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Bancada ruralista

INSTITUTO DE ESTUDOS
SOCIOECONÔMICOS

Bancada ruralista:
o maior grupo de interesse
no Congresso Nacional

Brasília, outubro 2007 - Ano VII - nº 12


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2
Bancada ruralista

Sumário

Introdução .............................. 05

A história da bancada ruralista ......................07

A bancada ruralista e os partidos políticos ........ 09

Bancada ruralista: elo frágil do governo Lula? ........... 11

Bancada ruralista por estado .......................11

A bancada ruralista e sua forma de atuação ....... 12

Anexo:
Lista da bancada ruralista - Legislatura 2007/2011...... 15

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Bancada ruralista

Introdução

Para classificar os parlamentares da atual legislatura1 (2007/2010) como ruralistas,


utilizamos a declaração de cada deputado sobre suas fontes de renda, conforme consta no
site da Câmara dos Deputados – Pesquisa Deputados2. Foi considerado como membro
potencial da bancada ruralista o deputado que declarou, entre as suas principais fontes de
renda, alguma forma de renda agrícola.

A bancada ruralista, ao agregar interesses que perpassam diversas profissões, não deve ser
considerada uma “bancada de profissão”, mas sim uma “bancada de interesse particular3”.
Como a representação sociopolítica dos indivíduos não é exclusiva, mas partilhada, os
ruralistas também se apresentam sob uma variedade de profissões, tendo os parlamentares,
em geral, pelo menos duas profissões, como por exemplo, agropecuarista/ empresário;
agropecuarista/médico; agropecuarista/advogado; agropecuarista/comerciante, entre outras.
Como não é usual dissociar representações, computamos esses parlamentares como membros
da bancada ruralista. Este é um dos critérios que nos permite associar o parlamentar como
membro potencial da bancada. Assim, os ruralistas são os que expressaram seus vínculos
de forma direta ou indireta com a agricultura. Há uma gama de parlamentares que não
expressam profissionalmente sua relação com essa bancada, mas, por vínculos familiares,
acabam se situando em sua órbita e representam o grupo mobilizável, que, nos momentos
de votação/pressão, faz com que o número de participantes pareça maior do que o real.

Historicamente, desde a legislatura de 1999/2003, a bancada ruralista desenvolveu a


estratégia de ocupar todos os espaços políticos possíveis. Desde então, vem conquistando
o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento; e as presidências da Comissão de
Agricultura e Política Rural e da Comissão de Meio Ambiente e Consumidor – esta última
com menor freqüência. No Senado Federal, na última legislatura podia-se notar a
proximidade efetiva de alguns senadores com os interesses da bancada ruralista. Não era
inusitada a visita das lideranças ruralistas aos gabinetes dos senadores nos momentos de
votação ou de encaminhamentos de projetos de interesse da bancada. Essa relação estreitou-
se por ocasião da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito sobre a questão da Terra
(CPMI da Terra), quando foi aprovado o relatório do deputado Lupion (DEM/PR), que
criminalizava os movimentos sociais, em detrimento do texto do relator titular da CPMI,
deputado João Alfredo (PSOL/CE).

1
De acordo com as legislaturas da 6ª República (05.10.1988), são as seguintes: 48ª Legislatura: 1987-1991; 49ª Legislatura: 1991-
1995; 50ª Legislatura: 1995-1999; 51ª Legislatura: 1999-2003; 52ª Legislatura: 2003-2007; 53ª Legislatura: 2007-2011. Ver
www.camara.gov.br. Acesso em setembro de 2007.
2
Ver http://www2.camara.gov.br/deputados. Acesso em setembro de 2007.
3
Para registro conceitual, o professor Davi Fleischer insiste, de forma pertinente, que se denomine corretamente a bancada ruralista
como Grupo Temporário Público de Interesse Particular, por ser um conjunto suprapartidário de atores públicos eletivos.

