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BALDAN, É. L. . Devida investigação legal como derivação do devido processo legal e como garantia fundamental do imputado. In: KHALED JR, Salah Hassan. (Org.).
Sistema penal e poder punitivo, estudos em homenagem ao Prof Aury Lopes Jr. 1ed.Florianópolis: Empório do Direito, 2014, v. 1, p. 156-184.
1. Introdução
2. “Investigação preliminar”
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Com a honrosa exceção de ser aqui mencionada que é a imprescindível obra Investigação Preliminar no
Processo Penal, por Aury Lopes Júnior e Ricardo Jacobsen Gloeckner (São Paulo, Saraiva, 6ª edição, 2014),
inspiradora deste escrito.
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2.1. Conceito
2.2. Natureza
2.3. Finalidade
Ocorre que a doutrina (3) vem, de longa data e majoritariamente, indicando uma
vinculação teleológica quase absoluta entre investigação e acusação, ao enunciar que o escopo
das apurações preliminares é fornecer ao órgão acusador os elementos necessários e
suficientes à propositura da ação penal, sendo assim o “Parquet” o destinatário exclusivo do
inquérito policial ou quaisquer peças de informação relativas à autoria e materialidade de
infrações penais. É em doutrina quase uniforme a assertiva de que “a peça investigatória tem
uma única e exclusiva função: elucidar um crime, em sua materialidade e autoria, fornecendo
elementos para que o [...] o titular da ação penal” (ARANHA : 1999, 225), o Ministério
Público nas ações públicas e o ofendido nas privadas ofereçam a acusação iniciadora da ação
penal”.
Mas não é só. Também na hipótese de ação penal pública, poderá o particular
exercê-la, haja vista não ser o Ministério Público seu titular “privativo” (malgrado a dicção do
CRFB, 129, I) e, sim, “preferencial”. Nessa hipótese, novamente, será o particular a servir-se
do resultado das apurações investigatórias para propositura da ação penal de iniciativa privada
subsidiária da pública, exercida pelo indivíduo de maneira subsidiária e em decorrência de
omissão indevida do Ministério Público que, não tendo oferecido denúncia no prazo legal,
tampouco requereu produção de diligências complementares indispensáveis àquela
providência (CPP, 16) ou pleiteou o arquivamento do feito apuratório pelo entendimento da
inexistência de justa causa para a acusação (CPP, 28) .
2
Exposição de motivos do Decreto-Lei 3.689, de 3 de outubro de 1941, subscrito pelo então Ministro da Justiça
Francisco Campos, sendo Presidente da República Getúlio Vargas.
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Nesse sentido, ainda : MARQUES e FREITAS (2012: 32), OLIVEIRA (2009: 9), TOURINHO FILHO
(1986:163); MALCHES (1999: 97) .
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Por outro lado, desde que juri novit curia, também o Juiz de Direito deve formar
sua opinio delicti. Por isso que o inquérito policial não esgota sua utilidade unicamente na
formação do convencimento do Ministério Público, haja vista que os elementos de convicção
enfeixados nos autos investigatórios podem, até, fundamentar uma decisão do Magistrado
pela rejeição da denúncia ofertada pelo Promotor de Justiça, discordando da “opinio delicti”
deste e, assim, impedindo-o de exercer a ação penal.
Aos que entendem, num sistema acusatório puro, inadmissível essa ação do Juiz de
Direito, é de ser lembrada a disposição, também constitucional, da inafastabilidade da
apreciação, pelo Poder Judiciário, de qualquer situação onde ocorra lesão, potencial ou
efetiva, de direito [e ninguém negará que relativamente ao inquérito policial inexistam riscos
tanto a direitos do investigado (de não ser acusado indevidamente ou de não ter seus bens e
direitos restringidos ilicitamente) quanto ao interesse da sociedade (em assistir à promoção da
ação penal pelo MP que desse múnus público não pode arbitrariamente dispor)].
