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INSTITUTO DE ESTUDOS
SOCIOECONÔMICOS
Bancada ruralista:
o maior grupo de interesse
no Congresso Nacional
Sumário
Introdução .............................. 05
Anexo:
Lista da bancada ruralista - Legislatura 2007/2011...... 15
3
4
Bancada ruralista
Introdução
A bancada ruralista, ao agregar interesses que perpassam diversas profissões, não deve ser
considerada uma “bancada de profissão”, mas sim uma “bancada de interesse particular3”.
Como a representação sociopolítica dos indivíduos não é exclusiva, mas partilhada, os
ruralistas também se apresentam sob uma variedade de profissões, tendo os parlamentares,
em geral, pelo menos duas profissões, como por exemplo, agropecuarista/ empresário;
agropecuarista/médico; agropecuarista/advogado; agropecuarista/comerciante, entre outras.
Como não é usual dissociar representações, computamos esses parlamentares como membros
da bancada ruralista. Este é um dos critérios que nos permite associar o parlamentar como
membro potencial da bancada. Assim, os ruralistas são os que expressaram seus vínculos
de forma direta ou indireta com a agricultura. Há uma gama de parlamentares que não
expressam profissionalmente sua relação com essa bancada, mas, por vínculos familiares,
acabam se situando em sua órbita e representam o grupo mobilizável, que, nos momentos
de votação/pressão, faz com que o número de participantes pareça maior do que o real.
1
De acordo com as legislaturas da 6ª República (05.10.1988), são as seguintes: 48ª Legislatura: 1987-1991; 49ª Legislatura: 1991-
1995; 50ª Legislatura: 1995-1999; 51ª Legislatura: 1999-2003; 52ª Legislatura: 2003-2007; 53ª Legislatura: 2007-2011. Ver
www.camara.gov.br. Acesso em setembro de 2007.
2
Ver http://www2.camara.gov.br/deputados. Acesso em setembro de 2007.
3
Para registro conceitual, o professor Davi Fleischer insiste, de forma pertinente, que se denomine corretamente a bancada ruralista
como Grupo Temporário Público de Interesse Particular, por ser um conjunto suprapartidário de atores públicos eletivos.
5
Com a eleição para o Senado Federal, em 2006, da ex-deputada Kátia Abreu (DEM/T0),
ex-líder da União Democrática Ruralista (UDR) e presidente da Federação da Agricultura
do Tocantins, foi possível perceber um avanço da bancada nessa Casa. A presença efetiva
de uma liderança tende a mobilizar os demais parlamentares que possuem vínculos com a
questão ruralista. Os senadores simpatizantes da bancada ruralista, até então, não se
colocavam a serviço deste agrupamento explicitamente, apesar de serem sensíveis aos seus
interesses. Com a chegada da senadora, o grupo estabeleceu uma de suas lideranças como
um ponto focal de suas atividades no Senado Federal.
Na legislatura passada, a bancada perdeu 16 dos seus 89 membros. Essa redução de 18%
demonstrava um declínio da representação da elite agrária no Parlamento, cujo domínio
vem desde os tempos do Império. Ruralistas históricos não retornaram como titulares à
Câmara dos Deputados na legislatura de 2003, como os deputados Hugo Biehl (PPB/
SC), que foi presidente da Comissão de Agricultura e Desenvolvimento Rural (CADR);
Romel Anízio (PPB/MG), também ex-presidente da CADR; Xico Grazziano (PSDB/SP),
professor universitário e ideólogo da bancada; Heráclito Fortes (PFL/PI), presidente da
Comissão da Alca; Freire Júnior (PMDB/TO), que disputou o governo de Tocantins;
deputados de vários mandatos como Giovani Queiroz (PDT/PA) e Luciano Pizzato (PFL/
PR), e o deputado Carlos Batata (PSDB/ PE), que se destacou como relator do projeto de
lei que cria a política para a agricultura familiar.
