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sadomasoquista”, afirma o
sociólogo Jessé Souza
Disponível em http://www.gazetadopovo.com.br/vida-e-cidadania/a-
classe-media-e-sadomasoquista-afirma-o-sociologo-jesse-souza-
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Entre suas teses que mexem com o juízo dos detratores está a de que
o maior problema do Brasil não é a corrupção – como proclamam
multidões em fúria, alguns decibéis acima do normal –, mas a
desigualdade. Séculos de convivência com diferenças oceânicas entre
ricos e pobres teriam naturalizado a violação de direitos mais básicos
e o sistema de privilégios para o 1% de endinheirados. Nada de novo,
não fosse o desdobramento de sua afirmação.
Para Souza, paralelo às redes de indignação o que pulsa é o desejo
de desmanchar políticas sociais nascidas de diminuir as distâncias
entre os brasileiros. Não vem de hoje. Foi assim com Vargas, com
Jango e agora com Dilma. As classes médias, afirma, se rendem ao
discurso moralizador sem perceber que estão sendo usadas pelos
donos do capital. Julgando se diferenciar dos corruptos, nada mais
estariam fazendo do que o jogo dos grupos que reivindicam um
Estado que funcione a seu favor. Ao bater as panelas da moralidade,
entende, os médios alimentam a ilusão de que estão mais próximos
das elites, com as quais estabelecem um misto de admiração e
ressentimento. “É uma relação sadomasoquista”, resume.
Jessé Souza – atual presidente do Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada (Ipea) – esteve em Curitiba há duas semanas, para uma aula
magna do curso de Direito da UFPR. As 200 cadeiras do auditório do
Prédio Histórico foram insuficientes para as fileiras de interessados em
ouvi-lo. A maioria teve de se contentar com telões. É tudo novo para o
pesquisador, mas não inesperado. Ao longo de 20 anos, ele se
entregou a uma tarefa quase insana– desmontar o olhar sobre o Brasil
e os brasileiros cunhado por papas como Gilberto Freyre, Sérgio
Buarque e Raymundo Faoro, autores que a seu ver se prestam a
reforçar, sem bases científicas, o sentimento de inferioridade nacional.
Joga água fervendo em máximas como a do brasileiro cordial, dado a
dar jeitinho em tudo e a levantar vantagem. “Essas ideias são
construções que só servem para desencadear nosso complexo de
vira-lata”.
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