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RESUMO: A plataforma continental e os bancos oceânicos do litoral da costa leste do Brasil favorecem o desenvolvimento de
várias espécies de peixes de importância econômica que são capturados através da pesca de linha. A crescente exploração
destes recursos por parte da frota linheira levou à necessidade de se estudar as principais espécies quanto à sustentabilidade
de suas pescarias e o estado dos estoques. Com esse fim, foram desenvolvidos estudos de crescimento de algumas das
principais espécies exploradas pela pesca de linha nos ambientes recifais da região central da Zona Econômica Exclusiva
brasileira, tais como o catuá (Cephalopholis fulva), a cioba (Ocyurus chrysurus), o realito (Rhomboplites aurorubens), o
ariacó (Lutjanus synagris) e o peroá (Balistes vetula). Foram obtidos os parâmetros de crescimento para todas as espécies,
e os estudos de validação indicaram a formação anual dos anéis de crescimento. Os resultados sugerem que as espécies
estudadas são muito sensíveis aos efeitos da exploração pesqueira, já que são caracterizadas por possuírem ciclos de vida
relativamente longos e baixas taxas de crescimento somático.
PALAVRAS-CHAVE: idade, crescimento, peixes recifais, Brasil.
ABSTRACT: Age and growth of reef fishes in the central region of the Brazilian economic exclusive Zone (EEZ), between
Salvador, Bahia, and São Tomé Cape, Rio de Janeiro (13oS to 22oS)
The continental shelf margin and oceanic banks off the Brazilian eastern coast are ideal to the development of many species
of fishes captured by commercial line fishing fleet. The increased exploitation of these resources by the line fishing fleet
makes it important to study fishery sustainability and stock status of these species. To achieve these objectives, growth
studies were carried out for some commercial species captured by the line fishing fleet in reef environments of the central
region of the Brazilian Economic Exclusive Zone, such as the Coney (Cephalopholis fulva), the Yellowtail Snapper (Ocyurus
chrysurus), the Vermilion Snapper (Rhomboplites aurorubens), the Lane Snapper (Lutjanus synagris) and the Triggerfish
(Balistes vetula). Growth parameters were determinated for all species and the age validation indicated the annual formation
of growth rings. The results suggest that the studied species are very sensitive to the effect of fishing exploration, since they
are characterized by relatively long life cycles and low somatic growth rates.
KEYWORDS: age, growth, reef fishes, Brazil.
1
LEITE JR., N.O.; MARTINS, A.S.; ARAÚJO, J.N., 2005. Idade e crescimento de peixes recifais na região central da Zona Econômica
Exclusiva entre Salvador-BA e o Cabo de São Tomé-RJ (13°S a 22°S). In: COSTA, P.A.S.; MARTINS, A.S.; OLAVO, G. (Eds.) Pesca e
potenciais de exploração de recursos vivos na região central da Zona Econômica Exclusiva brasileira. Rio de Janeiro: Museu Nacional.
p.203-216 (Série Livros n.13).
204 N.O.LEITE JR., A.S.MARTINS & J.N.ARAÚJO
Para se estimar os níveis sustentáveis de pesca em sua Zona costa central do Brasil esse período pode levar 10 meses
Econômica Exclusiva (ZEE), o Governo Brasileiro (Coelho, 2001). Os machos costumam ser territorialistas
desenvolveu o Programa de Avaliação Sustentável de e formar haréns; as fêmeas atingem a maturação sexual
Recursos Vivos na Zona Econômica Exclusiva (REVIZEE), com um comprimento total de 160 mm. A espécie é
um extenso programa de pesquisa que teve como objetivos hermafrodita protogênica, e a mudança sexual começa a
quantificar as capturas totais e a biomassa e estimar os partir de 200 mm de comprimento total (Heemstra &
parâmetros populacionais de espécies comerciais e de Randall, 1993; Coelho, 2001). O catuá apresenta várias
recursos potenciais na ZEE brasileira. Com esse fim, o desovas ao longo do ano e grande variação intra-
Programa REVIZEE desenvolveu estudos de crescimento específica quanto aos seus picos de desova, o que sugere
de algumas das principais espécies explotadas pela pesca que a influência de fatores ambientais locais de pequena
de linha nos ambientes recifais da região central da ZEE escala possa ser o principal agente regulador de sua
brasileira, tais como o catuá (Cephalopholis fulva, Linnaeus, estratégia reprodutiva (Ebisawa, 1990; Shapiro, 1987).
