Beruflich Dokumente
Kultur Dokumente
AGRADECIMENTOS
RESUMO
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................8
2 O PATRIMÔNIO HISTÓRICO CULTURAL NA HISTÓRIA DO BRASIL ..........11
2.1 A Cultura Material como único documento capaz de contar a história das
populações do Brasil pré-histórico ............................................................................12
2.2 O período colonial brasileiro e o patrimônio que marca o encontro dos mundos.17
2.3 A independência e o forjar de uma nação: o Patrimônio Histórico e Cultural como
afirmação...................................................................................................................20
2.4 O patrimônio e o século XX .................................................................................25
3 AS DEFINIÇÕES DE PATRIMÔNIO HISTÓRICO PARA OS INTELECTUAIS E
PARA OS PODERES CONSTITUIDOS ...................................................................28
3.1 A preservação forçada enquanto a consciência não vem....................................28
3.2 Na vertical: quando a lei se impõe .......................................................................43
3.3 Por que os discursos acadêmicos e legislativos são ineficientes? hipóteses ......47
4 UM DISCURSO MENOS IMPOSITIVO - O SIGNO E A REPRESENTAÇÃO ...50
4.1 História, Filosofia ou Psicologia: o conceito de signo ..........................................50
4.2 Representação: quando o real é impossível ........................................................57
4.3 Signo e representação aliados metodológicos na pesquisa em História .............59
5 UM MUSEU EM ARROIO DO MEIO/RS: UMA IDÉIA E MUITAS
INTERROGAÇÕES...................................................................................................62
5.1 O apelo à preservação da memória: algumas práticas........................................62
5.2 As discussões da Comissão pró-instalação de um museu em Arroio do Meio ....70
5.3 Identificação dos aspectos teóricos discutidos no caso em questão ...................73
6 REFLEXÕES FINAS: ENCONTRO ENTRE A EPISTÉME E A DOXA - UM
DIÁLOGO PARA ALÉM DA HIERARQUIA NA DEFINIÇÃO DOS PAPÉIS FRENTE
AO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E CULTURAL ........................................................77
REFERÊNCIAS.........................................................................................................82
ANEXOS ...................................................................................................................86
BDU – Biblioteca Digital da UNIVATES (http://www.univates.br/bdu)
LISTA DE FIGURAS
1 INTRODUÇÃO
O que por hora se apresenta cumpre parte das exigências para a obtenção do
título de Licenciado em História. As reflexões, sobretudo, no tange à metodologia
podem parecer demasiadamente pretensiosas para ao atual estágio de formação de
quem redige. Refletir, contudo, a partir de referencias que contemplem a pluralidade
interpretativa foi uma das motivações para o que apresentamos.
Nos últimos anos do século XX, conforme o caminhar durante a graduação
nos oportunizou vislumbrar, as escolas historiográficas estreitaram laços com a base
teórica de outras ciências o que nos permite olhar da perspectiva que nos propomos
o objeto que problematizamos.
Tecidas esta considerações iniciais, convém sistematizarmos um pouco
melhor o que segue em cada uma das partes deste trabalho. No primeiro capítulo
procurou-se estudar o tratamento dispensado ao Patrimônio Histórico e Cultural na
história do Brasil. Antes, porém, como se optou por uma estrutura de trabalho que
não coloca o capítulo dedicado à metodologia como o primeiro esclareceu-se alguns
dos conceitos básicos tratados já nos títulos e subtítulos do referido capítulo. Ainda
que de forma superficial, esta primeira parte, aborda o tratamento que o poder
público deu ao longo do tempo a esta categoria de referência memorial. Das
iniciativas de Dom Pedro II às situações presentes na imprensa hodiernamente
envolvendo o poder público e o Patrimônio Histórico e Cultural, poder-se-á aí ter
uma idéia.
No segundo capítulo procurou-se tangenciar a trajetória do tratamento
dispensado na legislação brasileira e estadual em relação ao Patrimônio Histórico e
Cultural. Através de consultas a bibliografias específicas e da análise de
documentos disponibilizados no site do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
9
1
Lemos (2006) classifica o Patrimônio Histórico em três grupos: o natural que inclui os rios e todos os
elementos naturais que permitem as mais variadas formas de vida incluindo a humana; a segunda
referente à cognição, saber e saber fazer, contemplando as tecnologias desenvolvidas desde o polir
uma pedra até o desenvolvimento do mais sofisticado computador; por último a categoria patrimonial
em questão neste trabalho que engloba “toda a sorte de coisas, objetos, artefatos e construções
obtidas a partir do meio ambiente e do saber fazer”. (Lemos, 2006, p.10).
