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O desporto na RAEM: esforço, glória e desilusão

O nascimento da Região Administrativa Especial de Macau (RAEM) às zero horas de 20 de


Dezembro de 1999 entregou nas mãos da República Popular da China o exercício da soberania da
Cidade do Santo Nome de Deus, mas o aperto de mão com que Jorge Sampaio e Jiang Zemin
selaram a transferência da administração do território para as autoridades chinesas não obliterou
nem fez perigar as marcas de mais de quatro séculos de diálogo e de intercâmbio entre o Oriente e o
Ocidente, entre portugueses e chineses. Se é um facto que em termos jurídicos e administrativos,
Portugal deixou a 20 de Dezembro de 1999 de ser tido e achado na gestão dos assuntos de Macau,
não deixa também de ser relevante inferir que a cerimónia que pautou o regresso do território à
soberania chinesa não foi mais do que o ponto fulcral de um longo processo de ajustamento iniciado
a 13 de Abril de 1987 com a assinatura, em Pequim, da Declaração Conjunta Sino-Portuguesa sobre
a Questão de Macau.
As necessárias rectificações induzidas pelo assumir do exercício da soberania da península e das
ilhas adjacentes por parte da República Popular da China reflectiram-se a título executivo, judicial e
legislativo em rupturas negociadas, com a entrada em vigor da Lei Básica da RAEM a fazer-se
acompanhar pela entrada em funções de um novo governo e de uma Assembleia Legislativa
reformulada. As alterações de índole política foram, ainda assim, a excepção e não a regra. Se a
título político a harmonização com a nova realidade administrativa de Macau tornou necessárias
mudanças com efeitos imediatos, domínios houve, como o desporto e a expressão lúdica, em que
o caminho se fez andando e a mecânica do ajustamento ao novo status do território como entidade
com uma autonomia alargada se materializou de forma progressiva, sem que se fizessem notar de
imediato alterações de ordem estrutural ou organizacional.
O advento da Região Administrativa Especial de Macau fez-se acompanhar pela óbvia adopção por
parte de associações e de organismos desportivos das cores e dos elementos que desde a retoma da
soberania por parte da China melhor simbolizam a nova realidade administrativa do território: o
verde esmeralda da bandeira regional tornou-se por analogia uma componente identitária, o mesmo
sucedendo com a flor de lótus de três pétalas. Com a transferência de soberania foram várias as
associações e colectividades desportivas que se reinventaram a título iconológico, com a adopção de
uma imagética mais consoante com o novo estatuto administrativo de Macau. Os organismos
responsáveis pela tutela de desportos como o futebol, o basquetebol, o tiro, o taekwondo ou o
hóquei em patins foram alguns dos que adoptaram a flor de lótus e a colocaram em lugar de
destaque nas novas insígnias, assumindo com um certo vanguardismo o corte simbólico com a
prática desportiva feita à sombra do estandarte do Leal Senado.
A ruptura acabou por se prefigurar mais circunstancial do que orgânica. A nova ordem política e
administrativa não acarretou sobressaltos nem em matéria de liderança, nem em termos de
conteúdos programáticos, com as novas autoridades da Região Administrativa Especial a
assegurarem a continuidade das competições e dos eventos organizados à data da transferência de
administração entre Portugal e a República Popular da China e a manutenção da hierarquia dirigente
no então Instituto dos Desportos e na Comissão Organizadora do Grande Prémio de Macau. O
primeiro continuou após 1999 a ser dirigido pelo macaense Manuel Silvério. A segunda,
responsável pela organização do principal certame desportivo regular a ter o território como palco, é
ainda hoje liderada por João Costa Antunes, engenheiro civil de formação que esteve também à
frente dos destinos da Direcção de Serviços de Turismo até ao final de 2012.
Se em matéria de desenvolvimento desportivo a retoma de Macau por parte da China se
caracterizou em termos imediatos mais pela continuidade do que por ajustamentos de vulto, não é
de todo despropositado situar, em termos de prática desportiva, a passagem de testemunho entre
Portugal e a República Popular da China onze meses depois da transferência factual de poderes
entre Lisboa e Pequim. A 19 de Novembro de 2000, a vitória de André Couto na Taça
Intercontinental de Fórmula 3 da Federação Internacional do Automóvel proporcionou, em 47 anos
de Grande Prémio de Macau, uma cerimónia inédita, simbólica da própria identidade do território.
Nascido em Lisboa, mas com sangue chinês da parte da mãe, o piloto – então com 23 anos – subiu
ao patamar mais alto do pódio, com a bandeira da Região Administrativa Especial de Macau a ser
hasteada por detrás, ao som da “Marcha dos Voluntários”, o hino nacional da República Popular da
China.
