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Universidade Federal de Mato Grosso

Instituto de Linguagens
Departamento de Letras
Disciplina: Literatura Portuguesa I
Docente: Ma Lívia Bertges
Discente: Marcos Antônio Marcondes Fonseca

Ensaio: a mitologia no Canto primeiro d'Os Lusíadas

Um dos maiores expoentes da literatura ocidental, a epopeia Os Lusíadas, narra e imortaliza


a bravura e a bandeira portuguesas. A fortuna crítica de tal obra é rica, variada, e abrange as mais
distintas camadas de análise. Um dos grandes pontos de discussão é a presença da mitologia ao
longo dos Cantos.
Esta presença deve-se ao fato de Camões saber que a mitologia greco-romana faz parte da
língua poética do século XVI, em claro débito à literatura clássica. Como então o Poeta faz uso
dessa tradição do maravilhoso pagão que amalgamado ao maravilhoso cristão cria um sincretismo
religioso sem fazer com que o texto sofra com a discrepância entre as crenças?
O presente ensaio propõe uma breve apresentação dessa inserção do mítico pagão na obra
quando descreve a viagem de Vasco da Gama, personagem marcada sob a égide da doutrina cristã.
Será abordada a presença da mitologia no Canto primeiro de Os Lusíadas, bem como de sua função
como elemento importante para a narrativa, de modo a dar à obra o caráter criativo e inovador que
possui em relação às epopeias-padrão.
Através de pesquisa bibliográfica diversa tem-se o intuito de melhor fundamentar a
importância do assunto em questão, o mito como recurso literário da obra Os Lusíadas.

Um estilo grandíloquo e corrente

Os Lusíadas é uma epopeia renascentista e clássica. Renascentista porque o impacto do


ressurgimento da epopeia clássica da antiguidade foi uma das maiores marcas do início do século
XVI. Clássica porque compreende o valor da imitação dos autores da antiguidade e a presença dos
deuses pagãos, que nutrem as mitologias greco-romana.
Ambas características na narrativa épica ocorrem na presença do maravilhoso, das grandes
viagens náuticas e seus efeitos heroicos, cujas obras maiores da tradição clássica são Odisseia de
Homero e Eneida de Virgílio. Portanto, vale dizer que
Ressuscitar a epopeia homérica na época do Renascimento – quando o espírito
abstractor de um mundo já muito mercantil pouco se prestava à admiração de heróis
semidivinos; e quando a mitologia clássica, característica do gênero, era uma
expressão irrecuperável […] – constituía um nobilitante desafio ao engenho dos
poetas. (SARAIVA; LOPES, 2000, p. 12)

Influenciado pelo Renascimento, Camões estava exposto a presença do mito das epopeias de
outrora. Nessas composições clássicas, segundo Nascimento e Oliveira (2011), o mito exerce um
papel fundamental, de tal forma que a diferença entre seres humanos e seres divinos é estreita, ou
seja, o homem adquiria um poder inigualável durante sua atuação nos combates, alcançando assim
uma proporção quase imortal.
Camões decide narrar a História de Portugal e resgata a tradição clássica de composição
épica para versar sobre o tema por ele escolhido. Mas seguir cegamente os padrões da antiguidade
faria o seu trabalho se perder na areia. Exige-se, portanto, mais criatividade do que mera repetição.
Segundo Saraiva e Lopes (2000) as narrativas antigas, de origem fundamentalmente oral, estão
compostas de relatos que, após a utilização da palavra escrita para registro passaram a ser
inverossímeis. E Camões compreendeu o senso histórico do seu ato.
Ora, a epopeia camoniana é dotada de realizações, feitos verdadeiros por um povo
desbravador e ele deseja contá-los, tudo isso consoante à sua crença e convicção religiosas.
A narrativa de Os Lusíadas tem como foco a Viagem de Vasco da Gama e sua tripulação às
Índias. Os navegantes têm de escapar dos ardis de Baco e da ira dos mouros; para tanto, contarão
com o favor de Júpiter e Vênus, bem como da Providência Divina: a fé cristã e a mitologia greco-
romana coexistem aqui. A seguir, alguns apontamentos deste sincretismo religioso no Poema.

Às gentes Lusitanas

No canto em questão na estrofe 20, logo após realizar a proposição, invocação e dedicatória,
inicia a narração, com as naus singrando o Oceano e, paralelamente, apresenta os deuses reunidos
em conselho para discutirem o futuro do oriente:

Quando os Deuses do Olimpo luminoso,


Onde o governo está da humana gente,
Se juntaram em consílio glorioso,
Sobre as cousas futuras do Oriente,
Pisando o cristalino Céu fermoso [...]
(CAMÕES, 1972, p. 22)

O terceiro verso apresenta de forma sutil a mitologia incorporada no cristianismo. O Poeta


utiliza a palavra “consílio” para indicar que os deuses faziam uma “reunião em assembleia”, quando
pode ser confundido com a sua correspondente homófona “concílio” que designa a “reunião de
prelados católicos” (CAMÕES, 1972).
Após a deliberação favorável de Júpiter aos lusitanos, “estabelece-se entre dois deuses, Baco
e Vênus, um duelo cujo realce é maior quando se transfere as reminiscências particulares de cada
deus da mitologia para as entidades das parábolas da Bíblia.” (SILVA, et al, 2009, p.7-8)
Em outras palavras:
A credibilidade duvidosa dos intentos de Baco e as rasuras em seu caráter elegem-
no, dentro da epopéia, como o vilão que aglutina em si toda a intensidade do mal;
como se confrontado com um espelho, essa imagem do mito é reflexo do diabo
bíblico, que tenciona destruir e aniquilar os inimigos.
Nesse discurso surge Vênus, complacente e dedicada, capaz de mover céus e terras
por seus protegidos. Essa figura feminina assemelha-se à outra de real valor e
importância dentro da Bíblia Sagrada. Esse amor maternal da deusa é equivalente ao
misericordioso amor da Virgem Maria, mãe dos necessitados. (SILVA, et al, 2009, p.
8)