12
2.1 A Cultura Material como único documento capaz de contar a história das
populações do Brasil pré-histórico
2
“Compreende os vestígios materiais dos primeiros grupamentos humanos: seus antigos locais de
moradia, seus artefatos, restos alimentares, representações artísticas, rituais, etc. Um sítio
arqueológico reúne a cultura material das sociedades do passado”. (Machado, 2004, p.17).
3
“Local onde se encontram vestígios de atividade humana dos povos do passado. Estes vestígios
podem estar na superfície do solo ou no subsolo. Conforme critérios estabelecidos por arqueólogos o
sítio pode compreender desde um fragmento isolado até mesmo a uma grande e complexa rede de
habitações pretéritas e de sua cultura material”. (Fiegenbaum, 2006, p. 11).
15
4
Conforme as fontes utilizadas por Kreutz, 2008, “O sistema de assentamento dos horticultores
Guarani era um conjunto de Tekohás (assentamento familiar). Para eles, Tekohá é o lugar que reúne
condições necessárias para que o grupo possa exercer o “seu modo de ser”, fundamentados na
religião e na agricultura de subsistência, com grande respeito à natureza”. (p. 22).
5
O autor apresenta o Vale do Taquari como uma região localizada, “no centro leste do estado do Rio
Grande do Sul, a uma distância média de 150 km da capital Porto Alegre”. (p.25). (...). “No Domínio
Morfoestrutural das Bacias e Coberturas Sedimentares, no Vale do Taquari/RS, são observadas duas
regiões geomorfológicas, a Depressão Central Gaúcha e o Planalto das Araucárias”. (p. 27). A região
onde prioritariamente o autor pesquisa é a primeira supracitada.
17
Portugal, embora tendo oficialmente declarado o Brasil como território sob seu
domínio em 1500, demorou a ocupar de forma mais significativa o território. Do
ponto de vista material as primeiras referências deste acontecimento, como não
poderiam deixar de ser, estão no litoral do nordeste do Brasil. Antes mesmo da cruz
da primeira missa e dos marcos iniciais colocados em solo brasileiro, a primeira
relação entre os portugueses e os índios brasileiros foi marcada por oferendas
materiais de parte a parte. Este material descrito pelos relatores oficiais do fato é o
início da produção de uma Cultura Material híbrida que ilustra o encontro dos dois
mundos. Pensando historiograficamente ou do ponto de vista da Arqueologia temos
dois documentos sobre o mesmo “episódio” histórico: os relatos dos portugueses
que vieram exclusivamente para isto e a materialidade dos objetos regalados
mutuamente. Os relatos representam o documento oficial pelo qual Pedro Álvares
Cabral toma posse do Brasil em nome do Rei português. E os objetos? A localização
deste ínfimo fragmento material da história brasileira é de localização pouco
provável. A importância dada por ambos os grupos ao universo material, entretanto,
é indelevelmente marcada pelas oferendas. As lentes deste trabalho, entretanto,
estão voltadas para outra dimensão. O ato de ofertar e o objeto ofertado, de acordo
com o que perseguimos nesta monografia, não se resumem ao que plasticamente
imaginamos. Há um universo simbólico marcando a ação e o objeto. Este símbolo
arbitrariamente atribuído vai além da funcionalidade que a maneira pragmática de
pensar pode atribuir às coisas. Que função teria um cocar de penas de aves para
um português ou uma quinquilharia européia qualquer para um índio? Estas
questões de cunho mais teórico, entretanto, receberão atenção mais específica no
capítulo três do presente texto.
