, observam os adultos manusearem jornais para buscar 5/7 anos, o fato de oito fichas apresentarem-se juntas e oito
informações, recebem correspondências, fazem anotações, etc. fichas apresentarem-se espalhadas apresentam quantidades
Isso não quer dizer, que as crianças pobres não tenham acesso diferentes, simplesmente pela disposição / configuração
à escrita ou não façam reflexões sobre seu funcionamento fora dessas fichas (pensamento pré-operatório/perceptivo/
da escola, mas habitualmente tais práticas não fazem parte do irreversível). Começa com Piaget, a construção de um novo
cotidiano do seu grupo social de origem e isso faz com que o olhar sobre a aprendizagem.
início de sua escolarização se dê em condições menos Piaget desenvolveu uma teoria do conhecimento
favoráveis do que para aquelas crianças que participam de (Epistemologia e Psicologia Genética) que explica como se
práticas sociais letradas desde pequenas. avança de um conhecimento menos elaborado para um

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conhecimento mais elaborado, ressaltando que o reconhecida como um saber, pois do ponto de vista de como se
conhecimento é resultado da interação do sujeito com o meio escreve em português, essa escrita não existe. Mas, para
externo, que é um processo no qual o sujeito participa chegar a escrever em português (escrita alfabética), o aprendiz
ativamente, modificando o meio no qual está inserido e sendo, precisa passar por uma concepção de escrita desse tipo
também, modificado por esse mesmo meio. (silábica), imaginando que quando se escreve representa-se as
Foram os estudos de Piaget que abriram a possibilidade de emissões sonoras que ele consegue reconhecer (a sílaba),
se estudar a construção de conhecimentos específicos, como o isolando-as pela via da audição.
fez Emília Ferreiro que mostrou que era possível pensar o Tal conhecimento é importante e o professor deve
construtivismo - o modelo geral de construção do reconhecê-lo na aprendizagem da escrita. Caso contrário
conhecimento, tal como formulado por Piaget e colaboradores contribuirá muito pouco com os avanços do aluno em relação
da Escola de Genebra - como a moldura de uma investigação à escrita e, se a criança aprender a ler, provavelmente, será por
sobre a aquisição de um conhecimento particular, no caso de conta própria.
Emília Ferreiro, o da leitura e escrita. Um olhar cuidadoso sobre o que a criança errou pode
A Psicogênese da Língua Escrita é um modelo psicológico ajudar o professor a descobrir o que ela tentou fazer. Somente
de aprendizagem específico da escrita que serve de um olhar cuidadoso e despojado do professor sobre a
informação ao educador, porém a maneira como essas produção do aprendiz (quanto ao saber não reconhecido),
informações são usadas na ação educativa pode variar muito permitir-lhe-á descobrir o que pensa esse aprendiz,
porque nenhuma pedagogia responde apenas a um modelo possibilitando-lhe levantar questões e perguntas sobre tal
psicológico. O modelo geral no qual se apoia a Psicogênese da produção. Ao desconsiderar o esforço do seu aluno, dizendo-
Língua Escrita é de que há um processo de aquisição no qual a lhe que sua produção não está correta, acaba desvalorizando
criança vai construindo hipóteses sobre a escrita, testando-as, sua tentativa e esforço e, consequentemente, o aluno vai
descartando umas e reconstruindo outras. Durante a pensar duas vezes antes de produzir de novo. O conhecimento
alfabetização, aprende-se mais do que escrever se constrói por caminhos diferentes daqueles que o ensino
alfabeticamente. Aprendem-se, pelo uso, as funções da escrita, supõe. Isso acontece no processo de aquisição da escrita, na
as características discursivas dos textos escritos, os gêneros construção dos conceitos matemáticos e na aprendizagem de
utilizados para escrever e muito outros conteúdos. qualquer outro conteúdo e mesmo quando os alunos estão
O modelo de ensino atualmente relacionado ao submetidos a um tipo de ensino convencional, pois o que
construtivismo chama-se aprendizagem pela resolução de impulsiona a criança é o esforço para acreditar que atrás das
problemas (situações-problema). Aprender a aprender é algo coisas que ela tem de aprender existe uma lógica. Se o
possível apenas a quem já aprendeu muita coisa. Para professor não sabe nada sobre o que o aluno pensa ou conhece
aprender a aprender, o aprendiz precisa dominar a respeito do conteúdo que quer que ele aprenda, o ensino que
conhecimentos de diferentes naturezas, como as linguagens, ele oferece não tem com quem dialogar. Conhecimentos
por exemplo. Nesse processo, a flexibilidade e a capacidade de prévios dos alunos não deve ser confundido com conteúdo já
se lançar com autonomia nos desafios da construção do ensinado pelo professor.
conhecimento são extremamente importantes, pois há todo Na perspectiva construtivista - de resolução de problemas
um saber necessário para poder aprender a aprender; e isso só - o professor não pode considerar como sinônimos o que o
é possível para quem aprendeu muito sobre muita coisa. Deste aluno já sabe e o que lhe foi ensinado, pois não são
modo, é desejável que o aprendiz saiba buscar informações necessariamente a mesma coisa. Para que isso não aconteça, é
através do computador, porém é fundamental desenvolver a preciso que o professor desenvolva uma sensibilidade e uma
capacidade de estabelecer relações inteligentes entre os escuta atenta para a reflexão que as crianças fazem, supondo
dados, as informações e os conhecimentos já construídos. que o que elas pensam tem sentido e não é fruto de sua
Nesse sentido, para ser capaz de aprender ignorância. O professor precisa criar um ambiente sócio-
permanentemente, a bagagem básica necessária atualmente é afetivo para que as crianças possam manifestar
acadêmico-cultural, em que se articulam conhecimentos de livremente/espontaneamente o que pensam; somente assim,
origem tradicionalmente escolar e aqueles relacionados aos poderá favorecer situações de aprendizagem significativas. Tal
movimentos culturais da sociedade (formação geral). ambiente deve possibilitar que as crianças pensem sobre suas
Assim, a escola tem uma tripla função: ideias. Do mesmo modo, cabe ao professor oferecer
1. levar o aluno a aprender a aprender; conflitos/situações problemas que possibilitem às crianças
2. dar-lhe os fundamentos acadêmicos e; exercitarem o pensamento, na busca de soluções possíveis.
3. equalizar as enormes diferenças no repertório de Isso requer do professor estudo e uma postura reflexiva e
conhecimentos dos aprendizes. investigativa. A psicogênese da língua escrita abriu a
possibilidade de o professor olhar para a criança e acreditar
É praticamente impossível a escola realizar sozinha essa que para aprender ela pensa, que aquilo que ela faz tem lógica
terceira função, mas sua contribuição é essencial, pois é e o que o professor não enxerga é porque não tem
preciso pensar como agir para democratizar o acesso à instrumentos suficientes para perceber o sentido que está
informação e às possibilidades e construção de conhecimento. sendo manifestado pela criança. Um casamento entre a
disponibilidade da informação externa e a possibilidade da
Capítulo 3 - O que sabe uma criança que parece não construção interna. Quando o professor não entende a
saber nada produção da criança deve-se perguntar à criança, mesmo que
não consiga entender suas explicações, uma atividade indicada
Saber o que o aluno sabe e o que ele não sabe para poder para isso é o trabalho em dupla, pois trabalhando juntas as
atuar é uma questão complexa. Esse saber não está crianças dão explicações umas às outras e, então, o professor
relacionado ao conteúdo a ser ensinado (perspectiva adulta) e poderá compreender as hipóteses das crianças.
sim ao ponto de vista do aprendiz porque é esse o Assim, é importante observar os procedimentos dos
conhecimento necessário para fazer o aluno avançar do que alunos diante de uma atividade, para que o professor possa
ele já sabe para o que não sabe. O que realmente importa são reconhecer esses procedimentos dos alunos, de modo, a saber
as construções e ideias que o aprendiz elaborou e que não quais são os menos e os mais avançados e que raciocínio os
foram ensinadas pelo professor e, sim, construídas pelo alunos mais avançados então realizando. O trabalho em grupo
aprendiz. Quando uma criança escreve fazendo uso de uma permite que as crianças observem os procedimentos de
concepção silábica de escrita, por exemplo, essa 'escrita' não é atuação de seus colegas, inclusive daqueles que utilizam

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procedimentos de resolução de problemas mais avançados. Ao O ensino programado permitia o que se chamava de
perceberem a possibilidade de diferentes formas de execução, 'ensino na medida do estudante', que embora considerasse os
reconhecem o procedimento do colega como mais produtivo e vários ritmos de aprendizagem da criança, todos aprendiam,
econômico, construindo, assim, a lógica necessária para poder pois, seguindo os passos programados chegariam todos, de
aprender (a criança aprendeu com outra que sabe mais). alguma forma, ao final. O papel do professor dentro de uma
Tem-se, assim, de um delicado casamento entre a proposta construtivista é bem diferente deste proposto pelo
disponibilidade da informação externa e a possibilidade da modelo tecnicista. Cabe ao professor construir conhecimentos
construção interna - construtivismo: um modelo explicativo da de diferentes naturezas, que lhe permitam ter claros os seus
aprendizagem que considera, ao mesmo tempo, as objetivos, assim como selecionar conteúdos adequados,
possibilidades do sujeito e as condições do meio. Cabe ao enxergando na produção de seus alunos o que eles já sabem e
professor tomar decisões importantes, seja na formação das construindo estratégias que os levem a conquistar novos
parcerias entre alunos, seja nas questões que ele mesmo patamares de conhecimento. Não há receitas prontas a serem
propõe no desenrolar da atividade. aplicadas a grupos de alunos, uma vez que, a prática
Todas as crianças sabem muitas coisas, só que umas sabem pedagógica é complexa e contextualizada. O professor precisa
coisas diferentes das outras. ser alguém com autonomia intelectual.
As crianças são provenientes de culturas diferentes e isso
contribui para que saibam coisas diferentes, por isso é Capítulo 4 - As ideias, concepções e teorias que
importante que o professor tenha claro que as crianças sustentam a prática de qualquer professor, mesmo quando
provenientes de um nível cultural valorizado pela escola ele não tem consciência delas.
apresentam enormes vantagens em relação às outras crianças.
Para tais crianças a escola será muito mais fácil, porque está A prática pedagógica do professor é sempre orientada por
em consonância com a cultura da família e do seu ambiente. um conjunto de ideias, concepções e teorias, mesmo que nem
Por outro lado, as crianças provenientes de ambientes onde as sempre tenha consciência disso. Para que possamos
pessoas possuem menor grau de escolaridade e distantes dos compreender a ação do professor, é preciso verificar de que
usos cotidianos dos conteúdos que a escola valoriza forma seus atos expressam sua concepção sobre:
encontrarão dificuldades. - o conteúdo que ele espera que o aluno aprenda;
Assim, a equalização das oportunidades de aprendizagem - o processo de aprendizagem (os caminhos pelo quais a
dessas crianças deve ser uma tarefa da escola que deve aprendizagem acontece);
repensar sua própria prática, de modo a não prejudicar o - como deve ser o ensino.
sucesso escolar desses alunos. (...) "É preciso, pois, educar o
olhar para enxergar o que sabem as crianças que Historicamente, a teoria empirista é a teoria que mais vem
aparentemente não sabem nada".(p, 49) impregnando as representações sobre o que é ensinar, quem é
A equalização de oportunidades de aprendizagem não o aluno, como ele aprende e o que e como se deve ensinar
significa uma pedagogia compensatória. É preciso socializar os (modelo de ensino e aprendizagem conhecido como estímulo-
conteúdos pertencentes ao mundo da cultura: literatura, resposta). Essa teoria define a aprendizagem como 'a
ciência, arte, informação tecnológica, etc., pois isso é uma substituição de respostas erradas por respostas certas',
questão de inserção social e, portanto, direito de todas as partindo da concepção de que o aluno precisa memorizar e
crianças. A escola não pode ser instrumento de exclusão social. fixar informações, as mais simples e parciais possíveis e ir
Todo professor deve levar todos os seus alunos a participarem acumulando com o tempo. A cartilha está fundamentada nesse
da cultura. modelo (palavras-chaves, famílias silábicas usadas
O termo cultura é utilizado não em seu sentido exaustivamente, frases desconectadas, textos com mínimo de
antropológico e sim no do senso comum: a cultura erudita e a coerência e coesão). Como a metodologia de ensino expressa
de larga difusão, mas produzida para e pela elite. nas cartilhas concebe os caminhos pelas quais a aprendizagem
Todos os professores, principalmente, aqueles das classes acontece. Na concepção empirista, o conhecimento está 'fora'
iniciais que quiserem contribuir para que todos os alunos de do sujeito (a fonte do conhecimento é externa ao sujeito - é o
sua classe tenham a mesma oportunidade de aprender, devem meio físico e social) e, é interiorizado através dos sentidos,
estimulá-los a participar da cultura. É papel do professor ler ativado pela ação física e perceptual.
diferentes tipos de assuntos/textos (usar o jornal e outras O sujeito é concebido como uma tábula rasa – ‘vazio’ na sua
fontes de informação e de pesquisa) em classe e levar as origem, sendo 'preenchido' pelas experiências que tem com o
crianças para exposições de artistas importantes. É preciso mundo (conceito de 'educação bancária' criticada por Paulo
oferecer às crianças a oportunidade de navegar na cultura, na Freire). O aprendiz é alguém que vai juntando informações. O
Internet, na arte, em todas as áreas do conhecimento, em todas processo de ensino fundamentado nessa teoria caracteriza-se
as linguagens, em todas as possibilidades. pela: cópia, ditado, memorização pura e simples, utilização da
Um exemplo de alguém que sabia como tratar as crianças memória de curto prazo para reconhecimentos das famílias
era Monteiro Lobato que escrevia livros contando coisas da silábicas, leitura mecânica para posterior leitura
Antiguidade, falando de astronomia, da história do mundo. compreensiva. Para mudar é preciso reconstruir toda a prática
Porém, o que normalmente se oferece para as crianças lerem a partir de um novo paradigma teórico. Em uma concepção
são histórias empobrecidas, versões resumidas e textos com construtivista, o conhecimento não é concebido como cópia do
supressões. Não é possível formular receitas prontas para real, incorporado diretamente pelo sujeito. A teoria
serem aplicadas a qualquer grupo de alunos. Nos anos 1970, construtivista pressupõe uma atividade, por parte do
uma visão de escola como linha de montagem, denominada de aprendiz, que organiza e integra os novos conhecimentos aos
tecnicista, voltada para criar máquinas de ensinar, métodos de já existentes. Isso acontece com alunos e professores em
ensino, sequências de passos programados, dominava a processo de transformação.
concepção de ensino e aprendizagem. No Brasil, esse modelo Uma preocupação, bastante pertinente, diz respeito ao fato
chamava-se ensino programado. A função do professor, nesse do professor querer inovar a sua prática, adotando um modelo
modelo, era simplesmente, a de administrar o ensino de construção de conhecimento sem compreender,
programado e foi, justamente, esse modelo o responsável por suficientemente, as questões que lhe dão sustentação,
uma exigência cada vez mais baixa de qualificação dos correndo o risco de se deslocar de um modelo que lhe é
professores. familiar para o outro meio conhecido, mesclando teorias, como
se costuma afirmar. Outra preocupação diz respeito ao

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entendimento destorcido por parte de professores, que - a organização da tarefa pelo professor deve garantir a
acreditando ser o sujeito sozinho quem constrói o máxima circulação de informação possível;
conhecimento, veem a intervenção pedagógica como - o conteúdo trabalhado deve manter suas características
desnecessária. Tais concepções não fazem nenhum sentido de objeto sociocultural real, sem se transformar em objeto
num modelo construtivista. Conteúdos escolares são objetos escolar vazio de significado social.
de conhecimento complexos, que devem ser dados a conhecer,
aos alunos, por inteiro. Alunos põem em jogo tudo que sabem, têm problemas a
Para o referencial construtivista, a aprendizagem da resolver e decisões a tomar:
leitura e da escrita é complexa e, portanto, deve ser O aprendiz precisa testar suas hipóteses e enfrentar
apresentada / oferecida por inteiro ao aprendiz e de forma contradições, seja entre as próprias hipóteses, seja entre o que
funcional. Para os construtivistas, o aprendiz é um sujeito, consegue produzir sozinho e a produção de seus pares ou
protagonista do seu próprio processo de aprendizagem, entre o que pode produzir e o resultado tido como
alguém que vai produzir a transformação, convertendo convencionalmente correto. Partindo-se de uma proposta
informação em conhecimento próprio. Essa construção pelo construtivista, o conhecimento só avança quando o aluno tem
aprendiz não se dá por si mesma e no vazio, mas a partir de bons problemas sobre os quais pensar. Para isso, o professor
situações nas quais age sobre o que é o objeto do seu deve criar boas situações de aprendizagem para os alunos,
conhecimento, pensa sobre ele, recebendo ajuda, sendo atividades que representem possibilidades difíceis, porém
desafiado a refletir, interagindo com outras pessoas. A dificuldades possíveis de serem resolvidas.
diferença entre o modelo empirista e o modelo construtivista A escola precisa autorizar e incentivar o aluno a acionar
é que no primeiro a informação é introjetada ou não; enquanto seus conhecimentos de experiências anteriores, fazendo uso
que no segundo, o aprendiz tem de transformar a informação deles nas atividades escolares; é preciso criar atividades para
para poder assimilá-la. Isso resulta em práticas pedagógicas que isso seja de fato requisitado, sendo útil para qualquer área
muito diferentes. Afirmar que o conhecimento prévio é a base de conhecimento. A organização da tarefa garante a máxima
da aprendizagem não é defender pré-requisitos. circulação de informação possível.
No modelo construtivista, o conhecimento não é gerado do Os livros e demais materiais escritos, a intervenção do
nada, é uma permanente transformação a partir do professor, a observação de um colega na resolução de um
conhecimento que já existe. Essa afirmação de que problema, as dúvidas, as dificuldades, o próprio objeto de
conhecimentos prévios constituem a base de novas conhecimento que o aluno se esforça para aprender são
aprendizagens não significa a crença ou a defesa de pré- situações que informam.
requisitos e muito menos significa matéria ensinada Por isso, é importante que se garanta a máxima circulação
anteriormente pelo professor. de informação possível na classe e o ambiente escolar deve
Não informar nem corrigir significa abandonar o aluno à permitir que as perguntas e as respostas circulem. Nesse
própria sorte. A crença espontaneísta de que o aluno constrói processo, as informações que chegam até o aprendiz precisam
o conhecimento, não sendo necessário ensinar-lhe, faz com ser trabalhadas ou interpretadas por ele de acordo com que
que o professor passe a não informar, a não corrigir e a se lhe é possível naquele momento. O professor precisa estar
satisfazer com que o aluno faz ' do seu jeito'; isso significa ciente de que o conhecimento avança quando o aprendiz se
abandonar o aluno à sua própria sorte. Cabe ao professor defronta com situações-problema nas quais não havia pensado
organizar a situação de aprendizagem de forma a oferecer anteriormente. Situações significativas de aprendizagem em
informação adequada. A função do professor é observar a ação sala de aula acontecem quando o professor abre mão de ser o
da criança, acolher ou problematizar / desestabilizar suas único informante e quando o clima sócio afetivo se baseia no
produções, intervindo sempre que achar que pode contribuir respeito mútuo e não no autoritarismo. É preciso incentivar a
para que a concepção da criança sobre o objeto de cooperação, a solidariedade, o respeito e o tutoramento (um
conhecimento avance. É papel do professor apoiar a aluno ajudando o outro) em sala de aula.
construção do conhecimento pelo aprendiz. A interação entre os alunos é necessária não somente
porque o intercâmbio é condição para o convívio social na
Capítulo 5 - Como fazer o conhecimento do aluno escola, mas, também, porque informa a todos os envolvidos e
avançar. potencializa quase infinitamente a aprendizagem. O conteúdo
trabalhado deve manter suas características de objeto
O processo de ensino deve dialogar com o de sociocultural real. O ensino da língua portuguesa está cheio de
aprendizagem. Isso mostra que não é o processo de criações escolares que em nada coincidem com as práticas
aprendizagem (aluno) que deve se adaptar ao processo de sociais de uso da língua, objeto de ensino na escola, baseadas
ensino (professor), mas, sim, o processo de ensino que deve se no senso comum. Isso não acontece somente no ensino da
adaptar ao processo de aprendizagem. língua portuguesa, mas em todas as outras áreas. Na escola,
Para tanto, o professor precisa compreender o caminho de por exemplo, aprende-se a linguagem matemática escrita, que
aprendizagem que o aluno está percorrendo naquele é pouco usada na rua. Porém, não se pode deixar de lado esta
momento e, a partir disso, identificar as informações e competência que o aluno já traz desenvolvida (devido a sua
atividades que permitirão ao aluno avançar do patamar de vivência de 'rua') e sobrepor a escolarização a ela.
conhecimento que conquistou para outro que é mais Quando se trata de ciência ou prática social convertida em
avançado. Para isso, é preciso que o professor organize objeto de ensino, estas acabam por sofrer modificações. A arte
situações de aprendizagem: atividades planejadas (propostas é diferente na Educação Artística, o esporte é diferente da
e dirigidas) com a intenção de favorecer a ação do aprendiz Educação Física, a linguagem é diferente do ensino de Língua
sobre um determinado objeto de conhecimento, sendo que Portuguesa, a ciência é diferente do ensino de Ciências. Porém,
essa ação está na origem de toda e qualquer aprendizagem. não se pode criar invenções pretensamente facilitadoras que
Tais atividades devem reunir algumas condições e acabem tendo existência própria. É papel da escola garantir a
respeitar alguns princípios: aproximação máxima entre o use social do conhecimento e a
- os alunos devem por em jogo tudo que sabem e pensam forma de tratá-lo didaticamente.
sobre o conteúdo que se quer ensinar;
- devem ter problemas a resolver e decisões a tomar em
função do que se propõe produzir;

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Capítulo 6 - Quando corrigir, quando não corrigir. Quando se avalia a aprendizagem do aluno, também se
avalia a intervenção do professor, pois o ensino deve ser
O professor desenvolve dois tipos de ação pedagógica: planejado e replanejado em função das aprendizagens
planejamento e intervenção, uma intervenção clássica é a conquistadas ou não. Assim, é importante a organização de
correção que não é a única intervenção possível, nem a mais espaços coletivos de discussão do trabalho pedagógico na
importante, porém é a que mais tem preocupado os escola, valorizando-se a prática de observação de aula pelo
professores. Numa concepção construtivista de aprendizagem, coordenador ou orientador pedagógico - ou mesmo por um
a função da intervenção é atuar de modo que os alunos colega que ajude a olhar de fora. O professor está sempre tão
transformem seus esquemas interpretativos em outros que envolvido que, às vezes, não lhe é possível enxergar o que salta
deem conta de questões mais complexas que as anteriores. A aos olhos de um observador externo.
correção é algo relacionado a qualquer situação de Se a maioria da classe vai bem e alguns não, estes devem
aprendizagem, o que varia é como ela é compreendida pelo receber ajuda pedagógica. Quando, numa verificação de
professor. aprendizagem, grande parte dos alunos apresenta
A tradição escolar normalmente vê a correção realizada dificuldades, é certo que o professor precisa rever o seu
longe dos alunos na qual os erros são assinalados para que os encaminhamento. Porém, quando a verificação aponta que
alunos corrijam, como a mais importante (concepção alguns alunos não estão bem, estes devem ser atendidos
empirista - exigente com a transmissão). Quando se trata de imediatamente através de outras atividades que possibilitem
uma redação, o texto tem que ser passado a limpo, corrigido - a superação das dificuldades.
o erro poderá ficar fixado na memória do aluno (concepção A escola deve estar comprometida com a aprendizagem de
que supõe a percepção e a memória como núcleos na todos e, dessa forma, criar um sistema de apoio para que os
aprendizagem). Outra visão de correção é a informativa que alunos não se percam no caminho. As dificuldades precisam
carrega a ideia de que a correção deve informar o aluno e ser ser detectadas rapidamente para que sejam sanadas e
feita dentro da situação de aprendizagem (concepção de erro continuem progredindo, não desenvolvendo bloqueios. Tais
construtivo - que faz parte do processo de aprendizagem de crianças precisam ser atendidas por meio de realização de
qualquer pessoa). atividades diferenciadas durante a aula, trabalho conjunto
Os erros devem ser corrigidos no momento certo. Que nem com colegas que possam ajudá-los e intervenções.
sempre é o momento em que foram corrigidos. A ideia do erro
construtivo fascinou muitos educadores, que começaram a ver
de outra forma os textos escritos dentro de um sistema silábico ZABALA, Antoni. A prática
e mesmo os de escrita alfabética. Porém, depois que a criança
compreendeu o sistema alfabético de escrita é necessário que educativa: como ensinar.
o professor intervenha na questão ortográfica, considerando a Porto Alegre: ArtMed, 1998;
melhor forma de fazer isso. O que deve ser repensado é a
concepção tradicional de correção. Os alunos sabem o que
achamos importantes que eles aprendam, mesmo que não Buscar a competência em seu ofício é característica de
falemos nada. Muitos professores, por não quererem bloquear qualquer bom profissional. Zabala elabora um modelo que
a criatividade do aluno, acabam deixando que ele escreva de seria capaz de trazer subsídios para a análise da prática
qualquer jeito. Tal procedimento acaba consolidando um profissional. Como opção, utiliza-se do modelo de
contrato didático implícito, pois de alguma forma o aluno interpretação, que se contrapõe àquele em que o professor é
percebe que o professor não valoriza esse tipo de um aplicador de fórmulas herdadas da tradição,
conhecimento e acaba por desvalorizá-lo investindo nessas fundamentando-se no pensamento prático e na capacidade
aprendizagens. É importante que o professor tenha claro que reflexiva do docente. Recomenda-se, assim, uma constante
depois de um tempo de escolaridade, são inaceitáveis. avaliação do trabalho por parte do profissional.
Como encaminhamento para o modelo, utiliza-se de uma
Capítulo 7 – A necessidade e os bons usos da avaliação. perspectiva processual, onde as fases de planejamento,
aplicação e avaliação, devem assegurar um sentido integral às
No que diz respeito à avaliação, é preciso ter claro o que o variáveis metodológicas que caracterizam as unidades de
aluno já sabe no momento em que lhe é apresentado um intervenção pedagógica. Também as condicionantes do
conteúdo novo. O conhecimento prévio é o conjunto de ideias, contexto educativo, como as pressões sociais, a trajetória
representações e informações que servem de sustentação para profissional dos professores, entre outras, assumem uma
a nova aprendizagem, ainda que não tenham, posição de relevância.
necessariamente, uma relação direta com o conteúdo que se
quer ensinar. É importante investigar e explorar essas ideias e A função social do ensino e a concepção sobre os
representações prévias porque permite saber de onde vai processos de aprendizagem: instrumentos de análise
partir a aprendizagem que se quer que aconteça. Conhecer
essas ideias e representações prévias ajuda muito na hora de A finalidade da escola é promover a formação integral dos
construir uma situação na qual o aluno terá de usar o que já alunos, segundo Zabala, que critica as ênfases atribuídas ao
sabe para aprender o que ainda não sabe. aspecto cognitivo. Para ele, é na instituição escolar, através das
Após esta avaliação inicial, relacionada aos conhecimentos relações construídas a partir das experiências vividas, que se
prévios, é preciso que o professor utilize um ou outro estabelecem os vínculos e as condições que definem as
instrumento para verificar como os alunos estão progredindo, concepções pessoais sobre si e os demais. A partir dessa
pois o conhecimento não é construído igualmente, ao mesmo posição ideológica acerca da finalidade da educação
tempo e da mesma forma por todos. Esse instrumento é a escolarizada, é conclamada a necessidade de uma reflexão
avaliação de percurso - formativa ou processual - feita durante profunda e permanente da condição de cidadania dos alunos,
o processo de aprendizagem. Esse procedimento permitirá ao e da sociedade em que vivem.
professor avaliar se o trabalho que está desenvolvendo com os Sobre os conteúdos da aprendizagem, seus significados são
alunos está sendo produtivo e se os alunos estão aprendendo ampliados para além da questão do que ensinar, encontrando
com as situações didáticas propostas. sentido na indagação sobre por que ensinar. Deste modo,
A avaliação da aprendizagem é também a avaliação do acabam por envolver os objetivos educacionais, definindo suas
trabalho do professor. ações no âmbito concreto do ambiente de aula. Esses

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conteúdos assumem o papel de envolver todas as dimensões As relações interativas em sala de aula: o papel dos
da pessoa, caracterizando as seguintes tipologias de professores e dos alunos
aprendizagem: factual e conceitual (o que se deve aprender?);
procedimental (o que se deve fazer?); e atitudinal (como se O autor expõe o valor das relações que se estabelecem
deve ser?). Para a Educação Escolar, essa caracterização dos entre os professores, os alunos e os conteúdos no processo
conteúdos parece apontar avanços, na medida em que chama ensino e aprendizagem. Comenta que essas se sobrepõem às
atenção para a dimensão conceitual, bem como, operacionaliza sequências didáticas, visto que o professor e os alunos
o antigo conceito denominado afetivo (atitudinal), possuem certo grau de participação nesse processo, diferente
tradicionalmente desenvolvido em nossa área de maneira do ensino tradicional, caracterizado pela
espontaneísta. transmissão/recepção e reprodução de conhecimentos.
Sobre a concepção de aprendizagem, o autor afirma que Examina, dentro da concepção construtivista, a natureza dos
não é possível ensinarmos sem nos determos nas referências diferentes conteúdos, o papel dos professores e dos alunos,
de como os alunos aprendem, chamando a atenção para as bem como a relação entre eles no processo, colocando que o
particularidades dos processos de aprendizagem de cada professor necessita diversificar as estratégias, propor
aluno (diversidade). O construtivismo é eleito como concepção desafios, comparar, dirigir e estar atento à diversidade dos
metodológica em virtude da validação empírica de uma série alunos, o que significa estabelecer uma interação direta com
de princípios psicopedagógicos: os esquemas de eles.
conhecimento; o nível de desenvolvimento e dos O professor possui uma série de funções nessas relações
conhecimentos prévios, e a aprendizagem significativa. interativas: o planejamento e a plasticidade na aplicação desse
Baseada nessa concepção, a aprendizagem dos conteúdos plano, o que permite uma adaptação às necessidades dos
apresenta características específicas para cada tipologia. alunos; levar em conta as contribuições dos alunos no início e
durante as atividades; auxiliá-los a encontrar sentido no que
As sequências didáticas e as sequências de conteúdo fazem, comunicando objetivos, levando-os a enxergar os
processos e o que se espera deles; estabelecer metas
Zabala explicita que a ordenação articulada das atividades alcançáveis; oferecer ajuda adequada no processo de
seria o elemento diferenciador das metodologias, e que o construção do aluno; promover o estabelecimento de relações
primeiro aspecto característico de um método seria o tipo de com o novo conteúdo apresentado, e exigir dos alunos análise,
ordem em que se propõem as atividades. Ressalta que o síntese e avaliação do trabalho; estabelecer um ambiente e
parcelamento da prática educativa tem certo grau de relações que facilitem a autoestima e o autoconceito;
artificialidade, explicável pela dificuldade em encontrar um promover canais de comunicação entre professor/aluno,
sistema interpretativo adequado, que deveria permitir o aluno/aluno; potencializar a autonomia, possibilitando a
estudo conjunto de todas as variáveis incidentes nos processos metacognição; avaliar o aluno conforme sua capacidade e
educativos. esforço.
A sequência considera a importância das intenções Em seguida, aborda a influência dos tipos dos conteúdos
educacionais na definição dos conteúdos de aprendizagem e o procedimentais e atitudinais na estruturação das interações
papel das atividades que são propostas. Alguns critérios para educativas na aula. Nos procedimentais, o professor necessita
análise das sequências reportam que os conteúdos de perceber e criar condições adequadas às necessidades
aprendizagem agem explicitando as intenções educativas, específicas de cada aluno; nos atitudinais, é preciso articular
podendo abranger as dimensões: conceituais; procedimentais; ações formativas, não bastando propor debates e reflexões
conceituais e procedimentais; ou conceituais, procedimentais sobre comportamento cooperativo, tolerância, justiça,
e atitudinais. Certos questionamentos pareceram-nos respeito mútuo etc.; é preciso viver o clima de solidariedade,
relevantes: tolerância.... E trabalhar conteúdos atitudinais é muito difícil,
- Na sequência há atividades que nos permitam determinar envolvendo em primeiro lugar a contradição entre o que é
os conhecimentos prévios?; trabalhado na escola e o sistema social, ou o que é veiculado
- Atividades cujos conteúdos sejam propostos de forma pela mídia.
significativa e funcional?; Parece que na Educação Escolar, por conta da sua
- Atividades em que possamos inferir sua adequação ao especificidade, ainda faltam reflexões e discussões por parte
nível de desenvolvimento de cada aluno?; dos professores e estudiosos da área9. Contudo, em relação ao
- Atividades que representem um desafio alcançável?; modelo militar vigente anteriormente já houve certos avanços
- Provoquem um conflito cognitivo e promovam a consideráveis no processo das relações interativas.
atividade mental?;
- Sejam motivadoras em relação à aprendizagem dos novos A organização social da classe
conteúdos?;
- Estimulem a auto-estima e o auto-conceito?; Antoni Zabala procurou analisar as diferentes formas de
- Ajudem o aluno a adquirir habilidades relacionadas com organização social dos alunos vivenciadas na escola e sua
o aprender a aprender, sendo cada vez mais autônomo em suas relação com o processo de aprendizagem. Observou duas
aprendizagens? características pelas quais esses grupos são tradicionalmente
organizados: a heterogeneidade e a homogeneidade,
Em relação às questões, convém expor sua relevância para procurando discutir as vantagens e as desvantagens de cada
a Educação Escolar no nosso entendimento, salientando que o opção e os tipos de conteúdos que elas desenvolvem
conflito mental proposto pode ser também de ordem motora – prioritariamente. Percebeu que todo tipo de organização
de modo integrado, ao contrário de uma conotação dual que a grupal dos alunos, assim como todas as atividades a serem
pergunta do autor permite supor. Consideramos também uma programadas/desenvolvidas pela escola e a própria forma de
outra unidade de análise, as sequências de conteúdo, que gestão que esta emprega, devem levar em consideração os
requer uma interação entre as três dimensões, com ênfase na tipos de aprendizagens que estão proporcionando a seus
conceitual, bem como um aumento da complexidade e alunos e os objetivos expressos pela própria escola. Desse
aprofundamento ao longo das unidades. modo, alertou para o fato de que inconscientemente a
instituição escolar, ao não refletir sobre esses aspectos, pode
acabar por desenvolver uma aprendizagem inversa àquilo que
apregoa.

