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MEDIÇÕES HIDROLÓGICAS

PROF. DANIEL RIGO


rigo@npd.ufes.br

Departamento de Engenharia Ambiental


Universidade Federal do Espírito Santo

2007
MEDIÇÕES HIDROLÓGICAS

1 - INTRODUÇÃO

Por que medir?


– Informação: a base da Gestão de Recursos Hídricos.

A aquisição de informações adequadas sobre a quantidade e qualidade dos Recursos


Hídricos constitui-se em um dos pilares da implantação da atual Política de Recursos
Hídricos (nos níveis Federal e Estadual). Os mecanismos de Outorga e Cobrança serão
eficazes ao longo do tempo se a disponibilidade hídrica puder ser avaliada com segurança,
o que somente pode ser obtido com medições de dados hidrológicos. Além disso, a gestão
de qualquer processo produtivo que dependa de disponibilidade hídrica necessita de
informações sobre quantidade e qualidade da água.

A disponibilidade hídrica está relacionada não somente à quantidade da água disponível,


mas também a sua qualidade, uma vez que padrões mínimos de qualidade determinam os
usos da água: preservação de organismos aquáticos e terrestres, abastecimento humano,
dessedentação de animais, irrigação, abastecimento industrial, diluição de efluentes, etc.

Os processos hidrológicos relacionados à quantidade de água variam no espaço e no tempo


e são aleatórios (ou probabilísticos). A precipitação é a força motriz da fase terrestre do
ciclo hidrológico, e sua natureza aleatória significa que a previsão do processo hidrológico
resultante (escoamento superficial, evaporação, etc.) num tempo futuro estará sempre
sujeita a um grau de incerteza que é grande se comparado com a previsão do
comportamento futuro de um solo ou de um edifício, por exemplo. Estas incertezas criam a
necessidade de medições hidrológicas para prover dados observados no local de interesse
(ou o mais próximo possível) para que se possa ter conclusões diretamente de observações
locais.

Do ponto de vista da qualidade de água, esta também varia no espaço e no tempo, mas por
diferentes razões que sua quantidade. Os constituintes existentes em solução (e também em
suspensão) em uma amostra de água são o equivalente ao “curriculum vitae”, pois podem
indicar de onde esta água procede (precipitação, aporte subterrâneo) e com o que esteve em
contato (geologia, vegetação, animais, atividades humanas) durante seu percurso pelo ciclo
hidrológico. Uma vez que a qualidade da água é fortemente influenciada pelas atividades
humanas, seu monitoramento muitas vezes é determinado pela necessidade de avaliar-se o
impacto destas atividades.

O que medir?
– As grandezas de interesse, relativas à quantidade e qualidade de água.

Relativamente à quantidade de água, tendo em vista a Gestão de Recursos Hídricos, as


principais grandezas a serem medidas são:
• Nível d’água: água superficial e subterrânea
• Vazão: água superficial e subterrânea

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Além destas, há outras que dependendo da situação considerada adquirem importância
maior ou menor:
• Precipitação
• Infiltração e Umidade do Solo
• Evaporação e Evapotranspiração
• Temperatura, Umidade Atmosférica, Radiação Solar, Vento e Pressão Atmosférica
• Descarga Sólida

Onde medir?
– Redes de Monitoramento, seus objetivos e escalas de interesse

Redes de Monitoramento podem ter vários objetivos. Entre estes, podemos incluir: prover
uma sinopse dos recursos hídricos; determinar onde parâmetros selecionados demonstram
mudanças ao longo do tempo; detectar problemas atuais ou potenciais, apontando a causa
de problemas atuais e avaliando o efeito de ações corretivas; fazer cumprir a lei, mais
especificamente no que diz respeito às políticas de Recursos Hídricos vigentes.

Com tantos e tão abrangentes objetivos, é necessário um cuidadoso planejamento da Rede


de Monitoramento para assegurar-se a obtenção do máximo de informação para os recursos
que serão aplicados.

A densidade do monitoramento de quantidade e qualidade da água influencia na qualidade


dos dados obtidos, e conseqüentemente nas decisões que serão tomadas com estes. Além
disso, deve-se considerar tanto a eficiência da aquisição de dados quanto o uso da
informação resultante no gerenciamento de recursos hídricos pretendido.

Depois de implementada, uma rede de monitoramento deve ser testada quanto a sua
eficácia de produzir as informações necessárias, e revista periodicamente ou quando se
observar mudanças na região monitorada que justifiquem a revisão de parâmetros, além da
densidade espacial ou temporal de medições. A base de dados gerados por uma rede de
monitoramento pode ser avaliada com técnicas estatísticas para verificar a consistência dos
dados gerados e a necessidade de mudanças na rede.

2 - SEQÜÊNCIA DAS MEDIÇÕES HIDROLÓGICAS


Embora os processos hidrológicos de interesse para a Gestão de Recursos Hídricos variem
continuamente no tempo e no espaço, usualmente são medidos como amostras pontuais,
com as medidas feitas ao longo do tempo em um local fixo no espaço denominado posto
ou estação. Por exemplo, um “posto pluvio-fluviométrico” designa um local onde se
medem precipitações e vazões. A designação “estação meteorológica” indica um local
onde são medidas as principais grandezas meteorológicas como temperatura, umidade,
insolação, velocidade e direção do vento, precipitação, etc. Os dados resultantes formam
uma série temporal, que pode ser tratada com análises estatísticas.

Existem tecnologias disponíveis que permitem que alguns processos hidrológicos sejam
medidos sobre toda uma região ou linha no espaço em um determinado instante. Os dados
resultantes destas medidas formam uma série espacial; estas medidas feitas de forma

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distribuída no espaço são mais freqüentemente obtidas a uma certa distância do fenômeno
que está sendo observado, o que é denominado sensoriamento remoto.