5
Com a eleição para o Senado Federal, em 2006, da ex-deputada Kátia Abreu (DEM/T0),
ex-líder da União Democrática Ruralista (UDR) e presidente da Federação da Agricultura
do Tocantins, foi possível perceber um avanço da bancada nessa Casa. A presença efetiva
de uma liderança tende a mobilizar os demais parlamentares que possuem vínculos com a
questão ruralista. Os senadores simpatizantes da bancada ruralista, até então, não se
colocavam a serviço deste agrupamento explicitamente, apesar de serem sensíveis aos seus
interesses. Com a chegada da senadora, o grupo estabeleceu uma de suas lideranças como
um ponto focal de suas atividades no Senado Federal.

O forte do grupo é o potencial para mobilizar um número de parlamentares bem maior


que os diretamente envolvidos com a bancada. Assim, não é bem o número absoluto de
membros que promove sua força, mas a capacidade de mobilização que possui junto aos
diversos partidos políticos e às bancadas estaduais, além de sua representação política
federal.

A queda na representação da bancada, que foi reduzida de 117 deputados (1995/1999),


para 89 (1999/2003) e depois 73 (2003/2007), em três legislaturas consecutivas, não
enfraqueceu os ruralistas, pois eles obtiveram conquistas significativas nesse período. Na
última eleição (2006), a bancada saltou de 73 para 116 membros. Cresceu, portanto,
58,9% em relação à última legislatura. No balanço geral, percebe-se que a oscilação na
representação da bancada não deve ser vista como uma debilidade. Mesmo durante os
anos magros, os ruralistas mantiveram um poder de pressão considerável no Legislativo e
também sobre o Executivo. Obtiveram, nestes últimos 12 anos, vitórias consideráveis,
como a aprovação da Lei de Biossegurança; a liberação dos transgênicos por meio de
Medidas Provisórias; a aprovação do relatório final da CPMI da Terra. Ainda garantiram
que o governo mantivesse intacta a Medida Provisória que suspende as vistorias nas áreas
ocupadas pelos movimentos sociais e penaliza os agricultores sem-terra que participam de
ocupações; e avançaram nas diversas renegociações das dívidas dos grandes produtores
rurais, entre outras conquistas.

Na legislatura passada, a bancada perdeu 16 dos seus 89 membros. Essa redução de 18%
demonstrava um declínio da representação da elite agrária no Parlamento, cujo domínio
vem desde os tempos do Império. Ruralistas históricos não retornaram como titulares à
Câmara dos Deputados na legislatura de 2003, como os deputados Hugo Biehl (PPB/
SC), que foi presidente da Comissão de Agricultura e Desenvolvimento Rural (CADR);
Romel Anízio (PPB/MG), também ex-presidente da CADR; Xico Grazziano (PSDB/SP),
professor universitário e ideólogo da bancada; Heráclito Fortes (PFL/PI), presidente da
Comissão da Alca; Freire Júnior (PMDB/TO), que disputou o governo de Tocantins;
deputados de vários mandatos como Giovani Queiroz (PDT/PA) e Luciano Pizzato (PFL/
PR), e o deputado Carlos Batata (PSDB/ PE), que se destacou como relator do projeto de
lei que cria a política para a agricultura familiar.

Na atual legislatura, a bancada manteve sua base de representação (deputados: Aberlado


Lupion (DEM-PR), Darcísio Perondi (PMDB-RS), Dilceu Sperafico (PP-PR), Geddel Vieira
Lima (PMDB/BA), Luiz Carlos Henize (PP-RS), Moacir Micheleto (PMDB-PR), Nelson
Marquezelli (PTB-SP), Nelson Meurer (PP-PR), Odílio Balbinotti (PMDB-PR), Onix
Lorenzoni (DEM-RS), Ronaldo Caiado (DEM-GO), Vadão Gomes (PP-SP), Waldemiro
Moka (PMDB-MS),entre outros), recuperou alguns que não tinham conseguido se eleger
nas últimas eleições (Valdir Colatto (PMDB/SC), Humberto Souto (PPS/MG) e Paulo
Bornhausen (DEM/SC) e ampliou sua base em termos de relação de gênero – a deputada
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Bancada ruralista

Kátia Abreu (DEM/TO) foi eleita senadora -, mas as deputadas Suely (PR/RJ), Sandra
Rosado (PSB /RN) e Jusmari de Oliveira (PR/BA) foram eleitas e participam hoje da
Comissão de Agricultura e Política Rural. Assim, os eleitores, em 2006, foram generosos
com os ruralistas e votaram em seus representantes.

