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Análise Psicológica (1990), 4 (VIII): 439-444

Perturbações Precoces de Contacto

LfLIA FERREIRA (*)

i. INTRODUÇÃO relação mãe-filho de boa qualidade torna-se


difícil.
Mãe e bebé necessitam de uma ligação forte As próprias características de reactividade do
para que se possam estabelecer laços de bebé são importantes para a disfunção da díade
confiança, indispensáveis ao desenvolvimento (por exemplo: bebés hiperactivos difíceis de
físico e emocional da criança. acalmar, bebés com resposta lenta),
O bebé e o cuidado materno juntos formam desorganizando a própria actividade materna
uma unidade: «O bebé não pode existir sózinho, de um modo que dificulta «O sentir e o ler»
ele faz parte essencial de uma relação». A mãe dos estados e necessidades do bebé, não lhe
através da sua identificação com o filho sabe fornecendo a gratificação afectiva e a
como este se sente, de modo que é capaz de estimulação adequada.
prover quase exactamente o que o bebé Por outro lado, a falta de empatia ou a
necessita. patologia da mãe-pais é um determinante
Existem, n o entanto, situações muito importante para o estabelecimento de uma
desfavoráveis que tornam a criança vulnerável relação suficientemente boa mãe-filho. As suas
i e podem pôr em risco a relação mãe-bebé.
Quando um filho não nasce de termo ou se
próprias fantasias, a pouca compreensão das
necessidades do bebé, a projecção sobre o seu
desenvolveu mais lentamente do que o usual filho das suas ansiedades, afectam assim o
na gravidez, ou ainda se apresenta algum relacionamento.
problema clínico, a relação passa-se de um Perante a confusão criada, associada as
modo diferente. Por exemplo, a situação de poucas experiências de prazer que recebe, o bebé
emergência não esperada que define o pode vir a retirar-se numa procura de satisfação
nascimento de uma criança prematura, provoca em si próprio, numa auto-satisfação ou então
uma ansiedade da mãe, que, assim como o bebé, refugiar-se num mundo de objectos inanimados.
fica desamparada e necessitando de ajuda. A Por outro lado, certas mães, afim de
separação mãe-filho é vivida pela mãe com compensarem a fragilidade do bebé, continuam
angústia e depressão, e leva-a a desenvolver a dar respostas simbióticas de satisfação das
fantasias e medos em relação a criança. necessidades sem introduzirem uma outra
Após uma fase de dúvida sobre a vida do realidade externa que não elas próprias, o que
bebé, ela tem de reinvestir esta criança. A provoca perturbação ao nível da comunicação
adaptação ao papel de mãe dá-se lenta e mãe-filho.
tardiamente, e o desenvolvimento de uma Daí a importância desta primeira relação,
aceitando-se que esteja na base d o
(*) Psicóloga do Departamento de Psicologia desenvolvimento da personalidade do indivíduo
Clínica da Maternidade Dr. Aifredo da Costa. e, que, de um ponto de vista dinâmico, a

