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DIREITO E ÉTICA DA COMUNICAÇÃO 237

O problema da ética na comunicação pública da ciência


e da tecnologia: uma proposta de manual deontológico
Marcelo Sabbatini1

Divulgação científica: ponto de encontro trato injustificado se acrescentam reclama-


de saberes ções de banalidade, de cobertura insuficien-
te, de simplificação e de espetaculosidade
Dentro dos amplos processos que con- (Calder, 1998). Já Caldas (1998) aponta a
figuram a disseminação e difusão do conhe- questão do imediatismo dos meios como fonte
cimento científico, cada vez mais se reco- freqüente de atrito; outros riscos mais seriam
nhece o valor da chamada divulgação cien- a trivialidade, a demagogia, a pressa e a
tífica como canal comunicativo que possi- confusão conceitual entre resultados de
bilite a participação da sociedade em seu experimentos científicos e resultados reais.
sentido mais amplo no desenvolvimento Cabe notar que a confusão e o sensaciona-
científico-tecnógico, este último cada vez lismo, tão presentes no jornalismo, derivam
mais importante para o funcionamento das da prática jornalística da rapidez, resultando
sociedades modernas e democráticas. em pouco tempo para investigar e de se
Explicando a cultura e o pensamento realizar uma análise profunda e independen-
técnico, fora do quadro de ensino oficial e te dos fatos. Enquanto isso, os jornalistas,
não tendo como objetivo formar especialis- culpam às fontes de informação por propor-
tas (Calvo Hernando, 1992), a divulgação ci- cionar informação inadequada, além de
entífica assume uma de suas principais for- caracterizar aos peritos científicos como
mas no jornalismo científico, que nasce de incomunicativos, frios, e incompreensíveis
uma especialização informativa de massa que (Peters, 1999).
pretende divulgar a ciência e a tecnologia Nesta problemática dinâmica, reclama-se
dirigindo-se ao público geral, oferecendo um cada vez mais a figura da “terceira pessoa”,
serviço à sociedade muito similar ao desem- o divulgador científico, um professional
penhado pelas instâncias educativas. especializado que conheça tanto as caracte-
Segundo Nelkin (1995), um dos princi- rísticas intrínsecas da ciência e da tecnologia
pais problemas do jornalismo científico na quanto às práticas profissionais do jornalis-
atualidade é a grande dependência do públi- mo e da comunicação, como forma de es-
co em relação aos meios de comunicação para tabelecer uma ponte entre mundos tão dis-
obter informação atualizada sobre ciência e tintos e auxiliar nas relações de colaboração
tecnologia; o único que muitas pessoas sabem entre uma comunidade e outra.
sobre este tema é o que vêem na imprensa, De forma que a divulgação científica não
em confrontação com experiências educativas é uma soma de discursos, ou seja, a soma
do passado ou de sua experiência direta. de ciência e jornalismo, mas sim uma arti-
Como conseqüência, também se poderia dizer culação específica com efeitos particulares.
que se produz uma luta pelo controle sobre (Orlandi, 2001). Reúne, assim, as condições
a informação, sobre os signos e imagens de jornalista, cientista e divulgador. A de
mediadas, valores e visões transmitidos ao cientista, pela necessidade de compreender
público através dos meios de comunicação. o tema do assunto, para que possa explicá-
Na dinâmica de interação entre o mundo lo. A de jornalista pelo trabalho de seleção
da ciência e da tecnologia e os meios de da notícia, leitura e seleção de fontes para
comunicação surgem atritos. Os cientistas determinação de que feitos produzidos no
identificam a imprecisão, o sensacionalismo, campo científico merecem ser notificados,
a introdução de vieses e o estímulo de atitudes levando em conta que tal escolha deve utilizar
anticientíficas como principais dificuldades critérios como a transcendência futura da
da divulgação científica (Nelkin, 1995). A este pesquisa e a capacidade de despertar curio-
238 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume III

sidade. A de divulgador, pelo objetivo de Por sua vez, a ética da ciência se apoia
situar a ciência dentro do contexto geral da na honestidade, no sentido de evitar a fraude
civilização, e tentando superar a contradição científica e na precaução de evitar enganos;
entre um sistema de ideias claras que atende na liberdade intelectual, em busca de novas
a normas lógicas e outro de ideias vagas à ideias ou de crítica de outras; na abertura
margem da lógica (Julve, 1999). de compartilhar dados e métodos, de disse-
minar a produção e de estar aberto a críticas;
Ética dos jornalistas e ética dos cientistas no princípio do crédito, com o reconheci-
mento dos esforços alheios e de evitar o
Além das diferenças entre ambas comu- plágio; na responsabilidade social no sen-
nidades profissionais no que se refere à tido de observar as conseqüências da inves-
concepção do que é notícia e de como deve tigação científica para o entorno (Resnik,
ser realizada a comunicação com o público, 1998).
