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Módulo I – Básico
O foco desses estudos iniciais será nos elementos mecânicos. Como o processo
mecânico não ocorre sozinho, haverá muitos exercícios de percepção corporal, com
orientações de natureza biológica.
Gostaria de salientar que muito do que estará aqui exposto foi baseado nos
ensinamentos do pianista canadense Alan Fraser, em seu livro The Craft of Piano
Playing, o qual eu recomendo veementemente a leitura.
Leonardo Amaral
Teoria do plano único
No piano, os eixos mais importantes são o vertical (que leva o dedo à tecla,
descendo, e o retira, subindo) e o da profundidade (que “empurra” o dedo para a
frente, em direção ao piano e o afasta “puxando-o” para trás). O terceiro eixo é de
importância menor, embora seja também importante: é o eixo horizontal, que vai da
direita para a esquerda, e só será visto mais adiante.
Em geral, argumenta-se que para tocar piano deve-se levar o dedo à tecla num
trajeto completamente vertical. Mas isso é problemático, pois esse tipo de movimento
pode causar tensões físicas, ineficiência na transferência de energia do corpo para o
piano, “ondas de choque” que machucam as juntas mais sensíveis dos dedos e som
inexpressivo. Os dois últimos casos se relacionam ao fato de chegar ao final da tecla
com ângulo tão direto.
A gravidade também trás seus problemas: ela é, de fato, uma força vertical,
ajudando no movimento de abaixar a tecla. Contudo, ao se tomar o braço, a mão e os
dedos como um conjunto de alavancas interligadas, a gravidade passa a ter uma
influência complexa, atrapalhando em boa parte das vezes, ao invés de ajudar. Se isso
soa estranho, dê uma olhada nessa máquina de academia:
Com apenas duas roldanas e um cabo de aço se transforma o eixo de uma força
em outro (você, ao puxar o cabo, luta contra a gravidade, que é vertical, mas em um
eixo horizontal!). Então, como acontece com o corpo humano? Há um exercício
simples para isso:
§ 1. Exercício: o ombro como roldana
Coloque a mão no teclado do piano, mas sem tocar nenhuma nota; após isso, relaxe
dedos, mãos e braço, de modo que a mão “esbarre” nas teclas abaixo dela. Observe
os movimentos realizados: o cotovelo não desce em linha reta, ele vai levemente para
trás.
Volte a fazer o mesmo exercício, mas desta vez em pé, com o braço completamente
estendido a sua frente. “Solte” o braço e observe que ele não desce em linha reta até
tocar o chão, mas sim que ele realiza um movimento circular, indo, inclusive, para
trás. Ao fazer isso, perceba que o seu tronco vai levemente para frente a fim de
realizar um movimento contrário que manterá o seu equilíbrio.
Por que isso ocorre? O ombro aqui serve como uma roldana, transformando
uma força vertical em força parcialmente horizontal. O cotovelo está ligado ao
antebraço, que está ligado ao ombro por sua vez.
Para esse exercício será necessária a utilização de um lápis, que não deve ser curto
demais. Segure-o em posição horizontal, encostando a extremidade (que não seja a
da ponta do lápis) na tecla (como na figura abaixo), abaixando-a logo em seguida.
Tente ter um contato de qualidade; você consegue fazer um som alto com facilidade e
conforto?
Tente sentir uma conexão entre a mão, o lápis e a tecla sem um esforço demasiado,
absorvendo a energia gasta até chegar ao fim da tecla. Não importa muito como
você abaixará a tecla dessa vez. Nós trabalharemos com diversas formas de tocar.
Tente elevar ou abaixar o lápis agora, como nas figuras abaixo:
Tente fazer esses movimentos empurrando ou puxando o lápis nas teclas do piano,
deslizando-o na superfície da tecla. Aumente o vigor desses deslizamentos e depois
diminua, tornando o movimento gentil; perceba que quanto mais gentil, mais fácil fica
o deslizamento. Apenas se certifique que o movimento não é quase vertical, como
abaixo:
“Para cada ação haverá uma reação”, proclama a segunda lei de Newton. Essa
lei se aplica ao movimento em geral, e, portanto, também aos movimentos relativos à
técnica pianística.
