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EVOLUÇÃO URBANA do Rio de Janeiro-

MAURÍCIO DE A. ABREU 1997


Prefácio

Foi escrito em 1978. O texto aqui apresentado reflete, pois, um pensamento de época.

O objetivo inicial da pesquisa era o estado da influência das políticas públicas sobre a distribuição espacial
da população de baixa renda na Área Metropolitana do Rio de Janeiro.

Na divisão de trabalho que se seguiu, a mim foi confiada a tarefa de buscar elementos históricos que
servissem de ponto de partida para a discussão da estrutura urbana atual da metrópole carioca.

A consulta à bibliografia então existente logo revelou a riqueza das informações disponíveis. Havia
entretanto um problema: embora rica, a bibliografia a que tivemos acesso era extremamente setorial
e/ou pontual, resultando daí a inexistência de qualquer obra que tratasse do processo de construção/
transformação do espaço metropolitano carioca de forma integrada, ou seja, que analisasse as ações dos
agentes modeladores do Rio de Janeiro no conjunto de suas interrelações, conflitos e contradições.

1 Introdução
Um trabalho que vise analisar o processo de evolução de qualquer cidade a partir de sua organização
atual é, por definição, um estudo dinâmico de estrutura urbana.

O objetivo é demonstrar que o alto grau de estratificação social do espaço metropolitano do Rio de
Janeiro, na atualidade, é apenas a expressão mais acabada e um processo de segregação das classes
populares que vem se desenvolvendo no Rio desde o início do Século XIX.

Necessitamos relacionar a organização interna da cidade com o processo de evolução da formação social.
Só assim será possível integrar padrão e processo, forma e função, espaço e tempo.

Partimos da premissa que, se a estrutura atual da Área Metropolitana do Rio de Janeiro se caracteriza
pela tendência a um modelo dicotômico do tipo núcleo-periferia, onde a cidade dos ricos se contrapõe
àquela dos pobres, isto não se deve apenas às forças de mercado. Vários são os responsáveis pela
evolução da estrutura urbana no tempo, resolvemos dar atenção especial ao papel desempenhado pelo
Estado sem descuidar da ação exercida por outros agentes modeladores do espaço.

Dois pressupostos básicos aparecem, implícita ou explicitamente, ao longo de todo o estudo

 O primeiro diz respeito à natureza do Estado. O modelo segregador do espaço carioca teria sido
estruturado principalmente a partir dos interesses do capital, sendo legitimado e consolidado
indiretamente pelo Estado. Este, longe de ser um agente neutro, atuando em benefício da
sociedade como um todo, como prega o pensamento liberal.
 O segundo pressuposto é o de que haveria também uma relação direta entre a crescente
estratificação social do espaço e o estabelecimento de determinadas políticas públicas. Isso quer
dizer que os padrões de distribuição espacial das classes sociais no Rio teriam sido altamente
influenciados pelo Estado através do tempo, tanto por suas ações como por suas omissões.

Atualmente (período pós-1964), sabe-se que o objetivo principal do modelo em vigor é alcançar eficiência
econômica em todos os setores de atuação, mesmo que a altos custos políticos e sociais. Em consonância
com esta filosofia, a atuação do Estado tem tomado um cunho altamente empresarial, evidenciando uma
preocupação máxima com o retorno de seus investimentos. Como reflexo dessa postura, as políticas e
investimentos públicos, associados ou não ao capital privado, têm privilegiado apenas os locais que
asseguram retorno financeiro ao capital investido, ou seja, as áreas mais ricas da cidade. Resulta daí ã
acentuação das disparidades intra-metropolitanas e, por conseguinte, do modelo espacial dicotômico, no
qual um núcleo hipertrofiado e rico (em termos de renda e de oferta de meios de consumo coletivo) é
cercado por periferias cada vez mais pobres e carentes desses serviços, à medida que se distanciam dele.
Em outras palavras, o Estado teria contribuído, de forma constante, para a criação do modelo espacial
dicotômico que hoje caracteriza a metrópole carioca.

2 2. SOCIEDADE, ESPAÇO URBANO E ESTADO: EM BUSCA DE UMA BASE


TEÓRICA
2.1 2.1 considerações iniciais: modelos prontos e sua crítica
Ponto de partida da pesquisa, consultar literatura especializada em busca de um modelo ou teoria que
explicasse o processo de estruturação do espaço urbano. Modelos encontrados insatisfatórios por vários
motivos.

 Modelos estruturados a partir de processos estáticos


 Descrição a partir da estrutura urbna a partir de pressupostos irreais, que privilegiam a ação de
agentes econômicos, em detrimento a outros como o Estado.