Com a reforma operada pela Lei 11.719, de 20-06-2008, passou o art. 397, do
Código de Processo Penal a prever que o Juiz, após a fase de resposta do imputado (tratada no
art. 396-A), deverá absolver sumariamente o acusado se verificar a existência manifesta de
causa conducente à inexistência de tipicidade, exclusão de ilicitude ou isenção de
culpabilidade (exceto por inimputabilidade) (4). A doutrina vem entendendo a importância da
novel medida, vez que, anteriormente, por ausência de previsão legal e em obediência à
forma, via-se o Juiz obrigado a dar prosseguimento ao feito, até final desfecho, mesmo tendo
se deparado, por ocasião do recebimento da denúncia, com circunstâncias que viabilizariam
pôr termo à ação penal (SILVA e FREITAS, 2012).
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Essa reforma, em boa hora, incorporou disciplina análoga encontradiça no Código de Processo Civil, pois o art.
267 do Código de Processo Civil já previa hipóteses em que se extingue o processo, sem resolução de mérito.
Entretanto, não cremos apropriada a importação de categorias estranhas ao processo penal (no passo da
decantada teoria geral do processo) haja vista que, nas situações enunciadas no art. 397 do Código de Processo
Penal, diversamente ao que ocorre no estatuto processual civil, deverá o Magistrado, obrigatoriamente,
pronunciar-se sobre o mérito pois, para além das questões jurídicas subjacentes, há que se revolver elementos de
convicção que, também no plano fático, indiquem um caso de atipicidade da conduta, ou uma causa de exclusão
de antijuridicidade do fato típico, ou uma situação que isente de culpabilidade o autor do fato típico e ilícito.
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Considerando que, para esse decreto absolutório, “é necessário que exista prova
que conduza a um juízo de certeza acerca da presença dessas hipóteses” (SANTOS: 2008,
326), e que tal decisão sumária será, necessariamente, proferida antes da fase de instrução,
infere-se que deverá o Magistrado lastrear seu livre convencimento a partir dos elementos de
convicção contidos, exclusivamente, nos autos do procedimento investigatório preliminar (em
regra o inquérito policial).
Daí a importância de se pugnar, sempre mais, por uma devida investigação ilegal,
a qual não implica em (e mesmo não se compadece com) uma coleta seletiva de “provas”.
Resta evidente que muitos elementos de convicção servirão a subsidiar os esforços defensivos
para reconhecimento de uma dada circunstância fática excludente de ilicitude, dirimente,
atenuante ou minorante da pena. Previsível que tais elementos seriam menos abundantes,
portanto conduzindo o processo a uma dialética mais limitada e menos garantista, se a pessoa
do investigante coincidisse com a do próprio acusador (comprometido psicologicamente com
a extensão e o êxito de sua acusação). (5)
Não se desconhece, ainda, que no caso de inquérito policial iniciado por auto de
prisão em flagrante delito “por sua natureza cautelar e instrumentária, é atualmente a melhor
prova de autoria, uma vez que a maioria das condenações advém de inquéritos iniciados por
esta valiosa peça” (SÃO PAULO : 2007, 44).
2.4. Protagonismo
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Causa-nos espanto e desalento que a doutrina brasileira contemporânea não tenha, ainda, procedido à releitura
das questões relacionadas às novas finalidades do inquérito policial em decorrência dessa relevante alteração
legal, preferindo-se o decantar de clichês extraídos de avelhantados compêndios (ora empobrecidos porque, no
conteúdo, indevidamente simplificados, e, na forma, reduzidos à escrita vulgar de bosquejos dogmáticos).
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efetivamente seus direitos preservados e, por outro lado, em quais torna-se ele mero objeto de
inclementes mecanismos de devassa.
possa tanto quanto seu acusador, menos admissível é que apenas neste se vistam as togas de
inquisidor. Se inalcançável o estado ideal de “lanças do mesmo tamanho” em mãos do
investigante e do investigado, igualmente há de ser refutada a hipótese de ver-se a arma
empunhada exclusivamente por um deles. Constrói-se uma investigação essencialmente
antiética (violadora da moral) porque antitética ao formato de um devido processo legal
(transgressora de uma garantia individual).
Para uma posição intermediária – que parece a mais aceita ou, ao menos, praticada
no Brasil atualmente – “será de bom alvitre que em algumas situações excepcionais, [o
Ministério Público] leve a efeito também suas investigações, que serão conjugadas com
aquelas realizadas pela autoridade legitimada a presidir o inquérito policial” (GRECO: 86).
Como o exercício do poder penal é aquele do qual resulta a maior ingerência que
um governo pode exercer sobre seus cidadãos, a máxima republicana da divisão de funções
deve se traduzir na separação entre órgãos estatais distintos para promover as atividades de
pedir e de decidir (MAGARIÑOS, 2012, p. 69-70).
