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2017

Centro de estudos Presbiteriano


A Distinção Entre Os
Presbíteros
[A distinção entre Regentes e Docentes dentro do Sis-
tema de Governo Presbiteriano.]

Dr. Roger Smalling

RIACHÃO DO JACUÍPE – BA
2017.
1

Sumário
PALAVRA DO TRADUTOR .................................................................... 3
DEDICATÓRIA DO TRADUTOR............................................................ 7
HOMENAGEM DO TRADUTOR............................................................. 8
PRIMEIRA PARTE ................................................................................. 13
QUAL É A POSIÇÃO DA PCA COM RESPEITO A ESTAS TRÊS
PROPOSIÇÕES? ................................................................................... 13
SEGUNDA PARTE ................................................................................ 28
EVIDÊNCIAS DAS ESCRITURAS PARA AS POSIÇÕES DA PCA. 28
I – OS PRECEDENTES NO ANTIGO TESTAMENTO DO GOVERNO
ECLESIÁSTICO PARA O NOVO TESTAMENTO. ............................. 32
1.1 – PRIMEIRO PRINCÍPIO: ..................................................................... 34
1.2 – SEGUNDO PRINCÍPIO:.................................................................... 35
1.3 – TERCEIRO PRINCÍPIO .................................................................... 35
1.4 – QUARTO PRINCÍPIO: ...................................................................... 36
II – O CUMPRIMENTO NO NOVO TESTAMENTO DOS
PRECEDENTES NO ANTIGO TESTAMENTO. .................................. 40
2.1 – PRIMEIRA EVIDÊNCIA NEOTESTAMENTÁRIA: ................................. 40
O PADRÃO EM 1 TIMÓTEO 5.17. ............................................................. 40
2.2 – SEGUNDA EVIDÊNCIA NEOTESTAMENTÁRIA .................................. 41
2.3 – TERCEIRA EVIDÊNCIA NEOTESTAMENTÁRIA TIMÓTEO, PASTOR
ORGANIZADOR ......................................................................................... 42
2.4 – QUARTA EVIDÊNCIA NEOTESTAMENTÁRIA - A FUNÇÃO DE
“DISCIPULAR” DO PASTOR-MESTRE. EM EFÉSIOS 4.11-16. ................. 46
2.5 – QUINTA EVIDÊNCIA NEOTESTAMENTÁRIA - MESTRES E
ADMINISTRADORES .................................................................................. 48
1ª CORÍNTIOS 12.28. ............................................................................... 48
RESUMO DAS EVIDÊNCIAS BÍBLICAS. ...................................................... 49
TERCEIRA PARTE ................................................................................ 51
2

PERGUNTAS E RESPOSTAS GERAIS. ............................................. 51


CONCLUSÃO: ....................................................................................... 62
3

PALAVRA DO TRADUTOR
Estamos realmente gratos porque o Centro de Es-
tudos Presbiteriano foi descoberto por uma boa porcenta-
gem de leitores na internet. Estamos providenciando um
Website para que os nossos leitores tenham acesso a to-
do o material produzido pelo CEP. Já temos dito que o
alvo do CEP é: A glória de Deus e a edificação de seu
povo. É com este lema em mente que nós decidimos
presentear os nossos leitores com um tema da eclesiolo-
gia.
A Eclesiologia Reformada tem recebido alguma
atenção em nossos dias, todavia, ainda continua sendo
um assunto ignorado, desconhecido e até mesmo não
estudado com afinco. Ora, o livro que o leitor agora vê,
trata de um tema que durante muitos anos atormentou
nossa mente. A chamada distinção entre os Presbíteros
dentro do Presbiterianismo – Presbíteros Docentes e
Presbíteros Regentes. Em nosso entendimento tal distin-
ção sempre foi superficial e sem apoio nas Escrituras,
4

mas após um estudo sério chegamos à conclusão de que


a distinção precisa ser mantida e preservada.
Aqui o leitor será levado a três passos fundamen-
tais para analisar esta questão da distinção entre os
Presbíteros. No primeiro passo o autor mostrar como a
PCA – Igreja Presbiteriana da América – entende o ofício
de Presbítero, dando a devida atenção aos fatos que en-
volvem esta temática da distinção. Ou seja, seremos in-
troduzidos aos conceitos do presbiterianismo histórico.
Nesta primeira parte o leitor verá que há uma dis-
tinção sustentada pela Igreja ao longo dos séculos. Tam-
bém se discutirá a temática de quem deve pregar e ensi-
nar na Igreja. – De forma clara e inequívoca o autor, se-
guindo a tradição da PCA, afirma: “Apenas os Presbíte-
ros Docentes podem pregar, ensinar e discipular na Igre-
ja”. Ele mostra que esta é uma aplicação lógica do
sistema confessional da Igreja Presbiteriana conforme
expressa nos Símbolos de Fé de Westminster.
É claro que após a leitura deste livro o leitor repen-
sará muito sobre a legitimidade da pregação feita por um
leigo ou mesmo por um Presbítero Regente. Neste texto
5

seremos desafiados a repensar tudo quanto aprendemos


ou deixamos de aprender.
Na segunda parte desta obra o autor procura mos-
trar as evidências bíblicas para manter-se tal distinção.
De forma primorosa os textos são esclarecidos não dei-
xando dúvida alguma sobre o papel de cada Presbítero
dentro do governo e do ensino da Igreja de Cristo. É sur-
preendente a forma como o autor aborda estas questões
tão singulares.
Na terceira e última parte do livro seremos introdu-
zidos aos questionamentos gerais e mais comuns sobre
este tópico da Eclesiologia. O autor levanta questões so-
bre a paridade eclesiástica dentro do sistema presbiteria-
no esclarecendo pontos que muitas vezes ficam obscuros
na discussão sobre a temática aqui enunciada.
A tradução do presente texto foi motivada por cau-
sa de conversas trocadas com o Rev. Rodrigo Ferreira
Brotto, nosso amigo de ministério, que sempre nos ofere-
ce indicações de uma boa, sólida, confessional e bíblica
eclesiologia.
6

Esperamos que este livro nos ajude a compreender


com mais clareza o ofício de Presbítero dentro de nossa
amada Igreja Presbiteriana do Brasil.
Pelo Reino e pelo Evangelho da Graça,
Rev. João Ricardo Ferreira de França
Presidente e Fundador
Do Centro de Estudos Presbiteriano.
Teresina, 11 de Março de 2011.
7

DEDICATÓRIA DO TRADUTOR.

Dedico a presente tradução a todos os Presbíte-


ros que formam a Igreja Presbiteriana do Brasil, de mo-
do particular, ao Conselho da Igreja Presbiteriana em
Teresina e ao Presbítero Manoel Sales Canuto – amigo e
irmão em Cristo, ardoroso defensor dos princípios aqui
estabelecidos.
8

HOMENAGEM DO TRADUTOR

Bem, sempre é difícil escrever este aspecto do tra-


balho. Mas, preciso fazê-lo por dever de consciência.
Há muito tempo atrás conheci um homem simples, que
sua simplicidade revelava sua sabedoria ímpar e singu-
lar, amava ouvir a pregação do evangelho de Cristo
na Igreja Presbiteriana do Ibura – Recife - PE, muitas
vezes quando nós descíamos do púlpito sempre falava
– entendi tudo o que foi pregado, continue assim.
Surpresa a minha, pois, quem se dirigia a mim era o
Presbítero da Igreja José Trezena – homem simples, sem
cultura, sem instrução – mas cheio de sabedoria. Em um
dado dia de Estudos o Pastor da Igreja falou sobre as
qualificações dos presbíteros; naquele momento o
Presbítero José Trezena refletindo consigo mesmo
disse: “eu não tenho os dons necessários para ser um
Presbítero da Igreja de Cristo, pois, é preciso ser apto
para ensinar, convencer os que contradizem a verda-
9

de, eu não posso mais continuar como Presbítero da


Igreja”.
Que Grande homem, que grande lição! Humil-
dade, ele deixou o Presbiterato reconhecendo suas
limitações; Mas sempre que nos encontrávamos cos-
tumava dizer-lhe: “Meu Presbítero!” ele jeitosamente
me corrigia e dizia que não era mais, ao que sempre re-
truquei dizendo, o Senhor foi ordenado para tal, e sempre
o verei assim.
O Presbítero Trezena teve complicações cardí-
acas em cirurgia e veio a ser condecorado ao céu, mas
sua influência sobre a minha vida foi gritante, pois, a sua
humildade em reconhecer o seu lugar, de fato me fez ver
o que é de fato um Presbítero Regente.
10

INTRODUÇÃO:
Esta tese tem foi examinada por um grupo de pas-
tores do Presbitério da Carolina do Norte das Igrejas
Presbiterianas das Américas. A conclusão do concílio
foi que o autor “apresentou corretamente a posição
da PCA1 (Igrejas Presbiterianas) sobre a questão de
Presbíteros Docentes e Presbíteros Regentes”.
O Propósito da Tese:
O propósito desta tese é apoiar, apartir das
Escrituras, as distinções Presbiterianas tradicionais
entre os Presbíteros Docentes e Regentes. Todos
nós estamos de comum acordo que o termo “Presbí-
tero” se refere a uma classe de líder. A pergunta é
si os dois ofícios de Presbíteros existem dentro de
uma classe, ou sem algumas distinções são meramen-
te descritivas de diferentes funções.

