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AULA 1 - LÍNGUA PORTUGUESA

CONCEITOS DE TEORIA LITERARIA


 Literatura como arte - muitas vezes, ao lermos um texto, imaginamos que há uma
mensagem que o autor deseja passar, porém ele não necessariamente quer fazê-lo; ele
pode estar simplesmente brincando com palavras. Textos literários são textos
elaborados.
 Texto literário e não literário - a intenção é o que faz a diferença. O texto literário tem
uma finalidade estética. Ele quer provocar no leitor alguma emoção, reflexão. Todo
texto literário tem plurissignificação (existe algo escondido entre as palavras). O texto
literário tem função poética.
 Linguagem denotativa e conotativa - linguagem denotativa é o sentido dicionarizado, o
sentido ao pé da letra. O sentido conotativo pode estar no dicionário ou não, é um uso
figurado. No texto literário, o autor utiliza os dois.
 Poesia e prosa - até o século XVII, a diferença entre ambos era nítida, todavia o
modernismo apresenta a prosa poética e o poema em prosa.
 Intertextualidade - é a presença de um texto dentro de outro texto. Por isso, é necessária
uma bagagem cultural para identificar quais textos e quais referências estão presentes
em um texto.
 Estilo de época e estilo do autor - até o final do século XIX, isso era claramente definido,
mas o autor vai fazendo-se e vai fazendo escolhas estéticas diferentes.
 Características do texto literário - ficcionalidade (não tem o objetivo de apresentar a
realidade como ela é, é um olhar sobre a realidade, é uma obra de criação), função
estética (mesmo quando não há técnica, há um trabalho gigantesco para parecer que
não há técnica), plurissignificação (várias camadas de sentido), subjetividade (é sempre
um olhar).
 Escolas literárias – segundo Nietzsche, há sempre uma troca entre a visão apolínea
(visão racional, equilibrada e clareza) e a visão dionisíaca (visão emocional, conativa e
subjetiva). Antônio Cândido traz a ideia de movimento pendular entre o universalismo
e o nacionalismo, sobretudo na literatura brasileira.

O texto abaixo tem uma linguagem bem referencial. Há a discussão sobre uma tese.
Trata-se de um texto não-literário cujo objetivo é informar.

Dom Pedro Fernandes Sardinha, ou Pero Sardinha, (Évora, 1496 — Brasil, 1556) foi o
primeiro bispo do Brasil.
Eleito bispo de São Salvador da Bahia no dia 25 de fevereiro de 1551, aos 55 anos. Foi
ordenado bispo pelas mãos de Dom Fernando de Menezes Coutinho e Vasconcellos.
Tomou posse no dia 22 de junho de 1552. Renunciou à função no dia 2 de junho de 1556.
No dia 16 de julho de 1556 morreu devorado pelos índios caetés após naufragar no
litoral de Alagoas. Na verdade não existe um relato preciso sobre seu martírio nas mãos
dos caetés, havendo fontes que afirmam que três sobreviventes assim o teriam afirmado
após conseguirem escapar das mãos dos selvagens. Atualmente alguns historiadores
cogitam que, na verdade, não teriam sido os caetés os autores de tal fato, mas os
tupinambás que viviam próximos à foz do Rio São Francisco, tendo os colonizadores se
utilizado da falsa acusação da morte do bispo pelas mãos dos caetés para persegui-los
até à extinção, a fim de tomar-lhes as terras. Fato é que a belicosidade dos caetés era
notória desde sua expulsão de Olinda pelos portugueses que lá chegaram, sendo as
colinas de tal cidade seu lugar preferido. Fugidos de lá, concentraram-se mais
densamente do Cabo de Santo Agostinho para o sul, onde moveram incessante guerra
contra os portugueses. Assim, o episódio da antropofagia do bispo pelas mãos dos
caetés é mais verossímil, não havendo porque ser seriamente contestada. (Origem:
Wikipédia.)
Nesse manifesto de Oswald de Andrade, ‘antropofagia’ é usada em seu sentido
conotativo: pegar a energia do mundo todo para fazer uma literatura brasileira. O ritual
antropofágico indígena tinha como objetivo pegar o que o inimigo tinha de mais valioso - a força,
a inteligência. A frase ‘tupi or not tupi’ é um exemplo de intertextualidade. Vale destacar que
pela data no final do manifesto, ele coloca como marco inicial a deglutição do Bispo Sardinha.