Não se trata, aqui, por óbvio, de insurgir-se contra o lídimo exercício da polícia
judiciária militar pelas autoridades policiais militares incumbidas da presidência dos
inquéritos policiais militares, IPMs, em perfeita conformidade com o que dispõem o Código
de Processo Penal Militar e a Constituição Federal. O objeto de análise liga-se à investigação
de infrações penais não-militares empreendida por órgãos militares e paramilitares de
segurança, inclusive o homicídio de civil por militar em serviço, cuja competência, deslocada
da Justiça Militar para a Justiça comum, implicou, por consequência, na transferência da
atribuição investigatória para a Polícia Civil ou Polícia Federal, como defendemos
(BALDAN, 2006b).
6
ADIn 1.570, Rel. Min. Maurício Correa, 12-02-2004, onde se decidiu que “o art. 3º da Lei 9.034/95
efetivamente cria procedimento excepcional, não contemplado na sistemática processual penal contemporânea,
dado que permite ao juiz colher pessoalmente as provas que poderão servir, mais tarde, como fundamento fático-
jurídico de sua própria decisão”. Essa decisão foi em sentido contrário àquela que a mesma Corte Suprema havia
exarado na ADI 1517, proposta pela representação de classe dos Delegados de Polícia quando se entendeu que
“as alegações de ofensas aos princípios da ampla defesa e do devido processo legal não guardavam consistência
suficiente para justificar a suspensão liminar da norma”.
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o uso das Forças Armadas é geralmente inapropriado para manter a ordem interna, sendo a
polícia o mais adequado corpo por várias razões legais e operacionais. Também JONATHAN
(2010) pontua que, uma vez que os policiais são servidores públicos, são eles usualmente
vistos como expressão do público e não como uma agência estranha contra a comunidade.
Uma terceira opção, apontada por SQUIRES (2010) é a composição mista das forças de
contraterrorismo (polícia e Forças Armadas). Verdade é que nas democracias ocidentais o
combate ao terrorismo vem se tornando uma importante função das polícias, com a
incorporação de novos conhecimentos e técnicas (WEISBURD: 2010).
Pela Lei nº 397, de 07-12-2000, que alterou os arts. 327 e 391 CPP italiano, foi
introduzido modelo avançadíssimo de investigação pelo defensor do imputado, sendo-lhe
conferidos vários poderes no âmbito da “indagine difensive”: a) promover o colóquio não
documentado, consistente na entrevista pessoal e informal a potenciais testemunhas; b)
receber ou colher (sem a presença do imputado, da vítima ou de outras partes privadas)
declaração escrita de pessoas, com a cominação de crime de falso testemunho (excluídas as
que, já ouvidas no inquérito ou processo, estão proibidas de depor perante o defensor); c)
requerer laudos periciais ou, então, produzi-los através de assistentes técnicos, d) efetuar
vistoria em coisas ou inspecionar lugares públicos ou privados (exceto aqueles abrangidos
pela expressão "casa"), em caso de dissenso do particular requerendo expedição de
autorização judicial; e) solicitar documentos em poder da Administração Pública, deles
extraindo cópias, e, finalmente, f) formar o instrumento para documentação dessas atividades
visando ao seu posterior encarte em qualquer estágio do inquérito ou processo. Tal tarefa, não
adstrita a ritos ou formas, pode ser desenvolvida em qualquer fase ou grau da persecução
penal ou, ainda, em caráter meramente preventivo, isto é, diante da possibilidade de
instauração de eventual procedimento criminal.
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FERRAJOLI (2002): 1) nenhum culpa sem processo; 2) nenhum processo sem acusação; 3)
nenhuma acusação sem prova e 4) nenhuma prova sem defesa.
Eis as perguntas:
Lei e não ato administrativo editado por quem não é detentor da legitimidade
popular democrática, sagrada pelo voto, para elaborar as normas à qual a sociedade será
obediente.