1
Igreja Presbiteriana da América.
11

O assunto tem consequências práticas, que tem


levado mais além de uma divisão teológica. Quem tem
autoridade para administrar a Palavra e os Sacramen-
tos a uma congregação local? A quem é delegada a fun-
ção de discipular a igreja local e levá-la a completa
obediência a Cristo? Tem um ofício o direito de governar
o outro? Por sua vez, isto justificará as medidas tradi-
cionais que os presbiterianos tem tomado para asse-
gurar a continuação destas distinções.
Nesta tese, demonstrarei com base na Escritura
três proposições lógicas:
(1) Existe uma classe de Presbítero com duas ordem de
oficiais: Presbítero Docente e Presbítero Regente. Ainda
que eles tenham certas funções que se sobrepõem, suas
vocações e ordenações são diferentes.
(2) As duas ordens de oficiais são iguais em autori-
dade governamental nos tribunais da igreja. Um não
governa sobre o outro. Este conceito é chamado de
“paridade” dentro dos círculos Presbiterianos.
(3) Ao Presbítero Docente somente é delegada a au-
toridade de pregar e ensinar a Palavra à congrega-
12

ção, e administrar os sacramentos. Disto tem a res-


ponsabilidade de pastorear e discipular a todos os mem-
bros da congregação, incluindo aos Presbíteros Regen-
tes.
Procederei mostrando primeiro qual é a posição
da PCA nestes pontos na Primeira Parte, seguindo
para a Segunda Parte com justificações escriturísti-
cas. Seguindo o padrão dos Símbolos de Westmins-
ter, que estabelece o que cremos, apresentando a conti-
nuação das evidências escriturísticas.
A segunda parte deixa claro que estas distin-
ções não são produto da tradição, mas estão basea-
das na unidade progressiva da Bíblia, começando
desde os tempos de Moisés até as Epístolas do No-
vo Testamento.
13

PRIMEIRA PARTE

QUAL É A POSIÇÃO DA PCA COM RESPEITO


A ESTAS TRÊS PROPOSIÇÕES?
14

São diferentes os ofícios de Presbíteros Docen-


tes e Regentes? A resposta se mostra em um diagrama
tomado da PCA em Position Digest Parte V, página 456.

O diagrama indica que ainda que exista uma classe


de ofício chamado Presbítero, não obstante, os Presbíte-
ros Docentes e Regentes NÃO são os mesmos oficiais.
A declaração oficial da PCA é como segue:
Recomendação Nº 1:
Que a Assembleia Geral afirma que a
Escritura ensina que em adição ao oficio
15

fundamentos dos crentes, há também


classes especiais e perpetuas de ofícios
na Igreja, Presbítero e Diácono, e que
há dentro da classe de Presbítero duas or-
dens, Docente e Regente. (Adotado, 7ª
General Assembly, 1979 – Position Pa-
pers, Vol.5, p.457)
Nossos símbolos, por conseguinte reconhece
uma classe de Presbítero, dividido em duas ordens:
Presbítero Regente e Presbítero Docente. Um Presbí-
tero Regente não se converte em um Presbítero Do-
cente meramente porque ele ensina em classe de escola
dominical ou realiza uma pregação. Nem um Presbíte-
ro Docente chega a ser um Presbítero Regente por-
que ele exerce algumas funções administrativas.
A diferença entre eles não é uma função particular
em dado momento. Eles pertencem a ordens diferen-
tes, segundo a posição mantida pela PCA. (A Defesa
Escriturística será apresentada na Segunda Parte).
Reconhece a PCA o conceito de “paridade” no go-
vernado entre os dois ofícios? A resposta é sim. O Dia-
grama abaixo ilustra:
16

Este diagrama representa o conceito de paridade


governamental. Note que os dois ofícios se sobrepõem.
Juntos, governam a congregação, porém não se governa
um ao outro – 1 Timóteo 5.17.
17

Quem tem autoridade para pregar a Palavra de


Deus nos púlpitos da PCA?

O Catecismo Maior estabelece:


PERGUNTA 158: Por quem deve ser pregada a Palavra
de Deus?
RESPOSTA: A Palavra de Deus deve ser pregada
somente pelos que foram suficientemente dotados e
devidamente aprovados e chamados para tal ofício.
Aparece uma ligeira ambiguidade nesta decla-
ração. Tradicionalmente, se tem entendido que o Ca-
tecismo Maior de Westminster delega aos Presbíteros
Docentes ordenados, ainda que, o termo Pastor ou
Ministro não se use aqui. Mas, depois disto tudo, que
aconteceria se um Presbítero Regente pudesse pregar
melhor que um Presbítero Docente qualquer? A Assem-
bleia da PCA de 1979 responde:
Recomendação Nº 4:
A Assembleia Geral reafirma a posição
Presbiteriana histórica conforme expressa
no Catecismo Maior em sua pergunta 158,
18

que ninguém deve pregar o Evangelho


senão aqueles que são chamados e do-
tados por Deus; e que, por conseguinte,
somente aqueles homens que são apropria-
damente ordenados ou licenciados podem
pregar nos púlpitos da PCA; e que aos
Presbíteros Regentes se lhes permite e
anima a renovar a prática histórica de
exortar ao povo de Deus. (Adotado,
p.457-458).
Esta recomendação se une com a recomendação
de Número 5 que trata da relação do Pastor com o Con-
selho. Disto nós vemos que a PCA considera o púlpito
como o domínio habitual do Presbítero Docente, não obs-
tante, o Presbítero Regente pode exercer qualquer
dos dons ministeriais de exortação que possua em
outros domínios e circunstâncias.
Na PCA, não se aceita a prática de programar den-
tro das agendas de pregação regulares da igreja, aque-
les que não são ordenados como Presbíteros Docentes.
Quem tem autoridade para administrar os sacra-
mentos? Os Símbolos de Westminster afirmam:
A Confissão de Fé de Westminster:
“Há só dois sacramentos ordenados por Cristo, nosso
Senhor, no Evangelho - O Batismo e a Santa Ceia;
19

nenhum destes sacramentos deve ser administrado


senão pelos ministros da palavra legalmente ordena-
dos”. (Capítulo 27, Seção 4)

O Catecismo Maior:
169. Como ordenou Cristo que o pão e o vinho fossem
dados e recebidos no sacramento da Ceia do Senhor?
RESPOSTA: “Cristo ordenou que os ministros da Pa-
lavra, na administração deste sacramento da Ceia do
Senhor...”.
176. Em que concordam os sacramentos do Batismo
e da Ceia do Senhor? RESPOSTA: “... em ambos se-
rem selos do mesmo pacto, em não deverem ser admi-
nistrados senão pelos ministros do Evangelho...”.
Considerando isto, está claro que a posição
dos Símbolos de Westminster é que os ministros do
Evangelho e somente estes, tem a autoridade para
ministrar os sacramentos em nossas igrejas. A decla-
ração da PCA é como segue:
Recomendação Nº 8:
20

A Assembleia Geral afirma que de acordo com


os Símbolos Confessionais da Igreja, somente os
Presbíteros Docentes ordenados legalmente podem
administrar os Sacramentos (Adotado, 7ª General As-
sembly, 1979, Position Papers, Vol.5, p.461).
Como justificativa para esta recomendação, a
comissão fez duas considerações pertinentes:
Se a PCA quiser fazer mudanças maiores
quanto ao fato dos Presbíteros Regentes
administrarem os sacramentos seria ne-
cessárias outras mudanças ainda maio-
res nos símbolos confessionais. Ainda
que os símbolos não devam ser colocados
acima das Escrituras como única regra
de fé e prática, contudo, temos dado for-
te testemunho de sua validade e veraci-
dade diante das Escrituras, e as mudan-
ças só poderiam ser possíveis se houver
uma clara e grande evidência de que
eles estejam biblicamente errados. Não
encontramos tal evidência nos caso da ad-
ministração dos sacramentos (Position
Papers, Vol.5, p.460).

