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Equipe EADCON
Coordenador Editorial William Marlos da Costa
Apresentação
A Ciência Política tem uma proposta para elas. Qual é? Oferecer a você
– futuro profissional – uma perspectiva madura e científica. Não apenas o
“senso comum” de dizer que a situação “a” ou “b” é a melhor, mas elementos
teóricos para problematizar o fazer profissional numa sociedade democrá-
tica. Por meio desse olhar mais acurado, mediado pela Ciência Política,
temos elementos para respeitar os múltiplos olhares e fazeres presentes na
sociedade moderna, que tanto tornam complexo o convívio social.
Convidamos você a fazer esse percurso conosco. Entendemos que essa
construção é introdutória. Não ousamos fazer do espaço dessa disciplina
o “espaço único” de aprendizado sobre a Ciência Política. Ela é apenas
o começo de uma jornada que se concretizará em todas as disciplinas que
abrangem a área social da sua profissão em uma democracia. Aproveite as
indicações dadas durante as aulas, para, de forma responsável, acrescentar
elementos teóricos à sua formação. Bom estudo!
Prof. Gilson Pôrto Jr.
EMENTA
A ciência da política. A política como ciência autônoma. Elementos
de política. Partidos políticos. Política e direito constitucional. Moral e polí-
tica. Concepção de Estado. O Estado e o cidadão. Fundamentos do Estado
moderno. Formas de governo e de Estado. Estado, povo e nação. O Estado
e o direito. Papel histórico do Estado. Conteúdo social e formas de Estado.
Plano de Ensino
OBJETIVOS
• Compreender o fenômeno político no contexto histórico-social, foca-
lizando a organização dos governos e Estados.
• Apresentar as referências da organização política estrutural e suas
instâncias no Estado brasileiro.
• Estabelecer relações entre Ciência Política e Serviço Social.
CONTEÚDO PROGRAMÁTICO
• Conceito de Ciência Política
• Os clássicos da Ciência Política: Maquiavel, Hobbes, Locke,
Montesquieu e Rousseau
• Instituições sociopolíticas
• A democracia: conceitos em construção; formas de governo e de
Estado
• Noções sobre Estado moderno e sua constituição
• Partidos políticos, sistema partidário, eleição e voto
• Ciência Política contemporânea no Brasil
BIBLIOGRAFIA BÁSICA
BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de Teoria do Estado e Ciência Política. 6. ed. São
Paulo: Celso Bastos Editora, 2004.
BONAVIDES, Paulo. Teoria do Estado. 5. ed. São Paulo: Malheiros, 2004.
DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos de Teoria Geral do Estado. 25. ed. São
Paulo: Saraiva, 2005.
BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR
BOBBIO, Norberto. Teoria Geral da Política: a filosofia política e as lições dos
clássicos. Rio de Janeiro: Campus, 2000.
BONAVIDES, Paulo. Teoria do Estado. 5. ed. São Paulo: Malheiros, 2004.
CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito Constitucional e Teoria da Constituição.
7. ed. Coimbra: Almedina, 2003.
CARRAZZA, Roque Antonio. Curso de Direito Constitucional Tributário. 19. ed.
São Paulo: Malheiros, 2003.
CAVALCANTI, João Barbalho Uchoa. Constituição Federal Brasileira (1891).
Brasília: Senado Federal, 2002.
CORRÊA, Darcísio. A Construção da Cidadania: reflexões histórico-políticas.
3. ed. Ijuí: Unijui, 2002.
KELSEN, Hans. Teoria Geral do Direito e do Estado. São Paulo: Martins Fontes,
1995.
______. A democracia. São Paulo: Martins Fontes, 2000.
LEAL, Victor Nunes. Problemas de Direito Público e outros problemas. Brasília:
Ministério da Justiça, 1997.
MIRANDA, Jorge. Teoria do Estado e da Constituição. Rio de Janeiro: Forense,
2002.
MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. São Paulo: Atlas, 2005.
Aula 1
O que é a Ciência Política?
Para que sua compreensão do conteúdo desta aula seja satisfatória, é impor-
tante a realização de leituras sobre o conceito de política. Você poderá encontrar
uma visão detalhada consultando o verbete “política” no Dicionário de Política
(v. 2), de Norberto Bobbio, Nicola Mattteucci e Gianfranco Pasquino, disponível
em bibliotecas públicas. Nesse texto, Bobbio discute várias percepções sobre
política ao longo da história.
Neste momento, você deve estar pensando: “Falar sobre política, partidos,
eleição, voto... isso eu já sei, escuto todos os dias os escândalos que ocorrem
no campo político federal”. Isso é verdadeiro. Mas será que a Ciência Política se
resume a isso? O que é política? O que significa Ciência Política? Qual a impor-
tância da Ciência Política para os nossos dias? Qual a importância da política
para o Assistente Social? Se você parar e refletir um pouco, verá que a política faz
parte de todos os momentos de nossa vida: seja em casa, na rua, no trabalho, onde
quer que esteja. Veremos isso, de forma mais direcionada, em nossa aula.
processo que envolve os valores comunitários. Faz sentido o que se defende, pois
não se pode pensar em política se essa não estiver imbuída de valores comuni-
tários. A política em si não deve existir para o atendimento de interesses particu-
lares, muito embora essa prática seja, ao longo da história, lugar comum.
Em síntese, a Ciência Política estuda os fenômenos do poder. Significa o
estudo do poder ou das relações de poder. Para muitas pessoas, quando se fala
em política, se pensa logo na esfera do Estado e nas formas de governo. Para
autores como Foucault (1926-1984), o poder está em toda parte, em tudo o que
envolve as pessoas, até mesmo entre duas pessoas. Assim, a Ciência Política
busca compreender as relações de poder e suas implicações, entre pessoas,
grupos ou instituições sociais. Para muitos, a Ciência Política seria a ciência do
Estado ou da teoria do Estado. Na verdade, a Ciência Política vai muito mais
além do Estado. Vamos conhecer um pouco dessa história?
possa surgir. Ocorre que a realidade nem sempre corresponde ao que se imagina,
isto é, às idéias. É nesse ponto que os ditadores falham significativamente.