também se pode observar uma diferença com As bodas entre jornalismo e ciência, com
relação ao ethos próprios de cientistas e um maior prestígio social da ciência, mas
jornalistas e que tem por conseqüência re- aumentando também o abismo entre peritos
percussões importantes, na forma de barrei- e o público não especialista, devido ao
ras a superar na atividade divulgativa domínio de técnicas e conhecimentos cada
(Epstein, 1998). Assim, o ethos dos cientis- vez mais complexos, originaram esforços de
tas, se considerarmos as idéias da sociologia adotar a objetividade científica à prática do
clássica da ciência expostas principalmente jornalismo. Neste sentido, prevalecia a visão
por Merton (1973), estaria composto basi- da ciência como uma “base apolítica para a
camente por quatro imperativos institucionais, política pública, um modelo de
que refletiriam e condicionariam as normas racionalidade”, com realizações situadas por
e valores da comunidade científica: o em cima de interesses e de pressões e neste
universalismo, o comunalismo, o ceticismo sentido o jornalismo se propôs a “abordar
e o desinteresse organizado. Embora na o ideal da neutralidade e da reportagem
prática os imperativos do Merton se possam ausente de vieses, balançado pontos de vista
considerar utópicos, se aceitarmos essa con- diversos, apresentando os lados justamente
cepção por um instante damo-nos conta de e mantendo uma distinção clara entre a
que não existe comparação possível entre os reportagem de notícias e a opinião editorial”
imperativos mertonianos e o conjunto de (Nelkin, 1995).
valores éticos e profissionais do jornalismo. Entretanto, esta aproximação supõe uma
Portanto, a relação entre a ciência e os meios contradição, pois a objetividade através do
de comunicação pode derivar em problemas balanço de opiniões não tem sentido na
éticos, já que cada uma utiliza escalas de epistemologia científica, onde a verificação
valores distintas. experimental é o critério de verificação da
Os princípios da conduta ética do jorna- realidade. Resumidamente, em jornalismo, as
lismo se centram na busca da objetividade, provas se obtêm através da busca de múl-
no sentido de cobrir vários aspectos de um tiplas fontes de informação para alcançar o
tema a partir de um ponto de vista neutro critério jornalístico de objetividade, enquan-
e sem a inclusão de comentários de opinião; to que em ciência, não se necessitam mais
na busca da precisão, evitando distorcer fatos fontes de informação, mas sim, provas rigo-
e com apoio em fontes confiáveis de infor- rosas. Dste princípio, resulta que nos meios
mação; na busca do valor informativo da de comunicação são dedicados o mesmo
notícia em quanto a critérios de interesse para espaço à ciência marginal que à opiniões bem
o público e adequação temporária. Outras estabelecidas dentro da comunidade cientí-
questões éticas do jornalismo são a manu- fica, proporcionando autoridade a pessoas que
tenção da privacidade das fontes, a adesão carecem das habilidades e do conhecimento
a critérios de responsabilidade social infor- para opinar informadamente em um debate
mando sobre temas de interesse social pelo científico (Stocking, 1999).