É de se notar que a Comissão considerou que o


ônus da prova está sobre aqueles oponentes aos nos-
sos símbolos, a fim de que provem o contrário, no lu-
21

gar da Comissão provar a validade dos mesmos. Em


seguida a Comissão acrescenta:
“A administração dos sacramentos, por sua própria
natureza, é um exemplo da proclamação da Palavra de
Deus e [...] deveria ser realizada somente em conjunto
com a pregação da palavra” (Position Papers, Vol.5,
p.460).
No contexto, a comissão ao reconhecer que
somente os Presbíteros Docentes tem a autoridade
para proclamar a Palavra regularmente no púlpito, en-
tão, por necessidade lógica, somente estes tem a au-
toridade para administrar os sacramentos, que a Pa-
lavra autoriza.
Reconhece a PCA uma só ordenação pra o ofício
de Presbítero, ou reconhece duas ordenações, como
são uma para os Presbíteros Docentes e outra pra os
Presbíteros Regentes?
A declaração oficial da PCA diz o seguinte:
Recomendação Nº 7:
Nós afirmamos que a ordenação de
Presbíteros é para uma ordem particular
dentro da classe de Presbíteros, seja
22

para o Presbítero Docente ou para o


Presbítero regente. Ambas as ordens de
presbíteros incluem certas funções as
quais estão descritas na Escritura,... {aqui
se segue uma longa e tediosa lista}...
Adicionalmente, a ordem de Presbítero Do-
cente inclui a função da pregação pública
da Palavra e a administração dos Sacra-
mentos; também certas coisas requeridas
nos padrões contemporâneos da vida da
igreja como a celebração de cerimônias
matrimoniais e funerais. (Adotado, 7ª
General Assembly, 1979, Position
Papers, Vol.5, p.459-460).
A PCA reconhece duas ordenações distintas,
porque o ofício de Presbítero Docente inclui funções
que o Presbítero Regente não contempla. A diferença
entre as duas [ordenações – NT] não está somente
em realizar a função particular de administrar a Palavra e
os Sacramentos. É um chamado e ordenação para reali-
zar estas funções.
Qual é a posição da PCA em relação à igualda-
de de votantes? A declaração oficial da PCA diz o seguin-
te:
Recomendação Nº 5, Parágrafo A 3:
Os tribunais da Igreja que estejam sobre o
nível de Presbitério buscam expressar a
paridade com um balance numérico entre
23

os Presbíteros Docentes e Regentes. Em


nível de conselho local usualmente há
somente um Presbítero Docente, ou um
pouco mais, diante de um número maior
de Presbíteros Regentes. Ajuda a preser-
var a paridade dando-o a moderação a um
da minoria de Presbíteros Docentes
(Adotado, General Assembly, 1979,
Poistion Papers, p.458)
A recomendação de número 5 é uma longa e
tediosa resposta a uma sugestão feita por uma Igreja
na Flórida em que dizia que um Presbítero Regente
poderia moderar o Conselho no lugar do Pastor ser au-
tomaticamente o Moderador do Conselho. A recomenda-
ção reafirma a prática na PCA de que o Pastor é o
Moderador (Presidente na IPB) e rejeita a sugestão da
igreja da Flórida. Devido ao fato da resolução ser bas-
tante longa resumimos aqui as razões que fundamen-
tam a continuação desta prática:
1. O Concílio de Jerusalém, de Atos 15, foi presidido
por um Presbítero Docente. Este é o precedente bíblico.
2. A prática geral das igrejas deste o tempo dos
Apóstolos tem sido que as igrejas locais estejam presidi-
das por seus ministros. Tem-se demonstrado que isto é
benéfico.
24

3. Qualquer outra coisa seria um rompimento com a


prática reformada que perdura mais de 400 anos.
4. Esta prática ajuda a guardar a paridade devido ao fato
de que os Presbíteros Docentes, normalmente, são mino-
ria no Conselho.
5. Devido ao fato de que o Presbítero Docente é um
membro do Presbitério, sua conexão com o mesmo
ajuda a fortalecer os laços de unidade entre a Igreja
local e o Presbitério.
6. Quando o Presbítero Docente NÃO é o Moderador do
Conselho, então pode haver o perigo de que este seja
considerado como um mero secretário em lugar de um
Ministro da Palavra.
A introdução à recomendação também mencio-
na que quando uma igreja elege um pastor, eles o
estão elegendo, de maneira automática, como o Mode-
rador do Conselho.
Então, pode-se deduzir que a PCA se esforça
em preservar a paridade na representação no interior
dos tribunais. Nos casos em que a paridade não se pode
25

ser alcançada, se aconselha que outras formas adminis-


trativas sejam implantadas para conseguir a paridade.
Tem sido dito por alguns que a posição da PCA em
relação a estes pontos é mera tradição. Tem estas po-
sições um precedente histórico anterior ao da América
do Norte?
Ainda que a tradição não seja autoritativa, ela tem
valor em quanto revela a verdadeira natureza da histó-
ria e prática da Reforma. Se a posição da PCA está
de acordo com a prática reformada ao longo do
tempo, então, os missionários norte-americanos não tem
ensinado sua cultura.
As citações referentes à continuação de tal proce-
dimento vêm das Confissões de Fé de várias culturas
e línguas, que se remontam ao século XVI. Novamen-
te, reconhecemos que a tradição não é autoritativa. A Bí-
blia é autoritativa. Elas tão pouco são referências de uma
cultura. Uma revisão da história pode dar um sentido
de cautela aqueles que poderiam desviar-se da norma
estabelecida.
26

Observe as seguintes citações de Confissões Re-


formadas antigas, cujas datas são anexadas:
Confissão Helvética (1536):
“[...] que os mistérios das Escrituras sejam diariamen-
te expostos e explicados por ministros qualificados [...]”.
Artigos de Lausanne (1536 – Suiça):
“Dita Igreja não reconhece outro ministro exceto aquele
que Prega e administra os sacramentos”.
A Confissão de Genebra ( 1536 – por João Calvino ):
“Nós não reconhecemos a outros pastores na Igreja
senão aos pastores fiéis da Palavra de Deus, que ali-
mentam as ovelhas de Cristo [...]” “Nós cremos que
os Ministros da Palavra de Deus e os Presbíteros e
Diáconos, devem ser eleitos aos seus respectivos ofícios
mediante uma eleição legal da Igreja [...]”.

Confissão de Fé Francesa (1559):


“[...] nós cremos que a ordem da Igreja, foi estabelecida
por sua autoridade, deve ser sagrada e inviolável, e que,
portanto, a Igreja não pode existir sem pastores para a
instrução, a quem devemos respeitar e escutar reveren-
27

temente, quando eles têm sido chamados de maneira


apropriada e exercem seu ofício fielmente”.
As práticas da PCA tem sua origem em um
movimento transcultural a mais de 400 anos, conhecido
como Reforma Protestante.
28

SEGUNDA PARTE
EVIDÊNCIAS DAS ESCRITURAS PARA AS
POSIÇÕES DA PCA.
29

É correto usar o Antigo Testamento como um


guia para a eclesiologia do Novo Testamento?
Não é somente correto, mas é obrigatório se-
gundo o apóstolo Paulo: “Não sabeis vós que os que
prestam serviços sagrados do próprio templo se ali-
mentam? E quem serve ao altar do altar tira o seu
sustento? Assim ordenou também o Senhor aos que
pregam o evangelho que vivam do evangelho;” (1ª
Coríntios 9.13-14).
Paulo argumenta a favor do sustento de tempo
integral dos ministros no Novo Testamento sobre as ba-
ses dos seus equivalentes no Antigo Testamento, os Sa-
cerdotes. Ele vê o serviço sacerdotal no altar como
um tipo do ministro do Evangelho. Como o Sacerdote
vivia exclusivamente deste serviço por um especial cha-
mado de Deus, assim os ministros do Novo Testamen-
to tem que viver exclusivamente da pregação do
Evangelho.
Paulo usando este argumento revela que ele
considera legítimo aplicar os princípios gerais do Antigo
Testamento como padrão para a Eclesiologia do Novo
30

Testamento. O uso de uma pergunta retórica de-


monstra que Paulo considera a resposta óbvia. Ele
fala aos cristãos como si eles devessem saber estas
coisas apartir do conhecimento que tinham do Antigo
Testamento.
De igual modo, em Romanos 15.16, Paulo usa a
terminologia do Antigo Testamento para descrever seu
serviço como um pregador do Evangelho: “que eu
seja ministro de Jesus Cristo entre os gentios, minis-
trando o evangelho de Deus, para que seja agradável a
oferta dos gentios, santificada pelo Espírito Santo.”
(ARC – Almeida Revista e Corrigida).
A palavra “ministro” aqui é leitourgos2 e a palavra
“ministrando” é “hierourgeo”3. Ambas as palavras se
referem ao ministério dos sacerdotes no Antigo Testa-
mento.

