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Ação de Desapropriação de n. 643.08.

002744-1

Autor: Município de São Roque de Minas/MG e Geraes Energética Ltda

(Assistente)

Ré: Companhia Eletroquímica Jaraguá

SENTENÇA

I - RELATÓRIO

MUNICÍPIO DE SÃO ROQUE DE MINAS/MG, identificado,ajuizou a presente ação de


desapropriação com pedido liminar de imissão provisória na posse em face de COMPANHIA
ELETROQUÍMICA JARAGUÁ, identificada, aduzindo, em síntese, que dando continuidade ao
programa e metas administrativas para aproveitamento de bens improdutivos ou explorados sem a
correspondência com as necessidades de habitação e trabalho e no intuito de dar o aproveitamento
produtivo, de modo a corresponder às necessidades de trabalho e do consumo da população,
declarou, através do Decreto municipal de n. 02/08, o interesse social sobre o imóvel descrito na f.
06, com área total de 21.660 m², pertencente à Ré, consoante artigo 2º, da Lei 4.132/62,
recepcionado pela CF/88; que, cumprindo os requisitos para o deferimento da imissão provisória,
oferta em pagamento, o valor de cento e quatro mil, setecentos e quatorze reais e vinte e oito
centavos (R$104.714,28). Requer, liminarmente, a expedição de mandado de imissão na posse e,
ao final, após a citação da Ré, havendo ou não contestação, seja expedido auto de adjudicação do
imóvel em seu favor, com as condenações legais.

Com a inicial vieram os documentos de f. 09/17.

Após a avaliação do imóvel, f. 83/126, conforme determinado na f.18/19, deferiu-se o pedido de


imissão provisória na posse, consoante o autode f. 138, decisão que foi objeto de agravo de
instrumento nas f. 153/183,tendo o ETJMG, f. 334/335, determinado a suspensão da imissão
e,posteriormente, f. 372/379, indeferiu a liminar de imissão na posse.

Contestando, f. 184/211, a Companhia Eletroquímica Jaraguá alega, preliminarmente, a


incompetência do chefe do Executivo Municipal para desapropriar usina hidrelétrica, eis que se
trata de bem da União (art. 20,VIII, da CF/88) sendo a competência da ANEEL, o que gera
ilegitimidade ativa.

Que há desvio de finalidade, vez que Autor, desde 1994, não detém mais a concessão de operação
da usina, vez que ela foi alienada em certame de gabinete; que, em virtude da venda do bem, o
Autor deixou de conferir o direito de preferência em sua aquisição (retrocessão), eis que deveria
ter oferecido o preço pelo qual foi alienado. No mérito, aduz que para o deferimento da imissão
provisória na posse, o Autor deveria depositar ao menos o valor cadastral do imóvel, consoante
artigo 15, §1º, c, do Decreto-Lei 3.365/41, porém, o valor depositado, não alcança sequer o valor-
base de cálculo do tributo, conforme demonstra a última declaração de 2007; que, conforme os
laudos técnicos, o valor das edificações, do maquinário da Usina e das Turbinas, somados ao valor
da terra, estão muito acima da avaliação feita em juízo, devendo a imissão ser rechaçada,
consoante entendimentos corroborados pela jurisprudência; que a avaliação foi feita de forma
muito superficial, desconsiderando pormenorizadamente os bens, deixando de avaliar a “Casa de
Usineiros”, “Barragem, canal e Bases Tubulação”, que o perito não possui conhecimentos técnicos
para avaliar o maquinário da usina hidroelétrica, pois é corretor de imóveis e considerou as
máquinas meras “sucatas”; que só o maquinário de f. 207 vale, contrario sensu, trezentos e cinco
mil, setecentos e cinquenta reais (R$305.750,00); que as turbinas, um dos componentes mais
importantes de uma usina hidroelétrica, foram desconsideradas na perícia judicial, porém,
avaliadas em duzentos e noventa mil reais (R$290.000,00), tudo por empresa especializada.
Requer o acolhimento das preliminares ou, caso superadas, que seja desconsiderada a perícia
realizada judicialmente, atribuindo-se ao imóvel o valor de três milhões, seiscentos e noventa e
nove mil, oitocentos e vinte e nove reais e sessenta centavos (R$3.699.829,60).

Impugnação, f. 343/354.

Instados a especificar provas as partes o fizeram, f. 365 e 367/368, tendo sido nomeado Perito, f.
381.

Intimadas, conforme determinado na f. 400/402, a ANEEL manifestou seu desinteresse e a União


nada disse, f. 432.