Só a Antropofagia nos une. Socialmente. Economicamente. Filosoficamente.


Única lei do mundo. Expressão mascarada de todos os individualismos, de todos os
coletivismos. De todas as
[religiões. De todos os tratados de paz.
Tupi or not tupi, that is the question.
Contra todas as catequeses. E contra a mãe dos Gracos.
Só me interessa o que não é meu. Lei do homem. Lei do antropófago.
Em Piratininga
Ano 372 da Deglutição do Bispo Sardinha.
(Publicado na Revista de Antropofagia, em 1928.)

José Paulo Paes também fala sobre o mesmo acontecimento (deglutição do Bispo
Sardinha), mas de outra forma. ‘Bugre’ faz alusão ao índio mais violento. O índio sem pão é o
índio aculturado, sem suas raízes.

O bispo ensinou ao bugre


Que pão não é pão, mas Deus
Presente na eucaristia.
E como um dia faltasse
Pão do bugre, ele comeu
O bispo, eucaristicamente.
(Retirado de Novas Cartas Chilenas, de 1954)

Antônio Cândido é o mais importante autor da teoria literária brasileira. Segundo ele,

a história da literatura brasileira é em grande parte a história de uma imposição cultural


que foi aos poucos gerando expressão literária diferente, embora em correlação estreita
com os centros civilizadores da Europa. Esta imposição atuou também no sentido mais
forte da palavra, isto é, como instrumento colonizador, destinado a impor e manter a
ordem política e social estabelecida pela Metrópole, através inclusive das classes
dominantes locais. Com efeito, além da sua função própria de criar formas expressivas,
a literatura serviu para celebrar e inculcar os valores cristãos e a concepção
metropolitana de vida social, consolidando não apenas a presença de Deus e do Rei, mas
o monopólio da língua. Com isso, desqualificou e proscreveu possíveis fermentos locais
de divergência, como os idiomas, crenças e costumes dos povos indígenas, e depois os
dos escravos africanos.

Não podemos imaginar uma literatura brasileira que já se fez em 1500. No começo da
colonização não havia literatura brasileira, porém havia textos escritos no Brasil sobre o
Brasil. Ao mesmo tempo que existiu a imposição da cultura, houve autores que foram fugindo
dessa imposição. No primeiro momento, a literatura brasileira era um instrumento colonizador:
varia entre textos descritivos sem finalidade estética (como a carta de Caminha) e textos de
caráter catequizador (como os de Anchieta). Antônio Cândido chamava esses movimentos de
manifestações da literatura brasileira. Esses escritos cumpriam uma função social, e o
monopólio da língua consolidaria a dominação sobre aqueles povos.

Etapas da literatura brasileira


Antônio Cândido dividia em três etapas o processo de formação da literatura brasileira:
 era das manifestações (do século XVI ao XVII) - iniciou-se com o descobrimento e
abrangeu o Barroco e o Arcadismo;
 era da configuração do sistema literário (de meados do XVIII ao XIX) - quando a literatura
começou a circular;
 era do sistema literário consolidado (de meados do século XIX aos nossos dias).

Ele definiu sistema como a articulação de três aspectos que configuram uma atividade
literária regular: autores escrevendo formando um conjunto, veículos que permitam seu
relacionamento, públicos capazes de ler ou ouvir, tradição que é o reconhecimento de obras e
autores precedentes funcionando como exemplo ou justificativa daquilo que se quer fazer. O
romantismo já lidou com uma tradição: o índio foi tirado das epopeias do arcadismo.

As primeiras manifestações
Os homens precisavam conhecer a terra e registrar para os próximos que viessem, por
isso os escritos eram extremamente objetivos e descritivos. Os escritos não tinham finalidade
artística.

Os homens que vieram para o Brasil de maneira regular e com mente fundadora, a partir
de 1530, tiveram inicialmente necessidade de descrever e compreender a terra e os seus
habitantes, com um intuito pragmático necessário para melhor dominar e tirar proveito.
Ao mesmo tempo, precisaram criar os veículos de comunicação e impor o seu
equipamento ideológico, tendo como base a religião católica. Tais homens eram
administradores e magistrados, soldados e agricultores, mercadores e sacerdotes, aos
quais devemos os primeiros escritos feitos aqui. Esses escritos são descrições do país e
seus naturais relatórios administrativos ou poemas de fundo religioso, destinados ao
trabalho de pregação e conversão dos índios.

