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Antonio Negri e Michael Hardt
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Negri & Hardt, 2001, pg.88.
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Negri & Hardt, 2001.
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Negri & Hardt, 2004, pg. 331.
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Negri, 2003, pg.73
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Quanto à soberania global identificada pelos dois autores, digo que, apesar
da inegável potência dos EUA, me parece precipitado afirmar que seu projeto de
império já tenha se materializado, visto que eles ainda necessitam do apóio dos
aliados e não podem agir sempre de modo unilateral. Por mais que a soberania de
pequenos Estados fique comprometida na relação de forças, há países que podem
falar com certo grau de igualdade no discurso, assim como há sempre a
possibilidade de composição de forças (o que de fato tem sido a tendência nos
foros internacionais). Isso se dá devido à característica do poder político, que
conjuga forças como prestígio internacional, poderio bélico, bens econômicos,
conjuntura internacional, entre outros elementos. Para sua própria prosperidade,
na ótica do capitalismo internacionalizado, ele necessita de parceiros. Estes agem
segundo uma razão particular que pode divergir da dessa potência, como, por
exemplo, ocorre, especulemos aqui, com a emergência de novos atores de peso no
cenário cujo caso mais marcante é a China. Mas não me deterei nas interpretações
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Negri & Hardt, 2004, pg. 329.
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Negri & Hardt, 2001.
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como a figura do príncipe, mas requer alguma entidade política que represente
uma unidade para preencher esse espaço. “Formas políticas democráticas, plurais
ou populares podem ser declaradas, mas a soberania moderna só tem uma figura
política: um único poder transcendente.”7.
O principio da soberania expressa a idéia de que somente um pode governar.
Como Carl Schmitt insistiu, a política fundada pela soberania é baseada na
teologia, o poder é tido como sagrado, algo que paira sobre a sociedade. Seja um
regime monárquico, aristocrático ou democrático, deve haver uma unidade. A
democracia, por exemplo, representa o governo de muitos, mas na forma
unificada de povo, nação, de forma que o espírito da soberania não é encarnado
pela pluralidade, mas sim pela união da multidão. Se dois ou mais governarem,
surge a possibilidade da confusão gerada pela coexistência de múltiplas
autoridades soberanas, que se negam mutuamente. A decisão soberana reside num
sujeito político unitário.
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Negri & Hardt, 2001, pg. 103.
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Negri & Hardt, 2004, pg. 332
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Negri & Hardt, 2001, pg. 103
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membros do Estado, este não se sustenta. Nesse ponto, a soberania converge com
o biopoder. “O poder político não é mais simplesmente orientado para legislar
normas e preservar a ordem nos negócios públicos, mas precisa abranger a
produção da vida social.”10. O poder precisa estimular a produção social dos
cidadãos e controlá-los. Ademais, precisa ter a capacidade de apontar qual o
interesse público. Um aspecto do controle exercido pelo poder aqui é a decisão
sobre a inclusão ou exclusão social.
Negri e Hardt articulam diferentes tradições do pensamento político para
pensar o mundo contemporâneo. A soberania imperial parece ainda ser um sonho
que a superpotência tem de resgatar da tradição romana; essa soberania sem lado
externo não se materializou, mas é importante notar a fabricação de conflitos para
a manutenção de uma ordem11. Apesar de discordar de algumas das conclusões
apresentadas acima, noto a presença da violência instituidora da ordem, que
precisa ser mantida. Acontece que a força instauradora12 vai perdendo força, e faz-
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10
Hardt, Negri, 2004, pg. 334
11
Rush, 2006, pg. 310.
12
Benjamim, 1986.