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anan0%6 LUNGUASAGEM - Revista Elerdica de Popularizagto Cietica om Ciénclas da Linguagem Clique aqui, para acessar a edicao atual! LUNGUASAGEM ISSN: 1983 - 6988 =agia ea HETEROGENEIDADE DISCURSIVA: MODOS = Acorde Onogrfca DA PRESENCA DO OUTRO ‘Agenda de Eventos eArtigos Amtigos de IC 2 Blog Carla da Siva Limall “Entrevista A relasio entre a lingua © 0 que considerado como seu “exterior” & uma “Livros dos pontos que tem suscitado Indmeras dlscussoes nos estudos sobre a “TReflexdes sobre o Ensino de IRQuagem, Analisada por diferentes correntes teéricas da Linguistica, a questéo Lingua vem recebendo tratamento varlado em diversas discipinas, dentre as quals Resenhas destacamos a Anilise do Discurso francesa formulada por Michel Pécheux Traducio (oravante AD). Esbocaremos, sumariamente, © mado como esta questio & 4 Textos Literrios associada a temética da heterogeneidade no interior da AD, iustrando com a 4 Baigbes Anteriores andlse de algumas marcas de heterogeneidade encontradas em dois textos A problematica da heterogeneidade sempre esteve presente no trabalho Veja também tebrico de Pécheux, cuja preocupagdo central, em todas as fases da Anilise do Discurso, foi a definicéo do objeto da disciplina - 0 discurso. Mas, é a partir da década de 1980, particularmente a partir do que Michel Pécheux definiu como CECItEC — «2's 0c 08 40, auando “0 imac tera do outro sobre © mesmo se acentua’ (Pécheux, 1983/1997 p.315), que o discurso & definitivamente colocado felta por Pécheux, no mode como a relacdo lingua-discurso vinha sendo tratada na teoria, e pela mudanca na maneira de analisar a materialidade discursiva, cujas Comonidace dos Paises eee oer {questées apontavam para o espaco de confrontacio da Linguistica, da Histérla e da pscanikce Em um de seus tims tests, Aandlice do dcr: tes doce (1983/1997, Péchesx fr una revisto das faces por Que passou a AD © afta tons sangeet ste ot anan0%6 LUNGUASAGEM - Revista Elerdica de Popularizagéo Cietica om Ciénclas da Linguagem GE|sicom iLtec Inatiut Fardinand de Saussure Portal d Peniéicos Capes Pecree_ Portal de Revistas Cintas Persee texto! (ole colocando em cena como um outro (...) mas também e sobretudo a insisténcia de um ‘além’ interdiscursivo" (PECHEUX, 1983/1997, p. 316-317), Inscrita no campo especifico da Linguistica, Authier-Revuz analisa os processos enunciativos sob uma perspectiva que enfoca a presenca do Outro/outrol2! na enunciagao, tematizada a partir do reconhecimento da lingua como sistema de diferengas € como espaco de equivoco. Associada a temética da heterogeneidade, cujo pressuposto atribui a0 sujeito seu descentramento © 20 Outro. um papel primordial no discurso do Mesmo, a autora toma a heterogeneidade como fundante ~ a linguagem é heterogénea em sua constituicdo =, buscando, a partir de um procedimento, colocar em evidéncia as rupturas enunciativas no fio do discurso ¢ apresentar os elementos decisives para 0 surgimento de um discurso outro no discurso do mesmo Em Authier-Revuz (1990, 1998, 2004), a problematica da heterogeneidade é formulada a partir da nocao de heterogeneidades enunciativas, apresentadas como sendo de dois tipos: a constitutiva e a mostrada (sendo a dima marcada ou no marcada), consideradas como processos istintos: 0 primeiro refere-se “sos processos reais de constituico dum discurso"; © segundo, aos “processos de (AUTHIER-REVUZ, 1990, 32). Nessa perspectiva de distingio, mas ndo separacio entre as heterogeneidades representagao, num discurso, de sua constituigd constitutiva € mostrada, & que Authier-Revuz (idem, p. 26), toma os casos de heterogeneidade mostrada como “formas lingliisticas de representacio de diferentes modos de negociagio do sujeito falante com a heterogeneidade constitutiva do seu discurso”. Fla ainda considera a existéncia de dois tipos de enunciados: aqueles que mostram a heterogeneidade, com marcas explicitas, € aqueles cujas marcas ndo sio mostradas. Como exemplo de heterogeneidade mostrada e marcada, temos as glosas enunciativas, 0 discurso relatado (formas sintaticas do discurso direto e do discurso indireto), as aspas. Como exemplo de heterogeneidade mostrada, mas ndo marcada, temos @ ironia, o discurso indireto livre, ete, que contam com 0 “outro dizer", sem explicité-lo, para produzir sentidos. [As referéncias recorrentes ao trabalho de Jacqueline Authier-Revuz nas pesquisas que discutem a presenca do Outro/outro no discurso, contribuem para destacar a relevancia e a consisténcia te6rica de sua proposta, cujo mérito consiste, dentre outros, em trabalhar com um fato de linguagem que transforma o espaco de compreensio