E o que quer dizer essa lei? Quer dizer que cada força aplicada sofrerá oposição
de uma força de reação. Contudo, forças opostas não necessariamente quer dizer
forças contraditórias! Ação e reação, na verdade, tornam o movimento, em geral, mais
eficiente e livre. A imagem abaixo demonstra as forças existentes num ato simples:
correr. Há de se perguntar: o seu pé “puxa” o seu corpo para frente ou “empurra” o
chão para baixo e para trás?
Observe que para poder correr é necessário haver uma reação que faça o
corredor ir para frente. Tente correr num meio que não ofereça resistência (como a
água ou o ar) e o movimento será inútil, apenas ocorrerá ação, com uma reação
desprezível. Ação e reação são opostos complementares – e, portanto, parte de um
todo –, conclui-se. O mesmo ocorre no piano.
Ponha a sua mão nas teclas do piano. Agora empurre as teclas para frente. É normal
sentir um grande esforço nas primeiras vezes, mas tente fazer o movimento de forma
natural, lembrando que ele deve começar na ponta do dedo e que não se deve
enrijecer a mão. Após isso, retorne à posição normal e “puxe” as teclas do piano com
seus dedos, procurando a mesma naturalidade e leveza na mão e dedos. Alterne os
movimentos, até senti-los como partes de um todo; um movimento esclarecerá o
outro, como se eles se complementassem, igual ao movimento de uma gangorra.
Em geral, a técnica pianística tende a ser polarizada; quer dizer, alguns teóricos
e professores preferem tocar de um modo, e não de outro, enquanto o inverso ocorre
com outros professores e teóricos. Ambos tomam um aspecto do movimento e
excluem os outros. Acredito, no entanto, que as escolhas desses movimentos
dependerão mais das necessidades do pianista, havendo uma necessidade de se
estudar tantos movimentos produtivos quanto forem possíveis. Daí a necessidade de
se perceber a dualidade dos movimentos.
A inércia pode ser trabalhada no piano, pois após apertar a tecla até o final o
martelo do piano se movimenta sozinho até bater na corda do piano. Para isso, é
necessário desenvolver a percepção do peso das teclas, necessitando de dedos
sensíveis. Por isso é importante estudar piano devagar, com o máximo de
sensibilidade, pois um dedo rígido perde sensibilidade e não consegue controlar a tecla
com facilidade.
Esse exercício serve para clarificar o tipo de força utilizada para pressionar as teclas;
quando bem feito torna consciente o trabalho de diversos músculos da parte superior
do corpo, permitindo um ombro mais leve e menos rígido.
Ele é feito longe do piano; encosta-se as pontas dos dedos (que deverão estar
afastados uns dos outros) na parede usando-os para balançar o seu corpo. São os
dedos que balançam o corpo, não a mão. Não se deve enrijecer ou travar o ombro, o
braço ou a mão nesse movimento, que deve ser praticado muito lentamente,
sentindo todos os esforços mínimos que o seu corpo faz para realizar o balanço.
Perceba se você presta muita atenção em empurrar o corpo para longe da parede.
Agora preste atenção quanto do seu corpo continua “para fora” quando ele se
aproxima da parede e o quanto ele fica “para dentro” quando você o afasta da
parede. Agora tente sentir ambas as sensações de se aproximar e afastar da parede
em ambos os movimentos.
Embora o braço possa ter papel no abaixamento das teclas, o dedo sozinho
pode fazer uma transferência direta de energia estando em posição horizontal. O
problema está que essa posição praticamente torna o dedo imóvel, pois estaria numa
posição desconfortável, que necessita da ajuda do braço para abaixar a tecla, como
abaixo:
§ 5. Exercício: o lápis-alavanca
Voltando ao lápis, observe que ele basicamente roda sobre o ponto de contato com a
tecla. Quanto mais você puxar o lápis para cima e para frente mais você sentirá que a
outra ponta descerá e irá para trás até o ponto em que ela encontra a tecla. A partir
daí, há o risco de escorregar, mas se deve evitar isso sentindo o ponto onde o lápis
encontra a tecla ficando estável. Inicialmente, pode-se rodar o lápis de um extremo
ao outro tendo como base esse ponto, e sem abaixar a tecla. Deve-se sentir a
passagem circular que circula o ponto de contato:
Esse é um ótimo modo de manter o contato estável, enquanto você começa a aplicar
maiores forças. Você verá que puxar a tecla dessa forma é produtivo e produz pouca
reação, independentemente do quão forte você empurre.
