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Vanice Regina Lírio do Valle

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Políticas públicas,
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1
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1
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A Davi, cuja fé inabalável de que eu seja capaz
1, defazer aquilo a que me proponha só é superada
V181p Va!le,Vanice Regina Lúio do

Políticas públicas, direitos fundamentais e controle judicial/ Vanice Regina Lúio


por aquela - de que compartilhamos - de que
do Valle; prefácio de Marcus Juruena Villela Souto. Belo Horizonte: Fórum, 2009. se isso acontece, é porque o Senhor Jesus assim o
186 p. permite, e para tanto me capacita;
ISBN 978-85-7700-253-5 À Nadja, porque passados 20 anos, tenho por
1. Direitos fundamentais. 2. Direitos humanos. 3- Políticas públicas. 1. Título. II. claro que sem minha particular Esperança, a
Souto, Marcus Juruena V-illela.
vida não valeria a penal
CDD: 341.272
CDU:342.7

Informação bibliogr;ífica 'aette frvro: �ô;iforirié a NBR 6023:2002 da Associação Brasileira de Nor- --" --·-
mas Técnicas (ABNT):

VALLE, Vanice Regina Lúio do. Po/(ticas públicas, direitos fundamentais e controle judicial.
Belo Horizonte: Fórum, 2009. 186 p. ISBN 978-85-7700-253-5
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Sumário
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Lista de Abreviaturas ................................................................................................. 9
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Apresentação ............................................................................................................ 15

J Introdução................................................................................................................. 19
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:! Capítulo 1

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Políticas Públicas
1.1 Políticas públicas e elementos teóricos originários de
outros campos do conhecimento ................................................................. 33
1.1.1 A contribuição original da escola americana: políticas públicas
como ciência de práticas da democracia
� 1.1.2 Políticas públicas e as múltiplas dimensões do tempo
no agir estatal................................................................................................44
J 1.2 Constitucionalização de políticas públicas no Brasil
como opção de estruturação do agir do poder ........................................... 50
,, 1.2.1 Antecedentes históricos e prática política da
f constitucionalização das políticas públicas
1.2.2 Constitucionalização de políticas públicas e mudança
de paradigma quanto ao papel do Estado................................................... 58
1.2.3 Constituição como sede de heterovínculações
traçadas às políticas públicas

Capítulo 2
O encontro das políticas públicas com o direito
2.1 Inclusão das políticas públicas na agenda de
reflexão do direito admínistrativo ......................... ,......................................69
2.2 Políticas públicas constitucionalizadas e o reforço a
características imperativas do agir estatal
2.2.1 Planejamento
2.2.2 Eficiência.......................................................................................................78
2.3 Dupla funcionalidade da juridicização das políticas
públicas: orientação interna do agir do poder, vetor de
controle externo e social
2.3.1 Processo deliberativo democrático como sede de
auto-vinculações traçadas às políticas públicas...........................................85
2.4 Dever constitucional de enunciação de políticas públicas ......................... 89

.
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3.1
de pólíticàs-públiêas ...,.·.;., ...-... ·::: :-�.'.)�?j�};;;Ji��:rtf�t�)'i)".'t�;�tti.t.:,
Juàicialízação das políticas públicas ........................................................... 95
3.2 Objeções às potencialidades de controle jurisdicional
das políticas públicas.................................. ,.................................................99
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3.2 Controle de políticas públicas por intermédio do
orçamento: uma aproximação ainda deficiente da matéria ...................... 107
Lista de Abreviaturas
.

3.2.1 Inaptidão do orçamento público: desenho

1
e implementação de política pública ......................................................... 109
3.2.2 Inaptidão do orçamento público para contemplar o resultado ................ 113
3.3 Constitucionalização das políticas públicas e os
i:
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Tribunais Superiores: panorama dos precedentes já cunhados ................. 117
s .

1
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3 3.1 Precedentes, no STF, de controle jurisdicional de
políticas públicas de educação .................................................................. 120
3.3.2 Precedentes, no STF, de controle jurisdicional de
poláicas públicas de saúde ........................................................................ 125 ADPF - Argüição de Descumprimento de Preceito Fundamental
3.3.2.1 Pronúncias envolvendo o direito fundamental à CF - Constituição Federal
saúde na sua matriz coletiva de acendimento ........................................... 126
3.3.2.2 Pronúncias envolvendo o direito fundamental à
DJ - Diário de Justiça
·'.\ ECA - Estatuto da Criança e do Adolescente
3.3.3
saúde na sua matriz individual de atendimento ........................................ 134
Algumas observações possíveis a partir do í LDO - Lei de Diretrizes Orçamentárias

conjunto já estabelecido de precedentes................................................... 137 Min. - Ministro
f PGR - Procuradoria Geral da República
Capítulo 4 j PSV - Proposta de Súmula Vinculante
Caminhos de aprimoramento do controle -�
judicial de políticas públicas 141
Rel. - Relator
4.1 Novas perspectivas para o exercício da função Red. p/ Ac. - Redator para o Acórdão
jurisdicional concretizadora da dimensão objetiva dos REsp - Recurso Especial
direitos fundamentais 141 RExt - Recurso Extraordinário
4.2 Controle de políticas públicas, dimensões objetiva
SL - Suspensão de liminar
e subjetiva de direitos fundamentais ......................................................... 143
4.3 Política pública inexistente: caminho de STA - Suspensão de tutela antecipada
superação do déficit de expertise.............................................................. 149 STF - Supremo Tribunal Federal
4.4 Política pública existente: exigibilidade jurisdicional S1J - Superior Tribunal de Justiça
de auto-vinculação da Administração ........................................................ 156 SUS - Sistema Único de Saúde
4.5 Política pública existente e novas escolhas públicas:
TRF - Tribunal Regional Federal
Judiciário como catalisador das mudanças de agenda .............................. 159
UFPR - Universidade Federal do Paraná
Conclusão 165 UTis - Unidades de Tratamento Intensivo

Referências.............................................................................................................. 169

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! Prefácio
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i Vanice Regina Lírio do Valle brinda a comunidade jurídica
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com mais uma bela obra no âmbito de sua notória especialização
no campo do Direito Público.
Em outras oportunidades, a autora já discorreu, como
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conclusão de seu Mestrado em Direito sobre A construção áe
uma garantia constitucional: compreensão da Suprema Corte
quanto ao Mandado de Injunção; como tese de doutoramento,
defendeu o tema Sindicar a omissão legislativa: real desafio à
harmonia entre os poderes.
Além dessas consagradas obras, a autora ainda enfrentou
o tema da Lei de Responsabilidade Fiscal, em duas obras, a
primeira delas, em parceria com Aricia Fernandes Correia e
com E.P. Flammarion, sob o título Despesa de Pessoal: a chave
da gestão fiscal responsável - teoria e prática e a outra, em
produção individual denominada Parcerias Público-Privadas
e Responsabilidade Fiscal. Isso sem falar em diversos artigos
e conferências nas revistas e eventos mais conceituados pelos
estudiosos, valendo citar, por sua pertinência ao tema aqui
tratado: "Constitucionalização das políticas públicas e seus
reflexos no controle", "Direito fundamental à boa administração,
políticas públicas eficientes e a prevenção do desgoverno",
"Dever constitucional de enunciação de políticas públicas e
autovinculação: caminhos possíveis de controle jurisdicional". Mais
recentemente, coordenou, comJoséRibas Vieira,.obra coletiva sob
o tema Ativismo jurisdicional e o Supremo Tribunal Federal:
laboratório de análise jurisprudencial do STF.
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vinculada a uma linha de pesquisas, voltada para o tema das
políticas públicas.
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Políticas públicas, direitos fundamentais e �ontrole judicial


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r Agora, a autora emprega sua experiência como jurista,
! Claro que é motivo de enorme alegria e honra receber a
como Procuradora do Município, como Secretária de Estado,
como Secretária Municipal, como Professora de Direito e como
J,t missão de apresentar esta valiosa obra e sua conhecida autora.
Isto porque, há mais de doze anos, desenvolvi o tema dos
Pesquisadora, para conciliar toda essa vivência na exploração, aspectos jurídicos do planejamento econômico, como a base
com maior profundidade, do instigante, porém tormentoso, tema para a fixação das políticas públicas e, portanto, como um dos
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do "controle" sobre as políticas públicas. i instrumentos que poderiam nortear o controle jurisdicional.
Assume tal missão com absoluta precisão de métodos, 1 Agora, ao ver lima amiga e colega de longa data dar o passo
com erudição, mas sem perder o compromisso com a didática
j seguinte, contextualizando o tema em obra mais ampla e
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inerente ao magistério, de modo a possibilitar a compreensão e -�
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robusta, sinto o acolhimento desses passos iniciais. Recebo esta
aprendizado do leitor, assim como um debate em alto nível. missão de prefaciador com honra e gratidão pelo longo tempo
de convivência profissional e acadêmica.
Para tanto, discorre sobre a interação do tema das políticas J
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públicas com os outros campos do conhecimento, cuidando .· f Todavia, essa amizade e admiração não podem prejudicar,
de sua aproximação com o Direito, para, então, adentrar na -� em nada, a imparcialidade e a seriedade dos elogios, tanto à obra
espinhosa polêmica que envolve a participação do Poder quanto à autora, o que se confirmará com a indispensável leitura.
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Judiciário no controle das 1políticas públicas, trazendo, ao lado de ;-[!

sua visão crítica, uma criteriosa ana1ise dos precedentes judiciais, Marcos Juruena Villela Souto
para, então, finalizar com uma visão prospectiva, apresentando
caminhos de aprimoramento desse controle jurisdicional.
Cumpridos, pois, com o habitual brilhantismo, os passos
fundamentais para o tratamento de tema tão novo e cheio de
indagações, mas que representa o rompimento de uma barreira
que engessava a democracia. Afinal, se políticas voltadas ao
interesse geral da sociedade não pudessem ser controladas por um
agente externo àquele que diretamente as formula e implementa,
de nada adiantaria falar em Estado Democrático de Direito.
Obras como a presente, ainda raras, dão um gigante ;:<-:""··
passo na evolução do Direito, como ciência e como instrumento
de trabalho na defesa do cidadão, porque dão o embasamento
doutrinário necessário para a provocação do controle contra as
omissões e abusos na gestão da coisa pública e no processo de
tomada de decisões pelos corpos políticos, até então herméticos
ao controle jurisdicional, amparados numa ultrapassada visão
acerca do princípio da separação de funções do Estado.
Mais que isso, · trata-se êle verdadeira contribuição aos
Magistrados, que se vêem amparados metodologicamente
para proferirem decisões sobre temas que, até então, lhe eram
sonegados.
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J �Apresentação
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Misteriosos são os caminhos que levam à construção de uma


1 relação entre o autor e seu tema, mas fato é que se essa relação
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se edifica à base de intensa curiosidade, ela tende a se estender
por um bom período de tempo. Nesse sentido, materializa o
presente trabalho, o já extenso convívio que venho travando
com a matéria das políticas públicas, e sua interface com a
função adi:r.Jnistrativa.
Se, na parcela de minha vida profissional dedicada às
funções executivas, pude ver no mundo real o que seja essa
relação entre Administração e políticas públicas, foi na etapa
dedicada aos estudos acadêmicos que pude refletir, de forma
mais ordenada, sobre a prioridade que esse tema deveria merecer
no campo do direito, notadamente a partir dos deveres de agir
postos ao Estado decorrentes da dimensão objetiva dos direitos
fundamentais. Confirmou a impressão de prioridade, a crescente
afirmação jurisdicional de que pudessem ser políticas públicas
objeto de controle - sem que nessa assertiva se identifique
sequer uma compreensão muito dara do que seja esse objeto que
se apresenta à sindicância.
As primeiras idéias no campo da recepção e sentido a ser
conferido pelo direito às políticas públicas foram traçadas em texto
datado de 2004- e desde então, a matéria não mais me abandonou,
recebendo, a cada momento, as provocações intelectuais de
qualificados interlocutores que a vida teve a delicadeza de me
oferecer. Assim, da afirmação de Diogo de Figueiredo Moreira
.� - Neto de que seja o resultado o elemento de legitimação do agir -
administrativo, à firme convicção de Marcos Juruena Vilela Souto
de que também as promessas eleitorais devam subsidiar quadros
...

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Políticas públicas, direitos fundamenta.is e controle judicial


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Vanice Regina lúio do VaUe 1


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normativos do agir estatal, tudo me reconduzia à reflexão no $
·J idéias, o Professor Josué Mastrodi - amigo que tem permitido à
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tema das políticas públicas - e por isso a recorrência no assunto ·1 proximidade intelectual superar a distância física.
indicada no Prefácio. ·i
Um registro especial ao Professor Diogo de Figueiredo
,j
O que aqui se faz nada mais é do que conferir orgafücidade a
esses já 5 anos de convívio com o tema, com ênfase no necessário
1 Moreira Neto, pela generosidade no apontamento dos novos
desafios que o Direito Administrativo nos propõe. Com ele venho
•]
traço de interdisciplinaridade que essa reflexão há de conter; tudo aprendendo sobre direito - sempre - mas também sobre
sem perder de vista a dimensão aplicativa de um conhecimento criatividade, curiosidade permanente e culto à leitura e reflexão,
já consolidado em outras áreas do conhecimento, e que o direito, ·1 . tudo entremeado por bom vinho.
teimosamente, insiste em desconhecer. Uma nova etapa de estudos se conclui sob o favor de Deus
Se foi a curiosidade e a perplexidade que aproximaram i - e por isso, o registro final é de gratidão a Ele. Só quem tem o
autor e tema, nem por isso deve esperar o leitor restem superadas J privilégio de uma relação de intimidade com Deus sabe o sentido
i
ao final da leitura, uma coisa ou outra. A proposta desse trabalho f de afirmar: Deus cuida de mim na sombra das Suas asas.
nada mais é do que sistematizar as conclusões de uma etapa, tão i.
somente como mera provocação a que se prossiga na reflexão
- agora, com o benefício ainda de novos olhares e críticas.
Finalizar uma etapa, todavia, pressupõe igualmente o
registro de gratidão àqueles que dela participaram - e esse é um
exercício que, como os temas de que se ocupa o estudioso, vai se !
l
revestindo de crescente complexidade. Isso porque as trilhas da í
vida acadêmica consolidam relações que, superando as barreiras \
do tempo, do espaço e mesmo das inclinações ideológicas, i
inspiram as reflexões, ainda que não se compartilhe diretamente
o mesmo objeto de pesquisa.
Nessa perspectiva, não posso deixar de registrar minha
gratidão ao Professor José Ribas Vieira, com quem ainda convivo
em grupo de pesquisa, para minha sorte e crescimento intelectual.
Professor, sempre juntos, não vamos nos dispersar!
Reitero meu registro - permanente e renovadamente
merecido - à equipe de Documentação e Biblioteca da PGM,
que vive diutumamente a afirmação de que informação é tesouro
que se divide sem perda.
Já no campci especúico da cogitação que se desenvolve
nessa obra, impõe-se consignar o agradecimento a Marcos Juruena
Vilela Sçmto, que não só dividiu suas próprias cogitações no tema,
como também sempre me exigiu um olhar voltado à dimensão
prática, ao que se pudesse fazer com o conhecimento que se
vinha construindo. Também contribuiu para o aprimoramento das

!

Introdução
l
·;

A observação do Estado Constitucional de Direito em


funcionamento1 mostrou-se um importante elemento catalisador
do desenvolvimento teórico não só do sentido material de um
Texto Magno, mas, sobretudo, dos mecanismos pelos quais
esse mesmo conteúdo possa encontrar, no viver constituição,
a sua concretização. Afinal, desde a advertência clássica de
Lassale2 se tem por certo o desafio consistente no distanciamento
entre a enunciação textual de um Diploma Fundamental, e sua
transposição para o mundo da vida.
É a aplicação da Carta de Princípios e os conhecidos
eventos históricos da primeira metade do século passado
que evidenciaram aos estudiosos a insuficiência de velhas
fórmulas que tinham como matéria constitucional tão-somente
a disciplina estrutural/institucional do poder. Findo o segundo
conflito mundial, recompõem-se os centros de poder da época,
remodelando-se ordenamentos num cenário que contempla a
ampliação de redes de organizações internacionais, cujos valores
de referência se reconduzem àqueles próprios dos novos textos
fundamentais. A convergência dos vencedores é o pilar de
1. desenvolvimento de uma comunidade internacional de princípios
comuns em matéria de direitos, donde a proclamação da Carta
dàs Nações Unidas, da Declaração Universal de Direitos e vários
ou�os P?ctos .. internacionais e regionais, construindo-se um
modelo de referência que se não condiciona, ao menos orienta o
desenvolvimento dos ordenamentos traduzidos em constituição
.-.,- .... � .... ··-
] CARBONELL. EI neoconstitucionalismo en su labirinto. ln: CARBONELL (Ed.). Teon-a dei
neoconstitucionalismo: ensayos escogidos, p. 12.
' LASSALLE. A essência da Constituição.
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20 1 Vanice Regina Lfrio do Valle
i Poüticas públicas, dire.icos fundamentais e controle judicial 1 21

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f na onda de modernização política.3


Tem-se então um processo i às coisas do poder. O desafio é a construção de uma fórmula
!
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1!
de circularidade dos modelos constitucionais, 4 com inspiração j
i.
de convivência reciprocamente influente.
comum em matéria de direitos fundamentais, e com influências 'í Assumem os textos constitucionais esse papel de enunciação
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.-.I.
recíprocas, multiplicando a presença de um determinado padrão de um projeto de sociedade, de uma rede de esforços de Estado e
de constitucionalismo democrático no cenário internacional. 5 cidadania, conclamando ao agir articulado, ao despertamento da
Desponta a importância da orientação finalística do 1 solidariedade e outras práticas democráticas, numa profissão de fé

·,i
poder, cujo conceito-síntese se terá na centralidade da pessoa, na importância da participação como caminho de concretização
e no imperativo de proteção à dignidade desse mesmo sujeito. desse convívio comum desejado.
Estruturação do poder e direitos fundamentais se apresentam, t
i. Transpondo valores e projetos para o corpo da constituição,
portanto, como os dois grandes pilares de uma ordem constitucional, \
juridicizam-se áreas do viver social até então excluídas da órbita
que comprometida com a dignidade da pessoa, não poderia de incidência desse texto.
prescindir dela no próprio viver desse Estado que se organiza. Do ponto de vista mais restrito da ciência jurídica, essa
Estado Democrático de Direito se apresenta, particularmente no metamorfose se identifica como o imperativo de constitucionalizar
que importa às cogitações da presente obra, como aquele com
o direito,7 não só no sentido de permitir às Cartas Fundamentais
uma dupla remissão: à legitimidade, como é próprio à democracia;
alcançar a todos os rincões do ordenamento normativo, como
e à legalidade, tradução do qualificativo "de direito". Na feliz
também de que essa premissa reconfigure o próprio saber da
enunciação de Moreira Neto,6 o Estado Democrático de Direito
ciência do direito, que desloca seu f oco principal para um
opera com a presença de dois atores políticos protagônicos: " ...de
horizonte de valores, e outras ferramentas que vem à reboque da
um lado as pessoas, que compõem o conceito hoje complexo de
centralidade da pessoa como finalidade última da organização do
sociedade, e de outro, os órgãos do poder político, que compõem
convívio. Não é ocioso destacar todavia que, constitucionalizando-se o
o conceito também hoje complexo, de Estado."
direito e com ele as relações também de colaboração entre Estado e
Essa dupla referenciação traduz uma nova relação
que se estabelece igualmente entre os dois atores, que hão sociedade, constitucionalizam-se igualmente as relações políticasª
de encontrar seu modo de convívio, não mais a partir de - e isso descortina todo um novo cenário de relações entre essas
relações hierarquizadas e de domínio, mas sim de recognição duas áreas do conhecimento.
e integração. O Estado não mais se pode. reputar externo, Evidentemente, o impacto dessas transformações se sentirá
estranho à sociedade; e essa não se pode posicionar mais numa o
de f rma mais intensa no campo do direito público, seara por
perspectiva de subordinação e não pertencimento em relação excelêrtcia da disciplina do poder. Afinal, o poder de que se cuida
não é mais aquele que lhe se diferencia da força9 tão-somente por
3
Registre-se a oportuna referência de Ótero, de que inobstante a crescente preocupação nas dispor de condições de efetivação que lhe permitem subordinar a
ordens constitucionais internas e nacionais com os direitos fundamentais , em sentido 'éom­ vontade alheia; o poder cuja disciplina se encarta nos novos textos
plemente inverso, é o século XX que revela algumas das mais gritantes violações massivas
dos direitos humanos que tem como autor o próprio Estado (OTERO. Instituições políticas constitucionais é aquele cujo principal fundamento de legitimação
e constitucionais, v. 1, p. 378). é o seu direcionamento finalístico. Subproduto desse impacto é
4
VERGOTTIN1. Las transiciones constitucionales. desarolla y crisi s dei constitucionalismo a
finales del siglo XX, p. 19.
5 Tenha-se-em c-onta· que·esse·movimento d� circulaçã9 <:l_Q !11.ode.lo constitµçionaJ de1119crático
(Ed.). Teon-a dei
se verifica também a 'partir dos estunulos das agências iritemacionãis de desenvolvimento, 7
- ARAGÓN. REYÉS. Lá constirución cõmo paradigma. ln:·· CARBONELL
que apontam o Estado Democrático de Direito como o ambiente próprio à geração da socie­ neoconstitucionalismo: ensayos escogidos, p. 37.
políticas públicas . Revista de
dade da confiança, citada por PEYRREFITE. A sociedade de confiança. 8
SUBIRATS. Notas acerca dei Estado, la Administración y las
6
MOREIRA NETO. Quatro paradigmas do direito administrativo pós-modernO: legitimi­ Estudios Poltticos- Nueva Epoca, p. 180.
9 NOGUEIRA. Potência, limites e seduções do poder, p. 14.
dade, final idade, eficiência, resultados, p. 42.
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22 1 Vanice Regina Lúfo do Valle
Polític.:i.s públicas, direitos fundamentais e controle judicial
1 23
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I

I1
a integração à pauta de cogitações dos operadores do direito, de que a ele se põe, a limitação do poder, corno fonte primána
de preocupação no que toca à proteção das liberdades, se vê
temas novos, que guardam relação direta com esse novo poder, .i
cuja ênfase se desloca da potência para a função, na medida em superada pelas cogitações quanto a seus deveres de realização,
que não existe tão-somente como força a ser disciplinada, mas sim asseguradores igualmente (no plano substantivo) dessas mesmas
como potencial de ação dirigido a finalidades pré-estabelecidas. liberdades. Primeiro desafio que decorre dessa concepção é a crise
Esse renovar da pauta temática envolverá, necessariamente, ,, de até então inquestionáveis paradigmas, como o da separação
não só a atualização de premissas com que anteriormente se entre poderes, que não oferece resposta à patologia expressa na
operava nos vários campos do direito, mas também um repensar não realização por quem de direito, da conduta positiva destinada
do desenho institucional que se revele apto a viabilizar os ao cumprimento dos deveres_ constitucionais. 12 Abre-se terreno
compromissos finalísticos estabelecidos pelo poder constituinte para o estudo e justiciabilidade das omissões administrativas
- e portanto, um exercício substantivo da democracia. Não se e legislativas13 corno mecanismo insidioso de afastamento dos
pode esquecer que a conjugação de todos esses novos elementos deveres constitucionais postos a uma e outra função.
- poder reconfigurado em função, exercício de democracia Essa idéia de poder funcionalizado determina, por sua vez,
substantiva e necessidade de ferramental adequado a essas uma modernização teleológica do controle: 14 numa recíproca
novas atividades - é de se dar num ambiente que não mais se interação de causa e efeito, os valores dão conteúdo ao controle
vê protegido pela quimera de uma única vontade geral passível público, e ressurgem fortalecidos, do próprio exercício dessa tarefa,
de identificação e atendimentos, mas que tem como realidade os sem a qual se transformariam em mera declamação. Expande-se
imperativos de viabilizar o convívio de múltiplos. 10 portanto o controle do terreno acanhado da regularidade formal,
A verdade é que, como adverte Rodríguez-Afana, 11 o poder para a seara mais desafiadora da eficiência e do resultado.
mudou, assumindo uma concepção mais justa e humana, mais Cresce em importância a função controle, seja na sua vertente
aberta e dinâmica; e isso haverá de se refletir não só nas estruturas administrativa (interna e externa), seja no seu desdobramento
institucionais e nas ferramentas que disciplinam o exercício dos jurisdicional. Em tempos de constitucionalismo erigido a partir
jogos do poder, mas também nos atributos que até então se de urna estrutura de poder finalisticarnente orientado, tem-se
exigia de Governo e Administração, voltados agora à realização igualmente a indispensável existência de instrumentos jurídicos
da justiça.
12 É de Comparato a advertência de que a concepção tradicional de equilibrio e harmonia,
Fixada a idéia de que o agir do poder é de ser pensado, originária que é do modelo de Estado Liberal, tem em conta, como instrumento de contenção,
não mais a partir de um vetor predominante de contenção, mas, mecanismos de neutralização por um poder, da atuação errônea do outro. Se o defeito de
que se cuida envolve a omissão, o modelo teórico tradicional não oferece resposta satis­
ao contrário, tendo em conta os imperativos de sinal positivo fatória ao desafio de compelir o poder omisso ao desenvolvimento da tarefa que lhe foi
deferida pela Constituição (COMPARATO. Novas funções judiciais do Estado moderno. ln:
'º É de Domingues a advertência da importância de um redesenho das próprias instituições ___. Para viver a democracia, p. 96).
democráticas formais, como mecanismo destinado à incorporação de múltiplas identidades que 13 A bibliografia nacional e estrangeira na matéria é extremamente rica, citando-se - a título
convivem e querem se ver reconhecidas como pólo de cidadania, em sociedades complexas, de mera provocação do leitor: FERRAZ. Processos informais de mudança da Constituição:
que se pretendam reger pelo signo da solidariedade (DOJVIINGUES. Instituições formais, mutações constitucionais e mutações inconstitucionais; CUNHA JÚNIOR. Controle judicial
cidadania e solidariedade complexa. Lua Nova. Disponível em: <http://www.scielo .. das omissões do poder público: em busca de urna dogmática constitucional transformadora
br/ scielo. php>script = sci_arttext&pid =SO 102-644520060001 00002&lng=en&nrm =isso>. à luz do direito fundamental à efetivação da Constituição; FERNÁNDEZ-RODRIGUEZ. La
Acesso em;-4-dez.. 200?)_... :,._, · · - · ·cc- • .,. _ _ _ • .:.•• . inconstituc.iona{idad..por omisi�:-teoria�ge'!e!"al: d�re9h9_cç>1Tiparado: el caso espaií9[; .
11 RODRÍGUEZ-AR.ANA. El derecbo fundamental al buen gobierno y a la buena adminis­ GÓMEZ PUENTE. La inactividad del législador. una realidad susceptible de contrÔI;
tración de instituciones públicas. In: SEMINARIO SOBRE EL DERECHO A LA BUENA GARCÍA DE ENTERRÍA. La responsabilidad patrimonial de! estado legislador en e! dere­
ADMIN1STRACIÓN PÚBLICA. Disponível em: <http://www.éiberjure.eom.pe/index. cbo espanol, dentre muitos outros.
php>option=com_content&task=view&id=2232&Iternid=9>. Acesso em: 10 fev. 2008. 14
DROMI. falodernización de! contra! público, p. 29.
lf
1
Vanice Regina Lfrio do Valle
24 1 .1 25
Políticas públicas, direitos fundamentais e ·controle judicial

1
1,
i
i que garantam a aplicação da constituição; " ...y estas no son otros concretizar através de meras declarações gerais, ou mesmo, pela

'
� que los próprios del control judicial..." . 15 simples promulgação de novas leis. A materialização, efetivamente,
\
Se do ponto de vista teórico parecem claras as novas de um projeto de nova ordem social estaria a exigir um poder
premissas do agir do poder e do controle, fato é que esse '1 governamental, constante e universal - o poder administrativo.

l
redirecionamento finalístico do agir do Estado abre todo um novo O deslocamento do poder de um agente centralizador
horizonte de desafios: as fraturas lógicas internas de uma pretensão J exclusivo (o soberano, ou o titular do poder político antes visto

[
de dirigismo constitucional reconhecida à Carta de Outubro; 16 a
absorção da inclusividade como estratégia de convivência confiada
4-:i como detentor único da tarefa de identificação e proteção ao
interesse público), com a incorporação do princípio democrático e
a um texto constitucional que luta ainda com o reconhecimento de ;l seus consectários à disciplina e estruturação do Estado, reconfigura
l
novos sujeitos de referência; 17 o reconhecimento de um campo de J as idéias que se ponham como centrais a um poder administrativo.
interesse público não necessariamente estatal em que a sociedade Assim, da puissance publique (materializada pelo ato
tenha um papel a desenvolver e o Estado um papel relevante
de coordenação; 18 todos são questionamentos mais recentes,
.t. administrativo) como categoria central de um poder administrativo
cujo eixo principal ainda era a idéia de força; passa-se ao serviço
·:-'"t
impulsionadores de uma reflexão no.. âmbito do direito público, público como categoria que já incorpora os destinatários da ação
que reoxigena pautas antigas, ou adiciona a elas, novos tópicos. pública não mais como meros sujeitos passivos do exercício desse
Aproximando-se do terreno específico da função poder, mas como credores de uma atuação instrumental ao bom
administrativa, intensificam-se as perplexidades, na medida em .,.. desenvolvimento da vida em sociedade .
que a ela caberá promover, do ponto de vista concreto, essas Nessa mesma linha de desenvolvimento histórico, sofre
novas condutas e objetivos desenhados ao Estado. -�
a Administração Pública os influxos dos vários modelos que o
i·'
É o caráter instrumental da função administrativa, que Estado experimentou a partir da segunda metade do século XX, e
coloca sua expressão institucional - o Estado-Administração vê-se instada a, superando o modelo clássico que o aproximava do
- no epicentro de um conjunto de vetores de força, e sempre gendarme, enfrentar os desafios do Estado Social, 20 até alcançar
muito próximo aos grandes momentos históricos de mudança. a não menos instigante tarefa de funcionar como uma dimensão
Assim, é de García de Enterría19 a lição de que, já ao tempo da :"\
articuladora da solidariedade que rege a ordem político-social.21
Revolução Francesa, deram-se conta seus principais atores que a Observe-se que todas essas etapas de desenvolvimento exigem
tarefa de instituição de uma nova estrutura social não se poderia do direito administrativo o reconhecimento de fenômenos havidos
em oUtras áreas do saber - política, sociologia, economia,
" ARAGÓN REYES. La constitución como paradigma. In: CARBONELL (Ed.). Teoría del neo
tecnologia, etc. - e uma resiliência que lhe assegure capacidade
constitucionalismo: ensayos escogidos, p. 36.
16
É conhecida a polêmica em torno da revisitação, por Canotilho, à sua tese sobre o constitu­
cionalismo dirigente, e as resistências daqueles que ainda acreditam nas possibilidades desse 20
Destaque-se, em tema por si só tão vasto e complexo que petrnitida por si só a elaboração
mesmo dirigisi:n.o,constitucional, particularmente em países que ainda não tenham alcançado de.,uma.,eflexã0-autônoma, a observação de García-Pelayo, no sentido de que na dimensão
plenamente níveis de desenvolvimento que permita o prescindir desse mesmo direciona­ da regulação da sociedade pelo Estado as transformações decorrentes da implantação de
mento (CANOTILHO. Rever ou a romper com a Constituição dirigente?: defesa de um cons- um modelo de Estado social comprometido com a facilitação da procura existencial, seja de
titucionalismo moralmente reflexivo. ln: ___. 'Brancosos" e interconstitucionalidade: se ter particular atenção à circunstância de que esse mesmo Estado deixa de considerar à
_itinei:ártos c.l9%'discur�os,sobi:e.a bistodcidade constitµciona!, p.·101-l,_29},-.·-· � · .... :- · .::-·
. ,_:2_9ejeda.9-e;ç_orq0 um sistema estático, cujo equilíbrio só seJn;interià permaneceiidq .\JI.lc'-ltávris._:
17
CANÔmHo:-oa··constituição dirigente ao direito co�unitido.dirigente. ln:---· 'Bran­ certos valores e status, para considerá-la como um sistemà dinâmico que, aó revês , sô man­
cosos" e interconstitucionalidade: itinerários dos discursos sobre a historicidade constitu­ tém seu equilíbrio precisamente através da mudança de valores e situações, o que exige uma
cional, p. 216-217. constante e complexa ação reguladora por parte do Estado (GARCÍA-PELAYO. Las tran:efor­
18
SANTOS. Reinventar la democracia: reinventar el Estado, p. 49. maciones dei Estado contemporâneo).
19
GARCÍA DE ENTERRÍA. Revolución francesa y administración contemporanea. 21
SORRENTINO. Diritti e participazione nell'administrazione di risultato, p. 36.
'f� �...:.,_.: �"f"",,

1 Políticas públicas, direitos fundamentais e con�ole judicial


;} 1 27
26 1 Varuce Regina Lírio do Valle

absorver as .,.., las funciones de coordinación",26 e por isso haverá de desenvolver


de adaptação para, rompendo com a fase anterior, t
to da f: novos métodos de atuação como a consensualidade, a abertura
mudanças de forma a permitir seu acoplamento ao contex '."­'>
do conhe cimen to, já para dia1ogo, e tantos outros.
nova realidade. A abertura a outras áreas
22

ão Mas não são só esses os fatores a deitar influência numa nova


a partir do Estado do Bem-Estar e sua juridicização da proteç
compreensão quanto à função administrativa. A universalização
económica do indivíduo, é fenómeno que se intensifica,
23 .ii

de modelos económicos - introduzida pelas agências de


exigindo do direito administrativo uma abertura cognitiva cada J
vez mais ampla. ! desenvolvimento, a partir da posição de força que as carências
O momento atual, singular do campo do direito público, j de seus "clientes" lhes assegurava - irradia efeitos, igualmente,
1
tem determinado um compasso acelerado ao desenvolvimento das �
sobre a função administrativa, na medida em que a exportação de
disciplinas que lhe são próprias. No campo específico do direito um figurino a expressar boa governança, 27 envolve importantes
-,S,
·;
·,
administrativo, na permanente provocação empúica à revisão de •�· parâmetros relacionados diretamente à função administrativa.
antigos conceitos que se punham como clássicos, o compasso t•
Finalmente, a própria reconfiguração da soberania do
marcando o andamento do pensar no século XXI, de há muito Estado-Nação gera suas conseqüências, e num duplo plano. De
evoluiu do andante, para presto, se não prestíssimo. um lado, o surgimento de uma cidadania mundial,28 que defere
A consagração da posição central dos direitos fundamentais ao indivíduo a capacidade ativa para, em defesa dos direitos
comete a essa mesma estrutura política denominada Estado - reconhecidos como fundamentais, postular e mesmo litigar com
reconfigurada, mas ainda centro de poder- a missão de encontrar os Estados nacionais, determinando o surgimento de todo um
caminhos de " ...satisfação às necessidades coletivas indicadas pela novo espectro de subordinantes ao desenvolvimento da função
constituição ... " .24 Mais ainda, reconhecidas as transformações do i\'. administrativa. De outro lado, a erosão das fronteiras nacionais,
Estado contemporâneo; 25 tem-se a exigência não só de atuações t�' a crescente contratualização no desenvolvimento das atividades
positivas, inclusive de cunho prestacional; mas também de um administrativas provocando a chamada crise da subjetividade
agir estatal indutor de práticas socialmente desejáveis. É de Sousa administrativa; todo esse entorno sugere mais recentemente o
Santos o destaque de que o Estado nacional se transforma em um ,, estudo como possibilidade, de um direito administrativo sem
novíssimo movimento social, na medida em que se põe como o tt Estado, 29 em que a função mereça mais destaque que o sujeito.
coordenador de distintos interesses, fluxos e organizações nascidos �
i
da desestatização da regulação social: " ...la lucha democrática se 1 26
SANTOS. Reinventar la democracia: reinventar el Estado, p. 49.
convierte, así, ante todo, em una lucha por la democratización de i
27
É de Grafia o registro histórico de que o Banco Mundial, em seu documento "Govemança e
l Desenvolvimento" (1992), incorporava à gestão pública o conceito originariamente da ini­
ciativa privada, traduzindo seu conteúdo aplicável ao direito público nos seguintes termos:
"...la noción se define como una buena gestión administrativa dei sector público com eje en
22
GUERRA. Discricionariedade e reflexividade: uma nova teoria sobre as escolhas adminis­ 1
i
cuatro asuntos: i) marco legal claro, estable y.seguro para la resolución de los conflictos en un
trativas, p. 97.
contexto jurídico competente independiente; ii) responsabilización de los funcionarios pú­
" BENTO. Governança e governabilidade na reforma do Estado: entre eficiência e demo-
cratização, p. 21.
l
1,
blicos por sus acciones (accountability); ili) información confiable sobre las condiciones eco­
nómicas, el presupuesto y los planes de gobiemo, a disposición .de los. agentes económicos;
24
BREUS. Pol(ticas públicas no estado constitucional: próbtemâtica·da-concretização dos
iv) transparência de la tarea administrativa y combate a la corrupción con vistas a asegurar
direitos fundamentais pela Administração Pública contemporânea, p. 26.
un dia1ogo abierto y confiable entre los hombres públicos y los operadores económicos..."
25
Sintetizando caractensticas que são próprias a esse novo modelo de Estado, preciosa é a
, liçã� d_e ,<}�s<tl}:>,el�yo:/ ,.. ElEst_?-d'? s9cial, el Estado de prestaciones y concretamente el -l (GRANA. El Banco Mundial y la good govemance. ln: ___. Dia?ogo socialy gobernanza
Estado·maiíàger v:� asôéiadõ'a\in pnncipiÕ:d�•fegi.tl.rriidatl/<fonstituíâó'pcfr fa· performance;
la funcionalidad o la eficacia de su gestión, principio que coexiste con otros principias
t· ·ish/région/amprô/cinterfor/publ/papel/i6/index·.htm>. Acesso em: 12 fev. 2008).
. .uy/public/spap­
._, €!7n,la"f?ra· dei. 'Estado fi{fo_!mo.':.pjsp_?f!f�l.e�: :_�l:}p;//�,<:_interfol'. org -_· t 7;.�M�,

de legitimidad y que en e/ sistema dei Estado social debe subordinarse o, si se quiere,


28
TORRES. A cidadania multidimensional na era dos direitos. ln: TORRES (Org.). Teoria dos
interactuar con la legitimidad democrática"·(GARCÍA-PELAYO. Las transformaciones direitos fundamentais, p. 309-310.
29 COLAÇO ANrUNES. O direito administrativo sem Estado: crise ou fim de um paradigma'.
dei Estado contemporâneo, p. 38).
r
[
ij
!
28 1 Vanice Regina Lírio do Valie Poüticas públicas, direitos fundamentais e controle judicial 1 29

11'
1
J o processo culmina por alcançar igualmente o plano da jurisdição las nuevas formas de decisión política y las interrelaciones que van
1 constitucional, com o recente movimento identificado como
diálogo constitucional, no qual a compreensão das questões
.
,--..
·
estableciéndose entre organismos públicos y grupos sociales... ".
No cenário brasileiro - refletindo, decerto, uma pauta
� de direitos fundamentais passa a se valer das experiências e de cogitações que se espraia por todo o mundo, ainda que em

1
influências recíprocas dos vários Tribunais Constitucionais, num

1.í
diferentes níveis de elaboração - surgem temas como os da
processo de expansão e afirmação desses mesmos direitos que, ' eficiência e da administração por resultados, 33 do controle em todos
na sua dimensão objetiva, subordinam o agir do poder. os níveis (inclusive jurisdicional) da atividade administrativa, das
'
É o turbilhão de mudanças de que rapidamente se políticas públicas como instrumento do agir estatal,34 e ainda, do
deu notícia, que exige da Administração um reinventar de si direito fundamental à boa administração.35 Cada um deles- e todos
mesma, com aprimoramento funcional, mas sem perda de 1 eles - se apresentam, em verdade, como técnicas, mecanismos
sua necessária capacidade de diálogo com o interesse público, :i ou atributos que é de se reconhecer a uma Administração Pública
conceito ainda central à sua existência. 30 Desloca-se, portanto,
o eixo de cogitação em matéria de função administrativa, dos 1 que se ponha efetivamente a serviço do interesse geral. Cada um
aspectos meramente formais ou procedimentais, para a vertente I;\ deles - e todos eles - determinam reações as mais variadas em
relação à viabilidade, utilidade e caráter objetivo desses novos
substantiva dessa mesma tarefa; para a identificação dos critérios :}
mínimos orientadores desse exercício funcional, que conduzam J conceitos; numa resistência que parece traduzir não só a nostalgia
o poder político institucionalizado à trilha de concretização dos
l de que acima se falou, mas também um fechamento cognitivo da

1
compromissos constitucionais, própria ciência do direito, que rejeita os aportes de outras áreas
do conhecimento, desqualificando-os. 36
1t
Não é sem traumas que se dá esse deslocamento do eixo
' de ação da Administração. Afinal, a nova natureza e dinâmica O desafio parece ser a partir do recebimento desse conjunto
l' de tratamento dos problemas sociais exigem mudanças na ação de influências externas ao direito - mas nem por isso a ele
pública que despertam uma nostalgia duma concepção de Estado indiferentes - construir uma matriz de pensamento que concilie
os novos imperativos de conduta postos ao Estado, orientando-lhe
.1i
dominante na qual seus servidores se vêem tentados a se manter
imersos, 31 o que pode culminar por determinar uma incapacidade quanto às grandes linhas de ação, mas numa perspectiva ao mesmo
de pensar e fazer agir esse mesmo Estado segundo outros padrões tempo, sintonizada com as premissas do agir democrático.

de conduta. Nesse particular, todavia, é preciosa a advertência de li A extensão e diversidade das demandas postas ao poder

Subirats32 quanto à inadequação de uma atitude que se limita a -� público particularmente no auge do Estado Social, culminaram
sonhar com o passado, " ...a calificar como degeneración o crisis ,i
,:
todo lo que renueva, aunque por ahora de modo confuso, las viejas Ri
" MOREIRA NETO. Novo referencial no direito administrativo: do controle da vontade ao do
reglas y equilibrios. Se trata de reconstruir las lógicas que presiden i resultado: a juridicização dos resultados na Administração Pública. ln: ___. Mutações do
direito administrativo.
34 BUCCI. Direito administrativo e polfticas públicas.

if
·;
30
Vale o registro de--que ·a,é mesmo esse conceito central à teoria do Estado, e ao Direito 35 FREITAS. Discricionariedade administrativa e o direito fundamental à boa adminis­
Administrativo, vem sofrendo também sua atualização para incorporar novas dimensões de um tração pública; consulte-se ainda VALLE. Direito fundamental à boa adrninlstração, políticas
"público" que é agora plural e multicultural; para contemplar também uma visão prospectiva públicas eficientes e a prevenção do desgoverno. Interesse Público.
dos efeitos do agir do poder. No tema, particularmente sugestiva a proposta de Lewis, de uma } 36 É de Alejandro Nieto a advertência de que a tolerância à pluralidade de opiniões, e o aban­
a proxi.t'naçãb ·ao ·coné:eitó dê i:nteibs'e ·público.-que 'ténha em conta;- iiã dü:rien·são corrente, as
vertentes democrática e da mutualidade; e na dimensão futura, as de ·susterffab1lidàde e ôô" ··
I dono da pr€ten.são à construção dos. grandes. rei.atos,_ sejam as caractensticas desejáveis de
um conhecimento-jtiríclico que reconhece suas limitaçües. É sob a· ótica de um conhecimento
legado (LEWIS. ln pursuit of the public interest. Public Administration Review). jurídica que se compreendia auto-suficiente que se abandonou a exploração das relações de
31 COJY1MA.1LLE. L'ordre juridique comme désordre politique. Pouvoirs.
32 SUBJRATS. Notas acerca del Estado, la Adnünisrración y las políticas públicas. Revista de reciprocidade entre as ciências; e é no contexto desse novo conhecimento jurídico que é de
se buscar os benefícios dessa antes rejeitada interação (NIETO; GORDILLO. Las limitacio­
P,tudios Polfricos - Nueva Época. nes dei conocimiento juri'dico, p. 61).
Vanice Regina Lírio do Valle
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Políticas públicas, d.irei(OS fundamentais e controle judicial


1 31
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promoção ou concretização das ações, 39 hão de traduzir um vetor
1 por determinar uma mudança na estrutura subjetiva do poder
público, com uma certa dispersão da autoridade política entre de orientação que se identifica como políticas públicas; de outro
1 !
� entes e instituições descentralizadas, mas, sobretudo, com uma i lado o tema eclodiu - especialmente na seara jurisdicional- com
fragmentação das decisões entre estruturas particulares. 37 Disso ··f� uma força em alguma medida preocupante, posto que uma idéia,
1 objeto de cogitação em áreas como a ciência da administração,
resultou uma nova manifestação da organização desagregada; 33 1
com a perda dos benefícios que uma compreensão sistêmica de l ciência política, economia, sociologia, e tantas outras, adentra
como esses novos pontos de pauta se possam ou devam relacionar, l na esfera do direito sem uma reflexão se não mais profunda, ao
de forma a otimizar a função administrativa, aproximando o menos mais crítica em relação aos aspectos que se possam revelar
Estado-Administração daquilo que a constituição dele deseja. particulannente úteis ao mundo das normas.
De outro lado, abertura à realidade, articulação de forças -�
A afirmação da controlabilidade das políticas públicas,
sociais, consideração de interesses plurais e outros vetores '� hoje, parece mais envolver uma reivindicação de competência do
assemelhados são traços que precisam encontrar uma linha de que uma reflexão sobre o seu papel instrumental àquela que é
harmonia com o exercício efetivo da democracia substantiva. a finalidade última da função administrativa, que é a proteção à
Não se pode, portanto, descurar dos imperativos do controle - dignidade da pessoa humana. Para que se possa prosseguir nessa
"
aquele teleologicamente orientado, que admite a diversificação � reflexão, indispensável buscar o benefício do conhecimento já
das fórmulas de agir, mas que tem em conta permanentemente l
í adquirido em outras áreas do saber, para depois então promover­
o teste fundamental relacionado à sua aptidão a gerar o desejado se o encontro entre as políticas públicas e o direito - e só a
resultado de proteção a direitos fundamentais. partir disso se terá a possibilidade de uma correta invocação de
Urge a identificação de um elemento que possa sua aplicabilidade.
empreender essa ponte entre outras áreas do conhecimento 1
e função administrativa; que seja instrumental ao controle na i
sua potencialidade máxima, e que revestido de um mínimo de f
objetividade, não permita um uso meramente retórico da afirmação
da centralidade da pessoa. É nesse contexto que no cenário do
direito tem-se a (re)entrada do tema das políticas públicas, seja na
consideração de seu caráter instrumental ao controle das escolhas
públicas, seja a partir de sua exigibilidade, principalmente em sede
judicial, quando se possa ter em jogo a efetividade constitucional,
à vista da negação de direitos fundamentais.
Se de um lado soa positiva a recuperação da idéia de que as
atuações do Estado cobrindo todas as formas de intervenção do
poder. público na vida social, inclusive através da coordenação,
37SUBIRATS. Notas acerca dei Estado, la Administracíón y las políticas públicas. Revista de
l
·• ,-,cs,,"f:?4ft2'!f}!{(:icos_ -JtLJ-.f!Vªjpocp,p: 17t. �-'.,·•:;;·-- . . -, . · .. . :, . . ·._.,7'.°)·,\e'.':;.,...:.;.' -;.'l" ��/:-.;>·�ttl ;-:s:-·�. j:: ·., :...�_--:_.-·.• ::·.' -� w;,-;:;..-_::s , i:.-� ::.. ,:•; �:·.�:-"'� ".�.- ·;.-; ":" ':�.. )t;t
·· " E de Giannfrü a advertência de que ·a séginéntação-organizativa possa determinar uma
desarticulação de ações, ou pior, possa pôr em conflito interesses distintos de cada qual das
entidades que compõe à Administração (GIANNINI. II pubblico potere. Stati e amministra­
zione pubbliche, p. 79). 39
GRAU. O direito posto e o direito pressuposto.

i;_
li

Capítulo 1

'.1I
1 Políticas Públicas
·1;
1j
:
'i
Ii· Sumário: 1.1 Políticas públicas e elementos teóricos originários de
i
·;
outros campos do conhecimento - 1.1.1 A contribuição original da escola