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Tais considerações apresentam-se bastante úteis aos seja, é capaz de acompanhar o progresso do ensino), final e
profissionais da educação, para que reflitam sobre a integradora. Esta divisão é empregada como necessária para
importância de se organizar o grupo de alunos, levando em se continuar fazendo o que se faz, ou o que se deve fazer de
consideração o tipo de aprendizagem e conteúdo que esperam novo, o que é mais uma justificativa para a avaliação, o por quê
desenvolver nestes, percebendo que a organização social da avaliar.
classe tem relação direta com a aprendizagem. O mesmo se Em o que avaliar propõe a avaliação de fatos, conceitos,
aplica à Educação Física que parece não ter atentado, ainda, procedimentos e atitudes, chegando a justificar a prova escrita
para a importância de se organizar o grupo de alunos de para fatos e conceitos, seja-a do tipo mais rápido ou exaustivo.
diferentes maneiras durante as aulas, para que eles consigam Uma nota importante diz respeito à observação de que os
aprender os diversos conteúdos. conceitos podem ser mais bem avaliados quando a expressão
verbal é possível, e não apenas a escrita, da mesma forma que
A Organização dos Conteúdos vê nas pessoas a necessidade de uma expressão de gestos,
citando o exemplo do uso das mãos que os indivíduos fazem
São analisadas as relações e a forma de vincular os para explicar melhor esses conceitos. Esclarece que os
diferentes conteúdos de aprendizagem. Ao longo da história, procedimentos só podem ser avaliados enquanto um saber
os conhecimentos foram alocados em disciplinas, em uma fazer, propondo uma avaliação sistemática em situações
lógica da organização curricular. Contudo, nos últimos anos é naturais ou artificialmente criadas.
cada vez mais comum encontrarmos propostas que rompem Afirma que os conteúdos atitudinais implicam na
com a organização por unidades centradas exclusivamente em observação das atitudes em diferentes situações e levanta a
disciplinas; o autor denominou tais métodos de possibilidade das pessoas não darem o devido valor às
globalizadores. Ele defende a organização dos conteúdos atitudes enquanto um conteúdo, pelo fato das mesmas não
nesses métodos, pois os conteúdos de aprendizagem só podem poderem ser quantificadas. Utiliza a metáfora do médico que
ser considerados relevantes na medida em que desenvolvam não possui instrumentos para medir dor, enjoo ou estresse e,
nos alunos a capacidade para compreender uma realidade que nem por isso deixa de diagnosticar e medicar. Neste ponto,
se manifesta globalmente. No tocante aos métodos pode-se fazer uma transposição dos objetivos referentes à
globalizadores, o autor descreve as possibilidades dos centros avaliação de conceitos, procedimentos e atitudes. Também
de interesse de Decroly, os métodos de projetos de Kilpatrick, para esta área é mais fácil a utilização de avaliações sobre
o estudo do meio, e os projetos de trabalhos globais. conceitos e procedimentos do que sobre as atitudes, mas a
No nosso entendimento, a temática de organização dos observação continua a ser a forma preferida de avaliação para
conteúdos de aprendizagem não poderia ser mais atual e atitudes e procedimentos. Acredita que esta deva ser
significativa para a educação brasileira de maneira geral. Os compartilhada e não tratada como uma filosofia do engano ou
PCNs, nos seus documentos do Ensino Fundamental, dão um do caçador e da caça. Para isto ela precisa ser vista como
papel de destaque para os temas transversais. Daí a pertencente a um clima de cooperação e cumplicidade entre
importância da compreensão do significado da professores e alunos. Por último, deixa dúvidas sobre se as
transversalidade. Por outro lado, as DCNs do Ensino Médio notas ou classificações deveriam ser totalmente públicas, da
referenciam como princípio básico para este nível a forma como é atualmente, pois entende que isto esbarra em
interdisciplinaridade. Portanto, o conhecimento sobre as uma dimensão ética, ou seja, além da dimensão pública existe
novas formas de organização é necessário para a compreensão uma privada e íntima que precisa ser respeitada. Duvida o
e reflexão destes documentos, e para o encaminhamento de autor dos efeitos estimulantes desta divulgação da forma como
novas propostas de ensino. é feita.
A prática educativa parece ter inúmeras facetas, algumas
Os materiais curriculares e outros recursos didáticos contempladas por essa obra de Antoni Zabala. Contudo,
generalizações do trabalho docente podem incorrer em
Materiais curriculares são os instrumentos que engodos, pela superficialidade referente ao contexto de
proporcionam referências e critérios para tomar decisões: no atuação de cada professor. Quanto às especificidades
planejamento, na intervenção direta no processo de contextuais, as considerações do autor pareceram superar
ensino/aprendizagem e em sua avaliação. São meios que essa limitação, pois a obra tratou de princípios. Não obstante,
ajudam os professores a responder aos problemas concretos ponderamos a prática educativa, mesmo que o autor tenha se
que as diferentes fases dos processos de planejamento, reportado à prática docente genérica. Essa ampliação do
execução e avaliação lhes apresentam. Na relação entre os universo de análise ocasionou extrapolações que vão ao
materiais curriculares e a dimensão dos conteúdos, temos: encontro de expectativas apontadas na área de Educação.
para os conteúdos conceituais, quadro negro, audiovisuais e Tais inferências abrangeram: problematização das
livros didáticos; para os conteúdos procedimentais, textos, vivências, inclusão dos alunos, organização das condições de
dados estatísticos, revistas, jornais; para os conteúdos ensino e aprofundamento significativo e integral dos
atitudinais, vídeos e textos que estimulem o debate. Todos os conteúdos nas três dimensões. Essa indissociação dos
materiais curriculares utilizados por professores e alunos são conteúdos parece ser o ponto central para o trabalho dos
veiculadores de mensagens e atuam como transmissores de professores, relacionado com a obra resenhada.
determinadas visões da sociedade, da história e da cultura,
devendo ser analisados a sua dependência ideológica e o
modelo de aula a que induzem..
Realiza-se uma severa crítica à forma como habitualmente
é compreendida a avaliação. A pergunta inicial “por que temos
que avaliar”, necessária para que se entenda qual deve ser o
objeto e o sujeito da avaliação, demora um pouco a ser
respondida. A proposta elimina a ideia da avaliação apenas do
aluno como sujeito que aprende e propõe também uma
avaliação de como o professor ensina. Elabora a ideia de que
devemos realizar uma avaliação que seja inicial, reguladora
(prefere esse termo ao invés de formativa, por entender que
explica melhor as características de adaptação e adequação, ou

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Na 8ª série do ensino fundamental e na 3ª série do ensino


médio, onde 12% e 9% dos estudantes, respectivamente,
VILLAS BOAS, Benigna Maria disseram se sentir "deixados de lado" na sala de aula, a
de Freitas (org.). Avaliação influência da rejeição mostrou-se menor.
formativa: Práticas Dentre os indicadores que têm forte impacto na
aprendizagem encontram-se as condições de trabalho das
inovadoras. Campinas, SP: escolas (instalações físicas, recursos didáticos, biblioteca,
Papirus, 2011; recursos humanos etc.), o envolvimento das mães e dos pais, a
escolaridade das mães e dos pais, a formação dos professores
e demais profissionais da educação que atuam na escola e a
O texto analisa a importância da avaliação formativa no organização do trabalho pedagógico, incluída a avaliação.
processo de formação de professores, para que, como Geralmente não se inclui a avaliação nesse rol, porque ela
consequência, ela seja praticada em escolas de todos os níveis. costuma ser entendida como aplicação de provas e atribuição
Apresenta-se o entendimento de processo de formação de de notas, servindo para aprovar ou reprovar os alunos.
professores, de cursos de formação de professores, e de Contudo, no seu sentido mais amplo, ela tem sido o mecanismo
avaliação formativa. Analisam-se as características da pelo qual o aluno é incluído na escola ou dela é excluído.
avaliação formativa e de três dos seus componentes essenciais. * Doutora em Educação pela Universidade Estadual de
Conclui-se que: a) os professores aprendem a avaliar enquanto Campinas (Unicamp, 1993) e Pós-doutora em Educação pelo
se formam, o que justifica a prática da avaliação formativa em Instituto de Educação da Universidade de Londres (1997).
todos os níveis escolares; b) o feedback é elemento-chave na Professora da Faculdade de Educação da Universidade de
avaliação formativa; c) a vivência do feedback que se Brasília (mbboas@terra.com.br).
transforma em automonitoramento, da avaliação informal Sabe-se que a avaliação praticada na escola pode cumprir
encorajadora e complementadora da avaliação formal e da duas funções principais: classificar o aluno ou promover a sua
autoavaliação que dá responsabilidade ao aluno contribui para aprendizagem. A primeira delas tem sido a mais empregada.
o desenvolvimento da autonomia intelectual de alunos e Classificam-se os alunos de várias formas: por meio de notas
professores. Com esse entendimento, a avaliação cumpre sua ou menções; quando são agrupados por nível de
vocação de promover aprendizagem duradoura. aprendizagem, para a constituição de turmas; quando são
rotulados em fortes, médios e fracos, para fins diversos;
Dados recentes do Ministério da Educação informam que quando se oferecem estudos de recuperação somente para os
91% dos estudantes brasileiros terminam a educação alunos de “menor rendimento” ou “para os casos de baixo
fundamental abaixo do nível desejável de aprendizagem, rendimento escolar”, expressões usadas pela LDB nº 9.394, de
apresentando dificuldades para reter ou compreender textos 20/12/96 (inciso V, art. 12; e letra “e”, inciso V, art. 24,
básicos. Em 2004, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas respectivamente). Pela maneira como essa lei apresenta a
Educacionais Anísio Teixeira – INEP – divulgou dados da recuperação, as escolas podem entender que o objetivo é a
avaliação realizada em 2003 pelo Sistema Nacional de “recuperação” de notas, e não o oferecimento de condições
Avaliação da Educação Básica (Saeb), associando o perfil dos para o aluno aprender o que “ainda” não aprendeu. A redação
alunos da 4ª série do ensino fundamental ao seu desempenho, da lei indica que somente os alunos com “baixo rendimento”
os quais são resumidamente apresentados a seguir. têm direito a ela. Com relação à impropriedade do termo
Morar em cidades com menos de 200 mil habitantes, na “recuperação”, apresentei anteriormente minha análise
Região Nordeste, trabalhar, ter sido reprovado na escola e ter (VILLAS BOAS, 2004, p. 80).
pais com baixa escolaridade foram características encontradas Quando se apresentam os resultados insatisfatórios do
em maior grau entre os estudantes que estavam no estágio desempenho estudantil, geralmente não se questiona a
muito crítico de conhecimento em Língua Portuguesa. Os avaliação. É comum responsabilizar os alunos e suas famílias:
alunos das escolas municipais eram os que apresentavam pior os primeiros são preguiçosos, não gostam de estudar e não
desempenho: 22,8% estavam no estágio muito crítico de querem “saber de nada”; seus pais, por sua vez, são acusados
desempenho em Língua Portuguesa. Os municípios de não os auxiliar nas tarefas de casa e de não colaborar com a
concentravam 66% dos 18,9 milhões de alunos de 1ª a 4ª série escola. Entretanto, a avaliação classificatória pode ser um dos
do ensino fundamental, de acordo com dados do Censo Escolar fatores que têm contribuído para o insucesso do aluno, do
(INEP, 2004). professor e da escola. Ela está tão impregnada na cultura
A reprovação, o abandono da escola e o consequente atraso escolar, que se torna extremamente difícil libertar-se dela.
escolar dos estudantes também incidiam negativamente no Políticas de combate à repetência e à evasão escolar são
desempenho. Entre os alunos reprovados pelo menos uma vez, importantes e necessárias, mas é preciso olhar para dentro da
32% se situavam no pior patamar de desempenho do Saeb e, escola para investigar o que acontece ali. Atenção especial
entre aqueles que não foram reprovados, 12,4% se situavam merece a organização do trabalho pedagógico, aí incluída a
no patamar mais baixo. Do total de alunos que declararam ter avaliação. Os dados fornecidos pelo MEC mencionam
abandonado a escola pelo menos uma vez, 32,6% estavam no elementos diretamente relacionados à avaliação, no seu
estágio muito crítico; dentre aqueles que não deixaram a sentido mais amplo: reprovação, pais e mães com baixa
escola, o índice foi de 16,6%. Com relação ao atraso escolar, escolaridade, abandono da escola, rejeição por professores e
19,3% dos alunos que apresentavam um ano de defasagem colegas e atraso escolar. A avaliação que valorize o aluno e sua
estavam no estágio muito crítico; o índice era de 11,1% para aprendizagem e o torne parceiro de todo o processo conduz à
os que não apresentavam distorção idade-série (INEP, 2004). inclusão, e não à exclusão. Esse é o papel da avaliação
A rejeição que alguns estudantes sofriam na sala de aula, formativa.
pelos colegas ou pelos professores, teve impacto no Contrariamente à avaliação classificatória, a formativa
desempenho escolar, principalmente entre as crianças da 4ª promove a aprendizagem do aluno e do professor, e o
série do ensino fundamental. Segundo dados do Saeb, 13% dos desenvolvimento da escola, sendo, portanto, aliada de todos.
alunos da 4ª série afirmaram se sentir "deixados de lado" na Despe-se do autoritarismo e do caráter seletivo e excludente
sua turma. Para 34%, essa situação ocorria de vez em quando. da avaliação classificatória.
Percebe-se, então, que 47% desses alunos se sentiam Um dos indicadores que exercem grande influência sobre
rejeitados. a organização do trabalho pedagógico que acolha a avaliação
formativa é a formação do professor, nos seus vários

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momentos. Por esse motivo, o propósito deste texto é países: Austrália, Canadá, Dinamarca, Inglaterra, Finlândia,
argumentar em favor da avaliação formativa no processo de Itália, Nova Zelândia e Escócia. De acordo com o relatório da
formação de professores, para que, como consequência, ela pesquisa, a avaliação formativa tornou-se um tema promissor
seja praticada em todos os níveis escolares. em educação (OECD, p. 5). Por esse motivo, a pesquisa
focalizou o trabalho de sala de aula com vistas a identificar o
A avaliação formativa pode contribuir para a mudança conceito de avaliação formativa nas escolas investigadas,
do cenário educacional identificar e analisar as suas práticas nos diferentes países e
Na educação escolar brasileira, ainda se encontram fortes sugerir meios pelos quais as políticas possam apoiar a
traços da avaliação classificatória, seletiva e excludente. Ainda ampliação dessas práticas.
se avalia para dar nota e para aprovar ou reprovar os alunos. O relatório aponta que, por meio da avaliação formativa,
As práticas avaliativas escolares têm, cada vez mais, se pode-se atingir os objetivos da aprendizagem permanente,
inspirado na competição presente nas atividades sociais. Não quais sejam: a promoção de desempenho de alto nível; a
é à toa que se diz com frequência: professor nota 10; show nota adoção de tratamento equânime dos resultados da avaliação
10; promoção nota 10 (de loja); gás nota 10 etc. Como a dos alunos; a construção de habilidades para o aprender a
avaliação está presente em todas as situações da vida, é natural aprender. Cabe esclarecer que, no contexto brasileiro,
que haja influência mútua entre a que se realiza na escola e a entende-se por tratamento equânime desses resultados a
que acontece no nosso dia-a-dia. necessidade de planejar o que será feito com eles, para que não
A avaliação classificatória é uma das manifestações da se mantenha o caráter classificatório, que costuma penalizar
avaliação somativa, na escola. A expressão “avaliação os que apresentam desempenho mais fraco e os menos
classificatória” não é utilizada na literatura internacional favorecidos economicamente. Como já foi mencionado, a
sobre avaliação. Em um artigo sobre avaliação formativa, que avaliação está a serviço da aprendizagem.
pode ser considerado clássico, tal a sua importância e o uso Segundo o mesmo relatório, a avaliação formativa
que dele tem sido feito, o professor australiano ROYCE contribui para que os alunos aprendam a aprender, porque os
SADLER (1989, p. 120) afirma que a avaliação somativa ajuda a desenvolver as estratégias necessárias; coloca ênfase
apresenta o balanço do desempenho do aluno ao final de um no processo de ensino e aprendizagem, tornando os alunos
período de estudos, geralmente com o propósito de participantes desse processo; possibilita a construção de
certificação. Encontra-se, também, que a avaliação somativa é habilidades de autoavaliação e avaliação por colegas; ajuda os
empregada para “medir” o que foi aprendido ao final de um alunos a compreenderem sua própria aprendizagem. Alunos
determinado período; para promover os alunos; para que constroem ativamente sua compreensão sobre novos
assegurar que eles alcancem os padrões de desempenho conceitos (e não meramente absorvem informações)
estabelecidos para conclusão de cursos, para exercer certas desenvolvem estratégias que os capacitam a situar novas
ocupações ou para selecionar os que prosseguirão os estudos. ideias em contexto mais amplo, têm a oportunidade de julgar
Dirigentes educacionais usam resultados da avaliação a qualidade do seu próprio trabalho e do trabalho dos colegas,
somativa para tornar as escolas que recebem subsídios a partir de objetivos de aprendizagem bem definidos e
governamentais responsáveis pela qualidade do trabalho critérios adequados de avaliação, e estão, ao mesmo tempo,
desenvolvido (OECD, 2005, p. 21). Segundo SADLER, o que construindo capacidades que facilitarão sua aprendizagem ao
diferencia a avaliação somativa da formativa é o propósito e o longo da vida.
efeito, e não o momento da sua realização. Contudo, os estudos mencionados revelam uma barreira à
Mas a avaliação cumpre, também, função formativa, pela prática ampla da avaliação formativa nos países participantes
qual os professores analisam, de maneira frequente e da pesquisa: a falta de conexão entre a avaliação realizada pela
interativa, o progresso dos alunos, para identificar o que eles escola e a conduzida por sistemas de ensino. Informações
aprenderam e o que ainda não aprenderam, para que venham coletadas em salas de aula nem sempre são consideradas para
a aprender, e para que reorganizem o trabalho pedagógico. a formulação de políticas educacionais. Em muitos países,
Essa avaliação requer que se considerem as diferenças dos resultados da avaliação somativa têm dominado os debates
alunos, se adapte o trabalho às necessidades de cada um e se políticos acerca da educação. Escolas que têm apresentado
dê tratamento adequado aos seus resultados. Isso significa resultados insatisfatórios em exames nacionais têm sofrido
levar em conta não apenas os critérios de avaliação, mas, consequências, como a ameaça de fechamento, a exigência de
também, tomar o aluno como referência. A análise do seu reorganização do seu trabalho e a demissão de professores.
progresso considera aspectos tais como: o esforço por ele Um dos interesses particulares da pesquisa conduzida pela
despendido, o contexto particular do seu trabalho e as OECD é o exame de como professores e dirigentes
aprendizagens adquiridas ao longo do tempo. educacionais podem criar ou fortalecer culturas de avaliação,
Consequentemente, o julgamento da sua produção e o de modo que eles usem informações sobre o desempenho dos
feedback que lhe será oferecido levarão em conta o processo alunos para gerar novos conhecimentos a partir do que tem
de aprendizagem por ele desenvolvido, e não apenas os dado bons resultados, partilhar as descobertas com colegas e
critérios de avaliação. As circunstâncias individuais devem ser construir sua capacidade de atender as necessidades de
observadas se a avaliação pretende contribuir para o aprendizagem de seus alunos. Por cultura de avaliação o
desenvolvimento da aprendizagem e para o encorajamento do relatório entende a adoção de linguagem comum sobre os
aluno. A avaliação formativa seria desencorajadora para objetivos da aprendizagem e do ensino, assim como a
muitos alunos que enfrentam fracasso se fosse baseada compreensão comum dos propósitos da avaliação para atingir
exclusivamente em critérios. A combinação da avaliação esses objetivos (OECD, 2005, p. 25).
baseada em critérios com a consideração das condições do Os professores, de modo geral, enfrentam dificuldades e
aluno fornece informações importantes e é consistente com a pressões para a realização do seu trabalho diário. Apoio e
ideia de que a avaliação formativa é parte essencial do trabalho oportunidades para enfrentar desafios, como o da avaliação
pedagógico. A identificação de problemas ou dificuldades que formativa, são necessários. O mínimo de que precisam para
os alunos possam ter pode ser feita somente por meio dessa mudar sua prática é o apoio de colegas e dirigentes escolares.
combinação de informações (HARLEN; JAMES, 1997, p. 370). Verdadeiras transformações no desenvolvimento do trabalho
Pesquisa desenvolvida recentemente pelo Centre for pedagógico, incluída a avaliação, requerem forte liderança
Educational Research and Innovation, da Organização para a institucional, sérios investimentos em formação e
Cooperação e Desenvolvimento Econômico – OECD,1 analisou desenvolvimento profissional e em programas inovadores,
práticas de avaliação formativa em escolas secundárias de oito assim como incentivos políticos apropriados (OECD, 2005, p.

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31). A pesquisa nos oito países indicou que as políticas que intelectuais e sociais podem ser desenvolvidas
podem contribuir para o desenvolvimento da avaliação satisfatoriamente simplesmente falando ao aluno sobre elas. A
formativa incluem: legislação que a apoie e a defina como maioria requer prática em ambiente apoiador, que favoreça o
prioridade; esforços para encorajar o uso de dados somativos entrelaçamento de feedbacks. O professor é quem sabe o que
para propósitos formativos na escola e na sala de aula; os alunos precisam aprender; é ele quem é capaz de
diretrizes sobre ensino e práticas de avaliação formativa reconhecer e descrever o desempenho desejável, assim como
incluídas no currículo e em outros dispositivos; oferecimento indicar como o desempenho ainda incipiente pode ser
de meios que apoiem a avaliação formativa; investimento em melhorado.
iniciativas especiais e programas inovadores que incorporem O feedback pode ser definido, também, em relação ao seu
a avaliação formativa; investimento no desenvolvimento efeito, em lugar de referir-se às informações que fornece, como
profissional do professor. concebe RAMAPRASAD (apud SADLER, 1989, p. 120):
Cabe salientar o caso da Finlândia, onde se considera ser “feedback é informação sobre a distância entre o nível atual e
mais importante o desenvolvimento da escola do que o nível de referência de um parâmetro sistêmico usado para
estabelecer comparação entre escolas e entre alunos. Nesse alterar essa distância de alguma forma”. O feedback atende ao
país, os resultados e o processo da avaliação são importantes. professor e ao aluno. O primeiro o usa para decisões
Em 1993, o Conselho Nacional de Educação da Finlândia programáticas sobre prontidão, diagnose e recuperação. O
lançou um projeto para desenvolver práticas de autoavaliação segundo o usa para acompanhar as potencialidades e
pela escola. Esse projeto foi considerado o início do fraquezas do seu desempenho, para que aspectos associados a
reconhecimento da autoavaliação como o conceito nuclear do sucesso e alta qualidade possam ser reconhecidos e
sistema educacional finlandês (OECD, 2005, p. 34). Esse é um reforçados, assim como os aspectos insatisfatórios possam ser
exemplo de um dispositivo legal apoiando o uso da avaliação modificados ou melhorados.
formativa na escola. Se esta é incentivada a se autoavaliar, Sadler salienta que a importância da contribuição de
certamente, em sala de aula, os alunos avaliarão o seu próprio Ramaprasad reside no fato de ele entender que a informação
progresso. sobre a distância entre o nível atual e o de referência só pode
Outro exemplo que merece destaque é a iniciativa de ser considerada feedback se for usada para alterar essa
Newfoundland e Labrador, no Canadá, onde o Departamento distância. Se a informação for simplesmente registrada,
de Educação divulga um conjunto de diretrizes e critérios entregue a pessoas não envolvidas diretamente com a situação
(rubrics) a serem considerados para a avaliação em ou que não têm o poder de modificá-la, ou apresentada de
alfabetização infantil. Essas diretrizes especificam o que será forma tão codificada que impeça a execução da ação
avaliado e com que qualidade, possibilitando uma análise apropriada, os dados obtidos tornar-se-ão inúteis para um
segura por professores e alunos. Além disso, elas ajudam os feedback efetivo. Assim sendo, no contexto da avaliação
professores a refletir sobre os objetivos da aprendizagem e os formativa, o feedback não tem o objetivo de “melhorar” a nota
critérios de avaliação (OECD, 2005, p. 38). ou a menção. A nota pode ser contraprodutiva para propósitos
Nas escolas brasileiras, encontram-se esforços no sentido formativos, diz SADLER (1989, p. 121). O compromisso do
de uso da avaliação formativa com mais frequência na feedback é, pois, com a aprendizagem do aluno, e não com
educação infantil e nos anos iniciais da educação fundamental, notas.
quando um só professor atua junto ao aluno durante toda a A avaliação da qualidade do trabalho ou do desempenho
jornada diária. Percebe-se, no entanto, que as iniciativas do aluno requer que o professor possua concepção de
existentes ainda são desarticuladas, nas escolas e nos sistemas qualidade apropriada à tarefa e seja capaz de julgar de acordo
de ensino. Constituem, geralmente, projetos especiais, em com essa concepção. O aluno, por sua vez, precisa ter
lugar de ações integradas. Há escolas que afirmam praticar a concepção de qualidade similar à do professor, ser capaz de
avaliação formativa porque eliminaram notas, mas mantêm monitorar continuamente a qualidade do que está sendo
aulas de recuperação até para crianças da educação infantil e produzido durante o próprio ato de produção e ter repertório
ameaçam castigar os alunos que não fazem os deveres de casa. de encaminhamentos ou estratégias aos quais possa recorrer.
Talvez isso se dê porque os professores, em grande parte, Isso significa que ele tem de ser capaz de julgar a qualidade da
ainda se formam passando por práticas avaliativas sua produção e de regular2 o que está fazendo enquanto o faz.
tradicionais (centradas em notas e em aprovação e É necessário que o aluno: a) conheça o que se espera dele
reprovação). (objetivos da aprendizagem); b) seja capaz de comparar o seu
A avaliação formativa, no seu verdadeiro sentido, ainda é nível atual de desempenho com o esperado; c) se engaje na
um desafio a enfrentar. ação apropriada que leve ao fechamento da distância entre os
níveis. Essas condições são satisfeitas simultaneamente; não
Avaliação formativa: aliada do aluno e do professor são etapas a serem vencidas isoladamente (SADLER, 1989, p.
Em seu trabalho publicado em 1996, BLACK e DYLAN 121). O autor citado explica a diferença entre feedback e
(1998, p. 53) informam que a expressão “avaliação formativa” automonitoramento. Se o próprio aluno gera a informação
não era comum na literatura sobre avaliação (eles se referiam necessária ao prosseguimento da sua aprendizagem, esse
à literatura produzida na Europa, nos países escandinavos, na procedimento é parte do automonitoramento. Se a fonte de
Austrália e nos Estados Unidos), naquela época. Depois de informação lhe é externa, ela é associada a feedback. Em
quase 10 anos, a situação parece ter se alterado. No Brasil, o ambos os casos, busca-se a eliminação da distância entre os
que se denomina de avaliação mediadora, emancipatória, níveis de desempenho atual e o de referência. A avaliação
dialógica, fundamentada, cidadã, pode ser entendido como formativa inclui o feedback e o automonitoramento. Cabe
avaliação formativa. salientar que o objetivo do trabalho pedagógico é facilitar a
A avaliação formativa é a que engloba todas as atividades transição do feedback para o automonitoramento. Esse é o
desenvolvidas pelos professores e seus alunos, com o intuito processo de desenvolvimento da autonomia intelectual do
de fornecer informações a serem usadas como feedback para aluno, em todos os contextos educacionais, especialmente os
reorganizar o trabalho pedagógico (BLACK; DYLAN, 1998, p. dedicados à formação de professores.
7). Esses autores, assim como SADLER (1989, p. 120),
entendem que o feedback é o elemento-chave na avaliação Avaliação é aprendizagem: como entender a avaliação
formativa. Diz respeito à informação, ao próprio aluno, de formativa na formação de professores?
quão bem sucedido ele foi no desenvolvimento do seu SADLER (1989, p. 142) nos ensina que, para que os alunos
trabalho. Alerta Sadler que poucas habilidades físicas, aprendam, precisam saber como estão progredindo. O

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feedback geralmente é entendido como informação dada ao acolhedora e amiga, indicando que o aluno está no caminho
aluno sobre o desenvolvimento do seu trabalho: se atende aos adequado, lhe dá ânimo.
objetivos, se houve avanços, que aspectos precisam ser A avaliação informal dá grande flexibilidade de julgamento
melhorados etc. Em quase todas as situações educacionais, o ao professor, devendo ser praticada com responsabilidade.
trabalho dos alunos não pode ser avaliado simplesmente como Um dos exemplos disso é o costumeiro “arredondamento de
correto ou incorreto. A qualidade do trabalho é determinada notas”, que consiste em o professor aumentá-las ou diminuí-
por julgamento qualitativo. Nesse caso, a definição tradicional las segundo critérios por ele definidos e nem sempre
de feedback é insuficiente. São necessárias as condições explicitados. Além disso, esses critérios costumam ser
apontadas anteriormente, por parte do aluno. diferentes para cada aluno. Esse arredondamento é feito com
A melhoria do trabalho do aluno é alcançada se o professor base nessa modalidade de avaliação. Quando é feito para
lhe oferece orientação e se o primeiro a segue. Mas isso pode aumentar a nota, os argumentos usados costumam ser: o aluno
fazer com que o aluno fique dependente da orientação do é organizado, frequente, bonzinho, faz os deveres de casa. Por
professor. Surge, então, a proposta de Sadler no sentido de que outro lado, o arredondamento é feito, também, para diminuir
os alunos desenvolvam habilidades para avaliar a qualidade do a nota, usando-se justificativas do seguinte tipo: o aluno é
seu próprio trabalho, durante a sua realização. A transição do desobediente, conversador, não faz as atividades, chega
feedback professor-aluno para o automonitoramento pelo atrasado, é preguiçoso. São argumentos advindos da avaliação
aluno não acontece automaticamente. O desenvolvimento da informal. É preciso deixar claro que a avaliação informal é
capacidade de avaliação do próprio trabalho faz parte das muito importante e pode ser uma grande aliada do aluno e do
aprendizagens a serem adquiridas. A vivência de práticas professor, se for empregada adequadamente, isto é, para
avaliativas assim concebidas é condição necessária para o promover a aprendizagem. Um argumento em seu favor é que
desenvolvimento da capacidade avaliativa e, ela acontece em ambiente natural e revela situações nem
consequentemente, para o automonitoramento inteligente. É sempre previstas, o que pode ser altamente positivo, se
insuficiente para o aluno restringir-se ao julgamento do soubermos tirar proveito dela e se não a usarmos de forma
professor. punitiva. O professor atento, interessado na aprendizagem do
O desenvolvimento da avaliação formativa requer que o seu aluno e investigador da realidade pedagógica procurará
processo de transição do feedback professor-aluno para o usar todas as informações advindas da informalidade para
automonitoramento pelo aluno seja construído pelo professor cruzá-las com os resultados da avaliação formal e, assim,
e pelo aluno. Três componentes da avaliação formativa compor a sua compreensão sobre o desenvolvimento de cada
merecem atenção especial em cursos de formação de aluno.
professores: a avaliação informal, a avaliação por colegas e a A avaliação informal pode acontecer quando o professor:
autoavaliação. Refiro-me especificamente a “cursos de dá ao aluno a orientação de que necessita, no momento exato;
formação de professores”, pelo fato de eles constituírem manifesta paciência, respeito e carinho ao atender suas
momentos privilegiados de aprofundamento teórico, dúvidas; providencia os materiais necessários à
sistematização de ideias e realização de pesquisas. A avaliação aprendizagem; demonstra interesse pela aprendizagem de
informal é destacada no presente contexto por dois motivos. O cada um; atende a todos com a mesma cortesia e interesse, sem
primeiro leva em conta os dados reveladores da internalização demonstrar preferência; elogia o alcance dos objetivos da
da exclusão. Um desses dados lhe diz respeito mais aprendizagem; não penaliza o aluno pelas aprendizagens
diretamente: a rejeição sentida por parte considerável de ainda não adquiridas, mas, ao contrário, usa essas situações
alunos da 4ª série da educação fundamental, o que pode para dar-lhe mais atenção, para que ele realmente aprenda;
resultar da sua utilização inadequada. Essa avaliação se realiza não usa rótulos nem apelidos que humilhem ou desprezem os
por meio da interação do aluno com professores, demais alunos; não comenta em voz alta suas dificuldades ou
educadores que atuam na escola e até mesmo com colegas, em fraquezas; não faz comparações; não usa gestos nem olhares
todos os momentos e espaços escolares. Na educação infantil e de desagrado com relação à aprendizagem.
nos anos iniciais da educação fundamental, essa modalidade A avaliação formal (provas, relatórios, exercícios diversos,
de avaliação é frequente, por causa do contato longo e produção de textos etc.) costuma ocupar muito menos tempo
duradouro do professor com seus alunos, dando-lhe chances do trabalho escolar do que a avaliação informal. No entanto,
de conhecer mais amplamente cada um deles: suas observa-se que a disciplina “Didática”, a que se ocupa de
necessidades, seus interesses, suas capacidades. Quando um conteúdos de avaliação nos cursos de formação de
aluno mostra ao professor como está realizando uma tarefa ou professores, em nível médio e universitário, costuma dar
lhe pede ajuda, a interação que ocorre nesse momento é uma ênfase à construção de “instrumentos de verificação do
prática avaliativa, isto é, o professor tem a oportunidade de rendimento escolar” (VILLAS BOAS, 2000). Livros de Didática
acompanhar e conhecer o que ele já aprendeu e o que ainda geralmente apresentam o tema “avaliação escolar” em capítulo
não aprendeu. Quando circula pela sala de aula observando os próprio e como um dos últimos que compõem a obra. Esse é
alunos trabalharem, o professor também está analisando, isto comumente o tratamento recebido pela avaliação em livros e
é, avaliando o trabalho de cada um. São momentos valiosos programas de ensino: o último ou um dos últimos itens. Na
para avaliação. maioria das vezes, o último tema de uma disciplina ou curso
A diferença entre a avaliação informal e a formal é que a não chega a ser discutido ou o é de maneira abreviada, por falta
informal nem sempre é prevista e, consequentemente, os de tempo. Recentemente, uma aluna do Curso de Pedagogia da
avaliados, no caso os alunos, não sabem que estão sendo UnB, que concluiu o Curso de Magistério, relatou que, neste
avaliados. Por isso deve ser conduzida com ética. Precisamos último, nada estudou sobre avaliação, pois “não deu tempo”. E
nos lembrar sempre de que o aluno se expõe muito ao foi considerada habilitada a trabalhar na educação infantil e
professor, ao manifestar suas capacidades e fragilidades e seus nos anos iniciais da educação fundamental! Outra constatação
sentimentos. Cabe à avaliação ajudá-lo a se desenvolver, a foi a de que, em um determinado ano, o tema estava sendo
avançar, não devendo expô-lo a situações embaraçosas ou trabalhado, em algumas Escolas Normais do DF, por
ridículas. A avaliação serve para encorajar, e não para estagiários do Curso de Pedagogia, em uma única aula, sem a
desencorajar o aluno. Por isso, rótulos e apelidos que o presença do professor titular da disciplina Didática. Esse fato
desvalorizem ou humilhem não são aceitáveis. Gestos e indica a falta de compreensão do papel e das consequências da
olhares encorajadores por parte do professor são bem-vindos. avaliação.
Afinal de contas, a interação do professor com os alunos é Pesquisas têm encontrado uma faceta inaceitável da
constante e muito natural. Uma piscadinha de olho de forma avaliação informal: a emissão de comentários públicos sobre a