Seguindo a trilha do Patrimônio Histórico e Cultural que se funda a partir do
estabelecimento europeu no Brasil se pode mencionar algumas estruturas que se
apresentam como pontos turísticos explorados pelos governos e pela iniciativa
privada daquela região do Brasil na atualidade. São fortificações militares
construídas com o objetivo expresso de “proteger” a costa brasileira de outras
18
embarcações enviadas por outros países que também ambicionavam aportar por
aqui. Ainda entre o patrimônio deste tempo constam igrejas construídas a fim de
solidificarem o domínio português que extrapolava o universo físico e, a partir da
apresentação de um novo sistema de crenças, almejava as convicções mais íntimas
BDU – Biblioteca Digital da UNIVATES (http://www.univates.br/bdu)
chama atenção para o período de desapropriação das pessoas que por aqui viviam
à margem dos interesses dos loteadores e donos de empresas de imigração e até
de grileiros. Embora a abordagem do autor situe-se em meados do século XIX,
quando o Vale do Taquari começou a receber imigrantes, ilustra sobremaneira, a
situação dos “donos” da região após entrarem em decadência econômica nos finais
dos anos 1700. Ao explorarem com volúpia o novo negócio, o da imigração, sobram
os pobres que aqui viviam chamados pelo autor supracitado de lavradores
nacionais:
“desclassificados sociais”, de cujo sofrimento, está impregnado cada tijolo das ruínas
e de outras estruturas que documentam este tempo.
Diante deste quadro que não é exclusividade da situação exemplificada tem-
se o diagnóstico de mais uma questão emblemática no tocante ao Patrimônio
BDU – Biblioteca Digital da UNIVATES (http://www.univates.br/bdu)
Histórico e Cultural, qual seja; a sua dimensão documental ainda não é de domínio
geral. Aliás, mesmo a universalidade dos patrimônios mundiais é ignorada por
grande parte dos cidadãos. A bibliografia por nós consultada dá indícios do porquê
desta falta de sentimento de coletividade no que tange à noção de Patrimônio:
daquele império em perigo. Deste estágio para uma retomada das reivindicações no
que tange à independência, embrionárias já no século XVIII, era um passo. O lastro
para este acontecimento foi sendo paulatinamente estendido. O Patrimônio Histórico
e Cultural fez parte desta estrutura fundamental rumo à independência.
BDU – Biblioteca Digital da UNIVATES (http://www.univates.br/bdu)
No Brasil, é durante o século XIX que pesquisas são incentivadas nas áreas
que permitissem um conhecimento mais aprofundado do país como já referenciamos
no início do capítulo. Se no período anterior o incentivo para que se explorasse o
interior do território se resumia à motivação predatória como descoberta de minério e
obtenção de mão-de-obra através da prisão de índios para trabalho forçado, agora o
objetivo era definir o que era o Brasil e quem era o cidadão brasileiro. Tem
destacada atuação no processo de dar a conhecer o Brasil a Missão Artística
Francesa de 1916. Segundo Lopez (1988, p. 101) a atuação destes artistas seria o
marco de encerramento do ciclo artístico colonial, não só do ponto de vista
estilístico, mas também ideológico. A partir de então o estilo suntuoso do barroco
daria lugar a uma arte mais pragmática em todos os seus segmentos. Conforme a
mesma fonte é neste contexto que se cria a Academia de Belas Artes no Rio de
Janeiro transplantando assim o ensino artístico do Velho Mundo para o Brasil. Tudo
em nome de uma purificação nacional e de uma negação do Brasil original.
Este era o Brasil que os mandatários queriam como nação, um país branco e
europeizado. As estruturas patrimoniais são produzidas como uma das formas de
solidificação deste intento. O atual Museu Nacional é criado por D. João VI em junho
de 1818, no Rio de Janeiro com o nome de Museu Real. Ao abrigar informações
acerca da história natural e antropológica do país, a referida instituição está no rol
das medidas tomadas rumo a um conhecimento do Brasil que vai permitir mais tarde
23
6
Sendo que cultura é aqui entendida como “... o estudo das formas simbólicas – isto é, ações,
objetos e expressões significativas de vários tipos – em relação a contextos e processos
26
cotidiano o que muda a relação dos cidadãos entre si e com seus referenciais de
memória7, como já mencionamos em relação ao impacto da abolição da escravatura
na arquitetura do século XIX. O avanço da industrialização e da urbanização, bem
como as configurações sociais verificadas no século XX, dá ao Patrimônio Histórico
BDU – Biblioteca Digital da UNIVATES (http://www.univates.br/bdu)
e Cultural uma função utilitária comercial. Mas, conforme Fonseca, não é só isto que
vai afetar a composição patrimonial:
historicamente específicos e socialmente estruturados dentro dos quais e por meio dos quais, essas
formas simbólicas são produzidas, transmitidas e recebidas”. (Thompson, 1999, p. 181).