2
NT – No grego temos leitourgo.n é um acusativo no grego e o significa é
de “ministro, servo”
3
NT – No grego aqui o termo é “i`erourgou/nta” é um particípio pre-
sente indicando uma ação

Repetitiva, sempre fazendo, sempre ministrando, e o sentido do termo é “atu-


ando como um sacerdote”.
31

Conclusão: Temos estabelecido dois fatores apartir des-


tes textos:
A. A Eclesiologia do Novo Testamento está baseada
nos padrões do Antigo Testamento. Não somos li-
vres, portanto, para interpretar a Eclesiologia do Novo
Testamento sem referência aos princípios gerais do An-
tigo Testamento.
B. Ambos os Testamentos indicam, como Paulo de-
monstra, que alguns são chamados para o ministério
da Palavra e a administração dos Sacramentos e al-
guns não. Aqueles que são chamados são chamados a
tempo integral como regra.
Somos livres para limitar nosso entendimento
da Eclesiologia a somente ao Novo Testamento? De-
finitivamente não. A hermenêutica reformada examina a
continuidade da Bíblia como um todo. Se nós estamos de
acordo que o Novo Testamento tem autoridade sobre
o Antigo Testamento como revelação final, não obs-
tante, se algo parece contradizer o princípio da con-
tinuidade, algo está equivocado e necessitamos voltar
e revisar tudo novamente. Nossas conclusões devem
32

sempre ser cumprimentos do Antigo Testamento, não ne-


gações.
Este ponto de vista global da Escritura, ao tratar
com perguntas de eclesiologia não é fruto de nossa mo-
derna interpretação. Os autores dos padrões de Wes-
tminster, em seu folhe, “A Forma de Governo Ecle-
siástico” estabelecem:
Da mesma forma que havia Presbíteros jun-
to aos sacerdotes e levitas na igreja judia
para seu governo; da mesma maneira Cris-
to, quem instituiu o governo da igreja e
os governadores eclesiásticos. Ele deu al-
guns na sua igreja além do ministro da pa-
lavra, com dons para o governo e a
comissão de exercê-la quando são cha-
mados para fazê-lo, estes devem ajun-
tar-se o ministro no governo da igreja. A
quem nas igrejas reformadas comumente
se chama de Presbíteros. (p.402,
Apud, PCA Digest, Vol.V, p.476)

I – OS PRECEDENTES NO ANTIGO TESTA-


MENTO DO GOVERNO ECLESIÁSTICO PARA
O NOVO TESTAMENTO.

Vemos dois ofícios de liderança espiritual no Anti-


go Testamento?
33

A resposta é: sim.
Antes de avançar precisamos esclarecer um ponto.
Tem-se dito que os Presbíteros de Israel foram meros
políticos, autoridades civis e governadores, não líderes
espirituais. Ambos os Testamentos, contudo, fazem uma
distinção entre os Presbíteros de Israel e os líderes de
Israel.
No Antigo Testamento:
2 Reis 10.1: “[...] E Jeú escreveu cartas e as enviou a
Samaria os principais de Jezreel, aos Presbíteros[...]”
Esdras 10.8: “[...] conforme o acordo dos príncipes
e dos Presbíteros [...]
No Novo Testamento:
Atos 4.5:“[...]se reuniram em Jerusalém os Gover-
nantes, os Presbíteros e os escribas [...]”
Atos 4.8: “[...] Então Pedro, cheio do Espírito Santo,
lhes disse: Governadores do Povo, e Presbíteros de Is-
rael [...]”.
34

1.1 – Primeiro Princípio:


Dois ofícios de liderança espiritual relacionados
existiram desde o princípio, por exemplo, Números
11.16,24-25:
Disse o SENHOR a Moisés: Ajunta-me
setenta homens dos anciãos [Presbíteros]
que sabes serem anciãos [Presbíteros] e
superintendentes do povo; e os trarás
perante a tenda da congregação, para
que assistam ali contigo. [...] Saiu, pois,
Moisés, e referiu ao povo as palavras
do SENHOR, e ajuntou setenta homens
anciãos [Presbíteros] do povo, e os pôs
ao redor da tenda. Então, o SENHOR
desceu na nuvem e lhe falou; e, tirando
do Espírito que estava sobre ele, o pôs so-
bre aqueles setenta anciões; quando o
Espírito repousou sobre eles, profetiza-
ram; mas, depois, nunca mais.

Note aqui o seguinte:


A. Tanto o Sacerdote (Moisés) como os Anciãos [Presbí-
teros] gozavam do mesmo Espírito de Deus e suas mani-
festações.
B. Ambos compartilham a autoridade sobre a congrega-
ção. Porém, o Sacerdote guardava para si as funções
sacramentais. Este texto mostra que o rol dos Pres-
bíteros era uma função espiritual, não é apenas uma
35

nomeação política. Contudo, sua participação espiri-


tual nunca se a objetivou como equivalente para ofi-
cialização dos ministérios nas funções do Sacerdote.
1.2 – Segundo Princípio:
A palavra de Deus foi delegada a ambos os
tipos de líderes, primeiro aos Sacerdotes (Aqueles
com autoridade sacramental) e em seguida aos An-
ciãos do povo.
Deuteronômio 31.9: “Esta lei, escreveu-a Moisés e a
deu aos sacerdotes, filhos de Levi, que levavam a arca
da Aliança do SENHOR, e a todos os anciãos de Israel.”.
Êxodo 19.7: “Veio Moisés, chamou os anciãos do
povo e expôs diante deles todas estas palavras que o
SENHOR lhe havia ordenado.”.
1.3 – Terceiro Princípio:
Os “Anciãos” participavam em funções sacramen-
tais, sobe a autoridade e liderança dos Sacerdotes. Po-
rém, estes dois ofícios e funções nunca foram confundi-
dos.
Levítico 4.13-17:
Mas, se toda a congregação de Israel
pecar por ignorância, e isso for oculto
36

aos olhos da coletividade, e se fizeram,


contra algum dos mandamentos do SE-
NHOR, aquilo que não se deve fazer, e fo-
rem culpados, e o pecado que cometeram
for notório, então, a coletividade trará um
novilho como oferta pelo pecado e o apre-
sentará diante tenda da congregação. Os
anciãos da congregação porão as mãos
sobre a cabeça do novilho perante o SE-
NHOR; e será imolado o novilho perante
o SENHOR. Então, o sacerdote ungido
trará do sangue do novilho à tenda da
congregação; molhará o dedo no sangue e
o aspergirá sete vezes perante o SENHOR,
diante do véu.
Note que os Anciãos participavam do processo,
porém o Sacerdote oferecia o sangue. Por conseguin-
te, os Anciãos participavam de uma forma que as
pessoas comuns não podiam. Isto, no entanto, não
causava nenhuma confusão entre o Ancião e o Sa-
cerdote. Nenhum Ancião pensava que tinha autoridade
sacramental por causa disso.
1.4 – Quarto Princípio:
Os “Anciãos” eram principalmente representantes
do povo. Isto é demonstrado em ambos os testamen-
tos pela repetição do termo “Anciãos do povo”. Êxodo
19.7; Números 11.16 e 11.24; Jeremias 19.1; Mateus
21.23; 26.3; 26.47 e 27.1; Lucas 22.66.
37

As conclusões são inevitáveis:


1. Havia uma congregação (Igreja)
2. Havia uma categoria de oficiais oficiando nos alta-
res cuja função era proclamar a Palavra de Deus ao
povo e oferecer sacrifícios, por exemplo, os sacramen-
tos. Estes representavam a Deus para o povo.
3. Havia uma categoria de oficiais ajudando aos superio-
res, cuja função principal era governar.
4. Havia algumas sobreposições de ambas as partici-
pações governamental e sacerdotal, porém, as distinções
entre as duas classes de oficiais nunca foi confundida.
Note também que não pode ser arguido que
os Anciãos eram meramente oficiais governamentais
da nação e que não há correspondência entre estes
e os Presbíteros do Novo Testamento; por que:
1. Eles foram batizados com o mesmo Espírito que
Moisés. Portanto, o seu chamado era um chamado espiri-
tual de Deus.
2. A eles também foi delegado salvaguardar a Palavra de
Deus
38

3. Eles tinham um direito limitado para participar no


oferecimento dos sacrifícios.
Portanto, os Anciãos do Antigo Testamento que
cooperavam com os líderes espirituais para governar ao
povo, poderiam ser considerados mui apropriadamente
como Presbíteros Regentes. Os judeus conservaram
isto através dos tempos do Novo Testamento.
Observe o seguinte texto de Lucas 22.66: “Lo-
go que amanheceu, reuniu-se a assembleia dos an-
ciãos do povo, tanto, os principais sacerdotes como os
escribas, e o conduziram ao sinédrio, onde lhe disseram:”
Este versículo é interessante porque é um de
três no qual a palavra grega “presbitério”4 ocorre no
Novo Testamento. Uma tradução literal seria: “E ao
meio-dia, o Presbitério do povo se reuniu, ambos,
Sacerdotes e escribas e o trouxeram ao concílio”.
Observe aqui que a palavra Presbitério é definida
como um corpo composto de Sacerdotes (aqueles com

4
NT – to. presbute,rion – to presbyterion.
39

funções sacramentais), acompanhados pelos escribas,


(aqueles sem tais funções).
Obviamente este presbitério não era Cristão. Não
obstante, reflete a continuidade através da Bíblia de
conceito geral do governo que os Apóstolos adotaram
depois.
Conclusão: Vemos destes textos que existiu
uma categoria de líderes espirituais no Antigo Testa-
mento, chamados de sacerdotes, que oficiavam no altar,
proclamavam a Palavra por meio de protótipos, e ofe-
reciam sacrifícios. Também existiu outra categoria de
líderes espirituais, que tinham funções governamen-
tais, porém não eram políticos. Seu ofício era espiritual
em natureza e participavam as vezes com os sacerdotes
em funções sacramentais.
40

II – O CUMPRIMENTO NO NOVO TESTAMEN-


TO DOS PRECEDENTES NO ANTIGO TESTA-
MENTO.