1
americana: políticas públicas como ciência de práticas da democracia
- 1.1.2 Políticas públicas e as múltiplas dimensões do tempo no agir
estatal - 1.2 Constitucionalização de políticas públicas no Brasil como
"� opção de estruturação do agir do poder - 1.2.1 Antecedentes históricos
�¾ e prática política da constitucionalização das políticas públicas - 1.2.2
Constitucionalização de políticas públicas e mudança de paradigma quanto
ao papel do Estado - 1.2.3 Constituição como sede de heterovinculações
traçadas às políticas públicas
·�
;·�

'
t

i
;·;.
·�
1.1 Políticas públicas e elementos teóricos
originários de outros campos do conhecimento
O reconhecimento das políticas públicas como objeto de
estudo, no contexto da reflexão sobre o governo e seus parâmetros
de agir apresenta-se, na maioria das �reas do conhecimento,
ainda como fenômeno relativamente novo. Aguillar Villanueva40
já aclarava que até recentemente, mesmo no plano de estudos
da Ciêhci� polftica, as_decisões""de goverr;io · �ram' vistas como
1 ·'-··
....,__.-,.. ·�· - ·-- -
.. . y •

40 AGUILLAR VILLANUEVA. Estudio introductorio. In: AGUILLAR VILLANUEVA (Ed.). La


. hechura de las Políticas, p. 15-84.
34 Vanice Regina Lírio do VaUe
1 35
Polrticas públicas, direicos fundamentais e controle judicial
\

algo que se trava fora do governo, através da ana1ise de forças à política, cumprindo à Administração tão-somente a tarefa de
e estruturas sociais, exteriores e superiores, que determinavam concretização dessas mesmas - e prévias - escolhas políticas. 44
exaustivamente a matéria e a forma da decisão. A forma como se Em tempos de orientação purista, em que a interseção entre
constroem as decisões alocativas no âmbito do Estado e mais, os _!)
r• áreas do conhecimento era vista como ameaça - e não como
meios através dos quais essas mesmas escolhas se traduzem, é :� potencialidade emancipatória do saber - a simples presença
temática ainda recente na agenda reflexiva.
1 de um forte caráter político nesse pi;:ocesso de escolha pública

1
A precedência temporal na dedicação ao tema se reconhece determinou um fechamento cognitivo que se estendeu, ao menos
aos Estados Unidos, a partir de um ambiente, ainda na década no cenário nacional, até boa parte do século :XX.45
de 20, favorecido pelo crescimento das ciências sociais e de sua
preocupação acerca seu papel na busca da solução dos grandes i'}
Com a abertura do Estado de Direito à democracia,
resta inevitável o reconhecimento de que também - se não
problemas da sociedade.41 Nos países latinos a reflexão teórica 1
c\l principalmente - o processo de decisão em relação às trilhas
sobre políticas públicas encontra como obstáculo uma persistente ,j; de ação do poder público é relevante, com o que o tema das
í
instabilidade institucional - que transformava a subsistência i políticas públicas passou a freqüentar a agenda acadêmica não
mesmo da ordem política na prioridade. Também a incorporação _.f só da política e da administração, mas também da sociologia e
da democracia, ainda hoje, se apresenta em países importantes · -1 do direito. Esse ampliar de fronteiras em relação ao que pudesse
da An1.érica Latina como um valor a consolidar - e onde não se
tem democracia, é reduzido o espaço para discussão em relação
.t ser o objeto de estudo das políticas públicas - que se deu num
relativamente curto espaço de tempo, muito impulsionado pelas
a um instrumento de direcionamento da ação do poder, como modificações havidas em relação ao próprio conceito de Estado
são as políticas públicas.42 Finalmente, a própria circunstância - determina por sua vez que a matéria esteja longe de escapar
léxica de uma indiferenciação entre o que seja o domínio da 1 dos desafios da divergência, mesmo nos países do mundo
i
política competitiva, partidária; e aquilo que seja terreno próprio à !. que se apresentam como precursores na sua análise. Variadas
formulação de política pública43 contribui para uma dificuldade de perspectivas de estudo se foram sucedendo, particularmente
clarificação conceituai dos limites e possibilidades de cada qual. no cenário norte-americano, diferenciando-se pelo peso que
No plano especifico do direito, reproduzia-se um esquema I
conferiam a cada qual dos vetores integrantes desse complexo
compreensivo igualmente adverso à aproximação das políticas l que é uma política pública; ora a sua etapa inicial - de agenda
públicas, a partir da premissa de que em si, a decisão quanto e formulação -; outras vezes a sua fase de concretização, é
aos parâmetros de ação do Estado se constituía terreno próprio finalmente, a priorização do foco na avaliação.
-�
Para que se possa avançar um pouco mais na reflexão
41
É de Regonini a notícia de que, já em 1927, se tomou a decisão de constituir um comitê de sobre a maneira como o tema transcende a agenda da ciência
políticas públicas na American Political Science Association, evidenciando o irlteresse na
irldusão desse tema, na pauta de cogitações (REGONINI. EI estudio de las políticas públicas.
política e chega a outras áreas do conhecimento, valer eleger
Documentación Administrativa).
42Tenha-se em conta igualmente que o caso brasileiro não se diferencia em muito dos demais .• � ,R�g_i:5![_e-�e a reflexão antecipatória de Loewensteirl, que denunciando a obsolescência da
países élá' �irica Latina, com um cenário da política nacional em quase todo o século XX, t construção tradicional de separação entre poderes, destaca o caráter sempre irlstrumental à
quando não mergulhado em turbulência, paralisado pela ditadura. Assim, é só a consolidação t liderança política de cada qual das funções, propondo uma nova tripartição que reside não
no país da ordem democrática, com a Constituição de 1988 e a estabilidade irlstitucional que l em poderes, mas na diferenciação entre as funções de Estado -.função de determirlação das
e
_ , la prop,t;\ff%/r,9u, 5].1;'7:. çi;,_t��a!/.a _ i,!1Cj1}�ão .:1ª ,p,aut_ a__. de-r�f/(:'�ão, .o tema das políticas l as (LOEWENSTEIN.
1
d a
f:.t�0?- f �?f�;=.':!<;:.ãf'�1f�,P,2}l:C���s:�-�pç�<;i}:!".;S?!1.�2. � ei � pp [tj�
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· --·-públicas; ortentado a uma perspectivá'de·.qualif.k:aç;ão do:S mecanismos poss,veis de control e !1�F��7ª}, power and the .governmentalprocess}
· ..., rolztica/ .,.A.,,.,•,.. ····
, ,·.•,.-�
l
. _ .... _ . . ... . :
do poder. 45 Importante o registro crítico de que essa mesma rejeição temática em outras áreas do
·IJ Uma vez mais, a observação é de REGONIN1. EI estudio de las políticas públicas. conhecimento absolutamente não prosperou, sendo conhecidos os esrudos - por exemplo
Documentación Administrativa, p. 61. - no campo da economia, relacionados à teoria da esco_lha pública.
Vanice Regina Lino do Valle Políticas públicas, direitos fundamentais e cpntrole judicial 37
1
�:

36 1

um conceito inicial, 46 que ao longo dessa obra se virá aprofundar: • Políticas públicas envolvem um processo em desenvolvimento-,
política pública consiste na decisão formulada por atores elas compreendem não só a decisão pela promulgação de uma lei ou
projeto, mas também as ações subseqüentes de implementação, apoio
l governamentais, revestida de autoridade e sujeita sanções.
e avaliação.
1 Inobstante a aparente singeleza do conceito transcrito, é
possível perceber que ele já antecipa como elementos integrantes
do fenómeno, a perquirição dos métodos pelos quais se formulam Duas idéias despontam das ca:çacterísticas acima indicadas:
as escolhas; de quais sejam os atores que integram esse mesmo i m ultiplicidade e continuum. Multiplicidade de atores, de
processo; de quais sejamas conseqüênciaspossíveis do afastamento il possibilidades e instrumentos de concretização, de ações; e
continuidade de ações (ou omissões) determinando conseqüências,
por parte do poder daquele parâmetro original de orientação do ·i,
agir, e tantos outros elementos. Compreender, por outro lado, o de providências inter-relacionadas.
que seja essa decisão formulada por atores governamentais que ·j Políticas públicas expressam, portanto, decisões - nos
orienta o agir estatal e as várias aproximações possíveis do tema, termos do conceito supra transcrito - que, todavia, se constroem
'. t
é etapa preliminar indispensável para que se possa, na seqüência, a partir do signo da multiplicidade, e hão de ser entendidas
promover à associação entre política pública e direito. numa perspectiva de continuidade, de projeção para o futuro
i
t Parece útil, portanto, a recomendação de Theodoulou, 47 de de efeitos e obrigações.
que se inicie o contato com a idéia de polfücas públicas, menos J Observe-se que esse tipo de perspectiva - da multiplicidade
}
t e do continuum - só muito recentemente passou a admitir
a partir de um único conceito - que refletirá necessariamente j
.i
as premissas de aproximação de seu autor à matéria - mas sim .t consideração pela ciência do direito que até recentemente operava
a partir de elementos comuns, que de uma forma ou de outra se }. muito mais a partir de uma lógica pontual, determinada no tempo,
verão presentes (ainda que com distintas ênfases) na maior parte i� mais afeita à estática do que à dinâmica, mais orientada ao encontro
das escolas que se dedicam a seu estudo, a saber: .�
'
�-
da única resposta do que ao reconhecimento das plúrimas
possibilidades. Tem-se então um motivo de estranhamento: como
• Políticas públicas devem distinguir entre o que o governo pretende
fazer, e aquilo que, de fato, ele realmente faz; que a omissão
governamental é tão relevante quanto a ação;48
.'! conciliar uma ciência que tradicionalmente opera sob a ótica da
rigidez e da retrospectiva, como o direito; com uma outra seara de
1'
• Políticas públicas, no plano do ideal, envolvem todos os níveis de
' conhecimento que opera necessariamente com a adaptabilidade
governo, e não estão restritas a atores formais-em verdade, atores e a necessária visão de futuro? Desse estranhamento, resulta o
informais podem se revelar extremamente importantes;
risco de um encontro despreparado entre essas duas áreas do
• Políticas públicas é um tema que invade a ação governamental, e
conhecimento, com uma apropriação pelo direito do discurso
não está limitada à legislação, ordens executivas, regras e regulação
- portanto, aos instrumentos formais desse agir do poder;
do controle das políticas públicas, numa prática mais retórica do
• Políticas públicas envolvem um curso de ação intencional, com
que incorporadora dos potenciais úteis desse mesmo conceito,
uma fmalidade especifica e conhecida como objetivo; particularmente no plano da garantia de direitos fundamentais.
Tenha-se em conta que esse desafio do direito como ciência
prospectiva e dúctil, 49 em verdade, é a grande questão que,
(, :', . SALJSBURY. The_ analysis of publit-policy-:,a,sea,ch:for: tb;e©rl\'!S à.nd·tolesiln<' .SALISBURY;- posta ao constitudorialisin0, :se irrauia· iniediataip.ehte a wdos-os ..
6
:. ,:--,.� '
CAHN (Ed.). Püblic pàlicy the ·essentiáf readings. ··
47
THEODOULOU. The contemporary language of public policy: a starting point. ln: campos do direito público, especialmente o direito administrativo.
THEODOULOU; CAHN (Ed.). Public policy the essemial readings.
" No Capítulo 3 adiante, se verificará que é justamente no plano das omissões governamentais
que o controle judicial tem encontrado maior espaço de atuação.
49 ZAGREBELSKY. El derecho dúctil: ley, derechos, justicia.
i . 38 / Vanice Regina Lfrio do Valle
Políticas públicas, direiros fundamencais e conuole judicial
/ 39

.,i ;
1

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.•

Assim, em que pese um estranhamento inicial, cuida-se de uma numa dupla dimensão: a do processo da política e aquelas das
adaptação já exigida da ciência jurídica e que, portanto, não pode necessidades de inteligência desse processo. A tarefa da primeira
se apresentar a seu estudioso como bloqueio absoluto. dimensão - sustenta o autor americano - é desenvolver a
No caminho ainda desbravado da recepção da idéia ciência da formação e execução das políticas públicas, utilizando
de políticas públicas pelo direito, incide a preciosa a lição de os métodos de investigação das ciências sociais e da psicologia.
Massardier, 50 de que a postura que lança às primeiras um olhar ·}1 Já na segunda dimensão, se busca melhorar o conteúdo concreto

ix
tão-somente pela janela das normas jurídicas impõe a imagem de da informação e da interpretação disponíveis aos que concebem
uma Administração que se movimenta num mundo esvaziado de as políticas. Completa sua observação com a afirmação de que
"",.
seus atores, seus jogos e estratégias, e inteiramente fabricada pelas melhorar a "função inteligência" em tema. de políticas públicas

1
regras e princípios condicionados e finalizados pelas exigências if depende de técnicas mais efetivas de comunicação e informação

superiores do interesse geral. 51 genuína, que possam contribuir ao juízo do decisor.53
Um percurso ao acervo de conhecimento já desenvolvido é A melhor síntese, todavia, das idéias precursoras de
etapa prévia indispensável nessa caminhada de aproximação de Lasswell, 54 é do próprio autor: " ... el movimiento no apunta
dois "estrangeiros". meramente hacia las políticas, sino más especificamente hacia las
i
ciências de políticas de la democracia." A associação entre processo
I de decisão, inteligência de decisão e democracia é riquíssima em
1.1.1 A contribuição original da escola americana: ; conteúdo, sugerindo não só a necessidade do esclarecimento dos
políticas públicas como ciência de práticas t.i propósitos valorativos e objetivos de uma política - e aqui tem­
da democracia j se a questão da legitimidade, originária ou final da escolha -;
O texto inicial, já clássico, na trilha de sistematização do e ainda, a valorização dos atos de imaginação criativa, capazes
estudo de políticas públicas em terras norte-americanas é o de introduzir políticas públicas novas no processo histólico de
artigo de Lasswell - Tbe policy orientation - publicado em tratamento de uma determinada matéria, ainda que não se possa
1951, no qual o autor destacava a importância da superação � garantir de antemão quais serão efetivamente bem sucedidas.
das tendências da vida moderna ao divisionismo e isolamento,
! Inobstante as premissas lançadas por Lasswell já na década
enfatizando a importância de se criar objetivos e métodos para de 50, fato é que o direcionamento por ele preconizado de
a ação pública e privada que permitissem a superação dessa aproximação da ciência das políticas públicas a um conjunto
ameaça, 52 notadamente através da harmonização entre a ciência .!,. de assuntos sociais e políticos mais substantivos que se podem
e a prática. Propõe assim uma orientação do agir do Estado por t apresentar no plano concreto como determinantes dessas mesmas

intermédio das políticas públicas, orientação essa que se traduz 1 políticas, culminou por não se concretizar, ao menos não na

'º l\llASSARDIER Politiques et actions publiques, p. 24. g


'
t:

;, Esse, aliás, o grande risco que a rematização das políticas públicas na área do direito está 53 Destaque-se a antecipaçã o - num texto que data de 1951 - de temas que hoje estão na
apontando: uma "juridicização" da matéria, com a tentativa de enquadrá-la nos parâmetros primeira linha de reflexão em matéria de função administrativa. A "função inteligência",
� ...; de raciocfuio que.não lhe·s.ão· próprios;.um_a.lrnp9rtação�clq'temà serii as-devidas àdapfações;' �­ .. se.t .,:. _como aspecto indis2ensâve) m.:ima -orieI)tação,às·:políticaírpúbliças-é,marca.d� gênio, porque �-, ..

-i
- -
. sublinha a. Índlsp�;;�t:;Üidade-d� ,:;;;; pr�c;sso 'contmuo de formaçao de conhecimento ...
0

e com isso, a própria perda da �ii.rnensão réal de U tilidade que ess·a·ferramenfa do agir estatal .•
pode trazer para o controle do regular exercício do poder. 1 intelectual, que com a retrospectiva, aprimora a prospectiva.
"LASSWEU. La orientación hacia las políticas. In: AGUILAR VILLANUEVA. El estudio de las 1 54 LASSWELL. La orientación hacia las políticas. In: AGUILAR VILLANUEVA. E/ estudio de las
poffticas públicas, p. 79-103. políticas públicas, p. 83.
r
l
il 40 Vanice Regina Lúio do Valle
.B
J Poüticas públicas, direitos fundamentais e controle judicial
1 41
,,i:
l
1;
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intensidade desejada. 5 5 O entusiasmo dos estudiosos, ao contrário,
voltou-se para a primeira dimensão - a do processo, do método
22) formação da agenda - compreendendo um mecanismo mais ou
menos aberto a agentes não govemamentais,59 de estabelecimento de
- em detrimento da segunda, aquela da função inteligência. 56 priorização para as ações públicas, incluindo (ou não) o problema
recém-identificado, segundo uma ordem de precedência que
Isso se constata pelo percurso às escolas de políticas
reconfigure (ou não) aquela anteriormente estabelecida;
públicas desenvolvidas no pós-guerra, particularmente aquelas
identificadas como sinópticas puras, que a partir de uma · ,i\1 · 3") formulação da política pública - momento e xploratório das várias
possibilidades de ação tendo em conta o problema identificado na
compreensão processualizada das políticas públicas, dedicam­ '�-i primeira etapa, a agenda traçada na segunda, e as inter-relações entre
se ao estudo de seu desenvolvimento entendido como sistema, ;i as várias políticas públicas já e m andamento;
com especial atenção às suas distintas etapas de construção. Tem 42) escolha da política pública a se r impleme ntada6º - concretiza-se
lugar então o estudo dos diversos esquemas de representação do '.f aqui, à vista das alternativas apontadas na etapa anterior, a decisão
l acerca de qual a linha de ação a ser adotada, a partir (em princípio)
funcionamento desses mesmos sistemas de políticas públicas, que ·,t
l da indicação de qual seja aquela que produz a otimização de esforços
ora se reconhece mais simplificado, como no modelo de Easton; 57 � e/ou be nefícios tendo em conta os recursos disponíveis e mesmo as
ora se identifica como seqüencial, reconhecendo diversas etapas, :j
iniciativas já em andamento;
necessariamente ordenadas, do processo de formulação e 5 2) imple mentação da política pública eleita - etapa de concretização
desenvolvimento de políticas públicas. Em que pese as eventuais i das atividades apontadas na formulação, e especificadas pela
divergências entre seus autores, é possível apontar como etapas { escolha;

reconhecidas nos modelos seqüenciais: 58 f 6") ana1ise e avaliação da política pública executada - na qual se dará
1") re conhecimento do proble ma - identifica-se nessa etapa um dado i a diagnose dos resultados alcançados, com o que se (re)legitima a
ação adotada, agregando informações ao capital de conhecime nto
fático (qual seja a situação material a exigir a int ervenção estatal) e
i da Administração, permitindo ainda o redirecionamento de ações
um dado mais analítico, de reconhecimento de qual seja, descartados i
os e lementos contingentes da situação fática, o efetivo tema em i futuras.
·i. Se nas escolas sinópticas puras se avançou na compreensão
discussão;
da complexidade do fenômeno política pública e seu processa61
- nas suas já destacadas dimensões de multiplicidade e

55 GARSON. De la ciênc ia de políticas a1 ana1isis de políticas : veinticinco anos de progreso . ln:


AGUILAR VILLANUEVA. El estudio de las políticas públicas, p. 153.
i 59 Leciona Subirats que "toda política pública apunta a la resolución de un problema público
56 O te ma da in te ligência na Adminis tração Públic a - assi m e nt e ndida, e m sentido mais reconocido co mo tal en l a a ge nda gobemamental . R e presenta pu es la respuesta dei
s ist e ma políti co-administrativo a una situación de la realidad soci al juzgada política mente
amplo, como acervo de conhecimento - sempre se re velou sensível, na medida em que
envolve a quebra de ve rdadeiros "nichos de poder", construídos a partir do monopólio da 1 como inaceptable". Nesses te rmos, indiscutível a associação entre formação de agenda e
informação. Emble mático o registro de Gordillo, afirmand o que a tradição adminis trativa i o princípio de mocrático, circunstânc ia qu e atra i no debate acadêmi co, para esse tópico, as
cogitações atine ntes à participação social e seus mecanismos de efetivação, particularmente
hispanoame ricana é do silêncio, do segredo, da r eserva, não da publicidad e; não porqu e o
funcionário público considere que realiza com isso uma atividade ilícita, ao contrário, el e te m i em tempos de pluralismo (SUBIRATS. La modulación de las políticas públicas por el
f ombudsman. Disponível em: <http://22jomadas.s indic. cat/site/unitFiles/261/Ponencia%20

t
a pe rcepção de qu e o correto, o de vido, o lícito e normal, é ser guardião ciumento de toda
informação administr ativa, e so bretudo, não proporci onando acesso a ela aos administrados Joan%20Subirats.pdf>).

l
- Ta mbém a fase da escolha da p olítica pública a ser imple mentad a desafia important es
60
ou ter ceiro, po is pode com isso "comprometer-se" (GORDILLO. La administración
paralela: e l parasistema jurídico-administrativo, p. 54). questões atinentes aos critérios legitimadores dessa mesma opção . Igualme nte exp ressiva

,-·1 ·
57
O sistema de Easton s e constrói a partir da lógica de que as demandas - oferecidas pela é a produção acadêmica nesse ca mpo, com escolas qu e vão desde a escolha racio nal, de
�... -
::, - sodedadi;:., cn.L por .f>Utr<;JS. agentes, igualme nte influentes e qualificados �- são dirigidas.. à · inspiração econômic a, passando ainda pela teoria dos grupos, institucionalismo, redes de
"caixa preta" cíõ sistema político, que e m função del as· respõndé-alrãvés- da àdoção de -políticas -públità s, e várias outras alternativas de formatação. Sumariando - a propos�a e as
medidas , como respostas. O esquema representativo-é portanto circular a infindável, co mo .. - ' críticas a éada qual dessas escolas de formulação e ºImplementação de poiíti cas: púbÍicas,"
infindáveis s erão as demandas.
{ consu lte-se CHAQUÉS-BONAFONT. Redes de políticas públicas.
t 6' Não de pode deixar de destacar a crítica lançada às escolas si nópticas, do artificialismo de
58
THEODOillOU. How public policy is made. In: 1HEODOillOU; CAHN (Ed.). Public policy
the essencial re adings. sua proposta de divisão em fases perfeitamente diferenciadas, de aspectos de um processo
complexo como o é o de construção e exe cução de políticas públicas.
i
t
42 / Políticas públicas, direitos fundamentais e comrole judicial 43
l:i· 1
Vanice Regina Lfrio do Valle

continuum -; de outro lado pouco se cogitou da formação da de Lindblom, 64 que rechaçava as pretensões de uma antecipação
inteligência da Administração e sua interface com os problemas racional-totalizante na formulação da decisão em matéria de
atinentes ao pluralismo. Afinal, todas essas etapas relacionadas ao políticas públicas, em favor de uma estratégia mais pragmática
diagnóstico e à sua solução não podem prescindir de contribuições J: que busca sair do atoleiro de complexidades, através do uso de
�·

possíveis - seja no plano técnico propriamente dito, seja no um método de comparações sucessivas limitadas, ou de análise do
i
il

plano do conhecimento do problema e/ou das expectativas de incremento do saber consolidado pelas experiências acumuladas.
solução dos múltiplos agentes, interesses e culturas presentes no
meio social que é destinatário desse agir estatal; e esse é o ponto
negligenciado até o momento.
11
É esse dia1ogo entre as políticas públicas desenvolvidas, e aquelas
ainda em cogitação, que permitiria o crescimento do capital de
conhecimento, e o aperfeiçoamento da atuação do Estado.
;i
Surge então o debate relacionado ao pluralismo como lt . Acrescente-se a essa breve resenha dos prismas de reflexão
um dado do mundo da vida, e o plano do consentimento para quanto às políticas públicas, a introdução do tema da factibilidade
política, como vetor adicional na equação, que não se pode
'.
com as ações públicas e as escolhas que eles afinal retratam.
f

Representante expressivo dessa cogitação é Dahl, 62 que enfatiza a desconsiderar. Afinal, em que pese dos argumentos técnicos de
tese de que ao invés de se trabalhar a partir da lógica de um único apoio, não se pode perder de perspectiva que políticas públicas
centro de poder, impunha-se a incorporação de múltiplos centros envolvem sempre atuação do poder, que como tal, é sujeita às
(poliarquia), nenhum dos quais se poderia reputar plenamente injunções políticas.
Do brevíssimo percurso da produção norte-americana no
i
soberano e portanto legitimado a uma posição preferencial. 'i
tema, o que se vê é a tendência - registrada também por Garson65
Observe-se que a abertura ao pluralismo como vetor a se
- de uma aproximação e balanceamento entre as dimensões
í
considerar no estudo e construção de políticas públicas já traduz um f
.f segundo as quais se pode empreender ao estudo das políticas
giro das cogitações, antes centradas no processo, para a formação
públicas, reconciliando-se, nos termos da proposta originária
da inteligência da escolha - na linha desenvolvida originalmente
de Lasswell, método e inteligência, sem descurar na ana1ise das
por Lasswell. 63 Afinal, o reconhecimento da poliarquia envolve não
só um conjunto de interlocutores que podem integrar o processo,
t! políticas públicas, a factibilidade política como manifestação do
plano da realidade.
mas também o que eles possam agregar de conhecimento a essa t A escola americana contribui para um mapeamento de uma
mesma decisão.
.,
multiplicidade, que é típica dos planos de ação estatal. Distintas
i
A valorização da "função inteligência" no campo das políticas
!
etapas do complexo processo de construção e execução de
públicas apresenta-se com mais ênfase nas escolas cujo foco J políticas públicas destacam os diferentes componentes - sujeitos,
prioriza a avaliação das políticas públicas, e dos mecanismos que
sejam mais aptos a proporcionar um real aprendizado e aumento
f elementos, materiais, foco - que as compõem. Mas também se
l apontou a importância da compreensão desse mesmo fenômeno
de qualidade no desenvolvimento da ação pública. Desponta como continuum - e para aprofundar esse enfoque, cumpre
nesse particular aspecto da avaliação o trabalho paradigmático t examinar as relações entre políticas públicas e o tempo.
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64.Í.Í:rir:ííifoNÍ.\;ilêri'él;�de?s;[fü .cíe1-pa?6i;:, ,Ínt::A:Gt.Jlt-AR'V'rLT.A:NU:ÊVA.La-hechurá de /as.';;_,.
6
'. DM-IL.'Vlitnilié EÔnserit õfalE1.n: rSAB::C;'cXHN'(Ea): 'Púb'tíc policy iliéésséntiar readirigs,
p. 45. polfricas.
t?!"
�1-
' LASSWELL. La orientación hacia las políticas. In: AGU!LAR V!LLANUEVA. E! estudio de las ; GARSON. De la ciência de políticas al ana1isis de políticas: veinticinco anos de progreso. In:
6 6

polüicas públicas. AGUILAR VILLANUEVA. El estudio de las polfricas públicas, p. 179.

!
Vanicc Regina Lírio do Valle Políticas públicas, direitos fundamentais e controle judicial
44 1 1 45

1.1.2 Políticas públicas e as múltiplas dimensões e aqm e preciosa a inspiração de Ost67 - é preciso ter em
do tempo no agir estatal
Identificados os elementos essenciais da noção de políticas
a conta que " ... o tempo é uma das principais apostas da capacidade
instituinte do direito...".
l
._.-.. Disso se extrai que é preciso ter em conta que a capacidade
públicas no subitem anterior, é possível adensar o primeiro 1• instituinte desses particulares programas normativos68 estará a

1
conceito apresentado, com a incorporação das referidas dimensões depender da contribuição do transcurso do tempo - seja para
da multiplicidade e do continuum. Útil será, à essa altura, o permitir a realização em concreto de tarefas que naquele programa
1
conceito expresso por Bucci " ...políticas públicas são programas _ de ação se tenha contemplado, seja para vincular a Administração
de ação governamental visando a coordenar os meios à disposição :�,,.=
i
àquele mesmo projeto de ação, seja para a geração de um efeito
do Estado e as atividades privadas para a realização de objetivos catalisador de solidariedade e integração entre Administração
socialmente relevantes e politicamente determinados ... ".66 e sociedade, à medida que ganham maturidade as iniciativas
De início, a associação do conceito de política pública a ·3_·_t. desenvolvidas pela primeira em favor da segunda.
um plano de ação já evidencia cogite ela sempre, da projeção Já se viu, no percurso das escolas sinópticas de políticas
no tempo desse agir da Administração. Aquilo que se identifica ·1t•. públicas no subitem 1.1.1 acima, que políticas públicas podem

'
,
,_ _·

como a política pública a ser desenvolvida objetiva funcionar admitir uma visualização em fases, permitindo a identificação
dos seguintes elementos: 69 1) o problema; 2) o diagnóstico; 3) a
como pauta de regência do agir do Estado por um determinado
·1{_
período de tempo; e surge aí o primeiro ponto de contato entre 1� solução; 4) a estratégia; 5) os recursos; e 6) a execução. Observe­
se que todos eles guardam, em alguma medida, relações com o
compreensão e análise de políticas públicas, e tempo. Mais do .1
·{
que desenvolver-se ao longo de um determinado interstício tempo: os dois primeiros alimentam-se do conhecimento das
- manifestando-se, portanto, em distintas dimensões, presente experiências passadas para a identificação e compreensão
e futura - a política pública se concebe tendo em conta, por daquilo que se pretenda enfrentar a partir da prática daquela
ocasião de sua formulação, os benejidos em favor do resultado 1 determinada política pública; já solução, estratégia e recursos são
1
l
eleito por esse mesmo programa normativo de ação, que possam elementos que se traçam a partir do presente, tendo em conta
os desafios e objetivos postos à execução, etapa voltada para o
decorrer, justamente, do transcurso do tempo.
Mas não é só esse o sentido em que tempo e políticas 1
)
futuro. A concepção portanto, de uma política pública, associa as
·1 dimensões do tempo - passado e futuro projetado - no que toca
públicas se relacionam. Afinal, partindo do conceito referido
1 àquela realidade que se deseja atingir, opera com a perspectiva

l
de quadro normativo de ação, associam-se normatização e agir 1 de um necessário intervalo de maturação, de evolução dos
prospectivo, num processo de dependência recíproca; o agir
vetores com os quais ela opera, até que se alcance efetivamente o
projeta-se no tempo por intermédio do programa normativo, e o
resultado pretendido.
caráter normativo do programa assegura, numa auto-vinculação, a •
sua continuidade no tempo. Observe-se que essa constatação gera 1
i 67 OST. O tempo do direito, p. 14.
importantes benefícios no plano da continuidade das políticas 1 68 É de Giraud e Vivarin a explicitação de que também às políticas públicas se possa reconhecer
l
públicas) prevenindo a ci_�scontinuidade vplunt;::i.rista/-em prés1ígfü­ 1 capacidade insti1:Uinte, .!li! medJc\a em qu,;, o proces;;o, e o _tema_pol_(ti_ca__d� ;,ua co.nstrução

- em última ana1ise � ªº
p;í�cipio de�o��áric�.- N; ·;er<lacte 1 ·· se situa no conjúntd :· de. problemas sociais a serem compreendidos· .através do agir

1i
estatal (GIRAUD; WARIN. Les politiques publiques: uma pragmatique de la démocratie
(Introduction). ln: GIRAUD; WARJN (Dir.). Politiques publiques et démocratie).
69 NIÉNDEZ. Elementos teóricos para un ana1isís más integral de las políticas públicas: (con­
66 BUCC!. Direito administrativo e políticas públicas, ·p. 241. . i' referencia a algunas investigaciones concretas). Revista de Administración Pública.
.1t
1
1
Políticas públic.as, direitos fundamentais e controle judicial
46 / Vanice Regina Lú:io do Valle j 47

'ij''·
�;

Nesse sentido, quando se enuncia, no campo do direito, Observe-se que o processo é de retroalimentação dos imperativos
( ·,

�11
um conceito de políticas públicas como "... programas de ação de visibilidade no agir do poder público.
1
':il
governamental visando a coordenar os meios à disposição do Estado Igualmente não se está afirmando que, enquanto não
f e as atividades privadas, para a realização dos objetivos socialmente
relevantes e politicamente determinados... " 70 é de se compreender
l transcorrido o tempo fixado pela própria Administração como
haôil a gerar efeitos mensuráveis, nada se possa fazer do ponto
que tal programação haverá de encontrar fundamento de 1 de vista do controle. A idéia que se quer fixar é tão-somente
legitimidade também numa perspectiva dinâmica, a saber, que i
"f aquela segundo a qual a ana1ise da existência de uma omissão
l
envolva as cogitações próprias à enunciação original da política -l' culpável por parte da Administração, em relação à promoção
pública, mas também aquelas que se seguem a esse momento -
'j
de uma política pública que decorra de seus cometimentos
de molde inclusive a permitir os ajustes que venham a se revelar constitucionais, envolve uma aproximação objetiva, que deve ter
necessários ainda ao longo da implementação. t por foco prioritário de investigação, a existência em si de uma
Significa dizer que uma política pública não pode ser f política pública projetada, o estágio de desenvolvimento em que
objeto de qualquer avaliação, dissociada de sua relação com l ela se encontre, e a compatibilidade entre os resultados projetados
o tempo -; é esse mesmo tempo que determina, por sua vez,
subordinações a eventual ana1ise crítica.71 A desconsideração desse j e aqueles efetivamente alcançados.
dado - especialmente quando se cogite do desenvolvimento de 'l É de se ter em conta ainda - e uma vez mais, a lição é de

i
Ost - a chamada gestão da policronia, imperativo decorrente
73
atividades de controle, jurisdicional ou não, das políticas públicas
do fato de que " ... o tempo social declina-se, evidentemente, no
- poderá conduzir a várias patologias, principalmente a pretensão
plural...". Significa dizer que uma mesma política pública aplicada
de uma antecipação de outputs dissonante do que contemplava
a distintos grupos sociais pode ter ritmos diferenciados em sua
o planejamento de ação que se está aferindo, pretensão essa que
implementação e geração de resultados - e mais uma vez, nem por

1
l'
'
pode até ser legítima na medida em que haja um especial reclamo
! isso se estará no campo do patológico. Some-se a essa afirmação
pelo resultado, mas que não aponta por si só a um vício na política t
pública conforme originalmente concebida. a ampliação das atividades do Estado que exigem articulação da

! f
É certo que, ainda sob a perspectiva das relações entre o Administração com agentes da sociedade; disso pode decorrer que
! ritmos de atuação e resposta dos vários setores sociais envolvidos
tempo, as políticas públicas e o controle, o argumento da ausência. I
de maturação das ações como excludente de responsabilidade, ,! no desenvolvimento de uma determinada política pública se
exigirá um manejo a partir dos termos da própria formulação revelem distintos - e com isso se tenha reflexos na marcha de
�! concretização daqueles mesmos resultados projetados. Policronia
da referida política. Assim, é preciso conhecer o tempo que a
l e articulação das forças sociais pode determinar, portanto,

n
Ê Administração fixou para alcançar um resultado, para só então
� comprometimento da implementação de políticas públicas -
proferir-se algum juízo de (in)adequação desse mesmo resultado.72
� sem que disso se possa diretamente extrair, mais uma vez, um
� juízo negativo, na medida em que os .benefícios decorrentes da
70
BUCCL Direito administrativo e políticas públicas, p. 241.
71 Um juízo de adequação pretendido exercer em momento inicial das ações de implementação } efetiva articulação das forças sociais podem se revelar ainda m0is ...
pode se revelar prejudicado na sua acuidade pelo caráter precoce da avaliação; de outro ,,·

t ..._.., lado o transcurso de interstício temporal mais expressivo pode determinar a necessidade 'i vantajosos que os eventuais prejuízos decorrentes de atraso na
ª
�� ��;{t;ff�:,f .. u q
r1:��'.'3:t .. \�� 1t
i
_ implementação. Em tempos de pós-modernidade, a busca de

'f - .
P?:Í!!� -?�,l?,l���'_· �� q� ,: !��º�:�.::_'.:,s:5\ to/� q �� �'.°':
ª e ç! e ir
;;;
72 Essa referência se faz porque, como se verá no Capítulo 3 adiante, não é infreqüente que o
,:c'é_'b�riiã'"noriiõgert�i�açãÔ:'ê5i2�s75f\rã J.i'o;-iitirio . � rioi? · ef@itos •·. d?.��gil".:"•,·j:•<:
Í
debate judicial se estabeieça em relação a omissões ou insuficiências elo agir estatal que não 1
encontra planejamento na correspondente política pública. OST. O tempo do direito, p. 16.
i
73

_-;
. .
48 Políticas públicas, direitos fundamentais e controle judicial 49
1

··1·11;r•_-·
Vanice Regina l.Jno do Valle
/

estatal em distintas comunidades pode resultar em violação ao que em favor dela hão de contribuir; ou ainda, complexificando76

:·'

multiculturalismo, e aí sim, a falta de respeito à diferença pode o alcance dos mesmos ou'tj)uts por desacelerações próprias a
determinar cruzar a Administração a fronteira do patológico. qualquer um dos distintos segmentos sociais envolvidos.

í, !
Mas não só nesse aspecto as dessintonias temporais podem
. Sublinhe-se, uma vez mais, que tudo isso pode se verificar
sem que se esteja adentrando no terreno da má administração
1
se manifestar. '•'.

�1_;:
l Também é possível conceber que a policronia74 determine, - não se cuida necessariamente de falhas no trabalho prévio de
ao longo da execução de uma determinada política pública, uma programação do agir da Administração; mas da simples evidência
mudança na agenda de prioridades originária também de demandas , de que as complexidades da vida, e as contingências a que estão

1
estabelecidas pelos grupos sociais - o que pode estar a sugerir ')_,
sujeitas as relações sociais não têm contemplação, ainda que com
proveito em ajustes na política pública em execução, sem que � o planejamento mais acurado.
disso decorra, uma vez mais, necessariamente, o reconhecimento O equihbrio, em verdade, é delicado. A simples afirmação da
de qualquer vício de raiz.75 Uma vez mais, é possível um atraso na superveniente dessintonia entre política pública e o querer coletivo
produção de resultados inicialmente cogitados, sem que se tenha não se pode reputar suficiente à legitimação do reorientar do agir
qualquer manifestação patológica da atuação do Estado, suscetível estatal. Afinal, o princípio da continuidade das políticas públicas
de censura no plano do controle. se pode afirmar de sede constitucional - seja como decorrência
A par disso, o tempo ensina, otemporevela, o tempo denuncia. da eficiência, seja da tríade orçamentária, seja da valorização do
Assim, erros de diagnose, equívocos no dimensionamento dos planejamento - e portanto, o seu afastamento haverá de exigir
esforços e recursos necessariamente envolvidos numa determinada igualmente, elementos mais substantivos que a mera assertiva
abstrata de um descontentamento popular mal medido, e não
iniciativa, resistência social para com o mesmo esforço decorrente
aprofundado quanto às suas causas e conseqüências. De outro
de uma distinta avaliação da perspectiva de custo-benefício; todo
lado, o apego comodista a uma moldura de ação prévia, que
esse juízo crítico pode decorrer da compreensão da realidade que
ainda que legitimamente construída, se revela inadequada com
só pode acontecer ao longo da implementação de uma determinada t o tempo, conduzirá a Administração a uma rota de colisão com o
política pública - e é desejável que seja assim, na medlda em que
princípio da eficiência.
a constatação desses fenômenos evidencia uma Administração
Essa compreensão de que o insucesso de uma política
voltada à analise crítica de sua própria atuação. A influência do pública não revele necessariamente um agir viciado do poder se
tempo, portanto, pode determinar conseqüências as mais variadas mostra importante também para outras esferas de responsabilidade
nos resultados previstos para aquela mesma ação - favorecendo
.1 - notadamente, a da política - e ainda, para o incremento da
à concretização da política através da maturação dos elementos 1 compreensão do problema ao qual ela se dirigia, envolvendo-se
1
nesse processo de explicitação de conduta e de juízo de valor em
t
1
" Observe-se que a pluralidade de "tempos" em que se podem situar distintos grupos
é fenômeno que se verifica - também - nas múltiplas dimensões desse mesmo
sociais
1 relação a ela, sobretudo, à cidadania, que é destinatária última
desse conjunto de ações sob exame.
i
tempo.

·l1 -,
Assim, é possível a pluralidade decorrente de distintos ritmos havidos no passado;
é possível
a diferenciação de "tempos" em virtude de fenômeno presente, e ainda se pode_
conceber a
poliq:oni� c:9_m9 oco_rr�ncia futura. 76
Utiliza-se aqui a expressão "complexificar", no sentido preconizado por Ladeur, que se

1 -1
75 É certo que 9. t�i:J\a 9ª mudança de
agenda se 1·evela mais-fodoso·- afinàJ:há ejé_i'!):�i:iros:·. àiferencia do .conceito original de dificuldades crescente, para absorver o problema da
relevantes atinentes às lutas sociais que se pode ter traduzidà dissolução de expectativas de esrabilid.ades dos. mod<;!IQs· d� causa e efeit9,t, admitir.que e�a
s nas preiénsoes de ·

reescalonamento de prioridades, e isso atrai uma necessária investigaç
ão mais profunda de 1 relação - antes descrita e prevista pelo direito - possa não se· dar de· forma iine"âr;· ó. que

1
legitimidade da deliberação que se pretenda adotar. De toda
que a nova pauta de prioridades decorra definitivamente de um
forma, é igualmente possível i estará a exigir uma flexibilidade e abertura cognitiva; uma maior capacidade de aprendizado
.-1� '· m rnn.sP
querer social firmado a partir do sistema jurídico, no exercício de suas operações (LADEUR. Post-modern constitutional
nso construído a partir de um real reequacionamento theory: a prospect for the self-organising society. Tbe Modem Law Review).
das forças sociais.
Vanice Regina Lírio do Valle Políticas públicas, direitos fundamentais e controle judicial 51
5O I

Multiplicidade e continuum - são os dois traços


característicos das políticas públicas que se vem explicitando.
Ambos os aspectos se apresentam como indispensáveis, não só à
1-·· acima descritas - uma opção fundante no Estado, pelo signo
da justiça distributiva, pela solidariedade como estratégia de
ação nos temas públicos não estatais, pela formulação em sede
.
legitimação da política pública, mas também às ações de controle -,;,; constitucional de escolhas morais excluídas como possibilidade
que sobre ela recaiam, que só se perfectibilizam compreendendo �
�' nessa sociedade que se organiza, e finalmente, orientar-se o agir
o fenômeno nas suas plúrimas dimensões subjetivas e de tempo. --�
i do poder à diferenciação comprometida com a igualdade material,
ou o fomento de atuações que se confira um especial peso, num
•:i:
processo de valorização empreendido pela própria constituição.
1.2 Constitucionalização de políticas públicas no
.i Constitucionalizar políticas públicas pode significar uma
·'f
·'(

Brasil como opção de estruturação do agir do �4. opção por um reforço às características exigíveis desse novo
poder ., Estado que já rompe o século XXJ, e que vê a si propostas não
-l só as funções tradicionais de garantidor da coesão social e da
Compreendidas algumas das grandes linhas conceituais do
segurança; mas também aquelas de regulador e ainda de protetor
tema das políticas públicas, e identificados elementos essenciais, ·l:t (seja pela sua própria rede de proteção social, seja pela articulação
é de se cogitar em que termos tenha esse fenômeno encontrado
.]
da solidariedade}ªº
lugar em nossa ordem constitucional. Para tanto, está-se utilizando
- a partir do acervo de conhecimento já desenvolvido em outros 1 Constitucionalizar políticas públicas se constitui ainda
1 fenômeno que pode encontrar distintos níveis de aprofundamento,
campos-uma acepção mais ampla do fenômeno, que compreende f desde o reconhecimento da relevância do instrumento para fins de
não só uma eventual oferta de prestações em concreto, mas
também a possibilidade de desenvolvimento de uma das seguintes ordenação do agir estatal, até a identificação em si, em concreto,
! •
de planos de ação estatal, mais ou menos densificados, já no
/
funções: 77 1 l!) reconciliar demandas conflituosas quanto a recursos .. próprio Texto Fundamental.
escassos; 2l!) estabelecer incentivos à cooperação e à ação coletiva
que pode se mostrar irracional sem a influência governamental; Qual foi a opção do sistema constitucional brasileiro no
3 ª) coibir comportamentos moralmente inaceitáveis; 78 4ª) proteger ·l que toca à constitucionalização de políticas públicas - e qual o
entorno político que historicamente determinou essa opção, ou
a atuação de grupos ou indivíduos, promovendo atividades que ,J.
se revelem essenciais ou importantes para o Governo.79
-t
ainda determina? Essa a avaliação que abaixo se desenvolve.

j
Constitucionalizar políticas públicas, portanto, pode
significar - na exata correspondência com as possibilidàde
·i
·,
1. 2 .1 Antecedentes históricos e prática política da
77 THEODOULOU. The c ontemporary language of public poli cy: a starting point. In: �}
constitucionalização das políticas públicas
THEODOULOU; CAHN (Ed.). Public policy. the esse ntial readings, p. 2. .1
78
Para uma recepção da enunciação da autora, é de se ter em conta que a vedação a l É do campo da ciência política que se extrai a observação
comportamentos inaceitáveis do ponto de vista moral é de ser compreendida a partir de uma ii
quanto aos dados do ambiente constitucional que permitiram a
79
moral objetiva, no sentido aliás referido pelo·art. 37, caput da CF.
Registre-se, por cautela, que essa função promocional se prevê tendo em conta um possível ,}f introdução no texto da Carta de Outubro, de múltiplos dispositivos
· papel do Estado como o articulador da solidariedade; e ainda, que essa dimensão do .J

,,�:.
agir apresenta os riscos inerentes a uma apropriação indevida desse mesmo Estado por :{J atinentes às políticas públicas. A própria sistemática de organização
í-· .
g�P.O�_lCJ�àl/�i'-d.<?-'.!?,f.l?-HJ1ec,;,s.;,ai;i�ent�ifiM[jfjca,dos Ç01]1.0 inter�SS<: p11bliço o,u a vont:,c,le
gérat'. ;Disso çi'éco.rrffu' dol:/iiiôisp'éns:l:vels' .êuidadós: ·1 º) 'éoni- o processo de formação de . _: :. :'·,9'QS�,yª-ba,lh,os::x�on;�ti:tµj.:gtes,'".:-"-:Jo��11.1c�I1!�.: ;descentralizada, __çqrn , -:�- :�··
l
,. •• '• < • " .,,; • • . . . ·• •> -� • A• '• •• -� -. � <, • •. + • • ,··•• ,•
.

age nda, momento em que se estabelecem justamente as prioridades, e 29) com a permanente 1
preseme dos c ritérios constitucionais de prioridade na atuação do Estado, como único vetor t

'"
,<l;
i poss,vel de preservação de uma mínima racionalidade objetiva nessa priorização. ªº CHEVALLIER. L'Etat post-moderne, p. 47-61.
�i
r:

hi
� 52 1
Vanice Regina Lúio do Valle
53
Políticas públicas, direitos fundamentais e controle judicial
\

subcomissões temáticas votando isoladamente as matérias àquele


Y· ou no outro extremo, a enunciação em abstrato de um direito sem
l!
campo confiadas, tudo sem um texto-base que funcionasse
maior explicitação de qual possa ser a efetiva extensão do dever
como elemento comum81 - culminou por gerar um documento estatal em relação a esses mesmos direitos.85

•1-*
multifacetado, cuja votação em plenário exigia um sensível É de Couto e Arantesª6 a explicitação que nas democracias
conjunto de negociações, preceito a preceito. A avaliação, de constitucionais a disciplina da política pode se dar em pelo
outro lado, é corroborada por Jobim,82 que com o privilégio do menos três distintos campos: (a) o das estruturas do regime,
�·

i
observador histórico, afirma: " ...o primeiro turno foi um debate ·1
compreendendo os direitos individuais e as regras do jogo
.,½·

·�
duríssimo, item por item; com uma característica: ninguém tinha político, 87 (b) aquele próprio à competição política e (c) o campo
_
�1
visão global de tudo ...". das decisões concretas de governo. Sob a alínea "a", têm-se os
Essa dificuldade - de cunho até mesmo operacional - acordos constituintes básicos, estruturantes da sociedade e do
na formação de consenso em tomo de temas se vê acrescida, à funcionamento do poder, de caráter não controverso, em relação
conta de peculiaridades do regimento interno disciplinador dos ��·--
-� aos quais não se pode estabelecer o debate. Na alfuea "b" tem
l
1•
trabalhos constituintes, de obstáculos à modificação dos textos lugar a chamada dimensão dinâmica da realidade política, na qual
originalmente propostos em cada qual das subcomissões. O se estabelece a competição, e as decisões que, em última ana1ise,
cenário não sofre substantiva modificação ao longo do segundo determinarão o conteúdo possível à alínea "c" - as decisões
turno de votação, disso resultando que a inclusão ou exclusão 1 concretas de governo, a saber, as políticas públicas.
1
de matérias reputadas como conflitivas dependia muito mais 1 Observada a classificação acima, a leitura de nosso texto
l constitucional revelará "...muito do que não se pode classificar
,l1
dos azares dos consensos contingentes do que de um projeto
propriamente como princípio constitucional (polity), mas sim
orgânico que pudesse ser defendido por qualquer um dos 1
segmentos parlamentares.83 1 como política pública (policy)" .88 Esse traço especúico de nossa
modelagem constitucional se credita, como narrado acima, às

li:_ _
Em conseqüência, vem à luz um texto que muitas vezes
também particularidades de nosso processo constituinte - mas
constitucionaliza matérias sem que elas se revistam, todavia, de
não só a isso. A prática vem evidenciando - e as conclusões
densidade suficiente a permitir a absoluta clareza de quais sejam
os parâmetros postos ao agir do poder. No terreno em particular
1 também são de Couto e Arantes89 que o processo de inclusão no

l
texto constitucional de preceitos que expressam políticas públicas
das políticas públicas, essa teorização incompleta do que devesse
1
l ser o conteúdo do preceito constitucional aprovado se revela de
l 84
Exemplo sempre citado - e absolutamente eloqüente dessa eventual opção pelo particula­
forma mais aguda. O resultado é a inclusão nas sucessivas versões
do texto constitucional, de particularismos de difícil justificação;84 1 rismo - é o preceito contido no art. 242, §2' da CF, que assegura que o Col égio Pedro II,
localiz ado na cidade do Rio de J aneiro, será mantido na órbita federal.

