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PIBIC-UFU, CNPq & FAPEMIG

Universidade Federal de Uberlândia


Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação
DIRETORIA DE PESQUISA

RELATIVIZAÇÃO DA COISA JULGADA EM AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO


DE PATERNIDADE *

Andressa Antunes Ferreira 1


Universidade Federal de Uberlândia. Faculdade de Direito “Prof. Jacy de Assis”. Avenida João Naves de Ávila, 2.160.
Campus Santa Mônica. Bloco 3D. CEP: 38408-100. Uberlândia - Minas Gerais – Brasil
E-mail: andressaantunes@yahoo.com.br

Carlos José Cordeiro 2


E-mail: carlosjcordeiro@terra.com.br

Resumo: Esse trabalho vem trazer à tona uma questão polêmica na área jurídica que vem trazendo
grandes debates. Trata-se da questão da relativização da coisa julgada nas ações de investigação
de paternidade. O grande desafio para os operadores do direito se refere à busca por uma solução
equânime quando se tem uma colisão de direitos fundamentais, no caso entre o direito à segurança
jurídica decorrente da coisa julgada e o direito fundamental da criança e do adolescente de
respeito à convivência familiar. O objetivo deste trabalho é o de examinar até que ponto há de
preponderar a verdade ficta das decisões jurídicas acobertadas pelo manto da coisa julgada, em
contraposição à realidade fática apurada pelo exame de DNA. Afinal, observa-se que o advento da
perícia genética do DNA vem de encontro (confronto) ao princípio da coisa julgada, quando as
sentenças judiciais transitadas em julgado basearam-se em provas que não a pericial retro
mencionada. Conclui-se, assim, que, apesar de todo ordenamento jurídico estar voltado para a
segurança e a estabilidade das relações humanas, o correto é que a segurança não seja o primado
último do Direito, mas que, acima dela, encontrem-se outros objetivos como, por exemplo, o
princípio da justiça.

Palavras-chave: Coisa julgada, relativização, investigação de paternidade, segurança jurídica,


justiça.

1. INTRODUÇÃO

Com o intuito de atender os objetivos traçados no plano de trabalho, buscou-se trazer neste
artigo grandes debates doutrinários e jurisprudenciais que abarcam uma questão muito polêmica nos
últimos anos, especialmente no direito de família, que é o surgimento do exame de DNA como
suposto meio de prova infalível nas ações de investigação de paternidade e o seu conseqüente
confronto com o instituto da coisa julgada.
O fato é que, antes do advento de referido exame, não era possível garantir com absoluta
certeza a verdade biológica a respeito da paternidade de um indivíduo. Assim sendo, vem à tona
uma discussão sobre o que fazer com as decisões judiciais nas ações de investigação de paternidade
que já transitaram em julgado, não estando mais sujeitas a nenhum recurso. A dúvida que impera
advém da possibilidade ou não da relativização da coisa julgada nessas decisões. Afinal, o que deve

* Pesquisa resultante do Programa de Bolsa Institucional de Iniciação Científica (PIBIC/UFU/FAPEMIG) – Projeto:


003/2008.
1
Acadêmica da Faculdade de Direito “Prof. Jacy de Assis” da Universidade Federal de Uberlândia.
2
Doutor em Direito das Relações Sociais pela PUC/SP. Professor orientador da Faculdade de Direito “Prof. Jacy de
Assis” da Universidade Federal de Uberlândia.

1
prevalecer: a segurança jurídica advinda do instituto da coisa julgada (manifestação do próprio
Estado Democrático de Direito) ou a justiça baseada no princípio da dignidade da pessoa humana?
Tamanha problemática decorreu da constante mutabilidade das sociedades, da própria
dinâmica das relações sociais, e, principalmente, dos avanços tecnológicos. O direito como uma
ciência voltada para a regulamentação da convivência social, e caracterizada como uma ciência
dinâmica, deve sempre procurar ir ao encontro das diversidades ocorridas no seio da comunidade.
Exemplo de mudanças no Direito que acompanham a evolução das sociedades faz-se presente no
próprio Direito de Família, uma vez que este sofreu inúmeras interferências principalmente após a
promulgação da Constituição Federal de 1988 (CF/88). É possível destacar como essenciais a
elevação da união estável como entidade familiar, assim como a equiparação dos filhos (art. 227,
§6°, CF), eliminando as discriminações entre filhos legítimos, ilegítimos e adotivos. Outra
importante modificação que este trabalho se ampara é a instituição à proteção integral da criança e
do adolescente pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
Assim, é notória a imensa influência do cotidiano nas questões de direito, de tal forma que,
hodiernamente, faz-se saber que grande parte dos estudiosos da área já tem posicionamentos firmes
e precisos a respeito da relativização da coisa julgada, especialmente nas ações de investigação de
paternidade.