Se você sentir muita reação, então esqueça um pouco a ideia de abaixar a tecla e se
concentre em ver a extremidade que você está segurando descrever um semicírculo
até chegar ao outro lado. Após dominar isso, tente voltar a pensar em abaixar as
teclas e, aos poucos, ir juntando as duas sensações. A reação será forte se você tiver
abaixado a tecla antes de rodar o lápis, sendo necessário esquecer esse movimento
de abaixamento por um instante.
Esse movimento deve ser totalmente relaxado. Não deve haver nenhum sinal de que,
ao final do movimento, relaxou-se de alguma tensão. Todos os bons movimentos
devem ser sentidos como movimentos contínuos; se não foi essa a sensação volte a
fazer o exercício, mas ainda mais lentamente, até se obter essa sensação de
continuidade. Durante todo o exercício você deve se sentir confortável.
Tanto os sistemas de braço com dois pontos fixos como o de um ponto fixo
(somente dedos) podem ser utilizados na técnica pianística, e até mesmo alternados.
No entanto, o sistema com dois pontos fixos demonstra ser o mais ideal e menos
forçoso.
Deixe seus braços estendidos à sua frente e os mantenha assim durante alguns
segundos. Perceba todas as juntas se contraem necessariamente para poder lutar
contra a gravidade. Agora relaxe os braços e os deixe cair ao lado do corpo. Mesmo
nesse estado tendemos a ter algumas contrações musculares; tente eliminá-las.
Perceba que agora a gravidade ajuda a manter o seu braço relaxado. Esse estado não
deve levar a nenhum movimento indesejado.
E qual é a força e o ângulo que os dedos devem trabalhar para criar um bom
suporte para o braço? O gráfico abaixo demonstra a posição dos elementos do braço:
A mão ser que o braço esteja em movimento de queda livre, o seu peso deve
ser suportado por algum tipo de distribuição. Tanto os dedos quanto o ombro
fornecem um suporte fixo para o braço se alinhar naturalmente, suportando a
influência da gravidade. Mas de que forma devemos movimentar o ombro?
Historicamente houve duas abordagens sobre o uso do braço: uma na qual o braço
aproveita a gravidade e é simplesmente despejado nas teclas do piano, e outra na qual
o braço não tinha influência alguma no toque. No primeiro caso, o ombro é
completamente relaxado, quase sem suportar o peso do braço; no segundo, o ombro é
extremamente rígido, para impedir que o peso do braço interfira no movimento dos
dedos. Ambas as escolas estão certas, mas elas não fornecem um conhecimento global
do processo. O ideal é que se relaxe ou enrijeça o ombro de acordo com a necessidade
da pela musical.
Deixe seu braço relaxado e estendido cair ao lado do corpo. Após isso, gire os
cotovelos levemente. Isso fará com que eles se afastem levemente do tronco, num
movimento semelhante ao bater das asas de uma galinha. Faça esse movimento bem
lentamente, sentindo as sensações no braço e vá parando aos poucos, sentindo a
gravidade “pesar” sobre o braço. Pare quando o cotovelo estiver um pouco afastado
do tronco. Sinta o equilíbrio entre a mínima rigidez muscular e a força da gravidade.
Agora imagine que você está movimentando o cotovelo mais um pouco; pare,
retorne à posição anterior e repita o processo, sempre prestando atenção às
sensações. Após isso reverta o processo deixando a gravidade “empurrar” o seu braço
de volta pouco a pouco. Ainda haverá uma rigidez muscular mínima, o suficiente para
o braço não cair de vez.
Depois disso, eleve os ombros lentamente, e, da mesma forma que se fez com os
cotovelos, vá parando gradualmente, até o ponto em que você sentirá a força dos
músculos e da gravidade tornando seu ombro imóvel com um mínimo de esforço.
Refaça o exercício do cotovelo, mas prestando atenção no ombro dessa vez. Sinta a
gravidade empurrar o seu ombro para baixo e tente não elevá-lo.
