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Universidade Estadual de Maringá

Centro de Ciências Humanas


Departamento de Ciências Sociais
Questões de Antropologia Contemporânea

Resenha: “Cenas Juvenis: Punks e Darks no Espetáculo Urbano”


de Helena Wendel Abramo
São Paulo, Scritta/ANPOCS, 1994

Por Lucas Toshiaki Archangelo Okado

Publicado em 1994, “Cenas Juvenis” é uma versão revisada e ampliada


da dissertação de mestrado de Helena Wendel Abramo defendida em 1992. O
livro faz uma análise dos novos movimentos de jovens urbanos que surgem a
partir dos anos 80 do século XX nas grandes metrópoles. Este trabalho pode
ser considerado um marco nos estudos sobre juventude, pois procura romper
com a dicotomia conformismo/revolta que prevaleceu nos trabalhos sobre o
tema publicados no Brasil ate então. Ao procurar este tipo de distanciamento
das análises feitas, ele acaba se tornando um trabalho pioneiro que abriu um
vasto campo de estudos nas ciências sociais, principalmente na antropologia,
que passa a identificar a existência de grupos urbanos, movimentos de
juventude ligados principalmente através das preferências de consumo e
estética.

O trabalho é dividido em três partes. No primeiro capítulo há um esforço


da autora em procurar dar uma dimensão sociológica para o conceito de
juventude, procurando construir uma categoria histórica que sirva como
referencial para a sua análise. Ela resgata todos os clássicos para dimensionar
este conceito. Para a autora, a categoria juventude é uma invenção moderna
das sociedades orientadas por princípios universalistas. A partir do momento
em que a socialização promovida pela família não mais dá conta de garantir a
manutenção dos valores sociais se faz necessário um processo maior de
aprendizagem. A juventude se caracteriza por um rompimento da família, que
se dá através da escola e universidade.
A juventude é um espaço de transição para o mundo adulto. O indivíduo
ainda não adquire as características necessárias para o seu rompimento com a
família de orientação e a sua transição para uma família de procriação. Dessa
forma ele ainda não possui as condições de assumir completamente a
responsabilidade do mundo adulto. Este processo não corresponde
necessariamente a um a divisão etária homogênea, pelo contrário, as
desigualdades de condições podem fazer com que este processo se torne mais
curto ou mais longo dependendo do estrato social.

O tema passa a entrar na pauta das ciências sociais a partir do momento


em que a juventude se configura como um problema para a manutenção da
ordem social vigente. Esta categoria se torna um elo de contestação com o
mundo adulto, principalmente porque a ela se reserva um espaço privilegiado
para tal, onde não existe ainda um compromisso dos jovens para com a
manutenção da estrutura social, gerando uma tensão sobre os valores que são
passados aos mesmos. Seja através dos movimentos de contra cultura, do
movimento estudantil que sonhava com a utopia de um mundo mais justo ou
simplesmente das gangues de jovens marginalizados que viam na delinquência
uma maneira de garantir seu espaço na sociedade, os jovens de alguma
maneira procuram tencionar a manutenção da ordem.

Num segundo momento a autora traça um panorama das condições


sociais que se alteraram até então. Segundo a sua analise os espaços que
eram predominantemente expressões da juventude brasileira, o movimento
estudantil, perde a sua expressividade, tanto política quanto cultural. A não
absorção da mão de obra que conclui o ciclo básico de ensino e a falta de
vagas nas Universidades faz emergir das camadas populares um contingente
que antes não era classificado como jovens. Segundo a autora “a crise do
espaço universitário como significativo para a elaboração das referências
culturais, no enfraquecimento da noção de cultura alternativa como modo de
contraposição ao sistema e na emergência de uma vivência, por parte dos
jovens das camadas populares, no campo do lazer ligado à indústria cultural"
(p. 82).
Por ultimo a autora apresenta novas formas de intervenção da
juventude, originadas a partir desta crise do espaço universitário e da falta de
perspectivas, que emergem nos grandes centros como um novo modelo de
manifestação juvenil. Oriundos das camadas mais populares, os “punks” e os
“darks” passam a expressar o descontentamento da juventude com o status
quo. Ligados principalmente pelas formas de consumo apresentadas pela
indústria cultural encontram no lazer e na musicalidade uma maneira de
representar a sua rebeldia contra o sistema.

A autora apresenta estes movimentos como uma forma de contestação


juvenil, expressando um saudosismo na juventude engajada dos anos 60 do
século XX e procurando alguma forma de politização na atitude expressada por
estes jovens. Mas não aprofunda a sua analise quando não considera que, por
mais que tenham surgidos a partir do descontentamento da classe média
brasileira e da sua falta de perspectiva, a juventude dos anos 60 ainda
apresentava um projeto, mesmo que utópico, de sociedade e baseava as
respostas de suas angústias na implementação do mesmo. A visão de mundo
dos “punks” e “darks” deixam de ser esta utopia e sonho e passa a ser uma
visão apocalíptica e não traz consigo nenhuma perspectiva de mudança,
apenas o descontentamento com o atual sistema estabelecido.

Mesmo assim este detalhe não tira a importância que “Cenas Juvenis”
têm para os estudos sobre juventude. Este trabalho inaugura uma perspectiva
brasileira de buscar novos horizontes ao romper com a dicotomia
engajamento/apatia da análise das manifestações de juventude, dando origem
a uma linha metodológica que permeou os estudos sobre jovens, influenciando,
por exemplo, as análises de Hermano Vianna ao identificar as mais variadas
“galeras cariocas”.

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