2. RESULTADOS

2.1 O dogma da coisa julgada

Dentre as normas do ordenamento jurídico brasileiro aquela que possui maior destaque é a
Constituição Federal de 1988, a qual possui hierarquia superior, e que, juntamente com as demais
normas infraconstitucionais, visa claramente a segurança jurídica das decisões.
Como elemento essencial do Estado Democrático de Direito, o princípio da segurança
jurídica se desenvolve com base em dois elementos básicos, quais sejam: o da estabilidade das
decisões dos poderes públicos, que não podem ser alteradas enquanto não concorrerem
fundamentos relevantes por meio de procedimentos legalmente exigidos; e o da previsibilidade, que
conduz à exigência de certeza e calculabilidade por parte dos cidadãos.
Sendo o Direito uma aspiração de justiça, é inconcebível sua existência sem o valor
segurança.
Exemplo da busca incessante pela segurança jurídica dentro do processo judicial é o instituto
da coisa julgada, visto como qualidade da sentença assumida em determinado momento processual,
representada pela imutabilidade do julgado e de seus efeitos.
Assim sendo, é perceptível que quando as partes de um processo formulam um pedido na
petição inicial, esta se torna objeto da prestação jurisdicional sobre a qual a sentença irá operar,
esgotando o ofício do juiz que aplicará a lei ao caso concreto. Logo, com o transcurso do prazo para
a interposição dos recursos, a sentença irá transitar em julgado, tornando-se imutável e indiscutível.
Muitos estudiosos definiam a coisa julgada como efeito da sentença, porém, atualmente é
clara a sua classificação apenas como uma qualidade do decisório. A coisa julgada sempre foi vista
como algo absolutamente intocável, um verdadeiro dogma, insuscetível de discussão. Pode ser
notada em dois níveis diferentes: a coisa julgada formal, que decorre da imutabilidade da sentença
dentro do próprio processo em que foi proferida e pelo qual não é mais possível a interposição de
recursos (como exemplo: as sentenças sem resolução de mérito), assim como tem-se a coisa julgada
material que é mais ampla e, conseqüentemente, abrange a própria coisa julgada formal, uma vez
que produz efeitos no mesmo processo ou em qualquer outro, por a decisão estar definitivamente
apreciada e julgada.
Sendo a coisa julgada um instituto processual de natureza pública, a parte não pode abrir
mão dela. Destarte, caso ocorra algum incidente que venha a gerar incerteza sobre a
constitucionalidade ou justiça da decisão, deverão as partes recorrer ao judiciário para verificar as
possibilidades de rescisão do julgado. Como exemplo de mecanismos processuais capazes,

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excepcionalmente, de rescindir a decisão transitada em julgado é a ação rescisória, porém apenas
nas hipóteses taxativas do art. 485 do Código de Processo Civil (CPC) e pelo prazo de dois anos
previsto no art. 495 do mesmo diploma legal.

