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Corpos hibridos Laurence Loupe Tradugao: Gastovo Cir a de Cunningham ov (Que DIFERENGA 114 enere uma obra coreogs uum “grande” mestre, como Me Trisha Brown, ¢ as produgies contemporineas, so retudo na Franca? Nos primeiros, no ha apenas a permanente, m ‘onstruido & luz dos prinespios eriadores, Hoje em rncia corporal consticutiva, Sem Avia, esa seu io € comum ao conjunco das pricas artistas, mas cla pode eambém se revelar petigosa para o bailati- no, pois se engaja como sujeito em sua prévica.! Hid algum cempo, falavaese de mesticagem: mis ruta de fontesculeurais, interpenetragto das formas cedos géneros actsticos eee, Um fenémeno que, apa- rentemente, dizia respeito também a danga, pela miscara cada vez mais corrente do teatro com a dan- «a, por exemplo, pelasreciclagens de estéticas anti ‘28s ou extra-européias... Com certeza, no hé nada particularmente problemético em relaglo a isso, contanto que a “mistur além de referén- cias, Um espeticulo, por exemplo, pode associae mo- vimentos herdados de Cunningham, priticas mar- ciaise imagens de Kantor (ese foi o caso da cortente Jniciada por Frangois Verret). Pouco importa que a estérica sob esses projecos, geralmence pontuais, seja ‘mpura", para tetomar a categoria exposta por Guy Scerperca, Mas uma reserva se impie:essas misturas fancionam apenas na superficie, Elasafetam unica- ‘mente 0 mostico (ou seria o marketing?) que servird para montar o espeticulo ~ seu sistema de produ- ‘lo, por assin rs so ilus6rias na Na relidade, todas essas mise medida em que 0 corpo do bailarino no for tocado. Como se sabe, Wo basta articular um gesto empres- tado da danga indiana ou da danca barzoca, ou com- binar uma corporeidade neoclissica com as deses- cabilizagées @ is Limén (como, por exemplo, no tra- balho de Forsythe), p fico se torne mestigo. Sabemos que este diltimo iio aque um discurso coreogri- se limita apenas 2 enunciagio formal de um “voca- buldcio” gestual, mas inclui uma filosofia do corpo, tum trabalho sobre 0 ronus co naverdade, er objeto de moragbes e de misturas, — Isto pode levar uma vide Os eruzamentos de inteicaou vtis geragBes, estados de corpo no como quando os bailati- produziram, de faro, nos de ritmos de jazz uma polissemia, mas sim uma estranha maneira de se deslizar entre combinam s pulse ccrporeldads pothcsert doe comPoreade apoios africanos. Desse Grenson de pan primer con eden dquo a ie isnt nipulagio dos corpos, de acordo com critérios erefe- réncias vardveis, pode produzir resultados preocu- antes que wlerapa de longe, a estética inofen- siva da mistura de cédigos:sejao caso de peemane- cermos no mimético,fazendo da danga uma espécie deaurofiguragio em que nada de interessante sdvird; seja0 caso de ulerapassarmos esse aspecto puramen- mento, Nescetiltimo, consciéncia do sujeico se frag menca edispersa as referéncias de elaboracio do cam- po corporal. Podemos abservar entio, como €0 caso hhoje em dia, que nfo se trata de uma mestigagem, mas sim de ums hibridagio, PeRrINNctA DA HBRUDAGAO A idéia de hibridacio € muito mais percurbadora ‘que a de mestigagem. Nesta Gltima, a miscura de sangue ou de rags engendrasujitos mistos, no mo- dlificados em soa estrutura, mas enriquecidos pela lacumulagio de diferentes herangas genéticas ou cul turais. Além disso, a mestigagem evoca uma idéia de universalidade de acordo com uma abercuta cul tural de "bom-tom’,favorecida também pelas cot rentes globalizantes aeravessadas pela reflexes atu- sis sobre a alceridade, © percencimento s grupos identitérios ¢ 0 didlogo evencual entre esses grupos (© hibrido escapa dessa tagarelice intercomunitiria tando em lugar nenhum — ele nio € nada. Ele & freqlientemente, totalmente isolado € atipico, € 0 resultado de uma combinagio ti AA ibridacio fanciona muito ict eacidencal ais do lado da per- dla, age na nucleagio dos genes, a0 subverté-los © desloc f85; mas encre “espécies” incompativeis, dando ori- Jos. Ela pode crit uma relagio ni inet a criaturas aberrantes, destacadas as margens ddas comunidades vivas. A bibridagio evoca as figu- ras polimorfasimaginadas por Philippe Decouflé que participam, ao mesmo tempo, do mundo mineral, vegetal, enimal e-maquinal. O surgimento de eais morfologias compostas talvez io seja destituido de significagio no que diz respeito 20 mundo da danga em