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Histórias de Sucesso
EXPERIÊNCIAS EMPREENDEDORAS
ORGANIZADO POR MARA REGINA VEIT

Histórias
de Sucesso
EXPERIÊNCIAS EMPREENDEDORAS

BELO HORIZONTE - 2003


Copyright © 2003, SEBRAE – Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas

TODOS OS DIREITOS RESERVADOS – É permitida a reprodução total ou parcial, de qualquer forma ou por
qualquer meio, desde que divulgadas as fontes.

Este trabalho é resultado de uma parceria entre o SEBRAE/NA, SEBRAE/MG, SEBRAE/RJ, PUC-Rio, IBMEC-RJ

Coordenação Geral
Mara Regina Veit
Coordenação e Concepção do Projeto Desenvolvendo Casos de Sucesso

Supervisão
Cezar Kirszenblatt
Daniela Almeida Teixeira
Renata Barbosa de Araújo

Apoio
Carlos Magno Almeida Santos
Dennis de Castro Barros
Izabela Andrade Lima
Ludmila Pereira de Araújo
Murilo de Aquino Terra
Rosana Carla de Figueiredo
Sandro Servino
Sílvia Penna Chaves Lobato
Túlio César Cruz Portugal

Produção Editorial do Livro


Núcleo de Comunicação do Sebrae/MG

Produção Gráfica do Livro


Perfil Publicidade

Desenvolvimento do Site
Daniela Almeida Teixeira
bhs.com.br

Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas


SEBRAE
Armando Monteiro Neto, Presidente do Conselho Deliberativo Nacional
Silvano Gianni, Diretor-Presidente
Paulo Tarciso Okamotto, Diretor Administrativo-Financeiro
Luiz Carlos Barboza, Diretor Técnico

SEBRAE-MG
Luiz Carlos Dias Oliveira, Presidente do Conselho Deliberativo
Stalin Amorim Duarte, Diretor Superintendente
Luiz Márcio Haddad Pereira Santos, Diretor de Desenvolvimento e Administração
Sebastião Costa da Silva, Diretor de Comercialização e Articulação Regional

SEBRAE-RJ
Paulo Alcântara Gomes, Presidente do Conselho Deliberativo
Paulo Maurício Castelo Branco, Diretor Superintendente
Evandro Peçanha Alves, Diretor Técnico
Celina Vargas do Amaral Peixoto, Diretora Técnica
O projeto
O Projeto Desenvolvendo Casos de Sucesso foi criado para que histórias emocionantes de
empreendedores, que fizeram a diferença em sua comunidade, em suas empresas, em suas
instituições, possam ser conhecidas, disseminadas e potencializadas na construção de novos
horizontes empresariais.

O método
O livro Histórias de Sucesso foi concebido com o intuito de utilizar o método de estudo de
caso para estruturar as experiências do Sebrae, e também contribuir para a gestão do
conhecimento nas organizações, estimulando a produtividade e capacidade de inovação, de
modo a gerar empresas mais inteligentes e competitivas.

A Internet
A concepção do Projeto Estudo de Casos para o Portal Sebrae www.sebrae.com.br pretende
divulgar e ampliar o conhecimento das ações do Sebrae e facilitar para as instituições e
profissionais que atuam na rede de ensino, bem como instrutores, consultores e instituições
parceiras que integram a Rede Sebrae, um conteúdo didaticamente estruturado sobre
pequenas empresas, para ser utilizado nos cursos de graduação, pós-graduação, programas de
treinamento e consultoria realizado com alunos, empreendedores e empresários em todo o
País.

O Site dos Casos de Sucesso do Sebrae, foi concebido tendo como referência os modelos
utilizados por Babson College e Harvard Business School , com o diferencial de apresentar
vídeos, fotografias, artigos de jornal e fórum de discussão aos clientes cadastrados no site,
complementando o conteúdo didático de cada estudo de caso. O site também contempla um
manual de orientação para professores e alunos que indica como utilizar e aplicar um estudo
de caso em sala de aula para fins didáticos, além de possuir o espaço favoritos pessoais onde
os clientes poderão salvar, dentro do site do Sebrae, os casos de sucesso de seu maior
interesse

A Gestão do Conhecimento
A partir das 80 experiências empreendedoras de todo o país, contempladas na primeira etapa
do projeto – 2002/2003, serão inseridos em 2004 outros casos de estudo, estruturados na
mesma metodologia, compondo um significativo banco de dados sobre pequenas empresas.

