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Teste de avaliação 2017 /2018

Português 10º Ano


4 “Os românticos criaram Sintra e deixaram-nos um
‘paraíso glorioso’” (Alexandra Prado Coelho)
Utiliza apenas caneta ou esferográfica de tinta azul ou preta.
Não é permitida a consulta de dicionário.
Não é permitido o uso de corretor. Deves riscar aquilo que pretendes que não seja classificado.
Apresenta as tuas respostas de forma legível.
Ao responderes, diferencia corretamente as maiúsculas das minúsculas.
Apresenta apenas uma resposta para cada item.
As cotações dos itens encontram-se no final dos mesmos.

Instruções gerais
• Lê atentamente todas as questões que constituem o teste.
• Ouve o texto “Os românticos criaram Sintra e deixaram-nos um ‘paraíso
glorioso’” (Alexandra Prado Coelho), anotando, numa folha de rascunho, a
informação mais relevante.
• Responde às questões colocadas.

Critérios gerais de classificação


• As respostas ilegíveis são classificadas com zero pontos.
• Em caso de omissão ou de engano na identificação de uma resposta, esta
pode ser classificada se for possível identificar inequivocamente o item a que
diz respeito.
• Se for apresentada mais do que uma resposta ao mesmo item, só é
classificada a resposta que surgir em primeiro lugar.
Teste de Compreensão do Oral 4
Escola ______________________________________________________________________________________
Nome __________________________________ N.º _______ Turma ____________ Data __________________
Classificação __________________________________ Docente _____________________________________
Observações ________________________________________________________________________________

1. Seleciona a opção correta.


1.1. Este texto tem como principal intencionalidade comunicativa
(4 PONTOS)
a. relatar a vida do rei D. Fernando.
b. transmitir informação sobre Sintra.
c. incentivar os turistas a visitar Sintra.
d. publicitar o Hotel Lawrence e o Palácio da Pena.
1.2. A caracterização de Sintra como “paraíso glorioso” é da autoria
(4 PONTOS)
a. de Alexandra Prado Coelho.
b. da UNESCO.
c. de Lord Byron.
d. de António Nunes Pereira.
1.3. A única afirmação que não foi produzida por António Nunes Pereira é
(4 PONTOS)
a. “O que Byron viu foi uma paisagem que se aproximaria muito mais do que temos na
Peninha, mais
agreste, muito mais despida de árvores, com outro tipo de espécies e muito mais
rarefeitas.”
b. “A História está na vila […] mas a evocação dessa mesma História está lá em cima,
na Pena”.
c. “Comecemos então a visita pelo mais romântico de todos os palácios: a Pena.”
d. “é uma herança germânica que o leva a construir a Pena a partir dessa ideia de um
palácio no topo da montanha, rodeado por uma paisagem”.
1.4. Com a afirmação “A Sintra de hoje começa, portanto, com D. Fernando II […]”, a
autora acentua
(
4
PONTOS)
a. os contrastes da paisagem de Sintra antes e depois da intervenção de Francis Cook
e D.
Fernando.
b. o aspeto frondoso e natural que caracteriza atualmente a serra de Sintra.
c. a manutenção da identidade de Sintra ao longo dos séculos.
d. a importância política adquirida por Sintra após a intervenção de D. Fernando.
1.5. No contexto em que surge, o adjetivo “romântico” remete para
(4 PONTOS)
a. a expressão amorosa.
b. um período cultural.
c. o género literário romance.
d. uma mentalidade materialista.
1.6. D. Fernando é comparado com D. Manuel I em termos de
(4 PONTOS)
a. sumptuosidade económica.
b. sensibilidade artística.
c. contenção financeira.
d. desvario sentimental.

2. Ordena cronologicamente os seguintes acontecimentos históricos.


(8 PONTOS)

Explicações de António Nunes Pereira ao jornal Público sobre Sintra.

