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SEMINÁRIO PRESBITERIANO BRASIL CENTRAL

SPBC

História
da Igreja
Presbiteriana
do Brasil
1859 a 1888

Rev. Hélio de Oliveira Silva, STM.

Goiânia-GO
Março de 2015
1

UN. SUMÁRIO PÁG


Introdução 02
1 Raizes do Presbiterianismo: Suiça, Escócia e Irlanda.
2 O Presbiterianismo Norte-Americano / PCUSA e PCUS 02
3 Ashbel Green Simonton – Sinopse Histórica. 08
4 Esboço da História da IPB / Período de Implantação – 1859 a 1869 13
5 O Trabalho de Simonton no Brasil 16
6 Os Primeiros Colaboradores de Simonton no Brasil 19
7 A Implantação da IPB em São Paulo. 22
8 O Primeiro Presbitério – 1865. 23
9 José Manuel da Conceição – O Padre Protestante 24
10 As Igrejas Pioneiras 27
11 Imprensa Evangélica, Seminário Primitivo e Seus Alunos 29
12 Período de Consolidação – 1869 a 1888 / Inicia a participação da PCUS 35
13 A Expansão da IPB até 1888: As Primeiras Igrejas e Seus Personagens. 37
14 A Composição Social das Igrejas / Publicações e Hinários. 42
15 O Mackenzie College. 45
16 O Seminário. 46
17 O Ministério de John Boyle. 47
18 A IPB e a Escravidão. 49
19 O Plano de União e o Sínodo de 1888 58

Bibliografia 76
Apêndice 1 – Presbitérios da IPB até 1945
Apêndice 2 – O uso da sarça como símbolo da IPB
2

Introdução.
O objetivo deste curso é fornecer uma visão panorâmica, porém crítica, da
História da IPB, visando uma formação pastoral mais comprometida com
princípios do que a mera descrição dos fatos por si sós. O trabalho não é
plenamente original, nem tampouco exaustivo.
Busca-se enfatizar e avaliar os pontos mais importantes da história da IPB
analisando principalmente temas, em vez de seguir uma abordagem linear da sua
história.

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3

1. RAÍZES DA IGREJA PRESBITERIANA DO BRASIL - SUÍÇA,


ESCÓCIA E IRLANDA.1

a) Genebra.
Genebra havia abraçado o protestantismo reformado em maio de 1536, sob a
liderança de Guilherme Farel (1489-1565). Este, sabendo que o autor
das Institutas estava de passagem pela cidade, o “convenceu” a permanecer ali e
ajudá-lo. Logo, Calvino e Farel entraram em conflito com os magistrados de
Genebra e dois anos depois foram expulsos. Calvino seguiu então para
Estrasburgo, onde passou os três anos mais felizes e produtivos da sua carreira
(1538-1541).
Os magistrados de Genebra insistiram no seu retorno. Calvino teve um
relacionamento tenso com as autoridades municipais até 1555. No final desse
período, em 1553, o médico espanhol Miguel Serveto foi condenado e executado
por heresia. Em 1559, um ano especialmente significativo, o reformador tornou-se
cidadão de Genebra, fundou a sua Academia, embrião da Universidade de
Genebra, e publicou a última edição das Institutas.
A visão do reformador francês era tornar Genebra uma cidade-cristã-modelo
através da reorganização da Igreja, de um ministério bem preparado, de leis que
expressassem uma ética bíblica e de um sistema educacional completo e gratuito.
O resultado foi que Genebra tornou-se um grande centro do protestantismo,
preparando líderes reformados para toda a Europa e abrigando centenas de
refugiados. Foi essa a origem das Igrejas reformadas (continente europeu) ou
presbiterianas (Ilhas Britânicas). Os principais países em que se difundiu o
movimento reformado foram, além da Suíça e da França, o sul da Alemanha, a
Holanda, a Hungria e a Escócia.

b) Inglaterra
Henrique VIII (1491-1547) começou a reinar em 1509. Era casado com a
princesa espanhola Catarina de Aragão, viúva do seu irmão, que não conseguiu
dar-lhe um filho varão, mas somente uma filha, Maria. Henrique pediu ao papa
Clemente VII que anulasse o seu casamento com Catarina para que pudesse casar-
se com Ana Bolena, mas o papa não pode atendê-lo. Em 1533, Thomas Cranmer
(1489-1556) foi nomeado arcebispo de Cantuária e poucos meses depois declarou
nulo o casamento do rei. Em 1534, o parlamento aprovou o Ato de Supremacia,
pelo qual a Igreja Católica inglesa desvinculou-se de Roma e o rei foi declarado
“Protetor e Único Chefe Supremo da Igreja da Inglaterra.”
Henrique morreu na fé católica e foi sucedido no trono por Eduardo VI
(1547-1553), o filho que teve com Jane Seymour. Os tutores do jovem rei
implantaram a Reforma na Inglaterra e puseram fim às perseguições contra os
protestantes. Foram aprovados dois importantes documentos escritos pelo
arcebispo Cranmer, o Livro de Oração Comum (1549; revisto em 1552) e

1
Reformas do Século XVI; Alderi Matos. http://www.mackenzie.br/6962.html. Acesso em 05/03/2015.
4

os Quarenta e Dois Artigos (1553), uma síntese das teologias luterana e calvinista.
Eduardo morreu ainda jovem, sendo sucedido por sua irmã Maria Tudor (1553-
1558), conhecida como “a sanguinária”, filha de Catarina de Aragão. Maria
perseguiu os líderes protestantes e muitos foram levados à fogueira. Os mártires
mais famosos foram Hugh Latimer, Nicholas Ridley e Thomas Cranmer. Muitos
outros, os chamados “exilados marianos”, foram para Genebra, Estrasburgo e
outras cidades protestantes.
Com a morte de Maria, subiu ao trono sua meio-irmã Elizabete I (1558-
1603), filha de Ana Bolena, em cujo reinado a Inglaterra tornou-se definitivamente
protestante. Em 1563, foi promulgado o Ato de Uniformidade, que aprovou
os Trinta e Nove Artigos. O resultado foi o acordo anglicano, que reuniu elementos
das principais teologias evangélicas, bem como traços católicos, especialmente na
área da liturgia. Os puritanos surgiram no reinado de Elizabete e foram assim
chamados porque reivindicavam uma Igreja pura em sua doutrina, culto e forma de
governo. Reprimidos na Inglaterra, muitos puritanos foram para a América do
Norte, estabelecendo-se em Plymouth (1620) e Boston (1630), na Nova Inglaterra.
No século 17, no contexto da guerra civil entre o rei Carlos I e um
parlamento puritano, foi convocada a Assembléia de Westminster (1643-1649),
que elaborou uma série de documentos calvinistas para a Igreja da Inglaterra, entre
os quais a Confissão de Fé e os Catecismos Maior e Breve, que se tornaram os
principais símbolos confessionais das Igrejas reformadas ou presbiterianas.

c) Escócia.
O presbiterianismo foi introduzido graças aos esforços do reformador John
Knox (†1572), um discípulo de Calvino que, após passar alguns anos em Genebra
e em Zurique, retornou ao seu país em 1559. No ano seguinte, o parlamento
escocês criou a Igreja da Escócia (presbiteriana). Knox fez oposição tenaz à rainha
católica Maria Stuart (1542-1587), prima de Elizabete, que viveu na França (1548-
1561) e voltou à Escócia para tomar posse do trono. A aceitação do protestantismo
ocorreu no contexto da luta pela independência do domínio francês.
Foi na Escócia que surgiu o conceito político-religioso de
“presbiterianismo”. Os reis ingleses e escoceses sempre foram firmes defensores
do episcopalismo, ou seja, de uma Igreja governada por bispos. A razão disso é
que, sendo os bispos nomeados pelos reis, a Igreja seria mais facilmente controlada
pelo estado e serviria aos interesses do mesmo. À luz das Escrituras, os
presbiterianos insistiram em uma Igreja governada por oficiais eleitos pela
comunidade, os presbíteros, tornando assim a Igreja livre da tutela do Estado. Foi
somente após um longo e tumultuado processo que o presbiterianismo implantou-
se definitivamente na Escócia.

d) Países Baixos.
Os Países Baixos eram parte do Sacro Império Germânico e depois ficaram
sob o domínio da Espanha. Durante o reinado do imperador Carlos V, surgiram
naquela região luteranos, anabatistas e principalmente calvinistas, por volta de
5

1540. Desde o início foram objeto de intensas perseguições, tendo a repressão


aumentado sob o rei Filipe II (1555) e o governador Duque de Alba (1567). A
revolta contra a tirania espanhola foi liderada pelo alemão Guilherme de Orange,
grande defensor da plena liberdade religiosa, que seria assassinado em 1584.
Eventualmente, os Países Baixos dividiram-se em três nações: Bélgica e
Luxemburgo (católicas) e Holanda (reformada).
A Igreja Reformada Holandesa foi organizada na década de 1570. No início
do século 17, surgiu uma forte controvérsia por causa das idéias de Tiago Armínio.
O Sínodo de Dort (1618-1619) rejeitou as idéias de Armínio e afirmou os
chamados “cinco pontos do calvinismo”, cujas iniciais formam em inglês a palavra
“tulip” (tulipa): Depravação total (Total depravity), Eleição incondicional
(Unconditional election), Expiação limitada (Limited atonement), Graça irresistível
(Irresistible Grace) e Perseverança dos santos (Perseverance of the saints).

e) Irlanda.
No século 16, quando o rei Henrique VIII criou a Igreja Anglicana, separada
de Roma, os irlandeses recusaram-se a aceitá-la. Seguiu-se um longo período de
guerras em que o norte da ilha ficou praticamente despovoado. Foi então que o rei
Tiago I resolveu colonizar essa região através de imigrantes escoceses e ingleses,
criando em 1606 a Colônia de Ulster. Esses imigrantes eram calvinistas e muitos
deles presbiterianos. Após uma rebelião em que os católicos massacraram grande
número de presbiterianos (1641), o parlamento inglês enviou dez mil soldados à
região, quase todos escoceses. Os capelães das tropas organizaram igrejas e
promoveram a eleição de oficiais. Finalmente, no dia 10 de junho de 1642, em
Carrickfergus, perto de Belfast, foi organizado o primeiro presbitério da Irlanda.
Em 1659 já havia cinco presbitérios.
Durante quase todo o século 17 e início do século 18, os “escoceses-
irlandeses” sofreram com as ações repressivas de diversos monarcas ingleses, nos
aspectos político, econômico e religioso. Além disso, experimentaram calamidades
naturais como secas rigorosas e a fome e pobreza resultantes. Com isso, muitos
deles resolveram migrar para a América do Norte, principalmente a partir de 1717.
Segundo uma estimativa conservadora, até 1776 pelo menos 250.000 cruzaram o
Atlântico para o Novo Mundo (algumas estatísticas falam em 500.000). Em 1706,
sob a liderança de Francis Makemie, um pastor emigrado da Irlanda, havia sido
organizado o primeiro concílio presbiteriano dos Estados Unidos, o Presbitério de
Filadélfia. Os escoceses-irlandeses radicados em Nova Jersey, Pensilvânia,
Virgínia e nas Carolinas do Norte e do Sul foram os principais responsáveis pela
formação da Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos da América (PCUSA). Eles
também foram o principal grupo que lutou pela independência da nova nação.
No século 18, as divisões ocorridas na Igreja da Escócia afetaram o
presbiterianismo irlandês. Por cerca de um século existiram lado a lado o histórico
Sínodo de Ulster e o Sínodo da Secessão, que voltaram a se unir em 1840,
formando a Assembléia Geral da Igreja Presbiteriana da Irlanda. A Irlanda do
Norte separou-se do restante do país em 1921, ficando ligada ao Reino Unido. Em
6

1970, a Igreja Presbiteriana tinha uma comunidade total de 400.000 aderentes, das
quais 140.000 eram membros comungantes. Contava com 567 igrejas locais, 537
pastores e 5.917 presbíteros. A cidade de Belfast, com meio milhão de habitantes, é
o principal centro presbiteriano. Existem duas escolas de teologia, uma em Belfast
e outra em Londonderry. Dois fatores prejudicaram o crescimento dessa igreja no
passado: A emigração de milhares de membros para outras terras e as divisões e
discórdias causadas por questões doutrinárias e litúrgicas. Apesar desses reveses,
talvez até por causa dos mesmos, a Igreja Presbiteriana da Irlanda é hoje uma
igreja forte, unida e conservadora.

f) Franceses e holandeses no Brasil.2


Os primeiros protestantes chegaram ao Brasil ainda no período colonial.
Dois grupos são particularmente relevantes:

1º) Os Franceses na Guanabara (1555-1567):


No final de 1555, chegou à Baía da Guanabara uma expedição francesa
comandada pelo vice-almirante Nicolas Durand de Villegaignon, para fundar a
"França Antártica." Esse empreendimento teve o apoio do almirante
huguenote Gaspard de Coligny, que seria morto no massacre do dia de São
Bartolomeu (24-08-1572).
Em resposta a uma carta de Villegaignon, Calvino e a igreja de Genebra
enviaram um grupo de crentes reformados, sob a liderança dos pastores Pierre
Richier e Guillaume Chartier (1557). Fazia parte do grupo o sapateiro Jean de
Léry, que mais tarde estudou na Academia de Genebra e tornou-se pastor (†1611).
Ele escreveria um relato da expedição, História de uma Viagem à Terra do Brasil,
publicado em Paris em 1578.
Em 10 de março de 1557, esses reformados celebraram o primeiro culto
evangélico do Brasil e talvez das Américas. Todavia, pouco tempo depois
Villegaignon entrou em conflito com os calvinistas acerca dos sacramentos e os
expulsou da pequena ilha em que se encontravam.
Alguns meses depois, os colonos reformados embarcaram para a França.
Quando o navio ameaçou naufragar, cinco deles voltaram e foram presos: Jean du
Bordel, Matthieu Verneuil, Pierre Bourdon, André Lafon e Jacques le Balleur.
Pressionados por Villegaignon, escreveram uma bela declaração de suas
convicções, a "Confissão de Fé da Guanabara" (1558). Em seguida, os três
primeiros foram mortos e Lafon, o único alfaiate da colônia, teve a vida poupada.
Balleur fugiu para São Vicente, foi preso e levado para Salvador (1559-67), sendo
mais tarde enforcado no Rio de Janeiro, quando os últimos franceses foram
expulsos.
A França Antártica é considerada como a primeira tentativa de estabelecer
tanto uma igreja quanto um trabalho missionário protestante na América Latina.

2
http://www.thirdmill.org/files/portuguese/58714~11_1_01_10-18-11_AM~O_Protestantismo_no_Brasil.html.
Acesso em 06/03/2015.
7

2º) Os Holandeses no Nordeste (1630-54):


Depois de uma árdua guerra contra a Espanha, a Holanda calvinista
conquistou a sua independência em 1568 e começou a tornar-se uma das nações
mais prósperas da Europa. Pouco tempo depois, Portugal caiu sob o controle da
Espanha por sessenta anos – a chamada "União Ibérica" (1580-1640).
Em 1621, os holandeses criaram a Companhia das Índias Ocidentais com o
objetivo de conquistar e colonizar territórios da Espanha nas Américas,
especialmente uma rica região açucareira: O nordeste do Brasil. Em 1624, os
holandeses tomaram Salvador, a capital do Brasil, mas foram expulsos no ano
seguinte. Finalmente, em 1630 eles tomaram Recife e Olinda e depois boa parte do
Nordeste.
O maior líder do Brasil holandês foi o príncipe João Maurício de Nassau-
Siegen, que governou o nordeste de 1637 a 1644. Nassau foi um notável
administrador, promoveu a cultura, as artes e as ciências, e concedeu uma boa
medida de liberdade religiosa aos residentes católicos e judeus.
Sob os holandeses, a Igreja Reformada era oficial. Foram criadas vinte e
duas igrejas locais e congregações, dois presbitérios (Pernambuco e Paraíba) e até
mesmo um sínodo, o Sínodo do Brasil (1642-1646). Mais de cinqüenta pastores ou
"predicantes" serviram essas comunidades.
A Igreja Reformada realizou uma admirável obra missionária junto aos
indígenas. Além de pregação, ensino e beneficência, foi preparado um catecismo
na língua nativa. Outros projetos incluíam a tradução da Bíblia e a futura
ordenação de pastores indígenas.
Em 1654, após quase dez anos de luta, os holandeses foram expulsos,
transferindo-se para o Caribe. Os judeus que os acompanhavam foram para Nova
Amsterdã, a futura Nova York.

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2. O PRESBITERIANISMO NORTE-AMERICANO / PCUSA E PCUS.

Da fundação à Independência dos EUA.


Imigrantes britânicos escoceses, irlandeses do norte, e ingleses levaram o
presbiterianismo para a América do Norte. Durante o século XVIII, cerca de 300
mil escoceses-irlandeses se radicaram nos EUA, principalmente em Nova Jersey,
Pensilvânia, Maryland, Virgínia e nas Carolinas. No oeste da Pensilvânia, eles
fundaram Pittsburg, a cidade mais presbiteriana dos EUA. O pai do
presbiterianismo americano foi o irlandês Francis Makemie (1658-1708). Makemie
foi ordenado ao ministério em 1683, na Irlanda e logo imigrou para a América do
Norte, onde fundou igrejas em Maryland e outras regiões. Foi perseguido pelos
anglicanos (religião oficial) e preso em 1706.
8

Makemie organizou o primeiro presbitério em 1706 (Presbitério da


Filadélfia) com 7 pastores e alguns presbíteros3.Em 1717 foi organizado o Sínodo
da Filadélfia com 4 presbitérios (19 pastores; 40 igrejas e 3 mil membros) e Já em
1729, o sínodo presbiteriano adotava a Confissão de Westminster através do Ato de
Adoção. Outro líder destacado dessa época foi Gilbert Tennent (1703-1764), um
dos precursores do Primeiro Grande Despertamento. Ele estudou no Log College
(Colégio de Toras), primeira escola de formação de pastores do país.
Entre 1741 e 1758, diferenças quanto ao avivamento e a educação teológica
causaram uma ruptura entre a Ala Velha (Sínodo de Filadélfia) e a Ala Nova
(Sínodo de Nova York). Nesse período a igreja presbiteriana cresceu muito no sul
do país, especialmente na Virgínia e nas duas Carolinas.
Durante a Revolução Americana, os presbiterianos tiveram atuação
destacada. O presbiteriano escocês John Witherspoon (1723-1794) foi o único
pastor a assinar a Declaração de Independência dos Estados Unidos em 1776. Ele
tinha sido diretor do Colégio de Nova Jersey (futuro Princeton), fundado em 1746.

Da Independência à Guerra de Secessão (1776-1861).


A Assembléia Geral da PCUSA foi organizada em 21 de maio de 1789,
sendo constituída de 4 sínodos (Nova York, Nova Jersey, Filadélfia, Virgínia e
Carolinas). Preocupados não somente com as questões espirituais, mas também
com as morais, culturais e acadêmicas, os presbiterianos fundaram na América do
Norte 49 escolas de ensino superior, inclusive Princeton (Nova Jersey) e Hampden
Sydney (Virgínia). Outros dois grupos presbiterianos que surgiram nos EUA nesse
período foram a Igreja Presbiteriana Reformada e a Igreja Presbiteriana Associada,
que se uniram em 1781.
Entre a Guerra de Independência (1776) e a Guerra de Secessão (1861), a
igreja norte americana viveu um período de declínio seguido por um reavivamento
de grandes proporções. No período da Guerra de Independência, em virtude dos
presbiterianos e congregacionais serem solidamente defensores da independência,
seus pastores e igrejas foram perseguidos pelos ingleses. Após a guerra a
incredulidade e a indiferença religiosa foram bastante fomentadas pela influência
da Revolução Francesa. Nichols afirma que durante as duas décadas seguintes, o
cristianismo norte americano “teve menos vitalidade do que em qualquer
outra época da sua história.”4 Esse quadro mudou radicalmente com a grande
Reavivamento5 que se seguiu.

3
Alderi S. Matos, “O Presbiterianismo Norte-Americano (I)”, Brasil Presbiteriano, ano 48, nº 610/ julho de 2005,
p. 4.
4
Robert H. Nichols, História da Igreja Cristã, ECC, p.301.
5
Terri Williams, Cronologia da História Eclesiástica. Ed. Vida Nova. Prancha 33, p. 97
9

Conseqüências dos Reavivamentos.


Essa fraqueza religiosa foi totalmente modificada por uma série de
despertamentos espirituais que atingiu grande parte dos EUA no final do século
XVIII e início do século XIX. Esses reavivamentos tiveram como conseqüência:
1. Grande crescimento das igrejas evangélicas. De 1800 a 1830, os
metodistas cresceram sete vezes mais; os batistas, três. Isso, levando-se em
conta todas as perdas causadas pelo movimento unitariano. Em 1800, a
igreja possuía cerca de 13.500 membros, 430 igrejas e 180 pastores. Vinte
anos depois (1820), a igreja possuía 70 mil membros em 1.300 igrejas. Em
1837, quando se criou a Junta de Missões Estrangeiras da PCUSA, havia
226 mil membros e 2.865 igrejas6, ou seja, a igreja cresceu vinte vezes mais
em 37 anos!
2. Surgimento de vários grupos religiosos novos. Dentre eles, os unitarianos
(negam a trindade, a divindade de Cristo e a doutrina da imputação na
salvação), os Discípulos (um movimento de protesto contra o
denominacionalismo).
3. Novas denominações. A Igreja Presbiteriana de Cumberland, que mais
tarde se uniu à PCUS, é um exemplo. O motivo da separação foi uma
controvérsia a respeito dos requisitos para a ordenação dos ministros e a
6
Alderi S. Matos, “A Pregação dos Pioneiros Presbiterianos no Brasil”. Em: Fides Reformata, vol. IX, nº 2, 2004,
p.60,61. Outra estatística traz: 2.140 pastores, 2.965 igrejas e 220 mil membros (Alderi s. Matos, “O
Presbiterianismo Norte-Americano (II)”, Brasil Presbiteriano, ano 48, nº 611/Agosto de 2005, p.4).
10

questão do livre arbítrio. A igreja de Cumberland defendia padrões menos


rígidos de preparação para o ministério e a ordenação de leigos que não
haviam tido instrução formal em seminários.
4. Grande expansão das missões nacionais. Um poderoso movimento
missionário nacional. Com o avanço da população para o oeste dos EUA, as
igrejas se mobilizaram e avançaram na esteira das correntes migratórias.
Adoção do Plano de União entre Presbiterianos e Congregacionais em 1801.
a PCUSA fundou, em 1816, a sua Junta de Missões Nacionais.
5. Formação das missões estrangeiras. Em 1810 surgiu a Junta Americana de
Comissionados às Missões Estrangeiras, com sede em Boston. Era um fruto
direto do Plano de União entre a PCUSA e a igreja Congregacional. Foi a
primeira agência missionária internacional do país. Foi essa junta que enviou
Adoniram Judson à Índia.
6. Desenvolvimento nas Escolas Dominicais. Até 1800, as escolas dominicais
americanas seguiam o modelo de Robert Haikes, isto é, auxiliavam e
ensinavam crianças carentes. A partir de 1800, surgem as primeiras escolas
dominicais no estilo moderno, ou seja, as escolas passam a funcionar nas
igrejas e ministram ensino religioso.
7. Fundação de escolas. O crescimento para o oeste impulsionou a formação
de várias escolas. As igrejas presbiterianas, episcopais, congregacionais
foram as que mais atuaram nesse campo. Entre 1780 e 1829, dos 40 colégios
e universidades permanentes fundados nos EUA, 13 foram fundados pelos
presbiterianos e outras 4 por sua influência. Número maior que as
instituições fundadas por iniciativa do Estado, que fundou apenas 11. Dentre
estes, a Universidade de Princeton (1812).

O Plano de União e o Segundo Grande Reavivamento.


Em 1801 presbiterianos e congregacionais assinaram o “Plano de União”,
que durou quase 40 anos, sendo um trabalho cooperativo entre essas duas
denominações, visando evangelizar com mais eficiência a população que estava
migrando para o oeste. A adoção desse plano será decisiva nas questões que
dividirão os presbiterianos norte-americanos em Nova e Velha Escola por ocasião
do Segundo Grande Despertamento (Reavivamento). Contudo, como fruto do
Plano de União surgiu várias igrejas na região de Nova York. A Junta Americana
de Comissionados Para Missões Estrangeiras também é um fruto direto do Plano
de União7.

7
Terri Williams, Cronologia da História Eclesiástica. Ed. Vida Nova. Prancha 34, p. 98
11

De 1830 a 1860, o período formativo de Simonton nos EUA, Nichols aponta


as seguintes características:8
1. Segundo Grande Reavivamento.
2. Grande imigração européia e o avanço para o oeste. Houve um grande
desenvolvimento, especialmente no vale do Mississipi, onde Simonton
trabalhou por dois anos (1853/54). A imigração produziu um crescimento muito
grande, especialmente na igreja católica.
3. Anexação de novos estados americanos.
4. Desenvolvimento industrial dos EUA.
5. Intensificação da luta contra a escravidão.
6. Controvérsias religiosas. Início dos movimentos liberais, vindos da Europa.

Por motivos de avivamento e anti-escravismo, os presbiterianos da América


do Norte se viram atormentados e divididos, chegando a separarem-se em duas
Igrejas formalmente no ano de 1837. As igrejas presbiterianas se dividiram em
dois grupos conhecidos como “Velha Escola” (Virgínia) e “Nova Escola” (Nova
York).
A Nova Escola apresentava uma teologia calvinista modificada, com forte
ênfase no reavivamentismo, propondo uma reforma moral e a cooperação mais
efetiva entre as denominações. O problema é que as bases teológicas da Nova
Escola produziram um abrandamento da teologia calvinista, “até construir um

8
Robert H. Nichols, História da Igreja Cristã, ECC, p.306.
12

alicerce semi-pelagiano para o reavivamentismo”9, negando principalmente a


doutrina da imputação, substituindo-a por uma doutrina de influência moral,
encontrada fartamente na pregação e nos escritos de Charles Finney, por exemplo.
A Velha Escola, por outro lado, defendia um calvinismo que fosse mais
consistente e deixava mais evidente sua posição quanto ao confessionalismo, o
reavivamentismo e a constituição eclesiástica. Muitos líderes da Velha Escola,
inclusive Archibald Alexander e Charles Hodge, professores em Princeton e de
Simonton, tinham sido grandemente influenciados por reavivamentos na sua
mocidade, reconhecendo a necessidade contínua do reavivamento na igreja,
todavia, criticavam severamente os reavivamentistas que laboravam com
convicções teológicas de um calvinismo inconsistente, tais como Finney e
Nathaniel W. Taylor.
O cisma aconteceu quando uma maioria da Velha Escola expulsou os
membros da Nova Escola com base na tolerância que demonstravam com os erros
teológicos de sua Soteriologia. Quatro sínodos foram excluídos da igreja, dividindo
ao meio a denominação.10 Hoffecker argumenta que esses problemas teológicos
foram a principal razão da divisão, sendo o Plano de União com os
congregacionais e a escravidão apenas secundários.11 As opiniões dos que foram
expulsos foram publicadas na Declaração de Auburn, que negava 16 acusações
levantadas pela Velha Escola, no entanto, afirmou um conceito enfraquecido da
doutrina da imputação. Na década de 1840, a Nova Escola tornou-se mais
conservadora e ortodoxa, e muitos de seus membros retornaram à PCUSA em
1869.
A Assembléia Geral de 1837, dentre suas decisões aprovou:
 O cancelamento do Plano de União.
 A exclusão de 4 sínodos (organizados sob a vigência do Plano de União).12
 A criação da Junta de Missões Estrangeiras, com sede em Nova York (Board).
Dentro de poços anos essa Junta enviou missionários para a Índia, Tailândia,
China, Colômbia e Japão. O Brasil foi o sexto país a receber missionários
enviados pelo Board de Nova York, sendo o Rev. Simonton o pioneiro deles.13
Por causa dos debates em torno da escravidão, em 1857, a Nova Escola se
dividiu entre o Norte e o Sul. Em 1861 foi a Velha Escola que se dividiu da mesma
forma, com a Guerra de Secessão. Assim, surgiu a Igreja Presbiteriana dos
Estados Unidos da América (PCUSA) também chamados de “Presbiterianos do
Norte” e a outra parte, denominada Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos
(PCUS), também chamados de "Presbiterianos do Sul". Por esse tempo, Simonton
já estava trabalhando no Brasil. Nesse mesmo ano fundou o Comitê Executivo de

9
W. A. Hoffecker, “Teologia da Nova Escola”, EHTIC, vol.3, Vida Nova, p.498.
10
Alderi S. Matos, Apostila Movimento Reformado – Sinopse Histórica, CPPGAJ, Março de 2001, p.16. Trabalho
não publicado.
11
Hoffecker, “Teologia da Nova Escola”, EHTIC, vol.III, p.498.
12
Alderi S. Matos, “O Presbiterianismo Norte-Americano (II)”, Brasil Presbiteriano, ano 48, nº 611/Agosto de
2005; p.4.
13
Alderi S. Matos, Os Pioneiros, ECC, p. 13.
13

Missões Estrangeiras, com sede em Nashville (Comitee) que começou a atuar no


Brasil a partir de 1869.
Em 1870, a Velha e a Nova Escola uniram-se novamente no Norte (foram 33
anos de separação), mantendo a sigla PCUSA. Essa igreja liderou a criação da
Aliança Presbiteriana Mundial em 1875. A PCUSA investiu maciçamente em
missões nacionais e estrangeiras, alcançando na virada do século a marca de um
milhão de membros. A PCUS manteve-se solidamente fiel aos ideais da Velha
Escola. Entretanto, desenvolveu a “doutrina da igreja espiritual”, evitando o
envolvimento com questões políticas e sociais, enfatizando a evangelização. Como
característica distintiva.

insistia na igualdade entre presbíteros docentes e regentes no governo dos


concílios e entendia que as atividades da igreja deviam ser realizadas por
comissões responsáveis perante a Assembléia Geral e não por juntas semi-
independentes.14

Em 1879 A PCUS adotou o Livro de Ordem Eclesiástica, que dava aos presbíteros maior
espaço na vida da igreja. Os presbíteros deviam ser ordenados por meio de imposição de mãos,
participarem da ordenação dos pastores impondo suas mãos sobre estes e fariam parte do quórum
para o funcionamento dos concílios, o que não acontecia na PCUSA.15

O Seminário de Princeton, fundado em 1812, estava ligado ao movimento da


Velha Escola, sendo Charles Hodge (1797-1878) um dos seus
principais líderes. Hodge foi o teólogo presbiteriano mais influente
do século XIX. Formado na Universidade e no Seminário de
Princeton, sucedeu Archibald Alexander na cadeira de Teologia
Exegética e Didática, ocupando essa função até à sua morte.16
Hodge se opôs à teologia de New Heaven, de Natahanel W. Taylor
(negava a expiação vicária e reinterpretou a obra do Espírito Santo
na regeração em termos sinergistas aproximando-se do arminianismo e do
semipelagianismo);17 ao reavivamentismo de Charles Finney e à teologia de
Mercersburg, de John W. Nevin (rejeitava o reavivamentismo totalmente).18 Foi um
prolífico escritor tanto nas áreas teológicas como de piedade e administração
eclesiástica. Sua obra mais importante é sua Teologia Sistemática, publicada em
três volumes nos anos de 1872/73.
Ele foi professor de Teologia Sistemática em Princeton por 56 anos,
compartilhando com Archibald Alexander de seus ensinos quanto à proclamação
da glória de Deus, o poder regenerador da graça de Deus em Cristo, a incapacidade
do homem em alcançar a salvação à parte da chamada eficaz de Deus, e a total
suficiência das Escrituras. Contudo, Hodge dava mais espaço em sua teologia para

14
Alderi S. Matos, “O Presbiterianismo Norte-Americano (II)”, Brasil Presbiteriano, ano 48, nº 611/Agosto de
2005; p.4.
15
Adão Carlos do Nascimento. Paz Nas Estrelas, p. 42.
16
Mark A. Noll, “Charles Hodge”, EHTIC, vol.2, Vida Nova, p.254.
17
W. A. Hoffecker. “Nathanael William Taylor”, EHTIC vol. 3; Vida Nova, p. 4333,434.
18
Mark A. Noll. “Teologia de Mercersburg”. EHTIC, vol. 3, Vida Nova, p. 484,485.
14

a obra do Espírito Santo, além de ser um polemista mais eficaz na exposição de um


calvinismo tradicional contra as inovações na teologia de seu país. A autoridade
das Escrituras, o apreço pelas confissões de fé reformadas, o respeito pelos
teólogos europeus reformados do século XVII eram equilibrados com sua crença
na necessidade de se viver a piedade.
Em seus escritos, mostra-se mais preocupado com os erros do catolicismo
romano do que com as modificações do calvinismo propostas pelos
congregacionais e pelos membros da Nova Escola. Foi essa teologia que moldou o
pensamento teológico de Simonton e dos primeiros missionários enviados ao
Brasil. Além de ser um competente polemista, Hodge é também conhecido por ser
um expositor bíblico piedoso e fiel à autoridade das Escrituras.