Diferentemente de Platão, Aristóteles não concordava com sua filosofia idea-
lista. Considerava que a realidade concreta, o mundo onde vivemos pode ser
compreendido pela razão. O que torna possível fazer uma análise mais próxima
da realidade. Considerava que “o homem é por natureza um animal político”
(pólis-cidade) que necessita viver em sociedade para sobreviver, “cabendo ao
Estado o papel de possibilitador, isto é, tornar possível o desenvolvimento e a
felicidade do indivíduo” (MAGEE, 2000, p. 38-39).
As idéias de Platão e Aristóteles influenciaram o pensamento teológico da Igreja
Católica, na Idade Média, conforme veremos a seguir, destacando-se, nessa tarefa,
dois pensadores medievais católicos: Santo Agostinho e Tomás de Aquino.
Santo Agostinho, a partir das idéias de Platão, em sua obra A cidade de
Deus, distingue a cidade de Deus da cidade dos homens. A primeira é a cidade
perfeita (correspondência com as essências perfeitas ideais de Platão, fora do
mundo) e a segunda, cidade do pecado e da imperfeição (nosso mundo, da
doxa, imperfeito, segundo Platão). Essa obra consiste numa importante reflexão
sobre o homem no mundo. A influência do pensamento agostiniano marca o cris-
tianismo e toda a cultura européia. Ao comentar sobre o pensamento de Santo
Agostinho, Châtelet (2000, p. 29) afirma que
seu objetivo de [Santo Agostinho] é apresentar uma história geral da
humanidade, desde a criação até o século V, submetendo aos crité-
rios da racionalidade os elementos fornecidos tanto pela história
profana grega e latina como pelo Velho e pelo Novo Testamento.
O fim visado é estabelecer que, além das vicissitudes da Cidade
dos homens, esboça-se um desafio muito mais importante, o da
glória de Deus, que se inscreve no devir espiritual da comunidade
dos crentes, da igreja (grifo do autor).
homens, criados por Deus, exercem suas ações no mundo, construindo a socie-
dade com suas virtudes e defeitos.
Segundo Châtelet (2000, p. 33), para Tomás, a definição de
o bom poder é uma tarefa exclusivamente da razão e, se essa
indica que tal poder deve respeitar as prescrições divinas, esti-
pula também que é preciso levar em conta o direito inscrito na
natureza humana e as vontades da coletividade. É desse modo
que atingirá seu fim, o bem, na medida em que ele é realizável
cá em baixo.
1.4.1 Poder
A política, ciência que discute a maneira como se dá a distribuição, o
exercício e o controle do poder em uma dada sociedade, suscita a necessi-
dade de se definir o que realmente é o poder. No discurso de muitos ocupantes
de cargos públicos, é comum ouvir a expressão de que basta vontade política
para realizar certas transformações. Não é tão simples como se imagina, ou
pelo menos como vendem a questão, certos detentores de mandatos.
Vários pontos de vista podem ser aqui discutidos. Porém adotaremos uma
definição bem ampla de poder: “a capacidade ou possibilidade de agir, de
produzir efeitos desejados sobre indivíduos ou grupos humanos” (ARANHA;
MARTINS, 2005, p. 180).
Essa definição coloca o poder como a relação que se estabelece entre dois
diferentes grupos que polarizam a questão: de um lado, há um grupo que detém
os instrumentos necessários para fazer com que sua vontade seja imposta aos
outros; de outro lado, há o grupo que sofre essa interferência dos detentores de
poder. De forma bem simples, podemos afirmar que o poder é “a relação ou um
conjunto de relações pelas quais indivíduos ou grupos interferem na atividade
de outros indivíduos ou grupos” (ARANHA; MARTINS, 2005, p. 180).
A força é o instrumento pelo qual o poder é exercido. A força permite aos
detentores do poder interferir na atividade dos que se submetem a este poder.
Porém, a força deve ser compreendida de forma bem ampla. Não se trata da
coação física, apesar de essa também ser uma expressão de força. A força é
também, e principalmente, um conjunto de meios utilizados para interferir no
comportamento de outras pessoas.
O poder é uma relação não uma substância. Vamos explicar isso de uma
forma mais clara. Imagine que uma determinada pessoa receba a delegação
de um grupo, para que exerça o poder sobre este grupo. Se essa pessoa tiver a
concepção de que o poder é uma substância, realizará o que bem entender sem
se preocupar com o que os demais pensam. O resultado você já deve imaginar.
Com o passar do tempo, essa pessoa perderá o respeito dos que a escolheram e
com certeza terá suas atribuições retiradas pelo grupo e poderá perder o poder
que detém. Não basta “ter” o poder, é preciso saber conservá-lo. Por outro lado,
se essa mesma pessoa tivesse a concepção de que o poder é uma relação, prova-
velmente procuraria obter o consentimento dos demais no exercício do poder.
Nas sociedades modernas, o Estado é a instituição que detém a primazia sobre
as relações políticas de poder. Do século XVI em diante, o Estado vem se configu-
rando como o detentor do monopólio legítimo da força. É importante compreender
que o Estado não consegue manter o controle político da sociedade sem contar com
o consentimento das pessoas. Não basta, apenas o uso da força, da coação; é
preciso que os indivíduos se convençam de que aquele poder é legítimo.
1.4.2 Estado
O conceito de Estado ocupa, nas reflexões da Ciência Política, uma posição
central. Estudaremos, na aula 5, de forma mais aprofundada, as relações que o
Estado estabelece na e para a sociedade. Para uma grande parcela de autores,
o Estado é o local por excelência do fenômeno político. Analisar e compreender
o que é o Estado e quais conseqüências derivam dessa compreensão é neces-
sário para o bom estudo da política.
Todavia, definir o Estado não é uma tarefa simples. Veja a seguir algumas defi-
nições de Estado que Dallari (2005, p. 117) cita em sua Teoria Geral do Estado:
• Estado é a nação politicamente organizada;
• Estado é a nação juridicamente organizada;
• Estado é a força material irresistível limitada e regulada pelo
direito;
• Estado é a unidade de dominação em que o poder é
institucionalizado.