Gestão do património de Sintra pela empresa Parques de Sintra – Monte da Lua.

Compra de Monserrate.

Compra do mosteiro da Pena.

Classificação de Sintra como património mundial pela UNESCO.

3. Associa a cada entidade o(s) respetivo(s) atributo(s).


(18 PONTOS)

Entidade Atributo

a. D. Fernando 1. Responsável pela compra de Monserrate.

b. Francis Cook 2. Autor do poema “Childe Harold’s Pilgrimage”.

c. Lord Byron 3. Diretor do Palácio de Monserrate.

d. António Nunes Pereira 4. Responsável pela transformação do Mosteiro da Pena


numa residência.
e. Parques de Sintra –
5. Empresa de capitais públicos.
Monte da Lua
6. Doador do mosteiro de São Jerónimo a esta Ordem.
f. D. Manuel I
7. Responsável pela compra do Mosteiro de São Jerónimo.

8. Diretor do Palácio Nacional da Pena.

9. Casado com D. Maria II.

10. Nascido na Áustria.

11. Responsável pela construção da Pena como palácio no


topo de uma montanha.
Teste de Compreensão do Oral 4
“Os românticos criaram Sintra e deixaram-nos um
‘paraíso glorioso’” (Alexandra Prado Coelho)
Os românticos criaram Sintra e deixaram-nos
um “paraíso glorioso”
Há 20 anos, a UNESCO reconheceu que Sintra representa uma paisagem única. Por entre
penhascos agrestes, os românticos criaram no século XIX um mundo meio irreal, recuperando
ruínas de castelos, erguendo palácios exóticos e trazendo catos do México e camélias do Japão.
Que história(s) nos conta hoje Sintra?

Sabemos que quando Lord Byron chegou a Sintra ficou deslumbrado. No poema “Childe Harold’s
Pilgrimage”, parte do qual terá sido escrito no histórico Hotel Lawrence, chamou-lhe “paraíso glorioso”
e, até hoje, a expressão continua a ser usada. […]

“Quando Byron vem a Portugal no início do século XIX e, tal como todos os outros antes dele, se
deixa levar por este encanto avassalador que Sintra sempre teve, ele não viu o que estamos a ver”,
explica António Nunes Pereira, diretor do Palácio Nacional da Pena e do Palácio de Monserrate. “O
que nós vemos é o produto da transformação paisagística que acontece a partir de 1838 quando D.
Fernando II compra o antigo mosteiro da Pena e o transforma numa residência, transformando também
a paisagem à volta.”

Alguns anos depois, é um inglês, Francis Cook, quem vai comprar Monserrate e iniciar também
5
essa transformação. A Sintra Romântica – uma paisagem cultural construída – nasce nessa altura. “O
que Byron viu foi uma paisagem que se aproximaria muito mais do que temos na Peninha, mais agreste,
muito mais despida de árvores, com outro tipo de espécies e muito mais rarefeitas.” A Sintra de hoje
começa, portanto, com D. Fernando II e com Francis Cook. Dois homens que estão, sublinha Nunes
Pereira, “no final de uma longa história mas no princípio da que nós aqui contamos”.

Desde que, na sequência da classificação pela UNESCO em 1995, no ano 2000 a empresa de capi-
tais públicos Parques de Sintra – Monte da Lua assumiu a gestão deste património que procura contar
esta história a todos quantos visitam os seus monumentos, palácios e parques — e foram já mais de
dois milhões este ano.

Comecemos então a visita pelo mais romântico de todos os palácios: a Pena. […]
10
A Pena é, diz o seu diretor, “a primeira grande evocação da História portuguesa”. É verdade que é
outro palácio, o da Vila, no centro de Sintra, que carrega um peso secular que começa com a presença
muçulmana e atravessa toda a monarquia portuguesa. “A História está na vila”, reconhece Nunes
Pereira, “mas a evocação dessa mesma História está lá em cima, na Pena”, nesse excêntrico palácio de
mil formas e cores que se ergue, majestoso, no topo dos penhascos.

