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BANCA EXAMINADORA
_____________________________________________
Prof. Me. Juliano Soares Rangel - Orientador
Faculdade CNEC Rio das Ostras
______________________________________________
Prof. Me. Francisco de Assis Aguiar Alves
Faculdade CNEC Rio das Ostras
_____________________________________________
Prof. Camila de Castro Barbosa Bissoli do Bem
Faculdade CNEC Rio das Ostras
In the present the main objective will be to analyze the institute of the thing judged
unconstitutional in the face of the principles of legal security and the supremacy of the
constitution. In order to do so, initially, it will make a detailed analysis of the institute of the
thing judged in the Country. It will also address the legally prescribed legal means so that it is
possible to deconstitute the res judicata, in order to demonstrate that these institutes are
questionables to deconstitute the thing Judged unconstitutional. It will try to explain the
concept of the thing judged unconstitutional and to demonstrate how the thing judged
unconstitutional violates the principle of supremacy of the constitution, which is a corollary of
the Democratic State of Law, making a comparative analysis with the theory of absolute
nullity applied to the control of constitutionality, Principle of legal security that, although it is
tied to the very concept of res judicata, is not confused with it, not being absolute. Finally, it
will briefly address doctrinal positions adopted by Brazilian jurists on the subject,
demonstrating that there is still no consensus on the subject, however making the importance
of it clear.
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 8
2 COISA JULGADA .............................................................................................................. 10
2.2 ESPÉCIES DE COISA JULGADA ................................................................................... 11
2.2.1 Coisa julgada formal ..................................................................................................... 12
2.2.2 Coisa julgada material .................................................................................................. 13
2.3 EFICÁCIA NEGATIVA E POSITIVA DA COISA JULGADA ...................................... 14
2.4 LIMITES OBJETIVOS DA COISA JULGADA ............................................................... 15
2.5 LIMITES SUBJETIVOS DA COISA JULGADA ............................................................. 17
2.6 COISA JULGADA “REBUS SIC STANTIBUS” ................................................................ 18
2.7 COISA JULGADA “SECUNDUM EVENTUM LITIS” ..................................................... 19
3 MEIOS DE IMPUGNAÇÃO A COISA JULGADA ........................................................ 21
3.1 AÇÃO RESCISÓRIA ........................................................................................................ 21
3.1.1 Pressupostos gerais ........................................................................................................ 22
3.1.2 Legitimidade ativa e passiva ......................................................................................... 24
3.1.3 Hipóteses de cabimento ................................................................................................. 25
3.1.3.1 Prevaricação, concussão ou corrupção do juiz ............................................................. 25
3.1.3.2 Impedimento ou incompetência absoluta do juiz ......................................................... 26
3.1.3.3 Dolo ou coação da parte vencedora, em detrimento da parte vencida ou ainda de
simulação ou colusão entre as partes a fim de fraudar a lei ..................................................... 27
3.1.3.4 Ofensa à coisa julgada .................................................................................................. 27
3.1.3.5 Violação manifesta de norma jurídica .......................................................................... 28
3.1.3.6 Falsidade de prova ........................................................................................................ 29
3.1.3.7 Prova nova .................................................................................................................... 30
3.1.3.8 Erro de fato ................................................................................................................... 30
3.1.4 Competência ................................................................................................................... 31
3.1.5 Procedimento ................................................................................................................. 31
3.2 AÇÃO ANULATÓRIA DE ATO PROCESSUAL ........................................................... 32
3.3 QUERELA NULLITATIS INSANABILIS ............................................................................ 33
4 RELATIVIZAÇÃO DA COISA JULGADA INCONSTITUCIONAL EM FACE DOS
PRINCÍPIOS DA SUPREMACIA DA CONSTITUIÇÃO E DA SEGURANÇA
JURÍDICA............................................................................................................................... 35
4.1 PRINCÍPIO DA SUPREMACIA DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS ....................... 36
4.1.1 A Constituição como expressão do Estado Democrático de Direito ......................... 37
4.1.2 A Supremacia da Constituição frente à coisa julgada inconstitucional ................... 39
4.2 TEORIA DA NULIDADE DAS NORMAS INCONSTITUCIONAIS ............................. 42
4.3 COISA JULGADA INCONSTITUCIONAL EM FACE DO PRINCÍPIO DA
SEGURANÇA JURÍDICA ...................................................................................................... 44
4.4 COISA JULGADA INCONSTITUCIONAL E A RECEPÇÃO PELA DOUTRINA
PÁTRIA .................................................................................................................................... 47
5 CONCLUSÃO...................................................................................................................... 50
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................. 52
8
1 INTRODUÇÃO
O presente trabalho tem como escopo trazer à baila a discussão sobre a coisa julgada
inconstitucional, tema de extrema relevância que outrora foi alvo de calorosos e profundos
debates e, até a presente data, se revela como tema polêmico e controvertido no meio jurídico,
não se chegando, nem mesmo as nossas Cortes raras, a um consenso, principalmente com o
advento do Código de Processo Civil (Lei n° 13.105/2015), diploma legal que, de forma
inaugural, prevê expressamente a revisão da coisa julgada inconstitucional após ultrapassado
o prazo convencional decadencial para propositura da ação rescisória, que é, de acordo com
art. 975 do Código de Processo Civil, de 02 (dois) anos, como será estudado adiante.
Com efeito, a maior parte da doutrina e da jurisprudência tomou o instituto da coisa
julgada como verdadeira autoridade (inclusive, assim denominada pelo art. 502, do Código de
Processo Civil), caracterizando-a como imutável e trazendo este entendimento como absoluto
dentro do ordenamento jurídico pátrio com o intuito de se evitar a eternização das demandas
levadas ao crivo do Judiciário, preservando-se a segurança jurídica.
O fato é que um operador do Direito, reconhecendo este como ciência social que é,
não se deve olvidar de que, muitas vezes, conceitos tomados como absolutos estão sempre em
constante mutação, uma vez que, por acompanhar a evolução da sociedade e do pensamento,
se vê constantemente diante de inúmeras situações que nem sempre o legislador é capaz de
prever. Dessa forma, deve analisar a norma de forma sistemática, social e principalmente
tendo como corolário a correta administração da justiça, uma vez que um direito revestido tão
somente pelo manto ‘frio’ da norma jamais alcançará seus jurisdicionados e somente servirá
para a falta de credibilidade pelo Judiciário e insegurança jurídica.
Nesta linha de raciocínio, se observa que a aceitação da permanência de decisões
eivadas de grave vício de constitucionalidade fere o Estado Democrático de Direito,
perpetuando verdadeiras injustiças na sociedade e fazendo com que os cidadãos a quem foram
entregues aquelas prestações jurisdicionais, adquirissem um direito maculado.
Assim é que, iniciaram-se os debates na doutrina acerca da possibilidade da
relativização da coisa julgada, criando-se hipóteses em que seria possível a sua relativização
quando verificada, em uma decisão, inconstitucionalidade, desproporcionalidade ou injustiça.
Não obstante a elevada relevância das demais hipóteses levantadas pelos doutrinadores para
relativização da res iudicata, o presente estudo cuidará apenas do vício de
inconstitucionalidade.