1.4.3 Ideologia
O termo ideologia, conforme Cotrim (2000) foi criado pelo filósofo francês
Destut de Tracy (1754-1836) e definido como a ciência que estuda a origem e
o desenvolvimento das idéias. Com o passar do tempo, o termo assumiu várias
designações, conforme a corrente filosófica que o usasse.
A concepção mais difundida do termo foi elaborada por Karl Marx, tendo
sido a mais utilizada pelas ciências humanas e sociais. Na concepção de Marx,
a ideologia é um conjunto de idéias que serve para dissimular a realidade, justi-
ficando a visão de mundo, as concepções e valores do grupo social dominante.
Um exemplo que atesta esse caráter é a maneira como as famílias, sem saber,
definem, desde cedo, o papel social do homem e da mulher, privilegiando o
homem nessa relação. Essa ideologia machista se reflete na forma como presen-
teamos nossas crianças: se for um menino, provavelmente receberá uma bola
ou carrinho de brinquedo; se menina, boneca, fogãozinho, maquiagem de brin-
quedo. Esses objetos não são neutros. Sem saber, reforçamos os valores de
uma cultura machista que condena as mulheres ao espaço doméstico privado e
propõe ao homem o mundo fora de casa, espaço público, onde estão concen-
tradas as atividades políticas e onde se exerce o poder.
A ideologia, segundo Marx, seria uma compreensão, uma consciência ilusória
da realidade, por não explicar as contradições existentes e também por servir como
justificativa para a dominação das minorias por parte da classe dominante.
A ideologia não pode ser confundida com mentira. Para as pessoas que estão
sob sua influência, seus valores e sua forma de compreender o mundo são corretas.
Basta ver os comerciais de margarina para perceber o modelo de família que
veiculam. Para a maioria das pessoas, é o modelo adequado: pai provedor, mãe
dedicada ao lar, filhos amorosos, numa bela casa de classe média. É uma visão
ideológica porque é muito provável que esse modelo de família tenha poucas
chances de existir realmente. Basta lembrar que cerca de quarenta milhões de
brasileiros vivem numa situação precária e, do ponto de vista afetivo, conflitos e
desavenças ocorrem nas famílias pertencentes a todos os segmentos sociais.
Antônio Gramsci vê a ideologia de outra maneira. Para ele, a compreensão
do papel da ideologia necessitaria
distinguir entre ideologias historicamente orgânicas, isto é, que são
necessárias a uma determinada estrutura, e ideologias arbitrárias,
racionalistas, “desejadas”. Na medida em que são historicamente
necessárias, as ideologias têm uma validade “psicológica”: elas orga-
nizam as massas humanas, formam o terreno sobre o qual os homens
se movimentam, adquirem consciência de sua posição, lutam, etc.
Estudamos que a política pode ser entendida como tudo aquilo que acon-
tece nas relações sociais que envolvem o poder. É por isso que podemos definir
a Ciência Política como o resultado da relação entre pessoas, uma vez que se
trata de um processo social em que os indivíduos exercem alguma relação de
poder com os demais. A Ciência Política busca compreender as relações de
poder e suas implicações seja entre pessoas ou grupos e instituições sociais.
Vimos também que o poder pode ser entendido, de forma ampla, como a capa-
cidade ou possibilidade de agir, de produzir efeitos desejados sobre indivíduos
ou grupos humanos e que, para haver Estado, é necessária uma nação politica-
mente organizada; uma nação juridicamente organizada; uma força material
irresistível limitada e regulada pelo direito e uma unidade de dominação em que
o poder é institucionalizado. Também vimos que, para a existência do Estado, é
necessária a criação de uma ideologia, isto é, um conjunto de idéias que serve
para dissimular a realidade, justificando a visão de mundo, as concepções e
valores do grupo social dominante.
Anotações
Aula 2
Os clássicos da política
2.1 Maquiavel
Maquiavel (1649-1527) foi, sem dúvida, influenciado pelo espírito renas-
centista de sua época, pela racionalidade de sua análise sobre política e pela
crítica contundente à influência da religião na ética e no processo de conheci-
mento humano. O período desse importante pensador da política, considerado
2.2 Hobbes
Thomas Hobbes (1588-1679), matemático, teórico político e filósofo inglês,
escreveu uma obra que está relacionada ao Estado absolutista, intitulada Leviatã
ou matéria, forma e poder de um Estado eclesiástico e civil. Nessa obra, Hobbes
desenvolve sua defesa ao absolutismo, relacionando o Estado a uma grande
figura mitológica chamada de Leviatã. Ele justifica a existência do Estado abso-
lutista por compreender que o homem, em seu estado de natureza, é selvagem
e instintivo, de modo que necessita de uma instituição superior como o Estado,
para conter os ânimos e permitir o equilíbrio social.
Nesse sentido, Ribeiro (2006, p. 55) aponta o problema da defesa de
Hobbes, afirmando que
o que causou maior irritação contra Hobbes é que ele não
afirma que os homens são absolutamente iguais, mas que são
“tão iguais que...”: iguais o bastante para que nenhum possa
triunfar de maneira total sobre o outro. Todo homem é opaco aos
olhos de seu semelhante – eu não sei o que o outro deseja, e por
isso tenho que fazer uma suposição de qual será a sua atitude
mais prudente, mais razoável. Como ele também não sabe o que
quero, também é forçado a supor o que farei. Dessas suposições
recíprocas decorre que geralmente o mais razoável para cada
um é atacar o outro, ou para vencê-lo, ou simplesmente para
evitar um ataque possível: assim a guerra se generaliza entre os
homens. Por isso, se não há um Estado controlando e reprimindo,
fazer a guerra contra os outros é a atitude mais racional que eu
possa adotar (grifos do autor).