1758), a cioba (Ocyurus chrysurus, Bloch, 1871), o realito
(Rhomboplites aurorubens, Cuvier, 1829), o ariacó (Lutjanus CIOBA (Ocyurus chrysurus)
synagris, Linnaeus, 1758) e o peroá (Balistes vetula,
Linnaeus, 1758). Este capítulo tem como objetivo compilar A cioba, Ocyurus chrysurus, é um lutjanídeo que se distribui
em um único artigo os estudos de crescimento realizados ao longo da costa oeste do Atlântico, desde a Carolina do Norte
para as espécies supracitadas (disponíveis em relatórios, até o sudeste do Brasil, encontrando-se em maior abundância
monografias ou artigos em revistas específicas), analisando- nas Bahamas, sul da Flórida e no Caribe. Forma grandes
os de forma comparativa a fim de divulgar amplamente os cardumes, geralmente, sobre substratos duros em
resultados encontrados pelo Programa REVIZEE em um profundidades entre 10 e 100 m. Exemplares jovens vivem
volume destinado não só ao público acadêmico, mas agrupados em águas litorâneas, geralmente associados a recifes.
também aos órgãos gestores dos recursos pesqueiros. Os adultos, que podem atingir cerca de 700 mm, ocorrem em
águas da plataforma continental interna e externa (Figueiredo
CATUÁ (Cephalopholis fulva) & Menezes, 1980; Allen, 1985; Manooch III & Drennon, 1987).
O catuá ou garoupinha, Cephalopholis fulva, é um A espécie apresenta o ramo inferior do primeiro arco
serranídeo que habita o Atlântico Ocidental, distribuindo- branquial com 17 a 22 rastros e nadadeira dorsal com 10
se da Carolina do Sul (EUA) até São Paulo (Brasil). Prefere espinhos e 12 a 13 raios. Seu corpo é escuro no dorso e
os fundos rochosos em profundidades de até 45 m, nas claro no ventre, com uma faixa longitudinal amarelada
águas claras de ambientes de recifes de coral, onde é do focinho à base da cauda. As nadadeiras, com exceção
comumente encontrado em cavernas ou sobre lajes das peitorais, têm cor amarelada (Figueiredo & Menezes,
durante o dia. Alimenta-se principalmente de pequenos 1980). Estudos prévios mostraram que a cioba é uma
peixes e crustáceos (Heemstra & Randall, 1993; Lieske espécie de crescimento lento e vida longa, apresentando
& Myers, 1994; Potts & Manooch III, 1999). grande sobreposição de comprimentos entre as classes
etárias (Johnson, 1983; Manooch III & Drennon, 1987).
É uma espécie de pequeno porte com tamanho inferior
A biologia e o crescimento da cioba foram estudados por
ao de muitos outros serranídeos e com os maiores
Piedra (1965, 1969), Cantarell (1982), Claro (1983),
exemplares raramente atingindo mais de 500 mm de
Johnson (1983), Thompson e Munro (1983), Manooch
comprimento total e 2 kg. Caracteriza-se por possuir apenas
III (1987), Manooch III e Drennon (1987), Carrilo e Ramiro
9 espinhos e 14 a 16 raios na nadadeira dorsal e nadadeira
(1988) e Mexicano-Cíntora e Arreguin-Sanchez (1989).
anal com 8-9 raios. O primeiro arco branquial contém 23
a 27 rastros. Sua coloração é variável, indo de amarela a
vermelha ou marrom, podendo ocorrer mudanças REALITO (Rhomboplites aurorubens)
relacionadas a fatores ambientais. Possui numerosas
O realito, Rhomboplites aurorubens, pertence à família
manchas azuis arredondadas na margem escura na cabeça,
Lutjanidae e tem distribuição limitada ao Atlântico
corpo e nadadeira dorsal, duas manchas negras na parte
Ocidental, ocorrendo desde a Carolina do Norte (EUA)
dorsal do pedúnculo caudal e uma mancha de cada lado
até o sudeste do Brasil. Caracteriza-se por apresentar a
na ponta da mandíbula (Figueiredo & Menezes, 1980,
parte superior do corpo avermelhada e a inferior mais clara,
Szpilman, 1991; Nemtzov et al., 1993).