9
2 COISA JULGADA
Isso significa basicamente que a coisa julgada – entendida como “autoridade que
torna imutável e indiscutível a decisão de mérito não mais sujeita a recurso” art. 502
– constitui uma clara opção da Constituição brasileira a favor da estabilidade das
situações jurídicas em detrimento da possibilidade de infindáveis discussões e
rediscussões dos problemas em busca de uma decisão supostamente mais justa do
litígio1
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade
do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos
seguintes:
XXXVI - a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa
julgada;2
1
MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz; MITIDIERO, Daniel. Novo Curso de Processo
Civil. Vol. 2: Tutela dos Direitos Mediante Procedimento Comum. 1ª ed. – São Paulo: Editora Revista
dos Tribunais Ltda, 2015, p. 620
2
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm> Acessado em: 12 de
junho de 2017.
11
A coisa julgada pode ser classificada em dois atributos: formal, que possui efeitos tão
somente dentro do processo em que foi produzida, e material, que possui efeitos para fora do
processo em que foi produzida. Assim bem ensina o ilustre doutrinador Didier Jr. (2015, p.
517), para quem, “a coisa julgada é uma concretização do princípio da segurança jurídica. A
coisa julgada estabiliza a discussão sobre uma determinada situação jurídica, consolidando
um ‘direito adquirido’ reconhecido judicialmente”.
Apesar de a maior parte da doutrina tratar da coisa julgada apenas pelo seu aspecto
material, e às vezes tratar a coisa julgada formal e a coisa julgada material como espécies do
mesmo gênero, necessário fazer sua distinção.
3
BRASIL. Código de Processo Civil. Lei 13.105/2015. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm> Acessado em: 12 de junho
de 2017.
12
Dessa forma, percebe-se que a coisa julgada formal guarda semelhança com a
preclusão, se manifestando de forma endoprocessual, não abrangendo o mérito. Como
ensinado por Gonçalves (2017, p. 693): “Mas o aspecto formal da coisa julgada não esclarece
sobre a possibilidade de repropositura de idêntica ação, porquanto se restringe ao processo em
que a sentença ou acórdão foi proferido.”6.
Cumpre ressaltar, por último, que a coisa julgada formal é uma construção
meramente doutrinária, entendendo parte da doutrina, como Marinoni (2015, p. 621), citando
Giuseppe Chiovenda e Ega Dirceu Moniz de Aragão, que a coisa julgada formal é verdadeira
4
GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Direito processual civil esquematizado. 8. ed. – São Palo: Saraiva,
2017, p. 692-693.
5
DONIZETTI, Elpídio. Curso didático de direito processual civil. 20. ed. rev. atual. e ampl. – São Paulo:
Atlas, 2017, p. 728.
6
GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Direito processual civil esquematizado. 8. ed. – São Paulo: Saraiva,
2017, p. 692-693.
13
preclusão, sendo, para ele, os termos ‘formal’ e ‘material’ aplicados incorretamente, devendo-
se usar, tão somente, ‘coisa julgada’ e ‘preclusão’, senão vejamos:
“Se coisa julgada advém da expressão res iudicata, que de seu turno indica que a
coisa – o mérito – foi julgado, então de um lado a expressão coisa julgada material é
tautológica (porque apenas procura repetir com o adjetivo material algo que a
locução já expressa), e, de outro, a expressão coisa julgada formal é contraditória
(porque refere que a coisa – o mérito – na verdade não foi julgado”.7
Apesar da severa crítica feita pelo festejado doutrinador, a doutrina majoritária ainda
adota os termos ‘coisa julgada formal’ e ‘coisa julgada material’, devendo-se, portanto,
utilizá-los para fins didáticos.
Entretanto, nem toda decisão está apta a produzir a coisa julgada material. O art. 502
estabelece como pressupostos para que a decisão se revista da coisa julgada [material]: a)
decisão de mérito e b) não mais sujeita a recurso.
7
MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz; MITIDIERO, Daniel. Novo Curso de Processo
Civil. Vol. 2: Tutela dos Direitos Mediante Procedimento Comum. 1ª ed. – São Paulo: Editora Revista
dos Tribunais Ltda, 2015, p. 621
8
WAMBIER, Luiz Rodrigues; TALAMINI, Eduardo. Curso Avançado de Processo Civil: Processo comum
de conhecimento e tutela provisória. Vol. 2. 16. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016, p. 414.
14
Uma vez formada a coisa julgada, a indiscutibilidade da decisão pode alcançar duas
dimensões: positiva e negativa.
O efeito negativo da coisa julgada é uma vedação para que a mesma questão, já
analisada em seu mérito e já transitado em julgado, seja decidida novamente. Esse efeito gera
9
______v. g., o art. 356, do CPC, trata do julgamento antecipado parcial do mérito, onde o juiz poderá
resolver parcialmente o mérito e, coberto pela preclusão máxima (ou coisa julgada formal), produzirá,
também, coisa julgada material.
10
DIDIER JR., Fredie. Curso de direito processual civil: teoria da prova, direito probatório, ações
probatórias, decisão, precedente, coisa julgada e antecipação dos efeitos da tutela. 10 ed. Salvador: Ed.
Jus Podivm, 2015. v.2, p. 516
15
uma defesa para o demandado (art. 337, VII, do CPC), impedindo que seja gerada uma nova
prestação jurisdicional de igual conteúdo.
Já o efeito positivo da coisa julgada é relacionado à utilização de uma decisão que
tenha produzido coisa julgada como fundamento de uma nova causa de pedir, em que a
primeira é pressuposto lógico para que seja possível a postulação da segunda em juízo, ou até
mesmo, quando a primeira faça modificação substancial no julgamento da segunda,
vinculando o julgador, que não poderá decidir de forma distinta. O exemplo clássico é o
pedido de alimentos de menor, fundado em decisão de mérito transitada em julgado em ação
de investigação de paternidade onde foi constada a filiação. O julgador não poderá negar os
alimentos, ao menos não sob o fundamento da ausência do vínculo familiar.
Discorrendo sobre o assunto, Marinoni (2015, p. 635):
O art. 503 do Código de Processo Civil traça os limites objetivos da coisa julgada
material, ou seja, determina o que se torna imutável e indiscutível com a coisa julgada. Aduz:
“A decisão que julgar total ou parcialmente o mérito tem força de lei nos limites da questão
principal expressamente decidida”.
Quando a Lei Instrumental afirma que a decisão terá ‘força de lei’, o que se pretende
é ressaltar a “impositividade da norma jurídica concreta definida pelo órgão julgador, e que se
estabilizou pela coisa julgada” 12.
Ocorre que não é todo o conteúdo da decisão será alcançado pela coisa julgada. E
isso porque, afirma o art. 504, do Código de Processo Civil:
11
MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz; MITIDIERO, Daniel. Novo Curso de Processo
Civil. Vol. 2: Tutela dos Direitos Mediante Procedimento Comum. 1ª ed. – São Paulo: Editora Revista
dos Tribunais Ltda, 2015, p. 635
12
DIDIER JR., Fredie. Curso de direito processual civil: teoria da prova, direito probatório, ações
probatórias, decisão, precedente, coisa julgada e antecipação dos efeitos da tutela. 10 ed. Salvador: Ed.
Jus Podivm, 2015. v.2, p. 522.
16
Sendo uma decisão de mérito composta por três partes: relatório, fundamentação e
dispositivo, a interpretação a que se chega do referido artigo é que nenhuma parte da
fundamentação produz coisa julgada e, apesar de não estar expresso, muito menos o relatório,
uma vez que nessa parte da decisão nada será efetivamente, somente sendo agasalhado pela
coisa julgada a sua parte dispositiva.