Esta obra tem sido construída com participação e dedicação de vários profissionais, técnicos
do Sebrae, consultores e professores da academia de diversas instituições, com o objetivo de
oportunizar aos leitores estudar histórias reais e transferir este conteúdo para a gestão do
conhecimento de seus atuais e futuros empreendimentos.

Mara Regina Veit


Gerente de Atendimento e Tecnologia do Sebrae/MG, Coordenadora do Sebrae da Prioridade
Potencializar e Difundir as Experiências de Sucesso 2002/2003, Concepção do Projeto Desenvolvendo
Estudo de Casos e Organizadora do Livro Histórias de Sucesso – Experiências Empreendedoras.
Pedagoga, Pós-graduada:Treinamento Empresarial/PUCRS, Administração/ UFRGS, MBA/ Marketing-
FGV/Ohio, Mestranda Administração/FUMEC-MG, autora do livro Consultoria Interna - Use a rede de
inteligência que existe em sua empresa. Ed. Casa Qualidade - 1998.
EMPREENDENDO NAS ÁGUAS
DO BAIXO RIO BRANCO
RORAIMA

INTRODUÇÃO

F im de mundo e isolados. Essas eram as definições feitas pelos


moradores de áreas urbanas do estado de Roraima, localizado no
extremo norte do Brasil, quando se referiam aos ribeirinhos do Baixo
Rio Branco, região formada por 17 vilarejos onde moravam cerca de
477 famílias às margens do rio que banha o Estado, o rio Branco.
Os empresários Ronaldo Gumiero e Wellington Melo, proprietários
da empresa Amazon Peacock Bass, que recebeu concessão da
Prefeitura Municipal de Caracaraí para atuar no setor turístico, no Baixo
Rio Branco, proporcionaram uma mudança dessa concepção quando
se viram obrigados a procurar ajuda para capacitar sua mão-de-obra,
pois 80% deveria ser formada por ribeirinhos.
Foi essa iniciativa que motivou o Sebrae em Roraima a elaborar
um projeto de desenvolvimento sustentável da região que incluiu os
moradores do Baixo Rio Branco, não só na área do turismo mas
também do artesanato, extrativismo e agricultura.

"Como não tem muito que fazer na beira de rio, aos poucos, as
comunidades estão percebendo que podem melhorar sua
qualidade de vida sem abrir mão da forma de viver como
ribeirinho", comentou o consultor do Sebrae, Francisco Guilherme
de Souza, ao avaliar a mudança de comportamento nessas
comunidades.

Alexsandra Silva Sampaio, Jornalista do Sebrae Roraima, elaborou o estudo de caso sob a
orientação de César Simões Salim, baseado no curso Desenvolvendo Casos de Sucesso, realizado
pelo Sebrae, Ibmec-RJ e PUC-RJ.

HISTÓRIAS DE SUCESSO - EXPERIÊNCIAS EMPREENDEDORAS EDIÇÃO 2003


DIFICULDADE DE ACESSO ÀS CASAS DA
COMUNIDADE RIBEIRINHA DE PANACARICA DURANTE O INVERNO

HISTÓRIAS DE SUCESSO - EXPERIÊNCIAS EMPREENDEDORAS EDIÇÃO 2003

CONSULTOR ORIENTANDO OS AGRICULTORES SOBRE


PRODUÇÃO DE HORTALIÇAS NA COMUNIDADE DE LAGO GRANDE
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UMA SÍNTESE DA AMAZÔNIA