O Estado não tem, pois, uma participação neutra no contexto urbano, como pretendem os modelos
neoclássico-liberais. Embora ele também não deva ser concebido apenas como mero instrumento
político, ou como uma instituição estabelecida pelo capital, como querem certas teorias marxistas
ortodoxas, não há dúvida que, no cenário capitalista, ele expressa o seu interesse.

Com efeito, apesar de se constituir em agente distinto do capital, o papel do Estado no campo
econômico tem sido o de garantir ao máximo a reprodução do capital, fazendo concessões apenas
quando estas se evidenciam necessárias, ou seja, para, assegurar as condições mínimas, de reprodução
da força de trabalho (estabilidade social).

O processo de estruturação urbana precisa ser estudado de maneira mais abrangente. Espaço e
sociedade precisam ser analisados conjuntamente para que a complementaridade entre processo e
forma fique evidente. Isso implica, de um lado, estudar como, numa sociedade historicamente
determinada, o espaço urbano é elaborado, ou seja, como os processos que têm lugar nas cidades
determinam uma forma espacial. Por outro lado, implica também estudar a essência das formas, ou
seja, o papel por elas desempenhado nos diversos momentos por que passa a sociedade no tempo.

2.2 2.2 A FORMAÇÃO SOCIAL COMO PONTO DE PARTIDA


Formação social pode ser definida como os processos que, juntos, formam o modo de produção
(produção propriamente dita. circulação, distribuição e consumo) são histórica e espacialmente
determinados. Toda formação social compõe-se de uma estrutura econômica, uma estrutura jurídico -
política (ou institucional) e uma estrutura ideológica. Entretanto o seu desenvolvimento raramente é
sincronizado, ou seja, nem sempre elas evoluem na mesma direção ou à mesma velocidade. Com o tempo,
entretanto, as contradições irão se acumular, è esse grau de defasagem terá que ser ajustado. Passa-se,
então, de um momento de organização social para outro. Novas funções aparecem, novos atores entram
no cenário, novas formas são criadas, e formas, antigas são transformadas. Assim, a categoria formação
social é, não só abrangente, já que trata da totalidade de processos sociais, econômicos e políticos que
atuam numa sociedade, como fundamentalmente empírica.

2.3 FORMAÇÃO SOCIAL E ESPAÇO: A ÁREA METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRO


o Rio de Janeiro foi, durante muito tempo, um modelo urbano para as demais cidades brasileiras, apesar
de ser hierarquicamente inferior a São Paulo, o Rio ainda dita-a moda metropolitana brasileira.10 E qual
é essa moda? O modelo do Rio tende a ser o de uma metrópole de núcleo hipertrofiado, concentrador
da maioria da renda e dos recursos urbanísticos disponíveis, cercado por estratos urbanos periféricos
cada vez mais carentes de serviços e de infra-estrutura à medida em que se afastam do núcleo, e
servindo de moradia às grandes massas de população de baixa renda. A descrição serve, ainda que com
adaptações às especificidades locais, a Belo Horizonte, Porto Alegre, Re-cife ou qualquer outra de nossas
áreas metropolitanas, com exceção talvez da de São Paulo.

a periferia imediata nas cidades americanas são abandonadas pelos mais ricos, que os deixam como
local de moradia para os pobres, obrigados a suportar todos os ônus da urbanização, tais como
degradação edilícia, poluição, falta de segurança. No Rio, a localização no núcleo é mais valorizada que
esses ônus, que afinal são preferíveis a outros, advindos da escassez de recursos para aplicação urbana
(infra-estrutura urbanística, sistema de transportes, equipamento social). Como conseqüência, os
pobres são obrigados a ir para as periferias e a morar em condições precárias.

Afirmar que a situação é igual, ainda que se configure de forma oposta, é dizer que a origem de ambos
os modelos é a mesma: privilégio urbano das camadas mais ricas da população, em detrimento das
camadas mais pobres. A diferença é apenas formal e se baseia na enorme afluência das populações ricas
das cidades norte-americanas, o que permite alocar recursos de infra-estrutura e de equipamento
urbanístico em locais dispersos e pouco densos, fazendo com que se "destrua" a cidade pela fuga dos
ricos, pois os empregos estão acompanhando o deslocamento das classes altas para os subúrbios.

No Rio não ocorre a mesma afluência, e os recursos aplicáveis em bens urbanísticos são raros: em vários
casos, a infra-estrutura não se renova há trinta ou cinqüenta anos. A solução foi amontoar os ricos em
torno destes bens para que pudessem desfrutá-los ao máximo, e impedir a entrada dos pobres no
núcleo (do que se encarregou a empresa privada, através da especulação imobiliária).

Pouca importância tem sido dada à análise dos fenômenos de dependência.