Assim é, inclusive, o afirmado no próprio art. 503, quando se utiliza da expressão
‘questão principal expressamente decidida’, que dá ênfase ao fato de que a coisa julgada só
alcançará a parte dispositiva da decisão. Assim nos ensina Câmara (2016, p. 270):
“A leitura do caput do art. 503 e do art. 504 (que afirma que não fazem coisa julgada
“os motivos, ainda que importantes para determinar o alcance da parte dispositiva da
sentença” e “a verdade dos fatos, estabelecida como fundamento da sentença”),
permite asseverar que apenas o dispositivo da sentença é alcançado pela coisa
julgada.
[...]
A coisa julgada, portanto, fica objetivamente limitada ao dispositivo da sentença.”13
Entretanto, apesar de a fundamentação não ser alcançada pela coisa julgada, deve-se
fazer um parêntese quanto às questões prejudiciais de mérito, que apesar de não constituírem
propriamente o mérito da demanda, são extremamente relevantes para solução do mérito, uma
vez que constituem a “existência, inexistência ou modo de ser de uma relação ou situação
jurídica”14, isto é, uma questão controvertida que guarde pressuposto lógico para com a
decisão final.
Sobre tais questões, o Código de Processo Civil permite que sejam alcançadas pela
coisa julgada, desde que preenchidos determinados requisitos. Aduz o art. 503, §1°, do CPC:
“Art. 503. A decisão que julgar total ou parcialmente o mérito tem força de lei nos
limites da questão principal expressamente decidida.
§ 1º O disposto no caput aplica-se à resolução de questão prejudicial, decidida
expressa e incidentemente no processo, se:
I - dessa resolução depender o julgamento do mérito;
II - a seu respeito tiver havido contraditório prévio e efetivo, não se aplicando no
caso de revelia;
13
CÂMARA, Alexandre Freitas. O novo processo civil brasileiro. 3 ed. São Paulo: Atlas, 2017. p. 270.
14
WAMBIER, Luiz Rodrigues; TALAMINI, Eduardo. Curso Avançado de Processo Civil: Processo comum
de conhecimento e tutela provisória. Vol. 2. 16. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016, p. 416.
17
III - o juízo tiver competência em razão da matéria e da pessoa para resolvê-la como
questão principal.”
Já o art. 506, do Código de Processo Civil, cuida de seus limites objetivos, ou seja,
determina a quem alcançará a coisa julgada, quando aduz: “A sentença faz coisa julgada às
partes entre as quais é dada, não prejudicando terceiros”.
Da leitura do referido artigo, é possível constatar a escolha clara do legislador pelo
efeito, como regra, inter partes da decisão, ou seja, só vincula as partes que figuraram no
processo em que foi produzida.
15
GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Direito processual civil esquematizado. 8. ed. – São Paulo:
Saraiva, 2017, p. 699.
18
“O terceiro pode ser alcançado pelos efeitos naturais da sentença, mas não pela
imutabilidade e indiscutibilidade que emanam da coisa julgada, visto que a
autoridade da coisa julgada atua apenas para as partes da relação processual. Então,
mesmo em se aplicando à teoria da unidade da relação jurídica, caso alteradas as
partes da primitiva demanda, não há que se falar em coisa julgada”. 18
A cláusula “rebus sic stantibus” pode ser entendida como ‘enquanto as coisas estão
assim’. Aplicada à coisa julgada, trata da possibilidade de que a indiscutibilidade e
imutabilidade da decisão permaneça enquanto a situação jurídica que a ensejou permaneça a
mesma.
16
Dispositivo anterior: “Art. 472. A sentença faz coisa julgada às partes entre as quais é dada, não
beneficiando, nem prejudicando terceiros”. (Lei 5.869/73. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L5869impressao.htm> Acessado em 15 de junho de 2017.
17
GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Direito processual civil esquematizado. 8. ed. – São Paulo:
Saraiva, 2017, p. 702.
18
DONIZETTI, Elpídio. Curso didático de direito processual civil. 20. ed. rev. atual. e ampl. – São Paulo:
Atlas, 2017, p. 737.
19
DIDIER JR., Fredie. Curso de direito processual civil: teoria da prova, direito probatório, ações
probatórias, decisão, precedente, coisa julgada e antecipação dos efeitos da tutela. 10 ed. Salvador: Ed.
Jus Podivm, 2015. v.2, p. 544.
19
Nesta toada, o art. 505, I, do CPC, também autoriza que uma relação jurídica de trato
continuado seja reexaminada em caso de modificação superveniente de fato ou de direito
mediante ação revisional e, em alguns casos, até mesmo automaticamente. Aduz o art. 505, I,
do CPC:
Alguns autores entendem que, na verdade, tais decisões não produzem coisa julgada
propriamente dita, uma vez que não se tornam imutáveis e indiscutíveis pela coisa julgada,
sendo, entretanto, uma visão minoritária.
Por último, a coisa julgada “secundum eventum litis” é aquela que dependerá do
resultado do processo, havendo casos em que “o legislador a excluirá de acordo com o
fundamento utilizado pelo juízo, ainda que ele tenha examinado a pretensão posta em juízo”21.
Para Didier (2015, p. 520), tal regime de formação da coisa julgada não se mostra
muito adequado, senão vejamos:
20
GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Direito processual civil esquematizado. 8. ed. – São Paulo:
Saraiva, 2017, p. 695.
21
GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Direito processual civil esquematizado. 8. ed. – São Paulo:
Saraiva, 2017, p. 696.
20
“[...] Este regime não é bem visto pela doutrina, pois trata as partes de forma
desigual, colocando uma delas em posição de flagrante desvantagem, já que a coisa
julgada dependerá do resultado do processo. É o caso da coisa julgada no processo
penal: a sentença condenatória sempre pode ser revista em favor do réu. Não parece
haver exemplo no processo civil.”22
Gonçalves (2017, p. 696), entende que são exemplos da coisa julgada “secundum
eventum litis” as decisões proferidas na ação civil pública e na ação popular em que não há,
segundo ele, coisa julgada material quando houver improcedência por insuficiência de provas.
Já Didier (2015, p. 520) as classifica como coisa julgada “secundum eventum probationis”,
permanecendo, até a data de encerramento do presente trabalho, a discussão doutrinária
acerca do tema.
22
DIDIER JR., Fredie. Curso de direito processual civil: teoria da prova, direito probatório, ações
probatórias, decisão, precedente, coisa julgada e antecipação dos efeitos da tutela. 10 ed. Salvador: Ed.
Jus Podivm, 2015. v.2, p. 520.
21
23
DONIZETTI, Elpídio. Curso didático de direito processual civil. 20. ed. rev. atual. e ampl. – São Paulo:
Atlas, 2017, p. 1512.
22
Entretanto, nem toda decisão pode ser revista através da rescisória, até porque,
diferente fosse, o instituto da coisa julgada se tornaria vazio e sem sentido, pois possível seria
a propositura de rescisória por simples insatisfação da parte vencida. Assim, o Código de
Processo Civil trouxe, em seu art. 966, o rol taxativo de hipóteses em que será possível a
rescisão, que serão estudadas adiante. O art. 966, in verbis:
“Art. 966. A decisão de mérito, transitada em julgado, pode ser rescindida quando:
I - se verificar que foi proferida por força de prevaricação, concussão ou corrupção
do juiz;
II - for proferida por juiz impedido ou por juízo absolutamente incompetente;
III - resultar de dolo ou coação da parte vencedora em detrimento da parte vencida
ou, ainda, de simulação ou colusão entre as partes, a fim de fraudar a lei;
IV - ofender a coisa julgada;
V - violar manifestamente norma jurídica;
VI - for fundada em prova cuja falsidade tenha sido apurada em processo criminal
ou venha a ser demonstrada na própria ação rescisória;
VII - obtiver o autor, posteriormente ao trânsito em julgado, prova nova cuja
existência ignorava ou de que não pôde fazer uso, capaz, por si só, de lhe assegurar
pronunciamento favorável;
VIII - for fundada em erro de fato verificável do exame dos autos.”