2.2 Hipóteses de relativização (ação rescisória)

Após a análise do instituto da coisa julgada, cuja função é projetar os efeitos da sentença
indefinidamente para o futuro, faz-se necessário um estudo a respeito das situações encerradas em
processos com trânsito em julgado, mas que ainda ressaltam dúvidas a respeito de possíveis
confrontos com princípios constitucionais, como a moralidade, a legalidade ou até mesmo do
caráter de justiça dessas decisões.
O que se questiona é a existência de uma provável lesão ao direito e um descrédito com a
justiça, quando o ordenamento jurídico se vê numa busca cega pela estabilidade e previsibilidade
das decisões abarcadas pelo instituto da coisa julgada. Tamanha reflexão decorre do fato de que,
questões anteriormente tidas por incontestáveis, hodiernamente, podem ser alvos de grandes
alterações (advindas até mesmo da evolução científica, como é o caso do exame de DNA), capazes
de alterar lides já solucionadas e acobertadas com o manto da coisa julgada.
Diante de diversas demandas submetidas à apreciação do poder Judiciário requerendo
rescisão de ações já transitadas em julgado, diversos doutrinadores passaram a analisar a
probabilidade de se rediscutir (relativizar) a coisa julgada em alguns casos excepcionais, sem que
houvesse total afronta a esse instituto, mas apenas um abrandamento em virtude de questões de
maior relevância social.
O art. 5°, XXXVI, da Constituição Federal de 1988, faz menção à coisa julgada: “a lei não
prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada”, fazendo desse instituto um
direito fundamental.
A par de tal preceito, prevalece doutrinariamente, e mesmo perante os tribunais superiores, a
tese de que as sentenças tidas por inconstitucionais seriam abarcadas pelas hipóteses de
relativização da coisa julgada. Todavia, percebeu-se também que não só as sentenças
inconstitucionais estariam violando o ordenamento jurídico, mas também as sentenças
desarrazoadas ou injustas.
Com essa percepção foram buscadas diversas alternativas com o intuito de rescindir tais
decisões injustas ou inconstitucionais, afinal, algo mais nobre deveria preponderar sobre sentenças
definitivas e imutáveis, que na verdade estavam apenas propagando uma injustiça maior enquanto
pregavam a segurança jurídica como forma de garantia aos cidadãos.
A principal solução dada pelos doutrinadores é a interposição da ação rescisória com fulcro
de rescindir sentenças transitadas em julgado que estavam difundindo imensas injustiças por seu
caráter de indiscutibilidade e imutabilidade. Não se atendo somente ao modo de operar essa
relativização da coisa julgada, os estudiosos ainda fizeram críticas às hipóteses de cabimento dessa
ação prevista no art. 485 do CPC. Relataram, em resumo, que o melhor a ser feito seria a ampliação
das condições de cabimento da demanda de cunho decisório, além de dilatar o prazo de dois anos
previstos para sua interposição, bem como, em casos excepcionalíssimos, ser realizada a supressão
deste em casos de vícios intoleráveis.

2.3 O surgimento do exame de DNA, sua infalibilidade e as mudanças no direito de família

Em 1953 iniciaram-se os primeiros estudos científicos no âmbito da Engenharia Genética


Molecular com os cientistas Francis Crirck e James Watson. Eles descobriram que a estrutura do
DNA (ácido desoxirribonucléico) tem uma forma de dupla hélice, e que o mesmo seria o
responsável pela formação genética de cada ser vivo, tornando cada um diferente de todos.
Porém, somente na década de 80, com a evolução tecnológica, começaram a surgir técnicas
capazes de caracterizar no DNA as particularidades de cada pessoa. Foi o estudioso Alec Jeffreys,
através da criação de sondas moleculares radioativas, o primeiro a detectar nas regiões mais

