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18 a 21 de setembro de 2012
Belém - PA – Brasil
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Jucilene_belo@hotmail.com
Resumo:
As comunidades remanescentes de quilombo são um seguimento étnico que cada vez mais
ganham reconhecimento em todo o Brasil, não só por sua grande diversidade cultural, mas
também pelo numero crescente de identificações e titulações. As comunidades remanescentes de
quilombo que compõem a Associação Remanescente de Quilombo Filhos de zumbi serão o foco
de analise deste trabalho, essa duas comunidades se chamam Itacoã-Miri e Guajará-Miri e estão
localizadas no município de Acará (Pará). Desta forma, tem-se como objetivo identificar e mostrar
as formas de uso do território dessas duas comunidades remanescentes de quilombo a partir do
ano de 2000, quando foram implantados projetos produtivos através de programas inseridos pelo
estado, a saber: Programa Raízes e Pará Quilombola, estes últimos tem como objetivo principal
promover a igualdade racial. Os passos metodológicos se restringiram a revisão da literatura,
trabalho de campo nas duas comunidades remanescentes afim de, dar base de sustentação ao
desenvolvimento do artigo.
A busca por literaturas que possam sustentar a base teórica e a construção deste trabalho
foi o primeiro passo metodológico. O segundo passo dado foram visitas aos membros das duas
comunidades remanescentes de quilombo de Itacoã-Miri e Guajará-Miri, com o intuito de verificar,
de forma empírica, os vários usos de seus territórios. Neste ínterim, visitas as sedes dos
programas Raízes e Pará Quilombola também foram pertinentes, pois se ouviu das coordenações
dos dois programas como são criadas as estratégias para inserção de projetos produtivos
voltados para estas comunidades. Dessa forma, juntaram-se todos os pontos chaves para o
desenvolvimento final deste trabalho.
Este trabalho de estrutura da seguinte forma: primeira parte dedicada a uma breve
apresentação do conceito de comunidades remanescentes de quilombo e o significado do
território para as mesmas. Na segunda parte, tem-se a caracterização das duas comunidades
remanescentes aqui estudas e suas atividades econômicas tradicionais. Já no terceiro momento,
trava-se um debate sobre as novas dinâmicas socioeconômicas inseridas na comunidade Filhos
de Zumbi.
1 - Comunidades remanescentes de quilombo e o território
coletividades que constituíram sua historia baseada numa cultura própria, que foi
transmitida e adaptada em cada geração (...) não foram compostas somente de escravos
(...). Os membros se identificam entre si como pertencentes a esse grupo e que
compartilham de certos elementos e ações culturais (...) num determinado território em
comum.
Uma proposta integradora, numa noção hibrida e, portanto, múltipla do espaço geográfico
é feita por Hasbaert (2004) quando propõe pensar o território:
O território não deve ser visto como mero espaço concreto, mas sim o palco das ações
reais que acontecem dentro de um território usado por atores que se identificam há varias
gerações e que continuam a perpetuar suas tradições.
Estas comunidades são acessíveis por via fluvial desde a capital paraense através do
“Porto da Palha”, porto ribeirinho situado no bairro da Condor da mesma cidade e, também, via
terrestre, ou seja, pela estrada de terra com entrada pelo ramal da Boa Vista (Comunidade
contigua a Comunidade de Guajará-Miri) no Km 25,5 da Alça Viária, tendo variação da viajem
entre trinta minutos de acordo com o número de paradas do ônibus de linha1, caso se faça a
viagem de carro particular a viagem dura em torno dez minutos (Trabalho de campo, 2011).
A partir de 2004 o governo do estado do Pará representado pelo Programa Raízes inseriu
atividades socioeconômicas que tentaram dinamizar e elevar a qualidade de vida destas
comunidades negras e no ano de 2007 o Programa Pará Quilombola tenta dar continuidade as
ações de seu antecessor. Neste sentido, tenta-se fazer uma analise dessas ações dentro do
território das comunidades remanescentes de quilombo de Itacoã-
que as casas encontram-se mais próximas umas das outras e também estão perto do rio, do trapiche
(sobre o furo Guarapiranga) e das tabernas (pequeno estabelecimento comercial), neste espaço
acontecem os mais importantes eventos da comunidade como: visitas, jogos, missas, cultos,
reuniões, festas, atendimento escolar, brigas e etc. (MARIN, 1999).
