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1. PLACENTA PRÉVIA
Fisiopatologia: A placenta procura se implantar em locais ricamente vascularizados, sendo o local mais
comum o fundo uterino, que se situa na região mais alta do útero, próximo aos orifícios da saída das trompas
de Falópio. A decidualização pobre do útero relacionado a alterações inflamatórias ou atróficas do
endométrio, associado a uma deficiência da vascularização nos locais usuais, fazem que a placenta seja
implantada em locais não usuais (implantação heterotópica).
Fatores de Risco: Cicatrizes uterinas prévias Cesariana prévia (principal fator de risco); Intervenções
uterinas prévias (miomectomia, curetagem); Multiparidade (devido à pior qualidade da decídua basal);
Intervalo interpartal curto; Idade materna avançada (acima de 35 anos); Tabagismo; Situações de sobre
distensão uterina (gemelaridade, hidropsia fetal).
Quadro clínico:
Sangramento indolor com sangue vermelho vivo rutilante, de início e cessar súbito, sem outros
sintomas associados.
Sem associação à esforço físico ou traumatismo. O sangramento de exterioriza sempre e totalmente ao
contrário do DPP. Não causa grande repercussão hemodinâmica e cessa espontaneamente. Não há
distúrbio de coagulação, nem sangue retido.
Sangramento sentinela: ocorre na PP centro-total, podendo apresentar um sangramento intermitente e
abundante, com necessidade de internações e hemotransfusões frequentes.
Morbidade na PP Maior risco de sangramento anteparto, hemorragia intraparto, necessidade de
hemotransfusão e histerectomia puerperal.
Exame Físico:
2 SANGRAMENTOS DA SEGUNDA METADE DA GESTAÇÃO
• Sinais vitais; • Palpação abdominal (tônus uterino normal e estética fetal alterada – situação oblíqua ou
transversa/ apresentação pélvica ou cefálica alta); • Presença de BCF e cardiotocografia com boa vitalidade
fetal; • Exame especular cuidadoso (identifica fonte hemorrágica do canal cervicovaginal);
Toque vaginal: NUNCA deve ser realizado até se conhecer a localização exata da placenta (pode
desencadear sangramento intenso).
Exames Laboratoriais: Solicitar HT, HB ou contagem completa de eritrócitos; Tipagem sanguínea ABO e
Rh; Coagulograma (coagulopatia é rara na PP).
DIAGNÓSTICO
USG abdominal ou TV: Método mais seguro e simples para
confirmar PP. Define a localização placentária e a sua posição em
relação ao orifício interno, devendo ser realizada com bexiga
semicheia.
A bexiga cheia pode criar uma falsa aparência de PP anterior. A
parte da apresentação fetal pode esconder uma PP posterior.
Através da ultrassonografia transvaginal pode-se localizar a
margem placentária e o orifício interno.
Dopplerfluxometria: Deve ser realizado para diagnosticar acretismo placentário, ou mesmo placenta
increta ou percreta, com invasão de órgãos locais como bexiga e reto.
RNM: É mais precisa para o diagnóstico da implantação placentária, principalmente em placentas
posteriores, porém os resultados não são superiores aos da USG TV. Tratamento Sem sangramento ativo.
MANEJO TERAPÊUTICO:
- Avaliar intensidade do sangramento e condição hemodinâmica materna.
- Avaliar idade gestacional.
Gestação pré-termo: Gestantes sem sangramento ativo conduta expectante (com acompanhamento pré-
natal cuidadoso em centro especializado). Considerar corticoterapia para aceleração da maturação
pulmonar, considerar uso de tocolíticos. Orientar a gestante a não manter relações sexuais.
Gestação a termo: Com ou sem hemorragia importante interrupção da gestação (a via de parto depende
do tipo de PP) com disponibilidade imediata de sangue.
- Definir a via de parto.
PP total cesariana
PP parcial cesariana, exceto multíparas se: parto próximo, sangramento discreto e sem obstáculo
mecânico.
PP prévia marginal ou baixa vaginal com amniotomia prévia (se mãe encontra-se estável,
hemorragia leve, PP de baixo grau, com borda fina, apresentação cefálica encaixada ou feto morto).
Amniotomia favorece a descida da apresentação, permite a compressão do bordo do placentário e diminui
a hemorragia.
Sangramento sentinela: Avaliar o estado geral e hemodinâmico; Matergam “full dose”, se Rh negativo;
Considerar transferência materna em caso de feto prematuro; Pode necessitar de corticosteroides, tocólise
ou amniocentese.
Complicações: atonia pós-parto, hemorragia, infecção puerperal, laceração de trajeto, distócia de parto,
acretismo placentário, parto prematuro, amniorrexe prematura, apresentação anômala, discinesias uterinas.
3 SANGRAMENTOS DA SEGUNDA METADE DA GESTAÇÃO
Fisiopatologia:
Hemorragia decidual inicia o descolamento forma-se hematoma
retroplacentário invade a placenta e forma uma “cratera” na
superfícia ↑ descolamento ↑ sangramento e volume do coágulo
= progressão e irreversibilidade de DPP
Sangue extravasado ação irritante sobre o mm uterino
contratilidade uterina hipertonia uterina evolui com intensa
infiltração sanguínea miometrial com desorganização da
citoarquitetura mm hipotonia uterina pós-parto (“útero de
Couvelaire” ou apoplexia uteroplacentária – útero edemaciado,
arroxado e com sufusões hemorrágicas)
Descolamento lesão tecidual liberação de tromboplastina estimula a cascata de coagulação materna
CIVD consumo de fatores de coagulação / fibrinólise discrasia sanguínea (↓ fibrinogênio e
plaquetas) = incoagulabilidade
Fatores de Risco:
Não-traumáticos Traumáticos
Síndromes hipertensivas / Placenta circunvalada / Brevidade do cordão / Versão fetal externa / Retração
Tabagismo e uso de cocaína / Anemia e má nutrição / uterina intensa / Miomatose uterina / Torção do útero
Consumo de álcool / Rotura prematura as membranas / gravídico / Traumatismo Abdominal.