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psicopatologia assenta na própria patologia um dos medos característicos deste período
relacional. consista na ansiedade de separação. No entanto,
a capacidade que a criança tem de explorar e
controlar cada vez mais o seu meio ambiente,
2. A NATUREZA E DINÂMICA DAS cria-lhe uma imensa satisfação narcisista, desde
PRIMEIRAS RELAÇÕES que se sinta encorajada por parte da mãe.
É assim, na dinâmica desta primeira relação,
Para melhor se compreender o aparecimento que a qualidade e a coerência do investimento
das várias perturbações que podem ocorrer que a mãe faz do filho, desempenha um papel
durante os dois primeiros anos de vida, será fundamental na construção das relações
importante entendermos o modo como evolui objectais. Deste modo, podemos constatar que
e se estrutura aquilo a que se denomina de é a atitude emocional da mãe e os seus afectos,
relacionamento objectal. que servem para orientar os da criança e darem
Ao nascer, o ser humano é extremamente vida as suas experiências, bem como apoiar e
dependente, ao contrário dos outros animais. encorajar o filho a uma gradual autonomia do
O ego do bebé é assim muito rudimentar, sendo ego.
a relação que se estabelece entre mãe e bebé
que vai complementar o ego indiferenciado da
criança. A mãe surge assim, na opinião de 3. PERTURBAÇÕES PRECOCES DE CONTACTO
Margaret Mahler, como «um farol orientadom.
O bebé inicialmente não consegue discriminar Se excluirmos os síndromes físicos, orgânicos
os objectos no seu meio ambiente, nem e infecciosos, observa-se que grande parte das
distinguir a mãe de si próprio. A criança perturbações da criança pequena são reactivas
mostra, assim, poucos sinais de perceber ao ambiente humano. Quanto mais pequena é
qualquer coisa, parecendo viver num mundo a criança, maior tendência tem para reagir
de estímulos internos, embora se possa já falar através de respostas vegetativas globais (J. Dias
(na opinião de Alice & M. Balint) de uma Cordeiro), como a perda de apetite e de sono,
primitiva relação objectal, ao contrário de como às tensões e dificuldades da sua relação com
a define M. Mahler de Fase Autista. o meio, nomeadamente a mãe.
A partir dos três meses ela vai parecendo Para uma melhor compreensão das várias
vagamente consciente de que a satisfação das perturbações que podem ocorrer na primeira
suas necessidades começa a vir do mundo infância, resolvemos dividi-las em quatro
exterior, mas ainda se comporta como se ela grandes grupos:
e a s u a m ã e formassem um sistema
1. Perturbações da Função Alimentar;
omnipotente, unidos numa única membrana
2. Perturbações do Sono;
sim biótica.
3. Perturbações da Psicomotricidade;
É aquilo a que M. Mahler denomina de Fase
4. Síndromes Precoces de Tipo ou Aparência
Simbiótica Normal, caracterizada por uma Psicótica.
complexa interacção mãe-filho.
Mas, é na Fase de Separação-Individuação,
1. Perturbações da Função Alimentar
que se inicia a partir dos dezoito meses, que
a criança se torna gradualmente consciente do A alimentação constitui uma função basilar
seu corpo e da identidade do seu self. M. para todo o desenvolvimento psicológico da
Mahler, descreve esta fase como que um criança. Para além de ser uma necessidade
rompimento da membrana simbiótica. É o biológica, é também uma fonte de satisfação
desenvolvimento maturativo da locomoção que para a criança bem como um seu modo de
vai expor a criança a importantes experiências contacto com o mundo exterior. Ela vai implicar
de separação e reunião com a mãe. Vai mãe e filho numa relação muito profunda, que
possibilitar, assim, a separação física entre vai ser certamente condicionante d o
ambas, embora emocionalmente ainda não desenvolvimento somático e psicológico da
esteja preparada para esse afastamento. Daí que criança.

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Compreende-se, assim, que a criança reaja mãe, que se apresentam como patológicas.
intensivamente através de perturbações de Segundo A. Hennequet, pode-se ainda
apetite as dificuldades e conflitos psicológicos falar de algumas formas de anorexia, que
com a mãe. se iniciam no primeiro trimestre de vida e
Destaca-se a Anorexia Mental do bebé como que revestem a forma de uma Anorexia de
uma das perturbações da função alimentar. A Inércia. A atitude da criança é de uma certa
anorexia da criança reveste-se de aspectos muito passividade, estendendo os lábios sem
diversos, nomeadamente de acordo com a idade animação e deglutindo lentamente. Por vezes
e a gravidade, podendo tomar, de ínicio, o aceita o leite, mas este volta a sair
aspecto de uma passividade por vezes passivamente pela boca. A actividade da
exasperante e neurotizante para a mãe, ou de criança é quase nula, faltam os gritos e a
uma recusa activa. agitação.
Segundo Kreisler distinguem-se: De destacar também as anorexias graves
incluidas no quadro de uma Depressão
a) As formas comuns - podem ser
Anaclítica, tendo como causas a carência de
classificadas como um dos primeiros
afectividade e o hospitalismo.
distúrbios de tipo reactivo. Nestes distúrbios
verifica-se que a saúde da criança não é
alterada e que continua progredindo em peso. 2. Perturbações do Sono
Geralmente inicia-se no segundo semestre
De todas as funções, o sono é, sem dúvida,
e é usualmente chamada de Anorexia do
a mais frágil, e as perturbações de ordem
Desmame. Por exemplo, a sua causa pode relaciona1 e conflitiva que ele reflecte são muito
ser o desmame, a introdução da alimentação
diversas, variando das formas mais comuns as
diversificada, ou até mesmo um acidente
mais complexas.
patológico. Seja qual for a causa da insónia, esta acarreta
Esta forma habitual e comum apresenta-
consequências importantes para a família: a
-se, essencialmente, como uma conduta de
agitação, os gritos nocturnos, ocasionam por
recusa, e tudo se passa como se fosse
vezes reacções violentas e descompensações.
estabelecido um sistema de reacções
O cansaço e a exaustão dos pais podem por
recíprocas entre a mãe e a criança, fixada
si só agravar a insónia da criança e gerar, assim,
numa atitude de forçar a criança a comer
um conflito.
e, a oposição desta, criando-se assim uma
Segundo Spitz, a maioria das insónias do
reacção circular. Evolui depois por
bebé estabelece-se numa fase em que o prazer
condicionamento a forma de reagir dos pais
e o desprazer ainda estão como que presos as
e, muitas vezes, cria-se um círculo vicioso
necessidades fisiológicas, mas que começam a
em que se acentua a angústia destes e a dirigir-se a figura humana, como se nota pelos
anorexia se mantém ou se agrava. Está assim
sorrisos dirigidos a mãe, e pela calma de tensão
muito relacionada com a conduta da
face a vista do adulto.
mãe/pais, em que muitas vezes é sobretudo
Trata-se, pois, de um período sensível em que
o excessivo interesse, inquietação e ansiedade o bebé grita com prazer, é excitável e nervoso,
o factor causal. Não podemos, no entanto,
podendo suscitar n a mãe reacções de
falar ainda de perturbações da fome.
impaciência e insatisfação.
b) As Formas Complexas - são Para além de causas, tais como supressão da
assinaladas pela intensidade do sintoma e sua refeição da noite, agitação e incoerência dos
resistência aos métodos habituais de cuidados maternos, inadequação ao ritmo do
tratamento (contar histórias, pôr a janela, bebé, etc., o que acontece com frequência é que
etc.), comportando-se a criança como se o a insónia do bebé é, sobretudo, reveladora de
alimento não lhe interessasse. Estas formas um conflito, devido a personalidade da mãe que
mais severas (se exceptuarmos as causas não cumpre o seu papel protector quando na
orgânicas) correspondem quase sempre a sua qualidade de para-excitação e sustentação
situações de conflito na relação com a da função do sono.

