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“A essência do homem não é algo abstrato, próprio de um indivíduo isolado. É, em sua
realidade, o conjunto de todas as relações sociais.” Karl Marx
Contexto filosófico
O texto foi publicado em 1927 como de um dos discípulos de Bakhtin: V. N. Volochínov.
O contexto filosófico e ideológico do texto: URSS hegemônica na interpretação da história e
da sociedade nos regimes socialistas transforma em dogma a explicação de tudo como
fenômeno de classe e ideológico.
Bakhtin apresenta elementos de sua filosofia da linguagem que desenvolverá
posteriormente.
O texto foi organizado em três partes ou movimentos. O primeiro busca localizar a obra de
Freud no que chama de contexto filosófico de surgimento e desenvolvimento da psicanálise;
o segundo, expor os elementos da própria psicanálise; e, o terceiro, fazer sua crítica.
Parte I O freudismo e as correntes atuais do pensamento em filosofia e psicologia
O motivo ideológico central do freudismo.
A psicanálise teria atraído o burguês europeu.
[Bakhtin pressupõe que a difusão da psicanálise teria algo de identificação da burguesia
com as teses freudianas.]
O contexto filosófico da psicanálise para Bakhtin.
Motivo ideológico:
“A consciência do homem não é determinada pelo seu ser histórico, mas pelo ser biológico,
cujo aspecto fundamental é a sexualidade” (BAKHTIN, 2007, p. 6).
[Seria como um grande enunciado que corre por debaixo de toda a construção freudiana?]
O motivo ideológico central da psicanálise seguiria o da filosofia burguesa de então:
biologicismo representado pelas pulsões sexuais.
O motivo seria acompanhado pela crítica da consciência.
Centro de gravidade biologicista
“Quando essa ou aquela classe social está em estágio de desintegração…” (p. 7)
Medo da história, retorno à natureza.
[Em Malestar Freud caminha das forças da natureza propondo que a cultura é tudo o que
elaboramos para afastar tais forças]
Da filosofia enérgica de Kant e Hegel para a frouxa e passiva filosofia da vida.
Traços básicos:
1. a vida, biologicamente interpretada… (p. 8).
Destaque: unidade orgânica isolada; desconfiança da consciência; evitar a economia, ir
para subjetivo e biológico.
[A busca de Bakhtin por determinações históricas e sociais que se sintetizam também na
psicanálise é um movimento interessante. Mas ele identifica por demais psicanálise e o
espírito burguês da época, melhor sintetizado na sexologia dominante até o surgimento da
psicanálise]
[Marxistas até hoje têm resistências à psicanálise visivelmente marcadas pela questão da
consciência]
“O ‘sexual’ em Freud é…” (p. 10).
Crítica ao indivíduo isolado e a centralidade da classe:
“O indivíduo humano…” (p. 11)
Duas tendências da psicologia atual
Busca diferenciar as reivindicações da psicologia marxista de aproximações com a
psicanálise.
A teoria psicológica de Freud teria valor para alguns apesar do seu motivo central ser
biologicista.
Luta entre psicologias objetivas e subjetivas.
Subjetiva: experiência interna;
Objetiva: experiência externa por meio de respostas do organismo.
Qual deve ser tomada como base para uma psicologia científica?
[Bakhtin está no olho do furacão entre tendências subjetivistas e objetivistas]
A psicologia experimental
experimento psicológico dual
situação física externa estimula a interna;
a primeira parte, os estímulos externos, é que podem ser medidos.
a situação interna é restrita ao experimentando. O experimentador necessita que este lhe
comunique e aí pode relacionar ambas.
vivência interior como objeto da psicologia.
A psicologia objetiva
Sustentar o ponto de vista da experiência externa: a manifestação material.
Diferentes respostas do organismo.