O estado de Roraima é dividido em três regiões: o baixo e o alto


Rio Branco, além da região montanhosa. O Baixo Rio Branco é coberto
de matas: uma floresta tropical amazônica densa e úmida, com terra
firme e áreas inundáveis formando várzeas.
Essa região, que vai do município de Caracaraí até a foz do rio
Branco, no rio Negro (AM), começou a ser ocupada por volta de 1784,
conforme o relato de Ribeiro de Sampaio (Farage: 1991), quando foi
identificada a presença de 149 índios das etnias Wapixana, Paraviana,
Macuxi e Sapará, reunidos na aldeia de Santa Maria.
Após 200 anos do registro reconhecido da primeira ocupação,
nenhum levantamento específico sobre a população fora realizado. Em
2001, os únicos números registrados eram de entidades que faziam
pesquisa na região, como do Instituto Nacional de Pesquisa da
Amazônia - INPA e do Sebrae em Roraima que estimavam a população
entre os 1.800 a 2.250 habitantes.
O tímido crescimento da população de moradores na região se
deve, especialmente, à dificuldade de acesso. Estradas para as
comunidades do Baixo Rio Branco não existem. Para se chegar aos
vilarejos, é preciso enfrentar mais de um dia de viagem de barco.
Ainda assim, corre-se o risco de ter uma embarcação encalhada,
quando alguma viagem é feita na época do verão por causa da baixa
do rio; a não ser que se opte pelo transporte aéreo, que é um
investimento muito alto.
O isolamento, conforme o sociólogo e chefe de pesquisa do IBGE
em Roraima, Vicente de Paula Joaquim, é um dos fatores que impedem
o desenvolvimento de uma região. No entanto, mesmo com os
obstáculos, as margens do rio Branco nunca deixaram de ser habitadas,

"porque as pessoas que nascem na beira de um rio não conseguem


se adaptar à rotina de vida sem ele", assim contava o ribeirinho da
comunidade de Caicubi, Francisco da Silva.

C o o rdenação Técnica do Projeto: Francisco Guilherme de Souza, Helvécio Patrício Magalhães


Neto e Rozani Elizabeth de Sousa.

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Ao mesmo tempo a região também atraía a atenção de instituições


que percebiam o potencial ambiental do Baixo Rio Branco. O INPA,
por exemplo, direcionou um dos seus trabalhos de pesquisa, em 2000,
para o estudo de viabilidade da criação de tartaruga em cativeiro como
uma alternativa para a melhoria da renda das famílias ribeirinhas.
Outra potencialidade atrativa era o turismo. Apesar da distância e
das dificuldades de acesso, esse isolamento era considerado, na verdade,
um ponto positivo para a instalação de empresas de ecoturismo.
A vantagem para pequenas empresas que já se instalaram no meio
da floresta é que os turistas estrangeiros chegavam a pagar até U$ 3 mil
para passar uma semana pescando na Amazônia, identificados por eles
como "grandes e exóticos". O fato de estarem isolados do mundo
também fascinava os estrangeiro s .
O grande problema para os empreendedores é que os ribeirinhos
não eram capacitados para atender a essa clientela tão exigente, o que
colocava em risco a continuidade do negócio, pois as empresas de
turismo recebiam autorização do IBAMA1 e das prefeituras municipais
de Caracaraí e Rorainópolis para atuar na região, desde que se
comprometessem a dar empregos aos moradores das comunidades do
Baixo Rio Branco.
Mesmo com toda essa riqueza ecológica de variedade de peixes,
fauna e exuberância da floresta – fatores essenciais para o
desenvolvimento do ecoturismo –, a comunidade continuava não reagindo
às alternativas de pro g resso. Um dos fatores que contribuía para que a
comunidade continuasse sem ter iniciativa alguma – característica
própria de ribeirinhos – era a descrença dessas pessoas em qualquer
"movimento" que tinha como promessa o desenvolvimento da região.
Isso ocorria porque os ribeirinhos passaram a ser alvo fácil para
oportunistas, em virtude do isolamento e, conseqüentemente, pouco
acesso a tudo quanto é tipo de serviços públicos e informações. No
entanto, a mudança desse quadro era necessária até porque existia
uma oportunidade oferecida pela própria condição ambiental da
região. Alguma ação precisava ser empreendida.

1
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis.