O 47º Grande Prémio de Macau foi o primeiro a realizar-se depois da transferência de poderes,
mantendo como sustentáculo de internacionalização a trindade composta pela Taça Intercontinental
de Fórmula 3, pelo Grande Prémio de Motociclismo e pela chamada “Corrida da Guia”. Catorze
anos depois, o triunfo de André Couto postula-se ainda como uma das maiores honras individuais
alcançadas por um desportista do território e apenas em 2012 se registou uma vitória com similar
capital simbólico, quando António Félix da Costa imitou André Couto e fez soar os acordes de “A
Portuguesa” no Circuito da Guia, 59 anos depois de Eduardo de Carvalho se ter sagrado o primeiro
vencedor do Grande Prémio de Macau.
O período que mediou entre os triunfos de André Couto e de António Félix da Costa na Taça
Intercontinental de Fórmula 3 foi um período de extensas modificações no âmbito do desporto
motorizado internacional, com o aparecimento e consolidação de novas competições e a
transfiguração das provas já enraizadas, através da adopção de novas directivas e regulamentos. A
conjugação de uma tal dinâmica com a maior disponibilidade financeira que, de um modo geral,
abonou a favor das economias asiáticas fez disparar o número de etapas do Campeonato do Mundo
de Fórmula 1 disputadas nos circuitos do mais vasto continente do planeta, contribuindo de forma
preponderante para a erosão do binómio Sepang-Suzuka e, de um modo marginal, para um acentuar
da perda de prestígio e do capital de projecção do Grande Prémio de Macau.
Se na década de 80 e na primeira metade da década de 90 o certame era justamente entendido como
uma espécie de antecâmara do circo máximo da velocidade ou pelo menos a prova dos nove dos
que ambicionavam mais altos voos nas lides do desporto motorizado, com o passar dos anos, a Taça
Intercontinental de Fórmula 3 perdeu alguma capacidade de projecção e um triunfo na Guia deixou
de ser sinónimo de presença garantida por entre a elite do automobilismo mundial. Seis dos
vencedores das oito primeiras edições da corrida alcançaram carreiras bem sucedidas ao volante do
mais apetecido dos monolugares. Entre os pilotos que venceram no Circuito da Guia e depois
singraram na Fórmula 1 estão nomes incontornáveis do automobilismo mundial como Ayrton
Senna, David Brabham, Michael Schumacher ou David Coulthard, mas depois da viragem do
milénio vencer em Macau deixou de ser garantia do que quer que seja. Dos 15 pilotos que
triunfaram no Grande Prémio de Fórmula 3 após a transferência de administração, apenas o
brasileiro Lucas di Grassi, que venceu a prova em 2005, atingiu a categoria rainha do
automobilismo, sem se conseguir ainda assim afirmar nos meandros da Fórmula 1.
Nem o extraordinário feito alcançado em 2010 por Edoardo Mortara nos mais de seis mil metros do
traçado de Macau facilitou o acesso ao milionário circo máximo da velocidade. O ítalo-helvético
tornou-se o primeiro piloto a revalidar o ceptro intercontinental de Fórmula 3 em quase três décadas
de competição, ao repetir o triunfo na Guia depois de já ter ganho a prova em 2009.
Mais do que rampa de lançamento para mais altos voos, Macau tornou-se para as novas gerações de
pilotos um ritual de passagem: vencer na RAEM deixou de garantir o que quer que seja, mas o
triunfo acarreta um capital de prestígio que poucos se dão ao luxo de negligenciar. Dos 24 pilotos
que disputaram a edição de 2014 do Campeonato do Mundo de Fórmula 1, quinze competiram no
Grande Prémio de Macau e ainda que nenhum tenha triunfado na Guia, a proporção é por si só
exemplificativa do poder de atracção da competição.
Face às enormes alterações registadas nos meandros do desporto motorizado internacional, aos
responsáveis pela organização da prova não restou alternativa senão acompanhar o rumar do
tempos, com a introdução regular de novas corridas e categorias com o intuito único de manter o
cartaz competitivo do certame o mais atractivo possível. Neste âmbito, a mais significativa das
inovações teve como expoente a incorporação, em 2005, do Circuito da Guia no Campeonato do
Mundo de Carros de Turismo. O traçado do território passou a acolher desde então a derradeira
etapa do certame e a chamada “Corrida da Guia” desdobrou-se em duas mangas que ajudaram a
definir o nome do campeão do mundo da especialidade em sete das dez edições do WTCC
disputadas até à data. Ganha pela argentino José Maria López (que venceu também a primeira
manga no Circuito da Guia), a derradeira encarnação do Campeonato do Mundo de Carros de
Turismo pode ter pautado o adeus da competição ao traçado de Macau. A possibilidade não foi
ainda confirmada oficialmente, mas a imprensa da especialidade dá como certa a substituição da
prova por um novo certame, a TC3 International Series.
Durante a última década e meia foram várias as provas que pontificaram com maior ou menor
margem de sucesso no cartaz do Grande Prémio de Macau, mas o evento foi alvo de outras medidas
de ajustamento não tão visíveis, mas igualmente preponderantes. As mortes de Bruno Bonhuil, em
2005, e de Luis Carreira e de Philip Yau, em 2012 ensombraram de forma incontornável o evento e
aceleraram um certo impulso para a profissionalização das chamadas corridas de suporte do cartaz
da competição.