bem da sociedade e a liberdade de publi- Como última advertência, os códigos
cação sem temor à censura. deontológicos jornalísticos tradicionais não
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lidam com valores sociais ou culturais, pois Entre os grandes temas que afetam a
suas afirmações sobre liberdade de expres- prática jornalística em especial a difusão do
são, alcance da verdade e objetividade se dão processo da ciência e a tecnologia, podemos
em um contexto dado por certo. Por outro destacar a conversão da informação e
lado, observa-se que os valores éticos e tecnologia em capitais, entendidas como
profissionais não podem ser separados do mercadorias, sujeitas a sistemas de controle
ambiente cultural circundante. Em um mun- com vistas a garantir privilégios. Dentro deste
do cada vez mais globalizado podem surgir cenário, operam as estratégias de relações
conflitos éticos na divulgação científica, públicas das grandes empresas, a politização
devido a conflitos do entendimento do que e atribuição de ideologia a temas científicos
é ciência ou de que medida a prática jor- e tecnológicos e algumas vezes os meios de
nalística deve estar comprometida com o comunicação pela falta de preparo ou inge-
desenvolvimento económico ou ecologica- nuidade atuaram como porta-vozes de inte-
mente sustentável, segundo estas concepções resses políticos econômicos e comerciais
variem em vários países (Lewenstein, 1997). (Bueno, 2001). À medida em que a infor-
mação científica assume um valor econômico,
Ética e tecnociência também se pode questionar a atitude ética
de jornalistas científicos, que ao possuírem
Nas últimas décadas do século XX, informação privilegiada e capacidade de gerar
emerge a “tecnociência”, entendida como a grandes expectativas na população, poderi-
fusão de investigação científica e de inova- am tirar proveito económico de acordos
ção tecnológica para gerar uma ciência editoriais (Revuelta, 1998).
puramente utilitária e instrumental. Produz-
se na atualidade então, uma tensão entre a Falhas da divulgação científica
investigação pós-acadêmica – dominada por
critérios tecnocráticos, dependente de finan- A este cenário da ciência e da tecnologia
ciamento público e privado e com enfoque dominado por interesses de grandes reper-
em capacidades instrumentais – e a desva- cussões económicas ou políticas, também
lorização das normas e valores acadêmicos temos que somar às fontes de problemas
tradicionais (Ziman, 2002). Este novo pano- éticos da divulgação científica algumas
rama da ciência afeta a comunicação cien- deficiências observadas em sua prática. Desta
tífica na medida em que se observam sigilo forma, a informação desqualificada, com a
da informação científica, em troca da exclu- aceleração das notícias em detrimento da
sividade de aplicação ou de obtenção de precisão; com a precisão afetada pela incom-
patentes, com a violação de um dos prin- petência no apuro dos fatos ou maximizada
cípios fundamentais da ciência que é o intencionalmente pelos proprietários e patro-
intercâmbio livre de ideias. A situação, cinadores, com o objetivo de manipulação
entretanto é de dois sentidos, pois ao mesmo da opinião pública.
tempo em que se observa a restrição ao acesso Também se observa a convivência não
ao conhecimento, por um lado, também se pacífica entre a ciência e outros saberes, como
realiza a promoção de informações que seriam a religião e crenças alternativas, originando
favoráveis a estes grandes interesses, em um uma disputa entre o conhecimento científico
tipo de interferência que deriva em uma e pseudocientífico, este último na forma de
dissolução entre o marketing e a ciência2 explicações fantasiosas ou de uma atitude
(Bueno, 2000a). Frente à emergência desta francamente contrária à ciência (Bueno,
tecnociência, demanda-se também uma nova 2000b). Assim, a integridade jornalística se
postura do jornalismo científico frente à vê balançada quando a mídia dedica o mesmo
complexa rede de interesses e compromissos espaço à ciência que aos temas
que circundam à ciência e a tecnologia, pseudocientíficos, ‘alternativos’ e ‘esotéricos’,
principalmente através do resgate do caráter dando credibilidade aos mesmos por meio de
crítico-pedagógico do jornalismo científico uma linguagem sensacionalista e acrítica” e
(Bueno, 2001). não marcando claramente a distinção entre
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aquele conhecimento que provem claramente tíficas se enviesem em direção àqueles tra-
de uma base científica e outros tipos de balhos que melhor se adaptarem às neces-
saberes (Sabbatini, 1997). sidades dos meios de comunicação mais do
Porém, um dos principais problemas se que por seus critérios científicos (Ribas,
dá em função da orientação do jornalismo 1998). Além disso, a tendência em depender
em retratar resultados alcançados, mesmo que de comunicados de imprensa, comunicados
sejam contraditórios com outras informação de conferências e outros tipos de informação
publicadas anteriormente, em outras palavras “empacotada” e pré-selecionada reduz as
pela “falta de compromisso do jornalismo possibilidades de investigação cética, além
científico com a contextualização dos resul- de resultar na adoção da linguagem e con-
tados no momento de sua publicação” teúdo próprias do emissor da informação,
(Christofoletti, 2001). A falta de contexto se criando uma relação de dependência e
reflete, por exemplo, na ausência de preo- vulnerabilidade (Dunwoody, 1999).
