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Pelos muros, tapumes e fachadas que se erguem no espaço urbano, deixados de lado
pelo olhar apressado dos passantes, o encardido já aparente se mistura à sujeira
acumulada a escurecer as bordas das superfícies, tornando visível a ação do tempo.
Nada se lê por inteiro. Aí convivem sob igual invisibilidade e abandono cartazes
rasgados, pichações apagadas e graffitis “atropelados” (quando inscrições se
sobrepõem) ao lado de indicações de nomes de ruas esquecidas, banners com texto
pintado a mão, posters de eventos antigos, palavras incompletas escritas em tubos de
neón emitindo luz fraca do que foi um dia um anúncio atraente, mais vários outros
restos e uma série de fragmentos dispersos que, como num palimpsesto, definem
camadas de tempo sobrepostas sob a superfície. Esta imagem corriqueira é ponto de
partida e estruturação para a escritura plástica que Luiz Lemos desenvolve em suas
pinturas: “Elenco como preferência, para construir as pinturas, elementos da
comunicação (letras, balões de quadrinhos, símbolos, grafismos) e da comunicação
urbana (como sprays de graffiti e pichação, superposição de pinturas, estampas e
sujeiras). Ambas as possibilidades de comunicação convivem na cidade
simultaneamente e disputam espaço, um diálogo frequente que cria as mais variadas
situações. Busco trazer estes embates para as minhas pinturas.”