Velho de seis décadas, o Grande Prémio de Macau recebeu ao longo dos anos alguns dos melhores
pilotos mundiais, mas nunca fechou as portas aos entusiastas locais do automobilismo, mantendo-se
extremamente popular entre pilotos de Macau e de Hong Kong que até recentemente pouco mais
eram que “gentleman drivers”. Disputada entre 13 e 16 de Novembro de 2014, a 61ª edição do
Grande Prémio de Macau contava na grelha de partida para as sete corridas que compunham o
cartaz competitivo da prova com um total de 54 pilotos locais, 14 dos quais macaenses. Nem a
eliminação, imposta pela Federação Internacional do Automóvel, da chamada categoria de iniciados
afastou os pilotos da região do certame, ainda que a participação no Grande Prémio esteja hoje mais
dependente de verdadeiras apetências técnicas por detrás do volante do que de pressupostos de
disponibilidade financeira. Os pilotos interessados em pontificar nas provas de menor cartaz do
Grande Prémio de Macau têm, desde o início da década, necessariamente de obter resultados
consentâneos no Campeonato de Carros de Turismo de Macau, prova que se disputa em duas etapas
duplas no circuitos de Zhuhai e de Zhaoqing, situados na província continental de Cantão. As duas
rondas da competição servem de instância de qualificação para os pilotos do território que almejam
participar no chamado “Macau Road Sport Challenge” e na Taça de Carros de Turismo de Macau,
provas com presença arreigada no cartaz do Grande Prémio.
Os esforços de certificação envidados ao longo dos últimos anos tiveram repercussões óbvias. A
edição de 2014 do Grande Prémio de Macau foi a primeira em 61 anos de história em que todos os
pilotos participantes competiram na posse de licença internacional; a afirmação progressiva de uma
maior assertividade no que diz respeito ao desenvolvimento do desporto automóvel em Macau
reflecte-se ainda na cada vez mais frequente presença de pilotos do território nos circuitos
internacionais. A André Couto e a Rodolfo Ávila juntaram-se, ainda que em provas de menor
visibilidade, os macaenses Diana do Rosário, Álvaro Mourato e Jerónimo Badaraco ou ainda Andy
Chang Wing Chung, jovem piloto que se estreou em 2014 no Campeonato Britânico de Fórmula 3
depois de ter feito carreira no karting.
A modalidade de iniciação ao automobilismo oferece, desde antes ainda da transferência de
soberania um complemento importante ao trabalho desenvolvido pela Comissão do Grande Prémio
de Macau, ao dotar o território das condições de base necessárias ao desenvolvimento do desporto
motorizado. Pilotos como a macaense Diana do Rosário, Rodolfo Ávila ou Chang Wing Chung
competiram prolificamente ao volante de um kart antes de darem o salto para categorias mais
evoluídas. Inaugurado em 1996, o Kartódromo de Coloane teve um papel preponderante na
formação destes e de outros pilotos, projectando-lhes a carreira a título internacional. Tida como
uma das mais aliciantes do continente asiático, a estrutura acolhe desde 2003 o Grande Prémio
Internacional de Karting de Macau. O traçado foi reconhecido em 2009 pela CIK-FIA como um
traçado de categoria A, tendo acolhido no mesmo ano pela primeira vez o Campeonato do Mundo
da modalidade, ganho pelo francês Arnaud Kozlinski. A prova regressou ao percurso de Coloane
três anos depois, em 2012, consagrando o italiano Flavio Camponeschi.
A enorme visibilidade internacional decorrente da organização de provas de amplitude internacional
aliada à popularidade férrea do Grande Prémio de Macau junto da própria população do território
fazem do desporto motorizado um dos mais importantes activos desportivos da RAEM. A 61.ª
edição do certame atraiu cerca de 80 mil espectadores e gerou um novo máximo de receitas,
garantindo ao organismo responsável pela organização do mais vertiginoso fim-de-semana do
calendário desportivo de Macau proveitos na ordem dos 50 milhões de patacas.
O Grande Prémio era antes da transferência da administração do território entre Portugal e a
República Popular da China a mais significativa concretização desportiva regular que tinha Macau
como palco e um tal factor não se alterou com a nova ordem político-administrativa, ainda que o
espectro de competições de alcance internacional a que o nome do território está ligado se tenha
alargado exponencialmente. A prova é ainda a mais significativa em termos de projecção da RAEM
no mundo, mas não é de todo exemplo único. Os 15 primeiros anos de vida da Região
Administrativa Especial de Macau foram anos em que se assistiu a um fomento circunstancial da
prática desportiva, numa aposta que tem génese na organização, por parte do território, de três
grandes competições multi-desportivas de cariz internacional em outros tantos anos consecutivos.