Ferreira (1997, p. 9) afirma que os deuses são os verdadeiros dinamizadores da ação que
gera o interesse narrativo de Os Lusíadas, pois que dão sustentação à ação do poema, ação esta que
passa a ocorrer não só no plano Histórico, mas também no plano poético.
Não houvesse a intervenção do maravilhoso pagão, o poema seria nada mais que uma
narração enfadonha de uma viagem por mar, um diário de bordo em versos, em suma, etnografia
pura.
São os deuses que apoiam ou criam dificuldades à ação dos portugueses. O que movimenta
Baco é o seu interesse pessoal, e o que movimenta Vénus, é igualmente o seu interesse pessoal.
Camões indica isso na estância 34 do canto I:

Estas causas moviam Citereia,


E mais, porque das Parcas claro entende
Que há-de ser celebrada a Clara Deia
Onde a gente belígera se estende.
Assi[m] que, um, pela infâmia que arreceia,
E o outro, pelas honras que pretende,
Debatem e na porfia permanecem;
A qualquer seus amigos favorecem.
(CAMÕES, 1972, p. 26)

Onde no verso quinto “um” se refere a Baco, e no verso sexto “o outro” a deusa Vênus.
Logo, parece que tudo na epopeia funcionará em torno das vontades dos deuses e que serão
os humanos meros joguetes das peripécias deles. Mas em se retirando a cortina que empana os
olhos, ver-se-á que aos poderosos deuses foram atribuídas fraquezas humanas, conforme já
mencionado: Baco, com sua inveja impregnada de imoralidades nas ações; Vênus, esmerada em
afagar seus protegidos.
Para Saraiva (1992) os deuses olímpicos têm uma existência “real” e os heróis históricos são
como meros títeres, quer dos próprios deuses, quer dos homens quando eles lhes dão ocasião para
isso; diz ainda que os deuses olímpicos são os agentes reais e objetivos do Poema, ao passo que o
sobrenatural cristão é uma simples ilusão subjetiva dos homens históricos.
Nessa perspectiva, o Deus cristão em Os Lusíadas apresenta-se como “orientador religioso,
a bandeira hasteada, que vai à frente, nas grandes realizações. É Aquele que detém o poder de
mudar o curso da humanidade.” (NASCIMENTO; OLIVEIRA, 2011, p.1346)
A presença simultânea do maravilhoso pagão e o maravilhoso cristão pode ser vista como
ponto de confronto por alguns comentadores. Mas, para Ferreira (1997, p. 5) os deuses pagãos
nunca se confundem com o deus cristão, e raramente se misturam com os homens; enquanto
personagens da narrativa, desaparecem do plano da História de Portugal, e só se manifestam no
plano da viagem.

Resultados da análise

Este breve ensaio teve a intenção de demonstrar que o poeta Luís de Camões faz uso da
mitologia e do modelo canônico de epopeia cônscio do sentido histórico que perpassa todo o
passado da literatura Ocidental. A apreciação do poeta pela mitologia foi a de criar com ela uma
narrativa que tivesse alcance simbólico tal que propulsionasse os portugueses ao grupo restrito de
humanistas desbravadores de mundos.
Camões ao perceber que toda a tradição da literatura desde Homero, inclusive a de seu
próprio país, existiam em simultâneo, atemporais, e pôde com isso compor sua magnum opus em
toda a magnificência tal como a conhecemos.
A presença da mitologia era parte principal do arcabouço estético que o período oferecia a
Camões; e qualquer confronto que se tente criar entre o maravilhoso pagão e maravilhoso cristão
não passa apenas de ruído de mentes ociosas.
Para nossa sorte, a obra resistiu às críticas e, como ocorre a todas as obras imortais, ela não
dialoga apenas com o passado mítico-glorioso de Portugal, mas com o homem da
contemporaneidade.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CAMÕES, Luís de. Os Lusíadas. Ministério da Educação e Cultura. Edição Brasileira


Comemorativa do Quarto Centenário do Poema, 1972.
FERREIRA, António Manuel. Duas Personagens de Os Lusíadas: Vénus e Baco: João Torrão
(ed.), Actas do II Colóquio Clássico, Aveiro, Universidade de Aveiro, 1997, pp.215-231. Disponível
em <http://www2.dlc.ua.pt/classicos/Duaspersonagens.pdf>. Acesso em 17/10/16

NASCIMENTO, Daniela dos Santos; OLIVEIRA, Márcia Lisboa Costa de. A mitologia em Os
Lusíadas in Cadernos do CNLF, Vol. XV, Nº 5, t. 2. Rio de Janeiro: CiFEFiL, 2011. pp. 1344-1349
Disponível em <http://www.filologia.org.br/xv_cnlf/tomo_2/106.pdf> Acesso em 17/10/16.

SARAIVA, António José. Estudos Sobre a Arte D’Os Lusíadas, Lisboa, Gradiva, 1992. pp. 111-
121.

SARAIVA, António José; LOPES, Óscar. In História da antologia da literatura Portuguesa


século XVI. Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian. Série HALP nº 16, dezembro 2000, Cap. Luís
de Camões. pp.11-14.

SILVA, Adriana Vargas et al. A presença da mitologia em Os Lusíadas: no concílio dos deuses.
Unilins, São Paulo, 2009 Disponível em
<www.unisalesiano.edu.br/encontro2009/trabalho/aceitos/CC33961136831.pdf> Acesso em
17/10/16.

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