Conhecimentos Pedagógicos 76
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pessoa do aluno, por parte de professores, em sala de aula e A avaliação por colegas (da mesma disciplina ou da mesma
em outros espaços escolares, assim como a extensão desse tipo turma, por estarem desenvolvendo as mesmas atividades) é
de avaliação às famílias dos alunos (VILLAS BOAS, 1993). Em um componente importante do processo avaliativo e pode ser
uma situação de pesquisa, observou-se, em uma segunda-feira, o primeiro passo para a autoavaliação. Enquanto analisam e
a professora de uma turma de primeira série do ensino corrigem suas próprias produções, os alunos podem fazer o
fundamental dizer a um aluno que não havia realizado as mesmo com as dos colegas. Sabendo que suas atividades serão
tarefas de casa: “sua mãe não fica em casa nem nos finais de apreciadas por colegas, eles as prepararão com mais cuidado
semana para ajudá-lo?” (VILLAS BOAS, 1993). e, possivelmente, com mais prazer. As tarefas diversas podem
Tratando da avaliação informal, FREITAS (2002, p. 315) ser avaliadas em duplas de alunos e, posteriormente, em
comenta que grupos de três ou quatro, sempre tendo o acompanhamento do
Professores e alunos defrontam-se na sala de aula professor. Essa ajuda mútua tem a vantagem de ser conduzida
construindo representações uns dos outros. Tais por meio da linguagem que os alunos naturalmente usam.
representações e juízos orientam novas percepções, traçam Além disso, os alunos costumam aceitar mais facilmente os
possibilidades, estimam desenlaces, abrem ou fecham portas comentários de colegas do que os de seus professores.
e, do lado do professor, afetam o próprio envolvimento deste Se for possível, os próprios alunos podem criar listas de
com os alunos, terminando por interferir positiva ou discussão, blogs e outros meios, por Internet, para envio de
negativamente com as estratégias de ensino postas em marcha material para análise por colegas.
na sala de aula. É aqui que se joga o sucesso ou o fracasso do O feedback advindo de um grupo de colegas pode ser mais
aluno – nesse plano informal e não no plano formal. De fato, bem aceito do que o individual. Esse tipo de avaliação permite
quando o aluno é reprovado pela nota, no plano formal, ele já a participação dos alunos e aumenta a comunicação entre eles
tinha sido, antes, reprovado no plano informal, no nível dos e o professor, sobre sua aprendizagem. Ao possibilitar aos
juízos de valor e das representações do professor – durante o alunos reconhecerem suas próprias necessidades,
próprio processo. comunicando-as ao professor, este tem o seu trabalho
A presença forte e, às vezes, tão decisiva da avaliação facilitado e tempo maior para auxiliar os alunos que precisam
informal não costuma ser conhecida dos alunos, porque, como de sua atenção. Enquanto os alunos estão ocupados,
diz ENGUITA (1989, p. 203), envolvidos na avaliação das produções dos colegas, o
...na escola aprende-se a estar constantemente preparado professor pode dedicar-se a observar o desenvolvimento das
para ser medido, classificado e rotulado; a aceitar que todas as atividades, refletir sobre elas e fornecer as intervenções
nossas ações e omissões sejam suscetíveis de serem necessárias. Em resumo, os alunos aprendem assumindo o
incorporadas a nosso registro pessoal; a aceitar ser objeto de papel de professores e de avaliadores das aprendizagens dos
avaliação e inclusive desejá-lo. O agente principal desse colegas (BLACK et al., 2003, p. 51).
processo de avaliação é o professor... Enquanto avaliam as atividades de colegas, os alunos
O segundo motivo que provocou a inclusão da avaliação aprendem a avaliar seu próprio trabalho. DUNCAN HARRIS e
informal neste texto, que articula a avaliação formativa à COLLIN BELL, citados por WEEDEN et alii (2002, p. 75),
formação de professores, é o fato de essa modalidade de entendem a autoavaliação como um continuum do controle
avaliação, quando desenvolvida de forma a constranger e pelo professor ao controle pelo aluno. Esse continuum significa
humilhar os alunos, poder contribuir para que eles façam o que a responsabilidade crescente pela sua aprendizagem é
mesmo com seus colegas, na escola, em casa e em outros imputada ao aluno. Parte-se da avaliação tradicional para a
lugares. Esse fato recebe o nome de “bullying” e está colaborativa (professor e aluno), e da avaliação por colegas
preocupando educadores em todo o mundo. Na Inglaterra, a para a autoavaliação.
situação parece ser pior, mas a sociedade já começou a reagir. A autoavaliação é um componente importante da avaliação
Bullying é o ato covarde de crianças molestarem, ameaçarem formativa. Refere-se ao processo pelo qual o próprio aluno
e humilharem colegas. Assume formas diversas: violência analisa continuamente as atividades desenvolvidas e em
física; ataques verbais; rótulos; ameaças e intimidação; desenvolvimento, registra suas percepções e sentimentos e
extorsão ou roubo de dinheiro ou de objetos; rejeição pelo identifica futuras ações, para que haja avanço na
grupo. Esse ato acontece com alguma criança a cada sete aprendizagem. Essa análise leva em conta: o que ele já
minutos em parques de diversão no Canadá. A todo momento, aprendeu, o que ainda não aprendeu, os aspectos facilitadores
crianças estão presenciando situações desse tipo. Professores e os dificultadores do seu trabalho, tomando como referência
e pais nem sempre percebem as suas consequências os objetivos da aprendizagem e os critérios de avaliação. Dessa
(www.bullying.org, 2005). análise realizada por ele, novos objetivos podem emergir. A
O que é preocupante em relação ao bullying é que a autoavaliação não visa à atribuição de notas ou menções pelo
bibliografia sobre o assunto não o associa ao tratamento aluno; tem o sentido emancipatório de possibilitar-lhe refletir
recebido pelo aluno na escola. Já existem manuais de continuamente sobre o processo da sua aprendizagem e
informação a pais e professores. Contudo, não se menciona o desenvolver a capacidade de registrar suas percepções. Cabe
fato de o bullying poder ser decorrência da avaliação informal ao professor incentivar a prática da autoavaliação pelos
a que o aluno e seus colegas se submetem. Os alunos são alunos, continuamente, e não apenas nos momentos por ele
expostos a situações de avaliação a todo instante na escola. Por estabelecidos, e usar as informações fornecidas para
isso é tão comum a reprodução das experiências escolares em reorganizar o trabalho pedagógico, sem penalizá-los.
outros contextos. Crianças gostam de “dar aula” para seus WEEDEN et alii (2002, p. 72) entendem que a
amigos, e até para brinquedos, usando o mesmo tratamento autoavaliação é mais ligada à avaliação para a aprendizagem
que seu professor ou sua professora dá não só a elas, mas à do que à avaliação da aprendizagem, pelo fato de buscar-se o
turma toda. A inspiração para o bullying não pode vir da desenvolvimento da aprendizagem. Ela inclui a formulação de
avaliação informal? julgamentos do mérito do trabalho, pelo aluno, o que
Percebe-se, assim, o poder que a avaliação confere ao usualmente tem sido tarefa do professor. A valorização do que
professor, que pode decidir a trajetória escolar do aluno, por os alunos pensam sobre a qualidade do seu trabalho constitui
meio da aprovação e da reprovação. Para romper com esse um desafio à ordem estabelecida e à rotina escolar. Esses
processo unilateral e autoritário e para oportunizar ao aluno autores afirmam que o ponto de partida para a adoção da
aprender a avaliar, o professor pode lançar mão de dois autoavaliação consiste em definir o papel do professor e o do
componentes da avaliação formativa: da avaliação por colegas aluno. DAVID SATTERLY, citado por WEEDEN et alii (2002, p.
e da autoavaliação. 74), considera que há aspectos do trabalho dos alunos que o

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professor espera que eles conheçam melhor do que ele: o turmas especiais de aceleração da aprendizagem e de
quanto trabalharam; o que eles estão tentando alcançar; até recuperação etc.
que ponto eles entendem o que alcançaram; como o trabalho Diante desse quadro, questionam-se as práticas usuais de
se relaciona aos seus objetivos pessoais. Contudo, avaliação adotadas na educação básica e na superior,
provavelmente, no início os alunos não conheçam, tanto considerando-se que a formação do professor perpassa esses
quanto o professor, as expectativas curriculares e os critérios dois níveis. Um é determinante do outro e, ao mesmo tempo,
de avaliação. Isso parece indicar a necessidade de parceria na por ele determinado. A formação dos professores para a
avaliação, para que cada participante contribua com avaliação engloba as suas experiências como alunos nos dois
informações que, reunidas, permitam retratar as níveis, complementada pelos estudos que realizam sobre o
aprendizagens. tema, quando isso ocorre. Por outro lado, as práticas
Assim como acontece com a avaliação informal, o uso das avaliativas dos professores da educação superior, tanto os que
informações fornecidas pela autoavaliação é feito com ética, o têm formação pedagógica quanto os que não a têm, costumam
que significa que elas só podem servir aos propósitos que são inspirar-se nas dos seus ex-mestres.
do conhecimento dos alunos. Além disso, o professor precisa A vivência do feedback que se transforma em auto
ter muita sensibilidade para distinguir as que podem e as que monitoramento, da avaliação informal encorajadora e
não podem ser comentadas publicamente. A avaliação é um complementadora da avaliação formal, da avaliação por
ato ético por excelência. colegas e da autoavaliação que dá responsabilidade ao aluno
A autoavaliação é uma aliada do aluno, por possibilitar-lhe constitui componente essencial da avaliação formativa,
refletir sobre o seu progresso e participar da tomada de porque contribui para o desenvolvimento da autonomia
decisão sobre as futuras atividades; ao mesmo tempo, é aliada intelectual de alunos e professores. Com esse entendimento, a
do professor, por permitir-lhe conhecer com mais avaliação cumpre sua vocação de contribuir para a
profundidade o que o aluno pensa sobre o seu trabalho e com aprendizagem duradoura.
ele dividir responsabilidades. Na perspectiva tradicional de
avaliação, o aluno não costuma saber que a sua aprovação ou
reprovação já está decidida antes mesmo de a avaliação formal ARANHA, Maria Salete Fábio.
acontecer, porque tudo costuma ser resolvido somente pelo
Projeto Escola Viva: garantindo o
professor. Os critérios de avaliação nem sempre são
construídos pelo professor e pelos alunos. acesso e permanência de todos os
alunos na escola: necessidades
Articulações finais
educacionais especiais dos alunos
Neste texto argumentou-se que a preparação de
professores para a avaliação não é de responsabilidade Brasília: Ministério da Educação,
exclusiva dos cursos destinados à sua formação. Antes disso, Secretaria de Educação Especial,
como alunos, eles convivem com práticas avaliativas diversas. 2005;
O que se observa é que essa convivência não tem sido
compreendida como aprendizagem que pode vir a ser
reproduzida em outros contextos, inclusive o pedagógico,
tanto de forma presencial quanto a distância. O processo Aranha, Maria Salete Fábio
avaliativo produz consequências; não termina quando o curso Projeto Escola Viva : garantindo o acesso e permanência de
é concluído. Como foi ressaltado, avaliação é aprendizagem. to- dos os alunos na escola : necessidades educacionais
Enquanto se avalia se aprende e enquanto se aprende se avalia. especiais dos alunos / Maria Salete Fábio Aranha. - Brasília :
Os professores aprendem a avaliar enquanto se formam. O seu Ministério da Educação, Secretaria de Educação Especial,
processo de formação é longo, tendo início quando entram na 2005.
escola como alunos. Todas as situações que presenciam e
vivenciam, como alunos, nos vários níveis do processo de A retrospectiva da educação no Brasil
escolarização, fazem parte da sua constituição de professores
e podem ser bem marcantes. Costuma-se pensar na sua Prezado Professor,
formação obtida apenas nos cursos de formação que Aqui estamos, novamente, para fazer uma breve
frequentam; contudo, estes representam apenas uma pequena retrospectiva da Educação no Brasil, da época colonial até a
parte da sua vivência como alunos. Nesse processo inclui-se a década de 90, momento que testemunhou o início dos
avaliação. Por ser um tema que tem merecido pouca atenção movimentos internacionais para a construção de sistemas
nos cursos de formação, em nível médio e superior, pressupõe- educacionais inclusivos, na busca da garantia do acesso de
se que os atuais professores estejam reproduzindo as práticas todos à escola, respeitando-se as peculiaridades de cada um.
dos seus ex-mestres. E essas práticas nem sempre se inserem
na avaliação formativa. A história das relações, na área educacional, entre a
As informações divulgadas pelo MEC e apresentadas no sociedade brasileira e o segmento populacional constituído
início deste texto demonstram que a educação básica pelas pessoas com deficiência vem se modificando no decorrer
brasileira vai mal e que um dos fatores que podem contribuir do tempo, com maiores ganhos objetivos observados na última
para isso é a avaliação, considerada em seu sentido mais década.
amplo. Elas revelam a existência da internalização da exclusão,
isto é, os excluídos da escola continuam em seu interior. Revisando, há que se lembrar que a educação pública neste
BOURDIEU e CHAMPAGNE (1998, p. 222) dão a esse fato o País é relativamente jovem, não tendo completado sequer 80
nome de exclusão branda, por retratar práticas insensíveis, anos! No período do Brasil colônia, a educação se restringia
“no duplo sentido de contínuas, graduais e imperceptíveis, ao ensino religioso, sob a responsabilidade dos padres jesuítas,
despercebidas, tanto por aqueles que as exercem como por processo e situação que durou até o século XVIII, quando a
aqueles que são suas vítimas”. Portanto, a avaliação formativa Companhia de Jesus foi expulsa do País.
depara-se com a situação contraditória de buscar a inclusão de
todos no processo de aprendizagem, ao mesmo tempo em que A primeira Constituição brasileira, promulgada no
a escola ainda convive com a exclusão, que se manifesta de início do século XIX (1824), foi o primeiro documento oficial a
várias formas: pela reprovação, repetência, constituição de manifestar o interesse do País pela educação de todos os
cidadãos, ao estabelecer a gratuidade da instrução primária.
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Entretanto, ela não explicitou de quem seria a responsabilidade • todos somos diferentes uns dos outros, o que vem
pelo sistema e pelo processo educacional, eximindo o poder a ser o aspecto central da diversidade que constitui qualquer
público desse compromisso. É importante também lembrar sociedade;
que, como bem o aponta Kassar (1999), quando o texto dizia • não há diferença que faça de uma pessoa um
“todos os cidadãos”, certamente não incluía a massa de cidadão de menor valia: todos são iguais perante a lei;
trabalhadores, constituída, em sua maioria, de escravos. • a pessoa com deficiência é cidadã como qualquer
Assim, o texto constitucional que aparentemente se compro- outra pessoa e, como tal, tem o direito de receber os serviços
metia com os brasileiros, na verdade se referia somente a uma de que necessita, sem que, para tanto, necessite permanecer
pequena minoria, representada pela elite sociopolítica no País. segregada;
• assim, tem imediatamente o direito ao acesso e à
A partir de 1961, os textos legislativos tornaram-se permanência no ambiente comum, independentemente do tipo
gradativamente mais explícitos, especificamente no que se de deficiência que tiver e de seu grau de comprometimento;
refere à educação das pessoas com deficiência. De maneira • para que isso aconteça, a sociedade tem de se
geral, os dispositivos legais se referem à educação desse reajustar de forma a se tornar acolhedora para todos;
segmento populacional como um direito a ser usufruído,
• isso deverá acontecer em cada comunidade, em
quando possível, no sistema regular de ensino. Apesar
todos os níveis de ação pública, em todos os ambientes, em
desses dizeres, entretanto, manteve-se sempre uma tentativa
todas as instâncias.
de conciliação entre as forças antagônicas que têm
caracterizado o debate social sobre esse assunto ao garantir
O compromisso prático resultante da opção pela adoção
apoio financeiro também às entidades privadas,
desses princípios foi determinar que cada instância da
incentivando o encaminhamento e a permanência de
atenção pública:
pessoas com deficiência em escolas e classes especiais,
segregadas, sob o argumento do benefício da
especialidade.
•identificasse a situação da pessoa com deficiência;
•tomasse as providências necessárias para garantir o
No decorrer da década de 70, o Paradigma da acesso imediato e a participação da pessoa com deficiência
Institucionalização, vigente no País desde o período imperial, nos serviços e recursos disponíveis em cada área da
começou a dividir o espaço com um novo conjunto de atenção pública;
ideias. Nesse ponto da caminhada, o País, sob influências •tornasse disponíveis os suportes que se mostrem
provenientes de diferentes direções, passou a assumir: necessários para favorecer esse acesso e participação;
1. o princípio da normalização como critério •promovesse a capacitação de recursos humanos para
norteador da avaliação social, e administrar a atenção pública em uma comunidade
2. o Paradigma de Serviços como modelo de inclusiva;
atenção à pessoa portadora de deficiência, na área educacional. • favorecesse a conscientização dos cidadãos, de
Assim, recomendava a prestação de serviços maneira geral, quanto à responsabilidade de cada um no
educacionais técnicos, especializados, com o objetivo de pro- cesso de construção de uma sociedade inclusiva.
promover a adaptação da pessoa ao seu meio social.
Tais providências se constituíram nos primeiros passos
A DECLARAÇÃO DE SALAMANCA E O PROGRAMA para a implementação de ações objetivas e afirmativas no
EDUCAÇÃO PARATODOS sentido de ajustar/adequar a sociedade, nas várias
instâncias da atenção e da ação públicas, de forma que ela
A década de 80 manteve essa tendência, que começou se torne acolhedora para todos.
novamente a se modificar nos anos 90, especialmente após a
Conferência Mundial de Educação para Todos, ocorrida em Tal procedimento, portanto, se faz essencial para garantir
Jomtien (Tailândia, 1990), secundada e fortalecida no que se que a pessoa com necessidades especiais possa acessar e
refere aos direitos das pessoas com deficiência, pela participar, imediata e definitivamente, do espaço comum da vida
Declaração de Salamanca, 1994. em sociedade, independentemente do tipo de deficiência que
apresente, de seu grau de comprometimento.
O Programa Educação para Todos trata da garantia, para Na área da Educação, isso implica que se providencie e
todos os cidadãos, do acesso à escolaridade, ao saber implemente todos os ajustes que se fizerem necessários
culturalmente construído, ao processo de produção e de difusão para garantir que os alunos com necessidades educacionais
do conhecimento e, principalmente, à sua utilização na vivência especiais possam se matricular, frequentar e participar da
da cidadania. O cumpri- mento de tais objetivos requer a escola regular, em todos os seus níveis e modalidades,
existência de sistemas educacionais planejados e organizados compartilhando do cotidiano da vida comunitária.
para dar conta da diversidade dos alunos, de forma a poder
oferecer, a cada um, respostas pedagógicas adequadas às suas • Mas então o aluno com deficiência não mais precisa do
peculiaridades individuais, às suas características e ensino especial?
necessidades específicas. A Declaração de Salamanca, por sua • Ele deverá então ficar na sala regular, sem atendimento
vez, traz as recomendações referentes aos princípios, à política e especializado?
à prática de reconhecimento e atenção às necessidades • Mas assim ele não será prejudicado?
educacionais especiais.
Estas são perguntas importantes, principalmente
Ao concordar com as recomendações contidas nesses dois porque têm circulado no meio educacional, sendo fonte
importantes documentos, e ao fazer delas seu compromisso, o de preocupação e de angústia para muitos professores e
Brasil sinalizou que estava pronto para promover novo dirigentes educacionais!
avanço na relação com seus cidadãos com deficiência.
Vejamos... sabemos que todos somos diferentes uns dos
Os pressupostos que fundamentaram essa atitude foram outros, não é verdade? Nem todos somos morenos, ou loiros,
de natureza filosófica, ética, política e social, e encontram-se temos pele amarela, ou pele vermelha, somos de cor branca, ou
abaixo explicitados:

Conhecimentos Pedagógicos 79
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APOSTILAS OPÇÃO

de cor negra, temos cabelos lisos, ou cabelos enrolados, e assim limites;


por diante... • o cego é meio “por fora” e “molão”, de forma que nem
CADA PESSOA TEM CARACTERÍSTICAS QUE SÃO aproveita muito das aulas;
SOMENTE SUAS E QUE, NA VERDADE, AS DIFERENCI- AM • a criança que tem paralisia cerebral é perigosa,
DAS DEMAIS. agressiva, não dá para conviver com outras crianças;
• a criança que tem paralisia cerebral é retardada,
O mesmo acontece com nosso funcionamento mental. nunca vai aproveitar nada do ensino em uma classe regular;
Algumas pessoas aprendem melhor por via visual, ou seja, • as crianças com deficiência têm inúmeros problemas
lendo textos, assistindo cenas; outras aprendem melhor por de comportamento;
via auditiva, ou seja, ouvindo o professor, ou lendo em voz alta; • as crianças com deficiência têm problemas e
algumas pessoas compreendem melhor um fato ou um necessitam de cuidados que só os educadores especiais são
fenômeno qualquer se puderem lidar com ele concretamente; capazes de dar;
outras pessoas já têm facilidade para compreender o mesmo
• as crianças com deficiência são dependentes e
fenômeno, ainda que dele se trate abstratamente, ou seja, no
incapazes de fazer qualquer coisa sozinhas.
nível da imaginação, da elaboração de ideias.
Ora, vamos imaginar uma situação em que você não
Nem todos seguem o mesmo raciocínio para resolver um
escutasse, não se comunicasse verbalmente e ninguém
problema! Certa vez, uma professora pediu a alunos surdos,
conhecesse os gestos ou sinais com os quais você estivesse
não oralizados, que resolvessem o problema de construir uma
acostumado a se comunicar em casa, em sua família, ou em sua
escada utilizando um programa de computador. Foi
sala de aula, como você se sentiria? Seria muito difícil, não é
interessante observar que nem todos seguiram o mesmo
verdade?
raciocínio. Cada aluno seguiu passos diferentes para chegar à
mesma solução para o problema proposto: um iniciou pelo
Além disso, se cada vez que você estivesse tentando se
degrau inferior, tendo construído a escada de baixo para cima
comunicar, as pessoas olhassem para você com estranheza ou
(um traço horizontal para a direita, um verti- cal para cima,
mesmo fugissem de você (porque você está emitindo sons sem
outro horizontal para a direita, outro vertical para cima, e
sentido, altos, que você mesmo não escuta), como seria?
assim por diante...). Outro aluno seguiu outro procedimento
para solucionar o problema de construir a es- cada: fez vários
Bem, as cenas acima descritas não seriam reais para
traços horizontais, localizando cada um, pouco acima e à direita
todos os surdos, porque:
do outro, e depois, ligou esses traços entre si, com traços
verticais.
• há surdos que aprenderam a leitura labial;
• há os que estão oralizados (falam);
Bem sabemos o quanto nossos alunos são diferentes uns • há os que se utilizam da língua brasileira de sinais para
dos outros. Sabemos que cada um traz os conhecimentos já se comunicar;
apreendidos, sabemos a que tipo de estratégia pedagógica cada • há os que emitem sons estridentes;
um reage melhor, sabemos quais de nossos alunos aprendem • há os mais tímidos, que se fecham em seu silêncio;
melhor quando trabalham em grupo, ou em dupla, e quais • há os que são mais agitados, bem como os mais
trabalham melhor em atividades individualizadas. Sabemos de tranquilos;
que tipo de conteúdo cada um gosta mais, bem como para que • há os que já foram alfabetizados e os ainda não
disciplina ou conteúdo cada um não mostra interesse... alfabetizados.
Sabemos quando alguém está particularmente triste, sofrido,
alegre, feliz... Enfim, cada um de nós foi aprendendo, no O que poderiam ter em comum, no que se refere às
decorrer do cotidiano de nossa profissão, a conhecer e a necessidades educacionais que apresentam?
reconhecer cada um de nossos alunos.
1. Bem, todos se beneficiariam da aprendizagem
Sabemos ainda que há aqueles alunos que temos da língua brasileira de sinais, bem como da disponibilidade
dificuldade para ensinar. Lutamos na busca de um jeito de ensiná- dessa via de comunicação em sua escolaridade. Essa seria uma
los produtivamente, de ajudá-los a apreender o conteúdo que necessidade educacional especial, determinada pela
estamos trabalhando, de motivá-los para a situação de presença de uma deficiência, no caso, a auditiva.
aprendizagem..
2. No mais, cada aluno, como qualquer outro
Mas... continuamos sempre tentando, não é mesmo? Às aluno, terá suas necessidades educacionais específicas, que
vezes acertamos e conseguimos sucesso, às vezes, não... Às de- vem ser consideradas pelo professor!
vezes mantemos nossa calma, às vezes a perdemos..., mas em
geral estamos sempre tentando e buscando descobrir aquele Da mesma forma, o aluno com deficiência mental... Não é
jeitinho de ajudar cada um a aprender. verdade que ele não aprende! Enquanto for oferecida a
oportunidade, ele aprenderá. Há que se elaborar um
É assim mesmo! Cada um de nossos alunos tem sua plano de ensino que atenda a diversidade de todos os
história de vida, sua história de aprendizagem, suas alunos, inclusive os que apresentam dificuldades
características pessoais e suas necessidades específicas! E cognitivas, seja associada à deficiência mental ou não.
como ficamos nós, para responder a essa diversidade?
É verdade que alguns encontrarão mais dificuldade em lidar
Desfazendo alguns mitos sobre a deficiência com abstrações. Outros, no armazenamento de informações já
apreendidas (memória). E ainda, os que necessitarão de um
Primeiramente, temos que enfrentar alguns dos mitos que acompanhamento mais individualizado que outros alunos.
foram sendo criados em nossa história político-educacional: Mas também é verdade que muitos têm uma memória
• o surdo é agressivo e atrapalha o andamento da aula; fabulosa! Que outros têm uma habilidade marcante para
• o deficiente mental não aprende e atrapalha o determinadas atividades ou tarefas. Além disso, tudo o que se
andamento da aula; expôs acima seria realmente característica exclusiva do
• o deficiente mental é chato, pegajoso, não respeita aluno portador de deficiência? Bem o sabemos que não...

Conhecimentos Pedagógicos 80
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APOSTILAS OPÇÃO

Veja, os alunos surdos não são todos iguais! Nem têm as Em assim sendo, há que se poder contar com a participação
mesmas necessidades educacionais! Da mesma forma, os alunos de todas as instâncias da sociedade, em particular as áreas de
cegos, os que têm baixa visão, os alunos comdeficiência mental, atenção e de ação públicas.
os que têm altas habilidades, os com deficiência física, etc. A intersetorialidade, ou seja, a cooperação entre as
áreas da Educação, da Saúde, da Previdência e Assistência
Há necessidades que são mais comuns em pessoas que Social, de Equipamentos e Transportes Urbanos, do Trabalho,
têm algum tipo de deficiência, mas que não são restritas a do Lazer, do Esporte e da Cultura, do Planejamento é essencial
esses alunos! para viabilizar esse processo.
Cada uma delas tem valiosa contribuição a dar. O aluno
Expandindo o processo de construção de um sistema com necessidades educacionais especiais relacionadas ou não
educacional inclusivo à deficiência precisa ter garantida a regularidade de sua
alimentação diária; precisa ser acompanhado com
A municipalização, processo de descentralização político- regularidade pelo sistema de saúde, na prevenção de doenças,
administrativa em implantação no país desde 1988, veio, na promoção da saúde e no atendimento imediato, quando
segundo Aranha (2000), “aproximar dos cidadãos a instância porventura sofrer uma intercorrência qualquer; precisa ter
decisória responsável pela definição dos rumos a imprimir à assegurado um meio público de transporte que lhe possibilite
vida na comunidade. Aproximou, também, o controle social chegar até a escola; precisa receber educação profissional;
sobre a execução das direções escolhidas e das decisões precisa ter garantido o acesso aos equipamentos com os quais se
tomadas pela comunidade... Nesse contexto, passou a ser promovem as atividades culturais, de esporte e de lazer na
necessário que cada Município se organizasse para: comunidade; alguns precisam que os textos escolares sejam
transcritos para o Braille; outros necessitam de algum recurso
1. identificar o perfil de seu alunado; ou equipamento especial para escrever, ou para fixar o papel
2. identificar o conjunto das necessidades educacionais na carteira, para se comunicar (caderno de signos, por
especiais nele presentes; exemplo) ou para se loco- mover, enfim, para permanecer no
3. desenvolver estudos-pilotos que possam resultar em ambiente escolar e dele efetivamente participar.
conhecimento acerca de que práticas e procedimentos melhor Cada Município deve explicitar claramente o seu
atenderão às suas peculiaridades, necessidades e possibilidades; compromisso político com a construção de um sistema
4. desenvolver um projeto pedagógico consistente com os educacional inclusivo, contando, em seu planejamento
dados acima mencionados, delineados a atender e a acolher a político-administrativo, com ações e providências que
todos no sistema educacional. favoreçam a intersetorialidade na atenção à população escolar.

Seria irrealista pensar que se pode construir um sistema E a educação, como fica?
educacional inclusivo do dia para a noite, em função de Veja, professor, ensinar é uma tarefa que envolve, como já o
decisões tomadas administrativamente. Mas a instância dissemos anteriormente, vários fatores:
político-administrativa pode coordenar o processo de 1. conhecimento acerca de como se dá a
diagnóstico das necessidades da realidade municipal, o qual aprendizagem;
deve, por sua vez, nortear a elaboração de Plano que contenha 2. domínio do conhecimento a ser socializado;
objetivos a serem alcançados a curto, médio e longo prazos, na 3. competência técnico-pedagógica;
direção da implementação de um sistema inclusivo, de forma 4. planejamento pedagógico;
gradativa e fundamentada técnico-cientificamente”. 5. competência para ajustar o ensino a partir das
especificidades e necessidades educacionais de seus alunos;
A importância do planejamento estratégico
Nenhum processo ou projeto pode ser bem-sucedido, se Essas são funções inerentes à profissão de educador, de
não for calcado em: maneira geral.
• estudo crítico cuidadoso sobre a realidade no qual ele
estará inserido (necessidades, desejos, objetivos, metas, Aos professores, por sua vez, cabe atuar, em cooperação,
problemas existentes, desvantagens, vantagens, fatores compartilhando o conhecimento de que dispõem, para
favoráveis, etc.) responder e atender às necessidades educacionais de todos os
• identificação de procedimentos que resolvam os alunos, inclusive às dos alunos com deficiência, garantindo-
problemas e aumentem os fatores que contribuam para o lhes o acesso e permanência nos sistemas de ensino.
alcance de seus objetivos e metas;
• elaboração de cronograma realista e viável de Referências bibliográficas
implementação do processo; Aranha, M.S.F. Inclusão Social e Municipalização. Em
• caracterização do sistema e dos procedimentos de Manzini, E. (org.) Educação Especial: temas atuais. Marília:
suporte que serão necessários para garantir o sucesso do UNESP-Marília, 2000.
processo; Brasil. EFA 2000, Avaliação do ano 2000 - Informe
• elaboração e planejamento do sistema de avaliação do Nacional. Brasília: INEP O Instituto, 2000.
programa que permita acompanhar continuamente o cotidiano Brasil. Parâmetros Curriculares Nacionais - Adaptações
de sua implementação, permitindo também identificar as Curriculares. Brasília: MEC/SEF/SEESP, 1999.
intervenções que se mostrem necessárias para garantir seu Kassar, M.C.M. Deficiência Múltipla e Educação no
sucesso, materializado no alcance dos objetivos. Brasil: discurso e silêncio na história de sujeitos. Campinas:
Editora Autores Associados, 1999.
Sistemas de apoio e intersetorização
Como já sabemos, a construção de um sistema educacional
inclusivo é, na realidade, um processo fundamental para a
transformação de nossa sociedade em um organismo mais
respeitoso, justo e digno, interesse e responsabilidade de
todos e de cada um de nós.

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APOSTILAS OPÇÃO

1. Currículo extensivo = educação bancária


2. Currículo intensivo = pesquisa
DEMO, P. Educar pela Num currículo intensivo: aprofunda-se o mesmo através
Pesquisa. 8ª Ed. Campinas: de temas e constrói-se uma visão geral e não
Autores Associados, 2007; compartimentalizada. Preferir aulas mais longas e
proporcionar ambiente próprio para pesquisa e leitura,
análise discussões, preparação do trabalho. Flexibilização do
currículo. Levar em consideração os ritmos individuais e
A condição para educar pela pesquisa é que o professor próprios, combater o fracasso.
seja um pesquisador e tenha-a como uso no cotidiano. O aluno  Avaliação: utilizar formas alternativas e constantes,
deixa de ser objeto de ensino para ser companheiro de debates, argumentações orais e escritas, participação.
trabalho.

I Parte  Pesquisa no professor
O desafio de Educar pela pesquisa na Educação Básica  Construir um projeto pedagógico próprio que deve estar
 Pressupostos em atualização permanente e ter compromisso com o
desempenho do aluno
 a convicção de que a educação pela pesquisa é a
especificidade mais própria da educação escolar e acadêmica  Construir textos científicos e pedagógicos próprios, com
fundamentação teórica
 o questionamento com qualidade é o cerne da pesquisa
 Refazer o material didático, e testá-lo antes de levar aos
 a necessidade de fazer da pesquisa uma atitude cotidiana alunos, seja teórico ou prático.
no professor e no aluno.
 Inovar na prática didática, lutando contra a aula
 a educação é um processo de formação humana na reproduzida e copiada, e contra a postura passiva dos alunos
competência.
 Recuperar constantemente a competência através da
 A pesquisa é uma propriedade específica do ambiente pesquisa, de cursos de atualização, de eventos, pós-graduação,
escolar, a base da educação escolar é a pesquisa e não a sala de
etc.
aula.
 A pesquisa forma o sujeito crítico e criativo, a aula apenas 2ª. PARTE
repassada e copiada não constrói nada. Currículo intensivo na Universidade
 A distinção entre a pesquisa praticada pelo doutor e pela Nesta parte o autor praticamente repete o que foi dito
criança não está nos óbvios resultados, mas na qualidade, anteriormente, com as devidas adaptações para o ambiente
no questionamento reconstrutivo, cada um dentro do seu universitário.
próprio horizonte. A universidade tem um pressuposto de desenvolver a
 A pesquisa deve ser atitude cotidiana no professor e no competências, formar Cidadãos críticos, politizados,
aluno, é fundamental para desmistificá-la. pesquisadores.
 Educação é o processo de formação da Não é o que se observa nas particulares e principalmente
competência humana histórica. nas noturnas, onde não se evidencia a pesquisa, mas sim
 Pesquisa no aluno apenas a competência mercadológica.
 A escola deve ser o ambiente criativo por excelência,
onde o aluno tem participação ativa e motivação constante, e Ensaios de currículo intensivo
não um ambiente repressor que cultiva apena a disciplina. 1. Definindo termos
Favorecer o lúdico.  Educação como processo de formação na competência
 Valorizar o trabalho em equipe, buscando o equilíbrio humana: compromisso da universidade
entre individualidade e solidariedade.  Questionamento reconstrutivo
 Habituar o aluno a ter iniciativa na busca de material  Aproximação de pesquisa e educação – ímpeto
para pesquisa e combater a receita pronta. emancipatório, já que alimentam a consciência crítica
 Motivar para o aluno fazer as próprias interpretações,  Pesquisa compreendida como atitude cotidiana
reelaborando-as. Interpretar o material pesquisado. Passar de  Pesquisa na universidade faz parte também da
atitude passiva para atitude crítica. profissionalização
 Reconstruir a partir do conhecimento prévio,  Compromisso com a ética e com a inovação
acrescentando o conhecimento disponível, elaborando Bases Gerais para um currículo intensivo
textos próprios.  Qualidade do professor: como pretender que o professor
 Material didático: motivações lúdicas, hábito de leitura, ensine através da pesquisa se não é formado assim, se o
uso de computador, TV, DVD, apoio dos pais, uso intensivo do professor de universidade assim não o faz? Portanto, o
tempo escolar. professor universitário Tb. Deve formar pela pesquisa.
 Cuidados propedêuticos (iniciais, introdutórios relativos  Delimitar seu próprio espaço, sua linha de pesquisa
ao Ens. Fundamental)  Dedicar-se inicialmente ao estudo de assuntos iniciais
1. Saber pensar: estimular o aluno ao raciocínio como matemática, filosofia, história de educação, metodologia
2. Aprender a aprender: pela teoria e pela prática científica.
3. Saber avaliar-se a avaliar a realidade com consciência  Preparar suas aulas a partir da pesquisa, seja didática ou
crítica científica, manter-se atualizado
4. Ética: não usar treinamento  Produção constante, orientação constante – competência
5. Estimular o discurso fundamentado humana crítica e política
6. Exigir que o processo seja bem feito O restante do capítulo destina-se a recomendações e
7. Estimular o uso da lógica para formulação e delineamentos práticos propriamente ditos.
argumentações
8. Reconhecer a capacidade do outro Riscos e Desafios
9. Tomar atitude investigativa no dia a dia
 Não deixar virar modismo, ou repulsa a priori.
 Reorganização curricular
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 Dedicação exclusiva, tempo integral. O professor que apenas enche a cabeça dos alunos de
 Currículo intensivo é mais facilmente aceito em coisas reforça a sua condição de objeto. Ele deve aproveitar o
instituições públicas, mas não impede de tentar implantação que o aluno traz de fora, pois não é possível criar
também nas particulares. conhecimento novo, mas o reconstruímos a partir do que já
existe. O aluno precisa ser motivado a avançar na autonomia
 Avaliação constante do sistema e do professor. (hoje em
dia a avaliação também compreende a universidade e os da expressão própria. Portanto, no conceito de pesquisa, é
institutos.) mister haver a relação teoria/prática. O aluno pesquisador é
motivado a buscar, ler, querer saber mais, duvidar, deixar para
 O autor finaliza sugerindo modelos de cursos de pós- traz a condição de objeto. Ele passa de informado a informante.
graduação (mestrado e doutorados). Agora o que fazer para motivar o aluno a desenvolver seu
questionamento reconstrutivo? Concorda-se com a solução
Outro ponto de vista sobre o livro Educar pela
proposta por Pedro Demo, quando ele enfatiza a importância
pesquisa
de motivações lúdicas e o hábito da leitura, o apoio familiar e
Pedro Demo, em seu livro intitulado "Educar pela
o uso intensivo do tempo escolar. Mas o professor só pode
pesquisa", traz novos conceitos de educação, pesquisa e
cultivar esses hábitos nos alunos se ele tiver esses hábitos e
também desenvolve uma teoria sobre o questionamento
para isso, o professor precisa se expressar de maneira
reconstrutivo, aluno sujeito e aluno objeto, entre outros,
fundamentada, exercitar o conhecimento sempre, a
indicando meios de romper com a educação tradicionalista.
formulação própria, cotidianizar a pesquisa, além de refazer o
Como se sabe, um dos objetivos da educação é desenvolver
material didático, inovar a prática didática, construir textos
o ouvir, o falar, o ler e o escrever, ou seja, é formar a
científicos e recuperar constantemente a competência.
competência. O responsável pela educação dos alunos é o
Quanto à forma de avaliação, preconiza-se o
professor e como Pedro Demo afirma, para o professor, não
acompanhamento dos alunos, o interesse pela pesquisa, as
basta ser um profissional da pesquisa, mas um profissional da elaborações próprias e a participação ativa. O aluno deve saber
educação pela pesquisa, que torne a pesquisa uma constante que ele é avaliado todos os dias. Todas essas considerações
na sala de aula, de modo que o aluno deixe de ser objeto, aquele
acerca de educar pela pesquisa é com o fim de combater o
que não age, mas apenas ouve e recebe o conhecimento por
fracasso escolar, cuja culpa é, em parte, do sistema e em parte
osmose e passe a ser sujeito, aquele que busca o conhecimento.
do alfabetizador que dá aula copiada. A formação da
À medida que o aluno se torna um sujeito ativo, ele passa a
competência do aluno tem a ver com a competência do
questionar o conhecimento e a realidade para saber o porquê
professor e exatamente por ainda hoje se ter a visão de que dar
das coisas, além de adquirir a independência crítica. Logo, este
aula é fácil é que não se tem investido na condição profissional
questionamento serve para renovar o conhecimento. Daí
do professor, e às vezes o próprio professor não vê a
denominado “questionamento reconstrutivo”. O
necessidade de se recapacitar .
questionamento reconstrutivo é o cerne da pesquisa, que por
Não há pesquisa somente na escola, mas também e
sua vez é o cerne da educação. Pesquisa é a emancipação do
principalmente na Universidade. Há uma grande expectativa
aluno à medida que ele questiona a realidade.
ao se entrar na universidade acerca do que é pesquisa e muitos
O autor também compara educação e pesquisa, afirmando
jovens acabam se decepcionando ao sair da universidade, pois
que ambas lutam contra a ignorância. “A pesquisa busca o percebem que educação superior é um entupimento teórico -
conhecimento e a educação busca a consciência crítica. Ambas sistemático e o tempo letivo se resume a aula copiada e prova.
valorizam o questionamento.” A pesquisa se alimenta da
“Mesmo nas públicas ainda há professores que só se
dúvida, de hipóteses alternativas e superação de paradigmas;
preocupam em dar aula e ensinar a copiar ainda que nessa faz
ela persegue o conhecimento novo.
cresça a pressão sobre a necessidade da pesquisa.” Acaba se
A crítica feita consiste no fato de que muitas pessoas veem
formando uma elite acadêmica de professores pesquisadores
o professor como instrutor, e se for realmente só este o papel
que se acham especiais. Assim a universidade joga fora a
do professor, qualquer um pode ser professor. Precisa-se de
chance de postar-se no centro do desenvolvimento humano.
professores pesquisadores, não considerando aqui pesquisa
Somente uma população competente, munida da
como a que é feita por mestres e doutores, mas como uma
capacidade de questionamento reconstrutivo sólido seria
atividade cotidiana e cujo papel na escola é transformar o
capaz de contrapor-se ao processo excludente. Quem faz
aluno objeto m aluno sujeito. Ele afirma que o aluno
greves? uma população conhecedora de seus direitos ou uma
pesquisador deve ser como uma criança que a tudo questiona.
ignorante? É preciso prezar pela cidadania acadêmica para
Mas o “problema” com que ele se depara é a escola, que preza
mudar a história. A pesquisa é a razão de ser da universidade
pela disciplina. e a base da transformação do mero ensino em educação.
Sobre o sujeito crítico, diz-se que ele questiona até na vida:
Na universidade, assim como na educação básica, deve
há o telespectador crítico, a mãe crítica, que sabe ler o choro
haver a recuperação permanente da competência, do fazer
do bebê, o homem que usa a tristeza para crescer, etc. Mas não
para o saber fazer e sempre refazer. É preciso inovar e renovar
basta só pensar. É preciso produzir, pois competência é inovar,
sempre pois vivemos na era da informação e hoje em dia a
é questionar; é reconstruir o conhecimento todos os dias.
graduação não é o bastante devido ao envelhecimento rápido
Marcos Bagno em seu livro pesquisa na escola, oferece dicas e
de qualquer profissionalização e importa mais qualidade do
alternativas de como trabalhar gramática na escola através da
que quantidade de informação. Por isso a importância de
pesquisa, tornando a disciplina mais interessante.
atualizar-se permanentemente.
Já foi dito que educação forma a competência e busca a
Pedro Demo alerta que na universidade há aula copiada.
consciência crítica. Mas de que maneira isso deve ocorrer?
De acordo com Werneck: “O professor finge que ensina e o
Através da orientação dos trabalhos em conjunto pelo
aluno finge que aprende; preocupado, toma nota, reproduz na
professor. Quanto às propostas do autor, ele diz que o
prova.” Professor que reprova a maioria dos alunos está
professor deve repensar o trabalho em equipe para que um reprovado. Professor bom é aquele que faz pessoas comuns
componente não fique com todo o peso nas costas e os demais gostarem de matemática. “Se na escola o professor não precisa
e os demais não fiquem ociosos; ao invés de carteiras, que
ser um profissional da pesquisa, já que é um profissional da
houvesse mesas redondas; ao invés de silêncio, barulho de
educação pela pesquisa, na universidade pesquisa é profissão.
questionamentos; incentivar o aluno a procurar livros, textos,
Deve-se desde o início incentivar a pesquisa na universidade
fontes; evitar dar tudo pronto, mas pra isso, a escola deve
pra que o aluno produza sempre e para que a monografia não
possuir biblioteca, laboratórios...
o pegue desprevenido. Na maioria das vezes, a monografia é a