Em 2005, 2006 e 2007, Macau foi dos rincões asiáticos mais activos em termos de dinâmica
competitiva, com a organização dos 4.os Jogos da Ásia Oriental, da edição inaugural dos Jogos da
Lusofonia e dos 2.os Jogos Asiáticos em Recinto Coberto. Organizadas nos anos que antecederam
os Jogos da XXIX Olimpíada, que tiveram Pequim como cidadã anfitriã, as três competições tinham
como propósito fundamental dotar Macau a título estrutural e competitivo dos argumentos
necessários para garantir a filiação do Comité Olímpico local no seio da família olímpica
internacional, a tempo de permitir a presença de atletas do território no maior evento desportivo
alguma vez organizado pela República Popular da China. Ao contrário do que sucedia com a
vizinha Hong Kong, que compete nos Jogos Olímpicos desde 1952, Macau nunca recebeu o aval do
Comité Olímpico Internacional (COI) para se fazer representar nos Jogos Olímpicos e o esforço
desencadeado logo após a transferência de administração acabou por se revelar infrutífero. A luz
verde do COI acabaria por não chegar e nem a presença do então presidente do organismo, Jacques
Rogge, na cerimónia inaugural dos Jogos Asiáticos em Recinto Coberto, em 2007, colocou o
desporto do território na órbita do movimento olímpico internacional.
O fracasso do expediente que levou à organização das três competições não rouba nem importância,
nem magnitude ao impacto decorrente da organização dos certames. As provas alteraram a
fisionomia do território e elevaram o desporto de Macau a um novo patamar competitivo, dotando a
agora Região Administrativa Especial chinesa de condições estruturais únicas e de incentivos até
então inéditos em termos de políticas de desenvolvimento desportivo. A inauguração, a 28 de Março
de 2003, da Piscina Olímpica da Taipa preludiou uma nova era em termos de infra-estruturas
desportivas. A dinamização dos Jogos da Ásia Oriental e, mais tarde, dos Jogos da Lusofonia e dos
Jogos Asiáticos Indoor dotaram Macau de recintos modernos, de proporções olímpicas e elevada
qualidade. À Piscina Olímpica da Taipa juntaram-se o Pavilhão Multi-Desportos do Tap Seac, o
Centro Náutico da Praia Grande, a emblemática Nave Desportiva dos Jogos da Ásia Oriental (desde
logo baptizada popularmente com o epíteto de “Dome de Macau”) ou o remodelado Estádio da
Taipa. O efeito impulsionador dos Jogos ultrapassou, ainda assim, em muito a dotação do território
com novas condições estruturais. Os proveitos inerentes à organização das provas ainda hoje se
repercutem em modalidades como o wushu, o karaté, a natação ou o taekwondo. Cientes de que
uma boa prestação dos representantes do território seria meio caminho andado para o sucesso das
competições, os responsáveis pelo Instituto do Desporto replicaram à escala local o intenso
programa de formação e preparação de atletas que levaram a República Popular da China a dominar
a tabela de medalhas nas Olimpíadas de Pequim. Os resultados de um maior investimento no
desporto de alta competição fizeram-se tangíveis logo na primeira grande competição acolhida por
Macau. Disputada por nove países e territórios da imensa região que no Ocidente se vulgarizou com
a denominação, algo romântica, de “Extremo Oriente”, a quarta edição dos Jogos da Ásia Oriental
decorreu entre 29 de Outubro e 6 de Novembro de 2005. Do cartaz competitivo do certame
constavam disciplinas como o futebol, a dança desportiva, o atletismo, o wushu ou os barcos-
dragão, num total de 17 modalidades. A competir perante o seu próprio público (e ainda que o
certame não tenha sido um sucesso ao nível de bilheteria), a representação de Macau não defraudou,
obtendo a sua melhor prestação de sempre numa competição internacional. Os atletas da RAEM
conquistaram 11 medalhas de ouro, 16 de prata e 17 de bronze, superando na tabela final nações
como a Coreia do Norte ou a Mongólia.
Os Jogos da Ásia Oriental foram a competição em que o talento e a ambição de atletas como Jia Rui
e Paula Carion primeiro se fizeram notados. O atleta, nascido na província chinesa de Henan,
conquistou o seu primeiro galardão com as cores de Macau no âmbito da competição. A medalha
seria a primeira de um extenso palmarés que faz do agora treinador de wushu o mais bem sucedido
desportista do território em grandes provas internacionais. A macaense Paula Cristina Carion obteve
no certame um dos mais gratos desempenhos da carreira, ao conquistar a medalha de ouro no
torneio feminino de karaté, na categoria para atletas de menos de 60 quilogramas. A par de Jia Rui,
da triatleta Hoi Long e da também karateca Cheung Pui Si, Paula Carion foi uma das desportistas
que ao longo da última década mais longe levaram o nome de Macau.
