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REVISTA BRASILEIRA

DE TOXICOLOGIA
BRAZILIAN JOURNAL
OF TOXICOLOGY
SOCIEDADE
BRASILEIRA DE Revista Brasileira de Toxicologia 19, n.2 (2006) 59-70 59
TOXICOLOGIA

Embalagens plásticas: tipos de materiais,contami-


nação de alimentos e aspectos de legislação
Samanta Fabris1 , Maria Teresa de A. Freire2, Felix G. Reyes Reyes1*

1
Departamento de Ciência de Alimentos, Faculdade de Engenharia de Alimentos, Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP,
Caixa Postal 6121, CEP 13081-970, Campinas, SP.
2
Departamento de Engenharia de Alimentos, Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos, Universidade de São Paulo- FZEA/USP,
Av. Duque de Caxias Norte, 225, CEP 13635-900. Pirassununga, SP.

recebido em 10/10/2006, aceito em 24/08/2007

Abstract

Plastic packaging: types of materials,food contamination and legislation aspects

Plastic packaging materials, due to their intrinsic good properties, can provide improvement in quality maintenance and
distribution system of food, favoring the global food market. Nevertheless, the technological development and diversity of
materials can also bring possibilities of consumer exposure to chemicals of toxicological concern. The diversity and dynamism
of this productive chain has also generated an important increase in solid waste and serious consequences to the environment.
This review article concentrates on food plastic packaging relating the most important materials and food contamination, as
well as current legislation aspects.

Keywords: plastic packaging, legislation, food safety.

Agência de fomento financiadora: CAPES (Bolsa de estudos)

Trabalho baseado na tese de Samanta Fabris para obtenção do grau de mestrado em Ciência de Alimentos, na Faculdade de
Engenharia de Alimentos da Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP.

Introdução evolução da tecnologia de embalagem e favorecendo um


considerável aumento da oferta de alimentos pré-preparados.
No mundo globalizado, o mercado de embalagens está A embalagem no processo de compra atua como
totalmente engajado ao crescimento da economia, sendo que, instrumento de escolha de um produto com maior ou menor
quanto maior a produção de bens de consumo e mercadorias peso dependendo da categoria, evidenciando desta forma, uma
maior é a necessidade de embalagens. Essa presença constante relação consumidor/ produto / marca.
se reveste de grande importância no cotidiano, para transportar O setor de embalagens, no Brasil, movimentou cerca
e armazenar produtos. de R$ 32 bilhões no ano de 2006, ocupando posição de
O desenvolvimento da sociedade e a conseqüente destaque assumida pelo consumidor, conferindo cada vez mais
alteração dos estilos de vida têm promovido fortes mudanças importância a este item, relacionando sua qualidade à do
nos hábitos alimentares do consumidor, estimulando a próprio produto. Segundo estudo realizado pela Fundação
Getúlio Vargas (FGV - RJ) para a Associação Brasileira de
Embalagem (ABRE), o setor de plásticos que gerou uma
receita líquida de venda no valor aproximado de R$ 10 bilhões
em 2006 (ABRE, 2007). Na Figura 1 consta a distribuição
*Autor Correspondente: F. G. R. Reyes, Departamento de Ciência deste valor entre os diferentes segmentos da indústria
de Alimentos, Faculdade de Engenharia de Alimentos,
brasileira.
Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP, Caixa Postal
Segundo a ABRE (2007), em 2006 a exportação de
6121, CEP 13081-970, Campinas, SP, Brasil - Telefone: +55(019)
35212167, Fax: +55(019) 35212153 - Email: embalagens teve crescimento de 23,54% em comparação a
reyesfgr@fea.unicamp.br. 2005, sendo que o setor de resinas termoplásticas cresceu
4,76% até maio de 2007. As previsões para os próximos anos
© 2006 Sociedade Brasileira de Toxicologia são muito promissoras, considerando que nos países
direitos reservados
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Figura 1. Receita liquida de vendas nos diferentes segmentos da in-


dústria brasileira de embalagens no ano de 2006 (ABRE, 2007).

desenvolvidos as indústrias de alimentos consomem cerca de Os grupos de embalagens utilizadas para o