Como já dito, o que se infere do “caput” do art. 966, do CPC, o primeiro pressuposto
genérico para aforamento da rescisória é que seja em face de decisão definitiva, de mérito e
transitada em julgado.
Requer-se que seja a decisão definitiva de mérito, visto que uma decisão terminativa,
como regra, não tem o condão de produzir coisa julgada material, mas tão somente coisa
julgada formal, uma vez que proferida decisão terminativa, esgotados os recursos previstos, é
possível ao indivíduo que proponha nova demanda, restando claro que a rescisória só deve ser
utilizada caso não seja possível mais a rediscussão do mérito nas vias comuns.
De se ressaltar que em determinados casosa decisão terminativa impedirá ao
indivíduo a propositura de nova demanda, ou impediráadmissibilidade de seu recurso, casos
em que será possível o aforamento da rescisória, nos termos do art. 966, §2°, I e II, do CPC,
que serão estudados adiante.
24
DIDIER JR., Fredie. CUNHA, Leonardo Carneiro da. Curso de direito processual civil: meios de
impugnação as decisões judiciais e processos nos tribunais. 13 ed. reform. Salvador: Ed. Jus Podivm,
2016. v.3, p. 421.
23
O prazo do referido artigo é decadencial, razão pela qual não está sujeito a
interrupção ou suspensão, somente se prorrogando para o primeiro dia útil subsequente, caso
o seu prazo se expire em oportunidade em que não haja expediente forense, nos termos do
§1°, do art. 975, do CPC.
Há divergência doutrinária quanto ao termo inicial do prazo para ajuizamento da
rescisória, quando da ocorrência do julgamento antecipado parcial do mérito, previsto no art.
356, do CPC.
A despeito do termo “a quo”genérico para contagem do prazo de 02 (dois) anos da
rescisória, o Código trouxe algumas exceções à regra do “caput” do art. 975.
A primeira delas, prevista no §2°, do art. 975, do CPC,diz respeito a rescisória
fundada no art. 966, VI, em caso de prova nova, oportunidade em que o termo inicial será o
da descoberta da prova, desde que observado o prazo máximo de 05 (cinco) anos do trânsito
em julgado da última decisão proferida no processo original.
A segunda delas, prevista no §3°, do art. 975, do CPC, poderá ser utilizada para
rescisória fundada na segunda parte do art. 966, III, oportunidade em que o termo inicial se
iniciará da ciência, por terceiro interessado ou pelo Ministério Público, de simulação ou
colusão entre as partes da ação originária.
A última exceção, embora não prevista no capítulo pertinente à rescisória, se
encontra no art. 525, §15, do CPC, que abre a possibilidade para rescisória de sentença que se
fundar em lei ou ato normativo declarado inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal, em
controle difuso ou concentrado, oportunidade em que o termo inicial para sua propositura será
contado a partir da decisão proferida pelo STF.
24
Por derradeiro, nas lições de Donizetti (2017, p. 1536): “Importa ressalvar que a
aplicação dessas exceções somente deve ocorrer em relação à coisa julgada formada após a
entrada em vigor do novo CPC, ou seja, a partir de 18 de março de 2016.”25
O art. 967, do CPC, trata dos legitimados ativos para propor a ação rescisória, senão
vejamos:
O inciso I, por óbvio, dá a legitimidade para rescisória a quem foi parte no processo,
ou seja, autor, réu ou interveniente (por razões lógicas, a parte vencida). Também abre aos
sucessores a legitimidade, aqui englobando a sucessão causa mortis ou inter vivos.
O inciso II confere legitimidade ao terceiro juridicamente interessado para
propositura da rescisória. Para Gonçalves (2017, p. 713): “O terceiro que tem interesse
jurídico é aquele que poderia ter ingressado no processo, na qualidade de assistente”26. Já para
Donizetti (2017, p. 1530): “Terceiro juridicamente interessado, portanto, é quem tinha
legitimidade para intervir como assistente ou para recorrer como terceiro interessado”27.
O inciso III também dá ao Ministério Público legitimidade para propor a rescisória
nas hipóteses previstas nas suas alíneas a, b e c. As referidas alíneas se referem às situações
em que o Ministério Público não atuou como parte, ou mesmo em processos em que tenha
atuado na condição de “custus legis”. Ocorre que, nos dizeres da alínea c, esse rol é
25
DONIZETTI, Elpídio. Curso didático de direito processual civil. 20. ed. rev. atual. e ampl. – São Paulo:
Atlas, 2017, p. 1536.
26
GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Direito processual civil esquematizado. 8. ed. – São Palo: Saraiva,
2017, p. 713.
27
DONIZETTI, ibid, p. 1530.
25
Como já dito anteriormente, o art. 966, do Código de Processo Civil trouxe um rol
taxativo de hipóteses em que será possível o aforamento da rescisória. Assim, preenchidos os
pressupostos genéricos, que são o prazo decadencial de 02 (dois) anos e decisão de mérito
irrecorrível (ou decisão, ainda que não seja de mérito, que impeça a propositura de nova
demanda), de acordo com a fundamentação utilizada para a propositura da ação, necessário
será, também, o preenchimento de pressupostos específicos.
“Concussão
Art. 316 - Exigir, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da
função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida:
Corrupção passiva
Art. 317 - Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda
que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou
aceitar promessa de tal vantagem:
Prevaricação
26
“A prática do crime pode ter sido apurada em processo penal (em que o magistrado
tenha sido condenado) ou incidentemente no próprio processo da ação rescisória.
Importante terclaro, porém, que a condenação do magistrado em sede penal pela
prática de algum desses crimes vincula o tribunal que julgará a ação rescisória, o
qual não poderá negar a existência doilícito penal.” 29
28
BRASIL. Código Penal. Decreto-Lei 2.848/40. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del2848compilado.htm> Acessado em 18 de junho
de 2017.
29
CÂMARA, Alexandre Freitas. O novo processo civil brasileiro. 3 ed. São Paulo: Atlas, 2017. p. 400
30
THEODORO JÚNIOR. Humberto. Curso de Direito Processual Civil - vol. III. 47. ed. rev., atual. e ampl.
Rio de Janeiro: Forense, 2015. p. 857
27
O inciso III, do art. 966, é expressão dos princípios da boa-fé e da cooperação entre
as partes, presentes nos arts. 5° e 6°, do CPC. Como nos ensina Marinoni, Arenhart e
Mitidiero (2015, p. 589): “O desvirtuamento da função do processo é tão relevante para a
jurisdição que pode até mesmo ser invocado depois de concluído o julgamento o feito por
meio da ação rescisória.”31
A primeira das quatro causas de rescindibilidade previstas no referido inciso é o dolo
unilateral, previsto nos arts. 145 a 150 do Código Civil (Lei n° 10.402/2006), em que a parte
vencedora impende esforços para ludibriar o Judiciário ou a parte contrária no intuito de
influenciar no resultado da prestação jurisdicional. A segunda é a coação, prevista nos arts.