. J;·1_
85
Entre outros, se pode mencionar o art. 215, caput da CF: "O Estado garantirá a todos o pleno
pleno exercício dos direitos culturais e acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará e
81
COUTO; ARANTES. Constituição, governo e demoqaçia no Br incentivará a valorização e a difusão das manifestações culturais ... "
' asil. Revista Brasileira de

1' Ciências Sociais, p. 44-45. 86 COUTO; ARANTES. Constituição, govern_o e democracia no Brasil. Revista Brasileira de

J
82
JOBIM. A constiruinte vista por dentro: vicissirudes, superação Ciências Sociais.
e efetividade de uma históri a
· .. · l
,! re al. ln: SAMPAJO. Quinze anos de Constituição, p. 87
Visto sob o prisma da disciplina do jogo político, a consagração de direitos fundamentais
83
13.
P a ra_ um aprofundament? do_t_C:;ma, cons),!Jt.e- e _Gomes, num
9 ;interessante· estudo sobre o_ 1t importa numa exclusão do comércio político de determinados temas, e ainda na instiruição

11
efeito dás regras' de OFgaAfzàçã o de uma pa_uta ��- pliori,dade, mesmo _legislativa, ern r_elação a esses mesmos.direitos.,
-t · · do prôcesse légis]atiVO SObrÉ:' ·o TeSültadõ uos· trabalttC>S;
constiruintes (GOMES. O inlpacto das regras de 88
COUTO; ABRUCIO: O'segÜndÓ góJéirió FHC: ·côalizoes, ·agendas e mstiruições. Tempo Social·
organização do processo legislativo no

fl
comportamento dos parlamentares: um esrudo de caso Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-2070200300
da Assembléi a Nacional Constiruinte
( 1987-1988). Dados. Disponível em: <http://www.scielo.br/s 0200011&1ng=en&nnn=iso>. Acesso em: 27 fev. 2009.
cielo.php�script=sci_
arttexr&pid =S00ll-52582006000100008&1ng=pt&n
mP·iso>. Acesso em: 7 dez. 2007).
89
COUTO; ARANTES. Constiruição, governo e democracia no Brasil. Revista Brasileira de
Ciências Sociais, p. 43-44.
Vanice Regina Lfrio do Valle
54 /
Políticas públicas, direitos fundamentais e controle judicial
! 55

- policy - não se pode dizer tenha se localizado tão-somente


no momento constituinte. A ana1ise do conjunto de emendas
í•
1.
direitos, reforça ainda mais o contencioso jurisdicionalizado, seja
por provocação da cidadania, seja por intermédio do exercício pelo
constitucionais apresentadas ao longo do Governo Fernando �_ rvlinistério Público de seu mister constitucional.
Henrique Cardoso revela que boa parte delas destinou-se à Íl Tenha-se ainda em conta que a judicialização de políticas
incorporação adicional de novos dispositivos de policy, o que
;,t
públicas total ou parcialmente constitucionalizadas importa em
evidencia que se de um lado o texto original se revelou constritivo atrair para o julgador a possibilidade de proteção da constituição
à concretização de sua própria plataforma política, de outro lado o
:;
J.
,r através a tutela de direitos fundamentais, tudo no exercício de
então presidente não se dispôs a oferecer a seu sucessor cenário jurisdição constitucional. Tal enfoque, num sistema como o nosso,
�1
,1
mais suave, optando por engessar ainda mais as possibilidades de em que se combinam os modelos de controle concentrado e difuso,

:1
atuação de seu sucessor. culmina por determinar uma pulverização no debate relacionado
Essa distorção de desenho constitucional gera importantes às políticas públicas, notadamente, as de saúde e educação, com
conseqüências: no plano político, o efeito é de determinar que a grandes problemas relacionados à legitimidade e eficácia das
implementação por parte de qualquer governo, de sua própria decisões - esse tema será melhor examinado no Capítulo 3.
visão e plataforma política, estará a exigir a intervenção no texto
I Já no que diz respeito à segunda hipótese - a política

i
constitucional, e a entabulação das correspectivas negociações pública que é fruto da política competitiva, de atividade legislativa

t
parlamentares necessárias ao alcance da maioria qualificada ordinária, portanto - ainda se terá implicações constitucionais,
exigível. Some-se isso ao nosso presidencialismo de coalizão9º na medida em que nosso sistema jurídico optou pela enunciação
- em que a maioria que assegura a titularidade do Executivo não 1 de deveres de planejamento e eficiência, que inevitavelmente
se reflete no parlamento-, e o que se tem sempre e sempre é um } conduzirão o agir do Estado uma vez mais ao terreno das políticas
prolongado processo de custosa negociação em todas as medidas
f
i públicas como mecanismo haôil a viabilizar essa ação nos termos
importantes a e�igir a intervenção do parlamento. da parametrização constitucional.
No plano da efetivação de direitos fundamentais, têm-se no í Políticas públicas constitucionalizadas, associadas com
cenário constitucional brasileiro a interseção com políticas públicas i
1 a preocupação de oferta de garantias de controle do poder -
de duas distintas formas: 1 º) a política pública está parcial ou �, judicial inclusive-, em favor da efetividade ela Carta de Outubro,
inteiramente constitucionalizada; ou 2 º) a política pública resulta tem por resultado uma sobrecarga no sistema da justiça, e por
I
exclusivamente de atuação do legislador, dentro da sua esfera ! duas razões. No plano mais imediato, a multiplicação de direitos
ordinária de atribuição, no exercício da política competitiva. (com maior ou menor densidade constitucional) determina por
A primeira hipótese, em particular, tem detenninado alto fudice � si só uma maior litigiosidade; de outro lado, a indeterminação
de judicialização, seja para a garantia em favor do jurisdicionado de l
i do conteúdo possível das políticas públicas sugeridas no texto
' prestações de que se julgue credor a partir do sistema constitucional; 1
i constitucional como exigível de parte do Estado remete aoJudiciário
seja para a tutela de coletiva de um direito fundamental de segunda justamente o debate em relação aos limites e à eficácia desses
! dimensão; seja ainda para que se complete o desenho e/ou as mesmos preceitos. Essa discussão, por sua vez, ora se submete
l! providências associadas ·a uma· política pública só parcialmente 1
f no plano coletivo, ·por intermédio das ações de mesma natureza
r constitucionalizada. A incorporação doutrinária da chamada
cl!,rnen�ão ?bjetiva <=1,os direitos fundarl}�n�ais! qué! expi::�?sa deveres
{
(ações civis públicas, mandados de segurança coletivo e outras);
o_ra se apresenta no plano indiviciural, pela reivindicação em favor
··i,g
·.,.de prorr10�ãü"-·-·p
· ela -�li'"préstàêforlâl 'oif nãó ·=
·desses l:õêsrrios . A,.
,
F,de·· urií'úhié:b 'jüiisdié:tÓrtlélB/ dâ'''êbit1�1[zJçãcfàê:préstações qué-
·-:.,,<.,-.-,_.,,..�
··:;�:':;:;..-:��;.·

se supõe, haveriam de decorrer da implementação adequada das



f
�-
90
SANTOS. O Poder Legislativo no presidencialismo de coalisão. ! políticas públicas de que cogitava a Constituição.
..
r-'''
1

ri'·1,l.
Políticas públicas, direitos fundamentais e c�:mtrole judicial
Vanice Regina Lfrio do Valle 1 57
,, 56 1

Observe-se que o risco de conjugação de traçado de Mais recentemente, a problemática da efetividade dos
políticas públicas em sede constitucional, e uma ampliação do direitos fundamentais se reapresenta com a ação em países da
!
espectro de atribuições do controle jurisdicional, já era apontado �·
commonwealth, de cartas de direitos fundamentais já orientadas
ainda por ocasião dos trabalhos constituintes. É de Comparato91 -�·
;i no que toca à jurisdição constitucional, à construção de arranjos
a advertência mais direta no sentido de que ao Judiciário seria j institucionais e relacionais de poder que favoreçam à concretização
1
:'i

de se reservar, não o " ... poder constitucional de criar políticas, desses mesmos direitos. 95 Em todas essas experiências, o que se vê
mas tão-só o de impor a execução daquelas já estabelecidas na ·)
á é a interseção entre os deveres do Estado decorrentes da já referida
própria constituição ou em lei, ou adotadas pelo governo dentro dimensão objetiva dos direitos fundamentais, e as potencialidades
dos quadros legais... " .92 do controle jurisdicional de seus quadros normativos de ação.
Transcorrido mais tempo, esse mesmo dilema entre
consagração de políticas públicas em sede constitucional - como
'i
}}
No caso brasileiro, esse dilema entre enunciação de direitos
(que hão de ser traduzidos em políticas públicas instrumentais à
mecanismos garantidores de direitos sociais e econômicos - e 1I"=! sua garantia) e arcabouço institucional apto à sua concretização
a capacidade de enforcement desse mesmo tipo de preceito se :i incorporou-se definitivamente à agenda jurisdicional. É geral o
apresenta para além das fronteiras nacionais. Outros textos !l sentimento de inadequação ou, quando menos, desproporção
constitucionais de mesmo perfil, anteriores ou contemporâneos ao .� entre os esforços do poder no rumo do cumprimento de seus
brasileiro, 93 também com explícita enunciação de compromissos :i
deveres constitucionais, e os resultados efetivamente alcançados
sociais do poder, sofrem o desafio teórico de construção de em favor da cidadania, tendo sempre por parâmetro de avaliação
respostas institucionais adequadas à inobservância desses o texto constitucional. A falta de transparência na prática pública
preceitos que traduzem, com maior ou menor profundidade,
reforça a idéia de que as tarefas constitucionais não encontram
políticas públicas em favor dos cidadãos. 94 :i concretização, não necessariamente por impedimentos materiais
1 · i
i absolutos, mas muitas vezes por falta de vontade política, ou
·í
COMPARATO. Novas funções judiciais do Estado moderno. In: ___. Para viver a
.f por prioridades outras, que não aquelas enunciadas pela Carta
91

democracia, p. 157-158.
92 Confirmando as preocupações de Comparato com a possibilidade futura de um Judiciário
de Outubro. Assim, se as políticas públicas não se revelam
que reivindicasse a pretensão de criar políticas públicas, têm-se o exemplo citado no
'l:
aptas à proteção aos direitos fundamentais, isso assim seria

l
Cap(rulo 3· abaixo, da ADPF nº 45, em que se afirma exatamente que, ainda que em caráter 'ti
excepcional, até mesmo a formulação de políticas públicas se. constitui tarefa poss(vel por disfuncionalidades do poder, que devem ser corrigidas via
desenvolver no bojo da jurisdição constitucional. prestação jurisdicional.

;l
93
A âtulo de ilustração aponte-se as cartas fundamentais da Alemanha e Ita1ia, dentre. as
anteriores, e as de Portugal e Espanha dentre as contemporâneas, rodas com consagração Some-se a isso, a desconfiança em relação às estruturas de
explícita de um elenco de direitos fundamentais.
94 Interessante no tema, a ana1ise de Sunstein de que no sistema norte-americano não tenha representação, e o resultado é apresentar-se o Judiciário como
l merecido maior adesão à idéia da incorporação de dispositivos enunciadores de direitos a instituição perante à qual possam desembocar as demandas
l sociais ou económicos no texto constitucional, pela insuficiência de mecanismos haôeis à
atinentes às promessas constitucionais incumpridas - seja
sua concretização, o que transformaria esse conjunto de preceitos em meras aspirações, ou
metas a serem alcançadas. Destaque-se todavia a cntica do mesmo autor, de que a inaptidão
·1 através de ações de cunho coletivo, que se apresente em defesa
institucional para garantir respostas adequadas à inobservância desse tipo de preceito não
pode se apresentar como razão suficiente ao abandono total dessa técnica. Vale a transcrição:
I do projeto de sociedade que a Carta de 1988 já enunciou; seja

t· " ...certainly, no court, in poor or rich nations, is going to be able to ensure that everyone por intermédio de ações individuais, voltadas ao cumprimento de
.J.
has decent food, clothing, medical care, and housing. But th_o,se vthq. �recç,mrnit,ted to such ·.
':.·<· . . f
: deveres prestadonais. A reiteraçãõ -desses _feitos, de Outro. fado,: ·.., .
i
. rights, in prí'ndplê, mígfít·wei!'utge that coi:irts could take'iteps\ot!,n.súre thatº bâifr: ·�e'écc!.s l'

1 receive a degree of legislative priority, and that conspicuous neglect would be corrected"
(SUNSTEIN. W'hy does the american constitution lack social and economic guarantees?. i 95
GARDBAUM. Toe New Commonwealth Model of Constitutionalism. American Journal o/
i Chicago: University of Chicago, 2003. (Public Law Working Paper; n. 36). Disponível em:
f Comparative Law. Dispon(vel em: <http://ssm.com/abstract-302401>. Acesso em: 20 fev.
\
! 1. 2009.
il <hnp://ssm.com/abstract-375622>. Acesso em: 7 dez. 2007).
!
l
�l
1'! 58 / Políticas públicas, direitos fundamentais e cómrok: judicia] 59
l
Vanice Regina Lúio do Valle
fi

)
evidencia elementos de diferenciação entre as novas provocações qual essas autoridades públicas não sejam mais do que atores
jurisdicionais e aquelas ordinariamente formuladas no velho - dentre outros - que negociam, a partir de baixo, com os
esquema compreenssivo do conflito individual. Cunhar o sentido múltiplos atores das políticas públicas, acerca das razões para
de uma política pública traçada com mais ou menos detalhamento agir, dos interesses gerais recognoscíveis, e dos dispositivos de
no texto constitucional, e mais ainda, identificar os mecanismos políticas públicas, cada vez mais localizados e instáveis. 99
institucionais próprios a transformá-la em realidade, é atividade A cada uma dessas ordens políticas corresponderá,
estranha à estrntura do Judiciário, e menos ainda encontra evidentemente, uma distinta racionalidade no campo da escolha
ferramental próprio do direito processual dássico. 96 e execução de políticas públicas. A ordem política estatocêntrica

'.·1-
-�Í2'.

atrai um pensamento inerente à tradição jurídica e aos estudos


de Administração, que vê as políticas públicas como expressão
s
1. 2. 2 Constitucionalização de políticas públicas -� de uma capacidade de ação do poder sobre a sociedade,
e mudança de paradigma quanto ao papel � freqüentemente centralizada pelo órgão estatal, capacidade essa
do Estado que se desenvolve segundo uma racionalidade instrumental e

1
teleológica - adequação entre objetivos e meios - e sem maior
Derradeiro aspecto a se considerar na constitucionalização

1
� abertura à contribuição de quaisquer agentes externos à estrutura
de políticas públicas é sua contemporaneidade com um turbilhão �
� do poder.
de mudanças associadas ao (re)equacionamento das idéias de Por outro lado, a abertura para uma ordem política menos
Estado, seu grau desejável de intervenção no plano social, e hierarquizada é terreno fértil para a aplicação de uma racionalidade
portanto, seus deveres de atuação. própria das ciências sociais (sociologia, ciência política, etc.), que
Uma mudança de paradigma - já lecionava Ost97 - não se descrevem as políticas públicas como um universo complexo e
estabelece de um momento para o outro, como mágica, cessando 1: incerto, construído a partir do choque e das cooperações entre
plenamente o primeiro, substituído pelo segundo. Assim também :·J_ _ racionalidades limitadas de diferentes atores que se vejam
é com o modelo de Estado, que proposto mudar, exige um tempo 1 mobilizados por aquela especfüca linha de ação estatal. Essas
de absorção dessas novas tarefas, seja no plano institucional, seja. 1 racionalidades múltiplas determinam quadros de agir do poder
mesmo no plano da prática. Significa dizer que convivem ainda, l1 público que se constroem e executam, de maneira não linear,
segundo um modelo incremental, e próximo do paradigma da
em plena mudança de paradigma, distintas ordens políticas:98
1 º) de um lado, uma ordem política herdeira da filosofia política I1 anarquia organizada, originário da sociologia das organizações.
1
clássica e da histórica da ordem política estatocêntrica, em que É a incorporação de um elemento de instabilidade - mas de

i
as autoridades públicas e os governantes, externos e superiores diálogo constante, e de repartição de responsabilidades.
Já se mencionou nesse mesmo subitem que transição de
l•
à sociedade, impõem, verticalmente, uma definição do que seja
o interesse geral, e dos dispositivos que devam reger os diversos paradigmas não é fenômeno que se opere instantaneamente.
setores da sociedade; e 2º) de outro lado, uma ordem política na Se assim o é, também em nossa ordem constitucional - que se
i inaugura com um explícito compromisso em favor da dignidade
da pessoa humana - o afastamento de um modelo de estrutura
96
Essa constatação relacionada à disfunciona!idade dg Pode! Judiciário para ? equacionamento
· · do trp:o, d.e _conflito. que pás�à-a Jhe sêr ·a�res· ent;ido corri�a:eí:,nsolidaç:ÍÔ da norn;ialidade � :-,· .:.·..:-.

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� :..:l· . -....... d·;· _ ._;.;;,.;..,: ----� ...<;;.�::r::...,°7L".<:T..::.;·
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p.
{
- é!eirioêráffci éaenunciaéio p�r Fari� {2003, ·9fém ·s{;â i�t'e��;:;çãÓ-;;é êolóquio "Direito e 99 Sempre-s<i'pode-afiririáf�J{\{$em:ã· õr'd"éíi{êi'tátb�êri&I�hãô rrrais'Se ajuste ao modelo de
Justiça no Século XXJ", havido no Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra. agir traçado para o Estado brasileiro a partir da Carta de Outubro. Todavia, negar a evidência
'17 OST; KERCHOVE. De la pyramide au réseau?: pour une théorie dialectique du droit. da presença ainda de reminiscências do velho paradigma é bloquear a realidade em favor de
"'MASSARDJER Po!itiques et actions publiques, p. 10-11.
-�
·l um quadro ideal, que não auxilia o raciocínio teórico que se quer desenvolver.
�s
60 / Vanice Regina Lino do Valle Políticas públicas, direitos fundamentais e controle judicial 1 61

j
1 política hierarquiza d a e estatocêntrica não se dá num átimo;100 desenvolvimento teórico - o que, decerto, pouco contribui p ara
l� e isso pode permitir compreender melhor as razões pelas qua is _ urna melhor incorporação ao debate. Todavia - e isso se pa ssará
l o nosso p róprio texto constitucional ora aplica a lógica das
f a demonstra r na seqüência - do ponto de vista especúico da
políticas públicas como ca pa cid a de de a ção do poder sobre a função a dministrativa, a incorpora ção do conceito de política s
! socieda de, predeterminando-lhes o conteúdo sem maior abertura pública s à m atriz de ra ciocínio e a plica ção da ciência jurídica
dialógica ; ora tem abertura p a ra o choque e as cooperações entre se revela importa nte eleme nto de consolid a ção de um novo
raciona lida des limita das de diferentes atores, remetendo à política
trata mento sistêmico dos misteres cometidos ao Esta do, e dos
competitiva a dinâmica das relações sociais, o quadro norma tivo
do a gir esta tal. 'I respectivos mecanismos de concretiza ção.
Dois exemplos típicos, p ara que não se tenh a essa afirma ção ., .
só no plano a bstrato: na lógica centraliza da , fech ada e est atocêntrica ,
·-�,-.�.. 1.2.3 Constituição como sede de heterovinculações
j:)t
Q
a previsão contida no a rt. 230, §2 da CF, a ssegurando gratuid ade
..·

dos transportes coletivos urba nos aos maiores de sessenta e cinco


traçadas às políticas públicas
anos. Reforçando o ideário de inclusão e a poio à terceira id ade, o
:J Se a constituição representa " ... uma possibilida de de efetiva
texto constitucional - direta mente - densifica a medida concreta melhoria dos direitos cida dãos, tal como as normas o ma nifesta m,
que assegurará esse mesmo propósito, especificando a idade e e assim são uma promoção de mudanças... "; 101 disso decorre que
o tipo de transporte, sem qualquer abertura para o exercício da a problematiza ção de determina dos temas, identifica dos p ela
' competição política e eventual construção de uma solução mais história nacional como prioritários, pode vir a se transport ar para
'L3.
1

democrática e compa tível com as especificidades locais, num p aís o texto constitucional, que promoverá a fixação, a partir desses
como o Bra sil, de dimensões continentais e grandes desiguald ades li mesmos problema s, de uma agenda de ação para o poder que ela
regiona is. No outro extremo, o desenho constitucional do Sistema
Único de S aúde como política pública perpetrado pelo art. 198
l
f:
- constituição - está a orga nizar e p arametrizar na sua conduta
.f
e resulta dos deseja dos. A essa fixação pelo Texto Fundante, do
da CF esta belece tão-somente três gra ndes diretrizes - uma t que tenha sido eleito como pauta primária de a tuação, sob a s
,f
-f,
delas, a de garantia justamente da deliberação pluralista , com a cláusulas de proteção próprias aos preceitos desse mesmo status

�,
p a rticipa ção popular - tudo o mais se remetendo ao pl ano de · � hierárquico, se denomina heterovinculação imposta a o poder
d efinição próprio da competição polftica e d a concretiza ção d as :.J.
J político organiza do.
respectivas decisões. As menciona das heterovincula ções se podem apresenta r:
O tema das política s públicas se apresenta em nosso ·J 1 Q) como cláusulas de bloqueio ao agir do poder, nas quais se

l
sistema normativo de forma assistemática, e revestido de incluem os direitos funda mentais, instrumentaliza dos pelas
c ar acterísticas que são própri as a vári as fases . de seu próprio

i
políticas pública s; 1º2 2Q) como deveres de conduta direta mente
emandos do texto constitucional, ou ainda, 3Q) como garantias de
1 É de Couto o destaque do caráter fluido da transição institucional. no Brasil, fluidez essa situa ções jurídicas que, uma vez inatendidas, hão de ser objeto da
i
100

que lhe permite afirmar que, inobstante a agenda substantiva posta para os trabalhos atua ção rep a ra dora do poder.

-1
l. constituintes que resultaram na Carta de Outubro, o processo alongou-se para muito além
i
-f
de 5.de outubro de 198,1.l-,-coJTl seguido� ajuste.s m?,te_riaUzado� atrayés g<; di;v:ersa� reJomias 0
db
l1 constitucionais: " ...o trabalho dos constituintes deveria prosseguir, pois o novo texto já
nascera obsoleto e inadequado às necessidades do Estado" (COUTO. A longa constiruinte:
reforma do Estado e fluidez instirucional no Brasil. Dados. Disponível em: <http://www.
f
'i
lOl COSTA. A função re�;:z;dora Pód"êr Jt1dí�Úi'.rio e às políticàs públicas no Bra:siL Revista
CE] Disponível em: <http:/ /www.cjf.gov.br/revista/numero28/artigo04.pdf>. Acesso em:
24 maio 2007.
scielo.br/scielo.php?script =sci_arttext&pid=SOOll-52581998000100002>. Acesso em: 27 'º' Exemplo dássico de heterovínculação bloqueadora do agir do poder se tem nas cláusulas
fpv ?009). pétreas - nas quais se induem, por certo, os direitos fundamentais.
tt Varuce Regma Lúio do Valle
Políticas públicas, direitos fundamentais e controle judicial
1

n.,
62 1 63

i Na primeira hipótese - cláusulas de bloqueio - está-se furna determinada prática ou resultado, em decorrência não do
ij em terreno conhecido, e beneficiário de séculos de experiência tagir diretamente do Estado, mas da própria sociedade.
·
histórica. Assim é que já a contar da Revolução Francesa, aquilo Exemplos podem ilustrar a compreensão desses
� de que se cogitava era justamente a contenção do poder, a { graus de heterovinculação. O art. 196 da CF define saúde como
i
;
f criação de uma área de não intervenção. Até mesmo do ponto · um direito de todos e um dever do Estado - do que decorre, por
1
de vista do controle judicial, as heterovinculações que vedam certo, a exigência constitucional de suas ações no campo da saúde.
atuações do poder são objeto de resposta conhecida, qual seja, A dificuldade está em definir qual o conteúdo desse dever - e
a ordem judicial que proibe o desenvolvimento de conduta esse é o tema de todo o contencioso envolvendo à garantia desse
constitucionalmente bloqueada. mesmo direito fundamental. 104 Tem-se aqui uma indeterminação
São as heterovinculações determinantes de deveres de ii
�"r'I;
de conteúdo de uma ação que inequivocamente comporta algum
conduta que normalmente encontrarão nas políticas públicas, /1� grau de concretização obrigatória pelo próprio Estado.
como quadro normativo do agir do poder, seu instrumento de Ainda no campo da saúde, o art. 198 da CF opta por um
concretização. O Texto Fundamental exige um facere - que na determinado modelo institucional para o desenvolvimento pelo
sua máxima expressão de generalidade se pode identificar com o Estado, da sua parcela de ações inerentes à garantia do citado
compromisso com a dignidade da pessoa humana -; as políticas direito fundamental à saúde: o sistema único, SUS. Também aqui,
públicas concretizam a escolha em relação a esse mesmo/acere, observe-se que a opção constitucional é pelo traçado de diretrizes
., orientadoras desse mesmo sistema-descentralização, integração,
dentro das exigências formuladas pela Carta de 1988: o esquema

l
-1
parece lógico e simples. hierarquização, integralidade do atendimento, participação da
A consulta ao próprio texto constitucional evidencia comunidade-mas o detalhamento de sua arquitetura institucional

1
todavia que essa estratégia de heterovinculações, utilizada pela é remetido ao campo ordinário da decisão política.
!
! constituição como subordinante à formulação e implementação do Já no campo da atividade econômica desenvolvida pelo
agir do poder orientado pelas políticas públicas, não se apresenta setor privado, o art. 174 da CF determina ao Estado a função de
sempre e sempre uniforme. 103 Ao contrário, o que se verificará incentivo e planejamento (dentre outras), com caráter indicativo
é que as heterovinculações podem apresentar diferenças de. - num evidente papel indutor.
grau na determinação do agir do Estado (variando no que toca Como se vê, múltiplas são as formas pelas quais o texto
à densidade das cláusulas de subordinação que estabelecem). i constitucional pode fixar heterovinculações ao agir do Estado,
Também pode decorrer da heterovinculação originária do Texto 1 concretizado por intermédio das respectivas políticas públicas.
Constitucional, distintos objetos postos à atuação estatal, objetos ,, E é natural que seja assim; porque a constitucionalização do
esses que podem envolver não só o conteúdo mais ou menos -.f;
inteiro conteúdo de políticas públicas determinaria a fossilização
determinado de uma atividade a ser desenvolvida diretamente do texto constitucional e dos direitos que ele cogitasse garantir
pelo Estado; uma arquitetura institucional à qual será de se confiar por intermédio da atuação do Estado. Em outro plano, se teria
I

t., ,
a formulação e implementação dessas mesmas políticas públicas; igualmente o comprometimento do livre exercício democrático,

'- i
••,,.

1. ou ainda, uma atuação articuladora entre forças sociais, que induza

. â�--�6úti�is
º'.·1,içaris;1; �um ?Wi:>To panoram;_das� divers;{ ex���siõe�'-i;_;;.çji�,;; públicas·�
na medida em que determinaria, na lição de, sérias dificuldades ao
,,Jc·- ":C ,,. ,. ' ':
e�
1
·e�, •. · · "' .. -- •. .
constitucionais, infra-constitucionais, políticas de governo e outras - consulte-se BUCCI. Vale observar que no campo da educação, o ce:;..1:0 constituci;nal �nunciou seu· are. 208,--.•... ·. ··-"-'· -·'·
O conceito de política pública em direito. In: BUCCI (Org.). Polfücas públicas. reflexões
.!. 104

de atuação cuja garantia seja dever do Estado, numa solução que


? quais sejam as vertentes
sobre o conceito jurídico, p. 11-21. explióta mais o que lhe seja exig(vel.
f
1
F". ··· · · ·--.... ,- -�-,.----·

,
ll
i 64 1
Vanice Regina Lfrio do Valle
Políticas públicas, direitos fundamentais e controle judicial
\ 65

i
..•.
exercício ordinário da politics, e ao desejável jogo deliberativo. Há intimamente rel acionados a essa mesma evolução,
de restar,portanto , espaço, aind a que parametrizado pel a agenda a m edicali zação da vida, io6 que cria necessidades nunca
traçada pelo texto constitucional, ao exercício ordinári o do debate, cogitadas, inclusiv e (se não princi p almente) por força d os
"� e à eleição dos p roblemas que estejam a merecer a prioridade do
i,i interess es envolvid os por trás da in dústri a farmacêutica e seus
agir, assim como das respectivas estratégias de a ção.
·associados, exp andindo as fronteiras das doenças p ara criar
·, É dentro dessa perspectiva que, n os campos mais sensíveis
com isso, at ravés de pode rosas ações de marketing, mercado,
- pelas nossas condições de desenvolvimento, e ainda por suas
em que antes só o que existia eram as manifestações físicas da
implicações sobre a própri a liberdade - a constituição de 1988 107
1 condição humana .
"; traçou heterovinculações, como já referido , nas áreas da saúde A hipótese aqui é clara de heterovinculação, não só no que
e d a educação - do que decorre, como se ve rá no Capítulo 3
toca a uma principiologia regedora da ação pública, mas també m
adiante, uma intensa judicialização desses mesmos temas. Vale
no que se refere ao caminho institucional de decisão, protegida
retomar aos p receitos constitucionais nas d u as searas, para aclarar
ain da sua esfera de possibilidade pela garantia de um patamar
não só o sistema p elo qu al optou o constituinte brasileiro, mas a mínimo de financiamento. Essa combinação haveria de se revelar
racionalidade que o dita. apta a um só tempo, a tutelar o caráter necessariamente universal
No campo da saúde, a constituição enuncia o correspectivo e igualitário das prestações de saúde, sem deixar de ter em conta
º
d ire ito social sob signo de univers alização ( art. 6 , caputCF), e de
'li a rapidez com que as condições tecnológicas e científicas podem
outro lado se vale de uma enunci ação de parâmetros orientadores

i-
intervir e criar novas alternativas de ação. 108
da densificação desse me smo direit o (art. 196 CF), fixando ainda
Também no segmento da educação - já se mencionou
um patamar mfuimo de gastos com essa mesma área de ação - exerce a constituição esse papel de fixação de pautas de
(art. 198, §2º CF). Complementa a arquitetura constitucional em priorida de no que toca às políticas públicas a serem desenvolvidas
rel ação à saúde, o já referid o desenho institucional desejado pe lo Estado. Observe-se que inobstante o uso igualmente da
para a concepção das políticas e execução das ações próprias ao cláusula de enunciação de direitos (art. 6º , caput e art. 205 CF),
segmento, a saber, o SUS, 105 apontando-lhe diretrizes e fonte de do traçado de pri ncipiologia aplicável a e ssa área de atuação ( art.

í
financiamento (art. 198 CF), bem como competências indeclináveis 206 CF) e da reserva mínima de recursos a financiarem o sistema
(art. 200 CF).
Observe-se que a model agem constitucional - e legendo
i 106 ".•.A medicalização da vida é a transformação de situações normais da existên cia humana em

l
uma instância institucional, pautada pelo princípio participativo­ objetos d e abordag em por profissionais de saúde, utilizando medicame ntos e equip amentos.

1
Eventos como n ascimento, morte, adolescência, menopausa, enve lhecimento, atividade
revela-se revestida da flexibilidade indi spensável, tendo em conta sexual, distúrbios dig estivos e outros, são transformados em situaçõe s c\úúcas" (VEllOSO.
as características que são própri as desse segmento. Isso por que
Medicalização da vida. Publicado e m: 3 jul. 2007. Disponível em: <http://www.
portalm edico.org.br/index.asp?opc ao=mostraartigo&id=772&portal=>. Acesso em: 13 dez.
pressiona para uma atualização perman ente dos parâmetros de 2007).
107
O pa pe l das gr andes corpor ações n a áre a médic a e farmacêutic a, na classificação artificial
definição das políticas públicas em saú de, não só a vertiginos a
d e estados próprios à condição humana como p atologias, vem sendo d enunciado já há
ve locidade das inovações cientúicas, mas também outros l m a is de 30 anos por cie ntistas e observa dores. No t ema, a título informativo, consulte-se

í MOYNIHAN; HENRY. The fight ag ainst disease mongering: generating knowledge for action.

l-;
PIOS Medicine. Disponível em: <http://medicine.plosjoumals.org/per\se rv/?request=get­
105
Re gistre:s· e--qúê ci m�d�lo constituci�n�l traçado ao Sistem a Único· de Sallde�óndul aihda _docurµent&:doi=10.13_7l%2Fjouma l.pmed.0030191>. Ace sso e m:· 12 dez. 2007.
Essa mesm a pe rc epção exsurg e dos termos; principalmenté,·'das dedsões da Presidência ..

1
108
a uma presunção de um espe cial signo de legitimidade às decisõe s h a vidas no âmbito do
sistema, n a medida em que ele opera sob os princípios de desc e ntr alização (e portanto, do STF analisadas no Capítulo 3, que relevam um a certa def erência p ara com as opções de
formulação de políticas públic as havid as p e la estrutura do SUS, pr e sumindo que a escolha

i
maior a prmcimação entre instâncias decisórias e usuários) e de p a rticipa ção da comunidad e
(art. 198, I e III d a CF). originária da instân ci a constitucionalmente eleita para esse tipo de e le ição haveria de se ter
como a mais a de quada.
í
li 67

1
Poüticas púbEcas, direicos fundamentais e controle judicial
66 1 Vanice Reglna Lfrio do VaUe
\

um Judiciário muito bem intencionado,


(art. 212 CF), o texto constitucional - diferentemente do que se ;:�ubstitutiva, ainda que de
titucional.
fez na saúde - densifica o espectro de obrigações reconhecidas :··· ·não restaura a normalidade cons
ao Estado enunciado um conjunto de ações que, devidamente Essa conclusão se extrai não só do próprio Texto
t garantidas, efetivam o cumprimento desse mesmo dever (art. fundamental - que remetendo à ação
concertada do poder,
l 208 CF).
A leitura dos distintos preceitos está a evidenciar ainda
a eleição de quais sejam as ações própr
suas opções valorativas - mas també
ias à concretização de
m da compreensão de que
governamental,
l
; que a determinação de existência de políticas públicas pode política pública não se traduz em uma só ação
ionalmente
l
se apresentar numa dimensão objetiva - e por isso, abrir­ mas em um conjunto de frentes de atuação, intenc
a realização
!' se a um mais extenso controle jurisdicional, posto que, como coerentes, que se retro-alimentam, operando para
11 º - especi almente no
leciona Canotilho, 109 " ••• a objectivização dos direitos conduz à de um objetivo. Se assim o é, o controle
coletividade
ressubjectivização de posições prestacionais, configurando-se campo do agir que tenha em conta alcançar a uma
os próprios direitos, liberdades e garantias como esquemas de - não pode reivindicar para si uma aptidã o para uma ação
inclusive,
garantia dos direitos sociais" -; ou ainda, pode se apresentar substitutiva daquela instância de poder que é revestida,
escolhas
como prioridade temática, da qual não se possa extrair, todavia, .1 de arquitetura institucional própria à formulação das
m maior
democráticas de prioridade; e mais ainda, que manté
-
densidade suficiente a determinar concretização em sede de
controle jurisdicional, com a dispensa daquele caminho de i
,�_ .,.
proximidade com o complexo de informações e relações que
hão
aprofundamento do debate que a própria constituição apontou, a
saber, o exercício regular do jogo democrático. Numa ou n'outra
,'·'l·
'J
\--.
'
de cunhar essas mesmas políticas públicas.m

:1_
hipótese, se traduz a constituição - sem dúvida - em parâmetro
1
de heterovinculação da formulação e implementação de políticas
1
1
públicas, e como tal, em balizamento ao controle jurisdicional.
No campo em que a opção constitucional recaiu sobre
'il
a priorização de um determinado tema na agenda de agir do :i
:{
poder - mas sem enunciação de qual ação concreta pudesse. :i
traduzir a política pública a se implementar - o espaço de ]
atuação que será de se reconhecer ao controle (seja ele interno,
externo ou jurisdicional) é o da exigência de cumprimento desse

1
1
1
que é o dever primário, qual seja, o de formulação, através dos ;Í

mecanismos institucionais próprios e democráticos, da política


pública aplicável à hipótese. Inobservada eventual norma de
i '
i princípio instituidor, também sobre essa omissão pode recair o

t!
controle; mas em toda e qualquer hipótese, é de se entender que 1
-1. BUCCL Políticas públicas.
o desejo da constituição é que a escolha pública se dê através ,. 11 º lvIASSA-ARZABE. Dimensão jurídica das políticas públicas. ln:
reflexões sobre o c onceito jurídico, p. 62.
dos mecanismos del_iberatLvos - e nesse sentido, uma atuação e se apresente comprometido
m_Ressalve-se sempre e sempre as situações em que o direiro à saúd
1:

- --<r-_·:�� - -�-.-,.,. �� .7�-.-�: ;..,..,_
::: -
.:._� -·,.,_ . .---e-:.::--:·•.... :�.:�..;:-......-·�--·.:,.: ,- _____ ..
.·t.-:::�;.":-, .,.·,.. - ..-. .
-··cr-·, ... , ·-· ····no·éxtr'êm6;Eôfü:b'"tí'scó de vida,:no ,:iuah1 poflder'); çÃ_ � fata,lme
desse último . Essa não é, todavia, a situação verificada na expressi
.nte.�.� í,rtdinará em prestígi.o
va -maforia das demandas
versalização, tem sido
que invocam o direito fundamental à saúde, que em nome de sua uni
t� ,�, CANOTILHO. Um olhar jurídico-constitucional sobre a judicíalização da política. Rw..sta de
Direito Administrativo,p. 90. invocado em quadro s que variam do câncer à alopeci a; da diabete s à infertilidade .

l� ·,
_}
Capítulo 2

:.,:�
O encontro das políticas
tYf públicas com o direito
1
.. -:

l
·.,; ·
!:·
_,,
·i

ltJ
Sumário: 2.1 Inclusão elas políticas públicas na agenda de reflexão do
direito administrativo - 2.2 Políticas públicas constitucionalizadas e o reforço
a características imperativas do agir estatal - 2.2.1 Planejamento - 2.2.2

·.1· Eficiência - 2.3 Dupla funcionalidade da juridicização das políticas públicas:


orientação interna do agir do poder, vetor de controle externo e social -
2.3.1 Processo deliberativo democrático como sede de auto-vinculações

11 traçadas às políticas públicas - 2.4 Dever constitucional de enunciação de


políticas públicas

.."
•·,

.

·ª:\·
·.· ,·,
1.
..

·;
:i
.

l
i: 2 .1 Inclusão das políticas públicas na agenda de
i
reflexão do direito administrativo
.X
O reconhecimento como categoria também relevante no plano
i
1
:l do direito de um instrumento que orienta a ação estatal - políticas
públicas - é conquista cognitiva que, associada a um ambiente
l 'J de Estado Democrático de Direito, tinha como desdobramento
i previsível a judicialização. Afinal, se políticas públicas expressam

1
,,_;�: . .
. �:.:-.,_ ·� a "... pretensão- de-planejamento.social a pàrtir .da- execução dos
projetos governamentais das sociedades contemporâneas ... ", 112 é
. .., .- . ' .

t"'
J
.

1 111 APPIO. Controle judicial das poh'ticas públicas no Brasil, p. 136.

.1
"
ji,

1
1i, 70 ! 71
si· Pohlicas públicas, direitos fundamemais _e controle judicial
Vanice Regina Lúio do Val!e
/

!i'
i natural que essa mesma tradução explícita das escolhas públicas número - também é no Judiciário que vão desembocar as
[ pretensões relacionadas exatamente ao inatendimento dos deveres
esteja sujeita à incidência dos mecanismos de dissenso e controle
1 internos, políticos e jurisdicionais. 113 do Estado em muitas - senão todas - as suas áreas de atuação. A
íJ; Some-se a isso o impacto decorrente da reconfiguração da interseção entre insuficiência da ação estatal e a violação a direitos
presença do Estado como garantidor de prestações, ou quando fundamentais -- e portanto, negativa de efetividade do texto
menos de uma expressiva rede de proteção social; tudo num constitucional - determina intensa multiplicação das decisões
contexto de ordem constitucional comprometida com a proteção à judiciais que, buscando corrigir comportamentos patológicos do
dignidade da pessoa humana, e o resultado será um aumento dos poder, afirmam empreender ao controle de políticas públicas, o
conflitos cujo pano de fundo envolve a discussão de até onde se -�:f,
que por óbvio, reforça o imperativo de teorização de qual seja,
tem o dever de agir do Estado, e em que termos. Assim, o debate '\f efetivamente, o seu significado e conteúdo normativo.
mais atual envolve não só a persecução de prestações concretas, :·.,.,;·.1 . A empreitada está longe de ser simples. A combinação de
a serem oferecidas por um Estado que se crê garantidor de um '.
constitucionalização de políticas públicas como instrumento do
mínimo existencial; mas também o desenvolvimento por esse agir estatal, e controle jurisdicional, determina um sem-número

·';1·:.
mesmo Estado, agora já em sua condição de articulador das forças de indagações, que especialmente a advocacia pública vem
sociais, de funções de planejamento e fomento de um conjunto .� enfrentando diariamente. Em que pese a afirmação relativamente
'
de outras atividades que, se não devem mais nele encontrar o simplificada de que os direitos fundamentais geram deveres de
executor exclusivo, ao mesmo tempo não podem dispensar sua 'l condutas positivas e negativas do Estado à conta de sua dimensão
presença como agente de coordenação. objetiva, e do próprio preceito contido no art. 5 º, §1 º da CF; fato
Nesse cenário de inovações e incertezas, a arena jurisdicional é que o tema não se revela desprovido de complexidades no seu
se tem apresentado como ambiente possível de explicitação dos plano aplicativo.
conflitos relacionados ao enfrentamento das próprias questões Qual o significado da referência no texto constitucional,
centrais atinentes à compreensão do papel ainda possível .t
ao imperativo de existência de políticas assecuratórias de
1 determinados direitos - como por exemplo, aquela expressa
reconhecer ao Estado. 114 Da mesma forma - e em muito maior

i
no art. 196 da CF? É possível extrair diretamente do texto
113 É de Mendes a explicitação de que a opção brasileira de constitucionalização dos chamados
constitucional - para fins inclusive de manejo das garantias ali

•i:
�)

direitos sociais traz para o campo das regras juódicas a pretensão a ações legislativas e
ii medidas administrativas tendentes à concretização desses mesmos direitos, num verdadeiro contidas - o dever de agir do Estado? Em caso positivo, qual o
í
,
" ... fenômeno de transmutação, convertendo situações tradicionalmente consideradas de
natureza política em situações jurídicas ..." do que decon-e a juridicização do processo conteúdo desse dever de agir? Esse dever de agir é diretamente

1
t decisório e a acentuação da tensão entre direito e política (MENDES. Direitos fundamentais exigível - independente de outra intervenção do poder, que
J

i
;:,
e controle de constitucionalidade. estudos de direito constitucional, p. 9).
114
A título de ilustração da judicialização do papel ainda reservado ao Estado, cite-se a densifique esse objetivo constitucional? É exigível tão-somente

ti "
ADI-MC nQ 1.923, Rei. o Min. Eros Grau, julgamento em 1°.08.2007, em que se debatia a na dimensão coletiva?115 É exigível no que toca à projeção desse
constitucionalidade da Lei nº 9.637 de 15 de maio de 1998, que instituindo a qualificação
de "organizações sociais" em favor de entidades externas à estrutura do Estado, pemútia a mesmo dever de agir estatal na esfera de direitos individuais?
essas mesmas entidades o desenvolvimento de funções reputadas públicas não-estatais; e
1-
"·t­t.·
mais recentemente, a ADI n' 4.197, Rei. o Min. Joaquim Barbosa, ajuizada pela OAB, que �
tem por objeto leis ordinárias do Estado de Sergipe que instituem - na esteira da Emenda m Registre-se o trabalho pioneiro de Barroso, indicando a melhor adequação das ações de

i:
Constitucional n' 19, e da alteração por ela promovida no art. 37, XIX da CF - fundações caráter coletivo para a inclusão de novos medicamentos nas listas daqueles de dispensação

!
º
_ .. - estatáis:·de :direito ·privado. Arriba·s as ADFs manifes4m eyide_nie dissenso em relação à. -. , .. ,,:- ,. ::..:---0brigatótia· pelo Estado·, ·_tendo em conta a n·ecessidade de preservação do caráter. sistêmie;o__ - ..
·e, - desse tipo de deliberação (BABROSO:"Déifalta de efé'tibiâade à júdicíàlfração e::á::essiva: �-· .
possibilidade em si d o' desenvolvimento de ativiêláêlês repui:áâás públicas - ainda que não
estatais - por distintos an-anjos institucionais; o primeiro, envolvendo agentes externos ao -1. '_. - .'

direito à saúde, fornecimento gratuito de medicamentos e parâmetros para a atuação judicial.


Estado, o segundo envolvendo uma nova forma de organização ainda interna ao Estado,
l Disponível em: <http://www.lrban-oso:com.br/pt/noticias/medicamentos.pdf>. Acesso em:

í
Í!

