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Universidade do Vale do Paraíba/Faculdade de Direito, Praça Cândido Dias Castejón, nº 116, Centro, São
José dos Campos/SP CEP 12245-720, matheusmontfort@gmail.com
Resumo: O presente trabalho tem por escopo demonstrar a relevância que o direito natural, na concepção do
jurista John Mitchell Finnis, possui na sociedade contemporânea -máxime a jurídica - através de uma
explicação concisa e objetiva dos fundamentos de derivação e validade do direito objetivo em face deste.
Assim, partindo da concepção que o autor possui sobre o Direito Natural e Direitos naturais, demonstrar-se-á
a importância que tais institutos possuem nas relações sociais, notadamente no âmbito jurídico,
estabelecendo paradigmas para a identificação da justeza, e própria racionalidade, do direito positivo pátrio,
diante de sua criação pelo legislativo, aplicação pelo executivo e julgamento pelo judiciário. O conhecimento
dos parâmeros balizadores do que se entende por direito natural, poderemos averiguar a congruência ou não
do direito positivo criado e aplicado pelo Estado, em face dos valores de seus cidadãos.
Palavras-chave: Direito natural, Direito positivo, John Mitchell Finnis, Derivação, Validade.
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e consectariamente um paradigma na formação Entendem-se como critérios de vigência, a
cultural da sociedade, uma vez que trata dos fins obediência às regras de criação da lei, que
desejáveis por todo ser humano. garantem certa segurança para os cidadãos dos
meios pelos quais direitos e obrigações serão
Discussão criados; por seu turno, a eficácia dependerá de
normas secundárias, que derivarão indiretamente
Normalmente, define-se o direito natural como do direito natural (conforme se demonstrará
direitos essências e imutáveis que norteiam o ser abaixo), para a efetiva proteção dos bens
humano, devendo ser o fundamento das leis essenciais.
escritas. (MONTORO. ANDRÉ,1999). Ao descrever sobre a validade da norma, o
Para Finnis, tal conceito é mais profundo, pois o autor ressalta que para a existência desta, impõem-
define, em síntese, sobre três aspectos: i) conjunto se uma exigência que deriva da própria natureza
de princípios básicos que indica formas básicas de das coisas, podendo esta ser denominada como
florescimento do conhecimento humano como bens validade da norma, uma vez que a norma possui
a serem buscados e realizados, ii) um conjunto de uma razão de existir, um objetivo, não podendo
requisitos metodológicos básicos de razoabilidade afastar-se dela, ou seja, o direito positivo (normas
prática e iii) um conjunto de padrões morais gerais existentes) deve apoiar-se em certas exigências
(FINNIS. JOHN, 2007). básicas da natureza pela sua própria lógica.
Contudo, a visão de tais direitos foi preterida em Os elementos que compõem e dotam a
função de uma corrente jusfilosófica denominada qualidade de válida (justa) a uma norma positivada
positivismo, que prezava demasiadamente pela são os direitos naturais, materializados pela
existência de leis escritas (leis positivadas), que descrição de bens inerentemente bons para o
bastavam por si mesmas para ordenar a homem. Em outras palavras, a justiça da lei existirá
sociedade, sendo desnecessárias qualquer na medida em que estiver em conformidade às
concepção de direitos imutáveis para balizar as normas da razão, e a primeira norma da razão
decisões dos magistrados. humana é a lei natural.
Suspeitamos que o motivo pelo qual o direito Nesse sentido, esclarece o autor:
natural foi renegado pelos juristas e pela sociedade “Tomás realmente afirma que o direito positivo
brasileira decorra da demasiada influência deste deriva sua validade do direito natural, mas ao
positivismo (direito francês), recaindo na crítica que mesmo tempo, mostra como não é uma mera
o filósofo Michael Villey fez aos juristas franceses, emanação ou cópia do direito natural [...]” (FINNIS.
em meados de 1970: “Napoleão teria orientado JOHN, 2007).
nossos juristas para a obediência. Eles temiam que Além disso, o autor reconhece, citando São
a filosofia viesse ressuscitar os erros do direito Tomás de Aquino, que o direito positivo é
natural do Antigo Regime e comprometer o poder necessário em razão dos direitos naturais não
das leis positivas [...]” (VILLEY. MICHAEL, 1977). fornecem todos os meios de solução e efetivação
Assim, nos cumpre desmitificar tal concepção, e de seus postulados, por não serem dotado de
traze à tona o estágio atual dos conhecimentos imperatividade perante a sociedade, isto é, não ser
acerca do direito natural. cogente, como o direito positivo.
Como todo objeto de análise filosófico, parte Os direitos naturais (bens/valores básicos)
Finnis de uma teoria geral do direito, que serve descritos por Finnis como paradigma da validade
como “pano de fundo” para a análise dos demais da lei são: (i) Vida: compreende a garantia de vida
postulados de sua obra o direito e lei natural. com qualidade aos cidadãos (criação de políticas e
A proposta teórica proposta pelo autor é de que leis que melhorem a vitalidade de todos) ; (ii)
o direito seria um conjunto de regras autorizadas Conhecimento: considerado desejável em si
que se destinam a dar vigência, validade e eficácia mesmo, não apenas como instrumento (fomento da
a estas mesmas normas. Desta premissa, é cultura e educação); (iii) Jogo: atividades que não
possível inferir três elementos adjetivos essenciais possuem um propósito além de seu próprio
aos direito, a saber, os que garantem a vigências desempenho, também denominado de hobby, pois
das regras (criação), validade (justa) e eficácia se tratam de atividades que são desfrutadas por si
(alterar a realidade). mesmo, sem um objetivo exterior (esportes,
Deteremos-nos mais no aspecto da validade, entretenimento, havendo também os proibidos -
mas não podemos descurar dos outros elementos, v.g, “jogo do bicho”) ; (iv) Experiência estética:
que tornam mais inteligível o ponto central deste apreciação de coisas exteriores que aprazam
estudo. nossos sentidos sem qualquer ação de nossa
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parte, sendo valorizadas em si mesmo (v.g, - Lei 10.257/2001
proteção aos bens culturais, meio ambiente, direito (estatuto da cidade).