50% do total de embalagens produzidas. Vale lembrar que, no acondicionamento de alimentos compreendem as compostas
ranking de participação dos segmentos no mercado total em por vidro, papel e/ou cartão, metal e plásticos. A evolução da
2006, as embalagens plásticas levam a maior fatia, com 42% tecnologia também proporciona ao mercado a combinação
do total de artefatos plásticos produzidos (ABIPLAST, 2007). entre materiais, constituindo as conhecidas embalagens
Dada a importância do setor de embalagens na multicamada (PAINE & PAINE, 1992; HERNANDEZ et al.,
indústria de alimentos, este artigo de revisão tem por objetivo 2000; SARANTOPÓULOS et al., 2001; MESTRINER,
abordar os principais tipos de materiais plásticos utilizados 2002). A Tabela 1 apresenta algumas características e
para contato com alimentos, suas relações com a contaminação aplicações importantes dos diversos tipos de embalagens.
de produtos acondicionados e considerações sobre aspectos É importante ressaltar que a indústria da embalagem
da legislação aplicada ao setor. investe seus esforços para a melhoria das propriedades dos
materiais. Este fato pode ser comprovado pela disponibilidade
Tipos de embalagens e a sua importância de diferentes variedades de estruturas, que combinam as boas
propriedades de diversos materiais para atender aos requisitos
As embalagens apresentam uma ampla variedade de de proteção de uma grande quantidade de produtos
formas e materiais e fazem parte do nosso cotidiano de alimentícios. Uma das principais razões para combinação de
diversas maneiras (CABRAL et al., 1983; CASTRO & diferentes resinas poliméricas ou combinações destes
POUZADA, 1991). Uma concepção moderna e globalizada materiais com folha de alumínio e/ou cartão, é a obtenção de
para a embalagem ressaltando suas funções tanto nas resistência mecânica associada a propriedades de barreira a
empresas como na sociedade é apresentada por gases e aromas. Uma grande evolução tem também ocorrido
MESTRINER (2002). O autor comenta que a evolução de para sistemas de fechamento, garantindo a segurança do
atividades econômicas associadas ao desenvolvimento produto embalado (CABRAL et al., 1983; ROBERTSON,
humano levou à incorporação de novas funções às 1993).
embalagens, tal como a evolução de design da embalagem
com obtenção de maior eficiência no processo de venda, Plástico no setor de embalagens
melhorando a etapa de comercialização. A embalagem
chama atenção, transmite informações básicas para Desenvolvimentos tecnológicos na indústria do
compreensão do que está sendo oferecido, ressalta atributos plástico têm sido responsáveis por grandes avanços na
complementares do produto e agrega valores. comercialização de alimentos, trazendo uma série de
Proteger o produto é a principal função da embalagem. benefícios para a sociedade moderna, pois além de
O material usado deve atender aos critérios de preservação disponibilizar produtos, gera milhões de empregos e divisas
do alimento e de seus nutrientes, resguardar da ação de fatores para o país.
ambientais (tais como luz, umidade, oxigênio e A indústria do plástico conquistou nos últimos 10 anos
microorganismos) de forma a impedir ou dificultar o contato a primeira colocação no setor de embalagens, vindo substituir
entre o ambiente externo e o produto em seu interior, além de irreversivelmente diversos materiais tradicionais, como vidro,
assegurar a integridade do produto durante o transporte e metais e fibras naturais, com menores custos de obtenção e
armazenamento (ROBERTSON, 1993; SARANTÓPOULOS produção, maior flexibilidade, diversidade de materiais,
et al., 2002). assepsia, formatos, estruturas e barreira. Entende-se por
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propriedade de barreira, a capacidade de uma embalagem de relativamente baixas se comparadas às condições utilizadas
resistir à absorção ou à evaporação de gases e vapores, para o vidro e metais. Desta forma são materiais que podem
bem como resistir à permeação de lípides e à passagem ser deformados continuamente sem ruptura quando
de luz (PAINE & PAINE, 1992; HERNANDEZ et al., submetidos a uma determinada tensão durante o
2000). processamento. Quando resfriado, o plástico torna-se rígido
A principal característica dos materiais e mantém a forma do molde (PAINE & PAINE, 1992;
termoplásticos é a sua habilidade, quando sólidos em seu HERNANDEZ et al., 2000).
formato final, de se tornarem fluidos e novamente moldados Atualmente, mais de trinta diferentes tipos de
quando submetidos à ação do calor e pressão a temperaturas polímeros estão sendo utilizados como materiais de

Tabela 1 - Tipos de embalagens, uso e características.


Matéria-prima Embalagens Aplicações Características da matéria-prima
Vidro Garrafas Cervejas, vinhos, destilados, bebidas finas - Totalmente impermeável, desde que associado a um
Potes Conservas, geléias, café solúvel sistema de fechamento adequado.
Copos Requeijão, extrato de tomate, geléias - Possibilidade de reutilização para o mesmo fim a
que foi destinada primeiramente.

Papel e papelão Cartão (semi-rígido) Farinhas, “flakes”, hambúrgueres - Não são inertes à migração de compostos da
(Celulose) Cartuchos Cartonados Bombons embalagem para o alimento.
Caixas Leite Longa vida, sucos, bebidas lácteas - Pode ser utilizado em composição multicamada.
Sacos Frutas, embalagens de transporte
Papelão e Papelão Farinha de trigo, sementes, rações
micro-ondulado
Papel

Metal Alumínio Cervejas, refrigerantes - Suportam elevadas temperaturas e pressões.


Latas Tampas aluminizadas de iogurtes e água - Podem sofrer corrosão e permitir a migração de
Selos mineral constituintes para os alimentos nela contidos
Latas Conservas, leite em pó, azeite
Folha de Flandres

Plástico Plásticos Rígidos Achocolatados, sorvetes, “shakes” - Baixo custo, leveza, versatilidade, flexibilidade e
Potes Refrigerantes, sucos possibilidade de reciclagem.
Garrafas Café, açúcar, arroz - Sensíveis à oxidação e a elevadas temperaturas.
Sacos Macarrão instantâneo, salgadinhos “snacks” - Apresentam permeabilidade a gases, vapor de água
“Flow packs” Biscoitos, balas, bombons e aromas.
Envoltórios - Possibilidade da ocorrência de migração dos
Plásticos flexíveis constituintes do material para os alimentos.

Fonte: MESTRINER, 2002; HERNANDEZ et al.; PAINE & PAINE, 1992; SARANTOPÓULOS et al., 2001.

Figura 2. Percentual de Consumo Aparente de Resinas Termoplásticas -


Segmentado por resina 2006 (ABIPLAST, 2007).
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embalagens plásticas. A Figura 2 apresenta a distribuição se destacam por seu baixo preço e grande facilidade de
de diferentes polímeros no mercado de embalagens. A processamento, o que incentiva seu uso em larga escala.
maioria das embalagens plásticas é utilizada para o Para uma melhor elucidação, a Tabela 2 apresenta
acondicionamento de alimentos, sendo que alguns materiais exemplos de aplicações para os principais materiais de

Tabela 2 - Exemplos de polímeros empregados para a fabricação de materiais de embalagem para contato com alimentos
e suas respectivas aplicações.