2.1 – Primeira Evidência Neotestamentária:

O Padrão em 1 Timóteo 5.17.


“Devem ser considerados merecedores de dobrados ho-
norários os presbíteros que presidem bem, com especia-
lidade o que se afadigam na palavra e no ensino”.
Observemos o contexto e o versículo os seguintes
fatos:
1. Há uma congregação
2. Há oficial cuja função principal é trabalhar pregan-
do e ensinando a Palavra, ainda que eles também
governem. Por consequência lógica, isto deve incluir
também os Sacramentos, posto que a Palavra é a que
autoriza os Sacramentos.
3. Há oficial cuja função principal é governar, e não a
pregação e ensino da Palavra. Por consequência lógi-
ca, isto devem também excluir as funções sacramentais.
4. Há uma clara sobreposição na forma em que o texto
utiliza as palavras.
41

Qual precisamente é a diferença entre isto e o pa-


drão do Antigo Testamento? Mui pouco a princípio.
Posto que ali apareça uma continuidade de governo
entre os testamentos, estamos justificados em aplicar os
mesmos princípios. Isto esclarece a ambiguidade em
1 Timóteo 5.17, assim como a continuidade do Pacto
esclarece a ambiguidade no Novo Testamento com res-
peito aos sacramentos.
2.2 – Segunda Evidência Neotestamentária
O uso da Palavra “Ministro” nas Escrituras. Um
estudo deste termo através da Escritura é complexo
composto que traduz várias palavras gregas e he-
braicas. A palavra tem vários usos, muitos dos quais
são figurativos.
1. Quando é usado no Antigo Testamento com refe-
rência a ministrar a Palavra ao povo, está em cone-
xão com os Sacerdotes. Os dois termos, ministro e
Sacerdote são usados juntos 41 vezes no Antigo Testa-
mento, alguns exemplos são os seguintes:
Jeremias 33.21 “[...] e meu pacato com os levitas e Sa-
cerdotes, meus ministros”
42

Joel 2.17: “Chorem os Sacerdotes, ministros do SE-


NHOR”
2. No Novo Testamento, o termo se associa frequente-
mente com qualquer daqueles ofícios em Efésios 4.11
associado com Ministração e discipulado do Corpo de
Cristo.
(a). Apóstolos: Atos 1.25 “Para que tome parte neste
ministério e apostolado...” Atos 6.4 “e nós, nos consagra-
remos à oração e ao ministério da palavra”.
(b) Pastores: (note que Timóteo era um pastor. Por
isso, 1ª e 2ª Timóteo são cartas chamadas de pastorais)
1ª Tessalonicenses 3.2 – “e enviamos nosso irmão
Timóteo, ministro de Deus no evangelho de Cristo, para,
em beneficio da vossa fé, confirmar-vos e exortar-vos.”
Conclusão: Ambos os Testamentos sustentam uma
distinção com respeito àqueles chamados para pregar
a Palavra de Deus ao povo versus qualquer outro ofí-
cio eclesiástico.
2.3 – Terceira Evidência Neotestamentária Timóteo, Pas-
tor Organizador.
43

Em 1 Timóteo 3, vemos as qualificações do


caráter para os Presbíteros. Como explicamos que nes-
te texto não existe distinção entre Presbíteros Regentes e
Docentes?
Esta pergunta surge de um erro em compreender
a natureza das Epístolas Pastorais. Lembremo-nos
quem era Timóteo e que estava fazendo. Timóteo
era um Pastor organizador, enviado por Paulo a por
as Igrejas em ordem. Vemos isto nos seguintes textos:
1ª Coríntios 4.17 – “Por esta causa, vos mandei Timóteo,
que é meu filho amado e fiel no Senhor, o qual vos lem-
brará os meus caminhos em Cristo Jesus, como, por toda
parte, ensino em cada igreja”.
1ª Tessalonicenses 3.2 – “e enviamos nosso irmão Ti-
móteo, ministro de Deus no evangelho de Cristo, pa-
ra, em benefício da vossa fé, confirmar-vos exortar-
vos”.
Observe estes pontos Chaves:
Timóteo era um Ministro.
É chamado “servo de Deus” em 1ª Tessalonicenses 3.2
44

Havia sido ordenado por um Presbitério em 1 Timóteo


4.14
Havia sido enviado por Paulo para “confirmar” na fé as
igrejas que Paulo havia deixado. 1 Coríntios 4.17.
Ele havia sido instruído para encontrar homes fiéis
capazes de ensinar a outros. 2ª Timóteo 4.3.
Ele tinha autoridade para ordenar Presbíteros. 1 Timóteo
5.22
A partir destes pontos deduzimos que as Epístolas
de Timóteo são instruções as um Pastor jovem sobre
como organizar uma igreja. No capítulo 3, Paulo dá a
Timóteo algumas qualificações do caráter para os Presbí-
teros. É possível, por tanto, que quando Paulo es-
creveu este capítulo, estivesse pensando principalmente
nos Presbíteros regentes.
Isto pode explicar o uso de “episcopado” no verso
1 em lugar de “mestre” ou “pastor”: “Se alguém anela
o episcopado, excelente obra almeja”. O termo “epis-
copado” aqui é “episkopos”, que significa o “o bispo”
ou supervisor. Supervisão é principalmente uma fun-
ção governamental.
45

Note também o uso de “apto para ensinar”5 no


verso 2. Um Presbítero Regente deve ser mais que “ap-
to para ensinar”. Ele deve ser um mestre, capaz de refu-
tar, repreender a seus oponentes e defender a sã doutri-
na com eficácia, como vemos em Tito 1.9. Isto requer
um bom manejo de argumentos e ferramentas didáti-
cas, o qual não é mencionado no capítulo 3. Porém, se
menciona em todas as partes nas epístolas, dirigidas
a Timóteo, um ministro ordenado.
Observe também que em 2ª Timóteo 2.2, Paulo diz
a Timóteo que encontre homens fiéis que possam ensi-
nar a outros. É improvável que Paulo se refira aos
Presbíteros Regentes nisto, se eles existiam.
Aparentemente Paulo estava instruindo a Timó-
teo como formar um conselho. Se assim o é, torna-se
algo verdadeiramente difícil tomar qualquer texto das car-
tas pastorais para defender a posição de um só oficio!

5
NT – filo,xenon didaktiko,n – filoxenon didaktikon – preparado para o
ensinar
46

2.4 – Quarta Evidência Neotestamentária - A Função de


“Discipular” do Pastor-Mestre. Em Efésios 4.11-16.
Neste texto, vemos tantos títulos e funções dos
ministros da Palavra. A sentença grande nos versículos
12-16 descreve os objetivos de seu ministério sobre to-
dos os cristãos. E estas são: equipar os cristãos para o
ministério, ensinar-lhes o conhecimento do Filho de Deus,
torná-los amadurecidos em Cristo, confirmá-los na sã
doutrina e em geral levá-los ao crescimento.
A palavra “discipular” resume tudo isto. Os meios
pelos quais eles realizam é por meio do ensino da
Palavra. Observe que o Presbítero Regente não é
mencionado neste texto. Se o fosse, teríamos uma
contradição porque nós não cremos que o ministério
de ensino é a função principal dos Presbíteros Regen-
tes.
Isto sugere uma distinção entre os dois ofí-
cios, a qual é uma diferença de ofício, mas bem que
uma mera coincidência de função; nos versos 10-12, ve-
mos que Cristo tem dado dons aos homens. Quais são
estes dons? São os homens do versículo 11 que Cristo
tem dada à igreja para levá-los a maturidade.
47

Isto não pode logicamente ser dito da mesma


forma de todos os oficiais da igreja. De outra maneira
todos nós seríamos mestres. Dunckerley expressa isto
com grande clareza:
Não é simplesmente que Ele dá a alguns
homens os dons para funcionar como
apóstolos, profetas, evangelistas, pastores
e mestres. É que os homens que são
apóstolos, profetas, evangelistas, pastores
e mestres são dados à igreja para mi-
nistrar a Palavra e equipar aos santos para
outras formas de ministério (Position Pa-
pers, Vol.5, p.484)

Quem deve ser discipulado? Todos os mem-


bros do corpo de Cristo, incluindo os Presbíteros Re-
gentes. Neste texto de Efésios, vemos que nada é ex-
cluído. A possessão de um título eclesiástico não exime
ninguém da congregação de ser discipulado.
Conclusão: A partir do texto de Efésios somente,
deduzimos uma distinção não somente de função,
mas também do oficio entre os Presbíteros.
48