'!
mas com derrogação parcial das regras inerentes ao chamado regime público. 'cf 2 abr. 2009).
'1
�·

ll;
Vanice Regina Lúio do Valle Políticas públicas, direitos fundamentais e c9ntrole judicial
1 7
3
72 1
"

i

A inobservância do dever de agir de parte do Estado autoriza, per Como se viu no Capítulo 1 acima, o esforço de teorização não

l1
si, a atuação substitutiva do Poder Judiciário? é de se fazer necessariamente a partir do zero; há todo um acervo
Indissociavelmente relacionado às questões atinentes de conhecimento já desenvolvido e passível de aproveitamento
ao conteúdo e exigibilidade do dever de agir do Estado para a construção intelectual necessária no campo do direito .. Esse
t
1 valorativamente comprometido, tem-se a oposição das cláusulas de processo de recepção, todavia, é de se da.r com a devida adaptação,
� limitação a esse mesmo agir: escassez de recursos, equilibrio e
·l para que se possa compreender qual o significado normativo de

'.tli
harmonia entre poderes, necessária garantia do agir isonômico políticas públicas, para que não se tenha, no suposto exercício
que veda diferenciação injustificada no atendimento à cidadania,
il <,� ..
./•
do controle do poder, um desvirtuamento total da estrutura
j matriz necessariamente coletiva dos direitos fundamentais de <1 constitucional de disciplina desse mesmo poder. Afinal, o resultado
segunda geração, etc. .. i�·
·�
1
desejável, sempre e sempre, da ação de controle é reconduzir
Completa-se o quadro com o dado empfrico de que a matéria
aquele que é destinatário inicial do cometimento constitucional
não se compadece com o timing próprio do debate acadêmico, •;t·
ao desenvolvimento regular de suas atribuições. Isso significa
ou da sedimentação de uma teoria mais ampla e desenvolvida.
que, se uma providência imediata de controle corretivo pode ser
As questões se tem judicializado, cada vez com maior freqüência, .';
deflagrada pela inércia; dela não deve resultar uma reação que
por força principalmente da imbricação que guarda, muitas vezes,
.·�,, reforce a inatividade - na medida em que desonere o responsável

I-·
�;

a ausência de políticas públicas com a preservação do princípio


retor da centralidade da pessoa. Com isso, a par dos preceitos original pela atuação do poder, dos custos políticos inerentes à
constitucionais e legais que já estariam a exigir a outorga da ,'
escolha pública e à concretização de suas decisões. 118
prestação jurisdicional - acesso à justiça, duração razoável do .:: O que se está afirmando é que o conhecimento do sentido

,
processo, vedação ao non liquet -; fato é que direito à saúde, normativo que se possa reconhecer a políticas públicas deve
'

''
'

·1r:
f' educação, atendimento pré-escolar, dignidade em estabelecimentos "' orientar um aperfeiçoamento da eventual intervenção jurisdicional
prisionais, todos esses são temas que, por sua direta relação para '• ·. de controle, que seja a um só tempo apta a, no plano imediato,
com a preservação da dignidade da pessoa humana não admitem superar a violação a direito, mas no plano secundário, induzir a
uma espécie de suspensão, até que a reflexão acadêmica se (_
.. recondução do poder inerte (legislativo ou administrativo) ao
complete. Nesse cenário, impõe-se a um só tempo, teorizar e
litigar, 116 num exercício dialógico de construção de uma matriz de �}-- -
i-
�\i
:._"� ...
_ _
cumprimento de seus misteres constitucionais, para os quais ele a
rigor é revestido da indispensável especialização funcional. Esse é
raciocfui.o que é nova, ao menos, para a ciência do direito. 117 { o ponto que se passa a desenvolver.

n6 Emblemática a convocação pelo S1F, em 5 de março de 2009, de audiência pública destinada


a " ... ouvir o depoimento de pessoas com experiência e autoridade em matéria de

·1�
Sistema Único de Saúde, objetivando esclarecer as questões técnicas, científicas,
administrativas, econômicas e jurídicas relativas às ações de prestação de saúde .. .". O
que tal convocação traduz é justamente a necessidade de teorizar para julgar, especialmente
num campo em que no mais das vezes, nas razões de uma das partes, se afinna existente 11
8
Consulte-se as interessantes considerações de Dixon sobre as possíveis origens da inércia -
i o risco à vida. no texto referido, especificamente aquela atribu(da ao Legislativo: l') os chamados "pontos

�- • ·-->.
117 Regi_s1;re-se, na opseryaçâo de Courtis (2007,_p. 186) que em outras áreas do conhecimento
- a,dmi.oistcaçã;;;c;eiência,.política, sociologia, economia; etc. --'- a-matéria das· políticas }l-
·} ,.... cegos", em relação aos-quais haja dificuldades e_m identificar-se prop_ riarnen_t(ê a.existência -.
' de-urr{ dever�de agir; e 2') o problema do ônus da'inércfa;·entendidos"cor:Ílo. a ·avaliação
·,·- }·
i públicas já é objeto, há muito, de cogitação. De outro lado, mesmo no campo do direito, (pol(tica) acerca de qual seja o fardo mais leve: agir, ou manter-se inerte em temas

Jti
o desenvolvimento teórico tradicional se voltou historicamente à tradição dos direüos de
f;;.· sujeitos a grande sensibilidade social (DIXON.. Creating dialogue about socioeconomic
cunho patrimonial, de natureza privada - ferramental inadequado a lidar com fenômenos rig hts: strong-forrn versus weak-forma judicial review revisited. Internationaljournal of
como o da exigibüidade constitucional de enunciação de políticas públicas. Constitutional Law).
-�

t
�.

Vanice Regina Lírio do Valle


7 4 / Poüticas públicas, direitos fundamentais e controle judicial
J 75

i.
l@
2.2 Políticas públicas constitucionalizadas e o ,: administrativa que em si não se constitui novidade; 121 ao revés,
i
,i
reforço a características imperativas do agir ,,, se cuida de técnica própria à ação administrativa revestida de
estatal alguma duração, que só se pode desenvolver através de um
]
Uma vez mais, uma v1sao conceitual de políticas públicas desenho no qual se tenham estabelecidos os vetores espaciais,
temporais e de conteúdo.
auxilia o desenvolvimento do raciocínio. Moreira Neto 119 leciona O que há de inovação, a partir de um constitucionalismo que
traduzam as políticas públicas um conteúdo integrador da orienta valorativamente o agir do poder, é que as ações planejadas,
substância da decisao administrativa processualizada, da qual se expressas nos quadros normativos de ação - nos instnJmentos de
espera que advenha a direta satisfação de resultados, posto que enunciação de políticas públicas - hão de estar funcionalmente
são estes vinculantes da ação administrativa. Na essência dessa direcionadas à consecução dos resultados eleitos pelo Text_o
decisão escolha processualizada, um quadro normativo de ação, Fundamental. Significa dizer que o quadro normativo de ação da
através do qual se estabelece uma relação de vinculação entre o Administração há de ser teleologicamente orientado, num ambiente
Estado político e a sociedade. de formulação de decisões que incorpora o caráter pluralista da
Embora a simples referência constitucional a políticas sociedade, num exercício de política constitucional que permita
públicas como instrumento da ação estatal fosse suficiente identificar o compromisso possível das alternativas. 122
para determinar a utilização dessa técnica, fato é que a escolha Introduz-se, portanto, uma especial carga ao elemento
constituinte se insere num quadro de retro-alimentação de de coordenação dos esforços de ação do poder, seja nas suas
características do agir estatal em tempos de pós-modernidade, relações internas, seja naquelas externas. No plano interno,
facilitadoras da responsividade e do controle. cuida-se da prevenção contra uma Administração que, composta
por órgãos desagregados, 123 não encontre no planejamento
em si elemento suficiente a orquestrar as ações de cada qual
2.2.1 Planejamento de suas unidades organizacionais no sentido do alcance dos

i
objetivos constitucionalmente traçados. A articulação, portanto,
Disciplinando o elemento dinâmico do poder político
entre as várias frentes de ação desenvolvidas por cada qual dos
organizado, a política pública expressa o percurso proposto ao
agir do braço operacional dessa mesma estrutura - e com isso segmentos da Administração, no cumprimento de seus misteres
constitucionais, é o único elemento.
submete essa ação a um signo de previsibilidade e transparência
No plano externo, o quadro normativo do agir cuidará da
expresso no planejamenta1 20 - traço característico da ação
coordenação de esforços entre vários agentes estatais, como é
próprio de um Estado federado; mas também enunciará através
MOREIRA NETO. Novos horizontes para o direito administrativo pelo controle das políticas
,.
·}
119

públicas. Texto extraído e adaptado da Conferência de Encerramento do Congresso


;
Internacional de Direito Administrativo, promovido pela Procuradoria Geral do Muniápio

l
121
GIANNINI. n pubblico potent: Stati e amministrazione pubbliche, p. 130.
do Rio de Janeiro, proferida em 5 de outubro de 2006, no auditório da Escola da·Magistratura
"' É de Zagrebelsky o destaque d.e _que a soberania da constituição - como sucessora da
do Estado do Rio de Janeú-o.

i
soberania do Estado - se alcançará sua potencialidade plena, desde que não se espere
"º Essa a fumação se faz tendo em conta cond[ções regulares de exercício de poder, e ausência
que o' resultado seja a simples criação de um centro de emanação de força concreta que
de situações fáticas imprevisíveis. Afinal, é certo que o planejamento' pode ser "abalroado" assegure uma unidade política estatal; mas que incorpore dentro dos limites constitucionais
por circunstâncias fáticas in).previsív�is; 9u_ ain_da, qu!;'!,.ele, . .pppe.se revdar deficiente de
º ,a _e;,pqnrans:[çia__çl_e__ qa.o,;ig;i, ,social. e a ,corpp�tiç!lo. par.a,_ as_s;umir a direção política, ambas
. or[gem,- pósto q�ê;'afiistâdó. Jôf lrnperativos-'corÚtitlkionáfs- desde suá°orig�m;° deixa ·de
condições parãâsobrevivêiiéía de uma sôéiéiiadêplu;àlistTu e.. êlemocrática (ZAGREBELS)G.
contemplar ações que não exigíveis do Estado, Todavia, no puro desenho teórico, o agir
cio Estado exige o planejamento, para com ele se habilitar ao controle (pela transparência e í El derecho dúctil: ley, derechos, justicia, p. 13-14).
123 A expressão também é de GIANNINI. J/ pubblico potere Stati e amministrazione pubbJiche,
previsibilidade), e ainda à análise da eficiência. J p. 79.
r1 ... -----=��11
Pohlicas púbücas, direitos fund.a..-nentais e co�crole judicial
.!
Vanice Regina Lúio do Valle J 77
1
1 76
t
t do respectivo planejamento, de que forma as várias forças processo de expansão, a partir da identificação do potencial
sociais, organizadas ou não, majoritárias ou minoritárias, podem de transbordamento de seus próprios limites geográficos, do
i
i ser chamadas a decidir ou mesmo executar uma determinada eventual tratamento inadequado de matérias críticas como riscos
l atividade pública não-estatal. Também aqui, duas dimensões: a ambientais, integração econômica, doenças infecto-contagiosas
; etc. A introdução do conceito de problemas de govemança supra­
de articulação com a sociedade no plano decisório - com os
problemas atinentes à garantia de participação em condições nacional está a sugerir, portanto, o imperativo - em um futuro
j: próximo - do estabelecimento ainda, de relações de coordenação
\ minimamente igualitárias - e ainda aquela no plano da atuação
em concreto do Estado pautada pelo já tanto mencionado quadro entre políticas desenvolvidas por distintos Estados, com ou sem a
normativo de agir, seja nos segmentos em que seja ele, Estado, intervenção de organizações intemacionais. 127
o executor direto de atividades, seja naquele campo em que A enunciação de programas de ação - especialmente se
sua atuação deva ser a de ponto de ligação entre os subsistemas contemplando a cada qual das etapas que permitem a sua escolha
político, econômico, financeiro e tributário da constituição. 124 e detalhamento - é prática que traduz objetivamente o dever de
Uma concepção de política pública a ser desenvolvida planejamento da ação estatal (art. 174 da CF), dever esse que lança
J
no Estado no século XXI se volta à sua compreensão como um
.fr. seus olhos para além do administrar o presente, da gestão ordinária
sistema de ação pública - e não como mero executor de dos fatos conjunturais, incorporando uma visão dos efeitos de
l
tarefas concretas. Do Estado se exige que articule múltiplos '; longo prazo do agir do poder. Na advertência de Comparato, 128 o
atores governamentais e sociais, assim como ações visíveis e dever de planejamento envolve não só uma dimensão temporal
invisíveis, decisões e não-decisões; tudo mediante um processo distinta daquela da administração do quotidiano, mas também um
que admita a possibUidade de continuação, mas também a de I modo de apreensão da realidade que cogita não da visão analítica
"i,
interrupção, término, ou a re-determinação de tarefas específicas ,,·� dos fatos, mas de uma síntese global dos fatos sociais, integrando-os,
: '!
...

concernentes a uma especial equação: problema + política = em sua interconexão essencial.


'
resultado + impacto. 125 Contingência, portanto, é uma variável que .,,, O que se está sustentando é que o dever de planejamento,
há de ser incorporada à equação, a partir inclusive da memória constitucionalmente posto à Administração e instrumentalizado
institucional126 que se tenha disponível. pelas políticas públicas, só se terá por observado a partir de

·_.•1_
Vale ainda registrar que o traço de coordenação-já exigível uma explicitação, não só dos valores pretendidos inverter
internamente, na articulação das políticas públicas desenvolvidas no financiamento da atividade pública (como se dá pelos
por um determinado Estado nacional - encontra-se em franco instrumentos orçamentários); 129 não só da ação em concreto

124
Explicitando a importância do papel do Estado como promotor, através das correspondentes
políticas públicas, do planejamento - e através, dela, da supra referida articulação entre os
, f 127
No tema, consulte-se ESTY. Good govemance at the supranati
ad.ministrative Iaw. The Yale Law Journal; e ainda, VENTRISS. The
ad.ministration and public policy: irnplications for teaching. Policy
onal scale: globalizing
intemalization of public
Studies Review.
subsistemas político, econômico; financeiro e tributário do Texto Constitucional- consulte­ do Estado moderno . ln: ___. Para viver a
128
COMPARATO. Novas funções judiciais
se SOUTO. Neoconstitucionalismo e controle de políticas públicas. Revista de Direito
Público da Economia - RDPE democracia, p. 105.
ão preceituai envolvendo
A enunciação é de GONZÁLEZ MADRID. Las poüticas pú blicas: carácter y condiciones
129
Registre-se prestigiosas vozes que, a partir de uma maior explicitaç
o de um sistema de
125

vinculantes. Polis: Investigación y Ana1isis Sociopolítico y Psicosocial. Disponível em: os instrumentos de planejamento orçamentário, busca a construçã
tendo em conta prioritari amente a essas normas jurídicas (SILVA.
<http://www.juridicas.unam.mx/publica/librev/rev/polis/conr/2000l/pr/pr3.pdf>. Acesso controle mais efetivo
ntação, p. 121-155).
em: 5 abr. 2007. Direitos sociais. leis orçamentárias como instrumento de impleme
. ª. .. . . . .. .•. . . _ rmente p_ai;a v[abjli:zar o
i.: 6
. EmbQ_ra · esse_ s� :ç:2nstitua um caminho de solução - part�cula
12 Importante ·subJ.ín:bax:_qµe·etnbóiã:muitó se tenha ca.minhadÔ no 'senticló âa-densifiçaçã9 d9.
às aade{terido em córita
f.
c
conteúdo do pnncípío constituêional rui publicidacte, insculp1<lo no �rt. 37, éapuicb :r ainda�� controle jurisdici onal - parec� limitado
cionalm ente
em relaçiio
tratado para
suas·
esses
pÓssibJi
mesmos instrum entos legislativos
um enunciação mais tradicional; pouco sé avançou no sentido de que a formação de memória justamente o perfil constitu
cional de enuncia ção de poüticas públicas e
(no tema, consulte-se VALLE. Dever constitu
institucional - e portanto, a gestão de capital de conhecimento - é um desdobramento Fórum Administrativo -
natural e necessário da prática organizacional pública e transparente, que há de tomar visível .f. auto-vinculação: caminhos possíveis de controle jurisdicional.
também ao erro, ao insucesso, pelo potencial de aprendizagem que ele possa encerra·r. '! Direito Público).
:!
Pohticas públicas, direitos fundamentais e controle judiciaí 9
l 7
Vanice Regina Lírio do Valle
78 1

1·I�..
que se cogita desenvolver em um momento determinado no à própria idéia de uma gestão que serve ao interesse coletivo,130
tempo; mas de todo o conjunto de elementos que integram o ou ainda, que essa mesma compreensão já se pudesse extrair da
processo de programação da ação estatal. Uma vez mais, está­ referência contida no art. 70, caput da constituição Federal ao
se reforçando os cogitados traços de multiplicidade e continuum
- planejamento, compreendendo os múltiplos recursos, agentes
:·. '.
'
:-
aludir à economicidade131 como um dos aspectos de cogitação do
controle a ser empreendido pelo Tribunal de Contas.
e possibilidades de ação; planejamento com a perspectiva de Numa aproximação que busca.maior valorização da reforma
i-

1•
constitucional empreendida, Moreira Neto132 assinala que a Lriclusão
programa contínuo de ação.


no texto constitucional do princípio da eficiência determina a
No plano do controle, o que se tem - com a incorporação do �· consagração de um "... direito difuso da cidadania.. .", numa
planejamento como imperativo do agir estatal instrumentalizado

.·�1 ·
� verdadeira antecipação de um dos aspectos do conceito que depois
pelas políticas públicas - é a percepção de que sindicar, por se virá a assinalar como direito fundamental à boa administração. Em
exemplo, a política pública de educação desenvolvida no âmbito linha de consideração assemelhada, a crônica de jurisprudência do
do Município "X" terá muito mais amplo espectro de investigação STF identifica o princípio da eficiência como princípio republicano
do que a pergunta sobre o número de vagas hoje existentes na J, dedutível da impessoalidade, igualdade e moralidade.133
escola, ou se os professores que nelas lecionam são contratados
f Inobstante as controvérsias, o princípio da eficiência foi

1
temporários ou servidores do quadro permanente. Afinal, esse incorporado ao sistema constitucional pátrio, preconizando
dado pontual retrata um momento no curso da política pública, à Administração uma ação rápida, precisa, e apta a produzir

l
e não se constitui em si, dado suficiente a orientar uma decisão resultados que satisfaçam às necessidades da população. 134

t•·1.
jurisdicional, particularmente aquela que no exercício do Reconhecendo a origem economicista do princípio, a doutrina
controle do poder, determina uma intervenção funcional que em sublinhou todavia a diferenciação entre a eficiência econômica
nosso regime de poderes equilibrados e harmônicos, é de se ter e a administrativa, 135 destacando ainda o imperativo de uma
postura ativa da Administração, na busca desse mesmo resultado
por excepcionaL .
ideal, teleologicamente orientado à maximização do respeito à
'

Controlar a política pública de educação terá por premissa .. dignidade da pessoa humana. 136
conhecer a enunciação de parte do Estado-Administração de todos :I· -
·:·.
os elementos que conformaram as suas escolhas, e os resultados .)
.
' 130 É de Pereira Júnior a identificação da explicitação do princípio a " ... uma figura de estilo, um

J1
através delas pretendidos alcançar-só a partir dessa parametrização reforço de linguagem ... " que limita-se a enfatizar o que é inerente à Administração Pública;
e a diagnose de que a efetividade do ideário de eficiência estivesse mais relacionada às
se poderá formular, efetivamente, juízo de valor em relação ao ações concretas de aprimoramento da função administrativa, do que à enunciação desse
descumprimento por parte do poder, de um dever de agir. vetor principiológico (PEREIRA JÚNIOR Da reforma administrativa constitucional, p.
41-47).
131 Subordina-se,
por sua vez, essa assertiva, à oposição de que o conceito de economicidade -
referido no art. 70, caput da CF - traduz atributo da eficiência relacionado especificamente
2.2.2 Eficiência com a relação custo-benefício, guardando com a primeira uma vinculação de continente­
i conteúdo (GABARDO. Princípio constitucional da eficiência administrativa, P- 28).
!

11- ' . Jt';):;.


Não se revelou imune à crítica a introdução- na literalidade
-
132
MOREIRA NETO. Apontamentos sobre a reforma administrativa, P- 38.
i 133 Consulte-se, no tema, ADC-MC n' 12/DF, MEDIDA CAUTELAR-NA AÇÃO DECLARATÓRIA
do texto constitucional, pela Emenda Constitucional nº 19, da DE CONSTITUCIONALIDADE, Relator(a): Min. CARLOS BRITIO, D], l'.09.2006), Órgão
eficiência corno signo indispensável à atividade estatal. Julgador -Tribunal Pleno, precedente reiterado na Reclamação n' 4.512, de mesma reJatoria,
, , i- ' :9,R:9��ç�'.(çy -9� _primeira h9ra. era �1v1���gue identificava na gbjeto <;le-; d,;,cisão monocrática publicada no D], 12 .09.2006; e ainda Reclamação n' 5.621,
·=---:��]_ator, Q Min. Jo;qü&;i Bi.rbõs;i,\Í];:,jé\o tar:rib.e;m_di'.�éJ,i.ão:..únipé��9al, Dj, 08.11 2097:
t explicitação da eficiência como predicado indispensável ao agir 1
34 MEDAUAR Direito administrativo mod1miô, p.TÚ'. . -- . . ·-
- - - -
1 135
JUSTEN FILHO. Curso de direito administrativo, p. 85.
1 estatal, uma superafetação, um reforço de algo que já seria implícito 136 MOREIRA NETO. Apontamentos sobre a reforma administrativa, P 141-142
-

1, ',f:.
:t
r
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i,.
1,
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:

80 1 Vanice Regina Lfrio do Valle Políticas públicas, direitos fundamenta.is _e controle judicial l 81

f!
1 Eficiência, portanto, não se constitui em ação em si, mas de acelerada e incessante demanda social 1 39 pode se revelar tarefa
g em atributo da ação administrativa, subordinado pelos árida. Acresça-se - e em estreita linha de correlação - a grande
11 cânones constitucionais postos à Administração Pública. Questão ampliação do leque de possibilidades de atuação, isolada ou
prejudicial, todavia, à compreensão do sentido e efeitos da em concertação com a sociedade, 140 fenômeno que, ampliando
i as alternativas de enfrentamento dos problemas, introduz como
l•,: inclusão do princípio da eficiência, diz respeito à sua origem
inequivocamente econômica, circunstância que determinou um relevante variável à eleição da solução mais eficiente, o grau
de concretização de um ideário de subsidiariedade na ação
f estranhamento na sua recepção pelo sistema do direito. Afinal,
estatal, voltada quando menos à ampliação da participação e
l''
�:·_:
se o tipo ideal da economia traz em si uma racionalidade que �.,i· ·. -.·
responsabilidade social. Dessa nova dinâmica pode facilmente
privilegia as relações de custo-benefício, nisso se traduzindo um 1'
� decorrer que a ação mais eficiente do ponto de vista de articulação
conceito de eficiência, o tipo ideal do direito, relacionado na
1
· :

;1' das forças sociais não mereça esse mesmo signo na lógica
' concepção de Lopes, 137 envolve uma pretensão de cogência
de regras, cujo fundamento muitas vezes não encontra sentido
3
1 economicista - mas nem por isso se poderá desqualificá-la.
No plano do agir institucional adequado, a identificação
í tão-somente na equação custo-benefício.
1�...··.... do conteúdo da ação estatal e a definição dos mecanismos

l·r.-_:·
'::, ..

]l
.

O juízo posit�vo em relação ao signo da eficiência, como tipo : pelos quais ela se implementará, tudo para fins de atendimento

.-;'.I·
í
! ideal do direito, encontra-se sujeito a dupla esfera de avaliação do interesse público, se revela atividade igualmente prenhe de
relacional. Uma ação será mais ou menos eficiente, sob o ponto de •. obstáculos. Disso decorre uma manifestação patológica dessas
.�,
mesmas dificuldades: o agir estatal, inobstante as recomendações
vista do direito, tendo em conta a razão entre conduta proposta/
realizada e o resultado pretendido alcançar através dela. A par
�-,,
� constituci�nais, e o conceito de ação fiscal responsável,
dessa perspectiva relacional, é de se ter em conta ainda, quando �. remanesce, no mais das vezes, despido de indicadores objetivos
j de desempenho - que auxiliariam na ana1ise da eficiência-;
a cogitação envolve a avaliação jurídica da eficiência, os limites e
quando não inexistentes, têm-se ao menos indicadores não
finalidades postos, lato sensu, à atuação do Estado-Administrador,
revestidos da desejável transparência.

:1·1.
que compõe o conceito hoje mais amplo de juridicidade. 138 ];":.t···.
Essa dupla subordinação do agir estatal determinada pela
..

139 A l'évidence, les besoins d'intérêt géneral sont aussi pressants, aussi présents, aussi
eficiência - aos parâmetros gerais da ação do poder e àqueles insistants que jamais. Protection de la planete, encadrement des jlu:x: migratoires,
.� .
;r,-
especificas de uma determinada política pública - se do ponto de maintien de l'ordre et de la securité, régulation de la concurrence, développement des
infrastructures, ejfort d'éducation et de fonnation, recherche de la cohésion sacia/e,
pilotage du systeme de santé: persbnne ne voue à l 'économie de marché une foi à ce
vista teórico parece compreensível, revela grandes desafios quando
t1 J_. point aveugle qu'il puisse nier la necessité d'une action publique dans ces domaines
!
se cogita de sua avaliação em concreto, e por diversas razões. � (DÉOM. 1'état doit-il être efficace?: Comment répondre non? Réflexions sans prétention sur
Contribui para as dificuldades na aferição do que possa !e theme de l'efficacité en droit public. Disponível em: <hnp://dev.ulb.ac.be/droitpublic/
t fi!eadmin/telecharger/theme_3/contributions/DEOM-3-20070425.pdf>. Acesso em: 10 fev.
! revelar o traço da eficiência no agir estatal, a complexificação da
La résolution des problemes concernant la chose publique se fait, en corollaire, plus
.!
2008).
natureza da· atuação dessa estrutura de poder organizado. Assim,
140

incertaine, plus dépendante des contraintes des acteurs de l'action publique : celle­
a identificação do conteúdo desejável do agir estatal, em tempos ci doit aujourd'hui se faire gestion de ces interdépendances. Or les techniques
traditionnelles d'administration publique - allocation de ressources financieres,
. '. t '
j
.,:,._,,;::. .. >· .. �"'- _1r,:- -··"··. <t·
· pr_oij,Ll.ctign de regles tecbniques et .de procédun;s adm)vistrativés, foumitures de biens.
ef de services - ne sujfisent plus e( apparaissent �des lors des instruments incitatifs,
/•'� •·-,, •, -;}-···
.
.l
LOPES. Raciocfrüo jurídico e economia. Revista de Direito Público da Economia - RDPE. ,j communicationnels ou nonnalisés (Lascoumes et Le Gales, 2004) (BERNARD. Vers de
·' l
137

nouvellesfonnes d'efficacité pour l 'État: !e cas des inclicateurs. Disponível em: <http://dev.
1
138
Essa complexa relação de vetores de avaliação já determinara a maca de Bandeira de Mello,
que identifica excessiva fluidez no conceito, para permitir um controle efetivo no campo do
direito (BANDEIRA DE MELLO. Curso de direito administrativo, p. 112).
ulb.ac.be/droitpublic/fileadmin/telecharger/theme_3/contributions/BERNARD-3-20071201.
" 'J
J
pdf>. Acesso em: 18 fev. 2008).
iJ
ij:
1 82 / Vanice Regina lúio do Va!le Pohticas públicas, direims fundamentais e controle Judicial
j 83

1 Associada ainda à idéia de eficiência da ação estatal, surge um conjunto de parâmetros postos ao atuar da Administração
a grande cláusula limitadora traduzida na escassez de recursos. Pública,142 notadamente ao ora examinado dever de eficiência.
lt. Multiplicadas as tarefas, não se verifica - ao menos, na mesma Isso porque, se esse signo expressa uma relação entre conduta
i proporção - o aumento das fontes de financiamento, e com isso,
t e objetivo, subordinados esses últimos àquelas finalidades
1
)l
na formulação de um juízo acerca da eficiência, ganha destaque o
imperativo de maximização dos meios disponíveis. Potencializar
constitucionalmente postas ao Estado, tem-se que a enunciação
integral da política pública, com seus elementos detenninantes,
1;!J os recursos - de toda ordem - aplicados no agir do poder suas ações de implementação e seus indicadores de avaliação,
público envolverá o reconhecimento de que essas mesmas ações fornecerá justamente os dados objetivos que permitirão, no
:1
:; necessariamente hão de guardar relações de interdependência

jl�-
V=
exercício do controle, à aferição do vetor eficiência. Assim,
recíproca, que permitam o máximo de benefício de cada qual dos ��
conduz-se a um padrão de objetividade, igualmente - com isso,
elementos disponíveis. �
i Jf. concorrendo para o aprimoramento da ação controladora - a
Na raiz dessas dificuldades, em verdade, o que se tem é ª'

!K a circunstância de que o princípio da eficiência se revela em
�: análise da eficiência, na medida em que os parâmetros de sua

·�1:1-_. -�
avaliação se revelam previamente conhecidos.
si, inicialmente, um mero juízo de identidade entre resultado
i.
-�
r_,
)i e objetivos. 141 É sua constitucionalização, com o caráter de Não se diga que a afirmação ora empreendida - de que
�;

princípio subordinante do agir estatal que lhe proverá - nessa as políticas públicas hão de merecer enunciação e visibilidade

�··;:l1.1�
relação de instrumentalidade ao alcance dos fins postos ao na futegra de seus elementos, de concepção, concretização e
Estado - de conteúdo. avaliação- é um truísmo, que nada acrescenta à sua compreensão,
1:·
�;
Uma conclusão preliminar que se poderá estabelecer, ou ao controle. A verdade é que a explicitação dos elementos
'' portanto, é aquela segundo a qual a simples consagração do 1
determinantes da escolha por um programa de ação - e não
princípio da eficiência, embora consolide um direito subjetivo outro - não se constitui uma prática disseminada, incorporada
J.
i
de cidadania, e deite efeitos inequívocos sobre o agir do Estado­ ao cotidiano da Administração Pública; muito ao contrário. A ação
3
Administração; não é suficiente para eliminar uma vasta zona
cinzenta de incerteza na análise do juízo de adequação desse 11
pública, no mais das vezes, como já se pôde comentar, é ditada
pelas emergências - reais ou fictícias - e desprovida de todos
mesmo agir. O vetor, formalmente introduzido pela Emenda esses elementos reflexivos e justificadores; por isso, a sua própria
Constitucional n º 19, embora se revele útil, está longe de ser sustentação, inclusive em sede jurisdicional, se revela árida,
1 suficiente ao desenvolvimento do controle de atuação estatal,. amparada muitas vezes em argumentos que não mais encontram
t.. que estará a exigir outros elementos a revelarem o seu verdadeiro eco, em pleno século XXI, como o de insindicabilidade de juízos
conteúdo axiológico. discricionários, e outros que tais.
A ampliação do conteúdo do dever constitucional de
.-,'-i .

. r1� · '
1 planejamento, exposta no subitem anterior, presta reverência a �:.


�tf . \;.­
1 ·11
.,., ,;íi '"· É de Bourgaux a advertência de que, justamente por isso, possa o ideário de eficiência

'.''.l);��1Jf!'1!;.t'l:n:.i:�":'l'à;:';;'J':fl�8íi:Glíi1'��:'::!::.;,:;;;;,:,:;,; ·. - ''"'' ·
·i1
. sev.Jtiliz.i,g_Q.;(!:01Jlo.. .rec.ur_so retóricq/legitim�dgr_ ei:nJay,or._de:várias.-- e- substancialmente
distfotâs :'..:..-éô�éepções·de 'Estado (BOURG:AUX."-êrtse et·dróit püblic: "L'Etat doit-il être
efficace? ... Par pitié, non !". Disponível em: <http://dev.ulb.ac.be/droitpublic/fileadmin/ pohticaspublicas, p. 267-268. Auro-ev1dente, de outro lado, o favoreamenco ao parametro
t.

1
telecharger/rheme_3/conrributions/Droit_public_et_crise_question_3_AE_BOURGAUX_ ., constitucional da publicidade - e por via de conseqüência, ao controle, em todas as
1
JANVIER_2008_01.pdf>. Acesso em: 16 fev. 2008).
·'j",t . dimensões - a enunciação dos elementos integrantes da escoU1a pública empreendida .

li:.,. &_
Varúce Regina Lúio do Valle 85
1
Polilicas públicas, direitos fundamentais e cqntrole judicial
84
\

1j;
r
i

2.3 Dupla funcionalidade da juridicização das Importante destacar, sempre e sempre, essa primeira função
das políticas públicas como categorias normativas: densificar, a
1.. políticas públicas: orientação interna do agir
partir dos vetores constitucionais, os mecanismos de atuação
do poder, vetor de controle externo e social
do poder. Essa ênfase se propõe no esforço de esclarecer que,
!! A juridicização do conceito de políticas públicas é em que pese a importância de um controle jurisdicional rápido e
enriquecimento do sistema jurídico, que reconhece que o agir da eficaz, este se constitui, ao menos do ponto de vista teórico, em
Administração não se pode resumir na mera reação às provocações mecanismo subsidiário de atuação. O que a constituição deseja
do dia; ao contrário, esse agir só poderá conciliar eficiência e é que os poderes por ela instituídos desenvolvam ordinária e
l valor; resultado e compromisso com os direitos fundamentais; se satisfatoriamente as suas funções - e nesses termos, o controle
;� construído a partir de um planejamento que contemple ainda uma judicial é algo que se apresenta como alternativa secundária.
visão relacional das suas múltiplas manifestações que otimize o Nesses termos, embora o reconhecimento das políticas
uso dos elementos de que se dispõe para o melhor atendimento públicas como categoria normativa e de sua exigibilidade como
ao interesse público. parâmetro orientador do agir do poder seja útil ao controle judicial,
Se os dados identificadores dos problemas que povoam o essa não é a sua importância principal, na medida em que o ótimo
convívio em sociedade e inspiradores das alternativas de solução constitucional é o desenvolvimento pelo Estado Administração
a serem implementadas por intermédio de programas e ações não das funções que lhe são próprias, segundo o planejamento que
são necessariamente jurídicos; jurídico, todavia, será o dever de ele expresse através de suas políticas públicas. Cumpre, portanto,
agir do poder, sempre e necessariamente dirigido à concretização que a reflexão em relação a essa categoria tenha em conta, antes
dos valores constitucionais. Juridicizar políticas públicas é de sua função retora de controle jurisdicional, o seu caráter de
traduzir, portanto, do ponto de vista do sistema do direito, quais orientação interna ao agir do poder, viabilizadora por sua vez do
sejam as escolhas empreendidas no âmbito e por provocação exercício do controle interno e social através da determinação,
de outros sistemas - o da política, da economia, sob influência em relação ao poder, de auto-vinculações. É o ponto que se
de considerações sociológicas e outras tantas -, de molde a, passa a demonstrar.
partir delas, conhecer quais sejam os deveres de agir do Estado.
A juridicização do conceito de políticas públicas se constitui,
portanto, de um lado, tradução de vetores constitucionais do agir 2.3.1 Processo deliberativo democrático como sede
vinculado do poder (planejamento, eficiência, proteção a direitos de auto-vinculações traçadas às políticas
fundamentais); de outro lado, em vetor a viabilizar, por via de públicas
1 conseqüência, o controle desse mesmo agir do poder - controle
l esse que há de se revelar possível e eficaz, seja nas instâncias Sustentou-se no Capítulo 1 acima que o texto constitucional,
1 internas à própria Administração, seja na via jurisdicional, seja por por vezes, inclui temas e problemas na agenda de políticas
il intermédio das estruturas de controle social. públicas, estabelecendo uma espécie de heterovinculação, sem
it. Recepcionar políticas públicas como categoria normativa
,!
.!
conferir conteúdo suficientemente delineado a ponto de permitir
� a definição-de qllcál s_ejâ ó teôr da ação a se desenvolver, deixando
-l se constitui r portanto, desafio- indissôciavé'lrhê'ntÊ? viné:ulad;; à­
i� espaço portanto à atuação do jogo democrático ordinário.
densificação do sistema de atuação e controle do poder, e há de
tt Não é difícil compreender porque o texto constitucional
l
l
ser uma tarefa a ser desenvolvida tendo em conta a maximização
desse mesmo resultado. I! se expresse assim. Já se apontou os inconvenientes da tradução
1
l1 86 1 Vanice Regina Lírio do Valle

integral em preceito constitucional, das políticas públicas


pretendidas - e o que isso possa determinar de subordinação
Políticas públicas, direitos fundamentais e controle judicial

administrativa é substituir uma pré-determinação constitucional


de qual seja o caminho da Administração, por uma decisão
democra ticamente construída em relação a esses mesmos
l 87

t� excessiva ao exercício democrático.


De outro lado, os distintos graus de concretização dos parâmetros de ação. Mais do que isso, é atrair a definição desses
f planos de ação enuncia dos em relação ao Estado se relacionam mesmos parâmetros de ação para as entranhas da Administração,
j.
a os não menos diferentes níveis de formação de consenso em na enunciação - a partir dos p a râmetros constitucionais e/ou
relação aos caminhos de superação desses mesmos problemas. legislativos - da política pública voltada ao enfrentamento de
Assim, se por ocasião do momento constituinte foi possível a um determinado tema.
Importante aqui retomar os elementos que integram a
1!1

inclusão do tema na agenda do poder; de outro lado, é possível


l�
"
!i
ig que inexistisse (ainda) a mesma concordância em relação aos construção de uma política pública, percorridos no Capítulo 1:
caminhos de ação a dequados ou possíveis desenvolver. Essa é a 1 º) reconhecimento do problema; 2º) form ação da agenda; 3º)
hipótese típica do que Sunstein 143 descreve como uma estratégia formulação da política pública; 4º) escolha da política pública a ser
a implementada ; 5º) implementação da política pública eleita; 6º)
de formação constitucional, que remete ao decesso na hierarquia
análise e avaliação da política pública executada. Traçar e executar
rt
J de decisões norma tivas, a deliberação em relação àquilo sobre o
1 uma política pública, observados esses elementos, é estabelecer
que não se formara o devido consenso: " ... when people diverge
uma escolha, dentre múltiplas situações a exigirem atenção do
on some (relatively) high-level proposition, they might be able to
poder público, em relação a qual seja a prioridade de ação, com
,.
i agree when they attempt a conceptual descent and lower the level
a enunciação do que se vai realizar, objetivos pretendidos e
1 of abstraction".
indica dores que permitam, no momento certo, a avaliação. Se esse

1 .',
i Seja qual for o fundamento à ba ixa densidade constitucional
processo se verifica democraticamente, sob a condução da própria
na indicação do conteúdo de uma determinada política pública, Administração Pública, o que se tem é uma presunção de que ela
fato é que a remessa aos canais políticos ao exercício ordinário

I;
cogitou ao longo da concepção dessa política pública, não só dos
do jogo democrático envolve ainda - já destacava Silva 144 - o

�'..I ·
vetores que podem otimizar a sua atuação (caráter necessariamente
·, apontamento de " ...meio idôneo a origina r os compromissos
relacional entre as diversas políticas públicas em andamento, por
- ·I::

políticos e os sentimentos de cidada nia... ". Vale ainda recorda r exemplo); mas também - se não principalmente - dos aspectos
que o cometimento a meca nismos democráticos da especificação que possa m se configurar como obstáculos à execução dessas
1 de qua is sejam as políticas públicas a se desenvolver pode permitir mesmas políticas públicas. Assim, é de se presumir que quando
j a superação da visão desse instrumental como simples esfera de a Administração elege como estratégia de enfrentamento ao
articulação entre o poder e o s aber dos experts técnicos, pa ra
!l

baixo índice de alfabetização entre os alunos da rede pública , por


!l a gregar ao processo a s aspirações e prioridades da cidadania, exemplo, o desenvolvimento concomitante das aulas ordinárias e
destinatários últimos dessas mesmas ações.
1: · , de programas de aceleração de aprendizado, ela tenha cogitad�
_ _

1 ;.
Mas não é esse o ponto que se objetiva destacar. (e de alguma forma equacionado) dos problemas atmentes a
Remeter a densificação de uma política pública ao ;;.
"lt
: · dispónibilização de mão de obra para o desenvolvimento dessas
desenvolvimento ordinário da política competitiva e da função "I ': ativida des de aceleração; as questões atinentes ao espaço físico
('

·-..-..-···-,.- - . ::;. _<i•:' ' :, parn. as cogita.da, s atividage�i. q;?l�.R.PB,ipil,idade �� mate_ rjal di�ático_. -::; ,
_ <

I·;.·
adequado ao suport� da mencionada aceleraça ô, etc.
'H , •::.:,:�
-_ ....
._-;,,,.;,. '••

1
• h '.;.,. :,..;:.":;:'' :�
•• .-:-�- ;;· -:.
•'::"'"

SUNSTEIN, Cass R. Constitutional Agreements .wlthouc CónstirutionarTheoiies. Ratio Juris,


13

Ta mbém é de se supor que a escolha dessa política -


'

v. 13, Issue 1, March 2000. Disponível em: <http://ssrn.com/abscract-234648>. Acesso em:

1 aceleração de aprendiza do - em detrimento, por hipótese, de


i
18 ago. 2009.
. 't-:-' '"'SILVA.Direitos sociais leis orçamentárias como instrumento de implementação, p. 213.

--;!�
f'·
11
1:

Políticas públicas, direitos fundamentais e controle judicia{ \ 89


88 1 Vanice Regina Lírio do Valle

o hão de ser conside


rados não como simples
uma estratégia de s ensibilização dos pais desse mesmo alunado, 'programas de açã
linha política de pensamento, mas sim
i determine uma concentração dos meios disp oníve is na estratégia rnanifestação de uma e uma escolh a democráti ca
s de concretiz ação d
í e leita , e não na quel a descartad a . \corno mecanismo
1 Por fim, ainda tendo em conta os eleme ntos estruturantes de ,de caminhos de enfren
tamento de um determinado problem .
les s olução de continuidade dess
as me
a O

sma
·afastamento, ou simp
f! uma política pública, é de se supor que completo o processo de
o políticas públicas,
ente desenhadas com
'' sua formula çã o, a Admini stra çã o estej a apta a, perante qualquer .iniciativas - se previam trole de eficiência
ação e índices de con
ins tância de controle - interno, externo, social ou jurisdicional com linhas de implement ncia de um
ndo menos, a obse rvâ
- declinar qua is se jam as suas razões de decidir, os objetivos - estará sempre a exigir, qua i , p rtir de dados
e permita con clu
ônus argumentativo maior, qu
r a a
pretendidos alcançar e os mecanismos de mensuração do sucesso
público estará melhor aten ido com d
dessa mesma política, municiando através dessas mesmas razões palpáveis, que o interesse
ica pública , que h ave
rá de observar, i gualmente, os
a e ventual d ecisã o de contr ole . a no va polít
ão .
A liberdade concedida pela constituição, para que a política mesmos elementos de traduç
e a auto-vinculação d
Tenha-se em conta também, qu
e
pública se trace no exercício ordinário do poder, não dispensa a
ão implica em uma imutabilida d
e
! Administ ração de sua enunciação, e com iss o, da construção do que aqui se está falando n d s; é d
l a ção daquelas finalid
e e
das condições de concretiz
a
tão falado quadro n ormativo do agir estatal, que determinará, p or do
l e a a ção públi ca h á
de se dese nvolver ten
sua vez, a o bje tivação das futuras a ções d e controle . De outr o lad o, se reconhecer qu
s que orientaram, como premissas,
exercida a escolha pú blica pela Administração, e enuncia da numa sempre em conta as condiçõe pública . Uma
política pública correspondente, o que se tem é uma eviden te ao próprio proce
sso de formulação da política
r eflita nas condições or iginárias
auto-vincula ção, que h á d e p autar p or sua vez as tão mencionad as mudança de cená rio, que a diagnose
a evi dência de que
a ções de controle, e acima d e tudo, o juízo em rela çã o à eficiência subordinantes da formulação ; as ess as são
ara inad equa da, tod
da a ção estatal. original do probl ema se revel ir do po d er
o , reflexos sobre o a g
Ainda sob o prisma do controle - a enunciação por ocorrências que deitarão, decert
·, de u ma finalidade et erminada
d
intermédio dos mecanismos deliber ativos democráticos ordinários, público voltado à consecução se r evelará
o da política pública
de políticas públicas e seu caminho de concretização, amplia (vez - mas até e sse redirecionament a ori ginal
ope rar sobre uma paut
que ge ra p ara o administrador uma auto-vinculação à su a própria· mai s aberto ao controle , se el e se
e c onh ecida .
decisão) os limites do controle, que passa a se pautar pelos de ação, previamente enunciada
cri térios que a própria Administração traç ou p ara si ao en unciar
l
! a política pública a se desen volver na hipótese . Afasta-se, assim,
enunciação de
o óbice d e desfuncionalida de que sempre se aponta à atua çã o 2. 4 Dever constitucional de
jurisdicional que pretende intervenção mais profunda em matér ia políticas públicas
de p olíticas públicas, na medida em que o controle se direcione ao tango dessa obra
que
a uma e xigência, de p arte do Judiciário, de observância daquel a
Já se afirmou por diversas vez es lorativos
a assoc ia ção ao t exto
constitucional de contetldos va
rota de atuação que o próprio poder público tenh a antes fixado inistração Pública
e t oda a a ção da Adm
! pa ra si mesmo. imp õ e c omo desiderat o d
_ máximo
l. '.
..:-:,� . ,.,. úe c·ofre . da auto-vincul�çãõ das·"º·'·pdl(ticat ;(i�licas o
0
o' '·compromisso com a garanti
a e dese.nyolvimento
uz-se , portanto, o lemento
e
fortal ecime nto da lógica que autoriza o controle jurisdicional dos direitos fundamentais. Introd ao
tucionalmente deterrninada
'!

�1 finalístico como vertente consti


âJ:
1 da paralisação de iniciativas em andamento - obras públicas,
i serviços em oferta, programas e m andamento. Afinal, tais agir da Administra ção.
·1j
Vanlce Regina Lúio do Va!le
90 1 91
Políticas públicas, direito� fundamentais e controle judicial ·\

Não se esgo ta, todavia, a construção dos caminhos do agir próprios à Administração - que hão de se ver associados, como
esta tal, na identificação dos propósitos qu e a inspiram, e no test
e determinações constitucionais postas ao agir dessa mesma estrutura
de sua harmonia co m o Texto Fundante ; impõe-se ainda apura
r de poder. Entendida política pública como " ...um componente de
a extensão em que se deva verificar esse mesmo agir, a partir
ação estratégica, isto é, [que] incorpor a elementos sobre a ação
d e um texto constitucional que, reconhec endo a importância d
o necessária e possível naquele momento determinado, naquele
<

!·1! !

papel das instâncias de articulação da cidadania, investe nu


ma conjunto institucional e pro jeta- os para o futuro mais próximo ... ", 147
definição positiva de competência s, n ão só em relação ao Estado
, se rá possível ex trair a conclusão de que, e�x; vi constitutionis, é
mas também ao grupo social.
através dessas mesmas políticas que haverá de se traduzir a ação
A opção pela subsidiariedade no sentido horizontal -
da Administração Pública.
também já mencionada anteriormente - assim e ntendida co Isso significa dizer que na moldura constitucional não
mo
a prom oção da integra ção de vári os sujeit os, através d e
um há espaço para a atuação voluntarista, isola da, injustificada,
model o flexível de partilhamento de atribuições, estará a exigir,
desconectada com o pr ojeto geral de atuação do poder. Não mais
à co nta justamente dessa não rigidez de papéis, um ele men
to de pode prosperar na Administração o agir espasmódico, meramente
permanente articulação com os possíveis at ores não estatais
, reativo a uma determinada ocorrência política, que não se relaciona
articulação essa que permitirá a expansão ou retração do pap
el a um contexto de ações e programas prec edidos de uma reflexão
do Estado no tr ato dos temas de interesse da sociedade.
quanto a os problemas, às possibilidades de solução , os caminhos
Mais do que isso, a Carta de Outubro estabelece ainda como de implementação e ainda, os parâmetros de avaliaçã o que se
objetivo fundamental da República Federa
tiva do Brasil a construção devam aplicar à hipótese. A superioridade hierá rquica originária
de uma sociedade mais justa e solidária, disso decorrendo
, na do direito administrativo clássico, nos albores de sua formação,

J
.•,'t�.
lição de Dromi, 145 um compromisso com os sacrifícios partilhad
os, não mais reflete a posição do Estado nas suas relações c om a
exigindo a participação nos esfor ços
comuns de assistência cidadania; e portanto, não pode mais funcionar como arrimo a
individual e coletiva, estabelecendo uma necessária aproximaçã
o uma atuação imperial, dissoci ada de justificativa.
entre Estado e sociedade, seja p ela associação entre os atores
.r.;

, É a tradução imperativa do agir da Administração através de


se ja pela de terminação de compartilhamento dos esforç :, ..
os < políticas pública s corretamente formuladas a partir d e diagnose
própri os a cada qual. Solidariedade, co mo objetivo fundame
ntal r esponsável do problema, exploraçã o de alternativas d e con duta,
da República, determina, portanto, uma necessária atuação
da com a enunciação e xpressa da trajetória eleita de implementação
Administração tendente à superação das barreiras entre o eu
e e avaliação, que permitirá o desenvolvimento, em maior
o outro, transformando-a na principal dimensão organizativa
da profundida de, do controle do poder. Observe-se que o c ontrole
solidariedade que rege a ordem político-social. 146 O element
o de de que aqui se cog ita é aquele substantivo, que a partir de um
organização das forças sociais no caminho de uma sociedade conhecimento universalizado das dificuldades proporciona um
solidária se apresehta também como constitucionalmente exigid
o. . índice d€ participação pública que determine, e m última análise,
· Oriênfaçãó finalística, articulação entre atores soci ai s par
a uma soc ialização ampl a da política, tendencialmente superadora

.. :rj
dosimetria da subsidiariedade, organiza ção das forças sociai
s em dos vícios do sistema representativo, e ainda, expansiva da idéia
.,, ,JJyor_çla sdidariedasfE:,. e p,a1J.ejament0�evisibilidade co m
::.._,.- :·. ::.:;· :;�_..,. - .· :-··-- ,::.- -· -
. ·.,; ... -.-,-� -· ·-· •·. . .. - . o tr aços· �;,\:r·:·' dó 'públii;;o 'ã sóciedade·:civi1�4ª-'-i.f'.':� . ':'\ .:...: .; -�-- :,:
·!
.":

145DROi\<fL El derecho público en la hipermodernidad: novació


n del poder y la soberanía:
1 BUCCL O conceito de política pública em direito. In: BUCCI (Org.). Políticas
piíblicas:

1
1 7
competitividad y tutela dei consumo: gobiemo y control no estatal, ·<
p. 276-277.
"6 S0RREN'T1NO, Diritti e participazione reflexões sobre o conceito jurídico, p. 19.
DROMl. Modemización del controlpúblico, p. 16-17.
nell'administrazione di risultato. 148
r.-
Ili

�> :i
li\í·•· ..
{
.