Polímero Exemplos de Aplicações


PEBD Embalagens flexíveis multicamada: frutas e hortaliças desidratadas, pescados.
Embalagens flexíveis grampeadas: queijos minal frescal e ricota.
Sacos: grãos, sal, açúcar, produtos de panificação, leite pasteurizado.
Potes e frascos: sorvete, mostarda.
PEAD Alimentos sensíveis à umidade: cereais matinais, produtos desidratados.
Produtos lácteos: leite esterilizado e pasteurizado, iogurte líquido.
Óleos vegetais em embalagens institucionais, bombonas e engradados em indústrias.
Arroz e pratos congelados prontos para consumo, arroz tipo “boil-in-bag”.
PP Estruturas laminadas: doces, biscoitos, massas, snacks, chocolates.
Garrafas sopradas: água mineral, sucos.
Filmes monocamadas: frutas e hortaliças minimamente processados.
Embalagens coextrusadas sopradas: molhos de tomate, maionese.
Embalagens sopradas e biorientadas: produtos desidratados, frutas e hortiças desidratadas.
Embalagens termoformadas: água, margarinas, condimentos, queijos, pratos prontos, tampas.
Copolímero PP: produtos de panificação, produtos perecíveis.
PVC Embalagens rígidas: óleos comestíveis, água, maionese, vinagre.
Embalagens termoformadas: blisters geléia, doces em pasta.
Filmes: envoltórios para confeitos, filmes esticáveis: frutas, carnes e aves, queijos, vegetais.
PVDC Material de barreira em recipientes termoformados semi-rígidos.
Material em multicamada: co-extrusado com poliolefinas: carnes, queijos, alimentos sensíveis à
umidade e gases.
Recobrimento para: papel e cartão, celofane, filmes, recipientes rígidos.
PET Garrafas de diferentes volumes para bebidas carbonatadas, água mineral, óleos comestíveis,
molhos, temperos, maionese.
Filmes laminados para café, biscoitos, laminados flexíveis esterilizáveis, bag-in-box, produtos
cárneos, frutas e hortaliças congeladas.
Embalagens termoformadas ( PET cristalizado - 28 - 30%) para bandejas e potes para uso em
forno de microondas e forno convencional em produtos como pratos prontos, sopas, molhos.
PA Coextrusados: com poliolefinas para termosoldagem, barreira à umidade e redução de custo.
Multicamadas: embalagem à vácuo para cárneos processados.
PS Laminados para massas, carnes.
Embalagens rígidas para balas, sorvetes.
Bandejas rígidas para queijos cremosos.
EVOH Co-extrusados: carne vermelha, carnes processadas, queijos.
Laminados: condimentos
Recobrimento por extrusão: embalagens assépticas
Termoformagem: iogurte

Moldagem por co-extrusão: ketchup


I Recobrimentos e laminações
Termosselagem em estruturas multicamada e estruturas compostas em combinação com nylon,
PET, PEBD e PVDC
Camada termosselante em filmes
Para produtos conggelados - carnes e aves
Para queijos, snacks, sucos de fruta (embalagem tipo tetra pack)
Para vinhos, água, óleo, margarina, frutas secas
PEBD- polietileno de baixa densidade; PEAD- polietileno de alta densidade; PP- polipropileno; PVC- policloreto de vinila;
PVDC- policloreto de vinilideno; PET- polietileno tereftalato; PA- poliamida; PS- poliestireno; EVOH- etileno vinil álcool; I-
ionômero(HERNANDEZ et al., 2000; PAINE & PAINE, 1992; SARANTÓPULOS et al., 2001).
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embalagem disponíveis no mercado para contato com substâncias são importantes, pois auxiliam o controle de
alimentos. processo, favorecendo a obtenção de resinas com propriedades
A utilização de polímeros como materiais de específicas para posterior processo de conversão em
embalagem em sistemas monocamada em muitas situações embalagem (PAINE & PAINE, 1992; HERNANDEZ et al.,
não confere os requisitos de proteção necessários à 2000). As características das resinas terão forte influência na
conservação de alimentos. Desta forma, empregam-se maquinabilidade do processo de transformação e nas
sistemas chamados multicamadas, constituídos de duas ou propriedades mecânicas finais do material de embalagem
mais camadas de um mesmo material ou de materiais (PAINE & PAINE, 1992; HERNANDEZ et al., 2000;
diferentes. O propósito desta tecnologia é unir propriedades SARANTÓPOULOS et al., 2002).
distintas de diferentes materiais conferindo melhores barreiras Os aditivos são essenciais ao processo de
ao sistema como um todo se comparado ao uso de cada transformação em embalagem, assim, resinas puras são
material, separadamente. Alguns exemplos de aplicação raramente processadas. Os aditivos incorporados em uma
incluem embalagens compostas de PEAD/I e PEAD/EVA resina variam conforme o tipo e aplicação. Entre suas funções
(cereais), PET/PE (cereais, misturas para bolo e sobremesas, pode-se destacar o melhoramento das condições de
carnes, aves e pescados), PET/Al/PE (refresco em pó), PET/ processamento, aumento da estabilidade da resina à oxidação,
Al/PE (café), PVC/PE (carnes, aves e pescados) obtenção de melhor resistência ao impacto, aumento ou
(SARANTÓPULOSet al., 2001). diminuição de dureza, controle da tensão de superfície,
controle de bloqueio, redução de custos e aumento da
Constituição das embalagens plásticas resistência à chama (PAINE & PAINE, 1992; HERNANDEZ
et al., 2000; SARANTÓPOULOS et al., 2002). As principais
As embalagens plásticas são obtidas a partir de classes de aditivos empregadas no processo de conversão de
polímeros sintéticos, que têm como principal matéria-prima embalagens e suas funções são apresentadas na Tabela 3.
a nafta, derivada do óleo bruto e do gás natural provenientes O dinamismo da indústria da embalagem proporciona
do petróleo. Desta matéria-prima são obtidos os monômeros, constantemente novas oportunidades para a indústria de
unidades estruturais de polímeros, que, quando formados de alimentos. Neste contexto, ressalta-se o conceito de
um único tipo de monômero são chamados homopolímeros e embalagens ativas, onde a embalagem desempenha outras
quando compostos de dois ou mais tipos de monômeros são funções, além de constituir-se de uma barreira física entre o
chamados copolímeros. A união de monômeros com formação produto e seu entorno. Tradicionalmente, muitos esforços têm
de cadeias de alta massa molecular ocorre devido às reações sido feitos para minimizar as interações entre embalagem e
de polimerização. Para possibilitar estas reações, são produtos acondicionados, com conseqüente contaminação
incorporados ao reator, além dos monômeros, agentes como indesejável de alimentos, como será discutido mais adiante.
catalisadores, iniciadores e terminadores de cadeia. Estas Porém, o conceito de embalagens ativas envolve o