2.3 Locke
John Locke (1632-1704), médico e professor da Universidade de Oxford,
foi um dos principais teóricos do liberalismo inglês. Suas idéias influenciaram
a Revolução Inglesa ou Revolução Gloriosa (1688), a Revolução Americana
(1776) e, segundo alguns, a Revolução Francesa (1789).
O contexto político da época é o liberalismo instaurado na Inglaterra por
meio da Revolução Puritana (1649-1660), sob o protetorado de Oliver Cromwell.
É importante entender que, nesse período, apoiado pelo exército e pela burguesia
puritana, Cromwell transformou a Inglaterra numa potência naval e comercial.
Porém, com sua morte, começou-se um processo de restauração (1660-1688),
gerando mais conflitos entre o parlamento e a coroa. Esses conflitos terminam
quando, em 1688, Guilherme de Orange, chefe de Estado da Holanda, depõe
seu genro, Jaime II. Assim, Guilherme de Orange passa a representar a coroa
inglesa, aceito e empossado pelo parlamento. Com a aprovação do Bill of Rights
(1689), o parlamento inglês teve a supremacia legal sobre a realeza. Isso sujeitou
a monarquia ao poder decisório do parlamento.
2.4 Montesquieu
A Idade Moderna (a partir de meados do séc. XVII em diante) foi marcada
por grandes transformações econômicas, sociais, culturais e políticas, entre as
2.5 Rousseau
Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) foi outro importante teórico contratua
lista, isto é, percebia o Estado como fruto de um contrato social. As idéias desse
pensador se diferem das de Hobbes e Locke em alguns aspectos. Não era favo-
rável a um Estado absolutista, como defendia Hobbes, bem como não concebia a
idéia de que o homem, em seu estado de natureza, é mau e instintivo. Rousseau
tinha uma concepção diferente da Escola do Direito natural, pois para ele os
homens, em seu estado de natureza, são iguais, livres, perfeitos e felizes, tornan-
do-se maus porque a sociedade os corrompeu. Assim, o Estado passa a ser o
meio que possibilita o ser humano à volta ao estado natural, a partir da consti-
tuição do contrato social.
A concepção de Estado em Rousseau, apesar de ser também um contratua
lista, difere das concepções de Hobbes, que defende um Estado absolutista, e
de Locke, que defende um Estado liberal. Para Rousseau, o Estado não significa
uma instituição voltada somente para os interesses de poucos. Ele defende a
participação ampla da sociedade e é considerado um precursor dos princípios
básicos do regime democrático da modernidade.
Rousseau escreve sobre o contrato social e critica as desigualdades presentes
no sistema. Châtelet (2000, p. 71) lembra que
Rousseau percebe originariamente duas espécies de desigual-
dade: a primeira, natural ou física, devida à diferença de
idade, de saúde, da força corporal ou das qualidades do espí-
rito, em nada lhe interessa, já que não poderia fundar nenhuma
organização social; a segunda, moral ou política, parece esta-
belecida com o consentimento dos homens, após uma espécie
de convenção, e é a única que merece ter sua origem e seu
processo descritos.
1. Leia as assertivas.
Você sabe o que são instituições políticas? Fácil! São os partidos políticos, os
governos e todo o mais. Errado! Parece ser muito fácil, mas o conceito envolve
mais elementos. Você sabia que pode incluir, de forma ampliada, a noção de
interação humana? Vamos conhecer um pouco mais sobre esse assunto!
Aula 3
Instituições sociopolíticas:
elementos do Estado moderno
3.4 Nação
Nação, conforme expresso por Rossolillo (2000, p. 798),
é concebida como um grupo de pessoas unidas por laços naturais
e portanto eternos – ou pelo menos existentes ab immemorabili – e
que, por causa destes laços, torna-se a base necessária para a
organização do poder sob a forma de Estado nacional.
Estudamos que as instituições políticas são muito mais do que apenas estru-
turas visíveis, tais como governos e partidos. Elas incorporam a própria essência
de vida coletiva, já que o conceito de política pode incluir, de forma ampliada, a
1. Entreviste pelo menos 5 (cinco) pessoas e peça que elas dêem uma definição
de povo e nação. Com o resultado das entrevistas em mãos, estabeleça uma
comparação com os conceitos abordados nesta aula.
nado Estado, mas como uma nacionalidade que pertence a outro país. As alter-
nativas (c) e (d) estão erradas, pois os conceitos de jus naturalis (direito natural)
e jus perpetuum (direito perpétuo), apesar de manterem relação com a temática,
não se aplicam ao contexto que estudamos.
BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de Teoria do Estado e Ciência Política. 6. ed. São
Paulo: Celso Bastos Editora, 2004.
BOBBIO, Norberto. Estado, governo e sociedade: para uma teoria geral da polí-
tica. 12. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2005.
ROLAND, Débora da Silva. A dimensão humana do Estado: o povo. Disponível
em: <http://www1.jus.com.br/doutrina/texto.asp?id=5767>. Acesso em: 27
jun. 2005.
ROSSOLILLO, F. Nação. In: BOBBIO, N. et al. Dicionário de Política. Brasília:
EDUnB, 2000.
Anotações
Aula 4
A democracia: ontem e hoje
Para que sua compreensão do conteúdo desta aula seja satisfatória, é impor-
tante a leitura do artigo de Renato R. Boschi, intitulado Instituições políticas,
reformas estruturais e cidadania: dilemas da democracia no Brasil, disponível no
sítio <http://observatorio.iuperj.br/pdfs/4_artigos_TextodoRenatoBoschi.pdf>.
Nesse texto, Boschi discute a estabilidade da democracia no Brasil, assunto que
subsidiará esta aula.
Você sabe o que é democracia? Parece fácil, pois basta dizer que é o
governo do povo, pelo povo e para o povo. Mas não é tão simples assim. Quem
é o povo que pode exercer esse poder de decisão? Garantir de direito que
alguém possa exercer o poder é garantir de fato o pleno exercício? A demo-
cracia permite exclusão? Essas questões, presentes no exercício democrático,
serão discutidas em nossa aula.
4.2.1 Monocracia
É o modelo de governo em que o poder está nas mãos de uma só pessoa.