Tente dominar esse movimento ao ponto dele se tornar quase invisível,
sentindo as sensações vívidas no ombro. Depois segure diversas notas conjuntas no
piano (toque um acorde) e tente refazer esse exercício. É possível até, para clarificar
melhor as diferenças de sensações, deixar o ombro cair totalmente e também elevá-lo
ao ponto dos dedos quase saírem das teclas. Quando você perceber que consegue –
pela própria vontade - tornar o braço tão pesado ou tão leve quanto queria você terá
dominado as sensações e o movimento.
O fundo da tecla I: como evitar impacto, estresse e injúria
Muitas pessoas recomendam que os dedos parem as suas atividades tão logo a
nota tiver soado; isso é problemático, pois se os dedos não exercem nenhuma pressão
na tecla ela levantaria. Outros recomendam mesmo nunca abaixar a tecla até o final;
isso é simplesmente impossível, e pode acarretar diversas tensões na mão. O
importante é saber como abaixar a tecla até o final sem machucar a mão.
Há, no piano, um mecanismo chamado escape. Ele serve para levar o martelo à
corda após a tecla ter chegado ao final. Faça um teste: aperte a tecla de um piano
acústico (um piano digital não tem esse mecanismo) tão lentamente que não soe
nenhum som. Chegará um momento onde a resistência muda, a partir daí você aciona
o escape e não tem mais o controle sobre o martelo. Simplesmente não há como não
tocar no final da tecla sem extremos esforços na mão, mesmo que se queira tocar até
o escape, apenas. O importante é saber como apertar a tecla até o final. Vejamos
novamente o trajeto do lápis na tecla:
Refaça o exercício 3, mas agora com a intenção de empurrar a parede (sempre feito
com leveza). Perceba que isso acarreta um certo enrijecimento de toda a estrutura
braçal. Ao invés disso, então, pense em empurrar o seu corpo para longe da parede.
Perceba o quanto o movimento ficou mais leve e sem esforço. O papel do braço aqui
simboliza o papel dos dedos na tecla.
A parede reage à força imposta a ela mandando, de modo simples, uma força
de igual ou maior valor na direção contrária. A diferença básica entre os dois
movimentos é que no primeiro tipo nós conscientemente enrijecemos todo o corpo
para lutar com a força de reação (sem nunca conseguir movimentar a parede do lugar),
e no segundo nós nos afastamos da parede, cedendo à força de reação.
Não criamos esforços negativos quando nos afastamos da parede, mas apenas
quando lutamos para nos aproximarmos dela. Conscientizar-se disso desencadeará
uma série de respostas diferentes e eficientes à força necessária para empurrar a tecla,
tornando-se, gradualmente, um hábito.
Toque uma melodia com som bastante forte, presente. Essa melodia deverá ser
tocada exclusivamente pelo polegar (use o pedal para formar o legato), em
velocidade muito lenta. Na primeira vez não pense nos movimentos, apenas pense no
som produzido. Volte a tocar a melodia, prestando atenção no som conseguido e no
movimento feito.
Agora descanse a mão numa mesa, com a palma da mão encostando a mesa.
Pressione essa mesa com o polegar; depois, imagine que a mesa é um piano e
pressione novamente. Houve alguma diferença perceptível de movimento?
Agora, apoiando-se no polegar, eleve o restante dos dedos da mão, até eles ficarem
acima do polegar, lentamente; acelere a velocidade do movimento, depois. Após isso,
balance o restante dos dedos no ar.
Para resolver isso refaça esses exercícios em cada nota da escala que será
tocada com o polegar. O movimento deve sempre ser leve e sem esforço. Após um
tempo praticando essa movimentação extrema, o polegar sentirá facilidade em ser
uma estrutura de suporte fixa e, ainda assim, flexível.
Questões sobre eficiência: porque pensar em tensão/relaxamento
confunde as funções da mão; e, porque o braço nunca deve substituir o
papel das mãos
A falta de técnica atrapalha tanto a facilidade do toque como a qualidade do
som produzido.