7
“Fenômeno individual e psicológico (cf. soma/psiche), a memória liga-se também à vida social (cf.
sociedade). Esta varia em função da presença ou da ausência da escrita (cf. Oral/escrito) e é objeto
de atenção do Estado que, para conservar os traços de qualquer acontecimento do passado
(passado/presente), produz diversos tipos de documento/monumento, faz escrever a história,
acumular objetos (cf. coleção/objeto). A apreensão da memória depende deste modo do ambiente
social (cf. espaço social) e político (política): trata-se da aquisição de regras de retórica e também da
posse de imagens e textos (cf. imaginação social, imagem, texto) que falam do passado, em suma,
de um certo modo de apropriação do tempo (cf. ciclo, gerações, tempo/temporalidade). As direções
atuais da memória estão, pois, profundamente ligadas às novas técnicas de cálculo, de manipulação
da informação, do uso de máquinas e instrumentos (cf. máquina, instrumento), cada vez mais
complexos”. (Le Goff, 2003, p. 419).
27
Ainda de acordo com o relatório anexo ao ofício antes mencionado (Cf. anexo
do Of. 103/97 da 9° CR/IPHAN) os passos rumo instit ucionalização da preservação
do Patrimônio Histórico e Cultural ganharam força a partir de 1936, quando Gustavo
Capanema assume o Ministério da Educação e Saúde. Capanema, conhecendo o
BDU – Biblioteca Digital da UNIVATES (http://www.univates.br/bdu)
Art. 215. O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais
e acesso às fontes de cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização
e a difusão das manifestações culturais.
§ 1°O Estado protegerá as manifestações das cultura s populares, indígenas
e afro-brasileiras, e das de outros grupos participantes do processo
civilizatório nacional.
§ 2°A lei disporá sobre a fixação de datas comemora tivas de alta
significação para os diferentes segmentos étnicos nacionais. (Constituição
da República Federativa do Brasil. In: Coletânea de Leis sobre Preservação
do Patrimônio. IPHAN, 2006, p. 20).
8
Em 2 de janeiro de 1946, o Decreto-lei n° 8.534 tr ansforma o Serviço do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional (Sphan) em Diretoria (Dphan). O presente decreto cria também distritos desta
Diretoria em outras cidades, mais precisamente em: Recife, Salvador, Belo Horizonte e São Paulo.
Em 1970 há uma nova mudança, o Decreto-lei n° 66.96 7 de 27 de julho, transforma a Diretoria do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional em Instituto (IPHAN), nomenclatura que alcança os nossos
dias. (Doc. n° 31, IPHAN, 1980).
40
9
- “Bem cultural é o resultado da ação do homem, fruto da relação que estabelece com a natureza e
com os outros homens. Quando o homem transforma a natureza para satisfazer suas necessidades,
através do trabalho, ele produz objetos, cria instrumentos e utensílios, estabelece normas, elabora
regras de convivência, expressa seus sentimentos e emoções, lida de diferentes formas com os
elementos extra-humanos e organiza ritos e celebrações para expressar suas crenças...”. (Machado,
2004, p.12).
41
10
- Em Meneses, 1992 encontramos a análise etimológica de identidade como derivada do grego:
Idios = mesmo, si mesmo, si próprio, privado. “Em conseqüência, a identidade pressupõe, antes de
mais nada, semelhança consigo mesmo, como condição de vida biológica, psíquica e social. Ela tem
a ver mais com os processos de reconhecimento do que de conhecimento”. (p. 17).
53
do que é signo? Para tanto invocamos Michel Foucault (1999) que trabalha com as
diferentes concepções de signo ao longo dos períodos históricos:
[...] Pois o que mudou na primeira metade do século XVII e por longo tempo
BDU – Biblioteca Digital da UNIVATES (http://www.univates.br/bdu)
um discurso prévio que seria necessário restituir para trazer à luz o sentido
autóctone das coisas. Mas também não há ato constituinte da significação
nem gênese interior à consciência. É que entre o signo e seu conteúdo não
há nenhum elemento intermediário e nem uma opacidade. Os signos não
têm, pois, outras leis, senão aquelas que podem reger seu conteúdo: toda
análise de signos é, ao mesmo tempo e de pleno direito, decifração do que
eles querem dizer. (Foucault, 1999, p.91).
