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Actividade física durante a gravidez

Susana SOARES, Ricardo FERNANDES


Universidade do Porto, FCDEF
susana@fcdef.up.pt

Resumo: O envolvimento em actividades físicas durante a gravidez ou a continuidade do trabalho até aí


efectuado são, geralmente, vistos com muitas reticências. Tal facto parece prender-se com a falta de
informação relativa ao tema, nomeadamente da parte dos profissionais de saúde, bem como às
diferentes e, muitas vezes, divergentes opiniões dos sujeitos circundantes do universo da grávida.
Pretendemos, com este estudo, conhecer as opiniões de diferentes grupos de indivíduos no que respeita
à prática de actividade física durante a gravidez, nomeadamente: i) distinguir as opiniões de grupos de
médicos com e sem especialidade em obstetrícia; ii) distinguir as opiniões de grupos de médicos
obstetras, grávidas e profissionais de fitness; iii) distinguir as opiniões de mulheres e homens
pertencentes à mesma geração; iv) distinguir as opiniões de sujeitos, homens e mulheres, pertencentes
a gerações diferentes. Os resultados sugerem que não existe um corpo de conhecimentos consistente e
consensual relativo à prática de actividade física durante a gravidez, apesar de nenhum dos sujeitos
inquiridos se ter mostrado discordante com a mesma.

Palavras-chave: exercício, gravidez

Introdução
É actualmente comum a afirmação de que a gravidez não é um estado patológico e,
como tal, não deve ser olhada sob o prisma da debilidade ou da doença. É,
contudo, uma fase em que a mulher está sob stress, quer psicológico, quer
fisiológico e anatómico (Sternfeld, 1997). O exercício físico associado à gravidez
constitui um stress duplo, levando as futuras mães a questionar, seriamente, o
envolvimento em actividades físicas ou a continuidade do trabalho até aí efectuado.
Diz a ancestral tradição que a grávida deve descansar muito (Mullinax e Dale,
1986) e comer bem. O exercício parece ser considerado, por muitas mulheres das
mais variadas idades, com muitas reticências, uma vez que os seus efeitos
benéficos ou malefícios ainda não são plenamente conhecidos, e se há estudos
científicos favoráveis à sua prática (Clapp e Little, 1995; Márquez-Sterling et al.,
2000), também os há desfavoráveis (Webb et al., 1994). Por outro lado, o
conhecimento é resultante, muitas vezes, decorrente da leitura de revistas de caríz
não científico (Mullinax e Dale, 1986).
Apesar da nossa herança cultural indiciar que a melhor cultura física durante a
gravidez é o sedentarismo, actualmente, a possibilidade de ocorrerem, no pós-
parto, aumentos marcantes do peso corporal e do volume de determinadas regiões,
como as ancas e a barriga, aterroriza a maioria das mulheres e impele-as para a
prática de actividade física, acreditando que o exercício realizado durante o período
de gravidez minimiza o natural decréscimo de forma observado após o nascimento
da criança. Este facto ainda não foi, contudo, comprovado pela ciência (South-Paul
et al., 1992).
A opinião da obstetrícia em relação à manutenção de um estilo de vida fisicamente
activo durante a gravidez ainda é algo pouco definido. Alguns obstetras parecem
ter, ainda, posições um pouco radicais em relação ao exercício, desaconselhando-o
durante este período, enquanto outros são completamente liberais, deixando a
decisão a cargo da mulher. Tal facto prende-se com o parco conhecimento
existente relativo aos mecanismos de protecção do feto durante a prática de
actividade física (Sternfeld, 1997).
Pretendemos, com este estudo, conhecer as opiniões de diferentes grupos de
indivíduos no que respeita à prática de actividade física durante a gravidez,
nomeadamente: i) distinguir as opiniões de grupos de médicos com e sem
especialidade em obstetrícia; ii) distinguir as opiniões de grupos de médicos
obstetras, grávidas e profissionais de fitness; iii) distinguir as opiniões de mulheres
e homens pertencentes à mesma geração; iv) distinguir as opiniões de sujeitos,
homens e mulheres, pertencentes a gerações diferentes.