Na f. 433/437, o Município requereu fossem reconhecidos os efeitos da coisa julgada em relação à


legalidade do Decreto n. 04, determinando-se o prosseguimento da desapropriação e se prolatar
sentença com base no preço do bem desapropriado e que seja expedido o mandado de imissão na
posse pelo desinteresse da ANEEL, com o que não concordou a Ré, f. 445/453.

Nas f. 462/467 foi reconhecida a incompetência da justiça comum e remetidos os autos à Justiça
Federal - subseção Passos, que foi objeto de pedido de reconsideração pelo Município e
posteriormente, de agravo regimental que não foi conhecido, f. 529.

Em virtude do desinteresse da ANEEL e da União a justificar a competência da Justiça Federal, o


feito foi reenviado à Justiça Estadual, f. 596/597.

O Município, f. 600/605, pediu, novamente, fosse deferido o pedido liminar.

No despacho saneador de f. 606/613, foram afastadas as preliminares de ilegitimidade ativa, a


incompetência do juízo, desvio de finalidade e direito de preferência e indeferido o pedido liminar,
deferindo-se a prova pericial, decisão que foi objeto dos embargos de declaração de f. 615/618,
que foram rejeitados nas f. 624/v., o que ensejou o agravo de instrumento da Ré, f. 627/649, e do
Autor, f. 662/673. O ETJMG deu provimento ao agravo do Autor, f. 694/709 (876/897)
concedendo a liminar de imissão na posse e negou provimento ao da Ré, f. 918/939, que foi objeto
de embargos de declaração e recurso especial, o primeiro rejeito e o segundo teve o seguimento
negado, f. 797/798 (922/956).

Da decisão que determinou o recolhimento dos honorários periciais pela Ré, f. 711v., foi
manejado o agravo de instrumento de f. 721/739, que foi julgado improcedente, f. 806 e 807/818.

O MP pediu, f. 754, a inclusão da empresa que recebeu em cessão o objeto da desapropriação, que
intimada se manifestou como interessada, f. 826/836, pedindo a procedência do pedido,
determinando-se a intimação da Ré para a entrega os rotores dos geradores, vez que arrematados
legalmente.

Nas f. 846/849, a Ré aduz a ilegitimidade da Geraes Energética Ltda, sendo que o pleito
formulado nas f. 826/836 se desvinculam da ação de desapropriação, com necessidade de ingresso
pela via própria e em face do Autor que fora imitido na posse. Requer o afastamento da formação
litisconsorcial, bem como de atribuição de qualquer responsabilidade pela manutenção do imóvel,
benfeitorias e instalações e sobre a localização dos dois rotores, eis que há muito foi alijada da
posse do imóvel e a guarda, vigilância e manutenção dos bens caberiam ao Município.

Nas f. 862/863 a Geraes Energética Ltda foi admitida como assistente do Município, determinou-
se a realização da perícia, ressalvando que o assistente recebe o processo no estado em que se
encontra, e indeferiu-se o pedido de entrega dos dois rotores.
Laudo pericial nas f. 960/1.020, tendo as partes se manifestado nas f. 1.025/1.026, 1.027/1.046 e
1.066 com parecer técnico nas f. 1.047/1.063.

Nas f. 1.067/1.074, o Ministério Público questionou o parecer técnico de f. 1.047/1.061, pedindo


esclarecimentos e, no mérito, pugna pela improcedência do pedido, devolvendo à Companhia
Eletroquímica Jaraguá a posse e propriedade do imóvel para que explore a produção de energia ou
venda para quem tem interesse e condições de fazê-lo.

Sustenta, ainda, que se julgado procedente estaria concretizada a aquisição do bem pelo Poder
Público, gerando indenização em prol da Companhia Jaraguá, sendo vício fatal ao processo
expropriatório sua feitura em prol de interesse particular e não há nenhum interesse público
primário que justifique a desapropriação em tela, especialmente em virtude das consequências que
serão suportadas pelo Poder Público, devendo a Eletroquímica devolver o valor que recebeu
quando da imissão na posse, devidamente corrigido.

Os esclarecimentos requeridos pelo MP foram prestados na f. 1.077/1.078, tendo as partes se


manifestado nas f. 1.080/1.081, 1.088/1.091 e 1.092/1.093.

Instados a esclarecer acerca da necessidade de outras provas, as partes o fizeram nas f. 1.097,
1.098 e nas f. 1.099/1.386 Geraes Energética Ltda, juntou petição e documentos.

O Ministério Público, f. 1.387/1.388, manifestou-se pelo indeferimento das provas pretendidas


pelas partes, eis que protelatórias e desnecessárias, bem como preclusa a juntada de documentos
referentes a fatos anteriores às contestações.

