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LEGISLAÇÃO

TRIBUTÁRIA

autor do original
GEORGE WILTON TOLEDO

1ª edição
SESES
rio de janeiro  2015
Conselho editorial  durval corrêa meirelles, jair do canto abreu júnior
andreia marques maciel

Autor do original  george wilton toledo

Projeto editorial  roberto paes

Coordenação de produção  rodrigo azevedo de oliveira

Projeto gráfico  paulo vitor bastos

Diagramação  fabrico

Revisão linguística  aderbal torres bezerra

Imagem de capa  nome do autor  —  shutterstock

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida
por quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em
qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Editora. Copyright seses, 2015.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (cip)

T649l Toledo, George Wilton


Legislação tributária / George Wilton Toledo.
Rio de Janeiro : SESES, 2014.
120 p. : il.

ISBN 978-85-5548-010-2

1. Direito tributário. 2. Tributo. 3. Obrigação tributária 4. Processo


administrativo fiscal. I. SESES. II. Estácio.
CDD 343.04

Diretoria de Ensino — Fábrica de Conhecimento


Rua do Bispo, 83, bloco F, Campus João Uchôa
Rio Comprido — Rio de Janeiro — rj — cep 20261-063
Sumário

Prefácio 7

1. Direito Tributário e Direito Financeiro 10

Direito Tributário e Financeiro 10


Direito Constitucional Tributário e Hermenêutica Tributária 13

2. Teoria Geral do Direito Tribultário. Sujeitos


e Classificação dos Tributos 26
Teoria Geral do Direito Tributário – Fato Gerador 26
Conceito e Classificação dos Tributos 31

3. Legislação Tributária e a Obrigação Tributária 50

Legislação Tributária 50
Obrigação Tributária - Principal e Acessóriar 63

4. Crédito Tributário, Suspensão e Extinção 70

Crédito Tributário 71
Extinção do Crédito Tributário 78
Pagamento 78
5. Exclusão do Crédito Tributário
e o Processo Administrativo Fiscal 86
Exclusão do Crédito Tributário 86
Processo Administrativo Fiscal 88
Prefácio
Prezados(a) estudante

O Direito é único, porém é estudado em diversas disciplinas que se formam


de acordo com os fatos sociais que as envolvem.
Importante dizer que tais fatos sociais, para adentrarem para o universo do
Direito, necessitam ter por característica o fato de possuírem uma importância
para a sociedade.
É notado que, no decorrer dos séculos da história do ocidente, o Estado pas-
sou a desempenhar vários papéis frente à sociedade.
O objetivo fundamental do atual Estado é a manutenção das instituições
que administram o bem estar social, ou seja, as carências ligadas, direta ou
indiretamente, à sobrevivência. Assim, as atividades estatais estão, como um
todo, caracterizadas pelo atendimento das carências sociais.
Deste modo, para o desempenho de seu mister, o Estado necessita desen-
volver uma atividade financeira que viabilize o exercício de suas atribuições.
Ocorre que, para o desempenho de todas as atribuições constitucionalmente
previstas na Carta de 1988, cada vez mais a máquina estatal necessita da arre-
cadação de numerários.
Neste ponto, o Estado se vale de seu poder tributante, impondo aos particu-
lares a obrigatoriedade de contribuir para os cofres públicos.
Atualmente, os brasileiros são duramente onerados por uma carga tributá-
ria distribuída na forma de impostos, taxas e contribuições.
O Direito Tributário, frente a este fenômeno político-social, tem por fina-
lidade maior, regular a relação entre o Estado (Fisco) e os particulares (contri-
buintes). Não se trata de regras apenas que ensejam a cobrança de tributos,
mas, precipuamente, normas que visam proteger o patrimônio privado frente à
voracidade arrecadatória do Estado.
Com este olhar esperamos que os futuros gestores encarem o Direito Tri-
butário – como um aliado para otimizar um processo de gestão mais eficiente.

7
De igual forma e aproveitando o discurso recorrente sobre a “Ética Empre-
sarial” e “Responsabilidade Social” - uma prática que deve ser estimulado pelos
futuros gestores é o cumprimento da legislação fiscal tributária, apesar dos de-
safios e habilidades que serão cobradas desses profissionais.
Mais uma vez o Direito Tributário poderá ser um forte aliado nesse verda-
deiro desafio!

Bons estudos e sucesso no aprendizado!


Prof. Me. George Wilton Toledo

8
1
Direito Tributário e
Direito Financeiro
1  Direito Tributário e Direito Financeiro
O primeiro capítulo de nosso estudo é dedicado a apresentar o Direito Tri-
butário, assim como analisar as regras constitucionais aplicáveis à atividade
tributária.

OBJETIVOS
A importância de dedicarmos nosso estudo diante do tema proposto neste primeiro capítulo
é exatamente entender que a legislação tributária, ao permitir que o Estado exerça a cobran-
ça de tributos sobre os particulares, paralelamente, estabelece um mecanismo legislativo que
visa limitar o poder de tributar.
Assim, temos que compreender o Direito Tributário como um sistema de regras jurídicas que
é protetivo aos interesses dos particulares, frente à atividade tributária. Esta característica
torna clara quando analisamos os princípios encontrados na Constituição Federal de 1988,
sistematizados em uma seção denominada “das limitações do poder de tributar”.

REFLEXÃO
Por algumas vezes já nos deparamos com uma notícia na imprensa informando que a co-
brança de um determinado tributo tornou-se inválida, pois o Poder Judiciário a declarou
inconstitucional. Diante disso, muitos particulares, principalmente as empresas, recorrem
ao próprio Poder Judiciário para conquistar de volta o dinheiro gasto com o pagamento do
tributo cuja cobrança tornou-se inválida por não estar de acordo com os princípios consti-
tucionais tributários.

1.1  Direito Tributário e Financeiro

Dalmo de Abreu Dallari (2009), ao escrever sobre a origem da sociedade, nos


ensina que um grupo de indivíduos, para ter o status de sociedade, precisa
reunir três elementos: uma finalidade ou valor social, uma ordem social e um
poder social.

10 • capítulo 1
A finalidade social consiste em um
valor em que todos o consideram como
tal, ou seja, um bem comum. Assim, a
sociedade busca a criação de condições
que permitam cada indivíduo e a cada
grupo social, atingir os seus próprios
fins particulares.
A ordem social é o elemento que con-
duz o comportamento humano em sociedade. Ou seja, dotado de livre arbítrio,
o ser humano em sociedade deve ser direcionado, mediante regras, que o dirige
(dirigire = direito) para a preservação do bem comum. As regras de direito é quem
estabelece a ordem social, direcionando o ser humano para que, ao invés de agi-
rem pela sua própria vontade, se comportem em sociedade como previsto no or-
denamento jurídico, a fim de que preserve seus próprios valores sociais.
Por sua vez, poder social é a vontade predominante, para aplicação da or-
dem social a fim de garantir a preservação dos valores sociais (bem comum).
Na história do Estado no mundo ocidental, desde a antiguidade clássica até
a criação do Estado Moderno, o poder social sempre teve como característica
principal a sua natureza imperialista, de modo que a sociedade girava em torno
da predominância da vontade privada de uma pessoa ou poucas pessoas (mo-
nocracia ou oligocracia).
Com o surgimento do Estado Moderno, fica marcado em nossa história o
surgimento de uma nova organização social baseada no interesse e no poder
público. Atualmente, o Estado tem por finalidade maior atingir certos fins que
dizem respeito aos interesses da coletividade, pois predomina a vontade social
no exercício do poder.
Independentemente do regime de governo, o Estado sempre necessitou do
desempenho de uma atividade financeira para o alcance de suas funções, ca-
racterizada pela obtenção de recursos e sua gestão, assim como sua aplicação
em interesse da coletividade.
Apesar da atividade financeira do Estado não ser o seu próprio fim, é o meio
que viabiliza a sua própria existência e o desenvolvimento de suas funções es-
senciais. No desenvolver da história do Estado Moderno, podemos perceber
que o seu papel perante a sociedade ganha novas dimensões e, por consequên-
cia, aumenta também a necessidade por mais recursos financeiros.

capítulo 1 • 11
1.1.1  Orçamento e Despesa Pública

1.1.1.1  As receitas públicas


Receita pública compreende todo o ingresso de recurso financeiro aos cofres
públicos com a finalidade de custear as despesas públicas. A fonte da receita
pública depende do meio que o Estado utiliza para obtê-la.
O recurso financeiro pode ser fruto da exploração do próprio patrimônio pú-
blico, o que denominamos de receita patrimonial. Como explica Bastos (2002),
“receitas patrimoniais são aquelas geradas pela exploração do patrimônio do
Estado, feitas segundo regras do direito privado, consequentemente sem ca-
ráter tributário. Com efeito, os Poderes Públicos desfrutam de um patrimônio
formado por terras, casas, empresas, direitos, que são passíveis de serem admi-
nistrados à moda do que faria um particular, isto é, dando em locação, venden-
do e produção de bens ou mesmo cedendo o imóvel ou direito.”
O Estado também é capaz de gerar receita através de uma atividade muito
peculiar que é a creditícia. Assim, mediante operações de crédito, o Estado po-
derá angariar fundos para fomentar sua atividade.
Porém, nos dias atuais, o Estado alcança quase a totalidade de sua receita
através da atividade tributária, na qual, pelo exercício de seu poder, impõe aos
particulares a obrigação de pagar tributos.

1.1.1.2  A receita tributária


Atualmente, a receita tributária é a que mais representa aos cofres públicos.
Para se ter uma idéia, em 2009, a soma de todos os impostos, taxas e contri-
buições pagos pelas empresas e cidadãos aos três níveis de governo, repre-
sentou 33,7% do Produto Interno Bruto (PIB), sendo que em 2008 a mesma
carga atingiu 34,4% do PIB brasileiro. Diga-se de passagem, a carga tributária
brasileira é uma das mais altas do mundo entre os países com renda per capi-
ta semelhante à nossa.

CONCEITO
Produto Interno Bruto (PIB) representa a soma em valores monetários de todos os bens e
serviços finais produzidos no país, durante um período determinado. O PIB é um dos indica-
dores mais utilizados na macroeconomia com o objetivo de mensurar a atividade econômica
de uma região.

12 • capítulo 1
Como dito acima, a receita tributária advém de uma atribuição peculiar do
Estado, qual seja, a de cobrar tributos. Vale lembrar que esta prerrogativa, que
vamos denominar de “poder de tributar”, foi democraticamente estabelecido
na Constituição Federal.

De certa forma, a tributação brasileira decorre de um consentimento implícito da po-


pulação, na medida em que a Constituição Federal (CF) prevê que ‘todo poder emana
do povo’ e uma das forças coercitivas constantes na Carta Maior é o ‘Poder de Tributar’
(MARTINS e SCARDOELLI, 2008, p. 13)

De modo geral, podemos entender que a receita tributária é todo o recurso


financeiro obtido pelo Estado, mediante a cobrança de tributos.

CONEXÃO
Leia mais sobre a carga tributária brasileira. Acesse: http://www.dominiopublico.gov.br/
download/texto/td_0583.pdf

1.2  Direito Constitucional Tributário e Hermenêutica Tributária

Na linguagem jurídica, quando utilizamos da expressão princípio, queremos


designar uma norma legal que norteia todo o ordenamento jurídico, sendo,
portanto, muito mais abrangente que uma determinada lei cujo espectro de
aplicabilidade se limita a uma determinada situação de fato ou de direito.
Os limites do poder de tributar impostos pela Constituição Federal são
compostos pelos “princípios constitucionais tributários” e pelas “imunidades
constitucionais tributárias”.
Os princípios constitucionais tributários estão inseridos nos artigos 150 e
151 da Constituição Federal, que são os seguintes:

ART. 150, I Legalidade tributária

ART. 150, III, B E C Anterioridade tributária

capítulo 1 • 13
ART. 150, II Isonomia tributária

ART. 150, III, A Irretroatividade tributária

ART. 150, IV Vedação ao conFisco

ART. 150, V Liberdade de tráfego

ART. 151, I Uniformidade geográfica

De igual forma, impossível estudar o Direito Tributário sem estudar a sua


principal fonte – o próprio Direito Constitucional Brasileiro, aonde boa parte
de suas normas foram dedicadas a disciplinar a matéria tributária deste nosso
país dada a sua importância. Com muita razão, Aliomar Baleeiro nos ensina:
“O tributo é vetusta e fiel sombra do poder político há mais de 20 séculos.
Onde se ergue um governante, ela se projeta sobre o solo de sua dominação. (...)
No curso do tempo, o imposto, atributo do Estado, que dele não pode prescin-
dir sequer nos regimes comunistas de nosso tempo, aperfeiçoa-se do ponto de
vista moral, adapta-se às cambiantes formas políticas, reflete-se sobre a eco-
nomia ou sobre os reflexos desta, filtra-se em princípios ou regras jurídicas e
utiliza diferentes técnicas para execução prática”(BALEEIRO, 1998).
Dito isso, eis a importância de estudarmos os principais princípios constitu-
cionais que norteiam o Direito Tributário Brasileiro, bem como as normas cons-
titucionais que distribuem a competência tributária junto aos entes tributantes.
Por outro lado, a interpretação das normas jurídicas para que possa ser cor-
retamente compreendida deve ser vista como uma verdadeira arte: a arte de ex-
trair da norma a vontade expressada pelo legislador quando da sua elaboração.
Trata-se de um processo interpretativo permanente, por meio do qual os opera-
dores do Direito constroem e reconstroem o direito e a realidade. Esse processo
de interpretação do Direito é também chamado de Hermenêutica Jurídica.
Hermenêutica é a teoria da interpretação da norma. A palavra provém de
Hermes, o deus da arte de compreender, expressar, explicar, descobrir o senti-
do. Era uma homenagem a esse deus, que era considerado eloquente e o men-
sageiro dos deuses (MARTINS, 2008).

14 • capítulo 1
CONEXÃO
Para maiores informações com relação à Hermenêutica jurídica, o estudante poderá acessar
o site jus.uol.com.br, onde encontramos vários artigos relacionados ao direito, e em especial,
à interpretação das normas jurídicas.

O processo de edição da norma é um momento de criação do direito. A her-


menêutica representa um outro momento. Etimologicamente é um vocábulo de-
rivado do grego hermeneuein, comumente tida como filosofia da interpretação.

http://estudantesdedireito.blogspot.com/

A atividade do hermeneuta é, assim, construtiva, e não meramente interpre-


tativa; a ideia de ir conhecendo um trabalho que ainda se constrói.

1.2.1  Competência e Princípios Constitucionais

1.2.1.1  Competência tributária


O termo competência, no vocabulário jurídico, não possui a conotação de ha-
bilidade para se fazer algo, assim como podemos dizer que um determinado
médico exerce a medicina com muita competência. Competência é a atribuição
conferida por lei para que seja exercida uma espécie de poder estatal.

capítulo 1 • 15
Deste modo, competência tributária, devidamente tratada na Constituição
Federal, nos revela quem são as pessoas políticas que podem constituir e criar
tributos, que serão exigidos aos contribuintes.
Antecipadamente, devo adverti-los de que a competência tributária não é
absoluta, pois a permissão constitucional dada para criar e cobrar tributos está
vinculada à observação de três limitações:

(i) As limitações do poder de tributar, previstas na própria


Constituição Federal, que denominamos de “princípios
constitucionais tributários” e “imunidades tributárias” que
serão tratados logo a seguir;

(ii) O respeito às normas gerais de Direito Tributário previstas no


Código Tributário Nacional e demais leis complementares;

(iii) A indelegabilidade das competências previstas na Consti-


tuição Federal, embora seja lícito transferir as atribuições
de fiscalizar e arrecadar determinado tributo, até mesmo
à pessoas de Direito Privado, como ocorreu recentemente
com a extinta CPMF, cuja arrecadação estava a cargo das
instituições financeiras.

Segundo o artigo 145 da Constituição Federal, compete à União, aos Es-


tados, ao Distrito Federal e aos Municípios instituir impostos, taxas e contri-
buição de melhoria. Já o artigo 148 diz ser competência exclusiva da União
a instituição do empréstimo compulsório e o artigo 149 também estabelece
como competência exclusiva da União a instituição das contribuições.
Especificamente quanto aos impostos, a Constituição Federal atribuiu as
seguintes competências:

À União:

ART. 153, I, CF Imposto sobre Importação

ART. 153, II, CF Imposto sobre Exportação

ART. 153, III, CF Imposto de Renda

16 • capítulo 1
ART. 153, IV, CF Imposto sobre Produto Industrializado

ART. 153, V, CF Imposto sobre Operações Financeiras

ART. 153, VI, CF Imposto Territorial Rural

ART. 153, VII, CF Imposto sobre Grandes Fortunas

ART. 154, I, CF Imposto Residual

ART. 154, II, CF Imposto Extraordinário de Guerra

Aos Estados e ao Distrito Federal:

ART. 155, I, CF Imposto sobre transmissão “causa mortis” e doação

Imposto sobre operações Circulação de Mercadorias e pres-


ART. 155, II, CF tação de serviços de transporte interestadual e intermunicipal
e de comunicação

ART. 155, III, CF Imposto sobre propriedade de veículos automotores

Aos Municípios:

ART. 156, I, CF Imposto sobre propriedade territorial urbana

Imposto sobre transmissão de bens imóveis , por ato “inter


ART. 156, II, CF
vivos”

ART. 156, III, CF Imposto sobre serviços de qualquer natureza

1.2.1.2  Princípio da legalidade tributária


O princípio da legalidade tributária tem, antes de mais nada, uma relação di-
reta com um dos direitos e garantias fundamentais previstos no artigo 5º da
Constituição Federal, mas especificamente em seu inciso II, o qual estabelece
que ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em

capítulo 1 • 17
virtude de lei. Portanto, é garantia fundamental de todo brasileiro e estrangeiro
residente no país que, somente serão compelidos a fazer algo, se antes houver
uma lei exigindo tal comportamento.
Se o pagamento de um tributo é uma imposição do Estado ao contribuinte
(prestação pecuniária compulsória), por direito fundamental, deve haver uma
lei autorizando o Poder Público a efetuar a referida cobrança.
Porém, o art. 150, I, da Constituição Federal, expressamente vedou que a
União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, exigissem ou aumentas-
sem tributo sem lei que o estabeleça.
No mesmo inciso, podemos observar duas proibições expressas: é vedado
criar ou aumentar tributo, sem a existência anterior de uma lei autorizadora.
Com relação à criação de tributo, o artigo 97 do Código Tributário Nacional
traz taxativamente os elementos mínimos que devem estar contidos na lei que
institui um tributo. Quais sejam:
•  Fato gerador,
•  Alíquota,
•  Base de cálculo,
•  Sujeito passivo e;
•  Penalidades.

Somando-se tudo isto, podemos concluir que o tributo, para ter sua existên-
cia juridicamente perfeita, deve haver lei que o institui (princípio da legalidade
tributária), sendo que a lei instituidora deve definir o fato gerador, a alíquota, a
base de cálculo, o sujeito passivo e as penalidades (estrita legalidade).

Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à


União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
I - exigir ou aumentar tributo sem lei que o estabeleça;

Pretende-se, sim, que a lei tributária proponha-se a definir in


abstrato todos os aspectos relevantes da fisiologia do tributo,
para que se possa, in concreto, identificar o quanto se pagará,
por que se pagará a quem se pagará, entre outras respostas às
naturais indagações que se formam diante do fenômeno da
incidência (SABBAG, 2009, p. 29)

18 • capítulo 1
Vimos que o aumento de um tributo também deve estar vinculado a uma
lei anterior autorizadora. Cumpre esclarecer que o aumento de um tributo
pode ocorrer de duas formas: pelo aumento da alíquota ou pelo aumento da
base de cálculo. Mas, segundo o CTN (art. 97, § 2º), não é considerado au-
mento de tributo a atualização do valor monetário da base de cálculo, o que
poderá ser feito, evidentemente, por um decreto do Poder Executivo.
Importante salientar que, segundo a própria Constituição Federal, há al-
guns tributos que poderão ter suas alíquotas aumentadas, sem que haja lei,
apenas por força de um ato do Poder Executivo (Decreto Presidencial ou Por-
taria do Ministro da Fazenda), desde que atendidas as condições e os limites
estabelecidos em lei. São eles:
•  Imposto sobre impostação (II);
•  Imposto sobre a exportação (IE);
•  Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI);
•  Imposto sobre Operações de crédito, Câmbio e Seguros (IOF);
•  CIDE-Combustível; e
•  ICMS-Combustível.

A razão do aumento destes tributos serem exceções à aplicação do princí-


pio da legalidade, segundo a própria Constituição Federal, é que são tributos
que cumprem sua função extrafiscal, ou seja, são instrumentos financeiros
utilizado pelo governo para inibir ou estimular certas condutas de mercado.

1.2.1.3  Princípio da anterioridade


Para evitar surpresa tributária, com um aumento repentino de um tributo, a
Constituição Federal estabeleceu no art. 150, II, b e c, o princípio da anteriori-
dade tributária. Aglutinando as duas alíneas (b e c), concluímos que é vedado
aumentar tributo no mesmo exercício financeiro em que haja sido publicada
a lei que os instituiu ou aumentou (princípio da anterioridade anual), assim
como antes de decorridos noventa dias da data em que haja sido publicada a lei
que os instituiu ou aumentou (princípio da anterioridade nonagesimal).
Pelo princípio da anterioridade anual (art. 150, II, b), o tributo criado ou
majorado somente pode ser cobrado, no exercício seguinte ao que haja sido
publicada a lei que o criou ou majorou. Por exemplo: um município resolve
criar uma determinada taxa, sendo que após a lei por todo o processo legisla-
tivo, foi publicada no Diário Oficial em 4 de agosto de 2010. Logo, a cobrança
desta taxa somente pode ocorrer a partir de 1º de janeiro de 2011.

capítulo 1 • 19
O princípio da anterioridade nonagesimal (art. 150, II, c), que deve ser apli-
cado conjuntamente com o princípio da anterioridade anual, estabelece que
o tributo criado ou aumentado somente pode ser cobrado após a decorrência
do prazo de noventa dias da publicação da lei que o criou ou aumentou. Este
princípio foi inserido na Carta Constitucional através da Emenda nº 42/2003,
vez que era prática do governo criar ou aumentar tributo nos últimos dias do
exercício e já cobrá-lo nos próximos dias, vez que se encontrava em exercício
posterior ao da publicação da lei.
Assim, pelo princípio da anterioridade nonagesimal, se um municí-
pio resolveu criar uma determinada taxa, cuja lei instituidora foi publi-
cada no Diário Oficial em 21 de dezembro de 2009, a cobrança desta taxa
somente pode ocorrer a partir de 21 de março de 2010, e não a partir de
1º de janeiro de 2010, como era possível antes da edição da Emenda Constitu-
cional nº 42/2003.
Também pelo motivo de preservar a função extrafiscal de alguns tributos, a
Constituição Federal estabeleceu exceções à aplicação dos princípios da ante-
rioridade anual e nonagesimal.

Não se aplica o princípio da anterioridade anual aos seguintes tributos:


•  Imposto sobre impostação (II);
•  Imposto sobre a exportação (IE);
•  Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI);
•  Imposto sobre Operações de crédito, Câmbio e Seguros (IOF);
•  Imposto Extraordinário de Guerra (IEG);
•  Empréstimo compulsório em caso da calamidade pública ou guerra de-
clarada;
•  CIDE-Combustível; e
•  ICMS-Combustível.

Não se aplica o princípio da anterioridade nonagesimal aos seguintes tributos:


•  Imposto sobre impostação (II);
•  Imposto sobre a exportação (IE);
•  Imposto sobre Renda (IR);
•  Imposto sobre Operações de crédito, Câmbio e Seguros (IOF);
•  Imposto Extraordinário de Guerra (IEG);

20 • capítulo 1
•  Empréstimo compulsório em caso da calamidade pública ou guerra de-
clarada; e
•  Fixação da base de cálculo do IPTU e IPVA.

1.2.1.4  Princípio da isonomia tributária


O princípio da isonomia tributária decorre do direito fundamental previsto no
caput do artigo 5º da Constituição Federal, o qual reza que todos são iguais pe-
rante a lei. Para este princípio tributário, previsto no art. 150, II, da CF, é vedado
instituir tratamento desigual entre contribuintes que se encontrem em situa-
ção equivalente, proibida qualquer distinção em razão de ocupação profissio-
nal ou função por eles exercida, independentemente da denominação jurídica
dos rendimentos, títulos ou direitos.
Lei que institui tratamento mais benéfico a determinado grupo de contri-
buintes, desde que seja em respeito à capacidade contributiva destes, não fere
o princípio da isonomia tributária, pois a própria Constituição Federal, no art.
145, § 1º, reza que sempre que possível, os impostos terão caráter pessoal e se-
rão graduados segundo a capacidade econômica do contribuinte, facultado à
administração tributária, especialmente para conferir efetividade a esses obje-
tivos, identificar, respeitados os direitos individuais e nos termos da lei, o patri-
mônio, os rendimentos e as atividades econômicas do contribuinte.