D. Fernando II nasce em Viena […] e torna-se rei de Portugal pelo seu casamento com D. Maria II.
“É um rapaz alto e louro que chega ao nosso país com 19 anos e tem uma grande necessidade de se
afirmar como legítimo rei de Portugal, mesmo que consorte. Por isso, o que faz é agarrar-se à figura de
15 D. Manuel I, para, com a Pena, mostrar ao mundo que está à altura da herança da nação portuguesa.”

Em 1838 compra o mosteiro de São Jerónimo, doado a esta Ordem por D. Manuel I e devoluto após
a extinção das ordens religiosas, e nos anos seguintes começa a sua recuperação, assim como a
construção do Palácio Novo. Não há dúvida, prossegue o diretor, que “é uma herança germânica que o
leva a construir a Pena a partir dessa ideia de um palácio no topo da montanha, rodeado por uma
paisagem”.
COELHO, Alexandra Prado, Público [em linha, consult. 08-12-2015, com supressões]

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Teste de Compreensão do Oral 4
“Os românticos criaram Sintra e deixaram-nos um
‘paraíso glorioso’” (Alexandra Prado Coelho)

Critérios gerais de classificação


• Cotação do teste: 50 pontos.
• As respostas ilegíveis ou que não possam ser claramente identificadas são
classificadas com zero pontos.
• Se for apresentada mais do que uma resposta ao mesmo item, só é classificada a
resposta que surgir em primeiro lugar.
Critérios específicos de classificação / cenários de resposta
Item Cotação
Cenário de resposta

1.1 4 pontos b.

1.2. 4 pontos c.

1.3. 4 pontos c.

1.4. 4 pontos a.

1.5. 4 pontos b.

1.6. 4 pontos a.

2. 8 pontos 5, 4, 2, 1, 3

a. 4, 7, 9, 10, 11.

b. 1.

c. 2.
3. 18 pontos
d. 3, 8.

e. 5.

f. 6.

Total 50 pontos

PINTAR O CINEMA

Vais ouvir o texto “Pintar o cinema“, de Alexandra Carita.

Antes de o ouvires, lê todos os itens com atenção.

Durante a audição, podes tomar notas ou responder diretamente no enunciado.

Responde aos itens que se seguem de acordo com as orientações que te são
dadas.

I. Primeira audição

1. Para cada item, seleciona a opção que permite obter uma afirmação
adequada ao sentido do texto escutado.

1.1. A ideia mais forte do filme “Os Maias” de João Botelho e a


(A) representação plástica de 17 exteriores da cidade de Lisboa do século
XIX.

(B) seleção criteriosa dos espaços exteriores de “Os Maias”.

(C) opção de representar a cidade de Lisboa do século XVIII através de


pinturas.

(D) preferência de João Queiroz, como artista plástico, para pintar os espaços
exteriores de “Os Maias”.

1.2. Na sua adaptação ao cinema, o pintor João Queiroz

(A) recriou os espaços mais emblemáticos do romance, partindo da


representação de gravuras da época.

(B) deu largas à sua criatividade, embora recorresse ao conhecimento que


possuía sobre os espaços referenciados na obra.

(C) fez uma investigação profunda no terreno e consultou bastante


documentação.

(D) investigou no terreno, consultou gravuras da época e serviu-se da sua


imaginação.

1.3. A opção plástica pela pintura dos espaços exteriores de “Os Maias”
obteve um resultado

(A) belo, mas artificial.

(B) imaginativo, mas controverso.

(C) descritivo e real.

(D) teatral e surpreendente.

1.4. Tecnicamente, João Queiroz pintou as telas

(A) como um exercício prático de teoria do desenho e de geometria descritiva.

(B) a uma escala reduzida que depois foram fotografadas, digitalizadas e


impressas em tamanho real.