Ao conseguir uma representação de 116 deputados, em 2006, a bancada ruralista se


coloca hoje como a maior bancada de interesse no Congresso Nacional. A bancada dos
advogados não passa de 110 parlamentares. O número de membros da bancada ruralista
supera o das cinco maiores bancadas partidárias (PMDB/90, PT/83, PSDB/64, DEM/62
e PP/41). Como os ruralistas são suprapartidários, essa comparação é apenas indicativa.
Mas, considerando que no atual contexto político os partidos estão sofrendo um déficit de
liderança e dificilmente conseguem votar com a base unida ou fazer com que as suas
bancadas sigam as orientações de votos dos lideres, não é de todo impensável que, num
enfrentamento entre o posicionamento partidário e os interesses dos ruralistas, estes levassem
a melhor de forma ampla e indiscutível.

A história da bancada ruralista


Na sua história, a bancada ruralista sofreu alterações significativas. No início, durante a
legislatura 1987/1991, que envolveu a Assembléia Nacional Constituinte (1986/1988), e
também na legislatura posterior (1991/1995), os ruralistas não passavam de cerca de 20
parlamentares que se identificavam de forma pouco articulada. Na legislatura 1995/1999,
a bancada cresceu em número e articulação. Neste período, foi possível identificar 117
parlamentares que se alinhavam aos ruralistas. Na legislatura 1999/2003, foram
identificados 89 congressistas e, na legislatura 2003/2007, o número caiu para 73. Na
atual (2007/2011), a bancada retornou ao patamar de 116 deputados.

Ressaltamos que essa totalização é aproximada, pois muitos parlamentares não manifestam
sua identificação com a bancada ruralista. Temem ser estigmatizados e colocar seu capital
político em perigo, Outros, no entanto, fazem desta opção seu capital eleitoral.

Gráfico 1 – Ruralistas na Câmara dos Deputados

Ruralistas na Câmara dos Deputados - 2007/2011

Bancada
Ruralista: 116

Câmara: 397

Fonte: Câmara dos Deputados. Elaboração: Inesc

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A correlação de forças entre a bancada ruralista e os demais membros da Câmara dos
Deputados é muito maior do que a que está representada no gráfico 1. Como já ressaltamos,
a força dos ruralistas está na sua capacidade de mobilização e não no seu número absoluto.
Portanto, a bancada pode, em uma votação de seu interesse, mobilizar o dobro de seus
membros efetivos, alcançando, algumas vezes, a maioria absoluta dos 513 membros da
Câmara dos Deputados.

Isso não significa que a bancada ruralista seja um perigo para a democracia, mas identifica
a fragilidade do sistema partidário brasileiro. Os partidos com seus programas vazios de
prioridades não norteiam os parlamentares eleitos, que passam a atuar segundo seus
interesses individuais ou de classe. As diversas bancadas de interesse são espaços de
articulação que agregam interesses pessoais ou de classe que não são incorporados nos
programas partidários. Vamos observar, agora, como os parlamentares se comportaram
diante da decisão do Supremo Tribunal Eleitoral de fazer valer o princípio da fidelidade
partidária, que não vale somente para as trocas de partidos, mas também para as orientações
programáticas.

No gráfico 2, pode-se observar a perda de representação nos últimos três mandatos e a


recuperação nas eleições de 2006. A tendência de involução que a bancada ruralista
apresentava foi revertida na última eleição.