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sensíveis do DNA, os padrões específicos de cada indivíduo, através da chamada “impressão
digital” genética do DNA.
Certo é que, nos dias atuais, o teste de DNA é o método mais preciso para a identificação de
paternidade, uma vez que dispõe de uma porcentagem de acerto que varia de 99,99% a 99,9999%, o
que, na prática, tomadas as devidas precauções de qualidade do teste, representa um número quase
absolutamente preciso.
O surgimento do exame de DNA e a sua suposta infalibilidade também vieram somar na
discussão da relativização da coisa julgada, pois o Direito de Família, especialmente nas ações
relativas à filiação, foi um dos ramos do direito mais influenciados pela evolução decorrida com a
descoberta dos indicadores genéticos e a certeza da identificação das relações de parentesco.
No direito de família predominava a presunção mater semper certa est e pater incertus pater
es (a mãe é sempre certa, e o pai, incerto), entretanto, com o advento da prova pericial esta máxima
deixou de ser dominante, passando de pater incertus a pater certus.
No campo probatório, a prova testemunhal sempre reinou, sendo usada para identificar
ocasiões nas quais o casal era visto em situações que demonstrasse a provável existência de um
vínculo afetivo. Isso porque, para a comprovação do fato constitutivo que sustenta a ação de
investigação de paternidade, era necessária somente a prova da existência de um contato sexual
entre ambos. Todavia, tal relacionamento era de difícil confirmação pelo fato de testemunhas
objetivarem a comprovação de algo realizado por terceiros e às escusas de todos. Muitas vezes o
que tornava ainda mais dificultoso a comprovação da paternidade era o fato de o demandado,
mesmo assumindo que mantinha relacionamento íntimo com mãe do investigante, alegar a
simultaneidade de contatos sexuais que esta mantinha com outros parceiros, com a intenção de
denegrir a imagem da figura materna.
O que gerava bastante ineficiência era o fato de que, além da prova testemunhal, quase nada
mais havia. A prova pericial, que, em um primeiro momento, identificava exclusivamente os grupos
sangüíneos, era de pouca valia para o reconhecimento da filiação. Porém, a evolução científica veio
a revolucionar a investigação dos vínculos parentais. Métodos cada vez mais seguros foram
utilizados, tornando-se meios probatórios de grande utilidade nas ações de investigação de
paternidade. Com índices de certeza quase absoluta, foi possível devolver a liberdade sexual da
mulher que não mais ficou sujeita às alegações de sua promiscuidade como fator impeditivo à
identificação da paternidade.
No entanto, mesmo com tamanha evolução e grau de certeza, as provas periciais ainda
apresentavam algumas dificuldades. A primeira delas estava ligada à recusa do demandado em
realizar a perícia (coleta de sangue) e o segunda estava relacionada ao elevado custo do exame de
DNA, método que, apesar de apresentar maior índice de certeza, não é custeado pelo Estado. Assim
sendo, as partes que não possuem recursos para o pagamento da perícia ficam com seu conteúdo
probatório fragilizado, ficando suas ações à mercê das demais provas, as quais jamais possuirão o
grau de exatidão do teste de DNA.
No entanto, com o advento da Lei 12.004 de 29 de julho de 2009, ficou estabelecida a
presunção de paternidade no caso de recusa do suposto pai em submeter-se ao exame de código
genético (DNA). Assim ficou estabelecido em seu art. 2° que a Lei 8.560/92 passaria a vigorar da
seguinte maneira:
“Art. 2o-A. Na ação de investigação de paternidade, todos os meios legais,
bem como os moralmente legítimos, serão hábeis para provar a verdade dos
fatos.
Parágrafo único. A recusa do réu em se submeter ao exame de código
genético - DNA gerará a presunção da paternidade, a ser apreciada em
conjunto com o contexto probatório.”

É necessário afirmar que a prova pericial genética (prova mestre) não deve ser vista como
prova absoluta e incontestável, principalmente porque com ela devem sempre ser realizados outros

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meios de probatórios para que o juiz possa valorá-los de forma mais convincente. Porém, é
desejável que o exame de DNA jamais deixe de ser produzido.
É evidente que toda essa problemática não advém somente do surgimento de modernas
técnicas periciais cada vez mais eficazes, mas também de todo um conjunto normativo já existente
que, amparados a essa evolução, faz notar a forte tendência em todo o ordenamento jurídico
brasileiro em propiciar total proteção à família, assegurando à criança a convivência familiar
conforme explicitado na Constituição Federal de 1988 (arts. 226 e 227), além de o Estatuto da
Criança e do Adolescente (Lei nº 8.069/90) decantar que o direito personalíssimo de
reconhecimento do estado de filiação é indisponível e imprescritível.
Tendo a ciência da herança genética atingido seus níveis de certeza e segurança, é
inadmissível seguir, sem objeções, em defesa do propósito da clássica definição da coisa julgada
quando, na verdade, um laudo de DNA pode reescrever a verdade dos vínculos de parentesco.
Enfim, ações que transitaram em julgado apoiadas em métodos probatórios insuficientes, hoje
podem rescindir seus julgados com base em provas que garantem total segurança quanto à sua
eficácia.
Contudo, como toda evolução científica nunca é tão completa que não possa ser avançada,
ou nunca é tão perfeita que não possa ser questionada, tem-se um exemplo bem claro de
impossibilidade de investigação de paternidade: é o caso de irmãos gêmeos univitelinos. Neste caso,
e único caso, a prova pericial genética fica sem respostas, afinal, neste exemplo, ambos possuem a
mesma carga genética, sendo impossível a determinação da paternidade. Por isso é imprescindível
não acobertar esse tipo de ação com o manto da coisa julgada, vez que podem surgir outros métodos
a garantir a certeza e eficácia da relação filial.