1.2.1.5  Princípio da irretroatividade tributária


Por questão de segurança jurídica, o princípio da irretroatividade tributária,
tratado no art. 150, III, a, da Constituição Federal, determina que é vedado co-
brar tributos em relação a fatos geradores ocorridos antes do início da vigência
da lei que os houver instituído ou aumentado.
Veremos adiante o significado exato do fato gerador, mas, de antemão, fi-
camos com a orientação constitucional de que a lei a ser aplicada em uma de-
terminada obrigação tributária, é exatamente aquele em vigor no momento da
ocorrência do fato gerador.

1.2.1.6  Princípio da vedação ao conFisco


O art. 150, IV, da Constituição Federal diz ser vedada a utilização de tributo com
efeito de conFisco. Este princípio é até os dias atuais um dos mais polêmicos,
pois ainda há muita divergência doutrinária e jurisprudencial na interpretação
correta do significado do efeito confiscatório. Em linhas gerais, o efeito confis-

capítulo 1 • 21
catório é aquele produzido por uma carga tributária intensa ao pondo de im-
plicar em comprometimento do patrimônio ou o rendimento do contribuinte.
Gera efeito confiscatório, portanto, a tributação que afete penosamente o
patrimônio e/ou rendimento do contribuinte, limitando o de exercer o direito a
uma existência digna ou a satisfação de suas necessidades vitais.
Atualmente, prevalece no Supremo Tribunal Federal a tese de que o caráter
confiscatório deve ser avaliado pela carga total do sistema tributário e não em
função de cada tributo isoladamente. Pelo que vimos no início desta unidade,
nos últimos anos, a soma de todos os impostos, taxas e contribuições pagos
pelas empresas e cidadãos aos três níveis de governo, representa algo entre 33%
a 35% do Produto Interno Bruto (PIB).

1.2.1.7  Princípio da liberdade de tráfego


Pelo princípio da liberdade de tráfego, é vedado estabelecer limitações ao tráfe-
go de pessoas ou bens, por meio de tributos interestaduais ou intermunicipais,
ressalvada a cobrança de pedágio pela utilização de vias conservadas pelo Po-
der Público (art. 150, V, CF)

CONCEITO
Supremo Tribunal Federal é a mais alta corte de justiça do Brasil, cuja função principal é
servir como guardião da Constituição Federal. É composto por onze ministros e está sediado
em Brasília-DF.

1.2.1.8  Princípio da uniformidade geográfica


Segundo o art. 151, I, da Constituição Federal, é vedado à União instituir tributo
que não seja uniforme em todo o território nacional ou que implique distin-
ção ou preferência em relação a Estado, ao Distrito Federal ou a Município, em
detrimento de outro, admitida a concessão de incentivos fiscais destinados a
promover o equilíbrio do desenvolvimento sócio-econômico entre as diferen-
tes regiões do País.
Portanto, um determinado tributo federal deve possuir a mesma alíquota
em todo o território nacional. Como se depreende do texto constitucional,
fica ressalvada a possibilidade a criação de incentivos fiscais a serem aplica-
dos em uma determinada região geográfica, como é o caso da isenção do IPI
para empresas que estão instaladas na Zona Franca de Manaus.

22 • capítulo 1
ATIVIDADE
Responda às questões a seguir:

1.  O princípio da irretroatividade da lei tributária veda a cobrança de tributo em relação a


fatos geradores:
a) Ocorridos antes de 1º de Janeiro do exercício seguinte ao da publicação da lei
instituidora.

b) Pendentes no início da vigência da lei que os houver instituído.

c) Ocorridos após a vigência da lei que os houver instituído.

d) Ocorridos antes da vigência da lei instituidora.

REFLEXÃO
Em razão do que estudamos neste capítulo, podemos perceber facilmente que o Direito
Tributário, além de cuidar de regras jurídicas que permitem ao Estado exercer sua atividade
tributária perante os particulares, é também um grande instrumento legal protetor dos inte-
resses patrimoniais dos próprios contribuintes.
Deste modo, a Constituição Federal, ao permitir o poder de tributar à União, aos Estados,
ao Distrito Federal e aos Municípios, também delineou os limites deste poder de tributar, a
fim de que garanta aos contribuintes a proteção de seu patrimônio.

LEITURA RECOMENDADA
MARTINS, Alan; SCARDOELLI, Dimas Yamada. Resumo de direito tributário. Leme: J. H.
Mizuno, 2008.

SABBAG, Eduardo. Manual de direito tributário. São Paulo: Saraiva, 2009.

capítulo 1 • 23
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de direito financeiro e de direito tributário 9 ed. São Paulo:
Saraiva, 2002.

BULOS, Uadi Lammêgo. Curso de direito constitucional. 3. ed. rev. e atual. São Paulo: Sa-
raiva, 2009.

DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos de teoria geral do estado. 28 ed. São Paulo: Saraiva,
2009.

GOMES, Orlando. Obrigações. 12. ed. Forense: Rio de Janeiro, 1999.

MARTINS, Alan; SCARDOELLI, Dimas Yamada. Resumo de direito tributário. Leme: J. H.


Mizuno, 2008.

SABBAG, Eduardo. Manual de direito tributário. São Paulo: Saraiva, 2009.

BALEEIRO, Aliomar. Limitações Constitucionais ao Poder de Tributar. (Revista e atu-


alizada por Mizabel Derzi). Rio de Janeiro: Forense, 1998, p. 01.

NO PRÓXIMO CAPÍTULO
O próximo capítulo será dedicado ao estudo da teoria geral do direito tributário e sujeitos e
classificação dos tributos, lições importantíssimas para a compreensão do direito tributário.

24 • capítulo 1
2
Teoria Geral do
Direito Tribultário.
Sujeitos e
Classificação dos
Tributos
2  Teoria Geral do Direito Tribultário. Sujeitos
e Classificação dos Tributos

A obrigação tributária, em particular, surge de uma imposição legal (caráter com-


pulsório), independente de o contribuinte ter praticado um ato ilícito, bastando
que o mesmo tenha incorrido em um fato imponível. Neste capítulo, teremos a
oportunidade de estudar, de início, o surgimento da obrigação tributária, assim
como todos os elementos que compõem esta relação jurídico-obrigacional.

OBJETIVOS
A finalidade deste capítulo é, através do estudo das regras do Código Tributário Nacional,
possibilitar o entendimento da formação da obrigação tributária. Assim, teremos a oportu-
nidade de tratar sobre a obrigação tributária desde o seu nascimento, passando pelo fato
gerador, estabelecimentos dos sujeitos da obrigação tributária e demais noções para o início
do entendimento da regra matriz de incidência tributária.

REFLEXÃO
Você se lembra de ter recebido a cobrança para pagamento do IPVA do seu veículo ou o
IPTU de seu imóvel? Por que será que anualmente temos que pagar tais tributos? Ocorre que
a situação jurídica de sermos proprietário de um veículo ou de um imóvel é o suficiente para
caracterizar o fato gerador para a cobrança do IPVA ou IPTU.

2.1  Teoria Geral do Direito Tributário – Fato Gerador

O nascimento da obrigação tributária


O artigo 114 do Código Tributário Nacional, ao definir o fato gerador, utilizou-
se de uma expressão ambígua, de modo que descreveu no próprio artigo, tanto
a situação abstrata definida em lei, como a sua ocorrência no plano concreto
que dá nascimento à obrigação tributária.
Assim, em um primeiro momento, o Código Tributário Nacional usou-se
da expressão “fato gerador” no sentido jurídico de “hipótese de incidência”, ou

26 • capítulo 2
seja, a descrição legal de um fato ou uma situação jurídica abstrata que, quando
ocorrer no plano concreto, implicará no surgimento da obrigação tributária.
Porém, no mesmo texto legal, atribuiu à expressão “fato gerador” o sentido de
materialização da hipótese de incidência.
Pelo raciocínio do artigo 114 do Código Tributário, podemos concluir que o
surgimento de uma obrigação tributária decorre de dois fatores: 1º) a hipótese
de incidência prevista em lei e; 2º) a existência de um fato que materializa a
situação hipotética prevista legalmente.
Para facilitar o entendimento, podemos representar a relação jurídico-tri-
butária na forma de uma linha do tempo.

HIPÓTESE DE INCIDÊNCIA

FATOR GERADOR

OBRIGAÇÃO TRIBUTÁRIA

CRÉDITO TRIBUTÁRIO

Em decorrência do princípio da legalidade, já estudado na primeira unida-


de, sabemos que a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios não
podem cobrar tributo antes que haja uma lei o instituído. Ao criar o tributo, o
legislador, por força do artigo 97 do Código Tributário Nacional, deverá estabe-
lecer a hipótese de incidência.

CONCEITO
Art. 114. Fato gerador da obrigação principal é a situação definida em lei como necessária e
suficiente à sua ocorrência.

capítulo 2 • 27
Vejamos um exemplo sobre hipótese de incidência, utilizando a Lei nº 9.393,
de 19 de dezembro de 1996, que dispõe sobre o Imposto Territorial Rural (ITR):

“Art. 1º O Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural - ITR, de apuração anual, tem
como fato gerador a propriedade, o domínio útil ou a posse de imóvel por natureza,
localizado fora da zona urbana do município, em 1º de janeiro de cada ano.”

Interpretando o artigo acima transcrito, concluímos o seguinte: todos que


se encontram na propriedade, no domínio útil ou na posse de imóvel localizado
fora da zona urbana deverá pagar anualmente o Imposto sobre a Propriedade
Territorial Rural – ITR.
Uma vez em vigor lei autorizadora da cobrança de um determinado tributo,
a ocorrência concreta do fato gerador é suficiente para fazer surgir a obrigação
tributária.

O fato gerador
O fato gerador, também denominado de “fato imponível”, é a concretização
da hipótese de incidência, representando o momento em que ocorre sua rea-
lização. Importante ressaltar que o fato real precisa possui uma acomodação
perfeita com a descrição hipotética, sob pena do não surgimento da obrigação
tributária, evento denominado de “não incidência tributária”.
Em geral, é considerado ocorrido o fato gerador e, existentes os seus efeitos,
desde o momento em que o se verifiquem as circunstâncias materiais necessá-
rias a que produza os efeitos que normalmente lhe são próprios, tratando-se de
situação de fato. Sendo uma situação jurídica, desde o momento em que esteja
definitivamente constituída, nos termos de direito aplicável.
Importante ressaltar que a Lei Complementar nº 104, de 10 de janeiro de
2001, inseriu no Código Tributário Nacional, comando legal que ficou conhe-
cido por “norma antielisão”. Elisão é ato ou efeito de eliminar e, em matéria
tributária, forma de suprimir a ocorrência do fato gerador com o propósito de
não pagar tributo ou pagar o menor valor possível.
Assim, a LC nº 104/2001 acrescentou o parágrafo único no artigo 116, do
Código Tributário Nacional, o qual estabeleceu que a autoridade administrati-
va poderá desconsiderar atos ou negócios jurídicos praticados com a finalidade
de dissimular a ocorrência do fato gerador do tributo ou a natureza dos elemen-

28 • capítulo 2
tos constitutivos da obrigação tributária, observados os procedimentos a serem
estabelecidos em lei ordinária.
Pela dicção do artigo 116, do Código Tributário Nacional, as autoridades ad-
ministrativas poderão anular atos ou negócios jurídicos dissimulados que tive-
ram o propósito específico impedir a configuração do fato gerador de um tributo.

2.1.1  Sujeitos do Tributo

2.1.1.1  O sujeito ativo da relação tributária

Assim que a ocorrência do fato gerador deu ensejo a obrigação tributária,


forma-se uma relação jurídica entre dois sujeitos, o sujeito ativo (credor) e o
sujeito passivo (devedor).

SUJEITO ATIVO obrigação tributária SUJEITO PASSIVO

Segundo o artigo 119 do Código Tributário Nacional, o sujeito ativo da obri-


gação é a pessoa jurídica de direito público, titular da competência para exigir
o seu cumprimento.
Em um primeiro momento, ocupa a posição de sujeito ativo, a União, os Es-
tados, o Distrito Federal e os Municípios, dentro das competências tributárias
outorgadas pela Constituição Federal. São chamados de sujeitos ativos diretos.
Porém, por delegação, os sujeitos ativos diretos podem transferir para entidades
parafiscais, tais como CREA, CRM, CRC, entre outros, a capacidade tributária
ativa, permitindo a estes órgãos parafiscais o poder de arrecadação e fiscaliza-
ção de contribuições. Tais entidades são intituladas de sujeitos ativos indiretos.

CONEXÃO
Leia mais sobre a relação jurídico-tributária. Acesse: http://www.fdc.br/Arquivos/Mestrado/
Revistas/Revista06/Docente/02.pdf

capítulo 2 • 29
2.1.1.2  O sujeito passivo da relação tributária
Para o artigo 121 do Código Tributário Nacional, sujeito passivo da obrigação prin-
cipal é a pessoa obrigada ao pagamento de tributo ou penalidade pecuniária. Por-
tanto, refere-se ao polo passivo, ou seja, o lado do devedor da relação tributária.

CONEXÃO
Leia mais sobre fato gerador. Acesse: http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=6128

Importante relembrar que, segundo o art. 97 do Código Tributário Nacio-


nal, a lei instituidora do tributo deve definir expressamente aquele que ocupará
o polo passivo.
Para elucidar, utilizaremos novamente a Lei nº 9.393, de 19 de dezembro de
1996, que dispõe sobre o Imposto Territorial Rural (ITR). Vejamos:
“Art. 4º Contribuinte do ITR é o proprietário de imóvel rural, o titular de seu
domínio útil ou o seu possuidor a qualquer título.”
Analisando o texto legal acima, concluímos que o contribuinte do ITR é
aquele que se encontra na situação jurídica de proprietário, titular de domínio
útil ou possuidor de um imóvel rural.
Segundo o artigo 121, parágrafo único, do Código Tributário Nacional, há
duas modalidades de sujeito passivo da relação tributária principal:
•  Contribuinte: aquele que tem relação pessoal e direta com a situação que
constitua o respectivo fato gerador; e
•  Responsável: aquele que, sem revestir a condição de contribuinte, sua
obrigação decorra de disposição expressa de lei.
O contribuinte, também denominado de sujeito passivo direto, possui uma
relação com a ocorrência do fato gerador. Por exemplo, o proprietário de um
veículo automotor é contribuinte do IPVA, pois está diretamente relacionado à
situação jurídica ensejadora da cobrança do referido imposto.
Por sua vez, o responsável é aquele que a lei tributária o atribui a responsabili-
dade de pagar o tributo, embora não esteja na qualidade de contribuinte. É exem-
plo desta modalidade o empregador que fica na condição de responsável pelo pa-
gamento do Imposto de Renda do seu empregado, devendo aquele reter na fonte
o numerário necessário para o pagamento devido.
A definição legal do sujeito passivo da obrigação tributária, em cada espécie
de tributo, não poder ser alterada por vontade dos particulares. O artigo 123 do

30 • capítulo 2
Código Tributário Nacional diz que, salvo disposições de lei em contrário, as
convenções particulares, relativas à responsabilidade pelo pagamento de tribu-
tos, não podem ser opostas à Fazenda Pública, para modificar a definição legal
do sujeito passivo das obrigações tributárias correspondentes.
Deste modo, a título de exemplificação, como é comum em contratos de
locação, embora haja cláusula expressa que o pagamento do IPTU do imóvel
locado ficará a cargo do locatário, tal convenção não modifica o polo passivo da
relação tributária, pois o locador, como proprietário, permanecerá na condição
de contribuinte.

2.2  Conceito e Classificação dos Tributos

2.2.1  Os tributos

O termo tributo, no senso comum, é confundido com outros termos, tais como
impostos e taxas. Importante esclarecer que tributo é o gênero, enquanto im-
postos, taxas, contribuições de melhoria, empréstimos compulsórios e contri-
buições são as espécies tributárias. Assim, quando utilizarmos o termo “tribu-
to”, estamos abrangendo todas as espécies tributárias, as quais serão estudadas
cuidadosamente na próxima unidade.
O Código Tributário Nacional, em seu artigo 3º, cuidou de trazer uma defini-
ção legal do que venha a ser tributo. Segundo a legislação, tributo é toda prestação
pecuniária compulsória, em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir, que não
constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada mediante atividade ad-
ministrativa plenamente vinculada.
Estamos diante de um concei-
to amplo, o qual merece destaque,
estudando as partes que o compõe,
a fim de que seja plenamente com-
preensível a sua lógica. Portanto, o
primeiro ponto a ser destacado é o
fato de o tributo ser uma “prestação
pecuniária compulsória”.
A palavra prestação, no mundo jurídico, remete-nos automaticamente a
outro termo que é “obrigação”. Gomes (1999), destaca que a obrigação é fruto
de um vínculo jurídico entre duas partes, em virtude da qual uma delas fica

capítulo 2 • 31
adstrita a satisfazer uma prestação patrimonial de interesse a outra, que pode
exigi-la, se não for cumprida espontaneamente, mediante agressão ao patrimô-
nio do devedor.
Nesta linha de entendimento, podemos entender que o tributo (prestação pa-
trimonial) é fruto de uma relação obrigacional entre os cidadãos (contribuintes)
e o Estado (Fisco). O termo “pecuniário” encontrado no artigo 3º tem o significa-
do de meio circulante (moeda). Assim, entendemos que tributo é uma espécie de
prestação que se paga pelo emprego de dinheiro.
O Código Tributário Nacional (CTN), ao tratar do tributo como uma presta-
ção pecuniária, utiliza da expressão “compulsória” e ainda que “não constitua
sanção de ato ilícito”.
Em linhas gerais, as obrigações decorrem da expressão das vontades (obri-
gações volitivas), como é o caso de uma pessoa que toma emprestado dinheiro
de outra, criando a obrigação de devolver a quantia tomada nas condições esta-
belecidas no contrato. Há também, obrigações que surgem independentemen-
te da vontade (obrigações não volitivas), mas por imposição legal na forma de
uma sanção de ato ilícito, como é o caso de uma pessoa que causa certo dano a
outrem, em virtude de uma ilicitude, cabendo neste caso uma indenização para
reparação de danos.
Os tributos, também como uma modalidade de obrigação, não decorrem
da vontade do contribuinte; por isso o artigo 3º do Código Tributário Nacional
é explícito em dizer que possui natureza compulsória. Porém, também não é
uma punição (sanção) pela prática de um ato ilícito, vez que não se paga tributo
pelo ato de ter praticado algo contrário à lei.
Assim, o tributo é de natureza compulsória, sendo que o seu pagamento
independe da vontade do contribuinte, mas por imposição legal, além de não
ser de natureza punitiva, pois sua obrigatoriedade não está ligada a prática de
qualquer delito. Já estudamos que a obrigação tributária existe a partir de um
evento jurídico denominado “fato gerador”.
Destacamos ainda que, segundo o artigo 3º do Código Tributário Nacional ,
o tributo é uma obrigação expressa em moeda, sendo que estamos nos referin-
do à moeda em sua função de unidade padrão de medida de valor. Para tanto,
também veremos que se faz necessário o ato administrativo denominado lan-
çamento para que a obrigação tributária se converta em um crédito tributário.
Outro ponto crucial é o fato do artigo 3º do Código Tributário Nacional afir-
mar que o tributo é instituído por lei.

32 • capítulo 2
Por fim, o Código Tributário Nacional, ao tratar da definição de tributo, es-
tabelece que a cobrança deste esteja vinculada a uma atividade administrativa
estatal (administração tributária), a qual exerce sua atividade fiscal de acordo
com o que a lei tributária permite, sob pena de ser considerado abuso ou desvio
de poder.
Deste modo, podemos destacar as seguintes características dos tributos, con-
forme a análise do teor do artigo 3º do Código Tributário Nacional:
•  compulsoriedade: o pagamento do tributo é exigência legal que indepen-
de da vontade do contribuinte
•  mensuarabilidade econômica: por ser pago em dinheiro, a prestação tributá-
ria deve ser expressa em moeda corrente nacional.
•  caráter não punitivo: embora o pagamento do tributo seja uma imposi-
ção da lei, não se trata de uma punição pela prática de uma atitude ilícita.
•  legalidade: a criação do tributo deve estar previsto em lei.
•  não discricionariedade na cobrança: a administração tributária deve exer-
cer o poder de tributar conforme as determinações legais, sob pena de
ser considerado abuso ou desvio de poder

2.2.2  Os tributos em espécie

Como já ficou advertido, o termo jurídico tributo, designa um gênero do qual


fazem parte as espécies: imposto, taxa, contribuição de melhoria, empréstimo
compulsório e contribuição social. Veremos a partir de agora, cada uma das
modalidades.

2.2.3  Os impostos

Segundo o artigo 16 do Código Tributário Nacional, imposto é o tributo cuja


obrigação tem por fato gerador uma situação independente de qualquer ativi-
dade estatal específica, relativa ao contribuinte.
Diante da definição legal apresentada pelo Código Tributário Nacional, a gran-
de característica dos impostos é a sua natureza não vinculada, ou seja, a hipótese
de incidência é um fato alheio a qualquer atuação do poder Público. Deste modo,
para o pagamento do imposto, basta a realização, pelo contribuinte, de um fato
gerador descrito em lei.

capítulo 2 • 33
A existência do imposto não está vinculada a uma atividade estatal, mas em
um comportamento ou situação vinculada ao próprio contribuinte. Por exem-
plo, paga-se IPTU não pelo fato do município ter prestado algum serviço em
favor de um munícipe, mas, simplesmente, por este ser proprietário de um
imóvel urbano (fato gerador).

O fato gerador do imposto é uma situação (por exemplo, aquisição de renda, prestação de
serviços etc), que não supõe nem se conecta com nenhuma atividade do Estado especi-
ficamente dirigida ao contribuinte. Ou seja, para exigir imposto de certo indivíduo, não é
preciso que o Estado lhe preste algo determinado. A atuação do Estado dirigida a prover
o bem comum beneficia o contribuinte, mas este frui das utilidades que o Estado fornece
porque é membro da comunidade e não por ser contribuinte (AMARO, 2010, p. 30).

Sabbag (2009) afirma que essa é a razão por que


se diz que o imposto é “tributo unilateral, tributo
sem causa ou gravame não-contraprestacional”, uma
vez que desvinculado de qualquer atividade estatal
correspectiva.
Outra característica importante a ser ressaltada
é que o art. 167, IV, da Constituição Federal veda ex-
pressamente a destinação específica do produto da
arrecadação de impostos.

