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RIO DE JANEIRO
2015
KLEBER HENRIQUE FACCHIN
RIO DE JANEIRO
2015
Apresentação da monografia em __/__/____ ao curso de Especialização em Direito
Notarial e Registral.
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Coordenador: Prof. Dr.
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Orientador: Prof. Dr.
DEDICATÓRIA
Dedico a minha futura esposa, FLÁVIA SUMAIO DOS REIS, minha amada Flavinha, cujo amor me
faz sonhar e viver, me preenche de sentido e me dá forças para seguir adiante, e por cujo amor eu me ponho de
Aos meus pais VANDERLEI CARLOS FACCHIN e CACILDA BARUFFALDI FACCHIN, sem cuja
À minha FLAVINHA, que sempre esteve ao meu lado na minha caminhada acadêmica e
profissional, pelo constante e devotado companheirismo, pelo imenso carinho e pelo apoio incondicional que
dedicou aos meus projetos desde o vestibular para o curso de Direito até os sonhos mais altos, todos os dias das
nossas vidas.
Às nossas companheiras felinas, PHOEBE e CHANDLER, por iluminarem o lar em que vivemos com
a franca alegria que emana de seus gestos mais singelos e a mais profunda pureza que raríssimas criaturas são
capazes de conservar.
Aos meus pais VANDERLEI CARLOS FACCHIN e CACILDA BARUFFALDI FACCHIN, que se dedicaram
a mim desde a minha concepção e me proporcionaram todas as condições para que eu pudesse alçar o atual
patamar em que me encontro hoje, nutrindo em mim os valores da retidão e do trabalho e sempre me oferecendo
a melhor educação que pudessem oferecer. À minha avó LEONEIDE CÓRDOBA BARUFFALDI, que igualmente
zelou por mim desde os meus primeiros passos, suportando a minha ausência com serena compreensão.
A todos que estiveram ao meu lado e, cada um à sua maneira, contribuíram para possibilitar a
Contemporaneamente, o crédito assumiu um papel de destacado relevo na matriz da economia capitalista. Com o
condão de adiantar a realização dos anseios de consumo, propulsionou a ampliação da demanda e tornou-se força
motriz do modo de produção. Ocorre que a concessão irrefreada de créditos, tomados sem o devido
planejamento, desaguou num mar de inadimplência, cujas consequências se estendem desde a insegurança do
mercado até as bases da produção. A generalização da inadimplência fragiliza a economia e traz ônus para todos
que dela participam. Diante disso, patente a necessidade de instituir formas de controle do crédito e contenção da
inadimplência, a Lei 9.492/97 deu novo horizonte à função dos tabelionatos de protesto, ampliando o alcance de
sua publicidade e conferindo-lhe distinta eficácia como instrumento hábil para intentar a recuperação de créditos.
Com esta configuração, o protesto ganhou novos contornos, recuperando substancialmente a segurança das
relações jurídicas estabelecidas no mercado, a confiabilidade do ambiente negocial e a probabilidade de
cumprimento das obrigações pecuniárias firmadas em títulos de crédito e outros documentos de dívida. Com
isso, o protesto contribuiu para a redução objetiva das perdas dos credores, inclusive as pequenas empresas que
dependem do recebimento de seus créditos para saldarem as próprias dívidas e fazerem os reinvestimentos
necessários para enfrentar a crescente concorrência. Reflexamente, diminuem os riscos da atividade mercantil,
desonerando em cadeia os valores que tais riscos agregavam aos preços das mercadorias, além de levar à queda
nas taxas de juros, tornando o crédito mais a acessível às empresas que dependem dele para fazer os
investimentos necessários para parear a concorrência e permanecer no mercado. Tendo em vista a relevante
repercussão social promovida pelos efeitos do protesto na economia, emerge a concepção de uma função social
dos tabelionatos de protesto no domínio da economia contemporânea, identificando o protesto de títulos e
documentos como vetor fundamental para o desenvolvimento de uma economia mais sólida e sustentável, dentro
dos moldes do que prevê a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, no título dedicado à Ordem
Econômica e Financeira.
Contemporaneously, the credit system seized a paper of highlighted importance on the matrix of capitalist
economy. With the power to advance the realization of consumption aspirations, it propelled the growth of
consumer demand and became the driving force of production. Besides, the unbridled lending of credit, taken
without proper planning, flowed in a sea of defaulting, whose consequences extend from the insecurity that
spreads in the market until the bases of production. The widespread of defaulting weakens the economy and
burdens all its parts. Thus, due to the highlighted need to establish forms of credit control and containment of
defaulting, the Law 9.492/97 gave new horizon to the function of notarial protest, extending the reach of its
publicity and enabling it as an effective instrument for seeking the recovery of credits. With this configuration,
the protest gained new contours, sponsoring a substantial recovering from the security of legal relations
established in the market, the reliability of the business environment and the likelihood of fulfillment of financial
obligations signed into credit titles and other debt documents. Thus, the protest contributed to the objective
reduction of the losses of creditors, including small businesses that rely on receiving their credits to pay their
own debts and make the necessary reinvestments to face increasing competition. Reflexively, it decreases the
risks of commercial activity, relieving progressively the values aggregated by such risks to goods’ prices. It still
leads to lower interest rates, making credit more accessible to companies who depend on it to make the necessary
investments to pair competition and stay in business. Before the significant social impact promoted by the effects
of protest in the economy, emerges the concept of a social function of notarial protest in the field of
contemporary economy, identifying the protest of credit titles and documents as a fundamental vector for the
development of a stronger and sustainable economy, within the outlines given by the Constitution of the
Federative Republic of Brazil, from 1988, in the title dedicated to the Economic and Financial Order.