2.4 A importância da relação pai e filho

Uma grande mudança percebida em toda a sociedade é a vasta valorização da importância da


instituição família na formação de cada cidadão. Hoje, é notório que a tarefa de educação, criação e
a convivência com os filhos não é tarefa exclusiva das mães, mas, pelo contrário, a interação dos
pais é fator significativo para um melhor desenvolvimento da criança.
Cuidar bem de um filho é apostar alto na própria vida e investir na saúde, na educação e no
afeto da geração seguinte. Assim, a dedicação a uma criança não é tarefa exclusiva de um dos pais,
requer freqüentemente a assistência do outro (parceiro/companheiro).
Quando se fala em investigação de paternidade vem à tona a questão do “pai ausente”. Neste
caso a criança não só tem a ausência física do pai, como nem conhece sua identidade, gerando um
completo afastamento da figura paterna.
É incontestável que o filho que cresce sem a presença e participação do pai terá maiores
dificuldades em seu desenvolvimento, principalmente no aspecto afetivo. Estudos atestam que a
estreita e direta relação entre pai e filho ajuda no desenvolvimento emocional, na competência
social, na aquisição da identidade de gênero da criança e, inclusive, aumenta o interesse da mãe
pelo filho.
Crianças criadas por seus pais, além das mães, apresentam maior capacidade de dominar
situações de angústia, mostram-se mais simpáticas frente ao adulto não familiar, revelam-se mais
dispostas, expansivas, vigorosas e ativas.
A reflexão aqui executada apenas focaliza a grande função do pai na sociedade/convivência
familiar, haja vista que, contemporaneamente, deixa de ser somente uma figura secundária na
criação dos filhos, passando, pois, a atuar de maneira sólida na construção da estrutura psíquica da
criança.

2.5 Confronto entre princípios constitucionais (princípio da coisa julgada versus princípio da
dignidade humana)

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Diversos interesses, por evidente, se sobrepõem ao instituto da coisa julgada, que, mesmo
tendo assento constitucional, não pode impedir o livre acesso à Justiça para o reconhecimento da
filiação, pois se trata de direito fundamental à identidade. A temporária impossibilidade probatória
ou, a negligência do réu em subsidiar a formação de um juízo de certeza para o julgamento não
pode gerar certeza jurídica.
Entre a segurança social que a coisa julgada empresta e o direito fundamental à identidade
do indivíduo, é imperativo invocar o princípio da proporcionalidade e avaliar o que dispõe de mais
valia.
Quando se trata da relativização da coisa julgada em ação de investigação de paternidade, o
relevante é analisar que sentenças abusivas, como aquelas que declaram uma falsa paternidade,
posteriormente descoberta pelo exame de DNA, não podem prevalecer a todo custo, de forma a
sacrificar valores igualmente garantidos na CF/88. Deve sim haver um equilíbrio entre o binômio
justiça-segurança jurídica, com a atenuação da coisa julgada sempre condicionada aos princípios da
razoabilidade e proporcionalidade.
Os princípios possuem uma convivência marcada por colisões, em que não há a exclusão de
um princípio em face de outro, mas tão somente uma ponderação no caso concreto através do
princípio da proporcionalidade. Assim sendo, quando o objeto da análise sob a ótica do direito é a
perfilhação, torna-se extremamente relevante a valoração entre o princípio da coisa julgada versus o
princípio da dignidade da pessoa humana, de maneira que o princípio de
menor importância deve ceder a outro de maior valia.
A valoração deve ser feita observando-se que o primeiro busca tão somente a segurança
jurídica para a não perpetuação dos conflitos e o segundo protege direitos fundamentais como o
conhecimento da identidade pessoal (origem biológica).
A indiscutibilidade da sentença jamais deveria prevalecer à realidade de um exame posterior
que declarasse fato diverso do declarado anteriormente. Afinal, melhor evitar a eternização de
injustiças ao absurdo de evitar eternização de incertezas.