2.5 – Quinta Evidência Neotestamentária - Mestres e


Administradores
1ª Coríntios 12.28.
Segundo 1ª Coríntios 12.28: “A uns estabeleceu
Deus na igreja, primeiramente, apóstolos; em segundo
lugar, profetas; em terceiro lugar, mestre; depois, ope-
radores de milagres; depois, dons de curar, socorros,
governos, variedade de línguas”. Paulo põe os oficiais e
dons em uma ordem específica, baseado na importância
do dom com respeito à edificação da igreja. De forma
alguma isto contradiz o conceito de paridade de voz e vo-
to nos tribunais da igreja. Paulo está falando sobre a edi-
ficação do corpo de Cristo, não da relação entre os ofici-
ais em termos de governo.
Observe que o terceiro ministério-dom na igreja
é o ser mestre. Dificilmente se poderia arguir que os
pastores não estão incluídos, posto que nós já tenha-
mos visto que o termo “pastor” está intimamente en-
laçado com “mestre” em Efésios 4.11, como um só oficio.
Seguindo 1ª Coríntios 12.28, mais abaixo nós lemos “Os
que administram”. Isto deve incluir o Presbítero Regente,
posto que a administração seja sua função. Por con-
49

seguinte, este texto sustenta uma distinção ente os dois


ofícios segundo a lista e a enumeração dos mesmos.
Nota importante: Usando este texto não se intenta
apoiar a noção Episcopal que o Presbítero Docente é
superior aos outros Presbíteros em autoridade gover-
namental. Ele não o é. Aqui tem como objetivo de-
monstrar a distinção, não inerente à superioridade pesso-
al. Podemos somente especular os motivos que Paulo
teve para colocar a lista desta forma. Talvez fosse por-
que o funcionamento correto dos outros dons deve estar
baseado na Palavra, ensinada de maneira sã.
Resumo das Evidências Bíblicas.
Tem sido demonstrado pelas Escrituras na seção
acima que existe em ambos os Testamentos uma ca-
tegoria de líderes espirituais para quem a Palavra de
Deus tem sido especialmente delegada, a fim de mi-
nistrá-la ao Povo de Deus. Posto que este é seu
chamado e ministério, no Antigo Testamento estes
são chamados Sacerdotes e profetas, e no Novo
Testamento, são chamados Pastores-Mestres. Efésios
4.11-18.
50
51

TERCEIRA PARTE

PERGUNTAS E RESPOSTAS GERAIS.


52

A função de discipulador do Pastor-Mestre, junto


com a sua função exclusiva de administrador da Pa-
lavra e dos Sacramentos. O torna superior em catego-
ria aos Presbíteros Regentes? Não.
Não se encontrará um só escritor presbiteriano
que assegure que estas funções tornem o Presbítero
Docente superior, em autoridade governamental.
53

Quando os escritores da PCA afirmam consis-


tentemente a exclusividade da função sacramental do
54

Presbítero Docente, são muito cuidadosos em assegu-


rar a paridade dos Presbíteros Regentes em termos
da administração da igreja.
Segundo o pensamento episcopal, a função de
discipulador automaticamente assume uma superiori-
dade em classes. Isto pode parecer natural para al-
gumas pessoas, porém é uma conclusão não racio-
nal. Por que a habilidade de ensinar, concederia a
uma pessoa, mais voz e voto que outra que não exerce
o ensino? Nenhum escritor da PCA assume uma supe-
rioridade governamental baseando-se na autoridade
para ministrar a Palavra e os Sacramentos.
Por conseguinte assegurar a autoridade espiritual
dos Presbíteros Docentes no que respeita a discipular,
pregar, ensinar ou administrar os sacramentos não é,
em nenhum sentido da palavra, uma afirmação Episco-
pal. Não há razão para assumir que reconhecer tal
autoridade deva necessariamente leva a uma forma de
hierarquismo.
Observe o diagrama abaixo:
55

Este diagrama representa o conceito de pari-


dade Governamental. Fixe e observe que os dois
oficios se sobrepõem. Juntos, goveram a congregacão,
porém não se governam um ao outro.
56

Agora veja o diagrama 3:


57

Este diagrama, notamos que os Presbíteros Re-


gentes são objetos do ministério dos Presbíteros Do-
centes porque eles também são membros da congre-
gação. Observe que os Presbíteros Docentes tem
esta relação com os Presbíteros Regentes, no devido
a uma superioridade em classe, mas porque os
Presbíteros Regentes são membros da Congregação.
58

REGENTES

MENTORIAR
59

O ministério dos Presbíteros Docentes pode ser


estorvado em prejuízo não só da congregação, mas dos
Presbíteros Regentes também. Isto acontece se os Pres-
bíteros Regentes se confundirem ou imanarem que o
conceito de paridade governamental significa que eles
não necessitam serem discipulados pelos Presbíteros
Docentes.
Está muito claro em certos textos que os Pres-
bíteros Regentes têm uma relação pastoral com a con-
gregação. Não apoia isso o ponto de vista de que são
iguais aos Presbíteros Docentes, e que também são
“Pastores”? Não.
Este é um erro lógico. A palavra “pastor”, a
qual significa “apascentador”é usada em Efésios 4.11
com o título de “pastor-mestre”. Então vemos em Atos
20.28 que a palavra “apascentar”é a forma verbal do
nome apascentador. Isto pareceria apoiar a opinião
acima mencionada.
Aqui aparece uma falácia. O mero fato de que
há sobreposição dentro das funções dos dois ofícios não
prova nada. Por exemplo: Pedro chamou a si mesmo de
60

Presbítero enquanto se dirigia aos Presbíteros em 1


Pedro 5.1. Contudo, Pedro era apóstolo. Devemos
concluir disto que os Presbíteros são todos Apósto-
los? Ou que não exista distinção entre o Apóstolo e o
Presbítero?
Qual é a autoridade escriturística pela qual a Con-
fissão de Fé de Westminster assegura que somente os
ministros ordenados podem administrar os sacramen-
tos?
Este é um daqueles pontos sobre os quais a
Confissão diz que uma “consequência necessá-
ria....deduzida das Escrituras”( Confissão de Fé de Wes-
tminster 1.6). Não existe nenhum texto ordenando
que somente os Presbíteros Docentes administrem os
sacramentos. Porém a natureza de seu ministério força a
esta dedução.
Notemos os protótipos do Sacerdote no Antigo
Testamento. A estes só foram dadas as funções com-
binadas de proclamar a Lei e administrar os sacrifí-
cios, os quais eram protótipos do ministério do Novo
Testamento, como o apóstolo Paulo mencionou em 1ª
61

Coríntios 9. Estas duas funções estão unidas insepara-


velmente. A administração da Lei significava também ad-
ministrar os sacrifícios.
Da mesma foram, para certos ofícios do Novo
Testamento é delegada a ministração da Palavra de
Deus ao povo. Porém, a mesma Palavra não pode ser
ministrada sem também administrar os sacramentos
porque os dois estão inseparavelmente unidos. A
conclusão é logicamente necessária.
Qual é o apoio espiritual que se baseia a PCA para
afirmar que os dois ofícios tem diferentes ordenações?
Temos aqui outra “consequência necessária[...], a sa-
ber uma situação em que nenhuma declaração existe
na Bíblia. Devemos proceder segundo o padrão total da
Escritura. Os sacerdotes no Antigo Testamento rece-
beram uma ordenação especial, distinta da dos profe-
tas e Anciãos. Em Números 8, vemos a prescrição pa-
ra a ordenação dos Sacerdotes.
62

Conclusão:
A continuidade de ambos os Testamentos demons-
tra que os dois ofícios sempre tem existido dentro de
uma classe de Presbítero: Presbíteros Docentes e Re-
gentes. Existe uma sobreposição de funções que ocor-
re dentro dos ofícios. Ambos tem autoridade governamen-
tal em comum, porém somente os Presbíteros Docentes
ministram a Palavra de Deus e os Sacramentos. Os
Presbíteros Docentes usam estas responsabilidades
particulares para cumprir seu rol de pastorar e disci-
pular o Povo de Deus.
63

A IGREJA SEGUNDO AS ESCRITURAS

J.C.RYLE
64

O conceito de igreja é básico para uma compreen-


são adequada do cristianismo. Se não for bíblico o fun-
damento sobre o qual se descansa a noção de igreja, fa-
cilmente se incorrerá, como assim tem demonstrado a
história do cristianismo, em certos erros doutrinários de
lamentáveis consequências. Justificada é, pois, nossa as-
serção de que, uma boa parte das diferenças que nos se-
param de Roma, se originam em uma noção distinta do
conceito de igreja. Como veremos adiante, as Escrituras
nos apresentam um conceito da Igreja sob diferentes as-
pectos. Estes aspectos, tomados unitariamente e em sua
vinculação própria, colocam de forma clara a natureza e o
caráter da Igreja de Jesus Cristo.
A Igreja Invisível e visível
Sob esta designação de visível e invisível não estamos
nos referindo a duas igrejas distintas. Cristo fundou uma
só Igreja; mas segundo os ensinamentos da Santa Pala-
vra, a Igreja exibe um caráter duplo: por um lado é invisí-
vel, a saber, ela escapa e vai muito além do que é sensí-
vel; por outro lado, a Igreja de Cristo se exterioriza em
agrupações e congregações visíveis ao olho humano. Se-
gundo um polemista católico romano Bossuet, a noção de
igreja invisível e visível é uma invenção protestante. Po-
rém, na realidade este conceito está baseado e tem um
fundamento na Palavra de Deus. Uma e outra vez os pro-
fetas do Antigo Testamento lembram ao povo judeu que,
o simples fato de pertencer ao Israel Visível, isto não era
prova suficiente de que eram membros do Israel de Deus
– do Israel espiritual, invisível. Dentro do Israel Visível os
profetas fazem distinção e nos falam de um remanescente
espiritual (Esdras 9.8; Isaías 1.9; 20.21; Jeremias 23.3;
65