Conhecimentos Pedagógicos 83
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primeira vez que o aluno produz algo. Não é à toa que muitos I - acessibilidade: possibilidade e condição de alcance para
fazem monografia de encomenda. utilização, com segurança e autonomia, de espaços,
A banalização começa com a própria banalização da mobiliários, equipamentos urbanos, edificações, transportes,
profissão: qualquer um que dê aula ou coisa parecida é informação e comunicação, inclusive seus sistemas e
professor. Portanto, se educação é um processo de formação tecnologias, bem como de outros serviços e instalações
da competência humana, educar pela pesquisa é trabalhar a abertos ao público, de uso público ou privados de uso coletivo,
competência emancipatória e a competência se alimenta do tanto na zona urbana como na rural, por pessoa com
questionamento reconstrutivo. Logo, cada aluno, em nome da deficiência ou com mobilidade reduzida;
emancipação, precisa tomar iniciativa e tapar seus buracos por II - desenho universal: concepção de produtos, ambientes,
si mesmo. Não faz sentido que aprenda somente o que consta programas e serviços a serem usados por todas as pessoas,
nos cursos. sem necessidade de adaptação ou de projeto específico,
incluindo os recursos de tecnologia assistiva;
III - tecnologia assistiva ou ajuda técnica: produtos,
equipamentos, dispositivos, recursos, metodologias,
BRASIL LEI Nº 13.146, DE 6 DE estratégias, práticas e serviços que objetivem promover a
JULHO DE 2015. Institui a Lei funcionalidade, relacionada à atividade e à participação da
Brasileira de Inclusão da Pessoa pessoa com deficiência ou com mobilidade reduzida, visando à
sua autonomia, independência, qualidade de vida e inclusão
com Deficiência (Estatuto da social;
Pessoa com Deficiência); IV - barreiras: qualquer entrave, obstáculo, atitude ou
comportamento que limite ou impeça a participação social da
pessoa, bem como o gozo, a fruição e o exercício de seus
LEI Nº 13.146, DE 6 DE JULHO DE 20155 direitos à acessibilidade, à liberdade de movimento e de
expressão, à comunicação, ao acesso à informação, à
Institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com compreensão, à circulação com segurança, entre outros,
Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência). classificadas em:
a) barreiras urbanísticas: as existentes nas vias e nos
LIVRO I espaços públicos e privados abertos ao público ou de uso
PARTE GERAL coletivo;
TÍTULO I b) barreiras arquitetônicas: as existentes nos edifícios
DISPOSIÇÕES PRELIMINARES públicos e privados;
CAPÍTULO I c) barreiras nos transportes: as existentes nos sistemas e
DISPOSIÇÕES GERAIS meios de transportes;
d) barreiras nas comunicações e na informação: qualquer
Art. 1º É instituída a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa entrave, obstáculo, atitude ou comportamento que dificulte ou
com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência), impossibilite a expressão ou o recebimento de mensagens e de
destinada a assegurar e a promover, em condições de informações por intermédio de sistemas de comunicação e de
igualdade, o exercício dos direitos e das liberdades tecnologia da informação;
fundamentais por pessoa com deficiência, visando à sua e) barreiras atitudinais: atitudes ou comportamentos que
inclusão social e cidadania. impeçam ou prejudiquem a participação social da pessoa com
Parágrafo único. Esta Lei tem como base a Convenção deficiência em igualdade de condições e oportunidades com as
sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo demais pessoas;
Facultativo, ratificados pelo Congresso Nacional por meio do f) barreiras tecnológicas: as que dificultam ou impedem o
Decreto Legislativo no 186, de 9 de julho de 2008, em acesso da pessoa com deficiência às tecnologias;
conformidade com o procedimento previsto no § 3º do art. 5º V - comunicação: forma de interação dos cidadãos que
da Constituição da República Federativa do Brasil, em vigor abrange, entre outras opções, as línguas, inclusive a Língua
para o Brasil, no plano jurídico externo, desde 31 de agosto de Brasileira de Sinais (Libras), a visualização de textos, o Braille,
2008, e promulgados pelo Decreto no 6.949, de 25 de agosto o sistema de sinalização ou de comunicação tátil, os caracteres
de 2009, data de início de sua vigência no plano interno. ampliados, os dispositivos multimídia, assim como a
linguagem simples, escrita e oral, os sistemas auditivos e os
Art. 2º Considera-se pessoa com deficiência aquela que meios de voz digitalizados e os modos, meios e formatos
tem impedimento de longo prazo de natureza física, mental, aumentativos e alternativos de comunicação, incluindo as
intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais tecnologias da informação e das comunicações;
barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na VI - adaptações razoáveis: adaptações, modificações e
sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas. ajustes necessários e adequados que não acarretem ônus
§ 1º A avaliação da deficiência, quando necessária, será desproporcional e indevido, quando requeridos em cada caso,
biopsicossocial, realizada por equipe multiprofissional e a fim de assegurar que a pessoa com deficiência possa gozar
interdisciplinar e considerará: ou exercer, em igualdade de condições e oportunidades com as
I - os impedimentos nas funções e nas estruturas do corpo; demais pessoas, todos os direitos e liberdades fundamentais;
II - os fatores socioambientais, psicológicos e pessoais; VII - elemento de urbanização: quaisquer componentes de
III - a limitação no desempenho de atividades; e obras de urbanização, tais como os referentes a pavimentação,
IV - a restrição de participação. saneamento, encanamento para esgotos, distribuição de
§ 2º O Poder Executivo criará instrumentos para avaliação energia elétrica e de gás, iluminação pública, serviços de
da deficiência. comunicação, abastecimento e distribuição de água,
paisagismo e os que materializam as indicações do
Art. 3º Para fins de aplicação desta Lei, consideram-se: planejamento urbanístico;

5 Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-


2018/2015/Lei/L13146.htm.

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VIII - mobiliário urbano: conjunto de objetos existentes nas Art. 6º A deficiência não afeta a plena capacidade civil da
vias e nos espaços públicos, superpostos ou adicionados aos pessoa, inclusive para:
elementos de urbanização ou de edificação, de forma que sua I - casar-se e constituir união estável;
modificação ou seu traslado não provoque alterações II - exercer direitos sexuais e reprodutivos;
substanciais nesses elementos, tais como semáforos, postes de III - exercer o direito de decidir sobre o número de filhos e
sinalização e similares, terminais e pontos de acesso coletivo de ter acesso a informações adequadas sobre reprodução e
às telecomunicações, fontes de água, lixeiras, toldos, planejamento familiar;
marquises, bancos, quiosques e quaisquer outros de natureza IV - conservar sua fertilidade, sendo vedada a esterilização
análoga; compulsória;
IX - pessoa com mobilidade reduzida: aquela que tenha, V - exercer o direito à família e à convivência familiar e
por qualquer motivo, dificuldade de movimentação, comunitária; e
permanente ou temporária, gerando redução efetiva da VI - exercer o direito à guarda, à tutela, à curatela e à
mobilidade, da flexibilidade, da coordenação motora ou da adoção, como adotante ou adotando, em igualdade de
percepção, incluindo idoso, gestante, lactante, pessoa com oportunidades com as demais pessoas.
criança de colo e obeso;
X - residências inclusivas: unidades de oferta do Serviço de Art. 7º É dever de todos comunicar à autoridade
Acolhimento do Sistema Único de Assistência Social (Suas) competente qualquer forma de ameaça ou de violação aos
localizadas em áreas residenciais da comunidade, com direitos da pessoa com deficiência.
estruturas adequadas, que possam contar com apoio Parágrafo único. Se, no exercício de suas funções, os juízes
psicossocial para o atendimento das necessidades da pessoa e os tribunais tiverem conhecimento de fatos que caracterizem
acolhida, destinadas a jovens e adultos com deficiência, em as violações previstas nesta Lei, devem remeter peças ao
situação de dependência, que não dispõem de condições de Ministério Público para as providências cabíveis.
autossustentabilidade e com vínculos familiares fragilizados
ou rompidos; Art. 8º É dever do Estado, da sociedade e da família
XI - moradia para a vida independente da pessoa com assegurar à pessoa com deficiência, com prioridade, a
deficiência: moradia com estruturas adequadas capazes de efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à
proporcionar serviços de apoio coletivos e individualizados sexualidade, à paternidade e à maternidade, à alimentação, à
que respeitem e ampliem o grau de autonomia de jovens e habitação, à educação, à profissionalização, ao trabalho, à
adultos com deficiência; previdência social, à habilitação e à reabilitação, ao transporte,
XII - atendente pessoal: pessoa, membro ou não da família, à acessibilidade, à cultura, ao desporto, ao turismo, ao lazer, à
que, com ou sem remuneração, assiste ou presta cuidados informação, à comunicação, aos avanços científicos e
básicos e essenciais à pessoa com deficiência no exercício de tecnológicos, à dignidade, ao respeito, à liberdade, à
suas atividades diárias, excluídas as técnicas ou os convivência familiar e comunitária, entre outros decorrentes
procedimentos identificados com profissões legalmente da Constituição Federal, da Convenção sobre os Direitos das
estabelecidas; Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo e das leis
XIII - profissional de apoio escolar: pessoa que exerce e de outras normas que garantam seu bem-estar pessoal,
atividades de alimentação, higiene e locomoção do estudante social e econômico.
com deficiência e atua em todas as atividades escolares nas
quais se fizer necessária, em todos os níveis e modalidades de Seção Única
ensino, em instituições públicas e privadas, excluídas as Do Atendimento Prioritário
técnicas ou os procedimentos identificados com profissões
legalmente estabelecidas; Art. 9º A pessoa com deficiência tem direito a receber
XIV - acompanhante: aquele que acompanha a pessoa com atendimento prioritário, sobretudo com a finalidade de:
deficiência, podendo ou não desempenhar as funções de I - proteção e socorro em quaisquer circunstâncias;
atendente pessoal. II - atendimento em todas as instituições e serviços de
atendimento ao público;
CAPÍTULO II III - disponibilização de recursos, tanto humanos quanto
DA IGUALDADE E DA NÃO DISCRIMINAÇÃO tecnológicos, que garantam atendimento em igualdade de
condições com as demais pessoas;
Art. 4º Toda pessoa com deficiência tem direito à igualdade IV - disponibilização de pontos de parada, estações e
de oportunidades com as demais pessoas e não sofrerá terminais acessíveis de transporte coletivo de passageiros e
nenhuma espécie de discriminação. garantia de segurança no embarque e no desembarque;
§ 1º Considera-se discriminação em razão da deficiência V - acesso a informações e disponibilização de recursos de
toda forma de distinção, restrição ou exclusão, por ação ou comunicação acessíveis;
omissão, que tenha o propósito ou o efeito de prejudicar, VI - recebimento de restituição de imposto de renda;
impedir ou anular o reconhecimento ou o exercício dos VII - tramitação processual e procedimentos judiciais e
direitos e das liberdades fundamentais de pessoa com administrativos em que for parte ou interessada, em todos os
deficiência, incluindo a recusa de adaptações razoáveis e de atos e diligências.
fornecimento de tecnologias assistivas.
§ 2º A pessoa com deficiência não está obrigada à fruição § 1º Os direitos previstos neste artigo são extensivos ao
de benefícios decorrentes de ação afirmativa. acompanhante da pessoa com deficiência ou ao seu atendente
pessoal, exceto quanto ao disposto nos incisos VI e VII deste
Art. 5º A pessoa com deficiência será protegida de toda artigo.
forma de negligência, discriminação, exploração, violência, § 2º Nos serviços de emergência públicos e privados, a
tortura, crueldade, opressão e tratamento desumano ou prioridade conferida por esta Lei é condicionada aos
degradante. protocolos de atendimento médico.
Parágrafo único. Para os fins da proteção mencionada no
caput deste artigo, são considerados especialmente
vulneráveis a criança, o adolescente, a mulher e o idoso, com
deficiência.

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TÍTULO II Art. 16. Nos programas e serviços de habilitação e de


DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS reabilitação para a pessoa com deficiência, são garantidos:
CAPÍTULO I I - organização, serviços, métodos, técnicas e recursos para
DO DIREITO À VIDA atender às características de cada pessoa com deficiência;
II - acessibilidade em todos os ambientes e serviços;
Art. 10. Compete ao poder público garantir a dignidade da III - tecnologia assistiva, tecnologia de reabilitação,
pessoa com deficiência ao longo de toda a vida. materiais e equipamentos adequados e apoio técnico
Parágrafo único. Em situações de risco, emergência ou profissional, de acordo com as especificidades de cada pessoa
estado de calamidade pública, a pessoa com deficiência será com deficiência;
considerada vulnerável, devendo o poder público adotar IV - capacitação continuada de todos os profissionais que
medidas para sua proteção e segurança. participem dos programas e serviços.

Art. 11. A pessoa com deficiência não poderá ser obrigada Art. 17. Os serviços do SUS e do Suas deverão promover
a se submeter a intervenção clínica ou cirúrgica, a tratamento ações articuladas para garantir à pessoa com deficiência e sua
ou a institucionalização forçada. família a aquisição de informações, orientações e formas de
Parágrafo único. O consentimento da pessoa com acesso às políticas públicas disponíveis, com a finalidade de
deficiência em situação de curatela poderá ser suprido, na propiciar sua plena participação social.
forma da lei. Parágrafo único. Os serviços de que trata o caput deste
artigo podem fornecer informações e orientações nas áreas de
Art. 12. O consentimento prévio, livre e esclarecido da saúde, de educação, de cultura, de esporte, de lazer, de
pessoa com deficiência é indispensável para a realização de transporte, de previdência social, de assistência social, de
tratamento, procedimento, hospitalização e pesquisa habitação, de trabalho, de empreendedorismo, de acesso ao
científica. crédito, de promoção, proteção e defesa de direitos e nas
§ 1º Em caso de pessoa com deficiência em situação de demais áreas que possibilitem à pessoa com deficiência
curatela, deve ser assegurada sua participação, no maior grau exercer sua cidadania.
possível, para a obtenção de consentimento.
§ 2º A pesquisa científica envolvendo pessoa com CAPÍTULO III
deficiência em situação de tutela ou de curatela deve ser DO DIREITO À SAÚDE
realizada, em caráter excepcional, apenas quando houver
indícios de benefício direto para sua saúde ou para a saúde de Art. 18. É assegurada atenção integral à saúde da pessoa
outras pessoas com deficiência e desde que não haja outra com deficiência em todos os níveis de complexidade, por
opção de pesquisa de eficácia comparável com participantes intermédio do SUS, garantido acesso universal e igualitário.
não tutelados ou curatelados. § 1º É assegurada a participação da pessoa com deficiência
na elaboração das políticas de saúde a ela destinadas.
Art. 13. A pessoa com deficiência somente será atendida § 2º É assegurado atendimento segundo normas éticas e
sem seu consentimento prévio, livre e esclarecido em casos de técnicas, que regulamentarão a atuação dos profissionais de
risco de morte e de emergência em saúde, resguardado seu saúde e contemplarão aspectos relacionados aos direitos e às
superior interesse e adotadas as salvaguardas legais cabíveis. especificidades da pessoa com deficiência, incluindo temas
como sua dignidade e autonomia.
CAPÍTULO II § 3º Aos profissionais que prestam assistência à pessoa
DO DIREITO À HABILITAÇÃO E À REABILITAÇÃO com deficiência, especialmente em serviços de habilitação e de
reabilitação, deve ser garantida capacitação inicial e
Art. 14. O processo de habilitação e de reabilitação é um continuada.
direito da pessoa com deficiência. § 4º As ações e os serviços de saúde pública destinados à
Parágrafo único. O processo de habilitação e de pessoa com deficiência devem assegurar:
reabilitação tem por objetivo o desenvolvimento de I - diagnóstico e intervenção precoces, realizados por
potencialidades, talentos, habilidades e aptidões físicas, equipe multidisciplinar;
cognitivas, sensoriais, psicossociais, atitudinais, profissionais II - serviços de habilitação e de reabilitação sempre que
e artísticas que contribuam para a conquista da autonomia da necessários, para qualquer tipo de deficiência, inclusive para a
pessoa com deficiência e de sua participação social em manutenção da melhor condição de saúde e qualidade de vida;
igualdade de condições e oportunidades com as demais III - atendimento domiciliar multidisciplinar, tratamento
pessoas. ambulatorial e internação;
IV - campanhas de vacinação;
Art. 15. O processo mencionado no art. 14 desta Lei baseia- V - atendimento psicológico, inclusive para seus familiares
se em avaliação multidisciplinar das necessidades, habilidades e atendentes pessoais;
e potencialidades de cada pessoa, observadas as seguintes VI - respeito à especificidade, à identidade de gênero e à
diretrizes: orientação sexual da pessoa com deficiência;
I - diagnóstico e intervenção precoces; VII - atenção sexual e reprodutiva, incluindo o direito à
II - adoção de medidas para compensar perda ou limitação fertilização assistida;
funcional, buscando o desenvolvimento de aptidões; VIII - informação adequada e acessível à pessoa com
III - atuação permanente, integrada e articulada de deficiência e a seus familiares sobre sua condição de saúde;
políticas públicas que possibilitem a plena participação social IX - serviços projetados para prevenir a ocorrência e o
da pessoa com deficiência; desenvolvimento de deficiências e agravos adicionais;
IV - oferta de rede de serviços articulados, com atuação X - promoção de estratégias de capacitação permanente
intersetorial, nos diferentes níveis de complexidade, para das equipes que atuam no SUS, em todos os níveis de atenção,
atender às necessidades específicas da pessoa com deficiência; no atendimento à pessoa com deficiência, bem como
V - prestação de serviços próximo ao domicílio da pessoa orientação a seus atendentes pessoais;
com deficiência, inclusive na zona rural, respeitadas a XI - oferta de órteses, próteses, meios auxiliares de
organização das Redes de Atenção à Saúde (RAS) nos locomoção, medicamentos, insumos e fórmulas nutricionais,
territórios locais e as normas do Sistema Único de Saúde (SUS). conforme as normas vigentes do Ministério da Saúde.

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§ 5º As diretrizes deste artigo aplicam-se também às omissão, praticada em local público ou privado, que lhe cause
instituições privadas que participem de forma complementar morte ou dano ou sofrimento físico ou psicológico.
do SUS ou que recebam recursos públicos para sua
manutenção. CAPÍTULO IV
DO DIREITO À EDUCAÇÃO
Art. 19. Compete ao SUS desenvolver ações destinadas à
prevenção de deficiências por causas evitáveis, inclusive por Art. 27. A educação constitui direito da pessoa com
meio de: deficiência, assegurados sistema educacional inclusivo em
I - acompanhamento da gravidez, do parto e do puerpério, todos os níveis e aprendizado ao longo de toda a vida, de forma
com garantia de parto humanizado e seguro; a alcançar o máximo desenvolvimento possível de seus
II - promoção de práticas alimentares adequadas e talentos e habilidades físicas, sensoriais, intelectuais e sociais,
saudáveis, vigilância alimentar e nutricional, prevenção e segundo suas características, interesses e necessidades de
cuidado integral dos agravos relacionados à alimentação e aprendizagem.
nutrição da mulher e da criança; Parágrafo único. É dever do Estado, da família, da
III - aprimoramento e expansão dos programas de comunidade escolar e da sociedade assegurar educação de
imunização e de triagem neonatal; qualidade à pessoa com deficiência, colocando-a a salvo de
IV - identificação e controle da gestante de alto risco. toda forma de violência, negligência e discriminação.

Art. 20. As operadoras de planos e seguros privados de Art. 28. Incumbe ao poder público assegurar, criar,
saúde são obrigadas a garantir à pessoa com deficiência, no desenvolver, implementar, incentivar, acompanhar e avaliar:
mínimo, todos os serviços e produtos ofertados aos demais I - sistema educacional inclusivo em todos os níveis e
clientes. modalidades, bem como o aprendizado ao longo de toda a vida;
Art. 21. Quando esgotados os meios de atenção à saúde da II - aprimoramento dos sistemas educacionais, visando a
pessoa com deficiência no local de residência, será prestado garantir condições de acesso, permanência, participação e
atendimento fora de domicílio, para fins de diagnóstico e de aprendizagem, por meio da oferta de serviços e de recursos de
tratamento, garantidos o transporte e a acomodação da pessoa acessibilidade que eliminem as barreiras e promovam a
com deficiência e de seu acompanhante. inclusão plena;
III - projeto pedagógico que institucionalize o atendimento
Art. 22. À pessoa com deficiência internada ou em educacional especializado, assim como os demais serviços e
observação é assegurado o direito a acompanhante ou a adaptações razoáveis, para atender às características dos
atendente pessoal, devendo o órgão ou a instituição de saúde estudantes com deficiência e garantir o seu pleno acesso ao
proporcionar condições adequadas para sua permanência em currículo em condições de igualdade, promovendo a conquista
tempo integral. e o exercício de sua autonomia;
§ 1º Na impossibilidade de permanência do acompanhante IV - oferta de educação bilíngue, em Libras como primeira
ou do atendente pessoal junto à pessoa com deficiência, cabe língua e na modalidade escrita da língua portuguesa como
ao profissional de saúde responsável pelo tratamento justificá- segunda língua, em escolas e classes bilíngues e em escolas
la por escrito. inclusivas;
§ 2º Na ocorrência da impossibilidade prevista no § 1º
deste artigo, o órgão ou a instituição de saúde deve adotar as V - adoção de medidas individualizadas e coletivas em
providências cabíveis para suprir a ausência do acompanhante ambientes que maximizem o desenvolvimento acadêmico e
ou do atendente pessoal. social dos estudantes com deficiência, favorecendo o acesso, a
permanência, a participação e a aprendizagem em instituições
Art. 23. São vedadas todas as formas de discriminação de ensino;
contra a pessoa com deficiência, inclusive por meio de VI - pesquisas voltadas para o desenvolvimento de novos
cobrança de valores diferenciados por planos e seguros métodos e técnicas pedagógicas, de materiais didáticos, de
privados de saúde, em razão de sua condição. equipamentos e de recursos de tecnologia assistiva;
VII - planejamento de estudo de caso, de elaboração de
Art. 24. É assegurado à pessoa com deficiência o acesso aos plano de atendimento educacional especializado, de
serviços de saúde, tanto públicos como privados, e às organização de recursos e serviços de acessibilidade e de
informações prestadas e recebidas, por meio de recursos de disponibilização e usabilidade pedagógica de recursos de
tecnologia assistiva e de todas as formas de comunicação tecnologia assistiva;
previstas no inciso V do art. 3º desta Lei. VIII - participação dos estudantes com deficiência e de suas
famílias nas diversas instâncias de atuação da comunidade
Art. 25. Os espaços dos serviços de saúde, tanto públicos escolar;
quanto privados, devem assegurar o acesso da pessoa com IX - adoção de medidas de apoio que favoreçam o
deficiência, em conformidade com a legislação em vigor, desenvolvimento dos aspectos linguísticos, culturais,
mediante a remoção de barreiras, por meio de projetos vocacionais e profissionais, levando-se em conta o talento, a
arquitetônico, de ambientação de interior e de comunicação criatividade, as habilidades e os interesses do estudante com
que atendam às especificidades das pessoas com deficiência deficiência;
física, sensorial, intelectual e mental. X - adoção de práticas pedagógicas inclusivas pelos
programas de formação inicial e continuada de professores e
Art. 26. Os casos de suspeita ou de confirmação de oferta de formação continuada para o atendimento
violência praticada contra a pessoa com deficiência serão educacional especializado;
objeto de notificação compulsória pelos serviços de saúde XI - formação e disponibilização de professores para o
públicos e privados à autoridade policial e ao Ministério atendimento educacional especializado, de tradutores e
Público, além dos Conselhos dos Direitos da Pessoa com intérpretes da Libras, de guias intérpretes e de profissionais
Deficiência. de apoio;
Parágrafo único. Para os efeitos desta Lei, considera-se XII - oferta de ensino da Libras, do Sistema Braille e de uso
violência contra a pessoa com deficiência qualquer ação ou de recursos de tecnologia assistiva, de forma a ampliar

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habilidades funcionais dos estudantes, promovendo sua CAPÍTULO V


autonomia e participação; DO DIREITO À MORADIA
XIII - acesso à educação superior e à educação profissional
e tecnológica em igualdade de oportunidades e condições com Art. 31. A pessoa com deficiência tem direito à moradia
as demais pessoas; digna, no seio da família natural ou substituta, com seu cônjuge
XIV - inclusão em conteúdos curriculares, em cursos de ou companheiro ou desacompanhada, ou em moradia para a
nível superior e de educação profissional técnica e tecnológica, vida independente da pessoa com deficiência, ou, ainda, em
de temas relacionados à pessoa com deficiência nos residência inclusiva.
respectivos campos de conhecimento; § 1º O poder público adotará programas e ações
XV - acesso da pessoa com deficiência, em igualdade de estratégicas para apoiar a criação e a manutenção de moradia
condições, a jogos e a atividades recreativas, esportivas e de para a vida independente da pessoa com deficiência.
lazer, no sistema escolar; § 2º A proteção integral na modalidade de residência
XVI - acessibilidade para todos os estudantes, inclusiva será prestada no âmbito do Suas à pessoa com
trabalhadores da educação e demais integrantes da deficiência em situação de dependência que não disponha de
comunidade escolar às edificações, aos ambientes e às condições de autossustentabilidade, com vínculos familiares
atividades concernentes a todas as modalidades, etapas e fragilizados ou rompidos.
níveis de ensino;
XVII - oferta de profissionais de apoio escolar; Art. 32. Nos programas habitacionais, públicos ou
XVIII - articulação intersetorial na implementação de subsidiados com recursos públicos, a pessoa com deficiência
políticas públicas. ou o seu responsável goza de prioridade na aquisição de
§ 1º Às instituições privadas, de qualquer nível e imóvel para moradia própria, observado o seguinte:
modalidade de ensino, aplica-se obrigatoriamente o disposto I - reserva de, no mínimo, 3% (três por cento) das unidades
nos incisos I, II, III, V, VII, VIII, IX, X, XI, XII, XIII, XIV, XV, XVI, habitacionais para pessoa com deficiência;
XVII e XVIII do caput deste artigo, sendo vedada a cobrança de II - (VETADO);
valores adicionais de qualquer natureza em suas III - em caso de edificação multifamiliar, garantia de
mensalidades, anuidades e matrículas no cumprimento dessas acessibilidade nas áreas de uso comum e nas unidades
determinações. habitacionais no piso térreo e de acessibilidade ou de
§ 2º Na disponibilização de tradutores e intérpretes da adaptação razoável nos demais pisos;
Libras a que se refere o inciso XI do caput deste artigo, deve-se IV - disponibilização de equipamentos urbanos
observar o seguinte: comunitários acessíveis;
I - os tradutores e intérpretes da Libras atuantes na V - elaboração de especificações técnicas no projeto que
educação básica devem, no mínimo, possuir ensino médio permitam a instalação de elevadores.
completo e certificado de proficiência na Libras; § 1º O direito à prioridade, previsto no caput deste artigo,
II - os tradutores e intérpretes da Libras, quando será reconhecido à pessoa com deficiência beneficiária apenas
direcionados à tarefa de interpretar nas salas de aula dos uma vez.
cursos de graduação e pós-graduação, devem possuir nível § 2º Nos programas habitacionais públicos, os critérios de
superior, com habilitação, prioritariamente, em Tradução e financiamento devem ser compatíveis com os rendimentos da
Interpretação em Libras. pessoa com deficiência ou de sua família.
§ 3º Caso não haja pessoa com deficiência interessada nas
Art. 29. (VETADO). unidades habitacionais reservadas por força do disposto no
inciso I do caput deste artigo, as unidades não utilizadas serão
Art. 30. Nos processos seletivos para ingresso e disponibilizadas às demais pessoas.
permanência nos cursos oferecidos pelas instituições de
ensino superior e de educação profissional e tecnológica, Art. 33. Ao poder público compete:
públicas e privadas, devem ser adotadas as seguintes medidas: I - adotar as providências necessárias para o cumprimento
I - atendimento preferencial à pessoa com deficiência nas do disposto nos arts. 31 e 32 desta Lei; e
dependências das Instituições de Ensino Superior (IES) e nos II - divulgar, para os agentes interessados e beneficiários, a
serviços; política habitacional prevista nas legislações federal,
II - disponibilização de formulário de inscrição de exames estaduais, distrital e municipais, com ênfase nos dispositivos
com campos específicos para que o candidato com deficiência sobre acessibilidade.
informe os recursos de acessibilidade e de tecnologia assistiva
necessários para sua participação; CAPÍTULO VI
III - disponibilização de provas em formatos acessíveis DO DIREITO AO TRABALHO
para atendimento às necessidades específicas do candidato Seção I
com deficiência; Disposições Gerais
IV - disponibilização de recursos de acessibilidade e de
tecnologia assistiva adequados, previamente solicitados e Art. 34. A pessoa com deficiência tem direito ao trabalho
escolhidos pelo candidato com deficiência; de sua livre escolha e aceitação, em ambiente acessível e
inclusivo, em igualdade de oportunidades com as demais
V - dilação de tempo, conforme demanda apresentada pelo pessoas.
candidato com deficiência, tanto na realização de exame para § 1º As pessoas jurídicas de direito público, privado ou de
seleção quanto nas atividades acadêmicas, mediante prévia qualquer natureza são obrigadas a garantir ambientes de
solicitação e comprovação da necessidade; trabalho acessíveis e inclusivos.
VI - adoção de critérios de avaliação das provas escritas, § 2º A pessoa com deficiência tem direito, em igualdade de
discursivas ou de redação que considerem a singularidade oportunidades com as demais pessoas, a condições justas e
linguística da pessoa com deficiência, no domínio da favoráveis de trabalho, incluindo igual remuneração por
modalidade escrita da língua portuguesa; trabalho de igual valor.
VII - tradução completa do edital e de suas retificações em § 3º É vedada restrição ao trabalho da pessoa com
Libras. deficiência e qualquer discriminação em razão de sua
condição, inclusive nas etapas de recrutamento, seleção,

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contratação, admissão, exames admissional e periódico, Seção III


permanência no emprego, ascensão profissional e reabilitação Da Inclusão da Pessoa com Deficiência no Trabalho
profissional, bem como exigência de aptidão plena.
Art. 37. Constitui modo de inclusão da pessoa com
§ 4º A pessoa com deficiência tem direito à participação e deficiência no trabalho a colocação competitiva, em igualdade
ao acesso a cursos, treinamentos, educação continuada, planos de oportunidades com as demais pessoas, nos termos da
de carreira, promoções, bonificações e incentivos profissionais legislação trabalhista e previdenciária, na qual devem ser
oferecidos pelo empregador, em igualdade de oportunidades atendidas as regras de acessibilidade, o fornecimento de
com os demais empregados. recursos de tecnologia assistiva e a adaptação razoável no
§ 5º É garantida aos trabalhadores com deficiência ambiente de trabalho.
acessibilidade em cursos de formação e de capacitação. Parágrafo único. A colocação competitiva da pessoa com
deficiência pode ocorrer por meio de trabalho com apoio,
Art. 35. É finalidade primordial das políticas públicas de observadas as seguintes diretrizes:
trabalho e emprego promover e garantir condições de acesso I - prioridade no atendimento à pessoa com deficiência
e de permanência da pessoa com deficiência no campo de com maior dificuldade de inserção no campo de trabalho;
trabalho. II - provisão de suportes individualizados que atendam a
Parágrafo único. Os programas de estímulo ao necessidades específicas da pessoa com deficiência, inclusive
empreendedorismo e ao trabalho autônomo, incluídos o a disponibilização de recursos de tecnologia assistiva, de
cooperativismo e o associativismo, devem prever a agente facilitador e de apoio no ambiente de trabalho;
participação da pessoa com deficiência e a disponibilização de III - respeito ao perfil vocacional e ao interesse da pessoa
linhas de crédito, quando necessárias. com deficiência apoiada;
IV - oferta de aconselhamento e de apoio aos
Seção II empregadores, com vistas à definição de estratégias de
Da Habilitação Profissional e Reabilitação inclusão e de superação de barreiras, inclusive atitudinais;
Profissional V - realização de avaliações periódicas;
VI - articulação intersetorial das políticas públicas;
Art. 36. O poder público deve implementar serviços e
programas completos de habilitação profissional e de VII - possibilidade de participação de organizações da
reabilitação profissional para que a pessoa com deficiência sociedade civil.
possa ingressar, continuar ou retornar ao campo do trabalho,
respeitados sua livre escolha, sua vocação e seu interesse. Art. 38. A entidade contratada para a realização de
§ 1º Equipe multidisciplinar indicará, com base em processo seletivo público ou privado para cargo, função ou
critérios previstos no § 1º do art. 2º desta Lei, programa de emprego está obrigada à observância do disposto nesta Lei e
habilitação ou de reabilitação que possibilite à pessoa com em outras normas de acessibilidade vigentes.
deficiência restaurar sua capacidade e habilidade profissional
ou adquirir novas capacidades e habilidades de trabalho. CAPÍTULO VII
§ 2º A habilitação profissional corresponde ao processo DO DIREITO À ASSISTÊNCIA SOCIAL
destinado a propiciar à pessoa com deficiência aquisição de
conhecimentos, habilidades e aptidões para exercício de Art. 39. Os serviços, os programas, os projetos e os
profissão ou de ocupação, permitindo nível suficiente de benefícios no âmbito da política pública de assistência social à
desenvolvimento profissional para ingresso no campo de pessoa com deficiência e sua família têm como objetivo a
trabalho. garantia da segurança de renda, da acolhida, da habilitação e
§ 3º Os serviços de habilitação profissional, de reabilitação da reabilitação, do desenvolvimento da autonomia e da
profissional e de educação profissional devem ser dotados de convivência familiar e comunitária, para a promoção do acesso
recursos necessários para atender a toda pessoa com a direitos e da plena participação social.
deficiência, independentemente de sua característica § 1º A assistência social à pessoa com deficiência, nos
específica, a fim de que ela possa ser capacitada para trabalho termos do caput deste artigo, deve envolver conjunto
que lhe seja adequado e ter perspectivas de obtê-lo, de articulado de serviços do âmbito da Proteção Social Básica e
conservá-lo e de nele progredir. da Proteção Social Especial, ofertados pelo Suas, para a
§ 4º Os serviços de habilitação profissional, de reabilitação garantia de seguranças fundamentais no enfrentamento de
profissional e de educação profissional deverão ser oferecidos situações de vulnerabilidade e de risco, por fragilização de
em ambientes acessíveis e inclusivos. vínculos e ameaça ou violação de direitos.
§ 5º A habilitação profissional e a reabilitação profissional § 2º Os serviços socioassistenciais destinados à pessoa
devem ocorrer articuladas com as redes públicas e privadas, com deficiência em situação de dependência deverão contar
especialmente de saúde, de ensino e de assistência social, em com cuidadores sociais para prestar-lhe cuidados básicos e
todos os níveis e modalidades, em entidades de formação instrumentais.
profissional ou diretamente com o empregador.
§ 6º A habilitação profissional pode ocorrer em empresas Art. 40. É assegurado à pessoa com deficiência que não
por meio de prévia formalização do contrato de emprego da possua meios para prover sua subsistência nem de tê-la
pessoa com deficiência, que será considerada para o provida por sua família o benefício mensal de 1 (um) salário-
cumprimento da reserva de vagas prevista em lei, desde que mínimo, nos termos da Lei no 8.742, de 7 de dezembro de
por tempo determinado e concomitante com a inclusão 1993.
profissional na empresa, observado o disposto em
regulamento. CAPÍTULO VIII
§ 7º A habilitação profissional e a reabilitação profissional DO DIREITO À PREVIDÊNCIA SOCIAL
atenderão à pessoa com deficiência.
Art. 41. A pessoa com deficiência segurada do Regime Geral
de Previdência Social (RGPS) tem direito à aposentadoria nos
termos da Lei Complementar no 142, de 8 de maio de 2013.

