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A ÁLGEBRA SEGUNDO HAMILTON E A FORMAÇÃO DO PROFESSOR DO

ENSINO MÉDIO

Robson Coelho Neves / cnrobson@globo.com


Professor do Ensino Médio do CEFET-RJ

Gerard E. Grimberg / gerard.emile@terra.com.br


Professor-Adjunto do Instituto de Matemática da UFRJ

Resumo: Em 1833, Sir Willian Rowan Hamilton leu na Academia Real Irlandesa o
artigo intitulado Theory of Conjugate Functions, or Algebraic Couples; with a
Preliminary and Elementary Essay on Algebra as the Science of Pure Time. Nesse
artigo, Hamilton apresentou uma concepção moderna de número e estruturas algébricas,
fundamentadas por sua visão particular da Álgebra como uma ciência. O artigo resulta
de suas considerações em relação a dois fatos importantes: os resultados gerados por
tentativas de se conferir à Álgebra uma estrutura lógica rigorosa, nos moldes da
Geometria e uma tentativa de construção dos números complexos a partir dos números
reais. A partir de uma análise breve deste trabalho de Hamilton tentaremos ressaltar
alguns aspectos que podem ajudar na formação do futuro professor do ensino médio.

Palavras-chave: Hamilton, Álgebra, História dos Números, História da Matemática,


Construções dos Números.

Introdução:
O irlandês Willian Rowan Hamilton (1805-1865) publicou artigos com idéias
inovadoras em álgebra, ótica e dinâmica, além de ter sido professor de astronomia do
Trinity College de Dublin e astrônomo real do observatório de Dunsink , cargos para os
quais foi eleito em 1827, quando ainda era aluno de graduação no Trinity College.
Pretendemos neste artigo analisar um texto de Hamilton que mostra o caráter
inovador da sua concepção da álgebra e analisar de que maneira o estudo deste artigo
pode servir para a formação de um professor do ensino médio.
Quando Hamilton apresentou em 1837 o seu artigo “Theory of Conjugate
Functions, or Algebraic Couples; with a Preliminary and Elementary Essay on Algebra
as the Science of Pure Time”, o conceito de número não era unificado. A antiga
separação entre números e grandezas, que foi herdada de Euclides, fornecia ainda o
modelo para apresentação dos inteiros, das razões e dos irracionais. O trabalho de
Hamilton inaugura uma nova perspectiva no que diz respeito ao conceito de número e
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da álgebra. Em vez de considerar razões de números ou de grandezas como um domínio


diferente dos números inteiros, o artigo apresenta uma tentativa de construir todos os
números a partir dos números inteiros. O artigo utiliza uma nova terminologia e fala de
números “contra-positivos” para designar o que hoje chamamos de inteiros negativos,
de número “fracionário” para os números racionais e de número “incomensurável” para
os números irracionais. Hamilton unifica assim o conceito de número e acaba
definitivamente com a concepção euclidiana dos números e grandezas. Hamilton não se
contenta em construir os conjuntos (set foi o termo que ele próprio usou) de números,
mas descreve também as propriedades das operações e da relação de ordem que
estruturam estes conjuntos. Na última parte do trabalho Hamilton apresenta uma
construção de “pares numéricos” de números reais cujas propriedades algébricas são as
mesmas dos complexos.
Examinaremos a maneira com a qual Hamilton chega a tal concepção. Nosso
estudo terá, portanto, três partes: 1) a construção dos números por Hamilton, 2) Os pares
ordenados de números e os números imaginários e 3) O interesse desta obra de
Hamilton para o ensino da matemática.