Gráfico 2 – Linha histórica da bancada ruralista

Linha histórica da bancada


140
117 116
120

100
89
73
80

60

40

20

0
1995/1999 1999/2003 2003/2007 2007/2011

Fonte: Câmara dos Deputados (2003/2006). Elaboração: INESC

Observam-se, no gráfico 2, a perda continuada de membros da bancada ruralista e sua


recuperação. Os ruralistas conseguiram recuperar, em 2007, a sua representação no mesmo
patamar do primeiro mandato em que a bancada começou a se constituir. Quais fatores
levaram a essa recuperação? Pode-se apontar, entre outros, a mesmice que os partidos
políticos se tornaram, em termos de programa e atuação. Os sinais emitidos pelo presidente
da República e seu partido durante o primeiro mandato, de alterar o mapa fundiário
nacional, foram recebidos positivamente pelos eleitores, que reagiram isolando algumas
lideranças ruralistas identificadas como obstáculos ao processo de reforma agrária. Como

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Bancada ruralista

essa esperança não se concretizou, os eleitores voltaram a agir de forma tradicional, em


especial no primeiro turno, e reelegeram os que regionalmente representam a elite fundiária.

A bancada ruralista volta, nesta legislatura, a ter o mesmo poder de representação da


década anterior, devido à desesperança de ver a democracia avançar no campo. O senso
comum transforma em tábua rasa, iguala por baixo, todos os parlamentares, e com essa
avaliação muitos eleitores foram às urnas em 2006. Identificaram-se com o discurso fácil
dos ruralistas, que pregam que a reforma agrária é um desperdício de recursos e terras e
que a agricultura familiar é uma economia de subsistência sem função comercial. Diante
do principio de que todos são a mesma coisa, vota-se no mais visível; vota-se, então, no
que tem mais poder econômico. É o senso comum equivocado de que “rico não precisa
roubar”. Não se ignora que outros fatores também interferiram no processo, como os
contextos locais e regionais que definem escolhas nem sempre racionais.

A bancada ruralista e os partidos políticos


Os membros da bancada ruralista aprenderam rapidamente a importância de pertencer à
base de apoio do governo, seja ele qual for. No governo Fernando Henrique Cardoso, os
parlamentares que compunham a bancada ruralista pertenciam, majoritariamente, aos
partidos que formavam a base de apoio do governo. No governo Lula, a situação não se
alterou: a base de apoio parlamentar tem se mantido em torno de 310 deputados. Os
ruralistas - não considerando os do PSDB e do DEM, que são oposição - representam 25%
da base de apoio. Praticamente todos os partidos da base do governo têm ruralistas na sua
bancada, exceto o PT e o PCdoB.

Gráfico 3 – Ruralistas nos partidos políticos

Ruralistas nos Partidos Políticos

100
90
90

80

70
62 64
60
Partido
50
41 Ruralistas
40 34
29 28
30 24 23
21
18 16 17
20
11
8
10 5 3 2
0
PMDB DEM PP PSDB PR PPS PTB PDT PSB

Fonte: Câmara dos Deputados. Elaboração: Inesc

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Pode-se observar que os três primeiros partidos (PMDB, DEM e PP) relacionados no
gráfico 3 representam 61,2% do total de membros da bancada. Outra coisa é que a
maioria dos partidos é conservadora. A contribuição dos partidos de centro-esquerda (PDT
e PPS) é de 11,2%. Essa composição faz dos ruralistas um agrupamento politicamente
conservador independente da defesa que fazem dos interesses dos grandes produtores rurais.
Essa postura ideológica não impede que alguns de seus membros possam estar alinhados
às teses progressistas, por exemplo, no que diz respeito à reforma política. É preciso ressaltar
que essa disposição progressista dificilmente sobrevive a um confronto com os interesses
originários da bancada. Entre a posição avançada na reforma política e a defesa da
renegociação das dívidas agrícolas, ficarão com a renegociação. Trabalhando, se possível,
para que a posição progressista sirva de elemento de barganha política.

Tabela 1 – Relação entre as bancadas partidárias e os ruralistas na Câmara

Partido (A) Bancada (B) Ruralistas (C) % (C/B) % (na Bancada Ruralista = 116)

PMDB 90 29 32,2% 25,0%


PSDB 64 16 25,0% 13,8%
DEM 62 24 38,7% 20,7%
PP 41 18 43,9% 15,5%
PR 34 11 32,4% 9,5%
PSB 28 2 7,1% 1,7%
PDT 23 3 13,0% 2,6%
PTB 21 5 23,8% 4,3%
PPS 17 8 47,1% 6,9%
Total 513 116 22,6%
Fonte: Câmara dos Deputados. Elaboração: Inesc.