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CAPÍTULO IX § 7º O valor do ingresso da pessoa com deficiência não


DO DIREITO À CULTURA, AO ESPORTE, AO TURISMO E poderá ser superior ao valor cobrado das demais pessoas.
AO LAZER
Art. 45. Os hotéis, pousadas e similares devem ser
Art. 42. A pessoa com deficiência tem direito à cultura, ao construídos observando-se os princípios do desenho
esporte, ao turismo e ao lazer em igualdade de oportunidades universal, além de adotar todos os meios de acessibilidade,
com as demais pessoas, sendo-lhe garantido o acesso: conforme legislação em vigor. (Vigência)
I - a bens culturais em formato acessível; § 1º Os estabelecimentos já existentes deverão
II - a programas de televisão, cinema, teatro e outras disponibilizar, pelo menos, 10% (dez por cento) de seus
atividades culturais e desportivas em formato acessível; e dormitórios acessíveis, garantida, no mínimo, 1 (uma) unidade
III - a monumentos e locais de importância cultural e a acessível.
espaços que ofereçam serviços ou eventos culturais e § 2º Os dormitórios mencionados no § 1º deste artigo
esportivos. deverão ser localizados em rotas acessíveis.
§ 1º É vedada a recusa de oferta de obra intelectual em
formato acessível à pessoa com deficiência, sob qualquer CAPÍTULO X
argumento, inclusive sob a alegação de proteção dos direitos DO DIREITO AO TRANSPORTE E À MOBILIDADE
de propriedade intelectual.
§ 2º O poder público deve adotar soluções destinadas à Art. 46. O direito ao transporte e à mobilidade da pessoa
eliminação, à redução ou à superação de barreiras para a com deficiência ou com mobilidade reduzida será assegurado
promoção do acesso a todo patrimônio cultural, observadas as em igualdade de oportunidades com as demais pessoas, por
normas de acessibilidade, ambientais e de proteção do meio de identificação e de eliminação de todos os obstáculos e
patrimônio histórico e artístico nacional. barreiras ao seu acesso.
§ 1º Para fins de acessibilidade aos serviços de transporte
Art. 43. O poder público deve promover a participação da coletivo terrestre, aquaviário e aéreo, em todas as jurisdições,
pessoa com deficiência em atividades artísticas, intelectuais, consideram-se como integrantes desses serviços os veículos,
culturais, esportivas e recreativas, com vistas ao seu os terminais, as estações, os pontos de parada, o sistema viário
protagonismo, devendo: e a prestação do serviço.
I - incentivar a provisão de instrução, de treinamento e de § 2º São sujeitas ao cumprimento das disposições desta
recursos adequados, em igualdade de oportunidades com as Lei, sempre que houver interação com a matéria nela regulada,
demais pessoas; a outorga, a concessão, a permissão, a autorização, a renovação
II - assegurar acessibilidade nos locais de eventos e nos ou a habilitação de linhas e de serviços de transporte coletivo.
serviços prestados por pessoa ou entidade envolvida na § 3º Para colocação do símbolo internacional de acesso nos
organização das atividades de que trata este artigo; e veículos, as empresas de transporte coletivo de passageiros
III - assegurar a participação da pessoa com deficiência em dependem da certificação de acessibilidade emitida pelo
jogos e atividades recreativas, esportivas, de lazer, culturais e gestor público responsável pela prestação do serviço.
artísticas, inclusive no sistema escolar, em igualdade de
condições com as demais pessoas. Art. 47. Em todas as áreas de estacionamento aberto ao
público, de uso público ou privado de uso coletivo e em vias
Art. 44. Nos teatros, cinemas, auditórios, estádios, ginásios públicas, devem ser reservadas vagas próximas aos acessos de
de esporte, locais de espetáculos e de conferências e similares, circulação de pedestres, devidamente sinalizadas, para
serão reservados espaços livres e assentos para a pessoa com veículos que transportem pessoa com deficiência com
deficiência, de acordo com a capacidade de lotação da comprometimento de mobilidade, desde que devidamente
edificação, observado o disposto em regulamento. identificados.
§ 1º Os espaços e assentos a que se refere este artigo § 1º As vagas a que se refere o caput deste artigo devem
devem ser distribuídos pelo recinto em locais diversos, de boa equivaler a 2% (dois por cento) do total, garantida, no mínimo,
visibilidade, em todos os setores, próximos aos corredores, 1 (uma) vaga devidamente sinalizada e com as especificações
devidamente sinalizados, evitando-se áreas segregadas de de desenho e traçado de acordo com as normas técnicas
público e obstrução das saídas, em conformidade com as vigentes de acessibilidade.
normas de acessibilidade. § 2º Os veículos estacionados nas vagas reservadas devem
§ 2º No caso de não haver comprovada procura pelos exibir, em local de ampla visibilidade, a credencial de
assentos reservados, esses podem, excepcionalmente, ser beneficiário, a ser confeccionada e fornecida pelos órgãos de
ocupados por pessoas sem deficiência ou que não tenham trânsito, que disciplinarão suas características e condições de
mobilidade reduzida, observado o disposto em regulamento. uso.
§ 3º Os espaços e assentos a que se refere este artigo § 3º A utilização indevida das vagas de que trata este artigo
devem situar-se em locais que garantam a acomodação de, no sujeita os infratores às sanções previstas no inciso XVII do art.
mínimo, 1 (um) acompanhante da pessoa com deficiência ou 181 da Lei no 9.503, de 23 de setembro de 1997 (Código de
com mobilidade reduzida, resguardado o direito de se Trânsito Brasileiro).
acomodar proximamente a grupo familiar e comunitário. § 4º A credencial a que se refere o § 2º deste artigo é
§ 4º Nos locais referidos no caput deste artigo, deve haver, vinculada à pessoa com deficiência que possui
obrigatoriamente, rotas de fuga e saídas de emergência comprometimento de mobilidade e é válida em todo o
acessíveis, conforme padrões das normas de acessibilidade, a território nacional.
fim de permitir a saída segura da pessoa com deficiência ou
com mobilidade reduzida, em caso de emergência. Art. 48. Os veículos de transporte coletivo terrestre,
§ 5º Todos os espaços das edificações previstas no caput aquaviário e aéreo, as instalações, as estações, os portos e os
deste artigo devem atender às normas de acessibilidade em terminais em operação no País devem ser acessíveis, de forma
vigor. a garantir o seu uso por todas as pessoas.
§ 6º As salas de cinema devem oferecer, em todas as § 1º Os veículos e as estruturas de que trata o caput deste
sessões, recursos de acessibilidade para a pessoa com artigo devem dispor de sistema de comunicação acessível que
deficiência. disponibilize informações sobre todos os pontos do itinerário.

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APOSTILAS OPÇÃO

§ 2º São asseguradas à pessoa com deficiência prioridade rural, devem atender aos princípios do desenho universal,
e segurança nos procedimentos de embarque e de tendo como referência as normas de acessibilidade.
desembarque nos veículos de transporte coletivo, de acordo § 1º O desenho universal será sempre tomado como regra
com as normas técnicas. de caráter geral.
§ 3º Para colocação do símbolo internacional de acesso nos § 2º Nas hipóteses em que comprovadamente o desenho
veículos, as empresas de transporte coletivo de passageiros universal não possa ser empreendido, deve ser adotada
dependem da certificação de acessibilidade emitida pelo adaptação razoável.
gestor público responsável pela prestação do serviço. § 3º Caberá ao poder público promover a inclusão de
conteúdos temáticos referentes ao desenho universal nas
Art. 49. As empresas de transporte de fretamento e de diretrizes curriculares da educação profissional e tecnológica
turismo, na renovação de suas frotas, são obrigadas ao e do ensino superior e na formação das carreiras de Estado.
cumprimento do disposto nos arts. 46 e 48 desta Lei. § 4º Os programas, os projetos e as linhas de pesquisa a
(Vigência) serem desenvolvidos com o apoio de organismos públicos de
auxílio à pesquisa e de agências de fomento deverão incluir
Art. 50. O poder público incentivará a fabricação de temas voltados para o desenho universal.
veículos acessíveis e a sua utilização como táxis e vans, de § 5º Desde a etapa de concepção, as políticas públicas
forma a garantir o seu uso por todas as pessoas. deverão considerar a adoção do desenho universal.

Art. 51. As frotas de empresas de táxi devem reservar 10% Art. 56. A construção, a reforma, a ampliação ou a mudança
(dez por cento) de seus veículos acessíveis à pessoa com de uso de edificações abertas ao público, de uso público ou
deficiência. privadas de uso coletivo deverão ser executadas de modo a
§ 1º É proibida a cobrança diferenciada de tarifas ou de serem acessíveis.
valores adicionais pelo serviço de táxi prestado à pessoa com § 1º As entidades de fiscalização profissional das
deficiência. atividades de Engenharia, de Arquitetura e correlatas, ao
§ 2º O poder público é autorizado a instituir incentivos anotarem a responsabilidade técnica de projetos, devem exigir
fiscais com vistas a possibilitar a acessibilidade dos veículos a a responsabilidade profissional declarada de atendimento às
que se refere o caput deste artigo. regras de acessibilidade previstas em legislação e em normas
técnicas pertinentes.
Art. 52. As locadoras de veículos são obrigadas a oferecer § 2º Para a aprovação, o licenciamento ou a emissão de
1 (um) veículo adaptado para uso de pessoa com deficiência, a certificado de projeto executivo arquitetônico, urbanístico e de
cada conjunto de 20 (vinte) veículos de sua frota. instalações e equipamentos temporários ou permanentes e
Parágrafo único. O veículo adaptado deverá ter, no mínimo, para o licenciamento ou a emissão de certificado de conclusão
câmbio automático, direção hidráulica, vidros elétricos e de obra ou de serviço, deve ser atestado o atendimento às
comandos manuais de freio e de embreagem. regras de acessibilidade.
§ 3º O poder público, após certificar a acessibilidade de
TÍTULO III edificação ou de serviço, determinará a colocação, em espaços
DA ACESSIBILIDADE ou em locais de ampla visibilidade, do símbolo internacional
CAPÍTULO I de acesso, na forma prevista em legislação e em normas
DISPOSIÇÕES GERAIS técnicas correlatas.

Art. 53. A acessibilidade é direito que garante à pessoa com Art. 57. As edificações públicas e privadas de uso coletivo
deficiência ou com mobilidade reduzida viver de forma já existentes devem garantir acessibilidade à pessoa com
independente e exercer seus direitos de cidadania e de deficiência em todas as suas dependências e serviços, tendo
participação social. como referência as normas de acessibilidade vigentes.

Art. 54. São sujeitas ao cumprimento das disposições desta Art. 58. O projeto e a construção de edificação de uso
Lei e de outras normas relativas à acessibilidade, sempre que privado multifamiliar devem atender aos preceitos de
houver interação com a matéria nela regulada: acessibilidade, na forma regulamentar.
I - a aprovação de projeto arquitetônico e urbanístico ou de § 1º As construtoras e incorporadoras responsáveis pelo
comunicação e informação, a fabricação de veículos de projeto e pela construção das edificações a que se refere o
transporte coletivo, a prestação do respectivo serviço e a caput deste artigo devem assegurar percentual mínimo de
execução de qualquer tipo de obra, quando tenham destinação suas unidades internamente acessíveis, na forma
pública ou coletiva; regulamentar.
II - a outorga ou a renovação de concessão, permissão, § 2º É vedada a cobrança de valores adicionais para a
autorização ou habilitação de qualquer natureza; aquisição de unidades internamente acessíveis a que se refere
III - a aprovação de financiamento de projeto com o § 1º deste artigo.
utilização de recursos públicos, por meio de renúncia ou de
incentivo fiscal, contrato, convênio ou instrumento congênere; Art. 59. Em qualquer intervenção nas vias e nos espaços
e públicos, o poder público e as empresas concessionárias
IV - a concessão de aval da União para obtenção de responsáveis pela execução das obras e dos serviços devem
empréstimo e de financiamento internacionais por entes garantir, de forma segura, a fluidez do trânsito e a livre
públicos ou privados. circulação e acessibilidade das pessoas, durante e após sua
execução.
Art. 55. A concepção e a implantação de projetos que
tratem do meio físico, de transporte, de informação e Art. 60. Orientam-se, no que couber, pelas regras de
comunicação, inclusive de sistemas e tecnologias da acessibilidade previstas em legislação e em normas técnicas,
informação e comunicação, e de outros serviços, observado o disposto na Lei no 10.098, de 19 de dezembro de
equipamentos e instalações abertos ao público, de uso público 2000, no 10.257, de 10 de julho de 2001, e no 12.587, de 3 de
ou privado de uso coletivo, tanto na zona urbana como na janeiro de 2012:

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APOSTILAS OPÇÃO

I - os planos diretores municipais, os planos diretores de II - janela com intérprete da Libras;


transporte e trânsito, os planos de mobilidade urbana e os III - audiodescrição.
planos de preservação de sítios históricos elaborados ou
atualizados a partir da publicação desta Lei; Art. 68. O poder público deve adotar mecanismos de
II - os códigos de obras, os códigos de postura, as leis de incentivo à produção, à edição, à difusão, à distribuição e à
uso e ocupação do solo e as leis do sistema viário; comercialização de livros em formatos acessíveis, inclusive em
III - os estudos prévios de impacto de vizinhança; publicações da administração pública ou financiadas com
IV - as atividades de fiscalização e a imposição de sanções; recursos públicos, com vistas a garantir à pessoa com
e deficiência o direito de acesso à leitura, à informação e à
V - a legislação referente à prevenção contra incêndio e comunicação.
pânico. § 1º Nos editais de compras de livros, inclusive para o
§ 1º A concessão e a renovação de alvará de funcionamento abastecimento ou a atualização de acervos de bibliotecas em
para qualquer atividade são condicionadas à observação e à todos os níveis e modalidades de educação e de bibliotecas
certificação das regras de acessibilidade. públicas, o poder público deverá adotar cláusulas de
§ 2º A emissão de carta de habite-se ou de habilitação impedimento à participação de editoras que não ofertem sua
equivalente e sua renovação, quando esta tiver sido emitida produção também em formatos acessíveis.
anteriormente às exigências de acessibilidade, é condicionada § 2º Consideram-se formatos acessíveis os arquivos
à observação e à certificação das regras de acessibilidade. digitais que possam ser reconhecidos e acessados por
softwares leitores de telas ou outras tecnologias assistivas que
Art. 61. A formulação, a implementação e a manutenção vierem a substituí-los, permitindo leitura com voz sintetizada,
das ações de acessibilidade atenderão às seguintes premissas ampliação de caracteres, diferentes contrastes e impressão em
básicas: Braille.
§ 3º O poder público deve estimular e apoiar a adaptação e
I - eleição de prioridades, elaboração de cronograma e a produção de artigos científicos em formato acessível,
reserva de recursos para implementação das ações; e inclusive em Libras.
II - planejamento contínuo e articulado entre os setores
envolvidos. Art. 69. O poder público deve assegurar a disponibilidade
de informações corretas e claras sobre os diferentes produtos
Art. 62. É assegurado à pessoa com deficiência, mediante e serviços ofertados, por quaisquer meios de comunicação
solicitação, o recebimento de contas, boletos, recibos, extratos empregados, inclusive em ambiente virtual, contendo a
e cobranças de tributos em formato acessível. especificação correta de quantidade, qualidade,
características, composição e preço, bem como sobre os
CAPÍTULO II eventuais riscos à saúde e à segurança do consumidor com
DO ACESSO À INFORMAÇÃO E À COMUNICAÇÃO deficiência, em caso de sua utilização, aplicando-se, no que
couber, os arts. 30 a 41 da Lei no 8.078, de 11 de setembro de
Art. 63. É obrigatória a acessibilidade nos sítios da internet 1990.
mantidos por empresas com sede ou representação comercial § 1º Os canais de comercialização virtual e os anúncios
no País ou por órgãos de governo, para uso da pessoa com publicitários veiculados na imprensa escrita, na internet, no
deficiência, garantindo-lhe acesso às informações disponíveis, rádio, na televisão e nos demais veículos de comunicação
conforme as melhores práticas e diretrizes de acessibilidade abertos ou por assinatura devem disponibilizar, conforme a
adotadas internacionalmente. compatibilidade do meio, os recursos de acessibilidade de que
§ 1º Os sítios devem conter símbolo de acessibilidade em trata o art. 67 desta Lei, a expensas do fornecedor do produto
destaque. ou do serviço, sem prejuízo da observância do disposto nos
§ 2º Telecentros comunitários que receberem recursos arts. 36 a 38 da Lei no 8.078, de 11 de setembro de 1990.
públicos federais para seu custeio ou sua instalação e lan § 2º Os fornecedores devem disponibilizar, mediante
houses devem possuir equipamentos e instalações acessíveis. solicitação, exemplares de bulas, prospectos, textos ou
§ 3º Os telecentros e as lan houses de que trata o § 2º deste qualquer outro tipo de material de divulgação em formato
artigo devem garantir, no mínimo, 10% (dez por cento) de acessível.
seus computadores com recursos de acessibilidade para
pessoa com deficiência visual, sendo assegurado pelo menos 1 Art. 70. As instituições promotoras de congressos,
(um) equipamento, quando o resultado percentual for inferior seminários, oficinas e demais eventos de natureza científico-
a 1 (um). cultural devem oferecer à pessoa com deficiência, no mínimo,
os recursos de tecnologia assistiva previstos no art. 67 desta
Art. 64. A acessibilidade nos sítios da internet de que trata Lei.
o art. 63 desta Lei deve ser observada para obtenção do
financiamento de que trata o inciso III do art. 54 desta Lei. Art. 71. Os congressos, os seminários, as oficinas e os
demais eventos de natureza científico-cultural promovidos ou
Art. 65. As empresas prestadoras de serviços de financiados pelo poder público devem garantir as condições de
telecomunicações deverão garantir pleno acesso à pessoa com acessibilidade e os recursos de tecnologia assistiva.
deficiência, conforme regulamentação específica.
Art. 72. Os programas, as linhas de pesquisa e os projetos a
Art. 66. Cabe ao poder público incentivar a oferta de serem desenvolvidos com o apoio de agências de
aparelhos de telefonia fixa e móvel celular com acessibilidade financiamento e de órgãos e entidades integrantes da
que, entre outras tecnologias assistivas, possuam administração pública que atuem no auxílio à pesquisa devem
possibilidade de indicação e de ampliação sonoras de todas as contemplar temas voltados à tecnologia assistiva.
operações e funções disponíveis.
Art. 73. Caberá ao poder público, diretamente ou em
Art. 67. Os serviços de radiodifusão de sons e imagens parceria com organizações da sociedade civil, promover a
devem permitir o uso dos seguintes recursos, entre outros: capacitação de tradutores e intérpretes da Libras, de guias
I - subtitulação por meio de legenda oculta;

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intérpretes e de profissionais habilitados em Braille, II - formação de organizações para representar a pessoa


audiodescrição, estenotipia e legendagem. com deficiência em todos os níveis;
III - participação da pessoa com deficiência em
CAPÍTULO III organizações que a representem.
DA TECNOLOGIA ASSISTIVA
TÍTULO IV
Art. 74. É garantido à pessoa com deficiência acesso a DA CIÊNCIA E TECNOLOGIA
produtos, recursos, estratégias, práticas, processos, métodos e
serviços de tecnologia assistiva que maximizem sua Art. 77. O poder público deve fomentar o desenvolvimento
autonomia, mobilidade pessoal e qualidade de vida. científico, a pesquisa e a inovação e a capacitação tecnológicas,
voltados à melhoria da qualidade de vida e ao trabalho da
Art. 75. O poder público desenvolverá plano específico de pessoa com deficiência e sua inclusão social.
medidas, a ser renovado em cada período de 4 (quatro) anos, § 1º O fomento pelo poder público deve priorizar a geração
com a finalidade de: de conhecimentos e técnicas que visem à prevenção e ao
I - facilitar o acesso a crédito especializado, inclusive com tratamento de deficiências e ao desenvolvimento de
oferta de linhas de crédito subsidiadas, específicas para tecnologias assistiva e social.
aquisição de tecnologia assistiva; § 2º A acessibilidade e as tecnologias assistiva e social
II - agilizar, simplificar e priorizar procedimentos de devem ser fomentadas mediante a criação de cursos de pós-
importação de tecnologia assistiva, especialmente as questões graduação, a formação de recursos humanos e a inclusão do
atinentes a procedimentos alfandegários e sanitários; tema nas diretrizes de áreas do conhecimento.
III - criar mecanismos de fomento à pesquisa e à produção § 3º Deve ser fomentada a capacitação tecnológica de
nacional de tecnologia assistiva, inclusive por meio de instituições públicas e privadas para o desenvolvimento de
concessão de linhas de crédito subsidiado e de parcerias com tecnologias assistiva e social que sejam voltadas para melhoria
institutos de pesquisa oficiais; da funcionalidade e da participação social da pessoa com
IV - eliminar ou reduzir a tributação da cadeia produtiva e deficiência.
de importação de tecnologia assistiva; § 4º As medidas previstas neste artigo devem ser
V - facilitar e agilizar o processo de inclusão de novos reavaliadas periodicamente pelo poder público, com vistas ao
recursos de tecnologia assistiva no rol de produtos seu aperfeiçoamento.
distribuídos no âmbito do SUS e por outros órgãos
governamentais. Art. 78. Devem ser estimulados a pesquisa, o
Parágrafo único. Para fazer cumprir o disposto neste desenvolvimento, a inovação e a difusão de tecnologias
artigo, os procedimentos constantes do plano específico de voltadas para ampliar o acesso da pessoa com deficiência às
medidas deverão ser avaliados, pelo menos, a cada 2 (dois) tecnologias da informação e comunicação e às tecnologias
anos. sociais.
Parágrafo único. Serão estimulados, em especial:
CAPÍTULO IV I - o emprego de tecnologias da informação e comunicação
DO DIREITO À PARTICIPAÇÃO NA VIDA PÚBLICA E como instrumento de superação de limitações funcionais e de
POLÍTICA barreiras à comunicação, à informação, à educação e ao
entretenimento da pessoa com deficiência;
Art. 76. O poder público deve garantir à pessoa com II - a adoção de soluções e a difusão de normas que visem
deficiência todos os direitos políticos e a oportunidade de a ampliar a acessibilidade da pessoa com deficiência à
exercê-los em igualdade de condições com as demais pessoas. computação e aos sítios da internet, em especial aos serviços
§ 1º À pessoa com deficiência será assegurado o direito de de governo eletrônico.
votar e de ser votada, inclusive por meio das seguintes ações:
I - garantia de que os procedimentos, as instalações, os LIVRO II
materiais e os equipamentos para votação sejam apropriados, PARTE ESPECIAL
acessíveis a todas as pessoas e de fácil compreensão e uso, TÍTULO I
sendo vedada a instalação de seções eleitorais exclusivas para DO ACESSO À JUSTIÇA
a pessoa com deficiência; CAPÍTULO I
II - incentivo à pessoa com deficiência a candidatar-se e a DISPOSIÇÕES GERAIS
desempenhar quaisquer funções públicas em todos os níveis
de governo, inclusive por meio do uso de novas tecnologias Art. 79. O poder público deve assegurar o acesso da pessoa
assistivas, quando apropriado; com deficiência à justiça, em igualdade de oportunidades com
as demais pessoas, garantindo, sempre que requeridos,
III - garantia de que os pronunciamentos oficiais, a adaptações e recursos de tecnologia assistiva.
propaganda eleitoral obrigatória e os debates transmitidos § 1º A fim de garantir a atuação da pessoa com deficiência
pelas emissoras de televisão possuam, pelo menos, os recursos em todo o processo judicial, o poder público deve capacitar os
elencados no art. 67 desta Lei; membros e os servidores que atuam no Poder Judiciário, no
IV - garantia do livre exercício do direito ao voto e, para Ministério Público, na Defensoria Pública, nos órgãos de
tanto, sempre que necessário e a seu pedido, permissão para segurança pública e no sistema penitenciário quanto aos
que a pessoa com deficiência seja auxiliada na votação por direitos da pessoa com deficiência.
pessoa de sua escolha. § 2º Devem ser assegurados à pessoa com deficiência
§ 2º O poder público promoverá a participação da pessoa submetida a medida restritiva de liberdade todos os direitos e
com deficiência, inclusive quando institucionalizada, na garantias a que fazem jus os apenados sem deficiência,
condução das questões públicas, sem discriminação e em garantida a acessibilidade.
igualdade de oportunidades, observado o seguinte: § 3º A Defensoria Pública e o Ministério Público tomarão
I - participação em organizações não governamentais as medidas necessárias à garantia dos direitos previstos nesta
relacionadas à vida pública e à política do País e em atividades Lei.
e administração de partidos políticos;

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APOSTILAS OPÇÃO

Art. 80. Devem ser oferecidos todos os recursos de § 1º Aumenta-se a pena em 1/3 (um terço) se a vítima
tecnologia assistiva disponíveis para que a pessoa com encontrar-se sob cuidado e responsabilidade do agente.
deficiência tenha garantido o acesso à justiça, sempre que § 2º Se qualquer dos crimes previstos no caput deste artigo
figure em um dos polos da ação ou atue como testemunha, é cometido por intermédio de meios de comunicação social ou
partícipe da lide posta em juízo, advogado, defensor público, de publicação de qualquer natureza:
magistrado ou membro do Ministério Público. Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.
Parágrafo único. A pessoa com deficiência tem garantido o
acesso ao conteúdo de todos os atos processuais de seu § 3º Na hipótese do § 2º deste artigo, o juiz poderá
interesse, inclusive no exercício da advocacia. determinar, ouvido o Ministério Público ou a pedido deste,
ainda antes do inquérito policial, sob pena de desobediência:
Art. 81. Os direitos da pessoa com deficiência serão I - recolhimento ou busca e apreensão dos exemplares do
garantidos por ocasião da aplicação de sanções penais. material discriminatório;
II - interdição das respectivas mensagens ou páginas de
Art. 82. (VETADO). informação na internet.
§ 4º Na hipótese do § 2º deste artigo, constitui efeito da
Art. 83. Os serviços notariais e de registro não podem condenação, após o trânsito em julgado da decisão, a
negar ou criar óbices ou condições diferenciadas à prestação destruição do material apreendido.
de seus serviços em razão de deficiência do solicitante,
devendo reconhecer sua capacidade legal plena, garantida a Art. 89. Apropriar-se de ou desviar bens, proventos,
acessibilidade. pensão, benefícios, remuneração ou qualquer outro
Parágrafo único. O descumprimento do disposto no caput rendimento de pessoa com deficiência:
deste artigo constitui discriminação em razão de deficiência. Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
Parágrafo único. Aumenta-se a pena em 1/3 (um terço) se
CAPÍTULO II o crime é cometido:
DO RECONHECIMENTO IGUAL PERANTE A LEI I - por tutor, curador, síndico, liquidatário, inventariante,
testamenteiro ou depositário judicial; ou
Art. 84. A pessoa com deficiência tem assegurado o direito II - por aquele que se apropriou em razão de ofício ou de
ao exercício de sua capacidade legal em igualdade de profissão.
condições com as demais pessoas.
§ 1º Quando necessário, a pessoa com deficiência será Art. 90. Abandonar pessoa com deficiência em hospitais,
submetida à curatela, conforme a lei. casas de saúde, entidades de abrigamento ou congêneres:
§ 2º É facultado à pessoa com deficiência a adoção de Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos, e multa.
processo de tomada de decisão apoiada. Parágrafo único. Na mesma pena incorre quem não prover
§ 3º A definição de curatela de pessoa com deficiência as necessidades básicas de pessoa com deficiência quando
constitui medida protetiva extraordinária, proporcional às obrigado por lei ou mandado.
necessidades e às circunstâncias de cada caso, e durará o
menor tempo possível. Art. 91. Reter ou utilizar cartão magnético, qualquer meio
§ 4º Os curadores são obrigados a prestar, anualmente, eletrônico ou documento de pessoa com deficiência
contas de sua administração ao juiz, apresentando o balanço destinados ao recebimento de benefícios, proventos, pensões
do respectivo ano. ou remuneração ou à realização de operações financeiras, com
o fim de obter vantagem indevida para si ou para outrem:
Art. 85. A curatela afetará tão somente os atos relacionados Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.
aos direitos de natureza patrimonial e negocial. Parágrafo único. Aumenta-se a pena em 1/3 (um terço) se
§ 1º A definição da curatela não alcança o direito ao o crime é cometido por tutor ou curador.
próprio corpo, à sexualidade, ao matrimônio, à privacidade, à
educação, à saúde, ao trabalho e ao voto. TÍTULO III
§ 2º A curatela constitui medida extraordinária, devendo DISPOSIÇÕES FINAIS E TRANSITÓRIAS
constar da sentença as razões e motivações de sua definição,
preservados os interesses do curatelado. Art. 92. É criado o Cadastro Nacional de Inclusão da Pessoa
§ 3º No caso de pessoa em situação de institucionalização, com Deficiência (Cadastro-Inclusão), registro público
ao nomear curador, o juiz deve dar preferência a pessoa que eletrônico com a finalidade de coletar, processar, sistematizar
tenha vínculo de natureza familiar, afetiva ou comunitária com e disseminar informações georreferenciadas que permitam a
o curatelado. identificação e a caracterização socioeconômica da pessoa com
deficiência, bem como das barreiras que impedem a realização
Art. 86. Para emissão de documentos oficiais, não será de seus direitos.
exigida a situação de curatela da pessoa com deficiência. § 1º O Cadastro-Inclusão será administrado pelo Poder
Executivo federal e constituído por base de dados,
Art. 87. Em casos de relevância e urgência e a fim de instrumentos, procedimentos e sistemas eletrônicos.
proteger os interesses da pessoa com deficiência em situação § 2º Os dados constituintes do Cadastro-Inclusão serão
de curatela, será lícito ao juiz, ouvido o Ministério Público, de obtidos pela integração dos sistemas de informação e da base
oficio ou a requerimento do interessado, nomear, desde logo, de dados de todas as políticas públicas relacionadas aos
curador provisório, o qual estará sujeito, no que couber, às direitos da pessoa com deficiência, bem como por informações
disposições do Código de Processo Civil. coletadas, inclusive em censos nacionais e nas demais
pesquisas realizadas no País, de acordo com os parâmetros
TÍTULO II estabelecidos pela Convenção sobre os Direitos das Pessoas
DOS CRIMES E DAS INFRAÇÕES ADMINISTRATIVAS com Deficiência e seu Protocolo Facultativo.
§ 3º Para coleta, transmissão e sistematização de dados, é
Art. 88. Praticar, induzir ou incitar discriminação de pessoa facultada a celebração de convênios, acordos, termos de
em razão de sua deficiência: parceria ou contratos com instituições públicas e privadas,
Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa.