geral. A hibridagio €, hoje em dia, 0 destino do corpo que danga, uum resultado tanco das exigencias da criacio coreogrifica, como da claboragio de sua r6pria formacio, A elaboracio das zonas reconhect- veis da experiéncia corporal, a construcio do sujeito através de uma determinada pritica corporal torna- se, enti, quase impossivel A banca De avToR Fsa situagio cem origens histricas. Houve, alvez 1o inicio dos anos 80, 0 que chamames atualmente de perda das linhagens. Esse linhagens foram, até enti, formadas através de uma cortente,ligando de smaneira continua a elaboragio de um estado de cor- o.com 0 conjunto de principios estécicos ¢filos6f cos de um grande criador (nfo apenas criador de es petéculos, mas também criador de corpos). Foi as sim com todos os grandes mestres de danga da modemidade, de Mary Wigman a Cunningham, passando por Graham, Humphrey, Limén etc. ( bailarino se construia de maneita coerente © pertinence através de uma pritica, uma visio, em aque ele podia encontrar a conscelacSo de referenciais simbélicos dos quais o seu corpo eta poreador, Des- de mais ou menos as anos 80, nasceu o que a dang ing-escritora-progeamadora Dena David (1 seu excelente arcigo 0 Coro Eclésio, denomina de ‘um corpo hibrido — aquele oriundo de formagies diversas, acolhendo em si elementos dispares, por ‘vezescontraditérios, em que Ie sejam dadas as fer- ramencas necessias& leitura de sua propria diver- sidade, Dena David v2, nfo sem razio, uma conexio centre 0 nascimento desse "corpo eclético” ea perda cdo ideal da Gesambunstverk (obra de arte coal), ci- tando Richard Wagner, em que a coeréncia dos m tetiais reunidos, inclusive a constituiglo dos corpos, patecia ir por si s6, Perda essa em proveito do que tla chama de “a estéxica da era do sarlie” (citando Rose Lee Goldberg), na qual a pulverizasio dos da- dos produz, por precipitagio inesperada, obras pon cuais, destivuidas de qualquer permanéocia em sua referencia, Dena David vé ainda uma conseqiéncia da emer séncia dessa “danga de aucores": a reunio de ele ‘menos diversos que podem servit& elaboragio de tama fantasia imagindria pessoal, sem que a identifi casio consciente dos materia e a alianca corporal, sensfvel eideol6gica dos atores que os pem em jogo, "A “danga de autor", promovida por numerosos cri cicos contemporineos (em particular por Leonetta Bentivoglio), coma emprestad da critica cinemaro- arifica um conceito sedutor, e que parece dar conta da versatilidade(seio da liberdade) da produsio das _geragdesatuais na Europa. Eno, por que cemer essa perda das linhagens, esa dispersio das grandes cor- rentes consttutivas da modernidade do corpo, se n6s ppassamos a uma ourra era, na qual a multiplicidade clas propostasisoladas dos em torno de um estado de corpo comumn? Onde o cexige que estejamos uni- builarino, longe de se formar através de uma téenica que 0 constitua, que the dé o que Louis Calaferce (1.984), que sabia das coisas sobre o corpo, chamou de ‘nossa parce visfvel da eternidade”, se contenca em saquest aqui cali algum saesirfaire operacional ebern Integrado & eseécica do momento? ‘Mathieu Doze (sid), antigo parceio de Dominique Bagouee, fala a respeito de como a técnica e a for ‘magio em danga foram substitufdos por uma nova “culeura coreogeifica”,cujo corpo que denca atual- mente é portador dos estigmas cineilances sem que a sua subseincia imagi aletada, Hé de fato um “corpo eclético"? Sim, seas condigies favorsveis ao ecletismo esciverem presen- tes, como a possbilidade de se escolher encre op- 8es diferentes, e de se passear descompromissa- cia seja verdadeiramence damente de uma a outra, Na medida do possivel em que esse "passeio” possa acontecer no espitico — sem incorre em uma “castragio mental”, de que fala Bernard Nodl (1992), isto é, na incapacidade de se construit como set pensante — € no corpo, isso €ainda mais delicado, Sua telagio com o mun- dose eferua através de uma gama bastante comple xa de mediagdes, ¢ a aquisiglo consciente de suas ferramentas simbélicas se faz através de uma lenta impregnasso "epidérmica”, em uma longa apren- dizagem. E todo o erabalho de exploragio em dan- ‘a tende a iluminar a articulagio dessas mediagbes, desbloqueando seu livze fancionamento afinando seu potencialfilos6fico e poético, ‘Conpos pesaransuiiaDos De fato, 0 corpo eclético nit escolhe nada, ele € es