O Século XX.
Em 1903, a PCUSA alterou levemente três parágrafos da Confissão de Fé e
acrescentou dois capítulos novos, sendo um sobre o Espírito Santo e outro sobre o
Amor de Deus e as Missões. Outra alteração mais controvertida veio a seguir,
quando se atenuaram as afirmações sobre os decretos de Deus. Isso facilitou a
fusão com parte da Igreja de Cumberland, em 1906, que defendia o livre-arbítrio e
rejeitava a doutrina da depravação total.19
Na década de 1920-1930 a igreja presbiteriana foi muito abalada pela
controvérsia Modernista-Fundamentalista, causando a fundação da Igreja
Presbiteriana Ortodoxa, em 1936, por John Gresham Machen (1881-1937) e do
Seminário de Westminster, na Filadélfia. Os modernistas (liberais) assumiram
sucessivamente o controle do Seminário de Princeton (doutrina); Junta de
Missões estrangeiras (expansão) e da Assembléia Geral (administração).
Em 1930, a PCUSA foi a primeira denominação norte-americana a ordenar
mulheres para ao presbiterato, o que levou à conseqüente ordenação ao ministério
em 1956. Apesar dessas controvérsias internas, entre 1900 e 1957, as igrejas
presbiterianas saltaram de um milhão para três milhões de membros.
Em 1958, a PCUSA fundiu-se com a pequena Igreja Presbiteriana Unida da
América do Norte e formaram a Igreja Presbiteriana Unida dos Estados Unidos,
preservando a sigla PCUSA. Essa nova denominação reformou em termos neo-
ortodoxos a Confissão de Westminster em 1967, rompendo com o texto original. A
PCUS manteve-se conservadora até a década de 1960.
Em 1983, PCUSA e PCUS se fundiram novamente formando a atual Igreja
Presbiteriana dos EUA, de tendência liberal e influência declinante na vida de seu
país. Antes disso, muitos elementos conservadores deixaram suas igrejas-mães e
criaram duas novas denominações presbiterianas: a Igreja Presbiteriana da América
(PCA – 1973 = oriundos da igreja do sul - PCUS) e a Igreja Presbiteriana
Evangélica (EPC – 1981 = oriundos da igreja do norte - PCUSA). Enquanto a

19
Alderi s. Matos, “O Presbiterianismo Norte-Americano (III)”, Brasil Presbiteriano, ano 48, nº 612/ setembro de
2005, p.4.
15

PCUSA experimenta um acentuado declínio, essas duas últimas igrejas vêm


experimentando um considerável crescimento numérico em seu país.20
O presbiterianismo norte-americano estava assim distribuído em 2000:21
 PCUSA = 3.645.000 membros.
 PCA – 278 mil membros.
 IP de Cumberland = 88 mil membros.
 EPC = 57.500 membros.
As maiores denominações reformadas, ambas de origem holandesa, eram:
 Igreja Reformada da América = 312 mil membros.
 Igreja Cristã Reformada da América do Norte = 280 mil membros.

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3. ASHBEL GREEN SIMONTON – SINOPSE HISTÓRICA.

Vida na América.
Ashbel Green Simonton nasceu no pequeno
povoado de West Hanover, condado de Dalphin, sul da
Pensilvânia, a 20 de janeiro de 1833. Sua mãe chamava-se
Martha Davis Snodgrass, filha do Rev. James Snodgrass,
que pastoreou por 58 anos uma igreja presbiteriana na
região. Seu pai, Dr. Willian Simonton, era o médico da
cidade, presbiteriano de ascendência escocesa-irlandesa,
fora eleito por duas vezes para o Congresso norte-
americano. Ele era o filho caçula de uma família de 9
irmãos Seu tio, o Rev. Willian D. Snodgrass, tinha
doutorado em Divindade. Seu nome era uma homenagem
ao Rev. Ashbel Green, líder presbiteriano e presidente do
Colégio de Nova Jersey. Ele era um ministro
presbiteriano e faleceu em 1848. Pastoreou a Segunda
Igreja Presbiteriana de Filadélfia por 25 anos, capelão do Congresso Nacional
americano de 1792 a 1800, um dos fundadores do Seminário de Princeton em
1812, moderador da Assembléia Geral da PCUSA em 1824 e presidente da
Universidade de Princeton de 1812 a 1822. Ficou conhecido por impor um rígido
código de disciplina e uma pesada carga religiosa aos alunos.22
Com a morte do pai e do avô materno em 1846, sua família mudou-se para
Harrisburg, a capital do estado. Em 1852 Ashbel formou-se no Colégio de Nova
Jersey, futura Universidade de Princeton. Nos dois anos seguintes trabalhou como

20
Alderi S. matos, “O Presbiterianismo Norte-Americano (III)”, Brasil Presbiteriano, ano 48, nº 612/setembro de
2005, p.4.
21
Ibid, p. 4.
22
Wilton O. Assis, Ashbel Green Simonton – O Missionário dos Tristes Trópicos, Caderno de Pós-Graduação,
Editora Mackenzie, São Paulo, 2001, p.18, nota 3.
16

agente de periódicos presbiterianos e depois como professor numa escola para


meninos no Estado de Mississipi (Starkville). Simonton mostra-se radicalmente
contra a escravidão, que ainda perdurava em seu país. Considerava o comércio de
africanos na região onde lecionava como um "tráfico desumano e nenhum
homem com sentimento humanitário poderia se engajar nele".23
Desde sua mocidade os valores de sua cultura levavam-no a uma direção
contrária ao materialismo - algo mais forte que si mesmo imprimia à sua vida um
destino que, apesar de ainda inconsciente, levavam-no a meditações como as que
anotara em seu diário, em junho de 1854:

Como deve parecer vã e desperdiçada a vida de quem vive apenas para


acumular riquezas, ou obter fama! O homem mais nobre é aquele que mais
faz pela humanidade, e o ministério abre as mais amplas oportunidades para
esse fim... Se eu me engajar em outra profissão que não seja o Ministério
Sagrado vou sentir que não cumpri meu dever como ser humano.24

Conversão, Seminário e Missões.


Em 1854 mudou-se para Nova York a fim de estudar Direito. Durante um
culto, em março de 1855, Simonton foi alcançado por um avivamento religioso em
Harrisburg. Em seguida fez sua pública profissão de fé na igreja presbiteriana
inglesa e resolveu seguir para o ministério.
Fazendo uma revisão de sua vida cristã às vésperas de tomar-se seminarista
em Princeton Simonton concluíra que havia "aspectos humilhantes". Observa que
ao comparar seu coração com os requisitos da Palavra de Deus sentia o quanto
faltava das graças que resulta do trabalho do Espírito Santo: Humildade, modéstia,
pureza e santidade de coração, amor sincero a Cristo. Buscava as "grandes
verdades da revelação", estudando complexas doutrinas bíblicas, com muita
dedicação. Confessava, no entanto, negligenciar o cultivo da piedade pessoal e
ansiava por mais calor no seu "coração de pedra".25
Em 4 de setembro de 1855, registra, para não esquecer os compromissos que
como seminarista deverão discipliná-lo na vida de estudos. Esses compromissos
soam como alerta não só para pastores, missionários e líderes cristãos, mas
também para qualquer membro da igreja de Jesus Cristo a uma vida mais piedosa e
disciplinada:26

1º. Freqüência constante aos exercícios devocionais do Seminário e o uso


de todos os meios de graça que promovam seu crescimento, sem se
esquecer das orações particulares diárias.
2º. Vigilância constante sobre o coração e contra os pecados que o rodeiam.
3º. Estudo das seções devocionais da Bíblia e leitura de obras sobre a
experiência religiosa e memórias de cristãos que se distinguiram pela
piedade sincera de seus corações.

23
Ashbel G. Simonton, O Diário de Simonton – 1852-1866, 2ª ed. revisada e ampliada, ECC, 03/02/1854, p.52.
24
Simonton, O Diário de Simonton, 03/06/1854, p.59.
25
Ibid, 04/09/1855, p.94.
26
Ibid, 04/09/1855, p.95.
17

4º. “Comunhão constante e íntima com Deus para alcançar grandes vitórias
na vida espiritual. Esta é a primeira grande qualificação para a obra do
ministério, pois como falar aos outros sobre uma coisa de que não se tem
experiência?”
5º. O cultivo do dom da oração.
6º. Preservar a saúde com exercícios ao ar livre e boa dieta alimentar.
7º. Ser cuidadoso com o “comportamento exterior”, para não parecer leviano,
respeitando até mesmo preconceitos populares e reprimindo sentimentos
inocentes e sem maldades a fim de não ser mal entendido por outros.

Em 8 de setembro de 1855 o calouro de Teologia manifestava em seu Diário


o desconforto de estar num quartinho humilde, sem móveis ou o aconchegante
conforto de seu lar. Um mês depois (14/10/1855) um sermão ministrado pelo Dr.
Charles Hodge tocou-o profundamente, levando-o a pensar, pela primeira vez,
sobre o trabalho missionário em terra estranha. Escreveu:

Dr. Hodge... Falou da necessidade absoluta de instruir os pagãos antes de


poder esperar qualquer sucesso na propagação do Evangelho e mostrou
que qualquer esperança de conversões baseadas em obra extraordinária do
Espírito Santo comunicando a verdade diretamente não é bíblica... Pois
agora estou convencido de que devo considerar a possibilidade seriamente;
e se há tantos que preferem ficar, não será meu dever partir?27

Dias depois, ao regressar de uma reunião de oração, podia dizer, com


tranqüilidade:

Posso apenas me submeter à vontade do Senhor, desejando fazer plena


consagração de mim mesmo a seu serviço, e confiar que ele no tempo certo
guiará meus passos. Agradeço a Deus o conforto que encontro agindo assim
quase diariamente, e a pouca preocupação que tenho com o futuro.28

Simonton inicia com uma oração o ano de 1858. Termina a prece, dizendo:
"faz o Teu rosto resplandecer sobre mim e tem misericórdia de mim;
levanta sobre mim a luz do teu rosto e dá-me a paz".29 No inicio do semestre
letivo anota suas dificuldades com relação ao Hebraico e o Árabe. Dizia esquecer
tão depressa quanto os aprendia. No mês de novembro, candidatou-se na Junta de
Missões Estrangeiras da PCUSA, citando o Brasil como campo de sua preferência,
deixando, no entanto, a decisão final aos cuidados da Junta, confiando na "mão da
Providência".30
No dia 13 de dezembro, em Georgetown, D.C., recebeu a confirmação de
seu pedido. Foi ordenado missionário (14/04/1859) pelo Presbitério de Carlisle.
Em maio de 1859, a Assembléia Geral da PCUSA aprovou a sua nomeação,
enviando-o ao Brasil “para explorar o território, verificar os meios de atingir

27
Simonton, O Diário de Simonton, 14/10/1855, p. 96, 97.
28
Ibid. 28/10/1855, p. 97.
29
Ibid, 1º/01/1858, p.110.
30
Ibid, 27/11/1858, p.111.
18

com sucesso a mente dos naturais da terra e testar até que ponto a
legislação favorável à tolerância religiosa será mantida”.31

Missionário no Brasil.
Embarcou para o Brasil na manhã de 18 de junho de 1859, a bordo do
"Banshee". Escreve: "Estou só. Sinto agora, pela primeira vez, a realidade
que havia freqüentemente antecipado com temor".32 Desembarcou no Rio na
Manhã ensolarada de 12 de Agosto de 1859. Ele descreve a experiência em seu
diário hora por hora. Por volta das 9:30 da manhã ele escreve:

Estou acordado desde as quatro da manhã, observando as manobras para


adentrar o porto contra o vento e a maré. É um lugar lindo, o mais singular e
impressionante que jamais vi... Desfiz-me de minha roupa de viagem, dando-
a ao cabineiro, em agradecimento pelos serviços que me prestou durante a
jornada. Estou pronto para desembarcar.33

Às 14:15 Simonton estava sendo recebido por Robert C. Right, a quem


entregou a carta de apresentação.
Dois meses após sua chegada, Simonton escreve o seguinte: "Ser
missionário sem ter o amor fervoroso por Cristo e zelo pelas almas é mau
negócio. Devo renovar minha consagração".34 Algum tempo depois escreve:

...Minha religião é muito morta, minhas orações caem por terra, faltando-lhes
o impulso do sentimento jubiloso e vivo. Por isso vou implorar a Deus. Vou
buscar a renovação de minha vocação e consciência de amar Aquele cuja
palavra prego. Senhor, fala comigo como fizeste com Pedro, convencendo-
me da necessidade de amor e produzindo no meu íntimo, por Teu poderoso
comando, a graça celeste que me capacite a alimentar Teus cordeiros e
Tuas ovelhas.35

Algum tempo depois, juntamente com o Dr. Kalley analisou as respostas


recebidas de advogados do Rio sobre as questões relacionadas à liberdade religiosa
no Brasil. Devido a algumas restrições quanto a prática de culto, o Dr. Kalley
sugeriu que ensinar Inglês seria a melhor tática inicial.
Em 22 de Abril de 1860 Simonton dirigiu uma Escola Dominical em sua
própria casa, sendo este seu primeiro trabalho em Português. Neste mesmo ano,
recebeu a alegre notícia da vinda ao Brasil de sua Irmã Lilie (Elizabeth) e do
cunhado, o Rev. Blackford, porém a notícia de que um violento temporal havia
apanhado o navio e o tirado da rota faz com que no dia 21 de julho, o Rev
Simonton escreva o seguinte:

31
Boanerges Ribeiro, Citado por Richard Sturz em: Earle E. Cairns, O Cristianismo Através dos Séculos, Vida
Nova, p.369.
32
Simonton, O Diário de Simonton, 28/06/1859, p. 112.
33
Simonton, O Diário de Simonton, p. 125.
34
Ibid, 02/12/1859, p. 133.
35
Ibid, 31/12/1859, p. 137.
19

A esperança está quase me abandonando no que diz respeito a Lilie e ao Sr.


Blackford. Começa a convencer-me de que na obscura providência de Deus
encontrara no oceano seu funeral e provavelmente cerca de cinco dias após
perderem sua pátria de vista. É um dia negro para mim. Amargo contraste
com o que antecipava.36

A notícia, porém, era infundada, e no dia 25 de julho, os dois estavam sendo


recebidos por Simonton, a fim de auxiliá-lo da obra missionária do Brasil.

O único Furlough, casamento e retorno ao Brasil.


No final de março de 1862, Simonton fez uma viagem aos Estados Unidos
(furlough – misto de férias com divulgação do trabalho), devido a problemas de
saúde de sua mãe, Sra. Marta Davis. Também para discutir com a Missão a
viabilidade da transferência da Missão definitivamente para São Paulo ou
permanecer no Rio. Ao chegar, soube que sua mãe já havia falecido recentemente.
Simonton chegou a presenciar manobras da Guerra de Secessão próximas a
Washington. Neste mesmo ano, fez amizade com Helen Murdoch, enquanto
trabalhava temporariamente na I. P. de Baltimore. No dia 28 de janeiro de 1863
ficaram noivos, casando-se em 19 de Março. Em 16/07, o casal aportou no Rio de
Janeiro.
No ano de 1864, nasce a única filha do casal, no dia 19 de junho, porém
nove dias depois devido a complicações no parto, Helen morre. Sua filhinha recebe
o nome da mãe. Simonton escreve em seu diário suas mais dolorosas palavras:
"Deus tenha piedade de mim agora, pois águas profundas rolaram sobre
mim. Helen está estendida em seu caixão, na salinha de entrada. Deus a
levou de repente que ando como quem sonha”.37 Ainda nesse ano, dois
eventos servem de consolo e estímulo para Simonton: A conversão de José Manuel
da Conceição e a fundação do Jornal Imprensa Evangélica.

Morte em São Paulo.


A última página do Diário de Simonton é de 31 de dezembro de 1866. Em
várias linhas o missionário conta como foi recebida entre seus compatriotas a feliz
notícia do fim da guerra em seu país. Sua última anotação foi: “Quem me dera
um batismo de fogo que consumisse minhas escórias; quem me dera
um coração totalmente de Cristo”.38
Simonton faleceu em São Paulo em 08/12/1867, vítima de febre amarela.39
Suas últimas palavras foram:40

Para os amigos nos EUA: “_ Diga-lhes que os amei até o fim”.


Para o Board: “_ Diga-lhes que toquem para frente o trabalho”.

36
Ibid, 21/07/1860, p. 142.
37
Simonton, O Diário de Simonton, 28/06/1864, p. 164.
38
Ibid, 31/12/1866, p.174.
39
O Rev. Alderi diz ter sido o diagnóstico de sua morte “febre biliosa” (Alderi S. Matos, Os Pioneiros
Presbiterianos do Brasil – 1859-1900, ECC, São Paulo, 2004, p. 29).
40
Júlio A. Ferreira, História da IPB, vol. I, p.84.
20

Para a Igreja do Rio: “_ Deus levantará outro para por no meu lugar. Ele
fará a sua própria obra com os seus próprios instrumentos”.
Para sua irmã Elizabeth: “_ Devemos apenas nos recostar nos Braços
Eternos e estar sossegados”.

O Diário de Simonton
O Diário de Simonton se divide em três partes distintas:41
1. Viagem e trabalho no sul dos EUA (1852-1854).
2. Estudo de Direito, conversão, vocação ministerial e preparo teológico em
Princeton (1854-1859).
3. Trabalho missionário no Brasil (1859-1866).
a) Trabalho inicial no Rio de Janeiro até a organização da I. P. do Rio
(06/1859-03/1862).
b) Furlough nos EUA, casamento e retorno ao campo (03/1862-07/1863).
c) Continuação do ministério no Brasil, criação do Imprensa Evangélica, do
Presbitério do Rio e do Seminário (07/1863-12/1866).
Uma omissão que não deixa de ser interessante no Diário de Simonton é que
não há qualquer referência à Guerra do Paraguai (1864-1870).

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4. ESBOÇO DA HISTÓRIA DA IPB / PERÍODO DE IMPLANTAÇÃO –


1859 A 1869.

Os Períodos da História da IPB:

Rev. Júlio Andrade Ferreira42 Rev. Alderi Souza de Matos43


1 1859 a 1869 Implantação 1 1859 a 1888 Os Primórdios
2 1869 a 1888 Consolidação 2 1888 a 1910 O Sínodo Presbiteriano
3 1888 a 1903 Dissensão 3 1910 a 1937 A Assembléia Geral
4 1903 a 1917 Reconstituição 4 1937 a 1959 O Supremo Concílio
5 1917 a 1932 Cooperação 5 1959 a 1986 Após o Centenário
6 1932 a 1959 Estruturação 6 1986 a 2008 As Décadas Recentes
7 1959 a ... Contemporâneo 7
1966 a 1986
(Boanergismo)44

41
Alderi S. Matos. Introdução ao Diário de Simonton, p.11.
42
Júlio A. Ferreira, História da Igreja Presbiteriana do Brasil, 2 vols., CEP, São Paulo, 2ª ed. 1992.
43
Alderi S. Matos, “Igreja Presbiteriana – 150 anos Evangelizando o Brasil”. Encarte na Bíblia Sagrada - Edição
Histórica, SBB; 32 páginas, 2009.
44
Termo cunhado pelo Rev. Arival D. Cassimiro. “Interpretando a História”. Jornal O Mediador, Ano I, nº 02, Abril
de 2000, p. 3.
21

Fatos Importantes do Período de Implantação (1859 a 1869):


1. O trabalho de Simonton no Brasil (1859-1866).
2. Conversão e ordenação de José Manoel da Conceição.
3. A Criação do Jornal Imprensa Evangélica.
4. O Seminário Primitivo.
5. Organização do primeiro presbitério.
6. A fundação das Seis Primeiras Igrejas

1. Questão Colonização.
O Brasil foi colonizado pelos portugueses. Sua colonização religiosa foi
católica desde o início (04/1500 – a primeira missa no Brasil), que era subserviente
ao Estado. A preocupação primária da colonização foi comercial e não religiosa;
buscavam mercadorias e matéria prima.
A implantação do catolicismo foi muito mais causal para o Estado, como
para se manter de bem com a Igreja. Apesar da aliança entre a Igreja Católica e o
Estado português, o rei nunca permitiu à igreja liberdade suficiente para crescer e
realizar sua tarefa evangelizadora no Brasil. Comparando-se o desenvolvimento da
igreja católica no Brasil e nos EUA pode-se concluir que depois de 100 anos
presente nos EUA, a Igreja Católica tinha ali 84 bispos e arcebispos, enquanto que
em igual período no Brasil havia apenas uma diocese, a de Salvador-BA. Depois
de 200 anos, sete; e após 300 anos, apenas 10.45
100 anos 200 anos 300 anos
EUA 84 bispos e arcebispos
Brasil 1 diocese 7 dioceses 10 dioceses

Três fatores causaram essa situação no Brasil. O Padroado, o Recurso e o


Beneplácito.
“O Padroado foi uma concessão feita pela Igreja Católica a determinados
governantes civis, oferecendo-lhes um certo controle sobre a igreja em seus
respectivos territórios como um reconhecimento por serviços prestados à causa
católica e um incentivo a futuras ações em benefício da igreja”.46 A coroa
portuguesa se comprometia a fornecer os navios para o transporte dos religiosos,
financiar o empreendimento missionário católico, construir igrejas e outros
edifícios eclesiásticos e pagar o salário dos sacerdotes. Em contrapartida poderia
nomear os bispos, recolher os dízimos dos fiéis, aprovar os documentos
eclesiásticos, e interferir em quase todas as áreas da vida da igreja. Nem sempre a
coroa portuguesa cumpriu suas obrigações, mas foi zelosa no uso de suas
prerrogativas. D. Pedro II fez uso eficaz desse expediente.
O Recurso era o direito de recurso à coroa em casos de disciplina
eclesiástica.

45
Earlie E. Cairns, O Cristianismo Através dos Séculos, p.303.
46
Alderi S. Matos, “Eventos Marcantes da História do Cristianismo no Brasil”. Em: Mark A. Noll, Momentos
Decisivos na História do Cristianismo, ECC, p.334.
22

O Beneplácito ou “placet” era o direito de censura de todas as bulas, cartas


e outros documentos eclesiásticos antes de sua publicação no império brasileiro.
A política interna aplicada ao Brasil produziu:
a) Desenvolvimento urbanístico voltado para o litoral.
A colonização do litoral foi voltada para os centros administrativos e de
escoamento (Salvador, Rio). O interior era completamente dependente do litoral,
aumentando a dependência de Portugal. As chamadas “cidades de patrimônio”
geralmente eram dominadas por famílias e somente quando o chefe da família se
convertia ou se tornava simpático ao protestantismo, a semente florescia e se
fundamentava.

b) Fraco sentimento nacional.


A política colonialista impediu a formação de um nacionalismo forte, que foi
desde o início abafado. Os investimentos que eram feitos visavam facilitar o
escoamento comercial. Todo o desenvolvimento visava a exportação, a saída dos
capitais. O fraco nacionalismo era a favor da religião oficial portuguesa. O
tradicionalismo católico, até hoje, é difícil de ser quebrado. A fim de aceitar o
Evangelho era necessário romper com a tradição do passado.

c) Menor motivação religiosa.


Esse fator facilitou a implantação do protestantismo, pois criou também uma
resistência menor às novas idéias.
Um fator decisivo, que abriu as portas para a implantação do protestantismo
no Brasil foram as idéias liberais européias dos políticos brasileiros. A ênfase na
liberdade e no progresso, advinda do Positivismo francês, criou o ambiente de
tolerância religiosa que contribuiu decisivamente para a implantação do
“protestantismo missionário” no Brasil.
A luta do protestantismo no Brasil não era contra o governo, mas contra o
catolicismo, que era a religião oficial e agia por trás do Estado. Como o
protestantismo era muito menos dependente do Estado que o catolicismo,
enfrentou problemas quanto à sua penetração e aceitação. O catolicismo português
era mais fraco que o catolicismo espanhol.

2. Questão Denominacional:
A evangelização foi denominacional e não nacional. São as denominações
que se desenvolvem e não a igreja nacional.
a) Fator organizacional.
Kalley se preocupou menos que Simonton e Blackford com a questão
organizacional. Kalley não tinha formação teológica formal em um seminário. Era
médico, e embora tivesse sido ordenado pela Igreja Presbiteriana Escocesa, seu
trabalho missionário sempre teve feições de trabalho leigo que influenciaram
decisivamente o trabalho protestante no Brasil.
b) Nativismo.
23

A formação de uma liderança nacional trouxe mais conflito dentro da IPB


que nas outras igrejas. José Manoel da Conceição e Eduardo Carlos Pereira sempre
tiveram atritos com a liderança americana. A IPB foi a primeira igreja protestante a
criar a sua Assembléia Geral (1910). Mas também foi a primeira igreja protestante
a passar por um cisma nessa caminhada em direção à nacionalização. O primeiro
brasileiro a ser o presidente da Assembléia Geral só foi em 1924!

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5. O TRABALHO DE SIMONTON NO BRASIL E SEUS PRIMEIROS


COLABORADORES.

a. Antecedentes.
1. Os acordos quanto à liberdade de culto dos ingleses de 1810 e a Constituição
de 1824.
Os ingleses poderiam realizar cultos e até construírem templos, desde que
não tivessem aparência exterior de templo. O primeiro templo protestante no Brasil
foi construído em 1819 pelos anglicanos ingleses e o segundo pelos alemães em
1837.47

2. Capelania aos marinheiros do porto do Rio de Janeiro.


Obadiah M. Johnson chegou ao Rio em 1836 para servir como capelão de
um grande número de marinheiros, mas problemas financeiros de sua missão o
afastaram por mais de 5 anos. Os metodistas Justin Spauldin e Daniel Kidder
deram continuidade a esse ministério.
Justin Spaulding foi o primeiro missionário metodista no Brasil, chegando
com sua família no Rio de Janeiro em 29/04/1836, partindo de Nova York. Ele
organizou a primeira escola dominical no Brasil e planejou uma escola diária antes
de completar um mês de estadia no Brasil. A sua escola dominical tinha uma
assistência de mais de quarenta crianças e jovens, dividida em oito classes com
quatro professores e igual número de professoras.
Kidder achava que o Brasil não estava preparado para os métodos habituais
de evangelização anglo-saxônica, por isso dedicou-se especialmente à colportagem
das Escrituras, utilizando-se principalmente da edição de Figueiredo que era
permitida pelo catolicismo brasileiro. Ele viajou o Brasil inteiro difundindo as
escrituras, tendo, inclusive dois encontros com o regente padre Feijó, que o
recebeu cordialmente. De volta aos EUA publicou o livro “Reminicências de
Viagens e Permanências nas Províncias do Sul do Brasil”.

3. O trabalho de distribuição de Bíblias e literatura evangélica dos colportores.

47
Emile Leonárd, O Protestantismo Brasileiro, JUERP/ASTE, p.41. veja as notas 58 e 59.
24

Em 1851, o presbiteriano James Cooley Fletcher foi capelão dos marinheiros


e tornou-se obcecado pela idéia de converter o Brasil ao protestantismo e ao
progresso. Ele ocupou vários cargos no Brasil, incluindo o de agente da Sociedade
Bíblica Americana. Embora seu trabalho tivesse poucos frutos, serviu de base para
o início do interesse missionário pelo Brasil no exterior. Como colportor por breve
tempo no Brasil, seu contato com as elites brasileiras criaram uma atmosfera
favorável para a distribuição de Bíblias. Antes dele, Spaulding e Kidder haviam
feito avanços significativos na circulação das Escrituras na década de 1830.
Fletcher adaptou e atualizou o livro de Kidder, publicando-o com o título “O Brasil
e os Brasileiros” em 1857, que contribuiu grandemente com a introdução do
protestantismo no Brasil.
Até 1854, as Sociedades Bíblicas haviam distribuído no Brasil cerca de 4 mil
Bíblias e em 1859 esse número havia chegado a 20 mil.

4. O trabalho do Rev. Robert R. Kalley.


Kalley veio para o Brasil em 1855. Ele fundou no Brasil, em 1858, a
primeira igreja de cunho missionário brasileira e de caráter estável; a Igreja
Evangélica Fluminense, que existe até hoje. Kalley exercia a sua profissão de
médico, realizava cultos (que Simonton classificou como de uma linguagem muito
simples e atrativa), colportagem e publicava artigos e traduções no jornal “Correio
Mercantil”. Isso fora mais que suficiente para despertar a perseguição do
catolicismo contra ele, mas não de forma tão intensa como fora na Ilha da Madeira,
cinco anos antes. Os entraves legais enfrentados e vencidos por Kalley, abriram a
porta para o trabalho de Simonton.

b. Os Primeiros Anos de Simonton.