O suporte físico facilitou o desenvolvimento de um complexo urbano compartimentado, onde estão


concretizadas as estratificações projetadas a partir de outros níveis (espaços econômico e social). O
resultado é uma Região Metropolitana que tende à "depuração", com os grupos sociais arrumados em
ordem, a partir de suas possibilidades de acesso e desfrute das vantagens urbanas, de qualquer
natureza (de produção ou de consumo). A imagem resultante é de super congestionamento no núcleo
(índices de uso do solo atingem os limites do suportável) e progressiva deterioração das periferias até
chegar a variações sutis em cima do nada urbanístico (ausência de redes de infra-estrutura, de
equipamentos básicos, de transportes, etc.).

2.3.1 2.3.2 A Estrutura Metropolitana*

A Região Metropolitana do Rio de Janeiro é constituída de 14 municípios (Rio de Janeiro, Niterói, São
Gonçalo, Itaboraí, Maricá, Magé, Petrópolis, Paracambi, Mangaratiba, Itaguaí, Nilópolis, São João de
Meriti, Nova Iguaçu e Duque de Caxias). Para fins puramente metodológicos, ela pode ser dividida em
quatro limites imprecisos mas que são mais ou menos circulares e concêntricos.

O primeiro círculo, que chamamos de núcleo, é constituído pela área comercial e financeira central.
Fomado pelo core histórico da cidade, a zona sul e cujos limites seriam os bairros da Tijuca, de Vila
Isabel, de São Cristóvão, e do Caju, mais o centro e a zona sul de Niterói.

O segundo círculo abrange os subúrbios mais antigos do Rio de Janeiro, que se formaram ao longo das
linhas das estradas de ferro (os limites vão de Benfica, Riachuelo e Méier até a Penha, Irajá e Madureira)
Barra da Tijuca e a parte de Jacarepaguá onde deverá ser construído o novo centro administrativo do
Rio, e a zona norte de Niterói.

O terceiro círculo abrange o restante do tecido urbano carioca situado além dos limites da periferia
imediata, mais a conurbação do Grande Rio, que se constitui por Nilópolis, São João de Meriti, grande
parte de Duque de Caxias, São Gonçalo e Nova Iguaçu, e parte de Magé. Esta seria a periferia
intermediária

periferia distante que faz parte da Região Metropolitana, tal como definida em lei, mas não da Área
Metropolitana, definida esta última como a área contiguamente urbanizada da metrópole
2.3.2 2.3.3 Como se compõe a Estrutura Metropolitana*
As principais características do núcleo e das periferias podem ser qualificadas como quase opostas. O
núcleo contém o core histórico inicial da cidade do Rio de Janeiro. É a área que sofreu o maior número
de transformações na Região Metropolitana (apresenta terceiras gerações de edificações em menos de
50 anos) e de modificações na estrutura viária, visando a adaptá-la ao uso cada vez maior do automóvel
particular, concentra as funções centrais (econômicas, administrativas, financeiras e culturais) da Área
Metropolitana. Apresenta os melhores padrões de infra-estrutura urbanística e de equipamento social
urbano, ainda que com tendência ao superuso. As desproporções só não são maiores porque no núcleo
ainda vivem muitas famílias em favelas, que têm constituído até agora alternativa de peso para a
moradia nas periferias."

A periferia imediata é, principalmente, o local de residência da baixa classe média. Nela estão os
prolongamentos das zonas industriais mais antigas, que se irradiaram a partir do núcleo. O valor da terra
é alto, só superado por aquele do núcleo, o que se justifica devido à localização próxima aos centros de
trabalho e serviços. Deve-se notar, no entanto, a grande diferença nas condições de moradia entre o
núcleo e a periferia imediata.

Finalmente, a periferia intermediária é a área através da qual a metrópole se expande. Aí, as taxas de
crescimento populacional são muito elevadas. Vale a pena lembrar que a periferia intermediária está
crescendo através de fluxos migratórios duplamente induzidos: através da expulsão das populações
mais pobres residentes no núcleo ou na periferia imediata (migração intra-metropolitana) e por meio do
deslocamento de pessoas que, vivendo fora da Área Metropolitana mudam-se para a cidade do Rio de
Janeiro atraídas pelas possibilidades de emprego. A expulsão dos pobres citada acima pode dar-se por
processos informais, como os da empresa privada que age fazendo com que subam os preços de
terrenos e imóveis no núcleo. Pode dar-se também por ação direta do Governo, quando este, por
exemplo, pratica a renovação urbana numa área central degradada, sem se importar como e onde irão
morar as pessoas aí residentes, que até então estavam pagando aluguéis muito baratos em edificações
antigas. A densidade de ocupação do solo é muito irregular: alta em algumas áreas e baixa em outras

