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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS


HUMANAS

LITERATURA BRASILEIRA IV

Discente: Thaís de Sá Brazil


N° USP: 8022962
Prof. Alcides Villaça

SÃO PAULO
NOVEMBRO/2017
Machado de Assis é, sem sombra de dúvidas, um dos maiores escritores da
literatura brasileira. Sua obra é, ainda hoje, objeto de estudo em diversas áreas do
conhecimento. Seu interesse pela descrição da sociedade nos leva a redesenhar,
principalmente, o Rio de Janeiro do século XIX. Suas personagens são, em sua maioria,
complexos e circulares, ou seja, não tem um comportamento único e previsível. O intuito
deste trabalho é realizar uma aproximação entre os contos Dona Paula e Dona Benedita,
comparando as diferenças e semelhanças existentes entre eles.

A sociedade retratada pelos autores realista é patriarcal, tendo a mulher o papel de


cuidar da casa e da família, sendo educada desde a infância para ocupar essa função.
Sobre o Brasil do século XIX, Farias (2012) afirma:

Ainda nesse período, a sociedade brasileira também passou por diversas


mudanças no processo de urbanização, com a consolidação do capitalismo e a
ascensão da burguesia. Segundo Priore (1997), a mulher aparece nas relações da
chamada família patriarcal, restrita apenas ao ambiente doméstico. A sociedade
esperava da mulher um comportamento ideal, com uma educação cuidadosa,
além da responsabilidade pela reprodução e da função de mãe. Durante esta
época, nota-se a sujeição da mulher à religião, à sociedade e aos homens, estes
que detinham total poder e controlava o meio social, já as mulheres se
mantinham no espaço doméstico, sempre dependentes de seus maridos. Notamos
também que, ao longo da história da emancipação feminina, é possível pensar
que a educação e a religião são fatores importantes que contribuíram para
evolução e progresso da mulher brasileira na busca do seu espaço social. Por
isso, a relação entre oposição e conformação pode ser vista como estratégias de
participação da mulher nas relações sociais que, embora conflituosas, baseiam-
se em tensões entre o estabelecido, num movimento quase cego, invisível que só
pode ser visto à medida que o tempo de longa duração vai passando e delineando
a história da civilidade destas mulheres.

Dona Benedita, sob um olhar menos crítico, representa essa mulher submissa.
Abandonada e, supostamente, traída pelo marido que a deixou no Rio de Janeiro para
morar em Belém, D. Benedita parece estar sempre de tranquila e feliz com as pessoas que
a rodeiam. É importante pontuar, por exemplo, a presença frequente do cônego Roxo,
homem da igreja que, assim como a maioria dos personagens religiosos presentes na obra
de Machado, frequenta a casa das personagens principais especialmente para dar
conselhos e comer.
O primeiro capítulo se passa em seu aniversário, onde o narrador nos apresenta a
personagem que dá nome ao conto, seus amigos e sua filha. A descrição de D. Benedita
é de uma mulher doce e afável, muito amorosa e que tem uma grande afeição pelos
elogios, como no trecho reproduzido a seguir:

D. Benedita não se contenta de falar à senhora gorda, tem uma das mãos desta
entre as suas; e não se contenta de lhe ter presa a mão, fita-lhe uns olhos
namorados, vivamente namorados. Não os fita, note-se bem, de um modo
persistente e longo, mas inquieto, miúdo, repetido, instantâneo. Em todo caso,
há muita ternura naquele gesto; e, dado que não a houvesse, não se perderia nada,
porque D. Benedita repete com a boca a D. Maria dos Anjos tudo o que com os
olhos lhe tem dito: - que está encantada, que considera uma fortuna conhecê-la,
que é muito simpática, muito digna, que traz o coração nos olhos, etc., etc., etc

Dona Benedita é uma mulher idealizadora, mas que não realiza muitas ações. A
personagem passa boa parte do conto planejando ir até Belém para ter com seu marido e,
em todas as ocasiões, acaba deixando para outro momento e sua ida nunca acontece. Já
Dona Paula, encontramos uma mulher mais atuante. O conto se desenrola a partir de uma
briga de casal entre a sobrinha de D. Paula e seu marido. Ao contrário de D. Benedita, D.
Paula resolve o problema de maneira objetiva:

- Você perdoa-lhe, fazem as pazes, e ela vai estar comigo, na Tijuca, um ou dous
meses; uma espécie de desterro. Eu, durante este tempo, encarrego-me de lhe pôr
ordem no espírito. Valeu?