com estrias escuras ao longo do dorso e amareladas abaixo
A estação reprodutiva do catuá pode ser muito longa; na da linha lateral. As nadadeiras peitorais são amareladas, e
I DADE E CRESCIMENTO DE PEIXES RECIFAIS 205
diversificado da família Lutjanidae e o mais importante que tudo indica, em virtude de sua alta explotação, o catuá
sob o ponto de vista econômico, pois há muitas espécies pode estar no mesmo caminho. Devido à sua abundância
distribuídas por todos os mares tropicais do mundo, e a e ao baixo valor, os peroás são espécies muito populares
maior parte das espécies alcança tamanho comercial, sendo nos bares e restaurantes do litoral do Espírito Santo e
grandemente apreciadas pela excelente qualidade de sua consumidos também nas regiões Nordeste e Norte do
carne. O ariacó está, provavelmente, entre os lutjanídeos Brasil. A espécie de peroá mais explorada comercialmente
mais abundantes do Caribe colombiano, constituindo um é o Balistes capriscus, conhecido como peroá-branco.
componente importante na pesca artesanal e aparecendo Entretanto, atualmente tem-se verificado um declínio na
com maior freqüência que qualquer outra espécie da família captura do B. capriscus (Martins & Doxsey, 2004), gerando
nos mercados e peixarias (Acero & Garzón, 1985). No uma exploração crescente do B. vetula para atender à
Golfo do México, em “Campeche Sound”, a espécie demanda do mercado. A partir dessa constatação, tornou-
também aparece como um recurso comercialmente se evidente a necessidade de um maior conhecimento
importante (Rivera-Arriaga, 1996). Além da citada dessas espécies visando à elaboração de estratégias prévias
importância comercial, o ariacó destaca-se na prática da de manejo e gerenciamento da pesca desses recursos.
pesca esportiva (Manooch III & Mason, 1984). Embora
existam relatos sobre casos de leve intoxicação, a carne do
MATERIAL E MÉTODOS
peroá é considerada de boa qualidade, e a espécie é muito
apreciada na pesca esportiva e por aquariofilistas, sendo
capturada ainda jovem (Szpilman, 1991). O material utilizado para a realização dos estudos de
crescimento do catuá (C. fulva), cioba (O. chrysurus), realito
Na costa central do Brasil, a cioba, o realito, o catuá e o (R. aurorubens) e do peroá (B. vetula) foi obtido em
ariacó são espécies chamadas de “peixes-de-choque” e cruzeiros de pesquisa realizados em outubro e novembro
são capturadas pela frota de linheiros sediada na grande de 1997, complementados com amostras mensais da frota
Vitória/ES e na costa da Bahia (Olavo et al., 2005; Martins linheira comercial entre os anos de 1998 e 1999 na cidade
et al., 2005). Os peixes são abatidos por choque térmico de Vitória/ES. A área de captura abrangeu as latitudes de
e destinados principalmente à exportação para países da 16 a 21º30’S. Os exemplares de ariacó (L. synagris) foram
Europa e para os Estados Unidos. Consideradas de boa obtidos entre os meses de maio de 1998 a janeiro de 2000,
qualidade para consumo, estas espécies constituem um junto à frota comercial da praia do Rio Vermelho, cidade
dos principais recursos pesqueiros demersais na costa de Salvador (BA), cuja área de atuação se localiza entre as
central e nordeste do Brasil. A cioba e o realito são as latitudes 12º30´S e 13º30´S.
espécies mais valorizadas e são desembarcadas
principalmente nas cidades de Vitória e Vila Velha (ES). Os estudos de idade e crescimento foram realizados a
O catuá tem sido alvo de uma pesca intensiva desde o partir da visualização dos anéis de crescimento em
início dos anos 90 e constitui atualmente a segunda estruturas de aposição. Para todas as espécies foi utilizado
espécie mais importante nos desembarques na região, o par de otólitos sagittae, com exceção do peroá, em que
com uma produção de aproximadamente 200 t/ano de a estrutura analisada foi o espinho dorsal, uma vez que
pescado fresco desembarcado em Vitória/ES. Segundo esta estrutura foi utilizada em estudos anteriores (Menezes,
Klippel e Peres (2002), o ariacó está entre as dez principais 1985; Manooch III & Drennon, 1987) e devido à
espécies capturadas na pesca de linha da costa central fragilidade dos otólitos desta espécie, que se quebravam
do Brasil e é relativamente abundante na costa nordeste, facilmente na extração.
onde também tem grande importância comercial. O B.