Kátia Abreu (DEM/TO) foi eleita senadora -, mas as deputadas Suely (PR/RJ), Sandra
Rosado (PSB /RN) e Jusmari de Oliveira (PR/BA) foram eleitas e participam hoje da
Comissão de Agricultura e Política Rural. Assim, os eleitores, em 2006, foram generosos
com os ruralistas e votaram em seus representantes.
Ressaltamos que essa totalização é aproximada, pois muitos parlamentares não manifestam
sua identificação com a bancada ruralista. Temem ser estigmatizados e colocar seu capital
político em perigo, Outros, no entanto, fazem desta opção seu capital eleitoral.
Bancada
Ruralista: 116
Câmara: 397
7
A correlação de forças entre a bancada ruralista e os demais membros da Câmara dos
Deputados é muito maior do que a que está representada no gráfico 1. Como já ressaltamos,
a força dos ruralistas está na sua capacidade de mobilização e não no seu número absoluto.
Portanto, a bancada pode, em uma votação de seu interesse, mobilizar o dobro de seus
membros efetivos, alcançando, algumas vezes, a maioria absoluta dos 513 membros da
Câmara dos Deputados.
Isso não significa que a bancada ruralista seja um perigo para a democracia, mas identifica
a fragilidade do sistema partidário brasileiro. Os partidos com seus programas vazios de
prioridades não norteiam os parlamentares eleitos, que passam a atuar segundo seus
interesses individuais ou de classe. As diversas bancadas de interesse são espaços de
articulação que agregam interesses pessoais ou de classe que não são incorporados nos
programas partidários. Vamos observar, agora, como os parlamentares se comportaram
diante da decisão do Supremo Tribunal Eleitoral de fazer valer o princípio da fidelidade
partidária, que não vale somente para as trocas de partidos, mas também para as orientações
programáticas.
100
89
73
80
60
40
20
0
1995/1999 1999/2003 2003/2007 2007/2011
8
Bancada ruralista
100
90
90
80
70
62 64
60
Partido
50
41 Ruralistas
40 34
29 28
30 24 23
21
18 16 17
20
11
8
10 5 3 2
0
PMDB DEM PP PSDB PR PPS PTB PDT PSB
9
Pode-se observar que os três primeiros partidos (PMDB, DEM e PP) relacionados no
gráfico 3 representam 61,2% do total de membros da bancada. Outra coisa é que a
maioria dos partidos é conservadora. A contribuição dos partidos de centro-esquerda (PDT
e PPS) é de 11,2%. Essa composição faz dos ruralistas um agrupamento politicamente
conservador independente da defesa que fazem dos interesses dos grandes produtores rurais.
Essa postura ideológica não impede que alguns de seus membros possam estar alinhados
às teses progressistas, por exemplo, no que diz respeito à reforma política. É preciso ressaltar
que essa disposição progressista dificilmente sobrevive a um confronto com os interesses
originários da bancada. Entre a posição avançada na reforma política e a defesa da
renegociação das dívidas agrícolas, ficarão com a renegociação. Trabalhando, se possível,
para que a posição progressista sirva de elemento de barganha política.
Partido (A) Bancada (B) Ruralistas (C) % (C/B) % (na Bancada Ruralista = 116)
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Bancada ruralista
Não sendo necessariamente assim, esta bancada representa, dentro do equilíbrio de forças
do governo federal, o papel do “elo frágil”. Mesmo o governo Lula possuindo uma maioria
no Parlamento, a bancada ruralista será sempre mais uma ameaça de ruptura dessa
articulação. Como a base parlamentar não é monolítica - enquanto essa questão não for
equacionada por uma ampla reforma política -, os ruralistas deverão ter o seu poder de
barganha otimizado a cada votação.
MG 16 MT 3
PR 16 PI 3
GO 9 RJ 3
BA 8 RO 3
PA 7 RR 3
SC 7 AL 2
SP 7 AP 1
RS 6 ES 1
MS 5 PB 1
PE 5 RN 1
TO 5 SE 1
CE 3
Fonte: Câmara dos Deputados. Elaboração: Inesc
De acordo com a tabela 2, observa-se que os estados que mais contribuem com o grupo
ruralista são Minas Gerais (16), Paraná (16) e Goiás (9). Essa concentração não é surpresa,
pois são nestes Estados que estão concentradas as mais fortes famílias latifundiárias. São
nestes Estados em que a prática do coronelismo é ainda mais evidente. No Brasil, os
setores mais atrasados politicamente sempre estão acompanhados dos setores mais
modernos. Há uma linha geracional que herda não só os bens materiais, mas também os
11
bens imateriais, como a visão de mundo. Neste caso, a segunda herança tem maior peso
no comportamento dos indivíduos do que os bens materiais.