Não é correta, pois, a assertiva de que o IPVA (imposto sobre propriedade de veículos
automotores) seria o imposto das estradas, até porque, como explicado, a vinculação do
produto de sua arrecadação à construção de vias públicas e rodovias é constitucional-
mente vedada (MARTINS e SCARDOELLI, 2008, p. 39)

São competentes para instituir impostos a União, os Estados, o Distrito Fe-


deral e os Municípios, conforme pronunciado no art. 145 da CF, sendo que as
competências de cada unidade federativa são privativas. Assim, a Constituição
Federal, ao enumerar taxativamente a lista dos impostos, também indicou a
cada uma das pessoas políticas competente para os instituírem, distribuindo
os em impostos federais, estaduais e municipais. Deste modo, a Constituição
Federal atribuiu as seguintes competências:

34 • capítulo 2
À União:

Art. 153, I, CF Imposto sobre Importação

Art. 153, II, CF Imposto sobre Exportação

Art. 153, III, CF Imposto de Renda

Art. 153, IV, CF Imposto sobre Produto Industrializado

Art. 153, V, CF Imposto sobre Operações Financeiras

Art. 153, VI, CF Imposto Territorial Rural

Art. 153, VII, CF Imposto sobre Grandes Fortunas

Art. 167. São vedados:


(...)
IV - a vinculação de receita de impostos a órgão, fundo ou despesa, ressalvadas a repar-
tição do produto da arrecadação dos impostos a que se referem os arts. 158 e 159, a
destinação de recursos para as ações e serviços públicos de saúde, para manutenção e
desenvolvimento do ensino e para realização de atividades da administração tributária,
como determinado, respectivamente, pelos arts. 198, § 2º, 212 e 37, XXII, e a prestação
de garantias às operações de crédito por antecipação de receita, previstas no art. 165,
§ 8º, bem como o disposto no § 4º deste artigo;

Art. 154, I, CF Imposto Residual

Art. 154, II, CF Imposto Extraordinário de Guerra

Aos Estados e ao Distrito Federal:

Art. 155, I, CF Imposto sobre transmissão “causa mortis” e doação

Imposto sobre operações Circulação de Mercadorias e presta-


Art. 155, II, CF ção de serviços de transporte interestadual e intermunicipal e
de comunicação

Art. 155, III, CF Imposto sobre propriedade de veículos automotores

capítulo 2 • 35
Aos Municípios:

Art. 156, I, CF Imposto sobre propriedade territorial urbana

Art. 156, II, CF Imposto sobre transmissão de bens imóveis, por ato “inter vivos”

Art. 156, III, CF Imposto sobre serviços de qualquer natureza

Além das competências privativas para instituir os impostos previstos no


artigo 153 (impostos federais), artigo 155 (impostos dos estados e do distrito
federal) e artigo 156 (impostos municipais), a Constituição Federal, em seu ar-
tigo 154, atribuiu à União uma competência residual e excepcional, podendo,
mediante lei complementar, instituir outros impostos, desde que sejam não-
cumulativos e não tenham fato gerador ou base de cálculo próprios dos já no-
minados, assim como, na iminência ou no caso de guerra externa, impostos ex-
traordinários, compreendidos ou não em sua competência tributária, os quais
serão suprimidos, gradativamente, cessadas as causas de sua criação.
No Código Tributário Nacional, os impostos são classificados segundo a na-
tureza econômica de fato gerador. Vejamos:

Impostos sobre o - Imposto sobre Importação (II)


comércio exterior - Imposto sobre Exportação (IE)

- Imposto sobre a propriedade territorial rural (ITR)


- Imposto sobre a propriedade territorial e predial urbana (IPTU)
Impostos sobre
- Imposto sobre a transmissão de bens imóveis e direitos a eles
patrimônio e
relativos (ITBI)
renda
- Imposto sobre transmissão causa mortis e doação (ITCMD)
- Imposto sobre a renda e proventos de qualquer natureza (IR)

- Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI);


- Imposto sobre Operações de crédito, Câmbio e Seguros (IOF)
Impostos sobre a
- Imposto sobre operações Circulação de Mercadorias e presta-
circulação e pro-
ção de serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de
dução
comunicação (ICMS)
- Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISSQN)

É também muito didática a classificação doutrinária quanto aos impostos,


que os distinguem em impostos diretos e indiretos, impostos reais e pessoais,

36 • capítulo 2
impostos fiscais e extrafiscais, impostos progressivos, proporcionais e seletivos.

2.2.4  Impostos diretos e indiretos

O imposto direto é aquele que a carga econômica é suportada exclusivamente


por aquele que deu ensejo ao fato gerador, como é o caso do IR, IPTU, IPVA,
ITBI e ITCMD. O imposto indireto repercute em outra pessoa que não tem rela-
ção direta com o fato gerador. Como diz Sabbag (2009), no âmbito do imposto
indireto, transfere-se o ônus para o contribuinte de fato, não se onerando o con-
tribuinte de direito, como são os casos do IPI e do ICMS.

2.2.5  Impostos pessoais e reais

Quando a cobrança de um imposto leva em con-


sideração as condições pessoais do contribuin-
te, podemos classificá-lo com imposto pessoal,
como é o caso do IR. Por sua vez,os impostos re-
ais são mensurados com base no próprio bem,
independentemente das condições pessoais do
contribuinte, como podem ser o IPI, ICMS, IPTU,
IPVA, ITR, IOF e outros, com exceção ao IR.

2.2.6  Impostos fiscais e extrafiscais

Os impostos fiscais são aqueles cuja função, para o Estado, é estritamente arre-
cadatória, como são o IR, ITBI, ITCMD, ISS, dentro outros. Os impostos extra-
fiscais, além de prover o Estado com recursos financeiros, possuem também a
aptidão de reguladores de mercado ou da economia, como são o II, IE, IPI IOF,
dentro outros.

2.2.7  Impostos progressivos, proporcionais e seletivos

O imposto é proporcional quando a forma de sua cobrança utiliza de um mé-


todo de alíquotas variadas, sendo que o aumento destas ocorre na medida em
que majora a base de cálculo. Um exemplo cabível é a tabela utilizada para
a apuração do imposto de renda da pessoa física (IRPF). Observe a tabela de
alíquota de imposto de renda retido na fonte, em vigor em 2010:

capítulo 2 • 37
BASE DE CÁLCULO (R$) ALÍQUOTA (%)
até 1.499,15 0

de 1.499,16 até 2.246,75 7,5

de 2.246,76 até 2.995,70 15

de 2.995,71 até 3.743,19 22,5

acima de 3.743,19 27,5

A progressividade de alíquotas pode ter caráter meramente fiscal, sendo


que aquele que possui maiores condições, paga-se mais, ou então possui cará-
ter extrafiscal, como se aplica atualmente na apuração do ITR, a fim de onerar
as terras com baixo índice de produtividade. Veja a tabela de alíquota do ITR:

ÁREA TOTAL GRAU DE UTILIZAÇÃO (EM %)


DO IMÓVEL
Maior que Maior que Maior que Maior que
(EM HECTARES) 80 65 até 80 50 até 65 30 até 50
Até 30

Até 50 0,03 0,20 0,40 0,70 1,00

Maior que 50 até 200 0,07 0,40 0,80 1,40 2,00

Maior que 200 até 500 0,10 0,60 1,30 2,30 3,30

Maior que 500 até 1.000 0,15 0,85 1,90 3,30 4,70

Maior que 1.000 até


0,30 1,60 3,40 6,00 8,60
5.000

Acima de 5.000 0,45 3,00 6,40 12,00 20,00

Diz ser proporcional, o imposto que possui uma alíquota fixa, com uma
base de cálculo variável, de modo que o desembolso do contribuinte é propor-
cional à grandeza da expressão econômica do fato tributado.
Por fim, é considerado seletivo, aquele imposto cuja alíquota é definida
conforme a essencialidade do fato tributado, como podemos observar as di-

38 • capítulo 2
versas alíquotas para a apuração do IPI, cujo fator de variação é justamente a
essencialidade do consumo do produto industrializado.

2.2.8  As taxas

O artigo 77 do Código Tributário Nacional define as taxas como o tributo que


tem como fato gerador o exercício regular do poder de polícia, ou a utilização,
efetiva ou potencial, de serviço público específico e divisível, prestado ao con-
tribuinte ou posto à sua disposição.
Por uma simples leitura do dispositivo legal acima mencionado, podemos
concluir que as taxas possuem natureza vinculada, pois seu fato gerador está
relacionado a uma atividade específica (prestação de serviço público ou exer-
cício regular de polícia) prestada pelo Estado ao contribuinte. Portanto, a taxa
é um tributo vinculado à ação estatal, atrelando-se à atividade pública e não à
ação do particular.

O fato gerador da taxa não é um fato do contribuinte, mas um fato do Estado. O Estado
exerce determinada atividade e, por isso, cobra a taxa da pessoa a quem aproveita
aquela atividade (AMARO, 2010, p. 31)

Pelo teor do artigo 77 do Código Tributário Nacional, o fato gerador para en-
sejar a cobrança de taxa está relacionado ao exercício regular de polícia (artigo
78) ou a uma atividade de prestação de serviço público prestada pelo Estado ao
contribuinte (artigo 79). Importante analisarmos cada modalidade.

2.2.9  Taxa de polícia

Considera-se poder de polícia atividade da administração pública que, limi-


tando ou disciplinando direito, interesse ou liberdade, regula a prática de ato
ou a abstenção de fato, em razão de interesse público concernente à seguran-
ça, à higiene, à ordem, aos costumes, à disciplina da produção e do mercado,
ao exercício de atividades econômicas dependentes de concessão ou autori-
zação do Poder Público, à tranquilidade pública ou ao respeito à propriedade
e aos direitos individuais ou coletivos (art. 78, CTN)

capítulo 2 • 39
A taxa de polícia, também conhecida como taxa de fiscalização, tem por fato
gerador um ato de polícia, realizado pelos mais diversos órgãos de fiscalização
da Administração Pública. Amaro (2010) ensina que a taxa de polícia é cobrada
em razão da atividade do Estado, que verifica o cumprimento das exigências
legais pertinentes e concede licença, autorização, alvará e etc.
Considera-se regular o exercício do poder de polícia quando desempenha-
do pelo órgão competente nos limites da lei aplicável, com observância do pro-
cesso legal e, tratando-se de atividade que a lei tenha como discricionária, sem
abuso ou desvio de poder (art. 78, § único, CTN).
Sabbag (2009) nos fornece alguns exemplos de atividades fiscalizatórias que
permitem a cobrança de taxa de polícia:
•  Taxa de alvará (ou de funcionamento);
•  Taxa de fiscalização de anúncio;
•  Taxa de fiscalização dos mercados de títulos e valores mobiliários pela
CVM;
•  Taxa de controle e fiscalização ambiental;
•  Taxa de fiscalização dos serviços de cartórios extrajudiciais.

ATENÇÃO
A diferença entre taxa e imposto está na existência ou não de uma prestação ao contribuinte.

2.2.10  Taxa de serviço

Segundo o artigo 77 do Código Tributário Nacional, pode-se cobrar taxa em


razão da utilização, efetiva ou potencial, de serviço público específico e divisí-
vel, prestado ao contribuinte ou posto à sua disposição.
O serviço público é efetivamente usado pelo contribuinte quando for por
ele usufruído a qualquer título e, potencialmente, quando, sendo de utilização
compulsória, seja posto à sua disposição mediante atividade administrativa em
efetivo funcionamento.

Ato de polícia é uma atividade fiscalizatória que disciplina o exercício de um direito


individual para preservação do interesse público.

40 • capítulo 2
Sabbag (2009) ensina que utilização efetiva implica em um serviço concreta-
mente prestado, com fruição fática e materialmente detectável e, potencialmen-
te, quando um serviço é de utilização obrigatória e é colocado à disposição do
usuário-contribuinte, sem a correspondente utilização.
Por sua vez, conforme disposto no art. 79, II e III do CTN, são específicos os
serviços públicos, quando possam ser destacados em unidades autônomas de
intervenção, de unidade, ou de necessidades públicas e, divisíveis, quando sus-
cetíveis de utilização, separadamente, por parte de cada um dos seus usuários.
Assim, entendemos serem específicos os serviços públicos em que é possí-
vel identificar o seu usuário e, divisível, aquele passível de ser quantificável. No-
gueira (1995), diz que serviço divisível, necessário para a instituição da taxa, é o
suscetível de utilização individual pelo contribuinte, e específico é o destacável
em unidade autônoma.
A taxa não se confunde com a tarifa ou preço público. A tarifa é a remunera-
ção pela utilização facultativa e contratada de serviços, bens públicos ou aquisi-
ção de mercadorias. Martins e Scardoelli (2008), diz que tarifa constitui receita
originária do Estado, obtida da exploração do patrimônio público. São exem-
plos de preços públicos os cobrados dos usuários pelo serviço de transporte ur-
bano ou mesmo a cobrança de pedágio pela utilização de vias conservadas pelo
Poder Público.

2.2.11  Contribuição de melhoria

Conforme previsto no art. 81 do Código Tributário Nacional, a contribuição de


melhoria cobrada pela União, pelos Estados, pelo Distrito Federal ou pelos Mu-
nicípios, no âmbito de suas respectivas atribuições, é instituída para fazer face
ao custo de obras públicas de que decorra valorização imobiliária, tendo como
limite total a despesa realizada e como limite individual o acréscimo de valor que
da obra resultar para cada imóvel beneficiado.
Bastos (2002) ensina que a contribuição de melhoria é um tributo de moda-
lidade vinculada, porém indireta, pois além da atuação do Estado, necessário
se faz que se interponha uma consequência desta, a ocorrência de valorização
imobiliária.
Assim, o fato gerador da contribuição de melhoria é a valorização imobiliá-
ria decorrente de uma obra pública. Como bem observou Sabbag (2009), para
que se configure o fato gerador, não basta que haja obra pública, nem que haja

capítulo 2 • 41
valorização patrimonial imobiliária; é preciso haver direta relação entre a obra
e a valorização.
A lei que institui a contribuição de melhoria deverá publicar previamente do
memorial descritivo do projeto; do orçamento do custo da obra, da determina-
ção da parcela do custo da obra a ser financiada pela contribuição, da delimi-
tação da zona beneficiada, da determinação do fator de absorção do benefício
da valorização para toda a zona ou para cada uma das áreas diferenciadas, nela
contidas, da fixação de prazo não inferior a trinta dias, para impugnação pelos
interessados, de qualquer dos elementos referidos no inciso anterior, assim
como da regulamentação do processo administrativo de instrução e julgamen-
to da impugnação, sem prejuízo da sua apreciação judicial.
A contribuição relativa a cada imóvel será determinada pelo rateio da parce-
la do custo da obra, pelos imóveis situados na zona beneficiada em função dos
respectivos fatores individuais de valorização. Por ocasião do respectivo lança-
mento, cada contribuinte deverá ser notificado do montante da contribuição,
da forma e dos prazos de seu pagamento e dos elementos que integram o res-
pectivo cálculo.

2.2.12  Empréstimo compulsório

O artigo 148 da constituição Federal permite a União, mediante lei complemen-


tar, instituir empréstimos compulsórios para atender a despesas extraordinárias,
decorrentes de calamidade pública, de guerra externa ou sua iminência, ou no
caso de investimento público de caráter urgente e de relevante interesse nacional.
Trata-se de tributo de natureza polêmica, pois muitos entendem não se tratar
de tributo, vez que empréstimo tem caráter incompatível com receita. Porém, o
fato de ser obrigatório (compulsório), além da obrigatoriedade de observar as re-
gras de Direito Tributário, faz com que seja aceito como uma espécie de tributo.

CONCEITO
Empréstimo é negócio no qual uma pessoa utiliza algo que não é seu, com a promessa de
devolução futura.

42 • capítulo 2
Assim, empréstimo compulsório é uma espécie de tributo de competência
exclusiva da União, que é caracterizado por um empréstimo forçado feio pelo
contribuinte, com o compromisso de restituição por parte do Poder Público.
A lei que institui o empréstimo compulsório deve prever o retorno patrimo-
nial ao contribuinte da quantia tomada em empréstimo, em dinheiro e com
todos os acréscimos necessários para recompor o valor original, sob pena de
ser considerado confiscatório.
São duas as hipóteses de sua instituição: (i) despesas extraordinárias decor-
rentes de calamidade pública, guerra externa ou sua iminência; (ii) investimen-
to público de caráter urgente e de relevante interesse nacional.
Com relação à primeira hipótese, entende-se por despesa extraordinária
a utilização de recurso para fazer face a uma situação de anormalidade, não
previsível, caracterizada pelo esgotamento dos fundos disponíveis em cofres da
União, inclusive os fundos públicos de contingência.
Sabbag (2009) afirma que, mesmo diante de uma catástrofe em dado muni-
cípio ou estado-membro, o tributo continua sendo federal, não havendo a ne-
cessidade de que o cataclismo tenha proporções territoriais gigantescas, a fim
de justificar a competência da União.
Quando a cobrança do empréstimo compulsório advier de despesas extra-
ordinárias decorrente de guerra externa, a situação fática autorizadora deve
ser um conflito armado internacional, cuja iniciativa ocorreu por parte de
nação estrangeira, independentemente de uma declaração formal de guerra.
Por derradeiro, importante frisar que a criação de empréstimo compulsório
em virtude de investimento público de caráter urgente e de relevante interesse
nacional, deve observar o princípio constitucional da anterioridade.

2.2.13  Contribuições

A Constituição Federal, em seu artigo 149, permitiu exclusivamente à União,


instituir contribuições, de intervenção no domínio econômico e de interesse
das categorias profissionais ou econômicas.
Como se observa, a contribuição é uma espécie de tributo cuja principal
característica é financiar a intervenção do Estado no campo social e econômi-
co, garantindo a realização de sua política parafiscal de governo.

capítulo 2 • 43
Portanto, a contribuição é tributo devido a entidades paraestatais, em razão
de atividades especiais por elas desempenhadas. Nogueira (1995) afirma que as
contribuições são cobradas por autarquias, órgãos paraestatais de controle da
economia, profissionais ou sociais, para custear seu financiamento autônomo.
Interessante observar que a exigência do pagamento das contribuições está
desvinculada de qualquer atividade estatal correspectiva. No entanto, diferente-
mente dos impostos, possui natureza finalística, ou seja, sua existência depende
de uma destinação específica do montante arrecadado. Para Sabbag (2009), o que
caracteriza as contribuições é que o produto de suas arrecadações deve ser desti-
nado para financiar atividades de interesse público, beneficiando certo grupo, e
direta ou indiretamente, o contribuinte.
O artigo 149 da Constituição Federal contempla três espécies de contribui-
ção, quais sejam, contribuições de interesse das categorias profissionais, contri-
buições de intervenção no domínio econômico e contribuições sociais.

2.2.14  Contribuições de interesse das categorias profissionais

Esta modalidade de contribuição, destinada aos interesses das categorias profis-


sionais (trabalhadores) ou econômicas (empregadores), são denominadas como
contribuições profissionais ou corporativas. AMARO (2010) diz que a União dis-
ciplina por lei a atuação dessas entidades, conferindo-lhes, para que tenham su-
porte financeiro, a capacidade de arrecadar contribuições legalmente instituídas.

CONCEITO
O termo parafiscal envolve toda entidade autônoma, investida de competência para o desem-
penho de uma função de interesse público, como são os sindicatos e órgãos controladores
e fiscalizadores das profissões.

Neste grupo, temos a contribuição-anuidade e a contribuição sindical. A pri-


meira é destinada aos Conselhos Regionais de Fiscalização (CREA, CRM, CRC,
CRA, entre outros). A segunda é destinada aos sindicatos das classes profissio-
nais e é devida por todos aqueles que participarem de uma determinada cate-
goria econômica ou profissional, ou de uma profissão liberal, em favor do Sin-
dicato representativo da mesma categoria ou profissão (art. 579, CLT).

44 • capítulo 2
CONEXÃO
Leia mais sobre as contribuições sociais. Acesse: http://www.eclac.org/publicaciones/
xml/6/24456/LCBRSR158ContribuicoesSociaisErika.pdf

2.2.15  Contribuições de intervenção no domínio econômico

Também chamadas de contribuições interventivas ou de CIDEs, tem por finali-


dade ser um instrumento de planejamento econômico de governo, corrigindo
as distorções e abusos de segmentos, servindo como um mecanismo regulató-
rio de mercado.

“Tais contribuições têm como objetivo imediato servir de instrumento governamental


de gestão na Economia, de modo que sua finalidade é extrafiscal (ou seja, não tem na
arrecadação de numerários seu escopo primordial). Deve ser utilizada em regime de
exceção, ou seja, em caráter extraordinário que demande a organização de dado setor
da Economia, porventura desequilibrado.” (MARTIS e SCARDOELLI, 2008, p. 49)

Exemplos a serem destacados desta modalidade de contribuição são a CI-


DE-Combustível, CIDE-Royalies, Adicional de Tarifa Portuária-ATP, e Adicional
de Frete para Renovação da Marinha Mercante-AFRMM.

2.2.16  Contribuições sociais

Segundo Amaro (2010), a Constituição Federal caracteriza as contribuições so-


ciais pela sua destinação, vale dizer, são ingressos necessariamente direciona-
dos a instrumentalizar a atuação da União no setor da ordem social.
As contribuições sociais, segundo orientação do Supremo Tribunal Federal,
são subdivididas em três, (i) as contribuições sociais gerais, (ii) as contribuições
de seguridade social e (iii) outras contribuições sociais.
Muito ilustrativo é o quadro de exposição das contribuições sociais elabo-
rado por Sabbag (2009), seguindo a orientação do Supremo Tribunal Federal.
Vejamos:

capítulo 2 • 45
•  Contribuições Sociais Gerais:
–– Contribuição ao Salário-educação (art. 212, § 5º, CF)
–– Contribuições ao Sistema S (art. 240, CF)
•  Contribuições de Seguridade Social:
–– 1ª Fonte de custeio: importador (art. 195, IV, CF)
–– 2ª Fonte de custeio: receita de loterias (art. 195, III, CF)
–– 3ª Fonte de custeio: trabalhador (art. 195, II, CF)
–– 4ª Fonte de custeio: empregador e empresas (art. 195, I, CF)
▪▪ Contribuição social patronal sobre a folha de pagamento
▪▪ Contribuição ao PIS/PASEP
▪▪ Contribuição sobre o Lucro Líquido-CSLL
▪▪ Contribuição para Financiamento da Seguridade Social (COFINS)
•  Outras Contribuições Sociais:
–– Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF)
–– Contribuição para o Serviço de Iluminação Pública (COSIP)

CONEXÃO
Leia mais sobre as espécies tributárias. Acesse: http://www.tvjustica.jus.br/documentos/Curso
%20de%20Direito%20Tributario%20-%20Especies%20Tributarias%20-%20Patricia.pdf

ATIVIDADE
Responda às questões a seguir:

1.  Em 1999, Caio vendeu a Tício imóvel em relação ao qual pesava débito de Imposto
Predial e Territorial Urbano - IPTU, referente ao exercício de 1998. Em seguida, Tício
recebeu a notificação de cobrança do tributo e recusou-se a pagá-lo, argumentando
que na data de ocorrência do fato gerador o proprietário do imóvel era Caio. Além disso,
Caio assumiu contratualmente, perante Tício, a obrigação de pagar o IPTU vencido. O
procedimento fiscal está:
e) errado, pois o tributo só pode ser exigido de Caio, proprietário do imóvel no exercício
de 1998.
f) errado, pois Caio ainda consta como proprietário no cadastro imobiliário da Prefeitura
Municipal.

46 • capítulo 2
g) correto, pois o débito tributário relativo ao IPTU sub-roga-se na pessoa do adquirente
do imóvel, isto é, Tício.
h) errado, pois de acordo com o contrato celebrado entre Tício e Caio, o IPTU deve ser
pago por este.

2.  O sujeito passivo da obrigação principal que tenha relação pessoal e direta com a situa-
ção que caracteriza o fato gerador é denominado de:
a) cidadão.
b) responsável.
c) sujeito passivo derivado.
d) comissário.
e) contribuinte.

3.  O principal efeito produzido pelo fato gerador é o de:


a) propor a aplicação da penalidade cabível.
b) identificar o momento em que nasce a obrigação tributária.
c) quantificar o montante do tributo devido.

capítulo 2 • 47
3
Legislação Tributária
e a Obrigação
Tributária
3  Legislação Tributária e a Obrigação
Tributária

Neste capitulo vamos tratar de um conteúdo importantíssimo – o árduo traba-


lho desenvolvido pelos juristas ao buscarem a interpretação da norma tribu-
tária. Isto se faz necessário porque ao ser aplicada, é necessário buscar qual
foi o pensamento do legislador ao instituir determinado comando normativo,
ou seja, quais os valores que a legislação cuidou de assegurar – tarefa que nem
sempre é fácil. Também vamos entender como são classificadas as obrigações
tributárias, ou seja, o que são obrigações tributárias principais e acessórias. .

OBJETIVOS
Proporcionar ao acadêmico o conhecimento dos institutos e instrumentos que proporcionam
a interpretação da norma jurídica tributária (que não tolera a prática de excessos ou de
abusos no seu emprego, como por exemplo: exigir obrigação tributária não prevista em lei, ou
então, dispensar o pagamento do tributo quando não há permissivo legal para tanto, e en-
tender melhor a obrigação tributária - que não se resume apenas ao pagamento de tributos.

REFLEXÃO
De notícias questionando a legitimidade e legalidade de determinada decisão por parte das
autoridades fazendárias ao impor ao contribuinte a obrigação de pagar tributos cuja consti-
tucionalidade fosse questionável. Essa temática guarda estreita relação com as formas de
integração das normas jurídicas tributárias.

3.1  Legislação Tributária

Estabelece o artigo 96 do CTN:

A expressão “legislação tributária” compreende as leis, os tratados e as convenções


internacionais, os decretos e as normas complementares que versem, no todo ou em
parte, sobre tributos e relações jurídicas a eles pertinentes.