2.6 Propostas para a relativização da coisa julgada em ação de investigação de paternidade

Muito já foi discutido no que se refere às possíveis decisões quanto às ações filiatórias
quando ainda não existia o exame de DNA (certeza científica de 99,9999%). Todavia, ainda assim
encontram-se nos debates doutrinários diversas propostas para resolução do assunto.
Como o processo civil contemporâneo passou por diversas modificações, dentre elas a busca
pela verdade real, não mais se conformando com a verdade formal, concretizada por uma atuação
mais ativa do juiz na produção das provas, tornou-se necessária a procura pela realização da justiça
no caso concreto, em contraposição a um princípio que pregava a segurança jurídica como fim
último do processo, que, em verdade, estava apenas propagando injustiças. Com amparo nessa
realidade de transformações: advento do exame de DNA, busca pela verdade real no processo civil,
confronto entre princípio da dignidade humana (direito ao reconhecimento da verdade biológica) e
princípio da coisa julgada, revelou-se imprescindível a relativização da coisa julgada nas ações de
investigação de paternidade.
Alguns relatam ainda que o direito de investigar a paternidade, por tratar-se de interesse
indisponível, é imprescritível, e por isto insuscetível de transitar em julgado matéria previamente
discutida em uma pretérita ação de investigação de paternidade. Por ser ação de estado, também não
pode ver materializada a coisa julgada, afinal, a segurança jurídica, em alguns casos específicos,
cede a valores mais sublimes, seja de o filho saber quem é seu verdadeiro pai, seja o de os registros
públicos espelharem a verdade real.
Por outro lado, considerando que esse tipo de ação, assim como as demais, também faz coisa
julgada, é notório que o único dispositivo processual existente que oferece oportunidade, mesmo
que restrita, à rescisão das sentenças abrangidas por essa qualidade de imutabilidade é a própria
ação rescisória.

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O objetivo maior dessa ação é rescindir a sentença de mérito transitada em julgado nos casos
expressos taxativamente no CPC (art. 485). E é o inciso VII (“depois da sentença, o autor obtiver
documento novo, cuja existência ignorava, ou de que não pôde fazer uso, capaz, por si só, de lhe
assegurar pronunciamento favorável”) que dá fundamento as ações de filiação, sendo equiparado o
termo documento novo a exame pericial novo (DNA). Até esse ponto a controvérsia é ainda menor,
porém, o que mais se questiona é o tempo para a interposição da ação rescisória, que, conforme art.
495, esse prazo se extingue em dois anos, a contar do trânsito em julgado da decisão.
As alternativas que imperam para resolução do limitado prazo desta ação abrangem a
dilação deste prazo de várias formas. A primeira delas consiste na ausência total de limitação deste
prazo para o reexame da decisão, e a segunda fala no mesmo prazo de 2 anos, porém, contado a
partir da ciência da existência do exame pericial garantidor da certeza absoluta.
Ademais da ação rescisória ainda tem a afirmação da coisa julgada secundum eventum
probationes, ou seja, a coisa julgada irá ser formada a depender do resultado da produção
probatória. Nestes casos, entendendo o juiz pela ausência de provas, o ordenamento pode optar por
duas soluções: ou o juiz extingue o processo sem resolução de mérito, ou, a lide é decidida sem
caráter de definitividade, permitindo que os interessados ingressem com nova ação quando
obtiverem novas provas.
Com o intuito de ilustrar tão rico e opulento debate, nada melhor que uma ementa do
posicionamento referendado pela 4ª Turma do Superior Tribunal de Justiça (Recurso Especial n°
226.436/PR), com brilhante voto-condutor do Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, o qual, inclusive,
demonstra o entendimento dos tribunais superiores quanto ao tema:

PROCESSO CIVIL. INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE. REPETIÇÃO DE