cupação por contrastar distintos pontos de As questões acima mencionadas entram
vista e de “chocar teorias” com o objetivo em jogo principalmente na cobertura de
de alcançar uma visão global do assunto. Ao controvérsias científicas, que por outro lado,
tratar a informação científica através do são as que despertam maior interesse no
“prisma da curiosidade, do exotismo, da público e na mídia, justamente devido aos
superficialidade, do sensacionalismo, do possíveis impactos econômicos ou sociais. Os
bizarrismo”, já não há critério de distinção fatores que podem influenciar a cobertura das
entre a importância real e a repercussão dos questões controversas são as rotinas de tra-
avanços científicos noticiados. balho dos meios de comunicação e as de-
Nesta problemática de “discursos contrá- mandas organizacionais como a pressão dos
rios”, esquece-se o dever de informar, sen- anunciantes, critérios derivados da proprie-
tido pedagógico do jornalismo, de auxiliar dade dos meios e a dissolução das barreiras
o leitor na compreensão dos fatos, como entre os aspectos editoriais e de negócio
resultado de que o leitor já não possui critérios (Stocking, 1999). Por último, na cobertura
do que é realmente válido e do que deve ser de controvérsias, uma possível falha da
assimilado. Frente a esta situação Pratico divulgação é a manipulação dos textos
(1998) defende o “esforço de interpretar a jornalísticos, buscando conclusões em temas
ciência relacionando-a com os problemas e nos quais a própria ciência ainda não pôde
com o mundo real. Tentando compreender proporcionar um veredicto (Revuelta, 1998).
suas linhas de desenvolvimento, suas direções Outro tipo de informação científica fre-
potenciais, a força e os interesses que a quentemente sujeita a problemas éticos é a
condiciona, seu significado frente a seus informação em saúde, que está relacionada
resultados e seu impacto sobre a sociedade”. com o conceito de “decisão bem-informada”3,
A prática da divulgação científica tam- por exemplo, saber quando procurar um
bém se vê afetada pela interferência das fontes profissional, que hábitos saudáveis e que
de informação, observando-se uma certa hábitos nocivos abandonar, concordar com
“comodidade” do jornalista científico, ao determinado tratamento médico e seguir
basear-se somente nos comunicados de fielmente as recomendações médicas. Os
imprensa, os chamados “press releases” que perigos da informação científica inadequada
muitas revistas científicas internacionais são “particularmente insidiosos nas ciências
adotaram para buscar seu espaço dentro do da vida já que afetam aos desafios da vida
cenário da comunicação científica e compe- e da morte, da natureza e da artificialidade,
tir pela atenção dos meios massivos. Con- do normal e do patológico”, ainda que tam-
vertidas em agências de notícias, as revistas bém seja importante naquelas disciplinas
científicas proporcionam aos meios a inter- científicas dedicada a analisar as sociedades
pretação dos resultados científicos, propor- e suas culturas, onde certas afirmações podem
cionando os “ganchos” para tornar a infor- ter derivações políticas, económicas e soci-
mação atrativa e interpretando-a segundo um ais (Ahrweiler, 1995).