O fato de um grupo de interesse particular deter quase 23% do total de parlamentares


pode comprometer as votações quando estiver em votação projeto de interesse específico
dos ruralistas ou projeto de interesse do governo, que muitas vezes envolvem barganhas
pontuais. É necessário ressaltar que, quando nos referimos a barganhas políticas, falamos
em cargos de governo que são negociados e recursos públicos que são liberados por meio
de emendas orçamentárias individuais.

O PMDB, na legislatura passada, tinha a maior bancada de ruralistas – havia desbancado


o DEM – e na atual continua com a maior representação. Saltou de 20 parlamentares
para os 29 atuais. O PMDB é majoritário na representação numérica da bancada ruralista,
mas essa constatação não significa que o PMDB conduz o grupo, pois o mesmo não reage
a partir de uma diretriz ideológica, mas por interesse específico.

O que causa estranheza é o crescimento do PPS – de um deputado para oito deputados na


bancada ruralista. O PPS tinha sido, até alguns mandatos passados, um partido
amplamente favorável à reforma agrária. Ao alinhar-se de forma maciça (47,1% do partido)
à bancada ruralista, dá sinais evidentes de uma nova orientação no que diz respeito à
política da terra.

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Bancada ruralista

Bancada ruralista: elo frágil do governo Lula?


Uma marca da bancada ruralista sempre foi a de ter deputados aliados ao governo. Isso
ocorreu no governo FHC e continua no governo Lula. Quando o PMDB passou a compor
a base de apoio do atual governo, trazendo com ele quase 33% de deputados da bancada
ruralista, a base do governo ficou ainda mais fragilizada num determinado aspecto. Isso
porque a liderança do governo, além de ter que tratar com a oposição, também tem que
atender, em certos casos, os ruralistas, que deveriam, a priori, alinhar-se e votar
favoravelmente às propostas governamentais, já que são parte da base de apoio parlamentar.

Não sendo necessariamente assim, esta bancada representa, dentro do equilíbrio de forças
do governo federal, o papel do “elo frágil”. Mesmo o governo Lula possuindo uma maioria
no Parlamento, a bancada ruralista será sempre mais uma ameaça de ruptura dessa
articulação. Como a base parlamentar não é monolítica - enquanto essa questão não for
equacionada por uma ampla reforma política -, os ruralistas deverão ter o seu poder de
barganha otimizado a cada votação.

Bancada ruralista por estado


Em termos geográficos, os ruralistas estão presentes nas bancadas de 23 Estados da União,
com exceção do Amazonas, Acre, Maranhão e do Distrito Federal. Essa disposição territorial
dá à bancada uma força de representação nacional e um razoável poder de articulação no
interior de cada bancada estadual e nos partidos em cada Estado.

Tabela 2 – Ruralistas por estado

MG 16 MT 3
PR 16 PI 3
GO 9 RJ 3
BA 8 RO 3
PA 7 RR 3
SC 7 AL 2
SP 7 AP 1
RS 6 ES 1
MS 5 PB 1
PE 5 RN 1
TO 5 SE 1
CE 3
Fonte: Câmara dos Deputados. Elaboração: Inesc

De acordo com a tabela 2, observa-se que os estados que mais contribuem com o grupo
ruralista são Minas Gerais (16), Paraná (16) e Goiás (9). Essa concentração não é surpresa,
pois são nestes Estados que estão concentradas as mais fortes famílias latifundiárias. São
nestes Estados em que a prática do coronelismo é ainda mais evidente. No Brasil, os
setores mais atrasados politicamente sempre estão acompanhados dos setores mais
modernos. Há uma linha geracional que herda não só os bens materiais, mas também os

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bens imateriais, como a visão de mundo. Neste caso, a segunda herança tem maior peso
no comportamento dos indivíduos do que os bens materiais.

Gráfico 4 – Mapa regional dos ruralistas

Mapa Regional dos Ruralistas

40
37
35 33
31
30 29
27 27

25 24 24 24 1995
22 1999
2003
20 18 18 17 17 2007
16
15 14
12

10 8 8
6
5

0
Nordeste Sul Sudeste Norte Centro-Oeste

Fonte: Câmara dos Deputados. Elaboração: Inesc.