'"
92 1
Vanice Regina Lírio do Valle
Políticas pü.blicas, direitos fundamentais e controle judicial

e o atendiment o às
\ 93

l à boa administra ção. S


Afirmar a imperatividade da enunciação de política s urn direito fundamenta

'1
nia está a exig ir uma Ad ministração que se
públi ca s como determinação constitucional reforça, portanto, necessidades da cidada com prometida com
vamente orientada, ou
.

os mecanismos recíprocos de controle do poder - objetivo revele, não só legislati


'

b oa" - com toda a


a ser qualificada como "
que, por si só, também caminha na direção do prestígio à Carta a eficácia, mas apta 151 -
não
que nessa cláusula se contém
Fundamental , como mold ura q ue é da s possibilidades de agir carga de indeterminação st ração com o um
de ssa mesma Admini
:I'
desse mesmo poder. Em conseqüên cia, tem-se q ue o controle - resta dúv ida que o agir à tutela de dire itos
diretamente relaci onado
jurisdicional inclusive - de políticas públicas é um in strumen to todo (e não só aquele pro mis sos p re stacionai s) há
en to de com
i n ecessári o de preservação do caráter cogente da determinação sociais, ou ao cumprim
� el de avaliaçã o para fins da outorg a
� con stituci onal de q ue seja através dela s que se programe e traduza de se apre sentar como pa ssív de boa administração
erido signo favorável. Se
'ji, a a ção da Administraçã o . J urídi cizado, p ortanto, o con ceito de ou n ão, do ref
amental - e també m no B rasil essa
j políticas públicas - na medida em q ue posto como necessário se cogita como direito fund152 ncia do agir
i
fi
" pressuposto do agir da Administração - a sua judicializa ção é considera ção já
se apresenta - é evidente a imp ortâ
jj rado e finalisticamen
te orientado
mera conseqüência, se m a nifesta empiricam ente, e em c urva pla nejado, coordenado, integ
a scendente, como s usten tam Vianna, B urgos e S alle. 149
\ der.
dessa mesma estrutura de po ios
e xpr e ssão constitucional dos princíp
Mais do que isso, o reconhecimento da existência de um dever Do plan o da e e i tas
lica d ecorre, na lição d F r
regedores da Administração Púb

·'-:!· .
c onstitucional de en unciação de políticas púb licas se harmoniza
ministração p ública eficiente
com a afirmação recém incorporada ao nosso sistema - na esteira urn " ...direito funda mental à ad es, com
d o já oc orrido no âmbito da União E uropéia, 5 da e xistên cia de
1 0
e eficaz, proporc
ional, cumpridora de seus dever
alidade e respeito à moralidade,
tran sparência, motivação imparci
à participação social e à plen a respon sabilidade por suas condutas
153 Tal d ireito fundamental, ao q ual
149 O tema d a administração pública , conforme se verifica da tabela 10, vem se mantendo va s" .
omissivas e c omissi ar,
como o principal objeto das ADins, sofre ndo apenas uma peque na v ariação entre os
p eríodos de governo. Isso c onfirma observação apresentada em pesquisa a nteri or, de que correspon de " ... o deve
r de a administração p ública observ
cogência da totalida
de dos
a a mpl a co nstirucionalização d o direito administrativ o , oc orrida em 1988, e articulada ao
na s rela ções administrativas, a
controle constirucional através das ADins, de u lugar a uma dinâmica que trouxe o S1F .{i> princípios constitucionais que a r
egem ... " det e rmi na, na sfutese
par a o centro dos c onflit os em tomo da vid a administrativa nacional. Embor a o trecho não
have, q ue os cidadã devem os
de Sõd erman, co m o aspecto-c
154
refir a especificamente a controle de políticas públicas, fato é que a judicializ ação e m si da
t
;
administraçã o revela se mpre, ainda que de form a indireta, um questionamento relacionad o porque o fazem, conhecendo
às políticas públic as que ela executa (VlANNA; BURGOS; SALLES. Dezessete' anos de conhecer o q ue fazem as instituições,
ju dicial ização da política. Cadernos CEDES, n. 8, dez. 2006. Disponível em: <http://www. ainda se us planos de ação.
cedes.iupetj.br/>. Acesso em: 6 o ut. 2007).
inação da
150 A "C arta de l os Derechos Fundamentales de l a Unión Eur op ea", pr ocl a m ada em 7 de
to às distintas esfer as de indeterm
151 É de Mügica Herzog (2002) a referênáa quan pçõ s subje tiv s d o que se
à conta das distintas perc
a
dezembro de 2000, fez conter em se u art. 41 o direito à boa administração, cuj o conteúdo e e

se tem assim explicitado:


locução "boa administr ação", seja l c lizaç ão do tema nos limite s entre o juríd ico
mal, seja pela
possa classificar com o bom ou
o a

!l,
"1. Toda persona tiene derech o a que l as instituciones y Órganos de la Unión traten sus
e o mor al. c onse-
amental à boa administração e suas
�l
a sunt o s imp arcial y equitativamente y dentr o de un pl azo razona ble. 152 O d ebate especúíco em rela ção ao direito fund
travé s d magi stério de Freitas, que
2. ·Este d erech o incluye en particular: Brasil, expressã a o
qüências normativas e ncontra, no
o

J·\
constirucionalmente
- e! derecho de toda persona a ser oída antes de que se tome en contr a suya una medida ico nacional, haurido da estrutura
firma presente no ordenament o juríd nte, a o a gir da Administraçã
o, seja através dos
individual que le afecte de sfav or ablemente, espe cific am
determinada ao agir do p oder, mais
e
atrav é s daqueles que decorrem
do seu
- e! derecho de toda persona a acceder ai expe diente que !e afecte, dentr o dei respe to de apon tado s, seja
prináp ios que lhe são explicitamente nt s da Repú blica e��rativa do :!3rasil.
):'_
los intereses legítim os de la confidenci alidad y dei s ecreto profesional y comercial, dos fundam
mister primário de c oncretização
e o
mental à boa Adminis-
--la obligacióri que incumbe ·a la ad!JÚilÍstración de motivàr sus ·d edsiohe s. 153
FREITAS.- Discricionariedade
administrativa e o direito ftfnda

i
3. Toôa pe rsona tlene derecho a·1; repa�a�ió� p or l a Comunidad de los danos causados tração Pública, p. 20. inistración. Discurso pronunciad
o
p.or sus instiruciones o sus agentes en e! ejercicio de sus funcio nes, de conformidad con los 154 SÕDERMAN- El derecho fundamental a la buena adm defensores dei
ciclo de conf rênci as "El p a pe l d e los
no e
principias generales comunes a l os Derechos de l os Estados miembros. pelo defensor do povo eur o peu . Disponível em: <http J/
", Mallorca, 28 de m aio de 2001
4. Toda persona podrá dirigirse a las instiruciones de la Unión en una de las le nguas de l os pueblo em um mundo e m transición >. Aces so em: 6 out. 2007.
/es/2001-05-28.htrn
Tratados y deber · recibir una contes tación en esa misma lengua ." ombudsman.europa.eu/speeches
�;
''.·::•.

i j
Vanice Regina Lúio do Valle
f 94
i
; Completa o quadro compreensivo do que possa ser o direito Capítulo 3
fundamental à boa administração, a percepção de que o resultado
perseguido pelo agir estatal não pode ser, nem equacionado
no que tange a seus objetivos, e menos ainda avaliado, a partir
de uma perspectiva puramente econômica. Afinal é a própria
l perspectiva funcional do agir da Administração que impõe a
incidência de outros objetivos e princípios que são próprios ao Controle jurisdicional
exercício dos poderes públicos, 155 parâmetros esses que subvertem
,
de políticas públicas
1

. ;
;;,, º­
rll. .
a lógica da matemática, e o suposto determinismo naturalista do
mercado. A conciliação, portanto, entre a eficiência no sentido
próprio às ciências exatas, e aquela que serve à solidariedade
'
>
.
e à dignidade da pessoa humana, exige um sopesamento de
alternativas cujo resultado determina a trajetória proposta à
Administração, tudo associado a uma indispensável visibilidade -",!=4-r, .... r Sumário: 3.1 Judicialização das políticas públicas - 3.2 Objeções às
que reforça, igualmente, a legitimidade da decisão. O caminho
potencialidades de controle jurisdicional das políticas públicas - 3.2.1
do planejamento se apresenta, portanto, como indispensável Controle de políticas públicas por intermédio do orçamento: uma
à associação dos múltiplos vetores que compõe a complexa aproximação ainda deficiente da matéria - 3.2.1.1 Inaptidão do orçamento
equação que conduzirá à identificação do adequado agir estatal, �? público: desenho e implementação de política pública - 3.2.1.2 Inaptidão do
planejamento esse que há de se revelar ainda transparente, em orçamento público para contemplar o resultado - 3.3 Constitucionalização
1 favor da cidadania ativa. das políticas públicas e os Tribunais Superiores: panorama dos precedentes
já cunhados - 3.3.1 Precedentes, no STF, de controle jurisdicional de
políticas públicas de educação - 3.3.2 Precedentes, no STF, de controle
jurisdicional de políticas públicas de saúde - 3.3.2.1 Pronúncias envolvendo
o direito fundamental à saúde na sua matriz coletiva de atendimento -
3.3.2.2 Pronúncias envolvendo o direito fundamental à saúde na sua matriz
individual de atendimento - 3.3.3 Algumas observações possíveis a partir
do conjunto já estabelecido de precedentes

3.1 Judicialização das políticas públicas


" ... Srs. Constituintes, concluída está vossa
tarefa preferencial, mas outro dever se abre a
:í ,:, .. vosso c�!i.dado e, esjorço..Este d�er indeclinável
- .
' êsiisiffntát""a êo'nstituição de ú'sà, apesar'de
quaisquer divergências com a sua leitura".
15 ;SPASIAN0. Funzione amministrativa e legalità di resultato, p. 84. Afonso Arinos
Vanice Regina Lúio do Valle
96 1 Políticas públicas, direitos fundamentais e controle judicial
\ 97

A adve rtência de Afonso Arinos, em discurso por ocasião da de uma nova id entidad e
·tern se apresentado como apto à geração
proclamação da constituição de 1988, se não alcançou a sensibili­ se busqu co ferir sentido à ação social.
/coletiva, através da qual e n
dade de seus destinatários originais no Parlamento - ao m enos A judicialização da política - nisso se compreendendo
esse é o sentime nto sugerido por já 56 Emendas Con stitucionais adas à prospectiva do
'as opções dessa mesma natureza , relacion
aprovadas até o início do ano de· 2009 -; dece rto calou fund o Administração - a partir da constituição de 1988 se
16º
o da
/aair
a
na parcel a da comunidade jurídica que veio a desenvolver 0 manifesta como fe nômeno caracterizado pela presenç expansiva
chamado " ...constitucionalismo brasileiro da efetividade ", 156 que dos direitos fundamentais, suas garantias e a s in stitu içõe s postas a

desde então tem dedicado seu enge nho intele ctual a formular os seu serviço, expressando um " ...avanço da a gend a igualitári em
a

ceu a in tituiçõ es
caminhos l ógico-teóricos d e concretização d esse ideal . um contexto que , tradicionalmente, não conh e s s
.. " 161
Não é menos verdade - e para tanto, já advertia B arroso, 157 da liberdade . . Compreensível, portanto, o entusiasmo com
em se u trabalho seminal na construção de um constitucionalismo que a cidadania, por si ou por instituições que a representem,
comprometido com esse ideal - que há d e haver, subjacente reencontr ando-se com a democracia, tenha se lançado na
ao esforço jurídico-teórico, uma d ete rminação do poder público persecução jurisdicional dos direitos assegurados pelo nov o Texto
em sobrepor-se à resistência; e ainda, que ta mbém as normas Fundante, supostamente não g arantidos, no todo ou em parte,
constitucionais, é de se reconhecer, se articulam na dualidade pelas estratégias de ação do Estado. Previsíveis, de outro lado, os
típica preceito-sanção. riscos de uma tendência a um a tivismo de parte de um Judiciá rio
Já se apontou no Capítulo 2 que a con sciência de que as que, apontado como o garantidor desses mesmos direitos, vê-se
política s públicas se condicionam não só pela política competitiva tentando a amplia r o seu espaço de atuação, em nome do v alor
maior de proteção à dignidade da pessoa.
162
(paitidária, representativa), mas também - e principalmente
- pela política constitucional158 trouxe par a o topo da pauta de É nesse contexto que o tema das políticas públicas p assa a se
prioridades a discussão acerca dos limites e possibilidades de seu apresentar como um relevante objeto de cogitação, p articularmente
controle , especialme nte, jurisdicional. no que toca às possibilidades de seu control e jurisdiciona l. A pa1tir
Tenha-se igualmente em conta que o problema ganha da indagação quanto aos limites e possibilidades dessa particular
em dimensão a p artir de uma crescente sensibilidade social,
ação de controle, renovam-se velhos debates como os atinentes
decorrente não só da evidência de que a efetividade dos direitos ao equfübrio e harmonia entre os poderes; enunciam-se novas
fundamentais reverte em favor da coletividade, mas também do questões, como aquelas afetas à inaptidão funcional dos órgãos
fato par a o qual nos advertia Sorj, 159 d e que esse mesmo discurso 160 É importante ter em co nta que a judicialização da política não se constitui privilégio do
de cunh o político,
da jusfundamentalidade dos direitos, em tempos de crise de cenário brasileiro , alcançando mais recentemente às grandes decisões
é o registro do mesmo autor can adense de
como já adverte Hirschl. Não menos rel evante
representação e de outras patologias próprias ao sistema da política, que esse fenômeno é de ser compreendi do dentro de uma dinâmica
de j ogos d e poder,
c m uma certa leniência dos dema i s br aços funciona is; quadro que t odavia
que c o nt a o
(HIRSCHL. The
156 SOUZA NETO. Fundamentação e normatividade dos direitos fundame está sempre sujeito à reversão , como sói acontecer no cenário político
of Political
teórica à luz do prinápio democrático. ln: BARROSO (Org.).
ntais: uma reconstrução Judicial ization of Mega-Politics and the Rise of Política! Courts. Annual Review
A nova interpretação abr. 2009).
Science. Qi_sponível em: <http://ssm.com/abstract l\\�008,?. Ac'esso em: 4
=

VIÁNNA et ai. A judicialização da política êdas r'elações soc}ais no


constitucional: ponderação, direitos fundamentais e relaçõe. Brasil; p. -l5Q. .. - ..... _.,.
s privadas. .
157
BARROSQ. o direito constituciongj e a-efetividade-cdési/(1.S�O
rrru:is.'limiies e 'possibilidades jurisdic ional e o Sup Tribuna l Federal, na
· da Cónstituiçilo brasileira; p. 86-87. 162
No tema , consulte-se a obra Ativism o rem o
o na Corte
158
COUTO. Constituição, competição e políticas públicas. qual se evidencia que a c aracterística ma is marc ant e do ativismo h oje manifest
Lua Nova. Disponível em: <http:// desenvolvimento do
www.scielo.br/sciel o.php?script =sci_pdf&pld=S0102-6 Constltucional é a reivindicação d e competências - e menos o
445200 demandada (VALLE
o&tlng=pt>. Acesso em: 26 no v. 2007.
5000200005&1ng=en&nrm =is conteúdo e limites dos direitos fundamentai s cuja garantia seja dele
e Suprem o Tribuna l Fede al: laborató rio de análise
1
59 SORJ A nova sociedade brasile
ira, p. 90-101. (Org.). Ativismo jurisdicional o r

jurisprudencial do STF).
Varuce Regina Lfüo do Valle
Poliücas públicas, direitos fundamentais e controle judicial
99
1
\
98

jurisdicionais para uma ação corretiva, ou mais, substitutiva no muito esclarecido é se esse é o fenômeno que se tenha verificado
campo das políticas públicas. 163 Associado ainda ao problema no caso concreto, ou se a referência a esse tipo de providência se
apresenta mais como reivindicação de competência do que como

1
controle jurisdicional de políticas públicas, identificam-se as
questões relacionadas à efetividade dos instrumentos processuais exercício real de controle do poder.
disponíveis; da representatividade adequada na articulação das

1,,
demandas; do risco de apropriação do discurso de tutela dos
direitos fundamentais por parte daquele(s) que não seja o mais 3.2 Objeções às potencialidades de controle
carente de sua tutela, etc. Tem-se entã.o uma miríade de problemas jurisdicional das políticas públicas
relacionados à compreensão em si do que sejam políticas públicas

'
A tarefa de controle · judicial de políticas públicas vem

i
.e sua inserção no elenco de deveres postos ao Estado; do papel
se deparando fundamentalmente, com dois eL'i:OS principais
de dificuldades, 164 a saber: 1 ) objeções atinentes ao déficit
possível a se desenvolver pelo Judiciário no controle desse 2

instrumento de ação planejada do poder público; e ainda de como democrático apontado em relação ao Judiciário, no que tange a
assegurar que esse mecanismo de controle não se transforme decisões que importem em (re)configuração do agir dos poderes
2
num exercício meramente retórico, ou ainda, num instrnmento de compostos a partir do princípio representativo; e 2 ) objeções que
preservação de posições privilegiadas . apontam as deficiências funcionais do Poder Judiciário para o

1 controle ou redirecionamento das políticas públicas.


Nesse cenáriose coloca o tema da sindicabilidade jurisdicional
O debate em torno do déficit democrático do Judiciário, à
1'!
das políticas públicas identificando-se: l 2) aqueles favoráveis a seu
pleno controle; 22) os que encartam a matéria no terreno próprio à
' deliberação política (do Legislativo, do Executivo, ou de ambos); Jt;

vista de sua composição distinta daquela originária da representação
democrática, é tema que não se revela novo, tendo sido objeto de
::, e Y) toda uma miríade de posições intermediárias, muitas vezes
�1·1 . intensa produção e aprofundamento teórico a partir da instituição,
inspiradas mais pelo clamor que decorre dos detalhes do caso pela Carta de 1988, de um complexo sistema de controle da
concreto do que por uma sistematização teórica do conceito e de ,(
constitucionalidade das leis. A consolidação da jurisdição
'·j'
seu significado para o sistema do direito. )1_ constitucional brasileira trouxe para a ordem do dia - e superou
,l
�I - os vetustos argumentos de que só o voto pudesse ser visto como
.! O afã da tutela jurisdicional de direitos fundamentais
muitas vezes relegados, é verdade, a ações assistemáticas e sem signo legitimador do agir do poder, admitindo que o labor técnico
a necessária perspectiva de planejamento e eficiência - culrrúna e independente, associado à motivação das decisões, possam se
por contaminar o discurso de justificação das providências revelar igualmente aptos a conferir legitimidade a uma atuação
judiciais, que passam a reivindicar um tipo de intervenção que se exerce a título de controle desse mesmo atuar do poder
político. O transporte, portanto, dos argumentos ali declinados,
l
(controle de políticas públicas) que não se tem ainda claro do
para o tema da sindicabilidade jurisdicional das políticas públicas

l
ponto de vista teórico, seja sempre possível. Em outras ocasiões,
ainda que se tenha por possível do ponto de vista abstrato o tem-se como um desdobramento quase previsível da discussão

1 controle jurisdicional de políticas públicas, o que não parece inicial atinente às potencialidades de ação do Judiciário em defesa

11
da constituição. Já em rélação a essa transposição de argumentos,
163
No tema, interessante ainda o destaque de Taylor evidenciando a pouca cogitação, de parte c toçlavia, é preciso ter"s;�\l tela.... ·- . ._, "' - __. -,. -
. -• .,·.:""-,:::!
.__ :..!-;;'· . --�·"'.:..3
. L- .::-· .,· ' ..t.

. dos..�smdos.relacionados ao sistem3- político. brasijeirc;>,<lo papel do Judiciário como agente


relevante no processo·de tomada-de decisão do sistema político brasileiro, particularmente
164 A sfutese foi declinada por Luís Roberto Barroso, na conferência "Responsabilidade e políticas
i
no que toca à formulação e implementação de políticas públicas (TAYLOR. O Judiciário e Administrativo, em
as políticas públicas no Brasil. Dados, p. 229-257, 207. Disponível em: <http://www.scielo. públicas" proferida no XXI Congresso do Instituto Brasileiro de Direito
I, br/pdf/dados/v50n2/a0lv50n2.pdf>. Acesso em: 1• fev. 2007). Aracaju, dia 20 de setembro de 2007.

l
t' 100 1 Vanice Regina Lírio do Valle
Políticas públicas. direitos fundamentai.se concrole judicial \ 101

se t enha
Em matéria de contro le d e consti tucionalidade, o debat e que estatal. Em qualquer das du as hipóteses , ainda que
frentado um debate atinente
como part e do pro blema a ser en

t
normalmente se estabel ece diz r espeito ao conteúd o de direitos
os fundamentais assegurados
fundamentais - aqueles assegur ados no Texto Fund amental e ao conteúdo e extensão dos direit
l que se legit ima , na

l1
que não enco ntram na produ ção legisla tiva infra-consti tucional - tema clássico da j urisdiç ão constituciona
ntação argumentativa
o u no exercício da função a dministra tiva o seu r econh ecimento, compr eensão do STF a partir da r eprese
sentará como questão
ao menos não na exte nsão ide ntificad a pel a Corte como d e vida.
- fato é que n o mais das vezes, se apre
eca nismos concre tos de
f
Nesse se ntido, a assertiva de que o STF se val e, como fund ame nto igualmente relevante aquel e a cerca dos m
direitos. 166
\ operação/implementação desses mesmos
de legitimida de de seu agir, da ch amada representação
ional de
argume ntativa g uarda coerên cia lógica co m o sistema , na m edida
Dá-se , port anto, em matéria de controle jurisdic
políticas públicas, um deslocamento da co gitaç
em que os pa râmetros de co nfig ur ação d esses mesmos dir eit os se ão jur isdicional do
situam no t exto constitucional, e o exercício que se d esenvolve n a to fundamental, para o
campo abstrato da configuração do direi
jurisdição é a argumentação sobre como se combinam e aplicam e sua concr et i za ção .
ter reno concreto da estratégia operacional d
l
\
e sses mesmos parâmetros no traça do d o conte údo dos dir eitos . 65
1
Não se circunscreve a prestação jurisdi cional, p
ortanto, à co gitação
l Qua ndo se cogita, de outro l ado, do contr ol e d e políticas ração de dir eitos
! dos elementos clássi cos em matéria de configu
públi cas - vertente já mais oper acional dessa mesma oper açã o ção do co nflito de
l fundamentais ; 6 ao contrário, a composi
1 7
í d e gara ntia de efetivi dade de direitos fundamentais - a atuação construção da decisão
l interesses envolve in casu, elementos de
juris dicional pode n ão se ide ntifi car em a bsol uto com a definição nho original, como a
judi cia l que não são próprios ao seu dese
do conteúdo propriamente de direitos ; ou pode aind a e nvolver mbie nte de deman das
essa d elimitação - mas também a vários outros temas a ser em
escolha de pr ioridades de ação num a
equaciona dos, nota dame nte , na sua tr ansposição par a o pla no
múltiplas e recursos escassos.
a tese d e que se
concreto, e em caráter de gene ralidad e aos beneficiári os desses Tudo i sso se destaca para sublinhar que
1 o dos ar gumentos de
mesmos dir eitos fundamentais. possa empreender a uma mera transposiçã
tema do controle de
justifi cação da jurisdi ção constitucional ao
; A provoca ção da jurisdição que contr ole, em alguma medi da , efe tivi dade d e direitos
políticas públicas (relacionado que é à
,:
l;
l;
J 1
as políticas públicas, normalme nte tem início com a d enú n cia de
fundamentais que encontram nessa verten
te _da jurisdição a sua
i; inef etividade do s direitos fundamentais - que pode se r ela ci onar ilezas da hipótese , com
l à ausência em si de qualquer ação estatal minimame nte pl anejada, principal garantia) desconhece algumas sut
das decisões ju diciais
\l ou ainda à ina dequação d esse mesmo quadro normativo do a gir
risco significativo inclusive de transformação
!' que desconhecem essa especificidade, em m
ero exercício r etórico .
r gáv el que o tema
165 Registre-se, no campo do leque de possibilidades d o e stabelecimento de vínculo
s de
E m que pese as obse rvaç ões a cima, é ine
intervenções em sede
representação no exercício d os jogos de poder e da vida democrática na Carta d e 1988, a
contribuição de Wemeck Vianna ass inalando uma inclinação importante daquele texto pela
do déficit democrático do Judi ciário para as
abertura à chamada representação funcional, como reação à já então i dentificada c1ise
r a única faceta da
da representação política. Nesse contexto, de valorização da representação funcional no 166 Em verdade, do ponto de vista estr itamente da so ciedade, esse pode se
exercício democrático, têm-se a ampliação d os legitima em que os de safios teóricos atinentes à
delimitação
dos para a provocação ao controle demanda que lhe intere ssa, na me d ida
e,s i!Il bem meno s próximos ao grupo
abstrato de constirucionalidage, .o papel fixad.o, a, o. Ministéri0-Público, e· às De fens d o ço,nteúd o do <lireitó fundamen
tal à- so ciec\a d o
orias itais ' '
Públicas, à ·abertÜrã-'à-paiti�ipaçãÔ elas social, do que a questão relacionada ·a dispõ
"r ele �-;� não � "de \:nédicos nos 'hosp
0

�r;."tidad�s representativas, e a' ptõpri/"configüração


i· do Judiciário, que por si expressa representação funcional, e ainda se apresenta
como arena públicos. ,
d e articulação d e várias outras manifestaçõe s da matriz de raciocínio jurídico, a saber
s desse mes mo fenómeno (VIA.1\/'"NA, O terceiro 167
Debate que se trava a partir de r efer enciais típico es encia l e p roporcionalidade, na
poder na Carta de 1988 e a tradição republicana: mudança e conservação ção a núcle o
reserva legal simples e qualificada, prote
o s
, Disponível em: ES; COELHO;
<http ://b!og,e studoshumeanos,com/wp-content/uploads/2008/12/ s e suas limitações , ln: MEND
artigo-we rneck-vianna, lição de Mendes (ME!','DES, Os direitos individuai tais, p, 197-2 40).
osfundamen
BRANCO, Hermenêutica constitucional e diré!'it
...... ,..H--.,. /\roe,;:,-..
Pn'"l• .4. "lhr ?nncn
102 / Vanice Regina Lúio do VaUe
Políticas públicas, direitos fundamentais e controle judicial ! 103

:. J.4 �.,
rf de jurisdição constitucional tem seu debate já mais sedimentado
na doutrina. 168
J
É ainda de se ter em conta outro traço que é característico
das políticas públicas - de que também já se cogitou no
Capítulo 1 acima - a saber, que elas se desenvolvem dentro
J
,._
Já a objeção relacionada à ausência de expertise nas áreas
l,
;í técnicas que possam influir ou determinar políticas públicas - e de uma determinada perspectiva temporal, sendo inadequada a
portanto, fragilidade funcional do poder Judiciário para o seu :l pretensão de controle que se ditija a um momento determinado
t ·:j
· 1 do tempo, sem ter em conta os desdobramentos previstos na sua
controle - tem gerado mais dificuldade na sua superação, dentre .
i! formulação. Isso significa que do ponto de vista prático, uma
,fr
outros motivos, também pela expansão da importância da técnica
determinada polítiça pública pode não ter ainda gerado os efeitos
no mundo da vida, o que conduz a discussão de vários temas a
perseguidos jurisdicionalmente, mas estar em vias de determinar
uma seara em que ela ocupa o centro da compreensão, e o direito
os resultados a que se propôs - o que pode tornar inadequada
só se apresenta de forma ancilar. 169 Aberto o debate e provocada a intervenção que paralisa, reconfigura ou substitui a estratégia
a jurisdição, surge aqui e ali a pronúncia jurisdicional que adentra
ao campo das políticas públicas, inclusive com a afirmação de que l de ação já traçada.
seja possível uma atuação jurisdicional que, substituindo-se ao !i Finalmente - mas não menos importante - um outro risco
é de se destacar no controle jurisdicional de constitucionalidade
administrador e/ou ao legislador, formular políticas públicasYº
1 de políticas públicas, que decorre não da disfuncionalidade em
Ainda noutros planos pode se manifestar a comentada -11 gênero do Judiciário para essa tarefa que envolve a superação
disfuncionalidade do Judiciário. Se a predominância da t de dissensos e a formulação de escolhas, mas sim da possível
técnica como questão central de muitos conflitos já expressa i combinação, na judicialização de um direito fundamental
uma dificuldade, também as relações de mútua referência e 'f inatendido, de incontáveis variáveis a se controlar. A referência
dependência das ações públicas podem determinar problemas na se faz ao risco de um enevoar das fronteiras de cada qual dos
análise jurisdicional. Assim é que como já visto no Capítulo 1, as aspectos do problema, contribuindo essa indiferenciação
políticas públicas não podem ser inteiramente compreendidas se cognitiva para uma perplexidade ou deficiência na constrnção
não nas suas relações de coordenação, e isso ampliará o foco de das soluções. Explica-se.
cogitação do julgador para além do objeto do pedido, exigindo a A reflexão em torno do controle jurisdicional das políticas
cogitação quanto às possíveis relações de interferência recíproca públicas, já se disse, se apresenta como estágio mais recente de
entre os quadros normativos do agir estatal. Assim, a prospectiva um movimento consistente de garantia de efetividade do texto
é de se dar tendo em conta os efeitos do eventual provimento constitucional, particularmente nos seus compromissos para
judicial naquele segmento de atuação estatal, e ainda os que com com os direitos fundamentais. 171 O debate se apresenta a partir
esse mesmo segmento de alguma maneira se relacionam. de demandas judiciais ajuizadas, que normalmente têm em conta
a chamada dimensão objetiva dos direitos fundamentais, que
envolve a garantia de concretização de um comportamento estatal
168 Sintetizando pontos fundamentais do ainda presente debate relacionado à legitimidade da - que pode se traduzir em obrigações de conteúdo prestacional
jurisdição constitucional, consulte-se WALDRON. Toe core case against judicial review. Yale
LawJournal. ou não - imposto pelo Texto Fundamental; deveres esses
'69 A agenda mais recente de debates no STF é rica em exemplos com fortes implicações simplesmente não observados, ou cujo cumprimento se apresenta
da técnica originária de vários setores do conhecimento: a discussão relacionada à
··-· -. . desGrirn.iháüzação-da· inrerruocão cta gravide\ 4e feto iôentificado corno anencefalico e o --·
debat� em tomo da Lei de Biossegurancá: com i"e'u--par;; de fu�d� bio�édic�- e· ético; a Nõ tema; consi:iite:�e'\i ";t";iê;-;;afuação- dà · intér-relação -entre o· neoconstitu2fonalisrrfo·:.:.. :Si

---- 171

demarcação das terras indígenas na Reserva Raposa do Sol e suas implicações sociológicas e as políticas públicas formulada por BARCELLOS. Neoconstitucionalismo, direitos
e antropológicas, e tantos outros. fundamentais e controle das poh1icas públicas. Diálogo Jun'dico. Disponível em: <hnp://
em: 4 abr.
170
Os precedentes judiciais envolvendo essa afirmação serão examinados no subirem 3.3 www.direitopublico.eom.br/pdf/artigo_controle_pol_ticas_p_blicas.pdf>. Acesso
abaixo. 2007.
i/f>1

104
/ Vanice Regina Lúio do Valle
1105
Políticas públicas, d.ireltos fundamentais e co. ntrole judicial

insuficiente ou inconsistente tom os parâmetros à matéria, que se uma responsabilidade solidária no atendimento aos imperativos

r
afirma exsurjam diretamente da constituição. No mais das vezes de saúde - responsabilidade solidária essa que não decorria
- até por força de nossa sistemática processual civil, que não (ao menos não literalmente) da política pública formalmente
admite a apresentação de demanda com pedido indeterminado disciplinada pela instituição constitucionalmente incumbida
- o comportamento concreto apontado como exigível do Poder da proteção a esse direito fundamental, a saber, o SUS. A
�/ Público se terá especificado, como objeto mesmo do pedido, na escolha, portanto, de que pudesse recair sobre o Estado de
peça exordial. Alagoas e não sobre os Municípios, como desenhado pelo SUS,
!
Disso pode decorrer que o controle se dê a partir de o dever de fornecimento desse medicamento, decorria não da
!
l uma determinação prévia do que seja a política pública cabível política pública original, mas da opção daquele que provocara
na espécie - porque o que se requer é um comportamento já
a jurisdição, a saber, o Ministério Público, 172 numa atuação
especificado, reduzindo-se o debate, portanto, à implementação/
substitutiva da estrutura institucional constitucionalmente
concretização das escolhas anteriormente empreendidas; o que
incumbida da formulação das políticas públicas de saúde. Aqui,
por sua vez atrai uma série de outras indagações. Qual a origem portanto, na demanda, se cumulava uma questão atinente à
das escolhas afirmadas previamente acontecidas, relacionadas à formulação da política - a saber, afirmar-se que o Estado,
política pública que se vem exigir judicialmente? O mecanismo de a quem originalmente não cabia fornecer os medicamentos,
formulação foi aquele constitucional ou legislativamente traçado, deveria fazê-lo a vista da inobservância do direito fundamental
ou tem-se uma determinação da linha de conduta supostamente
devida a partir da compreensão do agente controlador? Estamos no ., ., à saúde em decorrência da inércia do Município - e ainda o
tema da sua implementação, com a ordem de fornecimento e
campo da auto-vinculação, cogitada no subitem 2.3.1 do Capítulo respectivos preceitos cominatórios.
2 acima, ou ao revés, cuida-se de proposta de quadro normativo Na segunda hipótese, perseguia a União Federal uma
do agir estatal fixada pelo autor da demanda? :1,
suspensão de liminar, deferida pelo TRF 5" Região, a qual
O problema se ilumina com dois exemplos, expressos determinou à União, ao Estado do Ceará e ao Município de Sobral

:.;11•· .
em dois rumorosos precedentes havidos no âmbito do STF, a
saber, as STA n º 91/AL e SL n º 228/CE, ambas objeto de decisão
·1·' a transferência de todos os pacientes necessitados de atendimento
em Unidades de Tratamento Intensivo (UTis) para hospitais
da Presidência. públicos ou particulares que disponham de tais unidades, assim
No primeiro caso, cuidava-se de pedido de suspensão como o início de ações tendentes à instalação e ao funcionamento
de tutela antecipada, deferida pelo Tribunal Estadual local, de 10 leitos de UTis adultas, 10 leitos de UTis neonatais e 10
determinando àquele ente federado o fornecimento de ·t

leitos de UTis pediátricas, no prazo máximo de 90 dias. ln casu
medicamentos necessários para o tratamento de pacientes - no aspecto da discussão envolvendo o ponto que ora se está
renais crónicos em hemodiálise e pacientes transplantados desenvolvendo - a quantificação do número de leitos de UTis
- cuja atribuição, no sistema ordinário do SUS, não compete
àquela entidade federada, mas sim aos Munic=.(pi()s_, ,q11e /n
. � :, ....... casu · (notadim.énte :o
da c;:apitál' dá";Estado}"nãó. vinh�m·-�ê
.J, -;
• 172•
Na ocasião, a. decisão da Presidência .se,fücou no sentido de prestigiar à repartição ,:le
competências fixadas pelo SUS, deferindo-se a suspensão tutelá aiitecipa.-da " ...tão somente·
de
desincumbindo de seus deveres nesse campo. O argumento para limitar a responsabilidade da Secretaria Executiva de Saúde do Estado de Alagoas
que determinara o deferimento original da antecipação de ,::/ ao fornecimento dos medicamentos contemplados na Portaria n• 1.318 do Ministério da
Saúde... " (STA n• 91, Relator(a): Min. PRESIDENTE, Presidente Min. ELLEN GRACIE, julgado
tutela recorrida envolvia a pretensão de. reconhecimento de ·! em 26.02.2007, publicado em D], p. 23, 05.03.2007; RDDP, n. 50, p. 165-167, 2007).
'._;_
106 J Vanice Regina Lírio do Valle Políticas públicas, direitos fundamenr.ais Go comrole judicial 1107


1
exigido judicialmente, em cada qual das espécies acima indicadas, solução intermediária, evitando - como adverte Souza Santos i74
decorria de instrumentos normativos emanados do sistema SUS, 173 - que a ausência de uma determinada racionalidade ou solução,
e portanto, da estrutura constitucionalmente prevista como produzida como ativamente não-existente, funcione como
própria ao traçado de políticas públicas no segmento. O cerne bloqueio ao desenvolvimento de outras alternativas, e reduza a
da discussão portanto residia, não na formulação (originária ou realidade somente àquilo que já existe.
substitutiva) da política pública, mas sim, na sua implementação.
Distinguir cada qual das hipóteses - quando a demanda
envolve tão-somente a implementação de políticas públicas na tutela 3.2 Controle de políticas públicas por intermédio
judicial da auto-vinculação determinada pelas políticas públicas; ou do orçamento: uma aproximação ainda
ainda quando ele se reporta à sua formulação - é um exercício deficiente da matéria
dos mais relevantes. Na primeira hipótese, a matriz do controle
é o contraste com a própria política pública existente, à vista de Mais recentemente, no salutar exercício de construção de
sua aptidão a determinar a já referida auto-vinculação. Não se tem uma alternativa de solução no campo da efetividade do controle
aqui atuação substitutiva do Judiciário, mas ao contrário, função das políticas públicas, ganhou corpo um conjunto de propostas que
jurisdicional típica de reconduzir o poder à trilha de funcionamento passa pela intervenção jurisdicional na execução ou composição do
que ele mesmo estabeleceu. Já no segundo caso - em que não se orçamento público em qualquer uma de suas dimensões contidas
cogita de reforço jurisdicional à auto-vinculação, mas sim de uma no art. 165 da CF , 175 alternativa essa que vem encontrando, na
decisão de caráter nitidamente substitutivo, inequivocamente se casuística jurisprudencial, progressivo acolhimento. 176 Completa-se
estará numa seara sujeita a um ônus argumentativo maior, sem o o quadro de modificação da visão jurisdicional em relação à teoria
que não se terá por legitimada a decisão. do orçamento, com a reversão da tese da natureza administrativa
Todos esses elementos determinam, para a concretização da lei de meios (o que excluiria suas previsões do controle
de controle jurisdicional, um estranhamento, cuja superação jurisdicional) 177 empreendida pelo STF . 178
se apresenta como um dos desafios da sua implementação De outro lado, o dispor sobre recursos objetivamente
- ao menos, àquela que se dá de forma legítima. Entre os dois expressos em orçamento soa como terreno mais familiar
extremos da negativa absoluta da intervenção judicial, e a atuação
inteiramente substitutiva desse mesmo poder, é de se buscar uma 17
4
SANTOS. Renovar a teoria crítica e re-iriventar a emancipação social, p. 28.
175
Dentre a produção do tema no direito nacional, consulte-se SILVA. Direitos sociais: l e is
orçamentárias como instrumento de implementação; FREIRE JUNIOR. O controle judicia/
" ...A Portaria MS/GM n 1.101, d e 13.06.2002, que estabelece os parâm etros de cobertura
173 º
das políticas públicas, MAURÍCIO JR. A revisã o judicial das escolhas orçam entárias e a
assistencial no âm bito do SUS, especifica a quantidade ffilÍlima d e l eitos de Unidades efetivação dos direitos fundamentais. Diálogo Jurídico. Disponível em: <http://www.
de Tratamento Intensivo de acordo com o número de habitantes d e cada r egião: '3.5. direiropublico.com.br/ pdf/Revisao_Judicial_Escolhas.pdf>. Acesso em: 6 out. 2007; APPIO.
N ecessidade de Le itos Hospitalares. Em linhas gerais, estima-se a necessidade de leitos Controle judicial das políticas públicas no Brasil.
hospitalares da seguinte forma: a) Leitos Hospitalares Totais - 2,5 a 3 leitos para cada 1.000 176
A título de ilustração de pr ecedentes já constituídos, em que o remanejame nto de recursos
habitantes; b) Leitos de UTI: calcula-se, em média, a necessidade de 4% a 10% do total de orçamentários é dete rminado como mecanismo de coerção ao desenvolvimento das
Leitos Hospitalares; (média para municípios grandes, regiões, etc.); c) L ei tos em Unidade atividades reconhecidas como devidas pelo Estado - e não implementadas sob o argumento
d e Recuperação (pós-cirúrgico): calcula-se, em média, 2 a 3 leitos por Sala Cirúrgica; d) da ausência de recursos orçamentários - consulte-se REsp n2 493.811/SP, R el. Min. Eliana
Leitos para pré-parto: calcula-se, no mínimo, 2 leitos por Sala de Parto.' A Portaria MS/GM ·Calmon, 2' Turma, D], 15.03.2004; e APELAÇÃO CÍVEL N" 425249 RN (2006.84.00.005522-4)
n2 3.432, de 13.08.1998, alterada pela Portaria n• 332, de 28.03.2000, que estabelece critérios - TRF 5' R e gião, R el. Juiz Francisco Cavalcanti, Primeira Turma.
de classificação para as Unidades de Tratamento Intensivo, toma obrigatória a existência 177
TORRES. O direito ao mínimo existencial, p. 112.
de l eitos..de UTI n e o.r1atal nas_ wiJch.ç\�$ que,possuap:1--maternidade de alto risco: '1.5._ Todo 173:A-r'nudança ·cte :c;,rienta�ç, do STR se. .estabele<o'eu na- ADJ 2925, Relator o Min . Marco Aure1io,
· llós!'lltal quê itenda: gestante :de alto ;i;co :dév� di-s�0r--0e leiéÓs âe-·frata� ento ·inte nsivo '�- ·- 'b1, \:3:022004,c e � qu'eé;e flic;;u -já;:ri{��Jta,-q�; ." ---,�Ôstra:�e ;deq1.1ad9 o controle
adulto e ne onatal.'" (extraído da decisão da Presidência SL n2 228, Relator(a): Presidente concentrado de constitucionalidade quando a lei orçamentária revela contornos abstratos e
Mi.n. Gilrrtar Mendes, julgado em 14.10.2008, publicado em D]e, n. 199, 21.10.2008). autônomos, em abandono ao campo da eficácia concreta...".
1-

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PoLhcas púbHcas, direitos fundamentais e controle judicial j 111
11 O I Vanice Regina !.frio do Va!le

à Administração. Afinal, ainda que se pudesse cogitar de uma concepção dos direitos fundamentais de segunda dimensão -
l
i ordem de remanejamento de recursos não quantificados - pode se converter, do ponto de vista concreto, numa inversão
l
tantos quantos sejam necessários - o resultado será uma carga absoluta dessa lógica, consagrando uma espécie de direito à
de indeterminação tão alta no decisum que tendencialmente preferência em favor de um determinado jurisdicionado ou de uma
comprometerá sua própria observância. área de atuação posta na pauta do controle, sem que a constituição
Na verdade, a fonte de inspiração do manejo de recursos assegure, ou mesmo reconheça possível, o estabelecimento dessa
orçamentários como técnica de solução é ainda o enfrentamento mesma prioridade. A visão do caráter necessariamente coletivo
em sede de controle jurisdicional, de demandas individuais, em de uma política pública, e as relações de matricialidade, que elas
que se postula a outorga de uma prestação determinada. Para mesmas devem guardar se apresentam como um elemento de
essas hipóteses, a determinação jurisdicional de realocação de consideração absolutamente indispensável na prevenção desse
verbas pode se apresentar como técnica eficaz, já que a prestação efeito, certamente deletério.
é determinada, e portanto, os recursos necessários ao seu Importante ainda evidenciar que, em que pese o evidente
financiamento são também facilmente determináveis; todavia, progresso, do ponto de vista de finanças públicas, decorrente da
revela-se perigosa no seu traço de forte inspiração individualista. edição da Lei de Responsabilidade Fiscal 182 - disciplinando, dentre
Outra observação crítica é aquela de que a preferência pela outras matérias de direito financeiro, o conteúdo dos instrumentos
solução de demandas sociais que envolvam políticas públicas previstos no art. 165 CF - fato é que o sistema brasileiro de
através da ordem, em ações individuais ou. coletivas, do simples orçamento ainda é construído principalmente a partir de uma
remanejamento ou previsão futura de recursos, parece desconhecer racionalidade predominantemente econômica, e como tal, tem
a circunstância de que, uma vez que as dotações são limitadas,
sua inserção quando se cogita de políticas públicas num ponto
a destinação de valores a um programa ou ação, evidentemente,
já intermediário do caminho, a saber, o provimento dos meios
significa a diminuição, na mesma proporção, do montante destinado
financeiros para o desenvolvimento de uma atividade já concebida,
a outras atividades desenvolvidas pelo Poder Público. Exsurge
ao menos nas suas grandes linhas. Afinal, o estágio preparatório,
aqui um Judiciário que, na lição de Ferreira, passa a funcionar
em que se colhem os elementos que presidem a construção
como verdadeiro veto player, 181 na medida em que através de sua
da política pública - diagnose do problema, exploração das
intervenção, pode determinar (pelo remanejamento de recursos ou
prioridades) o bloqueio da atuação regularmente prevista ao Poder alternativas de solução, sopesamento dos argumentos em favor e
Público - atividades essas cujo comprometimento, por força do contrários a cada qual -, é etapa do processo de decisão quanto
cumprimento da decisão judicial pretérita, pode gerar efeitos ainda ao agir da Administração que não encontra lugar nos instrumentos
mais danosos do ponto de vista social. constitucionais de gestão orçamentária, porque a eles, temporal
Significa dizer que uma atuação cuja inspiração original
envolve o discurso da busca de concretização de uma justiça 182 O mencionado instrumento legislativo, fortemente criticado por ocasião de sua promulgação
distributiva - afinal, essa é a matriz teórica original da própria nos idos do ano 2000, tem na sua própria aplicabilidade ao longo desses já mais de oito
anos, a evidência maior de que, em que pese seus vários pontos falhos (não reconhecimento
das diferenças regionais, inspiração nitidamente na redução de déficit, dentre muitos
181
No sentido de agir não como meio para que atores políticos determinados atinjam interesses, outros), expressou, quando menos do ponto de vista de parametrização da concretização
mas sim no sentido de ser ele próprio, o Judiciário, figura _ativa na realocação de recursos da atividade orçamentário-financeira, um avanço, introduzindo elementos de prospectivas
f, estataif Os trib1,1_nais passam "a ser verdadeiros çe.ntros çl�.n�g_,llªção· (pÕsitivà ·o�(negativa) importantes como a prevenção de riscos, o planejamento, a f- ixação de metas fisca_is, etc.
1 de políticas públicas, com ·considerável êapacidade de 'veto é criãç)i.o "de políticas púôlicas Muito se tem ainda a-eaminhar no tratamento desse teÍÍià,'hlas se. constil:l.liria _u,n equívpco

i1
� (FERREIRA et ai. O Judiciário e as políticas públicas de saúde no Brasil: o caso AIDS. deixar de reconhecer que em meio à controvérsia, a LRF se revelou apta a gerar resultados
Disponível em: <http://www.ipea.gov.sobreipea/40anos/estudanres/monografiacamila. positivos - quando menos, uma maior atenção e cautela com o tema em si da gestão fiscal
doe>. Acesso em: 9 out. 2007). responsável.
t. 112 / Va.nice: Regi.na Lino do Va11e Políticas públicas, direitos fundamentais e controle judicial 1113

e logicamente, precede. 183 Isso porque, só a partir da escolha ao exeroc10 da crítica de sua adequ ação para com a decisão
do quadro normativo de ação se poderá quantificar o suporte judicial anteriormente exarada.
financeiro necessário. Por tudo isso, pouco tem a tríade orçamentária a contribuir,

l A ausência do quadro normativo de ação - e a atuação seja como elemento de informação qu anto à ratio e aos critérios