do sujeito, considerado na relacéo da linguagem com sua exterioridade. A seguir, apresentaremos alguns textos que ilustram casos de aspas ¢ de glosas enunciativas, cujo funcionamento, além de apontar para a relacéo de alteridade com 0 Outro/outro como constitutiva, revela, em alguma medida, um trabalho do sujeito que interfere no discurso outro a partir do posicionamento no qual se inscreve. Aspas ¢ a presenca do Outro/outro no discurso Seleclonamos, abaixo, uma tira de Luis Fernando Verissimo, da série intitulada “As Cobras’, reeditada toda segundafeira no site da Revista Terra ip ihwwrwas scar brlinguasagemiedca006iertiges ima pst nt anan0%6 LUNGUASAGEM - Revista Elerdica de Popularizagéo Cietica om Ciénclas da Linguagem trjanele ae es ly Ll deat Magazine, na coluna_ “Cobras do Verissimo", disponivel__ em http://terramagazine.terra.com.br FM AE AND, cacacinc i MARL. : Cobras discutem 0 espirito natalino Trata-se de um didlogo entre duas cobras que, na série em questio, sempre divagam sobre temas variados, como a imensiddo do universo, a existéncia Deus € sua relacio com o homem, dentre outros. Nessa tira, as cobras estdo refletindo sobre o significado do Natal e uma delas utiliza a expressao eterno ‘agora” do infinito para questionar 0 chamado espirito natalino, O uso das aspas em "agora’, produz alguns efeitos, como: (1) realgar a contradicao eterno/agora a fim de criticar, de forma bem humorada, os apelos ao consumismo que se acentuam em alguns periodos, como o Natal e outras datas, explorados comercialmente; (2) marcar a negocia¢do do sujeito com o Outro, circunscrevendo a alteridade na forma de uma ndo-coincidéncia entre a palavra e a coisa - as aspas indicam que a palavra empregada no é a mais adequada para designar 0 que 0 ‘enunciador pretende, pols pode nao corresponder exatamente a realidade, © curioso € que o estatuto do elemento entre aspas foi especificado por uma glosa empregada pelo interlocutor, € no pelo préprio enunciador, No dkimo quadrinho, a glosa, representada por melo da expresso em outras palavras, sinaliza 0 tipo de “tradugdo” que o interlocutor faz das palavras do enunciador, mostrando que ambos nio enunciam do mesma lugar discursive. O funcionamento dessas formas de heterogeneidade representa, localmente, a distancia existente entre os posicionamentos discursivos nos quais se inscrever os co-enunciadores, (© que configura uma ndo-coincidéncia interlocutiva, segundo Authier-Revuz. ‘A glosa produz o efeito de humor porque funciona como indicio de que se trata de um didlogo entre um homem e uma mulher, provavelmente um casal, € apéia-se na idéia corrente de que existe uma intuicdo feminina, que no caso pode ser associada a uma certa perspicicia, que permitiria as mulheres perceberem quando um homem esta inventando uma desculpa, mentindo, etc. A glosa desloca © sentido de "agora’, tal como produzido pelo enunciador (0 homem), para um discurso outro ~ da critica, reclamagées, insatisfacdo das mulheres em rela¢ao a0 comportamento masculino, revelando que hé uma controvérsia, uma polémica sustentando a relacdo entre os discursos. Os efeitos de sentido produzidos pelas marcas de heterogeneidade evocam estereétipos sociais, a partir dos quais séo construidas as imagens de homem e mulher. A glosa marca no fio do discurso, a existéncia de uma controvérsia entre 0s co-enunciadores, mostrando que eles ip ihwwrw as scar belinguasagemiedcaddSlartigns lima pst txt anan0%6 LUNGUASAGEM - Revista Elerdica de Popularizagto Cietica om Ciénclas da Linguagem enunciam de posicionamentos distintos € divergentes € que, portanto, néo compartitham os sentidos atribuidos ao elemento destacado pelas aspas. A seguir, destacamos outro texto em que a polémica parece estimular, favorecer 0 uso das aspas. Tratase de uma reflexio sobre 0 aborto dos anencéfalos, feita por um pesquisador da area de Biotecnologia e Epigenstica, publicada no jornal Folha de Londrina, em 10/09/2008, disponivel em http://waw.bonde.com,br/folha, do qual selecionamos alguns enunciados. (.) Nos ltimos dias temos visto a nossa volta uma grande polémica: a questdo do aborto dos anencéfalos. Diversos niicleos apresentam argumentos prés e contras, em uma discussdo extremamente importante, pois se trata de tornar institucional a decisio sobre a continuidade ou nio de um evento referente a vida. Considerande 0 parecer do ministro da Sade, José Gomes Temporao, francamente favordvel a0 aborto, tenha o feto encéfalo ou no, causa-me preocupacio alguns argumentos mencionados pelos grupos pré-aborto. Vou abrir um paréntesis, para enfatizar 0 uso do tetmo “aborto", pois considero um __eufemismo essa recente