Tabela 3 - Principais classes de aditivos empregadas no processo de conversão de embalagens e suas funções.
Aditivo Exemplos de Polímeros Função

Antioxidantes PP, PE, PS, PP Inibir ou retardar degradações termo-oxidativas

Estabilizantes ao calor PE, PP, PVC, PVDC Proteger o polímero da decomposição devido ao efeito das altas temperaturas utilizadas no
processo de transformação

Plastificantes PVC, PVDC Reduzir temperatura de processamento


Tornar o produto acabado mais flexível
Estabilizantes à luz UV PVC, PE, PP, PET, PS Proteger o polímero da degradação induzida pela radiação UV (290 a4 00 nm)

Lubrificantes PVC Reduzir a tendência de plásticos a aderir a superfícies.


Agentes deslizantes Poliolefinas Promover a remoção de plásticos de moldes ou cavidades.

Corantes Uso geral Promover melhor aspecto visual


Evitar a penetração de luz para o interior da embalagem

Agentes anti-embaçantes PVC Evitar a opacidade pela condensação de vapor de água na superfície interna de embalagens

Agentes nucleantes PET, PP Reduzir o tamanho de cristais na estrutura polimérica auxiliando na manutenção da
transparência e claridade da embalagem

Agentes anti-estáticos PE, PS, PP, PET, PAN, PVC Tornar a superfície do plástico mais condutiva
Melhorar “maquinabilidade”

Cargas Reduzir custos e/ou melhorar propriedades mecânicas (rigidez)