Ezequiel 6.8). O profeta Elias acreditava que toda a nação


de Israel havia apostatado, e que somente ele havia se
mantido nos caminhos do Deus verdadeiro; mas o Senhor
lhe revelou que, todavia ainda restavam sete mil israelitas
que não haviam dobrado seus joelhos a Baal; estes além
de serem cidadãos do Israel terrestre, eram também cida-
dãos do Israel espiritual, invisível. A mesma ideia encon-
tramos no apóstolo Paulo quando disse: “Porque não é
judeu que o é apenas exteriormente, nem é circuncisão a
que é somente da carne. Porém judeu é aquele que o é
interiormente, a circuncisão, a que é do coração, no espí-
rito, não segundo a letra, e cujo louvor não procede dos
homens, mas de Deus”(Romanos 2.28-29). O próprio Se-
nhor Jesus se referia a esta dupla distinção entre os israe-
litas quando contestou os fariseus que se orgulhavam de
ser filhos de Abraão ( João 8.37,39,44 ). Havia, pois, ju-
deus que pertencia m a Israel como nação visível, em
consequência, eram filhos de Abraão segundo a carne, os
quais, além do mais, pertenciam ao Israel de Deus – espi-
ritual e invisível. Porém, por outro lado, a maioria do povo
judeu, ainda que sendo cidadãos de Israel, e descenden-
tes de Abraão, não pertenciam ao Israel de Deus. A Igreja
de Cristo se identifica com o Israel de Deus, e nos oferece
também um aspecto visível, e outro invisível. Os verdadei-
ros filhos de Deus, além de ter sua membresia em alguma
igreja visível, formam parte do corpo místico de Cristo que
é a Igreja Invisível. Os hipócritas e os falsos convertidos,
e muitos outros que de uma maneira externa professam a
fé evangélica, e se ajuntam ao número dos crentes, só
externamente são membros da Igreja de Cristo, e unica-
mente no aspecto visível da mesma. Estes são os que no
66

dia do juízo dirão: “... Senhor, Senhor! Porventura, não


temos profetizado em teu nome, e em teu nome não ex-
pelimos demônios, e em teu nome não fizemos muitos
milagres?” Porém aos tais ele dirá: “Nunca vos conheci.
Apartai-vos de mim, os que praticais a iniquidade”. (Ma-
teus 7.22-23).
A Igreja Invisível
O conjunto de todos os crentes, na terra e no céu, redimi-
dos com o sangue precioso de Cristo, e unidos espiritual-
mente a Ele, constituem a Igreja Invisível. Chama-se invi-
sível por sua natureza espiritual – que escapa e vai muito
mais além dos sentidos; e também por não se poder de-
terminar estreitamente, a partir de um ponto de vista hu-
mano, quem são aqueles que pertencem a mesma. A uni-
ão dos crentes com Cristo é uma união mística. Os laços
com os quais o Espírito Santo estabelece essa união são
invisíveis. A totalidade dos que formam a Igreja Invisível
não cai dentro da percepção do olho humano; muitos de
seus membros não podem ser já vistos, pois estão no
céu; eles são os que constituem a hoste vitoriosa da cha-
mada Igreja Triunfante. Muitos outros membros da Igreja
Invisível estão espalhados pela terra; alguns talvez perdi-
dos pelos desertos, pelos montes, pelas covas, e pelas
cavernas da terra – desprezados e ignorados pelos ho-
mens, porém, escolhidos e amados por Cristo. Ah! Não
pode a visão do homem abarcar o glorioso panorama do
Corpo de Cristo: A Igreja Invisível.
Esta é a Igreja da qual o mesmo Senhor disse: “E as por-
tas do inferno não prevalecerão contra ela”. Pelo teste-
munho da história sabemos que muitas igrejas locais que
se afastaram da fé e tem caído em completa apostasia, as
67

portas destas fecharam. Mas a promessa do Senhor Je-


sus não se refere diretamente a congregações locais visí-
veis, e sim a Igreja Invisível – corpo dos redimidos que
pertencem a Cristo, sem distinção de tempo nem lugar.
A Igreja Invisível mantém uma íntima relação com Cristo.
No Novo Testamento esta relação é expressa sob diver-
sas analogias. Em sua epístola aos Efésios, Paulo desig-
na a Igreja como a Esposa de Cristo. Porém, de todas as
analogias, a que mais expressa vivamente a união mística
entre Cristo e a sua Igreja, é aquela do corpo humano e a
cabeça. Daí Paulo recorrer a ela tantas vezes, e que em
suas epístolas desenvolve tão amplamente a relação es-
piritual entre Cristo – a Cabeça, e a Igreja – o Corpo. Esta
união mística não se estabelece por meio de uma hierar-
quia eclesiástica visível, mas é fruto da maravilhosa obra
do Espírito Santo: “Porque, assim como o corpo é um e
tem muitos membros, e todos os membros, sendo muitos,
constituem um só corpo, assim com respeito a Cristo.
Pois, em um só Espírito, todos nós fomos batizados em
um corpo, quer judeus, quer gregos, quer escravos, quer
livres. E a todos nós foi dado beber de um só Espírito”.(1
Coríntios 12.12-13).
Cristo é a cabeça deste corpo místico que é a Igreja: “E é
a cabeça do corpo que é a Igreja”. (Veja Efésios 1.22-23;
4.4,16; 5.23,30). Vemos nestes versículos, que o corpo
recebe vida da cabeça; assim como os ramos vida da vi-
deira, do mesmo modo a Igreja recebe vida de Cristo; da
mesma maneira como os membros do corpo obedecem a
cabeça, assim a igreja obedece a Cristo; da mesma forma
como a união entre o corpo e a cabeça é uma união vital,
assim também a Igreja está vitalmente unida a Cristo. As
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Escrituras uma e outra vez coloca em relevo o caráter es-


piritual da Igreja de Cristo; os outros aspectos da Igreja
fundamentam-se neste caráter espiritual e invisível. A
mente carnal é cega a esta natureza espiritual da Igreja, e
a concebe segundo os esquemas de uma organização
eclesiástica visível.
A Igreja Visível
Sob este aspecto a Igreja compreende a todos aqueles
que ante os olhos do mundo professam a fé cristã, e ob-
servam os mandamentos e ordenanças promulgadas por
Cristo. Assim como a Igreja Invisível está constituída uni-
camente por redimidos por Cristo, a Igreja Visível, além
dos crentes, inclui homens e mulheres que de uma manei-
ra externa professam a fé evangélica. Tanto a Bíblia como
as experiências provam que no seio da Igreja Visível tem
se ocultado homens não salvos. Em certas ocasiões nem
ainda os apóstolos podiam impedi-los, é somente Deus
que pode ler os corações.
Na Palavra de Deus encontramos repedidas alusões a
este aspecto visível da Igreja. Nos Atos dos Apóstolos o
evangelista Lucas se refere a ela com as seguintes: “E o
Senhor acrescentava dia-a-dia à Igreja os que iam sendo
salvos”. (Atos 2.47). Escrevendo aos coríntios o apóstolo
fez menção da provisão ministerial e governativa com a
que Cristo tem dotado a Igreja Visível: “E a uns pôs Deus
na Igreja, primeiramente apóstolos, depois profetas, em
terceiro lugar doutores e mestres; dons de curar, miseri-
córdias, governos, variedades de línguas”. (1 Coríntios
12.28). Os ofícios e ordenanças que são detalhados aqui
implicam em uma estrutura social externa e visível.
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Temos dito que a Igreja em seu aspecto visível não está