1f
substitutiva que se resume à determinação de alocação de recursos de priorização das políticas públicas nela efetivamente contidas,
orçamentários nesse ou naquele exercício - tem ainda um vício, seja como caminho de coerção ao desenvolvimento de políticas
• a saber, a sua inaptidão para garantir em relação à cogitada linha públicas eficientes e eficazes. À vista do caráter simplesmente
' de ação, um mínimo de continuidade. Afinal, localizada no tempo
a ordem, a ação pontual naquele espec11ico momento no tempo
autorizativo da Lei de Meios, 184 os próprios elementos de
monitoramento da execução orçamentária - e a leitura do texto da
cumpre à ordem - mas nem por isso se pode afirmar, realmente, Lei Complementar n2 101/00 evidencia isso - pautam-se por u ma
1� controle política pública (que inexiste e não foi provocada pela lógica predominantemente fiscal (deficit, superávit, riscos fiscais,
metas fiscais, impacto orçamentário-financeiro, etc.), elemento a
ij intervenção judicial), e menos ainda, tutela direitos fundamentais
t na sua dimensão objetiva. revelar não seja o caminho da intervenção orçamentária, o mais
t Significa que a ordem em favor da orçamentação equaciona apto, em tese, à indicação da solução do problema da ausência ou

1 um aspecto do pretendido agir estatal - mas está longe de insuficiência de políticas públicas.
; construir um qu adro normativo de ação. De outro lado, se a
fil
lógica que inspira a decisão de garantia dos recursos em sede
de orçamento é a de permitir ao administrador que escolha os 3.2.2 Inaptidão do orçamento público para
,,
!
j'
caminhos de concretização do direito, em reverência ao equfübrio
e harmonia entre os poderes, tem-se o risco de empreender-se a
contemplar o resultado
Um elemento adicional ainda cabe apontar. A intervenção
1
i
::l: uma perigosa inversão, fixando um patamar de gastos para uma judicial no orçamento, como estratégia garantidora da
atuação que não se tem ainda definida qual seja. Nessas condições,

!
concretização da providência cogitada na demanda judicial,
o número proposto incluir no orçamento se revela aleatório, e enfrenta o problema da fonte de financiamento da intervenção
como tal, despido de características que permitam afirmar seja estatal reclamada - mas não tem em conta um outro aspecto
efetivamente, fruto/manifestação de um real agir de controle. que não se pode descurar, que é a observância do parâmetro da

;
� Tampouco parece satisfatória . uma solução que trabalhe eficiência. Afinal, o signo constitucionalmente exigido dirige-se
1 com a lógica de determinar-se o provimento dos recursos em sede ao desenvolvimento da função administrativa, e não se tem por
! orçamentária, sem a indicação do montante. Nessa hipótese, o risco dispensado quando essa função se movimenta à conta de uma
se situa no plano da efetividade; a ordem que determina alocar determinação ju dicial.
recursos (não se sabe quanto) para financiar u ma política pública É certo que o estudo do resultado do agir do Estado tem
(não se sabe qual) admite como reação de parte da Administração, sido associado à legitimação da escolha pública que antecede o
qualquer atuação, sem que se disponha de parâmetros próprios desenvolvimento da função administrativa - o que talvez pudesse
183
Registre-se a iniciativa já em curso, de alteração dos termos da Lei Complementar n• 101/00, 184 Registre-se o curso, ainda, da Proposta de Emenda à Constituição n' 22/2000 (agora
que passarla a estabelecer " ...normas de políticas públicas voltadas para a responsabilidade processada sob o n' PEC 565/2006), de autoria do Senador Antonio Carlos Magalhães, que
na gestão fiscal e social...", introduzindo-se e, _conceilo ,de. metas;.sociais,c e os. respectivos. .. . - .. . t0rna-obrigatória a programação constante da Lei Q,:i:ça.rgeptária A{lual, ,i.prov�da-iá em dois ..
.. inscrnrnentos· de· ni.ÔnitO[:aQl�p(Q-em-' selàçã·á·a ·eS$e resultad,Õ...·.'.EOnSH!te-se. Ó tespecti;rÓ· . "'· .,. ,·:ru:mos-pefo-Senadô'Fed�fal7'reiri'�tfdil'â :apréciàçâOda Cânik;,á· d9s DepZitaé!ôs,:com-parécêi' :: -�....... - ·-
··e;;.,:
projeto" êié"'Jei .<http://�.forumfbo.org.br/media/LRFS%20vers%C3%A3o%20fina1_ favorável da Comissão de Constitucionalidade e Justiça, mas ainda em debate no âmbito
.pdf>. Acesso em: 7 out. 2007. desse mesm.o colegiado especializado, apensada a PEC n º 330/2009.
-·-,· -·� · r�:
i
114 J Vanice Regina Lúio do Valle Políticas públicas, direitos fundamentais e con�ote judlcial j 115

1 \
determinar uma conclusão de que, em se cuidando de ordem judicial,
superado estaria o debate relacionado à legitimidade de uma escolha
que, a rigor, não aconteceu, ao menos, não pela Administração. Essa
parece ser, todavia, uma· aproximação reducionista do fenômeno,
de jurisdição devia recair sobre os seus efeitos - corrigindo-os,
ampliando-os, ou o que mais fosse cabível nos termos da hipótese
concreta. Hoje, em pleno século XXI, e particularmente no campo
i.
do controle jurisdicional de políticas públicas, o que se tem é
na medida em que abstrai o fator de legitimidade, como se ela uma pretensão de intervenção prospectiva - o que se deseja é a
pudesse decorrer exclusivamente do elemento subjetivo: tudo que indução ou produção de resultados futuros.
vem do Judiciário presume-se legítimo. Eis aqui um ponto da maior relevância que impõe-se
É o próprio déficit de representação política do Judiciário
aclarar: uma decisão judicial que se dedica, não a superar uma
que parece estar a recomendar uma particular preocupação com
lesão a direitos, mas sim ao controle de políticas públicas, tem
o elemento legitimador de seu agir, especialmente quando ele se
seus olhos voltados para o futuro, como é próprio a um quadro
revista de um caráter, não de coerção em relação a uma atuação
já definida (auto-vinculação); mas sim de substituição a um poder normativo do agir estatal. Uma decisão judicial, em matéria de
que se revelou omisso ou insuficiente no cumprimento de seus controle de políticas públicas, tem pretensão transformadora
deveres. Ausente o elemento clássico de legitimação - o voto -, de um cenário de inércia ou insuficiência da ação pública, e
outros hão de se apresentar como justificadores do agir do poder, nesse sentido, é de se entender ganhe nova dimensão o requisito
sob pena de voltarmos ao Estado Absoluto, quando a simples constitucional de motivação da decisão judicial - que há de
pertinência subjetiva da decisão já definia a sua legitimidade. necessariamente se conectar com os ditos resultados futuros
A constituição de 1988 não parece autorizar a conclusão da pretendidos alcançar.
dispensa da legitimidade da decisão judicial, quando determina O que se está afirmando é que uma decisão judicial
em seu art. 93, IX, o dever de motivar. Assim, também em relação substitutiva, que determina condutas ao administrador qualificadas
à ordem judicial, é de se cogitar do signo de legitimidade, que pelo juízo como políticas públicas próprias ao enfrentamento de um
se expressa através de suas razões, e respectiva aptidão para determinado tema, não se terá por legítima se não acompanhada
determinar o convencimento e a pacificação social. O tema se da indicação dos resultados pretendidos alcançar - que por sua
reveste de um dado novo, quando a provocação à jurisdição se vez, hão de ser instrumentais à garantia dos direitos fundamentais
dirige, não à superação de um conflito de interesses já posto, com cuja efetividade se tem discutida. Afinal, a intervenção substitutiva
repercussões na esfera individual de direitos; mas sim à retificação só se admite uma vez observada uma dupla condição: 1 º) violação
do agir do poder, que não desenvolve, ou desenvolve mal um
à dimensão objetiva dos direitos fundamentais expressa pelo
determinado mister constitucional através da correspondente
descumprimento por parte da Administração de seu dever de
política pública, inexistente ou deficiente.
No conflito de interesses tradicional, ao qual se dedicou a garantia; e 2º ) direcionamento da atuação jurisdicional à tutela

l
teoria geral do processo no século XIX e início do século XX, a desses mesmos direitos fundamentais em risco. Se o primeiro
prestação da jurisdição se dava tendo em conta uma visão, no requisito se afere ao longo do processamento do feito, com uma

ll mais das vezes, retrospectiva: esse foi o problema, e essa a lesão fase de instrução probatória que investigue as políticas públicas
de direito a ser superada pela jurisdição. Nesse cenário, a decisão existentes e em concretização no tema; o segundo elemento só
1 judicial tinha em conta um fato já consumado, 185 e a prestação .. se pode ter por aferido com a in9icação pelo Judiciário de qual o
J.r- ·resultado que se pretende alcançar através daquelas providências"'·
'" Ressalve-se as decisões judiciais de cunho acautelatório de várias matizes existentes em de intervenção em outra área de especialização funcional que só
�� nosso sistema processual - cuja multiplicação, todavia, só ganhou maior impulso no curso
da década de 90. excepcionalmente a constituição autoriza.
116 / Vanice Regina Lírio do Valle Poüticas públicas, direii:os fundamentais e control� judicial j 117

Também numa visão alargada dos limites da jurisdição em originária; aquilo que decorre do percurso do processo legislativo
matéria de tutela de direitos fundamentais de segunda dimensão, e a realidade da execução desse mesmo orçamento. 187
concretizados por intermédio de políticas públicas, é de se ter em De tudo isso resulta que, inobstante o caráter inovador
conta que a cogitação quanto ao resultado conferirá ao Judiciário do caminho exploratório do manejo jurisdicional do orçamento,
um elemento importante para a aferição do próprio cumprimento tudo está a indicar que os esforços de construção de um caminho
da sentença. Afinal, é possível que a conduta determinada pela de solução para um exercício adequado do controle judicial de
ordem se tenha concretizado sem que o resultado cogitado se políticas públicas estão ainda em fase muito incipiente. Cumpre a
tivesse materializado - e nessa hipótese, o vício está não na exploração de outras alternativas de enfrentamento da quaestio,
conduta da Administração, mas no conteúdo da ordem, que não para o que se propõe antes, um rápido percurso reconstrutivo dos
se revelou apto a gerar o resultado desejado. precedentes já construídos nos Tribunais Superiores.
Significa dizer que, mesmo quando provocada na sua
atuação pelo Judiciário, a função administrativa não pode
abstrair do resultado - que haverá de se ter por identificado na 3.3 Constitucionalização das políticas públicas
ordem, e avaliado no momento próprio, ainda como garantia da e os Tribunais Superiores: panorama dos
legitin1idade da atuação de ambos os braços especializados do precedentes já cunhados
poder. E aqui, mais uma vez desponta o problema dos deficits de
expertise do Judiciário para a intervenção no campo da operação Premido entre a acusação de não desempenho de sua função
concreta da garantia de direitos fundamentais. Todavia, uma vez institucional - a saber, a composição do conflito, especialmente
mais, a dificuldade não se pode revelar paralisante. Afinal, a par aquele que envolva o prestígio aos direitos fundamentais - e a
indisponibilidade de meios e cultura própria do desenvolvimento
do recurso clássico da perícia como meio de municiar-se o juiz
do controle relacionado às políticas públicas; o que se vê mais
do conhecimento técnico que dele não se pode aprioristicamente
recentemente de parte do Judiciário é a opção pela resposta. 188
exigir-se, esse novo Judiciário que cogita de controlar as políticas
Ainda que sem suficiente elaboração teórica, ainda que sem a
públicas deve desenvolver uma atividade dialógica com as instâncias
dimensão integral do problema, ainda sem alcançar o signo de
técnicas que possam contribuir ao aprofundamento do problema
universalidade que seria de se desejar na seara de políticas públicas,
- inclusive interagindo com uma importante instância técnica
o Judiciário tem optado por abraçar o problema, e chamar a si a
formal do poder, que vem sendo negligenciada no que toca a seu
possibilidade de intervir, controlar, e mesmo (ocasionalmente),
potencial de contribuição, a saber, os Tribunais de Contas. 186
Finalmente, não é ocioso destacar que também nessa 187 Importante ter em conta que o cenário que se tinha em conta, quando da elaboração do
investigação sobre as possibilidades da intervenção pela via orçamento, nem sempre se apresenta real por ocasião de sua execução, e isso pode se
do orçamento, o argumento da ausência de expertise de parte verificar por razões absolutamente justificáveis e imprevisíveis. Assim, na história recente
de nosso país, dois eventos que determinaram um forte distanciamento entre orçamento
do Judiciário ainda se apresenta, e com intensidade. Afinal, a - como projeção de receita - e realidade de sua execução, foi a ·campanha nacional de
gestão orçamentária envolve a interseção de aspectos atinentes redução do consumo de energia elétrica no momento de pico da crise energética conhecida
como "apagão", e agora, os efeitos da crise mundial capitaneada pelos EUA. Numa e n'outra
à economia, administração e fiscalidade; a par de lidar ainda hipótese, a retração nas receitas orçamentárias - no apagão, a forte queda no consumo
de energia eléLrica gerou efeitos sensíveis notadamente para os Estados, pela queda na
com o eventual distanciamento entre a proposta orçamentária arrecadação do ICMS - se deu por circunstãncias absolutamente alheias à vontade dos
-.-- •
,.
· r�sp_ectivos·gest�re�,- <:om S<:ns1y�is efeiJ_os n9 _2lano � :execu9ão ,:,rçamentária, . _ .
IS., Nã"Ó se vãi aqui eógitah:iâs "jüs-tifii:âtivàs-·qu'ii"sé j3os:Sa aptêsentar a· esse mesmo fenômeno; Õ. e;
:-,..., ...
taõ O tema já foi visitado em trabalho anterior: VALLE. Tribunais de Contas e a construção de que se pretende é, a partir de suas evidências empfricas, observar como se esteja verificando
uma cidadania afeita à coisa pública. Interesse Público. essa aproximação jurisdicional a um tema ainda não teorizado em sua inteireza.
_,,.,._ . - .. r-·
Políticas públicas, direitos fundamentais e controle judicial 1119
l 118/ Vanice Regina Lírio do Valle

formular políticas públicas. 189 Vale o percurso a alguns precedentes fosse possível ao Judiciário empreender ao controle de políticas
menos noticiados, e que envolvem distintas áreas de atuação do públicas, tal intervenção haveria de se ter por limitada pelo
Poder Público. princípio da proporcionalidade, donde incabível a intervenção
Remontando aos primeiros casos de submissão de pedidos na espécie, priorizando o reparo de um trecho de rodovia, em
de suspensão de tutela antecipada envolvendo controle de detrimento da gestão como um todo da malha viária.191
políticas públicas, cite-se a STA nº 113, julgamento em 22 de Nos autos da STA nº 129/MG, relataria da então Min.
março de 2007, D] de 09.04.2007, na ocasião, proferida pelo Presidente, Ellen Grade, julgado em 20.06.2007, D] de 26.06.2007,
então Vice-Presidente Gilmar Mendes, em que se debatia ordem discutia-se a suspensão de tutela antecipada deferida no bojo de
judicial proferida no bojo de ação civil pública, determinando ação civil pública na qual se determinara ao Instituto de Patrimônio
providências imediatas de recuperação da rodovia RST 101, no Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), a implementação em todo
trecho entre Bacori (Mostardas) e Capão Comprido (Tavares), o território nacional, no prazo de 90 (noventa) dias, de cadastro
para fins de registro de todos negociantes de antigüidades, obras
Rio Grande do Sul, com imposição de multa cominatória, ante as
de arte de qualquer natureza, manuscritos e livros antigos ou
evidências da inviabilidade de tráfego no local. Na ocasião, citando
raros, adotando-se ainda as medidas necessárias à permanente
parecer da PGR, 190 entendeu a Presidência do STF que, inobstante fiscalização e controle. Ainda aqui a apreciação revelou-se mais
deferente às escolhas empreendidas pelo Poder Público, com a
189
Apresenta-se como marco nessa reivindicação da competência para o controle - e
mesmo a formulação - de políticas públicas, a decisão havida no bojo da ADPF n• 45, Rei. afirmação na ocasião de que " ...ofensiva à ordem pública, nela
o Min. Celso de Mello, D], 05.04.2004. Como trecho mais significativo da decisão no que compreendida a ordem administrativa, a decisão judicial que, no
toca ao tema, cite-se: " .. É certo que não se inclui, ordinariamente, no âmbito das funções
institucionais do Poder Judiciário - e nas desta Suprema Corte, em especial - a atribuição caso, impõe à Administração a efetivação de políticas públicas
de formular e de implementar políticas públicas (ANDRADE. Os direitos .fundamentais na que se encontram, a princípio, dentro do seu juízo discricionário
Constituição portuguesa de 1976, p. 207, item n. 05), pois, nesse domfuio, o encargo reside,
primariamente, nos Poderes Legislativo e ·Executivo. Tal incumbência, no entanto, embora
de conveniência e oportunidade, interferindo diretamente na
em bases excepcionais, poderá atribuir-se ao Poder Judiciário, se e quando os órgãos estatais destinação dos limitados recursos afetos à requerente." Com isso,
competentes, por descumprirem os encargos político-jurídicos que sobre eles incidem, viererri
a comprometer, com tal comportamento, a eficácia e a integridade de direitos. individuais
determinou-se a suspensão de decisão questionada, pelo que ela
e/ou coletivos impregnados de estatura constitucional, ainda que derivados de cláusulas importava em interferência no próprio planejamento da atuação
revestidas de conteúdo programático...". Destaque-se que essas considerações - que até hoje
são citadas, inclusive pela própria jurisprudência do STF - foram expendidas no bojo de
doIPHAN.
decisão monocrática, de cunho meramente terminativo, de extinção do processo por perda Mais recentemente, nos autos da SL nº 235, Rel. o agora
de objeto. A linha de raciocfuio que ali se desenvolveu, todavia, viria a ser reiterada em outros
precedentes dos quais se cogitará no presente volume. ·
Min. Presidente, Gilmar Mendes, julgado em 08.07.2008, D] de
190
" •••posto seja admissível a intervenção do Poder Judiciário na órbita do Poder Executivo, 04.08.2008, discutia-se liminar concedida no bojo de ação civil
determinando o empreendimento de prestações positivas, que venham a atender as ânsias
da sociedade, lastreadas em direitos subjetivos, essa interferência deve se circunscrever aos
pública determinando ao Estado de Tocantins que implante
limites gizados pelo princípio da proporcionalidade. 12. Tal princípio, na hipótese em tela, na cidade de Araguaia/TO, no prazo de 12 meses, unidade
se concretiza pela cláusula da reserva do possível, entendimento que tem sido perfilhado,
reiteradamente, por essa Suprema Corte. (. ..) 15. Ajustando tal entendimento à espécie, é
especializada para o cumprimento de medidas sócio-educativas
de concluir-se que, a despeito da razoabilidade, em princípio, de determinação judicial no de internação e semiliberdade aplicadas a adolescentes infratores,
sentido de irnplement.ação de atos que visem à recuperação da malha rodoviária, não parece
possível a extensão demasiadamente ampla da ordem. 16. Segundo informa o requerente a
a fim de propiciar o atendimento do disposto nos artigos 94,
completa restauração da rodovia exigiria o aporte de mais de R$2.000.000,00 (dois milhões 120 §2º e 124 do Estatuto da Criança e do Adolescente. Dentre
de reais), montante que vem sendo aplicado na recuperação e manutenção de outros
trechos. Por este enfoque, o valor demandado ultrapassaria as previsões de despesas da
autarqüiã.··17_ Logo,mostra-se presente a vioiaçio à economia púbfic·a, n·a· mé'âídà em quê
19
í Registre-se já aqui a sênsibilidaéie do sn· para o caráter matricial, de dependência recíproca
imposto ao requerente dispêndio com o qual não está habilitado a arcar, sendo, ademais, entre as ações estatais - e portanto, a percepção de que a ordem judicial em favor de um
fixada multa, que culminará em ônus ainda maior." (extraído da decisão da Presidência trecho de rodovia implicava em priorizar àquela intervenção, sem que se conhecesse os
acima identificada)..." efeitos no plano geral da gestão da malha rodoviária.
120 / Vanice Regina Lfrio do Valle Políticas públicas, direitos fundamentais e controle judicial 1121

outros argumentos, suscitava-se o imperativo de necessidade propriamente ditos, ou seja, unidades federadas, e Municípios
de preservação do mínimo necessário. à garantia da existência - deve aparelhar-se para a observância irrestrita dos ditames
condigna dos adolescentes infratores - argumento que veio a ser constitucionais, não cabendo tergiversar mediante escusas
priorizado na decisão do STF que preservou a liminar deferida, relacionadas com a deficiência de cai.xa... " . 193
que invocou dentre seus fundamentos, a relevância na espécie Na seqüência, em 08.10.2004, o Min. Carlos Velloso,
da dimensão objetivo do direito fundamental à proteção da examinando novamente pretensão à reforma de acórdão que
criança e do adolescente, que determinaria ao Estado um dever determinara a garantia de matrícula de crianças de zero a 5 anos
de criar os pressupostos fáticos necessários ao efetivo exercício em creches e pré-escolas, em decisão monocrática irrecorrida,
desse direito. negou seguimento ao Recurso Extraordinário nº · 402.024. O
Dois segmentos temáticos específicos, todavia, se apresentam conteúdo da decisão unipessoal - embora lance mão de trechos
como os mais férteis à prolação de decisões relacionados à do acórdão recorrido, e da manifestação do Parquet, no qual se
sindicabilidade jurisdicional de políticas públicas, a saber, educação sustenta o dever de atendimento, pelos municípios, à educação
e saúde. Para efeitos de ilustração, utiliza-se, no presente trabalho, infantil, à conta inclusive dos termos introduzidos ao art. 211, §2º
precedentes na matéria construídos junto aos Tribunais Superiores, CF com a redação que lhe foi conferida pela EC nº 14/96 - não
destacando todavia sejam elas simples ilustrações de uma vasta e
entra em maiores aprofundamentos no tema da controlabilidade
diversificada jurisprudência em produção permanente, em todo o dos programas de ação na área de educação, optando uma vez
país, nas diversas estruturas do Judiciário.
mais pelo caminho formal da afirmação da inviabilidade do
recurso constitucional posto que envolveria diretamente, violação
3.3.1 Precedentes, no STF, de controle jurisdicional a normas infra-constitucionais (Lei nº 9.424, de 24 de dezembro de
de políticas publicas de educação 1996 e a Lei nº 9.394 de 20.12.96).
Ainda no tema da educação infantil, mas agora já firmando
O tema do controle jurisdicional das políticas públicas de
educação - envolvendo, mais especificamente, ao dever de oferta expressamente a possibilidade de empreender-se ao controle
de creche e pré-escola - apresenta seus primeiros ecos na Corte jurisdicional de políticas públicas - embora não seja essa
Suprema, no idos de 2004, através dos Recursos Extraordinários a tarefa natural do Judiciário - consulte-se, no âmbito do
nºs. 401.673 e 411.518, ambos objeto de decisão monocrática do STF, os Agravos Regimentais em Recurso Extraordinário nQs
Min. Marco Aure1io, que lhes negava seguimento, 192 ao argumento 410.715 e 436.996, ambos de relatoria do Min. Celso de Mello,
de que a matéria fora adequadamente equacionada no juízo 2� Turma, D] de 22.11.2005, nos quais Municípios pretendiam a
recorrido, e de que a questão principal em torno da qual gravitava reforma de decisão que lhe determinara deveres relacionados à
a demanda era de natureza infra-constitucional. implementação de políticas públicas de atendimento de crianças
Inobstante a natureza meramente terminativa da decisão,
já se afirmava, à ocasião: "... conforme preceitua o artigo 208, 193 Registrem-seas dificuldades inerentes a uma prática - que não é nova, e nem tampouco
exclusiva do STF - de inclusão em decisões meramente terminativas, de considerações
inciso IV, da Carta Federal, consubstancia dever do Estado a atinentes ao mérito da demanda, e à compreensão do seu real significado; ou do seu uso
educação, garantindo o atendimento em creche e pré-escola às simbólico ou ainda, político-estratégico. ln casu, inobstante o não conhecimento do meio
de impugnação, há um reforço na afirmação dos deveres do Estado no tema da provisão de
crianças de zero a seis anos de idade. O Estado - União, Estados educação através de creches e pré-escolas, sinalizando ainda um repúdio às considerações
', ;-� I � -.·-;'.r'"'
atinentes a limitações de recursos, num exame que, decerto, pelo não-conhecimento do
··recurso, não·penriitiu no rigor, uma ana1ise <la pertinência ou rião de .- Uill'argumento que
..

192 A
mbas as monocráticas foram objeto do correspondente recurso de A gravo Regimental, no se apresenta, normalmente, como matéria tipicamente de fato. Assim, formula-se um juízo
qual se confirmou a decisão originária, D], 17.08.2007. parcialmente de mérito, em relação a um tema do qual formalmente, não se conheceu ...
··-··""l'-"'<"Ç0,�·"'"''·- ,,- , . .

1221 Van.ice Regina lfüo do Valle


Políticas públicas, dlreicos fundamentais e controle judicial
\ �23

creche e pré-e scola. 194 As hipóteses em exame envolviam - 1 96 decisão de mérito que enu ncia
em provimento, cunhando assim uma
c omo as ante ce de ntes - a concretização do direito à provisão expressamente a sua
competência - ainda que em hipóteses
o da implementação das
po r parte do po de r público, de seu de ver jurídico de oferta de excepcionais - para o co ntrole especrric
ver pelo Estado. Tem-se
,,ri políticas públicas determinadas desenvol
a tendimento e m creche e em pré-es cola, fundado no preceito
contido no art. 208, N c/c 211, §2º, ambos da CF. Na ocasião, em dman197 qualifica como
aqui típica manifestação daquilo que Frie
aval à tese da controlabilidade dessa política pública de oferta de
exercício de política na
jurisdição constitucional, como estratégia
creche e pré-escola, utilizou-se a Co rte ainda do argumento do intra-Judiciário, e ainda
decisória que tem em conta o pote ncial
l caráter juridi came nte vinculante originário do mandato expresso que se está construindo,
i externo a esse mesmo pode r, da decisão
nos mencionados preceitos constitucionais .195 de uma determinada
l

voltada e m princípio ao empoder amento
É sempre curioso observar a estratégia de pronúncia da
cláusula constitucional.
Corte. Sublinhe-se que a hipótese de fato co ntemplada nesses dois ento de sses
� Extraia-se, como conseqüência do estabelecim
i últimos Recursos Extraordinários, a rigor, não contém significativa se insere no campo
diferença em relação àquelas identificadas nos precedentes precedentes, a afirmação, pelo STF, de que
ão jurisdicional,
anteriores em que já se negara conhecimento aos Recu rsos constitucionalmente admitido do exercício da funç
l icas . Disso re sultou
Extraordinários oferecidos, à vista do argumento processual o controle da implementação de políticas púb
a incorpor ação/fortale cime
nto, por sua vez, no âmbito do S1J,
da interposição de norma infraconstitucional a disciplinar a etência. Afinal, da
matéria. Agora, sem maior clarificação dos motivos que tenham do mesmo discurso de afirmação de comp
do dever do Est ado
dete rminado a mudança de compreensão de um mesmo contexto premissa antes estabe lecida de que o tema
também aplicação
fático-jurídico, a Corte conhece do recurso, p ara lhe negar de prover à cre che e pré-escola envolve ria
ulta o cabimento de
de matéria infra- constitucional (ECA), res
ao STJ restaria então
Elucidativo em relação à linha de compreensão da Corte nos mencionados precedentes, o
recurso especial para debate da matéria; e
194

seguinte trecho extraído da ementa do acórdão referido: "Embora resida, primariamente, controle
o do STF, a e mpreender ao
nos Poderes Legislativo e Executivo, a prerrogativa de formular e executar políticas públicas autorizado, pela manife staçã
no e xercício de sua
de implementação de políticas públicas,
revela-se possível, no entanto, ao Poder Judiciário, determinar, ainda que em bases

'
excepcionais, especialmente nas hipóteses de políticas públicas definidas pela própria
Constituição, sejam estas implementadas pelos órgãos estatais inadimplentes, cuja omissão competência de apreciação recursal.
- por importar em descumprimento dos encargos político-jurídicos que sobre eles incidem es em que , n a linha
em caráter mandatório- mostra-se apta a comprometer a eficácia e a integridade de direitos Nessa esteira, avolumam-se as de cisõ º
575.280/SP, Relator o
sociais e culturais impregnados de estatura constit,ucional."
195 "A educação infantil, por qualificar-se como direito fundamental de toda criança, não se
do leading case co nstruído no REsp n
. Luiz Fux, 1� Turma,
expõe, em seu processo de concretização, a avaliações meramente discricionárias da Min. José Delgado, Rel. p/ acórdão o Min
mesmo àqueles que
D] de 25.10.2004 - este, a rigor, anterior
A dministração Pública, nem se subordina a razões de puro pragmatismo governamental. Os 198
Municípios - que atuarão, prioritariamente, no ensino fundamental e na educação infantil
(CF, art. 211, §22) - não poderão demitir-se do mandato constitucional, juridicamente envolyeram análi se de méri
to da matéria pelo STF - afirma-se
vinculante, que lhes foi outorgado pelo art. 208, IV, da Lei Fundamental da República, e e jurisdicional da impleme
ntação
que representa fator de limitação da discricionarie dade político-administrativa dos entes a admissibilidade do control
municipais, cujas opções, tratando-se do atendimento das crianças em creche (CF, art. 208,
IV), não podem ser exercidas de modo a comprometer, com apoio em juízo de simples
conveniência ou de mera oporturúdade, a eficácia desse direito básico de fudole social."
196 Também aqui, como nos precedentes anteriores em que se negara conhecimento aos meios
. Texas Law Review.
de impugnação interpostos, poderia a Corte ter por inadmissível o Recurso Extraordinário ao _ .19' FRl]oDíVlAN. Toe politics of judicial review 2 ma,
ação apont a-se·o s REsp n 736.524/SP,'Re1ator·o Min. Luiz..Fu."'<, l'�Tur
argumento de que a matéria envolvia dir�.to,irlfra-constitÚcional ......: e· portant'c{ rtielhÔÍ-ta!Jida' _,-· _ � A título de ilustr adõ, }>rim.eira Seção,
D],
19

69/SP , Relatô r o 'Ív!in Jõsé bélg


D], 03.04.2006; REsp n 485.9
2
teria em sede de Recurso Especial. Não foi essa, todavia, ·a Õpç.[Õ do STF, que conhecéu do·· Rel. pi Acórd ão Ministro Luiz
o Min. José Delgado,
meio de impugnação para lhe negar provimento, reproduzindo em suas razões --: agora 11.09.2006; REsp n• 790.175/SP, Relator 1' Turma, D],
65/MS, Relator o Min. Luiz Fux,
sim, já expressando decisão de mérito - a mesma matriz de raciocfuio antes antecipada na Fux, 1• Turma, D], 12.02.2007; REsp n• 753.5
citada ADPF n' 45. 28.05.2007.
i.
ti

1241 Vanice Regina Lírio do Valle Poh1icas públicas, direitos funàamentais e controle judicial !125

daquela política pública que se tinha já enunciada no art. 208, IV públicas2º2 - o que tem provocado se desenvolva a reflexão
da CF. 199 pela instância julgadora das questões da educação a partir dessa
Mais recentemente - uma vez mais, no âmbito da mesma matriz de raciocínio. A visão do conjunto das ações
competência do STF - é oportuno indicar as decisões havidas necessárias, e da interface entre garantia de educação na pré­
nas SL's nº 241/RJ, julgamento em 10.10.2008, D] de 16.10.2008; escola (por exemplo) e aqueles segmentos que a ela sucedem,
e nº 263, julgamento em 14.10.2008, D] de 21.10.2008, ambas é um vetor presente com mais freqüência nos provimentos
de Rel. do Min. Presidente Gilmar Mendes, em que se discutiam jurisdicionais envolvendo a esse particular espectro do agir
estatal, na medida em que, embora seja possível determinar-se
ordens judiciais emanadas, respectivamente, dos Juizados da
providência no campo da educação, que tenham em conta um
Famüia, da Infância, da Juventude e do Idoso das Comarcas de
único destinatário, mesmo essas medidas dificilmente se darão
Queimados e São João de Meriti, voltadas ao provimento de dissociadas do ambiente escolar.
professores na rede estadual de ensino naquelas localidades. Na
ocasião, a partir dos termos do art. 227 da CF - que in1põe à
famüia, à sociedade e ao Estado deveres de garantia à criança
3.3.2 Precedentes, no STF, de controle jurisdicional
e ao adolescente dos direitos à vida, à saúde, à alimentação, de políticas públicas de saúde
dentre outros, com absoluta prioridade- extraiu-se o signo de No campo . das ações de saúde, duas hipóteses distintas se
preferência constitucional em favor das políticas públicas nessa apresentam ao conhecimento dos Tribunais Superiores. A primeira
área, circunstância que estaria a legitimar a interferência corretiva delas é aquela em que, pela natureza da demanda ou pelo conteúdo
de parte do Judiciário. 200 do provimento que se discute, o tema do direito à saúde se vê
Importante ainda destacar que, no que toca ao direito à apresentado na sua matriz coletiva, a saber, a exigir uma atuação
de cunho universal e equânime em favor de um determinado
educação, até mesmo pela natureza da atividade envolvida, 201
segmento identificado ou identificável de pessoas; ou a ainda, a
tem sido mais freqüente a provocação do Judiciário em sede retificação das ações públicas relacionadas à superação de uma
de demandas de cunho coletivo - normalmente, ações civis deficiência nas suas estruturas de atendimento a um determinado
tipo de serviço. A segunda hipótese, distinta, é aquela em que a
199
Observe-se o manejo equfvoco do conceito de implementação de política pública, nos termos matéria dos limites e possibilidades de controle jurisdicional da
do que se visitou no Capítulo 1 acima. Afinal, o que concretamente decorre da decisão
judicial é: 1) a (re)afirmação da existência de um dever de agir do Estado, expressão da
garantia constitucional de um direito à saúde se apresenta vazada
dimensão objetiva desse direito fundamental; 2) a (re)afirmação de que essas linhas de numa demanda individual, em que a partir da afirmação da
ação foram objeto de signo de prioridade constitucional; e 3) a garantia em concreto
do direito à vaga/acesso à creche ou pré-escola, àqueles titulares de direito individual
inexistência ou insuficiência das políticas públicas de saúde se
indisponível, representados pelo Ministério Público por intermédio de ação civil
pública (consulte-se a nota de rodapé 193 acima). Ora, esse conjunto de resultados 202
Importante ter em conta que a posição majoritária ainda hoje, na jurisprudência do S1J,
que defluem diretamente da decisão judicial, absolutamente não se identificam, nem reconhece, em favor do Ministério Público, legitimidade para, por intermédio de ação civil
com formulação, e menos ainda com implementação de políticas ·públicas; aquilo de pública - cujo perfil legislativo se direciona, em princípio, à tutela de direito coletivo - obter
que aqui se está cogitando é, de um lado, a explicitação do conteúdo da dim�nsão prestação jurisdicional em favor de um único cidadão, em se cuidando de direito indisponível.
objetiya do direito fundamental à creche e pré-escola em relação ao poder público, e Diz-se majoritária a posição, porque ocasionalmente ainda se encontram vozes de oposição
da proteção da projeção na esfera individual de direitos do menor representado pelo (REsp n2 672.871/RS, Relator o Min. João Otávio de Noronha, 2' Turma, D], l 2.02.2006; e mais
Ministério Público, dessa mesma garantia constitucional. recentemente, REsp n• 620.622/RS, Relatora a Min. Elia.,a Calmon, 2' Turma, D], 27.09.2007).
200 " •••
O Poder Judiciário não está a criar políticas públicas, nem usurpa a iniciativa do Poder Dessa circunstãncia decorre que, nem todo precedente cunhado em sede de ação civil pública,
Executiy.o.," (extr<!,ído-do,yQto doJ{d., oJvJin. :Presidente Gilmar-Mendes). ,-. · :) ..rigor, sé· possa afirmar tenha tido:. em conta originalmente .um direito coletivo. De toda -
·201. H
á uma compreensão que encontra apoio até mesmo·no·senso·comwn, ·de que o processo de º fonna � -e isso se verifica· até mesmo pelo teor das ··ementa-s - que ·a símples provocaçãÕ ",·-· "•"-.
aprendizagem se desenvolve num contexto que extrapola o plano do individual, e envolve a por intermédio de uma via de ação que contém a carga de significado de proteção ao direito
escola como um todo, a turma, o coletivo que proporciona a troca de experiências. coletivo já deterrrúnada um olhar diferenciado sobre o problema.
r,--,. ;
'

f: .
'

' 126 / Vanice Regina Lúio do Valle


.
Políticas públicas, direitos fundamentais e controle judicial 1127

' pretende uma prestação individual, em nome do argumento da


:presidência, D] de 05.03.2007, que tinha por objeto o pedido
.

proteção à vida ou à dignidade da pessoa humana.


· articulado pelo Estado de Alagoas, de sobrestamento de provimento
i :'proferido em sede de ação civil pública, que determinava àquele
ri 3.3.2.1 Pronúncias envolvendo o direito 'e nte federado o fornecimento de medicamentos necessários
/para o tratamento de pacientes renais crônicos em hemodia1ise e
fundamental à saúde na sua matriz
j,
·;_pacientes transplantados, que na distribuição empreendida pela
coletiva de atendimento ,/ regulamentação ao SUS se apresentavam como de responsabilidade
No âmbito do STF, o tema das políticas públicas de saúde ( do Município de Maceió. Presente o problema na matriz do
entendidas na sua matriz coletiva se pôs - embora não como a /· coletivo - o objeto da ação civil pública envolvia a transferência
questão principal - na já citada ADPF nº 45, 203 Rel. o Min. Celso ao Estado, tout court, de responsabilidades inerentes à oferta dos
'' de Mello, decisão monocrática em Djde 04.05.2004. O precedente . aludidos medicamentos a qualquer paciente que deles precisasse
é curioso - já se pôde assinalar - posto que embora a decisão - a decisão enfatiza e imprescindibilidade da introdução, nas
!
i

1
i proferida envolvesse, em verdade, o reconhecimento da perda de cogitações de controle jurisdicional de políticas públicas, as
! objeto da demanda; isso não impediu seu então relator de afirmar, relações de inter-dependência entre esses mesmos programas de
de um lado, a viabilidade do instrumento jurisdicional (ADPF) para ação, 204 e os riscos de uma intervenção jurisdicional que não tenha
fins de controle de políticas públicas, e de outro lado, "esta Corte, em conta essas implicações. 205
que não pode demitir-se do gravíssimo encargo de tomar efetivos
Entendo que a norma do art. 196 da Constiruição da República, que assegura o direito
os direitos econômicos, sociais e culturais - que se identificam, ,c>-1 ' ...

à saúde, refere-se, em princípio, à efetivação de políticas públicas que alcancem a


! enquanto direitos de segunda geração, com as liberdades positivas, população como um todo, assegurando-lhe acesso universal e igualitário, e não a situações
individualizadas. A responsabilidade do Estado em fornecer os recursos necessários à
reais ou concretas (RT], n. 164, p. 158-161, Rel. Min. Celso de reabilitação da saúde de seus cidadãos não pode vir a inviabilizar o sistema público de
Mello) -, sob pena de o Poder Público, por violação positiva saúde. No presente caso, ao se conceder os efeitos da antecipação da rucela para determinar
que o Estado forneça os medicamentos relacionados'(...) e outros medicamentos necessários
ou negativa da constituição, comprometer, de modo inaceitável, a para o tratamento (...)' (fl. 26) dos associados, está-se diminuindo a possibilidade de serem

1
integridade da própria ordem constitucional". 205
oferecidos serviços de saúde básicos ao restante da coletividade ..."
Registre-se que, a rigor, embora essa decisão tenha se revestido de maior visibilidade -
Mais do que isso, inobstante se cuide de precedente contendo pela própria temática que envolve - fato é que essa mesma consideração, das relações
de matricialidade entre as políticas públicas, e dos efeitos que a recondução de recursos
decisão meramente terminativa, ele tem sido reiterado e citado (fmanceiros ou não) de uma ação para outra possam gerar no quadro geral de cumprimento
incessantemente - particularmente, em decisão da Presidência pelo Estado de seus deveres, já se tinha posto anteriormente, em outra decisão da Presidência
do STI, proferido nos autos da Suspensão de Liminar n' 93, D], 15.05.2006. Na ocasião, o que
envolvendo pedidos de suspensão de liminar ou suspensão de se discutia era decisão recorrida que determinava a transferência de excedente carcerário da
tutela antecipada. Unidade Prisional Ricardo Brandão, em Mato Grosso do Sul, bem como a ordem que, de um
lado, detemúnava o não encaminhamento de novos detentos àquele mesmo estabelecimento,
Ainda vale referir à decisão havida em sede de suspensão e de outro, exigia se comunicasse às delegacias e juízos de execuções penais, outro local
de execução de tutela antecipada - STA nº 91 -, originária da para onde devessem eles ser encaminhados. Vale a transcrição de importante trecho da
mencionada decisão: "Sobre a hipótese ora em ana1ise, vale ainda transcrever parte do parecer
da PGR(fls. 264/265): '(...) cabe ao Poder Judiciário, ao reconhecer lesões a direitos subjetivos,
20
3
A situação fática que envolvia a ADPF e seu tempo foi rumorosa. Em apertada síntese, por determinar ao poder competente para tanto, que as faça cessar. 9. Contudo, não se pode
ocasião do envio da proposta de LDO, o Governo Federal fez.incluir.cláusula legislativa cujo olvidar que as políticas públicas, notadamente aquelas relacionadas ao incremento de serviços
resultado final seria a redução dos valores de receita pública que funcionam como base de públicos ou satisfação de direitos sociais, demandam gastos vultosos e pesados, revelando-se
ca1culo para a definição dos recursos orçamentários vinculados à função saúde, na forma do imprescindível minucioso estudo acerca das implicações de um acréscimo em dado setor,
:=... . :·. art. 198, §2° da CF. O tema foi objeto de sérias reações políticas e da sociedade - dentre em detrimento de outro.(...) 11. Ante as peculiaridades do quadro acima exposto, conclui-se
elas, o ajuiz_amento da citada-.ADPF. A pressão- política forde tal ordem'que· b· Présidence---· que, posto seja admissível a intervenção do Poder Judiciário na órbita do Poder Executivo,
f'

da República culminou por encaminhar nova proposta legislãtiva que súp.erava a reduçãó" determinando ó empreendimento de prestações po.si!:ivas,_ÇJ_ue y�nham a,. ,:;ttender as ânsias
tentada empreender, reconduzindo o volume de recursos vinculados à função saúde a seus da sociedade, lastreadas em direitos subjetivos, essa interferência deve ·se circunso·ever"aos
n,veis anteriormente praticados. Com a remessa da proposta legislativa, deu-se a perda de limites gizados pelo princípio da proporcionalidade. 12. Tal princípio, na hipótese em tela,
objeto da demanda já ajuizada. se concretiza pela cláusula da reserva do possível, entendimento que tem sido perfilhado,
reiteradamente, por essa Suprema Corte.(...)'"
'.-i_ · ·. f·!;
.
?' >.
'}::,;) 12
.8 J Vanice Regin:i Lírio do Valle Poüticas públicas, direiros fundamentais e cone.role judicial 1129

r1 Na seqüência temporal, é digna de nota ainda a dec


havida nos autos da STAnº 185, Rel. aMin. Presidente, Ellen
julgada em 10.12.2007, D] de 14.12.2007, que envolvia prete
isão
Gracie
nsão
1
. particulares que disponham de tais unidades, assim como o início
de ações tendentes à instalação e funcionamento de 1O leitos
de UTis adultas, 10 leitos de UTis neonatais e 10 leitos de UTis
1 da União, de reforma do acórdão havido no TRF 4' Região,
em se determinava à União, pela via da
antecipação de tutela,
que . pediátricas, no prazo máximo de 90 dias. Importante s aspectos se
tiveram por estabelecidos nesse particular pronunciamento.
que fossem concretizadas, no prazo de 30 dias, todas as medi
f das Primeira afirmação relevante que se extrai dessa particular
que possibilitassem aos transexuais a realização, pelo º
. decisão- SL n 228 - é a de que " ...é possível identificar na
Sistema
Único de Saúde (SUS), da cirurgia de "transgenitalização" redação do artigo constitucional [art. 196 CF] tanto um direito
. Nessa
oportunidade , a par de destacar uma vez mais a impo individual quanto u m direito coletivo à saúde... ". Nesse particular,
rtância da
consideração dos efeitos inter-relacionais de uma ordem abre-se caminho para uma nova reflexão em relação ao caráter
judicial
que tenha por objeto o remanejamento de verbas origin coletivo de um dos direitos fundamentais sociais- a saber, à
almente
de stinadas a outras polií:icas públicas de saúde, voltou a saúde - em aval à compreensão que se ve m desenvolvendo
Presidente
do STF a assinalar o risco de "problemas de alocação na presente obra, e em linha de contraste com prestigiosa
dos recur sos
públicos indispensáve is ao financiamento do Sistema doutrina pátria que só reconhece o caráter coletivo aos direitos
Único de
Saúde em âmbito nacional". fundamentais de terceira dimensào. 206 Destaque-se que, a rigor,
Mas não se limitaram aos efeitos financeiros e ao essa linha de compreensão guarda harmonia com referências já
caráter
ne cessariamente matricial da compreensão das políticas expressas nas SS nºs 3.201 e 3.274, pela anterior Presidência do
públicas
já defe ndidos nessa obra, as considerações da Min. Ell STF -Min. Ellen Gracíe - que associava igualmente o conteúdo
e n Gracie
no tratamento da questão. Em verdade, aqui - uma vez do mencionado art. 196 CF a um dever objetivo do Estado de
mais -
destaca ela a importância de que, em matéria de direit desenvolvimento de uma política pública de saúde , dever esse
o à saúde,
se proceda à análise das particularidades do caso concr suscetível de controle judicial.207
eto, único
critério possível de decisão do delicado conflito entre Segunda afirmação de grande relevância, cunhada ainda na
dever de
promoção à saúde e proteção à vida de um lado, e plane SL nº 228/CE, é a de que "...não há um direito absoluto a todo e
jamento
das açõe s e reserva do possível de outro. Tal conto qualquer procedimento necessário para a proteção, promoção e
rno fático,
destaca a Pre sidente, tem se re velado elemento impre recuperação da saúde, independentemente da existência de uma
scindível à
decisão, razão pela qual vem negando o STF as prete política pública que o concretize. Há um direito público subjetivo a
nsões de
caráter genérico, envolvendo obrigações de cunho presta políticas públicas que promovam, protejam e recuperem a saúde".
cional:
" ...as decisões proferidas em pedido de suspensão, nesse Essa afirmação, se de um lado recorta o alcance do direito social à
s casos,
restringem-se ao caso especúico analisado, não se saúde --:- que é de conter a abrangência que lhe seja deferida pela
estendendo
os seus efeitos e as suas razões a outros casos, por respectiva política pública, cuja cunhagem se constitui dever do
se tratar de
medida tópica, pontual...". Estado no campo da dimensão objetiva, e direito subjetivo público
Merece ainda referência a decisão proferida nos do cidadão-, de outro lado reforça o dever constitucional de
autos
da SL n º 228, julgamento em.14.10.2008, D] de 21.10 enunciação de políticas públicas, já apontado nessa obra como
.2008, no
qual se discutia liminar proferida em face da União existente, e ainda a auto-vinculação que dele decorre.
, Estado do
,·,:u . Ceará .e _ lv'lUflicípio._.,_qe, S9�r;;Ll!:,"dete.rminanclo a :t
ransferên:tia' -de
todos os. pacientes necessitadós . de atendimen .. zll6 SNU,ET, ?l #ficda,itdle§tltrêitos7t1i/dãinêntá--is,'p.'55c5'6: . _,_' "'· ':.,' ' ,, ·.· · · ·· · .;., -'"'' · .-,. ·
.to em Uilid.ade s = Consulte-se a conclusão no tema, expendida-peià ·Min: Ellen Gracie na aiiã!ise 'igualmente... -, ·· • · ·· ·, :.. ·
de Tratamento Intensivo (UTis) para hospitais
públicos ou da STA n• 91, acima citada - nora de rodapé 203.
r -:, 1 ·-,ce ��·�o'º v,�
Políticas públicas, direltos fundamentais e concrole judicial j 131

1 Nos últimos minutos do ano de 2008, consign


e-se a decisão
Í havida na STA n2 267/PR, Rel. o Min. Gilmar Men Evolução dos pedidos ajuizados de SL, SS
des, julgamento e STA no âmbito da Presidência do STF21 º
/ em 22.12.2008, D] de 03.02.3009, que envolvia
a cntica à ordem
judicial exarada nos autos de ação civil pública
oferecida em face ss
J

/: da União, voltada à contratação emergencial ANO SL SIA IOTAL


de 75 (setenta e 2009 8 33 10 51
1
cinco) profissionais de saúde e posterior convoc
ação de concurso
público para provimento de vagas destinad 2008 63 242 106 411
as à Unidade de
Transplante de Medula Óssea na UFPR. Na 2007 70 439 89 598
ocasião, determinou-se
de plano a suspensão da multa corninatória
originalmente fixada 2006 49 199 40 288
- multa diária de R$10.000,00 (dez mil reai
s) - ao argumento 2005 41 248 35 324
de seu potencial de geração de grave lesã
o à ordem e economia
públicas - restando pendente de decisão TOTAL 231 1161 280 1672
o provimento principal,
atinente às contratações, que foi objeto de
pedido de informações
da Presidência, voltado ao Reitor da O fato novo é a convocação - já mencionada nessa obra
UFPR e ao Diretor-Geral
do Hospital de Clínicas dessa mesma originária da própria Presidência, em despacho datado de 5
universidade, onde se
tem o serviço de transplante reputado de março de 2009, 211 de audiência pública a se realizar nos dias
insuficiência no seu
atendimento. 208 27 e 28 de abril, destinada à oitiva do " ... depoimento de pessoas
Já no ano de 2009, tem-se relevante fato com experiência e autoridade em matéria de Sistema Único de
novo relacionado
à orientação técnica das decisões envolve Saúde, objetivando esclarecer as questões técnicas, científicas,
ndo a tutela do direito
fundamental à saúde no âmbito do STF, administrativas, políticas, econômicas e jurídicas relativas às
provocado decerto, pelo
número ainda consistente, de provocaçõ ações de prestação de saúde... " , 212 com extensão de convites à
es à Presidência da Corte
envolvendo o tema, como se verifica dos participação, não só aos Ministros da Corte, mas também a várias
dados abaixo: 209
autoridades representativas do Governo Federal e ainda da
sociedade civil.
Não é ociosa, igualmente, a referência aos termos do Edital
PSV n2 4, datado de 06.03.2009, nos termos da Resolução n2
388- STF, · que veicula proposta originária da Defensoria Pública
21 °Fonte: subpágina "Estatísticas" do sítio do STI. Disponível em: <http://www.stf.jus.br/
portal/cms/verTexto.asp?servico = estatistica&pagina= processoCompetenciaPresidente>.
208 Interessante a referência no conteúdo da decisão já proferida, ao depoimento do próprio Acesso em: 22 mar. 2009.
Diretor da unidade de saúde envolvida, de que as carências são diversificadas, e de que a
211
Ato convocatório expedido pela Presidência do Supremo Tribunal Federal. Disponível em:
escolha apontada pela exordial de favorecer-se ao serviço de transplante de medula óssea <http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/processoAudienciaPublicaSaude/ anexo/Despacho_
possivelmente não se revela a providência mais adequada; e mais ainda, não se coadunaria Convocatorio.pdf>. Acesso em: 22 mar. 2009.
212 O
com a escala de prioridades que as instâncias técnicas do mesmo hospital, chamadas a se instrumento convocatório explicita ainda que a referida audiência envolverá questões
pronunciar, desenhariam. como: 1) responsabilidade dos entes da federação em matéria de direito à saúde; 2)
209 Registre-se que a circunstância de se cuidar de SL, SS ou STA dirigida à Presidência do STF obrigação do Estado de fornecer prestações de saúde prescrita por médico não pertencente
' -::-:.:,, aos quadros do SUS sem que o pedido tenha sido feito previamente à Administração Pública;
não -significa, n_ecessa.ri.,,,mente, se �Cl,li_ç!e ds!. demanda. envolvendo diréitó· à saúde; rtâ"suã.
dimensão i:ncÍi;,.ic!uaf ou col�tiva. Todavia, como a artitulaçâó dessas.. providências,. com · '3; obngáçãÕ do Estado d.e. custear prestações <le saúde não abra!lgidas pelas pol[tici',s.
freqüência envolve os termos do art. 196 CF, o dado estatístico é relevante à percepção de · públicas-existentes; 4) obrigação do Estado de disponibilizar medicamentos ou tratamentos
� experimentais não registrados na ANVISA ou não aconselhados pelos Protocolos Clínicos do
� que a matéria segue sendo submetida, em volume expressivo, à consideração da Presidência
da Corte. SUS; 5) obrigação do Estado de fornecer medicamento não licitado e não previsto nas listas
.\
N do SUS; 6) fraudes ao Sistema Único de Saúde.