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aproveitamento destas possíveis interações para a manutenção Na aplicação de reciclados para contato com
do valor nutricional dos alimentos, estender a vida útil de alimentos, em especial para o PET, consideram-se os
produtos acondicionados e promover a segurança alimentar, processos de transformação envolvendo fabricação de
com conseqüente melhoramento da qualidade e aceitação de materiais em multicamada, constituida por uma camada
produtos (ALVAREZ, 2000; BRODY et al., 2002; externa de plástico virgem, uma camada intermediária de
OZDEMIR & FLOROS, 2004). A contribuição de sistemas plástico reciclado e uma camada interna de plástico virgem
ativos dá-se, por exemplo, pelo uso de absorvedores de conhecida como barreira funcional. A barreira funcional sob
oxigênio para a prevenção de reações de oxidação lipídica, condições normais e planejadas de uso impede fisicamente a
pelo uso de inibidores do crescimento de microrganismos difusão de migrantes para o alimento e caso aconteça deverá
deterioradores e patogênicos, ou ainda pelo uso de sistemas ocorrer a um nível insignificante sob o ponto de vista
inteligentes que monitoram a qualidade do produto ou do seu toxicológico e sensorial (BAYER, 1997;
entorno para melhor medir ou predizer o tempo de vida útil ARVANITOYANNIS & BOSNEA, 2001; FRANZ, 2002).
(JONG et al., 2005; YAMAN et al., 2005). Cada um dos estágios no processo de reciclagem é
único e pode ter efeito na qualidade final do plástico,
A embalagem e o ambiente influenciando a eficiência da operação de reciclagem em evitar
ou remover possíveis contaminações, cujas procedências são
Ao mesmo tempo em que novas tecnologias são dependentes da forma de descarte pelo consumidor e
desenvolvidas para a aplicação e processamento de materiais processos de disposição de resíduos (ARVANITOYANNIS
de embalagens de modo a satisfazer as necessidades do & BOSNEA, 2001; FRANZ, 2002; SPINACÉ & DE PAOLI,
consumidor, torna-se necessário a aplicação de medidas que 2005; WELLE, 2005).
visem a proteção ambiental.
O aumento do consumo de materiais de embalagens Fontes de contaminação provenientes de embalagens
resulta inevitavelmente em um crescimento gradativo de plásticas
resíduos. Em conseqüência, os materiais plásticos estão se
tornando as vítimas do próprio sucesso: a alta quantidade de Quando um alimento entra em contato direto com um
plásticos usados como embalagens de alimentos e bebidas material de embalagem, qualquer que seja a sua natureza há
estão conduzindo um elevado volume do resíduo sólido interações entre eles. Estas interações podem levar à absorção
urbano e, conseqüentemente, prejudicando o ambiente de constituintes do alimento pelo material e conseqüente perda
(DEVLIEGHERE et al., 1997). de características sensoriais. Por outro lado, muitos compostos
Na prática, o desenvolvimento de tecnologias possuem baixa massa molecular e se difundem facilmente
economicamente viáveis de maior eficiência para introdução através do polímero. Como conseqüência, há uma tendência
de recicláveis na cadeia produtiva evolui mais lentamente que de transferência (migração) destes compostos para a superfície
a produção de resíduos gerados pelas embalagens. do material, com posterior interação com o produto
Atualmente, a maior parte dos materiais pós-consumo acondicionado. A contaminação dos alimentos por meio da
produzidos neste setor é aproveitada para fins pouco nobres. migração de substâncias químicas provenientes das
Desta forma, a aplicação de tecnologias que tratam recicláveis embalagens plásticas pode não somente alterar as
para seu aproveitamento na cadeia produtiva de embalagem, características sensoriais dos produtos, como também causar
para contato com alimentos, tem recebido maior atenção, a exposição do consumidor a substâncias com potencial tóxico
especialmente nos países desenvolvidos (ARVANITOYANNIS (ARVANITOYANNIS & BOSNEA, 2004).
& BOSNEA, 2001). A transferência de substâncias da embalagem para o
O lixo brasileiro contém de 5 a 10% de plásticos, alimento varia de acordo com a composição do material, com
conforme o local. Segundo pesquisa do "Compromisso o processo de fabrico da embalagem, com o nível de
Empresarial para Reciclagem - CEMPRE", em 2004, do total degradação do material decorrente dos processos de
de plásticos produzidos, somente cerca de 15% é transformação, entre outros fatores (FREIRE, 1997;
mecanicamente reciclado, sendo que um dos obstáculos é a KONKOL et al., 2003). Dentre os possíveis contaminantes
variedade dos tipos de plásticos (PLASTIVIDA, 2006). incluem-se monômeros, oligômeros e polímeros de baixa
O volume de plásticos pós-consumo é muito alto e a massa molecular; agentes de polimerização tais como
reciclagem com o intuito de produzir novas embalagens a catalisadores, emulsificantes, produtos de decomposição de
partir destes resíduos passou a ser interessante para o mercado, iniciadores e aditivos; impurezas de agentes de polimerização
em especial o mercado de embalagens de alimentos e bebidas e aditivos; aditivos utilizados para os processos de
(ARVANITOYANNIS & BOSNEA., 2001). transformação, solventes provenientes da composição de
Dentre os processos de reciclagem utilizados para tintas de impressão. Parâmetros relacionados à natureza
transformação de embalagens pós-consumo, destaca-se a química do produto embalado, além de condições de tempo e
reciclagem mecânica que envolve as etapas de seleção dos materiais, temperatura de contato entre produto e embalagem também
classificação e rejeição de materiais inadequados, moagem, operações são críticos para a determinação do risco potencial de
de lavagem, secagem, reprocessamento e transformação em produto contaminação (CATALÁ & GAVARA, 2002; KUZNESOF,
acabado (SPINACÉ & DE PAOLI, 2005). 2002; KONKOL et al., 2003; ARVANITOYANNIS &
Reyes, F.G.R./Revista Brasileira de Toxicologia 19, n.2(2006) 65

Gás Carbônico
Oxigênio Permeabilidade
Umidade
Aromas

Lípides
Pigmentos
Proteínas Sorção
Ácidos
Vitaminas
Aromas Oxigênio
Umidade
Permeabilidade Aromas

Radiações
Monômeros
M igração Aditivos M igração
Solventes

Figura 3. Esquema de interações alimento/produto/ambiente em embalagens


plásticas (CATALÁ e GAVARA, 2002).