Regionalmente, os ruralistas estão concentrados no Nordeste, Sul e Sudeste. É curiosa a


concentração no Nordeste e Sudeste, pois estas são regiões caracterizadas economicamente
como antípodas. Enquanto a primeira é associada ao subdesenvolvimento, a outra
representa a vitrine do desenvolvimento industrial do país. De acordo com o gráfico 4,
todas as regiões ganharam representantes. A legislatura passada havia desenhado um
mapa inverso: todas as regiões tinham perdido representantes ruralistas. Numericamente,
a região Sul foi a mais favorecida pelas eleições de 2006. O que chama a atenção é o
crescimento de 175% dos ruralistas no Centro-Oeste, que saltaram de 8 para 22 deputados.

A bancada ruralista e sua forma de atuação


A partir do estudo da bancada ruralista desde a legislatura de 1995/1999, pudemos
observar que algumas das peculiaridades do seu modus operandus têm se mantido. A mais
visível é auto-atribuição de um caráter de defesa dos interesses nacionais a partir da sua
disposição regional.

Outra característica é a ocupação de postos-chave, como vice-lideranças nos partidos


políticos. Essa mesma característica se transfere para os cargos da máquina estatal. A
ocupação desses postos, tanto no Legislativo como no Executivo, é a origem da fonte do
poder político da bancada.

O fato de a maioria dos deputados do grupo pertencer ao Nordeste, ao Sul e ao Sudeste


demonstra não só a convivência de formas de produção material e ideológica diferentes,
como indica interesses comuns entre a elite agroconservadora e os empresários modernos.

12
Bancada ruralista

Os parlamentares dessas regiões tão distintas assumem na arena política o mesmo


compromisso: a defesa de uma agenda conservadora em relação à reforma agrária.

Nas várias legislatura a bancada ruralista adotou formas diferenciadas de operacionalizar


os seus interesses. Na primeira fase, que vai de 1990 a 1994, sob a influência da União
Democrática Ruralista - UDR, o grupo mostrou-se truculento e agressivo diante dos
adversários. O domínio dos pecuaristas, no interior do grupo, conduzia a bancada para
uma situação de confronto constante. Na legislatura de 1995/1999, os ruralistas optaram
pela representação diversificada, ou seja, certos deputados se colocaram como porta-vozes
e articuladores de setores produtivos específicos, como os ligados ao cacau, aos cítricos, à
pecuária, entre outros.

Na legislatura 1999/2003, a operacionalização voltou a ficar dependente do


comportamento de algumas lideranças, como o deputado Ronaldo Caiado, ou outras que
se impuseram, como os deputados Abelardo Lupion (DEM/PR) e Luís Calos Heinze (PP/
RS). Novas lideranças, como os/as deputados/as Kátia Abreu (DEM/TO), Darcísio Perondi
(PMDB/RS) e Moacir Micheleto (PMDB/PR) também estavam se firmando no processo
legislativo.

Na legislatura 2003/2007, os ruralistas mostraram uma operacionalidade mais profissional


e a bancada, desde o primeiro mandato do governo Lula, conseguiu estabilizar-se e colocou-
se na mídia como o mais importante agrupamento parlamentar. Os seus membros
conseguiram contornar uma situação de disputa de poder entre as lideranças pecuaristas e
agrícolas. Esse ambiente de instabilidade tem surgido nos momentos de renegociação da
dívida agrícola. O deputado Ronaldo Caiado (DEM/GO)continua sendo a referência no
combate à reforma agrária e nas negociações da dívida agrícola dos grandes produtores. A
sua maturidade política tem evitado a deflagração de uma disputa pela retomada da
liderança pessoal nos moldes antigos.

Desde a legislatura de 2003, os ruralistas vêm promovendo um partilhamento da


representação. Houve uma divisão pactuada do comando da bancada entre os
representantes pecuaristas (deputados Ronaldo Caiado e Abelardo Lupion) e os empresários
rurais (Nelson Marquezelli (PTB/SP) e Luiz Carlos Heinze (PP/RS). O deputado Darcísio
Perondi (PMDB/RS) assumiu a responsabilidade de representar os interesses da indústria
da biotecnologia. Os deputados novos ou reeleitos na eleição de 2006 não provocaram
nenhuma desconfiguração da bancada. Têm procurado manter ou conquistar seus espaços
políticos a partir da força setorial acumulada.