A seqüência de passos usualmente seguida para medições hidrológicas é apresentada na


Figura 1, começando com o dispositivo que detecta ou reage ao fenômeno físico e
terminando com a entrega dos dados ao usuário. Para parâmetros de qualidade de água, a
seqüência é basicamente a mesma, sendo que no caso de amostragem de água para análise
em laboratório introduz-se a “coleta de amostras” como passo inicial. Os passos são:

1. Detecção. Um sensor é um instrumento que traduz o nível ou intensidade de uma


grandeza em um sinal observável. Por exemplo, um termômetro de mercúrio detecta a
temperatura através da expansão ou contração do volume de mercúrio contido num
tubo capilar. Os sensores podem ser diretos ou indiretos:
Um sensor direto mede a grandeza por ela mesma, como no caso de uma régua de
nível; um sensor indireto mede uma variável relacionada à grandeza, como no caso do
termômetro de mercúrio. Muitas grandezas hidrológicas são medidas indiretamente,
como umidade, temperatura e vazão.

2. Registro. Um registrador é um dispositivo ou procedimento que preserva o sinal gerado


pelo sensor. Registro manual envolve simplesmente um observador fazendo leituras do
sensor e anotando-as para futuras referências. Registro automático requer um
dispositivo que aceite o sinal do sensor e o registre num gráfico de papel ou em algum
tipo de memória eletrônica. Registradores de gráficos de papel foram os primeiros tipos
largamente utilizados em medidas hidrológicas, mas têm a grande desvantagem da
tradução do registro para uma forma digital ser um processo tedioso e sujeito a erros. O
armazenamento eletrônico começa a ser cada vez mais difundido, por sua
conveniência, custos cada vez menores e por não necessitar de sistemas mecânicos para
traduzir o sinal do sensor para o registrador.

3. Transmissão. É a transferência do registro de uma estação de registro remoto para uma


estação central. Pode ser feita rotineiramente, como a troca manual do gráfico de papel
a intervalos regulares (diário, semanal ou mensal) e o envio para a estação central. Uma
área em franco desenvolvimento é a de transmissão em tempo real dos dados através
de linhas telefônicas ou satélites (telemetria). Além da vantagem da automação de
procedimentos, este tipo de transmissão permite o acesso contínuo a estações de difícil
acesso. Os meios para transmissão por telemetria podem ser vários: através de redes de
telefonia fixa ou móvel, rádio ou satélites.

4. Tradução. É a conversão do sinal do sensor armazenado no registro em um registro


computacional para armazenamento eletrônico permanente. No caso de gráficos de
papel, consiste na digitalização do gráfico para obtenção dos pares ordenados de
grandeza medida x horário de registro que o compõem.

5. Edição. É o procedimento de verificação dos registros traduzidos para o computador de


modo a corrigir erros óbvios que tenham ocorrido durante qualquer dos passos
anteriores e pode incluir algum tipo de crítica ou análise de consistência para
determinar problemas na produção dos dados, utilizando-se para isso a série histórica
existente.

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6. Armazenamento. Os dados editados são armazenados em arquivos de dados de
computador, que contêm às vezes milhões de dados hidrológicos sistematicamente
compilados em arquivos indexados por local e data de medição. O armazenamento em
papel ainda é uma das melhores soluções para cópia de segurança.

7. Recuperação. Os dados são recuperados para os usuários tanto em formato digital


como em impressões em papel.

Grandeza
Hidrológica
Armazenamento Recuperação

Detecção
Edição
Usuário

Registro Transmissão Tradução

Figura 1: Seqüência das medidas hidrológicas.

No Brasil, medidas hidrológicas são feitas por órgãos públicos federais, estaduais,
empresas de energia elétrica e saneamento, além de instituições de pesquisa. A maior parte
das estações de medição de dados hidrológicos de cunho meteorológico (precipitação,
temperatura do ar, evaporação, etc.) encontra-se atualmente operada pelo INMET, e com
parcerias com entidades estaduais. As medições de vazão líquida e sólida são de
responsabilidade da ANA (Agência Nacional das Águas), que atualmente opera a rede que
no passado foi operada pela ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica).

3 - MEDIÇÕES DIRETAMENTE RELACIONADAS À QUANTIDADE DE ÁGUA


Como grandezas primárias para a Gestão de Recursos Hídricos temos nível e vazão, que
serão a seguir tratadas detalhadamente.

3.1 NÍVEL D’ÁGUA

A medição de níveis d’água em Recursos Hídricos tem muitas aplicações, e entre as mais
importantes são medições em rios, lagos e poços subterrâneos. Em um lago ou reservatório
a medição de nível destina-se a quantificar o volume armazenado, através do uso de uma
curva de nível (ou cota) versus volume. Em um rio o uso desta medida é para a
determinação da vazão, a partir da utilização de uma “curva-chave” (medida indireta de
vazão, descrita a seguir). Em poços de água subterrânea, a medida de nível ao longo do
tempo indica a capacidade de recarga de um aqüífero freático, ou o rebaixamento
provocado pela retirada de água.

Os equipamentos para determinação de nível são os limnímetros (ou réguas limnimétricas)


e os limnígrafos.
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Uma régua limnimétrica é uma escala graduada, de metal ou madeira, cuja extremidade
inferior, denominada “zero da régua”, está sempre mergulhada na água. Quando a variação
de nível é grande é usual instalar, para facilitar a instalação e a leitura, vários lances de
régua, com cada lance de 1 ou 2 m. Uma limitação das réguas é que usualmente são lidas
apenas uma ou duas vezes por dia (em geral às 7 e 17 h) em postos fluviométricos
convencionais, e estas leituras podem não ser representativas da situação média diária.

Figura 2: Réguas limnimétricas e referência de nível.

Os limnígrafos registram continuamente as medidas de nível d’água e podem ser de vários


tipos, como o de bóia ou de pressão. Os limnígrafos de bóia possuem um flutuador preso a
um cabo que transmite o seu movimento, decorrente da variação do nível d’água, a um
eixo que aciona um dispositivo de registro, que pode ser, por exemplo, uma pena que
marca um gráfico de papel ou um potenciômetro ligado a uma memória não volátil. O
exemplo da instalação de um limnígrafo de bóia é mostrado na Figura 3.

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LINÍGRAFO

TUBO DE SUPORTE

ATERRO (TERRA E PEDRA)

POÇO
GRADE DE PROTEÇÃO
BÓIA

Figura 3: Limnígrafo de bóia.

O limnígrafo de pressão utiliza um sensor de pressão que, sensibilizado pela coluna


d’água, fornece uma leitura que indica a posição do nível d’água.