De cada exemplar amostrado, foram registrados o sexo,
vetula não é a espécie-alvo capturada pela frota linheira
comprimento total (CT) e furcal (CF) em milímetros e o
da costa central, sendo normalmente comercializado
peso total (PT) em gramas. Os otólitos sagittae foram
como refugo devido ao seu baixo valor comercial.
armazenados secos em envelopes de papel. Os espinhos
Apesar das espécies descritas acima serem importantes dorsais do peroá foram limpos com uma solução de cloro
recursos para a pesca comercial, no Brasil, muito pouco se 50%, secos, etiquetados e armazenados. Inicialmente,
sabe sobre a sua ecologia e efeitos da pesca nas populações testou-se a visualização das marcas de crescimento nos
explotadas, sendo que algumas já se apresentam otólitos inteiros, que foram examinados sob uma lupa
severamente sobreexplotadas, tais como a cioba e o realito. binocular com luz refletida sobre um fundo preto.
O ariacó apresenta sinais de leve sobreexplotação (Klippel Posteriormente, um dos otólitos do par foi montado num
et al., 2005; Klippel & Peres, 2002; Costa et al., 2002). Ao bloco de resina de poliéster e cortado na altura do núcleo
I DADE E CRESCIMENTO DE PEIXES RECIFAIS 207
em várias fatias de 0,2 a 0,4 mm de espessura utilizando- Nos otólitos em que formações opacas eram visualizadas
se uma serra metalográfica de baixa velocidade, provida nas bordas, o incremento marginal foi considerado igual
de discos de corte revestidos de pó de diamante (Isomet, a zero, seguindo a metodologia proposta por Manooch
Buehler Ltda.). O mesmo procedimento foi adotado para III e Potts (1997). Os incrementos marginais percentuais
o corte dos espinhos dorsais do peroá. Os cortes foram foram agrupados bimestralmente e comparados através
montados sobre lâminas histológicas, incluídos em meio do teste não-paramétrico de U Mann-Whitney (Zar, 1996).
histológico sintético e cobertos com lamínulas de vidro.
O retrocálculo não foi realizado para o catuá. Na cioba
Em algumas espécies, tais como o ariacó e o realito, a
e no realito, a relação entre o comprimento furcal (CF)
leitura dos otólitos inteiros mostrou-se adequada para a do peixe e o raio total do otólito (R), foi descrita pelo
visualização dos anéis de crescimento e, embora tenham
modelo linear:
sido realizados cortes dos otólitos destas espécies para teste,
a contagem dos anéis de crescimento não foi possível. Os CF = a + bR
otólitos do catuá e da cioba e os espinhos dorsais do peroá Onde: “a” é a interseção da reta de regressão no eixo y e
foram cortados e examinados com luz refletida, com os “b” o coeficiente angular.
cortes montados em lâminas com a superfície inferior
O CF na época de formação de cada anel translúcido foi
pintada de preto, a fim de aumentar o contraste na
visualização das bandas de crescimento opacas e retrocalculado pela equação de proporcionalidade
corporal para a relação linear (Francis, 1990):
translúcidas. Na denominação das zonas de crescimento
empregou-se a terminologia proposta por Casselman CFi = [(a + bRn)/(a + bR)]CF
(1983). Um resumo das estruturas e métodos utilizados
Onde: CFi e Rn são o comprimento furcal do peixe e o
para as diferentes espécies está apresentado na Tabela 1.
tamanho do otólito correspondentes à idade “n”,
As contagens de anéis dos otólitos foram feitas respectivamente.
independentemente por dois leitores. Um dos leitores
No ariacó e no peroá a relação CF x R também foi descrita
realizou uma segunda contagem após um período mínimo
pelo modelo linear e os comprimentos por idade na época
de um mês. Foram considerados legíveis os otólitos para
de formação da cada anel translúcido foram
os quais ocorreram pelo menos duas leituras iguais.
retrocalculados pela fórmula:
Além da contagem dos anéis de crescimento, foram
CFi = [Rn(CF - a) + a]/RT.
observadas e registradas as características da última banda
em formação na margem dos otólitos (opaca ou Onde: CFi e Rn são o comprimento furcal do peixe e o
translúcida), e obtidas as medidas de distância entre o tamanho do otólito correspondentes à idade “n”,
núcleo e cada uma das bandas translúcidas formadas (Rn) respectivamente. “R” é o raio total do núcleo até a borda.
e entre o núcleo e a margem interior (R) dos otólitos, O crescimento das espécies foi descrito pela equação de
com o auxílio de uma ocular micrométrica (com exceção crescimento de Von Bertalanffy (1938):
do catuá cujos anéis não foram medidos).