50 • capítulo 3
Segundo as disposições contidas no artigo 96 do Código Tributário Na-
cional, o conteúdo expresso no termo “legislação tributária”, abrange as leis,
os tratados e as convenções internacionais, os decretos e as normas comple-
mentares, sendo, portanto, referido artigo visto pela maioria dos juristas como
indicador das fontes do direito tributário dividindo-as em fontes primárias e
secundárias. As fontes primárias tem por missão a criação da obrigação tribu-
tária propriamente dita, sendo que as fontes secundárias tem por utilidade a
interpretação e aplicação das fontes primárias (SILVA e PEREIRA, 2009).
A doutrina reconhece como fontes primárias do direito tributário:
•  as Emendas Constitucionais
•  Leis Complementares;
•  Leis Ordinárias;
•  Leis Delegadas;
•  Medidas Provisórias;
•  Decretos Legislativos
•  Resoluções do Senado Federal.
As fontes secundárias seriam os
•  Decretos;
•  Normas Complementares (atos normativos, decisões administrativas,
usos e costumes da Administração, convênios celebrados entre União,
Estados, Distrito Federal e Municípios).
O artigo 97 do Código Tributário Nacional descreve o que cabe apenas a Lei
em sentido formal disciplinar em matéria tributária, como por exemplo o au-
mento, redução, instituição e extinção de qualquer tributo:

Art. 97. Somente a lei pode estabelecer:


I - a instituição de tributos, ou a sua extinção;
II - a majoração de tributos, ou sua redução, ressalvado o disposto nos artigos 21, 26,
39, 57 e 65;
III - a definição do fato gerador da obrigação tributária principal, ressalvado o disposto
no inciso I do § 3º do artigo 52, e do seu sujeito passivo;
IV - a fixação de alíquota do tributo e da sua base de cálculo, ressalvado o disposto nos
artigos 21, 26, 39, 57 e 65;
V - a cominação de penalidades para as ações ou omissões contrárias a seus disposi-
tivos, ou para outras infrações nela definidas;

capítulo 3 • 51
VI - as hipóteses de exclusão, suspensão e extinção de créditos tributários, ou de dis-
pensa ou redução de penalidades.
§ 1º Equipara-se à majoração do tributo a modificação da sua base de cálculo, que
importe em torná-lo mais oneroso.
§ 2º Não constitui majoração de tributo, para os fins do disposto no inciso II deste artigo,
a atualização do valor monetário da respectiva base de cálculo.

CONEXÃO
Para saber sobre as fontes primárias e secundárias você aluno poderá consultar o site http://
www4.planalto.gov.br/legislacao, lá estão contidas as espécies citadas nesta temática.

Os artigos 98 e 99 regulamentam a atuação dos tratados e convenções inter-


nacionais frente a legislação tributária interna, bem como a função dos decre-
tos, que por exemplo, não se prestam para instituir ou aumentar os tributos em
regra. Veja:

Art. 98. Os tratados e as convenções internacionais revogam ou modificam a legislação


tributária interna, e serão observados pela que lhes sobrevenha.
Art. 99. O conteúdo e o alcance dos decretos restringem-se aos das leis em função
das quais sejam expedidos, determinados com observância das regras de interpretação
estabelecidas nesta Lei.

Como complemento as normas tributárias temos os atos normativos, as


decisões administrativas dos órgãos fazendários que exercem suas respectivas
circunscrições administrativas, além dos convênios, é o que se depreende do
artigo 100:

Art. 100. São normas complementares das leis, dos tratados e das convenções inter-
nacionais e dos decretos:
I - os atos normativos expedidos pelas autoridades administrativas;
II - as decisões dos órgãos singulares ou coletivos de jurisdição administrativa, a que a
lei atribua eficácia normativa;

52 • capítulo 3
III - as práticas reiteradamente observadas pelas autoridades administrativas;
IV - os convênios que entre si celebrem a União, os Estados, o Distrito Federal e os
Municípios.
Parágrafo único. A observância das normas referidas neste artigo exclui a imposição de
penalidades, a cobrança de juros de mora e a atualização do valor monetário da base
de cálculo do tributo.

A vigência da legislação tributária vem disciplinada dos artigos 101 a 104


do CTN, sendo interessante enfatizar que é possível que a legislação tributária
dos Estados, Distrito Federal e dos Municípios possam repercutir fora de seus
territórios desde que seja reconhecida sua legitimidade através de convênios
com outras unidades federativas, por exemplo.

Art. 101. A vigência, no espaço e no tempo, da legislação tributária rege-se pelas dis-
posições legais aplicáveis às normas jurídicas em geral, ressalvado o previsto neste
Capítulo.
Art. 102. A legislação tributária dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios vigora,
no País, fora dos respectivos territórios, nos limites em que lhe reconheçam extraterri-
torialidade os convênios de que participem, ou do que disponham esta ou outras leis de
normas gerais expedidas pela União.
Art. 103. Salvo disposição em contrário, entram em vigor:
I - os atos administrativos a que se refere o inciso I do artigo 100, na data da sua pu-
blicação;
II - as decisões a que se refere o inciso II do artigo 100, quanto a seus efeitos normati-
vos, 30 (trinta) dias após a data da sua publicação;
III - os convênios a que se refere o inciso IV do artigo 100, na data neles prevista.
Art. 104. Entram em vigor no primeiro dia do exercício seguinte àquele em que ocorra
a sua publicação os dispositivos de lei, referentes a impostos sobre o patrimônio ou a
renda:
I - que instituem ou majoram tais impostos;
II - que definem novas hipóteses de incidência;
III - que extinguem ou reduzem isenções, salvo se a lei dispuser de maneira mais favo-
rável ao contribuinte, e observado o disposto no artigo 178.

capítulo 3 • 53
3.1.1  Integração das Normas Jurídicas

O Direito é o regulador das relações humanas no interior da sociedade, defen-


dendo a própria forma em que esta sociedade está constituída e permitindo
que cada cidadão busque exatamente aquilo que é seu.
Há, inclusive, uma expressão em latim muito conhecida no meio jurídico,
“Ubi societas, ibi Jus”, que significa “onde há sociedade, há o direito”. Isso está
plenamente correto!
A vida do homem em sociedade só é pos-
sível por conta de existirem regras, leis que
disciplinam os atos humanos. Não fossem as
leis, viveríamos na mais completa barbárie!
Além disso, o Direito vem sempre consoli-
dar, por suas normas, as instituições criadas
pelo homem e vigentes em dado momento
histórico. As instituições mudam, evoluem.
Cabe ao Direito fixá-las, para que a socieda-
de se sinta segura, para que as regras sociais,

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uma vez estabelecidas, sejam seguidas, sem
sustos para os cidadãos em suas relações.
http://unieducar.org.br/buscageral.asp?co-
d=800&palavra=Direito

Desta forma, o Direito assume uma função


verdadeiramente social, pois, embora as ideologias variem e a sociedade se trans-
forme, ele perdura consolidando normas e protegendo interesses estabelecidos.

O Direito Positivo é, portanto, um sistema normativo, ou seja, um conjunto de normas


jurídicas visando a paz social, a ordem na sociedade. Sua finalidade primordial é o
bem-estar da sociedade, vale dizer, seu fim principal é a ordem na sociedade.
(DOWER, 2005).

A definição mais famosa de Direito, é a do jurista Miguel Reale, ao estabe-


lecer a Teoria Tridimensional do Direito, a qual, em síntese, veio a demonstrar
que, a palavra Direito corresponde a três dimensões: fato, valor e norma.

54 • capítulo 3
CONCEITO
Em que consiste a Teoria Tridimensional do Direito?
Segundo esta teoria, tem o Direito três dimensões: (a) os fatos que ocorrem na sociedade;
b) a valoração que se dá a essae fatos; (c) a norma, que pretende regular as condutas das
pessoas, de acordo com os fatos e valores. O resultado dos fatos que ocorrem na sociedade
é valorado, resultando em normas jurídicas. Há, portanto, uma interação entre fatos, valores
e normas, que se complementam. O Direito é uma ordem de fatos integrada numa ordem de
valores. Da integração de um fato em um valor surge a norma (MARTINS, 2008).

O direito é um fenômeno sempre inconcluso. A elaboração da regra jurídica depende


sempre do desenvolvimento das necessidades sociais. Como estas sempre se alteram,
muito embora algumas basicamente pertençam a todos os tempos, as regras de direito
também se modificam, modeladas à luz das influências ou das tendências de cada
época. (PINHO, NASCIMENTO, 2004).

Deixando as considerações sobre o Direito como ciência e partindo para o


seu ramos específico e que é interesse deste estudo, tem-se o direito tributário,
que pode ser considerado como um conjunto de princípios e regras que regem
o poder fiscal do Estado, representado pela instituição, arrecadação e fiscaliza-
ção de tributos devidos pelos indivíduos ao governo.

CONCEITO
O que significa Direito Tributário?
A doutrina jurídica tributária é rica nos conceitos de tributo, contudo, cabe aqui trazermos
a definição da lei, regulamentada no art. 3º do Código Tributário Nacional, senão vejamos:
“Tributo é toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo valor nela se possa ex-
primir, que não constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada mediante atividade
administrativa plenamente vinculada”.
http://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:S8w6RENAE78J:pt.wikipedia.
org/wiki/Tributo+&cd=2&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br

capítulo 3 • 55
Note-se ainda, que tributo é o gênero dos quais são espécies os impostos, as
taxas, as contribuições de melhoria. Há autores nacionais que entendem que
os empréstimos compulsórios e as contribuições de melhorias embora inte-
grantes da categoria taxas e impostos, também se enquadram como espécies
do gênero tributo, cujas temáticas serão tratadas em capítulos separados.
Entretanto, impossível estudar o Direito Tributário sem ao menos buscar
as noções básicas sobre o Direito Constitucional a fim de se estabelecer o seu
liame com o Direito Tributário.

O direito constitucional pode ser compreendido como um ramo do direito público que
estuda as regras estruturais do Estado, relativas à organização político-estatal, defi-
nindo o regime político, a forma de Estado e delimitando a relação do Estado e o povo
por meio do reconhecimento de garantias e direitos fundamentais.
Vale lembrar, o direito constitucional é a esfera da ordenação estatal que se relaciona
intimamente com os demais ramos do direito, coordenando-os e traçando sua base
estrutural. Da mesma forma, o direito constitucional é considerado o marco inicial de
todo direito do Estado.
Já a expressão Constituição possui vários sentidos. Assim, em sentido lógico-jurídico,
a Constituição é a norma hipotética fundamental. Essa concepção jurídica positiva é
o conjunto de normas que regulam a criação de outras normas, ou seja, é a lei em seu
mais alto grau. (KELSEN, 1962)

CONCEITO
O que significa constituição?
Chama-se Constituição o complexo de regras que determinam a estrutura e o funcionamen-
to dos poderes públicos e asseguram a liberdade dos cidadãos. É a lei fundamental de um
país, anterior e posterior a todas as outras: fixa as relações recíprocas entre governantes e
governados e não pode ser modificada senão pelos meios excepcionais indicados no próprio
texto ou por uma revolução triunfante (PINHO e NASCIMENTO, 2004).

A primeira Lei Magna brasileira foi a Constituição de 25 de março de 1824,denomi-


nada de Constituição Política do Império do Brasil. A segunda foi a Constituição da
República dos Estados Unidos do Brasil, de 24 de fevereiro de 1891.

56 • capítulo 3
A terceira foi a Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil, de 16 de julho
de 1934. A quarta foi a Norma Magna editada por ocasião do golpe de Getúlio Vargas
e a instituição do Estado Novo, em 10 de novembro de 1937, denominada Constituição
dos Estados Unidos do Brasil. (MARTNS, 2008).

http://pt.wikipedia.org/wiki/Constitui%C3%A7%C3%A3o

A quinta foi a Constituição dos Estados Unidos do Brasil, de 24 de janeiro e 1967. Foi
editada por ocasião do regime militar e do golpe militar de 1964. A Emenda Constitu-
cional n. 1, de 17 de outubro de 1969, não é exatamente uma Constituição, mas uma
emenda constitucional. Na prática, acaba sendo uma Constituição, pois alterou toda
a Constituição de 1967. A última é a Constituição da República Federativa do Brasil,
de 5 de outubro de 1988. Foi inspirada, em parte, nas Constituições portuguesa e
italiana e no que havia de mais moderno na época.
(MARTINS, 2008).

CONEXÃO
Para maiores informações com relação à Constituição Federal, o estudante poderá acessar
o site www.stf.jus.br, onde encontramos todas as normas existentes na Constituição Federal
e nas Constituições dos Estados.

capítulo 3 • 57
O Estado é o principal objeto do direito constitucional. A noção jurídica de Es-
tado apoia-se em quatro elementos básicos: território, povo, governo e soberania.
A relação tributária tem seus marcos estruturais regulados pela Constituição,
que ao mesmo tempo outorga ao Estado o direito de instituir e arrecadar tribu-
tos (veja o art. 145 da Constituição), assim como limita este direito (no art. 150,
por exemplo) e cerca o contribuinte de garantias contra os excessos tributários,
infelizmente tão comuns, que também receberão atenção em capítulo próprio:

Art. 145. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão instituir os


seguintes tributos:
I - impostos;
II - taxas, em razão do exercício do poder de polícia ou pela utilização, efetiva ou
potencial, de serviços públicos específicos e divisíveis, prestados ao contribuinte ou
postos a sua disposição;
III - contribuição de melhoria, decorrente de obras públicas.
§ 1º - Sempre que possível, os impostos terão caráter pessoal e serão graduados se-
gundo a capacidade econômica do contribuinte, facultado à administração tributária,
especialmente para conferir efetividade a esses objetivos, identificar, respeitados os
direitos individuais e nos termos da lei, o patrimônio, os rendimentos e as atividades
econômicas do contribuinte.
§ 2º - As taxas não poderão ter base de cálculo própria de impostos.
Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à
União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
I - exigir ou aumentar tributo sem lei que o estabeleça;
II - instituir tratamento desigual entre contribuintes que se encontrem em situação
equivalente, proibida qualquer distinção em razão de ocupação profissional ou função
por eles exercida, independentemente da denominação jurídica dos rendimentos, tí-
tulos ou direitos;
III - cobrar tributos:
a) em relação a fatos geradores ocorridos antes do início da vigência da lei que os
houver instituído ou aumentado;
b) no mesmo exercício financeiro em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou
aumentou;
c) antes de decorridos noventa dias da data em que haja sido publicada a lei que os
instituiu ou aumentou, observado o disposto na alínea b;

58 • capítulo 3
IV - utilizar tributo com efeito de confisco;
V - estabelecer limitações ao tráfego de pessoas ou bens, por meio de tributos inte-
restaduais ou intermunicipais, ressalvada a cobrança de pedágio pela utilização de vias
conservadas pelo Poder Público;
VI - instituir impostos sobre
a) patrimônio, renda ou serviços, uns dos outros;
b) templos de qualquer culto;
c) patrimônio, renda ou serviços dos partidos políticos, inclusive suas fundações, das
entidades sindicais dos trabalhadores, das instituições de educação e de assistência
social, sem fins lucrativos, atendidos os requisitos da lei;
d) livros, jornais, periódicos e o papel destinado a sua impressão.
e) fonogramas e videofonogramas musicais produzidos no Brasil contendo obras musi-
cais ou literomusicais de autores brasileiros e/ou obras em geral interpretadas por artis-
tas brasileiros bem como os suportes materiais ou arquivos digitais que os contenham,
salvo na etapa de replicação industrial de mídias ópticas de leitura a laser
§ 1º A vedação do inciso III, b, não se aplica aos tributos previstos nos arts. 148, I, 153,
I, II, IV e V; e 154, II; e a vedação do inciso III, c, não se aplica aos tributos previstos nos
arts. 148, I, 153, I, II, III e V; e 154, II, nem à fixação da base de cálculo dos impostos
previstos nos arts. 155, III, e 156, I.
§ 2º - A vedação do inciso VI, “a”, é extensiva às autarquias e às fundações instituídas
e mantidas pelo Poder Público, no que se refere ao patrimônio, à renda e aos serviços,
vinculados a suas finalidades essenciais ou às delas decorrentes.
§ 3º - As vedações do inciso VI, “a”, e do parágrafo anterior não se aplicam ao patri-
mônio, à renda e aos serviços, relacionados com exploração de atividades econômicas
regidas pelas normas aplicáveis a empreendimentos privados, ou em que haja contra-
prestação ou pagamento de preços ou tarifas pelo usuário, nem exonera o promitente
comprador da obrigação de pagar imposto relativamente ao bem imóvel.
§ 4º - As vedações expressas no inciso VI, alíneas “b” e “c”, compreendem somente o
patrimônio, a renda e os serviços, relacionados com as finalidades essenciais das enti-
dades nelas mencionadas.
§ 5º - A lei determinará medidas para que os consumidores sejam esclarecidos acerca
dos impostos que incidam sobre mercadorias e serviços.

capítulo 3 • 59
§ 6.º Qualquer subsídio ou isenção, redução de base de cálculo, concessão de crédito
presumido, anistia ou remissão, relativos a impostos, taxas ou contribuições, só poderá
ser concedido mediante lei específica, federal, estadual ou municipal, que regule exclu-
sivamente as matérias acima enumeradas ou o correspondente tributo ou contribuição,
sem prejuízo do disposto no art. 155, § 2.º, XII, g.
§ 7.º A lei poderá atribuir a sujeito passivo de obrigação tributária a condição de res-
ponsável pelo pagamento de imposto ou contribuição, cujo fato gerador deva ocorrer
posteriormente, assegurada a imediata e preferencial restituição da quantia paga, caso
não se realize o fato gerador presumido.

Em meio a esses processos tem-se a necessidade de realizar a interpretação


da norma jurídica de forma SISTÊMICA.

Neste sentido o pro-


cesso de integração das
normas jurídicas está re-
lacionado à ideia de que é

www.diariodocentrodomundo.com.br
impossível que o legisla-
dor preveja, por mais cau-
teloso que ele seja, todos
os fatos e acontecimentos
da vida real que devem me-
recer proteção do Direito.
É possível que ao tentar
solucionar determinado caso, o juiz não encontre no ordenamento jurídico lei
específica que possibilite por fim ao conflito. Neste caso, deverá o magistrado
se valer dos meios de integração da norma jurídica, quais sejam: a analogia, a
equidade e os princípios gerais do direito.

As lacunas podem ser de várias espécies: voluntárias, quando a inexistência de normas


é proposital pelo legislador, e involuntárias, quando o legislador efetivamente não previu
a situação. Por vezes, essa omissão é absolutamente clara e manifesta; por vezes, o
sistema apresenta normas que apenas aparentemente se aplicam. Em outras oportu-
nidades, a integração se faz necessária porque as disposições legais se chocam, são
contraditórias, ocorrendo as chamadas antinomias (VENOSA, 2008).

60 • capítulo 3
3.1.2  Analogia

Analogia consiste na utilização de uma norma para resolver um caso semelhante àquele
para o qual foi especificamente criada.
A Analogia não é um meio de interpretação da norma jurídica, mas de preencher as
lacunas deixadas pelo legislador. Consiste na utilização de uma regra semelhante para
o caso em exame (MARTINS, 2008).

3.1.3  Equidade

A equidade é o processo por meio do qual o intérprete/juiz pode solucionar


o caso utilizando-se de seus valores de Justiça.

É um poder de que dispõe o juiz para decidir o caso concreto dentro dos mais elevados
princípios jurídicos e morais, ditando às vezes decisões que sejam contrárias a todo o
Direito formalmente constituído, mas intrinsecamente justas e recomendadas pelo sen-
so comum. Aristóteles observa o fato de que as normas jurídicas são necessariamente
gerais e as circunstâncias de cada caso são particulares; mostra que a possibilidade de
estabelecer previamente normas adequadas a todas as futuras variações e hipóteses
da prática excede a capacidade de inteligência humana. Em consequência, a rígida
aplicação fria do texto legal poderá em determinado caso conduzir a uma situação que
não é a desejada. Quando isto ocorrer, o magistrado deverá exercitar o poder de decidir
pela equidade, se a lei positiva o autorizar a fazer uso desse processo de integração
(PINHO, NASCIMENTO, 2004). http://ameliaguimaraess.blogspot.com/2011/04/te-
oria-do-fato-juridico-no-plano-da.html

capítulo 3 • 61
3.1.4  Princípios Gerais do Direito

Há muito se defende que o Direito enquanto ramo da ciência ele é uno.


Diante de sua unidade nenhum outro ramo do Direito pode ser considerado
completamente autônomo ao ponto de não se relacionar com os demais ramos
do Direito. O efeito prático é que a definição de alguns institutos empregados
no Direito Tributário será importado - por exemplo - do Direito Civil, como é o
caso da definição de pagamento, compensação, bem imóvel, etc...
Entretanto, os processos de integração da norma jurídica tributária não po-
dem ser empregados sem nenhuma parcimônia, ao ponto de criar obrigações
tributárias não previstas em lei ou na dispensa quanto ao pagamento de tribu-
tos. É a conclusão que se chega ao analisarmos o artigo 108 do Código Tributá-
rio Nacional:

Art. 108. Na ausência de disposição expressa, a autoridade competente para aplicar a


legislação tributária utilizará sucessivamente, na ordem indicada:
I – a analogia;
II – os princípios gerais do Direito Tributário;
III – os princípios gerais de Direito Público;
IV – a equidade
§ 1º. O emprego da analogia não poderá resultar na exigência de tributo não previsto
em lei.
§ 2º. O emprego da equidade não poderá resultar na dispensa do pagamento de tributo
devido.

Por outro lado, os artigos 107, 109, 110, 111 e 112 do Código Tributário Na-
cional oferecem verdadeiro balizamento ao conduzir as formas de interpreta-
ção da norma tributária, informando, por exemplo, que os princípios de direito
privado não se prestam para definir a extensão dos efeitos tributários.
De igual forma, a norma tributária não pode alterar a forma dos institutos
de direito privado. No que se refere a exclusão, suspensão, outorga de isenção
a interpretação deverá ser literal.
Enfim, são vetores que deverão ser seguidos ao se buscar a integração da
norma jurídica. Veja-se os citados artigos:

62 • capítulo 3
Art. 107. A legislação tributária será interpretada conforme o disposto neste Capítulo.
Art. 109. Os princípios gerais de direito privado utilizam-se para pesquisa da definição,
do conteúdo e do alcance de seus institutos, conceitos e formas, mas não para defini-
ção dos respectivos efeitos tributários.
Art. 110. A lei tributária não pode alterar a definição, o conteúdo e o alcance de ins-
titutos, conceitos e formas de direito privado, utilizados, expressa ou implicitamente,
pela Constituição Federal, pelas Constituições dos Estados, ou pelas Leis Orgânicas
do Distrito Federal ou dos Municípios, para definir ou limitar competências tributárias.
Art. 111. Interpreta-se literalmente a legislação tributária que disponha sobre:
I - suspensão ou exclusão do crédito tributário;
II - outorga de isenção;
III - dispensa do cumprimento de obrigações tributárias acessórias.
Art. 112. A lei tributária que define infrações, ou lhe comina penalidades, interpreta-se
da maneira mais favorável ao acusado, em caso de dúvida quanto:
I - à capitulação legal do fato;
II - à natureza ou às circunstâncias materiais do fato, ou à natureza ou extensão dos
seus efeitos;
III - à autoria, imputabilidade, ou punibilidade;
IV - à natureza da penalidade aplicável, ou à sua graduação.

3.2  Obrigação Tributária - Principal e Acessóriar

As obrigações tributárias podem ser categorizadas em obrigações princi-


pais e acessórias. Importante destacar que o nascimento da obrigação tributá-
ria vem marcada com a ocorrência do fato gerador, conforme expressa o artigo
114 do CTN, porém, a temática é tão importante que será dedicada um outro
capítulo para que o seu estudo seja feito de forma sistêmica e com maior grau
de profundidade.
Por ora basta entender que a obrigação tributária se divide em obrigações prin-
cipais e acessórias, esta será a temática dedicada no presente tópico.
As obrigações principais são definidas pelo artigo 113, parágrafo 1º, do
CTN, como tendo por origem a própria lei tributária com o objetivo de impor a
obrigação quanto ao pagamento do tributo propriamente dito ou penalidades
pecuniárias.

capítulo 3 • 63
Já a obrigação tributária acessória, nos termos dos parágrafos 2º e 3º , tem
por objetivo as prestações positivas e negativas conforme determina a adminis-
tração tributária visando os melhores interesses na arrecadação e fiscalização
dos tributos. Ex: obrigação de manter e conservar os livros fiscais, conforme
determina a respectiva Lei, etc...
É a conclusão da leitura do artigo 113 do CTN:

§ 1º A obrigação principal surge com a ocorrência do fato gerador, tem por objeto o
pagamento de tributo ou penalidade pecuniária e extingue-se juntamente com o crédito
dela decorrente.
§ 2º A obrigação acessória decorre da legislação tributária e tem por objeto as presta-
ções, positivas ou negativas, nela previstas no interesse da arrecadação ou da fiscali-
zação dos tributos.
§ 3º A obrigação acessória, pelo simples fato da sua inobservância, converte-se em
obrigação principal relativamente à penalidade pecuniária.
Art. 113. A obrigação tributária é principal ou acessória.

