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MACHADO DE ASSIS
Machado não tinha compromisso com editoras, por isso ele tinha muito tempo entre a
publicação de um livro e outro o que possibilitou muito espaço para a reflexão. Ele tinha
planejamento e coerência em sua obra. As características machadianas são:
• narrador multiperspectivado;
• interação entre narrador e leitor;
• análise psicológica dos personagens – digressão;
• despreocupação com a cronologia dos fatos;
• ironia e crítica à sociedade hipócrita – ceticismo;
• personagens femininas fortíssimas;
• crítica à superficialidade religiosa.
Segundo a teoria tradicional, o narrador pode ser narrador-personagem (participa da
história), narrador-observador (em terceira pessoa, simplesmente vê o que acontece) ou
narrador onisciente (sabe tudo). Machado cria um narrador que é mais que onisciente. Brás
Cubas era um narrador personagem, mas o fato de estar morto dá a ele características de
onisciência. Brás Cubas era os três narradores e ainda conversava (e conhecia) os leitores. O
narrador machadiano tem muitas perspectivas. [Há também a nomenclatura de narrador-
intruso devido às intervenções que ele faz ao dialogar com o leitor.]
Machado não diz que o homem é fruto do meio, mas sim que o homem forma o meio.
Toda obra machadiana investiga a natureza humana. Ele mostra para o leitor uma ação do
personagem e começa a refletir sobre ela.
Machado não rompe totalmente com a cronologia, mas mistura o tempo cronológico
com o tempo psicológico (o tempo da memória).
A ironia é o movimento de dizer de outra maneira. Por meio da ironia, ele critica a
sociedade, sobretudo sua hipocrisia. Em um determinado capítulo, Brás Cubas encontra uma
moeda de ouro, vai até uma delegacia e a entrega. Isso aparece em todos os jornais, e ele passou
a ser conhecido como uma pessoa honesta, ética. Tempos depois, ele encontrou um pacote de
dinheiro, levou-o para casa. Teve uma crise de consciência e decidiu dedicar o dinheiro à
caridade. Doou à Dona Plácida (que acobertava seu caso de adultério com Virgília).
No capítulo Teoria do Benefício, ele conta que no livro Elogio à Loucura os animais se
ajudam. Brás Cubas vai desvendando dizendo que não há ajuda reciproca e conclui percebendo
que ‘a memória do beneficiador é muito maior do que a do que foi beneficiado’.
No conto A Causa Secreta, um rapaz recém-formado em medicina vê um homem
esfaqueado. Ele tenta ajudar, mas já havia alguém o rapaz. Esse alguém era Fortunato. Fortunato
não era médico, mas não deixava o médico chegar perto do ferido. Quando o rapaz ficou bem,
foi agradecer a boa ação. Fortunato não aceitou o agradecimento. O rapaz ficou furioso. O
médico viu Fortunato no teatro, esse último assistiu à tragédia com entusiasmo, mas na hora da
comédia foi embora. Quando começou a trabalhar na Santa Casa, o médico viu que Fortunato
ajudava na ala dos tuberculosos. Fortunato queria construir um hospital. Após se aproximar de
Fortunato, o médico descobriu que a esposa dele sofria de crise de nervos - não podia ouvir um
barulho. Foi então que ele descobriu que Fortunato tinha um porão no qual torturava animais.
O médico constatou que a bondade de Fortunato nada mais era do que um sadismo – ele se
deleitava em ver o outro sofrer.
Virgília preferiu casar com Lobo Neves e não com Brás Cubas, porque Lobo Neves
poderia leva-la a ser marquesa. Porém, ela amava Brás Cubas. Então, ela casou com um e tinha
um caso com o outro. As personagens femininas de Machado são muito fortes - elas decidem.
Quando Lobo Neves morreu, Virgília chorou de verdade – ela gostava verdadeiramente do
marido. Quando ela ficou viúva de um, ela ficou viúva dos dois.
O narrador de Dom Casmurro é um narrador-personagem. Capitu é colocada desde o
começo do livro como uma mulher forte “Capitu era muito mais mulher do que eu era homem”.