Ct = C∞ [1 – e –K (t – t0)]
A periodicidade na formação das bandas opacas e
translúcidas foi estudada através da análise dos incrementos Sendo: “C t ” o comprimento na idade “t”; “C ¥” o
marginais percentuais (IM%), calculado através da equação: comprimento infinito ou assintótico; “K” o coeficiente que
representa a velocidade com a qual o comprimento do
IM% = (R - Ri)/R
peixe se aproxima do comprimento assintótico e “t0” a
Onde: “R” é o raio total do núcleo até a borda e “Ri” o idade teórica na qual o peixe teria um tamanho nulo, se
fim da última zona translúcida. tivesse sempre crescido segundo o modelo proposto.
Tabela 1. Resumo das estruturas e metodologia utilizada para a determinação de idades dos peixes recifais na região central da ZEE,
entre Salvador (BA) e o Cabo de São Tomé (RJ).
Espécie Estrutura de aposição Leitura Espessura do corte Luz Aumento Zona de contagem
Cephalopholis fulva Otólito Sagitta Corte 0,3 mm Refletida 40 X opaca
Ocyurus chrysurus Otólito Sagitta Corte 0,3 mm Refletida 25 X translúcida
Rhomboplites aurorubens Otólito Sagitta Inteiro - Refletida 10 X translúcida
Lutjanus synagris Otólito Sagitta Inteiro - Refletida 10 X translúcida
Balistes vetula Espinho Dorsal Corte 0,3 a 0,5 mm Refletida 10 X translúcida
208 N.O.LEITE JR., A.S.MARTINS & J.N.ARAÚJO
Tabela 2. Período de formação da zona de crescimento translúcida para as espécies estudadas na costa central do Brasil.
Período de formação das zonas de crescimento
Espécie Verão Outono Inverno Primavera
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Cephalopholis fulva
Ocyurus chrysurus
Rhomboplites aurorubens
Lutjanus synagris
Balistes vetula
Zona translúcida
6,0% C. fulva
O. chrysurus
5,4% R. aurorubens
L. synagris
4,8% B. vetula
4,2%
3,6%
IM (%)
3,0%
2,4%
1,8%
1,2%
0,6%
Jan/Fev Mar/Abr Mai/Jun Jul/Ago Set/Out Nov/Dez
Mês
Figura 1. Médias bimestrais do incremento marginal percentual para as espécies estudadas na costa central do Brasil.
I DADE E CRESCIMENTO DE PEIXES RECIFAIS 209
400
300
200
100
0
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21
Idade (anos)
Figura 2. Curva de crescimento de Von Bertalanffy derivada dos CTs observados por idade para o catuá, Cephalopholis fulva, na costa
central do Brasil.
210 N.O.LEITE JR., A.S.MARTINS & J.N.ARAÚJO
400
300
200
100
0
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21
Idade (anos)
Figura 3. Curva de crescimento de Von Bertalanffy derivada dos comprimentos furcais retrocalculados por idades da cioba, Ocyurus
chrysurus, na costa central do Brasil.
500
Valores observados
450 Curva teórica retrocalculada
400 Valores retrocalculados médios
Comprimento Total (mm)
350
300
250
200
150
100
50
0
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13
Idades (anos)
Figura 4. Curva de crescimento de Von Bertalanffy derivada dos comprimentos furcais retrocalculados por idade, valores observados e
valores retrocalculados médios do realito, Rhomboplites aurorubens, na costa central do Brasil.
ARIACÓ (Lutjanus synagris) dos otólitos inteiros, ao menos duas das três leituras
foram iguais e o restante foi considerado ilegível.