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Metodologia
A amostra do nosso estudo foi constituída por um total de 80 indivíduos, divididos
equitativamente em oito grupos distintos: médicos não obstetras (MNO), médicos
obstetras (MO), profissionais de fitness (PF), grávidas (G), mulheres com menos de
40 anos (M-40), mulheres com mais de 40 anos (M+40), homens com menos de 40
anos (H-40) e homens com mais de 40 anos (H+40).
Cada indivíduo respondeu a um questionário constituído por três questões abertas
(manifestação contra ou a favor da prática de actividade física durante a gravidez,
relação de cuidados a ter com a prática de actividade física durante a gravidez e
outras opiniões relativas ao tema) e uma questão fechada, com sete itens de opção
de resposta relativos à concordância com a prática de actividade física durante a
gravidez. Dois dos itens desta questão, quando assinalados, solicitavam duas novas
respostas abertas (exemplos de factores de risco inibidores da prática de actividade
física durante a gravidez e exemplos de actividades físicas cuja prática é
aconselhada e desaconselhada durante a gravidez).
A partir da análise do conteúdo das respostas abertas foram constituídas várias
categorias de resposta e assinaladas as respectivas frequências absolutas, para
cada um dos oito grupos de indivíduos. As frequências absolutas foram também
assinaladas, para cada grupo, para a questão fechada.
Foram realizadas comparações entre grupos de médicos não obstetras e médicos
obstetras, médicos obstetras, grávidas e profissionais de fitness, mulheres e
homens por categoria de idade (menos e mais de 40 anos) e indivíduos
pertencentes a gerações diferentes (com menos e com mais de 40 anos).

Resultados
O gráfico da Fig. 1 expressa a concordância de cada grupo de sujeitos estudado
com a prática de actividade física durante a gravidez. Do total dos 80 indivíduos
questionados, apenas 1, com mais de 40 anos de idade, manifestou uma opinião
distinta e não totalmente favorável.

Figura 1 – Frequências absolutas, por grupo de indivíduos, das respostas relativas à questão “O que
pensa da prática de actividade física durante a gravidez?”.

Actividade física durante a gravidez: sim ou não?

10

0
Favor Contra Favor em alguns casos

M NO MO PF G M -40 H-40 M +40 H+40

A Fig. 2, mostra o enquadramento da resposta à questão expressa na Fig. 1. Ainda


que a totalidade dos questionados não se tenha manifestado contra a prática da
actividade física durante a gravidez, procurou determinar-se se esta concordância

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era total e incondicional, ou se estaria dependente de factores relacionados, quer
com o estado de gravidez, quer com o tipo de prática física a realizar pela grávida.
Figura 2 – Frequências absolutas, por grupo de indivíduos, das respostas relativas à questão “Concorda
com a prática de actividade física durante a gravidez?”.

Enquadrament o da opinião

10

0
a b c d e f g

MNO MO PF G M-40 H-40 M+40 H+40

Legenda: a – Sim incondicionalmente; b - Sim, se não existirem factores de risco associados à gravidez;
c - Sim, se a grávida já for praticante regular de actividade física; d - Não, se a grávida quiser iniciar um
programa de exercício depois de saber que está grávida; e - Sim, mas depende da actividade que quer
praticar; f - Sim, mas só se for uma actividade aquática (hidroginástica ou natação); g - Não,
incondicionalmente.

