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TEXTO CATÁLOGO:

dissol(vendo) palavras - escritura plástica nas pinturas de Luiz Lemos

Pelos muros, tapumes e fachadas que se erguem no espaço urbano, deixados de lado
pelo olhar apressado dos passantes, o encardido já aparente se mistura à sujeira
acumulada a escurecer as bordas das superfícies, tornando visível a ação do tempo.
Nada se lê por inteiro. Aí convivem sob igual invisibilidade e abandono cartazes
rasgados, pichações apagadas e graffitis “atropelados” (quando inscrições se
sobrepõem) ao lado de indicações de nomes de ruas esquecidas, banners com texto
pintado a mão, posters de eventos antigos, palavras incompletas escritas em tubos de
neón emitindo luz fraca do que foi um dia um anúncio atraente, mais vários outros
restos e uma série de fragmentos dispersos que, como num palimpsesto, definem
camadas de tempo sobrepostas sob a superfície. Esta imagem corriqueira é ponto de
partida e estruturação para a escritura plástica que Luiz Lemos desenvolve em suas
pinturas: “Elenco como preferência, para construir as pinturas, elementos da
comunicação (letras, balões de quadrinhos, símbolos, grafismos) e da comunicação
urbana (como sprays de graffiti e pichação, superposição de pinturas, estampas e
sujeiras). Ambas as possibilidades de comunicação convivem na cidade
simultaneamente e disputam espaço, um diálogo frequente que cria as mais variadas
situações. Busco trazer estes embates para as minhas pinturas.”

Ao decantar as camadas numa escritura plástica em que os registros se sucedem


semelhante a um palimpsesto, deixando vãos pelos quais o olhar penetra as camadas
originas ao mesmo tempo em que certas zonas se adensam e encobrem registros
anteriores em jogos de veladuras rasas, manchas e apagamentos, iluminados por
linhas feitas em luz neón encaixadas às telas, o que Luiz Lemos opera em suas
pinturas é a dissolução do signo. Desvinculado da palavra e da semântica, o signo
verbal comparece, fragmentado, puramente em sua plasticidade, como revela o pintor:
“uso da letra como forma de esvaziamento do significado”. Numa paleta em que cores
vibrantes convivem ao lado de tons esbranquiçados, os resíduos linguísticos e os
vários investimentos que os enredam na tela são todos feitos da mesma matéria
pictórica e se dissolvem à mesma medida. “Busco a criação de um texto visual que
diminua as distâncias entre os sistemas de signos distintos. Busco o que está antes do
discurso escrito, antes do significado da palavra: a letra como fresta.” Nesta topografia
segmentada da escritura plástica de Luiz Lemos interessa ao pintor abrir frestas: seja
nos discursos verbais e imagéticos, seja na corporeidade da letra, seja na memória de
gestos que ali dispersam camadas de cor, marcas gráficas, leituras de superfícies e
pichações, em encontros de cores, formas e apagamentos como os que o pintor gosta
de observar pelas ruas. Nesses cantos esquecidos no espaço urbano, e também nas
pinturas de Luiz Lemos, torna-se legível e, talvez ainda mais intensamente visível “o
confronto da certeza da letra com a incerteza do gesto”, que segue dissolvendo as
palavras em fragmentos de intensa plasticidade que engajam o olhar nessa dinâmica
visual.

Júlio Martins, curador


TEXTO PAREDE

Ao decantar as camadas numa escritura plástica em que os registros se sucedem


semelhante a um palimpsesto, deixando vãos pelos quais o olhar penetra as camadas
originas ao mesmo tempo em que certas zonas se adensam e encobrem registros
anteriores em jogos de veladuras rasas, manchas e apagamentos, o que Luiz Lemos
opera em suas pinturas é a dissolução do signo. Desvinculado da palavra e da
semântica, o signo verbal comparece em sua plasticidade, como revela o artista: “uso
da letra como forma de esvaziamento do significado”. Assim os resíduos linguísticos,
fragmentos de letras, e os investimentos que os enredam na tela são todos feitos da
mesma matéria pictórica e se dissolvem à mesma medida. Na escritura plástica de
Luiz Lemos, interessa ao pintor abrir frestas: seja nos discursos verbais e imagéticos,
seja na corporeidade da letra, seja na memória de gestos que ali dispersam camadas
de cor, marcas gráficas, leituras de superfícies e pichações sob uma palheta próxima
às referências das ruas. Nesses cantos esquecidos no espaço urbano, como também
nas pinturas de Luiz Lemos, torna-se legível e, talvez ainda mais intensamente visível
“o confronto da certeza da letra com a incerteza do gesto”, que segue dissolvendo as
palavras em fragmentos de intensa plasticidade e engajando o olhar nessa dinâmica.

Júlio Martins, curador

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