I. A Construção dos Números por Hamilton.


Na primeira parte, intitulada “Observações Gerais Introdutórias”, Hamilton expõe
os motivos que o convenceram de que a Álgebra poderia ser estruturada
axiomaticamente baseada na intuição do tempo, ou seja, a Álgebra poderia ser
considerada como a “Ciência do Tempo Puro”. Esta concepção foi muito criticada por
alguns matemáticos contemporâneos a ele,(por exemplo, De Morgan, Cayley, cf.
Flament [2003], p. 365 e Koppelmann [1971], pp. 225-226.) mas apresenta ao nosso ver
um passo adiante em relação à representação intuitiva tradicional dos números mediante
segmentos. Ao contrário da imagem de um segmento que é material, exterior, dentro do
espaço, a idéia intuitiva de tempo é interna, diz respeito unicamente ao pensamento e
possui, portanto, um grau superior de abstração. A idéia do tempo puro é concebida
como uma sucessão contínua de “momentos”, sendo a sucessão a ordenadora dos
momentos. Como o próprio Hamilton reconhece (Hamilton [1837],p.4), esta concepção
é diretamente inspirada no cálculo diferencial Newtoniano, que é baseado na noção de
fluxo, que por sua vez envolve a noção de tempo.
Com esta concepção Hamilton define momentos iguais como tendo a mesma data
e momentos desiguais A e B como correspondentes a datas diferentes (Id.,p.9) e denota
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essa relação por A<B, significando que o momento A é anterior ao momento B (sem
parêntese aqui). Considerando dois pares de momentos A, B e C, D, eles são ditos
“análogos” se B-A=D-C (Id.,p.10). Nesta definição a relação é de fato reflexiva
(Halmilton não demonstra esta propriedade mais ela é uma conseqüência imediata da
definição.). Hamilton mostra a simetria (Id.) e a transitividade da relação (Id.,,p.13).
Esta relação de analogia possui, portanto, as propriedades que chamamos hoje de
relação de equivalência. A diferença B-A de dois momentos é definida por Hamilton
como um “degrau” e os pares A,B e C,D de mesmo degrau são definidos por ele como
pares análogos (Id.,p.17).
Na etapa seguinte, ele concebe uma “série eqüidistante de momentos” de mesmo
degrau a. Assim, A, B, C, D, etc. é uma série de momentos eqüidistantes se
B-A=C-B=D-C=...= a. Define então o degrau oposto (Se B-A=a, então A-B= Өa).
Fazendo a=1, a localização de um momento na série eqüidistante pode ser feita a
partir dos números cardinais: primeiro, segundo, terceiro, etc, e como esses números
estão associados aos números inteiros: 1,2,3,etc, é admissível que estes números, bem
como suas operações e propriedades, sejam consideradas conhecidas previamente. Por
estarem conectados intimamente com a idéia de sucessão, Hamilton considera que a
Aritmética é parte integrante da Ciência do Tempo Puro (Id.,p.16). Aqui Hamilton
parece reconhecer que a idéia de sucessão é fundamental para a construção dos números
inteiros positivos. Antes dos momentos análogos à 0, Hamilton define o momento
correspondente a Ө1, Ө2, Ө3, etc, e mostra que a adição e multiplicação definidas a
partir desta série possui as propriedades que confere a esta série o que chamamos hoje
de estrutura de anel comuntativo.
Vemos nesta construção o papel que desempenha a intuição do tempo. Ela
possibilita uma idéia intuitiva para um número negativo a partir da idéia de anterior. O
conceito de número negativo possui uma realidade apenas no pensamento do tempo e
ganha assim o seu direito à existência no quadro da matemática.
A construção dos números ditos “fracionários” (fractional numbers) segue o
mesmo processo. Hamilton define um número fracionário como sendo um quociente de
dois inteiros, e chama de analogia uma igualdade de dois quocientes (Id.,p.53). Isto
mostra que o conceito de número fracionário engloba de fato uma infinidade de
quocientes análogos. Este raciocínio é muito parecido com a maneira hoje de definir um
número racional.
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Hamilton define as operações e mostra que estas conferem ao conjunto dos


números fracionários as propriedades que hoje nos permitem classificá-lo como um
corpo comutativo. Define também a ordem sobre este conjunto e as propriedades que a
caracterizam.
Hamilton mostra algumas propriedades de certos números “Incomensuráveis”
(Apagar isto “por exemplo, as raízes quadradas de números fracionários”) ,como por
exemplo, o fato de que estes Incomensuráveis podem ser aproximados tanto quanto se
queira por seqüências de números fracionários e define também um tipo de limite dando
assim um conceito muito parecido com o de corte de Dedekind (Koppelmann [1974], p.
224).
Hamilton não chega a conceber o conjunto dos números reais. Mas os métodos
esboçados no seu trabalho mostram que ele estava realmente perto deste conceito. Mas
pelo menos a generalidade do seu conceito de número revela uma ruptura com a
concepção tradicional de número.