colhido. Um sistema de desnudamento de seus pr6- pios elementos constieutivos, de confisco das pri ‘cas e dos saberes(sobrecudo em relago 3 herana da modernidade), parece estar bem instituldo. Além disso, ese sistema submete o bailarino, sem os re- cursos de autodefesa, lei do mercado, eal como fun- cionou na esperacularizacio ao extremo, caratet tica dos anos 80, ‘A danga francesa se inscreveu particularmente nes- se sistema. Inicialmente, pelo que Jean Pomares (1995) chama de “a negagio da heranga": 2 rejeigio, no inicio dos anos 80, tanto das conquistas da ‘modernidade ao longo do séeulo XX, como de seus modes de transmissio, parece ter sustentado 0 $0 nho de uma danga sem nenhuma relago com as len- ‘a8 ¢ profundas conguistas do corpo moderna sobre 1 ideologia e a histéria, o sonho de uma danga sem ‘origens. Da vermos nos bailatinos franceses, ¢ em seus espeticulor a dace sensagio de eliberar de ma ‘gencalogia que se rornara pesada demais, Liberagio com a genealogia autéctone, inicialmence, pela ‘ocultagio das rafzes locais da modernidade na Fran 2, € pela busca, como em um “romance familias Gegundo a expres ‘um outro “totem” no qual poderfamos nos reconhe: cer (Cunningham, por exemplo), sem no encanto compartllhar verdadeiramente seus pressupostos € sua aventura (a trajet6ria de Cunningham, com suas rupeutis radicais, suas exigéncias, suas eransgressSes, sua descoberta arrscada de um corpo singular, a0 mesmo tempo dissociado e continuo, se mede evi- dde Freud em Totem ¢ Tab), de cdentemente por uma outra escala, e persence a um momento do século que no € mais 0 nosso). Esse esquecimento sistemético dos recursos e das referéncias da modernidade no aconteceu, como ain- da odiz Pomarés, sem provocar um inevitivel pro- cesso compensatério, As feramentas perdidas, ou ances acumuladas freqiientemente sem nenhuma identificagio com a idéia de corporeidade que os fun cdamentava, deram lugar meios de substieuigio, Das fo emprego direto de figuras teatrais ou narracivas de corpos escolhidos puramente por sua aparéncia as vezes, por critétios morfol6gicos, c= indo na ideologia da pure aparicio, como se 0 corpo jf no fosse um siscema de visio e de pensamento scravés do qual se estabelecem, pouco a poUuco, as escolhas dos modos de relagio com os outros. Em seu interessante estudo recenceme Danse Contemporaine et Thiétralité (1995) ressalea que “muitos coredgrafos parecem buscar, cada ver mais, morfologias singularesecrat proveito de uma infrateacralidade inscriea na corporeidade de cada um de seus beilarinos..",an- ces de evocar “corpos desaparelhados", ede cita, por analogia, a anélise feita por Julia Kristeva de “uma ‘chora’, uma totalidade no expressiva consticuida por essas pulses e por esses stst, em uma mobili- dade tio movimentada quanco regulamencada”. de faco, nessa semiotizacio extrema que 0 corpo hi- brido, © as escolhas que ele representa, economiza no trabalho do corpo sobre ele mesmo, até as cama das em que 0 “eu”, como produtor simbdlico © de sentido, escapa da autoridade dos modelos de cor- pos em uma semancica preestabelecida. (© nosso propésito aqui nio é lamencar a perda ds referencias da modernidade na danga, mas ob- servar o que se delinea nesse desaparelhamento, 0% calvez nesse“hiperaparelhamento", dos corpos, Per- cebe-se, desde 0 comeco da década de 90, uma rea- ‘fo extremamence forte da danga contra esse deslo- camento nada inocente do ser do bailarino. Daniel Larrieu ¢ Laurent Barré publicaram, no Centro Co- eogrifico Nacional de Tours, um conjunto de tex tos extremamente revelador sobre as biografia er rantes dos jovens bailarinos que procuram 0 seu lu {gar ou, pelo menos, um refiigio onde possam “o- mae corpo" (Febvre 1995). Alm disso, percebe-se, aparcir criadores, a comesar pelo prdprio Larrieu 0 que confer, hoje em dia, 3 obra a0 pense- mento de Dominique Bagouet um papel tio cmblemético: ode et fundado, n0s anos 80, um dos ros locais de erabalho onde a coeréncia do gesto se associava 8 construc de uma incerioridade, esca- pando fregiientemente dos ricétios de produsio da época, Dafa carga simbélica que marca a retomada recente de suas obras por jovens balarinos, 20s quais foram transmitidos io apenas 0 “texto” coreogrif co da obra, mas também os pré corporais dos quais o texto se origina. Isso combi- fequisitos sensiveis na, hoje, com a volta do