(C) a uma escala real, como o comprova a tela do prédio da Rua Capelo com
40 metros de altura.

(D) a óleo e a tinta plástica.

1.5. A imagem de uma Lisboa “suja e envelhecida” em tom de cinzento foi


(A) uma questão debatida entre o pintor e o realizador.

(B) um resultado imprevisto, mas que resultou bem.

(C) uma tentativa de aproximar os cenários criados ao desfecho trágico do


romance.

(D) uma opção deliberada porque era a realidade na época.

1.6. João Botelho considera “Os Maias” como o seu “Ben-Hur”, pois também
ele é

(A) um filme com uma ação histórica adaptada de uma obra-prima.

(B) uma longa-metragem épica.

(C) uma longa-metragem imponente pelos seus cenários.

(D) a adaptação de uma obra-prima distanciada no tempo.

1.7. Alexandra Carita intercala no seu texto afirmações de João Botelho e de


João Queiroz para

(A) exemplificar.

(B) ilustrar os seus argumentos.

(C) expor informação.

(D) demonstrar.

1.8. Com a frase “Quero para o cinema o respeito que se tem para a pintura”,
o realizador

(A) reivindica uma vertente mais artística para o cinema.

(B) reclama contra a discriminação da arte cinematográfica.

(C) exige respeito para o seu filme “Os Maias”.

(D) critica a valorização da pintura na arte cinematográfica.

1.9. O título “Pintar o cinema” está adequado ao assunto do texto porque

(A) informa sobre a existência de uma nova técnica (a pintura e o cinema) no


filme de João Botelho.

(B) destaca a influência da pintura na arte cinematográfica.


(C) realça a opção tomada em associar a pintura e o cinema no filme “Os
Maias”.

(D) critica o artificialismo do recurso à pintura no filme “Os Maias”.

1.10. Atendendo às marcas específicas de género, este texto é

(A) uma exposição sobre um tema.

(B) uma apreciação crítica.

(C) um artigo de opinião.

(D) uma entrevista.

II. Segunda audição

2. Verifica com cuidado as tuas respostas e, caso seja necessário, corrige-as.

Destino
Quem disse à estrela o caminho
Que ela há-de seguir no céu?
A fabricar o seu ninho
Como é que a ave aprendeu?
Quem diz à planta «Florece!»
E ao mudo verme que tece
Sua mortalha de seda
Os fios quem lhos enreda?

Ensinou alguém à abelha


Que no prado anda a zumbir
Se à flor branca ou à vermelha
O seu mel há-de ir pedir?
Que eras tu meu ser, querida,
Teus olhos a minha vida,
Teu amor todo o meu bem...
Ai!, não mo disse ninguém.

Como a abelha corre ao prado,


Como no céu gira a estrela,
Como a todo o ente o seu fado
Por instinto se revela,
Eu no teu seio divino .
Vim cumprir o meu destino...
Vim, que em ti só sei viver,
Só por ti posso morrer.

Almeida Garrett, in 'Folhas Caídas'


Apresente, de forma estruturada, as suas respostas aos itens que se seguem.

1. Desde o início do poema até ao verso 12, repete-se um mesmo processo estilístico: a
pergunta retórica. Refira o efeito de sentido que esse processo estilístico produz.

2. Comente a importância das referências a elementos da natureza feitas ao longo do poema.

3. Indique os traços principais do «tu» a que o sujeito lírico directamente se dirige,


fundamentando a resposta em elementos do texto.

4. Explicite as relações que se podem estabelecer entre o título e o conteúdo do poema.

Grupo I

Lê atentamente o excerto d’ Os Maias abaixo transcrito.