Referências legislativas:
CÓDIGO TRIBUTÁRIO NACIONAL
CAPÍTULO II
Fato Gerador
Art. 114. Fato gerador da obrigação principal é a situação definida em lei como neces-
sária e suficiente à sua ocorrência.
Art. 115. Fato gerador da obrigação acessória é qualquer situação que,na forma da le-
gislação aplicável, impõe a prática ou a abstenção de ato que não configure obrigação
principal.
Art. 116. Salvo disposição de lei em contrário, considera-se ocorrido o fato gerador e
existentes os seus efeitos:
I - tratando-se de situação de fato, desde o momento em que o se verifiquem as
circunstâncias materiais necessárias a que produza os efeitos que normalmente lhe
são próprios;
II - tratando-se de situação jurídica, desde o momento em que esteja definitivamente
constituída, nos termos de direito aplicável.

64 • capítulo 3
Parágrafo único. A autoridade administrativa poderá desconsiderar atos ou negócios
jurídicos praticados com a finalidade de dissimular a ocorrência do fato gerador do
tributo ou a natureza dos elementos constitutivos da obrigação tributária, observados
os procedimentos a serem estabelecidos em lei ordinária.
Art. 117. Para os efeitos do inciso II do artigo anterior e salvo disposição de lei em
contrário, os atos ou negócios jurídicos condicionais reputam-se perfeitos e acabados:
I - sendo suspensiva a condição, desde o momento de seu implemento;
II - sendo resolutória a condição, desde o momento da prática do ato ou da celebração
do negócio.
Art. 118. A definição legal do fato gerador é interpretada abstraindo-se:
I - da validade jurídica dos atos efetivamente praticados pelos contribuintes, responsá-
veis, ou terceiros, bem como da natureza do seu objeto ou dos seus efeitos;
II - dos efeitos dos fatos efetivamente ocorridos.

ATIVIDADE
1. Qual é a diferença entre obrigação principal e acessória no Direito Tributário?

2. Qual é a importância do instituto da integração das normas jurídicas tributárias?

3. Quais os três meios possíveis de serem utilizados buscando a integração da norma


jurídica tributária?

REFLEXÃO
O presente capítulo trouxe a discussão uma realidade reconhecida pelo Direito enquanto ci-
ência. Impossível ao legislador prever todas as hipóteses que a legislação deverá disciplinar,
pois sabemos que a sociedade vive e convive com suas constantes mutações e como dizia
o poeta: “os ventos de renovações são constantes”. Frente a esta realidade para o Direito
e também para o Direito Tributário a própria ciência oferece mecanismos para superar a
problemática.
Em meio a isso têm-se a necessidade de realizar a interpretação da norma jurídica, po-
rém, de forma SISTÊMICA e sem conflitar com os demais ramos do Direito, principalmente, a
Constituição Federal - que é o marco legislativo para qualquer Estado Democrático de Direito.

capítulo 3 • 65
É possível que ao tentar solucionar determinado caso, o juiz não encontre no ordena-
mento jurídico lei específica que possibilite por fim ao conflito. Neste caso, deverá o magis-
trado se valer dos meios de integração da norma jurídica, quais sejam: a analogia, a equidade
e os princípios gerais do direito.
Vimos também que a obrigação tributária recebe uma classificação como sendo obriga-
ção tributária principal e acessória, porém, a principal reflexão que se faz é que, somente a
obrigação tributária principal é quem tem a prerrogativa de impor o pagamento de tributos.

LEITURA RECOMENDADA
AMARO, Luciano. Direito tributário brasileiro. 16. ed. São Paulo: Saraiva, 2010.

SABBAG, Eduardo. Manual de direito tributário. São Paulo: Saraiva, 2009.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AMARO, Luciano. Direito tributário brasileiro. 16. ed. São Paulo: Saraiva, 2010.

BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de direito financeiro e de direito tributário. 9 ed. São
Paulo: Saraiva, 2002.

KELSEN, Hans. Teoria Pura do Direito. 2. ed. Coimbra: Armênio Amado, 1962,v.I;

MARTINS, Alan; SCARDOELLI, Dimas Yamada. Resumo de direito tributário. Leme: J.


H. Mizuno, 2008.

MARTINS, S. P. Instituições de Direito Público e Privado. 8ª Ed. São Paulo: Atlas,


2008.

NOGUEIRA, Ruy Barbosa. Curso de direito tributário. 14. ed. São Paulo: Saraiva, 1995.

PINHO, Ruy Rebello, NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Instituições de direito público e


privado. 24. Ed. São Paulo: Atlas, 2004;

66 • capítulo 3
SABBAG, Eduardo. Manual de direito tributário. São Paulo: Saraiva,2009.

SILVA, Davi Marques da; Pereira, João Luis da Silva. Coleção Tópicos – Direito Tributá-
rio. Edit. Lumenjuris, 2009.

VENOSA, Sílvio de Salvo. Introdução ao estudo do direito. 2 Ed. São Paulo: Atlas, 2008.

NO PRÓXIMO CAPÍTULO
No próximo capítulo iremos tratar sobre crédito tributário e de sua extinção e suspensão.

capítulo 3 • 67
4
Crédito Tributário,
Suspensão e
Extinção
4  Crédito Tributário, Suspensão e Extinção
Segundo o Código Tributário Nacional, o crédito tributário representa o direi-
to de crédito da Fazenda Pública, já devidamente apurado por processo admi-
nistrativo denominado lançamento e, portanto, dotado de certeza, liquidez e
exigibilidade.
O crédito tributário decorre do próprio fato gerador, que originou a relação
obrigacional tributuária. Assim, para que o Estado possa exigir o crédito tri-
butário, é necessário que ocorra o fato gerador, e que o Estado individualize e
quantifique o valor a ser pago, com o lançamento.
Após a constituição do crédito tributário, o curso normal da relação tributária
é a sua extinção com o pagamento do tributo. Entretanto, neste ínterim, o cré-
dito tributário poderá ser suspenso pelos motivos que trataremos neste capí-
tulo. Também, teremos conhecimento que não é apenas pelo pagamento que
a obrigação tributária se extingue, pois o Código Tributário Nacional previu
outras formas de extinção.

OBJETIVOS
Este capítulo tem por objetivo evidenciar ao aluno a importância do lançamento tributário.
Por outro lado, esta unidade também tem por objetivo trazer noções básicas a respeito da sus-
pensão e formas de extinção do crédito tributário.

REFLEXÃO
Você se lembra de alguém ter sido notificado pela Secretaria da Receita Federal sobre a
existência de crédito tributário e de sua inscrição na dívida ativa? Certamente, você já se
deparou com o tema. Nesta unidade teremos uma noção geral deste assunto e outros que
permitirão uma análise completa sobre a obrigação tributária.

70 • capítulo 4
4.1  Crédito Tributário

O crédito tributário pode ser definido como sendo a obrigação tributária lança-
da, ou seja, tornada liquida e certa por meio do lançamento.
Para facilitar o entendimento, vamos lançar mão novamente da linha do
tempo representativa da relação jurídico-tributária.

HIPÓTESE DE INCIDÊNCIA

FATOR GERADOR

OBRIGAÇÃO TRIBUTÁRIA

CRÉDITO TRIBUTÁRIO

Como ilustrado, logo que surge a obrigação tributária, através da ocorrência


do fato gerador, o próximo passo é a formação do crédito tributário. A partir
do lançamento, a obrigação que ainda não possuía certeza e liquidez, passa er
condições de ser exigida pela atuação do Fisco.
Por isso que o artigo 139 do Código Tributário Nacional afirma que o cré-
dito tributário decorre da obrigação principal e tem a mesma natureza desta.
Ou seja, para existir crédito tributário, se faz necessário existir o fato gerador e,
portanto, a obrigação tributária.

4.1.1  Lançamento Tributário

4.1.1.1  O lançamento
O artigo 142 do Código Tributário Nacional nos orienta no sentido de que com-
pete privativamente à autoridade administrativa constituir o crédito tributário
pelo lançamento, assim entendido o procedimento administrativo tendente a
verificar a ocorrência do fato gerador da obrigação correspondente, determinar
a matéria tributável, calcular o montante do tributo devido, identificar o sujeito
passivo e, sendo caso, propor a aplicação da penalidade cabível.

capítulo 4 • 71
Na definição legal de lançamento tributário que consta no artigo 142 do Código
Tributário Nacional, ficou estabelecido que é competência privativa da autoridade
administrativa, por meio do qual se constitui o crédito tributário, afirmando ainda
ser o lançamento um procedimento administrativo que visa verificar a ocorrência
do fato gerador da obrigação, além de “determinar a matéria tributável, calcular o
montante do tributo devido, identificar o sujeito passivo e, sendo o caso, propor a
aplicação da penalidade aplicável.”
Com consequência, o lançamento é o instrumento que confere a exigibili-
dade à obrigação tributária. Por uma interpretação sistemática, podemos afir-
mar que o Código Tributário Nacional disciplinou três espécies de lançamento:
lançamento de ofício, lançamento por declaração ou misto e lançamento por
homologação.

4.1.1.2  O lançamento de ofício


O lançamento de ofício, previsto no artigo 149, I, do Código Tributário Nacio-
nal, ocorrerá sempre que a lei determinar à autoridade administrativa tributária
para que promova o lançamento sem nenhuma participação do sujeito passivo.
Um exemplo clássico do lançamento de ofício é a cobrança do IPTU ou do
IPVA, cuja formação do crédito tributário independe de qualquer participação
de seu contribuinte.
Também ocorrerá o lançamento de ofício quando o contribuinte, incum-
bido de prestar declarações para a realização do lançamento por declaração,
deixa de prestá-las no prazo hábil, permitindo assim que a autoridade fiscal
realize o lançamento de ofício, mediante auto de infração.
Da mesma forma, verificada a irregularidade na declaração ou até mesmo
no pagamento do tributo lançado por homologação, poderá a autoridade fiscal,
mediante auto de infração, lançar o valor devido, com base nos dados apurados
em ato fiscalizatório.
Deste modo, o lançamento é efetuado e revisto de ofício pela autoridade ad-
ministrativa nos seguintes casos:

•  quando a lei assim o determine;

•  quando a declaração não seja prestada, por quem de direito, no prazo e


na forma da legislação tributária;

72 • capítulo 4
•  quando a pessoa legalmente obrigada, embora tenha prestado declara-
ção nos termos do inciso anterior, deixe de atender, no prazo e na forma
da legislação tributária, a pedido de esclarecimento formulado pela au-
toridade administrativa, recuse-se a prestá-lo ou não o preste satisfato-
riamente, a juízo daquela autoridade;

•  quando se comprove falsidade, erro ou omissão quanto a qualquer elemen-


to definido na legislação tributária como sendo de declaração obrigatória;

•  quando se comprove omissão ou inexatidão, por parte da pessoa legal-


mente obrigada, no lançamento por homologação;

•  quando se comprove ação ou omissão do sujeito passivo, ou de terceiro


legalmente obrigado, que dê lugar à aplicação de penalidade pecuniária;

•  quando se comprove que o sujeito passivo, ou terceiro em benefício da-


quele, agiu com dolo, fraude ou simulação;

•  quando deva ser apreciado fato não conhecido ou não provado por oca-
sião do lançamento anterior;

•  quando se comprove que, no lançamento anterior, ocorreu fraude ou fal-


ta funcional da autoridade que o efetuou, ou omissão, pela mesma auto-
ridade, de ato ou formalidade especial.

4.1.1.3  O lançamento por declaração


O lançamento por declaração ocorre quando a lei determina que o sujeito pas-
sivo preste informações sobre o fato gerador, mediante declaração, que servirá
de base para a autoridade fiscal constituir o crédito tributário, notificando o
sujeito passivo para o recolhimento do tributo.
Assim, o artigo 147 do Código Tributário Nacional disciplina que o lança-
mento é efetuado com base na declaração do sujeito passivo ou de terceiro,
quando um ou outro, na forma da legislação tributária, presta à autoridade ad-
ministrativa informações sobre matéria de fato, indispensáveis à sua efetivação.
São exemplos de tributos cuja constituição se dá por meio desse tipo de lança-
mento, o imposto de importação, o imposto de exportação e o ITBI.

capítulo 4 • 73
4.1.1.4  O lançamento por homologação
O lançamento por homologação é aquela modalidade de lançamento cujo su-
jeito passivo possui o dever legal de antecipar o pagamento sem prévio exame
da autoridade administrativa. Por esta característica, também é denominado
de autolançamento.
Esta espécie de lançamento é a mais comum para apuração de tributos, tais
como, IPI, ICMS, IR, ITR, PIS e COFINS, dentro outros.
O artigo 150 do Código Tributário Nacional diz que o lançamento por homolo-
gação ocorre quanto aos tributos cuja legislação atribua ao sujeito passivo o dever
de antecipar o pagamento sem prévio exame da autoridade administrativa, ope-
rando-se o lançamento pelo ato em que a referida autoridade, tomando conhe-
cimento da atividade assim exercida pelo obrigado, expressamente a homologa.
Nos moldes do artigo 150 do Código Tributário Nacional, a partir do pagamen-
to antecipado do tributo pelo sujeito passivo, caberá ao Fisco proceder à confe-
rência da exatidão do volume recolhido, homologando o procedimento adotado.
Importante frisar que a autoridade fiscal, ao conferir o procedimento adota-
do pelo sujeito passivo e o valor pago, se concorda, homologa o lançamento; po-
rém, caso não esteja de acordo, iniciará procedimento fiscalizatório que poderá
culminar no lançamento de ofício, do valor que a autoridade fiscal entender ser
realmente cabível.
Se a lei não fixar prazo para a homologação, será ele de cinco anos, a contar
da ocorrência do fato gerador; expirado esse prazo sem que a Fazenda Pública se
tenha pronunciado, considera-se homologado o lançamento e definitivamente
extinto o crédito, salvo se comprovada a ocorrência de dolo, fraude ou simulação.

4.1.2  Hipóteses de Suspensão do Crédito Tributário

Pelo que se depreende do estudo que até agora realizamos nesta unidade, o crédi-
to tributário regularmente constituído é liquido, certo e exigível, podendo ser co-
brado pela Fazenda Pública, inclusive, pela via judicial da ação de execução fiscal.
No entanto, há seis hipóteses previstas no artigo 151 do Código Tributário
Nacional que, existindo, suspendem a exigibilidade do crédito tributário, ou
seja, não pode ser imediatamente executado pelo Fisco enquanto perdurarem
os efeitos de tais situações.

74 • capítulo 4
Segundo o artigo 151 do Código Tributário Nacional, Suspendem a exigibi-
lidade do crédito tributário:
•  a moratória;
•  o depósito do seu montante integral;
•  as reclamações e os recursos, nos termos das leis reguladoras do proces-
so tributário administrativo;
•  a concessão de medida liminar em mandado de segurança.
•  a concessão de medida liminar ou de tutela antecipada, em outras espé-
cies de ação judicial;
•  o parcelamento.

4.1.2.1  A moratória
A moratória é a prorrogação do prazo para pagamento do tributo devido, conce-
dida pelo ente tributante por meio de lei. Assim, uma vez dilatado o prazo para
pagamento do tributo, não pode o sujeito passivo exigir o seu pagamento.
Por regra, a moratória somente abrange os créditos definitivamente consti-
tuídos à data da lei ou do despacho que a conceder, ou cujo lançamento já tenha
sido iniciado àquela data por ato regularmente notificado ao sujeito passivo.
Segundo o artigo 152 do Código Tributário Nacional, a moratória somente
pode ser concedida em caráter geral ou em caráter individual.
Em caráter geral, será concedida pela pessoa jurídica de direito público
competente para instituir o tributo a que se refira a moratória ou, pela União,
quanto a tributos de competência dos Estados, do Distrito Federal ou dos Mu-
nicípios, quando simultaneamente concedida quanto aos tributos de compe-
tência federal e às obrigações de direito privado.
Em caráter individual, a moratória será concedida por despacho da autorida-
de administrativa, desde que autorizada por lei instituída pela unidade federativa
competente para instituir o tributo a que se refira a moratória.
A lei que conceda moratória em caráter geral ou autorize sua concessão em
caráter individual especificará, o prazo de duração do favor, as condições da con-
cessão do favor em caráter individual e, sendo caso, os tributos a que se aplica, o
número de prestações e seus vencimentos, e as garantias que devem ser fornecidas
pelo beneficiado no caso de concessão em caráter individual.
A lei concessiva de moratória pode circunscrever expressamente a sua apli-
cabilidade à determinada região do território da pessoa jurídica de direito pú-
blico que a expedir, ou a determinada classe ou categoria de sujeitos passivos.

capítulo 4 • 75
4.1.2.2  O depósito integral do valor do tributo
O depósito em montante integral ocorre quando o sujeito passivo não concorda
com o lançamento realizado, podendo impugná-lo, administrativa ou judicial-
mente. Se a opção é a via judicial, há que se impedir, de alguma forma, a Admi-
nistração Fazendária de ajuizar a ação de execução fiscal. Daí surge a alternati-
va do depósito como forma de suspensão de exigibilidade de um crédito.
No caso da opção pela via administrativa, a própria existência do processo
administrativo fiscal tem por efeito a suspensão da exigibilidade do crédito. Po-
rém, pode o contribuinte optar pelo depósito como forma de se livrar da fluên-
cia de juros de mora.
Segundo a Súmula 112 do Superior Tribunal de Justiça, o depósito só suspen-
de a exigibilidade do crédito tributário se for integral e em dinheiro.

4.1.2.3  Reclamações e recursos no processo tributário


Diante de uma exigência fiscal, o sujeito passivo que não está de acordo, tem o
direito constitucionalmente protegido de impugnar a cobrança, pela via admi-
nistrativa, sendo assegurado ao mesmo a ampla defesa e o contraditório.
Assim, uma vez interposto recurso administrativo para impugnar a co-
brança de tributo que o sujeito passivo entende ser indevida, automaticamen-
te, fica suspensa a exigibilidade da cobrança deste tributo, até que seja julga-
do o processo administrativo, em todas as instâncias existentes.

4.1.2.4  Concessão de liminar em mandado de segurança


O mandado de segurança é espécie de ação prevista na Constituição Federal
que tem por objetivo proteger a pessoa que tenha seu direito líquido e certo
lesado ou ameaçado de lesão, por ato de autoridade.
Em matéria tributária, é cabível o mandado de segurança sempre que o con-
tribuinte se sinta ameaçado ou lesado em direito liquido e certo, em razão de
ato de autoridade administrativa tributária. Por exemplo, o cidadão que está
sendo cobrado por um tributo cuja cobrança é inconstitucional por não ter sido
respeitado o princípio da anterioridade anual.
Ao receber uma petição inicial de mandado de segurança, o juiz, verificando
a plausibilidade da tese do contribuinte e da probabilidade de dano irreparável,
poderá suspender o ato que deu origem a ação, deferindo a medida liminar.

76 • capítulo 4
ATENÇÃO
O direito a ampla defesa e do contraditório, previsto no artigo 5º, LV, da Constituição Federal,
estabelece que o processo judicial e administrativo deve primar pela ciência bilateral das
partes, e pela possibilidade de tais atos serem contrariados com alegações e provas.

CONCEITO
Petição inicial é a peça processual que instaura o processo jurídico, onde o autor da ação, por
intermédio de um advogado, dirige-se ao juiz competente para expor a sua pretensão e pedir
as providencias judiciais cabíveis.

Portanto, a medida liminar é uma decisão judicial, na qual ordena que seja
suspenda a exigibilidade da cobrança o tributo em discussão, até que o manda-
do de segurança seja finalizado, pela prolação da sentença judicial sobre o caso
em questão.

4.1.2.5  Concessão de liminar ou de antecipação


de tutela em outras espécies de ações judiciais
Da mesma forma que é possível o deferimento de medida liminar em mandado de
segurança, também é possível a existência de decisões semelhantes, como a ante-
cipação de tutela, em outras modalidades de ações judiciais.
Importante ressaltar que não é apenas por meio de mandado de segurança que
o sujeito passivo pode questionar judicialmente a cobrança de um tributo que o
mesmo entende indevida. Em meios processuais, há outras modalidade de ações
e, havendo a plausibilidade da tese do contribuinte e da probabilidade de dano ir-
reparável, pode o juiz ordenar a suspensão da cobrança do tributo até decisão final
a ser tomada no processo judicial tributário.

4.1.2.6  Parcelamento
O parcelamento tributário é um meio legalmente previsto para que os contri-
buintes possam pagar suas dívidas fiscais; geralmente é utilizado por aqueles
que não dispõem do total do valor da dívida de imediato. Uma vez permitido
o pagamento parcelado de um tributo, é natural que a cobrança do montante
devido seja suspensa até que se cumpra integralmente o parcelamento.

capítulo 4 • 77
4.2  Extinção do Crédito Tributário

Comumente, a extinção do crédito tributário se dá com o pagamento. Porém


a extinção ocorre por qualquer ato jurídico ou fato jurídico que faça desapare-
cer a obrigação respectiva, de acordo com as modalidade previstas no artigo
156 do Código Tributário Nacional. Portanto, a extinção ocorre nas seguintes
modalidades:
•  o pagamento;

•  a compensação;

•  a transação;

•  remissão;

•  a prescrição e a decadência;

•  a conversão de depósito em renda;

•  o pagamento antecipado e a respectiva homologação do lançamento;

•  a consignação em pagamento;

•  a decisão administrativa irreformável, assim entendida a definitiva na


órbita administrativa, que não mais possa ser objeto de ação anulatória;

•  a decisão judicial passada em julgado.

•  a dação em pagamento em bens imóveis, na forma e condições estabe-


lecidas em lei.

4.3  Pagamento

O pagamento é a satisfação da prestação objeto da obrigação tributária. É mo-


dalidade direta de extinção do crédito tributário. Em regra, o pagamento deve
ser feito em pecúnia, mas o artigo 162 do Código Tributário Nacional também
prevê a possibilidade de pagamento por cheque, vale-postal, estampilha, papel
selado ou processo mecânico.
Na eventualidade de pagamento indevido, o sujeito passivo tem direito, inde-
pendentemente de prévio protesto, à restituição total ou parcial do tributo, seja
qual for a modalidade do seu pagamento.

78 • capítulo 4
A restituição é cabível nos casos de:

•  cobrança ou pagamento espontâneo de tributo indevido ou maior que


o devido em face da legislação tributária aplicável, ou da natureza ou
circunstâncias materiais do fato gerador efetivamente ocorrido;

•  erro na edificação do sujeito passivo, na determinação da alíquota apli-


cável, no cálculo do montante do débito ou na elaboração ou conferência
de qualquer documento relativo ao pagamento;

•  reforma, anulação, revogação ou rescisão de decisão condenatória

O direito de pleitear a restituição extingue-se com o decurso do prazo de cinco


anos, contados da data da extinção do crédito tributário, ou, da data em que se
tornar definitiva a decisão administrativa ou passar em julgado a decisão judicial
que tenha reformado, anulado, revogado ou rescindido a decisão condenatória.

4.3.1  Compensação

A compensação é uma das modalidades de extinção do crédito tributário, que


ocorre quando duas pessoas forem ao mesmo tempo credor e devedor de obri-
gações, uma com a outra, operando-se a extinção até onde se compensarem.
Em Direito Tributário, compensar um tributo significa dizer que o contri-
buinte como credor do Estado poderá apresentar os referidos créditos para, em
sendo também devedor do mesmo, compensá-los, ou seja, empatar débito e
crédito, deixando assim de se descapitalizar injustificadamente, já que existe
uma relação obrigacional bipolar.

4.3.2  Transação

A lei pode facultar, nas condições que estabeleça, aos sujeitos ativo e passivo da
obrigação tributária celebrar transação que, mediante concessões mútuas, im-
porte em determinação de litígio e consequente extinção de crédito tributário.
Como exemplo, podemos apontar o pagamento da parcela única do IPVA e
do IPTU, com desconto. Assim, a parte recolhida será extinta por pagamento,
enquanto a parte não recolhida (desconto) será extinta por transação.

capítulo 4 • 79
4.3.3  Remissão

A remissão é o perdão da dívida pelo credor. O artigo 172 do Código Tributário


Nacional estabelece que a lei pode autorizar a autoridade administrativa a con-
ceder, por despacho fundamentado, remissão total ou parcial do crédito tribu-
tário, atendendo:
•  à situação econômica do sujeito passivo;
•  ao erro ou ignorância escusáveis do sujeito passivo, quanto a matéria
de fato;
•  à diminuta importância do crédito tributário;
•  a considerações de equidade, em relação com as características pessoais
ou materiais do caso;
•  a condições peculiares a determinada região do território da entidade
tributante.