A resposta verbalizada
Experiência externa: palavras que comunicam as vivências.
resposta verbal componentes:
fenômeno físico
processos fisiológicos
significado e compreensão
Neste último entra uma dimensão sociológica do discurso
MARXISMO E PSICOLOGIA
corresponde ao marxismo a corrente objetiva
o psíquico como propriedade da matéria
Tomar o físico e investigar em que organização e nível de complexidade desse físico
surgem os fenômenos psíquicos
[Questão sobre como o ser humano se tornou consciente. Resposta clássica do marxismo:
via trabalho]
Marxismo exige ainda que se incorpore ponto de vista sociológico.
[As exigências de Bakhtin já são desenvolvidas por Freud: unidade do psíquico com o corpo
é por onde Freud começa (histéricas), condições de formação desse psíquico e produção
social desse psiquismo representado pela insistência freudiana de reportarse ao outro e da
psique individual como composição da social ou cultural.]
A QUESTÃO PSICOLÓGICA DO FREUDISMO
A psicanálise é reconhecida como a que melhor atende às exigências de uma psicologia
objetiva segundo alguns psicólogos e filósofos e negada por outros.
Perigo: cair em materialismo mecanicista ingênuo.
tal tendência é observada nos behavioristas americanos e reflexologistas russos.
Bakhtin já elegeu aqui o discurso como grande objeto.
Freud já levará às respostas verbalizadas.
Psicanálise faz emergir interrelações e conflitos complexos entre as respostas verbalizadas
e nãoverbalizadas.
nesse campo de verbalização ocorrem conflitos entre o discurso interior e exterior e no
interior do interior
“A força de Freud… (p. 20).
Falta sociologia a Freud.
Outra falha: conteúdo do psiquismo que é completamente ideológico
[Aqui o espírito da época toma Bakhtin de assalto]
CIÊNCIA E CLASSE
Compromisso de classe da psicanálise expresso por seu motivo central.
[O enunciado de Bakhtin já parece claro: a psicanálise deu um desenvolvimento próprio e
importante à questão do subjetivo ou psíquico, entretanto sua adesão ao motivo central da
filosofia e psicologia da época, burguesas, lhe coloca um limite de diálogo ou apropriação
por uma perspectiva marxista. Vale pensar a que perspectiva marxista Bakhtin se identifica]
PARTE II Exposição do Freudismo
CONSCIÊNCIA E INCONSCIENTE
consciente, inconsciente e préconsciente
luta entre os dois primeiros marca o psiquismo
consciente não diz tudo e falseia
psicologia centrase no consciente
Há quem reconheça o inconsciente mas lhe atribui estabilidade e caráter de anexo à
consciência
Para Freud ele é o centro de força e a massa principal do psiquismo se encontram no
inconsciente.
Ele é um universo desconhecido e ao mesmo tempo íntimo.
TRÊS PERÍODOS NA EVOLUÇÃO DO FREUDISMO
Primeiro ainda próximo do tratamento ao inconsciente da psiquiatria de seu tempo e ligado
a Breuer 18901897.
Segundo de elaboração de uma interpretação original sobre o inconsciente.
Fase positivista, publicação das obras fundamentais.
18971914.
Terceiro implica uma mudança na concepção de inconsciente e aproximação a
Schopenhauer e Hartman.
“As questões gerais da concepção de mundo começam a predominar sobre as questões
particulares e especiais” (p. 27).
Teoria do Ideal do Ego.
Otto Rank e Sandor Ferenczi marcam a aproximação de Freud com a filosofia ou
elaboração de uma visão de mundo a partir da psicanálise.
Para Bakhtin o sucesso e o reconhecimento levaram à adaptação e degenerescência da
doutrina.
Além do princípio do prazer e O Ego e o Id são obras que marcam o início da terceira fase.
A PRIMEIRA CONCEPÇÃO DE INCONSCIENTE
Experiência com histéricas, hipnose e o guardachuvas
fundamentos da primeira concepção:
motivação da consciência pode não corresponder às causas reais
ato pode ser determinado por forças que não chegam à consciência
procedimentos podem levar as forças psíquicas à consciência (p. 29).
O MÉTODO CATÁRTICO
“A essência desse método…” (p. 29).