Como se pode observar, os itens “b” e “e” apresentaram as frequências absolutas


de resposta mais elevadas, traduzindo uma preocupação geral, primeiro, com o tipo
de gravidez, e, depois com o tipo de modalidade a praticar.
A comparação entre grupos de MNO e MO revelou opiniões concordantes em termos
de preocupação com factores de risco associados à gravidez. Os MO mostraram
uma preocupação superior com o tipo de actividade que a grávida pretende praticar
e com o historial de prática desportiva anterior, respectivamente. Dois médicos
deste último grupo discordaram da iniciação de um programa de exercício depois
de diagnosticado o estado de gravidez.
Quando comparamos as opiniões de MO, PF e G verificamos que os três grupos
tiveram opiniões mais ou menos semelhantes, excepção feita para o item a
(concordância incondicional com a prática de actividade física durante a gravidez),
assinalado por dois PF, e para o item d (inibição da prática se não há historial de
prática anterior), não assinalado pelo grupo das G.
Homens e mulheres com menos de 40 anos de idade revelaram opiniões
semelhantes relativamente ao tema. Salientamos, apenas, que duas M-40
evidenciaram maior preocupação com a prática exclusiva de uma actividade
aquática, comparativamente com os homens da mesma idade.
No escalão dos sujeitos com mais de 40 anos de idade, a opinião de homens e
mulheres distinguiu-se nos itens b (consideração de factores de risco na opção pela
prática de actividade física durante a gravidez), revelando os H+40 uma
preocupação superior, e nos itens e (tipo de actividade a praticar) e c (manutenção
da prática já existente antes do diagnóstico de gravidez), cujas frequências
absolutas foram mais elevadas para as M+40 anos.
Quando comparamos duas gerações diferentes de sujeitos de ambos os sexos,
notamos que as opiniões não foram muito dispares. Os homens e mulheres com
mais de 40 anos (HM+40) mostraram ser um pouco mais preocupados com a
actividade que a grávida pretende praticar e 4 aconselharam, mesmo, a prática
exclusiva de actividade aquáticas.
Na Fig. 3 encontram-se as várias categorias de factores de risco apontadas pela
totalidade de sujeitos da amostra. O primeiro resultado digno de referência foi a

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elevada diversidade de factores apontados, o que revela falta de homogeneidade
nas respostas dos diferentes grupos.

Figura 3 – Frequências absolutas, por grupo de indivíduos, das respostas relativas à questão “Refira
exemplos de factores de risco inibidores da prática de actividade física.”

Fact or es de r i sco

12

10

0
a b c d e f g h i j

M NO MO PF G M -40 H-40 M +40 H+40

Legenda: a - Antecedentes ou ameaça de aborto ou parto prematuro; b - Gravidez ectópica ou de risco;


c- Eclâmpsia ou pré-eclâmpsia; d - Patologia cardíaca ou respiratória; e - Hipertensão, diabetes,
obesidade, doenças tiroidianas, albumina ou anemia; f - Recém nascido de baixo peso ou atraso de
crescimento intra-uterino; g - Hemorragias ou metrorragias; h - Anomalias placentárias; i - Mau estar
físico e/ou psíquico; J - Outros factores de risco.

A comparação das respostas de MNO e MO revelou preocupações com factores de


risco diferentes. Ambos os grupos de médicos concordaram que antecedentes ou
ameaça de aborto, ou parto prematuro são o factor mais determinante na opção
pela prática de actividade física durante a gravidez.
Os riscos de aborto ou parto prematuro não foram considerados tão relevantes por
PF e G, quando comparados com MO, ainda que este tenha sido o factor de risco
mais apontado pelo grupo das G. Os PF manifestaram-se mais preocupados com
quadros clínicos de pré-eclâmpsia ou eclâmpsia e com o mal estar físico ou psíquico
da grávida.
M-40 e H-40 registaram um número algo reduzido de factores de risco. As M-40
mostraram-se mais preocupadas com os riscos de hipertensão, diabetes,
obesidade, doenças tiroidianas, albumina ou anemia, aborto e parto prematuro e
gravidez ectópica ou parto prematuro. Os H-40 revelaram uma preocupação ainda
menor com factores de risco comparativamente com as mulheres da mesma idade,
sendo estes factores muito diferenciados.
No grupo dos homens e mulheres mais velhos, manteve-se a reduzida
referenciação a factores de risco, com os homens a indiciar maior preocupação com
os riscos de aborto e parto prematuro.
O hiato etário que marca a diferença de opiniões entre diferentes gerações fez-se
notar apenas nos factores de risco associados a quadros de hipertensão, diabetes,
obesidade, doenças tiroidianas, albumina ou anemia.
Na Fig. 4 podemos observar as modalidades cuja prática foi aconselhada e
desaconselhada pelos diferentes grupos estudados. O número de modalidades
apontadas como exemplo revelou elevada variedade, quando considerada a
totalidade da amostra estudada.