Um cuidado importante para todos os equipamentos de medição de nível é a instalação de


referência de nível nas proximidades, à qual as medidas feitas pelo equipamento estão
relacionadas, possibilitando a conferência das medidas realizadas e a re-instalação do
equipamento quando de substituições ou manutenções.

3.2 VAZÃO

Para as águas subterrâneas, que em sua quase totalidade são retiradas por bombeamento e
conseqüentemente escoam por tubulações, o método mais comum de medição é a
utilização de equipamentos similares aos hidrômetros, que medem o volume de água.
Computando-se o período em que foi medido o volume, tem-se a determinação da vazão
em unidades de volume/tempo. Alguns métodos de medição direta de vazão, como método
volumétrico ou através de vertedores e calhas também podem ser apropriados, dependendo
da geometria do bombeamento.

Um curso de água natural constitui-se, do ponto de vista hidráulico, num canal de seção
transversal variável não prismático. São aplicadas aos cursos d’água as leis da hidráulica
de canais, considerando o escoamento não uniforme e, durante as cheias, também não
permanente. Considerando as limitações geométricas, a disponibilidade de pessoal e
equipamentos adequados, além da freqüência, as medições de vazão podem ser feitas de
vários modos.

⇒ Medidas indiretas de vazão: curva-chave

A medição indireta de vazão consiste na determinação do nível d’água numa seção do rio
para a qual tenha sido determinada uma curva-chave (curva cota-vazão, curva cota-
descarga, curva de descarga), que relaciona a vazão com o nível d’água. A obtenção desta
curva-chave é feita com a medição da vazão (com algum método direto de medição)

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repetidas vezes, com diferentes vazões, e a correlação destas medições com os níveis
d’água no momento da medição. O exemplo de uma curva-chave é mostrado na Figura 4.

Figura 4: Exemplo de curva-chave.

⇒ Medidas diretas de vazão:

• Método volumétrico
• Vertedores e calhas
• Integração de velocidade x área
• Método da diluição: uso de traçadores

Método volumétrico:

Consiste em determinar a vazão medindo-se o tempo necessário para encher um


reservatório de volume conhecido. Este reservatório pode ser um balde, um tanque ou o
reservatório de uma usina hidrelétrica. Este método, se o volume do reservatório é
conhecido com suficiente detalhamento, é dos mais precisos.

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Vertedores e calhas:

A obtenção da vazão utilizando-se vertedores e calhas consiste em instalar um destes


dispositivos na seção do rio e fazer-se a medida de uma cota do nível d’água que, devido à
geometria do dispositivo, está relacionada à vazão. A vantagem destes medidores é que,
por terem sua geometria padronizada, suas curvas-chave determinadas em laboratório
(obtidas em manuais de hidráulica) são diretamente aplicadas para as condições de campo.
A Figura 5 mostra alguns tipos de vertedores.

NÍVEL MÁXIMO
FORMULAÇÃO:

Hmáx
3/2
Q= 1,84.L.H ; onde:
Q=Vazão (m3/s)
X L L=Largura da crista (m)
H=Carga (m)

X
VERTEDOURO RETANGULAR

NÍVEL MÁXIMO
FORMULAÇÃO:
Hmáx

3/2
Q= 1,86.L.H ; onde os símbolos têm
significado idêntico ao acima.
X L
X

VERTEDOURO CIPOLLETTI

ângulo

NÍVEL MÁXIMO
FORMULAÇÃO:
Hmáx

5/2
Q= 1,4.H ; se o ângulo tiver 90 ;
os demais símbolos idênticos aos acima.
X
X

VERTEDOURO TRIANGULAR OU EM V

Figura 5: Alguns tipos de vertedores.

Integração de velocidade x área:

Este é o método internacionalmente utilizado pelos serviços hidrológicos para


determinação periódica de vazão em cursos d’água naturais, inclusive visando a obtenção
de curvas-chave. Para seu emprego, é necessária a determinação da velocidade do
escoamento em diversos pontos da seção transversal do curso d’água. Inicialmente define-
se na seção uma série de linhas verticais e, medindo-se as velocidades em vários pontos ao
longo destas verticais; com este perfil de velocidades na vertical determina-se a velocidade
média na vertical. As velocidades médias na vertical, multiplicadas por uma área de
influência igual ao produto da profundidade local pela soma das semi-distâncias às
verticais adjacentes, fornece as vazões parciais, cuja soma será a vazão total passando pela
seção. A Figura 6 mostra como é feita a definição da área de influência de cada vertical.

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Figura 6: Definição da área de influência da vertical de medição de velocidades.

Em geral, determina-se a velocidade média na vertical por meio de métodos analíticos, em


função do número de medições realizadas e da posição destas ao longo da profundidade.
Há expressões distintas para o cálculo da velocidade média na vertical em função do
número de pontos medidos na vertical.

A medição de velocidades nos pontos é realizada por aparelhos denominados molinetes


hidrométricos (correntômetros, fluxômetros), que em sua quase totalidade consistem de
uma hélice calibrada montada em um eixo, que ao ser rotacionado, aciona algum
dispositivo de contagem de rotações, que são proporcionais à velocidade do escoamento.

Para rios em que a profundidade não permita que as medições sejam feitas a vau, utiliza-se
um barco no qual é suspenso o molinete. Este barco fica preso às margens por um cabo que
é graduado para fornecer as distâncias a partir da margem. Em rios em que não é possível a
fixação de cabos nas margens (por causa da grande largura da seção), o posicionamento da
embarcação é feito com equipamento topográfico ou GPS.

Uma outra tecnologia moderna empregada para a determinação direta da vazão líquida é
através da utilização de um ADCP (Acoustic Doppler Current Profiler – Perfilador de
Correntes Acústico Doppler). Este equipamento, instalado em uma embarcação, permite a
obtenção do perfil vertical de velocidades com o barco em movimento, além de determinar
a profundidade do local onde cada medição é realizada. Assim, ao terminar-se de percorrer
a seção transversal, tem-se tanto a seção transversal determinada quando as medições
necessárias para o cálculo da vazão. Com processamento de dados adequado, ao terminar-
se de percorrer a seção transversal, a vazão líquida é determinada ainda na embarcação.
Este método é o mais recomendado para rios de grande vazão (seções transversais muito
largas e/ou muito profundas).