5
10

15

20

25
Defronte do Ramalhete os candeeiros ainda ardiam. Abriu de leve a porta. Pé ante pé,
subiu as escadas ensurdecidas pelo veludo cor de cereja. No patamar tateava, procurava a
vela – quando, através do reposteiro entreaberto, avistou uma claridade que se movia no fundo
do quarto. Nervoso, recuou, parou no recanto. O clarão chegava, crescendo; passos lentos,
pesa-dos, pisavam surdamente o tapete; a luz surgiu – e com ela o avô em mangas de camisa,
lívido, mudo, grande, espetral. Carlos não se moveu, sufocado; e os dois olhos do velho,
vermelhos, esgazeados, cheios de horror, caíram sobre ele, ficaram sobre ele, varando-o até
às profundi-dades da alma, lendo lá o seu segredo. Depois, sem uma palavra, com a cabeça
branca a tre-mer, Afonso atravessou o patamar, onde a luz sobre o veludo espalhava um tom
de sangue – e os seus passos perderam-se no interior da casa, lentos, abafados, cada vez
mais sumidos, como se fossem os derradeiros que devesse dar na vida!

Carlos entrou no quarto às escuras, tropeçou num sofá. E ali se deixou cair, com a cabeça
enterrada nos braços, sem pensar, sem sentir, vendo o velho lívido passar, repassar diante
dele como um longo fantasma, com a luz avermelhada na mão. Pouco a pouco, foi-o tomando
um cansaço, uma inércia, uma infinita lassidão1 da vontade, onde um desejo apenas
transparecia, se alongava – o desejo de interminavelmente repousar algures numa grande
mudez e numa grande treva… Assim escorregou ao pensamento da morte. Ela seria a perfeita
cura, o asilo seguro. Porque não iria ao seu encontro? Alguns grãos de láudano2 nessa noite e
penetrava na absoluta paz…

Ficou muito tempo embebendo-se nesta ideia, que lhe dava alívio e consolo, como se,
escorraçado por uma tormenta ruidosa, visse diante dos seus passos abrir-se uma porta,
donde saísse calor e silêncio. Um rumor, o chilrear de um pássaro na janela, fez-lhe sentir
o sol e o dia. Ergueu-se, despiu-se muito devagar, numa imensa moleza. E mergulhou na
cama, enterrou a cabeça no travesseiro para recair na doçura daquela inércia, que era um an-
tegosto da morte, e não sentir mais nas horas que lhe restavam nenhuma luz, nenhuma coisa
da Terra.

QUEIRÓS, Eça de, 2016. Os Maias. Porto: Porto Editora (Capítulo XVII, pp. 683-684) (1.ª ed.:
1888)

1. fadiga, fraqueza; 2. medicamento à base de ópio usado para adormecer e entorpecer.

Apresenta, de forma bem estruturada, as tuas respostas aos itens que se seguem.

1. Contextualiza o excerto na globalidade da obra a que pertence, destacando a sua


relevância diegética.
2. Descreve a evolução do estado psicológico de Carlos.
2.1. Destaca a expressividade do recurso ao discurso indireto livre no final do segundo
parágrafo.
3. Refere dois dos traços caracterizadores de Afonso, comprovando as tuas afirmações com
elementos textuais.
4. Comenta a relevância da luz e da cor na criação da atmosfera trágica.

GRUPO III

Um romance nas nossas mãos pode-nos conduzir a outro mundo que nunca visitámos,
nunca vimos e nunca conhecemos.

Orhan Pamuk

Partindo da frase do Prémio Nobel da Literatura de 2006, redige um texto bem


estruturado, de duzentas a duzentas e cinquenta palavras, em que defendas o teu ponto
de vista sobre a importância de “viajar com os livros”.

Pintar o cinema

“A grande ideia deste filme é a pintura de João Queiroz”. A afirmação de João


Botelho é perentória.

“Os (seus) Maias, duas horas e meia de filme, “à falta de coragem para o fazer
em catorze horas, tem na plasticidade o seu ponto mais forte. O traço, a
pincelada, a mancha e a textura da camada de tinta do pintor, que tem como
disciplina a paisagem como género, está aqui ao serviço de uma narrativa tão
descritiva quanto real do ponto de vista topográfico: a Lisboa do século XIX.