contexto de valores. Por outro lado, um dos Ao ser considerada uma modalidade
perigos desta tática é que as revistas cien- específica da divulgação científica e
DIREITO E ÉTICA DA COMUNICAÇÃO 241

tecnológica, a comunicação em saúde tam- pelo jornalismo científico muitas vezes


bém sofre das falências mencionadas ante- condicionada pelos interesses económicos e
riormente. Assim, através da divulgação políticos da tecnociência por outro, resta-nos
displicente baseada nos press releases se identificar com maior precisão aquelas situ-
chega a uma situação em que a divulgação ações onde se podem produzir conflitos
científica assume um papel publicitário, por éticos. Esta preocupação ética se faz patente
exemplo de remédios milagrosos lançados por dada o objetivo da divulgação científica de
grandes laboratórios. Muitas vezes estão avançar e proteger os valres humanos, pro-
ausentes as práticas de contestar os resulta- movendo o diálogo público sobre os bene-
dos anunciados ou de contrastação com outros fícios e riscos da ciência, e do fato que
medicamentos e tratamentos existentes, ou conhecimento é poder (Rademakers, 1991).
mesmo sobrepondo a medicalização sobre a As rodas de imprensa convocadas por
prevenção. O tom publicitário se dá na forma cientistas se informam resultados antes de que
de adjetivização e na não-incorporação de estes sejam confirmados pela comunidade
avaliações de especialistas ou de alertar para científica. Esta modalidade de comunicação
possíveis restrições. Esta, portanto, seria uma pública se pode utilizar para estabelecer uma
forma de promover os medicamentos de uso prioridade, saltando os filtros de revisão e indo
controlado, cuja propaganda é proibida nos contra as normas científicas aceitas. Por outro
meios de comunicação massivos, proporci- lado, a divulgação dos resultados pode ter
onando ademais um caráter avaliador ao estar conseqüências sociais importantes, pelo qual
situada em veículo de prestígio e disfarçada se faz necessário divulgar o quanto antes. Já
de informação científica (Bueno, 2000a). nos congressos científicos, a apresentação de
Em relação com a descontextualização do trabalhos científicos adota um caráter preli-
saber científico, no campo da saúde também minar, para obtenção de feedback e não como
observa-se uma simplificação excessiva das estudo conclusivo. Neste caso surge o dilema
mensagens, ao mesmo tempo em que os entre o direito do jornalista a receber infor-
textos dedicados à ciência e à tecnologia, e mação e do princípio de abertura da ciência
particularmente à medicina e à saúde, aumen- e o direito de proteger investigações prelimi-
taram em número nos meios de comunica- nares e responsabilidades (Resnik, 1998).
ção. Ou segundo a expressão de Vladimir de Já as entrevistas proporcionam um cam-
Semir (2002), “a bulimia comunicativa se po fecundo para o incumprimento da ética
uniu com a anorexia informacional”. jornalística, com citações erróneas ou fora
Finalmente, a informação em medicina e de contexto, um dos principais motivos pelos
saúde ao estar relacionada com questões tão quais determinados pesquisadores demons-
fundamentais para o ser humano exige res- tram aversão aos meios de comunicação. Por
peito e tato. Assim, ao abordar os resultados outro lado, os cientistas também deveriam
de pesquisa, os jornalistas deveriam fazer- esforçar-se para facilitar este processo, ex-
se uma pergunta hipotética, imaginar uma plicando detalhadamente sua pesquisa com
pessoa próxima ou ser querido que fosse o objetivo de reduzir as possibilidades de erro
afetado pela divulgação do tema em questão por parte dos jornalistas.
e de como esta pessoa se sentiria em relação Outras táticas claramente antiéticas por
com a forma, caracterização e apresentação ferirem o princípio da objetividade e da
da reportagem 4 (Social Issues Research imparcialidade, geralmente utilizadas por
Centre, 2001). grupos de pressão ou por charlatães, envol-
vem técnicas de propaganda estudadas pela
Mapa dos conflitos éticos da divulgação psicologia e que têm como objetivo desper-
científica tar determinadas reações no público-alvos.