Método da diluição:

Utilizando-se uma substância que se dilua facilmente na água e que seja facilmente
detectável (traçador), pode-se determinar a vazão fazendo-se uma injeção contínua ou uma
injeção instantânea. Os traçadores mais empregados são corantes fluorescentes, sais e
materiais radioativos.

No caso de uma injeção contínua, uma solução do traçador é introduzida na corrente do rio
continuamente durante um tempo suficientemente longo para que na seção de
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monitoramento rio abaixo as concentrações do traçador atinjam um patamar constante. É
necessário que a seção de monitoramento esteja suficientemente distante para que o
traçador injetado fique homogeneamente distribuído na seção transversal.

Figura 7: Injeção instantânea de traçador fluorescente.

Figura 8: Injeção contínua de traçador fluorescente.

Figura 9: Sistema de injeção contínua de traçador fluorescente.

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Assim, a vazão do rio será dada por:

qC t
Q=
Cr

Q = vazão no rio
q = vazão da solução de traçador injetada
Ct = concentração da solução de traçador injetada
Cr = concentração do traçador na água do rio, quando atingido o patamar

No caso da injeção instantânea, dilui-se uma massa conhecida M do traçador em água e


injeta-se no rio, usualmente num ponto central para obter-se a mistura na seção transversal
o mais rápido possível. São determinadas as concentrações do traçador na água do rio em
uma seção de monitoramento a jusante (onde este já esteja bem misturado) durante todo o
tempo de passagem da nuvem de traçador. A vazão neste caso é dada por:

M
Q=
∑ CΔt
Q = vazão no rio
M = massa de traçador injetada
C = concentrações de traçador no rio
Δt = intervalo de tempo entre as coletas de amostra

Neste caso é importante que os intervalos de amostragens sejam adequados para que a
curva de passagem do traçador na seção de monitoramento fique bem determinada, pois o
denominador da equação acima é a área sob esta curva (gráfico de concentrações versus
tempo).

Além de sua utilização para medição de vazão, os traçadores têm outras aplicações na área
ambiental, dentre as quais podemos citar:

- Determinação de tempos de trânsito de uma nuvem de poluentes.

- Determinação da diluição de poluentes lançados na água (rios, lagos, mar), como por
exemplo a determinação da zona de mistura próxima ao lançamento do poluente ou a
diluição do efluente lançado no mar por emissários submarinos.

- Obtenção de dados sobre a mistura de uma nuvem de poluentes para calibração de


modelos de dispersão (determinação de velocidades e coeficientes de dispersão).

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4 - MEDIÇÕES INDIRETAMENTE RELACIONADAS À QUANTIDADE DE ÁGUA
Além das medidas diretamente relacionadas à quantidade de água, há outras que
dependendo da situação considerada adquirem importância maior ou menor para a Gestão
de Recursos Hídricos, tais como as indicadas abaixo, que serão tratadas em maior detalhe a
seguir:

• Precipitação: utilizada na extrapolação de dados de vazão de um local que tem


medições de vazão e precipitação para outro que tem apenas medições de precipitação,
através de técnicas de regionalização de vazões, ou simulações com modelos chuva-
vazão;
• Infiltração e Umidade do Solo: utilizadas no balanço hídrico;
• Evaporação e Evapotranspiração: utilizadas no balanço hídrico;
• Temperatura, Umidade Atmosférica, Radiação Solar, Vento e Pressão Atmosférica:
utilizadas no cálculo de evaporação e evapotranspiração quando não existem medidas
diretas destas;
• Descarga Sólida: é uma grandeza relacionada tanto à quantidade de água (por sua
influência em volumes de reservatórios) quanto à sua qualidade (sólidos).

4.1 Precipitação

Dos tipos de precipitação existentes, apenas a que se dá sob forma de chuva será tratada
aqui. A medida da chuva corresponde à altura em milímetros da lâmina d’água que seria
acumulada sobre a superfície onde cai caso fosse completamente armazenada ao longo do
tempo e é medida por dois tipos de equipamentos: o pluviômetro e o pluviógrafo.

O pluviômetro é um aparelho dotado de uma superfície de captação horizontal e um


reservatório para acumular a água recolhida ligado a esta área de captação. Em função dos
detalhes construtivos, há vários modelos em uso, sendo o mais difundido no Brasil o tipo
“Ville de Paris” (Figura 10). A água acumulada é medida em horários prefixados
(normalmente às 7 h ou 7 e 17 h) através de uma proveta de medida própria, já graduada
em milímetros. Por seu sistema de coleta e horários de medida, o pluviômetro não detecta a
duração de chuvas curtas (usualmente as mais intensas).

Para contornar esta limitação, instalam-se pluviógrafos, que são capazes de registrar
continuamente ao longo do tempo a chuva num local, sendo utilizados três tipos: o de bóia,
o de balança e o de cubas basculantes (Figura 11). A diferença entre estes tipos está na
geometria dos dispositivos utilizados para quantificar as pequenas frações de precipitação
ao longo do tempo.

Estes pluviógrafos podem fazer registro em papel, e mais recentemente fazem registro
digital (principalmente o de cubas basculantes).

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- PLUVIÔMETRO TIPO "VILLE DE PARIS"

BACIA DE RECEPÇÃO
CRIVO

BRAÇADEIRA

RESERVATÓRIO

BRAÇADEIRA

POSTE DE
1.50m

SUSTENTAÇÃO

REGISTRO

PROVETA
PLUVIOMÉTRICA

Figura 10: Pluviômetro.

Figura 11: Vista interna de pluviógrafo de cubas basculantes.

4.2 Temperatura e Umidade

• Temperatura

Os termômetros usados em medidas hidrológicas são de vários tipos, dependendo do meio


onde farão a medida e se é uma medida automatizada ou não. Os equipamentos mais
comuns que eram utilizados (ainda encontram-se em estações mais antigas, não
automatizadas) são os termômetros de mercúrio e álcool, mas atualmente usam-se mais os
termômetros baseados em termopares e termistores.
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Para obter-se uma temperatura correta do ar, é importante que o termômetro utilizado
esteja exposto apropriadamente, devendo ser colocado em um aberto local onde a
circulação do ar não seja obstruída, mas não pode estar diretamente exposto ao sol ou à
chuva.