Use um lápis para esse exercício. Deixe-o na posição horizontal, em cima das
teclas do piano. Agora aperte levemente o lápis com os dedos e veja quanta resistência
as teclas impõem. Agora aperte com o braço; veja que ainda há resistência. Esses
movimentos necessitam do enrijecimento dos músculos para poder abaixar as teclas:
são movimentos negativos. Agora, quando for abaixar o lápis, movimente a mão na
direção oposta, aproveitando a resistência das teclas. O esforço é mínimo e saudável.
Com a mão ativa e funcional é possível utilizar o braço para abaixar as teclas
sem sobrecarregar toda a estrutura. Portanto, o importante não é pensar em tensão
ou relaxamento na técnica pianística, mas sim em funcionalidade ativa dos músculos.
Os dedos, fundamento da técnica pianística
Um exercício inicial para retirar tensão nos dedos é dar gentis petelecos nos
dedos, individualmente, para frente e para trás. Após isso mover cada dedo com os
dedos da outra mão, segurando perto da junta metacárpica. É necessário dedicar
algum tempo para cada dedo em particular, a fim de perceber as sensações vindas do
próprio dedo, mão, braço e ombro. Qualquer tensão deve ser erradicada.
Inicialmente, esses exercícios devem ser feitos com os dedos todos, mas depois
é possível trabalhar com cada dedo individualmente. Os outros dedos tenderão a se
mover junto, o que não deve ser impedido. Para obter controle individual dos dedos,
apenas se deve movimentar bem lentamente e sem esforço.
Equílibrio sem esforço: conectando o braço ao teclado sem esforçar a
mão
Para poder mover os dedos livremente é necessário que o braço não os force
contra a tecla. Contudo, o braço também não pode estar rígido, impedindo a
naturalidade do movimento digital. O ponto adequado é quando o braço aparenta
estar “flutuando”, sendo sustentado tanto pelo ombro como pelo dedo, na tecla. A
sensação não é muito diferente de quando se descansa um braço em cima de uma
mesa.
Agora, deixe os dedos abaixarem a tecla. Descanse o braço em cima deles, mas
sem pressionar o dedo. Todo o braço e dedo ficam relaxados. Após isso, passe a
balançar a mão para a direita e para esquerda diminuindo o peso o suficiente para a
tecla querer voltar a subir (não permita! Chegando nesse ponto pare de tornar o braço
mais leve). Após isso mova o cotovelo para cima e um pouco para frente, retornando
para junto do corpo logo após, em movimentos circulares; diminua o movimento até
que o braço fique parado numa posição confortável e natural. Perceba que, se feito
corretamente, o braço ficará entre o dedo e o ombro, sendo sustentado por ambos.
Procure deixar os seus dedos leves o suficiente para sentir a pressão da tecla
querendo voltar à sua posição inicial. Apenas uma leve força é necessária para deixar a
tecla equilibrada.
Após isso, permita que a tecla se eleve um pouco para você abaixá-la
novamente e perceber qual é a medida exata de força que deve ser empregada para
abaixar a tecla, apenas. Apenas a força para abaixar uma tecla deve ser empregada.
Para verificar se o seu dedo está bem alinhado (reto) faça uma pequena pressão na
mão que aperta as teclas com a outra mão; os dedos não devem ceder, nem por isso
devem enrijecer. Faça, depois, o contrário: eleve um pouco a junta da mão que aperta
as teclas para ver se ainda é possível elevar essa junta sem desencostar o dedo da
tecla.
Por fim, empurre a mão para frente e para trás nas teclas. Deve haver uma
clara sensação de contato, mas sensação de fricção. A mão vai e volta livremente. A
única estrutura com algum esforço é a junta metacárpica, nada mais. Cuidado, na
volta, para não descer a mão e formar uma espécie de gancho com os dedos.
Com isso perceba que não é necessário que o braço fique extremamente rígido
para segurar a mão, pelo contrário, ele é mais funcional quando aparenta estar
flutuando seguro entre o dedo e o ombro. As figuras abaixo mostram a diferença
(sendo a da direita a simbolização de um braço bem alinhado):
Após isso, experimente estender o dedo, mas sem abaixar a tecla. Não se deve
forçar para o dedo ficar reto, pois isso enrijeceria a mão. O importante é conseguir
fazer tudo ficar livre e “relaxado”.