Enfim, última conseqüência que se estende, sem dúvida, até nós: a teoria
binária do signo, a que funda desde o século XVII, toda a ciência geral do
signo, está ligada, segundo uma relação fundamental, a uma teoria geral da
representação. Se o signo é a pura e simples ligação de um significante
com um significado (ligação que é arbitrária ou não, voluntária ou imposta,
individual ou coletiva), de todo o modo a relação só pode ser estabelecida
no elemento geral da representação: o significante e o significado na
medida que um e outro são (ou foram ou podem ser) representados e em
que um representa atualmente o outro. (Foucault, 1999, p.92).
Os símbolos são passíveis de uso também como forma de solidificar uma estrutura
social baseada na exclusão de determinados segmentos.
conceito imprescindível para uma abordagem como a que por aqui viemos
ensaiando. Embora já tenhamos contemplado acima nos deteremos um pouco mais
acerca da representação.
BDU – Biblioteca Digital da UNIVATES (http://www.univates.br/bdu)
A dinamicidade do que pode ser definido como cultura, como vimos ainda no
primeiro capítulo, transforma a relação (leitura dos signos) dos agentes sociais com
tudo que os rodeia incluindo o Patrimônio Histórico e Cultural. Neste sentido faz-se
necessário a definição de outro conceito, o de representação, utilizado sem muita
preocupação até então:
Uma idéia pode ser um signo de outra não somente porque entre elas pode
estabelecer-se um liame de representação, mas porque essa representação
pode sempre se representar no interior da idéia que representa. Ou ainda
porque, em sua essência própria, a representação é sempre perpendicular a
si mesma: é, ao mesmo tempo, indicação e aparecer; relação a um objeto e
manifestação de si. (Foucault, 1999, p. 89).
11
- “Hermenêutica significa, primeiramente o processo metodológico da interpretação com o objetivo
de compreender o significado quando um texto não é entendido de imediato. Ela foi inicialmente a
arte da interpretação dos textos bíblicos e jurídicos de forma normativa e ocasional. Além dessa
hermenêutica normativa, Gadamer examina sobretudo na filosofia da hermenêutica a possibilidade de
compreender o seu significado numa espécie de teoria do conhecimento das ciências humanas,
separando-as de explicações das ciências naturais” (Diehl, 2002, p 90).
60
qual o período histórico que o objeto patrimonial documenta tem uma conotação
única, diferente portanto, da proposta oficial expressa no discurso dos profissionais
do patrimônio e do prórpio Estado.
A discussão de conceitos como signo e representação presentes em autores
como Foucault e Saussure, entre outros e o aprofundamento deste trabalho, em
caso de ampliação do estudo em outros níveis dentro da academia, pode se
constituir em uma metodologia menos excludente e hierarquizante. As bases para
tanto vêm sendo postas, basta analisarmos a importância que adquiriu dentro da
concepção, ainda dicotômica de patrimônio, o patrimônio imaterial trazendo à baila a
questão da subjetividade suplantando a pragmaticidade inerente aos profissionais
técnicos a orbitarem no universo patrimonial. Uma boa prática carece de discussões
teóricas capazes de solidificarem-na. A demanda é gigantesca e o campo é vasto.
Cronogramas apertados e apelos ansiosos, principalmente oriundos do setor público
podem comprometer os resultados de trabalhos de grande potencial. Estas mesmas
considerações, acreditamos serem válidas para a tão propalada Educação
Patrimonial.
Por fim, vale enunciar que no próximo capítulo, através do contato com as
atas das reuniões da Comissão Pró-instalação de um Museu na cidade de Arroio do
Meio/RS, procurar-se-á identificar avanços e permanências em relação à concepção
de instituições memoriais na forma como o referido processo de instalação tem
avançado nos últimos tempos. Examinar-se-á a produção de memorialistas locais na
tentativa de identificar como evoluiu a demanda por uma instituição memorial no
município e como este apelo foi recebido pelo poder público.
Perseguiremos, ainda que parcialmente, o tratamento dispensado ao
Patrimônio Histórico e Cultural no município antes referido. Os conceitos de
representação e signo, apesar de aqui apresentarem-se apenas parciais, são o
norte. As incertezas e a incompletude da presente empreitada talvez sejam as asas
a nos fazerem pairar em vôos mais rasantes sobre este instigante objeto ajustando o
foco a fim de produzirmos representações capazes de ensejarem debates profícuos.