informações mensuráveis quanto aos tipos e níveis de


BOSNEA, 2004). Tais aspectos podem ser mais bem substâncias transferidas aos alimentos.
visualizados na Figura 3.
Enfocando-se a embalagem plástica pós-consumo, Legislação
verifica-se que o principal problema para o seu
aproveitamento na fabricação de embalagens para contato Critérios de controle do uso de materiais para contato
com alimentos relaciona-se à capacidade do material com alimentos e seus constituintes por meio de
polimérico em absorver compostos químicos regulamentação não somente asseguram a qualidade de
(DEVLIEGHERE & HUYGHEBAERT, 1997; embalagens sob o ponto de vista da segurança alimentar, como
ARVANITOYANNIS & BOSNEA, 2001; FRANZ, 2002; também viabilizam a correta especificação e adequação de
ARVANITOYANNIS & BOSNEA, 2004; DOLE et al., embalagens para os mercados interno e externo.
2006). Estes poderiam ser originados dos alimentos Dado o grande intercâmbio comercial mundial, os
acondicionados, como por exemplo, componentes de sucos parágrafos que se seguem dão ênfase às legislações Brasileira,
de frutas como laranja e maçã; das más condições de do Mercado Comum do Sul (MERCOSUL), Comunidade
armazenagem da embalagem pós-consumo (contaminação Econômica Européia (CEE) e dos Estados Unidos da América.
por óleos, graxas, resíduos orgânicos e do próprio solo) e No Brasil, o atual sistema de legislação adotado se dá
do mau uso da embalagem pelo consumidor antes do na forma de Portarias e Resoluções para cada tipo de material
descarte (gasolina, defensivos agrícolas, inseticidas e de embalagem, sendo que estas foram derivadas das
raticidas, detergentes, desinfetantes e desodorizantes). Resoluções do MERCOSUL, internalizadas pela Agência
Todos esses compostos têm sido reportados como Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) do Ministério
contaminantes especialmente em embalagens PET pós- da Saúde. É importante ressaltar que Mercados Comuns têm
consumo (MANNHEIM et al., 1987; IMAI et al., 1990; como um de seus principais objetivos harmonizarem as
ARORA et al., 1991; KONCZAL et al., 1992; FRANZ e Legislações de seus países membros, contribuindo para o
WELLE, 1999; BAYER, 2002; FRANZ, 2002; FRANZ intercâmbio de produtos embalados.
et al., 2004; WIDEN et al., 2004; FEIGENBAUM, 2005). No que se refere à embalagens plásticas, tanto a
Há, portanto, um conflito entre requisitos opostos: a legislação MERCOSUL como a legislação brasileira
exigência por reciclar cada vez mais e a necessidade de apresentam em seu conteúdo, as chamadas "Listas Positivas",
garantir que o material reutilizado é seguro para o contato constituídas de uma descrição de substâncias como polímeros,
com alimentos. Assim, para o correto aproveitamento de resinas e aditivos permitidos para uso. Nestas listas positivas,
materiais recicláveis para contato com alimentos, é necessário estão também especificadas restrições como limites de
um controle rígido da qualidade dos materiais reciclados composição (LC), limites de migração específica (LME) e
transformados em novas embalagens. Este controle é realizado limite de migração total (LMT). A migração total é uma
por meio da determinação do nível de contaminantes residuais medida intrínseca da inércia do material, porém não garante
na embalagem final e por estudos de migração que geram a segurança toxicológica. A migração específica é uma medida
66 Reyes, F.G.R./Revista Brasileira de Toxicologia 19, n.2(2006)

mais importante para a segurança do consumidor, pois permite aplicação de legislações que estabelecem limites ou condições
determinar a exposição a diversos agentes químicos de maior técnicas de materiais destinados a entrar em contato com
toxicidade, razão pela qual são estabelecidos limites de alimentos. Cabe destacar o Regulamento nº 1935/2004,
migração. As Resoluções MERCOSUL sobre materiais relativo aos materiais e objetos destinados a entrar em contato
plásticos, internalizadas no Brasil pela sua publicação em Diário com alimentos. Este Regulamento estabelece listas de
Oficial da União, são apresentadas na Resolução no 105, de substâncias autorizadas para a fabricação de materiais e
1999 (ANVISA, 1999). A Tabela 4 apresenta uma síntese das objetos tradicionais, ativos ou inteligentes, condições especiais
Resoluções GMC do MERCOSUL e as correspondentes de utilização dessas substâncias, seus limites específicos e
Resoluções e Portarias da ANVISA sobre embalagens e um limite global relativo à migração de constituintes,
equipamentos plásticos para contato com alimentos. Cabe disposições para assegurar a rastreabilidade e medidas com
ressaltar que as Resoluções GMC referentes à Lista Positiva relação à rotulagem de materiais e objetos ativos e inteligentes.
de Resinas e Polímeros e Aditivos para Materiais Plásticos Todas estas regulamentações são atribuídas de modo que os
foram atualizadas, estando previstas suas internalizações na objetos/materiais sejam suficientemente inertes para excluir
Resolução no 105 (PADULA & CUERVO, 2004). a transferência de substâncias para os alimentos em
Com relação à utilização de materiais reciclados, quantidades susceptíveis de representar risco para a saúde
destaca-se a Resolução GMC 25/99, publicada no Brasil como humana, ou de provocar uma alteração inaceitável na
Portaria nº 987/98, que estabelece o Regulamento Técnico composição dos alimentos, ou uma deterioração das suas
para Embalagens Descartáveis de Polietileno Tereftalato - PET propriedades organolépticas. Também é incorporado por este
- multicamada, com barreira funcional de material virgem regulamento, o símbolo que acompanha materiais e objetos
(camada em contato com a bebida) destinadas ao destinados a entrar em contato com alimentos (UE, 2004).
acondicionamento de bebidas não alcoólicas carbonatadas As regulamentações estabelecidas nos Estados Unidos
(BRASIL, 1998). da América se dão através do Food and Drug Administration
A União Européia (UE), através do Comitê Europeu (FDA) e são apresentadas na forma de Listas Positivas no
de Normatização (CEN) desenvolve normas específicas para "Code of Federal Regulations" (CFR) nas partes 174 a 179.

Tabela 4 - Resoluções MERCOSUL e ANVISA para materiais de embalagem pra contato com alimentos.
Tema Resoluções GM C No ANVISA
Disposições Gerais 56/92 Res. No 105
Migração Total 36/92, 10/95, 33/97 Res. No 105
Classificação de alimentos e simulantes 30/92, 32/97 Res. No 105
Embalagens retornáveis de PET para bebidas não alcoólicas 16/93 Res. No 105
carbonatadas
Embalagens PET multicamada com camada intermediária 25/99 Port. Nº 987/98
contendo material reciclado para bebidas não alcoólicas
carbonatadas
Corantes e pigmentos 56/92, 28/93 Res. No 105
Cloreto de vinila residual (LC) 47/93, 13/97 Res. No 105
Estireno residual (LC) 86/93, 14/97 Res. No 105
Lista positiva de resinas e polímeros 24/04(1) Res. No 105