O problema da “quebra” de juntas
Em geral isso ocorre em pessoas que possuem juntas muito flexíveis e pouco
domínio muscular. Ainda é possível acrescentar uma posição de mão disfuncional
como causa desse problema.
Por isso mesmo a solução é simples: modificando a posição da mão, tornando-a
funcional, consegue-se uma mão forte, capaz de impedir essas quebras das juntas.
Faça o seguinte, toque alguma tecla com o polegar e se apoie nele. Após isso,
tente enrolar o dedo em direção à palma da mão, deslizando levemente sobre a
superfície de uma tecla abaixada. Esse deslize deve ser gentil, sem “grudar” o dedo na
tecla, o que demostra pouca funcionalidade. Após isso se faz o movimento contrário:
“empurra-se” o dedo para frente, até o final da tecla.
Geralmente, o problema também ocorre por se fazer muita pressão na tecla. A
junta mais próxima à ponta do dedo não pode ser movida individualmente – a junta do
meio também se move – e quando se pressiona demasiadamente o dedo na tecla (seja
por causa do peso do braço ou por causa do enrijecimento dos dedos) a junta da ponta
se torna fixa porque o dedo está fixo na superfície da tecla. Ao se exercer uma força
para trás (através do movimento de enrolar os dedos) a junta do meio vai para trás
sozinha, resultando na quebra. Ao se tentar jogar essa junta para a frente, na verdade
se está fortalecendo essa posição incômoda, o que piora a situação. Essa é uma
posição muito danosa e deve ser evitada.
Novamente, o movimento positivo de estender o dedo resolve o problema:
Observe a linha azul. Ela se estende um pouco para frente, e é para frente que
a direção da força deve ser apontada. O ponto ideal é quando o dedo está quase
deslizando para frente. Há, então, dois movimentos internos: a junta metacárpica
(mais próxima da mão) fecha os dedos e a junta proximal (mais próxima das teclas)
estende o dedo ao invés de dobrá-lo.
Contudo, se feito equivocadamente, esse movimento forçará a junta do meio
contra a junta metacárpica, movimento muito danoso, pois dois músculos estarão
fazendo movimentos contrários. É importante sentir que se estende o dedo com a
ponta dele e não com o meio, que deve estar neutro, quase relaxado.
Isso está diretamente relacionado com a tendinite. Quando a ponta do dedo é
direcionada para a palma da mão, toda a estrutura fica instável e o braço tem que
compensar essa instabilidade com tensões extremas. Esse é o movimento que se deve
evitar (linha vermelha):
Controle tonal, eficiência e saúde: trazendo à tona o mais fundamental
ingrediente de uma técnica controlada, com menos tensão e impacto
Movimento Negativo
Movimento Positivo
Movimento Positivo
Isso ocorre porque a velocidade é gerada na direção errada. Para resolver esse
problema e transferir energia para o prego nós geralmente enrijecemos a mão, e
embora isso traga algum resultado o esforço é enorme, e cansativo. No piano, fazemos
coisa semelhante: enrijecemos a mão para abaixar uma tecla rápido. Para resolver esse
problema de um modo mais seguro e saudável precisamos modificar o direcionamento
da força. Agora nós retomaremos o movimento, mas descrevendo um círculo em volta
do cotovelo; contudo, no contato com a tecla nós elevaremos o punho (ao invés de
deixa-lo cair):
Isso funciona do ponto de vista do prego, pois toda energia é a ele transmitida.
Contudo, do ponto de vista do corpo, ainda há muita tensão, causada, geralmente, por
uma leve parada antes de tocar no ponto de contato, que causa um enrijecimento
abrupto. Para impedir isso se deve mudar o centro do movimento do braço, na partida
para o prego, na hora do contato. O mesmo ocorre no piano, como se pode ver (exceto
que o contato será feito pelo dedo com uma tecla; mas a mudança de direcionamento
do movimento deve continuar):
Isso pode ser feito da seguinte forma, quando o dedo já estiver em contato
com a tecla: “empurrar” a tecla com a ponta do dedo enquanto a junta metacárpica se
eleva, isso acelera a velocidade da ponta do dedo, aumentando o vigor sem enrijecer
nenhum músculo (apenas tenha cuidado para não enrijecer a junta do meio do dedo,
que faria um trabalho contrário ao da junta metacárpica).