BDU – Biblioteca Digital da UNIVATES (http://www.univates.br/bdu)
de 13 de junho de 2008, seu avô mandara construir o prédio em 1918 por ocasião
da transferência da família para Arroio do Meio. Na entrevista ao periódico, Eduardo
von Hegel Schardong declarou que, além de servir como moradia para a família a
casa abrigara ainda um consultório médico e uma sala de observação de pacientes,
uma vez que seu avô era médico.
Conforme registro do Tabelionato de Arroio do Meio sob o número 2772, com
acento no Livro 3B, folha 132, em 11 de novembro de 1941 acontece a primeira
transferência do imóvel. A viúva do médico que mandara construir a casa, Srª Frieda
von Heckel, vende a ao Sr. Edgar Jung. Em 11 de outubro de 1951, o então prefeito
Antônio Fornari sancionou a Lei n° 6 daquele ano (A NEXO III) pela qual a Câmara
de Vereadores o autorizava a adquirir o prédio localizado na esquina das Ruas
Barão do Rio Branco (atual Visconde do Rio Branco) com a Rua da Igreja (Atual
Monsenhor Jacob Seger). A concretização da aquisição da casa pelo município se
deu em 29 de dezembro de 1951. A escritura, pela qual o Sr. Edgar Jung vende o
imóvel ao poder público foi registrada no Tabelionato de Arroio do Meio sob n° 2890,
livro 42, folhas 101 a 103, com a seguinte descrição: “(...) uma área de 484m²
contendo uma casa de alvenaria de 11 X 17,40 m”.
A Prefeitura Municipal passou a funcionar neste espaço até meados da
década de 1970, quando a repartição é transferida para o prédio onde funciona
hodiernamente. Ainda em meados deste período o Poder Executivo Municipal é
autorizado a vender o imóvel conforme a lei n° 002/ 75 de 24 de abril de 1975,
(ANEXO IV). No final da década o Sr. Lauro Fröner, dentista, adquire o imóvel. O
novo proprietário, conforme levantamento da Comissão Pró-museu teria alugado as
dependências sendo que aí funcionara durante este período, segundo a mesma
fonte, uma estofaria e uma eletrônica.
Na década de 1980, por duas oportunidades, a prefeitura municipal declara o
prédio de utilidade pública. A 26 de setembro de 1984, o decreto n° 95/84, (ANEXO
V) declarou de utilidade pública para fins de desapropriação, a casa que atualmente
é preparada para abrigar o museu de Arroio do Meio. Um longo processo judicial
litigioso, entre a administração e o então proprietário Sr. Lauro Fröner, tramita na
66
cidadãos arroio-meenses, deste projeto que deve pegar carona na história latente de
organização comunitária solidificada ao longo dos anos.
BDU – Biblioteca Digital da UNIVATES (http://www.univates.br/bdu)
Os primeiros passos para que a idéia ganhasse sustentação para além das
medidas administrativas estavam dados. Possíveis saídas para as dúvidas
conceituais começavam a ser trabalhadas ao mesmo tempo em que a comissão
articulava-se tomando algumas medidas práticas no sentido de ampliar a discussão
em outros segmentos dentro da comunidade.
A segunda reunião da Comissão ampliou o debate e trouxe à baila potenciais
subsídios para que os passos seguintes se solidificassem:
12
- Conjunto de eventos culturais que ocorrem de forma intensiva e paralela coordenados pela
Secretaria de Educação e Cultura. Inclui a programação deste evento: apresentações de corais,
exposições de artes plásticas, esquetes teatrais, shows musicais e feira do livro.
73
banheiro completo feito num puxado anexo à cozinha velha que, por sua
vez, teve seu fogão a lenha substituído pelo aquecido a gás, e cada família
sucessiva que nela habita vai deixando sua marca nos agenciamentos
internos; mas chega um tempo em que a construção realmente não pode
mais oferecer o conforto oferecido pelas novas concepções de bem morar
de uma determinada classe social e, então, vemos a construção perder a
BDU – Biblioteca Digital da UNIVATES (http://www.univates.br/bdu)
indelegável tarefa que a sociedade atribui aqueles que se propõem mediar a relação
embaraçosa da imanente heterogeneidade humana com tudo aquilo que a
determina e é por ela determinada. Entre estes profissionais figuram historiadores,
arqueólogos, museólogos entre outros que transitam pelo universo da memória e de
seus suportes. Qual é o limite da ação de cada um diante da demanda e das
interrogações com as quais as sociedades os fulminam? Há possibilidade de
respostas definitivas? Eis algumas das inquietações que o terceiro capítulo deste
trabalho problematiza deixando indicações de que há caminhos possíveis dotados,
no mínimo, de possibilidades.