1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 8
2. PROPOSIÇÃO .................................................................................................................. 12
4. DISCUSSÃO ...................................................................................................................... 19
4.1 O protesto de títulos e documentos de dívida e seu papel em relação ao crédito ...... 21
4.2 Reflexos relevantes do protesto e sua função social na economia de mercado .......... 37
4.2.2 Restrições ao crédito para evitar a elevação dos preços ao consumidor ................. 38
5. CONCLUSÃO ................................................................................................................... 49
1. INTRODUÇÃO
Nunca antes na história o crédito teve um papel tão marcante como o que ocupa
hoje, na fase atual do capitalismo. Com efeito, se outrora os títulos cambiais representavam
sua emissão é o adiantamento de valores ainda não logrados pelos beneficiários do crédito, os
Nos velhos tempos [...] era preciso adiar a satisfação [...]: apertar o cinto,
privar-se de certas alegrias, gastar com prudência e frugalidade, colocar o
dinheiro economizado na caderneta de poupança e ter esperança, com
cuidado e paciência, de conseguir juntar o suficiente para transformar os
sonhos em realidade. [...] Com um cartão de crédito, é possível inverter a
ordem dos fatores: desfrute agora e pague depois! Com o cartão de crédito
você está livre para administrar sua satisfação, para obter as coisas quando
desejar, não quando ganhar o suficiente para obtê-las.
formas por meio das quais se promove o adiantamento de valores, constituindo créditos.
Dentre elas, há duas espécies que interessam particularmente à presente pesquisa: os títulos de
Diante disso, não há dúvida de que muitos títulos de crédito são postos em
circulação e muitos documentos de dívida são firmados todos os dias, com o compromisso de
muitas das vezes, a capacidade financeira para adimplir as obrigações depende de fatores
Bem como infere Bauman (2010, p. 19), “hoje, ingressar nessa condição [de
endividamento que se autoperpetua pelos seus encargos] é mais fácil do que nunca antes na
história da humanidade, assim como escapar dessa condição jamais foi tão difícil”.
Bens, Serviços e Turismo (Dez. 2014), no mês de dezembro de 2014, 59,3% das famílias
entrevistadas tinham dívidas a pagar, sendo que 18,5% estavam com suas dívidas atrasadas e
ajustando o pagamento de suas contas para o futuro, que aproximadamente uma em cada
cinco famílias tem dívidas em atraso e que a cada vinte famílias, existe pelo menos uma que
todos os sujeitos que interagem no mercado, cujas finanças dependem da vitalidade das
mercantil, drenando a vitalidade das relações cambiais. Afinal, os credores que não recebem
suas dívidas terão mais dificuldade para adimplir seus próprios compromissos creditórios, o
segurança das relações estabelecidas no mercado, vale dizer, maiores os riscos dos
inibir a inadimplência, aos quais os credores lesados possam recorrer para exigir seus créditos
vencidos. Mais que isso, aliás, o crescente dinamismo nas relações mercantis demanda uma
via célere para intentar a recuperação dos créditos e combater a prática da inadimplência,
Com efeito, sem qualquer dúvida, o protesto satisfaz muito bem tais condições,
recuperação dos créditos e cuja natureza garante a publicidade das obrigações inadimplidas.
Neste sentido, fazendo um exame atido do alcance que os efeitos do protesto têm
sobre a sociedade e sobre a economia, este trabalho buscará demonstrar a existência de uma
2. PROPOSIÇÃO
estagnação dos campos de exploração capitalista. E, por sua vez, esta mudança paradigmática
produção.
mercantis.
efetivado pelo tabelião –, desponta como excelente ferramenta para enfrentar os problemas
inerentes à circulação de crédito no mercado. Afinal, o protesto é uma via segura e legítima de
compelir o devedor a satisfazer sua obrigação com o credor, assim como é a via jurisdicional.
Mas, enquanto a via jurisdicional padece de problemas estruturais que levam à morosidade
todos os títulos protestados, no período mínimo que compreende os últimos cinco anos
anteriores à data do pedido de certidão. Além do mais, a própria Lei 9.492 de 1997 estabelece
13
relação, dos protestos tirados e dos cancelamentos” (Art. 29, Lei 9.492/97).
Com isso, por meio da publicidade que dimana do protesto notarial, o tabelionato
àqueles que tiveram protestado título ou documento de dívida no qual figuravam como
confiabilidade nas relações mercantis, reduzir os riscos dos negócios jurídicos e ajudar a
3. REVISÃO DE LITERATURA
do devedor principal de um título vencido. Eis que, conforme se extrai das lições de Fábio
Ulhoa Coelho (2015, p. 301), na seara do direito cambiário, o protesto é visto como mera
Quer dizer, se o credor intenta exigir dos coobrigados o crédito do qual é titular, deverá
comprobatória, para a qual fora criado a priori. Em primeiro lugar, por funcionar como meio
créditos vencidos.
Minas Gerais, Helton de Abreu e Simone Eberle (apud GARCIA, 2013, p. 77) fizeram um
levantamento dos títulos levados a protesto entre 2007 e 2011, por amostragem de 39 dos 297
protesto, cerca de 80% tiveram sua situação resolvida, satisfazendo a intenção do credor de
receber o que lhe era devido, com um índice que varia entre 65% a 90%, isto sem nunca
atingir percentuais menores que 50%, ainda que considerados somente os títulos pagos ou
15
retirados dentro do período de três dias, antes do protesto ser lavrado (ABREU; EBERLE
e Títulos de Campinas, estado de São Paulo, em sua tese de mestrado, relata o elevado índice
apresentados no tabelionato de cuja delegação é titular, apontando que, entre os anos de 2005
e 2011,
consolidou como uma alternativa extrajudicial de recuperação de crédito, função que foi
editar a Lei 9.492, em 1997, ampliou a abrangência dos documentos passíveis de protesto,
incluindo a possibilidade de levar a protesto não somente títulos de crédito, mas também
outros documentos de dívida. Nas palavras do tabelião de protesto Sérgio Luiz José Bueno 1
(2013, p. 31), “nascido como figura integrada exclusivamente ao universo cambiário, hoje o
1 1º Tabelião de Protesto de Letras e Títulos de São José de Rio Preto, estado de São Paulo.