formada de uma membresia única – tal como acontece
com a Igreja Invisível constituída por todos os redimidos -,
mas que abriga em sua comunhão, além dos crentes,
grande número de pessoas externamente professa a fé
evangélica mas que na realidade não são salvos. Este
fato se aprecia muito bem em algumas parábolas de nos-
so Senhor. Sob o título “reino dos céus” o Senhor se refe-
re a Igreja Visível, e assim, nos diz em Mateus 13.47-49:
“O reino dos céus é semelhante a uma rede, que é lança-
da no mar, colhe de todas as sortes de peixes. E quando
está cheia, os pescadores arrastam-na para a praia e, as-
sentados, escolhem os bons para os cestos e os ruins
deitam fora”. A separação entre os bons e os maus terá
lugar no fim do mundo. A mesma ideia de coexistência de
pessoas salvas e não salvas na igreja visível se nos apre-
senta na parábola daquele homem que semeia a boa se-
mente no campo, mas “dormindo seus guardas, veio o
seu inimigo, e semeou joio no meio do trigo”. No tempo da
colheita, a saber, no fim do mundo, se fará separação en-
tre o joio e o trigo – entre os crentes e os hipócritas -. A
relação que existe entre a videira e os ramos, e que o
próprio Senhor Jesus nos menciona, põe ainda mais em
relevo o que já vimos, dizendo: “Eu sou a videira verda-
deira, e meu Pai é o lavrador. Todo ramo que, estando em
mim, não dar fruto, ele o corta; e todo o que dá fruto ele o
limpa, para que produza mais fruto ainda”.
“Eu sou a videira, vós os ramos... o que em mim não esti-
ver será lançado fora como mau ramo” João 15. O verda-
deiro crente, qual ramos unidos à videira, mantém uma
união espiritual com Cristo e, em consequência disso,
70

produzem frutos. Mas os hipócritas, aqueles que não são


salvos, e que, no entanto, filiam-se a membresia da Igreja
Visível, por manter somente uma relação externa com
Cristo, semelhante aos ramos que não estão unidos a vi-
deira, serão lançados fora.
A Igreja Invisível mantém, com respeito a seus membros,
uma relação íntima e espiritual com Cristo; enquanto que
a Igreja, em seu aspecto visível, mantém uma relação ex-
terna. No caso dos crentes verdadeiros, esta relação ex-
terna é expressão visível daquela íntima relação espiritual
que lhes une a Cristo. A Igreja Invisível está constituída,
unicamente, pelos redimidos; enquanto que a Igreja Visí-
vel está formada por aqueles que externa e visivelmente
confessam a Cristo, e pode incluir, além dos crentes ver-
dadeiros, pessoas não são salvas.
Estes dois aspectos – visível e invisível -, sob os quais se
nos apresenta a Igreja nas Escrituras, são básicos para
uma compreensão bíblica da natureza da Igreja. Eles são,
além do mais, os que colocam de forma bastante clara os
erros da concepção romanista de Igreja. A Igreja Católica
Romana atribui à Igreja Visível grande números das ca-
racterísticas que, segundo as Escrituras, só podem ser
aplicados à Igreja Invisível.
A Igreja Católica e Local
A Igreja Local
Com frequência o termo igreja é usado nas Escrituras pa-
ra designar um grupo de crentes em um determinado lu-
gar. Ainda que seja no caso de que sejam dois ou três
crentes que se reúnem para orar e adorar ao Senhor, o
Novo Testamento emprega o termo igreja[1] para desig-
nar os tais. O mesmo acontece com grupos de crentes
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que, todavia, não foram organizados sob a supervisão de


presbíteros e pastores. Em atos dos Apóstolos é-nos dito
que Paulo e Barnabé “constituíram presbíteros em cada
uma das igrejas” Atos 14.23. O qual demonstra que, ainda
antes de ter presbíteros, tais grupos já se constituíam
verdadeiras igrejas. O apóstolo Paulo reconhece como
verdadeira Igreja o grupo de crentes que se reúnem em
uma casa particular, em suas epístolas temos vários
exemplos: “Saudai a Priscila e Áquila... do mesmo modo a
igreja de sua casa” Romanos 16.3,5. “Saudai aos irmãos
que estão em Laudicéia, e a Ninfas, e a Igreja que está
em sua casa” Colossenses 4.16 (veja-se também 1 Corin-
tios 16.19; Filemon 23).
A Igreja Católica ou Universal
Temos visto que segundo o Novo Testamento, ainda que
seja um pequeno grupo de crentes que se reúnem em
uma casa particular constitui uma igreja. Agora bem, a
igreja local, por menor que seja, mantém uma relação im-
portantíssima coma as outras igrejas cristãs. O crente, por
cima de sua igreja local, confessa a sua crença em uma
Igreja Universal: “Creio na Igreja Católica”. Como deve-
mos entender esta confissão? Que relação há entre a
congregação local e a Igreja Universal? Em que consiste
a universalidade da Igreja? A universalidade ou catolici-
dade da Igreja é dupla: Concerne a Igreja em seu aspecto
visível e invisível[2].
Em seu aspecto invisível
A igreja é católica pelo fato de não está restringida a ne-
nhuma limitação de lugar e tempo.[3] Na dispensação ju-
daica, a igreja não era católica, mas local; seu centro es-
tava em Jerusalém; ali tinha o seu templo, seu altar, seu
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sacerdócio. Porém, na nova dispensação a Igreja desbor-


da toda a limitação local. “A hora vem, e agora é, quando
os verdadeiros adoradores adorarão ao Pai em espírito e
em verdade”. João 4.23. Em qualquer lugar da terra onde
se encontra um crente, ali há um verdadeiro Templo do
Senhor; ali pode Deus ser adorado em Espírito e em ver-
dade. Desaparece o sacerdócio de Arão com a vinda do
Sumo Sacerdote que, havendo feito a propiciação pelos
pecados do povo, agora vive para sempre interceder por
eles. As barreiras da dispensação mosaica foram derru-
badas, e a plenitude do Espírito Santo se derrama sobre a
Igreja. É o Espírito Santo quem estabelece a universali-
dade da Igreja. A ação unificadora do Espírito Santo faz
desaparecer toda diferença de raça, língua e distância. A
comunhão de um mesmo Espírito faz com que os crentes
de todos os lugares e tempos experimentem uma maravi-
lhosa unidade espiritual em Cristo. É em virtude, pois, dos
laços de um mesmo Espírito, e da participação de uma
vida espiritual comum em Cristo, que a Igreja local se re-
laciona com o conjunto de todas as igrejas cristãs.
Em seu aspecto visível
A igreja é católica por quanto todos os seus membros pro-
fessam a mesma fé em Cristo. Assim como a Igreja Invi-
sível a universalidade vem determinada pela participação
de um mesmo Espírito, no caso da Igreja Visível a catoli-
cidade vem determinada pela profissão de uma mesma
fé. Por cima das diferenças de língua, raça, e denomina-
ção, as igrejas evangélicas confessam a mesma fé em
Cristo Jesus.
Os evangélicos são acusados a vontade de estarem divi-
didos na doutrina, e desta forma não exibem a catolicida-
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de da fé; porém, os que assim nos combatem não param


para considerar que o amplo horizonte doutrinário que,
por cima das diferenças denominacionais, une as igrejas
evangélicas. Se compararmos os credos e confissões
doutrinárias das denominações evangélicas mais impor-
tantes, se observará uma crença comum nas doutrinas
essenciais da fé cristã. Todas proclamam a autoridade na
Bíblia, a Trindade, a Criação, a Queda do homem, a di-
vindade de Cristo, a Salvação através da Obra de Cristo,
a Justificação pela Fé somente, o Juízo Final, a Realidade
do Céu e do Inferno, a Segunda Vinda de Cristo, etc. Os
desacordos e diferenças entre as igrejas evangélicas es-
tão inseridos naquilo que não impedem a salvação de pe-
cadores. Algumas destas diferenças devem-se a causas
históricas, outras nasceram como resultado de distintas
interpretações e de certas profecias escatológicas; outras
provêm de um triste apego às tradições humanas; porém,
mui possivelmente, a maior parte das diferenças dentro
do campo evangélico se devem ao pecado.
O crente evangélico não deve se contentar pensando que
no que se refere ao coração da mensagem evangélica há
universalidade de fé entre as igrejas evangélicas, mas,
antes de tudo, deve orar e fazer tudo o que estiver ao seu
alcance para que a Igreja Visível, ainda que seja nos te-
mas e nos detalhes mais insignificantes possa revelar a
unidade e catolicidade.
_________________________
Fonte: Revista Tu Reino, número 6 de maio a dezembro
de 1994, paginas 27 a 31.
Tradução: João Ricardo Ferreira de França. Formado em
Teologia pelo Seminário Presbiteriano do Norte (SPN).
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Leciona no Seminário Presbiteriano fundamentalista do


Brasil.
_________________________
Notas:
[1] O termo Igreja, no grego significa literalmente “os
chamados para fora”, são chamados do mundo para se-
rem consagrados a Deus (NT).
[2] Na realidade o catolicismo romano não nega este as-
pecto de invisibilidade da Igreja de Cristo, mas o suprime
e faz depender do aspecto visível. “Primeiro está a Igreja
Visível, e logo vem a Invisível”. Desta crença surgem as
tristes conclusões da Teologia Católica com respeito a
natureza da Igreja. Ao aspecto visível Roma aplica notas
e características que são próprias do aspecto invisível da
Igreja.
[3] Este tem sido o erro da Igreja Católica Romana, pois, a
Igreja não pode ser católica e ao mesmo tempo Romana,
tal postulação é uma contradição de discurso – elimina o
conceito de catolicidade da Igreja de Cristo. Isso porque a
Igreja Romana está limitada, em sua nomenclatura, a uma
localidade (NT)

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