As generalizações com as quais os métodos mais tradicionais na
historiografia trabalham podem, por vezes, deixarem de contemplar ou mesmo
negarem a subjetividade sobre a qual se funda toda a representação acerca do
Patrimônio Histórico e Cultural. Urge, então, romper com o pudor e desacomodar-se
ajustando a sintonia entre as ciências que se inter-relacionam por se ocuparem do
fazer humano no tempo/espaço. Produzir para a ciência a partir destas concepções
chama à responsabilidade aquele que se posiciona na sociedade com a autoridade
de, de alguma forma, estudá-la não ignorando o fato de que também a compõe. Só
assim será possível alojar na estante do senso comum um volume de ciência, do
contrário a distância se faz oceânica e os discursos de parte a parte, se quer, são
ouvidos. Eis o deserviço da dicotomia.
No caso estudado no quarto capítulo da presente monografia o itinerário
reflete o que se experimentou em escala nacional. O imóvel destinado a abrigar o
Museu Municipal de Arroio do Meio passa pelo processo de desapropriação
lançando-se mão da legislação criada para este fim. Na sequência é tombado pelo
poder público local e, por fim, é entregue à comunidade, mediante o recurso jurídico
da afetação para que se transforme em lugar de guarda e estudo da memória do
município.
Eis as bases para que se instale um museu em Arroio do Meio, mas o que é
museu? Que tipo de museu a comunidade espera? Quais recursos serão destinados
para que este projeto ganhe sustentação? Que qualificação têm e terão os
80
profissionais que estarão à frente deste processo? Eis algumas das questões ainda
não respondidas e dependentes de uma série de articulações sem as quais o projeto
não pode andar satisfatoriamente.
As reflexões acerca de um processo em andamento encerram um
BDU – Biblioteca Digital da UNIVATES (http://www.univates.br/bdu)
determinado teor de risco no que tange a uma análise através da lente da História.
Diante de tudo que até então se tem pontuado, entretanto, alguns relatos de
iniciativas e medidas já levadas a cabo são setas que indicam um longo caminho a
ser percorrido onde as constantes correções de rotas se apresentam
imperativamente.
As discussões no âmbito de uma comissão formada por pessoas simpáticas à
ideia de instalação do referido museu geram desdobramentos que par e passo
tendem criar o lastro social de sustentação ambicionado. As concepções de museu
que emanam das discussões da Comissão são trabalhadas e contrapostas com o
que se pensa academicamente neste sentido. O diálogo entre as expectativas de
parte a parte contemplam a dinâmica, rumo à síntese expressa na paráfrase que
Mário Chagas, uma das maiores autoridades sobre o tema no Brasil, faz do poema
de Mário de Andrade. Andrade em seus escritos afirma que há uma gota de sangue
em cada poema, Chagas transfere este sentimento para o trabalho nos museus:
REFERÊNCIAS
LOPEZ, Luiz Roberto. História do Brasil Imperial. 4° ed. Porto Alegre: Mercado
Aberto, 1988.
MENESES, Ulpiano Toledo Bezerra de. Identidade cultural e museus: uma relação
problemática. In: III Forum Estadual de Museus, 1992, Santa Maria. Anais do III
Fórum Estadual de Museus. Santa Maria: Universidade Federal de Santa Maria,
1992. p. 17-26.
REDE, Marcelo. História a partir das Coisas: Tendências Recentes nos Estudos de
Cultura Material. In: Anais do Museu Paulista, São Paulo, v. 4, p. 265-282, 1996.
BDU – Biblioteca Digital da UNIVATES (http://www.univates.br/bdu)
THOME, Lauro Nelson Fornari. Arroio do Meio ano 50: 1934 - 1984. Porto Alegre:
CORAG, 1984.
THOMPSON, John B. Ideologia e Cultura Moderna: teoria social critica na era dos
meios de comunicação de massa. Rio de Janeiro: Vozes, 1999.