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Figura 4 – Frequências absolutas, por grupo de indivíduos, das respostas relativas à questão “Refira
exemplos de modalidades aconselhadas e desaconselhadas.”

a) Modald
i ades aconselhadas

10
9
8
7
6
5

4
3
2
1
0

a b c d e f

MNO MO PF G M-40 H-40 M+40 H+40

b) M odald
i ades desacon selhads

a b c d e f

M NO MO PF G M-40 H- 4 0 M +4 0 H+4 0

Legenda (a): a - Natação ou hidroginástica; b- Caminhada, marcha em tapete rolante ou bicicleta


estacionária; c - Actividades de academia (ginástica, ginástica de manutenção, cardio-fitness); d -
Exercícios não violentos ou actividades de baixo impacto; e – Quase todos ou todos os exercícios; f –
Yoga. Legenda (b): a - Equitação, motociclismo, ciclismo ou patinagem; b - Modalidades que impliquem
altos impactos, tracções, violência ou exigência física; c - Actividades de academia (musculação,
stepper, ginástica aeróbica ou step); d - Atletismo ou corrida; e - Ténis, squash ou futebol; f - Desporto
de alta competição ou actividades radicais.

As comparações entre grupos revelaram que os MO aconselham e desaconselham


um maior número de modalidades que os MNO. Salientaram-se, como
aconselhadas, a natação ou a hidroginástica, a caminhada, marcha em tapete
rolante ou bicicleta estacionária e algumas actividades de academia, como a
ginástica, ginástica de manutenção ou cardio-fitness. As modalidades mais
desaconselhadas foram a equitação, motociclismo, ciclismo ou patinagem e
algumas actividades de academia, como a musculação, stepper, ginástica aeróbica
ou step. Notou-se, a partir destes resultados, alguma indefinição relativa ao
conceito de ginástica, uma vez que ela apareceu como modalidade aconselhada por
uns e desaconselhada por outros.
Os MO revelaram uma maior preocupação com as modalidades a praticar que os PF
e as G, salientando-se a sua preferência pelas actividades aquáticas e algumas de
academia. Em relação às modalidades a não praticar, os MO seguiram a tendência
geral e os PF salientaram modalidades que impliquem altos impactos, tracções,

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violência ou exigência física. As grávidas revelaram índices muito baixos de
resposta, quer para as modalidades aconselhadas, quer para as desaconselhadas.
H-40, M-40, H+40 e M+40 revelaram frequências de resposta a esta questão
praticamente irrelevantes, excepção feita apenas pelo notório aconselhamento da
natação e da hidroginástica pelo grupo das M+40. Salvo nesta questão, não se
notou qualquer diferença de opinião entre as duas gerações dos sujeitos da nossa
amostra.
A Fig. 5 mostra as diferentes categorias de cuidados que foram apontadas pelos
diferentes grupos constituintes da amostra em estudo. Mais uma vez se notou
elevada heterogeneidade nas respostas dos diferentes sujeitos questionados. O
factor de maior cuidado apontado foi a escolha de actividades de baixo impacto,
moderadas e sem muito esforço, evitando fadiga excessiva ou exaustão.

Figura 5 – Frequências absolutas, por grupo de indivíduos, das respostas relativas à questão “Há algum
tipo de cuidado que deva rodear a prática de actividade física durante a gravidez?”