Se o extenso legado estrutural deixado pelos Jogos da Ásia Oriental é hoje pouco passível de ser
ignorado, o grande contributo da Região Administrativa Especial de Macau em termos de dinâmica
desportiva centra-se, ainda assim, nos Jogos da Lusofonia. A competição, arquitectada em Macau
como o apoio das autoridades locais e a conivência da República Popular da China, tem a si
intrínseco um capital patrimonial inexpugnável, alicerçado numa língua comum e em quase cinco
séculos de vínculos históricos e culturais. A criação em 2003, por iniciativa de Pequim, do Fórum
de Cooperação Económica entre a China e os Países de Língua Portuguesa abriu as portas ao
reforço das ligações em vários domínios e o desporto foi uma das áreas em que o incremento das
relações se fez mais visível, resultando em última instância na concertação e no amadurecimento de
um movimento olímpico de cariz lusófono. Idealizada pelo então presidente do Comité Olímpico de
Portugal, Vicente de Moura, a ideia da criação de uma grande competição internacional alicerçada
em factores de proximidade encontrou em Manuel Silvério (o presidente do Instituto do Desporto
de Macau à altura da transferência de administração) um aliado à altura. O dirigente convenceu as
autoridades locais que a realização do certame no território poderia contribuir para a inclusão do
Comité Olímpico de Macau no grande desígnio do olimpismo mundial e o executivo da RAEM
respondeu com a disponibilidade financeira necessária para fazer com que o projecto saltasse do
papel. A convergência de interesses deu azo à constituição, a 8 de Junho de 2004, da Associação dos
Comités Olímpicos de Língua Portuguesa. O organismo agrupa os comités nacionais de doze países
e territórios – nove na qualidade de membros efectivos e três com o estatuto de membros associados
– e entre os objectivos que norteiam as tomadas de posição da Associação estão a prossecução e a
defesa de interesses comuns. O que foi até 2004 uma aspiração exclusiva do Comité Olímpico de
Macau, passou desde então a ser um desígnio partilhado por toda a família olímpica lusófona.
Dois anos depois do nascimento da ACOLOP, Macau recebeu a edição inaugural dos Jogos da
Lusofonia. Com um conceito semelhante aos já existentes Jogos da CPLP, a nova competição
procurou afirmar-se desde a primeira hora como um evento amplamente mais abrangente e mais
ambicioso, por procurar desde logo agrupar num único certame a nata do desporto dos países de
língua portuguesa. Disputada entre 7 e 15 de Outubro de 2006, a primeira edição dos Jogos da
Lusofonia reuniu em Macau 733 atletas em representação de 11 dos 12 membros afiliados na
ACOLOP. A competição foi dominada quase a toda a linha pelo Brasil, que conquistou um total de
57 medalhas, 29 das quais de ouro.
A competir em casa, Macau fez-se representar no evento por 155 atletas e foi o único dos
participantes a disputar as oito modalidades que integravam o cartaz competitivo da prova, não
conseguindo ainda assim resultados proporcionais em termos de medalhas. Incapaz de repetir o
sucesso alcançado um ano antes, nos Jogos da Ásia Oriental, a comitiva anfitriã encerrou a
participação no certame com 14 medalhas, três de prata e 11 de bronze. Fiel ao impulso inicial com
que brindou o ideal do movimento olímpico lusófono, Macau continua a ser um dos principais
dinamizadores dos Jogos. Em 2009, o território fez-se representar por 60 atletas na segunda edição
da competição, disputada em Lisboa e em Goa a presença da insígnia do Lótus fez-se ainda mais
notada, com a RAEM a enviar à terceira edição da prova 129 atletas. A aposta traduziu-se na
conquista de 38 medalhas, 15 de ouro, nove de prata e 14 de bronze.
A trindade de grandes concretizações desportivas organizadas por Macau atingiu o clímax em
termos de complexidade com a organização, entre 26 de Outubro e 3 de Novembro de 2007, dos
2.os Jogos Asiáticos em Recinto Coberto. Disputado por 44 nações e territórios, o certame trouxe a
Macau 1792 atletas. Os representantes do território encerraram a participação na prova com a
conquista de três medalhas de ouro, cinco de prata e outras tantas de bronze.
Se em termos estruturais a organização das três competições dotou o território de condições de
primeiro óptimo (que convenceram algumas delegações olímpicas a efectuarem em Macau o estágio
de adaptação aos Jogos de Pequim), em termos de desenvolvimento das premissas do desporto de
alta competição o investimento na formação e preparação de atletas tendo em vista a participação
nos Jogos elevou a competitividade dos desportistas locais a níveis nunca vistos. Impedidos de
participar nos Jogos Olímpicos, os atletas de Macau têm nos Jogos Asiáticos o seu maior desafio e a
sua maior montra em termos de carreira. Desde que as cores do território pontificaram pela primeira
vez na competição, em 1990, Macau arrecadou 28 medalhas; vinte foram conquistadas nas três
edições do certame que se disputaram após 2005, com modalidades como o wushu e o karaté em
grande destaque. Das cerca de meia centena de disciplinas estabelecidas na RAEM, o wushu e o
karaté foram as que melhores resultados garantiram ao longo da última década e meia, com as duas
modalidades a contribuírem com um total combinado de 24 galardões para as boas prestações
obtidas pelos representantes de Macau nos Jogos Asiáticos. As restantes quatro medalhas todas de
bronze, foram conquistadas nas lides do taekwondo, dos saltos para a água e do culturismo.