Alguns cientistas políticos avaliam que a bancada ruralista e outros grupos de interesse
representam uma anomalia do sistema político. Mas encontramos grupos de interesse em
todos os Parlamentos. A atividade de pressão é inerente ao trabalho legislativo. No Brasil,
o sistema partidário não tem agregado interesses. Os partidos não priorizam, apesar dos
seus programas, quais são as políticas públicas que vão defender ou promover. Assim,
interesses que poderiam ser conjugados se fracionam em proposições parlamentares
individuais.

Os partidos políticos têm cumprido funções bem definidas, que são a disputa político-
eleitoral e a gestão do Estado ou do poder. A bancada ruralista tem ocupado certos nichos
do aparelho do Estado, de onde exerce o seu poder de mando. O poder, no caso da bancada
ruralista, é exercido de forma qualitativamente diferente de um partido político. A ascensão

13
dos ruralistas não visa ao cargo segundo uma estratégica política de governo, mas para
obter mais recursos orçamentários para o grande setor agropecuarista de exportação.

Esse aparelhamento setorial do Estado só é possibilitado pela dupla representatividade do


partido político e da bancada ruralista. Não é por representatividade da bancada, como
força política interna do Congresso Nacional - o que regimentalmente não existe –, que os
ruralistas ocupam a presidência da Comissão de Agricultura, mas porque têm origem em
partidos de representatividade expressiva.

Na teoria política prevalece o entendimento de que os fatores principais que explicam a


criação de grupos de interesse no interior do Congresso Nacional são a hipertrofia do
poder Executivo e a fragilidade do sistema de representação partidária. Outro fator que
não pode ser desprezado é a ineficácia da gestão das políticas públicas setoriais.

A existência da bancada ruralista depende, em grande parte, das crises no setor agropecuário,
que favorecem o acúmulo de recursos de poder por parte do grupo que, ao utilizá-los,
reforça sua própria imagem. Se os problemas agrícolas pudessem ser equacionados; ou
seja, se as políticas públicas agrícolas fossem eficazes e eficientes, a bancada ruralista,
ainda assim, teria que continuar a cumprir a sua função específica como grupo de interesse
no contínuo processo legislativo.

Desde que respeitem os princípios constitucionais e a legislação vigente, a defesa de interesses


não é ilegal, nem politicamente incorreta. Assim, nada pode impedir - seria ingênuo
imaginar o contrário - que os ruralistas continuem a definir suas estratégias de acordo com
os ensinamentos de Maquiavel:

“Como sabemos, pode-se lutar de duas maneiras: pela lei e pela força. O primeiro método
é o dos homens; o segundo, o dos animais. Porém, como o primeiro pode ser insuficiente,
tem-se que recorrer ao segundo. É necessário, portanto, que o príncipe saiba usar tanto o
processo dos homens como o dos animais”.4