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observados os requisitos e procedimentos previstos em Art. 97. A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT),
legislação específica. aprovada pelo Decreto-Lei no 5.452, de 1º de maio de 1943,
§ 4º Para assegurar a confidencialidade, a privacidade e as passa a vigorar com as seguintes alterações:
liberdades fundamentais da pessoa com deficiência e os “Art. 428. ..................................................................
princípios éticos que regem a utilização de informações, ...........................................................................................
devem ser observadas as salvaguardas estabelecidas em lei. § 6º Para os fins do contrato de aprendizagem, a
§ 5º Os dados do Cadastro-Inclusão somente poderão ser comprovação da escolaridade de aprendiz com deficiência
utilizados para as seguintes finalidades: deve considerar, sobretudo, as habilidades e competências
I - formulação, gestão, monitoramento e avaliação das relacionadas com a profissionalização.
políticas públicas para a pessoa com deficiência e para ...........................................................................................
identificar as barreiras que impedem a realização de seus § 8º Para o aprendiz com deficiência com 18 (dezoito) anos
direitos; ou mais, a validade do contrato de aprendizagem pressupõe
II - realização de estudos e pesquisas. anotação na CTPS e matrícula e frequência em programa de
§ 6º As informações a que se refere este artigo devem ser aprendizagem desenvolvido sob orientação de entidade
disseminadas em formatos acessíveis. qualificada em formação técnico-profissional metódica.” (NR)
“Art. 433. ..................................................................
Art. 93. Na realização de inspeções e de auditorias pelos ...........................................................................................
órgãos de controle interno e externo, deve ser observado o I - desempenho insuficiente ou inadaptação do aprendiz,
cumprimento da legislação relativa à pessoa com deficiência e salvo para o aprendiz com deficiência quando desprovido de
das normas de acessibilidade vigentes. recursos de acessibilidade, de tecnologias assistivas e de apoio
necessário ao desempenho de suas atividades;
Art. 94. Terá direito a auxílio-inclusão, nos termos da lei, a ..................................................................................”
pessoa com deficiência moderada ou grave que:
Art. 98. A Lei no 7.853, de 24 de outubro de 1989, passa a
I - receba o benefício de prestação continuada previsto no vigorar com as seguintes alterações:
art. 20 da Lei no 8.742, de 7 de dezembro de 1993, e que passe “Art. 3º As medidas judiciais destinadas à proteção de
a exercer atividade remunerada que a enquadre como interesses coletivos, difusos, individuais homogêneos e
segurado obrigatório do RGPS; individuais indisponíveis da pessoa com deficiência poderão
II - tenha recebido, nos últimos 5 (cinco) anos, o benefício ser propostas pelo Ministério Público, pela Defensoria Pública,
de prestação continuada previsto no art. 20 da Lei no 8.742, de pela União, pelos Estados, pelos Municípios, pelo Distrito
7 de dezembro de 1993, e que exerça atividade remunerada Federal, por associação constituída há mais de 1 (um) ano, nos
que a enquadre como segurado obrigatório do RGPS. termos da lei civil, por autarquia, por empresa pública e por
fundação ou sociedade de economia mista que inclua, entre
Art. 95. É vedado exigir o comparecimento de pessoa com suas finalidades institucionais, a proteção dos interesses e a
deficiência perante os órgãos públicos quando seu promoção de direitos da pessoa com deficiência.
deslocamento, em razão de sua limitação funcional e de .................................................................................” (NR)
condições de acessibilidade, imponha-lhe ônus “Art. 8º Constitui crime punível com reclusão de 2 (dois) a
desproporcional e indevido, hipótese na qual serão 5 (cinco) anos e multa:
observados os seguintes procedimentos:
I - quando for de interesse do poder público, o agente I - recusar, cobrar valores adicionais, suspender,
promoverá o contato necessário com a pessoa com deficiência procrastinar, cancelar ou fazer cessar inscrição de aluno em
em sua residência; estabelecimento de ensino de qualquer curso ou grau, público
II - quando for de interesse da pessoa com deficiência, ela ou privado, em razão de sua deficiência;
apresentará solicitação de atendimento domiciliar ou fará II - obstar inscrição em concurso público ou acesso de
representar-se por procurador constituído para essa alguém a qualquer cargo ou emprego público, em razão de sua
finalidade. deficiência;
Parágrafo único. É assegurado à pessoa com deficiência III - negar ou obstar emprego, trabalho ou promoção à
atendimento domiciliar pela perícia médica e social do pessoa em razão de sua deficiência;
Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), pelo serviço IV - recusar, retardar ou dificultar internação ou deixar de
público de saúde ou pelo serviço privado de saúde, contratado prestar assistência médico-hospitalar e ambulatorial à pessoa
ou conveniado, que integre o SUS e pelas entidades da rede com deficiência;
socioassistencial integrantes do Suas, quando seu V - deixar de cumprir, retardar ou frustrar execução de
deslocamento, em razão de sua limitação funcional e de ordem judicial expedida na ação civil a que alude esta Lei;
condições de acessibilidade, imponha-lhe ônus VI - recusar, retardar ou omitir dados técnicos
desproporcional e indevido. indispensáveis à propositura da ação civil pública objeto desta
Lei, quando requisitados.
Art. 96. O § 6º-A do art. 135 da Lei no 4.737, de 15 de julho § 1º Se o crime for praticado contra pessoa com deficiência
de 1965 (Código Eleitoral), passa a vigorar com a seguinte menor de 18 (dezoito) anos, a pena é agravada em 1/3 (um
redação: terço).
“Art. 135. ................................................................. § 2º A pena pela adoção deliberada de critérios subjetivos
........................................................................................ para indeferimento de inscrição, de aprovação e de
§ 6º-A. Os Tribunais Regionais Eleitorais deverão, a cada cumprimento de estágio probatório em concursos públicos
eleição, expedir instruções aos Juízes Eleitorais para orientá- não exclui a responsabilidade patrimonial pessoal do
los na escolha dos locais de votação, de maneira a garantir administrador público pelos danos causados.
acessibilidade para o eleitor com deficiência ou com § 3º Incorre nas mesmas penas quem impede ou dificulta
mobilidade reduzida, inclusive em seu entorno e nos sistemas o ingresso de pessoa com deficiência em planos privados de
de transporte que lhe dão acesso. assistência à saúde, inclusive com cobrança de valores
....................................................................................” diferenciados.
§ 4º Se o crime for praticado em atendimento de urgência
e emergência, a pena é agravada em 1/3 (um terço).”

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Art. 99. O art. 20 da Lei no 8.036, de 11 de maio de 1990, solicitados, aos sindicatos, às entidades representativas dos
passa a vigorar acrescido do seguinte inciso XVIII: empregados ou aos cidadãos interessados.
“Art. 20. ...................................................................... § 3º Para a reserva de cargos será considerada somente a
.............................................................................................. contratação direta de pessoa com deficiência, excluído o
XVIII - quando o trabalhador com deficiência, por aprendiz com deficiência de que trata a Consolidação das Leis
prescrição, necessite adquirir órtese ou prótese para do Trabalho (CLT), aprovada pelo Decreto-Lei no 5.452, de 1º
promoção de acessibilidade e de inclusão social. de maio de 1943.
..................................................................................” § 4º (VETADO).”
“Art. 110-A. No ato de requerimento de benefícios
Art. 100. A Lei no 8.078, de 11 de setembro de 1990 operacionalizados pelo INSS, não será exigida apresentação de
(Código de Defesa do Consumidor), passa a vigorar com as termo de curatela de titular ou de beneficiário com deficiência,
seguintes alterações: observados os procedimentos a serem estabelecidos em
“Art. 6º ....................................................................... regulamento.”

............................................................................................ Art. 102. O art. 2º da Lei no 8.313, de 23 de dezembro de


Parágrafo único. A informação de que trata o inciso III do 1991, passa a vigorar acrescido do seguinte § 3º:
caput deste artigo deve ser acessível à pessoa com deficiência, “Art. 2º .........................................................................
observado o disposto em regulamento.” .............................................................................................
“Art. 43. ...................................................................... § 3º Os incentivos criados por esta Lei somente serão
............................................................................................ concedidos a projetos culturais que forem disponibilizados,
sempre que tecnicamente possível, também em formato
§ 6º Todas as informações de que trata o caput deste artigo acessível à pessoa com deficiência, observado o disposto em
devem ser disponibilizadas em formatos acessíveis, inclusive regulamento.”
para a pessoa com deficiência, mediante solicitação do
consumidor.” (NR) Art. 103. O art. 11 da Lei no 8.429, de 2 de junho de 1992,
passa a vigorar acrescido do seguinte inciso IX:
Art. 101. A Lei no 8.213, de 24 de julho de 1991, passa a “Art. 11. .....................................................................
vigorar com as seguintes alterações: ............................................................................................
“Art. 16. ...................................................................... IX - deixar de cumprir a exigência de requisitos de
I - o cônjuge, a companheira, o companheiro e o filho não acessibilidade previstos na legislação.”
emancipado, de qualquer condição, menor de 21 (vinte e um)
anos ou inválido ou que tenha deficiência intelectual ou mental Art. 104. A Lei no 8.666, de 21 de junho de 1993, passa a
ou deficiência grave; vigorar com as seguintes alterações:
............................................................................................ “Art. 3º .....................................................................
III - o irmão não emancipado, de qualquer condição, menor ..........................................................................................
de 21 (vinte e um) anos ou inválido ou que tenha deficiência § 2º ...........................................................................
intelectual ou mental ou deficiência grave;
.................................................................................” ..........................................................................................
“Art. 77. ..................................................................... V - produzidos ou prestados por empresas que comprovem
............................................................................................ cumprimento de reserva de cargos prevista em lei para pessoa
§ 2º .............................................................................. com deficiência ou para reabilitado da Previdência Social e que
atendam às regras de acessibilidade previstas na legislação.
............................................................................................ ...........................................................................................
§ 5º Nos processos de licitação, poderá ser estabelecida
II - para o filho, a pessoa a ele equiparada ou o irmão, de margem de preferência para:
ambos os sexos, pela emancipação ou ao completar 21 (vinte e I - produtos manufaturados e para serviços nacionais que
um) anos de idade, salvo se for inválido ou tiver deficiência atendam a normas técnicas brasileiras; e
intelectual ou mental ou deficiência grave; II - bens e serviços produzidos ou prestados por empresas
................................................................................... que comprovem cumprimento de reserva de cargos prevista
§ 4º (VETADO). em lei para pessoa com deficiência ou para reabilitado da
...................................................................................” Previdência Social e que atendam às regras de acessibilidade
“Art. 93. (VETADO): previstas na legislação.
I - (VETADO); ...................................................................................”
II - (VETADO); “Art. 66-A. As empresas enquadradas no inciso V do § 2º e
III - (VETADO); no inciso II do § 5º do art. 3º desta Lei deverão cumprir,
IV - (VETADO); durante todo o período de execução do contrato, a reserva de
V - (VETADO). cargos prevista em lei para pessoa com deficiência ou para
§ 1º A dispensa de pessoa com deficiência ou de reabilitado da Previdência Social, bem como as regras de
beneficiário reabilitado da Previdência Social ao final de acessibilidade previstas na legislação.
contrato por prazo determinado de mais de 90 (noventa) dias Parágrafo único. Cabe à administração fiscalizar o
e a dispensa imotivada em contrato por prazo indeterminado cumprimento dos requisitos de acessibilidade nos serviços e
somente poderão ocorrer após a contratação de outro nos ambientes de trabalho.”
trabalhador com deficiência ou beneficiário reabilitado da
Previdência Social. Art. 105. O art. 20 da Lei no 8.742, de 7 de dezembro de
§ 2º Ao Ministério do Trabalho e Emprego incumbe 1993, passa a vigorar com as seguintes alterações:
estabelecer a sistemática de fiscalização, bem como gerar “Art. 20. ......................................................................
dados e estatísticas sobre o total de empregados e as vagas .............................................................................................
preenchidas por pessoas com deficiência e por beneficiários § 2º Para efeito de concessão do benefício de prestação
reabilitados da Previdência Social, fornecendo-os, quando continuada, considera-se pessoa com deficiência aquela que
tem impedimento de longo prazo de natureza física, mental,

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intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais 147 desta Lei deve ser acessível, por meio de subtitulação com
barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na legenda oculta associada à tradução simultânea em Libras.
sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas. § 2º É assegurado também ao candidato com deficiência
............................................................................................ auditiva requerer, no ato de sua inscrição, os serviços de
§ 9º Os rendimentos decorrentes de estágio intérprete da Libras, para acompanhamento em aulas práticas
supervisionado e de aprendizagem não serão computados e teóricas.”
para os fins de cálculo da renda familiar per capita a que se “Art. 154. (VETADO).”
refere o § 3º deste artigo. “Art. 181. ...................................................................
............................................................................................. ..........................................................................................
§ 11. Para concessão do benefício de que trata o caput XVII - .........................................................................
deste artigo, poderão ser utilizados outros elementos Infração - grave;
probatórios da condição de miserabilidade do grupo familiar e .................................................................................”
da situação de vulnerabilidade, conforme regulamento.”
Art. 110. O inciso VI e o § 1º do art. 56 da Lei no 9.615, de
Art. 106. (VETADO). 24 de março de 1998, passam a vigorar com a seguinte
redação:
Art. 107. A Lei no 9.029, de 13 de abril de 1995, passa a “Art. 56. ....................................................................
vigorar com as seguintes alterações: ...........................................................................................
“Art. 1º É proibida a adoção de qualquer prática VI - 2,7% (dois inteiros e sete décimos por cento) da
discriminatória e limitativa para efeito de acesso à relação de arrecadação bruta dos concursos de prognósticos e loterias
trabalho, ou de sua manutenção, por motivo de sexo, origem, federais e similares cuja realização estiver sujeita a
raça, cor, estado civil, situação familiar, deficiência, autorização federal, deduzindo-se esse valor do montante
reabilitação profissional, idade, entre outros, ressalvadas, destinado aos prêmios;
nesse caso, as hipóteses de proteção à criança e ao adolescente .............................................................................................
previstas no inciso XXXIII do art. 7º da Constituição Federal.” § 1º Do total de recursos financeiros resultantes do
“Art. 3º Sem prejuízo do prescrito no art. 2º desta Lei e nos percentual de que trata o inciso VI do caput, 62,96% (sessenta
dispositivos legais que tipificam os crimes resultantes de e dois inteiros e noventa e seis centésimos por cento) serão
preconceito de etnia, raça, cor ou deficiência, as infrações ao destinados ao Comitê Olímpico Brasileiro (COB) e 37,04%
disposto nesta Lei são passíveis das seguintes cominações: (trinta e sete inteiros e quatro centésimos por cento) ao
..................................................................................” Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB), devendo ser observado,
“Art. 4º ........................................................................ em ambos os casos, o conjunto de normas aplicáveis à
I - a reintegração com ressarcimento integral de todo o celebração de convênios pela União.
período de afastamento, mediante pagamento das ..................................................................................”
remunerações devidas, corrigidas monetariamente e
acrescidas de juros legais; Art. 111. O art. 1º da Lei no 10.048, de 8 de novembro de
....................................................................................” 2000, passa a vigorar com a seguinte redação:
“Art. 1º As pessoas com deficiência, os idosos com idade
Art. 108. O art. 35 da Lei no 9.250, de 26 de dezembro de igual ou superior a 60 (sessenta) anos, as gestantes, as
1995, passa a vigorar acrescido do seguinte § 5º: lactantes, as pessoas com crianças de colo e os obesos terão
“Art. 35. ...................................................................... atendimento prioritário, nos termos desta Lei.” (NR)
.............................................................................................
§ 5º Sem prejuízo do disposto no inciso IX do parágrafo Art. 112. A Lei no 10.098, de 19 de dezembro de 2000,
único do art. 3º da Lei no 10.741, de 1º de outubro de 2003, a passa a vigorar com as seguintes alterações:
pessoa com deficiência, ou o contribuinte que tenha “Art. 2º .......................................................................
dependente nessa condição, tem preferência na restituição I - acessibilidade: possibilidade e condição de alcance para
referida no inciso III do art. 4º e na alínea “c” do inciso II do art. utilização, com segurança e autonomia, de espaços,
8º.” (NR) mobiliários, equipamentos urbanos, edificações, transportes,
informação e comunicação, inclusive seus sistemas e
Art. 109. A Lei no 9.503, de 23 de setembro de 1997 tecnologias, bem como de outros serviços e instalações
(Código de Trânsito Brasileiro), passa a vigorar com as abertos ao público, de uso público ou privados de uso coletivo,
seguintes alterações: tanto na zona urbana como na rural, por pessoa com
“Art. 2º ........................................................... deficiência ou com mobilidade reduzida;
Parágrafo único. Para os efeitos deste Código, são II - barreiras: qualquer entrave, obstáculo, atitude ou
consideradas vias terrestres as praias abertas à circulação comportamento que limite ou impeça a participação social da
pública, as vias internas pertencentes aos condomínios pessoa, bem como o gozo, a fruição e o exercício de seus
constituídos por unidades autônomas e as vias e áreas de direitos à acessibilidade, à liberdade de movimento e de
estacionamento de estabelecimentos privados de uso expressão, à comunicação, ao acesso à informação, à
coletivo.” (NR) compreensão, à circulação com segurança, entre outros,
“Art. 86-A. As vagas de estacionamento regulamentado de classificadas em:
que trata o inciso XVII do art. 181 desta Lei deverão ser a) barreiras urbanísticas: as existentes nas vias e nos
sinalizadas com as respectivas placas indicativas de espaços públicos e privados abertos ao público ou de uso
destinação e com placas informando os dados sobre a infração coletivo;
por estacionamento indevido.” b) barreiras arquitetônicas: as existentes nos edifícios
“Art. 147-A. Ao candidato com deficiência auditiva é públicos e privados;
assegurada acessibilidade de comunicação, mediante emprego c) barreiras nos transportes: as existentes nos sistemas e
de tecnologias assistivas ou de ajudas técnicas em todas as meios de transportes;
etapas do processo de habilitação. d) barreiras nas comunicações e na informação: qualquer
§ 1º O material didático audiovisual utilizado em aulas entrave, obstáculo, atitude ou comportamento que dificulte ou
teóricas dos cursos que precedem os exames previstos no art. impossibilite a expressão ou o recebimento de mensagens e de

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informações por intermédio de sistemas de comunicação e de “Art. 10-A. A instalação de qualquer mobiliário urbano em
tecnologia da informação; área de circulação comum para pedestre que ofereça risco de
III - pessoa com deficiência: aquela que tem impedimento acidente à pessoa com deficiência deverá ser indicada
de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou mediante sinalização tátil de alerta no piso, de acordo com as
sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, normas técnicas pertinentes.”
pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em “Art. 12-A. Os centros comerciais e os estabelecimentos
igualdade de condições com as demais pessoas; congêneres devem fornecer carros e cadeiras de rodas,
IV - pessoa com mobilidade reduzida: aquela que tenha, motorizados ou não, para o atendimento da pessoa com
por qualquer motivo, dificuldade de movimentação, deficiência ou com mobilidade reduzida.”
permanente ou temporária, gerando redução efetiva da
mobilidade, da flexibilidade, da coordenação motora ou da Art. 113. A Lei no 10.257, de 10 de julho de 2001 (Estatuto
percepção, incluindo idoso, gestante, lactante, pessoa com da Cidade), passa a vigorar com as seguintes alterações:
criança de colo e obeso; “Art. 3º ......................................................................
............................................................................................
V - acompanhante: aquele que acompanha a pessoa com III - promover, por iniciativa própria e em conjunto com os
deficiência, podendo ou não desempenhar as funções de Estados, o Distrito Federal e os Municípios, programas de
atendente pessoal; construção de moradias e melhoria das condições
VI - elemento de urbanização: quaisquer componentes de habitacionais, de saneamento básico, das calçadas, dos
obras de urbanização, tais como os referentes a pavimentação, passeios públicos, do mobiliário urbano e dos demais espaços
saneamento, encanamento para esgotos, distribuição de de uso público;
energia elétrica e de gás, iluminação pública, serviços de IV - instituir diretrizes para desenvolvimento urbano,
comunicação, abastecimento e distribuição de água, inclusive habitação, saneamento básico, transporte e
paisagismo e os que materializam as indicações do mobilidade urbana, que incluam regras de acessibilidade aos
planejamento urbanístico; locais de uso público;
VII - mobiliário urbano: conjunto de objetos existentes nas .................................................................................”
vias e nos espaços públicos, superpostos ou adicionados aos “Art. 41. ....................................................................
elementos de urbanização ou de edificação, de forma que sua ...........................................................................................
modificação ou seu traslado não provoque alterações § 3º As cidades de que trata o caput deste artigo devem
substanciais nesses elementos, tais como semáforos, postes de elaborar plano de rotas acessíveis, compatível com o plano
sinalização e similares, terminais e pontos de acesso coletivo diretor no qual está inserido, que disponha sobre os passeios
às telecomunicações, fontes de água, lixeiras, toldos, públicos a serem implantados ou reformados pelo poder
marquises, bancos, quiosques e quaisquer outros de natureza público, com vistas a garantir acessibilidade da pessoa com
análoga; deficiência ou com mobilidade reduzida a todas as rotas e vias
VIII - tecnologia assistiva ou ajuda técnica: produtos, existentes, inclusive as que concentrem os focos geradores de
equipamentos, dispositivos, recursos, metodologias, maior circulação de pedestres, como os órgãos públicos e os
estratégias, práticas e serviços que objetivem promover a locais de prestação de serviços públicos e privados de saúde,
funcionalidade, relacionada à atividade e à participação da educação, assistência social, esporte, cultura, correios e
pessoa com deficiência ou com mobilidade reduzida, visando à telégrafos, bancos, entre outros, sempre que possível de
sua autonomia, independência, qualidade de vida e inclusão maneira integrada com os sistemas de transporte coletivo de
social; passageiros.” (NR)
IX - comunicação: forma de interação dos cidadãos que
abrange, entre outras opções, as línguas, inclusive a Língua Art. 114. A Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código
Brasileira de Sinais (Libras), a visualização de textos, o Braille, Civil), passa a vigorar com as seguintes alterações:
o sistema de sinalização ou de comunicação tátil, os caracteres “Art. 3º São absolutamente incapazes de exercer
ampliados, os dispositivos multimídia, assim como a pessoalmente os atos da vida civil os menores de 16
linguagem simples, escrita e oral, os sistemas auditivos e os (dezesseis) anos.
meios de voz digitalizados e os modos, meios e formatos I - (Revogado);
aumentativos e alternativos de comunicação, incluindo as II - (Revogado);
tecnologias da informação e das comunicações; III - (Revogado).”
X - desenho universal: concepção de produtos, ambientes, “Art. 4º São incapazes, relativamente a certos atos ou à
programas e serviços a serem usados por todas as pessoas, maneira de os exercer:
sem necessidade de adaptação ou de projeto específico, .....................................................................................
incluindo os recursos de tecnologia assistiva.” II - os ébrios habituais e os viciados em tóxico;
“Art. 3º O planejamento e a urbanização das vias públicas, III - aqueles que, por causa transitória ou permanente, não
dos parques e dos demais espaços de uso público deverão ser puderem exprimir sua vontade;
concebidos e executados de forma a torná-los acessíveis para .............................................................................................
todas as pessoas, inclusive para aquelas com deficiência ou Parágrafo único. A capacidade dos indígenas será regulada
com mobilidade reduzida. por legislação especial.”
Parágrafo único. O passeio público, elemento obrigatório “Art. 228. .....................................................................
de urbanização e parte da via pública, normalmente segregado .............................................................................................
e em nível diferente, destina-se somente à circulação de II - (Revogado);
pedestres e, quando possível, à implantação de mobiliário III - (Revogado);
urbano e de vegetação.” .............................................................................................
“Art. 9º ........................................................................ § 1º ..............................................................................
Parágrafo único. Os semáforos para pedestres instalados § 2º A pessoa com deficiência poderá testemunhar em
em vias públicas de grande circulação, ou que deem acesso aos igualdade de condições com as demais pessoas, sendo-lhe
serviços de reabilitação, devem obrigatoriamente estar assegurados todos os recursos de tecnologia assistiva.”
equipados com mecanismo que emita sinal sonoro suave para “Art. 1.518. Até a celebração do casamento podem os pais
orientação do pedestre.” ou tutores revogar a autorização.”
“Art. 1.548. ...................................................................

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I - (Revogado); de sua confiança, para prestar-lhe apoio na tomada de decisão


....................................................................................” sobre atos da vida civil, fornecendo-lhes os elementos e
“Art. 1.550. .................................................................. informações necessários para que possa exercer sua
............................................................................................. capacidade.
§ 1º .............................................................................. § 1º Para formular pedido de tomada de decisão apoiada, a
§ 2º A pessoa com deficiência mental ou intelectual em pessoa com deficiência e os apoiadores devem apresentar
idade núbia poderá contrair matrimônio, expressando sua termo em que constem os limites do apoio a ser oferecido e os
vontade diretamente ou por meio de seu responsável ou compromissos dos apoiadores, inclusive o prazo de vigência
curador.” (NR) do acordo e o respeito à vontade, aos direitos e aos interesses
“Art. 1.557. ................................................................ da pessoa que devem apoiar.
............................................................................................ § 2º O pedido de tomada de decisão apoiada será requerido
III - a ignorância, anterior ao casamento, de defeito físico pela pessoa a ser apoiada, com indicação expressa das pessoas
irremediável que não caracterize deficiência ou de moléstia aptas a prestarem o apoio previsto no caput deste artigo.
grave e transmissível, por contágio ou por herança, capaz de § 3º Antes de se pronunciar sobre o pedido de tomada de
pôr em risco a saúde do outro cônjuge ou de sua descendência; decisão apoiada, o juiz, assistido por equipe multidisciplinar,
IV - (Revogado).” após oitiva do Ministério Público, ouvirá pessoalmente o
“Art. 1.767. .................................................................. requerente e as pessoas que lhe prestarão apoio.
I - aqueles que, por causa transitória ou permanente, não § 4º A decisão tomada por pessoa apoiada terá validade e
puderem exprimir sua vontade; efeitos sobre terceiros, sem restrições, desde que esteja
II - (Revogado); inserida nos limites do apoio acordado.
III - os ébrios habituais e os viciados em tóxico; § 5º Terceiro com quem a pessoa apoiada mantenha
IV - (Revogado); relação negocial pode solicitar que os apoiadores contra
....................................................................................” assinem o contrato ou acordo, especificando, por escrito, sua
“Art. 1.768. O processo que define os termos da curatela função em relação ao apoiado.
deve ser promovido: § 6º Em caso de negócio jurídico que possa trazer risco ou
............................................................................................. prejuízo relevante, havendo divergência de opiniões entre a
IV - pela própria pessoa.” pessoa apoiada e um dos apoiadores, deverá o juiz, ouvido o
“Art. 1.769. O Ministério Público somente promoverá o Ministério Público, decidir sobre a questão.
processo que define os termos da curatela: § 7º Se o apoiador agir com negligência, exercer pressão
I - nos casos de deficiência mental ou intelectual; indevida ou não adimplir as obrigações assumidas, poderá a
............................................................................................ pessoa apoiada ou qualquer pessoa apresentar denúncia ao
III - se, existindo, forem menores ou incapazes as pessoas Ministério Público ou ao juiz.
mencionadas no inciso II.” § 8º Se procedente a denúncia, o juiz destituirá o apoiador
“Art. 1.771. Antes de se pronunciar acerca dos termos da e nomeará, ouvida a pessoa apoiada e se for de seu interesse,
curatela, o juiz, que deverá ser assistido por equipe outra pessoa para prestação de apoio.
multidisciplinar, entrevistará pessoalmente o interditando.” § 9º A pessoa apoiada pode, a qualquer tempo, solicitar o
“Art. 1.772. O juiz determinará, segundo as potencialidades término de acordo firmado em processo de tomada de decisão
da pessoa, os limites da curatela, circunscritos às restrições apoiada.
constantes do art. 1.782, e indicará curador. § 10. O apoiador pode solicitar ao juiz a exclusao de sua
participaçao do processo de tomada de decisao apoiada, sendo
Parágrafo único. Para a escolha do curador, o juiz levará em seu desligamento condicionado à manifestaçao do juiz sobre a
conta a vontade e as preferências do interditando, a ausência matéria.
de conflito de interesses e de influência indevida, a § 11. Aplicam-se à tomada de decisao apoiada, no que
proporcionalidade e a adequação às circunstâncias da pessoa.” couber, as disposiçoes referentes à prestaçao de contas na
“Art. 1.775-A. Na nomeação de curador para a pessoa com curatela.”
deficiência, o juiz poderá estabelecer curatela compartilhada a
mais de uma pessoa.” Art. 117. O art. 1º da Lei no 11.126, de 27 de junho de 2005,
“Art. 1.777. As pessoas referidas no inciso I do art. 1.767 passa a vigorar com a seguinte redação:
receberão todo o apoio necessário para ter preservado o “Art. 1º E assegurado à pessoa com deficiencia visual
direito à convivência familiar e comunitária, sendo evitado o acompanhada de cão-guia o direito de ingressar e de
seu recolhimento em estabelecimento que os afaste desse permanecer com o animal em todos os meios de transporte e
convívio.” em estabelecimentos abertos ao público, de uso público e
Art. 115. O Título IV do Livro IV da Parte Especial da Lei no privados de uso coletivo, desde que observadas as condições
10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil), passa a vigorar impostas por esta Lei.
com a seguinte redação: .............................................................................................
§ 2º O disposto no caput deste artigo aplica-se a todas as
“TÍTULO IV modalidades e jurisdições do serviço de transporte coletivo de
Da Tutela, da Curatela e da Tomada de Decisão passageiros, inclusive em esfera internacional com origem no
Apoiada” território brasileiro.” (NR)

Art. 116. O Título IV do Livro IV da Parte Especial da Lei no Art. 118. O inciso IV do art. 46 da Lei no 11.904, de 14 de
10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil), passa a vigorar janeiro de 2009, passa a vigorar acrescido da seguinte alínea
acrescido do seguinte Capítulo III: “k”:
“Art. 46. ......................................................................
“CAPÍTULO III ...........................................................................................
Da Tomada de Decisão Apoiada IV - ..............................................................................
...........................................................................................
Art. 1.783-A. A tomada de decisão apoiada é o processo k) de acessibilidade a todas as pessoas.
pelo qual a pessoa com deficiência elege pelo menos 2 (duas) .................................................................................”
pessoas idôneas, com as quais mantenha vínculos e que gozem

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Art. 119. A Lei no 12.587, de 3 de janeiro de 2012, passa a Art. 126. Prorroga-se até 31 de dezembro de 2021 a
vigorar acrescida do seguinte art. 12-B: vigência da Lei no 8.989, de 24 de fevereiro de 1995.
“Art. 12-B. Na outorga de exploração de serviço de táxi,
reservar-se-ão 10% (dez por cento) das vagas para condutores Art. 127. Esta Lei entra em vigor após decorridos 180
com deficiência. (cento e oitenta) dias de sua publicação oficial.
§ 1º Para concorrer às vagas reservadas na forma do caput
deste artigo, o condutor com deficiência deverá observar os Brasília, 6 de julho de 2015; 194º da Independência e
seguintes requisitos quanto ao veículo utilizado: 127º da República.
I - ser de sua propriedade e por ele conduzido; e
II - estar adaptado às suas necessidades, nos termos da DILMA ROUSSEF
legislação vigente.
§ 2º No caso de não preenchimento das vagas na forma Questões
estabelecida no caput deste artigo, as remanescentes devem
ser disponibilizadas para os demais concorrentes.” 01. (Prefeitura de Campinas/SP - Procurador –
FCC/2016). Acerca das inovações introduzidas pela Lei
Art. 120. Cabe aos órgãos competentes, em cada esfera de Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da
governo, a elaboração de relatórios circunstanciados sobre o Pessoa com Deficiência, Lei n°13.146, de 06 de julho de 2015),
cumprimento dos prazos estabelecidos por força das Leis no é correto afirmar:
10.048, de 8 de novembro de 2000, e no 10.098, de 19 de (A) O pedido de tomada de decisão apoiada será formulado
dezembro de 2000, bem como o seu encaminhamento ao por pelo menos dois apoiadores idôneos, devendo constar os
Ministério Público e aos órgãos de regulação para adoção das limites do apoio a ser oferecido e o prazo de vigência do
providências cabíveis. acordo.
Parágrafo único. Os relatórios a que se refere o caput deste (B) A interdição da pessoa com deficiência não mais afeta
artigo deverão ser apresentados no prazo de 1 (um) ano a os atos relacionados aos direitos de natureza patrimonial e de
contar da entrada em vigor desta Lei. gestão negocial, que poderão ser realizados com a adoção de
processo de tomada de decisão apoiada.
Art. 121. Os direitos, os prazos e as obrigações previstos (C) A declaração de incapacidade absoluta da pessoa com
nesta Lei não excluem os já estabelecidos em outras deficiência está condicionada à prévia avaliação por equipe
legislações, inclusive em pactos, tratados, convenções e multi-profissional e interdisciplinar.
declarações internacionais aprovados e promulgados pelo (D) Para emissão de documentos oficiais, não será exigida
Congresso Nacional, e devem ser aplicados em conformidade a situação de curatela da pessoa com deficiência.
com as demais normas internas e acordos internacionais (E) O Estatuto instituiu em favor da pessoa com deficiência
vinculantes sobre a matéria. o benefício da meia entrada em espetáculos artístico-culturais
Parágrafo único. Prevalecerá a norma mais benéfica à e esportivos.
pessoa com deficiência.
02. (Prefeitura de Nova Ponte/MG - Advogado –
Art. 122. Regulamento disporá sobre a adequação do IBGP/2016). A Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com
disposto nesta Lei ao tratamento diferenciado, simplificado e Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência) busca
favorecido a ser dispensado às microempresas e às empresas assegurar e a promover, em condições de igualdade, o
de pequeno porte, previsto no § 3º do art. 1º da Lei exercício dos direitos e das liberdades fundamentais para
Complementar no 123, de 14 de dezembro de 2006. pessoa com deficiência, visando à sua inclusão social e
cidadania.
Art. 123. Revogam-se os seguintes dispositivos: Nos termos da Lei em referência, assinale a alternativa
I - o inciso II do § 2º do art. 1º da Lei no 9.008, de 21 de INCORRETA.
março de 1995; (A) Toda pessoa com deficiência tem direito à igualdade de
II - os incisos I, II e III do art. 3º da Lei no 10.406, de 10 de oportunidades com as demais pessoas e não sofrerá nenhuma
janeiro de 2002 (Código Civil); espécie de discriminação.
III - os incisos II e III do art. 228 da Lei no 10.406, de 10 de (B) É dever de todos comunicar à autoridade competente
janeiro de 2002 (Código Civil); qualquer forma de ameaça ou de violação aos direitos da
IV - o inciso I do art. 1.548 da Lei no 10.406, de 10 de pessoa com deficiência.
janeiro de 2002 (Código Civil); (C) A deficiência afeta a plena capacidade civil da pessoa,
V - o inciso IV do art. 1.557 da Lei no 10.406, de 10 de limitando o exercício do direito à família e à convivência
janeiro de 2002 (Código Civil); familiar e comunitária.
VI - os incisos II e IV do art. 1.767 da Lei no 10.406, de 10 (D) A pessoa com deficiência tem direito a receber
de janeiro de 2002 (Código Civil); atendimento prioritário, sobretudo com a finalidade de
VII - os arts. 1.776 e 1.780 da Lei no 10.406, de 10 de atendimento em todas as instituições e serviços de
janeiro de 2002 (Código Civil). atendimento ao público.