O exemplo mais comum é a monarquia absoluta, em que existe um monarca ou
rei, que detém todo o poder estatal, monopolizando-o de tal maneira que sua
vontade se sobrepõe a qualquer outro órgão público. Seu maior expoente foi
Luis XIV, na França. A distorção desse modelo se dá por meio da ditadura que
será objeto de estudo nas formas de governo impuras.
4.2.2 Aristocracia
É o governo formado por diversas pessoas pertencentes a um mesmo grupo
social que detém o poder. Esse grupo é formado pela elite governante. Esse
modelo não fere os princípios da democracia, podendo coexistir com ela,
conforme veremos mais adiante. Sua forma impura é a oligarquia, segundo a
classificação de Aristóteles.
4.2.3 Democracia
Esta é a forma de governo em que o próprio povo exerce o poder. O modelo
clássico de democracia direta foi muito utilizado na Grécia Antiga, nas cidades-
estado gregas. Com o aumento da população e dos Estados, a participação
direta do povo nas decisões foi se tornando cada vez mais difícil, surgindo um
novo modelo de democracia, uma vez que o povo, reunido em grandes grupos,
não conseguia tomar decisões de forma sensata e satisfatória. Diante disso,
podemos dividir a democracia, para fins didáticos, em três formas distintas de seu
exercício: democracia direta, democracia semi-direta e democracia indireta.
4.3.1 Tirania
Na tirania, o poder é exercido por uma só pessoa, de forma totalitária, inde-
pendentemente dos anseios do povo. Normalmente, tem características hereditá-
rias, ou seja, passa de pai para filho, sendo um governo autoritário, apesar de
o tirano, às vezes, tomar decisões que vão ao encontro dos anseios populares.
Tem características meramente manipuladoras, com a finalidade de acalmar os
ânimos e garantir a sua permanência no poder. A tirania representa uma forma
de corrupção da monocracia.
4.3.2 Oligarquia
A oligarquia ocorre quando o governo é exercido por um grupo fechado de
pessoas, em detrimento do restante da população. Busca satisfazer os interesses
da minoria que detém o poder, excluindo a maioria do povo. É uma forma detur-
pada da aristocracia.
4.3.3 Demagogia
A demagogia é a forma corrupta da democracia. Nela, o poder emana
do povo, mas o povo está influenciado por interesses outros que não o bem da
coletividade. Nesse caso, o povo faz valer sua vontade por meio da força e
contrariando os princípios democráticos.
4.3.4 Ditadura
Esta forma de governo pode ser entendida de duas maneiras. Seria o
governo de um só, de um grupo de pessoas ou de partido que toma o poder,
normalmente por meio de um golpe de estado, e passa a exercer o poder de
forma autoritária e sem limites. Também pode-se entender a ditadura “como
uma forma de exercício temporário de poder político, em que o titular pode ser
uma pessoa ou um colegiado, que através da concentração de atribuições pré-
fixadas buscam exterminar algum mal público” (BASTOS, 2004, p. 142). Nessa
forma de governo, há uma supressão das liberdades e das garantias individuais,
bem como uma centralização exacerbada do poder do Executivo, tornando os
outros poderes extremamente dependentes dele.
constituídos por treze estados, entre os quais, um novo Estado exerce poder sobre
os demais. Isso resulta em uma soberania compartilhada, de modo que todos
passam a ter uma posição de igualdade diante do novo Estado, regidos por uma
constituição e com uma organização baseada em três poderes: o Executivo, o
Legislativo e o Judiciário.
Esse novo Estado não ficou com poderes absolutos, uma vez que cada
Estado-membro possui prerrogativas e competências próprias.
Bastos (2004, p. 224) assevera que, com a criação do modelo federativo,
deu-se lugar a no mínimo dois níveis diferentes de governo: o central e os regio-
nais, que são denominados províncias, Estados, Cantões ou Landers, cada um
suas competências próprias.
É importante ressaltar uma terceira opção, que é a existência dos muni-
cípios, como ocorre no Brasil. Existem no mundo diversos estados federativos
como, por exemplo, o Brasil, a Argentina, o Canadá, os Estados Unidos, o
México, a Bélgica, a Austrália, a Alemanha.
A divisão de poderes constitui-se numa importante inovação do sistema fede-
rativo (DALLARI, 2005). O Estado passa a ter dois patamares de competência,
definidos pela própria Constituição Federal.
Na concepção de Bastos (2004, p. 228), os sistemas federativos apresentam
aspectos positivos: são um instrumento de democratização e realizam o equilí-
brio dos poderes. O sistema de federação não é estático pois sofre alterações
ao longo do tempo, com tendência à centralização do poder. Bastos (2004,
p. 229) acrescenta que
a razão principal disto é a intervenção crescente do Estado no
campo socioeconômico. Quem, por excelência, tem condições
para intervir no domínio econômico é a União, já que em suas
mãos se encontram as alavancas principais da economia.
4.5.1 Parlamentarismo
Nesse sistema, o Parlamento divide a gestão do Estado com o Executivo,
havendo uma equiparação de forças e divisão de poderes entre o chefe de
Estado e o chefe de Governo.
Assim como em todas as evoluções históricas, o parlamento não surgiu de
imediato.
Os monarcas passaram a delegar tarefas aos seus assessores, aumentando
seus poderes e, conseqüentemente, consolidando a força e a importância do
parlamento. Nessa época, surgiram também os primeiros partidos políticos, e
o rei começou a chamar o partido dominante para integrar o seu governo,
constituindo-se isso um traço importante do Parlamentarismo.
É imprescindível que haja uma perfeita sintonia entre o chefe de governo e o
Parlamento. Essa situação se consolida com o convite do líder do partido vitorioso.
Se esse partido perder sua posição de partido com maior representatividade, seu
líder fica obrigado a solicitar sua demissão do cargo de líder de governo.
O parlamentarismo pode existir tantos nos países que adotam a monarquia
quanto nos republicanos, sendo que nestes o chefe de Estado é o Presidente. Um
exemplo de parlamentarismo monárquico é a Inglaterra, e de parlamentarismo
republicano é a França.