Antes da transferência de administração do território entre Portugal e a República Popular da China,
apenas o wushu tinha levado Macau à glória do ouro em provas de desempenho individual (no
Campeonato do Mundo de Baltimore, em 1995, Lei Fei superiorizou-se à concorrência na categoria
de nanquan) e a modalidade manteve intactas as credenciais no pós-1999. É ao wushu que se fica a
dever a maior honra individual alguma vez alcançada pelo desporto do território. A façanha remonta
a 14 de Novembro de 2010 e teve Jia Rui como protagonista. O atleta ofereceu a Macau a sua
primeira e, até ao momento, única medalha de ouro no âmbito dos Jogos Asiáticos, ao triunfar nos
exercícios combinados de daoshu e gunshu. Campeão do mundo por quatro ocasiões, Jia voltou a
dar nas vistas na derradeira edição do certame, na cidade sul-coreana de Incheon, ao conquistar uma
medalha de prata na categoria de changquan. Macau arrecadou um total de sete medalhas na prova
(três de prata e quatro de bronze), mas o evento pode ter pautado um voltar de página para o
desporto da RAEM. Os Jogos de Incheon foram forma os últimos de Jia Rui, de Cheung Pui Si e de
Paula Carion (que também subiram ao pódio na Coreia do Sul, mercê da conquista de medalhas de
bronze nas lides do karaté-do), atletas que entre si foram responsáveis por dez dos 20 galardões
arrecadados desde 2005 por Macau na mais significativa das competições olímpicas do Continente
Asiático.
Com 6525 desportistas inscritos no Instituto do Desporto à data da cerimónia de transferência de
soberania, as artes marciais estão profundamente enraizadas em Macau, na vivência cultural e
desportiva do território e são porventura a única modalidade em que se verifica uma convergência
feliz entre popularidade e competitividade além fronteiras. Secundada pelo atletismo, a prática
espontânea do “taichi” é a mais evidente e significativa do que que se poderia denominar de
desporto não-organizado. Praticado diariamente por milhares de pessoas nos jardins e nas praças
das cidade, o “taichi” - literalmente “técnica de combate com a mão nua” - é o nome dado a uma
combinação especial de exercícios e de meditação que se desenvolve em movimentos lentos e com
grande concentração. Em Macau é uma prática amplamente apreciada, sobretudo pelas gerações
mais idosas.
Imensamente popular também mas com uma feição bem menos espontânea, o futebol é a
modalidade colectiva que mais entusiastas mobiliza, mercê de uma maior exposição mediática ao
futebol-espectáculo associado a competições como a Liga dos Campeões e a Campeonatos como a
Série A italiana, a “Premier League” inglesa ou a Liga Espanhola de Futebol. As vindas ao território
do FC Barcelona, em 2005, do Manchester United, em 2007 e do Chelsea Football Club, em 2008,
fizeram encher as bancadas do Estádio da Taipa, em contraste pleno com aquele que é
habitualmente o cenário no mais importante recinto futebolístico da RAEM. Se é verdade que o
futebol incendeia cada vez mais paixões em Macau, paradoxalmente não deixa também de ser
notória a parca capacidade de afirmação da modalidade tanto no que diz respeito às competições
domésticas, como no que toca à projecção do território a título internacional. Em 1999, a selecção
de Futebol de Macau ocupava o 176.º lugar do ranking da FIFA e em Novembro de 2014
posicionava-se dez lugares abaixo, depois de ter ocupado durante uma grande parte do ano o 204.º
lugar da tabela.
O desempenho pouco promissor da selecção do Lótus fora de portas fica a dever-se a vários
factores, dos quais o carácter exíguo do território não é de todo o menos significativo. A pequenez
de Macau em termos de área traduz-se na escassez de recintos desportivos e uma tal circunstância
acaba por se espelhar, por um lado, na capacidade de preparação das equipas que alimentam o
grupo de trabalho da Selecção e, por outro, no próprio espírito com que a prática da modalidade é
encarada. A inconstância e a volatilidade foram desde sempre as características mais notórias do
panorama futebolístico do território e o cenário manteve-se amplamente inalterado após a passagem
do testemunho administrativo entre Portugal e a República Popular da China. Desprovidos de infra-
estruturas próprias e de massa associativa, os clubes são por vezes pouco mais do que projectos
unipessoais que se mantêm dinâmicos enquanto se faz tangível a disponibilidade de um
determinado patrono. Precário e instável, o percurso do futebol de Macau ao longo da última década
e meia fica incontornavelmente pautado por uma quase sórdida sucessão de projectos que
despontam e fenecem ao sabor da saúde económica de mecenas e investidores. Num período de
pouco mais de dez anos desapareceram clubes como o Va Luen, o Vong Chiu, o Heng Tai ou o Hoi
Fan e nem a revampirização da principal prova do futebol de Macau com a pomposa designação de
“Liga de Elite” ajudaram a alterar um tal cenário. O Kuan Tai, o Lam Ieng e o histórico Clube
Desportivo Lam Pak, campeão por nove ocasiões, tornaram-se em 2013 as últimas vítimas de uma
maré de circunstâncias que obrigaram também a Casa do Futebol Clube do Porto de Macau a abrir
mão da participação no Campeonato de Futebol da I Divisão.