151 a 155, também do Código Civil, em que uma das partes exerce pressão psicológica ou
constrangimento ilegal a outra para que esta pratique ato que lhe prejudique
significativamente nos autos a ponto de influenciar o julgamento a seu desfavor.
A terceira hipótese é a simulação, prevista no art. 167, §1°, do Código Civil,
oportunidade em que as partes utilizam intencionalmente o processo para praticar ato
contrário a ordem jurídica. A simulação pode ser unilateral, quando é praticada por apenas
uma das partes, ou bilateral, quando ambas as partes simulam situação inexistente. A quarta é
a colusão que, diferentemente do dolo ou coação, é ato bilateral, e tem o mesmo objetivo da
simulação, que é fraude processual. Entretanto, se difere da simulação por algumas
características próprias, como leciona Theodoro Jr. (2017, p. 859):
31
MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz; MITIDIERO, Daniel. Novo Curso de Processo
Civil. Vol. 2: Tutela dos Direitos Mediante Procedimento Comum. 1ª ed. – São Paulo: Editora Revista
dos Tribunais Ltda, 2015, p. 635.
32
THEODORO JÚNIOR. Humberto. Curso de Direito Processual Civil - vol. III. 47. ed. rev., atual. e ampl.
Rio de Janeiro: Forense, 2015. p. 859.
28
A atribuição do termo “norma jurídica” pelo inciso V, do art. 966, Código atual é um
relevante avanço em relação ao Código anterior (Lei 5869/73), simplesmente abarcava
disposição de lei. Assim, a rescisão será possível não somente em face de decisão que viole a
lei, mas também em face de decisão que viole princípios e precedentes judiciais, podendo as
súmulas vinculantes serem utilizadas como fundamento para rescisão.
Nas palavras de Gonçalves (2017, p. 718): “Não se admite a rescisão por injustiça da
sentença ou por inadequado exame das provas. É indispensável que haja afronta direta e
induvidosa à norma jurídica (ou a princípio geral do direito), de natureza constitucional ou
infraconstitucional”.
Quanto aos precedentes judiciais, nem toda decisão, ainda que vinculante, constituirá
um precedente. De acordo com os §§ 5° e 6°, do art. 966:
“§5º Cabe ação rescisória, com fundamento no inciso V do caput deste artigo, contra
decisão baseada em enunciado de súmula ou acórdão proferido em julgamento de
33
MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz; MITIDIERO, Daniel. Novo Curso de Processo
Civil. Vol. 2: Tutela dos Direitos Mediante Procedimento Comum. 1ª ed. – São Paulo: Editora Revista
dos Tribunais Ltda, 2015, p. 590.
34
GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Direito processual civil esquematizado. 8. ed. – São Palo: Saraiva,
2017, p. 718.
29
casos repetitivos que não tenha considerado a existência de distinção entre a questão
discutida no processo e o padrão decisório que lhe deu fundamento.
§6º Quando a ação rescisória fundar-se na hipótese do § 5º deste artigo, caberá ao
autor, sob pena de inépcia, demonstrar, fundamentadamente, tratar-se de situação
particularizada por hipótese fática distinta ou de questão jurídica não examinada, a
impor outra solução jurídica.”
“Se, por exemplo, no processo de conhecimento a parte invoca uma súmula do STJ
como norma jurídica, a sua aplicação ao caso concreto depende da realização do
distinguishing, ou seja, da demonstração de semelhança ou de distinção entre os
fundamentos determinantes do precedente e os do caso sob julgamento. Somente se
houver semelhança pode-se aplicar a ratio decidendi do precedente. A não aplicação
do precedente ao caso concreto exige que o julgador demonstre a inexistência de
semelhança entre a decisão paradigma e o caso proposto ou fundamente a eventual
superação do precedente (overrulling)”.35
Por último, sobre esse requisito, de se trazer à baila a súmula n° 343 do Supremo
Tribunal Federal, existente desde o Código anterior, que reforça o conteúdo do inciso V sobre
a necessidade de que a violação a norma jurídica seja manifesta: “Não cabe ação rescisória
por ofensa a literal disposição de lei, quando a decisão rescindenda se tiver baseado em texto
legal de interpretação controvertida nos tribunais.”.
De acordo com o inciso VI, do art. 966, a prova falsa também poderá ensejar a ação
rescisória. Entretanto, não basta que a prova seja falsa, devendo também ser extremamente
relevante e decisiva para o resultado do julgamento, de forma que, caso esta não existisse, o
julgamento seria totalmente contrário ao existente.
O próprio inciso afirma que a falsidade da prova poderá ser apurada através de
processo criminal ou através da própria rescisória. Ocorre que, devido ao prazo decadencial
de dois anos da rescisória, difícil será utilizar-se de uma sentença penal transitada em julgado,
devido aos entraves burocráticos próprios de uma persecução penal, para comprovação da
falsidade da prova, pois, como bem coloca Gonçalves (2017, p. 719): [...] no primeiro,
35
DONIZETTI, Elpídio. Curso didático de direito processual civil. 20. ed. rev. atual. e ampl. – São Paulo:
Atlas, 2017, p. 1524
30
asentença que reconhecer a falsidade deverá estar transitada em julgada, o que torna a
hipótese rara, diante do prazo de dois anos.”36
O inciso VII, do art. 966, busca mais uma vez preservar o julgamento para que esteja
cada vez mais em harmonia com a realidade dos fatos. A prova nova pode ser considerada
como a prova que a parte desconhecia ou não pode utilizá-la no curso da causa principal por
circunstâncias alheias a sua vontade, que tenha o condão, por si só, de mudar o conhecimento
dos fatos nos autos e, assim, modificar completamente o julgamento a seu favor.
Nas lições de Theodoro Junior (2017, p. 867): “O que importa é a força de
convencimento do novo elemento probatório, diante da qual seria injusta a manutenção do
resultado a que chegou a sentença.”37
De se ressaltar que o referido inciso aduz expressamente que a prova nova deverá ser
obtida ‘posteriormente a coisa julgada’, o que significa dizer que caso a prova seja obtida
após a sentença, porém em tempo em que seria possível a interposição de recursos, não
poderá ser utilizada com fins rescisórios, excetuando-se quando a descoberta se dá no
momento em que os únicos recursos cabíveis devem possuir fundamento única e
exclusivamente de direito, oportunidade em que não poderá a parte discuti-la e sobre ela
estabelecer contraditório.
O inciso VIII, do art. 966, traz o erro de fato como a última das hipóteses de rescisão
da decisão e é o próprio art. 966, em seu §1°, que trata por definir a referida figura jurídica:
Art. 966. A decisão de mérito, transitada em julgado, pode ser rescindida quando:
[...]
§ 1o Há erro de fato quando a decisão rescindenda admitir fato inexistente ou
quando considerar inexistente fato efetivamente ocorrido, sendo indispensável, em
ambos os casos, que o fato não represente ponto controvertido sobre o qual o juiz
deveria ter se pronunciado.
36
GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Direito processual civil esquematizado. 8. ed. – São Palo: Saraiva,
2017, p. 719.
37
THEODORO JUNIOR. Humberto.Curso de Direito Processual Civil - vol. III. 47. ed. rev., atual. e ampl.
Rio de Janeiro: Forense, 2015. p. 867.
31
Neste contexto, de se ressaltar, mais uma vez, que não serve a rescisória para simples
reexame dos fatos. O que se pretende aqui é que sejam impedidos de permanecer no mundo
jurídico julgamentos baseados em fatos ‘inventados’, ou mesmo julgamentos completamente
longe da realidade trazida aos autos.
