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DIVERSIDADE NA ESCOLA, POSSIBILIDADES E LIMITAÇÕES –

REFLEXÕES SOBRE IGUALDADE E DIFERENÇA NO CONTEXTO


EDUCATIVO CONTEMPORÂNEO

Ana Carolina Hyer de Faria da Silva Martins e Luciana de Barros Oliveira

Universidade do Estado do Rio de Janeiro


Instituto de Aplicação Fernando Rodrigues as Silveira (CAp UERJ)
Programa de Pós-Graduação de Ensino de Educação Básica – Curso de Mestrado Profissional (PPGEB)
E-mail: secretaria.ppgeb.capuerj@gmail.com

INTRODUÇÃO

[...] Você deve aprender a baixar a cabeça


E dizer sempre muito obrigado
São palavras que ainda te deixam dizer
Por ser homem bem disciplinado

Deve, pois, só fazer pelo bem da nação


Tudo aquilo que for ordenado
Pra ganhar um fuscão no juízo final
E diploma de bem comportado [...]
(Gonzaguinha, 1972)

Diante da realidade contemporânea é necessário repensar acerca das mudanças ocorridas no


ambiente escolar e suas práticas pedagógicas. Com a criação tardia de leis que garantem o acesso de
todos a escolarização, as demandas da educação sofreram mudanças no que condiz a real
possibilidade de ensino que contemple a todos, com suas diferenças, culturas e especificidades.
Pensar em uma educação que atenda a todos requer mudanças de paradigmas, como por exemplo, a
alteração do papel centralizador que sempre foi atribuído ao professor, no qual o estudante deveria
tê-lo como base e se adaptar ao que fosse proposto por ele, para uma escolarização que coloque o
educando no eixo central do processo educativo. Para que o educando ocupe este lugar é necessário
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que ocorra a valorização da cultura, do conhecimento, o habitus (BOURDIEU, 1983) trazidos por
esse sujeito social.
Mas até que ponto essa valorização das individualidades do sujeito vai contra um ideal de
igualdade defendido pelas leis brasileiras que garantem os mesmos direitos para todos os
brasileiros? Neste trabalho, propomos uma discussão sobre as práticas pedagógicas cotidianas das
escolas, tomando como referência o aporte legal que garante o acesso de todos à escolarização, e
questionamos ainda, as lacunas que a medida proporciona quando não está em consonância com a
realidade social, e não considera as culturas existentes no espaço escolar e a própria cultura a qual
se insere. Trazemos para essa discussão alguns apontamentos sobre os impasses entre o que as leis
garantem e o que de fato ocorre nas escolas.

METODOLOGIA
A presente pesquisa caracteriza-se como bibliográfica. A escolha por tal metodologia baseia-
se no pressuposto apresentado por Minayo (2013), quando ressalta a importância da vinculação
entre o problema da investigação e os conhecimentos apropriados historicamente.
Baseado na proposição da pesquisa enquanto prática teórica, adotamos a pesquisa
bibliográfica por contemplar possibilidades de compreensão e vinculação entre o pensamento e a
ação, determinada aqui como a inserção na vida real.
Como critério de seleção de conteúdo para a tessitura desse artigo, foram utilizados textos
adotados por disciplina de mestrado profissional, cujo a finalidade se debruça sobre as condições de
acesso, participação, ensino e aprendizagem dos diversos atores que compõem o cenário
educacional brasileiro.

Um resgate Legal
O Brasil apesar de ser considerado internacionalmente como rico em diversidade cultural,
ainda sofre embaraços para garantir a valorização dessa diversidade na educação. Talvez, uma das
possíveis causas que justifiquem tais desafios seja a implementação tardia do ensino para todos os
brasileiros. Somente em 1988 (a menos de 30 anos) é que a igualdade de direitos e acesso de todos
de forma igualitária à educação foram implementados com políticas públicas que garantiram a
entrada de pessoas de diversas camadas sociais e necessidades educacionais específicas na escola.
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A Constituição Federal Brasileira de 1988 afirma que “todos são iguais perante a lei, sem distinção
de qualquer natureza”, defendendo a igualdade de direitos, inclusive em relação à educação. Em seu
capítulo III, seção I, artigos 205 e 206 ela propõe os direitos dos cidadãos frente à educação e
estabelece os princípios para o ensino:

Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e
incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa,
seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.
Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:
I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;
II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber;
III - pluralismo de idéias e de concepções pedagógicas, e coexistência de instituições
públicas e privadas de ensino;
IV - gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais;
V - valorização dos profissionais da educação escolar, garantidos, na forma da lei, planos
de carreira, com ingresso exclusivamente por concurso público de provas e títulos, aos das
redes públicas;
VI - gestão democrática do ensino público, na forma da lei;
VII - garantia de padrão de qualidade.
VIII - piso salarial profissional nacional para os profissionais da educação escolar pública,
nos termos de lei federal (CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO
BRASIL, 1988, GRIFO NOSSO)

A lei prevê ainda o pleno desenvolvimento dos cidadãos, sem preconceito de origem, raça,
sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação, garantindo o direito da escolarização
para todos e coloca como princípio para a Educação o “acesso aos níveis mais elevados do ensino,
da pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada um”.
O Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA (BRASIL, 1990) bem como a Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDB (BRASIL, 1996) são leis que se referem ao avanço
da educação no sentido de atender a sociedade determinando a igualdade de acesso e permanência
de todos a escolarização.
Problematizando tais determinações, questionamos, mas até que ponto essa defesa pela
igualdade de direitos atua como a legitimação da homogeneização dos sujeitos na sociedade, e mais
ainda, dos processos de escolarização? De acordo com Emilia Ferreiro, o processo de escolarização
brasileiro sempre foi pautado na homogeneização, a autora afirma ainda que:

A escola pública, gratuita e obrigatória do século XX é herdeira das do século anterior,


encarregada de missões históricas de grande importância: criar um único povo, uma única
nação, anulando as diferenças entre os cidadãos, considerados iguais diante da lei. A
tendência principal foi equiparar igualdade à homogeneidade. Se os cidadãos eram iguais
diante da lei, a escola deveria contribuir para gerar estes cidadãos, homogeneizando as
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crianças, independentemente de suas diferentes origens. Encarregada de homogeneizar, de


igualar, esta escola mal podia apreciar as diferenças. (apud CANDAU, 2014, p. 30)

A cidadania que era contemplada nesse tipo de educação pretendia homogeneizar os


educandos contribuindo para o processo de identidade de uma nação, todos eram iguais somente
pelo fato de nascerem em uma mesma pátria, ignorando as particularidades individuais e sociais de
determinados grupos.

A qualidade da educação: por uma educação cidadã que contemple as diferenças


Atualmente, com a educação seguindo a lógica de mercado (do capital), o acesso a todos a
educação com o enfoque quantitativo é importante para determinar uma mão de obra mais
qualificada para o trabalho. Mas em relação à qualidade integral do ensino, percebe-se uma
discrepância entre ao que é ministrado nas escolas públicas atuais voltadas principalmente para as
classes mais pobres e ao que é ministrado nas instituições de referência ou particulares voltadas
para as elites brasileiras.
Na realidade, o acesso de todos a educação não contemplou igualdade de condições e
direitos, assim como não adquiriu uma melhor qualidade na educação para os diferentes sujeitos
sociais. Talvez isso ocorra, porque a demanda educacional é diferente para os sujeitos em seus
meios sociais. Acreditamos que a qualidade deveria estar pautada na realidade do educando,
estabelecendo objetivos de interesse do sujeito, através da valorização de sua cultura, nesse sentido
concordamos com Gadotti (1998, p. 31), ao referir-se ao sentido de qualidade defendido por Paulo
Freire:

A qualidade é todos (quantidade) terem acesso ao conhecimento e a relações sociais e


humanas renovadas. Qualidade é empenho ético, alegria de aprender. Para o pensamento
neoliberal, a qualidade se confunde com a competitividade. Negam a necessidade da
solidariedade. Contudo, as pessoas não são competentes porque são competitivas, mas
porque sabem enfrentar seus problemas cotidianos junto com os outros, e não
individualmente.