Cui dados

8
7

6
5

3
2

0
a b c d e f g h i j l m n

M NO MO PF G M -40 H-40 M +40 H+40

Legenda: a - Sem cuidados a considerar; b - Risco de traumatismo abdominal ou quedas e evitar


exercícios que sobrecarregam a região lombar e barriga, ou que impliquem movimentos rápidos e
inversões; c - Escolha da actividade adequada, de acordo com o tipo ou tempo de gravidez; d -
Actividades de baixo impacto, moderadas, sem muito esforço (evitar fadiga excessiva ou exaustão); e -
Consulta médica prévia e acompanhamento; f - Orientação por profissional licenciado em Ciências do
Desporto; g - Orientação conjunta do médico e do professor de Educação Física; h - Evitar desidratação,
dor muscular, taquicardia, hipertensão ou aumentos da pressão abdominal, decúbito ventral e/ou dorsal;
i - Contemplar actividade Prévia, ter actividade regular; j - Conhecer antecedentes desportivos e clínicos
da gestante; l - Controlo da intensidade do treino e monitorização das frequências cardíaca e
respiratória; m - Controlo da desinfecção da água nas actividades aquáticas, não usar piscinas a partir
do 3º trimestre; n - Iniciar actividade antes ou no início da gravidez, cuidado nos 3 primeiros meses,
suspender face a sintomas anormais.

MNO apontaram como cuidado também a ter, a escolha de exercícios que não
comportem risco de traumatismo abdominal ou quedas, sobrecargas da região
lombar e barriga e movimentos rápidos e inversões.
As respostas mais diferenciadas entre MO, G e PF referiram-se aos cuidados que os
PF revelaram que se deve ter com exercícios comportem risco de traumatismo
abdominal ou quedas, sobrecargas da região lombar e barriga e movimentos
rápidos e inversões e mostraram também interesse por cuidados respeitantes ao
planeamento do exercício, como o controlo da intensidade a monitorização das
frequências cardíaca e respiratória e a limitação da amplitude do exercício.
Homens e mulheres com menos de 40 anos não divergiram muito nas suas
opiniões, salvo na maior preocupação das M-40 com a necessidade de orientação
da actividade ser feita por um profissional licenciado em Ciências do Desporto.
H+40 anos e M+40 anos apontaram um menor número de cuidados relativamente
à prática de actividade física durante a gravidez. Salientou-se a baixa preocupação
dos H+40 anos com exercícios moderados, não condutores a estados de exaustão,

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e a sua maior preocupação com a orientação da actividade por um profissional
licenciado em Ciências do Desporto.
As respostas apontadas pelas duas gerações de sujeitos estudados, relativamente
aos cuidados que devem rodear a prática de actividade física durante a gravidez,
não revelaram diferenças notórias. Salvaguarde-se, apenas a menor preocupação
que os mais velhos mostraram com actividades que requerem menor esforço,
comparativamente com o grupo de sujeitos com menos de 40 anos.
A Fig. 6 mostra as categorias de resposta referentes a outras opiniões que os
questionados manifestaram. As opiniões de que a prática de actividade física ajuda
na preparação para o parto, no momento do parto e no pós-parto e que tem
influência positiva no bem-estar da mãe e da criança foram as mais referidas,
considerando a totalidade dos indivíduos questionados.

Figura 6 – Frequências absolutas, por grupo de indivíduos, das respostas relativas à questão “Tem
qualquer outra opinião relativa ao tema em questão?”

Out r as opi ni ões

0
a b c d e f g h i j l m n o p

M NO MO PF G M -40 H-40 M +40 H+40

Legenda: a - Bom para preparar o parto ou no momento do parto e ajuda na recuperação pós-parto; b -
Falta de informação do pessoal de saúdes, grávidas e profissionais de Ciências do Desporto; c -
Necessidade de obstetras e profissionais de Ciências do Desporto estarem bem informados; d - Falta de
programas próprios; e - "Uns passeios chegam e sobram"; f - Praticar durante os 8 primeiros meses; g -
Bom para a saúde da mãe e da criança e para o bem estar físico e/ou psíquico da grávida; h – A
actividade física previne diabetes e/ou obesidade e ajuda a controlar/suportar o aumento de peso; i -
Devia existir ginástica nos hospitais, toda a grávida devia estar sensibilizada e a prática deve ser cada
vez mais incentivada e proporcionada; j - Há maior risco por alteração da posição do centro de
gravidade e laxidez articular; l - Útil para manter a qualidade de vida, a forma física e desempenho nas
actividades do dia-a-dia; m - Deve ser aliada a uma boa alimentação; n - Quem for praticante deve
continuar; o – A actividade física só necessária para grávidas que não trabalham; p - Ajuda a nível
respiratório e previne dores nas costas.