Edélcio Vigna
Assessor de Reforma Agrária e Segurança Alimentar

4
O Príncipe, cap. XVIII.

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Bancada ruralista

Anexo

Lista da bancada ruralista – Legislatura 2007/2011

Nome Partido Estado Nome Partido Estado

Aberlado Lupion DEM PR Leandro Vilela PMDB GO


Aelton Freitas PR MG Leonardo Picciani PMDB RJ
Afonso Hamn PP RS Leonardo Vilela PSDB GO
Airton Roveda PR PR Lira Maia DEM PA
Alfredo Kaefer PSDB PR Luciano Castro PR RR
Anibal Gomes PMDB CE Luiz Carlos Hauly PSDB PR
Antonio Carlos Mendes Thame PSDB SP Luiz Carlos Heinze PP RS
Antonio Carlos Pannunzio PSDB SP Luiz Carlos Setim DEM PR
Asdrúbal Bentes PMDB PA Luiz Fernando Faria PP MG
Benedito Lira PP AL Marcelo Melo PMDB GO
Bonifácio de Andrade PSDB MG Marcos Montes DEM MG
Camilo Cola PMDB ES Marinha Raupp PMDB RO
Carlos Alberto Leréia PSDB GO Mário Heringer PDT MG
Carlos Melles DEM MG Mauro Benevides PMDB CE
Cesar Silvestre PPS PR Mauro Lopes PMDB MG
Chico da Princesa PR PR Max Rosenamann PMDB PR
Ciro Nogueira PP PI Milton Monti DEM SP
Claudio Diaz PSDB RS Moacir Micheleto PMDB PR
Dagoberto Nogueira PDT MS Moises Avelino PMDB TO
Darcísio Perondi PMDB RS Moreira mendes PPS RO
Davi Alcolunbre DEM AP Musa Demis DEM PI
Dirceu Sperafico PP PR Nelson Marquezelli PP SP
Duarte Nogueira PSDB SP Nelson Meurer PP PR
Edinho Bez PMDB SC Nelson Trad PMDB MS
Edio Lopes PMDB RR Nilson Pinto PSDB PA
Edmar Moreira DEM MG Odílio Balbinotti PMDB PR
Eduardo Sciarra DEM PR Olavo Calheiros PMDB AL
Ernandes Amorin PTB RO Onix Lorenzoni DEM RS
Eunicio Oliveira PMDB CE Osvaldo Reis PMDB TO
Fábio Souto DEM BA Paes Landim PTB PI
Félix Mendonça DEM BA Paulo Abi-ackel PSDB MG
Fernando de Fabinho DEM BA Paulo Bornhausen DEM SC
Fernando Diniz PMDB MG Paulo Piao PPS MG
Francisco Rodrigues DEM RR Pedro Chaves PMDB GO
Geddel Vieira Lima PMDB BA Pedro Henry PP MT
Geraldo Resende PPS MS Raul Jungmann PPS PE
Gerson Perez PP PA Renato Molling PP RS
Gervásio Silva DEM SC Ricardo Barros PP PR
Giacobo PR PR Roberto Balestra PP GO

15
Giovani Queiroz PDT PA Roberto Magalhães DEM PE
Gonzaga Patriota PSB PE Romolu Gouveia PSDB PB
Hermes Parcianello PMDB PR Ronaldo Caiado DEM GO
Homero Pereira PPS MT Sandra Rosado PSB RN
Humberto Souto PPS MG Sandro Mabel PR GO
Inocencio Oliveira PR PE Saraiva Felipe PMDB MG
Jader Barbalho PMDB PA Silvio Lopes PSDB RJ
Jeronimo Reis DEM SE Suely PR RJ
João Magalhães PMDB MG Tatico PTB GO
João Matos PMDB SC Vadão Gomes PP SP
João Oliveira DEM TO Valdemar Costa Neto PR SP
João Piazzolatti PP SC Valdir Colatto PP SC
Jorge Khoury DEM BA Veloso PPS BA
Jose Carlos Aleluia DEM BA Vicente Alves PSDB TO
José Múcio Monteiro PTB PE Waldemiro Moka PMDB MS
José Santana de Vasconcelos PR MG Waldir Neves PSDB MS
Jusmari de Oliveira DEM BA Wandenkolk Gonçalves PSDB PA
Lael Varella PTB MG Welinton Fagundes PR MT
Lázaro Botelho PP TO Zonta PP SC

EXPEDIENTE
INESC - Instituto de Estudos Socioeconômicos - End: SCS - Qd, 08, Bl B-50 - Salas 431/441 Ed. Venâncio 2000 - CEP.
70.333-970 - Brasília/DF - Brasil - Fone: (61) 3212 0200 - Fax: (61) 3212 0216 - E-mail: protocoloinesc@inesc.org.br
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Pierre, Jurema Werneck, Luiz Gonzaga, Neide Castanha, Pastor Ervino Schmidt - Colegiado de gestão: Atila Roque,
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Eliana Magalhães, Francisco Sadeck, Jair Barbosa Júnior, Luciana Costa, Ricardo Verdum - Jornalista responsável:
16 Luciana Costa - Diagramação: Ivone Melo

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