Na f. 1389, no intuito de evitar nulidades, concedeu-se prazo às partes para manifestarem acerca
dos documentos de f. 1.099/1.386, tendo elas se manifestado nas f. 1.391 e 1.392/1.393, e o MP na
f. 1.394.

Deferida a consulta, as partes foram intimadas a se manifestar acerca das declarações de imposto
de renda arquivadas na secretaria, o que veio nas f. 1.401/1.402, 1.403/1.406, e o MP na f. 1.407.
Posteriormente, respondidos os quesitos solicitados por Geraes Energética Ltda, f. 1.411 e
manifestação às f. 1.413/1.414.

Alegações finais nas f. 1415/1419, 1420 e 1440/1461.

Representação junto ao TJMG pelo excesso de prazo e morosidade na tramitação do processo,


1424.

Certidão de objeto e pé nas f. 1425/1436.

É o extenso mas necessário relatório. Decido.

II – FUNDAMENTOS:

Cuida-se de ação de desapropriação movida pelo Município de São Roque de Minas, através do
Decreto n. 02/18, que declarou de interesse social um imóvel constituído de um terreno rural, com
área de 21.660m2, situado em seu território, pertencente à Companhia Eletroquímica Jaraguá,
visando dar ao bem expropriado o devido aproveitamento produtivo, tudo em conformidade com o
que dispõe o art. 2º, da Lei n. 4.132/62, ofertando valor para a imissão provisória.

Esclareço, primeiramente, que o processo se desenrola desde janeiro de 2008, inclusive em virtude
de inúmeros expedientes manejados pelas partes (documentos extemporâneos, agravos e recurso
especial), que dificultaram sobremaneira o andamento processual e a análise dos autos, devendo
ser considerado, ainda, que o processo foi remetido à Justiça Federal e posteriormente devolvidos
a esta seara.

Em sua defesa, a Ré alegou as preliminares de ilegitimidade ativa, a incompetência do juízo,


desvio de finalidade e direito de preferência e, como é de praxe, no mérito questionou o valor
ofertado.

As preliminares foram afastadas, razão porque passa-se à análise do mérito, que neste caso, não se
subsume apenas à análise do valor, mas também da análise do desvio de finalidade.

Isto porque, ainda que o desvio de finalidade tenha sido inicialmente afastado quando da decisão
de f. 606/613, naquele instante, o que se observou foi o fato de que o bem poderia ser alienado a
terceiros que tivessem condições de dar a devida destinação social e, em razão disso, o desvio de
finalidade não poderia ser entendido como questão prejudicial que viciasse o processo ou que
levasse ao reconhecimento deste vício, havendo a necessidade de dilação probatória. Com efeito,
depois da instrução, o desvio de finalidade poderia e foi novamente avaliado, porque agora sua
análise não está apenas na fase decisória da desapropriação, mas se refere à fase executória.

A este ensejo cumpre salientar que o fundamento legitimador da desapropriação é que o bem seja
explorado ou utilizado em prol da comunidade, condição que deve permanecer quando do decreto
e posteriormente à desapropriação. Desta forma não pode haver desapropriação por interesse
privado de pessoa física ou entidade particular sem utilidade pública ou interesse social, sendo que
o interesse há que ser ou do Poder Público ou da coletividade beneficiada com o bem expropriado,
sob pena de nulidade da desapropriação.

O desvio de finalidade está conceituado no parágrafo único, “e”, do art. 2º da Lei 4.717/65 como
causa de nulidade de atos lesivos ao patrimônio público, através de ação popular. O desvio de
finalidade ocorre, na desapropriação, quando o bem expropriado para um fim é empregado noutro
sem utilidade pública ou interesse social.

Daí o chamar-se, vulgarmente, essa mudança de destinação, tredestinação (o correto seria


tresdestinação, no sentido de desvio de destinação), para indicar o mau emprego do bem
expropriado. Saliente-se que a finalidade pública é sempre genérica e, por isso, o bem
desapropriado para um fim público pode ser usado em outro fim público sem que ocorra desvio de
finalidade.

Pois bem. Dito isto e considerando-se todos os elementos dos autos extrai-se que houve um vício
na desapropriação, não um vício formal porque o decreto, que já tinha sido alvo de mandado de
segurança, autos de n. 0643.06.000256-2, está regular, mas um vício substancial que leva ao
desvio de finalidade.