"'H 33
11
is

11:
Poüticas públicas, direitos fundamentais e controle judicial
l{ 132 J Vanice Regina lírio do Valle
fi

p ode entender exp endidas a título


de
' Ger al da União que tornem expressas: 1 2) a "respons abilidade considerações - que só se ont r l
o de fundo, a s aber, c
o e de
solidária dos Entes Federativos no que concerne a o fornecimento obter dieta - a cerca da questã 215
públicas.
de m edicamento e tratame nto médico ao carente , comprovada constitucionalidade de políticas
bate d e direito individu al
a necessidade do fármaco ou da intervenção médica, restando N um a zona de fronteira entre o de
a s públic as n a m atriz
coletiv a,216 assinal e­
afastada, por o utro lado, a alegação d e ilegitimidade passiva e o controle de polític 2 /SC, Relator o Min. Luiz Fux, 1�
corriq ueira por parte d as P essoas Jurídicas de Direito Público" se ainda o Resp n 577.836 mina ra a
a d e d ecisão que deter
i Turma, DJ28.02.2005, que cuidav
2
e 2 ) " a possibilid ad e de bloqu ei o d e v alores públicos para o
juiza d a contra o Esta d e Santa
do
fornecimento de medicamento e tratamento médico ao ca rente, extinção de ação civil pública a
do direito à saúde d e crianças
comprovad a a necessidade d o fárm aco ou da intervenção médica, Catarina, t endo em vista a violação médico­
a vist a o a tendi me nto
r esta ndo afastad a , por outro lado , a alegação de que tal bloqueio e adolescentes catarinenses; haj p Hos pital
ar e d eficient e elo
f ere o artigo 100, caput e §2 2 d a constituição d e 1988" .213 cirúrgico prestado de forma irreg ul star ia a
nos termos da inicial, e
Se no STF a discussão do tema d as polític as pú blic as no Infantil J oana d e Gusmão, que
ximadamente 6.600 p acientes
segmento de s aúde se vem sedimentando, com a incorpor ação deixar se m a assistênci a devida apro de
e m eio, sob a ale g a ção
da dim e nsão cole tiv a - s ej a pe lo enunciado d as decisõe s m ais infantis, muitos deles há quase ano nt a çã
a pe lo se rviço . Exti a a o
rec entes, seja pela abertura a uma maior p articipação da sociedade não se conseguir vencer a procur
ilidade j urídica do pedido - o
em tema que lhe diz de perto, e que em m uito se benefici ará dos na justiça estadu al, por impossib
ério Público na civil pública
aportes técnicos que se lhe p ossam oferecer; duerente não é de se provimento pretendido pelo Minist endo
a is ge nérico, e envolv
m ostrar o quadro no âmbito d o S1J. correspondente se reputou por dem stitucional
217
s juri s ci n is que c a receriam de respaldo con
Reapresentando m ais recentemente o debate do tem a do prática di o a
, p ara fins de , reconhecendo­
controle d e políticas públicas de saúde no S uperior Tribunal de - o recurso especial restou provido os
e nto jurisdicional nos term
Justiça a p artir de uma abord agem como direito coletivo, cite­ se a possibilidade em tese, de provim do f it n
e o process ame nto
e o o
se o Resp nº 811.608/RS, Rel ator o Min. Luiz Fux, 1� T urma, em que fora requerido, assegurar-s
D] 04.06.2007, q ue e nvolvia ação civil pública destinada à juízo estadual originário.

l
implementação do Modelo de Assistência à Saúde do Índio e à
insta la ção material dos serviços d e saúde à população indígena a - cujo conteú do
precedente - com eme nta extens

1
situa d a em área no Rio Grande do Sul. A demanda coletiva 215
R emete-se o leitor aos termos do ri s im l nç : PROC ESSUAL CML.
d e seu sumá s a ado
se pode aferir, todavia, a partir
o a
MINI STÉR IO PÚBLICO
fora provida pelo Tribunal de origem, interpondo a FUNASA, ADMINISTRATIVO. AÇÃO CIVIL
PÚBLICA PROPOSTA PELO
O DE POLÍ TICA S PÚBL ICAS CONCRETAS. DIREITO À SAúDE
conden ada à implanta ção d a política pública discutida, o Rec urso FEDERAL. lMPLElv!ENTAÇÃ IAL. RESERVA
ÁCIA IMEDIATA. MÍNIMO EXISTENC
(ARTS. 6' E 196 DA CF/88). EFIC A CON TROV ÉRSI A À LUZ
Especial, conhecido em parte tão-somente p ara afastamento d a DO POSSÍVEL. ACÓRDÃO RECO
RRIDO QUE DECI DIU
NDO SUPREMO
CIONAL. COM PETÊ NCIA DO COLE
ale g a ção de n ulidade d o acórdão. No mérito, consignou o S1J DE INTERPRETAÇÃO CONSTITU I e II, DO CPC. NÃO CONFIGURADA
(REsp
VIOL AÇÃO DO ART. 535,
TRIBUNAL FEDERAL. , julgado em 15.05.2007, D], p.
que o tema estava a envolver matéria d e fundo constitucional, n• 811.608/RS, Rei. Ministr o LUIZ FUX, PR!J'l !EIRA 11JRMA
refugindo portanto à incidênci a daquele mei o de impugnação. 214 314, 04.06.2007).
dentemente, se estives
se p ara além dos limite
s
216 Diz-se zona de front eira porque e mbora, evi o ho spital
ento de um únic
Curiosa mente, e a ex emplo do precedente já antes invocado na do debate individual; fato é .qµe
.;i._ regµl,irjzaç ã o no at e ndim
e,
ada - não compreend
o da hipótese fálica cogit
ADPF nº 45, em que decisão têr:minàtiva foi seguid a de l ongas . - como se verá a d iante, na· descriçã
p lítica p ú b l ica de saú de, m a s em
uma de suas vias de
propriam ente, uma intervenç ã o na o

con cretizaç ão . e as _çl;I. A dministração PúbJ �.


ic �··"
21
3
D i s pç,n{vel .ef!!.: ih,�p;/(�·�ffJ.1.� .J:ir[port�V.cms/.y,e_(Iex10:·asp ?sery,ico=j1JriSP.���ncia 2
17 M, pr'ovidêi1êia . r.eqll�
s rida},i.}W.YPl;Yénç\9 .. "'tg:3-9pe��p.cr, 1 ariam· a violar a e-strutura - · · ·
e cobe rtUr-a orç men tária , est
[f-i PropostaSumu1àVtrícú'fante>. Ãéésso em:·.2:2 ma,a z009 ," ·, ··. ·.. · ·· · . ·· não revestidas da correspondent
a
úblicas , dentre outro
s ··
concret i zação de despesas p
"" Na m e sma trilha de conclusões, cite-se alnda o REsp n' 744.592/AM, Rei. lvlinistra Denise constitucional de disciplina da
ii Arrud a, Primei.ra Turma, julgado em 27.11.2007, D}, p. 1.142, 19.12.2007. argumentos.
,\


134 Vanice Regina lúio do Valle
/ Políticas públicas, direitos fundamentais e controle judicial
! 135

Vale ainda o registro - embora o tema da


saúde se _ vários elementos particularizadores se punham, que com o seu
apresente aí de forma reflexa - da decisão havida
no Resp nQ evocar repetido, foram se perdendo, numa zona de nebulosidade
575.998/MG, Relator o Min. Luiz Fux, 1º Turma, D],
16.11.2004' que culminou por subverter seu real sentido.
em que o provimento do recurso determinou a resta
uração de Cuidava-se no precedente então construído, de jurisdicionado
decisão originária que envolvia a refixação da
periodicidade e carente, bem como de política pública já enunciada - com
condições em que se verificaria a atividade púb
lica de coleta de problemas especificamente no que toca à sua implementação -;
lixo no Município de Cambuquira.218
esses elementos que justificavam o conteúdo da decisão, com
I o tempo e a reiteração do precedente, restaram enevoados. O

1 Pronúncias envolvendo o direito


conjunto- expressivo- de decisões monocráticas que sobreveio
3.3.2.2
fundamental à saúde na sua matriz
invocando a esse mesmo caso, afastando-se todavia das premissas

individual de atendimento
de sua decisão, culminou por determinar um alargamento das

J
hipóteses de tutela a direito individual, pela via da garantia de
Não só sob o prisma do direito coletivo a maté entrega de remédios, tratamentos médicos, intervenções cirúrgicas
ria tem se
apresentado aos Tribunais Superiores. e outras providências.219
Precedente mais remoto no âmbito do STF se Importante referir ainda às SS's nº 3.201/GO, julgamento em
'· identifica no
RExt n º 271.286, Relator o Min. Celso de Mell 20.06.2007, D] de 27.06.2007; e ainda nº 3.274/GO, julgamento
o, originalmente
decidido em sede monocrática, posterio em 15.08.2007, D] de 22.08.2007; ambas tendo por Rel. a então
rmente confirmada
por acórdão proferido em Agravo Regimental, º Min. Presidente Ellen Gracie que tinham por objeto provimento
2 Turma, D] de
24.11.2000. Naquela oportunidade, analisando jurisdicional relacionado ao fornecimento de medicamentos
a pretensão de
"•Ií reforma articulada pelo Município de Porto voltados ao tratamento de infertilidade feminina inespecifica.
Alegre da decisão
originária que lhe determinava a entrega Inobstante ambas as demandas fossem individuais na origem, o
do medicamento
correspondente a portador de HIV destituíd pedido de suspensão de segurança envolvia a pretensão de que
t financeiros em relação de solidariedade com
o de recursos
tal medida de exceção se aplicasse a esses feitos, e ainda a todos
? o Governo do
' Estado do Rio Grande do Sul, se afirmou o cará os demais de mesma natureza que se vinham cunhando, em
ter imperativo da
cláusula contida no art. 196 da CF, e o dever verdadeiro efeito multiplicador, no Estado de Goiás. 220 Na ocasião,
do poder público de
formular e implementar políticas sociais e econ a Presidência deferiu a suspensão de segurança pela ausência
ômicas idôneas à
garantia de acesso universal e igualitário à assis na espécie da irreversibilidade configuradora do provimento
tência farmacêutica
e médico-hospitalar. Importante, todavia, liminar, e negou ainda a extensão da decisão aos demais casos, ao
t sublinhar que nessa
i hipótese - que veio a se erigir como verd argumento - reiterado - de que as decisões dessa natureza, por
adeiro leading case
219
A título de exemplo, mencione-se os Recursos Extraordinários n•s. 562.383, D], 08.10.2007
218
No tema espea1lco dos limites e possibilidades do controle jurisdicional das polfücas e 568.073, D], 21.11.2007; Agravos de Instrumento nºs. 583.067, 647.296, 667.205, D],
públicas, assevera a decisão em causa: "7. As meras diretrizes traçadas pelas políticas públicas
23.10.2007; todos de relataria do Min. Celso de Mello.
não são ainda direitos senão promessas de lege ferenda, encartando-se na esfera insindicável 220
Os precedentes são bastante ilustrativos da circunstância de que, embora o debate em
pelo Poder Judiciário, qual a da oportunidade de sua implementação. 8. Diversa é a hipótese
� �-4.·.�.�,t�.-t·... -: tomo do direito fundamental à saúde se revele sempre sensível e sofrido, ele não contém
segundo a quá! à Constituis;,ãQ.F�déra] consagra Ym direito e a horma infrài::õns'tittrdona]'o· ·n ecessariamente,._em.-toc\ai;.as hipót�ses, o tema da preservação da vida. Mais ainda, como
explicita, ÍfftpÓndo-se à'o'Judidárlo tomá-lo realldade, a·inda'que para issó resulte obrigação
é de conhecimento comum,' à escolhâ peJa prfõnzáção de urna estratégia de tratamento ela
de fazer, com repercussão na esfera orçamentária", concluindo ainda por associar à coleta
infertilidade como política pública prioritária implica nümã: escolha aloc:ativa ·de recursos
de lixo, a preservação da saúde pública e do meio ambiente, do que decorreria sua condição
sujeita a sérias críticas, ao menos num país com a configuração do nosso, em que tuberculose
também de serviço essencial.
volta a se apresentar como um problema de saúde pública.
11
mentais e controle judicial \ 137
Políticas públicas, direiros funda

136 Vanice Regina Lírio do yalle


/

e civil, 7 deles já de
feridos pelo Min.
se u ca ráter e xcepcional, hão de ter em conta as especificidades de segmentos da socie222dad
· Relato r Marco Aure1io. do te ma do controle das
do caso concreto. No âmbito do STJ, o tratame nto ção
Inobs tante o balizamento que se vai conferindo à matéria, partir da ótica da tutela de situa 23
políticas públicas de saúde a recedentes ,1
as demandas re lacionadas à tutela individual de dire ito à saúde se ero expressivo de p
. individual compreende um núm direico
multiplicam de forma incessante, do que resultou - recentemente perspectiva ou da tutela do
todos eles cunhados a partir da
sal à proteção à saúde .
224
também - o reconhecimento de que o debate atinente a essa
à vida, o u ainda do caráte r univer
hipótese é revestido de repercussão geral. Tal pronúncia se
de u nos autos da questão preliminar de Repercussão Geral em
veis a partir do
Recurso Extraordinário nº 566.471, Relator o Min. M arco Aure1io, 3.3.3 Algumas observações possí
edentes
D]de 15.11.2007, no sentido de que" ... possui repercussão geral conjunto já estabelecido de prec
cont rovérsia sobre a obrigatoriedade de o Pode r Público fornecer ma - que se ap resentam
O rápido percurso às de cisões aci
medicamento de alto custo...". A demanda se submetia ao STF, compreensão, e mais ainda, à
emblemáticas no que toca à
por provocação do Estado do Rio Grande do Norte, que vira l das Cortes Su periores � está a
de sprovido no seu Tribunal de Justiça, apelo voltado contra decisão estratégia de decisão de cada qua em curso,
so de forma ção, ainda
demonstrar claramente o proces
de primeiro gra u que determinava a obrigação de fornecimento ível de sindicabilidade das p olíticas
da delimitação da e sfera poss
de medicamento de alto custo. O despacho, consignando a se põe de pronto, a partir da sua
públicas , seja quando o tema a partir do
repercussão geral - chancelado à unanimidade pelos demais er posto ao Estado
compreensão global como dev dame ntais;
Ministros, na forma da lei e do Regimento - esclarece qual seja a etiva dos direitos fun
reconhecime nto da dime nsão obj da eventual
pauta decisória posta à Corte, a saber: " ... Em síntese, questiona­ partir da repercussão
seja quando ela se apresenta a e saúde na
s e, no extraordinário, se situação individual pode, sob o ângulo s a mesma política d
deficiência ou ine xistência des
do cu sto, coloca r em risco o grande todo, a assistência global a ividuais.
esfera de dire itos ind
emiss a de que a ques
tão
tant os quantos dependem de determinado medicame nto, de No âmbito do STJ, a partir da pr a
uso costumeiro, para prover a saúde, ou minimizar sofrimento ia de polític as públicas é matéri
em abstrato do dever de e xistênc
decorrente de certa doença. " 221 isso, extraída dos limites do
de fundo constitucional - e com
l
1
Na seqüência dessa importante decisão - reconhecimento esso, na condição
o d os pedidos de ingr
o para o deferiment
de repercussão geral na matéria - de u-se o· requerimento 222
Em linhas gerais, o fu ndament lvim ent dos mist e res de amicus curi
ae se dá
de terceiro inter es s
ado para o desenv o o
dmi ssão

1
edidos visand o à a
vazado no bojo d esse mesmo Recurso Extraordinário nº 566.471, nos seguintes termos: " ...Há
de tomar-se com flexi bilida de p
int rpos to ap ós a vigência
ecurso extra rdin ário e
es so revelad or de r
o
de 9 (nove) pedidos de ingresso como amicus curiae, de de terce iros em proc
rcus são geral. É que o julgam
ento pe lo Supremo
se mostrará único ,
do sistema da r epe
pe ssoas jurídicas de direito público e entidades representativas repercutindo em um sem-núm
ero de relações juríd
ica s."
o s Recurso Especiais

1
nt : relat aria do !Ylin. Luiz Fux, Primeira Turma,
223 Cite-se ilu s trativ am e e de
07; 753. 565, D], 27.0 3.2007; 790.175, D],
608, D], 15.05.20
n"s 869.843, D], 25 .10.2007; 811. RS, D], 1 .10.2007; é
2
RE p n' 901. 289/
TeoriAlbino Zava scki, s
05.12.2006; de relataria do ivlin. RS, D], 13.0 9.20 07; Emb argos de
1
Interessante obs ervar que não obstante essa relevante decisão - que consigna repercussão Delgado, REsp n" 948.579/
ainda, de relataria do Min. José
22

geral ao tema, e da qual p odem res ultar efeitos vinculantes em t odo o país (depois de al n' 485.969, D], 23.08.2006.
Divergência n o Recurso E speci ersal, pelo STJ, em
alguns de
proferida a decisão de mérito do correspectivo recurso extraordinário) - fato é que a já 2 -s a dive rgên cia entr e a afirmação do caráter univ l à ,sf0s\':�-,,.._:,..;,· _ ,,,40
14 Consigne e d bf . i tD n
ftl_ darr:ie .ite ,,
9J?, que :." _ .,·e.e·:.-·'·
,-'..4
e
. e&:rro·temac'ci.e .�0MNl.!'!:·jhlc)icj,tL_,da���
ª
citada audiência pública da saúde a esse mesmo caso pendente de apreciáção não_ se ,ep913a.
r,--=·. ":_·.,,,.½féds:i;irecedem o i · em:q ue s:e -recooheceu
. T�,n�s_e.;;;.,1t�?-_?: _a.,�,2.�,e /[�mação ;de, czonV!i)CaçãO, !"ela.�Prêsia��éfaf"d·e· U_ITI-dj�1_oioicóm) nos prec den tes acima anal isaü s
e aquela lançada pel o STF e
d e prote ção
·:,,; -._.?.
ando qualquer pretensão
sociedadé; e de outro lado, instauração, por provocação das próprias estruturas organizadas
o art. 196 CF nã o
pode se r ente ndi do como fund
dessa mesma s ociedade, de uma arena de debate no bojo do julgamento da repe rcussão
geral, por força dos pe didos (deferidos) de ingre sso como amicttS cttriae. à saú de . i
1
:i

I'
138 Vanice Regina Lúio do Valle
/ Políticas púbücas, direitos fundamentais e controle judicial \ 139

f Recurso Especial - o que se tem é a análise dos temas sempre sob


0 prisma da p r oj eçã o na esfer a individual de direitos. Isso confere
·'. não parece ecoar em outras situações, em que a preocupação
com a afirmação do compromisso constitucional com a dignidade
um r osto, um a história, uma concretude à demanda, que tende a
da pe ssoa humana sugere uma autorização tout court para a
determinar uma p osição mais protetiva de parte do Tribunal - e
desconsideração dos aspectos inerentes ao financiamento d essas
essa parece ser a expl icação par a uma postu ra mais alinhada, por mesmas iniciativas, e particularmente, dos reflexos da decisão
exemplo, com a idéia de um direito universalizado à proteção à in dividual sobre o financiamento e estruturação do SUS como
saúde e educaçã o do que com políticas públicas em saúde como
um todo. A dessintonia - já se assinalou - pare ce ainda maior
mecanismo possível de limitação dos cont ornos desses mesmos
quando se comparam as decisões de STF e STJ.
direitos fundamentais . Mais ainda, as sutilezas de cada qual das hipóteses
O acervo de decisões no STF, p or out ro l ado , combina a - sej a no campo da saúde, sej a ainda no terreno do direito à
ana1ise individu al e a s p reten sões de caráter mais amplo veiculadas
educação - são elementos indispensáveis à compreensão do
normalmente nos mecanismos d e STA, SL e SS - o que traz à
real alcance dos precedentes já formados; e esse é um dado que
Corte uma aguda consciência das implica ções sociais, econômicas
um certo açodamento na judicialização das políticas públicas, e
e políticas dessas mesmas pronúncias, notadamente no campo da
particularmente dos direitos sociais, tem desconsiderado. A leitura
saúde, onde a conclu são estará a depender muitas vezes de u ma
diagonal, exclusivamente da ementa da decisão, sem uma reflexão
expertise que não é a próprio àquele Tribunal. De outro lado, sobre os elementos determinantes da quela anterior ori e ntação

1
o reconhecimento dessas mesmas deficiências, e do necessário
jurisprudencia l, tem conduzido a um discurso quanto ao sentido
balanceamento entre universalização e financiamento, inter­
da jurisprudência das Cortes Superiores, que nem sempre reflete
l rel ação e ntre po líticas públicas, e outros vetores percorridos nos
Capítulos 1 e 2 dessa obra, tem determinado uma maior abertura
dialógica da Corte, seja através de procediment os como a admissão
o que efetivamente ali se tenha estabelecido - ou se estej a ainda
em curso de estabelecer.

11
Se es se quadro já determina alguma desarmonia no qu e toca
dos amicus curiae à ana1ise do referido Recurso Extraordinário n2 às duas Cortes Superiores ; quando o espectro de visão se abre par a
566.471 ao qual se reconheceu repercussão geral, seja através de todo o Judiciário, as distorções são gritantes, sendo notórias as
iniciativas como a Audiência Pública convocada pela Presidência decisões em todo o ter ritório nacional, particularmente no campo
do STF em favor do municiamento de informações orientadoras às de dispensação de medicamentos , que asseguram florais de Bach,
decisões n o âmbito de sua competênda regimental. medi cação voltada contra a impotência ou a alopecia ; todos
Vale sublinhar ainda em relação ao l ab or de ambas as eles dramas humanos significativos, mas não necessariamente
Cortes Superiores , especialmente no terreno do direito à saúde manifestações de violação ao direito fundamental à saúde .
- em qu e a par de um conflito aparente entre a cláusula contida D e outro lado, é o contato diário com as demandas individuais
no art. 196 e ss. da CF, e a garantia expressa no art. 62 do mesmo que tem permitido a identificação de desvios absolutos do sistema,

1
diploma ; ainda pode envolver importantes implicações com o com o direcionamento de dem andas envolvendo gar antia de

I '.
direito à vida e à dignidade da pessoa humana - que alguns prestações de saúde a um s ó tempo (mas não cumulativamente)
1 elementos determinantes da análi se d a equação se apresentam,
mais sugeridos do que sistem atizados e reiteradame1_1te <=Xpressos
erri suas decisões :··-Assim, a particularidade &<c ada a na1isê
a todas a s entidades federadas, . com a geração de decisões
sobrepostas e a duplicidade da oferta da prestação. Também não
é inêomu'm na-é:ásuística do primeiro e segurid6graÚ, as narra.tivas
empreendida em concreto, e sua inextensibilidade a outros casos de medicamentos deferidos sine die, que com o correr do tempo,
é ponto sempre pre sente nas decisões da Presidência do STF; mas não mais se apresentando como indispensáveis ao beneficiário
·,;:
�·;-.
140 Vanice Regi.na LL'lo do Valle
J

da prestação jurisdicional, são destinados a um "mercado negro" Capítuio 4


desse mesmo bem. Também já se identifica - com a geração
inclusive de procedimentos apuratórios diversos - a "indústria" de
demandas tendo por objeto o fornecimento de medicamentos não
incluídos nas listas oficiais de dispensação, com o que se objetiva

i gerar a (falsa) impressão de que sua inclusão nas respectivas


listagens deva ser procedida pela estrutura SUS. Caminhos de aprimoramento
Fato é que a multiplicação das hipóteses tem oferecido ao
Judiciário a riqueza de dados que só a realidade da vida pode do controle judicial de
assegurar- e com isso, amplia-se o conhecimento do problema, e
das variáveis que interferem em sua formação e equacionamento.
políticas públicas
Cumpre, portanto, ter às decisões já havidas, como passos na
direção da uma teorização de uma matéria, que por seu pouco
amadurecimento é de se beneficiar ainda- e muito- do processo
reflexivo que possa desenvolver a comunidade do direito.
Sw::nário: 4.1 Novas perspectivas para o exercício da função jurisdicional
concretizadora da dimensão objetiva dos direitos fundamentais - 4.2
Controle de políticas públicas, dimensões objetiva e subjetiva de direitos
fundamentais - 4.3 Política pública inexistente: caminho de superação do
deficit de expertise- 4.4 Política pública existente: exigibilidade jurisdicional
de auto-vinculação da Administração - 4.5 Política pública existente e novas
escolhas públicas: Judiciário como catalisador das mudanças de agenda

i
!

1
j

1
4.1 Novas perspectivas para o exercício da função
jurisdicional concretizadora da dimensão
objetiva dos direitos fundamentais
A aposta constitucional de requalificação do espaço
público, 225 firmada nos direitos fundamentais corno espinha dorsal
da mudança e nas práticas e instituições democráticas como veículos
...:.,:.,,-/�:·, ....::.·'Í<···•.• -i-�'' - \,.;�'!.�":>�·�•'*·.:�;'..;-_.--�:;_ -·-·��-.-·..:;·..;,:_...,.;.;.-:..--:1,.;.� .;.,:_"·h•--:-;-.... ·"·-: ....
.
m LESSif. Â CÔnstituiçãÕ "brasileira de· i 983 comõ expJ:i:/Jné,úó.' êúFjüôsofi.apríb/ica: um' .
. -�""":'.">-. -- . ...-, '-:.._ ...,�-�- .....�.. � -- ' ·'·.- .· ··.·, '' .

. • ,;,;_ .
ensaio. Disponível em: <http://blog.estudoshumeanos.com/wp-contenr/uploads/2008/12/
a-constituicao-brasileira-de-1988.pdf>. Acesso em: 4 abr. 2009.
,,.,
r:;�:

Políticas públicas, direitos fundamentais e controle judicial
142
/ Varuce Regina Lúio do Valle j 143

e garantias dessa mesma mudança, é realidade que, em 20 anos pelo Judiciário, se constitui absoluta exceção ao desenho
de constituição, se descortina em toda a sua complexidade. Os constitucional de funcionamento do poder, e que portanto, é de
novos deveres que se revelam às estruturas do poder estão a ser minimizada nas suas possibilidades de aplicação.
exigir - à conta do já assentado reconhecimento da dimensão Progressivamente, se examinará distinções - e
i
li objetiva dos direitos fundamentais - uma recompreensão de aprofundamentos - na consideração judicial acerca das políticas
r1: suas relações de intervenções recíprocas, e dos potenciais das
respectivas ações de controle. O processo é - sem dúvida - de
públicas e sua controlabilidade: 1 º) identificando que, efetivamente,
de controle de políticas públicas se cuide, e não de pleito de tutela
construção paulatina de um novo Judiciário, condicionado na da dimensão subjetiva de direitos fundamentais; 2º ) enfrentando a
l sua auto-compree nsão pelas suas responsabilidades sociais; 226
e de identificação de uma nova Administração redirecionada
hipótese da ausência de política pública; 3º) analisando a violação

l
.{
igualmente no seu esquema compreensivo pela revolução
juspolítica introduzida pelos direitos fundamentais. 227 Disso
à auto-vinculação e as providências jurisdicionais que dela podem
decorrer; e finalmente, comentando brevemente o potencial do
Judiciário como arena ou catalisador das mudanças de agenda em
decorre uma justificável indeterminação na zona de interseção

1
1
1
entre essas novas variáveis: efetividade de direitos fundamentais, relação a políticas públicas já traçadas.
função administrativa e controle judicial. Dessa constatação,

1
todavia, o que é de se extrair é a provocação e o desafio de
construção de novos parâmetros de equacionamento dos 4.2 Controle de políticas públicas, dimensões
potenciais conflitos - numa perspectiva propositiva, sim; mas objetiva e subjetiva de direitos fundamentais

11
longe da pretensão do discurso jurídico totalizante, contra o qual Afirmou-se ao longo dessa obra o caráter instrumental das
já advertem Nieto e Gordillo. 228 políticas públicas, como quadros normativos do agir estatal, ao
Nesses termos, apresenta-se uma proposta de cumprimento da dimensão objetiva dos direitos fundamentais, do
esquematização de parâmetros de construção de uma decisão que decorre tenham elas por força motriz, sempre, os interesses
f judicial que responda a uma apontada violação à dimensão
objetiva de direitos fundamentais - e portanto envolva, direta
de uma coletividade de cidadãos. Disso decorre que, seja o
processo de planejamento da política pública, seja a previsão dos
ou indiretamente, a discussão relacionada ao controle de políticas resultados a se alcançar, se faz tendo em conta esse determinante
públicas -; proposta essa que se_ apresenta a partir de duas - a universalização, nos termos da configuração legal desse
principais premissas já desenvolvidas ao longo dessa obra: 1 º)

11
mesmo direito fundamental, e não a sua projeção na esfera de
de que· o controle de políticas públicas é atividade que remete
direito individual de um particular cidadão.
à dimensão objetiva dos direitos fundamentais, e portanto é de
Significa dizer que é possível que uma política pública
ser encarado sempre e sempre a partir de uma perspectiva da
coletividade dos destinatdrios de direitosfundamentais; e 2º) de (orientada a partir do signo de prioridade constitucional) seja
que a ação de controle substitutiva, mesmo quando desenvolvida concebida e implementada; revele-se um sucesso no que toca
à adequação entre problema e diagnose; alcance dos resultados
programados-e ainda assim, remanesça um cidadão isoladamente
226 FARIA. As transformações do Judiciário em face d.e suas .responsabiJidad<:s sociais.. In: f.ARIA,
r
C•
(Org.). Direitos.humanos,..i;l.ireitQS"§OG.i!S!,;is e just_iça.. ·. _ · .. .. . :e·· ,:-"º-·,._t__:•. ·.:·; ;. '
ª considerado que não tenha sido ãtendiclo g_a_g::ir_antià da �lim�nsão. . "

l
227
MO REIRÁ NETO.' Quatro paradigmas do direito administrativo pós-moderna. legitimidade,
finalidade, eficiência, resultados, p. 44. subjetiva do direito fundamental que provocou a implementação
"" NIETO; GORDILLO. Las Hmitaciones dei conocimiento junºdico, p. 61. daquela linha de ação da Administração.
l :;
e controle judicial \
Políticas públicas direitos fund;i..rnentais
145
144 Vanice Regina Lfrio do Valle
J
1

a hipótese , esteja
O fenômeno, nessa hipótese, não é necessariamente o da E qual a rele vância jurídica de se distinguir, n
idual de direito fundamental, ou
inadequação da política pública desenvolvida, mas de efetivo · se emp re endendo a tutela indiv
A impor tância é capital: o controle
insucesso no que toca à garantia especifica de direito fundamental · controle de políticas públicas?
mo possível, exige, repudia ou
em favor daquele p articular cidadão. Isso não significa dizer, de políticas públicas, se admitido co
��r decerto, que e sse cidadão reste desprovido de q ualquer mecanismo reprograma um q uadro normativo de ação, para
a su a adequação

s que lhe sejam aplicáveis,


destinado à tutela de s eu direito fundamental; mas esse resultado, em relação às hétero e auto-vinculaçõe
s formadore s da próp ria
embora tenha e m conta um dever de agir c oncretizado por a partir da constituição e dos elemento
individua l de direito tem
intermédio de uma de terminada políti ca públi ca, não expressa política pública controlada . Já a tutela
l propriamente um juízo negativo em relação ao desenvolvimento compromisso excl usivamente com a ga
rantia em favor daquele
i' dessa última, mas sim a garantia de posição j urídi ca individual que invocou a prestação jurisdicional, e
é d esenhada a p artir da s
ir a duas situações
atinente a direito fundamental.229 particularidades do caso concreto . Não distingu
t Observe-se q ue a resposta jurisdicional tem andado longe tão distintas, permitindo o prevalecer das
decisões que limitam-se
s de determinar
desse cuidado distintivo. Em verdade, a p resença - como cogitação a adjudicar b ens públicos individualizados ao revé
relevante - do tema da sindicabilidade das políticas públicas na ada - na advertência
a implementação da política pública adequ
mente dos atores jurídicos tem determinado, com indesejável a renda pública pelas
de To rres - " ..• tem levado à predação d
231
freqüência, que se afirme ter-se empreendido o controle do plano utro s países...".
elites, a exemplo do que acontece em o
normativo de ação, quando na verdade o que se faz é a correção ela a direito
Dessa indispensável diferenciação entre tut
da não-garantia de um direito fundamental em favor de um ntais sociais decorrem
individual e efetividade de direitos fundame
determinado cidadão. Essa prática, a par de não contribuir para údo da decisão judicial;
! a a dequada compreens ão de um fenômeno que se revel a ainda
efeitos, seja no que toca ao alcance e conte
1 mas também - se não principalme nte -
uma compreensão

l
pouco absorvido pelo direito - a saber, limites e possibilidades s legitim adores, q ue
totalmente distinta dos seus mecanismo
da sindicabilidade das políticas públi cas -, so fre ainda os riscos rriuito além de uma
envolverão nece ssariamente uma cogitação
de afigurar-se como uma mera rep resentação pacificadora, na garantidor universal;
l
j medida em que a firma estar-se a desenvo lver uma tarefa que, por idéia de debito-crédito oponível a um E stado
, das relações d e
sua complexidade, n ão permitiu a inda o adequado enfrentamento.
mas sim a con sideração da matriz do coletivo
!l Associam-se_ assim, controle e jusfunclamentalidade, num discurso coordenação, da prospectiva prevista para a
q uela mesma política
tes da configuraç ão

l mais comp ro me tido com a grandiloqüência do que com a pública , sem mencionar as constrições decorren
assez de recursos .
l daquele direito fundamental, e ainda da e sc

�1·.
e fetividade constitu cional, e que se p retende igualmente infen so
mente distinta
A teleologia da decisão, portanto, é p rofunda
J
1
à crítica, pelos relevantes p ropósitos a que serve . 230
- e como t al, seu processo de construção
há de ser igualmente
al em sua projeção
A hipótese é curiosa, posto que envolve a observância pela Administração da dimensão diferenciado. Na tutela de direito fundament
tência da enunciação
229
..
objetiva dos direitos fundamentais - a política pública existe, está em execução, com individual, aquilo de que se cogita é a exi s
tucional ou mesmo
de detérminàdo · direito (em sede consti
geração de resultados adequados - e ao mesmo tempo, uma violação no plano da dimensão
subjetiva, da esfera individual de direitos.
ado , sem a d evida
infraconstitucional) em favor do jurisdicio n
'' 230 N
ão é incomum em nossa prática cultural, que a oferta de críticas em relação a uma prática

1l!i d aí, quais sejam os mecanismos haô.e is


ou discurso que contemple propósitos em evidência, objeto de aprovação geral (ainda que

1:,.
momentânea) seja qualificada de visão ".superada"-, _qu própria daqueles que não entenderam·· _CSJJ].C[e.Ji�ação; e a p·a..rtir
-- --- . ·- . . .. ,,. .. ;: ;;_·,·· . .
1,
.
a prpt'ú.ricJid;de .elo :probÍema, .ou da_p.roposta d� solÜçãó. Replica-se,-" portanto, não ao
_:_ .
.... ..
,.;. -:·"' . ',--•..
.
. •. .
.
.., · '"

argumento, mas à prática da cntica, num desvio de perspectiva que esvazia a discussão em
p. 129.
detrimento do aprimoramento da prática criticada. 231
TORRES. O direito ao mínimo existencial,

�.e.
r'" '

'
.

146
/ Vanice Regina Lúio do Valle
Poüticas públicas, direitos fundamentais e controle juclidal J 147

1
'
a resgatar em favor desses mesmos sujeitos ativos da relação constitucionais, no quadro normativo do agir do poder, quando

1
processual, o direito malferido. se dá no plano do pretendido controle de políticas públicas,
Totalmente distinta seria a pretensão de empreender a um não parte de intenções totalizantes, 233 mas de u m objetivo de
controle de política pública, na sua condição de quadro normativo maximização das variáveis, observadas as restrições que são
do agir estatal decorrente da dimensão objetiva dos direitos próprias da realidade.
fundamentais. Aqui, as considerações envolverão necessariamente, Distintos os espectros de ana1ise, disso decorrerá -­
não só uma eventual autovinculação, decorrente dos termos necessariamente - a diferença nos elementos indispensáveis à
em que a política pública se tenha concebido e enunciado, legitimação da decisão de controle de que se esteja cogitando,
mas principalmente, o debate relacionado à heterovinculação especialmente aquela formulada no plano ju dicial. Assim, não
constitucional, na qual a simplicidade das assertivas garantísticas se pode ter por suficiente a possibilitar o desenvolvimento de
não pode gerar a falsa impressão da possibilidade de concretização, sindicância de políticas públicas, no sentido estrito, a decisão
sempre na sua máxima extensão, pelo Judiciário, de todos os proferida no curso de demanda individual, em que o foco da
direitos constitucionalmente enunciados. investigação haverá de ser a situação em concreto do demandante.
Não se está aqui a sugerir u m reviva! da afirmação do A racionalidade a ser ali desenvolvida é a do deôito-crédito; 234 e
caráter merame:qte programático das normas constitucionais; não a da teleologia e da proporcionalidade da Administração no
o que se está a evidenciar é que a indeterminação do texto que toca aos recursos disponíveis, aos esforços planejados haver,
fundamental - já lecionava Sunstein232 - muitas vezes pode e aqueles efetivamente desenvolvidos.
expressar uma estratégia legítima de política constitucional; e No campo do efetivo controle das políticas públicas e da
que nessas hipóteses, o consenso mfuimo expresso no Diploma garantia da dimensão objetiva dos direitos fundamentais, tem-se
de Base não dispensará a completa teorização, para posterior um imperativo dialógico, de investigação mais profunda acerca
dos contornos reais do quadro normativo de ação controlado.
densificação daquele direito-proposição, em outros níveis da
Oitiva, portanto, daquela instância de poder que formulou a
hierarquia normativa, no que se pode incluir, evidentemente, o
política pública, bem como dos encarregados de sua execução,
quadro normativo de ação do Poder-Administração (no cenário
se mostrará prática indispensável à adequação da análise a se
brasileiro, a chamada tríade orçamentária).
verificar em sede judicial.
Há no processo de determin�ção das heterovinculações
A prática dialógica - é importante se reforce - não se
às políticas públicas - e portanto, etapa prévia ao controle -
constitui um wishful thought, algo sem contorno concreto
um momento de formulação de um necessário equihbrio entre
interesses conflitantes, manifestos no plano da política, é verdade; 233 É de Canotilho a crítica à " ......aproximação absolutista ao significado jurídico dos direitos
sociais... ", advertindo ainda que" ..... confiar na interpretação das normas consagradoras desses
mas originários de u ma agenda constitucionalmente desenhada, mesmos direitos para, através do procedimento hermenêutico de atribuição de significado
que por sua vez, é de ser compreendida na sua contextualização de enunciados lingüístico-normativos, deduzir a efetividade dos mesmos direitos ...... " pode
ter como conseqüência, a capitulação da validade das normas constitucionais perante a
fático-econômica, originária e atual. Essa investigação acerca da facticidade econômico-social (CANOTILHO .. Metodologia "fuzzy" e "camaleões normativos"
na problemática actual dos direitos económicos, sociais e culturais. ln: ___ .. Estudos

l
acomodação efetivamente empreendida entre as proposições sobre direitos fundamentais, p .. 97-114).
'" De'bito-crédito, registre-se, sempre unilateral, do Estado para com o cidadão, na medida em
:�·-=-...:::.:-t'
�Órilfa�mão <l�ss:i:
·,."\:,.:1_.�-. :: ....:-;que" inobstante a consagração do reconhecimento .da existência de _direitos constitucionais
232 "
when people diverge on some (relatively)
......
--·. ,. --···
_,, . ªem favor da cidadania, pOUCO se avançou Í10 que tocà·à ":" ass�rti'ra:ÕU"Seja,
high-level proposition, they might be abie
to agree when they attempt a conce na afirmação da existência por parte da cidadania, de deveres constitucionais, tidos esses
ptual descem and lower the levei of abstra
(SUNSTE!N.. Constitutional agreemems ction" como elemento integrante da justificativa para o exercício do poder (PAUNER CHULVI. EJ
without constitutional theories .. Ratio ]uris).
. deber constitucional de contribuir ai sostenimiento de los gastos públicos, p .. 53-58) ..
'!
·''
Vanice Regina Lfrio do Yalle
Políticas püblicas, direiros fund.amenrais e controle judicial \ 149
·, 1 s.t.81

definido, mas sim um impe rativo de instrução; um requisito razão, nem a constituição ne m o Legislativo enfrenta ram de forma
indispe nsável à ana1ise , que provocará a vinda e a ju stifica tiva, de suficiente a afastar conflitualidade. 238
parte do administrador público, de seus programas de ação, dando
conta , para utilizar a expressão de García de Enterría, 235 de sua

1
legitimidade de exercício. 236 Tal trajetória de ação, de outro la do, 4.3 Política pública inexistente: caminho de
reforça a premissa do planejamento normativo, do que decorrerão superação do déficit de expertise
ainda dois distintos e feitos benéficos: o primeiro deles, e mais
Firma da a premissa do imperativo constitucional d o agir
direto, é a retroalimentação da sistemática constitucional prevista da Administração articu lado a través de uma política pública
ao agir do poder que é normativamente referenciada , num processo formal e expressamente enunciada, tem-se como conseqüência,
permanente de coerência interna de aplicação do Texto Fundante; num qua dro de funcionamento normal do poder, que o controle
o segundo é a consolidação de uma Administração integrada jurisdicional há de ter por objeto inicial de cogitação a investigação
e m torno de seus propósitos programáticos, qu e explicitados,
no tema contido na demanda, quanto à existência de uma política
aglutinam suas e struturas orgânicas de atuação, favorece ndo sua pública e ntendida como " ... complexo de processos destinados a
consolidação institucional. 237 formular e a executar ações que implementam a realização efetiva
Finalmente , sublinhe -se que a asse rtiva por pa11e do e concreta dos cometLrnentos constitucionalmente atribuídos,
Judiciário de desenvolvimento de uma ação de cu nho macro, explícita ou implicitamente, obrigatória ou dispositivame nte, a o
destinada à coletividade - como o seria o controle de políticas sistema de cisório juspolítico govemança-administração ... ", na lição
públi cas concretizador da subordinação do agir do poder à de Moreira Ne ta239 - que se poria como questão prejudicial lógica à
dimensão objetiva dos direitos fundamentais - em hipóteses que outorga da prestação jurisdicional. Afinal, se o agir da Administração

1 envolvem, na verdade , sua dimensão subje tiva, é uma estratégia de


ação que brinca com o perigo, na medida em que pode gerar uma
se há de inserir sempre em um horizonte de programação que

1 expe ctativa e m relação à sociedade, que venha a ser contrariada


se expressa através de políticas públicas, a existência em si
desse mesmo instrumento constitui, em verdade, a indagação
l pela realidade dos fatos. A con.fiabilidade institucional - e primária, que distinguirá inclusive uma conclusão no sentido da
portanto, a consolidação do Judiciário como árbitro dos impasses omissão absoluta, daquela de insuficiência ou inadequação da do
sociais - depende de parcimônia. na auto-afirmação de seu planejamento formalmente posto ao agir estatal. 240
potencial de resolutividade de impasses que por vezes, não sem

238 É de Otero a referência a que interesses contraditório s podem se debater no procedimento


de ponderação normativa
235GARCÍA DE ENTERRÍA. Democracia, jueces y contra! de la administración, p. 156. de formação das n ormas, e disso decorrer uma ausência
236 Em verdade, um mergulho investigativo mais efetivo, que tenha compromisso com o c o ntrole, que lev por su vez, o Legislati vo, à adoção de " ...
expressa da s posições em choque e a

1
do-se, em decorrência, a mesma
há de compreender ainda dentre os sujeit os d a investigaçã o àqueles que sã o destinatári o s da soluções debilitadoras da segurança do direit o .. :, arrastan
ação do direito, pela Administração
conduta inves tigada, que tem propósitos a alca nçar expressos em seu próprio instrumento de conflitual idade - irresolvida- p ara o m omento de aplic

1
concepção, e que se subordina igualmente no pl a no macro, a um imperativ o de eficiência - Pública e pelos Tribuna is (OTERO. Lições de introdu ção ao estudo do direito, t. II, v. 1,
signo que não se pode cÓ[1ferir sem ess a _interseção daqueles a quem a ação administrativa

1
p. 276-277).
trativo pelo c o ntrole da s p olíticas
em escrutínio se endereça. 2
39 MOREIRA NETO. Novos horizontes para o direito adminis
237 Consulte- se , no tema, o tr a b a lh o de Goodsell, que propugnando urn a nova visã o d a públicas. Revista de Direito do Estado.