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protesto, no atendimento das necessidades sociais e econômicas, [...] passou a ser admitido
Outra circunstância que leva o protesto para além da função para a qual foi
da Lei 9.492/97, os cartórios deverão lhes fornecer “quando solicitada, certidão diária, em
abalo no crédito do devedor, e é esse um dos principais fatores que levam a altos índices de
Vale lembrar que inúmeras vezes os credores são pequenas empresas que
conseguir sobreviver ao mercado. Tal como observa Bueno (2013, p. 61), “muitas vezes quem
concede o crédito é o pequeno comerciante, que para sobrevida de seu negócio depende que a
Destarte, o protesto também tem sua relevância pautada pelo aporte que
em atividade, e, por consequência, constituindo fator relevante para a realização de sua função
social na economia.
Afinal:
circulação do crédito no mercado. Assim, estabelece maior segurança nas relações mercantis.
Consoante entende Fabio Fioruci (apud SANTOS, R.V., 2012, p. 176), a publicidade do
protesto faz parte de um sistema de informações que protege o direito subjetivo dos terceiros,
Reinaldo Velloso dos Santos (2012, p. 177) conclui assinalando que, no contexto
risco do credor”.
E, evidentemente, uma vez que “a falta de meios adequados para a exigência das
obrigações [...] também onera o crédito, com a imposição de taxas de juros maiores”
(SANTOS, R.V., 2012, p. 177). A contrario sensu, ao reduzir os riscos dos credores – sejam
4. DISCUSSÃO
contemporânea.
Pois bem. Conforme leciona Zygmunt Bauman (2010, pp. 9-10), “a força do
capitalismo está na extraordinária engenhosidade com que busca e descobre novas” fontes de
econômica causaria mudanças estruturais no mercado, o que de fato ocorreu. Com a expansão
pobres da população.
Brasil um padrão de “consumo mimético em função de as classes mais pobres tentarem imitar
os padrões das classes mais abastadas, haja vista o acesso a inúmeras alternativas de crédito”.
segundo a capacidade de consumo que ostentam pela exibição de suas posses, marginalizando
os indivíduos que não se enquadrem nas condições impostas pela mídia e pelo senso comum.
Diante desta realidade, a expectativa de inclusão social funda no espírito dos membros da
abre à liberdade uma esfera de vida social enorme, se não decisiva: a produção e distribuição
de dívidas sem condições apropriadas para solvê-las, o fato é que este fenômeno impulsionou
desejo consumista, o mercado consumidor tende a se valer de todos os meios disponíveis para
Com esta breve análise do mercado consumidor, fica claro que o crédito exerce
função essencial na dinâmica do capitalismo, na sua fase atual. Indo adiante, importa
moda, o consumidor demanda constantes renovações com as quais seja possível reforçar os
de paridade concorrencial. Obviamente, tudo isso requer novos investimentos e, muitas das
concessões de crédito.
Por todo o exposto, resta patente que o crédito desempenha um papel fundamental
contemporânea.
crédito
que:
A introdução dos cartões de crédito foi um sinal do que viria a seguir. Foram
lançados "no mercado" cerca de 30 anos atrás, com o slogan exaustivo e
extremamente sedutor de "Não adie a realização do seu desejo". [...] Com
um cartão de crédito, é possível inverter a ordem dos fatores: desfrute agora
e pague depois! Com o cartão de crédito você está livre para administrar sua
satisfação, para obter as coisas quando desejar, não quando ganhar o
suficiente para obtê-las.
inovação tecnológica. Contudo, a utilização de crédito nas transações comerciais não se limita
aos cartões de crédito nem aos moderníssimos meios eletrônicos de e-commerce. Até os dias
22
realizadas no mercado.
partes, sendo que uma das partes assume voluntariamente a obrigação de pagar determinado
valor a certo tempo. Na definição de Fábio Ulhoa Coelho (2015, p. 272), os títulos de crédito
Embora em regra os títulos de crédito tenham origem mercantil, eles podem ter
origens diversas, tais como, por exemplo, um contrato de aluguel em que o locatário,
comprometido a ficar no imóvel locado pelo período mínimo de doze meses, firma uma nota
parte lesada sobre o valor a ser pago, a título de indenização pelos danos causados. Assim
sendo, “se devedor e credor estiverem de acordo quanto à existência da obrigação e também
quanto à sua extensão (o valor da indenização devida), esta pode ser representada por um
título de crédito – cheque, nota promissória ou letra de câmbio, no caso” (COELHO, 2015, p.