AÇÃO
ANTERIORMENTE AJUIZADA, QUE TEVE SEU PEDIDO JULGADO
IMPROCEDENTE POR FALTA DE PROVAS. COISA JULGADA.
MITIGAÇÃO. DOUTRINA. PRECEDENTES.
DIREITO DE FAMÍLIA. EVOLUÇÃO. RECURSO ACOLHIDO.
I – Não excluída expressamente a paternidade do investigado na primitiva ação de
investigação de paternidade, diante da precariedade da prova e da ausência de
indícios suficientes a caracterizar tanto a paternidade como a sua negativa, e
considerando que, quando do ajuizamento da primeira ação, o exame pelo DNA
ainda não era disponível e nem havia notoriedade a seu respeito, admite-se o
ajuizamento de ação investigatória, ainda que tenha sido aforada uma anterior com
sentença julgando improcedente o pedido.
II – Nos termos da orientação da Turma, "sempre recomendável a realização de
perícia para investigação genética (HLA e DNA), porque permite ao julgador um
juízo de fortíssima probabilidade, senão de certeza" na composição do conflito.
Ademais, o progresso da ciência jurídica, em matéria de prova, está na substituição
da verdade ficta pela verdade real.
III – A coisa julgada, em se tratando de ações de estado, como no caso de
investigação de paternidade, deve ser interpretada modus in rebus. Nas palavras de
respeitável e avançada doutrina, quando estudiosos hoje se aprofundam no reestudo
do instituto, na busca sobretudo da realização do processo justo, "a coisa julgada
existe como criação necessária à segurança prática das relações jurídicas e as
dificuldades que se opõem à sua ruptura se explicam pela mesmíssima razão. Não
se pode olvidar, todavia, que numa sociedade de homens livres, a Justiça tem de
estar acima da segurança, porque sem Justiça não há liberdade".
IV – Este Tribunal tem buscado, em sua jurisprudência, firmar posições que
atendam aos fins sociais do processo e às exigências do bem comum. (REsp –
226436/PR, Recurso Especial 1999/0071498-9 – Rel. Min. Sálvio de Figueiredo
Teixeira, data do julgamento: 28/06/2001, data da publicação/fonte:DJ 04/02/2002,
p. 370)

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O citado entendimento do Superior Tribunal de Justiça é um marco da mudança de
posicionamento quanto à possibilidade de ajuizamento de ação rescisória para revisão de sentença
transitada em julgado nas investigações de paternidade, haja vista que, posteriormente a tal
conclusão, os tribunais e mesmo os juízos monocráticos passaram a adotar uma postura
diferenciada.
De fato, na dinâmica da conjectura jurídica, os julgadores passaram a entender que, nas
ações de investigação de paternidade, o formalismo processual não pode ser obstáculo ao
aparecimento da verdade real. Diante disso, enquanto o legislador se mantém inerte, não
normatizando a questão, a jurisprudência vem firmando posicionamento no sentido de relativizar o
instituto da coisa julgada material em se tratando de ações que dizem respeito ao estado das
pessoas, em prol de valores mais caros ao homem, como o princípio da dignidade da pessoa
humana, o direito ao conhecimento da identidade pessoal e o direito da criança à convivência
familiar.

3. CONCLUSÃO:

A coisa julgada, qualidade da sentença que a torna indiscutível e imutável, enfrenta