Os primeiros nove meses de Simonton no Brasil foram dedicados ao
aprendizado da língua e a pregações a compatriotas e ingleses no porto e em
residências. Em 22 de abril de 1860, Simonton finalmente conseguiu dirigir o seu
primeiro trabalho em português, uma escola dominical. Três meses mais tarde,
chegaram valiosos reforços na pessoa do Rev. Alexander L. Blackford e sua
esposa Elizabeth, irmã de Simonton.
No início de 1861, Simonton fez uma longa viagem de reconhecimento pelo
interior, passando por São Paulo, Sorocaba, Itapetininga, Itu e Campinas. Fez
várias pregações, visitou ingleses e alemães, hospedou-se com liberais e conversou
com sacerdotes. Ao descrever essa viagem, Simonton deixou um curioso
testemunho sobre o choque cultural que experimentava. Na região de Itapetininga,
ele passou algum tempo em uma fazenda cuja hospitalidade muito apreciou.
Todavia, não pode deixar de notar a casa desmazelada e suja, sem assoalhos, com
falta de janelas e portas, e os porcos, galinhas, cachorros, vacas, cavalos e mulas
que entravam livremente. Diz ele:

Nunca vi família tão excelente, com suficientes recursos, viver tão mal.
Escravos por toda a parte, uns atrapalhando os outros; tábuas abandonadas
25

na serraria a 100 metros de distância; não consigo entender tanto descaso e


negligência. Dia após dia eu observava e me maravilhava do processo como
se dirigia a empresa toda. Ao ver João Carlos [Nogueira], um dos brasileiros
de coração mais bem formado, em outros aspectos um homem de bom
senso, viver daquele modo, minha confiança no Brasil e nos brasileiros
diminuiu.48

Simonton pôde realizar o primeiro culto regular no Rio de Janeiro em 19 de


maio de 1861; nessa oportunidade constituiu diácono um dos dois assistentes. O
melhor domínio da língua permitiu que Simonton tivesse mais êxito em atrair
interessados e ele manifestou a satisfação de finalmente poder anunciar a sua
mensagem aos brasileiros (e portugueses) e ver os primeiros frutos.
Finalmente, a 12 de janeiro de 1862 concretizou-se a primeira grande
realização de Simonton, que foi a fundação da Igreja Presbiteriana do Rio de
Janeiro. Naquele dia, estando presente um novo missionário recém-chegado,
Francis J. C. Schneider, Simonton admitiu formalmente à igreja os seus dois
primeiros membros, curiosamente ambos estrangeiros – um americano (Henry E.
Milford), agente da Companhia Singer de máquinas de costura, e um português
(Cardoso Camilo de Jesus). Simonton registrou o fato em seu Diário:

Domingo, dia 12 [de janeiro de 1862], celebramos a Ceia do Senhor,


recebendo por profissão de fé Henry E. Milford e Cardoso Camilo de Jesus.
Organizamo-nos assim em Igreja de Jesus Cristo no Brasil. Foi um
momento de alegria e satisfação. Multo mais cedo que esperava minha
pouca fé, Deus nos permitiu os primeiros frutos da missão. Senti-me até
certo ponto agradecido, mas não como devia. A comunhão foi dirigida por
Mr. [Francis Joseph Christopher] Schneider e por mim, em inglês e
português. O Sr. Cardoso, a seu pedido e de acordo com o que
consideramos melhor, depois de muito estudo e certa hesitação, foi batizado.
Prestou um exame que satisfez completamente a Mr. Schneider e a mim,
sem deixar dúvida em nossas mentes com respeito à realidade de sua
conversão. Graças sejam dadas a Deus pela confirmação de nossa fraca fé,
por vermos que não pregamos em vão o Evangelho.49

Os principais colaboradores de Simonton nesse período foram seu cunhado


Alexander L. Blackford, que em 1865 organizou as Igrejas de São Paulo e
Brotas; Francis J. C. Schneider, que trabalhou entre os imigrantes alemães em
Rio Claro, lecionou no seminário do Rio e foi missionário na Bahia; e George W.
Chamberlain, grande evangelista e operoso pastor da Igreja de São Paulo. Os
quatro únicos estudantes do “seminário primitivo” foram eficientes pastores:
Antonio Bandeira Trajano, Miguel Gonçalves Torres, Modesto Perestrelo
Barros de Carvalhosa e Antonio Pedro de Cerqueira Leite.
Outras poucas igrejas organizadas no primeiro decênio foram as de Lorena,
Borda da Mata (Pouso Alegre) e Sorocaba. O homem que mais contribuiu para a
criação dessas e outras igrejas foi o notável Rev. José Manoel da Conceição
48
Simonton, O Diário de Simonton, 12/02/1861, p.146.
49
Simonton, O Diário de Simonton, p.152. Negritos meus.
26

(1822-1873). Conceição visitou incansavelmente dezenas de vilas e cidades no


interior de São Paulo, Vale do Paraíba e sul de Minas, pregando o evangelho da
graça.
De fato, Simonton e seus colegas conseguiram uma lista impressionante de
realizações durante os oito anos de seu trabalho no Brasil: A fundação de uma
igreja no Rio de Janeiro (12/01/1862); a fundação do primeiro jornal evangélico no
Brasil, a Imprensa Evangélica (05/11/1864); a organização do primeiro presbitério,
do Rio de Janeiro (16/12/1865); e ainda a fundação do primeiro seminário
teológico, no Rio de Janeiro (14/05/1867); fundação da primeira escola paroquial (
).50 Em julho desse ano, na reunião do Presbitério do Rio, Simonton propôs a
seguinte estratégia missionária para a igreja presbiteriana brasileira:51

1. A santidade da igreja deve ser ciosamente mantida no testemunho de cada crente.


2. É preciso inundar o Brasil de Bíblias, livros e folhetos.
3. Cada crente deve comunicar o evangelho a outra pessoa.
4. É necessário formar um ministério nacional idôneo.
5. Escolas paroquiais para os filhos dos crentes devem ser estabelecidas.

c. Os Primeiros Colaboradores de Simonton no Brasil.

1. Alexander Latimer Blackford (1829-1890).


Nasceu em Ohio (EUA) numa família muito piedosa.
Formou-se em teologia pelo Westhern Theological Seminary, na
Pensilvânia. Apresentou-se como missionário para o Brasil,
conhecendo Simonton antes que o mesmo embarcasse para o Rio
de Janeiro. Blackford casou-se com a irmã de Simonton,
Elizabeth (Lille). Após uma longa e perigosa viagem de navio, o
casal Blackford chegou ao Rio de Janeiro em julho de 1860,
menos de um ano após a chegada do pioneiro. Apesar de algumas divergências
quanto ao melhor local para a sede da missão – Blackford preferia São Paulo;
Simonton, o Rio –, Blackford foi um grande ajudador de Simonton e seu substituto
na Igreja do Rio durante a prolongada viagem deste aos Estados Unidos (03/1862 a
07/1863). Em outubro de 1863, Blackford e Lille mudaram-se para São Paulo a
fim de fundar o trabalho presbiteriano naquela cidade (a igreja foi organizada em 5
de março de 1865). Participou da organização do Presbitério Primitivo, sendo
eleito seu primeiro moderador e sendo reeleito 3 vezes consecutivas. Era um
homem de temperamento forte, podendo ser bastante exigente consigo mesmo e
com seus colegas.52
Elizabeth Simonton Blackford teve a honra de ser a primeira missionária
presbiteriana a chegar ao Brasil e foi grande ajudadora do seu marido e do seu
irmão. Aprendeu a amar profundamento o povo brasileiro, a quem chamava de
"meu povo”. Foi no lar amigo e acolhedor dos Blackford em São Paulo que
50
Duncan A. Reily, História Documental do Protestantismo no Brasil, ASTE, São Paulo, p. 117.
51
Elben M. L. César. História da Evangelização do Brasil, p.89.
52
Alderi S. Matos, Os Pioneiros, p. 37.
27

Simonton faleceu. Elizabeth, faleceu em 1879, de febre tifóide53 e está sepultada ao


lado de Simonton no Cemitério dos Protestantes em São Paulo.
Com a morte inesperada de Simonton, Blackford assumiu o pastorado da
igreja do Rio, nele permanecendo por 10 anos. Nesse período regularizou a
documentação dos terrenos da igreja e construiu o primeiro templo presbiteriano
do Brasil, inaugurado em 1874. Ao longo de seu ministério organizou várias
igrejas: São Paulo (1865), Brotas (1865), Lorena (1867) e Sorocaba (1869).
Lecionou no Seminário primitivo (1867-70).
Entre 1877 e 1880, desligou-se da Junta de Missões e trabalhou como agente
da Sociedade Bíblica Americana, viajando por boa parte do território brasileiro,
produzindo, com alguns colegas, uma versão brasileira do Novo Testamento.
Com a morte de Elizabeth, casou-se em 1880 com Nannie Gaston, filha do
médico James McFadden Gaston, que era médico e presbítero em Campinas, no
campo da igreja do Sul. Também em 1880, reatou relações com a Junta de Missões
e passou mais 10 anos servindo a IPB em Salvador, na Bahia.
Participou da organização do Sínodo brasileiro em 1888, sendo eleito o seu
primeiro moderador. Retornou para os EUA em gozo de merecidas férias em 1890,
falecendo em 14/05, em Atlanta, pouco depois de sua chegada. Está registrado que
pouco antes de morrer cantou “hinos na língua dos brasileiros, o povo que ele
amou entranhadamente”. Blackford dedicou 30 anos de sua vida à
evangelização do Brasil.

2. Francis Joseph Christopher Schneider (1832-1910).


Schneider, um alemão de Erfurt que emigrou para os
Estados Unidos e lá estudou teologia no Western Theological
Seminary, em Allegheny, sendo ordenado pelo presbitério de
Saltsburg, na Pensilvânia. Chegou ao Rio de Janeiro em
dezembro de 1861 e no mês seguinte participou do culto em que
Simonton recebeu os primeiros membros e organizou a igreja-
mãe do presbiterianismo nacional.
Schneider teve o privilégio de ser o primeiro obreiro presbiteriano a residir e
trabalhar na então Província de São Paulo (entre os imigrantes alemães de Rio
Claro), onde permaneceu até o final de março de 1863. Decepcionado com a vida
moral dos “protestantes” alemães e suiços de Rio Claro retornou ao Rio a fim de
auxiliar Simonton e Blackford e dedicar-se ao aprendizado do português. No ano
seguinte fez nova tentativa a pedido dos próprios colonos com nova decepção.
Uma vez que criam numa regeneração batismal, “os colonos pouco se importavam
com a salvação ou com as coisas espirituais”.54 Então resolveu dedicar-se
definitivamente à evangelização de brasileiros. Ainda trabalhando em Rio Claro,
Schneider casou-se com Ella Grace Kinsley (o primeiro casamento registrado no
livro da igreja de São Paulo). Após o nascimento de seu filho, sua esposa faleceu.
Schneider casou-se novamente, mas logo enviuvou-se novamente.
53
Ibid, p. 41.
54
Alderi S. Matos, Os Pioneiros, p.43.
28

Em 1865 participou da organização do Presbitério do Rio. Em 1866, fez


várias visitas ao campo de Brotas. Retornando ao Rio colaborou intensamente no
púlpito da igreja e no Imprensa Evangélica, e no "seminário primitivo". Em 69 e
72 foi moderador do presbitério. Em 70/71 auxiliou Chamberlain em São Paulo.
Em 9 de fevereiro de 1871 desembarcou em Salvador com a difícil tarefa de
implantar a IPB na Bahia. Salvador era a sede do arcebispado metropolitano e o
centro da ação católica no país. Organizou a igreja de Salvador em 21/04/1872,
com dois professos. O terceiro membro recebido foi o negro Marcos Luiz da Boa
Morte, que entregou a Schneider mudas de laranja baiana, que, levadas aos EUA,
foram o ponto de partida para o cultivo dessa variedade naquele país.55 Colaborou
com a organização da igreja de Cachoeira-BA em 1875.
De 1877 a 1882 passou um período nos EUA traduzindo obras teológicas
para o português, quando retornou ao Rio de Janeiro. Participou da criação do
Sínodo Brasileiro em 1888. Em 1890 transferiu-se para São Paulo onde tornou-se
funcionário público estadual da Secretaria de Agricultura, seção de meteorologia.
Presidiu a comissão sinodal para edificação de templos em 1892. Lecionou grego e
física no Instituto teológico de São Paulo, fundado por Eduardo Carlos Pereira em
1893, e no Seminário Presbiteriano, no período em que esteve em Nova Friburgo-
RJ (1895).
Jubilou-se em 1895, pelo Presbitério de São Paulo. Schneider era um homem
austero e de gênio impulsivo, procurava ser rigorosamente exato, exigindo o
mesmo dos outros. Sempre participou ativamente das reuniões conciliares. Faleceu
em 21/03/1910, como o último dos companheiros de Simonton. Não era um pastor-
evangelista como seus contemporâneos, contudo contribuiu valiosamente na
formação dos candidatos ao ministério, na literatura evangélica e na obra
missionária.56

3. George Whitehill Chamberlain (1839-1902).


Chamberlain nasceu a 13/08/1839 em Waterford,
Pensilvânia. Chegou ao Brasil ainda como um leigo em julho
de 1862. Depois de uma passagem por São Paulo e pelo Rio
Grande do Sul, voltou ao Rio em maio de 1864, atendendo a
um apelo de Simonton para que fosse ajudá-lo. Fez companhia
a Simonton nos dias amargos que se seguiram à morte de
Helen.
Em julho de 1866, na segunda reunião do Presbitério do Rio de Janeiro,
Chamberlain, que já se destacava como um grande evangelista, foi ordenado e
enviado aos Estados Unidos para estudar teologia em Princeton. Nesse tempo
angariou a maior parte dos recursos para a construção do templo da igreja do Rio
de Janeiro. Retornou ao Brasil no final de 1868, já casado com Mary Ann
Annesley, e no ano seguinte iniciou seu longo e frutífero pastorado junto à Igreja

55
Alderi S. Matos, Os Pioneiros, p. 44.
56
Ibid, p.46.
29

Presbiteriana de São Paulo. Em 1870, o casal fundou a modesta Escola Americana,


marco inicial do que é hoje a Universidade Presbiteriana Mackenzie.
Em 1888, pouco antes da organização do Sínodo, a igreja de São Paulo
elegeu o seu primeiro pastor brasileiro, Eduardo Carlos Pereira. Chambelain foi
nomeado missionário do Sínodo, permanecendo em São Paulo, evangelizou o
interior (campo de Lençóis). Em 1892, transferiu-se para a Bahia, auxiliando na
igreja de Salvador e Cachoeira. Em 1896, pediu dispensa do cargo de missionário
sinodal e fixou residência em Feira de Santana-BA dando continuidade ao seu
trabalho evangelístico e pastoral.
Na controvérsia em torno do Mackenzie, e que antecederam o cisma de
1903, Chamberlain apoiou os planos do Board de Nova York, pois cria que a
educação era uma esfera importante da atuação da igreja presbiteriana no Brasil.
Vitimado de câncer, na boca, foi aos Estados Unidos em busca de tratamento
sem sucesso. Quis morrer no Brasil. Após quarenta anos dedicados à evangelização
do Brasil, Chamberlain faleceu na Bahia em 31/07/1902. Sua filha Laura (esposa
do Rev. William A. Waddel) e seu filho Pierce, dedicaram muitos anos à obra
missionária no Brasil.
O grande legado de Chamberlain para a história da IPB foi o fortalecimento
da Igreja de São Paulo e a fundação da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

4. Outros Colaboradores.
Simonton também contou com o apoio valioso e decisivo de elementos
"nacionais" (brasileiros e portugueses). Um dos primeiros foi Antonio dos Santos
Neves, um funcionário do Ministério da Guerra, taquígrafo do Senado e poeta.
Santos Neves foi recebido por profissão de fé pelo Rev. Blackford quando
Simonton estava nos Estados Unidos. Entre outras contribuições, ele foi autor de
muitos hinos e um dedicado colaborador de Simonton no jornal Imprensa
Evangélica.
Outros personagens que merecem destaque foram os três únicos estudantes
que Simonton teve no seminário que criou no Rio de Janeiro em maio de 1867:
Modesto Perestrello de Barros Carvalhosa, Antonio Bandeira Trajano e
Miguel Gonçalves Torres, todos eles nascidos em Portugal e membros da novel
Igreja Presbiteriana de São Paulo (o quarto estudante, Antonio Pedro de
Cerqueira Leite, só ingressou no seminário após a morte de Simonton). Os três
discípulos do pioneiro foram denodados ministros presbiterianos, o primeiro em
São Paulo e no Paraná, o segundo no Rio de Janeiro e o terceiro em Caldas, Minas
Gerais.

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30

6. A IMPLANTAÇÃO DA IPB EM SÃO PAULO E O PRIMEIRO


PRESBITÉRIO.

Simonton escreveu em seu Diário em 6/10/1863:

Hoje o Sr. B (Blackford) e minha irmã nos deixaram para ocupar São Paulo
como nova estação ligada à nossa Missão. É uma data importante na
história da Missão vindo, como vem, multiplicar nossas responsabilidades.57

a) São Paulo:
A província de São Paulo havia sido visitada por colportores, que também
pregavam o evangelho por onde visitavam. Kidder (1845); Fletcher (1855) e
Corfield (1857). Este último deixou livros para serem vendidos em Santos, São
Paulo e Campinas.
Blackford e Simonton haviam feito visita de reconhecimento em 1861. Em
1862, um dos motivos da viagem de Simonton aos EUA era discutir com os
membros da Junta de Nova York a viabilidade de se abrir uma nova sede
missionária em São Paulo, sem abandonar a do Rio de Janeiro. 58 A transferência
tinha sido aprovada em 1861, mas não foi realizada, devido à dificuldade de
Blackford em encontrar uma casa vazia “de qualquer espécie” para aluguel.59
Haviam muitos ingleses comerciantes residindo em São Paulo. Dentre eles
W. D. Pitt, vindo do Rio e membro da igreja de Kalley. Imediatamente ofereceu a
sua casa para os cultos. Blackford e Elizabeth mudaram-se definitivamente para
São Paulo em 6/10/1863, e realizou o primeiro culto nesta cidade em 18/10/63.
Pregou no texto de 1 Timóteo 2.5 em inglês para 14 pessoas na Sala Inglesa de
Leitura.60
Uma semana depois visitou várias cidades do interior, chegando até São
Carlos, onde Schneider havia trabalho sem sucesso. De volta, começou a pregar em
português (29/11/63), mas os cultos em inglês ainda foram mantidos por mais um
ano. Isso porque, enquanto os cultos em português, a princípio contava com uma
assistência de apenas 7 ou 8 pessoas, os cultos em inglês cresceram de 5 para 40
pessoas.
Em dezembro de 1864, os cultos passaram a ser realizados na rua Nova de
São José, nº 1 (hoje, Libero Badaró), próxima ao largo de São Bento. Nesse local
Blackford foi muito auxiliado por William D. Pitt e William Esher. O primeiro era
inglês e tinha sido um dos 14 fundadores da igreja de Kalley no Rio, servindo
inclusive como presbítero dessa igreja por algum tempo, até mudar-se para São
Paulo. Depois foi ordenado ao ministério pela IPB. O segundo era irlandês e foi
convertido ao evangelho por meio de Pitt.
A igreja de São Paulo foi organizada em 5/03/1865, com profissão de fé de 6
pessoas. Dentre estes contavam os futuros pastores: Antônio Bandeira Trajano e
57
Simonton, O Diário de Simonton, p.162.
58
Simonton, O Diário de Simonton, p. 153.
59
Ibid., p.150.
60
Júlio A. Ferreira, História da IPB, vol. 1, p.38
31

Miguel Gonçalves Torres. Nessa noite houve a celebração da ceia com 18


participantes.

b) O Primeiro Presbitério – 1865.

O trabalho no interior de São Paulo, especificamente a na região de Brotas,


estava crescendo rapidamente. Era necessário mais obreiros. Em função disso, os
três missionários (Simonton, Blackford e Schneider) se reuniram em São Paulo, na
casa de Blackford a fim de organizar o Presbitério do Rio de Janeiro. Isso se deu a
15/12/1865. Um dos principais objetivos da organização do Presbitério foi a
ordenação de José Manuel da Conceição, o que aconteceu no dia seguinte.
Chamou-se Presbitério do Rio de Janeiro em atenção à importância do Rio
como capital imperial e por ser a sede mais antiga. O ato constitutivo ficou escrito
assim:
Nós, Ashbel G. Simonton, do Presbitério de Charlisle; Alexander L. Blackford, do
Presbitério de Washington; e Francis J. C. Schneider, do Presbitério de Ohio,
querendo melhor promover a glória e o reino de nosso Senhor Jesus Cristo no
Império do Brasil, julgamos útil e conveniente exercer o direito que nos confere a
Constituição de nossa Igreja, constituindo um Presbitério sob o governo e a
direção da Assembléia Geral da Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos da
América do Norte. Portanto, de conformidade com a forma da referida Igreja, de
fato nos constituímos em um Presbitério que será chamado pelo título de
Presbitério do Rio de Janeiro, o qual deverá estar anexo ao Sínodo de
Baltimore.

Simonton foi o autor dessa monção de organização e o primeiro moderador


eleito foi Blackford. No dia seguinte Conceição pregou seu sermão de prova no
texto de Lucas 4.18,19 às 10 horas e foi ordenado à noite do mesmo dia.

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7. JOSÉ MANUEL DA CONCEIÇÃO: O PADRE PROTESTANTE.

Nascido em São Paulo, seis meses antes da


Independência do Brasil (11/03/1822). Filho do
português Manoel da Costa Santos e Cândida Flora de
Oliveira Mascarenhas, neta de açoreanos vindos para o
Brasil por volta de 1750.61
José Manoel da Conceição mudou-se para
Sorocaba em 1824 e foi educado pelo tio, o padre José
Francisco de Mendonça. Começou a ler a Bíblia aos 18
anos. Alguns anos depois, fez amizade com uma família
inglesa e várias famílias alemãs, todas protestantes, e
ficou impressionado com a vida religiosa deles.
61
Boanerges Ribeiro, José Manoel da Conceição e a Reforma Evangélica, O Semeador, São Paulo, 1995, p. 7.
32

Naturalmente devoto, abraçou a carreira sacerdotal, tendo sido ordenado


padre aos 22 anos, diácono em 29/09/1844 e presbítero em 29/06/1845. 62 Exerceu
o sacerdócio de 1844 a 1864, sempre na Província de São Paulo: Monte Mor,
Piracicaba, Santa Bárbara, Taubaté, Sorocaba, Limeira, Ubatuba e Brotas. Os
paroquianos gostavam muito dele. Por seu apego à Bíblia e por sua simpatia aos
protestantes, em Limeira ganhou o curioso apelido de "O Padre Protestante". Em
função de sua pregação, o bispo o remove de uma paróquia para outra tentando
fazer com que tivesse pouca influência sobre os paroquianos.
Em outubro de 1863, o casal Blackford mudou-se para São Paulo, visitando
os lugares por onde Francis Schineider havia ministrado. Foi nessa viagem que
encontrou o padre católico, José Manoel da Conceição pela primeira vez. O rev.
Alexandre L. Blackford o descreveu da seguinte forma: “Com cerca de 40 anos de
idade, corpulento, bem feito e gordo, com semblante que revela bondade.
Inteligência viva, cultivado, e com as maneiras de um perfeito cavalheiro”.63
Quando visitou Blackford pela primeira vez, 6 meses depois, Elizabeth lhe dirigiu
a palavra sem qualquer cerimônia convidando-o a deixar o catolicismo e tornar-se
protestante.64
Deixou o sacerdócio católico em 28 de setembro de 1864 atraído pela
simplicidade do evangelho e pela Reforma Religiosa do Século XVI. Ao receber
sua sentença de excomunhão escreveu o que se tornou uma das estacas da reforma
evangélica no Brasil; completa separação da igreja Romana:

Por que não trabalhou pela reforma, sem deixar a Igreja Romana?... Quando
um edifício em desmoronamento ameaça completa ruína, é impossível
continuar a residir nele, mas sai-se dele, ao menos até que seja reconstruído
sobre bases firmes, sob pena de ficar com ele sepultado... Do sentir a
necessidade de uma reforma ao tornar-se o reformador mesmo, a diferença
é a que vai do possível ao impossível. Sentir a necessidade da reforma, e
por conseqüência fugir à ruína iminente, eis a parte do homem, que compara
o Evangelho com a prática e os dogmas da Igreja Romana; porém, o efetuar
eu a reforma, ficando no seio da Igreja, não cabia no possível. 65

Em Outubro de 1864, José Manoel da Conceição,


viajou juntamente com o Rev. Blackford indo de São Paulo
ao Rio, a fim de tornar-se membro da igreja Presbiteriana
do Rio de Janeiro, sendo batizado por Blackford em
23/10/1864.
Antes de ser ordenado pastor evangélico em
dezembro de 1865, Conceição dedicou-se à evangelização
de seus amigos paroquianos em Brotas, interior de São

62
Ibid, p. 24.
63
Ibid, p. 33.
64
Ibid, p.34. Cf.: Alderi S. Matos, Os Pioneiros, p. 40.
65
José Manoel da Conceição, Sentença de Excomunhão e Sua Resposta, 03/05/1867. O texto integral foi publicado
no Correio Paulistano de 20/04/1867. Trecho extraído de: Reily, História Documental do Protestantismo no Brasil,
p. 122. Veja a nota nº 231.
33

Paulo. Graças ao seu testemunho e à sua pregação, os missionários pioneiros


organizaram em Brotas a terceira Igreja Presbiteriana brasileira (13/11/1865).
Segundo Richard Sturz, enquanto no Rio e em São Paulo, o trabalho crescia
lentamente, em Brotas o presbiterianismo sacudia vilas, sítios e fazendas com
conversões de famílias inteiras.66
Sua ordenação aconteceu no domingo dia 17/12/1865,67 pelas mãos de
Simonton, Blackford e Schneider. Conceição pregou pela manhã um sermão sobre
Lucas 4.18-19 e foi ordenado à tarde. Sua sentença de excomunhão do catolicismo
foi publicada em 29/12/1866. Ela foi publicada pelo Jornal Correio Paulistano68
em abril do ano seguinte e no mês seguinte publicou a resposta de Conceição:
Sentença de Excomunhão e Sua Resposta, considerada a primeira obra apologética
do protestantismo brasileiro.
A conversão de Conceição mudou por completo o quadro e o avanço da obra
missionária protestante no Brasil. Blackford disse sobre ele:

Ele tem pregado várias vezes de modo bastante aceitável. Seus


sermões são ricos da mais pura verdade do evangelho e revelam a
profundidade do poder do pensamento e um conhecimento dos
processos do coração humano que são muito agradáveis e
encorajadores. Ele agora anda pela cidade sozinho sem hesitações e
visita seus amigos. Escreve, traduz, corrige, transcreve e lê provas para
a imprensa.
Está agora estudando um pouco de inglês e eu estou aprendendo
português com ele, em comunicação diária. Ele é dócil como uma
criança, naturalmente alegre e uma companhia das mais agradáveis. Se
for dado a Deus conservar-lhe a vida e a saúde, não poderíamos ter
encontrado um colaborador mais valioso. Seus talentos, superior caráter
e ampla cultura podem, no curso de poucos anos, servir como a mais
efetiva influência para a evangelização deste país.69

A dedicação dele a Jesus Cristo era muito grande, e o seu


ministério itinerante era muito bem sucedido. Ele ardia de paixão
pelas almas perdidas e pelos excluídos. Conceição tinha um
temperamento muito especial. Não era capaz de ficar parado
atrás de uma mesa, de gastar tempo com a organização
eclesiástica, nem de assumir um pastorado fixo. Não se sentia
atraído pelos grandes centros urbanos nem por pessoas bem
vestidas. Era um incorrigível pregador de vila em vila.
Hospedava-se em qualquer lugar e não se aproveitava de
ninguém. Pregava, e desaparecia sem mais nem menos. Às

66
Richard J. Sturz, “A Implantação do Protestantismo na América Latina”. Em: Earle E. Cairns, O Cristianismo
Através dos Séculos, Vida Nova, p. 369.
67
Essa é a razão porque na IPB o dia do pastor é comemorado nessa data.
68
Elben M. Lenz César, História da Evangelização do Brasil – Dos Jesuítas aos Neopentecostais, Ultimato, Viçosa,
2000, p.110.
69
Alberto C.C. Ribeiro. Cartas às Missões Estrangeiras de Nova Iorque, p. 5. Trabalho não publicado em pdf
eletrônico. Carta datada de 06/05/1865.
34

vezes, deixava um bilhetinho, agradecendo a hospedagem ou dizendo que tinha ido


embora. Nunca tinha um itinerário antecipadamente traçado. Viajava a pé
distâncias enormes, às vezes de uma província para outra. Comia pouco e se
contentava com qualquer comida. Sofria pressões do clero católico. Não poucas
vezes fora expulso de uma vila, ameaçado de morte, chamado de apóstata,
anticristo e até de pastor louco.
Conceição era um homem muito culto ao mesmo tempo dotado de uma
simplicidade cativante. Sabia comunicar-se com os estrangeiros em suas próprias
línguas, traduzia livros do inglês, do francês e do alemão, e tinha noções de
medicina. Chegava a se vestir mal, roupa surrada demais. A herança que recebeu
da família foi toda distribuída com obras de beneficência. Preocupava-se demais
com os outros e muito pouco consigo mesmo. Embora desimpedido do voto do
celibato por ter se desligado de Roma, o Padre José, como era chamado, nunca se
casou, e sua pureza de vida sempre estava fora do alcance de qualquer
maledicência. Não era servil aos missionários americanos, não obstante ser o único
obreiro nacional no meio deles. Por causa de sua experiência na Igreja Católica,
não escondia seus temores de uma igreja excessivamente organizada. Realizava um
ministério diferente dos missionários, e o seu trabalho era o que crescia mais.
Visitou os EUA em 1867, empolgando muitos jovens pastores e seminaristas
a quererem vir para o Brasil. Conceição sonhava com um movimento profundo de
reforma nos sentimentos e experiência religiosa do povo, aliado ao esclarecimento
bíblico, que tornasse possível a criação de um cristianismo brasileiro puro e
evangélico, mas enraizado nas tradições e hábitos populares.
Gastou vinte anos como sacerdote
católico (22 aos 42 anos) e oito anos como
pastor protestante (43 aos 51 anos). Morreu no
dia 25 de dezembro de 1873, dormindo, na
Enfermaria Militar do Campinho, no Rio de
Janeiro, depois de ser atendido por um médico
e um farmacêutico e de pedir para ficar a sós
com Deus. A princípio fora enterrado como
indigente, mas em 1876 seus ossos foram
transferidos para São Paulo. Está sepultado ao
lado de Simonton, no Cemitério dos Protestantes, anexo ao Cemitério da
Consolação, nas proximidades do Instituto Mackenzie, em São Paulo. Na lápide de
Conceição está gravado: "Não me envergonho do Evangelho de Cristo".