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NAS ÁGUAS DA OPORTUNIDADE

A oportunidade para melhorar a qualidade de vida dos


ribeirinhos partiu da iniciativa dos empresários Ronaldo Gumiero e
Wellington Melo, proprietários da empresa Amazon Peacock Bass, que,
ao procurarem o Sebrae em Roraima em busca de parceria para
qualificar sua mão-de-obra, demonstraram o interesse de apoiar um
projeto que desenvolvesse as potencialidades locais.
Os dois, acompanhados pelo Secretário do Meio Ambiente e
Turismo de Caracaraí, Gilberto Marcelino, apresentaram suas
preocupações em relação às dificuldades que teriam para capacitar os
ribeirinhos em pilotagem de barco e, ainda, decidiram "bancar" uma
viagem para a equipe de consultores do Sebrae em Roraima ao Baixo
Rio Branco.
A viagem ficou conhecida como visita de imersão, pois o grupo
pretendia fazer um diagnóstico do modo de vida dessas comunidades
e, principalmente, identificar as potencialidades da região não só na
área do turismo.
Foi quando os consultores do Sebrae em Roraima identificaram
que a demanda se encaixava na proposta do Programa de
Desenvolvimento Local Integrado e Sustentável, que visa à melhoria
das condições socioeconômicas das comunidades, estimulando o
desenvolvimento com base no aproveitamento das suas potencialidades
de forma que o homem permaneça na sua localidade pelo aumento
das perspectivas de trabalho e renda.
Esse conceito encaixava-se perfeitamente com a situação encontrada
no Baixo Rio Branco, ou seja, foi detectado que a comunidade t i n h a
vocação, além do turismo, para o artesanato e os agronegócios. No
entanto, essas atividades estavam sendo exploradas apenas como
forma de subsistência por meio da lavoura, da pesca e da produção de
peças artesanais, todas de forma incipiente.
O primeiro encontro dos ribeirinhos com os consultores do Sebrae
em Roraima aconteceu na comunidade em meados de 2001. A
conversa aconteceu em um clima descontraído, embaixo de uma
árvore. A equipe de consultores constatou que a comunidade resistia
em aceitar qualquer colaboração rumo ao desenvolvimento, além de

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não ter uma visão de progresso, conforme relembra Rozani Elizabeth.


Por isso mesmo, fizeram questão de deixar bem claro aos moradores
das margens do rio Branco que não estavam ali para fazer promessa,

"mas sim tentar com os ribeirinhos descobrir e despertar as vocações


locais de forma que suas potencialidades fossem aproveitadas num
objetivo comum que era o desenvolvimento da re g i ã o ", explicava o
consultor do Sebrae em Roraima, Francisco Guilherme.

A partir dessa primeira visita, foi que surgiu a idéia de elaborar-se


um Projeto de Desenvolvimento da Região Sul e Baixo Rio Branco
pelos consultores do Sebrae em Roraima, Rozani Elizabeth M. Araújo
de Souza, Helvécio Patrício Magalhães Neto e Francisco Guilherme de
Sousa, os quais tinham como premissa que a capacitação, instrução e
informação do pessoal poderiam resultar no maior aproveitamento das
potencialidades regionais, de tal maneira a estimular o investimento na
região.
Uma rede de parcerias que o Sebrae em Roraima conseguia firmar
possibilitou que outras "missões" ao Baixo Rio Branco fossem realizadas.
Além das prefeituras municipais de Caracaraí e Rorainópolis –
municípios onde as comunidades ribeirinhas estavam localizadas, o
IBAMA também colaborava com as missões, disponibilizando apoio
logístico, acompanhamento e recursos para a aquisição de combustíveis.
Por meio dessas mobilizações, as comunidades ribeirinhas passaram
a receber a cada dois meses uma visita da equipe de consultores do
Sebrae em Roraima quando se realizavam oficinas, cursos e palestras.
O artesanato passou a ser a prioridade, por causa do rápido retorno
econômico que proporcionaria à comunidade ribeirinha.

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A TRANSFORMAÇÃO DE SEMENTES EM JÓIAS DA FLORESTA

A confecção de anéis, pulseiras, brincos e colares, feitos com


sementes e cascas de coco, açaí, tucumã, tucum e entrelaçados por
cipós, mudou a vida dos moradores de Itaquera, uma das povoações
mais remotas de Roraima, a 1.100 quilômetros de barco da capital Boa
Vista. Pela delicadeza das peças, apesar da utilização de vegetais como
matéria-prima, as bijuterias dessa comunidade foram batizadas de
"jóias da floresta".
Todas as 22 famílias da vila acabaram se envolvendo na produção
das peças, pois a atividade tornou-se a única alternativa para o
inverno, quando o rio alaga e os ribeirinhos ficam sem condições de
plantar abacaxi e colher castanhas do Brasil. As instrutoras do Sebrae
em Roraima passavam os dias da missão trabalhando com os artesãos
ribeirinhos para aprimorar a qualidade das peças.
Depois que constataram o resultado, eles resolveram criar uma
associação para organizar a produção e a comercialização das peças.
Boa parte das bijuterias passou a ser vendida para dois italianos que
vez ou outra apareciam na região.
Os consultores das missões também passaram a buscar mercados
para as peças. Os produtos eram levados para a capital Boa Vista e, de
lá, distribuídos em lojas e feiras. Empresários de outros estados do
país, como Brasília e São Paulo, também passaram a comprar as jóias
da floresta feitas pelos ribeirinhos.
Com o mesmo objetivo de buscar uma nova alternativa de renda,
as comunidades de Panacarica e Caicubi também investiram no
artesanato. A diferença é que o forte desses ribeirinhos era a produção
de barcos de madeira em miniaturas (Panacarica) e a confecção de
cestos e tapetes – feitos com a fibra do arumã, uma espécie de bambu
nativo da região (Caicubi). Uma iniciativa que pretendia ser apenas
uma forma de ajudar na época das chuvas acabou se transformando na
principal ocupação de homens, mulheres e adolescentes de Caicubi.