Corioamnionite / Idade materna avançada (> 35 anos) /
Trombofilias.
DIAGNÓSTICO: é clínico!
• Quadro clínico
Dor abdominal associada a hipertonia uterina, com ou sem sangramento vaginal escuro e história de
hipertensão arterial.
O sangramento pode-se manifestar como: hemorragia exteriorizada (entre membranas e útero), hemoâmnio
(por rotura alta das membranas com passagem de sangue para cavidade amniótica) ou sangramento
retroplacentário (coloração escurecida.
4 SANGRAMENTOS DA SEGUNDA METADE DA GESTAÇÃO
Também pode ocorrer sangramento oculto (20%): quando o sangue fica retido entre a placenta descolada
e o útero, com formação de coágulo retroplacentário e infiltração sanguínea intremiometrial.
Persistência da dor entre as contrações no trabalho de parto e presença de coagulopatia ao diagnóstico.
• Exame físico
ABC da reanimação (V.A. pérvias, padrões de respiração e circulação), sinais vitais (observar taquicardia
e hipotensão postural – sinais de choque hipovolêmico), exame obstétrico (AU, BCF, hipertonia uterina,
contrações tetânicas à palpação abdominal) e monitorização fetal (padrão não tranquilizador – sinais de
sofrimento fetal agudo ou ausência de BCF). Pulso paradoxal de Boero (apesar da perda de sangramento,
o pulso pode se encontrar normal.
• Exames laboratoriais
Objetivo de rastrear complicações: anemia grave, choque hipovolêmico e discrasia sanguínea.
O grau de sofrimento fetal depende mais da área de descolamento que do tempo de evolução, porém a
discrasia sanguínea está mais associada a duração do quadro, de modo que observa-se óbito fetal com
evolução de ≥ 4 a 6 horas por distúrbio de coagulação. Geralmente a perda sanguínea é subestimada pelo
grau de hemorragia vaginal.
Solicitar: HMG c/ contagem de plaquetas; tipagem sanguínea ABO Rh; coagulograma + teste do
coágulo de Weiner (avalia concentração de fibrinogênio); exame de rotina para doença hipertensiva;
uréia e creatinina.
• Exames de imagem
USG: maior utilidade na localização placentário afastar o dx de PP.
Indicada em casos de estabilidade hemodinâmica materna e vitalidade fetal preservada.
Os achados são presença de coágulo/ecolucência retroplacentário, espessamento anormal da placenta e
limites placentários imprecisos.
TRATAMENTO
Feto vivo indicação de cesariana, porém se parto iminente parto vaginal (c/ amniotomia).
Feto morto amniotomia, parto vaginal, estabilização materna.
Amniotomia reduz a compressão da VCI, dificulta a ampliação da área de descolamento, melhora a
hipertonia uterina, identifica hemoâmnio, diminui a pressão intrauterina pela descompressão do hematoma
retroplacentário, diminui risco de coagulopatia e induz ou acelera o trabalho de parto.
3. Rotura uterina
Definição: rompimento parcial ou total do miométrio durante a gravidez ou o trabalho de parto. Comunica a
cavidade uterina à cavidade abdominal.
Classificação
Rotura uterina parcial ou incompleta Rotura uterina total ou completa
Preserva a serosa uterina. Rompe parede uterina + serosa.
Geralmente associada à deiscência de cicatriz uterina. Espontânea ou traumática (uso inadequado de
Assintomática. ocitócitos, fórcipe, manobras obstétricas intempestivas
Pode-se tornar completa com o trabalho de parto. ou acidentes).
Fatores de risco
- Cirurgia miometrial: cesárea, miomectomia, metroplastia, ressecção do corno uterino.
- Trauma uterino: perfuração uterina pós-curetagem ou aborto provocado, perfuração por armas.
- Malformação congênita: gestação em corno uterino rudimentar.
- Outros: adenomiose, mola, secundamento patológico, desnutrição, multiparidade, manobra de Kristeller,
sobredistensão uterina, parto obstruído (desproporção céfalopélvica, apresentações anômalas, tumores
prévios), trauma fechado, uso de ocitócitos e prostaglandinas na indução do parto.
Quadro clínico
Sinais de iminência de rotura ou S. de Bandl-Frommel:
- Contrações intensas e extremamente dolorosas.
- Sinal de Bandl: distensão do segmento inferior, formando uma depressão na faixa intraumbilical,
conferindo ao útero forma de ampulheta.
- Sinal de Frommel: estiramento dos ligamentos redondos, desviando o útero anteriormente.
- Alterações no BCF e diminuição da variabilidade na cardiotocografia.
6 SANGRAMENTOS DA SEGUNDA METADE DA GESTAÇÃO
TRATAMENTO:
O DX precoce é a principal forma de prevenção do quadro durante o trabalho de parto dor abrupta de
forte intensidade, sinais de choque hipovolêmico associados a parada de progressão do parto com elevação
da apresentação fetal.
Uso de uterolíticos se exacerbação da atividade contrátil do útero, controla a distensão e evita rotura.
O TTO é cirúrgico e depende da extensão da lesão, condições da parede uterina, sede da rotura, estado
clínico da paciente, idade e paridade. Multíparas histerectomia total ou subtotal, sem ressecção dos
anexos.
Rastreamento para vasos prévios na USG pré-natal com dopplerfluxometria colorida, em caso de:
placentação baixa, placenta bilobada, placenta subcenturiada e gravidez por reprodução assistida.