4.3.4  A prescrição e a decadência

A prescrição e a decadência são situações distintas de extinção do direito à exi-


gibilidade do crédito tributário.
A decadência, prevista no artigo 173 do Código Tributário Nacional, represen-
ta a perda do direito da Fazenda Pública Federal, Estadual ou Municipal, consti-
tuir, através do lançamento, o crédito tributário, em razão do decurso do prazo de
5 anos, contado do primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o lançamen-
to poderia ter sido efetuado, ou, da data em que se tornar definitiva a decisão que
houver anulado, por vicio formal, o lançamento anteriormente efetuado.
Pelo fato da decadência representar a perda de constituição do crédito tri-
butário, fica evidente que em uma situação decadencial, ocorreu o fato gerador,
mas não houve o lançamento, pois, se este tivesse ocorrido, o crédito teria sido
constituído e não se falaria em decadência.
A prescrição extingue o direito, pertencente ao credor, da ação de cobrança
do crédito tributário, também pelo decurso do prazo de 5 anos, contado da data
da sua constituição definitiva, segundo o artigo 174 do Código Tributário Nacio-
nal. Na hipótese de prescrição, houve o lançamento, pois o crédito tributário foi
constituído, porém o Fisco não exerceu o seu direito de cobrança no prazo legal.

80 • capítulo 4
Nas duas modalidades, seja pela perda do direito de constituir o crédito
tributário (decadência), seja a perda do direito de ação de cobrança do crédito
tributário, o Fisco deixa de ser juridicamente hábil para o recebimento de seu
crédito tributário, ensejando, portanto, a extinção do mesmo.

CONEXÃO
Para saber mais sobre prescrição e decadência tributária, acesse: http://www.fiesp.com.br/
sindical-juridica/pdf/conexao_juridica/decad%C3%AAncia%20e%20prescri%C3%A7%-
C3%A3o%20tribut%C3%A1ria..pdf

4.3.5  Conversão de depósito em renda

A conversão do depósito em renda ocorre quando a decisão definitiva adminis-


trativa ou judicial for favorável ao sujeito ativo (Fisco), convertendo o depósito
do montante integral efetuado pelo sujeito passivo para ensejar a suspensão da
cobrança, em renda a favor do Fisco, extinguindo-se por consequência o crédi-
to tributário.

4.3.6  Pagamento antecipado e a respectiva homologação do lançamento

Os tributos que são apurados através do lançamento por homologação, são pa-
gos antecipadamente pelo sujeito passivo, com base nos cálculos elaborados por
ele próprio. Trata-se de um pagamento antecipado, porque é feito antes do lan-
çamento. O pagamento deste tributo será a resultante do pagamento e a confe-
rência da apuração pela autoridade fiscal, que denominamos de homologação.

4.3.7  Consignação em pagamento

A consignação em pagamento é o meio pelo qual o devedor extinguirá a sua obri-


gação perante o credor, no caso de este recusar-se a receber o pagamento, não
tomar a iniciativa de recebê-lo ou ainda quando seu paradeiro for desconhecido.
Em matéria tributária, o valor do crédito tributário pode ser consignado
judicialmente pelo sujeito passivo, nos casos de recusa de recebimento, ou
subordinação deste ao pagamento de outro tributo ou de penalidade, ou ao

capítulo 4 • 81
cumprimento de obrigação acessória, de subordinação do recebimento ao
cumprimento de exigências administrativas sem fundamento legal, ou, de exi-
gência, por mais de uma pessoa jurídica de direito público, de tributo idêntico
sobre um mesmo fato gerador.

4.3.8  Decisão administrativa irreformável e decisão judicial passada em julgado

A decisão administrativa irreformável que permite a extinção do crédito tribu-


tário é aquela que julga improcedente a exigência do crédito tributário, pro-
nunciando pela inexistência da obrigação tributária.
A sentença judicial transitada em julgado que julga procedente pedidos de
contribuinte também extinguem o crédito tributário.
Diz ser uma sentença judicial transitada em julgado quando a mesma não é
mais passível de recurso.

4.3.9  Dação em pagamento

Ocorre a dação em pagamento quando o credor permite que o devedor extingue


a relação de obrigação existente entre eles pela substituição do objeto da pres-
tação, ou seja, o devedor realiza o pagamento de outra maneira que não estava
originalmente na obrigação estabelecida, mas que a extingue da mesma forma.
Em Direito tributário, a dação em pagamento é uma espécie de meio de ex-
tinção do crédito tributário, através da entrega de um bem imóvel para o sujeito
passivo como forma de pagamento.

ATIVIDADE
Responda às questões a seguir:

1.  Não é causa de suspensão da exigibilidade do crédito tributário:


d) o parcelamento.
e) o recurso administrativo.
f) a compensação.
g) a concessão de medida liminar em mandado de segurança.

82 • capítulo 4
2.  Determinado Município pretende, por lei especifica, perdoar créditos tributários compostos
pelo valor do tributo e multas relativos a impostos e taxas municipais. A medida a ser ado-
tada para efetivar o perdão do crédito é a:
a) anistia.
b) remissão.
c) isenção.
d) moratória.

3.  A decadência é forma de extinção do crédito tributário, que ocorre quando:


a) decorridos cinco anos a partir do primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o
lançamento poderia ter sido efetuado, este não é realizado.
b) a partir de cinco anos da data de sua constituição definitiva, não é realizado o lan-
çamento.
c) a obrigação tributária principal é excluída em decorrência de determinação legal.
d) o direito de a Fazenda Pública cobrar o montante tributário devido não é exercido
no prazo de dez anos.

4.  Escolha o tipo de imposto em que é adotado o lançamento de ofício, unilateral ou direto.
a) Imposto sobre a renda e proventos de qualquer natureza.
b) Imposto sobre produtos industrializados.
c) Imposto sobre a propriedade territorial rural.
d) Imposto sobre a propriedade de veículos automotores.
e) Imposto sobre operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestação
de serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação.

5.  É sabido que o direito de a Fazenda Pública constituir o crédito tributário, por meio do
lançamento, extingue-se em cinco anos, contados a partir do primeiro dia do exercício
seguinte àquele em que o lançamento poderia ter sido efetuado. Esse modo de extinção
do crédito tributário é:
a) Prescrição.
b) Transação.
c) Remissão.
d) Compensação.
e) Decadência.

capítulo 4 • 83
REFLEXÃO
Este capítulo permitiu conhecer assuntos de Direito Tributário de fundamental importância.
Todos os profissionais que lidam com as questões tributárias de empresas, sejam advogados,
contadores ou administradores, necessitam ter noções básicas sobre as formas de lança-
mento, as hipóteses de suspensão de crédito tributário, assim como as suas modalidades de
extinção e exclusão.

LEITURA RECOMENDADA
AMARO, Luciano. Direito tributário brasileiro. 16. ed. São Paulo: Saraiva, 2010.

SABBAG, Eduardo. Manual de direito tributário. São Paulo: Saraiva, 2009.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AMARO, Luciano. Direito tributário brasileiro. 16. ed. São Paulo: Saraiva, 2010.

BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de direito financeiro e de direito tributário. 9. ed. São Paulo:
Saraiva, 2002.

MARTINS, Alan; SCARDOELLI, Dimas Yamada. Resumo de direito tributário. Leme: J. H.


Mizuno, 2008.

NOGUEIRA, Ruy Barbosa. Curso de direito tributário. 14. ed. São Paulo: Saraiva, 1995.

SABBAG, Eduardo. Manual de direito tributário. São Paulo: Saraiva, 2009.

NO PRÓXIMO CAPÍTULO
No próximo capítulo, iremos tratar sobre exclusão do crédito tributário e do processo admi-
nistrativo fiscal.

84 • capítulo 4
5
Exclusão do Crédito
Tributário e o Processo
Administrativo Fiscal
5  Exclusão do Crédito Tributário
e o Processo Administrativo Fiscal

O último capítulo é dedicado as hipóteses de exclusão do crédito tributário e ao


estudo da administração tributária, segundo as normas do Código Tributário
Nacional. A administração tributária é atribuição do Poder Executivo (Receita
Federal, Secretaria da Fazenda do Estado ou Secretaria de Finanças do Municí-
pio), e tem por finalidade disciplinar a relação entre o Fisco e os contribuintes.
É importante saber das principais regras que tratam sobre a fiscalização tri-
butária, assuntos corriqueiros na vida profissional dos gestores.

OBJETIVOS
O objetivo deste capítulo é apresentar as noções gerais de administração tributária, com
base no Código Tributário Nacional, que divide este assunto em fiscalização tributária, além
de definir e conceituar as hipóteses de exclusão do crédito tributário.

REFLEXÃO
Você se lembra de ter ouvido falar que uma determinada empresa sofreu a fiscalização dos
agentes da Receita Federal? Este e outros assuntos serão tratados neste capítulo.

5.1  Exclusão do Crédito Tributário

A exclusão do crédito tributário é um instituto jurídico cujo efeito é a exonera-


ção tributária, parcial ou total. Ocorre exclusivamente em caso de promulga-
ção de lei que determina a não-exigibilidade do crédito tributário por parte do
sujeito ativo.
A exclusão do crédito tributário não dispensa o cumprimento das obrigações
acessórias dependentes da obrigação principal cujo crédito seja excluído, ou
dela consequente. As modalidades de exclusão previstas são isenção e anistia.

86 • capítulo 5
CONEXÃO
Para saber mais sobre crédito tributário, acesse: http://www.administradores.com.br/infor-
me-se/artigos/o-credito-tributario/25791/

Isenção é a dispensa legal do pagamento de determinado tributo devido,


pelo que ocorre o fato gerador, mas a lei dispensa o seu pagamento. A isenção
pode ser geral, quando o benefício atinge a generalidade dos sujeitos passi-
vos, independente de qualquer comprovação de característica pessoal e par-
ticular que dote o beneficiário, ou, específica, quando há restrição legal do
benefício às pessoas que preencham determinados requisitos, cuja fruição
dependerá de requerimento endereçado à administração tributária.

CONCEITO
Diz ser uma sentença judicial transitada em julgado quando a mesma não é mais passível
de recurso.

A isenção pode ter limitação geográfica e ainda poderá ser onerosa, quando
concedida por prazo certo e em função de determinadas condições, e não-onero-
sa, quando concedida por tempo indeterminado e de maneira incondicionada.
A isenção onerosa é irrevogável e a isenção não onerosa é revogável, sem a
necessidade de respeitar o Princípio da Anterioridade para a cobrança do tributo
em relação aos fatos e situações antes isentos.
Anistia consiste no perdão legal das penalidades pecuniárias antes da ocor-
rência do lançamento da multa. Só há anistia para fatos passados e que não
tenham sofrido a sanção legalmente cominada.
Assim, só há anistia no período entre o cometimento da infração e o lança-
mento da penalidade pecuniária, sendo que, após o lançamento, é caso ape-
nas de remissão.

capítulo 5 • 87
Para facilitar a compreensão, analise o quadro comparativo:

ISENÇÃO Anistia

EXCLUSÃO DO CRÉDITO Exclusão do crédito tributário, inibindo o


TRIBUTÁRIO, INIBINDO O lançamento
LANÇAMENTO

DISPENSA TRIBUTO Dispensa multa (penalidade)

ABRANGE FATOS GERADORES Abrange fatos geradores anteriores à lei


POSTERIORES À LEI

ATINGE A OBRIGAÇÃO PRINCIPAL, Atinge a obrigação principal, mantendo


MANTENDO INCÓLUMES AS incólumes as acessórias
ACESSÓRIAS

Regularização de situação de inadim-


MOTIVO SOCIOECONÔMICO plência da obrigação

5.2  Processo Administrativo Fiscal

A Administração tributária consiste em um conjunto de ações e atividades, in-


terligadas e complementares entre si, que almejam garantir o cumprimento
pela sociedade da legislação tributária. Assim, a administração tributária é a
atividade de Poder Público voltada para a fiscalização e arrecadação tributária.
Uma salutar arrecadação depende de fiscalização, através de procedimen-
tos fiscais adequados; cobrança judicial, com a eficaz exigência dos créditos
inscritos na dívida ativa e; controle de regularidade fiscal do contribuinte, atra-
vés de emissões de Certidões Negativas.
Por este motivo, fiscalização, dívida ativa e Certidões Negativas estão previs-
tos nos artigos 194 a 208 do Código Tributário Nacional, englobados no título
denominado Administração Tributária.

88 • capítulo 5
5.2.1  A Fiscalização

A fiscalização consiste em atos de verificação do cumprimento de obrigações


tributárias (principais e acessórias). As autoridades administrativas que exer-
cem o poder de fiscalização estão vinculadas ao regramento jurídico estabele-
cido pela legislação tributária.
Assim, a legislação tributária, regulará, em caráter geral, ou especificamen-
te em função da natureza do tributo de que se tratar, a competência e os poderes
das autoridades administrativas em matéria de fiscalização da sua aplicação.
O poder de fiscalizar impõe sobre qualquer norma jurídica que limite o di-
reito de examinar mercadorias, livros, arquivos, documentos e outros papéis de
empresários. Porém, o Supremo Tribunal Federal, através da Súmula nº 439,
decidiu que estão sujeitos a fiscalização tributária ou previdenciária, quaisquer
livros comerciais, limitado o exame aos pontos objeto da investigação.

CONCEITO
Súmula é uma síntese de todos os casos, parecidos, decididos da mesma maneira, colocada
por meio de uma proposição direta e clara. Assim, quando o Supremo Tribunal Federal, vem
decidindo reiteradamente da mesma maneira casos semelhantes, edita uma súmula, corres-
pondendo esta um texto conciso que, de forma clara e direta, expressa o entendimento da
Corte sobre determinado assunto.

Para que a fiscalização possa realizar o seu trabalho investigativo, o Códi-


go Tributário Nacional determinou que os livros obrigatórios de escrituração
comercial e fiscal e os comprovantes dos lançamentos neles efetuados serão
conservados até que ocorra a prescrição dos créditos tributários decorrentes
das operações a que se refiram.
Quanto a obrigatoriedade de arquivamento dos livros obrigatórios de escri-
turação comercial e fiscal e os comprovantes dos lançamentos neles efetuados,
o Superior Tribunal de Justiça já se posicionou pela não admissibilidade de
guarda de “papéis” em microfilmes.
Importante ressaltar que havendo recusa do contribuinte em exibir seus
livros, arquivos, documentos e outros papéis à autoridade fiscal, será possível
ensejar o lançamento por arbitramento, além de ser considerada tal atitude
como crime contra a ordem tributária (art. 1º, I, da Lei nº 8.137/90).

capítulo 5 • 89
A autoridade administrativa que proceder ou presidir a quaisquer diligên-
cias de fiscalização lavrará os termos necessários para que se documente o
início do procedimento, fixando prazo máximo para a conclusão. Os termos,
sempre que possível, serão lavrados em um dos livros fiscais exibidos e, quando
lavrados em separado deles, será entregue à pessoa sujeita à fiscalização, cópia
autenticada pela autoridade.
Mediante intimação escrita, são obrigados a prestar à autoridade adminis-
trativa todas as informações de que disponham com relação aos bens, negócios
ou atividades de terceiros:

•  os tabeliães, escrivães e demais serventuários de ofício;


•  os bancos, casas bancárias, Caixas Econômicas e demais instituições fi-
nanceiras;
•  as empresas de administração de bens;
•  os corretores, leiloeiros e despachantes oficiais;
•  os inventariantes;
•  VI - os síndicos, comissários e liquidatários;
•  quaisquer outras entidades ou pessoas que a lei designe, em razão de seu
cargo, ofício, função, ministério, atividade ou profissão.
No entanto, a obrigatoriedade de prestar informações à autoridade admi-
nistrativa não se aplica quanto a fatos sobre os quais o informante esteja legal-
mente obrigado a observar segredo em razão de cargo, ofício, função, ministé-
rio, atividade ou profissão.
O Fisco tem a obrigação de manter sigilo sobre as informações obtidas duran-
te os processos de fiscalização, sob pena de imposição de sanções administrati-
vas. O artigo 198 do Código Tributário Nacional reza que é vedada a divulgação,
por parte da Fazenda Pública ou de seus servidores, de informação obtida em ra-
zão do ofício sobre a situação econômica ou financeira do sujeito passivo ou de
terceiros e sobre a natureza e o estado de seus negócios ou atividades.
A vedação prevista no artigo 198 do Código Tributário Nacional não se apli-
ca em caso de requisição de autoridade judiciária no interesse da justiça ou so-
licitações de autoridade administrativa no interesse da Administração Pública,
desde que seja comprovada a instauração regular de processo administrativo,
no órgão ou na entidade respectiva, com o objetivo de investigar o sujeito passi-
vo a que se refere a informação, por prática de infração administrativa.

90 • capítulo 5
Por outro lado, não é vedada a divulgação de informações relativas a repre-
sentações fiscais para fins penais; inscrições na Dívida Ativa da Fazenda Públi-
ca, parcelamento ou moratória.
Poderá haver o intercâmbio de informação
sigilosa, no âmbito da Administração Pública,
desde que realizado mediante processo regular-
mente instaurado, e a entrega das informações
será feita pessoalmente à autoridade solicitan-
te, mediante recibo, que formalize a transferên-
cia e assegure a preservação do sigilo.
A Fazenda Pública da União e as dos Es-
tados, do Distrito Federal e dos Municípios
poderão prestar mútua assistência para a fis-
calização dos tributos respectivos e permuta
de informações, na forma estabelecida, em
caráter geral ou específico, por lei ou convênio. Da mesma forma, a Fazenda
Pública da União, na forma estabelecida em tratados, acordos ou convênios,
também poderá permutar informações com Estados estrangeiros no interesse
da arrecadação e da fiscalização de tributos.
O artigo 200 do Código Tributário Nacional permite as autoridades adminis-
trativas federais requisitar o auxílio da força pública federal, estadual ou muni-
cipal, quando vítimas de embaraço ou desacato no exercício de suas funções,
ou quando necessário à efetivação dê medida prevista na legislação tributária,
ainda que não se configure fato definido em lei como crime ou contravenção.
Importante destacar que uma parcela dessa atuação fiscal é exercida no
âmbito de um processo que recebe o nome de processo administrativo fiscal
ou processo administrativo tributário.
Anote-se que o processo administrativo fiscal não tem só por objetivo a apu-
ração da obrigação tributária, mas também apurar toda e qualquer controvér-
sia entre o fisco e o contribuinte.

Com efeito, o processo administrativo disciplina os atos relacionados com a suspensão


da exigibilidade, extinção e exclusão do crédito tributário, além dos requerimentos re-
lacionados com a sua restituição, revisão de base de cálculo e retificação das declara-
ções. (SILVA e PEREIRA, 2009).

capítulo 5 • 91
De toda conveniência destacar que, em relação aos créditos tributários da
União e a possibilidade de consulta sobre a aplicação da legislação tributária
federal (ferramenta importante que o gestor deve saber utilizat quando residir
dúvida quanto a obrigatoriedade ou quanto a montante a ser pago sobre deter-
minado tributo), o processo administrativo fiscal possui regulamentação atra-
vés do Decreto 70.235/72, o qual disciplina quais devem ser os conteúdos dos
atos e termos processuais, além dos prazos a serem observados, na forma do
que estabelecem os artigos 2º ao 4º do citado Decreto.

O artigo 10 estabelece os requisitos que o auto de infração deverá atender, sob pena
de ser declarado nulo e não produzindo os seus efeitos.
Art. 10. O auto de infração será lavrado por servidor competente, no local da verificação
da falta, e conterá obrigatoriamente:
I - a qualificação do autuado;
II - o local, a data e a hora da lavratura;
III - a descrição do fato;
IV - a disposição legal infringida e a penalidade aplicável;
V - a determinação da exigência e a intimação para cumpri-la ou impugná-la no prazo
de trinta dias;
VI - a assinatura do autuante e a indicação de seu cargo ou função e o número de
matrícula.

O artigo 11 estabelece os requisitos para a notificação de lançamento:

Art. 11. A notificação de lançamento será expedida pelo órgão que administra o tributo
e conterá obrigatoriamente:
I - a qualificação do notificado;
II - o valor do crédito tributário e o prazo para recolhimento ou impugnação;
III - a disposição legal infringida, se for o caso;
IV - a assinatura do chefe do órgão expedidor ou de outro servidor autorizado e a indi-
cação de seu cargo ou função e o número de matrícula.
Parágrafo único. Prescinde de assinatura a notificação de lançamento emitida por pro-
cesso eletrônico.

92 • capítulo 5
O artigo 15 define o prazo de 30 dias para que o interessado possa apresen-
tar a sua defesa junto ao processo administrativo fiscal.

Art. 15. A impugnação, formalizada por escrito e instruída com os documentos em que
se fundamentar, será apresentada ao órgão preparador no prazo de trinta dias, conta-
dos da data em que for feita a intimação da exigência.

A primeira instância administrativa para julgamento das matérias fica esta-


belecida para as Delegacias das Receitas Federais. A segunda instância admi-
nistrativa a atribuição é delegada aos Conselhos Administrativos de Recursos
Fiscais havendo a possibilidade de recursos serem manejados para a Câmara
Superior de Recursos Fiscais, conforme disciplinam os artigos 24 à 26 - A do
antefalado Decreto.

Art. 24. O preparo do processo compete à autoridade local do órgão encarregado da


administração do tributo.
Parágrafo único. Quando o ato for praticado por meio eletrônico, a administração tri-
butária poderá atribuir o preparo do processo a unidade da administração tributária
diversa da prevista no caput deste artigo.
Art. 25. O julgamento do processo de exigência de tributos ou contribuições adminis-
trados pela Secretaria da Receita Federal compete:
I - em primeira instância, às Delegacias da Receita Federal de Julgamento, órgãos de
deliberação interna e natureza colegiada da Secretaria da Receita Federal;
a) aos Delegados da Receita Federal, titulares de Delegacias especializadas nas ati-
vidades concernentes a julgamento de processos, quanto aos tributos e contribuições
administrados pela Secretaria da Receita Federal.
b) às autoridades mencionadas na legislação de cada um dos demais tributos ou, na fal-
ta dessa indicação, aos chefes da projeção regional ou local da entidade que administra
o tributo, conforme for por ela estabelecido.
II – em segunda instância, ao Conselho Administrativo de Recursos Fiscais, órgão co-
legiado, paritário, integrante da estrutura do Ministério da Fazenda, com atribuição de
julgar recursos de ofício e voluntários de decisão de primeira instância, bem como re-
cursos de natureza especial.

capítulo 5 • 93
§ 1o O Conselho Administrativo de Recursos Fiscais será constituído por seções e pela
Câmara Superior de Recursos Fiscais.
§ 2o As seções serão especializadas por matéria e constituídas por câmaras.
§ 3o A Câmara Superior de Recursos Fiscais será constituída por turmas, compostas
pelos Presidentes e Vice-Presidentes das câmaras.
§ 4o As câmaras poderão ser divididas em turmas.
§ 5o O Ministro de Estado da Fazenda poderá criar, nas seções, turmas especiais,
de caráter temporário, com competência para julgamento de processos que envolvam
valores reduzidos, que poderão funcionar nas cidades onde estão localizadas as Supe-
rintendências Regionais da Receita Federal do Brasil.
§ 7o As turmas da Câmara Superior de Recursos Fiscais serão constituídas pelo Pre-
sidente do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais, pelo Vice-Presidente, pelos
Presidentes e pelos Vice-Presidentes das câmaras, respeitada a paridade
§ 8o A presidência das turmas da Câmara Superior de Recursos Fiscais será exercida
pelo Presidente do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais e a vice-presidência,
por conselheiro representante dos contribuintes.
§ 9o Os cargos de Presidente das Turmas da Câmara Superior de Recursos Fiscais,
das câmaras, das suas turmas e das turmas especiais serão ocupados por conselheiros
representantes da Fazenda Nacional, que, em caso de empate, terão o voto de qualida-
de, e os cargos de Vice-Presidente, por representantes dos contribuintes
§ 10o. Os conselheiros serão designados pelo Ministro de Estado da Fazenda para
mandato, limitando-se as reconduções, na forma e no prazo estabelecidos no regimen-
to interno.
§ 11o. O Ministro de Estado da Fazenda, observado o devido processo legal, decidirá
sobre a perda do mandato dos conselheiros que incorrerem em falta grave, definida no
regimento interno.
Art. 26. Compete ao Ministro da Fazenda, em instância especial:
I - julgar recursos de decisões dos Conselhos de Contribuintes, interpostos pelos Pro-
curadores Representantes da Fazenda junto aos mesmos Conselhos;
II - decidir sobre as propostas de aplicação de equidade apresentadas pelos Conselhos
de Contribuintes.
Art. 26-A. No âmbito do processo administrativo fiscal, fica vedado aos órgãos de jul-
gamento afastar a aplicação ou deixar de observar tratado, acordo internacional, lei ou
decreto, sob fundamento de inconstitucionalidade.