Ou seja, a previsão no decreto era a que de o bem expropriado deveria ser aproveitado de modo a
corresponder às necessidades de trabalho e de consumo da população de São Roque. Contudo,
antes de finalizar o processo de desapropriação, a posse do bem já tinha sido transferida pelo
Município em processo de licitação, com valor divorciado do montante real e que, conforme
apontou o Ministério Público, f. 1070, a empresa que não tinha as qualidades necessárias previstas
nos itens 2.2, e 4.1.1.3 do edital de licitação, inclusive a empresa licitante não cumpriu sua
obrigação de fazer a usina hidrelétrica funcionar no prazo pactuado.

Além do mais, como também apontou o Ministério Público, a empresa tinha menos de um ano de
existência e não tinha experiência comprovada na produção de eletricidade, o que denota, sem
dúvida, que a intenção inicial de dar aproveitamento de modo a corresponder às necessidades de
trabalho e de consumo da população se esvaiu após a imissão na posse pelo Autor, o que torna a
desapropriação um ato ilegal, porque ela não poderia alcançar o resultado esperado, em evidente
“despreparo” do agente público.

Inclusive o “despreparo” é observado também quando da avaliação do bem, tendo sido


considerado apenas o valor do terreno sem a avaliação do potencial e das instalações, o que
também pode ser entendido como desvio de finalidade ou abuso de poder.

Na verdade, como bem ponderado pelo Ministério Público, a desapropriação nos moldes em que
ela se deu geraria uma dívida aos cofres públicos de mais de dois milhões de reais
(R$2.000.000,00), isto é, o Município pagaria este valor, por bem que licitou por pouco mais de
cem mil reais (R$100.000,00), em evidente ofensa ao interesse público que sustentou o decreto
expropriatório, bem como em ofensa à supremacia do interesse coletivo em prol da vantagem de
uma única pessoa em particular, a empresa Geraes Energética Ltda que adquiriu o bem por valor
vil.

Saliente-se, ademais, que se o poder Público não der ao bem expropriado sua destinação legal,
ficará o ato expropriatório sujeito a anulação e a retrocessão e, como a destinação legal, tal como
se observa, não foi efetivada, seria de todo uma inutilidade a procedência da desapropriação para
posteriormente se submeter a novo processo para reavaliar os efeitos decorrentes da
desapropriação.

Até porque, como prevê o Dec.-lei 3.365/41, a anulação da desapropriação, ou, mais precisamente,
do ato expropriatório, é obtida por "ação direta", nas mesmas condições em que a Justiça invalida
os demais atos administrativos ilegais, o que pode ser observado na própria ação de
desapropriação. Inclusive porque os fatos (desvio de finalidade) foram se esclarecendo na medida
em que o processo demorou para se desenrolar.

Então, do que se extrai é que, em vez de utilidade ou necessidade pública ou de interesse social, a
desapropriação, no decorrer do tempo, demonstrou o intuito de o interesse particular sobrepor-se
ao interesse da coletividade, um dos vícios mais comuns em desapropriação, o que torna todo o
ato nulo e deve ser invalidado pelo Judiciário, porque divorciado dos pressupostos constitucionais
e legais vinculadores de sua prática.

Por todo o enredo fático e jurídico acima apontado, a improcedência do pedido é medida que se
impõe, não havendo a necessidade de se adentrar na avaliação do bem, pois, por lógica, seria
incongruente com a conclusão anterior.

Com efeito, em virtude da declaração de nulidade, tudo volta ao estado anterior, e se foi expedido
alvará à Ré do valor depositado nos autos para a imissão (não encontrei o expediente) o montante
deverá ser devolvido ao Município, devidamente corrigido.

Caso haja alguma benfeitoria realizada pela Geraes Elétrica Ltda a questão deverá ser debatida em
autos próprios.

III – DISPOSITIVO:

Ante o exposto e fundamentado, em virtude do desvio de finalidade no ato executório da


desapropriação, declaro nulo todo o procedimento e JULGO IMPROCEDENTE o pedido,
devendo o bem ser devolvido à Ré, conforme o constatado nos termos da imissão na posse.

O valor depositado nos autos será devolvido ao Município, devidamente corrigido, devendo ser
devolvido pela Ré, caso o montante tenha sido levantado por alvará.
Imponho ao Município o pagamento das custas, honorários advocatícios que fixo em 20% do
atualizado valor atribuído à causa e, também, no pagamento dos honorários periciais, que já foram
levantados pelo Perito.

Publicar, registrar, intimar e expedir, in continenti, o mandado de imissão na posse em favor da


Ré. Transitada em julgado arquivar.

Formiga, 4 de setembro de 2017

Ramon Moreira - JD

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