Pensando nisso, para evitar enxurrada de ações por simples inconformismo da parte
vencida é que a doutrina extraiu do conteúdo do inciso e do §1° requisitos para propositura da
rescisória baseada em erro de fato. São eles: a) que a apuração do erro seja possível sem a
necessidade de produção de novas provas; b) que o fato não tenha sido controvertido entre as
partes; e c) que o magistrado não tenha se pronunciado sobre o fato em nenhuma outra
oportunidade nos autos.
3.1.4 Competência
“A ação rescisória de sentença deve ser proposta perante o Tribunal que teria
competência para julgar recursos contra ela; se de acórdão, a competência será do
mesmo Tribunal que o proferiu, mas o julgamento será feito por um órgão mais
amplo”.38
3.1.5 Procedimento
38
GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Direito processual civil esquematizado. 8. ed. – São Palo: Saraiva,
2017, p. 721.
32
De acordo com o art. 968, do CPC, a petição inicial da rescisória deverá atender os
requisitos do art. 319, do CPC, na qual o Autor deverá argüir ao menos uma das causas de
rescisão previstas no art. 966. Deve apresentar pedido de rescisão e, quando for o caso,
cumular o pedido de novo julgamento (art. 968, I) , o que na maioria dos casos se faz
necessário.
Por último, deve apresentar caução de 5% (cinco por cento) sobre o valor da causa,
valor este que será convertido em multa, caso a ação seja inadmitida ou improcedente (art.
968, II). Nos termos do art. 968, §1°, tal dispositivo não se aplica “à União, aos Estados, ao
Distrito Federal, aos Municípios, às suas respectivas autarquias e fundações de direito
público, ao Ministério Público, à Defensoria Pública e aos que tenham obtido o benefício de
gratuidade da justiça”. Entretanto, de acordo com Donizetti (2017, p. 1539), sobre os
beneficiários da assistência judiciária gratuita:
Apesar de não ser exatamente tema de direito processual civil, e sim de direito
material, necessário se traçar breves linhas sobre sua utilidade, pois, apesar de não ser
instrumento desconstitutivo de coisa julgada material, é instrumento desconstitutivo da coisa
julgada formal, ou seja, decisão judicial transitada em julgado. Averbe-se que, a despeito de
não ser procedimento próprio de competência dos Tribunais, o legislador trouxe essa previsão
no artigo 966, §4°, em capítulo referente à rescisória. Aduz o referido dispositivo:
39
DONIZETTI, Elpídio. Curso didático de direito processual civil. 20. ed. rev. atual. e ampl. – São Paulo:
Atlas, 2017, p. 1539
33
O que se pretende, com a anulatória, são os atos homologatórios de direito. Mas não
o ato homologatório em si, mas sim o ato jurídico perfeito que a homologação dá ao ato
processual praticado. Tais atos homologatórios não podem ser revistos ou impugnados através
de rescisória, uma vez que não são cobertos pela coisa julgada material, mas tão somente pela
coisa julgada formal. Com fins didáticos, Marinoni (2015, p. 598), traz exemplos de atos que
estão sujeitos a anulação:
“[...] os atos processuais praticados pelas partes no processo (como, por exemplo, o
reconhecimento jurídico do pedido, a transação, a renúncia ao direito), assim como
aqueles atos homologatórios praticados no curso da execução (como, por exemplo, o
ato que homologa a arrematação) [...]”40
A doutrina moderna construiu mais uma forma de afastamento da coisa julgada, além
dos recursos e da rescisória, que é a ação denominada querela nullitatis insanabilis.
Normalmente a referida ação é confundida com a ação rescisória, entretanto guarda
especificidades próprias que a distinguem da rescisória, além de ter objeto mais restrito,
conforme se verá a seguir.
Denominada por Gonçalves (2017, p.704), de “ação declaratória de ineficácia”, tem
o objetivo de declarar nulidade absoluta da decisão eivada de vícios transrecisórios, que são
vícios tão graves que, a despeito do prazo de 02 (dois) anos da rescisória, não se convalidam
40
MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz; MITIDIERO, Daniel. Novo Curso de Processo
Civil. Vol. 2: Tutela dos Direitos Mediante Procedimento Comum. 1ª ed. – São Paulo: Editora Revista
dos Tribunais Ltda, 2015, p. 598
34
com o tempo, ou seja, subsistirão mesmo ultrapassado o prazo para propositura da ação
rescisória. Tais vícios são aqueles que estão relacionados à inexistência de relação jurídica
processual, que prejudicam a própria existência do processo.
Donizetti (2017, p. 1545) traz como consolidação da doutrina os seguintes
pressupostos processuais que implicam na inexistência de relação processual: investidura de
juiz, demanda e citação.41 Já Didier Jr., Braga (2016, p. 575), prevê apenas duas hipóteses
para o seu aforamento, que são: “[...] decisão proferida em desfavor do réu, em processo que
correu à sua revelia, quer porque não fora citado, quer porque o fora de maneira defeituosa
(art. 525, I, e art. 535, I, CPC)”.42
Em qualquer das hipóteses, por estar o processo viciado já em sua existência, a
querela nullitatis não possui qualquer prazo para aforamento.
41
DONIZETTI, Elpídio. Curso didático de direito processual civil. 20. ed. rev. atual. e ampl. – São Paulo:
Atlas, 2017, p. 1545
42
DIDIER JR., Fredie. CUNHA, Leonardo Carneiro da. Curso de direito processual civil: meios de
impugnação as decisões judiciais e processos nos tribunais. 13 ed. reform. Salvador: Ed. Jus Podivm,
2016. v.3, p. 575
35
tendo em vista que no país a regra é de presunção de constitucionalidade das leis, a norma
produzirá seus efeitos normalmente até que venha esta a ser declarada inconstitucional.
Ocorre queeste interregno entre a promulgação e produção dos efeitos da norma até a
sua declaração de inconstitucionalidade, pelo próprio lento caminhar inerente de ações de
tamanha complexidade de julgamento, muitas vezes pode levar anos, e a lei que se pretende
declarar inconstitucional poderá servir de fundamentação para julgamentos pelos Tribunais
pátrios e muitas vezes, devido ao tempo, tais decisões serão acobertadas pelo instituto da
coisa julgada material.
Entretanto, apesar de a declaração pelo Supremo Tribunal Federal de
inconstitucionalidade produzir efeitos erga omnes, a desconstituição das decisões que foram
julgadas com base na lei julgada inconstitucional não é automática, devendo, para tanto, ser
proposta ação rescisória. Todavia, em alguns casos, o prazo para propositura da referida ação
já terá se esgotado.
Questiona-se, a partir daí, se a coisa julgada inconstitucional, ultrapassado o prazo
para a propositura da rescisória, contrapõe-se ou não à ideia de segurança jurídica, e, mais, se
vai de encontro à supremacia da Constituição.
43
MENDES, Gilmar Ferreira. Curso de Direito Constitucional. 9. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2014,
p. 67.
37
44
KELSEN, Hans. Teoria Pura do Direito, Martins Fontes, São Paulo, 1987, p. 24
38
45
HABERMAS, J. Legitimationsprobleme im Spätkapitalismus. Frankfurt am Main: Suhrkamp, 1973.
39
46
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm> Acessado em: 12 de
junho de 2017.