94 • capítulo 5
§ 6o O disposto no caput deste artigo não se aplica aos casos de tratado, acordo inter-
nacional, lei ou ato normativo:
I – que já tenha sido declarado inconstitucional por decisão definitiva plenária do Su-
premo Tribunal Federal;
II – que fundamente crédito tributário objeto de:
a) dispensa legal de constituição ou de ato declaratório do Procurador-Geral da Fa-
zenda Nacional, na forma dos arts. 18 e 19 da Lei no 10.522, de 19 de julho de 2002;
b) súmula da Advocacia-Geral da União, na forma do art. 43 da Lei Complementar no
73, de 10 de fevereiro de 1993; ou (Incluído pela Lei nº 11.941, de 2009)
c) pareceres do Advogado-Geral da União aprovados pelo Presidente da República, na
forma do art. 40 da Lei Complementar nº 73, de 10 de fevereiro de 1993.(Incluído pela
Lei nº 11.941, de 2009)

E, ainda, os artigos 46 à 58 disciplinam a conduta do contribuinte que dese-


ja formalizar o seu processo de consulta referente a tributos federais.

Art. 46. O sujeito passivo poderá formular consulta sobre dispositivos da legislação
tributária aplicáveis a fato determinado.
Parágrafo único. Os órgãos da administração pública e as entidades representativas de
categorias econômicas ou profissionais também poderão formular consulta.
Art. 47. A consulta deverá ser apresentada por escrito, no domicílio tributário do con-
sulente, ao órgão local da entidade incumbida de administrar o tributo sobre o versa.
Art. 48. Salvo o disposto no artigo seguinte, nenhum procedimento fiscal será instaura-
do contra o sujeito passivo relativamente à espécie consultada, a partir da apresentação
da consulta até o trigésimo dia subsequente à data da ciência:
I - de decisão de primeira instância da qual não haja sido interposto recurso;
II - de decisão de segunda instância.
Art. 49. A consulta não suspende o prazo para recolhimento de tributo, retido na fonte
ou autolançado antes ou depois de sua apresentação, nem o prazo para apresentação
de declaração de rendimentos.
Art. 50. A decisão de segunda instância não obriga ao recolhimento de tributo que
deixou de ser retido ou autolançado após a decisão reformada e de acordo com a orien-
tação desta, no período compreendido entre as datas de ciência das duas decisões.

capítulo 5 • 95
Art. 51. No caso de consulta formulada por entidade representativa de categoria eco-
nômica ou profissional, os efeitos referidos no artigo 48 só alcançam seus associados
ou filiados depois de cientificado o consulente da decisão.
Art. 52. Não produzirá efeito a consulta formulada:
I - em desacordo com os artigos 46 e 47;
II - por quem tiver sido intimado a cumprir obrigação relativa ao fato objeto da consulta;
III - por quem estiver sob procedimento fiscal iniciado para apurar fatos que se relacio-
nem com a matéria consultada;
IV - quando o fato já houver sido objeto de decisão anterior, ainda não modificada, pro-
ferida em consulta ou litígio em que tenha sido parte o consulente;
V - quando o fato estiver disciplinado em ato normativo, publicado antes de sua apre-
sentação;
VI - quando o fato estiver definido ou declarado em disposição literal de lei;
VII - quando o fato for definido como crime ou contravenção penal;
VIII - quando não descrever, completa ou exatamente, a hipótese a que se referir, ou não
contiver os elementos necessários à sua solução salvo se a inexatidão ou omissão for
escusável, a critério da autoridade julgadora.
Art. 53. O preparo do processo compete ao órgão local da entidade encarregada da
administração do tributo.
Art. 54. O julgamento compete:
I - Em primeira instância:
a) aos Superintendentes Regionais da Receita Federal, quanto aos tributos administra-
dos pela Secretaria da Receita Federal, atendida, no julgamento, a orientação emanada
dos atos normativos da Coordenação do Sistema de Tributação;
b) às autoridades referidas na alínea b do inciso I do artigo 25.
II - Em segunda instância:
a) ao Coordenador do Sistema de Tributação, da Secretaria da Receita Federal, salvo
quanto aos tributos incluídos na competência julgadora de outro órgão da administra-
ção federal;
b) à autoridade mencionada na legislação dos tributos, ressalvados na alínea prece-
dente ou, na falta dessa indicação, à que for designada pela entidade que administra
o tributo.
III - Em instância única, ao Coordenador do Sistema de Tributação, quanto às consultas
relativas aos tributos administrados pela Secretaria da Receita Federal e formuladas:

96 • capítulo 5
a) sobre classificação fiscal de mercadorias;
b) pelos órgãos centrais da administração pública;
c) por entidades representativas de categorias econômicas ou profissionais, de âmbito
nacional.
Art. 55. Compete à autoridade julgadora declarar a ineficácia da Consulta.
Art. 56. Cabe recurso voluntário, com efeito suspensivo, de decisão de primeira instân-
cia, dentro de trinta dias contados da ciência.
Art. 57. A autoridade de primeira instância recorrerá de ofício de decisão favorável ao
consulente.
Art. 58. Não cabe pedido de reconsideração de decisão proferida em processo de con-
sulta, inclusive da que declarar a sua ineficácia.

É importante destacar que mesmo em relação ao processo administrativo


fiscal federal, têm-se a Lei 9784/99 - que se refere aos processos administrativos
no âmbito da Administração Federal Direta e Indireta, a qual tem aplicação
subsidiária, conforme disciplina o seu artigo 69:

Os processos administrativos específicos continuarão a reger-se por lei própria, apli-


cando-se-lhes apenas subsidiariamente os preceitos desta Lei.

Referência legislativa
Código Tributário Nacional

Capítulo V
Exclusão de Crédito Tributário

Seção I
Disposições Gerais
Art. 175. Excluem o crédito tributário:

I - a isenção;

II - a anistia.

capítulo 5 • 97
Parágrafo único. A exclusão do crédito tributário não dispensa o cumpri-
mento das obrigações acessórias dependentes da obrigação principal cujo
crédito seja excluído, ou dela consequente.

Seção II
Isenção
Art. 176. A isenção, ainda quando prevista em contrato, é sempre decorrente
de lei que especifique as condições e requisitos exigidos para a sua conces-
são, os tributos a que se aplica e, sendo caso, o prazo de sua duração.

Parágrafo único. A isenção pode ser restrita a determinada região do territó-


rio da entidade tributante, em função de condições a ela peculiares.

Art. 177. Salvo disposição de lei em contrário, a isenção não é extensiva:

I - às taxas e às contribuições de melhoria;

II - aos tributos instituídos posteriormente à sua concessão.

Art. 178 - A isenção, salvo se concedida por prazo certo e em função de de-
terminadas condições, pode ser revogada ou modificada por lei, a qualquer
tempo, observado o disposto no inciso III do art. 104.

Art. 179. A isenção, quando não concedida em caráter geral, é efetivada, em


cada caso, por despacho da autoridade administrativa, em requerimento
com o qual o interessado faça prova do preenchimento das condições e do
cumprimento dos requisitos previstos em lei ou contrato para concessão.

§ 1º Tratando-se de tributo lançado por período certo de tempo, o despacho


referido neste artigo será renovado antes da expiração de cada período, ces-
sando automaticamente os seus efeitos a partir do primeiro dia do período
para o qual o interessado deixar de promover a continuidade do reconheci-
mento da isenção.

§ 2º O despacho referido neste artigo não gera direito adquirido, aplicando-


se, quando cabível, o disposto no artigo 155.

Seção III
Anistia
Art. 180. A anistia abrange exclusivamente as infrações cometidas anterior-
mente à vigência da lei que a concede, não se aplicando:

98 • capítulo 5
I - aos atos qualificados em lei como crimes ou contravenções e aos que,
mesmo sem essa qualificação, sejam praticados com dolo, fraude ou simu-
lação pelo sujeito passivo ou por terceiro em benefício daquele;

II - salvo disposição em contrário, às infrações resultantes de conluio entre


duas ou mais pessoas naturais ou jurídicas.

Art. 181. A anistia pode ser concedida:

I - em caráter geral;

II - limitadamente:

a) às infrações da legislação relativa a determinado tributo;

b) às infrações punidas com penalidades pecuniárias até determinado mon-


tante, conjugadas ou não com penalidades de outra natureza;

c) a determinada região do território da entidade tributante, em função de


condições a ela peculiares;

d) sob condição do pagamento de tributo no prazo fixado pela lei que a conce-
der, ou cuja fixação seja atribuída pela mesma lei à autoridade administrativa.

Art. 182. A anistia, quando não concedida em caráter geral, é efetivada, em


cada caso, por despacho da autoridade administrativa, em requerimento
com a qual o interessado faça prova do preenchimento das condições e do
cumprimento dos requisitos previstos em lei para sua concessão.

Parágrafo único. O despacho referido neste artigo não gera direito adquiri-
do, aplicando-se, quando cabível, o disposto no artigo 155.

..........

TÍTULO IV
Administração Tributária

Capítulo I
Fiscalização
Art. 194. A legislação tributária, observado o disposto nesta Lei, regulará,
em caráter geral, ou especificamente em função da natureza do tributo de
que se tratar, a competência e os poderes das autoridades administrativas
em matéria de fiscalização da sua aplicação.

capítulo 5 • 99
Parágrafo único. A legislação a que se refere este artigo aplica-se às pessoas
naturais ou jurídicas, contribuintes ou não, inclusive às que gozem de imu-
nidade tributária ou de isenção de caráter pessoal.

Art. 195. Para os efeitos da legislação tributária, não têm aplicação quaisquer
disposições legais excludentes ou limitativas do direito de examinar mercado-
rias, livros, arquivos, documentos, papéis e efeitos comerciais ou fiscais, dos
comerciantes industriais ou produtores, ou da obrigação destes de exibi-los.

Parágrafo único. Os livros obrigatórios de escrituração comercial e fiscal e


os comprovantes dos lançamentos neles efetuados serão conservados até
que ocorra a prescrição dos créditos tributários decorrentes das operações
a que se refiram.

Art. 196. A autoridade administrativa que proceder ou presidir a quaisquer


diligências de fiscalização lavrará os termos necessários para que se docu-
mente o início do procedimento, na forma da legislação aplicável, que fixa-
rá prazo máximo para a conclusão daquelas.

Parágrafo único. Os termos a que se refere este artigo serão lavrados, sem-
pre que possível, em um dos livros fiscais exibidos; quando lavrados em se-
parado deles se entregará, à pessoa sujeita à fiscalização, cópia autenticada
pela autoridade a que se refere este artigo.

Art. 197. Mediante intimação escrita, são obrigados a prestar à autoridade


administrativa todas as informações de que disponham com relação aos
bens, negócios ou atividades de terceiros:

I - os tabeliães, escrivães e demais serventuários de ofício;

II - os bancos, casas bancárias, Caixas Econômicas e demais instituições fi-


nanceiras;

III - as empresas de administração de bens;

IV - os corretores, leiloeiros e despachantes oficiais;

V - os inventariantes;

VI - os síndicos, comissários e liquidatários;

VII - quaisquer outras entidades ou pessoas que a lei designe, em razão de


seu cargo, ofício, função, ministério, atividade ou profissão.

100 • capítulo 5
Parágrafo único. A obrigação prevista neste artigo não abrange a prestação
de informações quanto a fatos sobre os quais o informante esteja legalmen-
te obrigado a observar segredo em razão de cargo, ofício, função, ministé-
rio, atividade ou profissão.

Art. 198. Sem prejuízo do disposto na legislação criminal, é vedada a divul-


gação, por parte da Fazenda Pública ou de seus servidores, de informação
obtida em razão do ofício sobre a situação econômica ou financeira do su-
jeito passivo ou de terceiros e sobre a natureza e o estado de seus negócios
ou atividades.

§ 1° Excetuam-se do disposto neste artigo, além dos casos previstos no art.


199, os seguintes:

I – requisição de autoridade judiciária no interesse da justiça;

II – solicitações de autoridade administrativa no interesse da Administra-


ção Pública, desde que seja comprovada a instauração regular de processo
administrativo, no órgão ou na entidade respectiva, com o objetivo de inves-
tigar o sujeito passivo a que se refere a informação, por prática de infração
administrativa.

§ 2° O intercâmbio de informação sigilosa, no âmbito da Administração Pú-


blica, será realizado mediante processo regularmente instaurado, e a entre-
ga será feita pessoalmente à autoridade solicitante, mediante recibo, que
formalize a transferência e assegure a preservação do sigilo.

§ 3° Não é vedada a divulgação de informações relativas a:

I – representações fiscais para fins penais;

II – inscrições na Dívida Ativa da Fazenda Pública;

III – parcelamento ou moratória.

Art. 199. A Fazenda Pública da União e as dos Estados, do Distrito Federal


e dos Municípios prestar-se-ão mutuamente assistência para a fiscalização
dos tributos respectivos e permuta de informações, na forma estabelecida,
em caráter geral ou específico, por lei ou convênio.

Parágrafo único. A Fazenda Pública da União, na forma estabelecida em tra-


tados, acordos ou convênios, poderá permutar informações com Estados
estrangeiros no interesse da arrecadação e da fiscalização de tributos.

capítulo 5 • 101
Art. 200. As autoridades administrativas federais poderão requisitar o auxí-
lio da força pública federal, estadual ou municipal, e reciprocamente, quan-
do vítimas de embaraço ou desacato no exercício de suas funções, ou quan-
do necessário à efetivação dê medida prevista na legislação tributária, ainda
que não se configure fato definido em lei como crime ou contravenção.

__________________

LEI Nº 9.784 , DE 29 DE JANEIRO DE 1999.


Regula o processo administrativo no âmbito da Administração Pública Federal.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA
Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

Capítulo I
Das disposições gerais
Art. 1o Esta Lei estabelece normas básicas sobre o processo administrativo
no âmbito da Administração Federal direta e indireta, visando, em especial,
à proteção dos direitos dos administrados e ao melhor cumprimento dos
fins da Administração.

§ 1o Os preceitos desta Lei também se aplicam aos órgãos dos Poderes Legisla-
tivo e Judiciário da União, quando no desempenho de função administrativa.

§ 2o Para os fins desta Lei, consideram-se:

I - órgão - a unidade de atuação integrante da estrutura da Administração


direta e da estrutura da Administração indireta;

II - entidade - a unidade de atuação dotada de personalidade jurídica;

III - autoridade - o servidor ou agente público dotado de poder de decisão.

Art. 2o A Administração Pública obedecerá, dentre outros, aos princípios da


legalidade, finalidade, motivação, razoabilidade, proporcionalidade, mora-
lidade, ampla defesa, contraditório, segurança jurídica, interesse público e
eficiência.

Parágrafo único. Nos processos administrativos serão observados, entre ou-


tros, os critérios de:

102 • capítulo 5
I - atuação conforme a lei e o Direito;

II - atendimento a fins de interesse geral, vedada a renúncia total ou parcial


de poderes ou competências, salvo autorização em lei;

III - objetividade no atendimento do interesse público, vedada a promoção


pessoal de agentes ou autoridades;

IV - atuação segundo padrões éticos de probidade, decoro e boa-fé;

V - divulgação oficial dos atos administrativos, ressalvadas as hipóteses de


sigilo previstas na Constituição;

VI - adequação entre meios e fins, vedada a imposição de obrigações, res-


trições e sanções em medida superior àquelas estritamente necessárias ao
atendimento do interesse público;

VII - indicação dos pressupostos de fato e de direito que determinarem a


decisão;

VIII – observância das formalidades essenciais à garantia dos direitos dos


administrados;

IX - adoção de formas simples, suficientes para propiciar adequado grau de


certeza, segurança e respeito aos direitos dos administrados;

X - garantia dos direitos à comunicação, à apresentação de alegações finais,


à produção de provas e à interposição de recursos, nos processos de que
possam resultar sanções e nas situações de litígio;

XI - proibição de cobrança de despesas processuais, ressalvadas as previs-


tas em lei;

XII - impulsão, de ofício, do processo administrativo, sem prejuízo da atua-


ção dos interessados;

XIII - interpretação da norma administrativa da forma que melhor garanta o


atendimento do fim público a que se dirige, vedada aplicação retroativa de
nova interpretação.

capítulo 5 • 103
Capítulo II
Dos direitos dos administrados

Art. 3o O administrado tem os seguintes direitos perante a Administração,


sem prejuízo de outros que lhe sejam assegurados:

I - ser tratado com respeito pelas autoridades e servidores, que deverão faci-
litar o exercício de seus direitos e o cumprimento de suas obrigações;

II - ter ciência da tramitação dos processos administrativos em que tenha


a condição de interessado, ter vista dos autos, obter cópias de documentos
neles contidos e conhecer as decisões proferidas;

III - formular alegações e apresentar documentos antes da decisão, os quais


serão objeto de consideração pelo órgão competente;

IV - fazer-se assistir, facultativamente, por advogado, salvo quando obriga-


tória a representação, por força de lei.

Capítulo III
Dos deveres do administrado

Art. 4o São deveres do administrado perante a Administração, sem prejuízo


de outros previstos em ato normativo:

I - expor os fatos conforme a verdade;

II - proceder com lealdade, urbanidade e boa-fé;

III - não agir de modo temerário;

IV - prestar as informações que lhe forem solicitadas e colaborar para o es-


clarecimento dos fatos.

104 • capítulo 5
Capítulo IV
Do início do processo

Art. 5o O processo administrativo pode iniciar-se de ofício ou a pedido de


interessado.

Art. 6o O requerimento inicial do interessado, salvo casos em que for admi-


tida solicitação oral, deve ser formulado por escrito e conter os seguintes
dados:

I - órgão ou autoridade administrativa a que se dirige;

II - identificação do interessado ou de quem o represente;

III - domicílio do requerente ou local para recebimento de comunicações;

IV - formulação do pedido, com exposição dos fatos e de seus fundamentos;

V - data e assinatura do requerente ou de seu representante.

Parágrafo único. É vedada à Administração a recusa imotivada de recebi-


mento de documentos, devendo o servidor orientar o interessado quanto ao
suprimento de eventuais falhas.

Art. 7o Os órgãos e entidades administrativas deverão elaborar modelos ou


formulários padronizados para assuntos que importem pretensões equiva-
lentes.

Art. 8o Quando os pedidos de uma pluralidade de interessados tiverem con-


teúdo e fundamentos idênticos, poderão ser formulados em um único re-
querimento, salvo preceito legal em contrário.

Capítulo V
Dos interessados

Art. 9o São legitimados como interessados no processo administrativo:

I - pessoas físicas ou jurídicas que o iniciem como titulares de direitos ou


interesses individuais ou no exercício do direito de representação;

II - aqueles que, sem terem iniciado o processo, têm direitos ou interesses


que possam ser afetados pela decisão a ser adotada;

capítulo 5 • 105
III - as organizações e associações representativas, no tocante a direitos e
interesses coletivos;

IV - as pessoas ou as associações legalmente constituídas quanto a direitos


ou interesses difusos.

Art. 10. São capazes, para fins de processo administrativo, os maiores de de-
zoito anos, ressalvada previsão especial em ato normativo próprio.

Capítulo VI
Da competência

Art. 11. A competência é irrenunciável e se exerce pelos órgãos administrati-


vos a que foi atribuída como própria, salvo os casos de delegação e avocação
legalmente admitidos.

Art. 12. Um órgão administrativo e seu titular poderão, se não houver impe-
dimento legal, delegar parte da sua competência a outros órgãos ou titula-
res, ainda que estes não lhe sejam hierarquicamente subordinados, quando
for conveniente, em razão de circunstâncias de índole técnica, social, eco-
nômica, jurídica ou territorial.

Parágrafo único. O disposto no caput deste artigo aplica-se à delegação de


competência dos órgãos colegiados aos respectivos presidentes.

Art. 13. Não podem ser objeto de delegação:

I - a edição de atos de caráter normativo;

II - a decisão de recursos administrativos;

III - as matérias de competência exclusiva do órgão ou autoridade.

Art. 14. O ato de delegação e sua revogação deverão ser publicados no meio
oficial.

§ 1o O ato de delegação especificará as matérias e poderes transferidos, os


limites da atuação do delegado, a duração e os objetivos da delegação e o re-

106 • capítulo 5
curso cabível, podendo conter ressalva de exercício da atribuição delegada.

§ 2o O ato de delegação é revogável a qualquer tempo pela autoridade dele-


gante.

§ 3o As decisões adotadas por delegação devem mencionar explicitamente


esta qualidade e considerar-se-ão editadas pelo delegado.

Art. 15. Será permitida, em caráter excepcional e por motivos relevantes de-
vidamente justificados, a avocação temporária de competência atribuída a
órgão hierarquicamente inferior.

Art. 16. Os órgãos e entidades administrativas divulgarão publicamente os


locais das respectivas sedes e, quando conveniente, a unidade fundacional
competente em matéria de interesse especial.

Art. 17. Inexistindo competência legal específica, o processo administra-


tivo deverá ser iniciado perante a autoridade de menor grau hierárquico
para decidir.

Capítulo VII
Dos impedimentos e da suspeição

Art. 18. É impedido de atuar em processo administrativo o servidor ou au-


toridade que:

I - tenha interesse direto ou indireto na matéria;

II - tenha participado ou venha a participar como perito, testemunha ou re-


presentante, ou se tais situações ocorrem quanto ao cônjuge, companheiro
ou parente e afins até o terceiro grau;

III - esteja litigando judicial ou administrativamente com o interessado ou


respectivo cônjuge ou companheiro.

Art. 19. A autoridade ou servidor que incorrer em impedimento deve comu-


nicar o fato à autoridade competente, abstendo-se de atuar.

Parágrafo único. A omissão do dever de comunicar o impedimento consti-


tui falta grave, para efeitos disciplinares.

capítulo 5 • 107
Art. 20. Pode ser arguida a suspeição de autoridade ou servidor que tenha
amizade íntima ou inimizade notória com algum dos interessados ou com
os respectivos cônjuges, companheiros, parentes e afins até o terceiro grau.

Art. 21. O indeferimento de alegação de suspeição poderá ser objeto de re-


curso, sem efeito suspensivo.

Capítulo VIII
Da forma, tempo e lugar dos atos do processo

Art. 22. Os atos do processo administrativo não dependem de forma deter-


minada senão quando a lei expressamente a exigir.

§ 1o Os atos do processo devem ser produzidos por escrito, em vernáculo, com


a data e o local de sua realização e a assinatura da autoridade responsável.

§ 2o Salvo imposição legal, o reconhecimento de firma somente será exigido


quando houver dúvida de autenticidade.

§ 3o A autenticação de documentos exigidos em cópia poderá ser feita pelo


órgão administrativo.

§ 4o O processo deverá ter suas páginas numeradas sequencialmente e ru-


bricadas.

Art. 23. Os atos do processo devem realizar-se em dias úteis, no horário nor-
mal de funcionamento da repartição na qual tramitar o processo.

Parágrafo único. Serão concluídos depois do horário normal os atos já ini-


ciados, cujo adiamento prejudique o curso regular do procedimento ou cau-
se dano ao interessado ou à Administração.

Art. 24. Inexistindo disposição específica, os atos do órgão ou autoridade


responsável pelo processo e dos administrados que dele participem devem
ser praticados no prazo de cinco dias, salvo motivo de força maior.

Parágrafo único. O prazo previsto neste artigo pode ser dilatado até o dobro,
mediante comprovada justificação.

Art. 25. Os atos do processo devem realizar-se preferencialmente na sede do


órgão, cientificando-se o interessado se outro for o local de realização.

108 • capítulo 5
Capítulo IX
Da comunicação dos atos

Art. 26. O órgão competente perante o qual tramita o processo administra-


tivo determinará a intimação do interessado para ciência de decisão ou a
efetivação de diligências.

§ 1o A intimação deverá conter:

I - identificação do intimado e nome do órgão ou entidade administrativa;

II - finalidade da intimação;

III - data, hora e local em que deve comparecer;

IV - se o intimado deve comparecer pessoalmente, ou fazer-se representar;

V - informação da continuidade do processo independentemente do seu


comparecimento;

VI - indicação dos fatos e fundamentos legais pertinentes.

§ 2o A intimação observará a antecedência mínima de três dias úteis quanto


à data de comparecimento.

§ 3o A intimação pode ser efetuada por ciência no processo, por via postal
com aviso de recebimento, por telegrama ou outro meio que assegure a cer-
teza da ciência do interessado.

§ 4o No caso de interessados indeterminados, desconhecidos ou com domi-


cílio indefinido, a intimação deve ser efetuada por meio de publicação oficial.

§ 5o As intimações serão nulas quando feitas sem observância das prescri-


ções legais, mas o comparecimento do administrado supre sua falta ou ir-
regularidade.