271).
jurídica, não se confundem com a própria relação jurídica. Nas palavras de Fábio Ulhoa
Coelho (2015, p. 271), “os títulos de crédito são documentos representativos de obrigações
pecuniárias. Não se confundem com a própria obrigação, mas se distinguem dela na exata
medida em que a representam”. Ou seja, os títulos de crédito são documentos que constituem
conforme estejam previstas em lei para cada título de crédito – contidas em um título de
crédito justifica o protesto do título. Nos termos da Lei de Protesto, “o protesto será tirado por
dívida” (Art. 1º, Lei 9.492/97). Assim, o protesto tem um vínculo umbilical com os títulos de
Demais disso, o legislador da Lei 9.492 de 1997 optou por ampliar a competência
expressão esta que, segundo a doutrina majoritária, abrange os demais títulos executivos,
82) assevera que na normatização paulista, estabelecida pela Corregedoria Geral da Justiça do
estado de São Paulo para os tabeliães deste estado-membro, “são considerados documentos de
caso singular pela Corregedoria Geral da Justiça, seria possível o protesto de documentos não
tachados de títulos executivos, mas que satisfaçam as condições para executividade do artigo
Levando em conta este entendimento, Bueno (2013, p. 86) conclui sua reflexão
postulando que, para fins de interpretação da Lei de Protesto, “documento de dívida é todo
título executivo (judicial ou extrajudicial) ou outro documento cujo protesto seja permitido
Portanto, todo sujeito que houver concedido créditos consubstanciados por títulos
de crédito ou documentos de dívida, com relação aos quais haja recusa no aceite ou falta de
devolução dos títulos – nos casos da letra de câmbio e da duplicata2 – ou, enfim, a falta de
uma extensão qualitativa deste instituto. Para Bueno (2013, p. 31), ao incluir o protesto dos
abriram espaço para o desenvolvimento de sua utilidade para melhor atender a finalidades que
a princípio eram tidas por secundárias, tais como a publicização da inadimplência e a busca
tabelionatos de protesto, merece maior atenção o estudo das finalidades do protesto, bem
2 Para mais informações a este respeito, ver Sérgio Luiz José Bueno. Tabelionato de protesto. Coord.
Christiano Cassettari (col. Cartórios). São Paulo: Saraiva, 2013, pp. 117-119.
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protesto. Para tanto, basta fazer um exame da Lei 9.492/97, buscando encontrar o escopo para
Destarte, consoante sua definição legal, pode-se dizer que o protesto tem por
contra o devedor principal ou originário” (SANTOS, E.T.V., 2012, p. 119-20), tem-se que a
principal não adimpliu obrigação expressa em título de crédito ou outro documento de dívida.
impontualidade, dentre outros atos jurídicos que pedem esta prova solene como precondição
Nesta esteira, Bueno (2013, p. 28) identifica que “a função do protesto é [...]
Nos casos de protesto necessário, definido por Bueno (2013, p. 56) como aquele
em que o protesto é “ato indispensável para que o portador conserve determinados direitos”, a
lavratura do protesto constitui uma condição necessária para demandar a tutela jurisdicional
determinados direitos derivados do título executivo. Por isso, a doutrina classifica que, ao
autenticidade, publicidade, segurança e eficácia aos atos que tangem a relação jurídica
estabelecida entre os sujeitos que figuram no título ou documento de dívida levado a protesto.
título ou documento de dívida a protesto, ele o faz com um desiderato pessoal. Portanto, há
subjetiva do apresentante, ou seja, sua expectativa com relação ao protesto. A primeira delas é
o protesto especial para fins falimentares. Neste caso, o protesto é requerido com a finalidade
94, inciso I, da Lei 11.101/2005 para, então, pedir a decretação da falência do devedor.
imprescindível para que o portador possa exercitar algum direito relativo ao título. Uma delas,
enfatizada por Bueno (2013, p. 57) é a hipótese em que o protesto visa “possibilitar ao
portador do título o direito de regresso contra devedores indiretos”, salientando que caso um
dos devedores indiretos efetue o pagamento do título, torna-se de pronto seu portador e,
enquanto portador que é, deverá se sujeitar “às mesmas normas que impõem ao primeiro
(credor originário) o protesto necessário, caso pretenda exercitar seu direito de regresso”. Eis
Este exemplo serve para ilustrar quais são as pretensões dos titulares de direitos
qualquer credor é sempre receber o montante que lhe é devido. Todavia, nos casos de protesto
necessário, existe uma intenção imediata que é a de abrir caminho para a possibilidade de
de direitos do portador. Nesta perspectiva, o protesto é apenas um meio extrínseco para que o
Entretanto, o protesto, per si, pode funcionar como meio direto de recuperação
dos créditos. Aliás, de acordo com Reinaldo Velloso dos Santos (2012, p. 200), o protesto
“tem se revelado como um meio célere e eficaz para a recuperação de crédito”. De fato,
conforme já comentado alhures3, muitos casos terminam com o recebimento dos créditos
O tabelião de protesto José Caros Alves (2014, p. 201) expressa seu entendimento
no sentido de que “o abalo no crédito sofrido por um devedor que tem um título ou
desejada pelo credor”. Com efeito, nota-se que o abalo no crédito é o meio mais eficaz de
compelir o devedor a satisfazer sua obrigação. Logo, o desiderato maior do credor é que, a
3 Vide pp. 15-16. Para mais informações, ver Reinaldo Velloso dos Santos. Apontamentos sobre o protesto
notarial. Dissertação de mestrado. Orientador: Mauro Rodrigues Penteado. São Paulo: USP, 2012, p. 182; bem
como Helton de Abreu e Simone Eberle apud Raquel Duarte Garcia. Protesto de títulos de créditos e
documentos de dívida como solução extrajudicial para recuperação e execução de créditos. Dissertação de
Mestrado. Orientador: Jean Carlos Fernandes. Nova Lima, MG: Faculdade de Direito Milton Campos, 2013, pp.
77-78.