Segundo Lima (2004), os otólitos dos ariacós
apresentaram um padrão de formação de zonas O incremento marginal médio bimestral apresentou
translúcidas e opacas, porém essas zonas, a exemplo valores máximos em julho e agosto. Após este período,
do que ocorreu com o realito, não foram identificadas apresentou uma tendência decrescente (Figura 1 e
com facilidade, visto que, dos 555 otólitos examinados, Tabela 2). Através do teste não-paramétrico de Mann-
o número de anéis contados na primeira e segunda Whitney pôde-se confirmar que o bimestre de julho/
leitura do leitor 1 foi coincidente somente para 28% dos agosto apresentou diferença estatisticamente significativa
otólitos examinados. O maior percentual de igualdade (p < 0,05) quando comparado aos bimestres de janeiro/
entre as contagens ocorreu entre a segunda contagem fevereiro, março/abril e novembro/dezembro. Esses
do leitor 1 e a contagem do leitor 2 (29%). Para 54% resultados indicam a formação anual de zona translúcida
I DADE E CRESCIMENTO DE PEIXES RECIFAIS 211
em meados de outono até o início da primavera, duas seqüências de leituras independentes, os espinhos
confirmando a periodicidade anual de formação de anel. de 73% dos exemplares apresentaram o mesmo número
de anéis, 15% diferiram em apenas um anel, e 12%
Os comprimentos médios retrocalculados à época de
diferiram em dois ou mais anéis. As idades determinadas
formação dos anéis translúcidos variaram de 65 mm, na
classe de idade 1, até 414 mm, na idade 17. Para a nos espinhos variaram de 2 a 14 anéis.
confecção da curva de Von Bertalanffy foram utilizados Analisando o incremento marginal médio, nota-se a queda
os comprimentos médios retrocalculados até a idade de do incremento a partir de janeiro e fevereiro, aumentando
14 anos. Indivíduos de 15 anos não foram encontrados a partir de julho e agosto, chegando ao seu valor máximo
neste estudo e, para as idades 16 e 17, somente dois em setembro e outubro (Figura 1 e Tabela 2). Os
indivíduos, um macho e uma fêmea, foram encontrados. resultados expostos indicam uma periodicidade anual na
A equação de crescimento de Von Bertalanffy estimada formação de uma zona translúcida do fim do inverno ao
a partir dos CFs médios retrocalculados foi: CFt = 312 [1 início do verão e de uma zona opaca durante o outono
– e –0,17 ( t + 0,37 )]; R2=0,99 (Figura 5). nos espinhos do peroá na costa central do Brasil.
300
250
200
150
100
50
0
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18
Idade (T)
Figura 5. Curva de crescimento de Von Bertalanffy derivada dos comprimentos furcais retrocalculados por idade, valores observados e
valores retrocalculados médios do ariacó, Lutjanus synagris, na costa central do Brasil.
Tabela 3. Tabela síntese dos parâmetros de crescimento estimados para as cinco espécies de peixes recifais estudadas na costa central
do Brasil.
400
300
200
100
0
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14
Idade (anos)
Figura 6. Curva de crescimento de Von Bertalanffy derivada dos comprimentos furcais retrocalculados por idade, valores observados e
valores retrocalculados médios do peroá, Balistes vetula, amostrado na costa central do Brasil.
al. (2000). O método de análise de incremento mostrou vulnerabilidade das espécies à pesca. Espécies com ciclo
que há a formação de borda translúcida no inverno, de vida curto, alta taxa de mortalidade natural, maturação
resultado semelhante aos encontrados nos estudos precoce, crescimento rápido e pequeno tamanho corporal
realizados nas Bermudas por Luckhurst et al. (2000) e, em têm taxas de crescimento populacional mais rápidas do
Cuba, por Claro (1994), apud Luckhurst et al. (2000). que espécies de longa vida, crescimento lento, maturação
A longevidade máxima (14 anos) do peroá foi semelhante tardia, baixa mortalidade natural e grande tamanho
à encontrada no trabalho de Menezes (1985) (12 anos para corporal, sendo, portanto, menos vulneráveis à pesca
exemplares capturados na costa de Fortaleza). A deposição (Beverton & Holt, 1959; Pauly, 1980; Jennings et al., 1998;
da zona opaca ocorreu no período do outono, enquanto a Jennings et al., 1999; Jennings, 2000). Os peixes recifais,
zona translúcida depositou-se no fim do inverno e primavera, de modo geral, possuem as características de crescimento
provavelmente, devido à baixa disponibilidade de alimento lento, maturação sexual tardia, alta longevidade e baixas
e a menores temperaturas da água (Nonaka et al., 2000). taxas de mortalidade. As espécies descritas neste capítulo,
Os resultados coincidem com os estudos de validação além de possuírem essas características, ainda possuem
realizados para a espécie por Manooch III & Drennon (1987), um alto valor econômico, o que as torna extremamente
onde foram observados padrões anuais de formação dos vulneráveis à explotação pesqueira (Polunin & Roberts,
anéis translúcidos nos meses de fevereiro e março, ou seja, 1996; Ault et al., 1998; Coleman et al., 2000).