Exemplos de estas técnicas seriam os apelos
Uma vez identificada a situação geral do à autoridade, o uso de exemplos vívidos, o
problema ético da divulgação científica, com uso de argumentos de distração e de con-
os ethos distintos da comunidade científica fusão, os argumentos ad-hominen e a utili-
e dos profissionais da comunicação por um zação categórica de determinados termos
lado, de certas práticas questionáveis adotadas frente a outros (Lees-Haley, 1997).
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A utilização de estatísticas e falácias problema fundamental na circulação do


lógicas também pode enganar os profissio- conhecimento científico. Para a superação
nais dos meios de comunicação. Associado destes problemas, a formação especializada
a esta já bastante conhecida (Huff, 1954) está de divulgadores científicos, a colaboração
a interpretação errônea das correlações, dos entre jornalistas e cientistas, e o cultivo do
erros associados à amostragem e a outros cepticismo frente as fontes de informação são
conceitos básicos da estatística que impos- algumas das propostas feitas pelos especi-
sibilitam a interpretação correta da informa- alistas para afrontar este quadro. Por outro
ção científica. Mais do que isso, a incerteza lado, também consideramos necessário que
associada a qualquer investigação científica, a formação se complementara na atividade
no contexto da notícia, geralmente se trans- profissional com manuais de ética específi-
forma em uma verdade absoluta. cas a esta forma de jornalismo.
Outro problema ético, mais sutil, porém Um manual com estas características de-
não menos presente em tempos de engenha- veria apresentar: 1) uma revisão sobre os
ria genética e biotecnologia, é quando os principais temas relacionados com a ética da
meios de comunicação tratam das questões divulgação científica, como suporte teórico e
éticas da ciência. Neste sentido, em temas 2) uma relação de estudos de caso, nos quais
tão polémicos como os citados, a imprensa a ética da divulgação se confronta com a ética
pode antes mesmo que tratar dos conceitos científica ou com a ética social. Acreditamos
científicos e técnicos, abordar possíveis que esta seção é imprescindível, para mostrar
questões de ética científica relacionadas com em situações práticas e de caráter real os grandes
pressupostos morais e religiosos. Mais do que dilemas que podem surgir na comunicação
isso, a mídia retrataria antes que nada uma científica, mas também de como atuar. Em este
“antiética científica”, fazendo uma divulga- trabalho, esperamos haver traçado as linhas
ção do terror, ao centrar-se em hipotéticas gerais destas duas grandes áreas.
e futuras conseqüências negativas da aplica- Concluindo, “pensar sobre a noção da
ção desta ciência questionada, muitas vezes verdade – o que ela é, o que representa, como
nem sequer factíveis desde o ponto de vista pode ser buscada, como deve ser explicitada
prático (Costa & Diniz, 2000). – é fundamental para se construir um jor-
nalismo comprometido com o seu público,
Conclusões interessado na evolução de uma sociedade
que busca respostas para suas questões e é
A questão da ética da divulgação cien- consciente de seu papel nesta trajetória de
tífica, ainda que escassamente reconhecida construção e reconstrução histórica”
nos meios jornalísticos, consiste hoje um (Christofoletti, 2001).
DIREITO E ÉTICA DA COMUNICAÇÃO 243

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3
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Ziman, J. Science and Civil Society. falível dos seus profissionais (que não são
Congreso Ciencia Antel el Público. perfeitos), é imprescindível que as pessoas
Salamanca: Ediciones Universidad de participem nas decisões médicas sobre sua
Salamanca, 2002. própria saúde”.
4
Um exemplo seria uma notícia publicada
pela agência Reuters Health sobre a
_______________________________ “síndrome da mão alheia”, utilizando como
1
Instituto Universitário de Estudos da “gancho” de atenção a comparação com
Ciência e da Tecnologia – Universidade de filmes de horror e utilizando inclusive a
Salamanca. palavra “monstro” no título.

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