uma questão bastante polêmica que a afronta diretamente.
É o caso das ações de investigação de paternidade transitadas em julgado, em que as
partes, na época da decisão, não puderam fazer uso do exame de DNA devido à sua inexistência no
campo científico e probatório ou mesmo pela impossibilidade financeira.
Acontece que o advento desse exame, com índices de certeza absoluta, fez nascer
uma nova esperança naqueles que ainda não tiveram sua verdade biológica revelada, seja devido a
uma ação julgada improcedente, ou por uma falsa paternidade baseada apenas em provas
testemunhais e numa presunção de verdade.
Com um meio probatório tão eficaz e com o intuito de proteger o princípio da
dignidade da pessoa humana, representado pelo direito de reconhecimento da paternidade e à
convivência familiar, tornou-se tema de debates entre os doutrinadores e realidade na jurisprudência
brasileira a posição favorável à relativização das ações de investigação de paternidade.
Ficou claro que a segurança jurídica deve ser colocada em segundo plano quando se
tem um valor maior em questão, como é o caso do valor justiça.
A forma como deve ser feita essa desconsideração (limitação) da coisa julgada deve
se dar pelo mecanismo processual da ação rescisória, fundada na existência de documento novo, ou
melhor, exame pericial novo, ficando o prazo de dois anos para sua interposição sujeito a uma
dilação.
Para os juristas mais radicais ainda teriam outras alternativas: a primeira faria
referência à ação de investigação de paternidade como uma ação de estado, e que, por essa razão
não poderia ver materializada a qualidade da coisa julgada, assim como em outros casos haveria a
alegação de que, por esta ação tratar de direito indisponível, seria imprescritível, e, logo,
insuscetível de transitar em julgado.
O interesse maior daqueles que divulgam esta tese está na busca do direito de
reconhecimento do filho de quem é o seu verdadeiro pai, assim como a geração de uma possível
relação afetiva entre ambos, propiciando melhor desenvolvimento da criança.
Em suma, o intuito maior deste trabalho foi apresentar a relativização da coisa
julgada nas ações relativas à filiação, evidenciando que ela não pode ser vista como um verdadeiro
dogma, de maneira absoluta e intocável, pois em muitos casos a manutenção da coisa julgada tende
a violar princípios tão importantes como o
princípio da segurança jurídica, tornando-se, assim, instituto gerador de excessivas injustiças.
De fato, o direito individual relativo à coisa julgada não pode ser observado
isoladamente. O princípio da dignidade humana é valor supremo da ordem jurídica e deve ser
observado na interpretação das normas constitucionais. Também os direitos fundamentais ao

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conhecimento da identidade pessoal (genética) e ao da convivência familiar devem ser considerados
na solução da questão, o que torna patente que a única solução aceitável é a que torna relativa a
coisa julgada, permitindo a rediscussão da paternidade nas ações em que não tenha sido excluída a
paternidade pela prova técnico-pericial do DNA.

4. AGRADECIMENTOS

Agradecimentos à FAPEMIG e a PROPP-UFU pela concessão da bolsa de IC deste projeto.


Em especial ao meu orientador pela oportunidade concedida.

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALMEIDA, Magda Gonçalves Melo. Efetividade da coisa julgada. Belo Horizonte: Casa de Artes,
2003.
ALMEIDA, Maria Christina de. Prova do DNA: uma evidência absoluta? Revista Brasileira de
Direito de Família. Porto Alegre: Síntese, 1.999. v.2.
ALMEIDA, Maria de Lourdes Rachid Vaz de. O DNA e a prova na ação de investigação da
paternidade. Direito de Família, aspectos constitucionais, civis e processuais, coord. Teresa Arruda
Alvim Wambier e Alexandre Alves Lazzarini. São Paulo: RT, 1996. v.3.
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RELATIVIZACION OF THE JUDGED THING IN PATERNY´S INQUIRY

Andressa Antunes Ferreira


Federal University of Uberlândia. College of Law “Professor Jacy of Assis”. Avenue João Naves de Ávila, 2160. Code
Postal: 38408-100. Uberlândia - Minas Gerais - Brazil
E-mail: andressaantunes@yahoo.com.br

Carlos José Cordeiro


E-mail: carlosjcordeiro@terra.com.br

Astract: This work brings to light a controversial question in the legal area that comes bringing
great debates. It is the question about the disregard of the judged thing in the actions of paternity’s
inquiry. The great challenge to the operators of the Right refers to search an equitable solution
when there is a collision of fundamental rights, in the case between the juridical security resulting
from the judged thing and the basic child’s right to live with your family. The objective of this study
is to examine until what point an illusive true must preponderate about the juridical decisions
protected by judged thing, in opposition to the reality about DNA examination. After all, it is
possible to observe that the appearance of DNA examination confronts to the principle of the
judged thing, based in forensic evidence different of DNA. It follows that while all juridical system
faces to the security and the stability about human’s relationships, the correct is that the security
can’t be the prime motive of the Right, however, above it, another objectives must be found, for an
example, the principle of justice.

Key words: judged thing, disregard, paternity’s inquiry, juridical security, justice.

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