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Daí pode resultar uma insónia cuja gravidade pelo bebé como figura representativa do mundo
pode ser muito diversa: desde o ter um sono externo, permanecendo como objecto parcial,
de má qualidade que se pode prolongar por que n ã o é deferenciado dos objectos
algum tempo, até uma insónia grave, que, inanimados.
segundo Kreisler, se destinguem pela duração, Existe assim uma inerente falta de contacto
intensidade, gritos, agitação e grande com o ambiente humano e uma incapacidade
necessidade de acompanhamento, ou ainda, de distinguir entre objectos vivos e inanimados.
pelo contrário, pela apatia. A criança está desinteressada, existindo um
corte na relação com o outro. Ela retrai-
3 . As Perturbações da Psicomotricidade -se/recusa a relação.
Nas descrições do comportamento destas
Na instabilidade domina um desequilíbrio da crianças, regista-se:
afectividade, verificando-se uma mudança
rápida nas emoções e grande expressividade das falta de gestos de antecipação aos
mesmas, aliadas a uma actividade excessiva. cuidados maternos;
Apesar do seu aspecto de vivacidade, de em relação aos seres humanos não se
mimica excessiva, a execução dos actos volitivos verifica um olhar interessado;
da criança instável é desajeitada como também nenhuma resposta sorridente, nenhum
lenta e demorada, pois ela não consegue fazer gesto de apanhar alguma coisa, bem
um esforço de inibição que lhe permita o seu como pouca variação na expressão facial;
controlo. certos comportamentos ritualizados;
Se exceptuarmos os síndromas psicomotores dificuldade na compreensão dos sons
de origem orgânica, podemos dizer que as ouvidos;
instabilidades são consequência de situações actividades de auto-agressão (que servem
psicológicas desfavoráveis, tais como, erros para agudizar os limites do seu próprio
educativos, dissociação familiar e a própria self.
incapacidade dos pais de estabelecerem limites contrário da criança simbiótica, o corpo
q u e permitam a criança uma melhor da criança autista parece um objecto sem vida,
organização emocional.
muito rígido quando ao colo de alguém.
Muitas vezes aquilo que se verifica é que a
As crianças autistas parecem encarar o
instabilidade acompanha ou é secundária a mundo externo como fonte intolerável de
outra perturbação de comportamento. irritação, reagindo a qualquer intromissão por
parte de outrém, mas, no entanto, a sua
4. Síndromas precoces de tipo ou aparência agressividade não parece dirigir-se a pessoa
psicótica como um todo. Por exemplo: ela empurra a mão
Podem-se considerar dois grupos, clínica e que está no seu caminho como o faria com
psiquicamente distintos de psicose precoce, que qualquer objecto inanimado.
são fundamentalmente duas graves perturbações Em oposição as reacções de pânico das
de identidade: crianças simbióticas, estas denotam uma
satisfação aparentemente auto-suficiente quando
- A Psicose Autista Infantil; são deixadas sózinhas. Esta pseudo auto-
- A Psicose Infantil Simbiótica. -suficiência parece desenvolver-se devido a sua
incapacidade de enfrentar os estímulos externos,
a) A Psicose Autista Infantil já que não desenvolveu os vínculos emocionais
O tipo de psicose autista foi descrito, pela com a mãe - é assim uma atitude de defesa
primeira vez, por Leo Kanner, que lhe deu o básica.
nome de Autismo Infantil Precoce. A perturbação central no autismo primário,
Uma das suas principais características, é que encontra-se na incapacidade do bebé em
a criança não apresenta sinais de distinguir perceber a mãe como figura externa e
afectivamente os outros seres humanos. A mãe protectora, ou seja, a gestalt da mãe e a gestalt
parece nunca ter sido percebida emocionalmente da função vital dela.