Das formações que disputaram a principal prova do futebol de Macau na época de 2000/2001
apenas o Clube Desportivo Monte Carlo e o Grupo Desportivo da Polícia de Segurança Pública
continuam no primeiro escalão. As restantes ou se perderam nas divisões secundárias ou deram
lugar a novas associações e projectos, confirmando a extrema mutabilidade do panorama
futebolístico da Região Administrativa Especial de Macau.
Apesar dos pergaminhos da re-invenção permanente serem a mais evidente das características do
futebol do território ao nível de clubes, na última década assistiu-se ao aparecimento e à
consolidação de uma nova tendência, a da reabilitação de laços de proximidade emocional que
encontram expoente na reactivação em Macau das devoções clubísticas que mais entusiasmo geram
junto da população portuguesa. A criação, a 23 de Janeiro de 2006, da Casa do Futebol Clube do
Porto de Macau introduziu no incerto espectro do futebol do território um novo e refrescante factor,
o de uma intensa rivalidade re-imaginada e projectada a mais de dez mil quilómetros de distância.
Os dragões de Macau venceram o Campeonato da III Divisão em 2008, repetiram o sucesso no
segundo escalão em 2009 e em 2010 terminaram o mais importante dos campeonatos do exíguo
território no segundo lugar, atrás apenas do Windsor Arch Ka I. O Futebol Clube do Porto acabou
por extinguir a secção de futebol de onze dois anos depois por razões de ordem financeira, mas o
exemplo dado pelo clube azul e branco ajudou a operar uma pequena revolução no futebol de
Macau. Depois de dragões, também águias e leões se quiseram juntar à festa, reactivando com um
fulgor inédito a actividade associativa em 2008 e em 2009.
Com trabalho feito no âmbito da formação, a Casa do Sport Lisboa e Benfica reabilitou a categoria
de seniores na recta final da última década e efectuou um percurso tranquilo nas divisões
secundárias, antes de se estrear em 2012 na Liga de Elite. Fundado a 11 de Novembro de 1926, o
Sporting Clube de Macau despertou em 2008 de um longo período de letargia, relançando-se nas
lides competitivas um ano depois. Os leões do território venceram em 2013 o Campeonato de
Futebol da II Divisão e juntaram-se na última temporada ao Benfica no convívio dos grandes do
futebol de Macau. Mais do que projectar do outro lado do mundo uma rivalidade incomensurável,
as chamadas formações de matriz portuguesa que evoluem nos campeonatos de Macau insuflaram
no panorama futebolístico da RAEM garantias de uma certa estabilidade. Benfica e Sporting têm
em comum um projecto estruturado que se alicerça em dois grandes vectores: por um lado a
contratação em Portugal e no Brasil de atletas que possam contribuir para a elevação do nível
competitivo do futebol local e por outro, a adopção de métodos de treino e de trabalho o mais
profissionais possível, numa região onde o amadorismo é a regra. A aposta começa a dar frutos
evidentes, com a Casa do Sport Lisboa e Benfica a exercer um domínio a toda a linha nas três
competições em que esteve envolvida na última época. O emblema encarnado levou a melhor sobre
o Sporting Clube de Macau na Liga de Elite, sagrando-se pela primeira vez campeão e ao apetecido
título juntou a conquista da Taça da Associação de Futebol de Macau e a vitória no popularíssimo
Campeonato de Futebol de Sete, competição vulgarmente designada de “Bolinha” que constitui
uma das maiores originalidades desportivas do território. Em 2015, Sporting e Benfica terão a
companhia, na Liga de Elite, do Organismo Autónomo Desportivo da Casa de Portugal em Macau.
A formação venceu na pretérita temporada o Campeonato de Futebol da II Divisão e vai estrear-se
na principal prova de futebol da RAEM. A competição será pela primeira vez disputada por três
formações de matriz portuguesa.
Se o panorama é de expansão e de consolidação no futebol, na modalidade colectiva em que Macau
mais se notabilizou a título internacional, as perspectivas de futuro não são as melhores. A selecção
de hóquei em patins continua a dominar de forma incontestada as lides da modalidade a título
continental, mas as reduzidas perspectivas de renovação no seio do grupo de trabalho dos
eneacampeões asiáticos atentam à própria manutenção e sobrevivência da disciplina no território.
Constituído sobretudo por atletas lusófonos, o cinco de hóquei patinado de Macau conquistou seis
dos seus nove títulos de campeão asiático após a transferência de administração entre Portugal e a
República Popular da China. O último foi alcançado em Outubro de 2014, na cidade chinesa de
Haining.