O desafio – pintar os exteriores de “Os Maias” na sua adaptação ao cinema –


foi aceite por João

Queiroz como um exercício prático de teoria do desenho e de geometria


descritiva, embora o descreva, e bem, como “um processo catártico que (o)
obrigou a um exercício de humildade”. Uma forma de aprendizagem ainda,
em que Queiroz é forçado a lidar com todos os problemas que a representação
implica e a resolvê-los num curto espaço de tempo.

Do Ramalhete, o palacete da família Maia, ao Chiado, Rua Ivens, Rossio,


Hipódromo, Aterro (atual cais do Sodré), estrada de Sintra, do Grémio
Literário à casa de Maria Eduarda ou ao Hotel Bragança, o pintor trabalhou
um total de 17 exteriores diferentes. A investigação começou no terreno,
numa visita a cada

um dos sítios especificados na obra-prima de Eça, mas desenvolveu-se


sobretudo na consulta de gravuras, postais e fotografias antigas. A partir daí,
mandou a realidade imaginada pela criatividade do autor. Compromissos
havia dois, “o de dar vida a paredes e cenários” e o da “recriação
topograficamente plausível de cada local sem deixar de colocar a ênfase na
sua relação com a pintura”, conta Queiroz.

É partindo dessa lógica que o filme nasce tendo como elemento de eleição a
mancha da pintura.

Tecnicamente, os quadros que João Queiroz pintou a uma escala reduzida


foram depois fotografados, digitalizados e impressos em tamanho real. Se o
do prédio da Rua Capelo […] tem na realidade 40 metros de altura, são 40
metros de altura que a pintura transformada em papel de parede vai ter em
estúdio. “Nesta amplitude de escala, os atores não terão mais de dez
centímetros, o tamanho dos meus dedos em frente a esta porta de um prédio”,
explica o artista plástico. O resultado terá como cúmplice uma maneira de
filmar que acentua cada traço, tanto, nos planos abertos como nos mais
fechados.

Um traço mais carregado aqui e ali, uma mancha mais forte, sinais da época e
de “uma Lisboa suja”. Apercebi-me que naquela época os prédios não eram
pintados com regularidade, muito menos com tinta plástica. Aqueles que
pintei teriam no mínimo cem anos, não podiam estar luzidios. A obra de
Canoletto também me dizia o mesmo. Foi por isso que optei por essa Lisboa
suja, envelhecida, aquela que crescera no século XVIII e só viria a ser
renovada no século XX”, adianta João Queiroz, que deu voltas à cabeça para
“inventar” uma forma de fazer a calçada do Rossio, até emprestar à tela uma
velatura de cinzento.

Num hangar gigantesco, encontrado pelo realizador às portas de Lisboa, a


terra vai sujar o chão e os candeeiros a gás iluminarão as ruas, os bancos de
madeira vão compor as praças por onde passarão 52 atores, durante 54 dias de
filmagens do “Ben-Hur” de Botelho, como lhe chama.

“Quero para o cinema o respeito que se tem para a pintura”, reclama ainda o
realizador. O óleo de João Queiroz dar-lho-á até nas pedras gastas do pequeno
painel de azulejos que encima a porta de entrada do velho Ramalhete,
escondido algures lá para os lados das Janelas Verdes.

Alexandra Carita. “«Os Maias» de João Botelho é uma aventura artística de


João Queiroz”.

In Revista Atual, jornal Expresso, 12 de outubro de 2013 (com supressões e


adaptado).
PROPOSTAS DE SOLUÇÃO

1.1. (A); 1.2. (D); 1.3. (C); 1.4. (B); 1.5. (D); 1.6. (C); 1.7. (C); 1.8. (B); 1.9.
(C); 1.10. (A).

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