Figura 12: Termômetros de máxima e mínima (mercúrio)

Figura 13: Termômetros para solo, ar e água (termopares)

• Umidade atmosférica

Umidade atmosférica é uma medida da quantidade de vapor de água na atmosfera, e é uma


das medidas hidrológicas menos precisas, principalmente por causa dos equipamentos
usualmente disponíveis para sua medida. Pode ser tratada como uma grandeza absoluta
(umidade absoluta, medida usualmente em g/m3), mas é mais freqüente seu emprego como
umidade relativa. Esta é a relação entre a quantidade de vapor de água presente no ar e a
quantidade deste vapor no mesmo volume se este estivesse saturado, expressa em
porcentagem:

U% = 100 e / es (T) , onde:

e = pressão (ou tensão) do vapor de água


es (T) = pressão de vapor de água de saturação à temperatura T

A umidade é geralmente medida com um psicrômetro (Figura 14) que é constituído de dois
termômetros. Um dos termômetros tem seu bulbo envolvido por uma gaze que é mantida
úmida por capilaridade, com uma de suas extremidades num reservatório com água.

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Alguns psicrômetros têm os termômetros ventilados, usualmente com um pequeno
ventilador, e outros têm ventilação natural. Por causa da evaporação da água, a leitura do
termômetro de bulbo úmido é menor do que a leitura do termômetro de bulbo seco, e esta
diferença medida em graus Celsius é proporcional à umidade e denominada depressão do
bulbo úmido. Pelo uso de tabelas apropriadas (tabelas psicrométricas), a umidade (absoluta
ou relativa), o ponto de orvalho e a pressão de vapor podem ser obtidos a partir desta
diferença de temperaturas.

Um higrômetro de cabelo consiste de uma armação onde fios de cabelo são mantidos a
uma tensão constante. As mudanças no comprimento dos fios são relacionadas às
mudanças na umidade do ar. É um aparelho bem menos preciso do que um psicrômetro.
Um higrógrafo detecta a umidade e também a registra. Um higrotermógrafo (ou
termohigrógrafo) combina o registro da temperatura e da umidade do ar.

Os psicrômetros eletrônicos modernos (Figura 15) fazem a determinação da umidade


atmosférica a partir da mudança nas propriedades eletromagnéticas de uma pequena porção
de ar atmosférico. Estes equipamentos utilizam sensores que conseguem detectar a
mudança de grandezas eletromagnéticas com a variação da quantidade de vapor d’água em
pequeno volume de ar monitorado pelo sensor. Com o uso destes equipamentos tem-se
uma medida elétrica (fácil de ser registrada e transmitida) que é uma função direta da
concentração de vapor d’água no ar atmosférico, e que é calibrada para fornecer leituras da
umidade do ar.

Figura 14: Psicrômetro de bulbo úmido.

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Figura 15: Psicrômetro eletrônico e seu abrigo.

• Umidade do solo

A umidade do solo é uma medida da quantidade de água retida pela matriz do solo. Não é
considerada a água associada aos minerais que constituem o solo.

A maneira mais precisa de realizar esta medida é pelo chamado método gravimétrico, em
que se retira uma amostra de solo, pesa-se, coloca-se para secar em estufa e pesa-se
novamente depois de seco. A diferença dos pesos úmido e seco dividida pelo peso seco da
amostra é a umidade do solo, muitas vezes expressa em porcentagem.

Um outro método consiste de introduzir no solo um equipamento que contém um bloco


poroso (Figura 16), que em pouco tempo adquire uma umidade que pode ser
correlacionada com a do solo à sua volta. A medida das propriedades elétricas deste bloco
(condutividade, resistência elétrica ou capacitância), feita a partir de dois eletrodos
inseridos no bloco poroso, é proporcional à umidade do bloco (e do solo), podendo ser
calibrada para ser utilizada como uma medida da umidade.

Figura 16: Equipamento para medição de umidade do solo (capacitância do bloco poroso),
com sensores para 3 profundidades.

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4.3 Evaporação e Evapotranspiração

• Evaporação

Define-se evaporação como a taxa de transferência para a atmosfera, da fase líquida para a
fase vapor, da água contida em um reservatório natural qualquer (mar, lago, rio, canal).
Esta transferência é condicionada por elementos do clima, sendo os de ação mais
importante a umidade relativa, as temperaturas do ar e da água, a radiação solar e o vento.
São fatores menos importantes a pressão atmosférica e a salinidade da água (a evaporação
diminui com o aumento do teor de sais na água).

A determinação da evaporação pode ser feita de vários modos: balanço de energia, balanço
hídrico, fórmulas empíricas, métodos combinados (como o de Penman) e também por
correlação das medidas de evaporímetros (também chamados atmômetros). É usual
expressar-se a evaporação em milímetros de altura referindo-se este valor a um intervalo
de tempo.

Das grandezas utilizadas para o cálculo da evaporação, quando não conta-se com sua
medição por evaporímetros, as únicas ainda não consideradas neste capítulo foram a
radiação solar, o vento e a pressão atmosférica, que serão consideradas a seguir.

Radiação solar:

A medida da radiação solar é em geral determinada por piranômetros (piranógrafos se


fazem registro) ou por actinógrafos, que fazem medidas diretas; os heliógrafos fazem
medidas indiretas da radiação solar.

O heliógrafo (Figura 17) é constituído de uma esfera de vidro que, concentrando os raios
solares, queima uma folha de papel enquanto houver radiação direta. A partir deste
registro, pode-se determinar a radiação total com o uso da equação do heliógrafo.

Figura 17: Heliógrafo.

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O princípio de funcionamento da maioria dos actinógrafos (“medidores de radiação”) é a
deformação diferencial de duas lâminas bimetálicas: uma negra, absorvente, e outra
branca, refletora. Ao receber a radiação solar, a lâmina negra aquece-se mais pela absorção
da radiação e sua deformação é transmitida a um registrador. É um aparelho simples e
robusto, mas necessita de calibrações cuidadosas e não é muito preciso.

