1. Ouve, atentamente, o programa radiofónico À volta dos livros dedicado a uma publicação do escritor José Jorge Letria.
1.1 Responde às perguntas, assinalando as opções corretas.
“Ao fim da tarde de 29 de setembro de 1759, o céu obscureceu-se de repente na região do arquipélago
Juan Fernandez, a cerca de seiscentos quilómetros ao largo das costas do chile. A tripulação do Virgínia reuniu-
se no convés para ver as pequenas chamas que apareciam no cimo dos mastros e vergas do navio. Eram fogos
de Santelmo, fenómeno devido à eletricidade atmosférica e que anuncia uma violenta tempestade. O Virgínia, a
bordo do qual viajava Robinson, nada tinha a temer, nem mesmo do mais violento temporal. Era uma galeota
holandesa, um barco de formas arredondadas e com mastros baixos, portanto, pesado e pouco rápido, mas de
extraordinária estabilidade mesmo em circunstâncias de mau tempo. Assim, à noite quando o capitão Van
Dayssel viu que uma rabanada de vento rebentara uma das velas como se fosse um balão, deu ordens aos seus
homens para arriarem as outras e se fecharem com ele no interior, à espera que a tempestade passasse. O
único perigo a recear vinha dos recifes ou bancos de areia, mas o mapa não indicava nada do género, e tudo
levava a crer que o Virgínia poderia navegar durante centenas de quilómetros, debaixo da tempestade, sem
encontrar obstáculos.
Por isso o capitão jogava tranquilamente às cartas com Robinson, enquanto o temporal rugia lá fora.
Estava-se em meados do século XVIII, na época em que muitos europeus — principalmente ingleses — iam
radicar-se na América, na mira de fazerem fortuna. Robinson deixara em York a mulher e dois filhos, com o
objetivo de explorar a América do Sul e ver se conseguia organizar trocas comerciais proveitosas entre o seu
país e o Chile. Algumas semanas antes, o Virgínia contornava o continente americano dobrando heroicamente o
terrível cabo Horn, e rumava agora para Valparaíso, onde Robinson queria desembarcar. […]
Nesse mesmo momento, a lanterna suspensa de uma corrente que iluminava a cabina descreveu um
arco de círculo, indo estilhaçar-se de encontro ao teto. Antes de tudo mergulhar em completa escuridão,
Robinson ainda teve tempo de ver o capitão deslizar de cabeça por cima da mesa. Levantou-se e dirigiu-se para
a porta. Uma forte corrente de ar fez-lhe compreender que já não havia porta. O mais aterrador de tudo era
que, depois do constante balanço e vaivém do navio, que duravam havia vários dias, aquele ficara
completamente imóvel. Devia estar encalhado num banco de areia, ou em cima de rochedos. Ao clarão difuso
da lua cheia, Robinson avistou no convés um grupo de homens esforçando-se por lançar à água um escaler de
salvamento. Dirigia-se para junto deles, com o objetivo de os ajudar, quando um choque formidável abalou
todo o navio. Logo a seguir, uma vaga gigantesca despenhou-se sobre o convés e varreu tudo o que nele se
encontrava, homens e material.”
Michel Tournier, Sexta-Feira ou a Vida Selvagem, Ed. Presença [texto com supressões]
3. Estes fenómenos eram provocados pela: 4. Nada havia a temer, por isso:
a) condensação das águas que anunciavam chuvas. a) Robinson e o Capitão jogavam às cartas.
b) eletricidade atmosférica, seguida de tempestade. b) a tripulação passeava pelo convés.
c) solidificação das águas, provocando icebergs. c) os marinheiros pescavam nas águas tumultuosas.
a) “Era uma galeota holandesa, um barco de formas arredondadas e com mastros baixos, portanto pouco
b) “…uma rabanada de vento rebentara uma das velas como se fosse um balão…”
“Quando Robinson voltou a si, encontrava-se deitado, o rosto na areia. Uma onda rolou pelo areal
molhado e veio lamber-lhe os pés. Girando sobre si, deixou-se ficar de costas. Gaivotas negras e brancas
volteavam no céu, de novo azul após a tempestade. Robinson sentou-se com dificuldade e sentiu uma dor
aguda no ombro esquerdo. A praia estava juncada de peixes mortos, conchas quebradas e algas negras, para
ali lançadas pelas vagas. A ocidente, uma falésia rochosa entrava pelo mar dentro e prolongava-se numa série
de recifes. Aí se erguia a silhueta do Virgínia, com os mastros arrancados e os cordames flutuando ao vento.
Robinson levantou-se e deu alguns passos. Não estava ferido, mas o ombro magoado continuava a
doer-lhe. Como o sol começava a queimar, fez uma espécie de chapéu, enrolando algumas das grandes folhas
que cresciam junto à praia. Depois, apanhou um ramo, do qual se serviu como bengala, e embrenhou-se na
floresta.
Os troncos das árvores caídas formavam, com a mata e as lianas que pendiam dos ramos mais altos,
um amaranhado denso onde era difícil penetrar, e frequentemente Robinson via-se obrigado a rastejar para
poder avançar. Não se ouvia o menor ruído, nem aparecia animal algum. Robinson ficou, portanto, muito
admirado quando viu, a uma centena de passos, a silhueta de um bode selvagem de pelo muito comprido que,
imóvel, parecia observá-lo. Deitando fora a sua bengala, demasiado leve, Robinson apanhou um tronco mais
grosso, que poderia servir-lhe de cacete. Quando chegou perto do bode, o animal baixou a cabeça e bodejou
num tom surdo. Pensando que ia ataca-lo, Robinson ergueu a moca e vibrou com toda a força uma violenta
pancada entre os chavelhos do bode. O animal caiu de joelhos e, depois, tombou sobre o flanco.
Após várias horas de penosa marcha, Robinson chegou ao sopé de um maciço de rochedos amontoados
irregularmente. Descobriu a entrada de uma gruta, à sombra de um cedro gigante; só deu, para poder explorá-
la nesse dia. Preferiu escalar os rochedos, para abarcar com os olhos uma vasta extensão. Assim, de pé no
cume do rochedo mais alto, pôde constatar que o mar rodeava por todos os lados a terra em que se
encontrava, onde não havia vestígios de qualquer habitação. Estava, portanto, numa ilha deserta.
Compreendeu então a imobilidade do bode que matara. Os animais selvagens que nunca viram o homem não
fogem à sua aproximação. Pelo contrário, observam-no com curiosidade.
Robinson sentia-se acabrunhado de tristeza e fadiga. Andando ao acaso em torno da base do enorme
penhasco, descobriu uma espécie de ananas selvagem, que cortou com o seu canivete e comeu. Depois,
deslizou para debaixo de uma pedra e adormeceu.”
Michel Tournier, Sexta-Feira ou a Vida Selvagem, Ed. Presença
1. Retira do texto duas frases que comprovem a violência da tempestade da noite anterior.
2. A ação decorre num determinado espaço físico.
2.1 Identifica esse espaço.
2.2 Transcreve uma frase que justifique a tua resposta.
3. Retira do texto uma indicação de localização temporal.
4. De que se alimentou Robinson, nesse dia?
5. Após a leitura das passagens que se seguem, indica o modo de apresentação da narrativa.
[narração, descrição ou diálogo]
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