"Essa atividade é um novo horizonte para nós.(...) pensar que


tantos artistas estavam escondidos aqui", comentava um dos artesãos
do vilarejo, seu Raimundo Guimarães.

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Além dessas três comunidades, mais quatro vilarejos do Baixo Rio


Branco passaram a receber oficinas com o objetivo de melhorar as
técnicas da produção.
Uma das consultoras de artesanato, Rozani Elizabeth , encontrou,
no meio da mata, a resina do crumati que servia de fixador para corantes
naturais, como urucu, substância vermelha extraída da semente e usada
em tintura.
Essa técnica foi repassada aos artesãos, o que contribuiu para a
inovação das peças dos ribeirinhos que passaram a ter padronagens
coloridas.

NOVOS ALIMENTOS À MESA

A pesar do intenso investimento no artesanato, o projeto previa


ainda o desenvolvimento de agronegócios na região, pois já havia sido
identificada a demanda para a produção e manejo de hortaliças e
criação de peixes em cativeiro.
Uma das primeiras ações que passou a ser desenvolvida foi o
incentivo à criação de hortas comunitárias que, ao mesmo tempo, tinha
como finalidade orientar os ribeirinhos para os melhores manejos de
produção.
Os principais alimentos que os ribeirinhos consumiam eram o
peixe e a farinha. Com uma alimentação pobre em vitaminas, os
moradores das margens do Baixo Rio Branco apresentavam problemas
de desnutrição, conforme depoimento dos próprios ribeirinhos ao
falarem do que ouviam dos médicos do hospital flutuante do governo
do Estado.
Diante desse cenário, uma das primeiras ações paralelas ao
artesanato foi incentivar a criação de hortas comunitárias nos diversos
vilarejos da região, contando com a participação especial dos estudantes
das poucas escolas que se instalaram nas margens do rio. O trabalho
era feito em regime de mutirão.
Foram feitas análises no solo. Nas missões seguintes, a equipe do

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p rojeto levou adubo e calcário para corrigir o solo e sementes de


verduras, frutas e hortaliças. O consultor do segmento de agro n e g ó c i o s ,
Valter Patrício, ensinou os ribeirinhos a preparar o solo e distribuir as
sementes.
As hortas teriam cenoura, rabanete e repolho. Algum desses
alimentos era uma novidade para os ribeirinhos.

"Rabanete? Esse eu nunca vi, não, meu filho", replicou a Dona


Geralda, moradora de Canaueni, quando recebia as informações
sobre a implantação da horta comunitária.

PEIXES EM CATIVEIRO

A inda com o objetivo de garantir uma boa alimentação para os


ribeirinhos, o projeto do Sebrae em Roraima passou a estudar com os
m o r a d o res uma forma de garantir o sustento do pescador. A
preocupação devia-se à escassez dos peixes tradicionais da região,
resultado das pescas predatórias realizadas ao longo de um período de
10 anos.
Um dos pescadores mais antigos do Baixo Rio Branco, o Seu
Lauridene Ferreira, 60 anos, contava que chegou uma época em que
pescava 10 toneladas de peixe por viagem. Com o passar do tempo, a
redução era cada vez maior – chegando a pescar apenas 600 quilos –
ele resolveu criar, então, peixes em cativeiro.
Essa seria uma alternativa para atacar de frente, na verdade, dois
problemas, porque durante o inverno o rio invadia a mata de tal
maneira que os peixes se escondiam em áreas inundadas, dificultando
assim a pesca na região.
A novidade na região acabou sendo repassada aos demais
ribeirinhos do Baixo Rio Branco.
"Para se ter peixe nessa época do ano só se criar no cercado",
constatou o ribeirinho de Caicubi, Seu João Batista, de 43 anos, que
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vive da pesca ornamental do Cardinal, peixe típico do Baixo Rio Branco,