substituicio por “antecipacao programada do parto", Pois bem, 0s grupos pré-aborto enfatizam 0 sofrimento da gestante de um feto anencéfalo, alegando uma "agresséo a dignidade da pessoa humana”. © comentario inicial explicita 0 lugar discursive onde 0 enunciador do texto se inscreve e a partir do qual vai estabelecer a polémica com 0 discurso outro. ‘As aspas que aparecem em seguida sinalizam a negociacio do sujeito com o seu Outro/outro, visto que delimitam 0 espaco de atuacdo dessa outra voz para produzir © efeito de que o restante do dizer pertence ao sujeito, o que garante a unidade aparente do discurso. Na sequéncia, ‘aborto” aparece entre aspas pata enfatizar a qual discurso essa palavra pertence ~ ao daqueles que se posicionam contra a morte dos anencéfalos - ¢, de certa forma, acentuar 0 sentido negativo que esta palavra assume nesse discurso, 0 qual contrasta com "antecipagio programada do parto atribuida ao posicionamento divergente. ‘A expresso “agressao a dignidade da pessoa humana’ aparece entre aspas para indicar que se trata de uma citagdo, que serd retomada no paragrafo seguinte, novamente entre aspas, mas para sinalizar uma distancia, um questionamento, uma critica por parte do enunciador, que pde em questio o sentido atribuido a essa expressio pelo discurso outro, marcando, assim, um ponto de ndo-coincidéncia das palavras com elas mesmas, que reforca a polémica entre 0s dois posicionamentos, Esse procedimento salienta uma ndo-coincidéncia interlocutiva, ip ihwwrwas scar brlinguasagemiedca006iertiges ima pst nt as anan0%6 LUNGUASAGEM - Revista Elerdica de Popularizagto Cietica om Ciénclas da Linguagem (4) H& outro aspecto muito série, Os atuais recursos diagnésticos permitem a identificagio de centenas de alteragées durante a vida fetal. Sindromes diversas podem ser diagnosticadas com relativa seguranga. Entdo, depois do anencéfalo, qual ser a proxima alteragao fetal a justificar 0 abort? Isso me traz 4 mente qualquer coisa de “pureza racial” enrustida, Saber da surdez, cegueira, agenesia de membros, retardo mental, intersexualidade, etc., nio si0 situagdes capazes de causar sofrimento nas maes e pais, de “agredir a dignidade da pessoa humana"? Mas o mundo hoje tem se empenhado tanto na inclusio dos portadores de necessidades especiais, entéo como estabelecer quails anomalias podem ou no ser mantidas durante a gestacio? Interessante destacar, ainda, os sentidos mobilizados pelas aspas em “pureza racial", O enunciado esté modalizado pela expresso qualquer coisa, 0 que parece ser uma forma de atenuar 05 efeitos negatives produzidos, ja que a idéia de “pureza racial" remete ao discurso nazista e, consequlentemente, a toda uma meméria que mobiliza sentidos de exterminio, violéncia, preconcelto que marcaram as praticas de seus adeptos. E essa aproximagio, semelhanca com o nazismo é apresentada pelo enunciador como enrustida, 0 que reforca a necessidade de ser combatida. Vé-se, portanto, que ao mobilizar certos sentidos e associslos ao discurso pré-aborto, 0 enunciador, de certa forma, modifica esse discurso. ‘As andlises dos textos, ainda que iniciais, chamam a atencio para o trabalho do sujeito sobre o discurso do outro, ja que, conforme procuramos demonstrar, 0 posicionamento a partir do qual o sujeito enuncia determina o modo de presenca desse discurso outro na construcio da identidade discursiva. © sujeito joga com a presenca do Outro/outro para construir uma imagem de sino discurso. Referénclas biblogréficas rogenesdadls) enunclatnas). in: Cadernos de estudos linguisticos, Campinas Lh 19, Jul /aer 1990, Palavras incertas As ndocoincidéncas do dizer, Campinas: tora da UNICAMP, 1998, Hererogeneidede mostada e heterogeneidade consttatva: elementos para uma aberdagem do ‘uifa fs discuae no" "Entre a tanapardncia © 4 opacidader um eslude eaunclative do sentia Port Alegre: EDIPUCRS, Tt -. Palavas roarlidas a distincia i Entre a transparéncia «a opacidade: um est ‘nincitive do Sencide Porc Alegre EDIPUCKS, 2604 PECHEUK, M.A Anise do Discurso: tis épocas.Traducio de Jonas de A Roma, In: CADET, F& MAK T (Orgs) Por uma andiie automatica do decurso! ums Inttodueao a obra de Michel Pecheux. Campin, felforada Uneamp, 1997-11983) 4 oacente do Departamenta de Ciéncas Humanas e Letias da UES2, doutoranda do Programa de Pés: Graduaczo em Lngusvea do Instituto ce Estudos a Linguegem Ga UNICAMP. Esmal:carlashine@ymallcom 1a perspectiva terica assumida por Authier-Revuz, 0 Outro refere-se ac inconsciente da teora lacanians, lenguatto o outro corresponde 20 ntrloctor ip ihwwrwas scar brlinguasagemiedca006iertiges ima pst nt

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