Desenvolvida, em regra, pela polícia judiciária essa fase é, em regra, presidida pela
figura do Delegado de Polícia que, como dirigente das polícias civis (CRFB, 144, § 4º),
integrante necessário de carreira jurídica, teve poderes reforçados pela Lei 12.830/13, recém
promulgada, a qual lhe conferiu uma independência funcional e uma inamovibilidade
mitigadas. No modelo brasileiro, não se subordinando a polícia judiciária ao Ministério
Público (titular da ação penal pública), comum tem sido os atritos institucionais que levaram
o “Parquet” ao desenvolvimento de investigações criminais próprias, muitas vezes com
auxílio da Polícia Militar ou de guardas civis municipais.
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Superior Tribunal de Justiça, 6ª Turma, Rel. Min. Pedro Acioli, DJU, 18-04-94, p. 8.525.
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uma etapa intermédia ou crítica, a qual vem sendo entendida como aquela onde se examina,
em duas etapas, a preparação do caso penal: o encerramento da investigação e o trâmite de
elevação a Juízo. No magistério de DÍAZ e ROSA (2013: 195) “decide-se a respeito do
mérito da investigação promovida na instrução preparatória para submeter o assunto ao Juízo,
analisando-se também o relativo ao princípio da legalidade processual e as decisões adotadas
pelo Ministério Público”.
ROXIN (2003) leciona que a importância principal dessa fase reside na sua
“função de controle negativo”, isto é, discutindo-se a admissibilidade e a necessidade de uma
persecução penal posterior, pretende-se proporcionar outra possibilidade de evitar a instalação
do processo judicial, com todos os seus efeitos discriminatórios em desfavor do imputado.
3.2.1. Legalidade
cláusula do devido processo legal, estabelece que “aos litigantes em processo judicial ou
administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla devesa com
os meios e recursos a La inerentes”. Portanto, a exigência de “competência” (8) deverá
aplicar-se ao Juiz que julga ou preside a instrução, bem como à Autoridade Policial (ou outra
pessoa ou órgão expressamente autorizados por lei) responsável pela direção da etapa da
investigação preliminar. Sintetizando: para que haja o devido processo legal (judicial ou
administrativo) há de ser competente a autoridade (judicial ou administrativa) que o presida.
3.2.3. Contraditório
valeria a ação da polícia judiciária caso não fosse guardado o devido sigilo, motivo pelo qual
conclui que o princípio da publicidade, dominante no processo, não se afina com o inquérito
policial.
A Constituição da República, em seu art. 5º, LV, que “aos litigantes, em processo
judicial ou administrativo, e aos acusados em geral, serão assegurados o contraditório e ampla
defesa, com os meios e recursos a ela inerentes”.
Muitos defendem a não incidência desse princípio ao inquérito policial por não se
configurar ele como verdadeiro “processo” e por nele inexistir a figura do “acusado”
Ficamos com LOPES (2009: 93) para afirmar que “trata-se de um direito
fundamental que não deve sofrer interpretação restritiva, mormente por estar diante de uma
fase repleta de significação e em que pode ser restringida a liberdade de locomoção do
investigado a qualquer momento”. Também nesse sentido a tomada de posição de AMBOS,
para quem, como consequência típica do modelo processual contraditório, advém a obrigação
de se garantir ao imputado uma informação completa da imputação e das provas de carga,
como esforço para se equilibrar a superioridade e a vantagem investigadora do Ministério
Público (2011).
3.2.4. Defesa
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Também CARNELUTTI (200: 197) adotava a ideia ampliada de imputado, desdobrando-o em duas figuras: o
imputado próprio e o imputado impróprio ou quase-imputado (este identificando a pessoa que ainda não
paciente de uma pretensão penal formal fosse paciente de uma privação de liberdade em qualquer fase do
procedimento penal).
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3.2.5. Publicidade
A cláusula de sigilo (CPP, 20), que pode ser decretada pela própria Autoridade
Policial ou pelo Juiz de Direito, antes que ferramenta de eficiência da investigação, é
providência que configura, em última instância, prestígio à presunção constitucional da não-
culpabilidade e da intimidade da pessoa investigada (nos termos da CRFB, X, V, XI e XIII e
LX e do CPP 792, § 1º). Decreta-se o sigilo não para lançar trevas sobre os caminhos da
investigação e, assim, impedir o imputado de esquadrinhá-lo à cata de sua defesa. Baixa-se o
segredo para que os holofotes da imprensa (nem sempre cônscia) não avassalem direitos
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Obra com abuso de autoridade aquele que veda o acesso do defensor aos autos do
inquérito policial porque assim agindo atenta, violenta e desabridamente, contra o exercício
legal da advocacia criminal. Pior se os elementos assim esburnidos ao defensor são, logo após
franqueados para a saciedade da grande e irresponsável mídia.