Art. 124. O § 1º do art. 2º desta Lei deverá entrar em vigor 03. (MPE/RJ - Analista do Ministério Público –
em até 2 (dois) anos, contados da entrada em vigor desta Lei. Processual – FGV/2016). Promotoria de Tutela Coletiva
especializada na Proteção à Pessoa com Deficiência instaurou
Art. 125. Devem ser observados os prazos a seguir inquérito civil público para apurar eventual desatendimento
discriminados, a partir da entrada em vigor desta Lei, para o das disposições do Estatuto da Pessoa com Deficiência, no que
cumprimento dos seguintes dispositivos: se refere ao direito ao transporte e à mobilidade da pessoa com
I - incisos I e II do § 2º do art. 28, 48 (quarenta e oito) deficiência ou com mobilidade reduzida. Identificada
meses; irregularidade cometida pelo investigado, com base na Lei nº
II - § 6º do art. 44, 48 (quarenta e oito) meses; 13.146/2015, o Promotor expediu recomendação:
III - art. 45, 24 (vinte e quatro) meses; (A) à sociedade empresária que opera frota de táxi para
IV - art. 49, 48 (quarenta e oito) meses. reservar 50% (cinquenta por cento) de seus veículos

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acessíveis à pessoa com deficiência, que terá prioridade sobre processo constante de elaboração e verificação de previsões
os demais passageiros nas filas para embarque nos táxis; que levam a construção de uma interpretação.
(B) à locadora de veículos para oferecer pelo menos 1 (um) Na leitura de um texto encontramos, inicialmente o título,
veículo adaptado para uso de pessoa com deficiência, subtítulo, negrito, itálico, esquema. Isso pode ser utilizado
independentemente da quantidade total de veículos que como recursos para prever qual será o assunto do texto, por
compõem sua frota; exemplo.
(C) à concessionária de serviço público de transporte Esses indicadores servem para ativar o conhecimento
coletivo municipal de passageiros para que assegure à pessoa prévio e serão úteis quando se precisar extrair as ideias
com deficiência prioridade e segurança nos procedimentos de centrais.
embarque e de desembarque, de acordo com as normas O que foi apresentado até agora pode dar pistas de como
técnicas; as práticas pedagógicas podem organizar situações de ensino
(D) ao shopping center, para garantir ao menos 10 (dez) e aprendizagem que tragam em si essas análises.
vagas no estacionamento, independentemente de sua
capacidade total, próximas aos acessos de circulação de A leitura na escola
pedestres, devidamente sinalizadas, para veículos que
transportem pessoa com deficiência; Um dos objetivos mais importante das escola é fazer com
(E) ao Prefeito Municipal, para reservar ao menos 2 (duas) que os alunos aprendam a ler corretamente. Essa aquisição da
vagas em cada via pública que ofereça estacionamento ao leitura é indispensável para agir com autonomia nas
público, independentemente do total de vagas na rua, para sociedades letradas.
pessoa com deficiência ou com comprometimento de Pesquisas realizadas apontam que a leitura não é utilizada
mobilidade, desde que devidamente identificada. tanto quanto deveria, isto é, não lemos o bastante.
Uma questão que se coloca é a seguinte: será que os
04. (INSS - Analista do Seguro Social - Serviço Social – professores e a escola tem clareza do que é ler?
CESPE/2016). No que se refere ao Estatuto da Pessoa com
Deficiência, julgue o seguinte item. A leitura, um objeto de conhecimento
A pessoa com deficiência tem o direito de receber
cobranças de tributos de forma acessível, independentemente No Ensino Fundamental a leitura e a escrita aparecem
de solicitação. como objetivos prioritários. Acredita-se que ao final dessa
etapa os alunos possam ler textos de forma autônoma e utilizar
( ) Certo ( ) Errado os recursos ao seu alcance para referir as dificuldades dessa
área.
05. (Questão adaptada – 2015) Consoante o que dispõe O que se vê nas escolas, no ensino inicial da leitura, são
a Lei 13.146/2015: esforços para iniciar os pequenos nos segredos do código a
(A) A pessoa com deficiência não poderá ser obrigada a se partir de diversas abordagens. Poucas vezes considera-se que
submeter a intervenção clínica ou cirúrgica, a tratamento ou a essa etapa tem início antes da escolaridade obrigatória.
institucionalização forçada. O trabalho de leitura costuma a se restringir a ler o texto e
(B) A pessoa com deficiência poderá ser obrigada a se responder algumas perguntas relacionadas a ele como: seus
submeter a intervenção clínica ou cirúrgica, a tratamento ou a personagens, localidades, o que mais gostou, o que não gostou,
institucionalização forçada. etc. isso revela que o foco está no resultado da leitura e não em
(C) A pessoa com deficiência poderá ser obrigada a se seu processo.
submeter somente a intervenção clínica. Percebe-se que as práticas escolares dão maior ênfase no
(D) A pessoa com deficiência não poderá ser obrigada a se domínio das habilidades de decodificação.
submeter a intervenção clínica ou cirúrgica, podendo ser
obrigada todavia a tratamento ou a institucionalização Capítulo 2 - Ler, compreender e aprender
forçada.
É fundamental que ao ler, o leitor se proponha a alcançar
Respostas determinados para determinar tanto as estratégias
01.: D / 02.: C / 03.: C / 04.: Errado / 05.: A. responsáveis pela compreensão, quanto o controle que, de
forma inconsciente, vai exercendo sobre ela, à medida que lê.
O controle da compreensão é um requisito essencial para ler
SOLÉ. I. Estratégias de de forma eficaz.
Leitura. Porto Alegre: Para que o leitor se envolva na atividade leitura é
necessário que esta seja significativa. É necessário que sinta
Artmed, 1998; que é capaz de ler e de compreender o texto que tem em mãos.
Só será motivadora, se o conteúdo estiver ligado aos interesses
O objetivo desse livro é ajudar educadores e profissionais do leitor e, naturalmente, se a tarefa em si corresponde a um
a promover a utilização de estratégias de leitura que permitam objetivo.
interpretar e compreender os textos escritos. Como isso pode ser transferido para a sala de aula: sabe-se
que na diversidade da classe torna-se muito difícil contentar o
Capítulo 1 - O desafio da Leitura interesse de todas as crianças com relação à leitura, portanto,
é papel do professor criar o interesse.
A leitura é um processo de interação entre o leitor e o texto Uma forma possível de propiciar esse interesse é
para satisfazer um propósito ou finalidade. Lemos para algo: possibilitar o a diferentes suportes para a leitura, que sejam e
devanear, preencher um momento de lazer, seguir uma pauta incentivem atitudes de interesse e cuidado nos leitores.
para realizar uma atividade, entre outras coisas. Ao professor cabe o cuidado de analisar o conteúdo que
Para compreender o texto leitor utiliza seus conhecimento veiculam.
de mundo e os conhecimentos do texto.
Controlar a própria leitura e regulá-la, implica ter um
objetivo para ela, assim como poder gerar hipóteses sobre o
conteúdo que se lê. Por isso a leitura pode ser considerada um

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Compreensão leitora e aprendizagem significativa infalíveis ou habilidades específicas, mas como estratégias de
compreensão leitora que envolvem a presença de objetivos,
A leitura nos aproxima da cultura. Por isso um dos planejamento das ações, e sua avaliação.
objetivos da leitura é ler para aprender. Estas estratégias são as responsáveis pela construção de
Quando um leitor compreende o que lê, está aprendendo e uma interpretação para o texto. E uma construção feita de
coloca em funcionamento uma série de estratégias cuja função forma autônoma.
é assegurar esse objetivo.
Isso nos remete a mais um objetivo fundamental da escola: Que estratégias vamos ensinar? O papel das
ensinar a usar a leitura como instrumento de aprendizagem. estratégias na leitura
Devemos questionar a crença de que, quando uma criança São aquelas que permitem ao aluno planejar sua tarefa de
aprende a ler, já pode ler de tudo e também pode ler para modo geral. Perguntas que o leitor deve se fazer para
aprender. Se a ensinarmos a ler compreensivamente e a compreender o texto:
aprender a partir da leitura, estamos fazendo com que aprenda
a aprender. 1. Compreender os propósitos implícitos e explícitos da
leitura. Que/Por que/Para que tenho que ler?
Capítulo 3 - O ensino da leitura 2. Ativar e aportar à leitura os conhecimentos prévios
relevantes para o conteúdo em questão. Que sei sobre o
Vamos apontar nesse capítulo a ideia errônea que consiste conteúdo do texto?
em considerar que a linguagem escrita requer uma instrução e 3. Dirigir a atenção ao fundamental, em detrimento do que
a linguagem oral não a requer. pode parecer mais trivial.
4. Avaliar a consistência interna do conteúdo expressado
Código, consciência metalinguística e leitura pelo texto e sua compatibilidade com o conhecimento prévio e
com o “sentido comum”. Este texto tem sentido?
Devemos considerar como fundamental a leitura realizada 5. Comprovar continuamente se a compreensão ocorre
por outros (família, amigos, pessoas) por familiarizar a criança mediante a revisão e a recapitulação periódica e a auto-
com a estrutura do texto escrito e com sua linguagem. interrogação. Qual é a ideia fundamental que extraio daqui.
Na escola ao se deparar com a linguagem escrita, a 6. Elaborar e provar inferências de diversos tipos, como
crianças, em muitos casos se encontra diante de algo interpretações, hipóteses e previsões e conclusões. Qual
conhecido, sobre o que já aprendeu várias coisas. O poderá ser o final deste romance?
fundamental é que o escrito transmite uma mensagem, uma
informação, e que a leitura capacita para ter acesso a essa Um conjunto de propostas para o ensino de estratégias de
linguagem. Na aquisição deste conhecimento, as experiências compreensão leitora pode ser considerado segundo
de leitura da criança no seio da família desempenham uma BAUMANN (1985;1990) nos processos:
função importantíssima. Para além da existência de um 1. Introdução. Explica-se aos alunos os objetivos daquilo
ambiente em que se promova o uso dos livros e da disposição que será trabalhado e a forma em que eles serão úteis para a
dos pais a adquiri-los e a ler, o fato de lerem para seus filhos leitura.
relatos e histórias e a conversa posterior em torno dos 2. Exemplo. Exemplifica-se a estratégia a ser trabalhada
mesmos parecem ter uma influência decisiva no mediante um texto.
desenvolvimento posterior destes com a leitura. 3. Ensino Direto. O professor mostra, explica e escreve a
Assim, o conhecimento que a criança tem das palavras e habilidade em questão, dirigindo a atividade.
suas características aumentará consideravelmente quando ela 4. Aplicação dirigida pelo professor. Os alunos devem por
começar a manejar o impresso. em prática a habilidade aprendida sob o controle e supervisão
O trabalho que se deve realizar com as crianças é mostrá- do professor.
las que ler é divertido, que escrever é apaixonante, que ela 5. Prática individual. O aluno deve utilizar
pode fazê-lo. Precisamos instigá-las a fazer parte desse mundo independentemente a habilidade com material novo.
maravilhoso e cheio de significados.
Tipos de texto e expectativas do leitor
O ensino inicial da leitura
Alguns autores, entre eles ADAM (1985), classificam os
Na escola, as atividades voltadas para o ensino inicial da textos da seguinte forma:
leitura devem garantir a interação significativa e funcional da 1. Narrativo: texto que pressupõe um desenvolvimento
criança com a língua escrita, como um meio de construir os cronológico e que aspira explicar alguns acontecimentos em
conhecimentos necessários para poder abordar as diferentes uma determinada ordem.
etapas de sua aprendizagem. 2. Descritivo: como o nome diz, descreve um objeto ou
Para isso é fundamental trazer para a sala de aula, como fenômeno, mediante comparações e outras técnicas.
ponto de partida, os conhecimentos que as crianças já 3. Expositivo: relaciona-se à análise e síntese de
possuem e a partir de suas ideias, ampliar suas significações. representações conceituais ou explicação de determinados
A leitura e a escrita são procedimentos e devem ser fenômenos.
trabalhados como tal em sala de aula. 4. Instrutivo-indutivo: tem como pretensão induzir a ação
Um aspecto importante que precisa ser garantido é o do leitor com palavras de ordem, por exemplo.
acesso a diferentes materiais escritos para as crianças: jornais,
revistas, gibis, livros, rimas, poemas, HQ, e gêneros diversos. Seria fundamental que essa diversidade de textos
aparecesse na escola e não um único modelo. Principalmente
Capítulo 4 - O ensino de estratégias de compreensão os que frequentam a vida cotidiana.
leitora Trata-se de organizar um ensino que caracterize cada um
destes textos, mostrando as pistas que conduzem à uma
Já tratamos no capítulo anterior que os procedimentos melhor compreensão, fazendo com que o leitor saiba que pode
precisam ser ensinados. Se estratégias de leitura são utilizar as mesmas chaves que o autor usou para formar um
procedimentos, então é preciso ensinar estratégias para a significado, e além de tudo interpretá-lo.
compreensão dos textos: não como técnicas precisas, receitas

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Capítulo 5 - Para compreender... Antes da leitura Para isso, deve-se ter a competência de diferenciar o que
constitui o essencial do texto e o que pode ser considerado
Apresentam-se aqui seis passos importantes para a como secundário.
compreensão, que devem ser seguidos antes da leitura O professor pode utilizar em sala de aula a estratégia da
propriamente dita: leitura compartilhada, onde o leitor vai assumindo
progressivamente a responsabilidade e o controle do seu
1. Ideias Gerais processo é uma forma eficaz para que os alunos compreendam
São algumas ideias que o professor tem sobre a leitura: as estratégias apontadas, bem como, a leitura independente,
- ler é muito mais do que possuir um rico cabedal de onde podem utilizar as estratégias que estão aprendendo.
estratégias e técnicas.
- ler é um instrumento de aprendizagem, informação e Não estou entendendo, o que eu faço? Os erros e as lacunas
deleite. de compreensão
- a leitura não deve ser considerada uma atividade
competitiva. Para ler eficazmente, precisamos saber quais as nossas
- quem não sente prazer pela leitura não conseguirá dificuldades. Podem ser: a compreensão de palavras, frases,
transmiti-lo aos demais. nas relações que se estabelecem entre as frases e no texto em
- a leitura para as crianças tem que ter uma finalidade que seus aspectos mais globais.
elas possam compreender e partilhar. Para isso devemos ter estratégias como o uso do dicionário
- a complexidade da leitura e a capacidade que as crianças ou a continuação da leitura que pode sanar alguma dúvida.
têm para enfrentá-la.
Capítulo 7- Depois da leitura: continuar
2. Motivação para a leitura compreendendo e aprendendo...
Toda atividade deve ter como ponto de partida a
motivação das crianças: devem ser significativas, motivantes, A compreensão do texto resulta da combinação entre os
e a criança deve se sentir capaz de fazê-la. objetivos de leitura que guiam o leitor, entre os seus
conhecimentos prévios e a informação que o autor queria
3. Objetivos da leitura transmitir mediante seus escritos.
Para que os alunos compreendam a ideia principal do
Os objetivos dos leitores, ou propósitos, com relação a um texto, o professor pode explicar aos alunos o que consiste a
texto podem ser muito variados, de acordo com as situações e “ideia principal”, recordar porque vão ler concretamente o
momentos. Vamos destacar alguns dos objetivos da leitura, texto - função real, ressaltar o tema, à medida que vão lendo
que podem e devem ser trabalhados em sala de aula: informar aos alunos o que é considerado mais importante,
- ler para obter uma informação precisa; para que, finalmente concluam se a ideia principal é um
- ler para seguir instruções; produto de uma elaboração pessoal.
- ler para obter uma informação de caráter geral;
- ler para aprender; O resumo
- ler para revisar um escrito próprio;
- ler por prazer; Utilizar essa estratégia pode ser uma boa escolha para
- ler para comunicar um texto a um auditório; estabelecer o tema de um texto, para gerar ou identificar sua
- ler para praticar a leitura em voz alta; e ideia principal e seus detalhes secundários.
- ler para verificar o que se compreendeu. É importante, também, que os alunos aprendam porque
precisam resumir, e como fazê-lo, assistindo resumos
4. Revisão e atualização do conhecimento prévio efetuados pelo seu professor, resumindo conjuntamente,
Para compreender o que se está lendo é preciso ter passando a utilizar essa estratégia de forma autônoma
conhecimentos sobre o assunto. Mas algumas coisas podem COOPER (1990), afirma que para ensinar a resumir parágrafos
ser feitas para ajudar as crianças a utilizar o conhecimento de texto é importante que o professor:
prévio que tem sobre o assunto, como dar alguma explicação 1. ensine a encontrar o tema do parágrafo e a identificar a
geral sobre o que será lido; ajudar os alunos a prestar atenção informação trivial para deixá-la de lado.
a determinados aspectos do texto, que podem ativar seu 2. ensine a deixar de lado a informação repetida.
conhecimento prévio ou apresentar um tema que não 3. ensine a determinar como se agrupam as ideias no
conheciam. parágrafo para encontrar formas de englobá-las.
4. ensine a identificar uma frase-resumo do parágrafo ou a
5. Estabelecimento de previsões sobre o texto elaborá-la.
É importante ajudar as crianças a utilizar simultaneamente
diversos indicadores: como títulos, ilustrações, o que se pode Capítulo 8- O ensino e a avaliação da leitura
conhecer sobre o autor, cenário, personagem, ilustrações, etc.
para a compreensão do texto como um todo. Considerando o que foi visto até agora em relação aos
processos de leitura e compreensão é interessante ressaltar
6. Formulação de perguntas sobre ele que:
Requerer perguntas sobre o texto é uma estratégia que - Aprender a ler significa aprender a ser ativo ante a leitura,
pode ser utilizada para ajudar na compreensão de narrações ter objetivos para ela, se auto interrogar sobre o conteúdo e
ensinando as crianças para as quais elas são lidas a centrar sua sobre a própria compreensão.
atenção nas questões fundamentais. - Aprender a ler significa também aprender a encontrar
sentido e interesse na leitura.
Capítulo 6 - Construindo a compreensão... Durante a - Aprender a ler compreensivamente é uma condição
leitura necessária para poder aprender a partir dos textos escritos.
- Aprender a ler requer que se ensine a ler, e isso é um
Para a compreensão do texto uma das capacidades papel do professor.
envolvidas é a elaboração de um resumo, que reproduz o
significado global de forma sucinta.

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- Ensinar a ler é uma questão de compartilhar. O educador autêntico é humilde e confiante, mostra o que
Compartilhar objetivos, compartilhar tarefas, compartilhar os sabe, porém está sempre atento ao novo, ensina aprendendo a
significados construídos em torno deles. valorizar a diferença, a improvisar. Aprender por sua vez, é
- Ensinar a ler exige a observação dos alunos e da própria passar da incerteza a uma certeza provisória, pois dará lugar
intervenção, como requisitos para estabelecer situações as novas descobertas, não há estagnação no sistema de
didáticas diferenciadas capazes de se adaptar à diversidade aprendizagem e descobertas. O novo deve ser questionado,
inevitável da sala de aula. indagado e não aceito sem análise prévia. Por isso é
- É função do professor promover atividades significativas importante termos educadores/ pais, com amadurecimento
de leitura, bem como refletir, planejar e avaliar a própria intelectual, emocional, ético que facilite todo o processo de
prática em torna da leitura. aprendizagem.
Para finalizar esse livro se faz necessário ressaltar que as As mudanças na educação dependem também de
mudanças na escola acontecem quando são feitas em equipe. administradores, diretores e coordenadores que atendam
Reestruturar o ensino da leitura deve passar por isso: uma todos os níveis do processo educativo.
construção coletiva e significativa para os alunos, e também Os alunos também fazem parte da mudança. Alunos
para os professores. curiosos e motivados, ajudam o professor a educar, pois
tornam-se interlocutores e parceiros do professor, visando um
ambiente culturalmente rico.
MORAN, José Manoel; A construção do conhecimento na sociedade da
MASETTO, Marcos. Novas informação.
tecnologias e mediação
Conhecer significa compreender todas as dimensões da
pedagógica. Campinas: realidade, captar e saber expressar essa totalidade de forma
Papirus, 2000. cada vez mais ampla e integral. Pensar e aprender a raciocinar,
a organizar o discurso, submetendo-o a critérios. O
desenvolvimento da habilidade de raciocínio é fundamental
Para onde estamos caminhando no ensino? para a compreensão do mundo. Além do raciocínio, a emoção
facilita ou complica o processo de conhecer.
Com as mudanças na sociedade, as formas de ensinar A informação dá-se de várias formas, segundo o nosso
também sofreram alterações, tantos os professores como os objetivo e o nosso universo cultural. A forma mais habitual é o
alunos percebem que muitas aulas convencionais estão processamento lógico-sequencial, que se expressa na
ultrapassadas. É inevitável a pergunta: Para onde mudar? linguagem falada e escrita, na qual o sentido vai sendo
Como ensinar e aprender em uma sociedade interconectada? construído aos poucos, em sequência concatenada.
Mudanças na educação é importante para mudar a A informação de forma hiper-textual, contando histórias,
sociedade. As tecnologias estão cada vez mais em evidência e relatando situações que se interlaçam, ampliam-se, nos
os investimentos visam ter cada classe conectada à Internet e mostrando novos significados importantes, inesperados. É a
cada aluno com um notebook; investe-se também em educação comunicação “linkada”. A construção do pensamento é lógica,
a distância, educação contínua, cursos de curta duração. Mas coerente, sem seguir uma única trilha, como em ondas que vão
só tecnologia não basta. “Ensinar é um desafio constante”. ramificando-se em diversas outras. Hoje, cada vez mais
processamos as informações de forma multimídia, juntando
Os desafios de ensinar e educar com qualidade. pedaços de textos de várias linguagens superpostas, que
compõem um mosaico ou tela impressionista, e que se
Preocupa-se hoje mais com ensino de qualidade do que conectam com outra tela multimídico. Uma leitura em flash,
com educação de qualidade. Ensino e educação são conceitos uma leitura rápida que cria significações provisórias, dando
diferentes. O ensino destina-se a ajudar os alunos a uma interpretação rápida para o todo, através dos interesses,
compreender áreas específicas do conhecimento (ciências, percepções, do modo de sentir e relacionar-se de cada um.
história, matemática). A construção do conhecimento, a partir do processamento
Educação é um o foco além de ensinar, é ajudar a integrar multimídia é mais livre, menos rígida, com maior abertura,
ensino e vida, conhecimento e ética, reflexão e ação, é ajudar a passa pelo sensorial, emocional e pelo racional; uma
integrar todas as dimensões da vida e encontrar o caminho organização provisória que se modifica com facilidade.
intelectual, emocional, profissional que leve o indivíduo a Convivemos com essas diferentes formas de processamento
realização e contribuição para a mudança social. da informação e dependendo da bagagem cultural, da idade e
Educar é transformar a vida em processos permanentes de dos objetivos, predominará o processamento sequencial, o
aprendizagem. É ajudar os alunos na construção de sua hipertextual ou o multimídico.
identidade, do seu caminho pessoal e profissional, mostrar um Atualmente perante a rapidez que temos que enfrentar
projeto de vida que lhes permitam encontrar seus espaços situações diferentes e cada vez mais utilizamos o processo
pessoais, tanto no social como no profissional, com o objetivo multimídico. A televisão utiliza uma narrativa com várias
de torná-los cidadãos realizados e produtivos. linguagens superpostas, atraentes, rápidas, porém, traz
Ensinar é um processo social de cada cultura com suas consequências para a capacidade de compreender temas mais
normas, tradições e leis, mas não deixa de ser pessoal, pois abstratos.
cada um desenvolve seu estilo, aprendem e ensinam. O aluno Em síntese, as formas de informação multimídia ou
precisa querer aprender e para isso, precisa de maturidade, hipertextual são mais difundidas. As crianças, os jovens
motivação e de competência adquirida. sintonizados com esta forma de informação quando lidam com
textos, fazem-no de forma mais fácil com o texto conectado
As dificuldades para mudar na educação. através de links, o hipertexto.
O livro então se torna uma opção menos atraente. Não
As mudanças na educação dependem, em primeiro lugar podemos, nos limitar em uma ou outra forma de lidar com a
de termos educadores maduros, intelectuais e informação, devemos utilizar todas em diversos momentos.
emocionalmente curiosos, que saibam motivar e dialogar. Há um tipo de conhecimento multimídico de respostas
rápidas que é importante. É preciso saber selecionar para

Conhecimentos Pedagógicos 104


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encontrar conexões, causas e efeitos, tudo é fluido e válido, Os processos de conhecimento dependem do social, do
tudo tem sua importância e em pouco tempo perde o valor ambiente onde vivemos. O conhecimento depende
anterior. significativamente de como cada um processa as suas
É uma atitude que se manifesta no navegar na Internet, ao experiências, quando crianças, principalmente no campo
deixar-se ficar diante da televisão, numa salada de dados, emocional.
informações e enfoques. As pessoas não permanecem As interferências emocionais, os roteiros aprendidos na
passivas, elas interagem de alguma forma, mas muitos não infância, levam as formas de aprender automatizadas. Um
estão preparados para receber tal variedade de dados e deles é o da passagem da experiência particular para a geral,
adotam a última moda na mídia ou na roupa, que efêmeros, são chamado generalização. Com a repetição de situações
facilmente esquecidos e/ou substituídos. semelhante a tendência do cérebro é a de acreditar que elas
Tornamo-nos cada vez mais dependentes do sensorial. É acontecerão sempre do mesmo modo, e isso torna-se algo
bom, mas muitos não partem do sensorial para voos mais geral, padrão.
ricos, mais abertos, inovadores. Muitos dados e informações Com a generalização, facilitamos a compreensão rápida,
não significam necessariamente mais e melhor conhecimento. mas podemos deturpar ou simplificar a nossa percepção do
O conhecimento torna-se produtivo se o integrarmos em uma objetivo focalizado.
visão ética pessoal, transformando-o em sabedoria, em saber Esses processos de generalização levam a mudanças,
pensar para agir melhor. distorções, a alterações na percepção da realidade.
Se nossos processos de percepção estão distorcidos,
Caminhos que facilitam a aprendizagem. podem nos levar desde pequenos a enxergar-nos de forma
negativa. Um dos eixos de mudança na educação seria um
Podemos extrair alguma informação ou experiência de processo de comunicação autêntica e aberta entre professores
tudo, de qualquer situação, leitura ou pessoa, que nos possa e alunos, comunidade, incluindo os funcionários e os pais. Só
ajudar a ampliar o nosso conhecimento, para confirmar o que aprendemos dentro de um contexto comunicacional
já sabemos ou rejeitar determinadas opiniões. participativo, interativo, vivencial. Autoritarismo não vale a
Um dos grandes desafios para o educador é ajudar a tornar pena, pois os alunos não aprendem a ser cidadãos.
a informação significativa, escolher as verdadeiramente As organizações que quiserem evoluir terão que aprender
importantes, a compreendê-las de forma cada vez mais a reeducar-se em ambientes de mais confiabilidade, de
abrangente e profunda. cooperação, de autenticidade.
Aprendemos melhor, quando vivenciamos,
experimentamos, sentimos, descobrindo novos significados, Podemos modificar a forma de ensinar.
antes despercebidos. Aprendemos mais, quando
estabelecemos pontes entre a reflexão e a ação, entre a Cada organização através de seus administradores precisa
experiência e a conceituação, entre a teoria e a prática: quando encontrar sua forma de ensinar, criando um projeto inovador.
uma completa a outra. Para encaminhar nossas dificuldades em ensinar poderiam
Aprendemos quando equilibramos e integramos o ser estas algumas pistas:
sensorial, o racional, o emocional, o ético, o pessoal e o social. - Equilibrar o planejamento institucional e o pessoal nas
Aprendemos quando interagimos com os outros e o organizações educacionais;
mundo. Aprendemos pelo interesse, pela necessidade. - Integrar em planejamento flexível com criatividade
Aprendemos quando percebemos o objetivo, a utilidade de sinérgica;
algo, que nos traz vantagens perceptíveis. - Realizar um equilíbrio entre flexibilidade, que está ligada
Aprendemos pela criação de hábitos, pela automatização ao conceito de liberdade, criatividade e a organização;
de processos, pela repetição. Aprendemos mais, quando - Avançar os programas previstos às necessidades dos
conseguimos juntar todos os fatores: temos interesse, alunos, criando conexões com o cotidiano, com o inesperado;
motivação clara, desenvolvemos hábitos que facilitam o - Equilibrar: planejamento e criatividade;
processo de aprendizagem e sentimos prazer no que - Aceitar os imprevistos, gerenciar o que podemos prever
estudamos. e a incorporar o novo;
Aprendemos realmente quando conseguimos transformar - Criatividade que envolve sinergia, valorizando as
nossa vida em um processo constante, paciente, confiante e contribuições de cada um.
afetuoso de aprendizagem. Ensinar e aprender exigem hoje muito mais flexibilidade,
espaço-temporal, pessoal e de grupo, menos conteúdos fixo,
Conhecimento pela comunicação e pela interiorização. mais pesquisas.
Uma das dificuldades da aprendizagem é conciliar a
A informação é o primeiro passo para conhecer. Conhecer extensão das informações, a variedade das fontes de acesso,
é relacionar, integrar, contextualizar, fazer nosso o que vem de com o aprofundamento da sua compreensão.
fora. Conhecer a aprofundar os níveis de descoberta, é O papel principal do professor é ensinar o aluno a
conseguir chegar ao nível de sabedoria, da integração total. interpretar os dados, a relacioná-los, a contextualizá-los.
O conhecimento se dá no processo rico de interação Aprender depende também do aluno de que ele esteja maduro
externo e interno. Conseguimos compreender melhor o para entender a informação.
mundo e os outros, equilibrando os processos de interação e É importante não começar pelos problemas, erros, pelo
de interiorização. negativo, pelos limites, mas sim pela educação positiva, pelo
Pela interação, entramos em contato com tudo o que nos incentivo, pela esperança.
rodeia, captamos as mensagens, mas a compreensão só se
completa com a interiorização, com o processo de síntese O docente como orientador/ mediador da
pessoal de reelaboração de tudo que captamos pela interação. aprendizagem
Os meios de comunicação puxam-nos em direção ao
externo. Hoje há mais pessoas voltadas para fora do que para O professor é um pesquisador em serviço. Aprende com a
dentro de si, mais repetidoras do que criadoras; se pesquisa com a prática e ensina a partir do que aprende. O seu
equilibrarmos o interagir e o interiorizar conseguiremos papel é fundamentalmente o de um orientador/ mediador:
avançar mais e compreender melhor o que nos rodeia, o que
somos.

Conhecimentos Pedagógicos 105


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- Orientador/mediador/intelectual: informa, ajuda a Integrar a televisão e o vídeo na educação escolar


escolher as informações mais importantes, fazendo os alunos
compreendê-las e adaptá-las aos seus conceitos pessoais. Vídeo para o aluno significa descanso e não aula. Essa
Ajuda a ampliar a compreensão de tudo. expectativa deve ser aproveitada para atrair o aluno. A
- Orientador/ mediador/ emocional: motiva, incentiva, televisão e o vídeo partem do concreto, do visível, daquilo que
estimula. toca todos os sentidos.
- Orientador/ mediador gerencial e comunicacional: Televisão e vídeo exploram também o ver, o visualizar, ter
organizam grupos, atividades de pesquisas, ritmos, interações. diante de nós as pessoas, os cenários, cores, relações espaciais,
Organiza o processo de avaliação, é a ponte principal entre as imagens estáticas e dinâmicas, câmaras fixas ou em
instituições, os alunos e os demais grupos envolvidos da movimento, personagens quietos ou não.
comunidade. Ajuda a desenvolver todas as formas de A fala aproxima o vídeo do cotidiano, de como as pessoas
expressão, de interação de sinergia, de troca de linguagem, se comunicam, enquanto o narrador costura as cenas, dentro
conteúdos e tecnologias. da norma culta, orientando a significação do conjunto. A
- Orientador ético: ensina a assumir, vivenciar valores música e os efeitos sonoros servem como evocação de
construtivos, individuais e socialmente vai organizando situações passadas próximas às personagens do presente e
continuamente seu quadro referencial de valores, ideias, cria expectativas.
atitudes, tendo alguns eixos fundamentais comuns como a A televisão e o vídeo são sensoriais, visuais as linguagens
liberdade, a cooperação, a integração pessoal. se interagem não são separadas. As linguagens da T.V. e do
Alguns princípios metodológicos norteadores: vídeo respondem à sensibilidade dos jovens e de adultos.
- Integrar tecnologia, metodologias e atividades. Dirigem-se mais à afetividade do que a razão. O jovem vê para
- Integrar textos escritos, comunicação oral, hipertextual, compreender a linguagem audiovisual, desenvolve atitudes
multimídia. perceptivas como a imaginação enquanto a linguagem escrita
- Aproximação da mídia e das atividades para que haja um desenvolve mais a organização, a abstração e a análise lógica.
fácil trânsito de um meio ao outro.
- Trazer o universo do audiovisual para dentro da escola. Propostas de utilização da televisão e do vídeo na
- Variação no modo de dar aulas e no processo de avaliação. educação escolar
- Planejar e improvisar, ajustar-se às circunstâncias, ao - Começar com os vídeos mais simples, próximos a
novo. sensibilidade dos alunos e depois partir para exibição de
- Valorizar a presença e a comunicação virtual, vídeos mais elaborados.
- Equilibrar a presença e a distância. - Vídeo como sensibilização: Um bom vídeo é interessante
para introduzir um novo assunto, despertando e motivando
Integrar as tecnologias de forma inovadora novos temas.
- Para a sala de aula realidades distantes do aluno.
É importante na aprendizagem integrar todas as - Vídeo como simulação: É uma ilustração mais sofisticada,
tecnologias: as telemáticas, as audiovisuais, lúdicas, as pois pode simular experiências de química que seriam
textuais, musicais. perigosas em laboratórios. Pode mostrar o crescimento de
Passamos muito rapidamente do livro, para a televisão e o uma planta, da semente até a maturidade.
vídeo e destes para a Internet sem saber explorar todas as - Vídeo como conteúdo de ensino: Mostra o assunto de
possibilidades de cada meio. O docente deve encontrar a forma forma direta orientando e interpretando um tema de foram
mais adequada de integrar as várias tecnologias e os indireta, permitindo abordagens diversas deste tema.
procedimentos metodológicos. - Vídeo como produção: Registro de eventos, estudo do
meio, experiências, entrevistas, depoimentos.
Integrar os meios de comunicação na escola - Vídeo como intervenção: Interferir, modificar um
determinado programa, acrescentar uma nova trilha sonora
Antes de chegar à escola a criança passa por processos de ou introduzir novas cenas com novos significados.
educação importantes como o familiar e o da mídia eletrônica - Vídeos como expressão: Como nova forma de
e neste ambiente vai desenvolvendo suas conexões cerebrais, comunicação adaptada à sensibilidade das crianças e dos
roteiros mentais, emocionais e linguagem. jovens. Produzem programas informativos feitos pelos
A criança aprende a informar-se, a conhecer os outros, o próprios alunos.
mundo e a si mesma. A relação com a mídia eletrônica é - Vídeo integrando o processo de avaliação: dos alunos e do
prazerosa e sedutora, mesmo durante o período escolar, a professor.
mídia mostra o mundo de outra forma, mais fácil, agradável. A - Televisão/vídeo – espelho: Os alunos veem-se nas telas,
mídia continua educando como contraposto à educação discutindo seus gestos, cacoetes, para análise do grupo e dos
convencional, educa enquanto entretém. papéis de cada um. Incentiva os mais retraídos e corrige os que
Os meios de comunicação desenvolvem formas falam muito.
sofisticadas de comunicação e opera imediatamente com o
sensível, o concreto, a imagem em movimento. O olho nunca Algumas dinâmicas de análise da televisão e do vídeo
consegue captar toda a informação, então o essencial, o
suficiente é escolhido para dar sentido ao caos e organizar a Análise em conjunto: O professor exibe as cenas principais
multiplicidade de sensações e dados. e as comenta junto com os alunos. O professor não deve ser o
A organização da narrativa televisiva baseia-se numa primeiro a opinar e sim posicionar-se depois dos alunos.
lógica mais intuitiva, mais conectiva, portanto não é uma lógica Análise globalizante: Depois da exibição do vídeo abordar
convencional, de causa-efeito. os alunos a respeito das seguintes questões: 1- aspectos
A televisão estabelece uma conexão aparentemente lógica positivos do vídeo. 2-aspectos negativos. 3- ideias principais
entre mostrar e demonstrar: “se uma imagem impressiona que foram abordadas. 4- o que eles mudariam no vídeo.
então é verdadeira”. Também é muito comum a lógica de Discutir essas questões em grupos, que são depois relatadas
generalizar a partir de uma situação concreta, do individual, por escrito, o professor faz a síntese final.
tendemos ao geral. Ex: dois escândalos na família real inglesa Leitura concentrada: Escolher depois uma ou duas cenas
e se tira conclusões sobre a ética da realeza como um todo. marcantes e revê-las mais vezes. Observar o que chamou a
Uma situação isolada converte-se em uma situação padrão. atenção.