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35

8. AS IGREJAS PIONEIRAS.

a) Brotas-SP.
Blackford fez sua primeira visita a Brotas em fevereiro de 1865 a convite de
José Manuel da Conceição. A cidade fica a mais de 200 Km da capital paulista.
Como fruto do trabalho conjunto de ambos, organizou-se ali a 3ª igreja
presbiteriana no Brasil a 13/11/1865, não na cidade, mas no sítio de Antônio
Francisco Gouveia. Em Brotas, grande número de escravos e negros libertos
aceitaram a fé presbiteriana.70
Não obstante estar a sede no Rio de Janeiro, a maior congregação
presbiteriana, por vários anos, foi a de Brotas, província de São Paulo, devido à
influência e trabalho do ex-padre, Rev. José Manoel da Conceição. O avanço da
obra presbiteriana, na cidade de Brotas e arredores, prenunciava a importância da
zona rural para o protestantismo brasileiro.
Trecho do Relatório do Missionário F. J. C. Schneider

O desejo desse povo de ouvir e aprender o evangelho faz gosto ver. Poucos
deles sabem ler; e contudo muitos fazem progresso mui rápido na vida
espiritual, e com muito zelo propagam, quanto lhes é possível, o
conhecimento do evangelho entre seus parentes e conhecidos. As vezes
ficava de todo admirado de ver gente que nenhuma letra sabia ler, falar com
tanto acerto e animação sobre a graça de Deus e a salvação que Jesus nos
adquiriu. Foi para mim uma prova evidente de ser o evangelho de Jesus
Cristo uma virtude de Deus para tornar sábios os simples, capaz de encher
duma sabedoria divina os mais ignorantes que o recebem em seu coração.71

Trecho do Relatório do Missionário George Chamberlain


A Igreja de Brotas, não por ser importante em si, mas em razão da sua
posição, é calculada para prestar grande auxilio na evangelização do interior.
Hoje é digna das ricas promessas. O interesse no evangelho manifesta-se
mais nos sítios circunvizinhos do que na própria vila. A vantagem nisso é:
1. A obra não dá tanto na vista dos adversários, e por isso é livre de
embaraços que aliás seriam postos nos caminhos.
2. A simplicidade da vida dos ocupados na lavoura oferece a propagação
mais rápida da verdade. Vivem mais isolados, sabem menos das afamadas
"conveniências sociais", e não na luz destas, mas na sua própria luz,
pregarão o evangelho. Têm-no ouvido e aceito muitas vezes antes de
saberem o que dizem fulano e sicrano, e estão firmes em opiniões formadas
sobre a Palavra de Deus, independente das prevenções dos homens. São
mais mestres de si mesmos.72

Brotas tornou-se o centro de irradiação da IPB para todo o oeste paulista e


sul de Minas. Essa expansão, contudo, não foi fácil e nem simples. As

70
Júlio A. Ferreira, História da IPB, vol. 1, p.57.
71
F. J. C. Schneider, 12/07/1867, arquivo da IPB. Citado em: Reily, História Documental do Protestantismo no
Brasil, p. 118/119.
72
G. Chamberlain, 10/07/1866; arquivo da IPB. Citado em: Reily, História Documental do Protestantismo no
Brasil, p. 119.
36

perseguições católicas tomam forma exatamente a partir de Brotas. Arruaças,


intrigas e fomentação de inimizades eram o expediente mais comum, já em 1866.
Em outubro desse ano foi aprovada a interdição dos cultos protestantes na câmara
dos vereadores, mas o juiz da cidade não atendeu.
Quando o Rev. Lenington se tornou o primeiro pastor residente em Brotas,
em setembro de 1868, e já pôde perceber que “o caminho está aberto para a
pregação do Evangelho”.73

b) Lorena-SP.
Em junho de 1866, José Manoel da Conceição chegou a Lorena-SP,
acompanhado de Carvalhosa. Foi impedido oficialmente de pregar. Blackford
dirigiu um protesto oficial ao Vice-Presidente da Província, anexando o ofício
policial de impedimento. Pedia providências. No retorno de sua viagem
missionária, Conceição pode então pregar ali. Com a ida de Conceição aos EUA,
coube a Blackford, estando no Rio de Janeiro continuar o trabalho, recebendo os
primeiros convertidos e organizando a igreja em 17/05/1868.
Em Lorena houve dura oposição do vigário católico, que chegou a conduzir
entre 30 ou 40 pessoas num motim tentando espancar os missionários
Chamberlain, Conceição e o hospedeiro Sr. Carneiro. Nesse incidente, muitos
membros da igreja ficaram feridos e pelo menos um foi espancado até quase a
morte.74

c) Borda da Mata-MG.

Situada no município de Pouso Alegre-MG, recebeu oficialmente este nome,


mas era uma igreja da zona rural, fundada no sítio de Antônio Joaquim de Gouvêia
(primeiro presbítero da igreja). A Igreja foi organizada pelo Rev. Robert Lenington
em 23/05/1869, acompanhado pelo Rev. Emanuel N. Pires, com 14 adultos e 20
crianças. Foi a primeira igreja organizada em território mineiro. Lenington
escreveu em seu relatório: “Os exercícios foram muito concorridos e pouca
oposição aberta. É muito necessário ocupar este lugar desde já com um
ministro do Evangelho”.75
O Rev. Lenington viajava muito, chegando a ficar dois meses fora de casa
(Brotas). Enquanto Conceição fazia suas viagens a pé, Lenington fazia as suas num
dorso de cavalo. Robert Lenington (1833-1903), formou-se em teologia em
Princeton em 1862 e ordenado ao ministério no mesmo ano. Depois de pastorear
duas igrejas nos Estados Unidos veio para o Brasil, aqui chegando a 24/01/1868.
Foi o primeiro missionário a chegar ao Brasil depois da morte de Simonton.
Também foi o primeiro pastor residente da igreja de Brotas-SP e organizou a
primeira igreja em solo mineiro (Borda da Mata). Trabalhou incansavelmente no
interior de São Paulo, Minas e o Paraná. Seu principal instrumento de trabalho era
73
Júlio A. Ferreira, História da IPB, vol. 1, p.95.
74
Ibid., p.97.
75
Ibid., p. 98.
37

um cavalo no lombo do qual realizou um


profícuo ministério itinerante. Por seu
ministério no Brasil Vicente Temudo Lessa
lhe deu a alcunha de um dos “três valentes
de Davi”, ao lado de Chamberlain e o
português de barba exótica Rev. João
Fernandes Dagama.76

d) Sorocaba-SP.
Foi organizada em 1º/09/1869, pelo
Rev. Blackford com 5 membros. Conceição e Blackford pregaram por ali em 1866
a bons auditórios. Conceição havia sido vigário ali e isso facilitou em muito a
aceitação do Evangelho na cidade, então com cerca de 5 mil habitantes.
Com a organização da igreja de Sorocaba, encerra-se o primeiro período da
história da IPB. Havia muito trabalho e pouco obreiros. Na reunião do Presbitério
foi enviada carta à junta americana pedindo reforços, pelo menos mais 6 homens
“decididamente ativos”!77

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9. IMPRENSA EVANGÉLICA, SEMINÁRIO PRIMITIVO E SEUS


ALUNOS.

a) Imprensa Evangélica.
O primeiro número do Jornal Imprensa
Evangélica foi fundado em 24/10/1864, por Simonton,
Blackford e Conceição. No dia seguinte ao batismo de
José Manoel da Conceição. A primeira publicação data
de 5/11/1864, com uma tiragem de 450 exemplares.78
Simonton escreveu em seu diário:

Sinto mais a responsabilidade deste passo que


de qualquer outra coisa que antes intentei.
Primeiro nos ajoelhamos em oração e entregamos essa iniciativa e nós
mesmos à direção divina. O caminho parece estar preparado e só nos resta
avançar com ousadia.79

O objetivo original era que sua publicação fosse semanal, mas, logo se
percebeu que não haveria condições para isso. O jornal passou a ter tiragem
quinzenal logo depois de seu segundo número. No editorial vinha escrito:

76
Alderi S. Matos, Os Pioneiros, p.63.
77
Citado por Júlio A. Ferreira, História da IPB, vol. 1, p.102.
78
Alderi S. Matos, “A Atividade Literária dos Presbiterianos no Brasil”. Em: Fides Reformata, vol. XII, nº 2, 2007,
p.45.
79
Ashbel G. Simonton, O Diário de Simonton: 1852-1866, 2ª ed., São Paulo, ECC, data de 24/10/1864, p.168.
38

“Publica-se aos primeiros e terceiros sábados de cada mês”.80 A sua circulação foi
noticiada por alguns jornais do Rio de Janeiro. Uma nota em “O Diário” aprecia o
Imprensa Evangélica dizendo que é um jornal “escrito com dignidade”.81
Era impresso na Tipografia Perseverança, que ficava na Rua do Hospício nº
99. O preço do exemplar era 520 réis e as assinaturas podiam ser anuais, semestrais
ou trimestrais. Nos primeiros anos, o formato era de oito páginas tamanho 20 por
30 centímetros, podendo ser facilmente encadernado.
Os artigos cumpriam uma agenda de temas variados, incluindo exposições e
preleções bíblicas, documentos e história das igrejas reformadas; traduções de
artigos estrangeiros, notícias do crescimento do protestantismo em outros países,
biografias, ficção evangélica e algumas séries. A interminável polêmica com o
catolicismo vai aparecer depois, quando o Jornal Católico “O Apóstolo” passar a
denunciar a ação protestante no país. Também será somente mais tarde que o
Jornal terá como logotipo uma âncora dentro de um coração.82
Seu alvo principal era formar uma base doutrinária para a instrução no culto
doméstico. Essa é a razão porque o Imprensa Evangélica foi muito útil na difusão
da fé presbiteriana e no crescimento das igrejas mais distantes. As famílias e as
igrejas se reuniam em torno da leitura desse jornal suprindo a constante falta de
pastores para as recém implantadas igrejas locais, edificando, instruindo e
estimulando a fé de muitos. Sabe-se que pelo menos a igreja de Ubatuba nasceu
como resultado direto de sua leitura antes da chegada dos primeiros pregadores.83
Em 1867, Simonton escreve no seu relatório anual:

A importância de uma folha evangélica não pode ser contestada. Por este
meio instruímos muitos que não estão ao alcance de outros meios
atualmente empregados na pregação do Evangelho. Mesmo nesta Corte
sucede isto. Um número de pessoas, talvez maior que se pensa, só tem
notícia do Evangelho por meio da leitura da Imprensa Evangélica. Folgo em
participar que, com raras exceções, os assinantes do ano passado
continuaram. Tem aparecido número considerável de novas assinaturas,
quase todas dessa Corte.84

No período da inauguração até à morte de Simonton, a circulação e a


influência do Jornal foram crescentes. O jornal teve boa aceitação pública,
inclusive de sacerdotes católicos, que não só liam como também assinavam. No
mesmo relatório citado acima, Simonton informa que “muitos que não vêm aos
cultos, lêem o jornal, com interesse”.85
O Jornal circulou por 28 anos (1864 a 1892) e foi o primeiro periódico
protestante do Brasil em língua portuguesa.

80
Júlio A. Ferreira, História da IPB, vol.1, p.50.
81
ibid, p.51.
82
Ibid, p. 52.
83
Alderi S. Matos, “A Atividade Literária dos Presbiterianos no Brasil”. Em: Fides Reformata, vol. XII, nº 2, 2007,
p.46.
84
Relatórios de Simonton, 1867. Citado por Júlio A. Ferreira, História da IPB, vol.1, p.51.
85
Júlio A. Ferreira, História da IPB, vol. 1, p.52.
39

b) O Seminário Primitivo e Seus Alunos.


Em 14 de maio de 1867 iniciaram-se as aulas do seminário. Ele funcionava
no segundo pavimento do prédio onde funcionava a própria igreja do Rio, um
prédio recém alugado no Campo de Santana (hoje, Pça. da República). No térreo
funcionava uma cervejaria; no primeiro pavimento ficava o salão onde se faziam
os cultos; no segundo pavimento funcionava o Seminário e moravam os alunos. No
pavimento superior, ficava a residência de Antônio Santos Neves.
Simonton lecionava teologia e Bíblia; Schneider, preparatórios (matérias
seculares) e Wagner, um pastor luterano, grego e história eclesiástica. Os primeiros
alunos foram Modesto Carvalhosa, Antônio Trajano e Miguel Torres. Antônio
Cerqueira Leite viria depois, no início de 1868. Eles moravam no terceiro
pavimento do prédio da igreja e serviam na escola paroquial da igreja, dirigida pela
esposa de Antônio Santos Neves, D. Gervásia Modesto dava inglês; Antônio Pedro
ensinava música; Trajano, geografia e aritmética; e Miguel Torres, gramática.
Além de lecionar na escola, eles também colaboravam nas férias na evangelização
e visitação às novas igrejas. Não é de se admirar que os quatro fossem excelentes
pastores.
Com a morte de Simonton, Blackford transferiu-se imediatamente para o Rio
de Janeiro e assumiu a direção do Seminário. O curso era divido assim:
1º ano: Preparatórios (álgebra, latim etc)..
2º ano: Grego e declamação.
3º ano: Teologia, História Eclesiástica e discussão de temas às sextas-feiras (“Faz
a Tradição Parte de Nossa Fé?”; “A Igreja Romana é o Anticristo de que Fala
Paulo em 1 Tessalonicenses?” etc).
4º ano: Homilética. Tanto professores quanto alunos e os presbíteros da igreja,
participavam da crítica aos sermões, que era chamada de “ensaio”.86
Dessa primeira turma, Trajano e Modesto concluíram o curso e foram
licenciados em 22 de agosto de 1870. Carvalhosa foi o primeiro deles a ser
ordenado, na sexta reunião do Presbitério, no Rio de janeiro em 20/07/1871.87
Miguel Torres contraiu tuberculose e teve de ir para Caldas-MG, terminando o
curso posteriormente. Ele é conhecido como o Apóstolo de Caldas.88 Trajano e
Torres foram ordenados juntos em 10/08/1875 na Cidade de Rio Claro. 89 Antônio
Cerqueira desistiu do curso num dia em que esqueceu o que devia dizer nas
discussões de sextas-feiras, mas retornou anos depois e concluiu o curso. Foi
ordenado em 08/08/1876, no Rio de Janeiro.90
Júlio A. Ferreira conclui seu capítulo sobre o seminário primitivo da
seguinte maneira:

86
Ibid, p.86.
87
Alderi S. Matos, Os Pioneiros, p.311.
88
Ibid, p.323.
89
Alderi S. Matos, Os Pioneiros, p.317.
90
ibid, p.326.
40

A morte de Simonton, as férias de Blackford, a necessidade de Chamberlain


ir para São Paulo, a retirada de Wagner para a Suíça, onde logo depois
faleceu, a transferência de Schneider para a Bahia, tudo conspirava para
que o Seminário não pudesse continuar. O problema da educação teológica
ficaria muito tempo aguardando solução.91

 Modesto Perestrello Barros de Carvalhosa (1846-1917).


Nasceu em Porto Muniz, na ilha da Madeira em
15/04/1846. Sua família mudou-se para o Rio de Janeiro em
1854. Mudou-se para Santos e depois São Paulo (1863). Foi
batizado por Blackford na igreja de São Paulo em 25/03/1866
juntamente com mais 7 pessoas. Tendo acompanhado ao Rev.
José Manoel da Conceição em algumas de suas viagens, teve
sua vida e ministério fortemente marcados por ele, “a quem
provavelmente entendeu melhor do que qualquer outro pastor
ou missionário”.92
Foi ordenado em 20/07/1871, sendo o primeiro dos alunos do Seminário
Primitivo a ser ordenado. Trabalhou em Lorena-SP (1871-1874) onde casou-se, e
também Borda da Mata-MG (1872/74); Rio de Janeiro (1875); Campos-RJ (1875-
1885); Como auxiliar de Chamberlain na igreja de São Paulo (1886); Curitiba-PR
(1888-1893); .
Fez várias viagens evangelísticas pelo interior de São Paulo e Minas.
Organizou as igrejas de Machado (27/09/1874) e Embaú (Cruzeiro – 14/12/1874);
Guarapuava-PR (17/02/1889); Itaqui-PR (29/12/1889), Juquiá-SP (14/10/1900),
Atibaia-SP (11/01/1903).
Participou da organização do Sínodo Brasileiro em 1888, sendo eleito seu
secretário permanente (hoje seria o cargo de secretário executivo). Também fez
parte da diretoria do Seminário criado pelo Sínodo. Foi diretor interino da Escola
Americana (1886) e depois seu vice-diretor (1893). Duas vezes moderador do
Presbitério do Rio (1875 e 1883); Foi o último moderador do Sínodo (1906) e o
instalador da Assembléia Geral de 1910, uma justa homenagem ao obreiro mais
antigo na ativa da IPB (40 anos). Foi o pastor brasileiro mais devotado aos
missionários americanos.
Quando do complicado episódio da organização da 2ª Igreja de São Paulo,
ocasião em que membros ligados à Escola Americana e descontentes com o
pastorado de Eduardo Carlos Pereira, Carvalhosa assumiu o seu pastorado (1894).
Um desentendimento seu com o Presbitério de São Paulo levou essa igreja a
desligar-se da IPB em 1898, tornando-se uma igreja independente. Em 1900
Carvalhosa e sua igreja reconciliaram-se com o Presbitério.
Quando a questão maçônica recrudesceu em 1899, fundou-se a igreja
Filadelfa tendo como núcleo maçons saídos da Primeira Igreja. A Igreja Filadelfa e

91
Júlio A. Ferreira, História da IPB, vol.1, p. 88.
92
Alderi S. Matos, Os Pioneiros, p.311.
41

a 2ª igreja fundiram-se em 26/08/1900 para organizar a histórica Igreja


Presbiteriana Unida de São Paulo, sendo Carvalhosa seu primeiro pastor.
Faleceu aos 71 anos de idade em 18/08/1917, sentado confortavelmente em
sua cadeira de balanço.93 Além do pastorado contribui com inúmeros trabalhos de
tradução e liturgia. Ele compilou e preparou o primeiro manual de culto da Igreja
Presbiteriana do Brasil. Um dos principais arquivos históricos da igreja
presbiteriana brasileira pertenceu a ele, sendo hoje conhecido como “Coleção
Carvalhosa”.

 Antônio Bandeira Trajano (1843-1921).


Nasceu em 30/08/1843 em Vila Pouca de Aguiar,
Portugal. Veio para o Brasil em 1857 indo trabalhar no
comércio paulistano, quando conheceu Miguel Torres, ambos
fizeram parte do grupo fundador da 1ª Igreja de São Paulo em
1865.
Foi licenciado ao Ministério ao lado de Carvalhosa em
1870, mas foi ordenado somente em 10/08/1876 junto com
Miguel Torres, assumindo o pastorado simultâneo das igrejas
de Brotas, Rio Novo e Dois Córregos no estado de São Paulo. Em 10/08/1876 foi
eleito o primeiro pastor nacional da Igreja do Rio de Janeiro. Devido à morte de
uma filhinha sua retirou-se para São Paulo em 1878, mas reassumiu o pastorado da
igreja do Rio em 1880, ali permanecendo até 1893 (13 anos). Sua saúde
enfraquecida não o permitiu continuar no pastorado efetivo dessa igreja, mesmo foi
seu cooperador até sua morte. Organizou a igreja de Ubatuba-SP (28/11/1880) e
junto com John M. Kyle, a 2ª Igreja do Rio (23/08/1885).
Trajano era um pregador fluente e agradável. Tinha uma índole dócil e
pacífica. Suas publicações didáticas lhe forneceram recursos suficientes para uma
velhice tranqüila. Foi nomeado o primeiro historiador da Igreja Presbiteriana do
Brasil (Esboço Histórico da Igreja Evangélica Presbiteriana - 1902). Foi jubilado
em julho de 1902, um ano antes do cisma. Faleceu em 23/12/1921, sendo o último
a falecer da primeira geração de pastores que conheceram e trabalharam com
Simonton.

 Miguel Torres (1849-1892).


Nasceu em Caminha, extremo norte de Portugal em
1849, vindo para o Brasil, converteu-se juntamente com
Antônio Trajano em 1864 tendo em torno de 15 ou 16 anos de
idade. Lia sua Bíblia escondido de seu irmão mais velho a fim
de que ele não a destruísse. Ele a enterrava na areia no fundo
do quintal para que o irmão não a achasse.94
Ao lado de Trajano foi um dos seis membros
fundadores da I. P. de São Paulo em 05/03/1865. Foi colportor
93
Alderi S. Matos, Os Pioneiros, p.313.
94
Alderi S. Matos, Os Pioneiros, p.319.
42

e acompanhou o Rev. José Manoel da Conceição em suas viagens. Após sua


licenciatura em 1870 assumiu o pastorado da igreja de Caldas-MG (1872),
seguindo orientação médica devido ter contraído tuberculose, organizando a igreja
em 20/04/1873. Foi ordenado somente em 10/08/1875, juntamente com Trajano.
Pastoreou por quase 17 anos as igrejas de Caldas, Borda da Mata e Machado
simultaneamente. Além dessas, no seu campo organizou as igrejas de Cabo Verde
(23/05/1881) e Areado (26/10/1881).
Publicou uma das mais importantes obras da polêmica protestante contra o
catolicismo: O Catolicismo à Barra do Evangelho (1879). Devido sua saúde
precária não pôde participar da organização do Sínodo em 1888, mas foi eleito seu
moderador em 1891. Mesmo doente, viajava constantemente por seu campo de
trabalho abrindo novos trabalhos e assistindo aos que já estavam em
funcionamento, muitas vezes recebendo perseguições católicas. Antônio Joaquim
Gouveia testemunhou a seu respeito:

O Rev. Miguel Torres vem trazer-nos a Palavra de Deus, mas causa pena
vê-lo tão doente e fraco, a ponto de, chegando aqui, ficar dois e três dias de
cama, antes de começar o serviço. Levanta-se, porém, alegre: prega, canta,
encanta a igreja com seu admirável exemplo.95

Foi um pastor querido e pregador eloqüente, habilidoso na arte das


ilustrações. Evangelista eficaz, reconhecido como homem de oração e fé. Tinha
voz influente na política eclesiástica representando e conciliando os pastores
nacionais nas questões referentes à autonomia e os missionários estrangeiros.
Faleceu em 12/05/1892, aos 43 anos de idade, ano da morte de importantes líderes
da igreja brasileira (Edward Lane, John Boyle). É conhecido na história da Igreja
Presbiteriana do Brasil pela alcunha de “O Apóstolo de Caldas”.96

 Antônio Pedro de Cerqueira Leite (1845-1883).


Nascido a 29/07/1845 em São João de Morro Azul,
comarca de Limeira-SP. Era filho de um goiano e primo de
Eduardo Carlos Pereira. Um dos seus professores de latim,
enquanto católico, foi o Padre José Manoel da Conceição, em
Brotas-SP. Aprendeu música em Limeira-SP e dirigia uma
banda em Brotas quando Conceição e os missionários
americanos trouxeram o evangelho à cidade.
Convocado para a Guerra do Paraguai em 1865
descobriu que esse fato resultara de uma perseguição,
motivada em parte por sua conversão ao protestantismo.97 Embora tivesse
publicado sua fé na presença de Simonton na Igreja de São Paulo em 30/12/1866,
95
Ibid, p.321.
96
Ibid, p.323.
97
Alderi S. Matos, Os Pioneiros, p.325.
43

não chegou a ser seu aluno, pois ingressou no seminário somente em 1868. Um
incidente pitoresco e constrangedor o fez desistir do seminário em 1870,
retornando a Brotas. Só retornou ao seminário em 1872, por meio de uma
intervenção do Rev. George Chamberlain. Foi licenciado em 1873 e ordenado ao
ministério em 08/08/1876. Seu mais importante campo de trabalho foi o de
Sorocaba-SP. Em função de sua habilidade musical criou em 1876 o primeiro coral
da Igreja Presbiteriana do Brasil.
Foi um incansável evangelista empreendendo inúmeras viagens a cavalo
pelo sertão paulista, onde organizou especialmente a igreja de Itapeva-SP
(04/05/1879) e Guareí-SP (12/06/1882). Faleceu durante a reunião do Presbitério
do Rio de Janeiro em 31/08/1883 aos 38 anos de idade. Ele havia pregado um
sermão horas antes em Lucas 7.39-48.

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10. PERÍODO DE CONSOLIDAÇÃO – 1869 A 1888 / INICIA A


PARTICIPAÇÃO DA PCUS.

Os Períodos da História da IPB:

Rev. Júlio Andrade Ferreira Rev. Alderi Souza de Matos


1 1859 a 1869 Implantação 1 1859 a 1888 Os Primórdios
2 1869 a 1888 Consolidação 2 1888 a 1910 O Sínodo Presbiteriano
3 1888 a 1903 Dissensão 3 1910 a 1937 A Assembléia Geral
4 1903 a 1917 Reconstituição 4 1937 a 1959 O Supremo Concílio
5 1917 a 1932 Cooperação 5 1959 a 1986 Após o Centenário
6 1932 a 1959 Estruturação 6 1986 a 2008 As Décadas Recentes
7 1959 a ... Contemporâneo 7
1966 a 1986
(Boanergismo)

Fatos importantes do Período de Consolidação (1869 a 1888):


1. Fundação da igreja de Campinas-SP e fundação do Colégio Internacional.
2. A Implantação da IPB no Nordeste.
3. O Ministério dos “3 Valentes de Davi” (Dagama, Chamberlain, Lenington).
4. O Ministério de John Boyle no interior de Minas.
5. Fundação e desenvolvimento da Escola Americana de São Paulo
(Mackenzie)/ Ministério de Chamberlain em São Paulo.
6. O Plano de União.
7. Início do movimento de nacionalização da Igreja/Eduardo Carlos Pereira
em Mogiana-MG.

Simonton e seus companheiros eram todos da Igreja Presbiteriana do norte


dos Estados Unidos (PCUSA). Em 1869 chegaram os primeiros missionários da
44

igreja do Sul (PCUS): George Nash Morton e Edward Lane. Eles se fixaram em
Campinas-SP, região onde residiam muitas famílias norte-americanas que vieram
para o Brasil após a Guerra Civil em seu país (1861-1865). Aportaram no Rio de
Janeiro em 17/08/1869, chegando a Campinas-SP no início de setembro.
Em 1870, Morton e Lane fundaram a igreja de Campinas e, em 1873, o
famoso, porém efêmero, Colégio Internacional. Foi organizado o presbitério de
São Paulo em 1872, que funcionou até 1877, quando o Comitê de Nashville o
dissolveu. Ele só reorganizado em 1887, por ocasião da organização do Sínodo. Os
missionários da PCUS evangelizaram a região da Mogiana, o oeste de Minas, o
Triângulo Mineiro e o sul de Goiás. O pioneiro em várias dessas regiões foi o
incansável Rev. John Boyle, falecido em 1892.
Os obreiros da PCUS foram também os pioneiros presbiterianos no nordeste
e norte do Brasil (de Alagoas até a Amazônia). Os principais foram John
Rockwell Smith, fundador da igreja do Recife (1878); DeLacey Wardlaw,
pioneiro em Fortaleza; e o Dr. George W. Butler, o “médico amado” de
Pernambuco (Garanhuns). O mais conhecido dentre os primeiros pastores
brasileiros do nordeste foi o Rev. Belmiro de Araújo César, patriarca de uma
grande família presbiteriana.
Enquanto isso, os missionários da Igreja do norte dos Estados Unidos,
auxiliados por novos colegas, davam continuidade ao seu trabalho. Seus principais
campos eram Bahia e Sergipe, onde atuou, além de Schneider e Blackford, o Rev.
John Benjamin Kolb; Rio de Janeiro, que inaugurou seu templo em 1874, e Nova
Friburgo, onde trabalhou o Rev. John M. Kyle; Paraná, cujos
pioneiros foram Robert Lenington e George A. Landes; e
especialmente São Paulo.
Na capital paulista, o casal Chamberlain fundou em 1870
a Escola Americana, que mais tarde veio a ser o Mackenzie
College, dirigido pelo educador Horace Manley Lane.
No interior da província, destacou-se o Rev. João
Fernandes Dagama (1830-1906), português da Ilha da
Madeira, foi um dos convertidos pelo ministério do Rev.
Kalley naquela ilha. A perseguição o fez fugir para os Estados Unidos, onde
estudou teologia numa escola dirigida por certo Rev. Miller.98 Foi ordenado ao
ministério pelo presbitério de Springfield em 1869 e enviado ao Brasil pela
PCUSA em 1870. O itinerário de seu ministério no interior de São Paulo foi
marcado inicialmente pela assistência a famílias evangélicas saídas de Brotas rumo
ao sertão paulistano.99 Dagama foi o desbravador do oeste paulista por onde viajou
constantemente abrindo novos campos. A ele se deve a organização das igrejas de
Rio Novo e Rio Claro (1873); Dois Córregos e São Carlos (1875); Araraquara
(1879); Pirassununga (1885); Boa Vista do Jacaré (1891). O centro de seu
ministério foi Rio Claro, onde, além da igreja, fundou uma escola primária em
1873. A sistemática criação de escolas ao lado das congregações foi uma
98
Alderi S. Matos, Os Pioneiros, p.72.
99
Alderi S. Matos, Os Pioneiros, p.73.
45

peculiaridade de seu ministério no Brasil.100 Ele foi o grande responsável pela


vinda das missionárias Mary Parker Dascomb e Elmira Kuhl para o Brasil. Sua
esposa, D. Eulália Dagama fundou a segunda sociedade de senhoras do Brasil em
1885. O Rev. Dagama foi o primeiro pastor brasileiro a ser jubilado em 1901, pelo
recém-criado, Presbitério Oeste de São Paulo.101
No Rio Grande do Sul, trabalhou por algum tempo o Rev. Emanuel
Vanorden, um judeu holandês.
Entre os novos pastores “nacionais” desse período estavam Eduardo Carlos
Pereira, José Zacarias de Miranda, Manuel Antônio de Menezes, Delfino dos
Anjos Teixeira, João Ribeiro de Carvalho Braga (pai do Rev. Erasmo Braga) e
Caetano Nogueira Júnior. As duas igrejas norte-americanas também enviaram ao
Brasil algumas notáveis missionárias educadoras como Mary Parker Dascomb,
Elmira Kuhl, Nannie Henderson e Charlotte Kemper.

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11. A COMPOSIÇÃO SOCIAL DAS IGREJAS / PUBLICAÇÕES E


HINÁRIOS.