Os piranômetros que utilizam medidas de temperatura diferencial em geral têm duas áreas
distintas (usualmente dois anéis concêntricos), uma enegrecida e outra branca. A diferença
de temperaturas medida entre as duas áreas é proporcional à quantidade de radiação
recebida.

Figura 18: Piranômetros para radiação total e para radiação líquida.

Vento:

Medidas de vento referem-se a sua direção e velocidade. A direção do vento é aquela de


onde o vento está soprando, e é usualmente anotada em termos dos 16 pontos de bússola
(N, NNE, NE, etc.) ou em graus a partir do norte, medidos no sentido dos ponteiros do
relógio. A velocidade do vento é geralmente medida em metros por segundo, a 10 metros
do solo.

Os instrumentos para medida da velocidade do vento são os anemômetros (anemógrafos


registram a leitura), sendo mais comum o anemômetro de canecas de eixo vertical, que
determina o número de giros do eixo na unidade de tempo, que é proporcional à
intensidade do vento.

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Figura 19: Anemômetros.

Pressão atmosférica:

É a pressão exercida sobre uma certa região da superfície da Terra pelo peso do conjunto
de gases da atmosfera num dado instante. É medida por barômetros de mercúrio ou por
barômetros (e barógrafos) aneróides (daí chamar-se também pressão barométrica). O
barômetro de mercúrio baseia-se no equilíbrio da pressão atmosférica por uma coluna de
mercúrio, de onde vem uma das unidades de medida de pressão atmosférica, em alturas de
mercúrio (usualmente mm de Hg).

O barômetro aneróide tem funcionamento similar a um manômetro tipo Bourdon, mas ao


invés de ter uma pequena câmara à qual é ligado o ponto onde se deseja fazer a medida,
como no Bourdon, no aneróide esta câmara é selada com vácuo em seu interior. Assim, as
deformações que esta câmara recebe vindas da pressão exterior (a atmosférica) são
proporcionais a esta pressão. Na Figura 20 apresenta-se um sensor de pressão atmosférica.

Figura 20: Sensor de pressão atmosférica eletrônico (barômetro).

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Evaporímetros:

Medem diretamente a taxa de evaporação, mas suas medidas têm que ser corrigidas para
representar corretamente a evaporação de uma grande massa de água, devido a diferenças
na escala e nos processos que acontecem no equipamento e no corpo d’água. Podem ser de
vários tipos: com corpos de cerâmica porosa (Figura 21), com superfícies de papel úmido
ou ainda tanques evaporimétricos.

Do tipo que usa papel umedecido, o evaporímetro Piche é o mais utilizado. Consta de um
tubo de vidro fechado em sua parte superior, onde existe uma graduação. Na parte inferior
é curvado em forma de U com sua abertura fechada com uma folha de papel filtro mantida
na posição por um disco de metal com uma mola. O aparelho é cheio de água destilada que
se evapora pela folha de papel; mede-se o volume evaporado pela variação do nível
d’água.

Figura 21: Evaporímetro.

Tanques evaporimétricos:

Os tanques evaporimétricos são feitos de chapas metálicas e os mais utilizados são o


Classe A, o GGI-3000 e o tanque de 20 m2. O tanque Classe A tem 1,2 m de diâmetro e
0,25 m de altura e opera sobre um estrado de madeira colocado sobre o solo. O GGI-3000
tem 0,618 m de diâmetro e 0,6 m de altura e opera enterrado no solo. O tanque de 20 m2
tem diâmetro de 5 m e altura de 2 m, operando enterrado no solo. Nestes tanques, além da
medida do nível d’água, são feitas medidas da temperatura da água com um termômetro
flutuante e da velocidade do vento próxima ao tanque, além da precipitação. A umidade e a
temperatura do ar também são medidas, para a comparação dos resultados com tanques
diversos.

A evaporação em um tanque é maior do que a que ocorre num corpo d’água adjacente, e a
diferença é usualmente inversamente proporcional ao tamanho do tanque. A razão entre a
evaporação em um grande corpo d’água e a obtida num tanque é conhecida como
coeficiente do tanque, que é usado para avaliar a evaporação em um lago ou reservatório a

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partir das medidas em um tanque instalado nas vizinhanças. Como a determinação dos
coeficientes dos tanques requer a avaliação da taxa real de evaporação do reservatório a
partir de dados dos escoamentos que entram e saem do reservatório, estes são valores
aproximados. A literatura reporta valores entre 0,6 e 0,8.

Figura 22: Tanque evaporimétrico (à esquerda) e ser sensor de nível (à direita).

• Evapotranspiração

A evaporação do solo mais a transpiração feita pela folhas das plantas é o que se chama de
evapotranspiração, medida com lisímetros. Este é constituído por um tanque de solo
estanque no fundo e nas laterais onde é plantada a vegetação que se deseja estudar, muitas
vezes representando a região à sua volta. A parte superior do tanque é aberta, recebendo a
precipitação local que é medida nas vizinhanças; o solo contido no lisímetro é drenado pelo
fundo e a água recolhida é medida. Também mede-se a variação na umidade do solo no
interior do lisímetro, e a evapotranspiração num certo período de tempo pode ser
determinada fazendo-se o balanço hídrico. Por representarem uma área pequena e com
características muito particulares, os resultados obtidos com lisímetros devem ser
utilizados com reservas.

4.4 Infiltração

Infiltração é a penetração no solo da água precipitada, movendo-se a partir da superfície


sob a ação da gravidade, até uma região do solo saturada de água (com todos os poros
completamente preenchidos de água).

A capacidade de infiltração é definida como a taxa máxima que um solo numa dada
condição pode absorver chuva (expressa usualmente em mm/h). Assim, a capacidade de
infiltração é igual à infiltração observada apenas quando a intensidade da chuva a iguala ou
excede, havendo portanto escoamento superficial. Infiltração total é a quantidade total de
água infiltrada por unidade de área a partir de um dado instante (em geral o início da
chuva) e é expressa em milímetros. Na Figura 23 são apresentadas curvas típicas.