com três centímetros e coberto de escamas douradas.
A pesca ornamental na região era considerada uma importante
fonte de renda para os ribeirinhos. O principal pólo de comercialização
é a cidade amazonense de Barcelos, no rio Negro. Do Amazonas, os
peixes eram exportados para a Europa e Estados Unidos, onde eram
vendidos a U$ 1.00 a unidade.
Portanto, a criação de peixe ornamental em cativeiro seria uma
forma de não só assegurar o fornecimento constante, mas também
determinar preços e melhorar o acesso ao mercado internacional, pois
já existia uma demanda.

DE MÃOS DADAS POR UM IDEAL

A melhoria da qualidade de vida dos ribeirinhos passou,


conseqüentemente, pela união dessas comunidades. Ao longo da
realização de todas essas atividades pelo Sebrae em Roraima e seus
parceiros, a população entendeu que a continuidade de todas aquelas
ações só seria assegurada por meio do associativismo.
Dessa forma, cinco comunidades ribeirinhas – que um dia chegaram
a organizar-se em associações, mas que com o tempo acabaram se
desarticulando – voltaram a apostar no resultado positivo que essa
forma de organização traria para o desenvolvimento da região, além de
outras cinco que foram criadas.

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CONCLUSÃO

O s ribeirinhos do Baixo Rio Branco acabaram percebendo ao longo


do tempo que seriam os principais beneficiados com uma
oportunidade nascida da necessidade de capacitar a comunidade para
o melhor atendimento aos turistas.
Uma ação isolada dos empresários do setor turístico acabou se
transformando em uma grande oportunidade pela concentração de
esforços dos ribeirinhos para o desenvolvimento de sua re g i ã o .
Tipicamente, transformou-se em um projeto de Desenvolvimento Local
Integrado e Sustentável, incluindo o artesanato, a criação de peixe e o
associativismo.
Os resultados quantitativos eram apresentados de forma empírica
ao constatar-se que algumas comunidades como Lago Grande, Terra
Preta, Cachoeirinha, Canaueni, Panacarica, Itaquera e Caicubi passaram
a ganhar dinheiro com produtos de artesanato e peixe ornamental.
Mas nenhum resultado quantitativo poderia medir a importância
socioeconômica que essas atividades passaram a ter para os ribeirinhos,
possibilitando o resgate da auto-estima por meio da valorização de
suas vocações.
A partir daí, a maioria das comunidades percebeu que as
oportunidades precisariam ser aproveitadas e, principalmente, que o
trabalho em equipe era fundamental para garantir a continuidade
dessas atividades, fundamentais para a geração de renda.
O projeto comprovou que até mesmo comunidades isoladas e
instaladas no meio de uma floresta podem viver de forma digna,
conservando os costumes e a cultura e, ao mesmo tempo, explorando
de forma adequada as potencialidades oferecidas pelo meio ambiente.

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PONTOS PARA DISCUSSÃO

• Que outras alternativas poderiam ser utilizadas para o caso de


isolamento de comunidades que possuem potencial turístico e
ambiental, mas que deixa de ser explorado?

• Como se poderia sistematizar para comunidades isoladas a


elaboração de projetos como o que foi feito para os ribeirinhos do
Baixo Rio Branco?

• Seria possível estabelecer uma metodologia para multiplicar tais


tipos de projetos?

Diretoria Executiva do Sebrae Roraima (2002): Alexandre Henklain, Armando Ladeira e


Paulo Vasconcelos.

Agradecimentos:
Conselho Deliberativo do Sebrae/RO; Consultores e Instrutores do Projeto de Desenvolvimento
Sustentável do Baixo Rio Branco; DEMA; Diretoria do Sebrae Nacional; Diretoria Executiva
do Sebrae/RO; Equipe da Unidade de Desenvolvimento do Sebrae/RO; IBAMA; Prefeituras
Municipais de Rorainópolis e Caracaraí; SEAAB e SUFRAMA.

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