A organização do Sínodo em 6 de setembro de 1888 vai coincidir com o ano


da abolição da escravatura no Brasil, que se deu a 13 de maio.
Nesse período, tão importante quanto o crescimento das Igrejas foi o seu
“abrasileiramento”. Na implantação do presbiterianismo, a campanha evangelística
inicialmente contava com estrangeiros, especialmente anglo-saxãos, americanos do
norte e portugueses, depois o número de convertidos brasileiros foi crescendo até
ultrapassar o número de estrangeiros. Assim podemos observar os seguintes grupos
sociais nas igrejas:

1. Estrangeiros:
Especialmente anglo-saxões, americanos do norte e portugueses. Os
americanos eram comerciantes e industriários e fugitivos das conseqüências da
Guerra de Secessão. A maioria deles, porém, eram trabalhadores agrícolas e
pequenos proprietários de terras.

2. Brasileiros:
a) A conversão de famílias inteiras. Ex.: A família Gouveia de Brotas. Com a
conversão do patriarca, abria-se a porta para a conversão de toda a família.
Mesmo que o cabeça da família não se convertia, mas se tornava simpático ao
protestantismo, era comum isso acontecer.
b) Grandes proprietários de fazendas: a maior parte das igrejas rurais se fundaram
nas fazendas ou em pequenas propriedades rurais chamadas de sítios. Ex. A
100
Ibid, p.74.
101
Ibid, p.76.
46

fazendo de Inácio Pereira Garcia em Dois Córregos, perto de Piracicaba.


Quando os cultos aconteciam toda a vizinhança e funcionários eram convidados
a participar. Em todas elas, a figura do patriarca era importante. Algo que era
marcante nesses cultos e que atraia muitas pessoas eram o cântico dos hinos.
c) Escravos: Chamberlain catequizava escravos na fazendo do Sr. Inácio Pereira
Garcia.102 Eles forneciam à igreja um bom número de membros. Dos onze
batizados da I. P. de São Paulo em 1879, cinco eram escravos. Na maioria dos
casos eram criados domésticos que adotaram a religião da patroa, mas havia
casos de escolha livre, sempre fruto de muitas oposições por seus proprietários.

3. Profissionais:
a) Militares: O general Abreu e Lima, que se batizou somente no fim da vida, mas
que era defensor do protestantismo (Rio de Janeiro).
b) Médicos: O médico Fausto de Souza, e outros.
c) Comerciantes e artesãos: José Zacarias de Miranda (Oficial de Alfaiate) e
(entalhista de tartaruga), depois se tornou pastor. João Batista de Lima. Joaquim
Pereira da Silva, diácono da igreja de São Paulo era vendedor ambulante.
d) Intelectuais: Poetas e romancistas como A. J. dos Santos Neves, que serviu à
igreja compondo alguns de seus hinos e que participou da fundação do Jornal
“Imprensa Evangélica”; também Júlio César Ribeiro Vaughan, da Igreja de
São Paulo, foi pregador e tradutor. Vital Brasil foi membro da igreja de São
Paulo por um tempo.103 No campo da educação, destacamos Remígio de
Cerqueira Leite, presbítero da igreja de São Paulo e amigo intimo de Eduardo
Carlos Pereira.

Publicações e Hinários:104
1. Salmos e Hinos. O primeiro hinário evangélico publicado no Brasil foi o
Salmos e Hinos, elaborado pelo casal Robert e Sara Kalley em 1861, com 18
salmos e 32 hinos. Ele foi revisado e ampliado diversas vezes. Este foi o primeiro
hinário brasileiro e até hoje é o de maior divulgação. Também foi a Sra. Sara
Kalley quem organizou a primeira publicação da coleção de hinos para coral
Música Sacra em 1868. Além disso funcionava uma classe de música às quartas-
feiras, antes do culto da noite na Igreja Fluminense, com uma freqüência de até 33
alunos na classe de 1871.
2. Cânticos Sagrados. Nos cultos do trabalho presbiterianos o Salmos e
Hinos foi adotado imediatamente à sua publicação. Em 1867, Blackford pediu
permissão ao Dr. Kalley para que incluisse alguns hinos do Salmos e Hinos na
coletânea de hinos que estava preparando para os presbiterianos. Kalley não
consentiu a publicação parcial, mas somente integral. O resultado foi que 1867
publicou-se a primeira edição do hinário Cânticos Sagrados com os Salmos e
Hinos anexado no final. Este hinário se dividia em duas partes: A primeira com 80
102
Júlio A. Ferreira, História da IPB, vol. 1, p.273.
103
Émile G-Leonatd, O Protestantismo Brasileiro, p.103.
104
Júlio A. Ferreira, História da IPB, vol. 1, p. 275-281.
47

hinos e 14 músicas intercaladas, e a segunda com 25 hinos e 7 músicas, acrescidos


dos Salmos e Hinos de Kalley. A edição de 1896 já possuía 185 hinos mais os
Salmos e Hinos com 251 hinos, e seu nome foi alterado para Cânticos Sagrados e
Hinos.
(3) Nova Coleção de Hinos Sagrados. Publicado pelo Rev. James T.
Houston em 1881, com 29 hinos.
(4) Hinário ou Coleção de Músicas Sacras. Publicado em 1885 em Portugal
e trazido para o Brasil no ano seguinte pelo pastor português Manoel Antônio de
Menezes. Continha 114 cânticos acompanhados das respectivas músicas.
(5) Hinos Evangélicos e Cânticos Sagrados, com 604 hinos e várias
doxologias. Publicado em 1888, por John Boyle.

Compositores Presbiterianos do Fim do Século XIX.


O Rev. Antônio Pedro de Cerqueira Leite, ex-aluno do Seminário
Primitivo, foi mestre de música e compositor. Ele parafraseou e adaptou hinos do
Padre Caldas para a hinologia evangélica. José Manoel da Conceição é o autor do
hino nº 448 (Escreve Tu com a Própria Mão) dos Salmos e Hinos. O poeta
Antônio José dos Santos Neves (1827/86). 3 cânticos nos Salmos e Hinos. Rev.
John Boyle (1845/92). 19 hinos seus estão publicados nos Salmos e Hinos. Ele
publicou em 1888, após 13 anos de preparação, o hinário Hinos Evangélicos e
Cânticos Sagrados, com 604 hinos (37 de sua autoria) e várias doxologias.
Júlio César Ribeiro, escritor e romancista, que foi membro
da IPB em São Paulo por um tempo, além de auxiliar Boyle na
revisão de seu hinário escreveu os famosos hinos “Quero Estar ao
Pé da Cruz” e “Quanta Dor, Quanta Amargura”, publicados nos
Salmos e Hinos e presentes no Hinário Novo Cântico atual (Nºs.
107 e 188). Além destes podemos citar o Rev. James T. Houston
e o pastor Manoel A. Menezes.

A Importância dos Hinos.


A música desempenhou um importante papel na vida da igreja presbiteriana
nascente no Brasil.
1. Era mais fácil de aprender, ainda que a hinologia estrangeira no Brasil fosse
complicada de assimilar.
2. Os sermões dos missionários, devido às dificuldades que muitos tinham em
aprender a língua, eram enfadonhos para os brasileiros.
3. Havia muitos analfabetos nas igrejas. Os hinos, sendo fácil de decorar,
tornavam-se veículo de instrução na doutrina. Em 1870, 80% da população da
cidade de São Paulo era de analfabetos.
4. As demoras nas visitas pastorais em muitos campos pioneiros faziam com que
os hinos fossem cantados repetidamente nos encontros e cultos das igrejas que
48

ficavam aos cuidados dos leigos. Estes liam sermões dos pastores e artigos do
Jornal Imprensa Evangélica, e cantavam muito.

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12. O COLÉGIO INTERNACIONAL, O MACKENZIE COLLEGE E O


SEMINÁRIO

a) O Colégio Internacional de Campinas.


O Colégio Internacional foi fundado em 1869, pelos missionários da PCUS
em Campinas-SP. Ele foi o primeiro das grandes escolas estabelecidas pelos
missionários evangélicos na América Latina estabelecendo o início da influência
dos métodos escolares e da disciplina norte-americana no Brasil.105 Inicialmente
era uma escola para alfabetização de adultos no turno noturno e funcionava no
bairro da Ponte Preta. Morton estava entusiasmado com as idéias do pedagogo
norte-americano Horace Mann, eleito para o Conselho de educação de Boston em
1837 e um dos maiores batalhadores mundiais em favor do ensino público. Em
1873 a escola recebeu o nome de Colégio Internacional.
A escola gozou de grande prestígio na cidade, pois integrava estudos
acadêmicos com a formação do caráter. Embora os internatos masculino e
feminino fossem separados, as classes eram mistas.106 A princípio, o objetivo da
escola era proporcionar educação para os filhos dos crentes. Edward Lane observa
em um de seus relatórios que seria imprudente deixar os filhos dos crentes aos
cuidados de escolas onde o domingo era desrespeitado, a Bíblia mal usada ou
inteiramente negligenciada e a religião de Cristo pervertida.107
Morton dirigiu a escola até 1879, quando mudou-se para o Rio de Janeiro e
fundou o Colégio Morton. Com a retirada de Morton, assumiu a sua diretoria John
Dabney.
Estudaram no Colégio Internacional os filhos de pessoas como Bernardino
de Campos, Hercules Florence, Cel. J. Quirino dos Santos, Manoel Ferraz de
Campos Salles, João Pupo Nogueira, entre outros. Alguns dos alunos vieram a
ocupar, posteriormente, importantes cargos na vida pública brasileira, como José
Pereira de Queiroz e J. C. Alves de Lima, futuros senadores da República.108
O Colégio Internacional fechou as suas portas em Campinas em 1890,
devido os constantes surtos de febre amarela. A escola transferiu-se para Lavras-
MG, dando origem ao Instituto Gammon mais tarde. A IPB adquiriu o terreno de
Campinas e no seu prédio passou a funcionar o Seminário Presbiteriano do Sul, a
partir de 1907.

105
Júlio Andrade Ferreira. História da IPB, vol. 1, p. 116.
106
Colégio Internacional. http://www.campinasdeantigamente.com.br/2014/09/colegio-internacional.html. acesso
em 28/05/2015.
107
Júlio A. Ferreira, História da IPB, vol. 1, p. 117.
108
Paulo Augusto Moraes. Campinas e a História do Protestantismo no Brasil;
http://www.centrodememoria.unicamp.br/sarao/revista05/sarao_ol_texto1.htm. Acesso em 28/05/2015.
49

b) A Escola Americana – Mackenzie College.


Em outubro de 1870,109 o casal Chamberlain fundou a Escola Americana em
sua própria casa. Seus primeiros alunos foram um menino e uma menina branca, e
um menino negro. A escola funcionava improvisadamente na sala de jantar da casa
dos Chamberlain, sendo professora a própria esposa de Chamberlain, Mary
Annesley Chamberlain. As aulas eram destinadas “às alunas que não podiam
freqüentar as escolas públicas por motivo de intolerância religiosa”.110 Dentre estes
estavam filhas de protestantes, republicanos e abolicionistas.
Em 1871, passou a funcionar em uma sala maior, na rua São José, onde
funcionava a igreja de São Paulo, ficando conhecido com o nome de Colégio
Protestante. À frente da escola, contratou-se a Miss. Mary Parker Dascomb, que
ali trabalhou por muitos anos. A escola estava sendo organizada segundo o novo
sistema americano de educação: “Escola mista, regida por mulher”.111 A escola
inovava também no sistema de estudo com base no raciocínio priorizando o estudo
indutivo e em silêncio. Inovou no calendário escolar, com aulas apenas de segunda
a sexta, férias em julho, dezembro e janeiro. Uma das razões para que a escola
folgasse no sábado era para que as crianças pudessem passar mais tempo com os
pais. Também não se faria distinções de raça, pois a criança, seja qual fosse a sua
cor era essencialmente a mesma.
Em 1875, a escola já possuía cerca de 44 alunos. Passou a funcionar
oficialmente com o nome de Escola Americana. O motivo do nome foi para
diferenciar das outras escolas e ressaltar o método de ensino que seria usado, ou
seja, o método americano. Este método era diferente dos métodos utilizados em
todas as demais escolas brasileiras. Na Escola Americana os alunos estudavam em
silêncio privilegiando a concentração, em vez de “decoração”.
No final de 1884 foi convidado pelo Rev. George Chamberlain para assumir
a direção da escola o Dr. Horace Manley Lane, que do ponto de vista
educacional, foi um sucesso administrativo, porém, com respeito à sua vida
religiosa, tornou-se em um catalisador de transtornos para a Igreja Presbiteriana.
Quando assumiu a direção da Escola Americana em 1885, que passou a
denominar-se Instituto de São Paulo – Escola Americana,112 Lane não era nem
professo, nem presbiteriano, nem calvinista, mas um unitarista113 e também maçon.
Por essa razão foi batizado por Blackford na igreja de São Paulo (26/08/1885) a
convite de Chamberlain, numa manobra que objetivava abrandar a oposição do
mesmo à pessoa e liderança de Lane na Escola; deu certo! Em 1887, na reunião da
Missão Brasil em São Paulo, Lane já tem “status” de missionário com salário da
Junta e tudo. A pergunta que fica no ar é: Como uma junta missionária tão
criteriosa e exigente quanto à formação de seus obreiros engoliu uma incoerência
dessas!?

109
Benedito N. Garcez, O Mackenzie, p.42.
110
Júlio A. Ferreira, História da IPB, vol.1, p.141.
111
Júlio A. Ferreira, História da IPB, vol.1, p.142.
112
Boanerges Ribeiro, Igreja Presbiteriana no Brasil – da Autonomia ao Cisma, Livraria O Semeador, p.279.
113
Boanerges Ribeiro, Igreja Presbiteriana no Brasil – da Autonomia ao Cisma, Livraria O Semeador, p.36.
50

Em setembro de 1891, A Escola Americana recebeu a doação de


US$50,000,00 (cinqüenta mil dólares) da família de John Mackenzie e construiu o
primeiro prédio que recebeu o seu nome, e mais tarde daria o nome a toda a escola.
Mackenzie faleceu em setembro de 1892, antes de o prédio ficar pronto e ser
inaugurado. Em 1891 a escola havia aberto o seu primeiro curso superior. Em
15/12/1898 o Instituto de São Paulo torna-se Mackenzie College.
Em 1952 recebeu a denominação de Universidade ao abrir o seu quarto
curso superior.
O Mackenzie foi o pivô de algumas crises na IPB, mas especialmente na
questão educacional (formação de pastores) e da relação dos missionários com os
presbitérios brasileiros.
Hoje o Mackenzie figura entre as maiores e mais influentes universidades
particulares da América Latina. Sofre com as concessões feitas à secularização da
educação. Em 1897, o Sínodo brasileiro já demonstrava abertamente a sua
insatisfação com o papel desempenhado pelo Mackenzie junto às igrejas
brasileiras. Numa carta de Chamberlain a Lane em 1902, ele se queixa: “Você
permitiu à idéia educacional afastar da simplicidade de Cristo instituições cujos
terrenos foram doados a Ele (Cristo)”.114

c) Missionárias Educadoras
 Mary Parker Dascomb.115
Foi a primeira missionária educadora enviada pela PCUSA
ao Brasil. Nasceu em 30/06/1842 em Providence, Rhode Island.
Passou sua infância e mocidade em Oberlin, onde conheceu e
recebeu influência do reavivalista Charles Finney (1792-1875),
com sua ênfase na conversão individual, perfeccionismo cristão e
reformas sociais.
Veio ao Brasil pela primeira vez em 1866, quando conheceu Simonton e
Horace Lane. Retornou como missionária no final de 1869 para trabalhar
inicialmente no Rio de Janeiro na escola paroquial da igreja e depois em Brotas.
Em 1871, assumiu a direção da recém criada Escola Americana em São
Paulo, onde também lecionava matemática e auxiliava o Rev. Chamberlain na
igreja como organista. Implantou o sistema misto (meninos e meninas juntos na
mesma sala) na escola americana. Por sua orientação, o Rev. Antônio Trajano
elaborou e publicou a Aritmética Progressiva, que se tornou famosa nas escolas
brasileiras atingindo mais de 20 edições.
De 1873 a 1876 trabalhou em Brotas e depois em Rio Claro, na escola
fundada pelo Rev. Dagama. Ali recebeu a ajuda da missionária Elmira (Ella) Kuhl.
Foram grandes amigas e companheiras para o resto de suas vidas. De 1876 a 1880
retornou aos EUA, quando obteve seu Mestrado (MA). De volta ao Brasil, assumiu
a liderança do internato feminino da Escola Americana.

114
Chamberlain, carta a Lane datada de 26/6/1902. Citada por Boanerges Ribeiro, Ibid., p.299.
115
Alderi S. Matos. Os Pioneiros, p. 66-71.
51

A missionária Dascomb foi fiel à liderança de Horace Lane em todos os seus


embates na Missão e na IPB, desde quando ele assumiu a direção da Escola
Americana em Agosto de 1885. Nesse ano mudou-se para Botucatu,, a fim de
conduzir a escola fundada por George Landes ao lado da Missionária Arianna
(Nannie) Henderson. Ali foi grande colaboradora do Rev. João Ribeiro de
Carvalho Braga e professora de seu filho, o futuro grande pastor, Erasmo Braga.
1891 ela e Elmira Kuhl foram transferidas pela Missão Presbiteriana para
Curitiba onde foi aberta uma filial da Escola Americana e ali trabalharam juntas
por mais 25 anos.
Descrita como uma mulher de coração magnânimo e bondoso; era uma
pessoa alegre, expansiva e simpática, e que cultivava um carinho especial pelos
pobres. Faleceu repentinamente em Curitiba na madrugada de 11/10/1917.

 Elmira Kuhl.116
Nasceu em 13/01/1842 em Cooper Hill, perto de
Flemington, Nova Jersey. Excelente professora e
administradora, foi enviada pela PCUSA ao Brasil
aonde chegou em 07/06/1874. Serviu na escola de Rio
Claro ao lado da Miss. Mary P. Dascomb, que se
tornou sua amiga inseparável.
Em 1877 trabalhou na Escola Americana em São
Paulo onde permaneceu por 12 anos. Ali era reconhecida como excelente
professora e notável evangelista. Mudou-se para Botucatu em 1889 e ao lado da
Miss. Dascomb foi transferida para Curitiba em 1891, para trabalharem juntas
numa filial da Escola Americana por mais quase 25 anos!. Em Curitiba, a Miss.
Elmira Kuhl trabalhou intensamente também na escola dominical, sociedade
feminina e em atividades evangelísticas.
Faleceu aos 75 anos de idade em Nova York, oito dias depois da morte da
Miss. Dascomb. Após a morte das duas missionárias, a Escola Americana de
Curitiba entrou em declínio e o patrimônio foi vendido ao Rev. Luiz Lens de
Araújo César.

 Ariana (Nannie) S. Henderson.117


Foi a primeira missionária educadora enviada ao Brasil
pela PCUS. Nasceu em 08/09/1839 perto de Charlestown,
condado de Jefferson, na Virgínia Ocidental. Era descendente
das famílias dos primeiros pastores do estado de Maryland-EUA.
Recebeu educação teológica profundamente piedosa. Veio para o
Brasil em junho de 1872 seguindo orientação do Rev. John
Leighton Wilson, o mesmo que enviara Simonton anos antes.
Seu projeto inicial era a China.

116
Alderi S. Matos. Os Pioneiros, p.86-89.
117
Alderi S. Matos. Os Pioneiros, p. 182-185.
52

Ela iniciou uma escola para meninas em 1873 em Campinas com apenas 6
alunas. De 1875 a 1880 teve de voltar aos EUA duas vezes para tratamento de
saúde. Em 1882, de volta ao Brasil, tornou-se auxiliar da missionária Charlotte
Kemper. Logo depois dedicou-se exclusivamente ao trabalho evangelístico.
Em 1887 passou a trabalhar como missionária educadora novamente,
servindo à PCUSA, mas sendo mantida sob a jurisdição da PCUS, inicialmente em
São Paulo e depois em Botucatu até 1893, sendo uma influência muito positiva na
formação de Erasmo Braga e Franklin do Nascimento. Foi uma escritora assídua
nos periódicos presbiterianos The Missionary e Braslian Missions.
Aposentou-se em 1894, retornando para os EUA, vindo a falecer em
16/04/1910.

 Charlotte Kemper.118
Nasceu em Warrenton, norte da Virgínia, próximo a
Washington em 21/08/1837. Tinha um temperamento
introvertido, mas dotada de uma inteligência excepcional. Tinha
domínio de álgebra e geometria; latin, grego, italiano, alemão,
francês e hebraico, além de piano, violão e canto. Fez seu curso
teológico em Augusta, onde recebeu forte influência do teólogo
sistemático Robert L. Dabney (1820-1897).
Chegou a Campinas em fevereiro de 1882, aos 45 anos de idade, para
substituir Nannie Henderson, que estava doente. Sua vinda ao Brasil foi uma
exceção feita pelo Comittee de Nashville atendendo a um apelo do Rev. Edward
Lane. Chrlotte dirigiu a escola de moças do Colégio Internacional, em Campinas,
sendo sua superintendente de compras e lecionando várias matérias.
Após um período de férias nos EUA, retornou ao Brasil em dezembro de
1889, acompanhando Mary P. Dascomb, Edward Lane e mais dois novos
missionários: Samuel Rhea Gammon (que se tornaria o grande diretor do Instituto
de Lavras-MG e uma peça importante na tentativa de evitar o cisma de 1903) e o
Rev. Frank A. Cowan (companheiro do rev. John Boyle em sua última viagem por
Goiás).
Quando a febre amarela reapareceu em Campinas no ano de 1892, todos os
missionários se retiraram de campinas exceto Charlotte e Lane. Ela adoeceu e
quase pereceu. Lane cuidou de sua recuperação, e então, ele ficou doente, vindo a
falecer em 26/03/1892. Como não havia nenhum pastor na cidade, ela conduziu o
culto fúnebre e orientou ao jardineiro da chácara a memorizar o Salmo 23 para
recitá-lo no funeral. No final desse mesmo ano, o Colégio Internacional fechou
suas portas em Campinas e transferiu-se para Lavras-MG, vindo a tornar-se anos
depois no Instituto Gammon. Charlotte Kemper passou o resto de sua vida em
Lavras.
Ela foi a tesoureira da Missão Sul da PCUS, e depois do desdobramento com
a Missão Oeste (1904) ficou na Missão Leste. Conhecida por sua imensa bondade

118
Alderi S. Matos. Os Pioneiros, p. 207-211.
53

e solicitude. Atenciosa, especialmente com os candidatos ao ministério. Recebeu


uma herança de 10 mil dólares, dos EUA, e a gastou inteiramente na construção de
igrejas e na manutenção de jovens estudantes no Brasil. Foi peça importante no
desenvolvimento do Instituto de Lavras e de sua igreja local. Foi responsável pela
preparação das lições internacionais da EBD utilizadas no Brasil, Portugal e outros
lugares. Em função do seu talentoso trabalho, a missão deu o seu nome à escola de
moças fundada em Lavras, o Colégio Charlotte Kemper. Seu novo prédio,
inaugurado em 1927, foi pago por ela por meio de uma doação que recebeu da
Sociedade Feminina das igrejas da Virgínia. Sua maior contribuição à IPB foi a
influência positiva sobre gerações de jovens brasileiros e o seu testemunho
eloqüente do poder do evangelho.
Faleceu aos 90 anos de idade em 15/05/1927, cercada de muito carinho e
cuidados por seus amigos e admiradores.

d) O Seminário.

Os quatro únicos estudantes do “seminário primitivo”, fundado por


Simonton em 1867, foram eficientes pastores: Antonio Bandeira Trajano,
Miguel Gonçalves Torres, Modesto Perestrelo Barros de Carvalhosa e
Antonio Pedro de Cerqueira Leite. Este último entrou depois da morte de
Simonton e saiu um ano antes de terminar o curso, completando-o em regime de
tutoria mais tarde.
Entre 1870 e 1892 os pastores nacionais eram formados no regime de tutoria
com algum missionário e recebendo aulas adicionais em classes teológicas com a
colaboração de dois ou mais ministros onde fosse possível realizá-las.119 Essas
classes geralmente funcionavam nas escolas paroquiais, especialmente na Escola
Americana em São Paulo. Chamberlain, Howell e Schneider eram os mais
dedicados a essa tarefa.120Caetano Nogueira Júnior era tutelado de Miguel Torres
em Caldas;121 Eduardo Carlos Pereira foi tutelado por John Boyle.
Uma das principais razões para essa indefinição era o conflito existente entre
os missionários americanos quanto às tendências teológicas de Velha e Nova
Escola. Fica fácil perceber esse fato ao ver-se que o Board de Nova York enviou
dois missionários para serem professores no Seminário, Mclaren e Waddel, e estes
nunca assumirem suas funções. Ambos eram Nova Escola.
Como fruto da crise com o Mackenzie e as dificuldades de estabelecer-se em
Campinas, devido as constantes manifestações da febre amarela, o Sínodo de 1897
determinou que o Seminário se instalasse em São Paulo, no prédio para ele
construído na Rua Maranhão. O prédio do seminário, no bairro Higienópolis, foi
ocupado sem solenidade em setembro de 1899. Os principais professores eram os
Revs. John R. Smith e Erasmo Braga (este a partir de 1901); o membro mais
destacado da diretoria era o Rev. Álvaro Reis.
119
Júlio A. Ferreira. O Apóstolo de Caldas. Ribeirão Gráfica e Editora, p.118.
120
Ibid.
121
Ibid.
54

O Seminário Presbiteriano em Campinas


Em fevereiro de 1907, o seminário foi transferido para Campinas, ocupando
a antiga propriedade do Colégio Internacional. Docentes do seminário: John R.
Smith, reitor e professor de Teologia Sistemática; Erasmo Braga, deão, eleito pelo
Sínodo para a cadeira nacional, professor de Velho Testamento e História
Eclesiástica. Outros: Alva Hardie, H. Vogel, Américo de Moura, Blanche Dunlop.
Em 1909 chegou Thomas Jackson Porter (eleito professor pelo Sínodo de 1891),
grande entusiasta do seminário.
A primeira turma de Campinas só se formou em 1912. Entre os formandos
estavam Tancredo Costa, Herculano de Gouvêa Jr., Miguel Rizzo Jr. e Paschoal
Luiz Pitta. Mais tarde viriam Guilherme Kerr, Jorge T. Goulart, Galdino Moreira e
José Carlos Nogueira.

-------------------------------------------------------------------------------------------------

13. O MINISTÉRIO DE JONH BOYLE.

Boyle nasceu em 1º/03/1845 no condado de Spencer,


norte do estado de Kentacky. Teve formação Velha Escola e
veio com a esposa para o Brasil em 1873, indo trabalhar
inicialmente no Recife. Em 1875 transferiu-se para Campinas
a fim de auxiliar Edward Lane. Em 1879 fixou-se em Mogi-
Mirirm, de onde atingiu com o evangelho várias cidades,
dentre elas, Cabo Verde e Cajuru. Em Cajuru a igreja nasceu
na casa do maçon Miguel Rizzo, cujo filho. Miguel Rizzo Jr veio a tornar-se
grande pastor presbiteriano, conhecido como o “príncipe do púlpito
presbiteriano”.122 Em 1882, Boyle levou a Cristo outro importante pastor
presbiteriano, Álvaro Reis, em Mogi-Mirim.
A partir de 1881, John Boyle se embrenhou no interior norte de São Paulo e
sul de Minas e estabeleceu o que veio a ser os primórdios da Missão Presbiteriana,
que posteriormente se desdobraria em três regiões. Boyle viajou mais de 300
quilômetros distribuindo Bíblias até região da longínqua Uberaba (MG),
descobrindo cerca de 50 cidades grandes e vilas. Essas viagens pioneiras de Boyle
propiciaram o estabelecimento do presbiterianismo em toda a nação brasileira.
Em 1886, depois de um curto período nos EUA, em gozo de férias, Boyle
fixou sua missão em Bagagem-MG
Em 1888, antes da formação do Sínodo Brasileiro, Boyle fez uma longa
viagem por Goiás, passando por Santa Luzia de Goiás (Luziânia), Catalão, Caldas
(Caldas Novas), Morrinhos, Formosa, Jaraguá, Entre Rios, Curralinhos e Goiás, a
capital da província. Retornou a Santa Luzia e fechou seu circuito em Paracatu-

122
Alderi S. Matos, Os Pioneiros, p. 195.
55

MG e por fim chegando a Bagagem-MG, onde morava. No ano seguinte ele abriu a
terceira estação missionária da igreja do Sul, que abrangia os estados de Minas e
Goiás. As outras duas eram: Missão Norte (Maranhão, Ceará e Pernambuco),
Missão Sul (Campinas). A Missão de Boyle era sediada em Bagagem-MG e ficou
com o nome de Missão Interior.123
Boyle foi, ao lado de Blackford, o principal arquiteto do Sínodo de 1888.
Sua proposta era de dar à igreja brasileira autonomia plena, inclusive com a
entrega das instituições educacionais à direção dos pastores brasileiros, contudo,
Blackford não concordou, e foi aprovada uma autonomia parcial, onde os pastores
nacionais obtiveram apenas jurisdição eclesiástica sobre as suas igrejas. Boyle,
porém avisou que isso causaria muitos problemas. No Sínodo, Blackford foi eleito
moderador e Boyle, vice-moderador.
Ainda em 1889, Boyle fundou o jornal O Evangelista, que foi caracterizado
pela polêmica com o catolicismo.
Boyle faleceu em 1892, vitimado por um enfarte aos 42 anos de idade. Júlio
Andrade chama o ano de 1892 de “ano fatídico”.124 Blackford já havia falecido em
1890 em Atlanta-EUA, fazendo imensa falta à liderança da igreja brasileira. Nesse
ano, contudo, além de Boyle, faleceram: E. M. Pinkerton, na Bahia; Edward Lane,
em Campinas-SP; James Dick, em Fortaleza-CE; Miguel Torres, em Caldas-MG.
Todas essas mortes foram um duro golpe no andamento das questões do seminário
e do sistema de evangelização que deveria receber a prioridade no Brasil. A morte
desses gigantes abriu as portas para o desenvolvimento mais tranqüilo do
Mackenzie e o surgimento de Eduardo Carlos Pereira como grande líder nacional.
Quem poderá se levantar e questionar a mão da providência? As lições de 1892
devem nos chamar à meditação reverente diante do Senhor da Igreja!
Em 1893, por meio da influência de Boyle a IPB chegou a Araguari-MG, de
onde se irradiaria para Patrocínio-MG e daí para o Centro-Oeste brasileiro através
da Missão Oeste do Brasil (1924). Essa Missão fundou o IBEL nessa cidade em
1948, a fim de formar obreiros leigos para auxiliar no trabalho.

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14. A IPB E A ESCRAVIDÃO.