Havendo a destituição do Governo pela perda de maioria, ou pelo voto de
desconfiança, o chefe de Estado dissolve o parlamento e convoca eleições para
que o povo, de forma democrática, consolide a nova maioria e eleja o novo
governo. Pode, ainda, o chefe de Estado formar o governo com base na nova
maioria, mas é mais comum a primeira alternativa.
A base do sistema parlamentarista consiste na subordinação do governo à
vontade do Parlamento. Esse sistema possui algumas características fundamen-
tais. Bastos (2004, p. 197-198) demonstra que
4.5.2 Presidencialismo
Nesse sistema de governo, ao contrário do parlamentarismo, não há qual-
quer forma de subordinação do poder executivo ao legislativo. O presidente da
República possui total autonomia no exercício de suas funções constitucional-
mente definidas, assessorado por ministros de Estado, indicados por ele e de sua
total confiança e responsabilidade.
O Presidente acumula as duas funções, a de Chefe de Governo e Chefe de
Estado. Surgiu nos Estados Unidos, em 1787. Suas bases mantêm-se pratica-
mente inalteradas desde aquela época. Os Estados Unidos da América são uma
das mais bem sucedidas nações que adotam esse sistema de governo, que seria
a forma mais prática da teoria da separação dos poderes de Montesquieu. Os
poderes seriam totalmente independentes, mas exerceriam o controle entre eles
de forma a evitar abusos.
Assim como no sistema parlamentarista, existem algumas características
que definem o presidencialismo. A principal delas é a não-responsabilidade
do presidente diante do Parlamento, que consiste no fato de o presidente não
precisar do apoio do Parlamento para manter-se no poder, que tem origem na
eleição popular e lhe confere o mandato de quatro anos, independentemente da
vontade do Legislativo. Cabe a esse, única e exclusivamente, julgar o presidente
por crimes de responsabilidade, por meio de processo complexo, somente utili-
zado em casos específicos em que haja abusos da parte do presidente a atos
contrários à Constituição.
Não há, portanto, na realidade, uma total independência, uma vez que,
para a efetiva administração da coisa pública, é imprescindível um bom relacio-
namento entre o Legislativo e o Executivo.
Em suma, a diferenciação entre o presidencialismo e o parlamentarismo
consiste na posição que o Parlamento exerce na administração do bem público.
No Parlamentarismo, o Parlamento tem uma atuação maior na gestão do Estado.
Essas duas são as formas de governo mais utilizadas.
forma autoritária e sem limites. Estudamos as formas de Estado que podem ser
divididas em dois tipos: Estado unitário (o poder está centralizado em um único
pólo) e Estado composto (união de dois ou mais Estados, em que, portanto, há
mais de uma manifestação do poder público, estando todos eles submetidos a
um regime especial).
Por último, estudamos os dois sistemas de governo: o presidencialismo, em
que o Presidente acumula as duas funções, a de Chefe de Governo e a de Chefe
de Estado, e o parlamentarismo, em que o Parlamento divide a gestão do Estado
com o Executivo, havendo uma equiparação de forças e divisão de poderes
entre o Chefe de Estado e o Chefe de Governo.
Anotações
Aula 5
Noções sobre o Estado
5.1.3 O socialismo
O termo socialismo está associado à idéia de igualdade para todos.
Esse pensamento se desenvolveu a partir dos problemas sociais e econômicos
evidenciados na sociedade. Na esteira da Revolução Industrial e da Revolução
Francesa, crescem os conflitos e as idéias diversas sobre a melhor forma de
organização da sociedade. O liberalismo tenta esconder os males provocados
pela industrialização e pela concentração de riquezas, cujas conseqüências são
o aumento da pobreza e da miséria.
Concomitantemente ao prevalecimento das teorias liberais, a Revolução
Industrial, com todas as profundas mudanças por ela operadas nas relações
econômicas, leva a um quadro de exploração do proletariado, transformando
homens em máquinas de trabalho e produção, em terríveis condições de vida.
Nesse quadro, fortalece-se o socialismo utópico, que se constitui num protesto
contra a sociedade dividida entre possuidores dos meios de produção e traba-
lhadores semi-escravizados.
O termo socialismo utópico se refere a um tipo de socialismo que na prática
é impossível de ocorrer, a não ser com ações isoladas de solidariedade. Foi
a partir de Karl Marx que esse termo passou a ser utilizado, até mesmo para
diferenciá-lo do socialismo real.
No século XIX, as manifestações em favor de uma sociedade justa passaram
a ser comuns. Pela primeira vez, já no período inicial da Revolução Industrial e
com a consolidação do capitalismo, as idéias socialistas tornam-se preocupação
dos capitalistas. Inicialmente, como vimos, essas idéias são chamadas de
utópicas, pois os seus protagonistas imaginavam que a riqueza seria distribuída
pelo poder vigente para a população mais pobre.
Posteriormente, esse socialismo passa a ser reinterpretado, assumindo a idéia
de um socialismo científico. Esse foi elaborado por Karl Marx (1818-1883) e
Friedrich Engels (1820-1895) que tinham em comum com os socialistas utópicos
5.1.4 O anarquismo
Certamente você já deve ter ouvido falar no termo anarquismo. Para muitas
pessoas, não passa de algo relacionado a bagunça ou desordem. Você mesmo,
em algum momento de sua vida, provavelmente já deve até ter mencionado essa
palavra, quando, por exemplo, em sala de aula ou com um grupo de amigos,
todos falavam ao mesmo tempo e ninguém se entendia. Daí a expressão: isso é
uma anarquia.
O anarquismo concebe o Estado como nocivo e desnecessário, propondo
formas alternativas de organização voluntária. Conforme Aranha e Martins
(1993), embora a tese anarquista negue o Estado, isso não significa que as
pessoas devam pensar se tratar de uma proposta individualista, uma vez que a
organização alternativa almejada pelos anarquistas, funda-se na cooperação e
na aceitação da comunidade.