Frente a um sentimento inadmissível “o medo, a vergonha e a indignação enviam essa
emoção para um angustiante exílio psíquico. Essa emoção isolada não consegue encontrar
saída desse exílio: porque sua saída normal seria algum ato, alguma ação ou palavras e
argumentos racionais da consciência. Todas essas saídas estão fechadas” (p. 2930).
[Vejamos como Bakhtin vê essa barreira entre desejo e ato. De onde ela vem e como se
coloca aí?]
[Aqui se pode compreender um pouco a necessidade do exílio na experiência trans. Como
se o sujeito transferisse concomitantemente a tensão para o próprio corpo e para a cultura,
transformando o corpo de acordo com as identificações inconscientes e enfrentando a
cultura que lhe impôs barreiras ao mesmo tempo que se adere a tais barreiras pela
transformação do corpo em função da identificação com os ideais e modelos culturais]
A tensão se manifesta no corpo, na histeria.
Catarse Aristóteles, tragédia como purificadora do medo e do sofrimento
Freud e Breuer lançam mão da hipnose para levar os sentimentos reprimidos à consciência
Inconsciente, nesse momento, seria como um corpo estranho que penetra na consciência.
Freud abandona explicações fisiológicas para o inconsciente enquanto Breuer se propõe a
fazêlo.
Os produtos do inconsciente só são obtidos pela linguagem da consciência.
Bakhtin reconhece a importância disso como reconhecimento da resposta verbalizada
PECULIARIDADES DO SEGUNDO PERÍODO
Aparelho psíquico aparece na primeira noção de inconsciente como estável e estático.
Seu estado normal não implica tensão interna.
A experiência dolorosa ou vergonhosa era isolada ou esquecida compondo o inconsciente.
“Freud não faz quaisquer generalizações tipológicas dessas experiências, como nem
sugere a importância excepcional do elemento sexual” (p. 31).
Segunda fase: inconsciente e sua luta com a consciência ganham destaque e são
proclamados como forma permanente da vida psíquica assim como o inconsciente como
fonte das criações e sintomas.
processo de formação do inconsciente percorre toda a vida e tem no recalque seu
mecanismo.
Freud tipifica as experiências em complexos e dentre eles o sexual ganha centralidade
A DOUTRINA DO RECALQUE
Primeiras fases do desenvolvimento guiadas pelo princípio do prazer.
Em fases posteriores surge o princípio de realidade
consciência será composta a partir da tensão entre os dois princípios e seus compromissos.
Recalque funcionaria mecanicamente sem participação da consciência
[O SuperEu cumpre essa função]
Freud, segundo Bakhtin chama o mecanismo responsável pelo recalque nesse momento de
cencura.
O CONTEÚDO DO INCONSCIENTE
A teoria das pulsões
São representações psíquicas das estimulações somáticas internas.
Pulsões sexuais e do Eu
A VIDA SEXUAL DA CRIANÇA
Primeiras fases: criança acumula sentimentos e desejos pervertidos e amorais para a
consciência.
Pulsões sexuais estão presentes desde o nascimento e nunca se extinguem.
Peculiaridades:
genitália não se tornou centro, prazer espalhado por zonas erógenas do corpo;
pulsão sexual permanece relacionada às necessidades;
fase oral dispensa o outro, autoerótica;
pulsão é ainda bissexual já que não se diferencia por estar ausente o primado do genital;
criança como perversopolimorfa tendendo a perversões como masoquismo, sadismo e
homossexualismo. Perversões nos adultos como inibições no desenvolvimento normal.
[Lembrar que o desenvolvimento normal na cultura coloca como exigência a centralidade da
reprodução, portanto do genital]
COMPLEXO DE EDIPO
Mais importantes acontecimentos dessa história recalcada: desejo sexual pela mãe e ódio
ao pai.
Mãe: primeiro objeto.
Nascimento: primeiro rompimento com ela.
Criança atraída para o incesto com a mãe.
Pai se torna rival.
Princípio de realidade ganha força, voz do pai reelaborada como da consciência.
Complexo de Édipo esquecido.
Surge medo e vergonha frente ao incesto.
Primeiro amor e primeiro ódio ficarão para sempre como os sentimentos mais integralmente
orgânicos da vida.
