Brenner, Peck e Theodore (2012) apontam que os debates sobre o
neoliberalismo têm sido frequentes no campo da economia política heterodoxa, embora o conceito seja usado de maneira ampla e com pouco rigor, abarcando fenômenos diversos. Em geral, o que os diferentes usos apresentam em comum é uma referência à ampliação da competição baseada no mercado e a indicação de que processos de mercantilização têm se intensificado desde meados da década de 1970, com a recessão global (p. 17). Inserindo-se nesse campo de discussão, os autores apresentam um arcabouço teórico visando precisar o conceito de neoliberalização, ligando-o a processos de reestruturação regulatória no capitalismo contemporâneo. Apontam a regulação, portanto, como aspecto chave para a compreensão do neoliberalismo enquanto fenômeno de abrangência mundial, ainda que sob formas e intensidades diferentes em contextos geográficos específicos. Essa reorganização regulatória, para o s autores, envolve a transformação dos modos de governanças e das relações entre Estado e economia com a finalidade de “ampliar ou consolidar formas mercantilizadas e comodificadas de vida social” (p. 19). Se trouxermos essas constatações para o campo dos Transportes Públicos no Brasil, é possível perceber como a ideia de neoliberalização adentra esse espaço de disputas a partir da década de 1980. A década de 1970 havia contado com uma forte presença estatal no setor, através de ações diretas e autoritárias do governo central e reestruturações dos sistemas de transportes locais, municipalização de alguns serviços e controle público dos recursos do setor. Entretanto, o esgotamento do modelo econômico vigente durante o regime militar e a crise fiscal do Estado servem de justificativa para argumentos que visam conter essa presença estatal, ampliando, em contrapartida, o espaço de atuação das empresas.
Inserida nesse contexto, a obra Transporte em tempos de reforma (2000) apresenta
argumentos em prol de mudanças na regulamentação do setor de transportes, de modo a adequá- lo à lógica do mercado. Como o próprio título aponta, a década de 1990 consistia na era das reformas administrativas e das transformações do papel do Estado, uma vez que o Governo Federal pretendia conter o déficit público a partir de medidas austeras de contenção de gastos públicos. Essas reformas “se expressam através de processos de privatização, de desregulamentação, de abertura dos mercados à competição e visam diminuir a presença do Estado” (Santos e Aragão, 2000, p. 11), o que deveria ocorrer, inclusive, no setor de transportes. A abertura ao mercado é tratada pelos autores como “uma exigência política hoje incontornável” (p. 41) e, ainda que não absoluta, deveria ser feita pelo poder público a fim de instaurar competitividade ao setor.
Para os organizadores do livro, a forma de intervenção estatal no setor de transportes envolvia
excessiva presença de recursos públicos e no comando da entrada no mercado e necessitava de uma transformação rápida e significativa. Os defensores das reformas regulatórias argumentam que essas transformações visavam salvaguardar as finanças do Estado e incentivar a eficiência do setor.