Jornais
A Casa do Dr. Von Heckel vai virar museu. O Alto Taquari. Arroio do Meio, p, 12-13,
13 jun. 2008.
Sites:
Documentos:
ARROIO DO MEIO (Município). Matricula de escritura n° 2772 , livro 3B, folha 132.
Tabelionato de Arroio do Meio, 1941.
ARROIO DO MEIO (Município). Matrícula de escritura n° 2890 , livro 42, folhas 101
a 103. Tabelionato de Arroio do Meio, 1951.
ANEXO
87
BDU – Biblioteca Digital da UNIVATES (http://www.univates.br/bdu)
Anexo IV: Lei n° 002/75 de 24 de abril de 1975, pela qual o P oder Executivo
Municipal é autorizado a vender o imóvel. O novo proprietário será o Sr. Lauro
Fröner;
ANEXO – I
Leis
Decretos-Lei
Decretos
Portarias
Resoluções
Convenções Internacionais
Fonte: Coletânea de Leis sobre Preservação do Patrimônio. Rio de Janeiro, IPHAN, 2006.
91
ANEXO - II
CARTAS PATRIMONIAIS
BDU – Biblioteca Digital da UNIVATES (http://www.univates.br/bdu)
ANEXO III
Lei n° 6 de 11 de outubro de 1951 pela qual a Câmar a de Vereadores
autorizava o prefeito a adquirir o prédio que receberá o Museu.
BDU – Biblioteca Digital da UNIVATES (http://www.univates.br/bdu)
93
ANEXO IV
Lei n° 002/75 de 24 de abril de 1975, pela qual o P oder Executivo Municipal é
autorizado a vender o imóvel. O novo proprietário será o Sr. Lauro Fröner.
BDU – Biblioteca Digital da UNIVATES (http://www.univates.br/bdu)
94
ANEXO V
ANEXO VI
Decreto n° 301/86 de 28 de outubro de 1986. Enuncia mais uma vez a
utilidade pública do prédio para fins de desapropriação.
BDU – Biblioteca Digital da UNIVATES (http://www.univates.br/bdu)
96
ANEXO VII
Certidão de escritura datada de 02 de julho de 1992, por ela o imóvel,
documentalmente passa para a municipalidade com a determinação expressa de
que só poderá ser usado para abrigar repartições públicas ou de guarda de
BDU – Biblioteca Digital da UNIVATES (http://www.univates.br/bdu)
memória.
97
ANEXO VIII
prédio.
Ata n 03/2008
[fl. 2]
Aos trinta dias do mês de junho de dois mil e oito (30-06-2008), iniciando-se
às 16h 45min, realizou-se mais uma reunião dos membros integrantes da Comissão
Pró-museu, tendo como local a Secretaria de Educação e Cultura do município,
quando foram tratados os seguintes assuntos: para iniciar fez-se a acolhida aos
presentes e em retrospecto dos assuntos anteriormente tratados, contextualizando e
revisando os acordos e decisões tomadas. A equipe Engenharia da Prefeitura
Municipal esteve presente, ocasião em que discorreram sobre a planta de reforma e
restauração do prédio que abrigará o museu. Foram levantados diversos
questionamentos esclarecidas as dúvidas relativas ao assunto, a técnica da
UNIVATES, professora Neli Machado ressaltou que as fotos e os materiais são das
pessoas proprietárias, reproduz-se a foto e devolve-se à fonte, os termos de doação,
feito à mão, deverão regular e assegurar os materiais do museu; o grupo reunido
optou em organizar, concomitantemente, a restauração do prédio e o levantamento
dos dados históricos sobre o “prédio” que sediará o museu para compor o programa
de inauguração, que deverá aconte-
[fl. 2v]
cer no mês de novembro, mês de aniversário do município; aprofundou-se um
pouco mais sobre a missão e os objetivos do museu e a legislação específica que
cria o Museu, bem como a necessidade de elaboração do Plano Museológico, bem
como a Criação da Sociedade Amigos do Museu, cujos estatutos deverão ser
estudados. Nada mais havendo a constar, lavro a presente ata que após lida e
aprovada será assinada pelos presentes. Arroio do Meio, 30 de junho de 2008.
Lourdes Maria Gasparotto Rizzi, [ilegível], Paulo Steiner, Milton Schmidt, Sergio
Nunes Lopes, Celomar Schneiders.