O CONTEÚDO DO INCONSCIENTE NO SEGUNDO PERÍODO
Grosso do inconsciente: pulsões infantis de caráter sexual.
Pulsões do Ego: agressivas.
Criança desconhece restrições morais e culturais.
“É esse, em linhas gerais, o conteúdo do inconsciente:...” (p. 41).
A TEORIA DAS PULSÕES NO TERCEIRO PERÍODO (EROS E MORTE)
Pulsão sexual ou Eros
Pulsão de morte
Pulsão do “eu” e autoconservação entram em Eros.
Eros: para a vida orgânica, continuação da espécie e conservação do indivíduo.
Morte: reverter organismos vivos em inanimados.
Freud: toda a vida é uma luta e um compromisso entre ambas.
Influência da biologia neodarwinista e de Schopenhauer.
O IDEAL DO EGO
Ampliação da composição do inconsciente
Id como inconsciente e que não coincide com o Ego
O Ego também tem parte inconsciente responsável pelo recalque
Ideal do Ego: campo inconsciente superior do Ego
Censor cujas imposições são postas em prática pelo recalque
Se forma por identificação
Para Bakhtin a identificação incorpora a voz do pai
[Centralidade da voz já é filtro de Bakhtin]
E identificação como sendo ao pai
O MÉTODO PSICANALÍTICO
as formações de compromisso
análise interpretativa de formações da consciência
pulsões recalcadas buscariam abrir acesso à consciência
só podem o fazer pela deformação e o compromisso
“As deformações…” (p. 48)
[Centralidade em Bakhtin da consciência. As pulsões recalcadas buscam possibilidades de
realização e não necessariamente de manifestação consciente. Elas fazem compromisso
com o Eu e não com a consciência que é apenas uma função do Eu. Tanto que
representam falhas no ideal do Eu e, digamos, se aproveitam de imagens e relações
supostamente dispersas e estranhas para se manifestarem. Por isso os sonhos. Bakhtin dá
um salto de tigre entre sua compreensão relativamente justa de Freud e sua concepção
sobre consciência colocandoa lá onde os marxistas a colocam, no centro, onde ela não
está em Freud]
O MÉTODO A LIVRE FANTASIA
falar livremente até do aparentemente mais absurdo
resistência
Sempre procuramos preservar e observar o ponto de vista da consciência legal
[Centralidade da consciência em Bakhtin o impede de compreender que não é a
consciência no sentido freudiano que o faz, e sim o conjunto das identificações sintetizadas
no Ideal do Ego que regula por dentro o próprio Ego.]
A INTERPRETAÇÃO DOS SONHOS
a formação de compromisso via imagens ou símbolos nos sonhos
O SINTOMA NEURÓTICO
formações de compromisso via sintomas
PSICOPATOLOGIA DA VIDA COTIDIANA
exemplos de formações cotidianas como lapsos, atos falhos, esquecimentos
A FILOSOFIA DA CULTURA EM FREUD
A cultura e o inconsciente
criação ideológica?
biologicamente determinada
“A criação de símbolos…” (p. 50).
[Outro salto de tigre de formação de imagens à formação de ideologias]
“Segundo a teoria de Freud…” (p. 57)
[Aqui seria melhor dizer: segundo a interpretação de Bakhtin da teoria de Freud…]
As formas da vida social
[A formação do Ideal do Ego não bem compreendida por Bakhtin. Falta Superego no
processo. O Ideal do Ego é formado por identificação, logo se trata de objetos externos que
foram incorporados e não um processo individual e biológico]
Ver pag. 61 “Qual é o mecanismo…”
“Toda a cultura e a técnica são simbólicas” (p. 63).
[Outro pulo de Bakhtin. Da consideração de que o desejo de completude, a falta
constitutiva, está no fundo de todas as criações culturais ele passa para que a cultura é
simbólica. E não precisa em que sentido seja esse simbólico]
[Nessa parte ele também pula de Freud para Rank]
O FREUDISMO COMO VARIEDADE DA PSICOLOGIA SUBJETIVA
O freudismo e a psicologia moderna
Freud e psicanalistas não citam outros além de Schopenhauer e Nietzsche, se fecharam,
não discutem com as demais correntes da psicologia.