II. Os Pares Ordenados de Números e os Números Imaginários.


Nesta parte do texto Hamilton define pares ordenados de degraus (steps-couples)
e como não considera séries de momentos eqüidistantes desta vez, estes degraus podem
tomar qualquer valor. Hamilton considera a multiplicação de um número inteiro ou
fracionário por um par de degraus. O mais interessante é o que ele ressalta a seguir
(Id.,pp.90-91): Dados o número fracionário ν/μ e o par de degraus (b1, b2), “Se o limite
do número fracionário é um incomensurável a e o limite da multiplicação ν/μ×(b1, b2) é
o par de degraus (c1, c2), então podemos considerar que a×(b1, b2)=(c1, c2)”. Assim,
implicitamente, ele define qualquer número real. O passo adiante consiste em considerar
um par de tais números incomensuráveis (number-couples), e definir um produto de
pares de degraus por um tal par-número. Ele acaba o processo definindo a adição e a
multiplicação de dois pares-número.
O último passo será a identificação do número imaginário √-1 com o par (0,1). E
Hamilton conclui :
“Na teoria dos números simples, o símbolo √-1 é absurdo e denota uma operação
impossível ou um número imaginário. Mas na teoria dos pares, o mesmo símbolo √-1 é
significante e denota uma operação possível ou um par real, isto é, a raiz principal do
par (-1,0). Na teoria dos pares podemos escrever qualquer par (a1, a2) como
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(a1, a2)= a1 + a2√-1, interpretando a1, a2 como denotando os pares primários puros
(a1, 0) , (0, a2) e √-1 como denotando o par secundário puro (0,1). Assim, a notação
(a1, a2) parece ser suficientemente simples” .(Id.,p.107).
Como ressaltou Crowe (Crowe[1967],p. 25), Hamilton não evoca neste trabalho o
problema da representação geométrica dos números complexos. Para Crowe, isto
ocorreu porque Hamilton “pensava como Gauss que a representação geométrica era
uma ajuda para a intuição, mas não uma justificativa satisfatória para os números
complexos”. Não podemos saber o que pensava realmente Hamilton, mas sua busca por
um número hiper-complexo capaz de dar conta das rotações do espaço mostram que por
trás desta simples apresentação algébrica dos números imaginários não faltavam
preocupações geométricas. Além disso, a construção dos pares algébricos torna possível
a correspondência entre as propriedades do plano e as propriedades algébricas dos
complexos, assim como a abordagem vetorial do plano, formalizadas por Hamilton.
Para Cartan e Study (Cartan, E. e Study E. [1908],p.349 e sqq) a construção de
Hamilton é tão clara e precisa que uma vez definido o conceito de número real, ela pode
ser elaborada sem consideração do tempo. Cartan ressalta também que todas as
aplicações dos números complexos tem por fundamento o fato de que os números
complexos são uma generalização do cálculo numérico ordinário. A utilidade do cálculo
dos números complexos reside em permitir um cálculo geométrico que condensa e
simplifica várias fórmulas da geometria analítica (Cartan op. cit, p. 397). Foi esta
perpectiva que a contrução de Hamilton possibilitou.

III. O Interesse da Obra de Hamilton para o Ensino da Matemática.


Uma das finalidades da história da matemática é o ensino da matemática. Mas em
vez de colocar o problema único da forma, da didática das noções, ela coloca o
problema essencial do conteúdo que deve ser ensinado e da perspectiva que devemos
escolher para tal conteúdo. Pelo exemplo do estudo de Hamilton pretendemos ressaltar
este encaminhamento sobre três aspectos: 1) a problemática de Hamilton, 2) a geometria
dos complexos e 3) a unidade da matemática.

1) A Problemática de Hamilton é moderna: o modo de exposição que é adotado hoje


no ensino médio é aquele de Hamilton. Neste contexto o conceito de número é
unificado. A partir dos números inteiros positivos se constrói a série de inclusões dos
conjuntos (números inteiros, números racionais, números reais). A problemática de
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Hamilton foi ampliada e precisada no que diz respeito a construção dos reais por vários
matemáticos (Weierstrass, Meray, Dedekind, Dieudonné (Dieudonné [1978], p. 266, e
sqq) mas a perspectiva é a mesma: a base da construção dos reais está no conjunto do
racionais visto como um corpo comutativo totalmente ordenado (o conceito de corpo é
formulado por Dedekind).
Reconhecer esta perspectiva permite estar ciente do conteúdo a ser transmitido na
esfera do ensino médio. Com ela esclarece-se a necessidade da construção dos números,
das suas propriedades operacionais e da sua estrutura de ordem, resultando disso uma
significação mais profunda para a idéia das extensões numéricas.
Na própria exposição de Hamilton encontramos, embora não de maneira explícita
e bem definida, o procedimento que governa a extensão dos conjuntos de números a
partir de relações de equivalência. Ao conhecer o trabalho de Hamilton, e reconhecer
nele tal procedimento, o futuro professor do ensino médio encontrará a significação de
tal procedimento e será mais capaz de expor este procedimento (aqui sem o “s”) para os
alunos.
Essa idéia de definir uma relação de equivalência entre elementos de um conjunto
para depois identificá-lo é talvez uma das operações mais imprescindíveis do
pensamento humano, visto que acompanha e estrutura qualquer modo de identificação.
Tornar ciente o futuro professor deste aspecto é portanto umas das tarefas mais
importantes da formação universitária, pois não é somente o ensino da matemática que
está em jogo mas também o seu valor cultural.