interesse pelos “grandes sntas € pela busca de priticas fandadoras do corpo contemporineo, Combina it reresse pelos arcisas que foram cestemunhas desses perfodos, tanto nas programagées como nos locas de formagio, como o Creuset (eriado por uma asso- ciagio de bailarinos em Lyon alguns meses aris, se assemelha, em parte, com os objetivos do grupo Movement Research, em Nova York, mais antigo © mais engajado policamence na reivindicagio para © bailarino de um corpo auténomo, independence dos modos vigentes de representagio e das leis do mercado do espeticulo). ‘Mas hé uma outra vertente, mais inceessante cal- vez, que consiste em confiar nas promessas da incerte- 2a cna vontade de accitar a histéria, on antes esse lugar ahistérico onde o corpo no se inscreve, em jo- _2ar com as feridas de um corpo que nfo se constitui a partir de uma consciéncia continua de si Essa corren- te espera aleangar, através da plualidade das tramas, os depéitos Nuruances retidos pelos fiers desse co po improvével. Os ceuzamentos de estados de corpo ro produziram, de fato, uma polissemia, mas sim uma estranha maneira de se deslizar ence compocei- clades incompatives, Um exernplo disso €o lindo ta- balho de Pascale Houbin, que empeega no seu gestual 1 Kgua de sinais dos surdos, com a0 quais ela eraba- Iho. Essa nica utilizagio remete a um fixe de refe- rncias maleiplas, a comecat por ese siléncio no qual ‘ogestoencontta a ruiz de sua emergéncia ("Dangar — indagou Rilke Existem, porém, outros elementos mais obscuros, é calae a esséncia de um grit?”) como a origem dessa Iingua na caridade humanisca do Abade de Epée, que forjou, no fim do século XVII, esse idioma dos surdos a partir dos cédigos gestusis da retérica barsoca, Esses gestos, de ume forga elementar ¢ simples (mas, imemoriais), con- trastam com o tratamento do eixo da dancarina em tuma espiral, com essa expressividade que a danga contemporinea confere a0 torso em si, perance, € quase contra, o trabalho fino e ripido das extremi- dades, Como se a modernidade do corpo no pudes- se mais fazer sentido por si mesma, e que um outro sistema de signos corpora, no entanto situado em sua ancitese semitica (articulada no verbal), preci~ se a0 mesmo tempo trait ereparar um geseo que 0 se pode reconbiecer a nio ser através desse des- vio. Esse trabalho perturbador e cheio de sutileza revela, sem énfase inti, estranheza, a diversidade quase que irreconciligvel do nascimento dos gestos, ‘em um universo coreogrifico que no conhece, ou no reconhece mais, as suas fonts. Seria sem sentido estabelecer uma hierarquia en tre esas correntes atuais que vio, 20 mesmo tempo, em diregio & busca dos Fandamentos tedricos e p= ticos, podendo dar de novo vida a corpos conscien- os, € ao set oposto: uma certa poética ralmente sem referEncias, atenua e quase que dissol- ve sua presenga e seu gesto. Longe de conjurar esas fragilidades talvezseja tempo de pensé-ls, de deci- frar o sentido que elas escondem, Bisuocaara DAVID, Dena. Le Corps lata la: Les vende du Corps ‘Montreal: Jee, 1993. CCALAFERTE, Louis Syvnvon, acs: Deno, 1984 DOZE, Mathieu. LOsi! Denne, Centro Nacional Coeo- _grifico de Tous, nimero 2, i NOEL, Bernard, Le Caaton Mental dices Ulyssefin deste, 1992. POMARES, Jeun. Dele formation 3 ‘airs de Ia DRAC-PACA, 1995, FEBVRE, Michale. Dan Contenpain et Thitvabit ai Chin, 1995. ebton, Positions, George Balanchine: A danga como oficio Sofia Cavalcante A perinicho pe Técwtca No venaeTE do Webster ini- cia 0 artigo Notas Marginais sobre Danga de 1951, fem que 0 coredgrafo George Balanchine discorse sobre vrios aspectos da sua concep de danga, entre 10s quais, além da eécnica, 0 seu processo de criagio coreogrifica, e as relagdes danca/miisica, danca/tea- «roe dancalcenirio. De acordo com o verbere, écni- ca € .."0 métado ou os detalhes de procedimento essenciais para a comperéncia na execucio de qual- guer arte” (Balanchine 1992:35-43). Em danga, a ‘técnica do bailarino “consiste na combinacio de ele- smentos de forsa muscular, adquirida com seu com= pleto controle e coordenacio”, que sio basicamente ore veloc fs elementos responséveis tanto pelo vi dade na movimentagio como pela suavidade, desen- voleura ea graca O inicio abrupto com a definigo de técnica do di- cionétio preludia a predomingncia do tema no cexto,

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