Em 2004, Macau acolheu pela terceira vez o Mundial-B da modalidade, garantindo perante uma
assistência entusiástica a ascensão à principal prova de hóquei em patins do planeta, o Campeonato
do Mundo propriamente dito. A estreia no Mundial-A ocorreu a 8 de Agosto de 2005, com uma
pesada derrota por 21-3 frente a Angola. O cinco da RAEM encerrou a participação na 37.ª edição
da competição, disputada na cidade californiana de San José, na 16.ª e última posição da tabela.
A ausência de praticantes em número suficiente para permitir a organização de competições
domésticas levaram a Associação de Patinagem de Macau a apostar no hóquei em linha e nas
corridas de velocidade sobre patins como alternativa ao esmorecimento progressivo do hóquei em
patins tradicional e a estratégia permitiu que Macau se fizesse representar em ambas as disciplinas
no Campeonato Asiático, ainda que sem resultados dignos de menção.
Em posição ainda mais periclitante, o hóquei em campo foi porventura a modalidade que sofreu um
maior declínio após o regresso de Macau à soberania chinesa. A disciplina, que entre as décadas de
50 e de 70 do século XX conheceu uma enorme popularidade entre a comunidade macaense, era
praticada em 1999 por dez clubes, mas as últimas edições do campeonato foram disputadas por
apenas seis equipas, duas das quais ligadas a escolas onde a modalidade é praticada.
Os quinze anos volvidos desde o nascimento da Região Administrativa Especial de Macau foram
anos exigentes para algumas modalidades, mas propiciaram também a eclosão de novas tendências,
que em última instância abriram portas à introdução no território de novas disciplinas e à
consolidação de alguns dos mais significativos eventos desportivos realizados em Macau. A grande
prosperidade económica alcançada após a liberalização do sector do jogo transformou a fisionomia
da cidade, tornando-a amplamente mais cosmopolita. Uma maior diversidade de residentes
estrangeiros insuflou um novo fôlego ao Clube de Râguebi de Macau e possibilitou a incorporação
no espectro dos desportos praticados no território de modalidades como o críquete, o hóquei no gelo
ou o futebol australiano. Mais significativo, o apoio financeiro dado pelas operadoras de jogo a
certames como a Maratona Internacional, o Open de Golf, o Grande Prémio Mundial de Voleibol ou
próprio Grande Prémio de Macau ajudou a reforçar o prestígio e a visibilidade internacional das
provas, ao mesmo tempo que permitiu que o Instituto do Desporto investisse no financiamento e
promoção de provas como o Open de Squash ou o Open de Badminton. Contratualmente obrigadas
a fomentar o desenvolvimento social, cultural e desportivo de Macau, as seis concessionárias e sub-
concessionárias de jogo ultrapassam em circunstâncias pontuais o estatuto de mecenas para serem
elas próprias protagonistas, quer pela organização de certames desportivos de alguma nomeada,
quer pela presença em nome próprio num dos mais genuínos eventos do calendário desportivo do
território, as Regatas Internacionais de Barcos-Dragão. Do ponto de vista organizacional, o maior
contributo chega das concessionárias norte-americanas Las Vegas Sands e MGM Resorts
International. A primeira tomou em mãos a tarefa de colocar Macau no mapa mundial no que toca
aos desportos de combate e acolheu ao longo dos últimos anos embates entre alguns dos principais
protagonistas de modalidades como o pugilismo ou as artes marciais mistas. As iniciativas
trouxeram até Macau atletas de grande nomeada internacional como Brian Viloria, Brandon Rios,
Zou Shiming, Chris Algieiri e Manny Pacquiao.
A iniciativa promovida pela MGM Macau é bem menos notória em termos de visibilidade
internacional, mas nem por isso deixa de ser menos significativa. A operadora norte-americana
organiza desde 2010 o Campeonato Internacional da Dança do Leão, modalidade com uma grande
importância ritual que subsiste com invejável vitalidade à margem dos cânones do desporto do
território.
As práticas desportivas em Macau não podem, naturalmente, deixar de ser consideradas ao abrigo
da muito sui generis realidade de um pequeno território de pouco mais de 30 quilómetros quadrados
onde se acotovelam mais de seiscentos mil habitantes. A exiguidade territorial confronta governo,
associações e atletas com limitações muito próprias, mas se é verdade que o espaço é escasso e o
número potencial de praticantes é reduzido, Macau provou ao longo da última década e meia que,
existindo vontade e empenho, é sempre possível empurrar os limites um pouco mais além.
Quinze anos após a transferência de administração do território entre Portugal e a República
Popular da China, o desporto em Macau prefigura-se ainda como uma prática eminentemente
amadora, ainda que o esforço desenvolvido pelo Instituto do Desporto e por uma mão cheia de
outras entidades tenha insuflado um enorme capital de esperança a uma prática que se continua a
oferecer como um esperanto entre os povos e a configurar como o mais imediato espaço afectivo de
encontro entre comunidades irremediavelmente heterogéneas, mas que têm em comum quase cinco
séculos de vivências partilhadas.

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