40
Assim, nenhum Poder é absoluto, só podendo atuar nos limites autorizados pela
Constituição, e também conforme os princípios e regras nela estabelecidos. Nesta linha de
raciocínio, nenhuma expressão de Poder poderá violar as liberdades, os direitos e as garantias
individuais ou coletivas, devendo os atos do Poder Público estar sempre pautados nos ditames
constitucionais. Impor aos poderes estatais esse respeito ao texto constitucional configura uma
garantia que os direitos e liberdades ali previstos jamais poderão ser ofendidos.
Nas preciosas lições de BARROSO (2014 p. 165):
Dessa forma, todo o corpo do texto constitucional deve ser sempre norte para o
intérprete da norma jurídica, seja para o legislador, responsável pela elaboração das normas,
seja para o gestor ou para o julgador, que são responsáveis pela aplicação das normas.
Neste ínterim, qualquer ato ou decisão emanados por qualquer dos Poderes, com
vício de inconstitucionalidade, deverá ser retirado do ordenamento jurídico, eis que os
fundamentos de validade para todas as normas são encontrados na Constituição, uma vez que
todos os Poderes estão sujeitos ao controle de constitucionalidade. Ao violar-se a Carta
Magna estar-se-á atingindo todos os indivíduos que esperam dos Poderes uma atuação
genuína e legítima.
Infere-se, assim, que o princípio da Supremacia da Constituição é princípio norteador
do ordenamento jurídico pátrio, o ponto de referência para ser seguido na prática de qualquer
ato no exercício da função pública. Quando não observado esse princípio, forma-se um ato
inconstitucional.
47
SILVA. José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 25. ed. São Paulo: Malheiros. 2005, p.
46.
48
BARROSO. Luís Roberto. Interpretação e Aplicação da Constituição. 7. ed. rev. São Paulo: Saraiva,
2009, p. 165.
41
O controle dos atos do poder público não exclui, de modo algum, aqueles emanados
do Poder Judiciário, mesmo porque não se trata de poder acima da Constituição,
sendo a ela submisso, sem qualquer demérito para sua independência. Os valores
constitucionais hão de ser cultuados, porquanto eles são que permeiam a
convivência em sociedade. De maneira que todos os atos de qualquer natureza ou
procedência devem guardar conformidade com a Constituição, sob pena de
invalidade da sentença que com ela colidir devido a impossibilidade de sua
sobrevivência.50
49
OTERO, Paulo Manoel Cunha da Costa. Ensaio Sobre a Caso Julgado Inconstitucional. Lisboa: Lex,
1993.
50
NASCIMENTO. Carlos Valder. Coisa Julgada Inconstitucional. 5. ed. Rio de Janeiro: América Jurídica,
2005.
42
Toda construção do direito americano tem por base a noção de que o povo possui
originariamente o direito de estabelecer, para o seu futuro governo, os princípios,
que mais conducentes se lhe afigurem à sua utilidade. O exercício desse direito
original é um insigne esforço: não pode, nem deve repetir-se freqüentemente. Os
princípios, que destarte uma vez se estabeleceram, consideram-se, portanto,
fundamentais. E, como autoridade, de que eles dimanam, é suprema, e raro se
exerce, esses princípios têm destino permanente. A vontade primitiva e soberana
organiza o governo, assinando-lhe os diferentes ramos, as respectivas funções. A
isto pode cingir-se; ou pode estabelecer raias, que eles não devam transpor. Nesta
última espécie se classifica o governo dos Estados Unidos. Definiram-se e
demarcaram-se os poderes da legislatura; e, para que tais limites não ocorresse erro,
ou deslembrança, fez-se escrita a Constituição. Com que fim se estipulariam esses
poderes, e com que fim se reduziria essa estipulação a escrito, se os limites
prescritos pudessem ser ultrapassados exatamente por aqueles, que ela se propunha a
coibir? Acabou-se a distinção entre os governos de poderes limitados e os de
poderes indefinidos, se os cofins, que se estabelecem, não circunscreverem as
pessoas, a que se impõem, e ficarem igualmente obrigativos os atos permitidos e os
atos defesos. Ou havemos de admitir que a Constituição anula qualquer medida
legislativa, que a contrarie, ou anuir em que a legislatura possa alterar por medidas
ordinárias a Constituição. Não há contestar o dilema. Entre duas alternativas não se
descobre meio termo. Ou a Constituição é uma lei superior, soberana, irreformável
por meios comuns; ou se nivela com os atos de legislação usual, e, como estes, é
reformável ao sabor da legislatura. Se a primeira é verdadeira, então o ato
legislativo, contrário à Constituição, não será lei; se é verdadeira a segunda, então as
Constituições escritas são absurdos esforços do povo, por limitar um poder de sua
natureza ilimitável. Ora, com certeza, todos os que têm formulado Constituições
escritas, sempre o fizeram com o intuito de assentar a lei fundamental e suprema da
nação; e, conseguintemente, a teoria de tais governos deve ser que qualquer ato da
legislatura, ofensivo da Constituição, é nulo. Esta doutrina está essencialmente
ligada às Constituições escritas, e, portanto, deve-se observar como um dos
princípios fundamentais de nossa sociedade.52
Rui Barbosa (2004, p. 42) foi o introdutor dessa teoria no direito pátrio, sendo
visionário no sentido de que o modelo norte-americano deveria ser observado por todos os
países que possuíssem regime de separação de Poderes, como é o caso do Brasil.53 Esse
51
MENDES, Gilmar Ferreira. Jurisdição Constitucional: o controle abstrato de normas no Brasil e na
Alemanha. 4.ed. São Paulo: Saraiva, 2004, p. 288-289.
52
MARSHALL apud BARBOSA, Rui. Atos inconstitucionais. 2.ed. Campinas: Russel Editores, 2004, p. 40-
41
53
45 BARBOSA, Rui. Atos inconstitucionais. 2.ed. Campinas: Russel Editores, 2004, p. 42.
44
entendimento passou a ser adotado pela Corte Rara do país (STF), inclusive pode ser extraído
implicitamente da própria lei que trata das ações do controle de constitucionalidade do país,
Lei n° 9.868 de 10 de novembro de 1999, que aduz, em seu art. 27:
O referido artigo trata da modulação dos efeitos pelo Supremo Tribunal Federal, que
é o ato de decidir a Corte Suprema qual a partir de qual momento se operarão os efeitos da
inconstitucionalidade. Assim, verifica-se que, não havendo modulação, os efeitos se operarão
ex tunc.
Portanto, em virtude do Princípio da Supremacia da Constituição, qualquer ato do
poder público que venha a afrontar a Constituição será nulo, eis que é a partir dela que se
verifica a validade dos atos estatais. Neste raciocínio, a decisão judicial portadora de defeito
de inconstitucionalidade, por ser, também, norma jurídica, restará inválida assim como a lei
declarada inconstitucional.
Finalizando o raciocínio, Marcos Bernardes de Melo (2000, p.46 e 50) explica que:
A invalidade, por isso, tem o caráter de uma sanção que o ordenamento jurídico
adota para punir certa espécie de ato contrário ao direito (= ilicitude). [...] Em
qualquer da espécies há punição ao infrator da norma, só que a invalidade, se não o
alcança em sua pessoa, diretamente, ou em seus bens, o atinge, recusando-lhe possa
obter o objetivo colimado com a prática do ato jurídico invalidado. [...] Se constitui
um revide do ordenamento à violação de suas normas, é evidente que se trata de uma
sanção. [...] Os negócios jurídicos8 são inválidos sempre que infringem uma norma
jurídica cogente, quando a própria norma não prevê sanção de outra natureza para a
espécie. A nulidade por ilicitude [...] decorre de infração contra o próprio
ordenamento jurídico, que tem na ilicitude sua negação.54
Fato é que se afirmou nos capítulos anteriores que a razão de ser da coisa julgada é a
segurança jurídica, que é um dos pilares do Estado Democrático de Direito e, isso porque, a
própria ideia de Direito vem casada com a necessidade de segurança, de estabilidade das
54
MELLO, Marcos Bernardes de. Teoria do fato jurídico: plano da validade. 4. ed. São Paulo: Saraiva,
2000.