Conrado aceitou. D. Paula, tão depressa obteve a palavra, despediu-se para levar
a boa nova à outra, Conrado acompanhou-a até à escada.

É interessante ressaltar que em ambos os contos há a presença de outra


personagem feminina, mais nova do que a principal e que faz também pode servir de
comparação. As duas são diametralmente opostas quando comparadas entre si:
Venancinha (D. Paula) é uma jovem casada que se apaixona por outro homem e acata,
sem discutir, as decisões de sua tia; ao passo que Eulália (D. Benedita) é uma jovem
solteira que não aceita o novo escolhido por sua mãe e acaba por casar-se com o rapaz
por quem havia se interessado desde o começo do conto, convencendo a sua mãe de que
ele seria a melhor escolha.

Tendo estabelecidos os pontos de comparação entre os contos, podemos atentar


para um recurso utilizado frequentemente na obra de Machado: a máscara social. Para
Bosi (1982), essa teoria poderia ser formulada da seguinte forma: “só há consistência no
desempenho do papel social, aquém da cena pública a obra humana é dúbia e veleitária”.
As máscaras são parentes da relatividade, pois tudo é construção e também pode ser
desconstruído. A teoria das máscaras não pretende entender o comportamento do sujeito,
mas tenta entender ou iluminar o sujeito ambíguo, veleitário, que negaceia o leitor. Nos
dois contos, quando afastadas das outras pessoas, podemos conhecer o outro lado das
duas personagens principais. Para os amigos e familiares, D. Benedita é uma mulher doce
e apaixonada pelo marido, que a deixou com seus dois filhos. Entretanto, quando o
narrador nos coloca no quarto da senhora, é essa D. Benedita que encontramos:

Noto que rasgou agora o babadinho do punho esquerdo, mas é porque, sendo
também impaciente, não podia mais "com a vida deste diabo". Essa foi a sua
expressão, acompanhada logo de um "Deus me perdoe!" que inteiramente lhe
extraiu o veneno. (...) E, rápida, calçou a chinela, concertou depressa o punho do
roupão, e dirigiu-se à escrivaninha, para começar a carta. Escreveu, com efeito,
a data, e um: - "Meu ingrato marido"; enfim, mal traçara estas linhas: - "Você
lembrou-se ontem de mim? Eu..."

A duplicidade de seu comportamento pode ser representada pelo trecho “não


podia mais "com a vida deste diabo". Essa foi a sua expressão, acompanhada logo de um
"Deus me perdoe!" que inteiramente lhe extraiu o veneno.” Ao perceber que agiu sem
pensar, D. Benedita trata de se policiar e pedir perdão a Deus, já que a sociedade era
bastante religiosa no período. Também fica claro que ela guarda mágoas do marido,
apesar de fingir para todos que o espera de braços abertos. Durante a escritura da carta,
por exemplo, a personagem se irrita por ter que escrever (“A carta era muito comprida
apesar de não dizer tudo; e era-lhe tão enfadonho escrever cartas compridas!”), o que não
deveria ser o comportamento de uma esposa apaixonada.

Dona Paula apresenta à sociedade a imagem de uma senhora viúva, séria e muito
correta. Essa máscara é rachada quando ela escuta o nome do suposto namorado de sua
sobrinha, reacendendo uma memória que, aparentemente, estava bem guardada:

Em todo caso, o nome de Vasco subiu a Tijuca, se não em ambas as cabeças, ao


menos na da tia, onde era uma espécie de eco, um som remoto e brando, alguma
cousa que parecia vir do tempo da Stoltz e do ministério Paraná (...). Já se
entende que o outro Vasco, o antigo, também foi moço e amou. Amaram-se,
fartaram-se um do outro, à sombra do casamento, durante alguns anos, e, como
o vento que passa não guarda a palestra dos homens, não há meio de escrever
aqui o que então se disse da aventura.