Lista positiva de aditivos 50/01(2) Res. No 105

Etileno glicol e dietileno glicol (LME) 11/95, 15/97 Res. No 105


Polietileno fluoretado 56/98 Res. No 105
Preparados formadores de película à base de polímeros e/ou 55/99 Res. No 124/01
resinas destinados a recobrir alimentos
(1) Revogou as Resoluções GMC Nº 87/93, 5/95, 34/97, 52/97,11/99, 31/99, 29/99, 52/00.
(2) Revogou as Resoluções GMC Nº 95/94, 36/97, 53/97, 9/99, 10/99, 12/99, 14/99.
Fonte: ANVISA, 1999; PADULA e CUERVO, 2004; MERCOSUR/GMC/RES. Nº 24/04 (2007); MERCOSUR/GMC/
RES. N° 50/01 (2007).
Reyes, F.G.R./Revista Brasileira de Toxicologia 19, n.2(2006) 67

A estrutura das regulamentações para materiais de para o alimento pode ser considerada segura quando acontece
embalagem no que se refere à materiais plásticos para contato em níveis tidos como "desprezíveis", correspondentes a
com alimentos estabelece a identidade da substância e quantidades menores que 0,5 g de contaminante/kg de dieta
condições de inocuidade de uso, sua pureza e propriedades diária. Este nível equivale a uma ingestão de 1,5 mg/pessoa
físicas. Também para este país, são estipulados limites para dia-1, para a ingestão diária total de alimentos e bebidas de
as substâncias extraíveis do artigo acabado, em especial para 3000 gramas (FDA, 1992; KUZNESOF & VANDERVEER,
resinas poliméricas (KUZNESOF, 2002). 1995; MUNRO et al., 2002). Esta política do "Limiar de
É importante ressaltar que os sistemas de Regulamentação" proposta pelo FDA também tem sido
regulamentação para o Brasil, MERCOSUL, UE e FDA, discutida no âmbito do MERCOSUL (FREIRE, 1997).
incluem em seus conteúdos, métodos analíticos para a A Comunidade Européia, por sua vez, tem proposto
determinação de componentes extraíveis das embalagens, bem uma política conhecida por Limiar Toxicológico ("threshold
como métodos para a determinação da migração total e of toxicological concern" - TTC), cujo conceito refere-se ao
específica sob condições padronizadas de ensaio para o estabelecimento de limares de exposição humana para todas
binômio tempo/temperatura, de acordo com as condições de as substâncias químicas, abaixo dos quais não haveria risco
uso do material de embalagem. Quando a constituição dos apreciável à saúde. Este conceito seria particularmente útil,
alimentos é complexa, os ensaios analíticos são realizados por exemplo, quando ocorre a descoberta da presença de um
substituindo-se o produto alimentício por substâncias mais novo contaminante em alimentos, para o qual não há
simples, conhecidas por simulantes de alimentos. Desta forma, informação toxicológica. Seu emprego seria igualmente
as regulamentações apresentam ainda, uma lista de simulantes importante para o estabelecimento de prioridades para testes
de alimentos, de acordo com a natureza química do produto entre um grande número de substâncias químicas semelhantes
alimentício de interesse (FREIRE, 1997). entre si para as quais a exposição é em geral muito baixa,
como é o caso de materiais que entram em contato com
Aspectos de toxicidade de contaminantes provenientes de alimentos. Desta forma, os recursos disponíveis para estudos
embalagens plásticas toxicológicos seriam destinados para aquelas substâncias que
efetivamente causam risco real à saúde humana. Para o
O número de contaminantes químicos provenientes estabelecimento destas prioridades, faz-se o uso de um número
de embalagens de alimentos é muito grande. Algumas destas de informações, obtidas ao longo de muitos anos, para muitas
substâncias têm seu uso sujeito a avaliação de segurança de substâncias relacionando estruturas químicas e efeitos tóxicos.
uso por meio de investigações científicas, com o emprego de Este procedimento tem permitido classificar substâncias
informações sobre sua toxicidade. No entanto, para muitos químicas em três grandes classes distintas de estruturas
contaminantes, há pouca informação sobre seu potencial químicas, bem como um valor numérico para um TTC para
tóxico. cada classe, como apresentado na Tabela 5 (BARLOW, 2005).
Visando estabelecer prioridades de ação, cientistas, Em princípio, o TTC poderia ser usado para a
governos e indústrias têm se empenhado em testar substâncias avaliação de misturas de substâncias que possuem
químicas para as quais existe exposição humana comprovada. mecanismos de toxicidade semelhantes a nível bioquímico.
Contudo, o tempo necessário para a obtenção de respostas Se os consumidores ingerem alimentos contendo substâncias
conclusivas é grande, e os estudos toxicológicos dispendiosos. potencialmente tóxicas que agem da mesma forma, seria
Desta forma, novas políticas vêm sendo propostas e possível somar as exposições/ingestões e comparar a
legalmente praticadas com o objetivo de se estabelecer a exposição/ingestão combinada com o valor de relevância
exposição humana a limiares abaixo dos quais não haja TTC, desde que as substâncias apresentassem potencial
ocorrência de risco apreciável à saúde. similar ou fossem corrigidas a uma potência semelhante. Se
Em 1995, o FDA estabeleceu o Limiar de a ingestão combinada estivesse abaixo de TTC, teríamos um
Regulamentação ("threshold of regulation"), através do qual indicativo de improvável risco à saúde. Se os mecanismos de
se adota que a migração de uma substância não carcinogênica ação das substâncias na mistura são distintos, então o TTC