Mas de qual qualidade estamos falando? Consideramos qualidade na perspectiva do


desenvolvimento integral do educando e que sua participação seja refletida para o meio social.
Enfim, um cidadão participativo e transformador da realidade e não somente perpetuador de um
sistema. Uma qualidade de educação que contribua para a construção de cidadãos plenos.
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A cidadania de que estamos falando, não é aquela que normatiza os sujeitos, em busca de
uma homogeneização de direitos e deveres somente, mas sim de uma nova concepção que
contemple a diversidade cultural e a diversidade dos sujeitos em uma sociedade comum.
Estabelecendo reflexões críticas sobre a função social de cada um, para além de uma conformação
ou determinismo social.
“Temos o direito de ser iguais quando a nossa diferença nos inferioriza e temos o direito de
ser diferentes quando a nossa igualdade nos descaracteriza (SANTOS-BOAVENTURA, 1994, p.
44)”, partindo dessa premissa, nossa reflexão se inclina a tentar discutir os desafios no contexto
contemporâneo para a construção de uma escola para todos.

CONCLUSÃO
Nesse texto destacamos três aspectos da lei para tentar discutir e estabelecer um paralelo
com as reais condições da atualidade do contexto educacional brasileiro: a garantia do acesso, da
permanência e da qualidade do ensino. Ressaltamos que da forma que está prescrita na lei a
igualdade de condições para o acesso e permanência na escola, a Constituição Federal mais se
assemelha a uma carta de intenções, já que oferecer condições iguais de acesso não significa
oferecer condições equânimes de acesso.
Não é suficiente deliberar acerca da garantia de vagas, é necessário garantir condições de
acesso e para tal é necessário o reconhecimento da diferença. Uma condição necessária a um
sujeito/cidadão, não é a mesma necessária a outro, baseado nesse princípio pode-se pensar em
atender a garantia de acesso, mas ainda não a permanência e qualidade.
Indagamos ainda, como atender aos princípios de permanência e qualidade de ensino, se o
modelo de escola da atualidade está centrado na meritocracia, no livro didático, na educação
bancária, na falta de participação social do contexto educacional, na falta de projeto político
pedagógico que atenda a realidade local, na lógica fabril das escolas organizadas em turnos...
Essas e outras questões precisam ser discutidas no cenário educacional brasileiro para a
construção de um projeto de escola que atenda a diversidade, entretanto ressaltamos que não há uma
razão ou um modelo de escola ideal.
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Visando o processo de mudança de paradigma, talvez o “enraizamento” de todos,


professores, alunos, responsáveis, entre outros, pudesse ser o ponto de partida para essa mudança.
Acreditamos que o início desse projeto esteja na concepção de uma escola do povo e não para o
povo, que segundo os ideais de Paulo Freire (1987) seria a busca por uma conscientização crítica,
através de um método ativo, dialogal e participante.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BOURDIEU, Pierre. Sociologia. (Renato Ortiz org). São Paulo: Ática, 1983b
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Senado, 1988.
BRASIL. Lei n◦ 8.069, de 13 de Julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do
Adolescente e dá outras providências. Brasília: 1990.
BRASIL. Lei n◦9.394, 20 de dezembro de 1996. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional.
Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Brasília: 1996
GADOTI, Moacir. As muitas lições de Freire. In McLAREN, Peter; LEONARD, Peter; GADOTI,
Moacir (orgs). Paulo Freire: poder, desejo e memórias da libertação. Porto Alegre: Artmed,
1998. P. 25-34
FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.
MOREIRA, Antonio Flavio & CANDAU, Vera Maria. (Org.). Currículos, disciplinas escolares e
culturas. Petrópolis, RJ: Vozes, 2014.
MINAYO, M. C. S. O desafio da pesquisa social. In.: DESLANDES, S. F.; GOMES, R.;
MINAYO, C. S. (orgs.). Pesquisa social: teoria, método e criatividade. 33. ed. ―Petrópolis, RJ:
Vozes, 2013.
SOUZA SANTOS, B. Modernidade, identidade e a cultura de fronteira. Tempo social. Revista
social. USP, 1994. Disponível em
http://www.boaventuradesousasantos.pt/media/Modernidade%20Identidade%20Fronteira_TempoS
ocial1994.pdf, acesso em Nov/2014.

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