Esta ultima autora especifica o outro espaço dentro das comunidades remanescentes de
quilombo denominado pelos moradores como “centro”, este espaço é afastado da “beira” e
encontram-se poucas casas, alguns roçados e fornos de carvão. Segundo Marin (1999, p.40) o
“centro” seria como:
De um ponto de vista geopolítico o centro é a área mais vulnerável, pois sobre estes pontos
avançam os posseiros. Ele é uma espécie de porteira aberta e agora estão preocupados em
viajar e ocupar para evitar que os “confinantes”, como denominam os que avançam sobre
suas terras, ganhe e incorpore mais terrenos.
Todavia, com a titulação das terras da comunidade o problema da invasão de suas terras por
atores externos foi extinto por conta da demarcação do território da comunidade Itacoã-Miri.
Como já foi relatadoo Estado do Pará foi um dos pioneiros no ato de agilização do
cumprimento do artigo 68. Assim como muitos estados brasileiros o Pará criou grupos de
trabalhos, comissões e programas específicos que viessem a atender as demandas da causa
quilombola. Dessa forma, o governo paraense cria em 12 de maio de 2000, através do Decreto
N°. 4.054, o Programa Raízes (PR). Tendo este programa o objetivo de:
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Não foram encontrados documentos que informassem sobre o significado desta sigla.
A investigação de campo por meio de entrevistas semi-estruturadas aos membros das
duas comunidades, permitiu identificar algumas proposições pertinentes a respeito do
desenvolvimento dos projetos produtivos.
Dentre os vários reclames dos membros das duas comunidades remanescentes, três
foram as mais destacadas e almejadas: Assistência técnica continua, segundo os entrevistados, o
programa Raízes realiza os cursos de capacitação, mas não assiste todas as etapas e processos
do desenvolvimento dos projetos, causando dúvidas em situações inesperadas e desconhecidas
pelos sócios, que, por conseguinte acabam deixando o projeto e/ou promovendo soluções que
não são cabíveis. O projeto de apicultura representa bem este fato, pois as abelhas dos projetos
das duas comunidades desapareceram deixando seus sócios sem saber as causas e,
principalmente possíveis saídas para o problema. Neste momento, os entrevistados alegam não
haver a parceria e apoio que o programa Raízes promoveria nas comunidades deixando os
projetos seguirem por conta própria, o que por sua vez causará sua extinção, não esquecendo
que o programa Raízes fornece o capital para instalação dos projetos, mas não o executar
deixando a instituição executora com todas as responsabilidades.
Outro ponto importante é que existem contradições de repasse de ensino pelos técnicos no
momento da capacitação, pois alguns dos entrevistados (em ambas as comunidades) mostraram
insatisfação de esclarecimento e contradição entre cada técnico que ministrava o curso de
capacitação. Algumas informações, segundo alguns entrevistados, não obtiveram esclarecimentos
técnicos como se apreendeu no projeto produtivo de avicultura4, este tinha como objetivo o
cruzamento de galinhas de raça com as galinhas das comunidades com o intuito de melhorar a
raça das galinhas nativas e assim aumentar seu tamanho, mas muitas das galinhas de raça não
sobreviveram e outras foram vendidas e/ou serviram de alimento para as famílias. Alguns
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Valor aproximado, segundo Pará (2006), em 115.300 reais nas comunidades que integram a comunidades Filhos de Zumbi.
4
Inserido em Itacoã-Miri e Guajará-Miri no ano de 2003 e executado pela SAGRI.
entrevistados alegaram desconhecer esse objetivo e responderam que a primazia do projeto era a
venda, observa-se muitas contradições entre as informações entre os técnicos que se dirigem ate
as duas comunidades;
O apoio financeiro foi bem flagrante na fala dos entrevistados, o programa Raízes lança o
orçamento ao órgão executor, os projetos são inseridos, acontece à capacitação, porém no tempo
de espera dos resultados dos projetos torna-se necessário a comprar de certos produtos. Neste
ínterim, os sócios ficam sem o “capital de giro” e, também, muitos acabam desvinculando-se do
projeto, um exemplo bem claro é a compra de rações industrializadas (projeto de piscicultura),
apesar das dificuldades que este projeto apresente ele se mostra ser o mais viável
economicamente (na visão de seus sócios) e abriga a maior esperança de geração de renda de
Itacoã-Miri.