[O que são os Três Ensaios e Psicologia das massas?]
Resumem a crítica a acusar de identificarem o psiquismo com a consciência
“Infelizmente, o freudismo…” (p. 68).
Composição elementar do psiquismo e do inconsciente
O psiquismo é pensado na psicanálise com os mesmos termos da velha psicologia:
sensações, representações, desejos e sentimentos transferidos acriticamente para o
inconsciente
Mas esses elementos só existem para a consciência [como?]
Essa divisão foi dita para a velha psicologia pela consciência
Abandonada a consciência, passa a não ter sentido manter os mesmos elementos no
inconsciente
[Correto, o inconsciente, em tese, por ser indiferenciado e polimorfo não tem tais divisões.
Mas como nosso acesso a ele é por meio da consciência, e só tem sentido falar em acesso
como acesso consciente, identificamos nos sinais do inconsciente traços que podemos
classificar assim]
[Ao classificar a psicanálise como subjetiva em oposição à psicologia objetiva Bakhtin está
disputando a primazia do externo sobre o interno e acusando Freud de colocar a primazia
do interno sobre o externo, nada além. Quando Bakhtin diz que a referêcia é algo material,
mas não reconhece como material as forças no corpo que se sintetizam como pulsões, ele
está colocando o material externo como referência e afirmando que a psicologia deve tratar
como que das impressões do externo sobre o interno. Parece acompanhar a tese marxista
de consciência como reflexo da realidade. Objetivismo]
O subjetivismo da dinâmica psíquica
Transfere para o inconsciente os elementos da consciência
[Falta uma precisão quanto à noção de ideologia em Bakhtin]
Estrutura inconsciente como mecânica
[Bakhtin como muitos marxistas, não reconhecem que o inconsciente é o próprio corpo]
Crítica à teoria das zonas erógenas
“Assim, o inconsciente não aproxima…” (71).
contradição entre relação orgânica e química das partes do corpo, zonas, entre si e a
autonomia com que aparecem no psiquismo em Freud
[A tomarmos a consciência como centro e a colocamos como todo o Eu, pressupondoos
como existências imediatas, podemos ignorar o que Freud aponta de que para o psíquico,
inicialmente, as excitações dessas partes aparecem despedaçadas e sem unidade, só a
função do Eu forma uma unidade]
Questiona as formações de caráter como a do erotismo anal e as derivações na forma da
acumulação (p. 72)
[Aqui percorre subliminarmente uma crença marxista. A acumulação é algo completamente
externa e dada por uma sociedade que elegeu a acumulação como valor, não tem nada no
sujeito que o faça tender ao acúmulo. Admitir que há algo no sujeito parece uma heresia]
“(...) toda a realidade exterior vem a ser para ele mero ‘princípio de realidade’ psíquico, que
ele coloca no mesmo plano com o ‘princípio de prazer’” (72).
[Eis outra heresia: equiparar o externo ao interno.]
O freudismo e a biologia
A DINÂMICA PSÍQUICA COMO LUTA DE MOTIVOS IDEOLÓGICOS E NÃO DE FORÇAS
NATURAIS
A novidade do freudismo
A luta, o caos e o infortúnio da nossa vida psíquica
Diferença entre Freud e as demais correntes psicológicas, inclusive a subjetivista na qual
Bakhtin o insere
Otimismo psicológico: trajetória do psíquico tranquila e ingênua
Freud rompe assim como Darwin na biolgia
Influência de Nietzsche
trágico da vida psíquica
Luta interna seria de elementos da natureza ou de motivos na consciência individual do
homem?
[O binarismo de Bakhtin, ou seja, a pouca dialética o faz ficar enquadrando ou no objetivo
ou no subjetivo]
A dinâmica psíquica como luta de motivos
“Toda a teoria psicológica de Freud…” (p. 76).