Discussão dos resultados


O facto de termos encontrado quase 100% da amostra concordante com a prática
de actividade física durante a gravidez não deixou de ser surpreendente,
particularmente pelo parco envolvimento de grávidas neste tipo de actividades.
Esta concordância não foi, naturalmente, isenta do reconhecimento da existência de
condicionantes, tal como o tipo de gravidez e de actividade a praticar. A influência
evidente destes dois factores implica que médicos e profissionais de Ciências do
Desporto partilhem de um corpo de conhecimentos em comum, o qual não se
manifestou evidente no nosso trabalho. Parece existir algum divórcio entre o
discurso médico, da especialidade ou não, e o discurso dos profissionais de Ciências
do Desporto. Um ponto de concordância encontrado entre as duas classes
profissionais referiu-se ao desaconselhamento do início da prática de actividade
física depois de diagnosticado o estado de gravidez e se não há historial de prática
anterior. Estes registos levam-nos a concluir que alguns profissionais das duas
classes têm um conhecimento muito limitado em relação ao tipo de programas a
implementar para cada caso específico de gravidez, o que é particularmente grave,
porque no caso da medicina, anula o aconselhamento e encaminhamento, e no

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caso das Ciências do Desporto, demonstra incapacidade de aplicação de exercício
adequado.
Foi particularmente interessante notar que a classe médica foi mais concreta no
aconselhamento de modalidades a praticar e a não praticar durante a gravidez,
comparativamente com os profissionais de Ciências do desporto, dado que
esperaríamos exactamente o contrário.
O aconselhamento da prática da natação e da hidroginástica durante a gravidez,
por muitos dos questionados, já não foi tão surpreendente, porque parece ser ainda
tradição, pelo menos em Portugal, considerar a natação como o “desporto mais
completo”. Se a geração mais velha ainda aponta muito exclusivamente neste
sentido, os restantes grupos parecem considerar uma oferta de actividades mais
diversificada, o que é particularmente importante porque a natação só é uma opção
para grávidas que sabem nadar, que têm uma boa capacidade de nado, e que
gostam de nadar. Ao nível das modalidades desaconselhadas, surgiram, com lógica,
aquelas em que a probabilidade da ocorrência de acidentes é maior. A referência a
algumas ginásticas de academia foi também notória e é preocupante, uma vez que
as academias de ginástica são a opção mais viável para o indivíduo comum. O
termo ginástica apareceu associado às academias como apenas ginástica, ginástica
aeróbica e ginástica de manutenção, o que revela algum desconhecimento em
relação ao trabalho físico que está subjacente a cada uma destas designações.
Qualquer ginástica pode ser realizada por uma grávida, desde que contemplados os
princípios de trabalho existentes para este tipo de população.
A grande diversidade de respostas observadas quando se fala de factores de risco
revela, uma vez mais, a inexistência de um corpo de conhecimentos comum entre
os diferentes grupos de questionados. A própria medicina aponta factores
diferentes, quando comparados médicos com e sem especialidade obstétrica.
Alguns dos profissionais de fitness questionados revelaram uma ignorância
preocupante em relação a este assunto. Uns mostraram preocupação irrelevante
com quadros de pré-eclâmpsia ou eclâmpsia, porque grávidas com este tipo de
patologia jamais se envolverão em actividades físicas. Outros apontam factores
muito indiferenciados, reunidos sob a designação de mau estar físico ou psíquico da
grávida, onde se enquadram enjôos e indisposições, por exemplo. Alguma literatura
já revela items específicos relacionados com a saúde e o bem-estar (Márquez-
Sterling et al., 2000), mas parece ainda não ter chegado ao domínio público.
Relativamente aos cuidados a ter com a prática de actividade física durante a
gravidez, a diversidade de respostas foi ainda maior do que a observada para os
factores de risco. Tal diversidade não ajuda nada na decisão da própria grávida pela
prática ou pelo sedentarismo. Pelo elevado número de referências à necessidade de
poupar a grávida a esforços exagerados e à fadiga pudemos observar como é ainda
notória a tendência ancestral de considerar o estado de gravidez com um estado de
estrema fragilidade, o que também não abona a favor da actividade física, na hora
da decisão. Foi interessante notar, a este nível, a diferença entre a geração mais
jovem e mais velha, esta última ainda mais conservadora relativamente a este
cuidado em particular. Alguns médicos e profissionais de fitness parecem, também
ao nível dos cuidados, estar preocupados com a região abdominal da grávida.
Sabemos que alguns profissionais, de ambas as áreas, não permitem o trabalho do
músculo abdominal, com receio do aumento da pressão intra-abdominal, o que é
particularmente estranho, dado que este é um músculo que poderá ter, em caso de
parto normal, uma função primordial. Aliás, esta preocupação parece não ter
fundamento se pensarmos que a carga tensional provocada pelo vómito ou pela
defecação é muito maior do que a desencadeada por uma contração controlada do
músculo abdominal. Foi também curioso notar o aparecimento de registos
referentes à inibição do uso de piscinas pelo perigo da contracção de infecções,
particularmente quando as actividades aquáticas foram as mais aconselhadas. Isto
denota o desconhecimento relativo à possibilidade de uso de fármacos protectores.
Quando analisamos os resultados referentes a outras opiniões manifestadas pelos
questionados em relação à realização de actividade física durante a gravidez