Mesmo nos ordenamentos (v.g. espanhol) que primam pelo caráter secreto do
procedimento investigatório, não se desconhece tratar-se ele de natureza “mista
administrativo-processual” (RODRÍGUEZ: 2009). Essa característica de um procedimento
administrativo atípico faz com que jamais possa ele – à semelhança do que ocorre aos demais
feitos administrativos como regra – tramitar exclusivamente sob os auspícios do Poder
Executivo, motivo por que há a interveniência judicial e ministerial necessária, bem como a
atuação potencial da defesa.
3.2.7. Imparcialidade
Unilateralidade tem a ver com parcialidade que não se coaduna com a isenção
esperada do incumbido por lei de investigar a conduta do indivíduo que, por regra
constitucional, deve ser, no plano material e instrumental, presumido não-culpado e nessa
condição tratado. Os maiores erros e abusos na etapa da investigação verificam-se quando o
que investiga alia-se psicologicamente à busca do êxito do acusador, promovendo a coleta
seletiva dos elementos de convicção e deixando de considerar relevante o que não sirva à
condenação mais severa possível.
ademais, no âmbito do próprio inquérito policial porque nos seus autos, assim judicializados,
devidamente processadas.
Como bem anota DUCLERC (2006) embora não deva o Magistrado ser chamado a
atuar no inquérito policial em funções típicas de investigação, deve ele funcionar como
garante dos direitos fundamentais da pessoa investigada, em especial decidindo sobre sua
situação de prisão ou liberdade e, ainda, apreciando eventuais medidas constritivas de
produção de prova.
No caso mais notório, o Superior Tribunal de Justiça (11) anulou todas as provas
produzidas nos autos investigatórios e, mais importante, a ação penal, “ab ovo”, que daqueles
se originara, haja vista a demonstração que haviam atuado na investigação policial, também,
agentes de inteligência e servidor aposentado.
3.2.12. Não-auto-incriminação
Nesse tema de se anotar que, após as alterações introduzidas pela Lei 10.792/03 no
art. 186 do CPP (ocasionando revogação tácita do art. 198 do mesmo diploma), reina
consenso na doutrina o fato de se constituir o interrogatório verdadeiro meio de defesa do
imputado, sendo as garantias do interrogatório judicial expressamente estendidas ao
interrogatório realizado na fase da investigação preliminar (CPP, 6º, V).
ou judicial. Se pode calar ou mentir, logicamente não estará obrigado a comparecer perante a
Autoridade Policial ou Judicial.
4. Conclusão
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Inicialmente através do art. 7º, § 4º, da Lei nº 8.072/90 para os casos de seqüestro praticado por quadrilha,
dispositivo este revogado tacitamente pela Lei nº 9.269/96 que introduziu alterações no próprio art. 159, CPB;
posteriormente pela Lei nº 9.034/95 que previu redução de pena para colaboração na hipótese de crimes
praticados em “organização criminosa”; ainda em 1995, a Lei nº 9.080 acresceu disposições premiais para os
delitos contra o sistema financeiro (Lei nº 7.492/96) e a ordem tributária (Lei nº 8.137/90); também a Lei nº
9.613/98 passou a disciplinar sanções positivas nos delitos relacionados à reciclagem de capitais; de forma mais
ampla, a Lei nº 9.807/99 tornou possível a extinção da punibilidade para os casos de extorsão mediante seqüestro
e a redução de pena para quaisquer outros casos, por isso entendida como mais ampla regulamentação legal hoje
existente sobre direito premial; mais recentemente a infeliz Lei nº 10.409/02 contemplou, com sobrestamento do
processo e mesmo a isenção total ou parcial de pena, a colaboração no contraste ao tráfico de entorpecentes, nos
§§ 2º e 3º de seu artigo 32 cujo caput foi vetado e propiciou a curiosa figura da “mula sem cabeça” normativa.
Mais recentemente o instituto foi avivado com a promulgação da Lei 12.850/13 que disciplina os meios de
investigação de processos nas hipóteses de crime organizado e terrorismo.
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