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Não há pois uma percepção consciente do distintos, e até mesmo a representação do self
mundo interno versus mundo externo, nem a corporal não está delimitada.
consciência por parte da criança do seu próprio Existe, assim, um estado de dependência
self, como parte distinta de um mundo mútua, perturbando toda a evolução, e isto
inanimado. porque a criança não tem outros modelos de
No entanto, podemos considerar que antes identificação e outros modelos de experiência
de dois anos o autismo não está perfeitamente relacional.
organizado, e só terá grandes possibilidades Vários factores podem originar casos de
terapêuticas quando for diagnosticado antes de psicose infantil precoce:
existir.
- Frustrações e traumas no ambiente
simbiótico;
b) A Psicose Simbiótica - Patologia da mãe;
- Falta de contacto com o meio ambiente;
Neste grupo de psicoses infantis, a
- Interrupção do esquema de maturação
representação mental da mãe permanece ou
e desenvolvimento do ego do bebé ainda
funde-se com o self.
no período fetal.
Durante o primeiro ano de vida estas crianças
não exibem um comportamento que seja Mas de um ponto de vista dinâmico, o núcleo
visivelmente perturbado. São considerados pela da psicose deve ser procurado nas distorções
mãe como bebés chorões ou hiper-sensíveis. de uma simbiose normal, na primitiva relação
Os sintomas clínicos deste tipo de psicose mãe-bebé.
manifestam-se, geralmente, na fase de
separação-individuação, em que a criança passa
de um estado simbioticamente dependente da BIBLIOGRAFIA
mãe para o de uma separação individual. A
consciência de passarem a funcionar em Cordeiro, J.D. (1987). A Saúde Mental e a Vida.
separado, faz surgir nestas crianças vulneráveis Lisboa: Edições Salamandra.
uma intensa ansiedade. Dolto, E (1982). Psicanálise e Pediatria. Lisboa:
Surgem, assim, certas explosões de Publicações D. Quixote.
temperamento, um comportamento de pânico, Freud, A. (1977). A Infância Normal e Patológica.
cuja finalidade é a restauração e continuação Rio de Janeiro: Zahar Ed.
Greenacre, P. (1961). Quelques Considerations sur la
da fase simbiótica, ou seja, da fase de
Relation Parent-Nourisson. Revue Française de
omnipotência da fusão mãe-bebé. Psychanalyse, XXV( 1).
O mundo é considerado como hostil e Kreisler, L., Fain, M. & Soulé, M. (1981). A Criança
ameaçador porque vai ser encarado como e o seu Corpo - Psicossomática da Primeira
entidade separada. A realidade está bastante Infância. Rio de Janeiro: Zahar Ed.
distorcida e a criança vai exibir tentativas Mahler, M. (1977). O Nascimento Psicológico da
I
alucinatórias de restituição. Criança - Simbiose e Separação. Rio de Janeiro:
As suas manifestações de amor e agressão Zahar, Ed.
parecem bastante confusas: o bebé anseia por Winnicott, D.W. (1983). O Ambiente e os Processos
de Maturação. Porto Alegre: Artes Médicas Ed.
contacto corporal e parece querer fundir-se com
a mãe; no entanto, muitas vezes evita e repele
esses mesmos contactos, perante as
manifestações de afecto e amor demonstradas RESUMO
pelos pais, expressando, assim, o seu anseio de
unir-se, de ser «incorporado». A autora deste artigo debruça-se sobre a natureza
e dinâmica das primeiras relações e o modo como
O ego da criança simbiótica, como é incapaz evolui e se estrutura aquilo a que se denomina de
de funcionar separadamente do parceiro, vai «relação objectal)).
fantasiar a unidade com a mãe omnipotente, A autora destaca, ainda, a importância dessa
obrigando-a a funcionar como extensão do self. relação objecta1 nos dois primeiros anos de vida da
Os limites do self e do não-self não são criança, descrevendo as várias perturbações que

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podem ocorrer e que são reactivas ao ambiente evolved and was built into what we called «object-
humano, assentando na própria patologia relacional. -reIation».
The author noted, too, the importance of the first
ABSTRACT two years of the child’s life. He describes also the
various disorders which may occur. This being
The author in this paper looks towards the nature reactive to the human surroundings are based on
and dinamics of the first relationhips, and how that pathological relationship it self.

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