Art. 27. O desatendimento da intimação não importa o reconhecimento da


verdade dos fatos, nem a renúncia a direito pelo administrado.

Parágrafo único. No prosseguimento do processo, será garantido direito de


ampla defesa ao interessado.

Art. 28. Devem ser objeto de intimação os atos do processo que resultem para
o interessado em imposição de deveres, ônus, sanções ou restrição ao exercí-
cio de direitos e atividades e os atos de outra natureza, de seu interesse.

capítulo 5 • 109
Capítulo X
Da instrução

Art. 29. As atividades de instrução destinadas a averiguar e comprovar os


dados necessários à tomada de decisão realizam-se de ofício ou mediante
impulsão do órgão responsável pelo processo, sem prejuízo do direito dos
interessados de propor atuações probatórias.

§ 1o O órgão competente para a instrução fará constar dos autos os dados


necessários à decisão do processo.

§ 2o Os atos de instrução que exijam a atuação dos interessados devem rea-


lizar-se do modo menos oneroso para estes.

Art. 30. São inadmissíveis no processo administrativo as provas obtidas por


meios ilícitos.

Art. 31. Quando a matéria do processo envolver assunto de interesse geral,


o órgão competente poderá, mediante despacho motivado, abrir período de
consulta pública para manifestação de terceiros, antes da decisão do pedi-
do, se não houver prejuízo para a parte interessada.

§ 1o A abertura da consulta pública será objeto de divulgação pelos meios


oficiais, a fim de que pessoas físicas ou jurídicas possam examinar os autos,
fixando-se prazo para oferecimento de alegações escritas.

§ 2o O comparecimento à consulta pública não confere, por si, a condição


de interessado do processo, mas confere o direito de obter da Administra-
ção resposta fundamentada, que poderá ser comum a todas as alegações
substancialmente iguais.

Art. 32. Antes da tomada de decisão, a juízo da autoridade, diante da rele-


vância da questão, poderá ser realizada audiência pública para debates so-
bre a matéria do processo.

Art. 33. Os órgãos e entidades administrativas, em matéria relevante, pode-


rão estabelecer outros meios de participação de administrados, diretamen-
te ou por meio de organizações e associações legalmente reconhecidas.

Art. 34. Os resultados da consulta e audiência pública e de outros meios de


participação de administrados deverão ser apresentados com a indicação
do procedimento adotado.

110 • capítulo 5
Art. 35. Quando necessária à instrução do processo, a audiência de outros
órgãos ou entidades administrativas poderá ser realizada em reunião con-
junta, com a participação de titulares ou representantes dos órgãos compe-
tentes, lavrando-se a respectiva ata, a ser juntada aos autos.

Art. 36. Cabe ao interessado a prova dos fatos que tenha alegado, sem preju-
ízo do dever atribuído ao órgão competente para a instrução e do disposto
no art. 37 desta Lei.

Art. 37. Quando o interessado declarar que fatos e dados estão registrados
em documentos existentes na própria Administração responsável pelo pro-
cesso ou em outro órgão administrativo, o órgão competente para a instru-
ção proverá, de ofício, à obtenção dos documentos ou das respectivas cópias.

Art. 38. O interessado poderá, na fase instrutória e antes da tomada da de-


cisão, juntar documentos e pareceres, requerer diligências e perícias, bem
como aduzir alegações referentes à matéria objeto do processo.

§ 1o Os elementos probatórios deverão ser considerados na motivação do


relatório e da decisão.

§ 2o Somente poderão ser recusadas, mediante decisão fundamentada, as


provas propostas pelos interessados quando sejam ilícitas, impertinentes,
desnecessárias ou protelatórias.

Art. 39. Quando for necessária a prestação de informações ou a apresentação


de provas pelos interessados ou terceiros, serão expedidas intimações para
esse fim, mencionando-se data, prazo, forma e condições de atendimento.

Parágrafo único. Não sendo atendida a intimação, poderá o órgão compe-


tente, se entender relevante a matéria, suprir de ofício a omissão, não se
eximindo de proferir a decisão.

Art. 40. Quando dados, atuações ou documentos solicitados ao interessado


forem necessários à apreciação de pedido formulado, o não atendimento
no prazo fixado pela Administração para a respectiva apresentação implica-
rá arquivamento do processo.

Art. 41. Os interessados serão intimados de prova ou diligência ordenada,


com antecedência mínima de três dias úteis, mencionando-se data, hora e
local de realização.

capítulo 5 • 111
Art. 42. Quando deva ser obrigatoriamente ouvido um órgão consultivo, o
parecer deverá ser emitido no prazo máximo de quinze dias, salvo norma
especial ou comprovada necessidade de maior prazo.

§ 1o Se um parecer obrigatório e vinculante deixar de ser emitido no prazo


fixado, o processo não terá seguimento até a respectiva apresentação, res-
ponsabilizando-se quem der causa ao atraso.

§ 2o Se um parecer obrigatório e não vinculante deixar de ser emitido no


prazo fixado, o processo poderá ter prosseguimento e ser decidido com sua
dispensa, sem prejuízo da responsabilidade de quem se omitiu no atendi-
mento.

Art. 43. Quando por disposição de ato normativo devam ser previamente
obtidos laudos técnicos de órgãos administrativos e estes não cumprirem
o encargo no prazo assinalado, o órgão responsável pela instrução deverá
solicitar laudo técnico de outro órgão dotado de qualificação e capacidade
técnica equivalentes.

Art. 44. Encerrada a instrução, o interessado terá o direito de manifestar-se


no prazo máximo de dez dias, salvo se outro prazo for legalmente fixado.

Art. 45. Em caso de risco iminente, a Administração Pública poderá motiva-


damente adotar providências acauteladoras sem a prévia manifestação do
interessado.

Art. 46. Os interessados têm direito à vista do processo e a obter certidões ou


cópias reprográficas dos dados e documentos que o integram, ressalvados
os dados e documentos de terceiros protegidos por sigilo ou pelo direito à
privacidade, à honra e à imagem.

Art. 47. O órgão de instrução que não for competente para emitir a decisão
final elaborará relatório indicando o pedido inicial, o conteúdo das fases do
procedimento e formulará proposta de decisão, objetivamente justificada,
encaminhando o processo à autoridade competente.

112 • capítulo 5
Capítulo XI
Do dever de decidir

Art. 48. A Administração tem o dever de explicitamente emitir decisão nos


processos administrativos e sobre solicitações ou reclamações, em matéria
de sua competência.

Art. 49. Concluída a instrução de processo administrativo, a Administração


tem o prazo de até trinta dias para decidir, salvo prorrogação por igual perí-
odo expressamente motivada.

Capítulo XII
Da motivação

Art. 50. Os atos administrativos deverão ser motivados, com indicação dos
fatos e dos fundamentos jurídicos, quando:

I - neguem, limitem ou afetem direitos ou interesses;

II - imponham ou agravem deveres, encargos ou sanções;

III - decidam processos administrativos de concurso ou seleção pública;

IV - dispensem ou declarem a inexigibilidade de processo licitatório;

V - decidam recursos administrativos;

VI - decorram de reexame de ofício;

VII - deixem de aplicar jurisprudência firmada sobre a questão ou discre-


pem de pareceres, laudos, propostas e relatórios oficiais;

VIII - importem anulação, revogação, suspensão ou convalidação de ato ad-


ministrativo.

§ 1o A motivação deve ser explícita, clara e congruente, podendo consistir


em declaração de concordância com fundamentos de anteriores pareceres,
informações, decisões ou propostas, que, neste caso, serão parte integrante
do ato.

capítulo 5 • 113
§ 2o Na solução de vários assuntos da mesma natureza, pode ser utilizado
meio mecânico que reproduza os fundamentos das decisões, desde que não
prejudique direito ou garantia dos interessados.

§ 3o A motivação das decisões de órgãos colegiados e comissões ou de deci-


sões orais constará da respectiva ata ou de termo escrito.

Capítulo XIII
Da desistência e outros casos de extinção do processo

Art. 51. O interessado poderá, mediante manifestação escrita, desistir total


ou parcialmente do pedido formulado ou, ainda, renunciar a direitos dis-
poníveis.

§ 1o Havendo vários interessados, a desistência ou renúncia atinge somente


quem a tenha formulado.

§ 2o A desistência ou renúncia do interessado, conforme o caso, não preju-


dica o prosseguimento do processo, se a Administração considerar que o
interesse público assim o exige.

Art. 52. O órgão competente poderá declarar extinto o processo quando


exaurida sua finalidade ou o objeto da decisão se tornar impossível, inútil
ou prejudicado por fato superveniente.

Capítulo XIV
Da anulação, revogação e convalidação

Art. 53. A Administração deve anular seus próprios atos, quando eivados de
vício de legalidade, e pode revogá-los por motivo de conveniência ou opor-
tunidade, respeitados os direitos adquiridos.

Art. 54. O direito da Administração de anular os atos administrativos de que


decorram efeitos favoráveis para os destinatários decai em cinco anos, con-
tados da data em que foram praticados, salvo comprovada má-fé.

§ 1o No caso de efeitos patrimoniais contínuos, o prazo de decadência con-


tar-se-á da percepção do primeiro pagamento.

114 • capítulo 5
§ 2o Considera-se exercício do direito de anular qualquer medida de autori-
dade administrativa que importe impugnação à validade do ato.

Art. 55. Em decisão na qual se evidencie não acarretarem lesão ao interesse


público nem prejuízo a terceiros, os atos que apresentarem defeitos saná-
veis poderão ser convalidados pela própria Administração.

Capítulo XV
Do recurso administrativo e da revisão

Art. 56. Das decisões administrativas cabe recurso, em face de razões de le-
galidade e de mérito.

§ 1o O recurso será dirigido à autoridade que proferiu a decisão, a qual, se não


a reconsiderar no prazo de cinco dias, o encaminhará à autoridade superior.

§ 2o Salvo exigência legal, a interposição de recurso administrativo inde-


pende de caução.

§ 3o Se o recorrente alegar que a decisão administrativa contraria enun-


ciado da súmula vinculante, caberá à autoridade prolatora da decisão im-
pugnada, se não a reconsiderar, explicitar, antes de encaminhar o recurso à
autoridade superior, as razões da aplicabilidade ou inaplicabilidade da sú-
mula, conforme o caso. (Incluído pela Lei nº 11.417, de 2006).

Art. 57. O recurso administrativo tramitará no máximo por três instâncias


administrativas, salvo disposição legal diversa.

Art. 58. Têm legitimidade para interpor recurso administrativo:

I - os titulares de direitos e interesses que forem parte no processo;

II - aqueles cujos direitos ou interesses forem indiretamente afetados pela


decisão recorrida;

III - as organizações e associações representativas, no tocante a direitos e


interesses coletivos;

IV - os cidadãos ou associações, quanto a direitos ou interesses difusos.

Art. 59. Salvo disposição legal específica, é de dez dias o prazo para interpo-
sição de recurso administrativo, contado a partir da ciência ou divulgação
oficial da decisão recorrida.

capítulo 5 • 115
§ 1o Quando a lei não fixar prazo diferente, o recurso administrativo deverá
ser decidido no prazo máximo de trinta dias, a partir do recebimento dos
autos pelo órgão competente.

§ 2o O prazo mencionado no parágrafo anterior poderá ser prorrogado por


igual período, ante justificativa explícita.

Art. 60. O recurso interpõe-se por meio de requerimento no qual o recorren-


te deverá expor os fundamentos do pedido de reexame, podendo juntar os
documentos que julgar convenientes.

Art. 61. Salvo disposição legal em contrário, o recurso não tem efeito sus-
pensivo.

Parágrafo único. Havendo justo receio de prejuízo de difícil ou incerta repa-


ração decorrente da execução, a autoridade recorrida ou a imediatamente
superior poderá, de ofício ou a pedido, dar efeito suspensivo ao recurso.

Art. 62. Interposto o recurso, o órgão competente para dele conhecer deverá
intimar os demais interessados para que, no prazo de cinco dias úteis, apre-
sentem alegações.

Art. 63. O recurso não será conhecido quando interposto:

I - fora do prazo;

II - perante órgão incompetente;

III - por quem não seja legitimado;

IV - após exaurida a esfera administrativa.

§ 1o Na hipótese do inciso II, será indicada ao recorrente a autoridade com-


petente, sendo-lhe devolvido o prazo para recurso.

§ 2o O não conhecimento do recurso não impede a Administração de rever


de ofício o ato ilegal, desde que não ocorrida preclusão administrativa.

Art. 64. O órgão competente para decidir o recurso poderá confirmar, mo-
dificar, anular ou revogar, total ou parcialmente, a decisão recorrida, se a
matéria for de sua competência.

Parágrafo único. Se da aplicação do disposto neste artigo puder decorrer


gravame à situação do recorrente, este deverá ser cientificado para que for-
mule suas alegações antes da decisão.

116 • capítulo 5
Art. 64-A. Se o recorrente alegar violação de enunciado da súmula vinculan-
te, o órgão competente para decidir o recurso explicitará as razões da aplica-
bilidade ou inaplicabilidade da súmula, conforme o caso.

Art. 64-B. Acolhida pelo Supremo Tribunal Federal a reclamação fundada


em violação de enunciado da súmula vinculante, dar-se-á ciência à autorida-
de prolatora e ao órgão competente para o julgamento do recurso, que deve-
rão adequar as futuras decisões administrativas em casos semelhantes, sob
pena de responsabilização pessoal nas esferas cível, administrativa e penal.

Art. 65. Os processos administrativos de que resultem sanções poderão ser


revistos, a qualquer tempo, a pedido ou de ofício, quando surgirem fatos
novos ou circunstâncias relevantes suscetíveis de justificar a inadequação
da sanção aplicada.

Parágrafo único. Da revisão do processo não poderá resultar agravamento


da sanção.

Capítulo XVI
Dos prazos

Art. 66. Os prazos começam a correr a partir da data da cientificação oficial,


excluindo-se da contagem o dia do começo e incluindo-se o do vencimento.

§ 1o Considera-se prorrogado o prazo até o primeiro dia útil seguinte se o


vencimento cair em dia em que não houver expediente ou este for encerrado
antes da hora normal.

§ 2o Os prazos expressos em dias contam-se de modo contínuo.

§ 3o Os prazos fixados em meses ou anos contam-se de data a data. Se no


mês do vencimento não houver o dia equivalente àquele do início do prazo,
tem-se como termo o último dia do mês.

Art. 67. Salvo motivo de força maior devidamente comprovado, os prazos


processuais não se suspendem.

capítulo 5 • 117
Capítulo XVII
Das sanções

Art. 68. As sanções, a serem aplicadas por autoridade competente, terão na-
tureza pecuniária ou consistirão em obrigação de fazer ou de não fazer, as-
segurado sempre o direito de defesa.

Capítulo XVIII
Das disposições finais

Art. 69. Os processos administrativos específicos continuarão a reger-se por


lei própria, aplicando-se-lhes apenas subsidiariamente os preceitos desta Lei.

Art. 69-A. Terão prioridade na tramitação, em qualquer órgão ou instância,


os procedimentos administrativos em que figure como parte ou interessado.

I - pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos


II - pessoa portadora de deficiência, física ou mental;
III –
IV - pessoa portadora de tuberculose ativa, esclerose múltipla, neoplasia
maligna, hanseníase, paralisia irreversível e incapacitante, cardiopatia gra-
ve, doença de Parkinson, espondiloartrose anquilosante, nefropatia grave,
hepatopatia grave, estados avançados da doença de Paget (osteíte defor-
mante), contaminação por radiação, síndrome de imunodeficiência adqui-
rida, ou outra doença grave, com base em conclusão da medicina especiali-
zada, mesmo que a doença tenha sido contraída após o início do processo.

§ 1o A pessoa interessada na obtenção do benefício, juntando prova de sua


condição, deverá requerê-lo à autoridade administrativa competente, que
determinará as providências a serem cumpridas.

§ 2o Deferida a prioridade, os autos receberão identificação própria que evi-


dencie o regime de tramitação prioritária.

§ 3o

§ 4o

Art. 70. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

118 • capítulo 5
ATIVIDADE
1.  No exercício da fiscalização, as autoridades administrativas federais, estaduais e muni-
cipais:
a) não podem prestar-se mutuamente assistência para fiscalização dos tributos respec-
tivos, mesmo que tal assistência venha ser prevista em lei ou em convênio, por obedi-
ência dos princípios do sigilo fiscal e da territorialidade.
a) podem permutar informações com Estados estrangeiros no interesse da arrecadação
e da fiscalização dos tributos, mesmo na ausência de tratados, acordos ou convênios.
a) não podem divulgar informações obtidas em razão do ofício sobre a situação econô-
mica ou financeira do contribuinte, a exceção quando solicitadas pelo Poder Judiciário
no interesse da justiça.
a) não se encontram impedidas de fornecerem informações relativas a representações
fiscais para fins penais.

REFLEXÃO
Neste capítulo foi possível conhecer a forma com que a Administração Tributária opera a sua
fiscalização, assim, servindo de base para que os gestores encarem o processo de fiscaliza-
ção como um meio necessário para salvaguardar os interesses da sociedade de um modo
geral. Além disso, para que os gestores avaliem como dar mais efetividade ao compromisso
com a responsabilidade social e a ética empresarial tão faladas e discutidas ultimamente. E,
por fim, as normas que regem o processo administrativo fiscal, que podem auxiliar os gesto-
res quando pairarem dúvidas razoáveis quanto a obrigatoriedade de se recolher determinado
tributo, bem como o montante a ser recolhido – a exemplo do processo de consulta.

LEITURA RECOMENDADA
AMARO, Luciano. Direito tributário brasileiro. 16. ed. São Paulo: Saraiva, 2010.

SABBAG, Eduardo. Manual de direito tributário. São Paulo: Saraiva, 2009.

capítulo 5 • 119
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AMARO, Luciano. Direito tributário brasileiro. 16. ed. São Paulo: Saraiva, 2010.

BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de direito financeiro e de direito tributário. 9. ed. São Paulo:
Saraiva, 2002.

MARTINS, Alan; SCARDOELLI, Dimas Yamada. Resumo de direito tributário. Leme: J. H.


Mizuno, 2008.

NOGUEIRA, Ruy Barbosa. Curso de direito tributário. 14. ed. São Paulo: Saraiva, 1995.

SABBAG, Eduardo. Manual de direito tributário. São Paulo: Saraiva, 2009.

SILVA, Davi Marques da ; Pereira, João Luis da Silva. Coleção Tópicos – Direito Tributário.
Edit. Lumenjuris, 2009.

EXERCÍCIO RESOLVIDO
Capítulo 1

1.  O princípio da irretroatividade da lei tributária veda a cobrança de tributo


em relação a fatos geradores:
a) Ocorridos antes de 1º de Janeiro do exercício seguinte ao da publicação
b) da lei instituidora.
c) Pendentes no início da vigência da lei que os houver instituído.
d) Ocorridos após a vigência da lei que os houver instituído.
e) Ocorridos antes da vigência da lei instituidora.
Resposta: D

120 • capítulo 5
Capítulo 2

1.  Em 1999, Caio vendeu a Tício imóvel em relação ao qual pesava débito de Im-
posto Predial e Territorial Urbano - IPTU, referente ao exercício de 1998. Em
seguida, Tício recebeu a notificação de cobrança do tributo e recusou-se a
pagá-lo, argumentando que na data de ocorrência do fato gerador o proprie-
tário do imóvel era Caio. Além disso, Caio assumiu contratualmente, perante
Tício, a obrigação de pagar o IPTU vencido. O procedimento fiscal está:
a) errado, pois o tributo só pode ser exigido de Caio, proprietário do imóvel no exercício
de 1998.
b) errado, pois Caio ainda consta como proprietário no cadastro imobiliário da Prefeitura
Municipal.
c) correto, pois o débito tributário relativo ao IPTU sub-roga-se na pessoa do adquirente
do imóvel, isto é, Tício.
d) errado, pois de acordo com o contrato celebrado entre Tício e Caio, o IPTU deve ser
pago por este.
Resposta: C

2.  O sujeito passivo da obrigação principal que tenha relação pessoal e dire-
ta com a situação que caracteriza o fato gerador é denominado de:
a) cidadão.
b) responsável.
c) sujeito passivo derivado.
d) comissário.
e) contribuinte.
Resposta: E

3.  O principal efeito produzido pelo fato gerador é o de:


a) propor a aplicação da penalidade cabível.
b) identificar o momento em que nasce a obrigação tributária.
c) quantificar o montante do tributo devido.
d) determinar a matéria tributável.
e) identificar o sujeito passivo da obrigação tributária
Resposta: B

capítulo 5 • 121
4.  A obrigação tributária principal nasce:
a) Com a lavratura do Auto de Infração;
b) Com a ocorrência do fato gerador;
c) Com a constituição definitiva do crédito tributário;
d) Com a inscrição do crédito tributário na dívida ativa.
Resposta: B

Capítulo 3

1.  Qual é a diferença entre obrigação principal e acessória no Direito Tribu-


tário?
Resposta: As obrigações principais são definidas pelo artigo 113, parágrafo 1º, do
CTN, como tendo por origem a própria lei tributária com o objetivo de impor a obrigação
quanto ao pagamento do tributo propriamente dito ou penalidades pecuniárias.

Já a obrigação tributária acessória, nos termos dos parágrafos 2º e 3º , tem por objetivo
as prestações positivas e negativas conforme determina a administração tributária vi-
sando os melhores interesses na arrecadação e fiscalização dos tributos. Ex: obrigação
de manter e conservar os livros fiscais, conforme determina a respectiva Lei, etc...

2.  Qual é a importância do instituto da integração das normas jurídicas tributárias?


Resposta: O processo de integração das normas jurídicas está relacionado à ideia de
que é impossível que o legislador preveja, por mais cauteloso que ele seja, todos os fatos
e acontecimentos da vida real que devem merecer proteção do Direito.

3.  Quais os três meios possíveis de serem utilizados buscando a integração da norma jurí-
dica tributária?
Resposta: s meios de integração da norma jurídica são: a analogia, a equidade e os
princípios gerais do direito.

122 • capítulo 5
Capítulo 4

1.  Não é causa de suspensão da exigibilidade do crédito tributário:


a) o parcelamento.
b) o recurso administrativo.
c) a compensação.
d) a concessão de medida liminar em mandado de segurança.
Resposta: C

2.  Determinado Município pretende, por lei especifica, perdoar créditos tribu-
tários compostos pelo valor do tributo e multas relativos a impostos e taxas
municipais. A medida a ser adotada para efetivar o perdão do crédito é a:
a) anistia.
b) remissão.
c) isenção.
d) moratória.
Resposta: B

3.  A decadência é forma de extinção do crédito tributário, que ocorre quando:


a) decorridos cinco anos a partir do primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o
lançamento poderia ter sido efetuado, este não é realizado.
b) a partir de cinco anos da data de sua constituição definitiva, não é realizado o lança-
mento.
c) a obrigação tributária principal é excluída em decorrência de determinação legal.
d) o direito de a Fazenda Pública cobrar o montante tributário devido não é exercido no
prazo de dez anos.
Resposta: A

4.  Escolha o tipo de imposto em que é adotado o lançamento de ofício, uni-


lateral ou direto.
a) Imposto sobre a renda e proventos de qualquer natureza.
b) Imposto sobre produtos industrializados.
c) Imposto sobre a propriedade territorial rural.
d) Imposto sobre a propriedade de veículos automotores.
e) Imposto sobre operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestação de
serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação.
Resposta: D

capítulo 5 • 123
5.  É sabido que o direito de a Fazenda Pública constituir o crédito tri¬butário, por meio do
lançamento, extingue-se em cinco anos, contados a partir do primeiro dia do exercício
seguinte àquele em que o lançamento poderia ter sido efetuado. Esse modo de extinção
do crédito tributário é:
a) Prescrição.
b) Transação.
c) Remissão.
d) Compensação.
e) Decadência.
Resposta: E

Capítulo 5

1.  No exercício da fiscalização, as autoridades administrativas federais, estaduais e muni-


cipais:
a) não podem prestar-se mutuamente assistência para fiscalização dos tributos respec-
tivos, mesmo que tal assistência venha ser prevista em lei ou em convênio, por obedi-
ência dos princípios do sigilo fiscal e da territorialidade.
b) podem permutar informações com Estados estrangeiros no interesse da arrecadação
e da fiscalização dos tributos, mesmo na ausência de tratados, acordos ou convênios.
c) não podem divulgar informações obtidas em razão do ofício sobre a situação econô-
mica ou financeira do contribuinte, exceto quando solicitadas pelo Poder Judiciário no
interesse da justiça.
d) não se encontram impedidas de fornecerem informações relativas a representações
fiscais para fins penais.
Resposta: C

124 • capítulo 5

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