A carta de Caminha, o mito do paraíso, é um dos textos mais conhecidos da literatura


de informação. É a certidão de nascimento brasileira.

E neste dia, às horas de véspera, houvemos vista de terra, isto é, primeiramente dum
grande monte mui alto e redondo e doutras serras mais baixas ao sul dele e de terra
chã, com grandes arvoredos, ao qual monte o capitão pôs nome — O Monte Pascoal —
e à terra a Terra de Vera Cruz.
(...)
Ali andavam entre eles três ou quatro moças, bem moças e bem gentis, com cabelos
muito pretos compridos pelas espáduas, e suas vergonhas tão altas, tão cerradinhas e
tão limpas das cabeleiras que de as muito bem olharmos não tínhamos nenhuma
vergonha.
(...)
E uma daquelas moças era toda tingida de baixo a cima daquela tintura; e certo era tão
bem feita e tão redonda, e sua vergonha, que ela não tinha, tão graciosa, que as muitas
mulheres de nossa terra, vendo-lhes tais feições, fizera vergonha por não terem a sua
como ela. Nenhum deles era fanado, mas todos assim como nós. E com isto nos
tornamos e eles foram-se.

Em ‘História da província de Santa Cruz a que vulgarmente chamamos Brasil’, Pero


Gandavo teve uma visão oposta à de Pero Vaz. Há uma tentativa de justificar as guerras e os
massacres.

Estes Indios sam de cor baça, e cabello corredio; tem o rosto amassado, e algumas
feições delle á maneira de Chins. Pela maior parte sam bem dispostos, rijos e de bôa
estatura; gente mui esforçada, e que estima pouco morrer, temeraria na guerra, e de
muito pouco consideraçam: sam desagradecidos em gran maneira, e mui deshumanos
e crueis, inclinados a pelejar, e vingativos por extremo. Vivem todos mui descançados
sem terem outros pensamentos senam de comer, beber, e matar gente, e por isso
engordam muito, mas com qualquer desgosto pelo conseguinte tornam a emmagrecer,
e muitas vezes pode delles tanto a imaginaçam que se algum deseja a morte, ou alguem
lhe mete em cabeça que ha de morrer tal dia ou tal noite nam passa daquelle termo que
nam morra. Sam mui inconstantes e mudaveis: crêm de ligeiro tudo aquillo que lhes
persuadem por dificultoso e impossível que seja, e com qualquer dissuaçam facilmente
o tornam logo a negar. Sam mui deshonestos e dados á sensualidade, e assi se entregam
aos vicios como se nelles nam houvera razão de homens: ainda que todavia em seu
ajuntamento os machos e femeas têm o devido resguardo, e nisto mostram ter alguma
vergonha.
A lingoa de que usam, toda pela costa, he huma: ainda que em certos vocabulos differe
n'algumas partes; mas nam de maneira que se deixem huns aos outros de entender: e
isto até altura de vinte e sete gràos, que dahi por diante ha outra gentilidade, de que
nós nam temos tanta noticia, que falam já outra lingoa differente. Esta de que trato, que
he a geral pela costa, he mui branda, e a qualquer nação facil de tomar. Alguns vocabulos
ha nella de que nam usam senam as femeas, e outros que nam servem senam pera os
machos: carece de tres letras, convem a saber, nam se acha nella F, nem L, nem R, cousa
digna despanto porque assi nam têm Fé, nem Lei, nem Rei, e desta maneira vivem
desordenadamente sem terem alem disto conta, nem peso, nem medido.

Anchieta escreveu visando a catequização dos índios. O poema abaixo, ensina a


eucaristia:

Oh que pão, oh que comida,


Oh que divino manjar
Se nos dá no santo altar
Cada dia.

Filho da Virgem Maria


Que Deus Padre cá mandou
E por nós na cruz passou
Crua morte.

(...)

Ele dá vida imortal,


Este mata toda fome,
Porque nele Deus é homem
Se contêm.

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