40
37
35 33
31
30 29
27 27
25 24 24 24 1995
22 1999
2003
20 18 18 17 17 2007
16
15 14
12
10 8 8
6
5
0
Nordeste Sul Sudeste Norte Centro-Oeste
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Bancada ruralista
Alguns cientistas políticos avaliam que a bancada ruralista e outros grupos de interesse
representam uma anomalia do sistema político. Mas encontramos grupos de interesse em
todos os Parlamentos. A atividade de pressão é inerente ao trabalho legislativo. No Brasil,
o sistema partidário não tem agregado interesses. Os partidos não priorizam, apesar dos
seus programas, quais são as políticas públicas que vão defender ou promover. Assim,
interesses que poderiam ser conjugados se fracionam em proposições parlamentares
individuais.
Os partidos políticos têm cumprido funções bem definidas, que são a disputa político-
eleitoral e a gestão do Estado ou do poder. A bancada ruralista tem ocupado certos nichos
do aparelho do Estado, de onde exerce o seu poder de mando. O poder, no caso da bancada
ruralista, é exercido de forma qualitativamente diferente de um partido político. A ascensão
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dos ruralistas não visa ao cargo segundo uma estratégica política de governo, mas para
obter mais recursos orçamentários para o grande setor agropecuarista de exportação.
A existência da bancada ruralista depende, em grande parte, das crises no setor agropecuário,
que favorecem o acúmulo de recursos de poder por parte do grupo que, ao utilizá-los,
reforça sua própria imagem. Se os problemas agrícolas pudessem ser equacionados; ou
seja, se as políticas públicas agrícolas fossem eficazes e eficientes, a bancada ruralista,
ainda assim, teria que continuar a cumprir a sua função específica como grupo de interesse
no contínuo processo legislativo.
“Como sabemos, pode-se lutar de duas maneiras: pela lei e pela força. O primeiro método
é o dos homens; o segundo, o dos animais. Porém, como o primeiro pode ser insuficiente,
tem-se que recorrer ao segundo. É necessário, portanto, que o príncipe saiba usar tanto o
processo dos homens como o dos animais”.4
Edélcio Vigna
Assessor de Reforma Agrária e Segurança Alimentar
4
O Príncipe, cap. XVIII.
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Bancada ruralista
Anexo
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Giovani Queiroz PDT PA Roberto Magalhães DEM PE
Gonzaga Patriota PSB PE Romolu Gouveia PSDB PB
Hermes Parcianello PMDB PR Ronaldo Caiado DEM GO
Homero Pereira PPS MT Sandra Rosado PSB RN
Humberto Souto PPS MG Sandro Mabel PR GO
Inocencio Oliveira PR PE Saraiva Felipe PMDB MG
Jader Barbalho PMDB PA Silvio Lopes PSDB RJ
Jeronimo Reis DEM SE Suely PR RJ
João Magalhães PMDB MG Tatico PTB GO
João Matos PMDB SC Vadão Gomes PP SP
João Oliveira DEM TO Valdemar Costa Neto PR SP
João Piazzolatti PP SC Valdir Colatto PP SC
Jorge Khoury DEM BA Veloso PPS BA
Jose Carlos Aleluia DEM BA Vicente Alves PSDB TO
José Múcio Monteiro PTB PE Waldemiro Moka PMDB MS
José Santana de Vasconcelos PR MG Waldir Neves PSDB MS
Jusmari de Oliveira DEM BA Wandenkolk Gonçalves PSDB PA
Lael Varella PTB MG Welinton Fagundes PR MT
Lázaro Botelho PP TO Zonta PP SC
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