urbanístico); (v) Sociabilidade: consiste na Sociabilidade - Constituição
colaboração entre duas pessoas como instrumento Federal: artigos 1º, IV
de realização de seus objetivos sem conflito, (livre iniciativa); 8º
exigindo a existência de um mínimo de paz e (liberdade de
harmonia entre os homens (v.g, tutela jurisdicional, associação), 17
arbitragem, conciliação); (vi) Razoabilidade prática: (partidos políticos), etc.
permitir ao cidadão utilizar com eficiência sua Razoabilidade Prática - Constituição
inteligência para tomar decisões com a maior Federal: artigos 1º, IV
liberdade possível (v.g, livre iniciativa, negócios (livre iniciativa), 8º
jurídicos, objeção de consciência); e (vii) Religião: (liberdade de
consiste no respeito e busca em metavalores, ante associação), 37, caput
a possibilidade de existência de uma origem (princípios da
transcendente da origem das coisas, da liberdade e administração pública).
da razão, isto é, a preocupação com uma ordem de etc.
coisas além de cada um. - Código Civil:
Por fim, o autor afirma que tal rol não é taxativo, artigos 421 (liberdade
pois além deste bens, existem outros inúmeros de contratar); 138 ao
objetivos e formas de bem que também podem ser 157 (vícios na
protegidos e desejados, mas se analisados liberdade de escolha).
profundamente, serão resultados de fusões e - Código Penal:
confrontos destas 7 (sete) formas básicas de bem. artigo 171 (enganar a
A título de esclarecimento, segue quadro que inteligência de uma
compara os bens descritos pelo autor ao direito pessoa para se
positivo pátrio: beneficiar).
- Lei 9.279/1996
Bens: Legislação: (direitos de patentes e
Vida Código Penal: marcas e sobre a
artigos 121 (homicídio); propriedade industrial).
157, §3º (latrocínio), Religião - Constituição
etc. Federal: artigos: 5º, VI
Conhecimento - Constituição (liberdade religiosa), VII
Federal: artigos 6º, (assistência religiosa
caput; 22, XXIV; 23, V. em órgãos públicos),
- Lei 9.394/1996 VIII (proíbe a
(Diretrizes Básicas da discriminação
Educação). religiosa).
- Lei 13.005/2004 - Lei 7.716/1989
(Política Nacional da (crimes por
Educação). discriminação
Jogo - Lei 11.438/2006 religiosa).
(incentivo ao desporto). - Lei 11.63520/07
- Decreto Lei 204/67 (intolerância religiosa).
(dispõe sobre jogos de
loteria). Mencione-se que o fato de tais leis tratarem
- Lei 9.215/1946 sobre o bem descrito pelo autor não implica que
(Proíbe jogos de azar). estas os protejam ou o tornem desejáveis. Em
Experiência estética - Lei 6.533/1978 alguns casos, fazem o contrário.
(regulamenta a A derivação poderá dar-se de duas formas: a)
profissão de artistas). como conclusão que se deriva dos princípios,
- Lei 12.287/2010 consubstanciados na legislação substantiva
(inclui o ensino da arte (Código Civil, Código Penal, etc.); e b) por
no ensino básico). determinação, que correspondem às normas
necessárias a efetivação da proteção do direito
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natural, isto é, normas adjetivas e regras - SGARBI, Adrian. O DIREITO NATURAL
secundárias que visam efetivar tal direito (Códigos REVIGORADO DE JOHN MITCHELL FINNIS, são
de Processo Civil e Penal, portarias, regimentos, Paulo, 2007, Revistas USP (confirmar como citar
normas administrativas de efetivação da lei e das artigos)
decisões judiciais, polícia, judiciário, etc). As
primeiras justificam-se diretamente dos direitos - MONTORO, André Franco. Introdução à Ciência o
naturais, já as segundas justificam-se Direito, 1999, RT.
indiretamente, posto que só existem em razão da
lei positiva, estando vinculadas, umbilicalmente, a - Legislação brasileira. Disponível em
lei substantiva, portanto. http://www4.planalto.gov.br/legislacao. Acesso em
Somente existirá uma derivação legítima dos 10/08/2015.
direitos naturais enquanto os direitos positivados
corresponderem à proteção de tais bens
essenciais, ou seja, deve existir um controle
(semelhante ao controle de constitucionalidade) a
fim de averiguar a conformidade de uma norma em
face destes bens, posto que a inexistência de
norma que o proteja, ou a existência de norma que
o ofenda, macularia o ordenamento jurídico ou a
norma, na medida em que se desvincula dos
direitos naturais (v.g o crime de homicídio protege o
bem vida; o crime de roubo e a responsabilidade
civil protegem o bem propriedade).
Conclusão
Referências
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