A questão mercadológica é imprescindível para o grupo produtor, pois é a venda que vai
garantir a geração de lucro e renda para os membros envolvidos e proporcionar recursos
financeiros para a continua manutenção do projeto. Nesta questão um exemplo relevante foi à
inserção do projeto de priprioca5 em ambas as comunidades. Segundo os entrevistados, o projeto
de priprioca não deslanchou porque emperrou na sua comercialização, na época o pleito das
comunidades para a realização deste projeto foi bastante impulsionado pela mídia6 e pela
comunidade vizinha (Boa Vista) que estava produzindo este produto, assim como em outras
localidades do Pará. No entanto, alguns aspectos não foram vistos, já que a comunidade de Boa
Vista tinha contrato exclusivo da venda do produto para a empresa de cosmética Natura, ou seja,
a produção tinha escoamento para a venda direto para esta empresa. Neste ínterim, animados
com estas informações os quilombolas de Itacoã e Guajará solicitaram este projeto produtivo, mas
não atentaram para o mercado, pois a empresa Natura absolvia apenas a produção que já havia
fechado contratado, ficando a produção da priprioca ate hoje sem colheita e no estado de
apodrecimento.
5
Inserido em Itacoã-Miri e Guajará-Miri no ano de 2004.
6
Novela da emissora de televisão Rede Globo.
própria comunidade. Quando perguntados sobre os motivos para extinção do projeto de priprioca,
os entrevistados de Itacoã e Guajará responderam de maneira unânime que a falta de mercado
direcionado foi a principal causa, seguido da ausência de técnica, falta de “capital de giro”, falta de
orientação e principalmente falta de retorno financeiro.
No âmbito da assistência técnica continua e apoio financeiro o PR, segundo Américo, não
dá conta de atender a essas reivindicações dos quilombolas por não ser o órgão executor, já que
seu papel é o de receber as demandas, discuti-as com a comunidade, aprová-las e repassar o
orçamento ao órgão executor. Além disso, desde a sucessão governamental no estado, o
programa Raízes perdeu espaço e ganhou uma nova roupagem, obedecendo a novos interesses
e princípios políticos. Contudo, uma forte fiscalização e diálogos com essas instituições
executoras para colocá-las a par de todas as reivindicações quilombolas mostram-se uma
possível mudança neste quadro.
O programa Raízes foi criado em 2000 e atuou em comunidades quilombolas com inserção
de projetos produtivos até o ano de 2006, este ultimo com pouca atuação. Com a transição de
Governo Estadual, no ano de 2007, o programa Raízes passou a existir apenas de maneira
formal, pois em 30 de julho desse mesmo ano, o novo governo cria a COPPIR (Coordenação de
Promoção de Políticas de Igualdade Racial), com o objetivo de:
Desta forma, o programa Raízes passa a existir figurativamente, já que a COPPIR tomam
a frente todas as suas atribuições e modifica totalmente seus princípios, pois agora vai atuar não
apenas com as comunidades remanescentes de quilombo, mas com toda a população negra do
Estado do Pará. E mais, a única ação atual desde 2007 pela COPPIR nas comunidades
remanescentes de quilombo está estritamente ligada às titulações de terras e não mais de
inserção de projetos produtivos.
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Informação retirada do site da SEJUDH. Disponível em: http://www.pciconcursos.com.br/concurso/93150
As causas apresentadas acima não são as únicas que se casaram para o não
desenvolvimento satisfatório dos projetos em Itacoã e Guajará, pois percebeu-se ao longo da
pesquisa em campo que os membros dessas comunidades passam por uma consolidação de
organização e administração interna o que implica num amadurecimento que ajudará a analisar e
dialogar com as instituições que lhes farão parcerias futuras para escolher melhor as prioridades
mais cabíveis e próximas de sua realidade. Cabe lembrar, que os membros almejam resultados
imediatos para suprir necessidades como alimentação, vestimenta e produtos que abasteçam os
projetos em que participam. Esse pensamento esbarra no tempo de duração e o processo pelo
qual o projeto produtivo tem que passar, ou seja, os resultados que deveriam aparecer de forma
imediata (na concepção de alguns entrevistados) demoram ou, às vezes, nem chegam a
acontecer, seja de forma imediata ou não.