É a partir da década de sessenta quando houve a mudança da capital e o Rio passou a cidade - Estado o
núcleo metropolitano passa a ser o palco preferido de grandes melhoramentos urbanos, realizados
tanto pelo Governo Federal como Estadual. Com efeito, as grandes obras, como túneis, viadutos e
autopistas, ficaram no núcleo em sua maioria, reforçando o contraste entre este e as periferias
metropolitanas. Mas o melhor exemplo é o do Metro - servindo exclusivamente ao núcleo, é a de
orçamento mais elevado de todas, e a de alcance mais restrito, enquanto o verdadeiro transporte de
massa, o trem suburbano, ficou em completo abandono. A escolha não foi aleatória nem atípica. Ao
contrário, ela parece ser apenas um exemplo a mais no longo processo de construção diferenciada do
espaço carioca em benefício dos mais ricos, conforme será demonstrado adiante.

2.4 2.4 ESTRUTURA URBANA E MOMENTOS DE ORGANIZAÇÃO SOCIAL


As seções anteriores mostraram claramente o estágio atual dessa estrutura, ressaltando o alto grau de
estratificação social do espaço. Mostraram também que a intensificação deste processo de
estratificação é uma característica do momento brasileiro pós-64, um momento historicamente
determinado da evolução da formação social brasileira. É preciso ir além, e demonstrar que momentos
atuais são também influenciados por momentos anteriores, que legaram ao espaço atual forma e
conteúdo. desse ponto de vista, depende do conhecimento do que foram os diversos momentos de
organização social pelos quais passou um determinado espaço. As formas, entretanto, não têm apenas
uma aparência externa, mas também possuem um conteúdo, isto é, realizam uma função. E esta função
é determinada exclusivamente pelo período atual de organização social. Formas morfológicas antigas
podem, pois, ser chamadas a realizar funções totalmente distintas daquelas para as quais foram criadas;
podem, inclusive, desaparecer. Para exemplificar, o Rio de Janeiro possuía, até a década de sessenta,
uma série de bairros (como Catumbi, Estácio e Lapa) que serviam de local de residência para classes de
baixa renda ou abrigavam funções de apoio ao comércio e à indústria. Alguns desses bairros tinham
sido, outrora, local de residência de classes mais abastadas. Por essa razão, o estudo da estruturação da
cidade não pode ser feito separadamente do estudo do processo de evolução da sociedade. Como diz
Castells, o espaço não é independente da estrutura social; é, isto sim, a expressão concreta de cada fase
histórica na qual uma sociedade se especifica. A afirmação de Castells não deve, entretanto, levar à
suposição de que o espaço é uma matéria inerte, "um simples pano de fundo no qual são inscritas as
ações de classes e instituições através do tempo". Com efeito, se os processos sociais dão ao espaço
uma, forma, uma função, uma significação social, este também influencia o desenvolvimento desses
mesmos processos no decorrer do tempo, institucionalizando-os ou modificando-os. Esta influência do
espaço é determinada, principalmente, pela permanência de formas anteriores, que tanto podem se
constituir em barreira ao desenvolvimento de novos processos, como podem facilitá-los. Tudo depende
da atribuição que essas formas antigas adquirem a cada momento de organização social, de sua
capacidade de adaptar-se ou resistir às novas exigências e finalmente, do papel exercido pelo Estado (a
cada momento, às vezes impondo os desejos da classe ou grupo dominante, às vezes resolvendo os
conflitos existentes ou potenciais de maneira menos evidente, mas geralmente em benefício dessa
mesma classe ou grupo.

A Reforma Passos, no início do século XX, marca o início de outro momento importante de
desenvolvimento da cidade, um momento de resolução de contradições antigas e de aparecimento de
novas. O fim da República Velha estabelece, finalmente, o início de outro momento, que vai durar até
1964.

3 3. O RIO DE JANEIRO NO SÉCULO XIX: DA CIDADE COLONIAL À


CIDADE CAPITALISTA
o Rio era uma cidade apertada, limitada pelos Morros do Castelo, de São Bento, de Santo António e da
Conceição. A falta de meios de transporte coletivo e as necessidades de defesa faziam com que todos
morassem relativamente próximos uns aos outros, a elite local diferenciando-se do restante da
população mais pela forma - aparência de suas residências do que pela localização das mesmas. Baseada
em relações de produção arcaicas, de base escravista, a formação social brasileira ainda conviveria
algum tempo com esses novos elementos, essencialmente capitalistas, que aqui se introduziam. Grande
parte deles é utilizada no setor de serviços públicos (transportes, esgoto, gás, etc.), via concessões
obtidas do Estado. |Com efeito, pouco a pouco, a cidade passa a ser movida por duas lógicas distintas
(escravista e capitalista), e os conflitos gerados por esse movimento irão se refletir claramente nó seu
espaço urbano.

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