29
Neste sentido Sérgio Luiz José Bueno (2013, p. 30) ressalta que, normalmente, o
satisfação do crédito do qual é titular. Ademais, vale acrescentar, é facilmente inteligível que a
vontade última do apresentante que busca o protesto é sempre a recuperação de seus créditos,
pois esta seria a maneira mais segura de eliminar o litígio que repousava sobre a relação
jurídica subsistente por trás do título ou documento levado a protesto e, assim, conferir
eficácia e segurança jurídica aos atos jurídicos que permearam a assunção da obrigação ora
inadimplida.
Posto isso, não devem restar controvérsias de que a recuperação dos créditos seja
a pretensão mais comum relacionada ao protesto e, por isso, também se revela a finalidade
Além do efeito probatório para o qual o protesto fora instituído, consoante artigo
1º da Lei de Protesto, outras leis, extravagantes ao protesto em si, se valem do protesto como
Um dos casos em que o protesto aparece como condição legal é a recém citada
da falência, sendo este um efeito extrâneo ao protesto, mas decorrente de sua lavratura.
também a ocorrência de um efeito legal subjacente, não previsto no conjunto das normas
relativas ao protesto, mas nas leis que tratam de cada título de crédito em espécie ou em
outros diplomas que estatuam exigência do protesto para autorizar um determinado ato
jurídico.
Vale lembrar, conforme já dito anteriormente, que o rol das situações em que se
faz necessário o protesto não é um rol taxativo. Afinal, tais situações não estão
leis esparsas.
Além dos resultados obtidos com o protesto quando ele perfaz condição
brasileiro, mediante análise das diversas normas jurídicas vigentes, importa destacar o efeito
efeito da publicidade.
31
O efeito moratório está previsto na própria Lei 9.492/97, artigo 40, segundo o qual
“não havendo prazo assinado, a data do registro do protesto é o termo inicial da incidência de
documento de dívida”. Diante disso, entende-se que o registro do protesto tem efeito
constitutivo de mora do devedor, servindo como marco para o início da contagem de juros,
Por outro lado, segundo explica Luiz Emygdio Franco da Rosa Junior (apud
inicia-se a partir da data do registro do protesto, esta disposição legal somente se aplicaria aos
títulos cambiários com relação à contagem de juros, enquanto a atualização monetária seria
Segundo disposto no Código Civil, em seu artigo 202, inciso III, “a interrupção da
prescrição, que somente poderá ocorrer uma vez, dar-se-á: [...] por protesto cambial”. Ou seja,
Não obstante haver uma súmula editada a respeito deste efeito – a Súmula n. 153
Importa destacar, outrossim, consoante explica Bueno (2013, p. 60), que este
efeito incide apenas com relação aos títulos de crédito, excluindo-se os demais documentos de
dívida passíveis de protesto, uma vez que estes últimos estão fora da esfera do direito
a aplicação do dispositivo.
primeiro protesto por falta de pagamento, não se levando em conta os cancelados – aparece
como um dos possíveis paradigmas para a fixação do termo legal da falência e, conforme
ressalta Bueno (2013, pp. 59-60), “este marco traz importantes consequências previstas na
referida lei”.
Pelo que se infere do artigo 129 do mesmo diploma legal, tais consequências se
destinam à proteção dos credores, induzindo à ineficácia de atos como a concessão de bens
em garantia real (mesmo que em favor de algum dos credores, pois isto violaria a isonomia
entre eles), o pagamento antecipado de dívidas vincendas ou, ainda, o pagamento de dívidas
33
vencidas e exigíveis, mas feito de maneira diversa da estipulada em contrato (por exemplo,
protestos, não cancelados, a quaisquer interessados, desde que requeridas por escrito”. Assim,
é correto afirmar que hodiernamente o protesto faz parte do sistema de registros públicos. Ou
seja, os títulos e documentos de dívida que estejam protestados estão sujeitos ao princípio da
privada. Segundo Bueno (2013, pp. 28-29), “uma dessas importantes transformações decorreu
da extensão do protesto, antes destinado a comprovar a falta de aceite, também aos casos de
falta de pagamento”.
função do protesto vai além de provar o inadimplemento do título pelo devedor principal,
alçando uma função mais ampla, de interesse público 5, promovendo a efetiva proteção do
crédito.
4 Isto é, aqueles cujo protesto tenha sido lavrado e em cujo registro não conste averbação de cancelamento.
5 Neste sentido, ver Fabio Fioruci apud Reinaldo Velloso dos Santos. Apontamentos sobre o protesto notarial.
Dissertação de mestrado. Orientador: Mauro Rodrigues Penteado. São Paulo: USP, 2012, p. 176.
34
revelará que o protesto tem relevantes efeitos decorrentes das decisões que os indivíduos
tomam perante sua potencialidade e seus efeitos. Desta forma, o protesto mostra-se capaz de
notários em geral, contribuem para aliviar a carga de serviço do Poder Judiciário. Conforme
assinala Brasil Chaves e Rezende (2013, p. 76), ao comentar sobre o princípio notarial da
prevenção de litígios:
Neste sentido, Bueno (2013, p. 30) registra que, diante das proporções atingidas
obrigações deve ser bem vista. O pagamento realizado no tabelionato pode evitar o
ajuizamento de mais uma ação”. Na mesma esteira, Reinaldo Velloso dos Santos (2012, p. 3)
considera que “o protesto se caracteriza [...] como um relevante instrumento para recuperação
judiciais”.
