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"Cada vez que cá venho, gosto mais disto." Francisco Fino não esconde o
sorriso na hora de mostrar a sua nova galeria. Na Capitão Leitão, em
Marvila. Na mesma rua já estão as galerias Baginski e Múrias Centeno. A
procura arrancou há mais de um ano. "Comecei no centro de Lisboa. Para o
programa e ideia de galeria que queria desenvolver, não conseguia
encontrar um espaço", conta. Tentou depois a sorte numa zona que pouco
conhecia. "Comecei literalmente a bater de porta em porta." E achou.
Pagou 200 mil euros por um espaço com cerca de 500 metros quadrados,
que vai inaugurar a 15 de Maio. "Nos últimos meses, já me ofereceram três
ou quatro vezes mais do que aquilo que paguei pelo espaço. É evidente que
não vou vender", assegura.
Centralidade em descoberta
Depois de anos de abandono e degradação do património, Marvila é uma
das áreas mais promissoras para se apresentar como uma nova centralidade
cultural. A freguesia lisboeta está a transformar-se num destino para a
"instalação de ateliês de arquitectura, restaurantes, ginásios e actividades
culturais e artísticas", explica Fernando Vasco Costa, responsável pela área
de desenvolvimento da consultora imobiliária JLL.
Mesmo com estas diferenças de preços, ainda assim, há quem decida não
apostar já na zona mais barata. "Estive a minutos de assinar um contrato de
um espaço em Marvila. Vivendo na Parede, quis facilitar a minha vida,
pensando que a galeria pode existir fora do circuito habitual", conta Mikael
Larsson.
"Não acho que uma galeria tenha de ter uma montra na Baixa ou numa
avenida principal. Os projectos mais interessantes que surgem
internacionalmente de jovens galerias, para mim, surgem de uma forma
relaxada. Não há investimentos por aí além", remata.
"Agora faço cinco feiras por ano. Nos bons tempos fiz nove. Depois vai
aparecendo mais um ou outro projecto como este de Düsseldorf." A
empresária está consciente dos custos envolvidos, agravados pela posição
periférica de Portugal.
"São três mil euros por 20 metros quadrados. É muito caro para uma
secção de Opening. Muitas vezes não compensa. Para nós, jovens galerias,
é importante cobrir os custos numa primeira fase", contextualiza Mikael
Larsson, que integra a secção com a Hawaii-Lisbon. Mas há sempre a
esperança de se fechar negócio. Até porque nesta ArcoLisboa estão
previstos mais de 120 convidados, entre coleccionadores, directores de
instituições, curadores e profissionais do mundo da arte.
"Comprar, guardar e revender daqui a dez anos não é algo que nos
interessa. Isso pode destruir a carreira de um artista e também o percurso
que a galeria faz com ele", começa por explicar Mikael Larsson sobre as
compras feitas por investimento.
"Na altura, por muito optimistas que fossem as minhas previsões, não
tinha a certeza da dimensão e da importância que a fundação e a colecção
viriam a ter", revê. Depois de assumir as primeiras escolhas, o sócio da
PLMJ optou por recorrer à ajuda de curadores. A colecção abarca obras
dos anos 1980 até à actualidade, com pintura, desenho, escultura,
fotografia e vídeo.
A escala da arte
Quando se estuda este mercado, uma das perguntas que surge é: qual o
seu valor em Portugal? A questão fica sem resposta. Os dados do Instituto
Nacional de Estatística (INE) não permitem perceber a escala do comércio
de arte feito pelas galerias. O Ministério da Cultura, apesar dos contactos
do Negócios, não respondeu à questão.