A avaliação da capacidade de infiltração pode ser feita a partir de medidas diretas ou pela
análise dos registros de precipitação e escoamento de uma região. A medida direta é
realizada com aparelhos denominados infiltrômetros.

Os infiltrômetros consistem de tubos metálicos (de 100 a 900 mm de diâmetro), cravados


no solo com uma pequena parte para fora que será preenchida com água de modo a

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permanecer uma camada de 5 a 10 mm sobre o solo. Mede-se o volume de água adicionada
depois de certo tempo para restabelecer o nível anterior para obter a capacidade de
infiltração dividindo-se este volume pelo tempo gasto e pela área interna do infiltrômetro.
Para atenuar a dispersão lateral da água infiltrada, usualmente utilizam-se dois tubos
concêntricos, ambos com água e o tubo externo cravado a uma profundidade maior.

Figura 23: Curvas típicas de capacidade de infiltração.

4.5 Descarga sólida

A descarga sólida total que passa por uma dada seção de um curso d’água é o somatório
da descarga sólida em suspensão (proveniente dos sedimentos em suspensão) e da
descarga sólida por arraste (proveniente dos sedimentos arrastados pelo escoamento junto
ao fundo).

Para a determinação da descarga sólida em suspensão primeiramente deve-se executar a


medição da vazão na seção. Após isso, faz-se a amostragem da água com um amostrador
de sedimento em suspensão para colher amostras da água contendo sedimentos, que serão
analisadas no laboratório para determinação da concentração de sedimentos. Existem
várias maneiras para realizar esta amostragem, mas a mais utilizada é a feita por integração
na vertical.

Os amostradores por integração na vertical (na Figura 24 tem-se um exemplo) utilizam


bicos calibrados, e o movimento de subida e descida do amostrador deve obedecer à
velocidade estudada para cada bico, de modo que a garrafa de amostra não seja
completamente enchida, pois se pressupõe que esta receba a amostra durante todo o seu
percurso.

Uma vez coletada a amostra, a garrafa é retirada do aparelho e guardada para posterior
processamento no laboratório.

As amostragens por igual incremento de largura da seção são as mais utilizadas para rios, e
devem ser utilizadas sempre que possível. Esta amostragem utiliza a mesma velocidade de
trânsito do amostrador em todas as verticais, e como estas têm profundidades diferentes,
leva a volumes diferentes em cada amostra. Este procedimento fornece uma amostra em
cada vertical com um volume que é proporcional à vazão no segmento amostrado; as
diversas amostras podem ser reunidas numa só, para uma única análise de concentração.
Assim, a descarga sólida em suspensão utilizando-se a amostragem por igual incremento
de largura é dada por:

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Qss = Q C , onde:

Qss = descarga sólida em suspensão


Q = vazão
C = concentração de sólidos em suspensão determinada na amostra composta

Quando não for possível a determinação precisa da velocidade de trânsito do amostrador,


faz-se a amostragem por integração na vertical com velocidades diferentes em cada
vertical, tomando-se os mesmos cuidados em relação à escolha do bico adequado e ao não
enchimento total da garrafa de amostra. Com isso, será necessária a determinação das
concentrações nas amostras de todas as verticais independentemente, e o cálculo da
descarga sólida em suspensão será dado por:

Qss = Σ qss = Σ q Cmv L, onde:

qss = descarga em suspensão no segmento


q = vazão no segmento
Cmv = concentração média na vertical no segmento
L = largura do segmento

A determinação da concentração de sólidos na amostra é normalmente realizada com a


pesagem da amostra, filtração em papel filtro adequado, secagem do filtro em estufa,
determinação da massa de sólidos retida no filtro depois da secagem e obtenção da
concentração dividindo-se esta massa pelo equivalente em volume do peso da amostra
original.

Figura 24: Amostrador de sedimento em suspensão tipo US-DH-59.

Uma outra maneira de medir-se a descarga sólida é obtendo-se uma correlação entre
turbidez e sedimentos em suspensão. Consiste na utilização de um turbidímetro para
determinação da turbidez da água e na correlação destas medidas com a concentração de
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sólidos suspensos determinada da maneira já descrita. Depois de feitas várias medições que
permitam o traçado de uma curva de calibração, com uma leitura feita pelo turbidímetro
pode-se determinar a concentração de sedimentos, que juntamente com a medição de vazão
dará a descarga sólida.

Os turbidímetros funcionam pela emissão de luz para a amostra, que dependendo da sua
quantidade de materiais em suspensão, bloqueia a passagem da luz incidente. Uma
fotocélula situada depois da amostra recebe a quantidade de luz que a atravessou, que é
proporcional à concentração de sedimentos em suspensão.

No Brasil são pouco comuns as medidas de descarga sólida por arraste, apesar de sua
importância para a quantificação do aporte de sedimentos em várias situações. Os
equipamentos que realizam esta medida (existem os mais diversos, alguns mais usados na
Europa, outros mais usados nos EUA) usualmente são uma espécie de “armadilha” para o
sedimento que é arrastado pelo escoamento junto ao fundo.

Estes dispositivos são depositados no leito do rio e retirados após algum tempo; a análise
de quanto sedimento ficou retido no amostrador no intervalo de tempo considerado é uma
medida da descarga sólida por arraste neste local da seção transversal. Usualmente são
depositados vários amostradores ao longo da seção, para obter-se uma medida
representativa de toda a seção. Como a presença do amostrador no leito modifica o
escoamento junto ao fundo e conseqüentemente o arraste de sedimentos, são consideradas
correções nas medidas feitas para determinar o transporte por arraste real, sendo que estas
correções dependem do tipo de amostrador utilizado. Mesmo com seu uso as medidas de
descarga sólida por arraste feitas com os equipamentos atualmente disponíveis são bastante
imprecisas.

Uma determinação aproximada da descarga sólida por arraste faz-se através da


amostragem do sedimento do leito e determinação de sua granulometria para, a partir de
equações semi-empíricas e das medidas de velocidade, estimar-se o transporte de
sedimentos por arraste junto ao leito.

5 - MEDIÇÕES RELACIONADAS À QUALIDADE DA ÁGUA


Neste item serão indicadas sucintamente as metodologias existentes e mais usuais para a
determinação dos parâmetros associados a estas características. Conforme indicado
anteriormente, é necessário um cuidadoso planejamento da Rede de Monitoramento para
assegurar-se a obtenção do máximo de informação para os recursos que serão aplicados.