35
desempenho de suas atividades pelo tabelião de protesto contribui para prevenção de litígios,
pagamentos obtido no procedimento de protesto. Ainda, como bem anota o tabelião José
Carlos Alves7 (2014, p. 198), “a função do protesto notarial que mais se acentua nos dias
grande parte, às consequências da publicidade. Como bem ensina Bueno (2013, p. 61),
“decorrência direta da publicidade [...] o protesto tem o legítimo efeito de gerar o abalo no
crédito do devedor, e é esse um dos principais fatores que levam a atos índices de satisfação
da obrigação”.
produção de efeitos sociais. Afinal, é por meio dela que a informação do protesto chega à
6 Vide pp. 15-16. Ver Reinaldo Velloso dos Santos. Apontamentos sobre o protesto notarial. Dissertação de
mestrado. Orientador: Mauro Rodrigues Penteado. São Paulo: USP, 2012, p. 182; bem como Helton de Abreu e
Simone Eberle apud Raquel Duarte Garcia. Protesto de títulos de créditos e documentos de dívida como solução
extrajudicial para recuperação e execução de créditos. Dissertação de Mestrado. Orientador: Jean Carlos
Fernandes. Nova Lima, MG: Faculdade de Direito Milton Campos, 2013, pp. 77-78.
7 1º Tabelião de Protesto de Letras e Títulos da Comarca da Capital, estado de São Paulo. Presidente do Instituto
de Estudos de Protesto de Títulos do Brasil – Seção São Paulo.
36
que o sujeito não adimpliu a obrigação assumida, denunciando seu descomprometimento com
saliente é o abalo no crédito do devedor. Este efeito do protesto não se dá somente pela
interessados que contratem o serviço de consulta junto às entidades solicitantes das certidões
de protesto, servindo como parâmetro aos concedentes de crédito, para que possam se
guarnecer contra a possibilidade de prestarem créditos que não receberão no tempo devido.
alcance “se amplia com a remessa das certidões em forma de relação às entidades de proteção
próprios Tabeliães de Protesto, por meio das entidades que os agrupam” (BUENO, 2013, p.
61).
àqueles que têm créditos pendentes de adimplemento – fato este que é solenemente
que hoje há mais pagamentos que protestos” (BUENO, 2013, p. 29). Quer dizer, além de
funcionar para reduzir o potencial de inadimplemento dos títulos emitidos no mercado, ainda
inadimplência graças à consulta aos órgãos de proteção ao crédito, mais aqueles que deixam
efetuam o pagamento quando instados pelo tabelionato de protesto, com tudo isso,
inequivocamente, o protesto promove uma redução objetiva das perdas dos credores que,
como se verá adiante, tem uma repercussão positiva para todo o mercado.
mercado
importante vetor de seus reflexos sociais, pois faz com que muitos títulos sejam pagos,
38
demonstrado ao longo das próximas páginas, este mecanismo tem importantes reflexos na
sociedade e na economia.
sendo este um dos efeitos do protesto que mais alto ecoam na economia contemporânea,
Por outro lado, promove uma espécie de prevenção geral do mercado contra a
obrigações. Aqueles que não honrariam suas prestações pela mera representação moral do
compromisso, mas que temem as consequências jurídicas e práticas desta escolha, são
acabam por saldar suas dívidas. Assim, “a iminência de um protesto [...] serve de importante
certamente implicará numa exacerbação nos preços dos produtos e serviços mais procurados
8 “A procura é a quantidade de um bem que os adquirentes estão dispostos a comprar a um dado preço num
determinado período”, conforme explana Fábio Nusdeo. Curso de economia: introdução ao direito econômico.
7. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2013, p. 250.
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de novos meios de pagamento e limitando a demanda por bens e serviços, a fim de evitar a
Nesta estrutura, sem dúvida nenhuma, o protesto tem relevante papel. Devido à
consequente alcance estendido de sua publicidade, bem como aos elevados índices de
os riscos de inadimplência a que está sujeito. Quanto maior for seu risco, maior a margem de
valor que incluirá sobre os preços finais para compensar essa variável.
consequente redução dos ônus que incidem desses riscos sobre os produtos, ou seja,
redução dos riscos compreendidos pela atividade mercantil, especialmente por considerar que
atualmente.
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concessão de crédito, pois, à medida que decrescem as possibilidades de perda, cresce o grau
menores também serão as taxas de juros para concessão de créditos. Este aspecto também é
o primeiro fator citado por Fábio Nusdeo (2013, p. 282) é “o progresso tecnológico,
implicando uma proporção cada vez maior de custos fixos, o que, por sua vez, torna muito
produção capitalista,
sedimentados sobre valores vindouros – i.e., que ainda não foram economizados para então
contexto econômico, a disponibilização de capital a título de crédito aos que não possuem
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autonomia financeira para investir amplia o horizonte da mobilidade social, permitindo aos
pequenos empreendedores lograr uma qualidade de vida mais digna do que propiciada pela
Vale lembrar, também, que o mercado atual se funda na rápida obsolescência das
inovações e quem não for capaz de se adaptar às novíssimas exigências será considerado
periodicamente e convencer o público sobre os motivos pelos quais o novo produto merece
ser adquirido.