O anarquismo nasceu em oposição à proposta do Estado burguês. Os
defensores do anarquismo rejeitam toda ordem burguesa, por considerá-la falsa,
danosa e perversa, contraria aos direitos naturais e à própria vida.
Os principais representantes do anarquismo são Proudhon (1809-1865)
e Bakunin (1814-1876), contemporâneos de Marx, com quem partilhavam as
5.2.1 No liberalismo
A essência do pensamento liberal ou liberalismo é a limitação do poder do
Estado, na ordem política e na ordem econômica. Na compreensão dos liberais,
o poder não pode ser absoluto, ou seja, existem limites à sua atuação. O Estado
tem poderes e funções limitados. Essa limitação dos poderes e das funções esta-
tais se desdobra em dois aspectos que precisam ser distinguidos.
O primeiro diz respeito à distribuição dos poderes entre órgãos políticos
diversos, com o objetivo de impedir o abuso e o excesso de poder, protegendo
a sociedade de danos ao regime de liberdades gozado por ela. A esse primeiro
aspecto corresponde a idéia de Estado de Direito, aquele em que as decisões
políticas se tomam com observância das normas, das quais as autoridades não
podem se descuidar.
O segundo refere-se à limitação de atuação do Estado no campo da proprie-
dade privada, revelando-se ilegítima qualquer intromissão no âmbito da livre
disposição das coisas ou dos bens pelos particulares.
O chamado Estado mínimo deve intervir somente para garantir a ordem
pública interna e externa, protegendo os cidadãos de ilegalidades praticadas
por outros, bem como zelando pela estabilidade da pátria no plano das rela-
ções internacionais.
A teoria liberal expressa ideologicamente os interesses do capital privado.
Os pressupostos do liberalismo são formulados e expressos no contexto histórico
(séculos XVII e XVII) das transformações econômicas e sociais da Europa (sobre-
tudo na Inglaterra e na França) e dos Estados Unidos da América. O novo modo
de produção capitalista, na fase histórica de sua formação, será incompatível
com os regimes absolutistas vigentes na Europa, em virtude do absoluto controle
exercido sobre as atividades comerciais e produtivas. Na prática, o liberalismo
está dizendo que o Estado deve atender aos interesses dos proprietários, sem
interferir nas suas atividades comerciais.
Logicamente, irá defender a prioridade dos interesses individuais, em detri-
mento dos interesses coletivos. O indivíduo é considerado na sua capacidade
de autoformação, de desenvolvimento, de progresso intelectual e moral, num
regime de máxima liberdade em relação a qualquer norma externa que lhe seja
imposta pela força. Reivindica-se, então, plena liberdade individual na esfera
espiritual e na esfera econômica.
A mais notável conseqüência histórica da efetivação da concepção liberal
foi o surgimento de revoluções voltadas à derrocada dos regimes monárquicos
de poder absoluto.
Consoante assinalado por Bobbio (2005), o resultado das revoluções coman-
dadas por certas forças sociais contra a monarquia foi a celebração de novos
acordos ou pactos entre o soberano e os súditos, nos quais se vislumbrava um
novo sistema de direitos e deveres, e se protegiam dos abusos do poder a vida,
a liberdade e a propriedade privada.
Afirmação II: uma forma de garantir os direitos dos cidadãos foi estabe-
lecer o Estado do bem-estar ou welfare state, também chamado de Estado
assistencial.
b) I, II e IV, apenas
3. Elabore uma linha do tempo e aponte o surgimento de cada uma das formas
de Estado que estudamos nesta aula.
Anotações
Aula 6
Noções sobre partidos políticos,
sistemas partidários e voto
a Constituição Federal (art. 14, § 3º, V). Como os partidos surgiram? Qual a
sua importância em uma sociedade democrática? Essas são as questões que
trataremos nesta aula.
Anotações
Aula 7
A Ciência Política
contemporânea no Brasil
que você, Assistente Social em formação, poderá trilhar para aprofundar-se nas
questões que surgem. No texto de Ball (2004), você observou que houve uma
“crise” do conhecimento, comum em muitas áreas.
É importante compreender que a Ciência Política, como grande área do
conhecimento, foi se estruturando a partir de dois grandes eixos do saber: o
primeiro mais tradicional ligado à área do Direito. A Ciência Política nesse eixo
é vinculada à Teoria do Estado, sendo objeto de estudo de dezenas de autores
contemporâneos do Direito.
O segundo eixo é ligado à sociologia e à economia com sua primeira mani-
festação no Brasil, por meio da Escola de Sociologia e Política de São Paulo
(BONAVIDES, 2004). Este curso serve de padrão para uma série de programas
universitários similares, entre os quais o da Faculdade de Ciências Econômicas
da Universidade Federal de Minas Gerais, criado em 1956, e o da Pontifícia
Universidade Católica do Rio de Janeiro. A Faculdade de Filosofia, Ciências e
Letras da Universidade de São Paulo, criada em 1934, também introduz uma
cadeira de Política no curso de ciências sociais, estabelecendo um modelo que
seria retomado por inúmeras Faculdades de Filosofia e cursos sociais criados
posteriormente, em todo país.
Como esse nascimento em duas áreas do saber influenciou o conhecimento
da Ciência Política? A vinculação entre a Ciência Política, o Direito e a Sociologia
fez com que a primeira custasse a adquirir, no Brasil, feição própria.
Somente com a Revista Brasileira de Estudos Políticos, criada junto à
Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais, no início dos
anos 50, é que surge no Brasil a primeira publicação de cunho universitário
especializada em estudos políticos, destinando seu olhar para os estudos eleito-
rais. De forma pioneira, tais estudos utilizaram a análise de dados quantitativos
para o entendimento de fenômenos políticos e sociais.
O primeiro programa de pós-graduação em Ciência Política vai surgir com a
criação do Departamento de Ciência Política da Universidade Federal de Minas
Gerais, em 1965. Já em 1967, o Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de
Janeiro (Cândido Mendes) cria também seu programa de pós-graduação na área.