No início da história, Bentinho resolve assistir a uma peça de teatro: Otelo. Otelo é uma história
de ciúme, ele mata Desdemona por ciúme. Essa história ilustra a narrativa de Bentinho.
O livro Esaú e Jacó foi muito criticado. É um livro que fala da passagem da monarquia
para a república. Chegou a haver críticas que diziam que na verdade a verdadeira autora das
obras era Dona Carolina, a recém-falecida esposa de Machado.
Machado dizia que se as pessoas de fato fossem religiosas, elas seriam mais amistosas
e éticas. Ele via que todo altruísmo tinha fundamentação em interesse. Por isso, fez várias
referências à religiosidade de fachada. Em Esaú e Jacó, natividade ao descobrir que estava
grávida foi se consultar com uma cabocla que não disse nada em especial. Ao voltar para casa,
Natividade deu dinheiro ao irmão das almas. E em uma outra ocasião, foi à missa. Ele mostra o
caráter social da religião.
Tem um episódio no que Brás Cubas se apaixonou por uma prostituta, então seu pai
decidiu manda-lo a Portugal.
Uma das coisas que Machado criticou foi a questão da ciência. Uma porção de
subjetividades é deixada de lado por conta da proeminência da ciência.
Machado vendia doces e assistia às aulas dos corredores. Ele nunca frequentou escolas
oficialmente, mas traduziu textos em inglês, francês e alemão. Ele critica o fato de pessoas terem
o diploma e não ter o conhecimento.
“Essa outra vozeria maior e mais remota não caberia aqui, se não fosse a necessidade
de explicar o gesto repentino com que Aires parou na calçada. Parou, tornou a si e
continuou a andar com os olhos no chão e a alma em Caracas. Foi em Caracas, onde ele
servirá na qualidade de adido de legação. Estava em casa, de palestra com uma atriz da
moda, pessoa chistosa e garrida. De repente, ouviram um clamor grande, vozes
tumultuosas, vibrantes, crescentes...
— Que rumor é este, Carmen? perguntou ele entre duas carícias.
— Não se assuste, amigo meu; é o governo que cai.
— Mas eu ouço aclamações...
— Então é o governo que sobe. Não se assuste. Amanhã é tempo de ir cumprimenta-
lo.”
“A vozeira morreu pouco a pouco, e Aires entrou na Secretaria do Império. Não achou o
ministro, parece, ou a conferência foi curta. Certo é que, saindo à praça, encontrou
partes do magoté que tornavam comentando a prisão e o ladrão. Não diziam ladrão,
mas gatuno, fiando que era mais doce, e tanto bradavam há pouco contra a ação das
praças, como riam agora das lástimas do preso.
— Ora o sujeito!
Mas então... perguntarás tu. Aires não perguntou nada. Ao cabo, havia um fundo de
justiça naquela manifestação dupla e contraditória; foi o que ele pensou. Depois,
imaginou que a grita da multidão protestante era filha de um velho instinto de
resistência à autoridade. Advertiu que o homem, uma vez criado, desobedeceu logo ao
Criador, que aliás lhe dera um paraíso para viver; mas não há paraíso que valha o gosto
da oposição. Que o homem se acostume às leis, vá; que incline o colo à força e ao bel-
prazer, vá também; é o que se dá com a planta, quando sopra o vento. Mas que abençoe
a força e cumpra as leis sempre, sempre, sempre, é violar a liberdade primitiva, a
liberdade do velho Adão. Ia assim cogitando o conselheiro Aires.
Não lhe atribuam todas essas idéias. Pensava assim, como se falasse alto, à mesa ou na
sala de alguém. Era um processo de crítica mansa e delicada, tão convencida em
aparência, que algum ouvinte, à cata de idéias, acabava por lhe apanhar uma ou duas...
Ia a descer pela Rua Sete de Setembro, quando a lembrança da vozeria trouxe a de outra,
maior e mais remota.”
Leituras:
1. Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis.
2. Esaú e Jacó, de Machado de Assis.