Dona Paula guarda sua outra face em memórias. Com o fim de seu relacionamento
com Vasco – o pai - , ela se torna uma mulher “austera e pia, cheia de prestígio e
consideração”. Só temos acesso a essas informações quando ela está sozinha, refletindo
sobre o que aconteceu com ela e em como a sua sobrinha está lidando com uma situação
extremamente semelhante, especialmente por se tratar do filho de seu antigo namorado.

Péres (2008) chama a atenção para outro ponto importante em Dona Paula, o
conceito de memória. De acordo com ele, Machado trabalha o problema da carga
emocional no conto. Por se tratar de uma situação irônica, considerando que uma pessoa
que traiu o matrimônio tenta salvar a moral da sobrinha que está fazendo o mesmo, o
conto é cheio de contradições. Podemos encontrar um exemplo no trecho a seguir:

O ar da tia era tão jovem, a exortação tão meiga e cheia de um perdão


antecipado, que ela achou ali uma confidente e amiga, não obstante algumas
frases severas que lhe ouviu, mescladas às outras, por um motivo
de inconsciente hipocrisia. Não digo cálculo; D. Paula enganava-se a si mesma.
Podemos compará-la a um general inválido, que forceja por achar um pouco do
antigo ardor na audiência de outras campanhas.

D. Paula, mesmo com uma situação semelhante em seu passado, faz o possível
para evitar que Venancinha siga os seus passos. A personagem se tranquiliza ao descobrir
que, na verdade, o romance de sua sobrinha com Vasco não passou de “um prólogo –
interessante e violento”.

Retomando um pouco a informação do ímpeto de Dona Benedita de sempre


agradar e elogiar aos que estão perto, Teixeira (2007) nos traz uma informação
interessante:

A personagem que dá nome a este conto de Machado, Dona Benedita, é marcada


por duas características: a de elogiar as pessoas que a cercam e a de prolongar seu desejo
a ponto de desistir das coisas que busca ou planeja. A primeira característica aqui dita se
encontra no próprio nome Benedita, que, do latim benedictus, significa bendizer, falar
bem, elogiar. Já a segunda característica está relacionada ao termo veleidade.

Ao final do conto, fugindo um pouco do realismo, Machado introduz um elemento


fantástico para justificar a veleidade de Benedita:
A figura achou um princípio de riso, mas perdeu-o logo; depois respondeu que
era a fada que presidira ao nascimento de D. Benedita: Meu nome é Veleidade, concluiu;
e, como um suspiro, dispersou-se na noite e no silêncio.

Ainda de acordo com Teixeira, o termo significa “vontade inútil ou hesitante”. A


junção dos dois elementos é a mais correta descrição da personagem.
Referências:

ASSIS, Machado de. Dona Benedita. Obra Completa. Rio de Janeiro : Nova
Aguilar 1994. v.II. Disponível em:
http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000235.pdf

_____Dona Paula. Núcleo de Ensino a Distância -UNAMA, Belém, 2004


Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ua000196.pdf

BOSI, Alfredo. A máscara e a fenda. Machado de Assis: antologia e estudos.


São Paulo: Ática, 1982.

FARIAS, Milaine Santos; MOTA, Ronara Vieira do Nascimento, SANTIAGO,


Camila dos Santos; SILVA, Cláudia Melo da. Mulheres Machadianas:
Submissão e resistência. Anais do III SEPEXLE 2012 - Seminário de Pesquisa
e Extensão em Letras, UESC.

Péres, S. P. & Massimi, M. O conceito de memória na obra de


Machado de Assis. Memorandum, 15, 20-34, 2008 Disponível em:
http://www.fafich.ufmg.br/~memorandum/a15/permas02.pdf

TEIXEIRA, Marcos Vinícius. Uma leitura de Papéis avulsos de Machado de


Assis. In: Revista de Literatura - 2008. Belo Horizonte: Associação Pré-UFMG,
2007, p. 07-32. Disponível em:
http://www.geocities.ws/osdeusescomempao/estudodeobra-papeisavulsos.pdf

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