empresas são as “que mais sofrem com a [...] retração do crédito [...], uma vez que enfrentam
forte concorrência das empresas de maior porte no mercado de crédito. Sem acesso ao crédito,
empresários é incontestável, pois assegura sua inclusão e sua permanência no mercado, além
acessível este crédito deverá ser para os pequenos empresários. Pois, quanto maior for o
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índice de inadimplência, mais onerosa serão as tarifas incidentes sobre o crédito. Ainda que as
MEs e EPPs tenham acesso a linhas especiais de microcrédito, com condições mais fáceis de
pagamento, tarifas e juros mais baixos, cedo o tarde o encarecimento do crédito das linhas
meios adequados para a exigência das obrigações [...] também onera o crédito, com a
negócio próprio e buscar melhor desenvolvimento socioeconômico para si, sua família e
outros membros de seu entorno social que venham a beneficiar-se, direta ou indiretamente, da
mercado, inclusive quanto à preferência nas aquisições de bens e serviços pelos Poderes
capitalização das pequenas empresas, mantendo linhas de crédito especiais nos bancos
comerciais públicos, bancos múltiplos públicos com carteira comercial e na Caixa Econômica
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Todavia, mesmo com todo o aporte dado às pequenas empresas pela força
normativa da LC n. 123/2006, elas ainda estão sujeitas a sofrer o inadimplemento dos créditos
concedidos nas negociações mercantis que concluíram. Esta circunstância apenas já causa
empresas de menor aporte financeiro não dispõem de capital de giro suficiente para
Então, como adverte Sérgio Luiz José Bueno (2013, p. 61), é preciso levar em
conta que “muitas vezes quem concede o crédito é o pequeno comerciante, que para sobrevida
de seu negócio depende de que a dívida seja honrada”. Aliás, neste mesmo bojo se enquadra a
pequena indústria que depende do recebimento dos créditos que lhe são devidos para poder
saldar suas próprias dívidas e reinvestir no aparato tecnológico necessário para emparelhar-se
exigir os créditos que lhes são devidos, não terão fôlego para manter suas contas e permanecer
no mercado. Neste contexto, o protesto desponta como um meio célere, seguro e eficaz de
inadimplidos. E, além disso, alguns estados contam com previsão legislativa instituindo a
A título de exemplo, é este o caso do estado de São Paulo, cuja legislação – por
meio da Lei 10.710/2000 – veda ao tabelião exigir depósito prévio. Se o devedor quiser
resolver a sua situação perante o tabelionato de protesto, deverá arcar com os emolumentos
Outrossim, importa salientar que, além dos interesses individuais dos empresários
Dentro desta conjectura, o protesto emerge como excelente instrumento para que
esses credores desamparados possam buscar a recuperação de seus créditos, haja vista a
mercantis contemporâneas.
obter a satisfação de seu crédito, o que pode obter em pouco tempo, com segurança e
legalidade” (BUENO, 2013, p. 30). Assim, o protesto contribui amplamente para resguardar a
capacidade financeira dos apresentantes, pois apresenta significativa eficácia como meio
atestou a inexistência de protestos registrados, isso indica que este sujeito tem interesse em
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manter íntegra sua imagem como tomador de crédito confiável, ou seja, bom pagador. Então,
ainda que este devedor não pague o título no vencimento, considera-se haver uma relação
favorável entre o custo para efetuar o pagamento e o benefício de se evitar futuras restrições
no mercado de crédito. Diante disso, há expressivas chances de fazê-lo quando for intimado
Com efeito, uma vez satisfeita a pretensão do credor de reaver seus créditos, ele
incorpora recursos para manter seu poder financeiro. Por conseguinte, o protesto assegura o
equilíbrio do ambiente comercial, conferindo uma via legal, segura e eficaz de recuperação de
passivos.
ainda conferem uma possibilidade a mais às empresas para que revertam condições de
cumprir as suas próprias prestações e fazer os investimentos necessários para enfrentar a dura
de mercado.
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Muitos argumentam que os serviços do tabelião de protesto seriam caros, defendendo que
as entidades de proteção ao crédito teriam maior benefício em função do custo, prestando um serviço
supostamente equivalente por um valor supostamente mais baixo. Neste ínterim, importa investigar se
os valores cobrados pelas entidades particulares é realmente mais módico do que são os emolumentos
percebidos pelo tabelião e, mais que isso, elucidar quais são as diferenças dos serviços prestados.
Investidos nesta função pública por delegação do Estado, os tabeliães são imparciais no desempenho
de suas atribuições, ao contrário das entidades de proteção ao crédito que, sendo pagas pelos credores,
inclinam-se nitidamente para assegurar os interesses de seus clientes. Em razão disso, não são raras as
Recentemente, foi aprovada no estado de São Paulo uma lei que regulamenta o processo
de negativação. Trata-se da Lei n. 15.659/2015, a partir da qual, “antes de sujar o nome do cidadão, os
birôs de crédito são obrigados a notificar o consumidor por meio de aviso de recebimento e apresentar
a prova da dívida, seja por nota fiscal ou por nota promissória, comprovando a sua legalidade”
Antes dessa lei, a contratação dos serviços das entidades privadas de proteção ao crédito
(ou, os birôs de crédito, tal como os descreve José Carlos Alves) não respeitavam critérios de
legalidade nem se preocupavam em notificar o devedor para que este tivesse a oportunidade de
adimplir sua dívida. Inobstante as melhorias que a nova lei deve trazer à sociedade, os birôs de crédito
inegavelmente continuarão eivados pela parcialidade, pois seu objetivo essencial é receber os lucros,
Com o advento da nova lei, os preços dos birôs de crédito certamente irão subir,
prejudicando o argumento que normalmente era utilizado em face dos tabeliães. Argumento que, aliás,
já não correspondia com a verdade. Por exemplo, no caso do estado de São Paulo9:
9 A Lei Federal 10.169/2000, que estabelece normas gerais para a cobrança dos emolumentos, deixou ao
legislador estadual a competência para fixar os custos de selos e emolumentos conforme as peculiaridades locais
de cada estado. Assim, é necessário adotar um estado como paradigma. No caso, optou-se por São Paulo.