45
relações e de ordem social.Até porque não é crível que em um Estado em que se pretende
haver liberdade, dignidade, democracia e justiça, impere caos e incerteza.
Para THEODORO JR. (2006, p. 92-118), o princípio da segurança jurídica pode ser
visto de dois lados: a) a segurança de que os órgãos estatais aplicarão as normas vigentes; e b)
a segurança da estabilidade das relações jurídicas.
Assim, para o ilustre doutrinador, de um lado o legislador deve ter cuidado no
momento de elaboração das normas, uma vez que deve ser redigida para que o comando seja
claramente compreendido pelos cidadão. Aduz THEODORO JR.:
O primeiro cuidado a ser tomado pelo legislador, para garantir segurança jurídica
aos indivíduos, é o da publicidade adequada, em que se inclui o período de vacatio
legiscompatível com a necessidade de conhecer a lei nova a tempo de adaptar-se aos
seus preceitos inovadores. Mas, acima da publicidade, há também, na consciência
jurídica italiana, a convicção de que é fundamental o problema ligado a exigência
de que os atos normativos sejam redigidos de modo a serem ‘compreensíveis pelos
destinatários’55
De outro lado tem-se a estabilização das relações através da coisa julgada, do ato
jurídico perfeito e do direito adquirido, previstos no art. 5°, XXXVI, da CRFB/88. Assim,
resguarda-se ao cidadão a garantia de que nenhum poder estatal interfira nas relações já
estabilizadas.
Entretanto, esse princípio não pode ser visto como absoluto, haja vista que, maculada
uma prestação jurisdicional por inconstitucionalidade, não revestirá pelo caráter da
imutabilidade, pois, em razão do princípio da Supremacia da Constituição e com base na
teoria da nulidade, será nula, pois ofende o texto constitucional.
Não é crível consentir-se que os efeitos de um ato emanado pelo Poder Judiciário,
Poder este constituído, estariam na mesma posição hierárquica da própria Constituição, que é
o documento que institui o Estado de Direito, consequente do Poder Constituinte originário.
Não se afigura razoável desejar que um aspecto, entre tantos, do Estado Democrático esteja
em posição de afrontar a expressão máxima do ente estatal, que é a carta constitucional.
Assim, vislumbra-se que o princípio da segurança jurídica não é um absoluto em
nosso ordenamento. Assim se pronuncia Cândido Rangel Dinamarco (2002, p. 8 e 22):
[...] o valor da segurança das relações jurídicas não é absoluto no sistema, nem o é,
portanto, a garantia da coisa julgada, porque ambos devem conviver com outro valor
55
THEODORO JÚNIOR, Humberto. Onda Reformista do Direito Positivo e suas Implicações com o
Princípio da Segurança Jurídica. In.: Revista da Escola Nacional de Magistratura, n. 1, p. 92-118, abr.
2006.
46
56
______.DINAMARCO, Candido Rangel. Relativizar a Coisa Julgada Material. Revista Síntese de Direito
Civil e Processual Civil. n. 19, p. 06-31, Set/Out. 2002.
47
57
ADI 652MA. Relator: Min. Celso de Mello. Julgamento em 02/04/1992, publicado no DJ de 02/04/1993
p. 5615. Disponível em:
<http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=266472> Acessado em 22 de
junho de 2017
58
WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. Nulidades do Processo e da Sentença. São Paulo: RT, 2007, p. 406.
59
DIAS, Francisco Barros. Breve Análise sobre a coisa julgada inconstitucional. São Paulo: RT, Ano 87, V.
758. Dezembro de 1998, p. 34-42.
60
MIRANDA, Pontes, Tratado das Ações, Tomo I, Atualizado por Vilson Rodrigues Alves, 1ªedição.
Campinas: Bookseller, 1998, p. 201.
48
O último dos defensores da referida tese é Cândido Rangel Dinamarco (2004, p. 585)
também possui a posição de que as decisões inconstitucionais são inexistentes.61
Entre os contrários a tese de inexistência da decisão inconstitucional, está Érica
Barbosa e Silva (2007, p. 83-105), que defende que o sistema processual civil brasileiro não
apresenta nulidade processual de pleno direito, de modo que a sentença inexistente não
encontra refúgio no ordenamento jurídico brasileiro, conforme suas palavras:
O que absolutamente não pode prevalecer é a ideia de que possa qualquer juiz ou
tribunal desrespeitar a coisa julgada decorrente de decisão proferida por outro órgão
judiciário, de igual ou superior hierarquia, a pretexto de sua nulidade ou erronia.63
61
DINAMARCO, Cândido Rangel. Instituições de Direito Processual Civil. Vol. 2. São Paulo: Malheiros,
2004, p. 585.
62
SILVA, Érica Barbosa e. O vício existente na “coisa julgada inconstitucional” in Revista de Processo.
Ano 32. nº 145. março/2007, p. 83-105.
63
TESHEINER, José Maria Rosa. Relativização da Coisa Julgada in Revista Nacional de Direito e
Jurisprudência. nº 23. Ano 2. Novembro/2001, p. 11-17.
64
CÂMARA, Alexandre Freitas, Relativização da Coisa Julgada Material in Relativização da Coisa
Julgada, Fredie Didier Jr. (Coordenador), Salvador: Podivm, 2008, p. 17
49
65
OTERO, Paulo Manoel Cunha da Costa. Ensaio Sobre a Caso Julgado Inconstitucional. Lisboa: Lex,
1993, p. 64-65.
50
5 CONCLUSÃO
julgada, pois acredita-se que o próprio Estado que faz com que um Direito integre o
patrimônio de um indivíduo venha, depois de já estar este último seguro de que aquele direito
lhe pertence (direito adquirido), a lhe ser tomado, por ser a norma que lhe garantiu o direito
posteriormente declarada inconstitucional
Entretanto, analisando a teoria da nulidade adotada pelo Brasil, uma norma
inconstitucional nasce nula e, portanto, todos os atos decorrentes e acessórios a ela também
serão nulos, não havendo sentido em se dizer que há justiça em obtenção e manutenção de um
direito inconstitucional.
Até porque, ao declarar a inconstitucionalidade de uma norma, pode o Supremo
Tribunal Federal utilizar o art. 27, da Lei 9.868/99, que permite a Corte Rara a modulação dos
efeitos, o que significa que, assim não o fazendo, a inconstitucionalidade da norma se
demonstrou tão grave que se tornou impossível sua manutenção no mundo jurídico.
Assim, não nos parece crível que, em um Estado Democrático de Direito, em que a
Constituição é a norma maior garantidora de permanência da democracia e do próprio direito,
se permita que relações jurídicas eivadas de inconstitucionalidade permaneçam no mundo
jurídico sob o fino manto da segurança jurídica, nos correta a doutrina que sustenta a
possibilidade de relativização da coisa julgada inconstitucional em prol de um ato perfeito e
da busca pela verdade real e da justiça.
52
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