Uma classificação utilizada para os parâmetros de qualidade da água procura tratar


separadamente aqueles que traduzem as seguintes características das águas:
• Características físicas tais como cor, turbidez, temperatura, odor, sólidos, oxigênio
dissolvido, condutividade e radioatividade;
• Características químicas tais como conteúdo orgânico, conteúdo iônico, nutrientes,
metais pesados, compostos orgânicos sintéticos;
• Características biológicas tais como presença de coliformes, ou outros
microorganismos, toxicidade.

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5.1 Características físicas:

• Cor

Causada por materiais dissolvidos e coloidais (diâmetro inferior a aproximadamente 0,001


mm), medida em laboratório com espectrofotômetro ou comparando-se com padrões
(escala de Hazen). A cor real é medida em amostras após centrifugação e filtragem.

• Turbidez

Causada por materiais em suspensão (diâmetro superior a aproximadamente 0,001 mm),


medida em laboratório ou em campo com turbidímetro.

• Temperatura

Medida no campo, com termômetros de mercúrio ou eletrônicos (termistores ou termopar).

• Odor

Medida no campo, e depende da sensibilidade do olfato humano.

• Sólidos

Realizada em laboratório com a filtragem da amostra em membrana (fibra de vidro


especial para sólidos em suspensão), evaporação em estufa, pesagem do resíduo depois da
secagem, calcinação e nova pesagem da cinza resultante. Com esta série de operações
realizada tanto com o que passou pela membrana (sólidos dissolvidos) quanto o que ficou
retido na membrana (sólidos em suspensão) tem-se a quantificação de sólidos dissolvidos
voláteis, sólidos dissolvidos fixos, sólidos em suspensão voláteis e sólidos em suspensão
fixos. Os sólidos totais são a soma destas quatro parcelas.

• Oxigênio dissolvido (OD)

É uma medida da quantidade do gás oxigênio existente em solução na amostra de água. É


realizada em campo com uso de um oxímetro, ou em laboratório com oxímetro ou por
análise química.

• Condutividade

É uma medida da capacidade da água de conduzir eletricidade, dada pela presença de


substâncias dissolvidas. Pode ser medida em campo ou em laboratório, com o uso de um
condutivímetro.

• Radioatividade

É uma medida da energia liberada por átomos que emitem radiação, seja sob forma de
energia pura ou partículas. É medida em campo ou laboratório com contador de
radioatividade (contador Geiger), cintilômetros ou dosímetros.

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5.2 Características químicas:

• Conteúdo orgânico

Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO): mede a quantidade de OD que será consumida


pelos microorganismos aeróbios ao degradarem a matéria orgânica da amostra; é realizada
à temperatura de 20° C em 5 dias, no escuro, em incubadoras no laboratório. A
determinação se dá por diferença de oxigênio dissolvido inicial e final.

Demanda Química de Oxigênio (DQO): mede a quantidade de OD consumido em meio


ácido para degradar a matéria orgânica da amostra, seja ele biodegradável ou não; é
realizada em laboratório com análise química. Pode ser determinado por via úmida (análise
química) ou por espectrofotometria.

• Conteúdo iônico

Medida da concentração do íon na amostra de água. Através de análises químicas são


determinados em laboratório principalmente os íons: cálcio, magnésio, sódio, potássio,
silicatos, sulfatos, sulfetos, cloretos, carbonatos, bicarbonatos. Em laboratório ou no campo
(preferentemente) determina-se o pH.

• Nutrientes

Medida da concentração do nutriente na amostra de água. São determinados em


laboratório, por análise química, usualmente os parâmetros relacionados ao nitrogênio (N
total, N orgânico, N amoniacal, N Kjeldal, nitritos, nitratos) e ao fósforo (P total, fosfatos).

• Metais pesados

Medida da concentração do metal (chumbo, mercúrio, cromo, cádmio, cobalto, cobre,


níquel, zinco, etc.) na amostra de água ou sedimento. São determinados em laboratório
através de espectrometria de absorção atômica ou espectrometria de plasma.

• Compostos orgânicos sintéticos

Medida da concentração do composto na amostra de água. São analisados os produtos


químicos mais variados, incluindo-se defensivos agrícolas. São determinados em
laboratório principalmente através de cromatografia líquida de alta performance ou
cromatografia gasosa.

5.3 Características biológicas:

• Coliformes totais, termotolerantes, Escherichia coli, outros microorganismos

Medidas realizadas em laboratório, com cultura in vitro utilizando meios de cultura


apropriados para a identificação do microorganismo desejado.

• Toxicidade

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Os testes de toxicidade medem os efeitos de determinadas concentrações de um
constituinte que se deseja testar sobre organismos (ou microorganismos) padronizados. São
realizados em laboratório, com o cultivo do organismo, normalmente exposto a várias
concentrações do constituinte a ser testado. Podem ser realizados testes de toxicidade
aguda (duração de 24/48 h, onde se verifica perda de mobilidade ou morte do organismo)
ou crônica (duração de 7 dias, onde se verificam efeitos observados sobre o
desenvolvimento e a reprodução do organismo).

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6 - BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

Applied Hydrology - Chow, V. T., Maidment, D. R., Mays, L. W. – McGraw-Hill, 1988

Applied Hydrology – Linsley, Kohler & Paulhus – McGraw-Hill, 1980

Branco, S.M.: Hidrologia Ambiental - EDUSP, São Paulo, ABRH, 1991

Engenharia Hidrológica – vários autores - Coleção ABRH de Recursos Hídricos Volume 2,


1989.

Hidrologia Básica – vários autores – Ed. Edgard Blücher, 1976

Hidrossedimentologia Prática – Newton de Oliveira Carvalho – CPRM/Eletrobrás, 1994.

Modelos para Gerenciamento de Recursos Hídricos – vários autores - Coleção ABRH de


Recursos Hídricos Volume 1, 1987

Villela, S. M. e Mattos, A.: Hidrologia Aplicada - São Paulo, McGraw-Hill do Brasil,


1975.

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