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Vale acrescentar que o apresentante nada paga para apresentar o título a protesto,
enquanto os devedores têm a garantia de que não serão negativados indevidamente pelo tabelião,
direito, devidamente capacitados para qualificar a legalidade e a regularidade dos títulos de crédito e
documentos de dívida que recebem a protesto. Vale lembrar também que os tabeliães não estão
protegidos pelo manto da personalidade jurídica, como estão os administradores das entidades de
proteção ao crédito. Sua responsabilidade é pessoal e ilimitada. Logo, é certo que o tabelião adotará
todas as cautelas, valendo-se do seu preparo jurídico para evitar problemas para ambas as partes e,
Por tudo isso, evidente que a função de manter a harmonia das relações de crédito
deve ser desempenhada pelos tabeliães de protesto, não pode ser deixada ao livre ofício de
.
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5. CONCLUSÃO
do capital, passando por crises cíclicas a cada lapso temporal – note-se que
que, na segunda metade do século XX, os economistas apontaram o crédito como uma
possível alternativa para movimentar a economia. A ideia era injetar volume monetário no
mercado para que a demanda crescente por bens e serviços fosse capaz de alavancar a
apelam para o crédito sem a devida provisão de recursos para arcar com o pagamento de suas
dívidas.
Com isso, a política de propulsão da economia por meio do crédito abriu vasto
campo para a inadimplência, haja vista que muitos tomadores de crédito deixavam de pagar
seus débitos, tendo sido responsável por crises colossais, como foi a crise do crédito subprime
dos credores – especialmente os menos abastados – para pagarem as suas próprias dívidas,
além de criar um ambiente de insegurança nas relações negociais, levando à elevação dos
preços praticados, bem como o encarecimento do próprio crédito que, em alguns casos, é
protesto notarial se revela como meio seguro de instituir controle sobre a inadimplência,
de crédito ou documentos de dívida, além de abrir grande margem para o recebimento das
prestações vencidas.
oferecem suporte aos membros do comércio e da indústria que mantenham relações mercantis
gratuita que são mantidos pelas entidades de classe às quais pertencem os tabeliães de
protesto.
Com isso, institui-se um efeito ao qual a doutrina se refere como “abalo no crédito
crédito ou documento de dívida levado a protesto, mesmo instado pelo tabelionato a fazê-lo,
mercado daqueles sujeitos que tenham inadimplência solenemente comprovada pelo protesto,
bem como a inibição geral da inadimplência e, por fim, o aumento das chances de receber os
créditos prestados.
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idoneidade realizado por meio das consultas aos bancos de dados de proteção do crédito, pois
isto significa que eles não têm parcelas pendentes e, então, o montante a saldar para não
incorrer em inadimplência é muito menor do que para aqueles que deixaram as dívidas se
acumularem.
Com isso, conclui-se que o protesto tem um papel socialmente relevante para
firmados e a segurança jurídica das relações jurídicas estabelecidas no mercado. Disto sucede,
automaticamente, a redução das perdas dos credores e a redução dos riscos inerentes à
atividade mercantil.
Com riscos menores, desonera-se toda a cadeia mercantil, desde o setor produtivo
até os bolsos do consumidor final. Aliás, a elevação dos preços também é contida pelo sistema
comprovar idoneidade para obter crédito, opera-se uma redução na demanda potencial por
bens e serviços ou, melhor, impede-se o aumento exacerbado desta demanda, impedindo
reflexamente a alta dos preços nos produtos e serviços cuja demanda tivesse sofrido maior
inflação.
cobrados pelo uso do crédito. Neste sentido, apesar da fragilidade econômica que o crédito
pode induzir, a função social que o protesto cumpre, neste caso, é tornar o crédito mais
acessível às pessoas que dele efetivamente necessitam. É o caso das pequenas empresas, que
crédito aos que não possuem autonomia financeira para investir. Assim, amplia-se o horizonte
da mobilidade social, dando condições aos pequenos empreendedores para buscarem uma
qualidade de vida mais digna do que poderiam lograr com a venda de sua força de trabalho.
Além do mais, muitos dos credores que procuram os tabelionatos de protesto, com
– isto é, o recebimento dos créditos que lhes são devidos – para preservarem sua capacidade
para a sustentação das empresas que não disponham de capital de giro suficiente para suportar
longo prazo.
rápidos – abonados pelos predicados que derivam da oficialidade do tabelião, seus serviços
exalam segurança jurídica, pois são guiados pela estrita legalidade, pela solenidade e pela
celeridade que são próprias do procedimento do protesto – aos quais os credores lesados
podem recorrer para buscar a recuperação de seus créditos, desde que consubstanciados em
Além de todas essas qualidades que podem ser atribuídas aos serviços prestados
pelo fito de estimular os credores a buscar o protesto – devendo o devedor pagar as despesas
quando quiser resolver a sua situação junto ao tabelionato de protesto – pode ser encontrada
no atendimento de sua função social, vai além dos interesses particulares dos sujeitos que
figuram nos títulos e documentos de dívida levados a protesto e transcende, até, os interesses
dos concedentes de crédito que se protegeram pelo sistema de publicidade dos registros de
protesto.
interesse público de todo o mercado e, uma vez que a essência do capitalismo está na
coletividade.
de recebimento dos créditos concedidos, reduzindo os riscos da atividade mercantil. Com isso,
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ocorre uma diminuição em cadeia dos valores que os riscos agregam aos preços finais, além
Diante disso, o crédito se torna mais acessível às empresas que dele dependem
para pagar suas dívidas, fazer investimentos necessários para se parear à concorrência e,
enfim, reunir condições para permanecerem ativas no mercado. Neste sentido, os tabelionatos
comprometido com o adimplemento das obrigações que estejam contidas em títulos de crédito
e documentos de dívida.
fundamental para o desenvolvimento de uma economia mais sólida e sustentável, dentro dos
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