2) A Geometria Plana e os Complexos


A identificação de R2 com os complexos constituiu também um grande avanço na
compreensão da relação dos números complexos para com a geometria euclidiana plana.
As interpretações dos ângulos, da distância através dos números complexos, das
suas operações, do módulo e do argumento de um número complexo forneceram à
geometria plana uma ferramenta extraordinária.
Aqui se inicia o processo do tratamento das transformações do plano mediante os
complexos: a classificação das isometrias pelas suas escrituras complexas, como as
propriedades das inversões e do grupo de Moebius (cf. Cartan [1908], p. 362 e sqq.).
Uma outra utilidade dos números complexos consiste na tradução das
propriedades vetoriais do plano e mostra a sua eficiência para várias demonstrações das
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propriedades dos triângulos (simétricos do ortocentro, a reta de Euler, o teorema de


Napoleão).
Aqui se questiona também o modo de exposição e de ensino dos números
complexos no ensino médio. Podemos escolher tratar os números complexos como uma
simples extensão algébrica dos números reais. Mas podemos ter uma perspectiva mais
ampla se apresentarmos não só esta extensão mas também o que ela significa ao nível
da geometria do plano. Infelizmente, é por desconhecerem que ali reside talvez a
significação mais profunda dos números complexos que os professores do ensino médio
não a priorizam nas suas aulas.

3) Uma Visão Coerente da Matemática


O estudo de Hamilton e mais geralmente dos trabalhos dos grandes matemáticos
propiciam uma riqueza de significações que podem ser aproveitados pelo futuro
professor do ensino médio na sua didática.
O primeiro papel que desempenha a história da matemática é o de colocar o
aluno-professor em contato mais próximo com os gênios que elaboraram as noções que
ele deve ensinar. Trilhar os caminhos do pensamento, refazer os cálculos destes grandes
matemáticos possui um conteúdo que não consta nos manuais. Esta leitura permite
repensar as noções, analisar as circunstâncias onde eles aparecem e como se interligam.
A história da matemática oferece também a possibilidade de entendermos a
necessidade da abstração pois ela mostra que os conceitos que parecem tão longe dos
problemas chamados “concretos” foram elaborados para responder a questões precisas e
também para resolver problemas que se apresentavam aos matemáticos.
A questão da unidade da matemática é assim questionada a cada passo, a cada
avanço da teoria. Não se pode ensinar sem estar ciente deste processo, pois é finalmente
nesta constante atualização que a matemática ensinada recebe a sua significação. Dar
um sentido a cada noção ensinada, inserir cada noção numa rede de significação à luz da
história deve preceder qualquer proposta didática.

Bibliografia
Cartan, E. e Study E. [1908], ‘les nombres complexes’, Encyclopédie des Sciences
Mathématiques, t. 1,vol. 1, fasc. 3.
Crowe Michael J. [1967], A history of vector analysis, reed. Dover London 1994.
Dieudonné, Jean [1978] , Abrégé d´Histoire des mathématiques, Hermann, Paris.
Flament, Dominique [2003], Histoire des nombres complexes, CNRS Ed., Paris.
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Hamilton, William Rowan [1837]. ‘Theory of conjugate functions, or algebraic couples;


with a preliminary and Elementary Essay on Algebra as Science of Pure Time’,
Transactions of the Royal Irish Academy Proceedings, t.17 , p.293-422,
1837.Utilizamos a edição eletrônica de David R. Wilkins, 2000.
Koppelman, Elaine [1971], ‘The Calculus of Operations and the Rise of Abstract
Algebra’, Archive for History of Exact Sciences 8(3) 155–242.

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