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pudemos notar algumas afirmações particularmente interessantes. A referência de
que a prática é favorável ao decurso e término da gravidez e no pós-parto e que é
favorável à saúde e bem estar da mãe e da criança foi particularmente evidente,
mostrando, inclusivamente, alguma incoerência nas respostas, quando
consideradas as referências aos cuidados a ter com esta mesma prática.
Observamos, também, referências à falta de informação de médicos, profissionais
de ciências do desporto e das próprias grávidas, o que vai um pouco de encontro
aos nossos resultados, na medida em que encontramos uma elevada diversidade de
opiniões entre a totalidade dos questionados e algumas opiniões reveladoras desse
mesmo desconhecimento. Citamos, a título de exemplo, as opiniões de um médico,
que refere que para uma grávida “uns passeios chegam e sobram”, a de um
indivíduo com mais de 40 anos, que afirma que “a actividade física só é necessária
para grávidas sedentárias [que não trabalham]“e a de um profissional de fitness,
que afirma que “há falta de programas próprios”.

Conclusões
Não observamos discordância com a prática de actividade física durante a gravidez,
manifestada pela totalidade dos questionados;
Parece faltar de um corpo de conhecimentos comum, partilhado por médicos,
particularmente os da especialidade, e por profissionais das Ciências do desporto.
As actividades aquáticas parecem ser, de entre outras opções, aquelas cuja prática
é mais aconselhada durante a gravidez. Parece existir desconhecimento relativo ao
tipo de trabalho que está associado à actividade ginástica.
O número de factores de risco associados à prática de actividade física durante a
gravidez, apontado por cada grupo questionado, foi muito elevado e diversificado.
As manifestações de cuidados a ter com a prática de actividade física durante a
gravidez foram numerosas. Foram particularmente notórias as referências aos
cuidados com a carga de esforço, o que parece reforçar a crença ancestral de que a
grávida deve descansar muito, e aos cuidados com a zona abdominal, o que parece
revelar o receio de mexer com a zona onde o bebé se encontra implantado.
A comparação das respostas de homens e mulheres e de gerações distintas, não
revelou, salvo escassas excepções, grandes diferenças entre os grupos.
A análise de outras opiniões referentes a este assunto permitiu consubstanciar os
resultados no tocante à provável falta de informação partilhada pelos diferentes
grupos de indivíduos questionados.

Bibliografia
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