(,
e nciação nas conse-
Administração Pública que transcenda às visões que em relação a ela se tenha formado a onal em sentido estrito, não haja difer
24º Emb o ra do p o nt o de vista jurisdici

i
p artir d9 Estado, do Mer cado. ou çla Sqc�edade; supJinha :,.. irnportâm::ia do co:n:hecimerito �,9!:aj,ss ;lo. toftt ,;ourt; u a Lqadequ ação. d
- .r.açãq administr ativa, .d o ponto ,
, qüênciaSc,;q'-'aA\.º� o
revelai útil - quando menos, sob- o
da rçiisóiz''d'tir;,i··âi1"-"1ti,&'�'sfro�ràs ;p�"rá�iona{s· forinais coniêrcondição inte!'na nec essária""' de responsabilidade política, essa distinção p o de se
rel çã o eleitora do, em homenagem a o princípio
à construção de uma governança pública integrada (GOODSELL. A new vision for public prisma da devida transparência em a o a
administration. Public Administration Reuiew). democrático.
:,/ff
:1

150 / Vanice Regina Lúio do Valle Políticas públicas, direitos fundamentais e controle judicial / 151

Dess a prioridade de investigação quanto à existência em si a todos os seus virtuais destinatários, resgatando o sentido
da política pública, a partir da-afirmação de um de ver constitucional necessariamente coletivo da ação da Administração, e neutralizando
de sua e nunciação como decorrência seja da dimensão objetiva os riscos de uma priorização patológica de cidadãos que tenham
dos direitos fundame ntais, seja do direito fundamental à boa acesso, por demandas individuais, ao Judiciário. 242
administração - tem-se de já que o caminho jurisdicional pode ser Prestigia-se assim aos mecanismos democráticos de
utilizado, inclusive (se não principalmente) para o cumprimento form ulação das escolhas públicas, que devem ser construídas
em si desse de ver primário de concepção e explicitação pela a partir de ideal de preservação das relações de colaboração
2 43
Administração, de uma política pública, eventualmente não social, tendo ainda em conta, o "paradoxo de Rousseau": 244 " •..
existente ; de ver que se traduz em obrigação de fazer, que pode o que cada cidadão deseja como soberano (o governo de que é
vir a ser obje to de e xigibilidade jurisdicional em sede de ação civil elemento constitutivo) - a sabe r, impostos com que financiar a
pública, ou mesmo de ADPF. Obje to da medida jurisdicional pode produção de be ns públicos, redistribuição de renda com o objetivo
s er, portanto, a obrigação deformular polüica pública- e não o de minimizar desigualdades, etc. - esse mesmo cidadão repudia
efeito ou produto dess a, individualmente considerado - atacando como súdito, pois, nessa capacidade, deseja pagar o mínimo de
na sua raiz, uma patologia que expressa o descumprimento de impostos, desaprova egoisticame nte ver sua renda diminuída
um deve r constitucionalmente traçado à Administração, não só em be ne fício de que m quer que seja, etc. E o que aspira como

de garantia de um de terminado direito fundamental, mas de súdito - s ubsídios espe ciais, isenções tributárias, e tc. - é para

l planejamento voltado finalisticamente a essa mesma garantia.


Esse caminho, em verdade, apresenta diversos pontos
ele inaceitável, em sua capacidade de soberano, como programa
de um governo universalista."
positivos : primeiro, é via de ação cujo objeto e eventual provimento Mais ainda, a discussão judicializada quanto aos
jurisdicional não se distancia da especialização original de funções, imperativos de enunciação de políticas públicas pode permitir a
e portanto, escapa às críticas (sempre presentes) atinentes à superação de impasses de várias nature zas - inclusive aque le s

violação ao equfübrio e harmonia entre os poderes. Afmal, exigindo eve ntualme nte dete rminados pela superpos ição de sistemas de
o Judiciário da Administração a formulação em si da política, controle. Isso porque, é possível (aliás, nem mesmo é infreqüente)
respeitam:-se as esferas originalmente previstas de especialização que uma determinada política pública seja identificada como
'' necessária implementar, e encontre bloqueio pela atuação de
funcional, e supera-se o sempre presente (e ponderável) argumento
do deficit de expertise do Judiciário pata a cunhagem de estratégias outras instâncias que intervém no processo - por exemplo, a
concre tizadoras desses mesmos direitos fundamentais num regime re cuperação dos imperativos de tratamento digno aos presos,
que é constitucional democrático e pluralista. 241 recolhidos em delegacias policiais, pode se r política previs ta
Outra virtude que se pod e apontar ao feito que tenha por iniciar com a construção de estabelecimentos adequados à
objeto a e xigibilidade jurisdicional da e nunciação de uma política sua recepção, e essa atividade operacional primeira se ver
pública, é que tal demanda terá por resultado a formalização de_u!Il 242 É marcante o fato de que as referências jurisdicionais ao controle de políticas públicas se
parâme tro que se aplicará, a partir de um signo universalizante, dêem, na sua maioria, no bojo de ações civis públicas aforadas pelo Parquet, que têm ein
conta muitas vezes, não à tutela do direito coletivo a algu ma atuação da administração,
,.•_1, .1 .,
.•
24' É de Gonçalves_ ºJ!JSt;e.Q'{e_de que .q deficit-de expertise do Judiciátio para- à id\i,�ljiação mas sim a situação individual de um cidadão brasileiro, na estelra da compreensão que
se finnou ·de-GjUe-ao Ministério Público seja dado oficia,r em·.defesa _de interesse individual
solitária de ·políticas sociais se relaciona aos imperativos, nesse campo, de que se tenha a
indisponível. · · - - ·-· · •· -· ' -:_ .- · · ·' -
visão global dos quadros de receita e despesas públicas, mas também a abertura a outras
'" CALABRESI; BOBBIT. Tragic choices: the conflicts society confronts in the allocation of
contribuições à construção do conteúdo dos direitos, como decorrência do caráter plural da
tragicaly scarce resources, p. 19.
sociedade a quem esses mesmos direitos se destinam (GONÇALVES. Direitosfimdamentais 244 SANrOS. ú paradoxo de Rousseau: uma interpretação democrática da vontade geral, p. 73-
sociais: releitura de uma Constituição dirigente, p. 216)_
,152 J Vanice Regina Lúio do VaUe
Polfticas públicas, direitos fundamemais e controle judicial \ 153 .

bloqueada à conta de questões ambientais, ou de resistência da


que se apresentem em concorrência com outros, que se afirme
localidade à instalação de unidade destin,ada ao recolhimento
igualmente fundantes. 248
de presos no seu território. 245 A concorrência de intervenções
Importante perceber que a atuação do Judiciário como arena
empreendidas a título de controle, por cada qual dos subsistemas
de construção dialógica da agenda de prioridades de ação da
que a essa atividade se dedicam, pode determinar a coexistê ncia
Administração pode permitis ainda que esse caminho de controle
inconciliável de determinações voltadas à Administração - e
do poder, ao invés de se revelar atentatório ao princípio da
nessas hipóteses, o Judiciário pode desenvolver o papel de arena
representação, apresente-se a seu sen.Jiço- não da representação
de mediação em relação aos vários vetores incidentes sobre essa
no sentido clássico, provida através do voto; mas daquela que
complexa equação.
encontra vez e voz através das estruturas de organização de
Outro sentido em que a condução de processo dialógico,
distintos segmentos sociais ou de interesses. 249 A pedra de toque
a partir de uma investigação jurisdicional quanto à existência
estará no reconhecimento, pelo Judiciário, de que seu papel não é
em si, de política pública, pode se revelar útil à superação de
- nem nunca poderá ser - substitutivo, mas sim de indução do
impasses diz respeito à composição da agenda de atuação da
desenvolvimento regular, pelas estruturas institucionais previstas
Administração. 246 A abertura de uma instância neutra no que toca
na constituição, dos misteres de cada qual.
aos vetores determinantes da ação política e suas respectivas
Onde a constituição não elegeu o caminho da explicitação do
prioridades pode permitir o ingresso em pauta, de temas não
conteúdo de agir do poder, não caberá ao Judiciário - afastando­
enfreurados por políticas públicas correspondentes, pelas
se, nesse particular, do desejo do Texto Fundante - se substituir
dificuldades de veiculação de parte dos interessados, da própria
àquela instância institucional a quem foi reservado o dever de
problemática. 247 Nesse sentido, o controle jurisdicional de políticas
formulação dessas mesmas políticas; o papel, ao contrário, há de
públicas voltado à sua enunciação - e não ao provimento direto
ser a indução a que o agir do poder omisso (Legislativo, Executivo
de prestações concretas que delas se supõe devessem resultar -
ou ambos) se reconduza à trajetória constitucionalmente
pode se revelar um caminho de superação pela via da deliberação
assinalada, formulando e implementando as políticas públicas
pública, das dificuldades inerentes à configuração de qual seja
faltantes. Nessa linha de ação, a rigor, amplia-se o espectro de
o conteúdo exigível, propriamente, de direitos fundamentais,
proteção/efetividade constitucional; de um lado, pela garantia das
ações voltadas à concretização de seus compromissos valorativos,
2
45 A hipótese não é abstrata, e a resistência à construção do estabelecimento prisional, perpe­
trada por um determinado município, pós ao poder público diante da· imputa ção de 248 É clássica a advertência de Bo bbio de que os próprio s direit os fundamentais podem entrar
des cumprimento de Termo de Ajuste de Conduta.
246 É de Dato o destaque de que a ciência pol(tica tem ap o ntado p a ra o crescimento da importância em concorrência com o utros, aos quais se atribui a mesma qualificação, do que pode
decorrer a necessidade de imposição, em certas situa ções e em relação a determinada s
da atua ção dos tribunais, não mais so mente no campo do controle da imple mentação das
po líticas públicas, mas também como z ona de entrada para uma determinada questão na cate gorias de sujeitos, uma opção (BOBBIO. A era dos direitos, p. 20). Demo nstrando as
agenda política, impulsio nand o porta nto relevantes processos de tra nsformaçã o (DATO.
possibilidades dessa a rena dialógica no âmbito do controle da inconstitucionalidade po r
o missão - especificamente, a quela legislativa - verifique-s e ainda, da autora, Sindicar a
Actores, ideas e instituciones en la s políticas públicas. In: PÉREZ SÁNCHEZ (Ed.). Ana--Zises
de pol{ticas públicas, p. 82). • � s.,a·, _ ·-·. ,.
omissão legislativa: real desafio à harmonia entre o s poderes .
249
Tenha-se em conta que não só o direito "convive" co m as mazelas·de sistema· de representação,
247 Ess a função assecuratória de um espaço públic o de debate e c o nhecimento do problema,
sem aprofundar as alternativas à superação desses mesmos pro blemas. É de Canfora,
que subsidie o processo de formação e aperfeiçoamento das p oüticas públicas, em verdade,
explorand o o s imperativos de uma nova compreensão do princípio democrátic o , a
pode igualmente ser des e nvolvida, e com grande proveito à cidad.arúa, também pelas Cortes
·. e, de Copta�. Af11_1a!, congregam os_ Tribunai!i de Cqnt.,lS. não .59- .a ,�e-tfcnica; Jná:S:também, denúncia de que "...Nes se gigantesco e harmonioso ta lk s how, de sab or planglossiano ,
.J2'.�ec:e n ão. existir lugar para �0<lêsmesu.radà..:tn(i;li,;iq.i-\J5::"·clà :çondição-'humana reinànte
';e ês_p�_éíailpe1í:te; hístóriéo de informações em ;elação �ó J;('hâJfé!c(haquele campo temático,
-:
.(�.·J ..:.;� .� ·.:·

naque]� entidade administrativa. Esse é um acervo de conhe cimento que não se pode em grande parte do mundo. A ciência p olítica, àuto-sàtisfeifa quanto ao ·•srstemà·rnistci';
-, desconsiderar quando se cogita de aferição da existência/adequação do agir da administração. encontra-s e cega diante da r e alidade efetiva do planeta" (CANFORA. Crítica da retórica
f; democrática, p. 74).
!.
!�
_ 154 / Vanice Regina lú-io do VaUe
Políticas públicas, direitos fundamentais e controle judicial
1155

1
e de outro lado, pela devolução a um segmento do poder político outras áreas do conhecimento; 252 seja com a introdução de uma
organizado, de uma atuação que lhe é própria, observado 0 outra dimensão temporal das soluções, que contemple o interstício
critério de especialização funcional.
necessário, por exemplo, à atuação da Administração Pública
Observe-se que é só através dessa ação indutora que se apontada como exigível, e ainda não havida.253 As experiências

poderá obter - como é próprio do conceito de políticas públicas criadoras dessa nova jurisdição, que constrói dialogicamente o
- não só a indicação de qual seja a ação a ser desenvolvida, caminho de efetividade dos direitos fundamentais sociais pela
mas o percurso de concretização desse mesmo agir, e sobretudo, exigência da sua dimensão objetiva, se tem multiplicado.
os parâmetros de aferição da própria eficiência do agir Dentre o conjunto de precedentes mais conhecidos,
administrativo.250 Em suma, é só a enunciação - por aqu ele aponta-se aqueles originários do Tribunal Constitucional da
a quem a constituição consignou essa tarefa - das políticas África do Sul, a saber, Government of the Republic of South
públicas que permitirá prosseguir-se no continuum do controle, Africa vs. Grotboom 2001 (1) SA 46 (CC), e Minister of Health
com previsibilidade das providências de implementação, e and Others vs. Treatment Action Campaign and Others, 2002
ainda, com indicadores objetivos de avaliação da eficiência, (10) BCLR 1.033 (CC). No primeiro deles, o tema fundamental em
qu e se constitui igualmente, imposição constitucional, sempre debate dizia respeito à efetividade do direito fundamental social à
na sua relação de interdependência com as finalidades postas moradia e à proteção às crianças; no segundo deles, a discussão
ao Estado. se relacionava ao direito à saúde, especificamente na análise
de uma política pública muito restritiva de distribuição do anti­
A atuação tópica - como se tem visto cogitar nos
retroviral (nevirapina), apontado como gerador de significativo
precedentes acima citados - limita-se a determinar um agir
decréscimo no risco de transmissão da HN de mães para filhos.
em concreto, sem compromisso maior com as etapas de Ambas as hipóteses envolveram provimentos jurisdicionais que,
implementação, e os resultados daquele mesmo agir, e nesse estabelecendo os contornos constitucionais àqueles direitos
sentido, não se traduz em mecanismo adequado de controle de fundamentais em discussão, devolviam ao Executivo a tarefa de
políticas públicas. 251 (re)configuração de suas políticas públicas na área, estabelecendo

1
Evidentemente, a persecução jurisdicional da obrigação um dever de informação à Corte, para acompanhamento, das
de fazer cujo cumprimento se materializa na enunciação de uma medidas decididas implementar.254
política pública haverá de desafiar uma nova aproximação do Mais recentemente - e na mesma linha exploratória de
!
1 próprio processamento do feito, seja no aspecto mencionado decisões judiciais que possam preservar um espaço de diálogo
acima - de admissão do ingresso/manifestação de outros atores
que possam contribuir para com o deslinde da quaestio -, seja 252 Preciosa a lembrança de Moro, de que os dados empúicos já subsidiaram decisões judiciais
de cunho paradigmático, como Brown vs. Board ofEducation; e ainda de que " ... o acerto das
com a abertura ao recurso a dados empfricos e originários de decisões judiciais a respeito de temas constitucionais relevantes não pode, porém, prescindir
das mais amplas informações, vindas, se necessário, de ciências não-jurídicas. Se o legisladoc
não prescinde delas quando do desenvolvimento e efetivação das normas constitucionais
250
Uma política pública adequadamente construída contempla não s6 o problema, a diagnose
no âmbito de sua função, não pode o julgador ignora-las, submetido que está à reserva de
e as alternativas de solução; mas também - se não principalmente - os resultados
consistência" (MORO.Jurisdição constitucional como democracia, p. 223).
pretendidos consignados na sua relação com um cenário de tempo, e ainda os indicadores
253 Essa nova aproximação em relação ao tema do processo, em si, parece não consubstánciar
que perrniffim a mensuração e avaliação desses mesmos resultados,
251 É é: igualmente dificuldade maior,. na medida em que também nesse ramo do direito as
ertci qu� .; �Nação t6pica pode se revelar sufideiittc!':·-e,ou m·esmo indÍspensável - à
pre6cü'p'iições se voltam no sentido da efetividade-da prestãção jurisdicional como o objetivo
superação de uma omissão que esteja a implicar em risco ao direito à vida, ou outros
maior, determinando igualmente uma nova postura de parte do m,igistraé:lo.
compromissos constitucionais igualmente relevantes, na sua projeção na esfera individual 4
25 Para maiores detalhes das decisões indicadas, remete-se à leitura do texto já citado: DIXON.
de direitos. Mas se o que se cogita é de controle de políticas públicas propriamente, é de se
Creating dialogue about socioeconomic rights: strong-form versus weak-forma judicial
ter clareza que a decisão meramente reativa, pontual, em nada o realiza.
review revisited. lnternationa/ Journal of Constitutional Law.
r
1_.í

156 Vanice Regi.,a Lírio do Valle
j 1157
Políticas públicas, direitos fundamentais e controle judicial

em relação à sua implementação, no campo da tutela de considerada, ou na sua interação com o Legislativo e ainda a
direitos fundamentais - cite-se a decisão (ratificada pela Corte sociedade civil) a política pública existente, restará vinculativa
Constitucional canadense) Doucet-Boudreau vs. Nova Scotia essa decisão, parametrizando assim a ação jurisdicional, que
(Minister ofEducation) [2003] 3 S.C.R. 3, 2003 SCC 62, que consagrou deixa de se constituir em intervenção sujeita a críticas quanto
a possibilidade, nos termos da Carta de Direitos, do exercício à sua legitimidade, e passa a se caracterizar como sin:i.ples
da chamada jurisdição supervisora, 255 que opera justamente coerção ao cumprimento, por parte do Poder Público, daqueles
a partir da lógica de que seja de se reconhecer ao Judiciário a compromissos que ela mesma se traçou.
possibilidade de um acompanhamento dialógico da execução da Exemplo de viveiro desse tipo de situação, é aquela
decisão atinente aos contornos dos deveres de agir do Estado, examinada no REsp n2 493.811, 2'!. Turma do Superior Tribunal
tendo em conta a dimensão objetiva de um direito fundamental de Justiça, Relatora a Min. Eliana Calmon, julgado em 11.11.2003,
discutido. Fato é que os desafios de efetivação provocam um citado no Capítulo 3 acima. No mencionado precedente, tinha­
exercício criativo, que há de se desenvolver, transpassando várias
1
se a já criação por parte do MurJcípio de Santos, de programa
áreas do conhecimento. destinado ao auxúio, orientação e tratamento de alcoólatras e

i
A teorização das novas ferramentas processuais de garantia toxicómanos, tudo nos termos de deliberação do seu Conselho
de direitos fundamentais é de construir-se por agregação, sem
l
Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente. Tal programa,
medo de recon..½.ecer as insuficiências da elaboração teórica, e
todavia, não se vLn.lia desenvolvendo, conforme apurado pelo
menos ainda, sem buscar nelas o fundamento para a negativa de
Ministério Público, por via do competente inquérito civil, à conta
efetividade ao controle.
do não provimento, nos instrumentos orçamentários próprios, dos
recursos necessários à sua implementação.
4.4 Política pública existente: exigibilidade O conteúdo da decisão em sede do S1J se prendeu
jurisdicional de
i justamente ao elemento de auto-vinculação que é de exsurgir

'1
auto-vinculação da
Administração d; deliberação havida, pela instância própria da Administração,
Mas nem só da ausência absoluta de política pública poderá em relação à política pública a se desenvolver na matéria; auto­
vir a se ocupar o Judiciário; é possível que a hipótese submetida vinculação essa que haveria necessariamente de compreender
à apreciação jurisdicional tenha· sido objeto, concretamen aos vários órgãos e estrutura da Administração, que não podem
te,
de uma polfüca pública formalmente enunciada, oferecendo ver neutralizadas suas decisões quanto às ações legitimamente
a
1 Administração, em resposta à indagação do juízo, " ... aquele
motivos e parâmetros de ação que devem estar necessariamente.
s construídas, pelo argumento da insuficiência de recursos.257 Não
se está com isso afastando a necessidade da intervenção que
presentes na sua formulação e execução." 256
A solução do problema dos limites e possibilidades _ , 1 ,)!',- voto condutor do acórdão evidencia a circunstância de que o moderno direito administrativo
257 O
já conta com respaldo constitucional suficiente a fazer exigir - não só o cumprimento dos
do controle jurisdicional das políticas públicas a,qui se · ·:J..j ·':,:t{ de veres originários da Carta de Outubro - a assunção entre os órgãos da adrrúnistração,
te�, a
rigor; em muito facilitada. Afinal, na medida em que, . de uma postura de parceria, " ... e dessa forma ser compelido, ou compelir os seus parceiros
definida .,· ·\'tt a cumprir os programas traçados conjuntamente". A conclusão é importantíssima, porque
que fora, pela própria Administração Pública (isola
damente i''\ abre oportunidade para a superação jurisdicional de uma patologia que é própria da
, {( gestão pública brasileira, qual seja, uma espécie de uma "instância informal" de revisão das
ó g os de gestão orçamentária,
· -: . 0�,_/ ...
�.�,;:;'-9-fl\t�a.çõ_e��ti.t,_�nt;,s _a, p_oIftiç}s·B0�lb�f,1;jS::;;::1}2.ª�, ��� _ : � . _
-.. -: .:�,.;�-::·_:..;...:,::;··:=·.·--,,· ;.-:-_: . ..;� -.· •; .�., - .- · .·.� •. -- ·- �'-?-''
"" ROACH. Principie remedia] discretion under

·i'J
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_ .
·· ·que atraves da figura do conup.gencirnento ·'de recürsos;-,pura:.i'! sunplesmente bloqueiam.
- � ·-"

the Charter. Supreme Court Law Reuiew, . \ ··


,; MOREIRA NETO. Novos horizon
tes para o direito administrativo pelo controle das política · _,\ ·
1·f{ as possibilidades de concretização de· deliberações de outras ··estruturas da administração'
6

públicas. Revista de Direito do Estado. s


pública.

1.\
'

1581
v�,� ,..,. ,= ® v=
Políticas públicas, direitos fundamentais e contro_le judicial \ 159

. ----,� ...compatibiliza programas de ação à realidade orçamentária;258 mas


�- Operar, portanto, em matéria de controle jurisdicio
nal,

to da obriga ção de
0 que se diz é que o juízo político em relação à política pública na perspe ctiva da indução ao cumprimen
to-vinculação que delas
traçada p or qualquer dos setores da Administração, não pode enunc iação das políticas públicas, e na au
vel que opera
admitir re co nfigura ção manu mílítari, sob pena de, descartando necessariamente há de decorrer, é caminho possí
o o coloca n o centro
a auto-vinculação, afirmar uma espécie de hierarquia e ntre as com conceitos familiares a o Judiciário, e nã
r vela funcionalmente
es truturas descentralizadas, em que prevalecerá sempre - por de uma atuação para a qual ele não se e

adequado , qual seja, a formulação e259 m si das políticas públicas .


inspiraç ões econômicas ou não - a deliberação de um determinado
efinição de planos
se gmen to ; n ormalmente, aquele incumbido da gestão fiscal. Afinal, já advertia Chaqu és Bon afont que a d
ficaz é tarefa que há
Observe'...se qu e o re conhecimento de que a formulação de atua ção para alcançar políticas mais e es
xtualização - e
em si de uma p olítica pública determina par a a Admin istração de se desenvolver tendo e m conta sua conte
das restrições e
u ma aut o-vinculação jurisdi cionalmen te exigível, retro-a lime nta portant o, a partir do conhecimento também,
a a concretização de uma política
por su a ve z a importância e utilidade da eve ntual persecução oportunidades não-jurídicas par
jurisdicional dessa mesma obrigação - de formulação expressa pública específica .
, a
da política pública a se desenvolver. Isso porque, quanto mais Essa estratégia de condução do tema tende, igualme nte
o esforço de
se te nha de e nun cia ção e xplícita des ses p arâmetros de ação, deflagrar um cfrculo virtuoso, em que a repetição d
m ais se tem de auto-vinculação, e po rtanto, maior o espe ctro construção e ape rfeiçoame nto das
políticas públicas se põe como
que hoje se
de co ntrole do poder , cada qual atua ndo, todavia, na respe ctiva prátic a pe da gógica, superadora das deficiências de
esfer a de esp eciali za ção fun cional, sem substituição ou des carte ressente a Administração.
s que até
constituc ionalmente inautorizado. Em verdade, o que parece exsurgir das observaçõe
Mais: se existe uma política pública enun ciada, com aqui se pôde formular, é que o prob
lema da sindicabilidade das
r propriamente
se us eleme ntos de terminantes co nhecido s, e apta a gerar auto­ políticas pú blicas pelo Judiciário não está a envolve
vinc ula ção , a sua descontinuação passa a exigir, do ponto de uma ausên cia de expertise; o que
se tem é que a expertise a sei
vel na m atéria
vis ta de legitimidade, um ôn us argumen tativo muito maior - aplica da na hipótese não é a técnico-científica exigí
abrin do-se oportun idade ao controle ju dicial da proporcionalidade em discussão, mas sim aquela que
é própria da funçã jurisdicional,
o
aos conflit os
da opção que interrompe uma determinada linha de ação, para qual seja, a de busca de um crit ério jurídico de solução
d efla grar uma outra (totalme nte igual, ou inteiramente diferente, tituci onais .
de interesse, observados os parâmetros cons
não importa), sempre com perda, se não de r ecursos, ao menos de
tempo e de energia, seja para descontinuar os esforços que já se
desen volviam, seja para supera r a inércia que sempre compromete as escolhas
4.5 Política pública existente e novlisad
novas inicia tivas. públicas: Judiciário como cata or das
mudanças de agenda
8
25 Explicita-se que a autora não comunga da tese, por alguns defendidas, de que o
contingenciamento de recur;sos, como instrumento de gestão orçamentária deva ser vedado.
Sustentou-se, ao longo desse trabalho, o imperativo de, a
Afinal, não se pode deixar de ter em conta que o orçamento se constrói a panir de previsões partir de uma noção inicial de políticas públicas, identificarem-se
de ingressos e gastos - que podem não se configurar como originalmente antevisto,
exigindo ajustes que no mais das vezes, na rotina da gestão financeira, se dão pela via do elementos que po�sam c.011.�ribu ir para o ap rimoram ento de um
exer c ício- de controle juris dic io nal desse -mesmÔ _fenôme no. Essa
�. � contingencirnento. O que está a merecer maior reflexão --:-- pel? SJ,'!e, ipP,.liC'!, d.<ê h<';i:itraHza:�':l.
do juízo técniCO"políticõ"'éfut,reend[do pê]ã estrutura administra'.tiva ·esj:lécià!izacfa; e àmda
de desconsideração ao princípio democrático envolvido na aprovação do orçamento pelo
Legislativo - é o contingenciamento irnotivado, que não se associa a qualquer dado 2
concreto da execução orçamentária em si. 59 CHAQUÉS BONAFONT Redes de políticas públicas, p. 9.
160 / Vanice Regina Lúio do Valle Poh1icas públicas, direicos fundamentais e controle judicial J 161

incorporação teórica, por sua vez, aprofundará as diferenças entre .' política pública; já a inquietude - que é própria do convívio social
a ação de controle que tenha por objeto a uma política pública - estará sempre a sugerir reflexões e avaliações re-ratificadoras
propriamente dita, e aquela cujo propósito seja a tutela do reflexo, da deliberação original pela a4oção daquele programa normativo
na esfera de direito individual, de um compromisso constitucional de ação. Nesse sentido, será da maior relevância a identificação

1
1 que se suponha revestido de densidade normativa suficiente a do verdadeiro conteúdo do agir jurisdicional quando se tenha
f
l
. !
determinar urna ação estatal que, em concreto, não se verificou em conta o controle de um determinado direito fundamental, ao
em favor daquele cidadão. qual seria de corresponder, em princípio, uma política pública
A distinção entre essas duas espécies de atuação jurisdicional, consistente e apta a gerar a sua proteção, como manifestação da

1
como se apontou no subtítulo 4.2 ac4.na, tem suas implicações em subordinação do poder à dimensão objetiva.
relação à identificação do caminho de construção da decisão que A investigação jurisdicional pode apontar diversos fenômenos,
se possa reputar legítimo; mas ela guarda ainda uma outra utilidade e cada qual deles determinar, como se veio demonstrando,
não menos relevante do ponto de vista do jogo democrático, como

l
conseqüências estritamente jurídicas, ou ainda de cunho político
se demonstrará. - todas elas relevantes ao adequado funcionamento do poder.
É certo que a carga valorativa da constituição, além de Assim é que uma atuação jurisdicional desenvolvida efetivamente

l
preceitos explícitos de conteúdo assecuratório de direitos, no plano de controle de políticas públicas pode evidenciar uma
determina, quando menos, uma pauta de prioridades que neste situação verdadeiramente patológica sob o prisma dos deveres
te2>.i:O já se denominou heterovinculação das políticas públicas. Não constitucionais de agir262 - e isso determinará a necessária correção,
é menos verdade que, em áreas em que o conteúdo propriamente como conseqüência jurídica do sistema de checks and balances.
dito da garantia constitucional não se revele absolutamente Mas o processo de deliberação envolvido nessa prestação
inequívoco, são os mecanismos democráticos de decisão que jurisdicional pode, em vez de apontar um vício, ser a oportunidade
permitirão a " ... acumulação de consensos sucessivos ..." 260 aptos de veiculação de pontos de vista que, embora não se revelem
a parametrizar as estratégias de ação da Administração Pública. aptos a determinar uma ordem judicial de correção, 263 mostrem­
Assim, o detalhamento da agenda de ação do Poder Público se úteis pura e simplesmente a uma mudança na agenda, uma

'
envolve a gestão dos interesses em conflito - postos por ocasião repriorização ou reconfiguração de ações - procedimento que

'
de sua formulação, e ao longo de toda a sua implementação -; será de se desenvolver no campo da função administrativa (ou
já o dissenso em relação a essas mesmas prioridades de ação
mesmo da política).
é uma possibilidade sempre presente, e que contribui para a
De outro lado, o agir jurisdicional provocado pela pretensão
fundamentação dos pactos de convivência e a continuidade das
individual de tutela de direitos fundamentais, se reiterado, estará
políticas públicas. 261
;;,, a evidenciar um deficit de resolutividade da eventual política
A aglutinação de interesses, portanto, é o que permite em
dado momento a formação de consenso quanto a uma determinada 262A par do exemplo mais raro, de uma política pública eventualmente voltada à concretização
de um resultado constitucionalmente vedado, por exemplo; é possível ainda conceber no
'60 FARIA. Poder e legitimidade, p. 111. terreno da patologia, vícios atinentes ao procedimento legitimador da escolha da política
261 É de Calabresi e Bobbitt a advertência de que as escolhas trágicas, pública em desenvolvimento - especialmente, quando essa escolha importa (e no mais das
empreendidas pela
sociedade, na alocação de recursos escassos e identificação de seus beneficiários, são vezes, importara'") em opções quanto à aplicação de recursos escassos.
sujeitas a permanente reconformação. Assim, uma escolha que inicialmente parece não 263 U
ma vez mais, consigna-se a importância do diálogo institucional como elemento da
traduzir qualquer contradição moral, com o curso do tempo - por força da mudança dos estrutura constitucional de organização do poder, que pode se revelar instrumental não só à
. __va!0res ·em..tensão ·que originaram, sua.. .PJi.mE:_iJa definição - pode passar a. suscitar :1ov:as . .- ..correçã,Q. dos abusos, mas também à sua prevenção, e ainda - no seu potencial máximo de
.• ,..,.,.El',ficuldades moràis. Na 'éicpress'ão dos·ãfüores/aSc,características \lo desenho
das es2olhas -. ..benef.íçio;-,. : â9 _çle_ s�nyo]";,\();ifflf_Q,;-j,7:uf'l�,F.ersp;;ç�va crítica" const1;;1tiva
_ entre as múltiplas
trágicas é a sua mutabilidade (CALABRESI; BOBBIT. Tragic choices. the conflicts society funções que lntegram o ·e."{ercício de úm-poder, ·(âUe.é.uno, e_ como _tàl, há de se-ber.t�fiçi�t..
confronts in the allocation of tragicaly scarce resources, p. 18). dessa perspectiva holística como oporrurudade de aprimoramento de seu agir.
Po!Jticas públicas, direitos fundamentais e controle judicial j 163
162 J Vanice Regina Lfrio do Valle

pública que naquele segmento se esteja desenvolvendo. Assim, não se pode verificar na academia, onde, supostamente, o
o controle, que se inicia sob a perspectiva da dimensão subjetiva exercício reflexivo há de ser o da busca das soluções, e não o do
dos direitos fundamentais, pode estar a apontar um vício na sua carpir permanente de nossas dificuldades institucionais.
dimensão objetiva. Essa situação, por sua vez, pode estar a sugerir Mais do que isso, a superação do positivismo por um
a provocação do controle jurisdicional da política pública em constitucionalismo compromissório, orientado à dignidade da
abstrato, por intermédio das ações coletivas cabíveis manejadas pessoa, exige a incorporação, na lição de Streck, 264 do paradigma
pelos respectivos legitimados - e os resultados possíveis intersubjetivo, e da abertura de espaço para a discussão dos
adquirem relevância para o campo do direito. conflitos sociais, reencontrando-se o direito e o mundo prático.
Também é possível que, ainda no campo da política, Assim, o exercício da função de controle do poder - notadamente

1
a Administração, advertida para o já mencionado d({ficit de : if daquela que envolve os termos da dimensão objetiva dos direitos

I1
resolutividade, entenda de promover o necessário realinhamento fundamentais - há de guardar essa mesma abertura para a
das políticas públicas em desenvolvimento, de forma a mitigar os facticidade, e isso exigirá a construção de uma relação entre
Judiciário e sociedade, que parte não da desconfiança em relação
conflitos que vêm se relevando em concreto, junto ao Judiciário. ;j, a seus interlocutores, mas da crença de que também as demais
A verdade é que, ainda nas hipóteses em que o quadro
normativo de ação da Administração Pública não se revele objeto instâncias de poder se concebem como a serviço da constituição,
e que o seu papel possa ser, na superação dos eventuais
<::{fr·
da ação, ou ainda que o seja, não se apresente como suscetível .J·r,.·,.

de reproche jurisdicional, a atuação do Poder Judiciário pode se descompassas, mais pedagógico do que corretivo.
·. � ;:g;:

,.,
revelar como um elemento catalisador de mudanças; uma seara Nesse sentido, um esforço de sistematização de um
de articulação entre Administração e a parcela da cidadania que significado jurídico possível do controle jurisdicional de políticas
no processo coletivo de deliberação não tenha alcançado vez ou públicas há de guardar um duplo compromisso: aquele com
voz, tudo de molde a sensibilizar aqueles titulares de subsistemas uma efetividade constitucional que não descure da facticidade
sociais que determinàm o processo de formação da agenda de
ações políticas, que nem sempre se revelam disponíveis a inverter ,�,: if
econômico-social, e ainda o que se volta à consolidação de uma
prática institucional efetivamente democrática, que opere sob a
o seu capital político na liderança de uma mudança de escala . '"f� premissa da ação coordenação dos poderes como garantia máxima

l
:·':'.: filf
de prioridades que não se lhes apresente já consolidada como de seu agir acorde com a moldura constitucional.

f
: 1:
expectativa social.
A prática das relações de colaboração entre os poderes é r'�f

li
ainda recente na realidade brasileira - e por isso, a proposta
desse estilo de agir gera sempre reações de desconfiança; em certa
medida compreensíveis em um cenário nacional diuturnamente
varrido por episódios que contribuem à erosão institucional, e à
evidência, em todas as estruturas funcionais, de desvio e abuso
de poder. Se essa reação de desalento e desconfiança se pode
compreender no plano do discurso leigo �p _. aixonado;·-o mesmo
·iJj
"" STRECK. Verdade e consenso: Constituição, hermenêutica e teorias discursivas: da possibi­
lidade à necessidade de respostas corretas em dlreito, p. 8.
:�
!1,
1
Conclusão

Inútil será o reconhecimento de um dever constitucional


de ação administrativa articulada através de políticas públicas
como caminho de efetividade da dimensão objetiva dos direitos
fundamentais, se essas não se revelarem efetivamente úteis ao
desvelamento, em favor da cidadania, de quais sejam os caminhos
e propósitos do agir do poder. Caminhar, portanto, no sentido
da construção de políticas públicas conhecidas, consistentes,
e democraticamente construídas, é trilhar a rota não só do
desiderato constitucional, mas da emancipação da cidadania,
reconciliando a Administração com o seu propósito original, que
é, através de seu compromisso com os direitos fundamentais,
servir a essa mesma coletividade.
Em tempos de sociedade de risco, em que prevenção
e mediação se apresentam como novos parâmetros a delimitar
os espaços discricionários de decisão, a incorporação real da
consensualidade há de alcançar, não só os eventuais atos de
concretização do agir administrativo, como hoje já se reconhece
possível; mas também o processo de formação de seus parâmetros
de ação, assim entendido como um continuum de análise,
prognóstico, ação, avaliação e aprendizado, a partir do qual
novamente se retorna à ana1ise. É nesse contexto que se apresenta
o tema das políticas públicas, como a enunciação dos caminhos
prev.istgs a ,ess_,�.,CQ]7,(j"7:7:!:.l-l'YJJ :::-:-- , .J2,9_f)SSO, _ çomo virtual campo

"O'C·_. """".w•.
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"'"Y:íãrà!ó'obtistêdrii��tci'cx.:fl'egí-tifffi<lide ���ão; e de exercício do� >:,« :- ,; .
controle nas suas diversas modalidades.

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67
direitos funda mentais
e controle judicial \1
Políticas públicas,

166 J Vanice Regina Lúio do Valle

v rn o co m liberdad
e -já lecionava
r, e go
C ontrole com p
e
ra hipermodema do
od e
Em terreno dinâmico, como o da definição do objeto.· ul orgâ nica da estrUtu
oromi, é
a fó propostas de controle
266 rm a
primário do agir estatal, certamente não é através de qualquer · d hã d se c onstrUir as
pode r, e nesse se nti o o e
dirigismo normativo que se logrará alcançar os resultados o líticas públic
as .
deseja dos. É igualmente equívoca a concepção quase que imperial juri sdi cional de p
de que tudo se resuma a "falta de vontade política ", superável
pelo "ato de co ragem" de alguém que manda - como se a ordem
tives se o c ondão, por si só, de transformaçã o da realida de . Os
problemas são complex os, as va riáveis que sobre eles repe rcutem
são v olátei s , e com isso, adminis tração adapt ativa, na lição de
Guerreiro Ramos265 é uma exigência atual.
É a via de mocrática do exercício dialógíco permanente,
abe rto à c o rreção de erros e rum os do agir da Administração que
permitirá o aprimoramento do papel de cada qual das instituições,
que devem concorre r, de forma solidária, para uma sociedade
mais justa . É importante que, consolida das as conquistas atinentes
ao reconhecimento de que não mais subsistem velhas cate gorias
do Direito Administrativo, inspiradas ainda numa concepção
quase re galíana da autorida de ; não descambe o viver constituição
comprometida com dimensão obje tiva de direitos fundamentais para
um o utro impe rialismo - o da decisão judicial desacompanhada
do exercício dialógico, construtor de possibilida des . Essa
nova prática do agir a dministrativo, construtiva , pedagógica,
compro metida ma is c om os resultados do que c om a forma, que
não abre mão da participação da sociedade e reconhece seu papel
no incremento d o conhecimento, hoje há de inspira r quais quer
mecanismos propostos a seu controle ..
Recepcionar políticas públicas c omo veículo juriqíciza do
do plano de ação estatal é fortalecer uma estrutura que concilia
escolhas públicas como manifestação de go verno , e máxima
abe rtura a o controle . O desafio está em viab ilizar a coexistência
entre a deferência às m encionadas opções administrativas e
o espaço devido reservar à livre atuação de su as instâncias de
avaliação, de modo que possam conviver de forma c onstrutiva
- e nã o concorrerem, numa trilha paralisante :_

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- Objetivos
- - Criação.............................................38
- Conceito.............................................80
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Escolas sinópticas puras ...........40-41, 45
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- Disciplina - - - diagnóstico ....................................45
- - Competição política - - - estratégia
- - Decisões concretas do govemo...... 53 - - - execução
- - Estruturas do regime ....................... 53 - - - problema .......................................45
Direito - - - recursos .........................................45
- Constitucionalização - - - solução
Direito público Ver também Políticas públicas
- Transformações Estado
Direitos fundamentais - Papel
(políticas públicas) - - Setor privado ................................... 63
- Efetividade
- Formas ..........................................54-55 F
- Objetivo Função administrativa
- Políticas públicas instrumentais ........ 57 - Papel 31
Ver também Educação
(Políticas públicas) H
Ver também Políticas públicas Heterovinculações (constituição)
Ver também Políticas públicas - Cláusulas de bloqueio ....................... 62
(Direito) - - Conceito
Ver também Saúde - - Concretização .......... ;; ...................... 62
- - História
E - - - Revolução francesa
Educação (Políticas públicas) - Conceito.............................-................ 62
- Controle - Educaçãci
- Direitos (art. 62 e art. 205 CF) ............ 65 - Identificação
- Estado - Saúde
1S4
j 1185
Vanice Regina Lfrio do Valle
Políticas púbücas, direitos fundamentais e controle judicial

· página p_ágina página


1
i!
página

p - - - sistema (Brasil)..............................51 - Escola americana - - Poliarquia


Paradigma - - Conseqüência .................................. 52 - - Valorização ......................................42
- - Ciência da formação

1
- Conceito..... - - Direiws fundamentais ...................117 - Sistema Único de Saúde �
- - - ciências sociais ..............................39
-Transição - - Distorções........................................ 54 (art. 198 CF) .......................................60
- - - comunicação ................................. 39
Planeja...rnento - - Estado

1
- - - informação genufua ......................39 -Tempo................................................44
- Conceito........................................74-75 - - - papel -Teorias �
- - - psicologia ...................................... 39
Policronia (gestão) - - Funções
il
- - Inteligência do processo ................. 39 -Transporte coletivo

11
- Conceito........................................47-48 - - Heterovinculações .................. 61, 146 - - Gratuidade aos maiores de �1,
- - - decisão "''-'I
- Influência (políticas públicas) .......... AS - - História (antecedentes) ..............51-5 2 65 anos (art. 230 CF) ....................... 60
- - - democracia....................................39
Política - -Tribunais superiores ..............118-140 - Querer coletivo
- - Processo da política ........................ 39
- Judicialização ..................... , ...............97 - Controle - - Equilíbrio .........................................49
- - Contribuição ....................................43
- Modernização - Controle de Políticas públicas (Direito) ,--:�

1
- Escola (pós-guerra) "(.j
- Processo constitucionalidade .........................100 -Ação de controle
- - Características..................................40
- - Ciência............................................. 39 - Controle jurisdicional ................ 97, 100
- - Escolas sinópticas - - Papel................................................73 �
- - Execução - -Ação de controle substitutiva -Ação fiscal responsável.....................81
puras ....................................40-41, 45
- Processo (inteligência) - - - judiciário ..............................142-143 -Ausência
- - - críticas
Políticas públicas - - Áreas técnicas -Auto-vinculação............................88-89
- - Modelos seqüenciais .......................40
- Ação prospectiva - Conceito................................. 69, 74, 91
- - - ausência de expertise ................. 102 - - - etapas ...................................... .40-41
- - Dependência - - Juridicização
- - Condicionamento - Formulação
- - - conceito .........................................44 - Constitucionalização
- - - política competitiva ......................96 - - Uso................................................... 66
- - - normatização.................................44 - - Baixa densidade constitucional ...... 86
- - - política constitucional...................96 - Implementação ................................143
- Ação pública - Dever constitucional ....................89-94
- - Conflito de interesses .................... 114 - Insucesso
- - Métodos - - Enunciação de políticas públicas
- - Deficit democrático do - Judicíalização ............................... .55-56
- - - criação - - - imperatividade

1m
Judiciário .................................99, 101 - - Direito processual
- - Objetivos - - Subsidiariedade
- - Efetividade dos instrumentos - - Judiciário
- - - criação - Elementos
processuais - - - disfuncionalidade........................102
-Avaliação - - Análise e avaliação .......................... 87
- - Eficiência (parâmetro) ..................113 - - - função administrativa ................. 116
- -Tempo - - Formação da agenda.......................87 .4

- - Implementação - - - papel ............................153,159-163 - - Formulação da política


- Característica
- - - pedido de suspensão de - Normatização pública eleita...................................87
- - Desenvolvimento
tutel.a antecipada ......................... 104 - - Dependência - - Reconhecimento do problema .......87
- - Instrumental
- - - ação prospectiva ...........................44
- Ciências sociais..................................59 - - - suspensão de liminar..................105 - Estado
- - - conceito.........................................44
- Classificação constitucional............... 53 - - Orçamento..............................107-109 - - Ciências exatas
- Objetivo
- Conceito .................................36-37, 44, - - Orçamento público - - Dever de agir................................... 72
(inaptidão) .............................109-113 - - Desenvolvimento ............................44 - - Eficiência (art. 70) .....................79, 82
46, 48, 59, 61, 67, - Paradigma
69, 74, 91,154 - - Risco - - - conceito.........................................80
- Plano ideal - - Papel................................................70
- - Ciência juríclica ................................61 - - Sindicabilidade
jurisdicional................................98-99 - Pluralismo ..........................................42 - - Sistema de ação pública
- - Influência.........................................48

l
- Policronia (gestão)
1
- Concepção (tempo) . - � - identificações (séc. XXI)
- Concretização - Direito ................................................45 t - Estado Democrático de Direito.........69
- Direitos fundamentais <l §
\<l.:<t
- Constitucionalização
- - Agenda de ação..........................61-62 - - Efetividade.,..,....... ................. 145
- - - poder.. ... ....... . ...... ...... : ...... . �.-:.�6i.
- Processo - Judiciário

,;z}i+
,·.f,:
- - Conceito - - Avaliação - - Controle...........................................71
- - Inteligência ......................................42 - - Papel... ...................... ................. ....71
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Vanice Regina !.mo do Valle


l
186 /
1-(,

página página l
i
- Planejamento s
- - Conceito .................................... 74, 94 Saúde
- - Plano externo (ação do poder) ...... 75 - Competências
- - - plano de ação em concreto (art. 200 CF) .......................................64 i
do Estado ................ :......................76 - Conceito (art. 196 CF) .......................63 !
- - - plano decisório - Controle jurisdicional ............... 125-137
- - Plano interno (ação do poder) .......75 - Dever de Estado
- - Resultados - Direito social (art. 62 CF) ................... 64
- Plano de controle ..............................78 - - Densificação
- Programas de ação (art. 196 CF)
- - Dever de planejamento - Gastos (art. 198 CF) ...........................64
- - - conceito .........................................77
- Indústria farmacêutica .......................65
Políticas públicas (existente)
- Políticas públicas
- Administração
- - Definição
- - Auto-vinculação .....................156-159
- Sistema Único de Saúde
- Descontinuação ...............................158
(art. 198 CF) .......................................60
Políticas públicas (inexistentes)
- Tribunal Constitucional
-Ausência
da África do Sul ............................... 155
- - Déficit de expertise ...................... 149
Ver também Direitos fundamentais
- Escolhas públicas
- - Mecanismos democráticos ............ 151
Ver também Políticas públicas
- Investigação ..................................... 150
Ver também Políticas públicas
(Direito)
- Pontos positivos ..............................150
- Tribunal Constitucional da
África do Sul T
- - Direito à Moradia e proteção à Tempo
criança - Importância
- - Direito à saúde - - Direito ............................................. .45
Pluralismo (políticas públicas) Transporte coletivo (políticas
- Debate públicas)
Princípio da eficiência - Gratuidade aos maiores de 65 anos
- Políticas públicas ...............................82 (art. 230 CF).......................................60

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