Freud se baseia nos enunciados do indivíduo, mas não procura suas raízes fisiológicas e
sociológicas
[Não deveria dizer isso: mas Bakhtin não entendeu nada além do que sua paixão pela
consciência lhe permitiu. Foi até bem longe]
O paciente deve lhe contar das profundezas do inconsciente
[Claro, o inconsciente é do paciente]
Introspecção
inconsciente assume forma de desejo ou motivo
expressão verbalizada
interrelações e embuste entre inconsciente e consciência não é possível na realidade física
por exemplo
[Baby, a realidade psíquica é da ordem da fantasia também]
depois de adentrar na consciência é que conteúdo inconsciente pode contradizer exigências
éticas ou serem interpretados como embuste da censura
Toda dinâmica psíquica de Freud é dada numa interpretação ideológica da consciência.
dinâmica não de forças psíquicas mas de motivos da consciência
[Centralidade da consciência]
Inconsciente como um motivo ideológico da consciência
“O que é a consciência de um homem isolado senão a ideologia do seu comportamento?...”
(78).
ideologia, mentira, forças materiais objetivas [externas]
Psicólogo objetivista não aceita como fé enunciados verbalizados e baseados na própria
experiência interior.
“É assim que também age o psicólogo objetivista: …” (78).
[Aceita apenas o externo como material e verdadeiro. Exclusividade do externo. Positivismo]
“A teoria de Freud não nos leva ao solo fértil da experiência objetiva” (78).
Projeção da dinâmica social para a alma individual
De onde vêm as forças como Id, Ego e Ideal do Ego?
Teoria de Freud é projeção de certas relações objetivas do mundo exterior para o psiquismo
[Toma psiquismo como interno apenas]
Intencionalmente o paciente busca esconder do médico
Médico busca preservar sua autoridade
Clima social presente na relação médico paciente constrói enunciações verbalizadas
[Posições de sujeitos, conscientes, dada pela luta de classes, produz enunciações. Tudo
não passa de enunciados que refletem estrutura social externa]
Enunciação: produto da interação entre falantes em toda uma situação social
Situação social como externa ao sujeito
Enunciações como cenários de um acontecimento social: sessão de psicanálise
“Os mecanismos psíquicos nos denunciam…” (80)
Inconsciente não contradiz a consciência do paciente mas a do médico
[kkkk é de rir]
Freud projeta essa relação da sessão para o interior do indivíduo
[O fato mesmo de o paciente não querer, caso fosse intencionalconsciente, falar ao médico
de seu sofrimento implica uma barreira interna que é também externa em Freud. Mas
Bakhtin está buscando oitos ou oitentas: ou é interno ou é externo.]
“A teoria psicológica de Freud…” (p. 80).
duplicar o externo para o interno [tese da consciência como reflexo do objetivo]
Projeção do presente consciente para um passado inconsciente
“Podese reconhecer como cientificamente…” (81)
Método retrospectivo
[Então Marx e sua tese de que é o mais desenvolvido que revela a “anatomia” do menos
desenvolvido não tem validade e portanto a análise de Marx da história fundada no capital
como o mais desenvolvido que revela retrospectivamente as formas menos desenvolvidas
da sociedade não tem validade]
[O passado que interessa em Freud é o passado que não passou na experiência do sujeito.
Aquilo das experiências que foi fixado pelas identificações e compôs a estrutura que se
formou sobre o Id]
[Assim como para Marx o passado que interessa não é o do tudo, mas do todo. ]
[A ideologia parece ser tudo do externo que é projetado sobre o indivíduo/interno. Desse
modo a consciência também é ideologia e logo é uma quimera. Se existe apenas o objetivo,
o sujeito desaparece e com ele a consciência. A não ser que se autonomize a consciência
como não um produto do ser social e sim como sua criadora. Se toda a contradição é
apenas do mundo externo o sujeito ou é passivo ou não existe. O sujeito é um delírio]
Os fatos e a teoria
“Os próprios fatos são verificados…” (82).