Embora os portugueses estivessem ativamente envolvidos com o tráfico


escravo antes da decisão de colonizar o Brasil (1549), poucos negros foram
introduzidos no Brasil nos dois primeiros séculos de colonização. Uma das razões
para isso, foi a fracassada tentativa de escravização dos indígenas brasileiros, tendo
como principal instrumento as Entradas e Bandeiras. É no século XVIII, que o
mercado de escravos africanos se intensificou no Brasil. No período todo da
escravidão brasileira, cerca de 12 milhões de negros desembarcaram dos navios
123
Boanerges Ribeiro, Igreja Presbiteriana no Brasil – da Autonomia ao Cisma, p.73.
124
Júlio A. Ferreira, História da IPB, vol. 1, p.360.
56

negreiros no Brasil.125 Eles procediam de todos os pontos da África, mas


especialmente das tribos Banto, Yoruba, Dahoney e Fon.
Segundo uma estatística de 1858, a situação da escravidão no Brasil se
configurava da seguinte forma.126

Brancos (1/3 portugueses) 900.000


Negros escravos 1.900.000
Negros livres 160.000
Mulatos escravos 200.000
Mulatos livres 500.000
Índios 400.000

Tanto na cidade de São Paulo como do Rio de Janeiro, haviam duas classes
de negros; Os escravos de ganho, que dominando um ofício (carregadores,
pedreiros e aguadeiros) repassavam seus rendimentos aos seus proprietários. E os
escravos libertos, que exerciam pequenas atividades artesanais ou eram pequenos
comerciantes e prestadores de serviços (barbeiros, dentistas ou mesmo médicos dos
mais pobres)127. A escravidão no Brasil não era segregacionista, pois os negros
eram integrados na sociedade colonial, participando inclusive da intimidade dos
senhores brancos, o que facilitava a miscigenação. Todavia, negros e mulatos eram
tratados e mantidos como subalternos, submetidos a trabalhos excessivos e
castigos cruéis, vistos com desconfiança e medo.128

1. O CATOLICISMO E OS NEGROS.
No campo religioso, Richard Sturz enumera pelo menos quatro razões que
fizeram com que a evangelização dos negros fosse um fracasso do catolicismo
brasileiro:129
1º. A constante renovação da população escrava reforçou constantemente as
religiões africanas no Brasil. Até 1850, dificilmente um negro vivesse até a sua
terceira geração, e até 1830, quando se proibiu o tráfico, medidas eram tomadas
para evitar a procriação, visto que a importação de negros adultos ficava mais
barata para os portugueses.
2º. A sobrevivência da religião africana foi garantida no Brasil através das
confrarias e irmandades, que eram grupos de assistência mútua onde se garantia
a segurança individual do negro e o identificava com seus deuses tribais. Em vez
de evangelizar os negros a igreja católica brasileira encorajou indiretamente o
sincretismo do catolicismo com as religiões africanas.

125
Erasmo Braga e K. Krub, The Republic of Brasil (London, World Dominion. 1932), p.13. Citado por Earle
Cairns, O Cristianismo Através dos Séculos, p.352.
126
Wilton O. Assis, Ashbel Green Simonton, O Missionário dos Tristes Trópicos, UPMackenzie, São Paulo, p.38.
127
Ibid., p.39.
128
Almanaque Abril 1998, “Negros”, p.126.
129
Richard J. Sturz, “O Catolicismo Romano na América Latina do Século XIX”. Em Earle E. Cairns, O
Cristianismo Através dos Séculos, p.353,354.
57

3º. O negro era completamente esquecido no campo espiritual. As visitas dos


padres eram raras, e quando havia um capelão, este se concentrava unicamente na
assistência aos brancos. Com a adaptação do panteão africano ao Brasil, perdeu-se
a adoração dos ancestrais, o uso de máscaras nas sociedades secretas e os
sacrifícios humanos, contudo o essencial foi retido: crença nos poderes protetores
dos orixás e a satisfação dos mesmos através de oferendas alimentícias.
4º. O tipo de catolicismo proclamado no Brasil era o ex opere operatum da
Contra-Reforma, que ressuscitava em parte as superstições da Idade Média, o
velho culto aos santos e se opunha ao protestantismo. Em vez do encontro pessoal
e o culto, a adoração era em sua maior parte um meio de manipular Deus através
dos santos. Nesse tipo de religião, o ritual se sobrepõe ao significado da crença.
Por outro lado, a opinião dos protestantes no Brasil variava grandemente
quanto à questão da escravidão, e certamente, no que tange aos missionários
presbiterianos de ambos os Boards (norte – Nova York e sul – Nashville), refletia
as questões importadas de suas lutas nos EUA, onde a questão da escravidão foi a
causa direta da cisão de algumas igrejas (metodistas e presbiterianos) e da Guerra
de Secessão (1861-1865). Contudo, é sempre bom lembrar que nem todo nortista
era abolicionista e nem todo sulista era escravista.

2. DOCUMENTOS PROTESTANTES PRÓ-ABOLIÇÃO DA ÉPOCA.


Ao avaliarmos alguns documentos da época, percebemos uma considerável
preocupação, em diversos níveis, com o problema da escravidão. Desde 1810 leis
anti-tráfico vinham sendo aprovadas no Brasil; que estabeleciam liberdade
religiosa aos ingleses (Tratado de Comércio e Navegação, Art.12), o não
estabelecimento da Santa Inquisição no Brasil e a gradual extinção do tráfico
negreiro para o Brasil (Tratado de Aliança e Amizade, Art. 9 e 10).130
Um acordo firmado entre a Inglaterra e o Brasil em 1831, o governo
regencial declarara ilegal o tráfico negreiro no Brasil, mas o comércio de escravos
vai ser proibido definitivamente no Brasil somente em 1850, quando o Imperador
D. Pedro II aprovou a lei Eusébio de Queirós131.

Contrários à escravidão, alistamos os seguintes testemunhos documentados:


a) A Carta do Capitão Boys de 1819,
O Rev. Boys era um capelão inglês da ilha britânica de Santa Helena, no
meio do Atlântico Sul. Em 1819, foi obrigado a permanecer um bom tempo no Rio
de Janeiro por causa de uma enfermidade de sua esposa.
Sua carta nos informa que a cidade do Rio de Janeiro naquela época possuía
300 mil habitantes, sendo 80 mil destes, escravos. Ele continua em sua carta:
...Aqui temos residindo um embaixador inglês, o sr. Thornton, e
aproximadamente 1500 negociantes ingleses mais os franceses,
muitos dos quais sei que favorecem uma sociedade bíblica auxiliar. A
maioria deles possui escravos, os quais, naturalmente, eles têm a
130
Francisco A. Silva e Pedro Ivo A Bastos, História do Brasil, Moderna, p.107,108.
131
Almanaque Abril 1998, “Escravidão”, Ed. Abril, p.72,73.
58

obrigação de instruir, e não poderiam ser incomodados [por


cumprirem tal obrigação]. Daí haver bastante oportunidade para o
estabelecimento de uma escola para adultos em casa para o
benefício deles próprios... E quanta utilidade isso teria aqui! Pois não
devem existir menos de dois mil escravos, propriedade de
negociantes ingleses (eu os estimaria em 3 mil ou 4 mil),
inteiramente às ordens de nossos compatriotas...132

Notemos que ele vê a alfabetização dos escravos como uma obrigação de


seus proprietários e uma oportunidade para a implantação de um trabalho
evangelístico através da educação no Brasil. Ao fazerem isso, os proprietários
estavam amparados pelos acordos de 1810, que estabeleciam liberdade religiosa
aos ingleses (Tratado de Comércio e Navegação, Art.12), o não estabelecimento
da Santa Inquisição no Brasil e a gradual extinção do tráfico negreiro para o Brasil
(Tratado de Aliança e Amizade, Art. 9 e 10).133 Boys assinala ainda em sua carta
que a falta de interesse missionário pelo Brasil pode ser fruto do juízo de Deus
sobre o tráfico negreiro, que estava mundialmente em declínio e termina dizendo:
“Deus seja louvado! Que ele [o tráfico] morra para nunca mais levantar a
cabeça”.134 Um dado que é estranho, porém, é o fato de ingleses possuírem
escravos, uma vez que seu país foi o principal agente da abolição no Brasil, e o
início da mesma já estar previsto em um dos Tratados mencionados acima.
Infelizmente, os holandeses fizeram o mesmo no Nordeste.

b) As Cartas do Pastor Metodista Justin Spaulding,


Spaulding foi o primeiro missionário metodista no Brasil, aonde chegou com
sua família no Rio de Janeiro em 29/04/1836, partindo de Nova York. Ele
organizou a primeira escola dominical no Brasil e planejou uma escola diária antes
de completar um mês de estadia no Brasil. Três meses depois (julho) fez um
relatório pormenorizado de seu trabalho, aludindo à questão da escravidão de
forma especial. A sua escola dominical tinha uma assistência de mais de quarenta
crianças e jovens, dividida em oito classes com quatro professores e igual número
de professoras. Quanto aos escravos diz: “Temos duas classes de pretos, uma fala
inglês, a outra português. Atualmente, parecem muito interessados e ansiosos por
aprender...”135 e no parágrafo seguinte lamenta:
Qual será o resultado final da escravidão e quando ela terminará neste país, é
impossível dizer. Muito embora o tráfico de escravos seja contra a lei da nação,
mesmo assim estou informado de que nunca foi explorado em tão larga escala
como agora. Navios continuamente se preparam e zarpam deste porto com
destino ás margens sangrentas da infeliz África, nesse negócio de pirata. Os
magistrados, solenemente juramentados a fazer cumprir as leis, freqüentemente
fecham os olhos e recebem subornos. Ninguém ousa cumprir as leis, e ninguém

132
Duncan A. Reily, História Documental do Protestantismo no Brasil, ASTE, p. 49, itálicos meus..
133
Francisco A. Silva e Pedro Ivo A Bastos, História do Brasil, Moderna, p.107,108.
134
Duncan A. Reily, História Documental do Protestantismo no Brasil, ASTE, p. 49.
135
Ibid, p. 92.
59

poderia se quisesse, tão fraco é o princípio moral neste governo. Tudo o que
podemos fazer é usar diligente e mui discretamente os meios, observar os sinais
dos tempos, e entrar por toda a porta aberta pela Providência, para prestar-lhes
serviço...

Spaulding deixou-nos clara a sua compreensão negativa do tráfico como


“negócio de pirata” e que a questão da escravidão era delicada, pois todo serviço
prestado aos negros deveria ser feito com “muita discrição”, devido à corrupção
dos magistrados locais. Um acordo firmado entre a Inglaterra e o Brasil em 1831, o
governo regencial declarara ilegal o tráfico negreiro no Brasil, mas o comércio de
escravos vai ser proibido definitivamente no Brasil somente em 1850, quando o
Imperador d. Pedro II aprovou a lei Eusébio de Queirós136.
O relatório de Spaulding teve repercussão. No Brasil, a reação do padre Luiz
G. Santos, que escreveu dois documentos combatendo o pastor metodista em 1837
e 1838. O segundo, intitulado “O Catholico e o Methodista” interpreta as intenções
de Spaulding da seguinte forma: “Ora aqui temos a missão metodista com duas
partes ou fins. O 1º é descatolicizar o Brasil...; o 2º é emancipar os nossos
escravos, fazendo o mesmo que os seus irmãos anabatistas fizeram na Jamaica e na
Virgínia e que tanto sangue fez correr tanto dos brancos como dos negros não há
muitos anos”137.
No final de 1838, Spaulding havia formado uma pequena igreja com 11
membros, sendo que metade deles fossem provavelmente missionários. A missão
de Spaulding foi terminada em 1841, quando teve de retornar aos EUA. Para a sua
infelicidade, a igreja metodista norte-americana foi a primeira denominação a
passar por uma cisão entre o sul e o norte por causa da escravidão. Milhares de
metodistas morreram nos campos de batalha de ambos os lados na Guerra de
Secessão.

c) A Admoestação Disciplinar de Kalley a um proprietário de escravos,


membro da Igreja Evangélica Fluminense, datada de 1865.
Segundo Duncan A. Reily assinala em sua História Documental do
Protestantismo no Brasil, esse senhor foi expulso da membrezia da igreja.138 A
“exortação” de Kalley sobre a escravidão é datada de 3/11/1865, dirigida ao senhor
Bernardino de Oliveira Rameiro. Kalley139 acentua que o escravo trabalha “contra
a vontade e sem salários e sob as ameaças de castigo e sofrimentos
diversos” a fim de produzir, não para si, mas para o seu patrão opressor “bons
serviços e excelentes lucros”. Para Kalley quem possui escravos e os maltrata
“é inimigo de Cristo; não pode ser membro da Igreja de Jesus”.140 Ele
conclui assim o documento:

136
Almanaque Abril 1998, “Escravidão”, Ed. Abril, p.72,73.
137
Veja a nota 174 de: Duncan A. Reily, História Documental do Protestantismo no Brasil, ASTE, p. 155
138
Reily, História Documental do Protestantismo no Brasil, p. 125.
139
Reily, História Documental do Protestantismo no Brasil, p. 110.
140
Ibid. p. 110.
60

...O escravo só trabalha porque teme as ameaças de pancadas e


castigos desumanos da parte de um roubador da liberdade alheia! O
senhor que procede desse modo é inimigo de Cristo: não pode ser
membro da Igreja de Jesus, daquele Jesus que nos resgatou da
maldição (Gl 3.13) e da lei do pecado da morte (Rm 8.2) e nos deu a
liberdade fazendo-nos FILHOS DE DEUS (Rm 8.15 e 16).141

3. AS ANOTAÇÕES DO DIÁRIO DE SIMONTON.


Na introdução à 2ª edição do Diário de Simonton, o Rev. Alderi S. Matos
classifica as anotações de Simonton sobre a escravidão como “perspicazes”, pois
refletem, ao lado das tensões entre o Norte e o Sul, “os grandes dramas sociais e
políticos do seu país”,142 os Estados Unidos. No dia 10 de outubro de 1859, dois
meses após desembarcar no Rio de Janeiro, Simonton escreveu em seu diário: “Fui
com o senhor H. a um leilão em que ele comprou dois negros. Outra vez
estou no meio do horror da escravidão”.143 Alguns dias antes (28/09), tivera
uma discussão na qual contrariou um tal senhor “S” que o desapontara muito, pois
esta pessoa era “absurdamente a favor” da escravidão.144
Simonton era favorável à abolição, pois considerava a escravidão como
pecada e opressão.145 A princípio, porém, não aprovou a guerra em face dessa
questão: “Desejo ardentemente ver o dia em que não mais haja escravidão,
mas se esse dia tem mesmo de vir, que venha pela adesão voluntária do
povo do Sul”.146 Quando a Guerra de Sesseção estourou em seu país escreveu:
“Agora quem poderá prever a marcha dos acontecimentos nos estados
não mais “unidos”? Talvez Deus por caminhos inimaginados vai dar os
meios para se expulsar o íncubo da escravidão, apesar de, à nossa visão
humana, parecer que se dará justamente o contrário”.147 Por fim, convenceu-
se de sua validade em meados de 1861, reconhecendo que qualquer acordo com
respeito à abolição da escravidão nos EUA se daria por força das “armas nas
mãos do governo”.148 Para Simonton, que durante o seu furlough, presenciou
manobras militares nos arredores de Washington, a escravidão era um sistema que
clamava por justiça e o julgamento de Deus, não podendo haver nem paz nem
calma enquanto esse sistema perdurasse. Simonton anotou em seu diário em
3/01/1863: “Não tenho dúvidas desde o princípio de que a contenda que
Deus tem conosco como nação diz respeito à escravidão”.149
Apesar de sua opinião contrária à escravidão, Simonton se mostrou
cauteloso quanto à exposição de suas idéias antiescravistas publicamente no Brasil,
especialmente após o seu retorno dos EUA, em meados de 1863. Ele registrou em
141
Reily, História Documental do Protestantismo no Brasil, p. 110.
142
Alderi S. Matos, Introdução ao Diário de Simonton, p.12.
143
Simonton, O Diário de Simonton, p.130.
144
Ibid., p.129.
145
Ibid., p.39.
146
Ibid., p.57.
147
Simonton, O Diário de Simonton, p.147. Itu, 14/02/1861. Onde íncubo refere-se a algum tipo de demônio.
148
Ibid., p.150.
149
Ibid., p.157.
61

seu Diário a admissão do negro João Marques de Mendonça à comunhão da igreja


do Rio no domingo anterior a 06/10/1864.150 Três anotações em seu Diário de
03/01/1860 e de 31/12/1866 nos dão conta de que Simonton se utilizava de
trabalho escravo aqui no Brasil, embora nunca os possuísse. Quatro negros fazem o
transporte de sua mudança para a casa do Sr. Patterson em 1860. Um negro,
chamado Quitano, alugado por Blackford, o ajudou na arrumação de sua nova casa
em 1866. Depois, quando mudou-se de endereço novamente, para a Rua dos
Inválidos, uma escrava chamada Cecília trabalhou para ele por um tempo.151 Um
dado interessante é que o último registro de uma oração feita por ele antes de sua
morte foi feita por um negro, membro da igreja de São Paulo.152

4. OS TRES ABOLICIONISTAS PRESBITERIANOS

a) Rev. Emanuel Vanorden.


Vanorden era um judeu holandês153 e como missionário
presbiteriano foi o fundador da primeira igreja presbiteriana no
Rio Grande do Sul, trabalhando como missionário
presbiteriano também em outras localidades. Ele assinala
abaixo ser membro correspondente da Sociedade
Antiescravista de Londres no Brasil:

Há três anos na qualidade de membro correspondente


da sociedade Antiescravista de Londres, enviei telegramas ao Imperador do
Brasil congratulando-me com Sua majestade pela libertação dos escravos
em uma província do pais... Eu havia dito a sua majestade que orava a Deus
para prolongar sua preciosa vida a fim de que pudesse chegar a ver a inteira
abolição da escravatura em seus domínios... [Agora que os escravos já
obtiveram a sua liberdade] Temos que ter escolas para eles, temos que ter
professores para eles...154

Na primeira parte desse documento, Vanorden credita aos missionários


norte-americanos e à distribuição de Bíblias no Brasil a abolição. Contudo, Reily
nos aconselha a não superestimar essa avaliação de Vanorden, visto que foram as
pressões do governo inglês sobre o tráfico o fator crucial da abolição no Brasil.155
Todavia, fica mais evidente o fato de que os missionários presbiterianos, em sua
maioria eram simpáticos à abolição. Duas províncias brasileiras decretaram o fim
da escravidão em 1884, Ceará e Amazonas.
Vanorden acrescenta em um periódico:
No dia 20 de fevereiro [de 1878] foi organizada nesta cidade [Rio Grande]
uma Igreja Evangélica composta de oito pessoas; foi adotada por
unanimidade a resolução de que, ‘considerando ser a escravidão um pecado

150
Ibid., p.167.
151
Ibid, p.172, 173.
152
Júlio A. Ferreira, História da IPB, vol. I, p.84.
153
Reily diz que ele era inglês (Reily, História Documental do Protestantismo no Brasil, p. 159, nota 235).
154
Ibid., p. 127.
155
Ibid, p.159. nota 234.
62

contra Deus e o homem, nenhum proprietário de escravos seja admitido à


Igreja a menos que primeiro liberte os seus escravos’156.

b) Rev. James T. Houston.


Chegou ao Brasil em 1874. Foi missionário na Bahia, Rio
de Janeiro e Santa Catarina. Pastoreou a igreja do Rio como
pastor auxiliar e depois efetivo de 1877 a 1885. Há seis hinos de
sua autoria no Hinário Novo Cântico (35, 47,130, 214, 230 e
400).
No dia 14/08/1884, pregou na igreja do Rio um sermão
que demonstrava a incompatibilidade da escravidão com o
cristianismo, no qual exortava aos ouvintes a se empenharem na
libertação dos escravos e profetizando o fim próximo da
escravidão no Brasil.157 Este sermão foi publicado num jornal secular da cidade do
Rio de Janeiro nesse mesmo ano. Eduardo Carlos Pereira o menciona em seu
livro.158

c) Rev. Eduardo Carlos Pereira.


Além disso, o próprio Rev. Eduardo Carlos Pereira
escrevera “uma brochura abolicionista” intitulada “A Religião
Cristã em Suas Relações com a Escravidão”, datada de 1886.
Lessa descreve a brochura nos Anais:

Nas 44 páginas do bem elaborado opusculo atacava


vigorosamente a negra instituição, firmado nos textos
bíblicos. Assim terminava o seu estudo: ‘Respeita na
pessoa do teu escravo a imagem do teu Deus, não ultrages o direito
inviolável de uma propriedade sagrada. Em nome da justiça que fulminou
Achan, em nome da caridade que pregou o Crucificado Redemptor dos
captivos, não continues a cobrir de ludibrio a Egreja envergonhada de Nosso
Senhor Jesus Christo: restitue a inalienavel liberdade a seu legitimo
proprietario’.
Desta sorte enquadrava-se o Rev. Eduardo na lista apreciavel dos
abolicionistas do paiz, a cuja frente fulguravam Nabuco, Patrocinio, Dantas,
José Marianno, Luiz Gama, Antonio Bento e tantos outros. Seria o
abolicionista das egrejas evangelicas.159

Nos Anais da Igreja de São Paulo, Themudo Lessa registrou a moção


apresentada por Eduardo Carlos Pereira no presbitério de 1887 com os seguintes
dizeres: “Este Presbitério, desejando ardentemente que o Brasil se liberte
do grande mal da escravidão, vê com alegria afirmar-se no terreno sólido

156
E. Vanorden, The Brazilian Christian Herald (Fevereiro-Março 1878), p. 2
157
Alderi S. Matos, Os Pioneiros, p.91.
158
E. C. Pereira, A Religião Christã Em Suas Relações Com a Escravidão, Anexo a: José Carlos Barbosa, Negro
Não Entra Na Igreja, Espia do Lado de Fora – Protestantismo e Escravidão no Brasil Império, UNIMEP, p.201.
159
Lessa, Annaes da 1ª Egreja, p.265 (sic.).
63

da consciência cristã, a propaganda abolicionista”. Contudo não se sabe se a


moção abolicionista foi aprovada160, todavia, também não há registro do oposto.

5. ACONTECIMENTOS IMPORTANTES.

Além desses documentos, alguns acontecimentos são importantes.


a) Havia escravos na formação inicial das igrejas presbiterianas.
Simonton recebera o negro João Marques de Mendonça como membro da
igreja do Rio em outubro de 1864.161 Na igreja que funcionava na fazenda de Dois
Córregos, além dos nove filhos de Inácio Pereira Garcia que aderiram ao
protestantismo por profissão de fé, sabe-se que Chamberlain catequizava os
escravos e ensinava-os a cantar.162 Dentre os seis membros fundadores da igreja de
Lorena-SP, em maio de 1868, estava a escrava Madalena Rosa.163 Três escravos
também compõem a lista dos membros fundadores da igreja de Borda da Mata em
1869.164 O terceiro membro recebido na igreja de Salvador por Schneider, em
1872, foi o negro Marcos Luiz da Boa Morte. Este entregou-lhe mudas de laranja
baiana, que, levadas aos EUA, foram o ponto de partida para o cultivo dessa
variedade naquele país.165
Júlio Andrade Ferreira, citando Émile Leonard, aponta os escravos como o
quinto elemento na formação social das primeiras igrejas, dizendo que eles

também forneciam às igrejas bom número de membros. Sobre onze


prosélitos que a comunidade presbiteriana de São Paulo recebeu em 1879,
contavam-se cinco escravos. Tratava-se, o mais das vezes, de criados
domésticos que adotavam a religião de sua patroa; mas outras vezes de
escolha inteiramente livre, que era mesmo objeto de longas oposições: é
assim que uma das negras de 1879, Felismena, precisou esperar quatro
anos a permissão de seu senhor”.166

Essas observações de Júlio Andrade Ferreira são importantes, pois se


referem a recepções feitas antes da abolição de 1888. Themudo Lessa chama o ano
de 1879 de “o Ano dos Escravos”,167 visto que muitos deles foram recebidos com
“muita satisfação”168 à membrezia da igreja de São Paulo pelo Rev. Chamberlain.
Lessa ainda acrescenta que “muitos escravos se converteram em várias igrejas”.169
Um outro dado importante a ser destacado é que para o negro professar a sua
fé, precisava da “permissão de seu senhor”. Émile Leonard também cita, no caso

160
Ibid., p. 265,297. Citado por: Leonard, O Protestantismo Brasileiro, p.101, nota 81.
161
Simonton, O Diário de Simonton, p.167.
162
Júlio A. Ferreira, História da IPB, vol. 1, CEP, p.273.
163
Júlio A. Ferreira, História da IPB, vol. 1, CEP, p.96.
164
Ibid., p.99. São eles: Jerônimo, José e Bárbara, pertencentes ao Sr. Antônio Joaquim.
165
Alderi S. Matos, Os Pioneiros, p. 44.
166
Júlio A. Ferreira, História da IPB, vol. 1, p.274,275. Veja também; Émile-G Leonard, O Protestantismo
Brasileiro, JUERP/ASTE, p.101.
167
Vicente Themudo Lessa, Annaes da 1ª Egreja Presbyteriana de São Paulo – 1863-1903, São Paulo, 1938, 1ª IPI
de São Paulo, p. 165.
168
Ibid, p. 168.
169
Ibid, p.168.
64

dos batistas, a história de um escravo que recebia maus tratos de seus senhores por
ser um membro piedoso da igreja batista da Bahia (A História dos Batistas do
Brasil, p. 62 t. I); e não deixa de mencionar que o futuro romancista Júlio Ribeiro
apresentou ao batismo na Igreja Presbiteriana de São Paulo, um pequeno escravo a
quem logo libertou, bem como a sua mãe.170

b) Os missionários americanos e pastores brasileiros foram solícitos


para com os abolicionistas.
Quando o movimento abolicionista começou a tomar forma, seus membros
sofreram represálias. Chamberlain abriu as portas da Escola Americana
(Mackenzie) aos filhos deles, pois estavam sendo submetidos a constrangimentos
nas escolas públicas. Chamberlain observou:

O fato de as filhas de muitos pais brasileiros, não evangélicos, pertencentes


às correntes republicanas e abolicionistas, também sofrendo perseguições
nas escolas públicas, buscarem refúgio junto à Sra. Chamberlain, aconselha-
nos agora a recebê-las, e a seus filhos varões, quando se organiza esta
nova escola.171

c) O Presbitério Presbiteriano do Rio de Janeiro posicionou-se contra a


escravidão em 1886.
No ano de 1886, o presbitério presbiteriano do Rio de Janeiro, reunido em
Barreira, discutiu a questão da escravidão, reiterando em suas conclusões, a
declaração da Assembléia Geral Presbiteriana dos Estados Unidos, de 1818,
condenando a escravidão. O concílio determinou que a decisão da igreja norte-
americana fosse traduzida para o português e transcrita para o livro de atas do
presbitério.172
Levando em consideração que o Presbitério do Rio de Janeiro era oriundo do
Board de Nova York, que era abolicionista; em sua reunião de 30 de agosto de
1888 aprovou uma “moção expressando regozijo pela ‘Lei de 13 de
maio’”.173 Ademais, Eduardo Carlos Pereira, não fora formado por pastores
sulistas, mas nortistas, como Chamberlain, a quem sucedeu na Igreja de São Paulo
em 22 de agosto de 1888, pouco mais de um mês antes do Sínodo de setembro de
1888.
Um dado curioso e importante, na foto comemorativa da formação do
Sínodo Brasileiro, reunido em setembro de 1888, o presbítero Antônio da Silva
Rangel, de Mogi-Mirim, o último da 3ª fila, é um negro.174

6. OS MISSIONÁRIOS DO SUL DOS EUA.


170
Leonard, O Protestantismo Brasileiro, p.101, nota 81.
171
Benedito Novaes Garcez, Mackenzie, CEP, p.32. Citado por Alderi S. Matos, “O Colégio Protestante de São
Paulo: Um Estudo de Caso Sobre as Prioridades da Estratégia Missionária”, Fides Reformata, Vol. IV, nº 2, Julho-
dezembro de 1999, p.68.
172
Ibid., p. 264.
173
Júlio A. Ferreira, História da IPB, vol. I, p.304.
174
Alderi S. Matos, Os Pioneiros, p.504. Veja também a capa do livro de Boanerges Ribeiro, A Igreja Presbiteriana
no Brasil, da Autonomia ao Cisma. Confira a foto no capítulo 20 dessa apostila.
65

Quanto aos missionários do Sul dos EUA, enviados para o Brasil há um


silêncio inexplicável na literatura sobre as posturas e declarações desses
missionários quanto a escravidão. Paulo Siepirski argumenta, ao lado de Reily, que
os “missionários sulistas apreciavam o sistema escravista e se opuseram
tenazmente às propostas abolicionistas”.175 Contudo, a observação de Siepierski é
generalizada, pois engloba tanto batistas quanto presbiterianos e metodistas. A
expressão “apreciavam” parece não ser a mais adequada para descrever a inteira
verdade dos fatos.
Émile Leonard, refere-se a alguns sulistas abolicionistas em sua obra “O
Protestantismo Brasileiro”,176 porém não nos diz quem são. É curiosa a citação que
faz de um documento dos Batistas do Sul apoiando a abertura de um trabalho de
evangelização sob a “Cruz do Sul”, argumentando que “o Brasil tem escravos, e os
missionários pela Convenção Batista do Sul não podiam sentir-se constrangidos a
combater a escravatura”.177 Fica evidente que no caso dos batistas, combater a
escravidão era questão de “constrangimento”, mas também demonstra-se que havia
debates entre eles.
Em outra parte, o mesmo autor nos apresenta quatro razões básicas e
fundamentais para a imigração norte-americana sulista para o Brasil após 1865,
com o fim da guerra civil americana. São elas:178
a) Boa terra com preços acessíveis.
b) Clima agradável.
c) Ajuda do governo imperial.
d) A possibilidade de adquirirem escravos.
Júlio Andrade Ferreira, ao narrar a chegada de John Boyle a Cajuru, interior
de São Paulo, diz que ele se fazia acompanhar de um negro, que cansado,
queixava-se da longa viajem acompanhando o missionário pelo interior de São
Paulo, mas não faz qualquer alusão a se esse negro era um escravo, que fosse seu
ou da missão, limitando-se a chamá-lo de “acompanhante”.179 Embora Júlio
Andrade não tenha colocado a data dessa viagem a Cajurú, sua narrativa a situa
entre 1882 e 1884, antes da abolição. Boanerges Ribeiro informa que o nome desse
negro era Fidelis, e era o tropeiro que acompanhou Boyle em muitas de suas
viagens pelo interior de Minas, inclusive na viagem que fez a Goiás no início de
1888.180
A única manifestação de um missionário presbiteriano a favor da escravidão
no Brasil nos é dada por Leonard da seguinte forma:

175
Paulo Siepierski, “Missionários Protestantes Estrangeiros no Brasil: Dos primórdios ao Congresso do Panamá”,
in: C. Timóteo Carriker, ed., Missões e a Igreja Brasileira vol. 2, Perspectivas Históricas, Mundo Cristão, p.59.
176
Leonard, O Protestantismo Brasileiro, p.101, nota 81.
177
Ibid., p.74,75.
178
Ibid., p. 117.
179
Júlio A. Ferreira, História da IPB, vol. I, p.251. A citação original vem do livro de sua autoria, Galeria
Evangélica, p.95-97.
180
Boanerges Ribeiro, Da Autonomia ao Cisma, p.74.
66

Estes missionários sulistas conservaram-se por muito tempo fiéis à


lembrança de sua causa nacional. Diz-se de uma das missionárias da
missão de Nashville, fundadora de um grande colégio, Miss. Charlotte
Kemper, que ela se inspirava no exemplo de Stonewall Jackson, um dos
heróis dos Confederados: ‘Ele não se rendeu, Miss. Charlotte também não
se renderá’. Um outro desses missionários sulistas se havia conservado tão
firme em suas convicções que, quando em 1886, o pastor brasileiro Eduardo
Carlos Pereira publicou uma brochura em favor da abolição da escravatura,
ele escreveu um verdadeiro tratado anti-abolicionista, ou se quisermos
escravagista.181

Duas observações devem ser feitas a respeito do comentário de Leonard:


a) A família de Charlotte fora vítima de abusos do exército nortista, quando ainda
estava nos EUA, por isso guardava profundas mágoas da guerra. O nome do
outro missionário ficou no esquecimento.
b) Contrariando a informação de Leonard, Lessa diz que esse ilustre missionário
sulista, embora tenha se proposto a refutar o livro do Rev. Eduardo Carlos
Pereira, não chegou a escrever a tal refutação e que se o fizesse, “seria
lastimável”.182

CONCLUSÃO.
Encontramos boa literatura a respeito da posição dos missionários da
PCUSA vindos para o Brasil posicionando-se contrariamente à escravidão e a
favor da abolição, mas o mesmo não nos é possível avaliar definitivamente por
enquanto quanto aos missionários da PCUS.
Apesar de serem contrários à escravidão no Brasil, parece-nos que a Igreja
adotou uma postura mais cautelosa quanto à questão, visto haverem vários e
complexos empecilhos ao seu estabelecimento no Brasil, que lhe chamavam mais a
atenção e lhe cobravam esforços de “sobrevivência” até então.
Mesmo assim, deliberou afirmar a sua posição abolicionista em 1886. Mais
uma vez, Eduardo Carlos Pereira foi o seu profeta com a publicação de sua
brochura abolicionista de 1886. Contudo, entristece-nos o fato de que essa decisão
viesse tão tarde, visto que várias leis anti-escravistas já vinham sendo aprovadas
desde 1850 e o movimento abolicionista ganhara mais força no Brasil desde o fim
da Guerra do Paraguai em 1870.
A Igreja foi aberta à participação dos escravos desde o princípio, simpática
ao movimento abolicionista e manifestou o seu regozijo publicamente e
documentalmente (Presbitério do Rio) quando a abolição veio. Preocupou-se não
somente com a abolição, mas também com a educação dos negros após a mesma.