Conhecimentos Pedagógicos 106


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Análise funcional: Antes da exibição do vídeo escolar, Um modo interessante de cooperativismo é criar uma
alguns alunos para desenvolverem algumas funções, anotar página dos alunos, um espaço virtual de referência, onde vai
palavras chaves, imagens mais significativas, mudanças sendo colocado o que acontece de mais importante no curso.
acontecidas no vídeo, tudo será anotado no quadro e Pode ser um site provisório ou um conjunto de sites
posteriormente comentado pelo professor. individuais.
Análise da linguagem: Reconstrução da história, como é É importante combinar o que podemos fazer melhor em
contada a história, que ideias foram passadas, quais as sala de aula, conhecer-nos motivar-nos, reencontrar-nos com
mensagens não questionadas, aceitas sem discussão, como o que podemos fazer a distância, comunicar-nos, quando
foram apresentados a justiça, o trabalho, o amor, o mundo e necessário e acessar os materiais construídos em conjunto na
como cada participante reagiu. homepage.
Completar o vídeo: Pedir aos alunos apara modificarem O espaço de trocas de conhecimento transita da sala de
alguma parte do vídeo, criar um novo material, adaptado à sua aula para o virtual.
realidade.
Vídeo produção: Fazer uma narrativa sobre um Preparar os professores para a utilização do
determinado assunto. Pesquisa em jornais, revistas, computador e da Internet
entrevistar pessoas e exibir em classe.
Vídeo espelho: A câmara registra pessoas ou grupos e Tanto o professor como o aluno têm que estar atentos às
depois se observa e comenta-se o resultado. novas tecnologias, principalmente à Internet. Para tanto é
Vídeo dramatização: Usar a representação teatral, pelos necessário que haja salas de aula conectadas e adequadas para
alunos, expressar o que o vídeo mostrou. pesquisa, laboratórios bem equipados. Facilitar o acesso de
Comparar versões: Observar os pontos de convergência e alunos e da escola aos meios de informática, diminuir a
divergências do vídeo. Ótimo para aulas de literatura. distância que separa os que podem e os que não podem pagar
Comparar o vídeo e a obra literária original. pelo acesso à informação.
Ajudar na familiarização com o computador e no navegar
O computador e a Internet na Internet, na utilização pedagógica da Internet e dos
programas multimídia. Ensiná-los a fazer pesquisa
O computador permite cada vez mais pesquisar, simular interagindo com o mundo.
situações, testar conhecimentos específicos, descobrir novos
conceitos, lugar e ideias. Com a Internet pode-se modificar Questões que a Internet coloca aos professores
mais facilmente a forma de ensinar e aprender. Procurar
estabelecer uma relação de empatia com os alunos, Utilizar a Internet para ensinar exige muita atenção dos
procurando conhecer seus interesses, formação e perspectivas professores. Não se deter diante de tantas possibilidades de
para o futuro. É importante para o sucesso pedagógico a forma informação, saber selecionar as mais importantes. Uma página
de relacionamento professor/aluno. bem apresentada, atraente dever ser imediatamente
Descobrir as competências dos alunos motivá-los para selecionada e pesquisada. A Internet facilita a motivação dos
aprender, para participar de aula-pesquisa e para a tecnologia alunos, pela novidade e pelas possibilidades inesgotáveis de
que será usada entre elas a Internet. pesquisa que oferece.
O professor pode criar uma página pessoal na Internet, um A Internet ajuda a desenvolver a intuição, a flexibilidade
lugar de referência para cada matéria e para cada aluno. mental e a adaptação a ritmos diferentes: A intuição porque as
Orientar os alunos para que estes criem suas páginas e informações vão sendo descobertas por acerto e erro.
participem de pesquisas em grupo, discutam assuntos em Desenvolve a flexibilidade, porque as maiores parte das
chats. O papel do professor amplia-se – do informador sequências são imprevisíveis, abertas.
transforma-se em orientador de aprendizagem, em Na Internet também desenvolvemos novas formas de
gerenciador de pesquisa e comunicação dentro e fora da sala comunicação principalmente escrita. Escrevemos de forma
de aula. mais aberta, hipertextual, multilinguística; todos se esforçam
para escrever bem. A comunicação afetiva, a criação de amigos
Lista eletrônica/ Fórum em diferentes países é um outro grande resultado, individual e
Incentivar os alunos a aprender navegar na Internet e que coletivo, dos projetos.
todos tenham seu endereço eletrônico (e-mail), e com isso
criar uma lista interna de cada turma que irá ajudar a criar Alguns problemas no uso da Internet na educação
uma conexão virtual entre eles.
Aulas – pesquisa Os dados e informações são muitos, e, portanto gera uma
Transformar uma parte das aulas em processos contínuo certa confusão entre informação e conhecimento.
de informação, comunicação e pesquisa, equilibrando o Na informação os dados organizam-se dentro de uma
conhecimento individual e o grupal, entre o professor- lógica, de uma estrutura determinada.
coordenador- facilitador e os alunos, participantes ativos. Conhecimento é integrar a informação no nosso
Trabalhar os temas do curso coletivamente, mas referencial tornando-a significativa para nós. Alguns alunos
pesquisando mais individualmente ou em pequenos grupos os estão acostumados a receber tudo pronto do professor e,
temas secundários. Os grandes temas são coordenados pelo portanto não aceitam esta mudança na forma de ensinar.
professor e pesquisados pelos alunos. Assim o papel do aluno Também há os professores que não aceitam o ensino
não é de executar atividades, mas o de co-pesquisador multimídia, porque parece um modo de ficar brincando de
responsável pelo resultado final do trabalho. aula....
O professor coordena a escolha de temas ou questões mais Na navegação muitos alunos se perdem pelas inúmeras
específicas, procura ajudar a ampliar o universo alcançado possibilidades de navegação e acabam se dispersando. Deve-
pelos alunos, a problematizar, a descobrir novos significados se orientá-los a selecionar, comparar, sintetizar o que é mais
das informações. relevante, possibilitando um aprofundamento maior e um
Construção cooperativa conhecimento significativo.
A Internet favorece a construção cooperativa, ou seja, o
trabalho conjunto de professor e alunos.

Conhecimentos Pedagógicos 107


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Mudanças no ensino presencial com tecnologia Necessitamos de pessoas livres nas empresas e nas escolas
que modifiquem as estruturas arcaicas e autoritárias
Muitos alunos já começam a utilizar o notebook para existentes. Se somos pessoas abertas iremos utilizar as
pesquisa, para solução de problemas. O professor também tecnologias para comunicar e interagir mais e melhor.
acompanha esta mudança motivando os alunos através dos Se formos pessoas fechadas, desconfiadas, as tecnologias
avanços tecnológicos. Teremos com esta atitude mais serão usadas de forma defensiva. O poder de interação não
ambientes de pesquisa grupal e individual em cada escola; ex: está nas tecnologias, mas em nossas mentes. Ensinar com as
as bibliotecas transformam-se em espaços de integração de novas tecnologias será válido se mudarmos os paradigmas
mídias e banco de dados. convencionais do ensino que mantém a distância de
Com isto haverá mais participação no processo de professores entre alunos.
comunicação, tornando a relação professor/aluno mais aberta Caso contrário conseguiremos dar um verniz de
e interativa, mais integração entre sociedade e a escola, entre modernidade sem mexer no essencial.
aprendizagem e a vida.
Quando vale a pena encontrar-nos na sala de aula? MEDIAÇÃO PEDAGÓGICA E USO DA TECNOLOGIA
Aprendemos e ensinamos com programas que apresentam Marcos T. Masetto.
o melhor da educação presencial com as novas formas virtuais;
porém há momentos que precisamos encontrar-nos A discussão que envolve a análise do uso da tecnologia
fisicamente, em geral no começo e no final de um assunto ou como mediação pedagógica, pressupõe alguns fatos que
curso. envolvem a questão do emprego de tecnologia no processo de
aprendizagem.
Equilibrar o presencial e o virtual 1. Em educação escolar, não se valorizou a tecnologia
adequadamente visando a maior eficácia do ensino-
Dificuldades no ensino presencial não serão resolvidos aprendizagem. O professor é formado para valorizar
com o virtual. Unir os dois modos de comunicação o presencial conteúdos e ensinamentos acima de tudo, e privilegiar a
e o virtual e valorizando o melhor de cada um é a solução. técnica de aula expositiva para transmitir os ensinamentos.
As atividades que fazemos no presencial como No ensino superior brasileiro, essa concepção se mantém
comunidades, criação de grupos afins. Definir objetivos, até hoje valorizando a transmissão de informação,
conteúdos, formas de pesquisas e outras informações iniciais. experiências, técnicas, pesquisas de um profissional para
A comunicação virtual permite interações espaço-temporais formação de outros.
mais livres, adaptação a ritmos diferentes dos alunos novos Vê-se uma desvalorização da tecnologia em educação, no
contatos com pessoas semelhantes, mas distantes, maior entanto há questões tecnológicas que interessam ao processo
liberdade de expressão à distância. aprendizagem.
Com o processo virtual o conceito de curso, de aula 2. Dois fatos novos trazem à tona à discussão sobre a
também muda. As crianças têm mais necessidade do contato mediação pedagógica e o uso da tecnologia:
físico para ajudar na socialização, mas nos cursos médios e - O surgimento da informática e da telemática que
superiores, o virtual superará o presencial. Menos salas de proporcionam a oportunidade de entrar em contato com as
aulas e mais salas ambientes, de pesquisa, de encontro, mais recentes informações, pesquisas e produções cientificas
interconectadas. do mundo em todas as áreas. Desenvolvem-se os processos de
aprendizagem à distância.
Tecnologias na educação a distância - Outro fato novo é a abertura no Ensino Superior para
formação de competências pedagógicas dos professores
Muitas organizações estão se limitando a transpor para o universitários.
virtual, adaptações do ensino presencial. Começamos a passar
dos modelos individuais para os grupais. A educação a Tecnologia e processo de aprendizagem
distância mudará de concepção, de individualista para mais
grupal, de isolada para participação em grupos. Educação a A tecnologia apresenta-se como meio para colaborar no
distância poderá ajudar os participantes a equilibrar as processo de aprendizagem. Ela tem sua importância apenas
necessidades e habilidades pessoais com a participação em como um instrumento para favorecer a aprendizagem de
grupos-presenciais e virtuais. alguém. Não é a tecnologia que vai resolver o problema
educacional do Brasil. Poderá colaborar, se for usada
Alguns caminhos para integrar as tecnologias num adequadamente.
ensino inovador O conceito de ensinar esta mais ligada ao professor que
transmite conhecimentos e experiências ao aluno. O conceito
Na sociedade informatizada, estamos aprendendo a de aprender está diretamente ligadas ao aluno que produz
conhecer a comunicar-nos, ensinar, reaprendendo a integrar o reflexões e conhecimentos próprios, pesquisas, diálogos,
humano e o tecnológico, a integrar o indivíduo, o grupal e o debates, mudanças de comportamento. Numa palavra o
social. É importante chegar ao aluno por todos os caminhos aprendiz cresce e desenvolve-se, o professor fica como
possíveis, experiência, imagem, som, dramatizações, mediador entre o aluno e sua aprendizagem. O aluno assume
simulações. o papel de aprendiz ativo e participante que o leva a aprender
Partir de onde o aluno está e ajudá-lo a ir do concreto ao e a mudar seu comportamento.
abstrato, do vivencial para o intelectual. Tanto nos cursos
convencionais como nos cursos a distância teremos que Tecnologia e mediação pedagógica
aprender a lidar com a informação e o conhecimento de formas
novas, através de muitas pesquisas e comunicação constante. Como fazer para que o uso da tecnologia em educação,
Ensinar não é só falar, mas se comunicar, com principalmente nos cursos universitários de graduação, possa
credibilidade, falando de algo que conhecemos e vivenciamos desenvolver uma mediação pedagógica.
e que contribua para que todos avancemos no grau de - O que entendemos por mediação pedagógica?
compreensão do que existe. As principais reações que o bom Por mediação pedagógica, entendemos a atitude e o
professor/ educador desperta no aluno são: confiança, comportamento do professor que se coloca como um
credibilidade e entusiasmo. facilitador, incentivando ou motivando da aprendizagem.

Conhecimentos Pedagógicos 108


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Mediação pedagógica em técnicas convencionais prefere apostilas ao livro. A informática proporciona


oportunidade de sanar essa dificuldade. A Internet é um
A mediação pedagógica pode estar presente tanto nas recurso dinâmico e atraente, de fácil acesso e possibilita a
estratégias convencionais como nas novas tecnologias obtenção de um número ilimitado de informações. Há, porém
- Por técnicas convencionais identificamos aquelas que já a necessidade de o professor orientar os alunos, a direcionar o
existem há muito tempo, importantes para a aprendizagem uso desse recurso para as atividades de pesquisas, para que
presencial. Seu uso não tem sido muito frequente talvez não façam cópias de textos.
porque os professores não as conhecem, ou por não
dominarem sua pratica. Mas para muitos professores é uma Tecnologia, avaliação e mediação pedagógica.
forma de dinamizar as aulas.
- Novas tecnologias são aquelas que estão vinculadas ao A avaliação tem que ser um processo motivador da
uso do computador, a informática, a telemática e a educação a aprendizagem.
distância. Pontos básicos:
- As técnicas convencionais, em geral são usadas para 1 - Considerar a avaliação como um processo as da
iniciar um curso, despertar um grupo, para que os membros aprendizagem que motive e incentive e não como o conjunto
do grupo se conheçam em um clima descontraído. Essas de provas e/ou de trabalhos realizados em datas previamente
técnicas ajudam a expressar expectativas ou problemas que estipuladas, servindo para aprovar ou reprovar o aluno.
afetam o clima entre eles ou o desempenho de cada um. 2 - A avaliação normalmente indica o índice de erros ou
- Num segundo grupo as técnicas permitem que os acentos que o aluno comete em uma prova. Esta abordagem
aprendizes desenvolvam-se em situações simuladas. Ex. em geral não significa que o aluno aprendeu pouco ou muito, e
dramatizações, jogos dramáticos, jogos de empresa, estudos também não colabora para a aprendizagem. Para isso
de caso, apresentando estratégias de situações da realidade. acontecer, essas mesmas atividades deveriam se revestir de
São técnicas que desenvolvem a capacidade de analisar outras características, continuidade, variedade de técnicas,
problemas e achar soluções, preparando para enfrentar revisão.
situações reais e complexas. 3 - É importante que se veja a avaliação como um processo
- Um terceiro grupo de técnicas coloca o aprendiz em de feedback que traga ao aprendiz informações oportunas no
contato com situações reais. Ex. Estágios, excursões, aulas momento que ele precisa para desenvolver sua aprendizagem,
práticas, visita a obras, indústrias, escolas, enfim em locais Informações ao longo do processo de aprendizagem para
próprios das atividades profissionais. É altamente motivador corrigir erros e falhas. É a avaliação como um elemento
para a aprendizagem. Ajudam a dar significado para as teorias. incentivador e motivador da aprendizagem e não como uma
forma de julgá-lo.
Mediação pedagógica e as novas tecnologias 4 - Tanto no uso das técnicas presenciais como no uso da
tecnologia a distância, deve-se fazer a avaliação com a
Por novas tecnologias em educação, entende-se o uso da aplicação de algum instrumento que ofereça o feedback ou
informática, do computador, da Internet CD-ROM, da retroinformação.
hipermídia, da multimídia, educação a distância, chats, listas 5 - Quanto à avaliação, observar a reação dos alunos para
de discussão, correio eletrônico e de outros recursos e dialogar sobre a informação dada, completando ou fazendo
linguagens digitais que podem colaborar para tornar a colocações adicionais ao que foi explicado.
aprendizagem mais eficaz, cooperam para o desenvolvimento 6 - O feedback que medializa a aprendizagem é aquele
da educação em sua forma presencial (fisicamente); pois colocado de forma clara, orientando, ou por meio de perguntas
dinamizam as aulas. Cooperam também para a aprendizagem ou de uma breve sugestão.
a distância (virtual), pois foram criadas para atendimento 7 - Fazer registros juntamente com o feedback contínuo, de
desta nova modalidade de ensino. São tecnologias, porém todos os aprendizes que permita um diálogo e um
exigem eficiência e adequação aos objetivos aos quais se acompanhamento sobre a aprendizagem com um todo.
destinam. Entende-se que estas técnicas são ótimas no ensino 8 - Abrir esse processo de avaliação (feedback),
a distância, para transmitir informações e conhecimentos no juntamente com os alunos, a respeito do curso, das atividades
sentido mais estrito. que estão sendo avaliadas, se está adaptadas ou não aos
É importante ressaltar que não se pode pensar no uso de objetivos pretendidos.
uma tecnologia sozinha ou isolada, seja na educação presencial 9 - Por último, é preciso que as atividades presenciais e a
ou na virtual. Requer um planejamento para várias atividades distância permitam ao aluno e professor desenvolver sua
integrem-se em busca de objetivos determinados e que as autoavaliação.
técnicas sejam escolhidas, planejadas para que a
aprendizagem aconteça. O professor como mediador pedagógico.
Alguns itens a serem observados:
Teleconferência: caracteriza-se por colocar um O professor que se propõe a ser um mediador pedagógico
especialista em contato com telespectadores de regiões desenvolverá algumas características:
diversas do planeta. 1. Estar mais voltado para a aprendizagem do aluno;
Chat ou bate-papo: e um momento em que todos os 2. Professor e aluno constituem-se como célula básica da
participantes estão no ar, ligados e convidados a expor suas aprendizagem;
ideias. 3. Corresponsabilidade e parcerias são atitudes básicas,
Listas de discussão: cria grupos de pessoas que possam incluindo planejamento, sua realização e avaliação;
debater um assunto ou tema sobre o qual sejam especialistas. 4. Respeitar todos os participantes, ênfase nas estratégias
Seu objetivo e avançar os conhecimentos, as informações ou as cooperativas de aprendizagem, confiança, envolver os
experiências. aprendizes num planejamento conjunto de métodos e direções
Correio eletrônico: facilita o encontro entre aluno e curriculares;
professor para sanar dúvidas. Para tanto há a necessidade do 5. Domínio profundo de sua área de conhecimento,
professor para responder aos e-mails, pois o aluno desmotiva- demonstrando competência e atualização em relação à área;
se não sendo atendido em suas dúvidas. 6. Criatividade para buscar com o aluno soluções para
Internet: no ensino de graduação depara-se com duas situações novas;
dificuldades no incentivo à leitura e a pesquisa. O aluno

Conhecimentos Pedagógicos 109


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7. Disponibilidade para o diálogo, que deve ser frequente e A era digital e a aprendizagem colaborativa
contínuo.
8. Subjetividade e individualidade. Observar que tanto o O desafio imposto aos docentes é mudar o eixo do ensinar
professor e o aluno podem estar passando por momentos de para os caminhos que levam a aprender.
indisposição e às vezes podem estar usando uma linguagem Segundo Pierre Lévy (1993) o conhecimento poderia ser
mais dura, outra vez mais carinhosa. apresentado de três formas diferentes: a oral, a escrita e a
9. Comunicação e expressão em função da aprendizagem. digital.
Usamos a linguagem para nos comunicar, o professor deverá A digital não descarta todo o caminho feito pela linguagem
cuidar muito da sua expressão vocal, para ajudar no processo oral e escrita.
de aprendizagem. A abertura de novos horizontes mais aproximados da
Na prática esse processo de mediação pela expressão e realidade contemporânea, e das exigências da sociedade
comunicação deverá ser: depende de uma reflexão crítica do papel da informática na
- Excepcionalmente para transmitir informações; aprendizagem e benefícios que a era digital pode trazer para o
- Para dialogar e trocar experiências; aluno como cidadão, tornando-os transformadores e
- Para debater dúvidas e lançar perguntas; produtores de conhecimento.
- Para motivar o aprendiz e orientá-lo; O desafio do professor ao propor sua ação docente será
- Para propor desafios e reflexões; levar em consideração e contemplar as oito inteligências
- Para relacionar a aprendizagem com a realidade; denominadas por Gardner (1994) como espacial; interpessoal,
- Para incentivar o conhecimento junto com o aprendiz; intrapessoal, cinestésico-corporal, linguística ou verbal,
- Para ajudar o aprendiz a comandar a máquina. lógico-matemática, musical e naturalista. Além do
Segundo Almeida, o professor que trabalha com a desenvolvimento das inteligências múltiplas é fundamental
informática na educação, deverá desenvolver uma mediação desenvolver a inteligência emocional (Goleman 1996) para
pedagógica que promova o pensamento do aluno, seus desencadear a formação do cidadão.
projetos, compartilhe seus problemas sem apontar soluções, Na era das Relações (Moraes 1997) cabe aos gestores e
ajudando o aprendiz a entender, analisar, testar e corrigir professores derrubar barreiras que segregam o espaço e a
erros. criatividade dos professores e dos alunos.
Contudo, a intenção de refletir sobre tecnologia e a A aprendizagem precisa ser significativa, desafiadora,
mediação pedagógica é chamar a atenção para a presença e problematizadora e instigante para mobilizar o aluno e o
influência que a tecnologia tem na sociedade e na educação grupo a buscar soluções aos problemas. A relação
escolar e informal, tanto na presencial como à distância. professor/aluno na aprendizagem colaborativa contempla a
Chamar a atenção para a necessidade de empregar essa interdependência dos seres humanos.
tecnologia, se quiser ser eficiente no processo educacional.
Neste texto, foram discutidas técnicas, seu uso e objetivos, Quatro pilares da aprendizagem colaborativa
e percebe-se que estas, apenas poderão colaborar como
mediadores, para o desenvolvimento e crescimento das O “Relatório para a Unesco da Comissão Internacional
pessoas. sobre Educação para o Séc. XXI”, coordenada por Jacques
O aprendiz tem que ser o centro do processo. Na educação, Delors (1998) aponta a necessidade de uma educação
nota-se um encadeamento de ideias ao abordar um assunto, continuada. A aprendizagem ao longo da vida, assentada em
nada é isolado, sempre há um entrelaçamento com outros, quatro pilares:
devido à própria complexidade educacional, cujo objetivo é - Aprender a conhecer.
propiciar melhores condições de aprendizagem, e - Aprender a fazer.
automaticamente maior gratificação para os que se dedicam - Aprender a viver juntos.
ao trabalho docente. - Aprender a ser.
Aprender a conhecer - Este tipo de aprendizagem visa não
PROJETOS DE APRENDIZAGEM COLABORATIVA NUM um repertório de saberes mas o domínio dos próprios
PARADIGMA EMERGENTE instrumentos do conhecimento. Compreender o mundo que o
Marilda Aparecida Behrens rodeia para viver dignamente e desenvolver suas capacidades.
Com essa visão enfatiza-se ter prazer em descobrir, em
As perspectivas para o Séc. XXI indicam a educação como investigar, em ter curiosidade, em construir o conhecimento.
pilar para alicerçar os ideais de justiça, paz, solidariedade e Segundo Gadotti aprender a conhecer implica ter prazer de
liberdade. As transformações pelas quais o mundo vem compreender, descobrir, construir e reconstruir o
passando são reais e irreversíveis. conhecimento.
O advento da sociedade do conhecimento e a globalização O aluno precisa ser instigado a buscar o conhecimento, a
afetam a sociedade. Essas mudanças levam a ponderar sobre ter prazer em conhecer, a aprender a pensar, elaborar as
uma educação planetária, mundial e globalizante. O contexto informações para aplicá-la à realidade.
de globalização torna as nações mais interdependentes e inter- Como segundo pilar Delors apresenta o “aprender a fazer”
relacionadas e, ao mesmo tempo mais dependentes de uma - aprendizagem associada ao aprender a conhecer.
estrutura econômica neoliberal. Aliando aprender a conhecer e aprender a fazer, o
O advento da economia globalizada e a forte influência dos professor precisa superar a dicotomia teórica e pratica, estas
avanços dos meios de comunicação e da informática aliados à devem caminhar juntas.
mudança de paradigma da ciência não comportam um ensino Todos os seres vivos interagem e são interdependentes
conservador repetitivo e acrítico nas universidades. uns dos outros. Buscar a superação das verdades absolutas e
A produção do saber nas áreas do conhecimento leva o inquestionáveis, do positivismo, da racionalidade e do
professor e o aluno a buscar processos de investigação e pensamento convergente.
pesquisa. O aluno precisa ser menos passivo e tornar-se “A natureza não são blocos isolados, mas uma complexa
criativo, crítico, pesquisador e atuante. O professor precisa teia de relações entre as várias partes de um todo unificado”
agir com critério e com visão transformadora. (Capra). Visão na qual o mundo é um complicado tecido de
eventos, que se interconectam e se combinam, determinando
o todo.

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APOSTILAS OPÇÃO

A escola precisa ensinar os alunos a refletir sobre a Tecnologia como ferramenta para aprendizagem
realidade para que possam administrar conflitos, colaborativa
pensamentos divergentes e respeitar a opinião dos outros;
“aprender a viver juntos” A tecnologia da informação, pode ajudar a tornar mais
O quarto pilar apresentado refere-se ao “aprender a ser”. acessíveis as políticas educacionais dos países, os projetos
Delors recomenda “A educação deve contribuir para o pedagógicos em todos os níveis, projetos de aprendizagem,
desenvolvimento completo da pessoa; espírito e corpo, metodologia de ensino.
inteligência, sensibilidade, sentido estético, responsabilidade - A exercitação oferece treinamento de certas habilidades.
pessoal, espiritualidade”. Visão que tenta superar a - Os programas tutoriais – blocos de informação
desumanização do mundo, dando ao homem liberdade de pedagogicamente organizados como se fosse um livro
pensamento e responsabilidade sobre seus atos. animado em vídeo.
- Os aplicativos: programas voltados para funções
Paradigma emergente na prática pedagógica específicas como planilhas eletrônicas, processadores de
textos e gerenciadores de bancos de dados.
Paradigma emergente é um paradigma inovador que - Programas de autoria extensão avançada das linguagens
venha atender aos pressupostos necessários às exigências da de programação, permitem que qualquer pessoa crie seus
sociedade do conhecimento. Caracterizar um paradigma próprios programas, sem que possuam conhecimentos
emergente não é tarefa de fácil resposta, mas o que se pode avançados de programação.
garantir é que o paradigma inovador engloba diferentes - Jogos opção com finalidade de lazer.
pressupostos de novas teorias. Por exemplo, Moraes - Simulações – programas que possibilitam a interação com
denomina paradigma emergente a aliança entre as abordagens situações complexas. Ex: Simuladores de voo.
vistas construtivas, interacionista, sociocultural e O computador é ferramenta auxiliar no processo de
transcendente, onde o ponto de encontro entre os autores a “aprender a aprender”.
busca da visão da totalidade, o enfoque da aprendizagem e o
desafio de superação da reprodução para a produção do Tecnologia da informação e o avanço dos
conhecimento. procedimentos
Behrens(1999) acredita na necessidade de desencadear
uma aliança de abordagem pedagógica, formando uma teia, da Baseada na proposta de Chikering e Ehrmanm a tecnologia
visão holística: da informação pode contribuir para:
1- Encorajar contato entre estudantes e universidades.
1) O ensino com pesquisa – Onde professor e aluno 2- Encorajar cooperação entre estudantes.
tornam-se pesquisadores e produtores dos seus próprios 3- Encorajar aprendizagem colaborativa.
conhecimentos. 4- Dar retorno e respostas imediatas.
2) A abordagem progressiva. Instiga o diálogo e a 5- Enfatizar tempo para as tarefas.
discussão coletiva. 6- Comunicar altas expectativas.
3) A visão holística ou sistêmica – busca a superação da 7- Respeitar talentos e modos de aprender diferente.
fragmentação do conhecimento. O cyberspace é uma rede que torna todos os computadores
A aliança, a partir das três abordagens, permite uma participantes e seus conteúdos acessíveis aos usuários de
prática pedagógica competente e que dê conta dos desafios da qualquer computador ligado a essa rede. Possibilitando, via
sociedade moderna. Internet, o acesso a bibliotecas do mundo inteiro, por exemplo:
numa viagem virtual.
Paradigma emergente numa aliança de abordagem
pedagógica O paradigma emergente e a aprendizagem
colaborativa baseada em projetos
Behrens defende o paradigma emergente, uma aliança
entre os pressupostos da visão holística, da abordagem Os projetos de aprendizagem colaborativos levam em
progressiva e do ensino com pesquisa instrumentalizada. consideração as aptidões e competências que o professor
O ensino com pesquisa, proposto por Paoli, por Demo e por pretende desenvolver com seus alunos, cuja finalidade é
Cunha defende uma aprendizagem baseada na pesquisa para a tornar os alunos aptos a atuar como profissionais em suas
produção de conhecimento, superando a reprodução, a cópia e áreas de conhecimento. O professor deve apropriar-se de
a imitação do pensamento newtoniano - cartesiano referências utilizadas na sala de aula e fora dela.
A - O ensino com pesquisa necessita de um professor que Projetos de aprendizagem colaborativa num
perceba o aluno como um parceiro. Segundo Demo, ensinar paradigma emergente
pela pesquisa apresenta fases, progressivas desde a
interpretação reprodutiva, até a criação e descoberta. O A aprendizagem baseada em projetos necessita de um
ensino com pesquisa leva a acessar, analisar e produzir ensino que provoque ações colaborativas num paradigma
conhecimentos. emergente instrumentalizado pela tecnologia inovadora.
B - A abordagem progressiva busca a transformação social. Deve-se contemplar a produção do conhecimento dos alunos e
Os professores progressistas promovem processos de do próprio professor.
mudança, manifestando-se contra as injustiças sociais, Fases do projeto de aprendizagem colaborativa
atitudes antiéticas, injustiças políticas e econômicas. 1ª fase - Apresentação e discussão do projeto
C - A visão holística caracteriza a prática pedagógica num 2ª fase - Problematização do tema
paradigma emergente aliada ao ensino com pesquisa e à 3ª fase - Contextualização
abordagem progressiva. A proposta da visão holística propõe 4ª fase - Aulas teóricas exploratórias
uma sociedade com indivíduos que se pautam nos princípios 5ª fase - Pesquisa individual
éticos da dignidade humana, da paz, da justiça, do respeito da 6ª fase - Produção individual
solidariedade e da defesa do meio ambiente. Conhecer o 7ª fase - Discussão coletiva, crítica e reflexiva
universo como um todo, que leva a interconectividade e inter- 8ª fase - Produção, coletiva
relações entre os sistemas vivos. 9ª fase - Produção final
10ª fase - Avaliação coletiva do projeto

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APOSTILAS OPÇÃO

1ª fase - Apresentação e discussão do projeto técnicas pesquisas de um profissional para formação de


Discutir com os alunos cada fase do projeto de outros.
aprendizagem, valorizando as contribuições dos alunos. Vê-se uma desvalorização da tecnologia em educação, no
2ª fase - Problematização do tema entanto há questões tecnológicas que interessam ao processo
Fase essencial do projeto de aprendizagem. Refletir sobre aprendizagem.
os problemas relacionados ao tema, levando os alunos a 2- Dois fatos novos trazem à tona a discussão sobre a
buscar referenciais que venham contribuir com a construção mediação pedagógica e o uso da tecnologia, o surgimento da
de algumas soluções. informática e da telemática porque proporciona a
3ª fase – Contextualização oportunidade de entrar em contato com as mais recentes
Incita a visão holística do projeto. O professor precisa ficar informações, pesquisas e produção cientificas do mundo em
atento para que na contextualização estejam presentes dados todas as áreas.
da realidade, aspectos sociais e históricos, econômicos e Desenvolvem-se os processos de aprendizagem a
outros referentes à problemática levantada. distância.
4ª fase - Aulas teóricas exploratórias
O professor apresenta a temática e os conhecimentos Tecnologia e processo de aprendizagem
básicos as aulas expositivas precisam contemplar os temas, os
conteúdos e as informações levando o aluno a perceber quais A tecnologia apresenta-se como meio para colaborar no
são os assunto pertinentes a problematização levantada. processo de aprendizagem. Ela tem sua importância apenas
5ª fase - Pesquisa individual como um instrumento para favorecer a aprendizagem de
O aluno de posse desses conhecimentos precisa buscar, alguém. Não é a tecnologia que vai resolver o problema
acessar, investigar as informações que possam solucionar as educacional do Brasil. Poderá colaborar se for usada
problematizações levantadas. adequadamente.
6ª fase - Produção individual O conceito de ensinar está mais ligado ao professor que
Propor a composição de um texto próprio construído com transmite conhecimentos e experiências ao aluno. O conceito
base na pesquisa elaborada pelo aluno e no material de aprender está diretamente ligado ao aluno que produz
disponibilizado pelo grupo. Tarefa que pode ser realizada em reflexões e conhecimentos próprios, pesquisa, dialogo, debate,
sala de aula ou fora dela. mudança de comportamento. Numa palavra o aprendiz cresce
7ª fase - Discussão coletiva, crítica e reflexiva e desenvolve-se, o professor fica como mediador entre o aluno
Acontece quando o professor desenvolve os textos e sua aprendizagem. O aluno assume o papel de aprendiz ativo
produzidos individualmente e provoca a discussão sobre os e participante que o leva a aprender e a mudar seu
dados levantados. Nesse momento os alunos estão mais comportamento.
preparados para discutir avanços e suas dificuldades, suas
dúvidas. Tecnologia e mediação pedagógica
8ª fase - Produção, coletiva
Revela a possibilidade de aprender a trabalhar em Como fazer para que o uso da tecnologia em educação,
parceria; produzir um texto coletivo partindo das produções principalmente nos cursos universitários de graduação, possa
individuais. desenvolver uma mediação pedagógica.
9ª fase - Produção final - O que entendemos por mediação pedagógica?
É a fase que propicia o espaço para criar, para buscar um Por mediação pedagógica, entendemos a atitude e o
salto maior que os registrados. Fase que os alunos irão comportamento do professor que se coloca como um
apresentar a produção já finalizada. facilitador, incentivando ou motivador da aprendizagem.
10ª fase - Avaliação coletiva do projeto
O professor deve instigar a avaliação de cada fase do Mediação pedagógica em técnicas convencionais
projeto. A avaliação perante realinhar alguma fase ou
atividades propostas no desencadear do projeto de A mediação pedagógica pode estar presente tanto nas
aprendizagem. estratégias convencionais como nas novas tecnologias.
- Por técnicas convencionais identificamos aquelas que já
Aprendizagem para a sociedade do conhecimento: existem há muito tempo, importantes para a aprendizagem
presencial. Seu uso não tem sido muito frequente talvez
A busca das competências e da autonomia. porque os professores não as conhecem, ou por não
Os projetos de aprendizagem possibilitam a produção do dominarem sua pratica. Mas para muitos professores é uma
conhecimento significativo. Os alunos no processo de parceria forma de dinamizar as aulas.
têm a oportunidade de desenvolver competências, habilidades - Novas tecnologias são aquelas que estão vinculadas ao
e aptidões que serão úteis a vida toda; focalizando o aluno uso do computador, a informática, a telemática e a educação a
como sujeito crítico e reflexivo no processo de “aprender a distância.
aprender”. - As técnicas convencionais, em geral são usadas para
iniciar um curso, despertar um grupo, para que os membros
Mediação pedagógica e o uso da tecnologia do grupo se conheçam em um clima descontraído. Essas
técnicas ajudam a expressar expectativas ou problemas que
A discussão que envolve a análise do uso da tecnologia afetam o clima entre eles ou o desempenho de cada um.
como mediação pedagógica, pressupõem alguns fatos que - Num segundo grupo as técnicas que permitem que os
envolvem a questão do emprego de tecnologia no processo de aprendizes se desenvolvem em situações simuladas. Ex.
aprendizagem. dramatizações, jogos dramáticos, jogos de empresa, estudos
1- Em educação escolar, não se valorizou a tecnologia de caso, apresentando estratégias de situações da realidade.
adequadamente visando a maior eficácia do ensino- São técnicas eu desenvolvem a capacidade de analisar
aprendizagem. O professor é formado para valorizar problemas e achar soluções, preparando para enfrentar
conteúdos e ensinamentos acima de tudo, e privilegiar a situações reais e complexas.
técnica de aula expositiva para transmitir os ensinamentos. - Um terceiro grupo de técnicas coloca o aprendiz em
No ensino superior brasileiro, essa concepção se mantém contato com situações reais. Ex. Estágios, excursões, aulas
até hoje valorizando a transmissão de informação, experiência, práticas visita a obras, industrias, escolas enfim em locais

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próprios das atividades profissionais. É altamente motivador


para a aprendizagem. Ajuda a dar significado para as teorias.

Mediação pedagógica e as novas tecnologias

Por novas tecnologias em educação, entende-se o uso da


informática, do computador, da Internet CD-ROM, da
hipermídia, da multimídia, educação a distância, chats, listas
de discussão, correio eletrônico e de outros recursos e
linguagens digitais que podem colaborar para tornar a
aprendizagem mais eficaz, cooperam para o desenvolvimento
da educação em sua forma presencial (fisicamente) pois
dinamizam as aulas.

Anotações

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