Tabela 5 - Classes estruturais para substâncias químicas de acordo como o critério TTC.
Classe Nível de Limiar de exposição
Estrutura Química Toxicidade (mg/ pessoa/dia*)
Estrutura simples
Classe I 1,8
Baixo nível de toxicidade oral
Menor inocuidade que classe I, mais
Classe II 0,54
inócua que classe III
Toxicidade significativa
Classe III 0,09
Grupos funcionais reativos
(*) Calculado baseado em dados de NOEL, assumindo indivíduos de 60 kg e fator de segurança de 100.
Fonte: BARLOW, 2005
68 Reyes, F.G.R./Revista Brasileira de Toxicologia 19, n.2(2006)

deve ser acompanhado pela avaliação de cada substância novas tecnologias tanto para materiais como para processos
individualmente. Da mesma forma, com uma mistura de de fabricação de plásticos, envolvendo a utilização de novas
impurezas, algumas de estrutura conhecida e outras de estrutura substâncias que melhoram a qualidade do material de
desconhecida, se o nível de impurezas presente na concentração embalagem. Portanto, é essencial que os órgãos
mais elevada estiver abaixo do limiar de exposição humana regulamentadores acompanhem este dinamismo. Igualmente,
para a classe estrutural III, então pode-se assumir que todas as o desenvolvimento tecnológico traz consigo efeitos colaterais,
impurezas, presentes em concentrações inferiores, também como o aumento excessivo de resíduo sólido acompanhado
estarão abaixo deste limiar (BARLOW, 2005). de sérios danos ambientais, fazendo com que políticas de
Desta forma, o conceito TTC torna-se uma ferramenta reaproveitamento de materiais pós-consumo sejam
importante para fornecer uma avaliação preliminar do risco estabelecidas. As alternativas aqui apresentadas, envolvendo
provável de exposição para uma quantidade conhecida de o uso de reciclados, como insumos para produção de novas
uma substância de estrutura química conhecida, mas de embalagens para contato com alimentos, merece atenção
toxicidade desconhecida. A Figura 4 apresenta a estrutura da especial. Apesar do desenvolvimento de tecnologias que
árvore de decisões para este conceito (BARLOW, 2005). permitem sua aplicação, novas preocupações emergem quanto
à segurança de uso de materiais pós-consumo recuperados,
especialmente devido a contaminações residuais que podem
Considerações finais ser transmitidas aos alimentos. Certamente políticas como
"threshold of regulation" desenvolvida nos Estados Unidos
A grande variedade de materiais empregados como da América e "thereshold of concern", em estudo na
materiais de embalagem para contato com alimentos Comunidade Européia consideram estas questões e
proporcionam à indústria e ao mercado consumidor produtos necessitam atualizações contínuas, de forma a assegurar a
de alta qualidade e maior vida-de-prateleira, com grande saúde do consumidor, evitando sua exposição de longo prazo
alcance de distribuição. Indubitavelmente, os plásticos e suas a agentes de potencial tóxico. Estas políticas certamente irão
combinações, entre si e com outros materiais, ocupam posição nortear ações das agências de vigilância sanitária brasileira.
privilegiada no momento atual. No entanto, por apresentarem
em sua constituição substâncias químicas de potencial tóxico,
sua utilização é controlada por órgãos regulamentadores. Resumo
Como apresentado neste trabalho, verifica-se o dinamismo
da indústria da embalagem com a introdução continuada de Embalagens plásticas, por suas boas características,

Metal não essencial, composto metálico,


dibenzodioxina polihalogenada, dibenzofurano, bifenila
Não Sim
Estrutura:alerta Sim Avaliação do risco
Potencial genotóxico Dados toxicológicos específicos
Não
Não Semelhança com aflatoxina, Sim
EDI 1,5 g/dia
compostos azoxi, N-nitroso
Não
Sim Improvável preocupação
de segurança EDI 0,15 g/dia Sim
Não Não
Sim
Organofosforado EDI 18 g/dia
Sim Risco negligenciável
Não
Sim Sim
Classe estrutural III EDI 90 g/dia
Improvável preocupação
Não Não
Sim de segurança
Classe estrutural II EDI 540 g/dia Sim
Não
Não
EDI 1800 g/dia Sim Avaliação do risco
Dados toxicológicos específicos
Não Improvável preocupação
de segurança

Figura 4. Árvore de decisões para a avaliação de substâncias químicas. EDI - ingestão


diária estimada (BARLOW, 2005).
Reyes, F.G.R./Revista Brasileira de Toxicologia 19, n.2(2006) 69

contribuem para manutenção da qualidade e aumentam o ILSI Europe. Concise Monograph Series, 2005. 32p.
alcance de distribuição de alimentos, favorecendo Brasil. Portaria SVS/MS nº 987, de 8 de dezembro de 1998
intercâmbios comerciais. No entanto, o desenvolvimento - Regulamento Técnico para embalagens descartáveis
tecnológico e a diversidade de materiais disponíveis no de polietileno tereftalato - PET - multicamada destinadas
mercado trazem consigo a possibilidade de exposição do ao acondicionamento de bebidas não alcoólicas
consumidor a agentes químicos de potencial tóxico. Esta carbonatadas. 1998.
diversidade e o dinamismo desta cadeia produtiva têm também Brody, A. L., Strupinsky, E. R. & Kline, L. R. - Active Food
gerado grande aumento do volume de resíduo sólido, com Packaging for Food Applications, CRC Press LLC,
importante prejuízo ao ambiente. Tendo em vista os vários Florida, United States of America; 2002. 220p.
aspectos desta cadeia, este trabalho de revisão traz uma Cabral, A., C.; Madi, L., F., C.; Soler, R., M., Ortiz, S., A. -
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