[Objetivismo positivista]
Trauma do nascimento: fatos são os abalos fisiológicos, mas os derivados freudianos não
Édipo: erotismo infantil é fato, mas o seu desenvolvimento como complexo não
fatos encontramse no plano objetivo e as interpretações freudianas no subjetivo
[E em Bakhtin só há lugar para um desses pólos e não para a relação entre ambos]
Fatores objetivos da dinâmica psíquica
O que resta?
“O conflito no interior do comportamento verbalizado do homem. A luta de motivos, mas não
a luta de forças materiais” (p. 83).
[O manifesto]
faltam os fatores socioeconômicos
[Falta a dominância do externo]
O CONTEÚDO DA CONSCIÊNCIA COMO IDEOLOGIA
[Até aqui Bakhtin se esforçou para brilhantemente contestar outra vez a existência do
inconsciente o colocando como um efeito do consciente. A centralidade da consciência e
esta como reflexo do mundo externo, ou seja, no fundo a centralidade do externo.]
Freud: desconfiar da consciência e de suas manifestações
Mas Freud transfere ao inconsciente o que psicologia atribuía ao consciente
Bakhtin vê inconsciente como um motivo da consciência, uma forma dela
A diferença é ideológica pois ambos são conhecidos por meio de reações verbalizadas
A diferença é entre consciência oficial e não oficial
[O recalque não existe e sim apenas a repressão, lógico. O sujeito é passivo diante o
externo, ainda que esse externo tenha um outro sujeito absolutamente ativo que explora]
comportamento se decompõe entre reações motoras e reações verbalizadas explicáveis por
fatores materiais [externos]
“O componente verbal do comportamento é determinado em todos os momentos essenciais
do seu conteúdo por fatores objetivossociais” (86).
[externos]
contexto imediato da sessão produz reações verbalizadas
contexto social mais amplo
Determinado por fatores sócioeconômicos
consciência como reflexo da luta de classes (87).
Os métodos de estudo do conteúdo da consciência
Vivência individual conscientizada é elaboração ideológica do ser
usar o método que se usa no marxismo para estudar as teorias ideológicas
“Toda enunciação verbalizada do homem é uma pequena construção ideológica” (88).
O conceito de ideologia do cotidiano
discurso interior e exterior
difere da ideologia enformada
ideologia do cotidiano e superestruturas ideológicas formais têm a mesma base econômica
e social
conflitos psíquicos em Freud são, na verdade, ideológicos
Refletem a luta de diferentes tendências e correntes ideológicas
As diferentes camadas da ideologia do cotidiano
consciência oficial: exprimem momentos mais estáveis e dominantes da consciência de
classe
Inconsciente ou consciência não oficial: distantes do sistema estável da ideologia dominante
“Em um grupo sadio…” (89).
a consciência não oficial, o inconsciente, é condicionada pela época e pela classe
“Todos os conflitos com que opera a psicanálise…” (89).
[Psicanálise é mero reflexo da ideologia burguesa e seus conflitos]
Inconsciente como discurso interior e consciente como discurso exterior, verbalizado,
enunciado
[Indivíduo sujeito de sua própria casa, cartesianamente falando. Ele sabe de tudo e só não
diz por regras sociais. Não há nenhum mecanismo interno ao sujeito que o barra, apenas o
externo. Não há recalque, só há repressão, e é burguesa]
motivos da consciênci não oficial, que não podem ser manifestos, se são baseados em
condições sócioeconômicas de um grupo, podem não se tornar asociais e formar ideologia
revolucionária
[Ideologia como conjunto de ideias]
O sexual
o sexual implica dificuldade para contatos verbalizados por estar mais próximo do animal
épocas de decadência e desintegração social: superestima do sexual
Sexual como não social
Freudismo: completa sexualização da família e das relações familiares
[Claro, Freud e a psicanálise inventou a sexualidade e a enfiou goela a baixo das famílias
puras e inocentes]
Conclusões
Freudismo: psicologia dos desclassificados
aspiração fundamental da filosofia: criar um mundo além do social e do histórico
Freudismo: mundo sexualismo
[Bakhtin está, como um bom marxista objetivista, disputando com Freud os fundamentos da
cultura: será a sexualidade como para Freud, ou as classes como para Bakhtin?]