A Universidade de São Paulo mantêm um núcleo ativo de estudos e pesquisas
sobre política, proporcionando graus de mestrado e doutorado. A Universidade
Estadual de Campinas possui um programa específico de pós-graduação em
Ciência Política. A Ciência Política constitui também uma opção nos programas
de pós-graduação das Universidades Federais do Rio Grande do Sul (UFRGS),
do Ceará (UFC), de Pernambuco (UFPE), assim como da Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo (PUC-SP) e da Universidade de Brasília (UnB). Todas essas
universidades vêm mantendo o estudo da Ciência Política em foco e, por meio
de pesquisas, consolidando a área do saber.
É importante lembrar que, nos anos 1950 e 1960, influenciados pela Ciência
Política norte-americana, os modelos explicativos que utilizávamos eram basea
dos no comportamentalismo (behaviorismo). O que isso significava na prática?
Que os objetos de estudo não eram as instituições e os mecanismos jurídicos
que as estruturam e que definem a vida em sociedade, mas o homem, como ator
político, juntamente com seus desejos, anseios, personalidade e ação politizada.
Obviamente, o método torna-se mais quantificável e mensurável, já que o objeto
de estudo torna-se mais palpável.
Nas últimas décadas do século XX, a Ciência Política vem sendo invadida
por uma corrente denominada neo-institucionalista. O neo-institucionalismo
é orientado para a interpretação dos fenômenos empíricos, sendo que, como
ocorreu em diversas áreas do conhecimento, há uma variedade de propostas
de métodos e teorias para suas análises. Isso tem afetado as maneiras de fazer
estudos comparados e as formas de incorporar a história à análise dos fenô-
menos declaradamente políticos. Com isso, novos temas, inclusive os sociais,
entraram em pauta, regados com o pensamento político.
Essa vertente tem como eixo de defesa o argumento de que as instituições
moldam a ação humana. Isso porque sem as instituições, seria praticamente inexis-
tente a ação humana e política, para essa vertente. Porém é importante destacar
que existem divergências sobre a relação entre instituições e ação humana.
Uma delas se concentra na análise das instituições como simplesmente o reflexo
de forças sociais existentes que tornam, as instituições instâncias neutras, adaptáveis
às mudanças sociais, garantantindo a preservação e o equilíbrio dos poderes.
Outra visão considera as instituições como instrumentos que podem ser manipu-
lados pelos atores sociais. Obviamente, essa visão coloca a instituição como uma
marionete nas mãos dos atores sociais que a utilizam a seu bel-prazer, servindo
aos seus objetivos políticos ou, mais freqüentemente, para a resolução dos seus
problemas individuais.
Para os neo-institucionalistas, as instituições podem afetar os resultados polí-
ticos, ou seja, as instituições possuem vida própria. Assim, as instituições repre-
sentam uma força autônoma e decisória dentro da política, cujo peso pode ser
sentido sobre a ação e sobre os resultados da vida política e social do grupo em
que está inserido.
É importante entender que as ações dessas instituições ou do Estado seriam
implementadas por seus funcionários de carreira, que obedecem a uma lógica
de reproduzir o controle das instituições sobre a sociedade. Algumas dessas
idéias podem ser encontradas na Teoria da Economia das Organizações, na
Teoria da Escolha Racional, na Teoria da Firma e na Teoria da Ação.
No neo-institucionalismo, o olhar volta-se muito mais para a continuidade e a
explicação de sua existência do que para a mudança das instituições. Isso se dá
deveria ter junto à sociedade. Vimos que a Ciência Política, no Brasil, tem um
advento bastante recente e que sua vinculação ocorreu em, praticamente, duas
áreas: Direito e Sociologia. Vimos a corrente conhecida como neo-instituciona-
lismo, orientada para a interpretação dos fenômenos empíricos, em direção à
idéia de que as instituições representam uma força autônoma e decisória dentro
da política, e que seu peso pode ser sentido tanto sobre a ação quanto sobre os
resultados da vida política e social. Por fim, vimos que o Assistente Social tem na
Ciência Política uma importante ferramenta analítica que pode contribuir signifi-
cativamente para a eficácia de seu trabalho. Essa percepção dos caminhos de
análise permite ao Assistente Social enxergar mais longe e com sobriedade os
meandros da ação social.
a) configura-se em uma teoria que tenta resgatar apenas a função das insti-
tuições e da área da Ciência Política;
b) por defender a autonomia das instituições, o neo-institucionalismo justi-
fica a existência dos trâmites próprios que cada instituição dará na reso-
lução de seus problemas;
c) é uma teoria que se preocupa com a mudança social, sendo assim
necessária para o trabalho do Assistente Social;
d) o neo-instituiconalismo prega que as mudanças sociais devem ser paula-
tinas e lentas para que possam trazer melhores resultados.
3. Com base na leitura da aula, faça um esquema onde você aponte as princi-
pais idéias desenvolvidas pela corrente neo-institucional.
Na atividade um, a opção correta é a alternativa (c), pois as assertivas II, III e IV,
de forma acertada, apontam para os elementos observados na aula. A alternativa
(a) está errada, pois, de forma incompleta, apresenta somente duas das três asser-
tivas corretas. A alternativa (b) está incorreta, pois inclui a assertiva I, que, de forma
reducionista, aponta para as transformações na área da Ciência Política como fruto
apenas da ação dos partidos, e não de toda a sociedade. A alternativa (d) está
errada, pois inclui como correta a assertiva I, já comentada anteriormente.
Na atividade dois, a opção correta é a letra (b), pois, por defender a auto-
nomia das instituições, o neo-institucionalismo justifica a existência dos trâmites
próprios que cada instituição dará na resolução de seus problemas. A alternativa
(a) está errada, pois a teoria neo-institucionalista não é reducionista em sua visão.
A alternativa (c) está errada, pois afirma que o neo-institucionalismo se preocupa
com a mudança social. Sua preocupação é com as instituições, sua existência e
consolidação. A alternativa (d), assim como a anterior, não volta seu olhar para a
mudança, mas para a existência e manutenção das instituições.
Anotações