-------------------------------------------------------------------------------------------------

181
Boanerges Ribeiro, Da Autonomia ao Cisma, p.76.
182
Lessa, Annaes da 1ª Egreja, p. 232.
67

15. O PLANO DE UNIÃO E O SÍNODO DE 1888.

Causas da Organização do Sínodo:

1. A ação de John Leighton Wilson:


Missionário na África por 14 anos, antes da Guerra Civil Americana (1861-
1865) era secretário da Junta de Missões Estrangeiras PCUSA (1853-1861), depois
da Igreja do Sul (1861-1885). Foi ele quem enviou Simonton, Blackford e
Schneider ao Brasil (ele visitou Simonton em seu quarto no seminário:
10/10/1857).183
Conforme Boanerges Ribeiro, o Dr. Wilson influenciou a Igreja do Sul a
buscar não a própria propagação, mas o evangelho (na Assembléia Geral em
1876).184 A Igreja do Norte, na Assembléia Geral de 1879, incentiva a união com
outras missões presbiterianas nos campos missionários fora dos Estados Unidos.

2. Congresso da Aliança Mundial de Igrejas Reformadas (1877):


Duncan Reily não cita o local, mas informa que este congresso ajudou “a
criar um espírito de cordialidade e unidade entre os diversos grupos de
presbiterianos e reformados ao redor do mundo.”185

3. O Presbitério do Rio de Janeiro:


As primeiras referências à organização de um sínodo brasileiro aparecem nas
atas do Presbitério do Rio de Janeiro em maio de 1882. Blackford e um pastor
brasileiro (Boanerges Ribeiro não cita quem186) vão conversar a respeito com John
Boyle em Campinas.
A efetivação dessa união esbarrou no problema da Missão do Sul não ter
presbitério organizado no Brasil. O Presbitério organizado anteriormente
(Presbitério de São Paulo) fora dissolvido em 1871 por decisão do Comitee de
Nashville, por crer que a missão brasileira devia ser entendida como uma comissão
especial da Assembléia Geral da PCUS sem poderes para organizar presbitérios.
Dessa forma, de 1872 a 1887 os missionários da PCUS trabalharam no Brasil
jurisdicionados a seus respectivos presbitérios nos Estados Unidos. O novo
presbitério organizado ganhou o nome de “Presbitério de Campinas e Oeste de
Minas”.
Somente em 1884, dois anos depois, Boyle envia uma carta a Blackford com
uma proposta objetiva de um Plano de União “no qual os concílios brasileiros
terão autoridade sobre pastores, igrejas, missionários, escolas, colégios,
colportores”.187 Blackford havia-lhe escrito uma carta queixando-se de seu
“mutismo quanto ao Sínodo e taxando-o de avesso à união”.188 No entanto é
183
A. G. Simonton, O Diário de Simonton – 1852-1866, p.109.
184
Boanerges Ribeiro, A Igreja Presbiteriana do Brasil – Da Autonomia ao Cisma, O Semeador, 1987, p.199.
185
Duncan A. Reily, História Documental do Protestantismo no Brasil, p. 126.
186
Boanerges Ribeiro, A Igreja Presbiteriana do Brasil – Da Autonomia ao Cisma, O Semeador, 1987, p.200.
187
Ibid, p.200.
188
John Boyle, O Evangelista de 5/6/1891. Citado em Boanerges Ribeiro, Ibid.
68

Blackford que acha isso arriscado, mas concorda que os concílios tenham
jurisdição plena sobre as igrejas e os pastores nacionais, e apenas parcial sobre os
missionários estrangeiros.
A aparente apatia de Boyle revelou suas verdadeiras raízes na relutância dos
missionários da PCUSA de se desligarem totalmente de sua igreja mãe. Blackford
reconheceria de forma misteriosa mais tarde: “Muitas razões se associavam para
nos fazerem relutantes em romper nossa conexão com as igrejas mães (Brazilian
Missions, Junho de 1889, p.43)”.189
Mesmo assim, em 1885, o presbitério do Rio oferece um “Plano de União
das Igrejas Presbiterianas do Brasil”, contendo 10 artigos; dos quais 6 são de Boyle
e 4 de Blackford, o qual foi aceito por todos os missionários.
Em 1886 a Assembléia da Igreja do Norte aprova o Plano; e em 1887 a
Assembléia da Igreja do Sul também o fará.
O novo presbitério organizado no Brasil pela PCUS resolveu nomear a John
Boyle e a G. W. Thompson para consultar à Assembléia Geral da PCUS se o novo
presbitério organizado devia filiar-se a um sínodo norte-americano ou aceitar a
proposta do Presbitério do Rio de Janeiro de unirem-se na organização do Sínodo
Brasileiro, que seria independente das Igrejas nos Estados Unidos.190 Uma outra
comissão deveria corresponder-se com as igrejas do Nordeste brasileiro filiadas à
PCUS sobre a formação de um presbitério a fim de se unirem para a formação do
sínodo brasileiro. O Presbitério de Pernambuco foi organizado em 17/08/1887 a
fim de que o Sínodo pudesse ser formado.

4. A Sociedade Brasileira de Tratados Evangélicos:


Fundada em 1883 por iniciativa dos pastores brasileiros (a idéia foi de
Eduardo Carlos Pereira). Deveria ser mantida por contribuições dos crentes (nesta
época adotaram o dízimo como sistema de arrecadação.191
Visava publicar folhetos elaborados pelos pastores brasileiros contendo as
verdades do Evangelho, e ir contra a “literatura corruptora” da época. O objetivo
de Eduardo Carlos Pereira era promover a emancipação da igreja brasileira:
“Acostumados à inércia e à escravidão espiritual teremos, sem dúvida, que lutar
muito para conseguirmos nossa emancipação e autonomia”.192 Os principais
contribuintes são os assinantes do Imprensa Evangélica e membros de várias
igrejas.
O primeiro tratado publicado é de Eduardo Carlos Pereira: “O Culto dos
Santos Anjos”.
Esta Sociedade contribuiu para a realização do Sínodo, pois, mobilizou e
unificou os crentes e igrejas na colaboração financeira; dando vistas de uma

189
Boanerges Ribeiro, A Igreja Presbiteriana do Brasil – Da Autonomia ao Cisma, p.200.
190
Júlio Andrade Ferreira, História da Igreja Presbiteriana do Brasil, vol. I, p.285.
191
Ibid, p. 205, 206.
192
E. C. Pereira, Imprensa Evangélica de 31/08/1883. Citado por Boanerges Ribeiro, A Igreja Presbiteriana do
Brasil – Da Autonomia ao Cisma, p.166.
69

possível emancipação e autonomia das igrejas americanas. Além disso, há o fato


de esclarecer e fundamentar os crentes na Palavra, e evangelizava os não-crentes.

5. Missões Nacionais:
Elaborado pelo presbitério do Rio em 1886, embasado numa “Circular
Educativa” baseada em II Coríntios 8 e 9 que incentiva e exortava os crentes a
sustentarem o trabalho, feita por Chamberlain. Mais uma vez é Eduardo Carlos
Pereira quem demonstra o entusiasmo necessário para fazer o projeto da
emancipação efetivar-se. Ele foi o presidente da comissão executiva do Plano
Os fundos arrecadados por este plano ajudariam às igrejas mais fracas, e
seriam distribuídos assim: 1º) Pastores nacionais; 2º) Evangelistas; 3º) Professores
e seminaristas.
A “Revista das Missões Nacionais” seria o órgão de divulgação do Plano de
Missões. O primeiro número é de 31/01/1887. Ela publicava as atividades das
igrejas locais para que estas se conhecessem.
Este Plano criou unidade, compromisso mútuo, conhecimento mútuo e criou
responsabilidade na contribuição. Colaborando, assim, com a formação do Sínodo.

6. O “abrasileiramento” das igrejas:


Esta expressão foi cunhada por Émile G. Leonard193
No início, a Igreja Presbiteriana era formada em sua maioria por estrangeiros
(americanos, portugueses e outros europeus). Mas, com o passar do tempo,
famílias inteiras de brasileiros foram se convertendo (de todas as camadas sociais).
A conversão de pobres e ricos acaba fortaleceu a brasilidade das igrejas
locais, criando unidade e sinalizando a necessidade de uma igreja nacional.
A Organização do Sínodo Brasileiro.

Os três presbitérios, Rio, Campinas e Oeste de Minas e Pernambuco,


reuniram-se na Igreja do Rio de Janeiro em 6/09/1888 para a organização do
Sínodo do Brasil. A reunião foi presidida pelo Rev. George W. Chamberlain
(PCUSA) e secretariada pelo Rev. J. W. Dabney (PCUS). Fez o sermão de abertura
o Rev. Edward Lane em Lucas 1.32,33.
Como foi dito antes, PCUSA e PCUS tinham uma visão diferenciada quanto
à questão da prioridade da evangelização e do papel dos presbíteros na igreja. A
PCUS dava maior espaço à participação dos presbíteros na liderança da igreja
defendendo a igualdade de status entre pastores e presbíteros no concílio.
Diferentemente da PCUSA ordenavam seus presbíteros mediante a imposição de
mãos e estes participavam igualmente da ordenação com imposição de mãos dos
pastores, além de fazer parte no quórum para o funcionamento dos concílios.194
Quando a PCUS organizou o Presbitério de São Paulo, dissolvido em 1879
por orientação do Comitee de Nashville, houve a participação de quatro pastores e
dois presbíteros. Isso não ocorreu quando a PCUSA organizou as igrejas do Rio,
193
Júlio Andrade Ferreira, História da Igreja Presbiteriana do Brasil, vol. I, p. 269.
194
Adão Carlos do Nascimento. Paz Nas Estrelas, p. 42.
70

São Paulo e o Presbitério do Rio de Janeiro, pois na PCUSA não havia a exigência
constitucional da participação dos presbíteros.
Para a organização do Sínodo Brasileiro, ambas as igrejas se uniram e ficou
acordado que o Sínodo adotaria como norma constitucional o Livro de Ordem da
PCUS, no qual os presbíteros eram contados no quórum dos concílios. Estavam
presentes ao concílio 27 pastores e 5 presbíteros.195
O ato constitutivo foi lido pelo Rev. Alexander L. Blackford, decano dos
presentes, como segue:

Nós, os membros dos Presbitérios do Rio de Janeiro, de Campinas e Oeste


de Minas e de Pernambuco, autorizados pelas Assembléias Gerais de
nossas respectivas igrejas nos Estados Unidos, nos desligamos delas e,
juntamente com as igrejas pertencentes aos presbitérios acima
mencionados, nos constituímos em um Sínodo que deverá ser chamado
Sínodo da Igreja Presbiteriana do Brasil.

Seis artigos estabeleciam os símbolos da igreja e os limites do Sínodo. A


Mesa do Sínodo ficou constituída da seguinte forma:
Moderador: Alexander Latimer Blackford (PCUSA);
Vice-moderador: Edward Lane (PCUS);
Secretário Permanente: Modesto Perestrello Barros de Carvalhosa
(Nacional);
Secretários Temporários: Eduardo Carlos Pereira e João Batista de Lima
(nacionais).
Representavam a PCUSA os pastores: Rev. Charles E. Knox e J. Aspinwall
Hodge. A PCUS não enviou representantes alegando dificuldades financeiras.196 O
Sínodo decidiu desdobrar o presbitério de Campinas e Oeste de Minas, surgindo os
Presbitérios de São Paulo e o de Minas.
Quando da organização do Sínodo a Igreja Presbiteriana do Brasil estava
composta de 60 igrejas e 32 pastores, 12 dos quais brasileiros. Das 60 igrejas, diz-
nos Boanerges Ribeiro: “42 localizavam-se nos limites da diocese de São Paulo e,
todas nas regiões percorridas entre 1865 e 1873 pelo Rev. Conceição”.197 A Igreja
tinha 2.947 membros adultos arrolados (2.249 em São Paulo).
As decisões do Sínodo foram:
 Criação do seminário (8 de setembro: por isso o dia do seminarista), que
deveria funcionar no Rio. Só começa a funcionar em 1891.
 Consagração do Plano de Missões Nacionais (que foi uma das causas do
Sínodo).
 Sugestão de revisão da tradução de Almeida à Sociedade Bíblica
Americana.
 Delimitação e divisão dos presbitérios:

195
Adão Carlos do Nascimento. Paz Nas Estrelas, p.43.
196
Boanerges Ribeiro, A Igreja Presbiteriana do Brasil – Da Autonomia ao Cisma, p. 201.
197
Boanerges Ribeiro, Protestantismo no Brasil Monárquico, Ed. Pioneira, 1973, p.144. Na verdade 46 igrejas
ficavam nos Presbitérios de São Paulo e Minas.
71

1) Pernambuco: ao norte do rio São Francisco; 9 igrejas.


2) Rio de Janeiro: sul do São Francisco até Ubatuba; 5 igrejas.
3) São Paulo: ao sul do rio Tietê, o sul do país, o vale do rio Paraíba até
Cruzeiro (SP) e a Igreja de Campanha (MG); 16 igrejas.
4) Minas: ao norte do rio Tietê (exceto Campanha, MG); 30 igrejas.
 Nomeou Chamberlain como missionário sinódico, para dedicar-se
exclusivamente à evangelização, onde ele achasse mais conveniente.

O grande problema do Sínodo Brasileiro foi seu caráter híbrido e parcial,


pois dava poder eclesiástico às igrejas nacionais, mas o poder financeiro
permanecia com as Missões estrangeiras norte-americanas. Na Atas do Sínodo
registra-se o Artigo II do Ato Constitutivo dizia:

As Igrejas Estrangeiras cooperantes decidirão onde, quando e como


colocarão pessoas e fundos, desde que não contrariem decisão explícita do
Sínodo. Essas igrejas administrarão ditos recursos no país por meio de
“Comissões Locais” (As Missões); os presbitérios respeitarão essa
administração, atenta sua compatibilidade com as prerrogativas
eclesiásticas. As Igrejas Estrangeiras combinarão entre si seu trabalho e
relação no Brasil.198

Dessa forma constituído, o Sínodo polarizou opiniões e ideologias. Agora


havia os missionários do Norte, jurisdicionados ao Sínodo e à PCUSA; os
missionários do Sul, jurisdicionados ao Sínodo e à PCUS e os pastores nacionais,
ávidos por uma emancipação plena.
Preso, como ficou, à tutela financeira das missões americanas, foi criado um
Sínodo de papel, sem poder nem autonomia. O resultado é na prática a inauguração
do terceiro período da história da Igreja Presbiteriana do Brasil: O Período da
Dissensão (1888 a 1903).

198
Actas do Sínodo, 1888, p.5,6. Citado por Boanerges Ribeiro, A Igreja Presbiteriana do Brasil – Da Autonomia
ao Cisma, p.202.
72

Sentados no 1. Rev. John Benjamim Kolb. 4. Rev. John W. Dabney.


2º degrau: 2. Lic. Benedito Ferraz de Campos. 5. Rev. João Ribeiro de Carvalho Braga.
3. Rev. Zacarias de Miranda. 6. Rev. John M. Kyle
7. Rev. Donald C. McLaren. 10. Rev. J. Aspinwall Hodge (delegado
Na 2ª fila: 8. Rev. Charles E. Knox (del americano). americano).
9. Rev. George W. Chamberlain. 11. Rev. Delfino A. Teixeira.
12. Rev. George A. Landes. 16. Rev. Alexander L. Blackford.
13. Rev. John B. Howell. 17. Rev. John Rockwell Smith.
Na 3ª fila: 14. Rev. Belmiro A. César. 18. Rev. Edward Lane.
15. Rev. George W. Butler. 19. Presb. Antônio da Silva Rangel (Mogi-Mirim).
20. Rev. Francis J. Shcneider. 23. Rev. DeLacey Wardalw.
Na 4ª fila: 21. Rev. Antônio B Trajano. 24. Rev. George W. Thompsom.
22. Presb. José de Azevedo Granja. 25. Rev. João Batista de Lima.
26. Rev. Caetano Nogueira Jr.
27. Presb. Manoel da Costa (S. Paulo). 32. Presb. José Antônio de Lemos (Itatiba)
Em pé. 28. Rev. Eduardo Carlos Pereira. 33. Rev. João F. Dagama.
29. Presb. Flamínio A. Rodrigues. 34. Rev. John Boyle.
30. Rev. Emanuel Vanorden. 35. Presb. Wlliam C. Porter.
31. Rev. Modesto P. B. Carvalhosa.

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73

16. O Período da Dissensão – 1888 a 1903 (1906).

a) O Crescimento da IPB Após a Organização do Sínodo.


Em 6 de setembro de 1888 foi organizado o Sínodo da Igreja Presbiteriana
do Brasil, que se tornou assim parcialmente autônoma, desligando-se
eclesiasticamente das igrejas-mães norte-americanas. O Sínodo compunha-se de
três presbitérios (Rio de Janeiro, Campinas-Oeste de Minas e Pernambuco) e tinha
vinte missionários, doze pastores nacionais e cerca de sessenta igrejas. O primeiro
moderador foi o veterano Rev. Blackford. O Sínodo criou o Seminário
Presbiteriano, elegeu seus dois primeiros professores e dividiu o Presbitério de
Campinas e Oeste de Minas em dois: São Paulo e Minas.
Nesse período, a denominação expandiu-se grandemente, com muitos novos
missionários, pastores brasileiros e igrejas locais. O seminário começou a
funcionar em Nova Friburgo, no final de 1892, e no início de 1895 transferiu-se
para São Paulo, tendo à frente o Rev. John Rockwell Smith. A escola Americana
evoluiu para o Mackenzie College ou Colégio Protestante em 1891, continuando
na direção do Dr. Horace Manley Lane. Por causa da febre amarela, o Colégio
Internacional foi transferido de Campinas para Lavras, e mais tarde veio a chamar-
se Instituto Gammon, numa homenagem ao seu grande líder, o Rev. Samuel R.
Gammon (1865-1928).
A primeira escola evangélica do nordeste foi o Colégio Americano de Natal
(1895), fundado por Katherine H. Porter, esposa do Rev. William C. Porter. Na
mesma época, a cidade de Garanhuns-PE começou a tornar-se um grande centro da
obra presbiteriana. Além do trabalho evangelístico, foram lançadas as bases de
duas importantes instituições educacionais: o Colégio Quinze de Novembro e o
Seminário do Norte, hoje sediado em Recife. No final desse período, além de estar
presente em todos os estados do nordeste, a Igreja Presbiteriana chegou ao Pará e
ao Amazonas.
No sul, foi iniciada a obra presbiteriana em Santa Catarina (São Francisco do
Sul e Florianópolis). As igrejas de São Paulo e do Rio de Janeiro passaram a ser
pastoreadas por dois grandes líderes, respectivamente Eduardo Carlos Pereira
(1888) e Álvaro Emídio G. dos Reis (1897). A igreja também iniciou a sua
marcha vitoriosa no leste de Minas. O primeiro obreiro a residir em Alto Jequitibá
foi o Rev. Matatias Gomes dos Santos (1901).
Infelizmente, os progressos desse período foram em parte ofuscados por uma
grave crise que se abateu sobre a vida da igreja. Inicialmente, surgiu uma diferença
de prioridades entre o Sínodo e a Junta de Missões de Nova York. O Sínodo queria
apoio para a obra evangelística e para instalar o Seminário, ao passo que a Junta
preferia dar ênfase à obra educacional, principalmente por meio do Mackenzie
College. Paralelamente, surgiram desentendimentos entre o pastor da Igreja
Presbiteriana de São Paulo, Rev. Eduardo Carlos Pereira, e os líderes do
Mackenzie, Horace M. Lane e William A. Waddell.
74

Com o passar do tempo, o Rev. Eduardo C. Pereira torna-se mais radical em


suas posições, perdendo o apoio até mesmo de muitos dos seus colegas brasileiros
no Sínodo de 1900. Como uma alternativa ao jornal do Rev. Eduardo, O
Estandarte, o Rev. Álvaro Reis criou O Puritano em 1899. Em 1900 foi
organizada a Igreja Presbiteriana Unida de São Paulo, que resultou da fusão de
duas igrejas formadas por pessoas descontentes que haviam saído da igreja do Rev.
Eduardo. Na mesma época, um novo problema veio complicar ainda mais a
situação: o debate acerca da maçonaria.
Em março de 1902, Eduardo C. Pereira e seus partidários começaram a
divulgar a sua Plataforma, com cinco tópicos sobre as questões missionária,
educativa e maçônica. Após pouco mais de um ano de debates acalorados, a crise
chegou ao seu lamentável desfecho, em 31 de julho de 1903, durante a reunião do
Sínodo. Após serem derrotados em suas propostas, Eduardo Carlos Pereira e seus
colegas desligaram-se do Sínodo e formaram a Igreja Presbiteriana Independente.

b) A Monção Smith de 1897.

A Monção Smith foi a principal resolução do Sínodo de 1897, onde o grande


vitorioso foi o Rev. Eduardo Carlos Pereira e o movimento nacionalista.
“Considerando a grande necessidade da evangelização em todo o território do
nosso Sínodo e os muitos campos abertos que não podemos suprir com os meios da
graça;
Considerando as quantias avultadas despendidas nos grandes colégios,
internatos, etc., etc., como meios de propaganda;
Considerando o quase completo malogro de tais instituições entre nós, quer
como meio de propagação da fé, quer como preparação de um ministério evangélico;
Considerando as contendas e amarguras que têm sempre resultado destes
institutos, tirando-nos às vezes o franco apoio e simpatia de nossos irmãos na América
do Norte;
Nós o Sínodo do Brasil, respeitosamente, recomendamos e rogamos às
Assembléias das nossas Igrejas-Mães que o auxílio que quiserem prestar-nos seja no
sentido de ajudar-nos no grande trabalho de evangelização pelos métodos mais diretos,
incluindo o trabalho da educação e preparação de um ministério conforme os planos do
Sínodo, e no sustento de escolas paroquiais para os filhos dos crentes.
Sala das Sessões do Sínodo, São Paulo, julho de 1897.
John Rockwell Smith (PCUS), João Ribeiro de Carvalho Braga, João Vieira Bizarro,
Antônio André Lino da Costa, Bento Ferraz, George E. Henderlite (PCUS), Laudelino de
Oliveira Lima, Franklin do Nascimento, Belmiro Araújo César, João A. de Moura,
Antônio B. Trajano, Herculano E. Gouveia, Fernando J. Pedroso, Álvaro Reis, J.
Zacarias de Miranda, Francisco Lotufo, Alfredo Guimarães, Francisco Palmiro Ruggeri,
Manoel Ribeiro dos Santos, William Calvin Porter, H. S. Allyn (PCUS), John M. Kyle
(PCUSA), Miguel Augusto de Campos, José Antônio Ferreira, Juvenal Chrishner David
Muzel, Joaquim José Coelho,Francisco Roiz Pacheco, Eduardo Carlos Pereira, Isidoro
Manoel Martins, Antônio Ferraz Arruda Neto, João da mata Coelho, José Martiniano
Barbosa.”

A Monção Smith recebeu esse nome por ter sido Smith o primeiro a assiná-
la. Foi assinada por 4 missionários da PCUS, apenas um da PCUSA (Kyle); 13
pastores nacionais; 14 presbíteros. Foram 35 votos favoráveis, 10 contrários e 2
abstenções.
75

Segundo Boanerges Ribeiro199, O Sínodo de 1897 assinala o ponto mais alto


da influência de Eduardo Carlos Pereira na IPB. Kyle, seu aliado, é eleito
moderador e os pastores nacionais e os missionários alinhados com eles, presidem
as comissões. Os missionários de Nova York se vêem marginalizados, sendo
obrigados a registrarem protestos minoritários no contexto das decisões mais
polêmicas.
Boanerges Ribeiro comenta que após o Sínodo de 1897, “a coesão da
minoria e sua tendência de aglutinar os que antes eram neutros aconselhavam
moderação e flexibilidade dos vitoriosos, nos anos seguintes. Contudo, Pereira
radicalizou posições, enquanto Lane, vencedor em Nova Iorque e derrotado no
Sínodo, foi cauteloso”.

c) Eduardo Carlos Pereira e o Movimento Nacionalista.

 Sociedade Brasileira de Tratados Evangélicos.


Fundada em 1883, quando Pereira ainda era pastor em Campanha-MG.
Publicou 17 livros, dos quais 9 eram de autoria de Pereira. Era o prenúncio da
autonomia da IPB.

 Plano de Missões Nacionais.


Aprovado pelo Presbitério do Rio de janeiro de 1886, tinha em vista
despertar nas igrejas brasileiras o sentimento de responsabilidade na
evangelização, promovendo o sustento dos obreiros nacionais através de
compromissos financeiros, ofertas e coletas. O fundo arrecadado seria aplicado
como segue:
1. Sustento de pastores.
2. Sustento de evangelistas.
3. Sustento de professores e estudantes para o ministério ou de qualquer outro
trabalho de evangelização.
Seu principal órgão divulgador era a Revista das Missões Nacionais fundada
sob a liderança de Pereira em 31/01/1887, inteiramente dedicada à campanha do
sustento próprio e da autonomia da IPB frente às igrejas americanas.

 O Seminário em São Paulo.


O Seminário começou a funcionar em Nova Friburgo em 1892, mas teve de
se transferir para São Paulo em 1894. A Igreja de São Paulo foi a principal
ofertante para a aquisição do terreno e a construção do prédio da Rua Maranhão.

 Uma Nova Bandeira.


Escolas paroquiais exclusivas para os filhos dos crentes e preparatórios para
os seminaristas, fora do Mackenzie. Essa bandeira pôs o Seminário em clara

199
Boanerges Ribeiro, A Igreja Presbiteriana no Brasil – da Autonomia ao Cisma, p.332.
76

competição com o Mackenzie, o que não era a pretensão do Sínodo. A Nova


bandeira marca o início da oposição a Pereira.

 A Plataforma de 1902.
Elaborada na casa de Pereira em 21/01/1902, começou a ser veiculada em
fevereiro de 1902. Segundo Boanerges, essa data marca a “travessia do Rubicon”
para Pereira, ou seja, dali ele não poderia voltar mais.200
Texto integral da Plataforma:201
1º Independência absoluta, ou soberania espiritual da Igreja
Presbiteriana no Brasil.
2º Desligamento dos missionários dos presbitérios nacionais.
3º Declaração oficial da incompatibilidade da maçonaria com o
Evangelho de Nosso
Senhor Jesus Cristo.
4º Conversão das Missões Nacionais em Missões Presbiteriais, ou
autonomia dos
presbitérios na evangelização de seus territórios.
5º Educação sistemática dos filhos da Igreja pela Igreja e para a
Igreja.

d) Questões Missionária, Educativa e Maçônica e O Cisma de 1903.

A Guerra de Secessão norte americana influenciou as missões brasileiras,


importando para o Brasil um espírito divisionista e bairrista (nacionalismo
exagerado), culminando nas comemorações do centenário da independência
americana (04/07/1776). Já havia quase um século do início das missões modernas.
O movimento nacionalista brasileiro ia crescendo entre os presbiterianos,
batistas e congregacionais, que desejam a autonomia das igrejas americanas. A
Guerra trouxe a divisão norte/sul norte-americana para as igrejas brasileiras. A
evangelização presbiteriana partia de dois centros norte-americanos: inicialmente,
a evangelização do Brasil era um empreendimento nortista Board de Nova York,
mas depois foi acrescida da contribuição sulista (Comitee de Nashville).
A guerra produziu imigrantes principalmente do sul dos EUA.

