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11/01/2018 Temos que regular o turismo antes que seja tarde demais - Carta Maior

Temos que
regular o turismo
antes que seja
tarde demais
Neste 2018, teremos mais de 3
milhões de turistas por dia dando
voltas pelo mundo. Um fenômeno
massivo que não tem precedente na
história da humanidade. E, como de
costume, é desencadeado por uma só
visão: a do dinheiro.

Por Roberto Savio

11/01/2018 15:20

Por Roberto Savio

Neste 2018, teremos mais de 3


milhões de turistas por dia dando
voltas pelo mundo. Um fenômeno
massivo que não tem precedente
na história da humanidade. E,
como de costume, é desencadeado
por uma só visão: a do dinheiro.

Deveríamos fazer uma pausa e


analisar seu impacto social,
cultural e ambiental, e remediar
esta situação, que está se tornando
seriamente negativa se deixamos
as coisas como estão.

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O jornalista indiano Sameer


Khapoor confeccionou para
Triphobo Trip Planner uma lista
de 20 lugares que foram
devastados pelo excesso de
turismo, que se pode ver neste
link. 
(https://www.triphobo.com/blog/travel-
destinations-ravaged-by-tourism)

O famoso Taj Mahal, um


monumento construído pelo amor
do imperador mogol Shah Jahan à
sua esposa, vem perdendo o brilho
do mármore branco leitoso
original, passando a um tom mais
amarelado. O monte Everest está
cheio de lixo ao seu redor, deixado
pela invasão de visitantes e
aventureiros.

A Grande Muralha da China tem


sido tão maltratada pela
quantidade massiva de turistas
que já começa a mostrar sinais de
desmoronamento em algumas
partes. As famosas praias de Bali
também estão repletas de lixo,
além do tráfego infernal, por
estradas que se deterioram
rapidamente.

Machu Picchu tem um número tão


grande de visitantes que os
arqueólogos estão preocupados
por sua preservação. Uma vez
existia um trem que levava a um
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pequeno povoado, chamado Águas


Calientes, e dali era preciso seguir
o caminho a pé ou em mulas.
Agora é possível chegar ao
enigmático bastião sagrado inca
de ônibus com ar condicionado.
Águas Calientes passou a ser um
núcleo urbano de 4 mil pessoas,
com hotéis de cinco estrelas.

A famosa barreira de recifes


australiana já perdeu um terço de
seus corais. As ilhas Galápagos,
onde Charles Darwin concebeu sua
famosa teoria da seleção natural,
recebe tanto visitantes que
incidem em seu frágil equilíbrio
ecológico que em 2007 a UNESCO a
colocou na lista de locais de
patrimônio mundial em perigo de
extinção. Em vão.

O Partenon sofre com os muitos


visitantes que tentam tirar
pedaços de rochas e ruínas, ou
rabiscar nos pilares antigos, o que
levou as autoridades a reforçar o
policiamento do local. A maravilha
de Angkor Wat, no Camboja, está
enfrentando o mesmo problema,
assim como o Coliseu de Roma,
onde toda semana alguém é preso
por tirar um pedaço de coluna ou
tentar escrever nas paredes.

Porém, o maior exemplo do


impacto negativo do turismo é
Veneza. Oficialmente, a cidade
tem hoje 54 mil residentes. Eram
cerca de 100 mil em 1970. Cada
ano, mil residentes se mudam à
parte continental, porque os
aluguéis, o custo de vida em geral,
continua subindo, e as hordas de
turistas tornam a vida impossível.
A prefeitura precisa renovar
continuamente a quantidade de
varredores e empregados de
limpeza. Os barcos gigantes
continuam percorrendo o delicado
microssistema da lagoa, mas a

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pressão dos lobbies é muito forte.


Insistem em defender a presença
de seus transatlânticos no centro
da cidade, ou mais de 5 mil
empregos estariam em perigo.

Existe atualmente um claro


con ito entre os lugares que
vivem do turismo e os que têm
outros trabalhos. Por exemplo, em
Barcelona, onde muitos residentes
agora se manifestam contra o
turismo massivo. Veneza em breve
se transformará quase numa
cidade fantasma, como o povoado
de Monte Saint-Michel, a urbe
medieval da Normandia, repleta
de milhares de visitantes, que
querem ver a famosa maré de alta
velocidade. Pela noite, 42 pessoas
dormem lá.