Enquanto os projetos inseridos pelo programa Raízes (e que ainda existem) em Itacoã e
Guajará não evoluírem apresentado resultados significantes e ajuda considerável na renda dos
sócios envolvidos ambas as comunidades continuaram a desenvolver as atividades que sempre
lhes foram tradicionais e que são os pilares da sua perpetuação. O sonho de se melhorar o
padrão de vida através desses projetos produtivos caiu na descrença de muitos membros dessas
comunidades e, por outro lado, é a motivação para se buscar esforços para que um dia esse
sonho se realize.
Considerações finais
O programa Raízes foi criado para atender a um publico que historicamente fora
discriminado e marginalizado em toda sociedade brasileira, o negro. O destaque deste programa é
sua singularidade em apoiar ações de caráter social, econômico, cultural e territorial nas CRQ do
Pará. Percebeu-se que desde seu primeiro ano de atuação, este programa precisou lutar dentro
do próprio governo paraense para ser reconhecido como instituição e intermediário das ações
dentro das comunidades quilombolas. Dessa forma, a indiferença do programa Raízes dentro do
governo já o enfraqueceu, pois essa pressão em ser reconhecido como política publica
governamental, tomou o tempo que poderia ser dedicado a outras ações nas CRQ.
Grande parte dos entrevistados, tanto em Itacoã-Miri como em Guajará-Miri alegaram que
a falta de assistência técnica continua provocou o desenvolvimento insatisfatório dos projetos
produtivos. Este fato pôde ser percebido no numero considerável de sócios que se desvincularam
dos projetos que participavam. A falta de assistência técnica continua causou erros na
manutenção dos projetos, já que muitas situações inesperadas e desconhecidas apareceram
deixando os sócios sem soluções técnicas para estes eventos. Um exemplo claro disto foi o
desaparecimento das abelhas das caixas do apiário das duas comunidades. As duvidas rodeiam o
pensamento dos sócios desse projeto, pois especulam que o motivo do desaparecimento das
abelhas possa ter sido a fumaça vinda das queimadas das roças próximas ao apiário, já outros
acreditam que foi por conta da falta de alimentação. É neste momento que a presença de um
técnico faria toda diferença, pois alem de sua presença em todas as etapas do processo de
produção, ele promoveria com sua experiência e conhecimento resultados positivos desse projeto
produtivo.
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Porto de maior relação comercial e social com duas comunidades negras estudadas.
O trabalho de campo mostrou a dedicação e aprofunda esperança dos menbros, que
participam e não participam deste projeto (piscicultura), no desenvolvimento pleno se houver
técnica, estrutura física adequada, técnicos em todas as etapas do processo, pois o mercado de
peixes é bastante propicio nesta região.
O manejo de açaizais nativos não necessita de alto custo de investimento financeiro para
sua implantação, pois o manejo é aplicado, principalmente em área de várzea, e necessita de
limpeza da vegetação nociva ao redor das palmeiras, com o intuito de garantir o seu crescimento,
alem do plantio de novas mudas. O PR entrou com o apoio financeiro para compra de botas
ferramentas para a limpeza da área destinada ao manejo, garantiu também a capacitação dos
sócios. Esse projeto ajuda na alimentação dos membros desse projeto e na renda vinda da venda
do produto no Porto da Palha.
Referências
MARIN, Rosa Elizabeth Acevedo. Itacoã no Baixo Acará – Pará: as terras dos descendentes além
da Casa Grande. In: Mapeamento de Comunidades Negras Rurais do Pará: ocupação do território
e uso de recursos, descendência e modo de vida. Belém: NAEA/UFPA/SECTAM, 1999.
MARINHO, Carla Figueredo. Programa Raízes: Ações e práticas de “Políticas Étnicas no Pará”.
Mon.pós. Grã. Belém: NAEA, 2007.
SALLES, Vicente. O negro no Pará: sob o regime de escravidão. 3 ed. Belém: IAP/ Programa
Raízes, 2005.