inverno no Hemisfério Norte. Já Bernardes (1988) observou, Os resultados dos estudos de crescimento aqui observados,
para a espécie congênere Balistes capriscus, na costa sul do de uma forma geral, propiciam informações básicas para
estado de São Paulo, padrões bianuais de formação dos a avaliação dos estoques pesqueiros das espécies
anéis translúcidos, no período de junho a agosto e de estudadas. Os parâmetros de crescimento são essenciais
dezembro a março (inverno e verão, respectivamente). para a formulação de modelos de dinâmica populacional
Embora para todas as espécies estudadas tenha sido que revelarão características mais detalhadas dos estoques
concluído que as estruturas de aposição examinadas podem dos peixes de recife capturados na costa leste do Brasil. Os
ser utilizadas para a determinação de idades, foi observado resultados descritos acima sugerem que as espécies
pouco contraste entre os anéis de crescimento, o que estudadas são muito sensíveis aos efeitos da explotação
dificultou a visualização das idades, resultando, de maneira pesqueira, já que são caracterizadas por possuírem ciclos
geral, numa baixa legibilidade dos otólitos. Esta dificuldade de vida relativamente longos e baixas taxas de crescimento
para se determinar idades com a utilização de estruturas de somático. A estas características, soma-se o fato de que as
aposição em peixes tropicais tem sido observada por vários espécies estudadas apresentam o hábito de se concentrar
autores e está relacionada com a ausência de grandes em cardumes nos recifes marginais costeiros da plataforma
variações sazonais nos parâmetros ambientais, combinados continental da costa leste do Brasil, com agregações
com períodos reprodutivos extensos e pouca oscilação no reprodutivas previsíveis e de fácil localização, aumentando
crescimento somático das espécies nessas regiões. Contudo, a sua vulnerabilidade à frota pesqueira (Polunin & Roberts,
esta metodologia tem sido extensamente empregada 1996; Ault et al., 1998; Coleman et al., 2000).
(Bagenal & Tesch, 1978; Manooch III, 1987). Manooch III Resultados da avaliação de estoques das espécies recifais
(1987) realizou uma revisão da literatura sobre determinação estudadas pelo Programa REVIZEE indicam que os
de idades e crescimento de lutjanídeos e serranídeos e principais recursos capturados pela pesca de linha na
mostrou que, na maior parte dos estudos, foi utilizado o costa central estão plenamente explotados ou já em
método de leitura de anéis anuais de crescimento em situação de sobrepesca, necessitando de medidas
estruturas de aposição. Esse autor concluiu que a aplicação urgentes de contenção do esforço de pesca e políticas
da análise da freqüência de comprimentos é pouco viável, de ordenamento, inexistentes para a pesca de linha na
apesar de ser o método mais rápido e de custo reduzido região. Os estudos indicam que duas das espécies
para estudar o crescimento de espécies pertencentes a tais estudadas, a cioba (O. Chrysurus) e o realito (R.
famílias, pois estas não possuem as características de aurorubens), já se encontram em estado de
crescimento rápido, vida curta e período reprodutivo discreto, sobreexplotação, enquanto o ariacó (L. synagris) começa
requeridos para obtenção de resultados confiáveis. a sentir os efeitos da sobrepesca (Costa et al., 2002;
Estudos sobre a bionomia dos peixes revelaram uma forte Klippel et al., 2005). O catuá (C. fulva), também uma
relação entre os diferentes parâmetros populacionais das espécies-alvo da pesca de linha, pode alcançar o
destes organismos, sendo que os parâmetros de mesmo status em breve, e o mesmo poderá ocorrer com
crescimento têm sido utilizados para ajudar a prever a o peroá (B. vetula), considerando que a sobrepesca já
214 N.O.LEITE JR., A.S.MARTINS & J.N.ARAÚJO
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