É extraordinária a rapidez com a


que este fenômeno vem crescendo.
Em 1950, o número total de
turistas era de 25 milhões, quase
dois terços deles buscavam a
Europa, outros 29,76% preferia as
Américas e um mero 1,98%
visitava a África, enquanto o
Oriente Médio e a Ásia-Pacífico
ficavam com 0,79%. Em 2016 – ou
seja, 66 anos depois –, o número
de turistas pulou para 1,2 bilhões,
a Europa caiu a 50%, as Américas a
16.55%. A África já recebe 4,52%, e
o Oriente Médio 4,7%. A região da
Ásia-Pacífico é a que mais cresceu
nesse período, e agora chega a
24,2%, a segunda mais visitada no
mundo.

O que mais impressiona é ver o


que sucederá em 2030, segundo as
projeções da Organização Mundial
do Turismo (OMT) das Nações
Unidas. Em pouco tempo,
ascenderemos a 1,8 bilhões: isso
significa 5 milhões de turistas a
cada dia. A Europa perderia mais
espaço e ficaria com 41% desses

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visitantes, as Américas com 14%, a


Ásia-Pacífico subiria um pouco
mais, e chegaria a 30%, África a 7%
e o Oriente Médio a 8%. Um
mundo totalmente invertido em
comparação com 1950.

O turismo já é hoje o maior


empregador do mundo: uma
pessoa de cada onze trabalha no
setor. A China já supera os Estados
Unidos como a maior
nacionalidade entre eles. Em 2016,
os chineses gastaram 261 bilhões
de dólares em viagens, e gastarão
429 bilhões em 2020. A OMT
destaca que em 2025 a China terá
92,6 milhões de famílias com uma
renda entre 20 mil e 30 mil dólares
por ano, outras 63 milhões com
renda entre 35 mil e 70 mil dólares
por ano, e mais 21,3 milhões com
renda entre 75 mil e 130 mil
dólares por ano. Se espera que
uma grande parte deles viaje e
gaste dinheiro. Quantas pessoas
falam chinês e conhecem algo
sobre sua idiossincrasia?

Entretanto, qualquer outra


consideração além do lucro está
totalmente ausente neste debate.
Por agora, uma grande parte dos
trabalhos é só temporário,
estacional e mal remunerado. A
maior parte do dinheiro sequer
fica no lugar onde se gasta, sendo
integrado às grandes empresas do
próprio setor do turismo ou ao de
alimentos importados para
satisfazer os hábitos dos turistas.
Calcula-se que 70% do lucro
arrecadado com o turismo no
Caribe é enviado aos Estados
Unidos e ao Canadá.

A cultura e as tradições são


modificadas à medida em que os
forasteiros vão chegando, se
transformam em um espetáculo
para os estrangeiros e perdem

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suas raízes. Os hotéis estão


construídos só para o turismo, nos
lugares mais belos, com a natureza
e os hábitats degradados. Os
preços nas lojas aumentam porque
os turistas são mais ricos que a
população local, que vê sua
economia diária afetada.

Basta ir a uma localidade fora dos


circuitos de turismo para ver a
diferença. Aliás, agora há uma
crescente busca por lugares
“intactos”, diferentes dos “lugares
turísticos” tradicionais. Um
restaurante turístico se
transformou em sinônimo de
comida ruim e preços altos. E um
lugar turístico é aquele que perdeu
sua identidade para se adaptar às
demandas dos turistas.

A proliferação de postos do
McDonald´s, Pizza Hut e outras
cadeias de fast food (comida
rápida) nas partes mais belas das
cidades levou o jornalista italiano
Carlo Petrini de volta à sua terra
natal, o antigo povoado piemontês
de Bra, de tradição gastronômica.
Lá, ele iniciou um movimento
chamado slow food (comida lenta),
que defende a frescura do produto,
que deve ser da região,
preservando a cozinha original e
tradicional. A iniciativa agora
conta com mais de 100 mil
membros em 150 países, que
defendem a identidade contra a
globalização.

Florência também pode ser um


bom exemplo de como o turismo
arranca a identidade e a tradição
local. Desde o Renascimento, a
cidade foi um lugar de arte e
cultura. Era uma visita obrigatória
para os turistas cultos e os
antepassados dos turistas de hoje
– alemães, britânicos e franceses,
até a II Guerra Mundial. Uma

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