200
Boanerges Ribeiro, A Igreja Presbiteriana no Brasil – da Autonomia ao Cisma, p.332.
201
Ibid, p. 373.
77

Norte:
Board de Nova York

Sul: BRASIL
Comitee de
Nashville

1. A Justificativa:
A questão da maçonaria foi apenas uma desculpa. A cisão já existia desde a
instituição do Sínodo em 1888, quando ficou claro que Norte e Sul eram rivais
quanto à liderança da IPB. A maçonaria influenciava a formação político-social no
Brasil. O liberalismo maçon ajudou o fortalecimento da Igreja.

NACIONAIS

NORTE

SUL

2. Razões da Cisão.

a) Espírito Cisório.
Esse espírito é uma herança dos americanos. A postura em relação aos
próprios patriotas gerara animosidades entre o norte e o sul. A evangelização do
Brasil coincidiu (para não dizer “colidiu”) com a época da Guerra de Secessão nos
EUA. A grande maioria dos missionários eram norte-americanos e da região sul,
derrotada na guerra.
Aqui no Brasil, esse espírito cisório dos missionários americanos da primeira
geração, foi passado aos pastores nacionais da segunda geração. Os pastores
brasileiros sempre buscavam tirar proveito das intrigas entre os missionários do sul
e do norte.
Eduardo Carlos Pereira era pastor da segunda geração e achava que a única
forma da IPB desvencilhar disso era a autonomia da Igreja brasileira, a entrega da
liderança aos pastores nacionais.
78

Lembrando que o Colégio de São Paulo era ligado ao Board de Nova York e
o Colégio de Campinas, ao Comitê de Nasville.

b) Metodologia Missionária.
A tensão entre onde investir os recursos financeiros. Evangelismo X Escola.
Os investimentos na educação eram um esforço missionário indireto e a
longo prazo, além de caro. Seu objetivo era produzir um ambiente para que o
Evangelho pudesse ser implantado mais facilmente.
As escolas brasileiras eram católicas e os protestantes eram perseguidos. Os
filhos dos protestantes precisavam de escolas. As escolas americanas ganhavam
boa reputação rapidamente e o respeito social. Haviam inovações, pois homens e
mulheres estudavam juntos e não em classes e/ou escolas separadas (Mackenzie).
Dentro desse aspecto havia também a concorrência de duas escolas, a de
Campinas (Colégio Internacional) e a de São Paulo (Mackenzie).
Eduardo Carlos Pereira militava na frente evangelística. O problema foi a
sua crítica severa ao que acontecia no Mackenzie.

c) Nacionalismo (EUA X Brasil).


Os nacionalistas queriam autonomia “já”, mas os americanos ficavam
adiando esse projeto, pois perderiam o domínio financeiro. O fato era que a hora da
“maioridade” da IPB estava chegando e alguns pastores não atinavam para isso. O
Rev. Eduardo Carlos Pereira era o líder dos nacionalistas dentro da IPB.

d) Questões pessoais.
Havia uma briga pessoal entre o Rev. Álvaro Reis (RJ), que era maçom e o
Rev. Eduardo Carlos Pereira (SP). A igreja de São Paulo elegeu o seu pastor e
alcançou autonomia em agosto de 1888. Surgiu a questão da fundação de um novo
seminário (Colégio Americano) em Campinas-SP. Um grupo queria o Seminário
no Rio e outro em São Paulo. Álvaro Reis assumira o pastorado da igreja do Rio
em 1897 e fundara o jornal O Puritano com a finalidade de concorrer com O
Estandarte. Fora companheiro de Pereira em muitas questões, mas se afastou dele
na questão maçônica e da Nova Bandeira. Arquitetou com Kyle o documento que
provocou a celeuma no plenário de julho de 1903, documento propunha a dentre
outras propostas a retirada total dos missionários dos presbitérios, a eliminação do
rol de membros das igrejas todos os maçons. Depois da reação apresentou um
documento declarando a questão maçônica como “vencida”, ou seja, sem efeito.

e) A Maçonaria.
A questão maçônica não foi a causa principal do cisma. Ela só entrou em
debate em dezembro de 1898 quando o primeiro artigo contrário a ela foi
publicado no Estandarte. A maçonaria foi a causa teológica utilizada para justificar
o cisma. Como justificar um cisma sem um problema doutrinário? A questão
maçônica foi a única encontrada, porque era muito discutida na época.
79

f) A Morte de líderes importantes e/ou a mudança de paradigmas na liderança.

O Rev. Alexander Blackford (PCUSA) falecera em 1890 nos EUA; Edward


Lane (PCUS) fora vítima da febre amarela em Campinas (1892); John Boyle
(PCUS) falecera de um ataque cardíaco fulminante após um incêndio em sua casa
em outubro de 1892 e Miguel Torres (nacionais) também falecera em 1892. Esses
quatro pastores eram os principais líderes da IPB no período inicial das dissensões
que pairavam sobre a IPB logo após a organização do Sínodo Brasileiro (1888).
Como suas mortes aconteceram todas em 1892, exceto a de Blackford
(1890), houve uma mudança abrupta de paradigmas na liderança da IPB.
Blackford e Boyle haviam sido os mentores da unificação do trabalho
presbiteriano no Brasil e, segundo Boanerges Ribeiro,202 Miguel Torres exercia
uma liderança natural e respeitada sobre os pastores nacionais, especialmente sore
Eduardo Carlos Pereira.
Embora não se possa apontar esse fato como uma causa direta do cisma, sua
menção não pode passar despercebida.
Júlio Andrade Ferreira considera o ano de 1892 como um ano fatídico na
história da IPB.203

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17. Brigas e Ressentimentos 1903-1906.

a) Organização da IPI.
No dia 1º de agosto de 1903, os independentes organizaram o seu
presbitério, com quinze presbíteros e sete pastores (Eduardo C. Pereira, Caetano
Nogueira Jr., Bento Ferraz, Ernesto Luiz de Oliveira, Otoniel Mota, Alfredo
Borges Teixeira e Vicente Temudo Lessa). As igrejas de São Paulo, Campinas, S.
Bartolomeu, Cabo Verde, Lençóis, Borda da Mata, Ribeira do Veado, Matão-PR,
Mogi-Mirim (apenas um membro), Cruzeiro, Bela Vista e Avaré (presentes ao
Sínodo). Depois acrescentaram as igrejas de Campestre e Itatiba-MG. Outras
202
Boanerges Ribeiro, Da Autonomia ao Cisma, p. ??
203
Júlio Andrade Ferreira. História da IPB, vol 1, p. ??
80

igrejas adeririam ao movimento independente ao depois. Os que permaneceram


fiéis ao Sínodo da IPB, eram chamados de “Sinodais”, e os que formaram a IPI, de
“Independentes”. A IPI considerava o Sínodo da IPB herético e o Sínodo
considerava a IPI cismática.
Seguiu-se um triste período de divisões de comunidades, luta pela posse de
propriedades, litígios judiciais. Uma pastoral do Presbitério Independente chegou a
vedar aos sinodais a Ceia do Senhor. O período mais conflitivo estendeu-se até
1906. Em 1907, o Sínodo contava com 77 igrejas e cerca de 6.500 membros; os
independentes tinham 56 igrejas e 4.200 comungantes.

b) Brigas Judiciais.
Ao cisma seguiu-se a polêmica através da imprensa (O Estandarte X A
Revista das Missões Nacionais); Medidas conciliares drásticas; visitação intensiva
de áreas a ocupar numa competição aberta com o outro grupo. Além disso litígios
judiciais tornaram mais amarga e rancorosa a separação. Alista-se abaixo os quatro
casos mais importantes:
 Botucatu-SP
Organizada a 1º/08/1885, era igreja de patrimônio invejável e grande força
evangelística. Foi pastoreada por João Ribeiro de Carvalho Braga, pai do Rev.
Erasmo Braga, até 1900, sendo substituido por Francisco Lotufo. Embora tenha
sido eleito, estranhamente não havia sido empossado no pastorado até à época da
cisão. Em 1901 a questão maçônica irrompeu na igreja e Lotufo era do partido
anti-maçônico. Quando o Sínodo cindiu em 1903, Lotufo não estava presente.
Depois declarou por carta que se desligara do Sínodo, mas que por enquanto não se
ligaria a outra “corporação”. # presbíteros fiéis ao Sínodo entraram na justiça
preventivamente a fim de assegurar posse do templo e da escola paroquial aos
sinodais e destituiram Lotufo do pastorado. O caso foi de fato parar na justiça e os
sinodais ganharam a causa. Os estatutos da igreja declaravam “não terem qualquer
direito a propriedades da Igreja os membros que dela saírem ou forem
excluídos”.204

 Campinas-SP
Organizada a 10/07/1870, pelos missionários da PCUS. A igreja cresceu
vagarosamente. Em 1878, quando inaugurou seu templo tinha apenas 33 membros
comungantes; e em 1889, apenas 50 comungantes. O Rev. Bento Ferraz assumiu o
pastorado parcial da igreja em 1900, que estava quase fechando, cooperando com
ele Ernesto Luiz de Oliveira. Ambos eram professores em escola pública de
Campinas. A igreja cresceu rapidamente chegando a 172 comungantes em julho de
1903. Bento Ferraz havia sido exonerado do ministério a pedido alguns anos antes.
Com a sua eleição foi reintegrado. Uma vez que se tornou independente, o Sínodo
anulou sua reintegração e “colação” (posse) no pastorado e designou o Rev.

204
Boanerges Ribeiro, Igreja Evangélica e República Brasileira, p.66.
81

Flamínio Rodrigues pastor da igreja. Em 9/8/1903, Bento ferraz reuniu a


Assembléia da igreja que declarou ser ele o seu legítimo pastor, unindo-se à causa
independente. Apenas sete membros discordaram (haviam 38 presentes na
assembléia).205 Flamínio entrou na justiça e perdeu. O caso é que diferentemente
do que aconteceu em Botucatu, a Mesa Administrativa da Igreja (Conselho) estava
unida na causa independente. Os sinodais tiveram de adquirir outro terreno e
construir seu templo.
 São Luiz-MA.
O trabalho presbiteriano foi iniciado em São Luis em 1875 por John R.
Smith. O Rev. George W. Butler fixou sua residência ali em 1885, organizando a
igreja em 6/6/1886, inaugurando o templo em julho do ano seguinte, o que foi
construído com generosas doações do salário do próprio Butler. Em 1893, o Rev.
Belmiro César substituiu Butler no pastorado. Não havia representantes da igreja
no Sínodo de 1903. Três presbíteros pressionaram Belmiro a que se posicionasse,
ele porém desejava que a Assembléia esperasse mais 4 meses a fim de encerrar o
ano eclesiástico. A Assembléia foi convocada à revelia de seu pastor e em
24/9/1903, sob instrução do rev. Belmiro, os crentes sinodais se abstiveram de
votar a matéria da cisão, que passou por unanimidade dos que votaram (43 votos).
Belmiro entregou o templo aos independentes sem maior resistência e passou a
reunir os sinodais em sua própria casa. O caso era que os terrenos do templo
estavam em nome do Rev. Butler, pois haviam sido comprados antes da
proclamação da República. O império proibia as igrejas serem pessoas jurídicas e
por isso os terrenos eram adquiridos em nome dos missionários. Butler se recusou
a transferir os terrenos alegando que uma vez que os terrenos foram adquiridos sob
a jurisdição do Sínodo, pertenciam ao mesmo. Os independentes, não tendo outra
saída, entregaram sob protestos as chaves do templo ao Rev. Belmiro. Houve
peleja judicial, mas os Sinodias ganharam em 1º/11/1906. Havendo recurso, o
ganho da causa foi dos Sinodais em 14/06/1907.
 Curitiba-PR.
O Rev. George A. Landes iniciou o trabalho presbiteriano em Curitiba em
1885 obtendo um progresso lento e sofrido. Landes e Thomas J. Porter
inauguraram o templo em 12/01/1896. A igreja fora organizada a 1º/07/1888 com
83 comungantes atingindo 150 em 1897. Em 1898 assume o pastorado o Rev. José
M. Higgins, formado no Seminário de São Paulo, sob a liderança de Eduardo
Carlos Pereira. Higgins “oscilava” na discussão maçônica. Estava nos Estados
Unidos quando o cisma aconteceu em 1903 A separação em Curitiba não foi a
juízo público, pois consumou-se em 2/11/1903. Os independentes propuseram a
reforma dos estatutos no artigo que tratava do patrimônio em caso de dissolução
(art. 26). Landes conseguiu convencer a assembléia a que só votasse essa questão
depois de resolver a questão maçônica, e que os que discordassem do sínodo não
votasse a matéria da reforma dos estatutos. O resultado foi que os independentes
tiveram que se retirar e o patrimônio ficou com os sinodais, ainda que fossem

205
Ibid, p. 70.
82

minoria. Quando Higgins voltou no final de 1904, arrolou-se no presbitério


independente. Reabrindo as hostilidades conseguiu aplicar em Itaqui-PR a
manobra que os independentes não obtiveram êxito em Curitiba. Em Itaqui
reformaram os estatutos antes de votar a questão maçônica optando pela
dissidência e conseguindo ficar com o patrimônio.

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18. A EXPANSÃO DA IPB ATÉ 1888: AS PRIMEIRAS IGREJAS E SEUS


PERSONAGENS – UMA AVALIAÇÃO.

No início, o processo de organização das igrejas era bastante simples e


informal. Com freqüência, a igreja era considerada organizada quando se recebiam
os primeiros membros por profissão de fé e batismo. Foi o caso da igreja do Rio de
Janeiro. No dia 12 de janeiro de 1862, o Rev. Ashbel G. Simonton recebeu dois
homens por profissão de fé, um americano e um brasileiro, e escreveu no seu
Diário: "Assim, organizamo-nos em igreja de Cristo no Brasil". Só mais tarde eram
eleitos os primeiros oficiais (1866). Com o tempo, passou a existir uma diferença
entre fundação e organização. A primeira era a ocasião do início dos trabalhos da
igreja e o recebimento dos primeiros membros e a segunda o estabelecimento
formal da igreja, com a eleição dos primeiros oficiais.
A partir de 1863 buscou-se atingir São Paulo. Em 1864, Com ex-padre José
Manoel da Conceição o presbiterianismo avançou para o interior de São Paulo
(oeste e norte).
Em 03/1865 foram batizados 6 paulistas após três anos. Em 1865 as três
igrejas pioneiras estavam assim compostas:
 Rio - 60 comungantes.
 São Paulo - 22 comungantes.
 Brotas - 60 comungantes + 22 não comungantes.
Simonton faleceu em 1867 (34 anos) vítima de febre amarela, contudo legou-
nos:
 A primeira Igreja Presbiteriana - 1862.
 O Jornal Imprensa Evangélica - 1864.
 O primeiro Presbitério = 1865.
 O primeiro Seminário - Rio - 1867.
 A primeira escola paroquial Presbiteriana.
Em 1865 formou-se o primeiro presbitério (Rio de Janeiro = PCUSA),
ligado ao Sínodo de Baltimore. Em 1872 foi organizado o presbitério de São Paulo
= PCUS, que se desdobraria nos presbitérios de Campinas e Leste de Minas, sendo
dissolvidos por decisão da PCUS em 1877.206 Por ocasião do Sínodo, houve nova

206
Júlio A. Ferreira, História da IPB, vol. 1, p.168, 284.
83

oraganização, voltando a se chamar Presbitério de São Paulo com uma nova


organização geográfica das igrejas.
Nas décadas de 70 e 80, a igreja cresceu muito no nordeste. Embora as
igrejas nordestinas fossem muitas por ocasião do Sínodo de 1888, eram igrejas
financeiramente muito pobres. As Igrejas do nordeste comporiam o Presbitério de
Pernambuco. As datas a seguir se referem ao ano em que o estado foi alcançado.
1859 – Rio de Janeiro
1863 – São Paulo.
1869 – Minas Gerais.
1872 – Bahia.
1878 – Pernambuco.
1883 – Ceará.
1884 – Paraná, Paraíba e Sergipe.
1885 – Rio Grande do Norte.
1886 – Maranhão.
1887 – Rio Grande do Sul e Alagoas.
1893 – Goiás (Santa Luzia de Goiás). O trabalho foi iniciado em 1884.
1900 – Santa Catarina.
1902 – Espírito Santo.
1903 – Pará e Amazonas.
1913 – Mato Grosso.
1954 – Tocantins – Cristalândia.
Em 6 de setembro de 1888 reuniu-se o 1º Sínodo, tornando-se a IPB
independente eclesiasticamente dos EUA. Contava com 12 pastores brasileiros e
20 americanos. Estava organizada a IGREJA PRESBITERIANA DO BRASIL.
Estava composta de quatro presbitérios (Rio de Janeiro, São Paulo, Pernambuco e
Minas). No final de 1900, a IPB já contava com 48 pastores brasileiros.
A lista abaixo inclui a data da organização, o nome da igreja e os pastores
organizadores. Infelizmente, a lista tem muitas lacunas, porque nem sempre os
dados eram preservados e comunicados para publicação. É provável que muitas
datas contenham erros, bem como haja imprecisões quanto aos organizadores.
Além disso, algumas igrejas, principalmente de lugares afastados do interior,
devem ter sido omitidas. A principal fonte das informações abaixo é o livro do
primeiro historiador do presbiterianismo brasileiro, Rev. Vicente Themudo Lessa,
Anais da Primeira Igreja Presbiteriana de São Paulo, publicado em 1938. O
período coberto vai até o cisma presbiteriano, ocorrido no dia 31 de julho de 1903.

Da Organização da Primeira Igreja ao Sínodo de 1888:207

DATA IGREJA ORGANIZADORES


12-01-1862 Rio de Janeiro (RJ) A.G. Simonton, F.J.C. Schneider.
05-03-1865 São Paulo (SP) A.L. Blackford.
207
Alderi S. Matos, As Primeiras Igrejas Presbiterianas no Brasil (1862-1903). Monergismo.com.br, acesso em ??
84

13-11-1865 Brotas (SP) A.L. Blackford, J.M. Conceição.


17-05-1868 Lorena (SP). A.L. Blackford
23-05-1869 Borda da Mata (P. Alegre, MG) R. Lenington, Emanuel N. Pires.
01-09-1869 Sorocaba (SP). A.L. Blackford
26-06-1870 Hopewell/Santa Bárbara (SP) J.R. Baird, W.C. Emerson.
10-07-1870 Campinas (SP) G.N. Morton, E. Lane.
19-03-1872 Petrópolis (RJ) A.L. Blackford, J.F. Dagama.
21-04-1872 Salvador (BA) F.J.C. Schneider.
16-03-1873 Rio Novo (SP) J.F. Dagama.
13-04-1873 Rio Claro (SP) J.F. Dagama.
20-04-1873. Caldas (MG) G.W. Chamberlain
10-01-1874? Penha (Itapira, SP) Edward Lane.
27-09-1874 Machado (MG) M.P.B. Carvalhosa.
14-12-1874 Cruzeiro/Embaú (SP) M.P.B. Carvalhosa, E. Vanorden.
21-03-1875 Dois Córregos (SP) J.F. Dagama.
25-04-1875 São Carlos (SP) J.F. Dagama.
12-09-1875 Cachoeira (BA) J.T. Houston, F.J.C. Schneider.
11-03-1877 Campos (RJ) A.L. Blackford, M.P.B. Carvalhosa.
11-08-1878 Recife (PE) J.R. Smith, A.L. Blackford.
04-05-1879 Faxina (Itapeva, SP) A.P. Cerqueira Leite.
03-06-1879 Araraquara (SP) J.F. Dagama.
21-11-1880 Goiana (PE) J.R. Smith.
28-11-1880 Ubatuba (SP) A.B. Trajano.
15-12-1880 Lençóis (SP) G.W. Chamberlain.
1880? Mogi-Mirim (SP) ??
23-05-1881 Cabo Verde (MG) Miguel Gonçalves Torres.
26-10-1881 Areado (MG) Miguel Gonçalves Torres.
12-06-1882 Guareí (SP) Antonio Pedro de Cerqueira Leite.
29-04-1883 Itatiba (SP). John W. Dabney
08-07-1883 Fortaleza (CE) De Lacey Wardlaw.
06-04-1884 Campanha (MG) Eduardo Carlos Pereira.
09-11-1884 Fundão (PR) Robert Lenington.
07-12-1884 Tibagi (PR) Robert Lenington.
21-12-1884 Paraíba/João Pessoa (PB) John Rockwell Smith.
28-12-1884 Laranjeiras (SE) Alexander Latimer Blackford.
11-01-1885 Pirassununga (SP) João Fernandes Dagama.
10-05-1885 Itapetininga (SP) Zacarias de Miranda.
01-08-1885 Botucatu (SP) George A. Landes.
??-07-1885 Mossoró (RN) DeLacy Wardlaw.
23-08-1885 2ª do Rio de Janeiro (RJ) A.B. Trajano, J.M. Kyle.
06-06-1886 São Luís (MA) George W. Butler.
06-03-1887 Rio Grande (RS) Vanorden, Chamberlain, Menezes.
18-08-1887 Pão de Açúcar (AL) J.R. Smith, José Primênio.
11-09-1887 Maceió (AL) J.R. Smith, José Primênio.
08-04-1888 Monte Alegre (PB) Belmiro César.
01-07-1888 Curitiba (PR) George A. Landes.
29-07-1888 Castro (PR) George A. Landes.
29-07-1888 Tatuí (SP) Zacarias de Miranda.
29-10-1888 Cana Verde (MG) Eduardo Carlos Pereira.
85

Do Sínodo ao Cisma:

DATA IGREJA FUNDADORES


17-02-1889 Guarapuava (PR) Modesto P. B. Carvalhosa.
31-03-1889 São João da Boa Vista (SP) Delfino Teixeira, W.L. Bedinger.
14-04-1889 Jaú (SP) John Beatty Howell.
13-08-1889 Santa Cruz do Rio Pardo (SP) J.R. Carvalho Braga.
29-12-1889. Itaqui (PR) Modesto P. B. Carvalhosa
27-07-1890 Bela Vista de Tatuí (SP) Zacarias de Miranda.
07-08-1890 Fartura (SP) Carvalho Braga, Zacarias de Miranda.
10-08-1890 Espírito Santo do Pinhal (SP) Delfino Teixeira, Álvaro Reis.
24-01-1891 São Sebastião da Grama (SP) Delfino Teixeira, Álvaro Reis.
27-09-1891 Boa Vista do Jacaré (SP) João Fernandes Dagama.
08-05-1892 Sengó (Pouso Alto, MG) Manoel Antonio de Menezes.
18-06-1893 Bagagem (MG) Álvaro Reis, Caetano Nogueira Jr.
02-07-1893 Paracatu (MG) Álvaro Reis, Caetano Nogueira Jr.
16-07-1893 Santa Luzia de Goiás (GO) Álvaro Reis, Caetano Nogueira Jr.
16-08-1893 Araguari (MG) Álvaro Reis, Caetano Nogueira Jr.
15-10-1893 Areias, Recife (PE) W.C. Porter, Juventino Marinho.
18-10-1893 2ª de São Paulo (SP) W.A. Waddell, F.J. Perkins.
21-01-1894 Riachuelo, Rio (RJ) Lino da Costa, Chamberlain, Rodgers.
10-02-1895 Palmeiras (Matão, SP) Herculano de Gouvêa.
05-09-1895 Rib. do Veado, Pederneiras (SP) João Vieira Bizarro.
10-09-1895 Ribeirão Claro, Iacanga (SP) João Vieira Bizarro.
03-02-1896 Natal (RN) W.C. Porter, G.E. Henderlite.
22-08-1896 Tietê (SP) Zacarias de Miranda.
09-12-1896 Taquari, Itaju (SP) Francisco Lotufo.
??-04-1897 Cajuru (SP) Álvaro Reis, Lino da Costa.
30-10-1897 Campestre (MG) Bento Ferraz.
21-09-1898 Nova Friburgo (RJ) John M. Kyle, Álvaro Reis.
01-02-1899 Niterói (RJ) Á. Reis, Franklin do Nascimento.
10-09-1899 Matão (PR) ??
22-09-1899 Filadelfa, São Paulo (SP) Zacarias, Francisco Lotufo.
21-01-1900 Canhotinho (PE) George Butler, Juventino Marinho.
22-01-1900 Garanhuns (PE) George Butler, W.C. Porter.
13-05-1900 Piumhi (MG) S.R. Gammon, Álvaro Reis.
26-08-1900 Unida de São Paulo (SP) Carvalhosa, Zacarias.
24-09-1900 São João da Cristina (MG) M.A. Menezes.
14-10-1900 Juquiá (SP) Modesto Carvalhosa.
20-10-1900 Cabo Verde/S.Bartolomeu (MG) Caetano Nogueira.
18-12-1900 São Francisco do Sul (SC) R.F. Lenington.
06-01-1901 Florianópolis (SC) J.T. Houston, R.F. Lenington.
14-04-1901 Lençóis (SP) – reorganizada Francisco Lotufo.
10-11-1901 São Manuel (SP) Francisco Lotufo, V.T. Lessa.
04-12-1901 Barra Alegre (RJ) Álvaro Reis, J.M. Kyle.
13-12-1901 Aracaju (SE) G.W. Chamberlain, W.E. Finley.
09-03-1902 Alto Jequitibá (MG) Álvaro Reis, Matatias G. Santos.
86

07-09-1902 Palmeiras (BA) William A. Waddell??


28-09-1902 Orobó (BA) William A. Waddell??
05-11-1902 São João Nepomuceno (MG) Á.Reis, J.Ozias, H.Allyn, A.Hardie.
07-11-1902 São João del Rei (MG) Á.Reis, J.Ozias, H.Allyn, A.Hardie.
04-01-1903 Italiana de São Paulo (SP) ??
11-01-1903 Atibaia (SP) Modesto Carvalhosa.
26-04-1903 Gileá (PE) ??
12-07-1903 Palmares (PE) Benjamin Marinho, M. Oliveira.

Problemas Iniciais do Crescimento da IPB208

Avaliando as principais características do trabalho missionário presbiteriano


no Brasil, podem-se destacar pelos menos três características principais:
1. Fruto do reavivamentismo norte-americano = pregação de Charles Hodge.
2. Marcado pelos efeitos da Guerra da Secessão no trabalho dos missionários
norte-americanos.
3. Controvérsia com o catolicismo em função do Padroado.
A IPB foi a Igreja que mais cresceu no Brasil no século XIX, perdendo essa
condição por volta de 1930, no início do século XX, para os batistas.
O que a levou a perder essa vantagem?
A valorização do obreiro nacional certamente foi a causa do crescimento
inicial promissor da IPB. José Manoel da Conceição já era conhecido nas cidades
onde fora padre e passara pregando o evangelho.
Outro fator importante foi a ênfase de Simonton no trabalho entre a classe
média. Kalley trabalhou mais com a classe rica do Rio de Janeiro.
Na década, o Brasil recebeu cerca de 20 mil imigrantes letônios e lituanos
fugindo das conseqüências da revolução socialista russa. A grande maioria deles
era batista.
Alguns fatores que contribuíram para a perda dessa vantagem foram:
1. A Questão do Preparo de Obreiros.
A capacidade de desenvolvimento está ligada a modelos já existentes no
campo. A IPB tinha uma grande preocupação com a formação dos obreiros.
Faltava material humano.
Com o crescimento mais acelerado, após a conversão de José Manoel da
Conceição, indo em direção ao interior, o trabalho passa a ser dirigido por leigos
com formação menor.
Alguns campos ficavam sem pastores logo após a sua fundação. Os
discípulos de José Manoel da Conceição foram levados para o seminário e o campo
ficou sem pastores (ex. Brotas). Sem o prosseguimento, o trabalho não se
desenvolveu.

2. A Formação da liderança nacional.

208
Anotações em sala de aula de História da IPB, Rev. Jôer Correia Batista, de 07/11/1990. Anotações da prova
aplicada em 28/11/1990.
87

O sistema presbiteriano exige uma formação de hierarquia local para formar


o Supremo Concílio. A “lentidão” no crescimento foi devido à dificuldade de
formação de liderança. Ainda assim, na IPB, a liderança nacional se formou antes
que nas outras denominações que atuavam no Brasil.

3. A Visão Missionária.
Os missionários americanos pensavam numa evangelização mais lenta. Os
investimentos na educação eram um esforço missionário indireto e a longo prazo,
além de caro. Seu objetivo era produzir um ambiente para que o Evangelho
pudesse ser implantado mais facilmente. A maioria dos obreiros era canalizada
para as escolas e não para o campo.

4. Divisão Interna (O Cisma de 1903).


Os missionários americanos vinham do norte e do sul dos EUA. Um grupo
funda o Colégio de Campinas e o outro o Colégio Americano. Haviam muitas
diferenças entre os próprios missionários americanos que acabavam de sair de uma
guerra civil entre o sul e o norte nos EUA (A Guerra de Secessão), e
principalmente as questões teológicas referentes à nova Escola e Velha Escola.
Os pastores brasileiros eram o fiel da balança e procuravam tirar proveito
disso.
Esse problema vai produzir o cisma de 1903 e o surgimento da IPI. O cisma
da IPI fez com que a IPB perdesse muitos lideres de visão, obrigando-a a se
reorganizar. Grande parte do crescimento inicial da IPI veio por adesões de Igrejas
e pastores antes filiados à IPB.

---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
88

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__________, Simonton e Seus Companheiros.
__________, Vultos Presbiterianos – Chamberlain e Blackford.
91

APÊNDICE 1 = PRESBITÉRIOS DA IPB ATÉ 1945.

Presbitérios da IPB até 1945.


Presbiterianismo no Brasil, Comissão Presbiteriana Unida do Centenário,
CEP, São Paulo, 1959, p.18,19.
92

Apêndice 2 = O Uso da Sarça Como Símbolo da IPB

O artigo da Wikipedia sobre a sarça ardente ("Burning Bush") informa que


ela se tornou um símbolo popular entre as igrejas reformadas desde que foi pela
primeira vez adotada pelo huguenotes em 1583, em seu 12º sínodo nacional, na
França. O lema então adotado, "Flagor non consumor" ("Sou queimado, mas não
consumido") sugere que o símbolo foi entendido como uma referência à igreja
sofredora que ainda assim sobrevive. Todavia, visto que o fogo é um sinal da
presença de Deus, aquele que é um fogo consumidor (Hb 12.29), esse milagre
parece apontar para um milagre maior: o Deus gracioso está com o seu povo da
aliança e assim ele não é consumido. O atual símbolo da Igreja Reformada da
França é a sarça ardente com a cruz huguenote.

A sarça ardente também é o símbolo da


IP da Escócia (desde os anos 1690, com o lema
"Nec tamen consumebatur" - E não se
consumia), da IP da Irlanda (com o lema
"Ardens sed virens" - Queimando mas
florescendo), da IP do Canadá, da Austrália, da
Nova Zelândia, de Taiwan, de Singapura, da
Malásia, da IPB e das Igrejas Cristãs
Reformadas da Holanda.

http://en.wikipedia.org/wiki/Burning_bush. Acesso em 21/11/2014.

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